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Minhas 15 avós 2012-02-02

Genie Milgrom conta sua própria história

Genie Milgrom
Nasci em uma família da alta sociedade romana católica de origem espanhola, na
cidade de Havana, em Cuba. Quando eu tinha 5 anos, minha família foi para Miami,
deixando para trás não apenas a Revolução Comunista, como também seus trabalhos
e suas residências.

Nós éramos apenas uma das muitas famílias que vieram para Miami no mesmo ano.
O ano era 1960.

Em Miami, os meus pais me matricularam imediatamente em uma das melhores


escolas católicas em uma área aonde quase não havia população de origem cubana.

O desejo de meus pais era que pudéssemos assimilar a cultura americana, o mais
rapidamente possível: falar Inglês perfeito e ter as mesmas oportunidades que as
crianças americanas.

Eu não tinha amigos que falavam espanhól durante muitos anos, fui uma estudante
modelo da Escola Católica, sapatos preto e branco, uniformes de estilo escocês,
orações em latim, missa todas as manhãs e cantava continuamente no coro dos
sacerdotes e das freiras.

Nunca pertenci ao grupo. Eu segui os outros, agia como eles, rezava em voz alta,
porém, no fundo, não me sentia parte dele.

Ao redor dos sete anos, participei de um acampamento de verão aonde eu conheci a


minha primeira amiga judia. Seu nome era Raquel.
Rachel veio com sua própria comida e não tinha permissão de comer qualquer um dos
alimentos oferecidos lá. Todas as crianças zombavam dela, mas a mim ela atraía como
vaga-lumes pela luz. Eu adorava estar com ela, e me aguarrei a ela como uma cola.

Durante muitos anos só vi a Rachel no acampamento de verão, mas durante o ano eu


procurava por locais com outras pessoas judias. Era muito difícil, dadas as
circunstâncias da sociedade super protetora aonde eu fui educada e criada. Mas havia
uma constante pergunta de um contato com o judaísmo. Era inexplicável, não fazia
nenhum sentido, mas este sentimento existia.

Eu me sentia mais cômoda quando eu conhecia, por acaso, uma pessoa judia do que
quando eu estava dentro da igreja.

Eu não voltei a ver mais a Rachel, ela nunca saberá do impacto que sua amizade teve
sobre mim e sobre a transformação da minha alma.

Os a nos se passaram e eu com eles. Estudei em uma escola católica e me envolvi em


uma série de atividades extra-curriculares. E como muitas vezes acontece, a vida me
levou por seu caminho.

Naquela época, eu tinha várias amigas judias. Meus pais nunca souberam disso.
Durante horas eu falava com elas por telefone, mas raramente as encontrava .

Eu era muito jovem quando chegou a hora de ir para a faculdade, pois pulei várias
classes. Eu tinha apenas 16 anos quando recebi uma bolsa de estudos para a melhor
universidade católica de Miami. Pelo fato de ser muito jovem, ainda não podia tirar
carteira de motorista, por isso morei nos dormitórios da Universidade, que estava sob
a responsabilidade das freiras. A única estudante que tinha a minha idade era a minha
companheira de quarto.

Um dos seus pais era judeu. O que ela estava fazendo naquela escola? Obviamente
não exitem coincid ências.Como era de se esperar, nos tornamos amigas. Ela cresceu
em uma família judia. Eu passava horas tentando decifrar cada pequeno detalhe sobre
a religião judaica.

Eu me matriculei em um curso de Teologia e Religiões, onde a diretora deste curso era


uma brilhante freira que se tornou, mais tarde, a diretora da Universidade. Sua
sabedoria me impressionou. Aí eu aprendi mais sobre a filosofia do judaísmo do que
em qualquer outro momento da minha vida.

Mais tarde soube que ela tinha ido de porta em porta para solicitar ajuda para a
construção do memorial do Holocausto que existe at é hoje. Uma mulher maravilhosa
que influenciou profundamente em minha vida.

Eu me casei muito jovem, com 17 anos de idade. Minha vida consistia em trabalhar
per íodo integral no negócio da fam ília, ser mãe em per íodo integral e estudante em
meio per íodo.

Aos 33 anos eu retomei o que tinha deixado para trás. Comecei a devorar volumes da
literatura judaica em várias disciplinas, tais como Halachá, feriados judaicos,
casamento, filosofia, Shabat e tudo o que veio às minhas mãos.
The earrings that were passed down through the generations
Comecei a visitar sinagogas e, ocasionalmente, participava de um serviço. Fiz muitas
amizades que eu nunca poderia compartilhar com meu ex-marido. Estávamos
divorciados e minha busca continuou. Meu filho tinha 14 anos e minha filha tinha 3.
Não foi possível fazer uma conversão para os meus filhos naquele momento.

Agora sim eu pudia perguntar e estudar verdadeiramente. No final, eu poderia colocar


meu corpo e minha alma alinhados. Eu me sentia muito confortável nas sinagogas.
Senti saudades e ainda sinto quando ouço o canto das orações. Eu sabia que estava
mais perto do que nunca de meu lar, mas mais distante da minha casa e da minha
família aonde eu cresci. Eles não me entendiam. A minha alma se havia transformado
em uma idade muito jovem e eles permaneceram os mesmos. Por que eu era tão
diferente?

Encontrei-me com um rabino ortodoxo de uma pequena comunidade perto da minha


casa e ele me explicou, delicadamente, que eu não poderia ser judia. Ele resistiu e
recusou-se várias vezes a minha conversão até que, finalmente, ele concordou a me
mandar a um Beit Din (tribunal judaico). Por vários anos estudei intensivamente e
finalmente me converti ao judaísmo. Naquele momento eu consegui a minha maior
conquista, no entanto, não pude compartilhá-lo. Amigos não se fazem com facilidade
para alguém em um processo de conversão. Eu não poderia olhar para trás e o
caminho a minha frente parecia muito solitário.

O caminho foi difícil. Manter as regras de kashrut em uma casa onde as crianças
estavam acostumadas a comer o de sempre, ou não poder comer na casa dos meus
pais, tentar ajustar para cima e para baixo as atividades dos meus filhos para que o
sábado e os feriados judaicos não sejam afetados, não foi nada fácil. Mas, eu estava
tão feliz, me sentindo tão em casa e tão confortável, que eu persisti.

Alguns anos depois eu conheci meu marido, Michael, cuja família era originalmente da
Romênia e nos casamos. Ele sempre foi religioso e sempre será, e completou o meu
círculo. Michael teve a paciência de um santo (ao p é da letra) e sempre foi a ânchora
que me apoiou quando as coisas ficavam difíceis, quando minha vida passada se
chocava com minha vida atual. Juntos, temos criado a minha filha da melhor maneira
possível, dadas as circunstâncias incomuns.

Meus avós maternos eram de uma pequena cidade às margens do rio Douro, que
separa Espanha e Portugal, chamada Fermoselle. Meu avô nasceu lá e a avó da minha
avó era de lá. Eles eram primos de segundo grau. Durante anos eles tentaram me
ajudar a fazer uma árvore genealógica, mas tudo o que eu consegui foram pretextos.
Eu nunca fui capaz de obter a história da família deles. Minha avó sabia que eu tinha
me convertido ao judaísmo e muitas vezes me disse o quão perigoso era. Quão
perigoso era que eu tinha me convertido! Eu sempre pensei que significava que era
perigoso para minha alma, mas eu só percebi anos mais tarde que o que ela queria
dizer, o quão perigoso era ser judeu.

Minha avó materna morreu numa manhã de sexta-feira. Naquela manhã, minha mãe
me disse que a tradição da família era enterrar os mortos imediatamente. Eu fiquei
chocada. Que tipo de tradição era essa para uma família solidamente católica?
Nenhuma quantidade de súplicas serviu. Minha avó foi enterrada em um cemitério, no
Sábado (Shabat), longe o suficiente que não pude ir, pois reservava o Shabat. Minha
dor foi insuportável. No dia seguinte, minha família veio me ver em minha casa, dado
ao fato de que eu não fui ao funeral. Fiquei muito surpreso quando todos eles vieram a
pé. Sinceramente, eu pensei que não iriam nunca mais falar comigo. Minha mãe
colocou uma pequena caixa na mesa e me disse que minha avó pediu para me
entregar no dia da sua morte. Dentro havia um velho Hamsa e uns brincos de ouro
com uma pequena estrela de David no centro. Nada mais. Sem quaisquer notas ou
comentários, somente esses dois objetos. Fiquei impressionada pelo significado.

Em um instante, me lembrei dos tempos em minha vida que eu tinha visto e sentido
muitas coisas, mas nunca imaginei que eu poderia ter sido descendente de marranos.

Sentada naquela cadeira, segurando a caixa, lembrei-me do cobertor que tinha sido
colocado sobre os nossos ombros durante meu primeiro casamento, como um antigo
costume da família que ainda se usa nos dias de hoje pelos Sephardim, colocar um talit
sobre os ombros do casal. Lembrei-me dos tempos em que minha avó e eu fazíamos
uma quantidade enorme de sobremesas para as festas, as receitas antigas da cidade
de Fermoselle, sempre "parve" (sem leite) e sempre colocando uma pouco da massa,
embrulhada em papel alumínio e colocava no forno. Às vezes ela abria os ovos em um
vidro para ver se havia sangue antes de jogá-los fora, o jeito que sempre me ensinou a
varrer o chão até o centro da sala (uma velha tradição sefardita de varrer as mezuzot
ao centro).

Foi muito para entender, no entanto, fez todo o sentido do mundo. Compreendi
claramente a maneira pela qual minha alma tinha procurado e havia desejado, todos
estes anos, algo que não era lógico. Eu comecei a minha busca por minhas raízes
judaicas. Meu avô me deixou a maior parte do trabalho pronto. Apesar de que não me
deu quando estava vivo, tinha escrito a mão, meticulosamente, uma árvore
genealógica que levou minha pesquisa até os princípios do ano de 1800. Com essas
informações em mãos, fontes da Internet, amigos na Espanha, blogs, etc., tive a
oportunidade de voltar, até duas gerações atrás, mas então, me deparei com um
muro, não era apenas um muro, mas era um muro católico. Até então, eu não tinha
encontrado nada.

A busca me levou 4 anos. Durante esse tempo, eu contratei um ex-padre na Espanha,


que também era um genealogista. Eu queria saber a verdade. Eu não precisava de
alguém para me dizer o que eu queria ouvir. O homem que eu contratei queria que eu
fosse católica. O "shidaj" (combinação) foi perfeito. Ele procurou e pesquisou em
bibliotecas, museus históricos, e eu verificava os resultados em cada etapa. Agora, eu
tenho as cópias da documentação para cada avó voltando atrás a 15 gerações até
1545. Tenho também documentos notariais que vão ainda mais longe do que isso. Em
15 gerações ninguém na minha família tinha deixado a cidade de Fermoselle. Meu avô
foi o primeiro a sair. Minha mãe, na verdade, foi a primeira a casar fora da família. Ela
não se casou com um primo.

Meus resultados até agora têm proporcionado uma rica tapeçaria de uma família de
marranos ou judeus-conversos. Esta tarefa não tem sido fácil, mas agora eu sei que
não é impossível, eu tinha que desembaraçar os fios que minha família tinha
arduamente trabalhado, tecendo mentiras e enganos com que tive que viver para
poder sobreviver. Eu testemunhei pessoalmente como eles mudaram seus nomes em
cada documento oficial subseqüente para que não fossem encontrados pela Inquisição.
Tenho traçado o nome de todos e cada um de minha árvore, para mostrar que cada
nome foi usado pelos marranos como um nome judeu. Inclusive, encontrei um nome
de um proprietário de um açougue casher antes de 1492. A maioria dos nomes são
nomes típicos de judeus que foram forçados a se converter. Nomes topográficos,
como Ramos ou Montana, Flores. Nomes como Diez e muitos outros. E encontrei nos
registros da Inquisição arquivos do Tribunal mostrando judeus com os mesmos nomes,
acusados de judaizantes, a cerca de 5 km do vilarejo da minha família. Eu comparei as
datas e elas coincidem com os nomes da família.

Minha árvore genealógica é típica de marranos, não só pelo grande número de


casamentos entre primos, mas também com a nomeação dos filhos e pela repetição
de nomes de uma geração para outra.

Eu estou no processo de documentar a história judaica de Fermoselle que não foi feita
até agora. Eu quero esclarecer as coisas. Eu quero ser a voz que meus antepassados
nunca tiveram. Mas, acima de tudo, só quero que os outros saibam que a busca é
possível, levando em conta os recursos disponíveis, atualmente, na Espanha e
Portugal, se pode alcançar.

Hoje, eu vivo uma vida completa, em Miami, com o meu marido. Eu sou muito ativa na
minha sinagoga e na Comunidade.

Agora acendo mais duas velas na noite de sexta-feira para minhas 15 avós. Uma para
aquelas que não poderam acender e outra para aquelas que se esqueceram de que
tinham que acender. Minha família judia é bem numerosa e composta, não apenas por
centenas de nomes em minha árvore genealógica, mas também por um grupo muito unido
de amigos próximos que se tornaram minha família. A eles eu sou muito grata por terem
sido sempre um grande apoio em minha busca e escutarem minhas histórias
repetidamente. Eu sou verdadeiramente abençoada. Eu voltei para casa.
Se você suspeita que seja descendente de Conversos ou de Cripto-Judeus (marranos
ou chuetas) da Espanha ou Portugal pode entrar em contato comigo Genie Milgrom-
spanishancestry@aol.com .

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