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Max Weber (1864-1920)

Max Weber nasceu na Alemanha, em 1864, em uma família da alta classe


média. Filho de um renomado advogado, foi criado em uma atmosfera
intelectualmente estimulante, voltado para os ensinamentos humanistas. Weber
recebeu excelente educação em línguas, história e literatura clássica.

Em 1882, começou os estudos superiores em Berlim, onde se dedicou ao


estudo de economia, história, filosofia e direito. Tornou-se professor na Universidade
de Berlim e foi livre-docente, ao mesmo tempo em que servia como assessor do
governo. Sua obra é extensa e influente. Sua formação intelectual acompanha o
período em que as primeiras disputas sobre a metodologia das ciências sociais
começavam a surgir na Europa. Viveu na Alemanha no final do sec. XIX e começo do
XX. Sua obra coincide com momento de intensa industrialização na Alemanha.

SEU PENSAMENTO

O pensamento de Max Weber é uma inesgotável fonte de reflexão para os


problemas do mundo contemporâneo. De um lado, Weber questionava a confiança no
modelo positivista em se formular leis sociais. Para ele, não é possível produzir leis
sobre os fenômenos sociais, pois a relação existente entre os homens e entre estes e as
instituições sociais é desordenado, imprevisível e caótico, não existindo continuidade
na história humana. O conhecimento da história é importante, no entanto isso não
tornava possível a elaboração de leis e generalizações dos fenômenos sociais. Não
existem leis sociais que possam ser antecipadas e controladas e que passe a prever e
controlar a realidade social (do positivismo).

Por outro lado, Weber considerava a economia e as formas de produção


importantes, mas não acreditava que os fatores econômicos explicavam as condições
históricas em sua totalidade, ou seja, não acreditava que a economia tivesse papel
preponderante sobre as demais esferas da realidade social (do marxismo).

Weber sempre se preocupou em conferir o caráter científico à Sociologia.


Considerava que o cientista deveria assumir uma posição neutra, não podendo ter
preferências políticas e ideológicas a partir de sua profissão. Fazia a distinção entre o
cientista e o político - o homem de ação. Na verdade, ele isolou a Sociologia dos
movimentos revolucionários: A ciência deve oferecer a compreensão da conduta, das
motivações e conseqüências dos atos do homem. A Sociologia deveria ser um conjunto
de técnicas neutras para a compreensão da realidade social.

 SEU OBJETO
Weber considerava o individuo e a sua ação como ponto chave da investigação.
Era preciso compreender as intenções e as motivações dos indivíduos que vivenciam
as situações sociais.

 SEU MÉTODO

Naquele momento surge nas ciências sociais uma tendência que distingue
explicação e compreensão da realidade. O modo explicativo seria característico das
ciências naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A
compreensão seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam
fatos que possam ser explicados propriamente, mas sim buscam os processos vivos da
experiência humana, extraindo deles seu sentido. Os fenômenos sociais só tem
significado se conhecermos a motivação e o sentido mais profundo que existem por
trás desses fenômenos.

Weber analisa o papel das pessoas e as suas ações individuais. A sociedade


deve ser entendida a partir das interações sociais. A ação social dá sentido à ação
individual. A ação social é orientada pelo comportamento e valores dos indivíduos e
dos grupos, sendo fundamental para a organização da sociedade humana.

A conduta adquire o sentido social quando se orienta pelo comportamento de


outras pessoas. As teorias sociológicas desenvolvidas ao longo do século XIX
privilegiavam os fenômenos sociais coletivos. Para Emile Durkheim o importante era o
fenômeno coletivo e não o comportamento individual, pois a sociedade está acima
do individuo. Karl Marx, por sua vez, trata da relação dos agrupamentos sociais, e
não do indivíduo. Para colocar o homem no centro das preocupações sociológicas,
Weber teve que reformular o método científico: a tarefa do sociólogo é captar o
sentido das condutas humanas.

Para Weber não é possível explicar um fenômeno social como resultado da


relação entre causas e efeitos, semelhante às ciências naturais, mas compreendê-lo
como fato carregado de sentido, isto é, como algo que aponta para outros fatos e
somente em função dos quais poderia ser conhecido em toda a sua amplitude. Por
exemplo, mais importante do que entender porque de algo aconteceu (causas) é
compreender o que levou ao indivíduo, ou conjunto de indivíduos, a se comportar de
determinada maneira.

O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o


sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas
mesmas ações. Por exemplo, se uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse fato,
em si mesmo, é irrelevante para o cientista social. Somente quando se sabe que a
primeira pessoa deu o papel para a outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço
de papel é um cheque) é que se está diante de um fato propriamente humano, ou seja,
de uma ação carregada de sentido. O fato em questão não se esgota em si mesmo e
aponta para todo um complexo de significações sociais, na medida em que as duas
pessoas envolvidas atribuem ao pedaço de papel a função do servir como meio de
troca ou pagamento; além disso, essa função é reconhecida por uma comunidade
maior de pessoas.

 CONCEITOS

Para realizar a análise compreensiva, Weber formula o conceito “tipo ideal”,


que representa o primeiro nível de generalização de um conceito abstrato. O tipo ideal
é um ponto de partida, contendo parâmetros estabelecidos de comportamento, de
ação, de dominação. Weber reconhece que o tipo ideal não é um modelo perfeito, mas
uma construção do pensamento que permite conceituar fenômenos e manifestações.
O tipo ideal fornece o recurso essencial para a compreensão dos comportamentos
sociais, permitindo analisar as formas de ação social.

1. Tipos de ação social


Os tipos de ação social jamais são encontrados na realidade em toda a sua
pureza, e, na maior parte dos casos, os quatro tipos de ação encontram-se misturados.
Ação é social quando um determinado comportamento implica uma relação de
sentido para quem age. Nem todo comportamento humano é social. É preciso que
tenha sentido para o individuo que age. A ação social orienta-se pelo
comportamento de outros. Os “outros” podem ser indivíduos e conhecidos ou uma
multiplicidade de desconhecidos.

Weber definiu quatro tipos de ação social:

a. Ação tradicional: tradições, costume. Ex: dar presente de Natal


b. Ação afetiva: baseada em sentimentos e afetividade, não racional. Ex: torcer
por um time
c. Ação racional orientada para valores: racional, a ação é importante e não os
fins. Ex: trabalho voluntário ou de um político, onde o retorno não é o dinheiro
ou prestígio final, mas a missão. (em crise)
d. Ação racional orientada pra fins: racional, o importante é o resultado. Ex:
empresa capitalista.

Esses tipos de ação existem de formas diferentes nas sociedades humanas. Nas
sociedades antigas e feudais prevaleciam os tipos tradicionais e afetivos, daí a família e
a igreja terem papel fundamental nessas sociedades. Na sociedade capitalista
predomina ação racional, com planejamento eficiente e com metas, orientada pra fins.
A empresa do século XVIII para a atual sofreu várias modificações, mas seus fins e
objetivos continuam os mesmos: lucro, acumulação econômica e otimização produtiva.

Esse tipo de comportamento social pautado na racionalidade é o que


caracteriza a sociedade moderna e a que subordinam a tradição, os afetos e os valores
à racionalidade. Isso leva ao “desencantamento do mundo”, pois o homem passa a
maior parte do seu tempo realizando atividades buscando os efeitos esperados
(racional) e não pautados em seus valores, suas tradições e suas afetividades.

2. Tipos de dominação/autoridade
2. Tipos de dominação:
a. Tradicional: respeita aos costumes e regras. É o tipo em que o indivíduo
ocupa posição de autoridade independentemente do controle de um corpo
administrativo. A autoridade e as prerrogativas pessoais são mais extensas. Ex:
coronéis, soberanos e patriarcas antigos ou medievais
b. Carismática: capacidade de liderança e comando, em que se almeja
estabelecer uma nova ordem.
c. Racional-legal: assentada na noção de direito que se liga aos aspectos
racionais e técnicos da administração. Racionalidade e justiça se fundem. Ex:
sociedades modernas. Atua baseado nas leis e regulamentos e precisa de
formação técnica.

 Temas

1. A religião

Em “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber buscou examinar as


implicações das orientações religiosas na conduta econômica do indivíduo,
considerando as contribuições dos valores éticos protestantes na formação do
moderno capitalismo. A acumulação de capital foi um fator importante para o
capitalismo, mas surge também uma nova mentalidade guiada por princípios religiosos.
Essas convicções religiosas no indivíduo, a partir de uma vida pessoal rígida e
disciplinada, levaram o indivíduo a valorizar o trabalho e a considerar o sucesso
econômico como bênção de Deus. Havia uma doutrina pessoal austera, que permitiu a
acumulação de riqueza e novos investimentos – que foi a base do capitalismo.

2. O Capitalismo

Por que o capitalismo se desenvolveu somente na sociedade Ocidental,


especialmente na Europa a partir do século XVI?

Como historiador, Weber possuía grande conhecimento das civilizações


orientais que chegaram a ter forte economia monetária, avanço tecnológico e uso
intensivo. No entanto, não desenvolveram o capitalismo. Considerava que as
instituições capitalistas – as grandes empresas – eram fruto de uma organização
racional que desenvolvia suas atividades dentro e um padrão de precisão e eficiência.
O capitalismo se caracterizava pela busca contínua de rentabilidade por meio de
empreendimentos científicos e racionais, sendo uma expressão da modernização e
racionalidade.

Weber conclui que ética protestante, juntamente com outros fatores políticos,
tecnológicos e econômicos, contribuiu para o surgimento do capitalismo. Nos países
ocidentais se fortaleceu uma forma de ação social especial a partir da religiosidade
protestante: ascetismo e valorização do trabalho, que então passou a ser considerado
uma virtude. Estabeleceu-se um ideal de vida baseado no trabalho assentadas nas
seguintes posturas: disciplina, parcimônia, discrição e poupança. Esses novos valores
defendidos pelas seitas protestantes alteraram a conduta de diversos grupos dirigentes
e elites econômicas. Na ordem feudal, a nobreza considerava o trabalho indigno e o
ócio era virtude e privilégio. Nesse processo, foi surgindo uma nova mentalidade que
recusava o desperdício, o luxo e o ócio e valorizava o trabalho, a poupança, a
pontualidade e a racionalidade.

Na sociedade moderna consolidou-se um estilo de vida que tinha significado


religioso (fé no trabalho) e efeito econômico (acumulação e investimento). Sem a ética
protestante o capitalismo teria evoluído diferente, pois para ser capitalista não basta
ter dinheiro. E preciso outras qualidades: conduta racional, metódica e científica. Com
o tempo, a noção protestante de que o trabalho enobrece e o ócio e a preguiça são
pecados se expande por outras culturas e religiões, passando a fazer parte de diversas
classes sociais e culturas.

3. A burocracia

Weber considerava que a sociedade moderna atravessava um processo de


racionalização, em que todas as áreas adquiriam o caráter racional e científico. O
fenômeno social que representa essa racionalização é a burocracia moderna, o governo
de repartições.

Ao analisar a instituição burocrática, Weber percebeu que essa ação racional


orientada para os fins passou a fazer parte da vida moderna e a penetrar em todasas
atividades. A burocracia existiu em outros sistemas, mas nas sociedades modernas ela
assume três características essenciais:
a. Sistemas regulados por normas formais, o que torna o comportamento dos
funcionários previsível e controlado.
b. Impessoalidade, cargos e não pessoas tomam as decisões. Valores e
preferências não devem intervir.
c. O burocrata tem uma especialidade técnica.

Weber esclareceu que a burocracia é um sistema social que se aproxima dos


ideais democráticos, pois promove a igualdade de oportunidades e premia o mérito
pessoal. No entanto, apesar dos processos administrativos mais transparentes da
burocracia, o intenso crescimento da racionalidade penetra em todas as áreas e gera
uma excessiva especialização, construindo um mundo cada vez mais intelectual e
artificial, sem criatividade e originalidade, guiado por normas e regulamentações.
No mundo contemporâneo todas as instituições se tornam empresas, com
padrões sofisticados e previsíveis, com planejamento e metas. Há um preço a ser pago:
a perda da autonomia e criatividade dos indivíduos.

O que é Sociologia? Pags 61 a 71


Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. (Cristina Costa), Editora Moderna

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