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Informações biográficas do Quintana;

Informações da produção textual dele;

Informações sobre esse livro que usamos e a relação com a vida do autor;

Conceito sobre soneto;

Análise formal do soneto escolhido;

Interpretação do soneto.

O que é um Soneto: Composição poética de catorze versos, dispostos em dois


quartetos e dois tercetos. Distribuição da rima na oitava: abababab; e na maior
parte dos sextetos: cdecde

Elementos extrínsecos: externos a obra como a biografia do autor e da obra, as


relações do texto com a política, a história, a sociologia.

Os elementos formais, como a análise do tecido metafórico, a ironia, a


ambiguidade, o ritmo, a métrica etc.

Elementos intrínsecos:

Fases da análise do texto:

1. Escolhida a obra ou fragmento dela, procede-se à sua leitura integral,


leitura de contacto, descontraída, lúdica, que deve fornecer uma
impressão ou ideia geral do texto, imprescindível para as fases
posteriores da tarefa analítica;
2. Releitura de análise (que pode e deve ser repetida tantas vezes quantas
o texto o requerer), com o lápis na mão, assinalando no texto as
passagens que mais chamam a atenção ou que envolvem problemas de
entendimento;
3. Consulta do dicionário lexicográfico (e de termos literários), a fim de
resolver as dúvidas quanto à denotação das palavras e expressões;
4. Releitura tendo em mira compreender o índice conotativo das palavras e
expressões;
5. Apontar as constantes ou recorrências do texto, sobretudo no que toca à
conotação;
6. Interpretar tais constantes ou recorrências, que constituem a camada
externa das forças-motrizes, com base nos elementos do próprio texto e
nas informações que o analista já possui;
7. Consultar as fontes secundárias caso o texto o reclame: história literária,
história da cultura, biografia do autor, bibliogradia do e acerca do autor,
contexto sócio-economico-cultural etc;
8. Organizar em ordem hierárquica de importância as constantes ou
recorrências, segundo critério estatístico e qualitativo, ou seja, segundo
a quantidade das constantes e sua qualidade emocional, sentimental e
conceptual;
9. Interpreta-las e buscar depreender as ilações que comportam, à luz dos
dados selecionados, tendo em vista as foças motrizes, isto é, a
cosmovisão do escritor;
10. Conclusão do trabalho e sua redação final. Como a análise, via de regra,
não caminha sozinha, a redação final do trabalho analítico pressupõe
leva-lo a uma das zonas com as quais se limita, vale dizer, a critica e a
historiografia literária. Decerto que o estudante pode, durante o período
inicial de seu aprendizado, fazer análise sem crítica, mas dee estar
consciente de que seu exercício há de conduzí-lo à crítica ou/e à
historiografia literária. Se não, é perda de tempo.

Sugestões:

a) Evitar o descritivismo, ou seja, a mera descrição dos problemas


sugeridos pelas obras e a mera paráfrase de seu conteúdo;
b) Não perder de vista que se trata de análise textual e que, portanto, o
texto deve estar presente na redação, presente como base, como ponto
de partida e exemplificação; há que convocar o texto para o interior da
redação, através de citações que ilustrem as observações feitas; tais
citações devem ser explanadas e interpretadas, isto é, recuse-se supor
que o texto fala por si (se for assim, para que a análise? Para que a
crítica?), mas quando, porventura, falar por si, não esquecer de o
declarar;
c) A indicação da transcrição textual há de ser rigorosa e destacada do
corpo da análise por aspas ou formando unidade à parte, com margem
maior e até diverso aspecto gráfico;
d) Indicação precisa da citação de qualquer achega extratextual, à
semelhança da indicação da transcrição textual;
e) Procurar organizar os pensamentos segundo uma ordem lógica, em que
cada parte se aglutina a outra por íntima necessidade, e essa ordem
pode ser ascendente, partindo do aspecto menor até o mais importante,
ou descendente;
f) Interpretar sempre, estabelecer nexos, salientar relevos, tudo com base
nas perguntas referidas: como? E por que?;
g) Redigir com clareza e esgotar cada aspecto antes de passar ao
seguinte;
h) Procurar sempre conclusões plausíveis e levantar hipóteses que abram
perspectivas de melhor compreensão do texto em causa e outros
similares, do mesmo autor ou não;
i) Destinando-se a análise a fundamentar a crítica ou a historiografia
interna, avaliar cada aspecto antes de passar adiante, e concluir com um
juízo de totalidade.
O baú

Como estranhas lembranças de outras vidas,

Que outros viveram, num estranho mundo,

Quantas coisas perdidas e esquecidas

No teu baú de espantos... Bem no fundo

Uma boneca toda estraçalhada!

(isto não são brinquedos de menino...

Alguma coisa deve estar errada)

Mas o teu coração em desatino

Te traz de súbito uma idéia louca:

É ela sim! Só pode ser aquela,

A jamais esquecida Bem-Amada.

E em vão tentas lembrar o nome dela...

E em vão ela te fita... e a sua boca

Tenta sorrir-te mas está quebrada!

Mário de Miranda Quintana, nascido no Rio Grande do Sul em 1906,


morreu aos 87 anos. Foi poeta, tradutor e jornalista, ofício que exerceu por
quase toda a vida. Publicou mais de 20 livros, sem contar as antologias.
Estreou com um conto chamado “A sétima personagem”, publicado no Diário
de Notícias, de Porto Alegre, em 1926. Seu primeiro livro de poesias foi “A Rua
dos Cataventos”, lançado em 1940 e o último, em 1990 “Velório sem Defunto”.
Com Sapato Florido, Pé de Pilão, Caderno H, Esconderijos do tempo, Lili
inventa o mundo, consagrou-se como poeta do cotidiano e lirismo. De acordo
com Antonio Hohlfeldt há variação nos temas abordados por Quintana, porém
apresentam-se quase sempre em pares, marcados por uma oposição.
O tema da infância, ou às memórias, apresenta-se não com saudosismo
ou nostalgia, as lembranças de um tempo perdido, mas sim com “a
possibilidade de retornar a um momento em que, metodologicamente, o ser
humano está disponível para perguntar, descobrir e espantar-se com suas
descobertas” (Hohlfeldt). As informações referentes à Quintana retiradas do
prefácio de um livro posterior ao “Esconderijos do Tempo”, de onde se encontra
o poema aqui abordado (“O baú”) não é por acaso. Parece que com este
poema o autor já estivesse entrado num projeto de trabalho cujos temas
versassem sobre a velhice, a memória e o espanto. Escrito em 1980, quando
Quintana estava com 74 anos, “Esconderijos do Tempo” é considerado um livro
de maturidade do autor onde encontramos a simplicidade ao lado do mistério
das coisas comuns. O livro é constituído de 50 poemas geralmente breves e de
versos livres ou em prosa, havendo apenas um soneto.

O poema selecionado é estruturado como um soneto petrarquiano:


quatorze versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. Com versos em
decassílabo heroico por sua acentuação nas sílabas 6ª e 10ª em todas as
estrofes, empregando-se assim na estrutura do soneto um ritmo constante.

O soneto também revela outra marca do livro que é a coloquialidade na


linguagem, refletido aqui na escolha do objeto que serve de título, um baú,
assim como vemos a escolha do autor por objetos do cotidiano. Percebe-se
que o poeta não qualifica, no título, o baú, é tão somente um substantivo, um
baú, qualquer baú. A não especificidade do baú pode nos levar a considera-lo
não enquanto um objeto real, mas metafórico, relacionado à sua
funcionalidade: o de guardar coisas antigas, objetos, ou mais precisamente
memórias. Esse pensamento nos é reforçado através do último verso da
primeira estrofe quando o poeta nomeia o baú como um “baú de espantos”.
Ora, baús não são feitos de espantos, logo tal característica é relativa aos baús
do mundo interno.

O uso da segunda pessoa “teu” revela possivelmente uma tentativa do


poeta de dialogar com o leitor, torna-lo mais próximo da obra, ao qualificar o
baú como o dele. Também nos possibilita imaginar que é uma conversa do
poeta com ele próprio, tratado na segunda pessoa como um outro, um quase
desconhecido, cujos segredos são nebulosos. A primeira estrofe nos introduz o
tema motriz do soneto: as lembranças perdidas há tanto tempo esquecidas,
pois estão que ao ressurgirem nos parecem estranhas: “lembranças de outras
vidas, que outros viveram, num estranho mundo”. O poeta se utiliza de uma
marca que percorrerá as outras estrofes até seu fim, a relação entre os objetos
concretos e os objetos imateriais. É um baú, mas de espanto, onde guarda
coisas perdidas e esquecidas como estranhas lembranças.

O final da primeira estrofe nos prepara diretamente ao início da segunda.


Ao nos direcionar para bem ao fundo desse baú, somos imediatamente levados
a nos esforçarmos na investigação desse baú. O “bem ao fundo”, corresponde
tanto ao caráter cronológico das coisas que foram guardadas primeiro, logo as
mais antigas, como também às lembranças mais íntimas, àquelas que por
várias razões se encontram não revisitadas. É nesse fundo que há uma
boneca. A composição rítmica heroica coloca o advérbio “toda” na sexta sílaba
do verso, dando relevância ao seu significado. O segundo e terceiro verso
denota o caráter de espanto desse baú, a surpresa em encontrar uma boneca
onde, aparentemente, não deveria estar: “alguma coisa deve estar errada”. O
adjetivo “estraçalhada” nos serve para dificultar o reconhecimento deste
objeto/lembrança cujos contornos são imprecisos, danificados. Mais uma vez o
último verso serve para introduzir a estrofe seguinte. O coração é posto em
desatino, perde o juízo, alucina. É justamente o coração o órgão escolhido para
apontar a esse laço mnêmico com a boneca estraçalhada, e não o cérebro,
órgão responsável por armazenar nossas memórias. A escolha não é fortuita.
O uso do coração aponta para uma memória que resiste a rememoração, que
perdeu seus traços (crono)lógicos, que é em realidade emotiva.

A terceira estrofe serve para introduzir o caráter emotivo dessa memória.


Aqui há menos referência aos objetos materiais e o caráter metafórico e
subjetivo torna-se mais evidente. O uso de substantivos pouco concretos como
“ideia”, “aquela”, “Bem-Amada”, ressalta essa característica. Será que ainda se
fala de uma boneca? É bastante nebulosa a referência, pois é a “jamais
esquecida”.
A quarta e última estrofe aponta para uma contradição. A “jamais
esquecida”, porém que se esqueceu o nome. O uso repetitivo da expressão “e
em vão” marca o esforço infrutífero de rememorar o nome da Bem-Amada.
Nesse esforço em vão somos levados a primeira estrofe, a compreender tais
lembranças como de outras vidas, já não faz parte da vida atual, está perdida.
Mais uma vez o poeta faz uso da segunda pessoa no terceiro verso: “tenta
sorrir-te”. O uso da segunda pessoa relacionado a não nomeação da boneca,
sendo apenas chamada de Bem-Amada, demanda ao leitor um trabalho de
identificação com a lembrança do poeta. De qual Bem-Amada se fala, a do
leitor, ou do autor?

Chama-nos atenção às duas únicas vezes que o poeta se utiliza do


signo de exclamação, em “estraçalhada!” e “quebrada!”. Um impossível de
lembrar, de juntar as peças, de consertar, algo assim perdido. A Bem-Amada
está quebrada, estraçalhada.

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