You are on page 1of 118

AUTISMO: aspectos gerais

HÉLIO VAN DER LINDEN JÚNIOR


NEUROLOGIA INFANTIL E NEUROFISIOLOGIA
- CENTRO DE REABILITAÇÃO DR. HENRIQUE SANTILLO (CRER)
- INSTITUTO DE NEUROLOGIA DE GOIÂNIA
Aspectos históricos

1943-1944: primeira descrição de crianças sintomas de autismo


Ampliação das características clínicas
1943 2015
Classificação do autismo

-Transtorno autista -Autismo infantil


- Transtorno de Asperger - Síndrome de Asperger
- TGD – SOE - Autismo atípico
- Transtorno desintegrativo da infância - Outro TGD ou não especificado
- Transtorno de Rett - Transtorno desintegrativo da infância
- Síndrome de Rett
DSM-V
Classificação do autismo

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA


Dados epidemiológicos
PREVALÊNCIA
- Melhora do conhecimento
- Inclusão de outros diagnósticos
-Aumento do diagnóstico
- Fatores ambientais?
- Epigenética?
2 milhões!!
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
INTERAÇÃO SOCIAL

 Expressão clínica: isolamento social


ou comportamento social inadequado
 Contato visual pobre
 Ausência de reposta ao chamado (suspeita
de surdez!)
 Dificuldade em participar de atividades em
grupo
 Indiferença afetiva ou demonstrações
inapropriadas de afeto
 Falta de empatia social ou emocional
EYE-TRACKER
COMUNICAÇÃO

 Afetam a habilidade verbal e não-verbal de


compartilhar informações com outros
 Persistem na vida adulta e podem permanecer não
verbais
 Aqueles que adquirem habilidade verbal, tem
frequentemente dificuldade em compreender
sutilezas da linguagem bem como tem problemas
para interpretar linguagem corporal e expressões
faciais
Padrões restritos, repetitivos e estereotipados
do comportamento, interesses e atividades
Padrões restritos, repetitivos e estereotipados
do comportamento, interesses e atividades

 Rituais na atividade da vida diária (jeito de vestir,


seletividade de alimentos a ingerir, hora de dormir,
apego excessivo a objetos)
 Uniformidade é a resistência a mudar a rotina ou o
ambiente: recusar ambientes novos, rever a mesma
parte de um filme, de uma música e insistir no mesmo
cronograma todos os dias
 Comportamento restrito, limitado a um objeto, a um
tema ou uma atividade (carros, jogos eletrônicos,
dinossauro, avião, etc)
Prevalência de Distúrbio do Sono no TEA

 50 a 80%
 Sem associação com nível intelectual
 Sem relação com o tipo de TEA
 Características particulares
CORTISOL X MELATONINA
Principais distúrbios do sono no TEA

 Síndrome do atraso de fase do sono


 Insônias comportamentais
 Distúrbio comportamental do sono REM
 Comorbidade com ansiedade e depressão
 Associação com epilepsia
Distúrbios do ritmo circadiano

12 anos, sexo masculino TEA


Insônias comportamentais

Reverberação de atividades diurnas


Ecolalia tardia ou evocada
Incapacidade de “desligar” e relaxar
IMPACTO DO AUTISMO NA FAMÍLIA
 AUTISMO E HABILIDADES ESPECIAIS
SÍNDROME DE SAVANT
 Presença de habilidades
espetaculares em pessoas com
diversos tipos de incapacidade de
desenvolvimento (autismo, lesões
congênitas, etc)
 Incidência 1:10 casos de autismo; 1:
2.000 pacientes com lesão cerebral
ou retardo mental
 Mais comum no sexo masculino
 Lesões preferenciais no hemisfério
cerebral esquerdo
Casos famosos de Savantismo
Savant – existe um pequeno "rain
man" em cada um de nós?

 Potencial escondido em nosso


interior
 Redes neurais dormentes,
hipofuncionais?
 Inibição das potencialidades
savants para desenvolvimento
dos aspectos mais sociais,
sobretudo linguagem
AUTISMO E HOLLYWOOD
DIAGNÓSTICO

Já fiz meu diagnóstico pela internet.


Estou aqui para uma segunda opinião
Diagnóstico (precoce!)

 DSM IV (e V) e CID 10 como instrumentos de


diagnóstico
 ADI- R (autism diagnostic interview-revised):
mais de 100 itens em entrevista com pais
 ADOS (autism diagnostic observation schedule)
 CARS: 15 itens para avaliador, pais ou educador
 CHAT, M-CHAT, SORF: entre 12 e 24 meses

 ATENÇÃO PEDIATRAS!!!!!!!!
CHAT (Checklist for Autism in Toddlers) 18 meses
(Baron-Cohen e cols., 1992)
 9 perguntas em questionário para mãe e 5 itens
de observação pelo pediatra
 Focaliza categorias comunicativas (simbólicas)

M-CHAT (Modified CHAT ) 24 meses


(Robins, Fein, Barton & Green, 2001)
 questionário do CHAT + 23 perguntas para mãe

Carolina Lampreia – PUC RJ


AOSI (Autism Observation Scale for Infants) – 6-18 meses
(Bryson, Zwaigenbaum, McDermott, Rombough & Brian, 2008)

Avaliação estandardizada – 18 itens de observação

Itens com incentivo Itens observados ao longo avaliação

Seguir com olhar Balbucio social


Desengajamento da atenção Contato ocular
Sorriso social recíproco Coordenação olhar e ação
Resposta diferencial para emoção facial Reatividade comportamento
Antecipação social Responsividade ao carinho
Orientação ao nome Responsividade ao ser acalmado
Imitação Interesse social e afeto compartilhado
Transições de uma atividade a outra
Controle motor
Comportamento motor atípico
Comportamento sensorial atípico

Lampreia, C.
A Neurobiologia do Autismo
GENÉTICA FATORES AMBIENTAIS

AUTISMO

EPIGENÉTICA
A despeito de inúmeros estudos conduzidos em TEA durante décadas, até hoje
não há um modelo etiológico ou um marcador biológico ou comportamental, nem
tampouco um processo fisiopatológico único que responda pelas diversas causas
de TEA

A maioria dos autores suportam a hipótese que o mecanismo por trás da etiologia
do autismo é poligênico, e que fatores ambientais podem interagir com fatores
genéticos para aumentar o risco de desenvolvimento da síndrome
Evidências genéticas

 Taxa de concordância em gêmeos


monizigóticos de até 90%
 Menor associação com dizigóticos (0 a 20%)
 Mesmo em monozigóticos, a taxa de
concordância não é completa, bem como
difere em tipos e níveis de gravidade

Hallmayer et al. Arch Gen Psychiatry 2011


Estudos familiares

 Taxa de concordância de irmãos de indivíduos


autistas de causa desconhecida: 5 a 20%
 2 ou mais casos na família: 35%
AUTISMO

Idiopático Microalterações do DNA Secundário


TEA tipo Secundário – 10%
Síndrome do X-frágil Distrofia muscular de Duchenne
Esclerose Tuberosa Síndrome de Tourette
Síndrome de Rett Hipomelanose de Ito
Síndrome de Angelman Transtornos Marfan-like
Síndrome de Prader-Willi Doenças mitocondriais
Duplicação do 15q11-q13 Fenilcetonúria
Neurofibromatose tipo I Síndrome da Smith-Lemli-Opitz
Síndrome de Down Síndrome da Smith Magenis
Deleção de 2q Síndrome de Sotos
Deleção de 22q11.2 e 22q13.2 Distrofia miotônica de Steinert
Deleção de 13q Síndrome de Timothy
Síndrome ARX Síndrome de Turner
Seqüência de Moebius Síndrome de Williams
Síndrome de Cohen Síndrome de Potocki-Lupski
Síndrome de Cole-Huges Síndrome 47, XXY
Síndrome de Cowden Síndrome de Joubert
Síndrome da Cornélia de Lange Transtornos metabólicos (vários)
TEA tipo Secundário – 10%
Síndrome do X-frágil Distrofia muscular de Duchenne
Esclerose Tuberosa Síndrome de Tourette
Síndrome de Rett Hipomelanose de Ito
Síndrome de Angelman Transtornos Marfan-like
Síndrome de Prader-Willi Doenças mitocondriais
Duplicação do 15q11-q13 Fenilcetonúria
Neurofibromatose tipo I Síndrome da Smith-Lemli-Opitz
Síndrome de Down Síndrome da Smith Magenis
Deleção de 2q Síndrome de Sotos
Deleção de 22q11.2 e 22q13.2 Distrofia miotônica de Steinert
Deleção de 13q Síndrome de Timothy
Síndrome ARX Síndrome de Turner
Seqüência de Moebius Síndrome de Williams
Síndrome de Cohen Síndrome Potocki-Lupski
Síndrome de Cole-Huges Síndrome 47, XXY
Síndrome de Cowden Síndrome de Joubert
Síndrome da Cornélia de Lange Transtornos metabólicos (vários)
Síndromes genéticas

TSC1 e TSC2
Cromossomos 9 E 16

Cromossomo 15
Cromossomo X
AUTISMO

Idiopático Microalterações do DNA Secundário


CGH-micro array

Microduplicações
Microdeleções
(10 a 20%)
AUTISMO

Idiopático Microalterações do DNA Secundário


SEQUENCIAMENTO DO EXOMA (ÚLTIMA GERAÇÃO)
Aproximadamente 200 gens candidatos ou relacionados ao TEA
Gens, fisiologia e organização celular, sinapse e autismo
SINAPSE E AUTISMO
O PAPEL DAS SINAPSES NO CÉREBRO EM DESENVOLVIMENTO

Disfunção de circuitos neurais essenciais para


comportamento social, determinado por mutações
de genes relacionados a sinapses em vias específicas
Neurotransmissores e autismo
Serotonina e autismo

 Diminuição da atividade
serotoninérgica em crianças com
TEA
 Mutação do gen triptofano 2,3-
hidroxilase
 Melhora de sintomas com IRSS
 Capacidade de síntese de
serotonina 2x maior em crianças
hígidas
Chugani H – 1999. 2002, 2008,2011
Modelo de depleção de serotonina
Glutamato e autismo

 Excitabilidade
 Associação com epilepsia
 Mutação do gen dos
receptores do glutamato 8
GABA e autismo
Autismo e crescimento anormal do cérebro

-Surgimento precoce e duração mais prolongada estão associados a quadros


mais graves de autismo (Courchesne E – JAMA 2003)
“Poda” sináptica
TEORIA DA MENTE

 Entender sentimentos e pensamentos alheios


 Entender que outros esperam que seu
comportamento mude dependendo de onde ou
com quem estão
 Prever o que as pessoas irão fazer
 Interpretar gestos ou expressões faciais
 Entender como seu comportamento pode irritar os
outros
 Entender regras sociais
 Expressar emoções de maneira adequada
NEURÔNIOS EM ESPELHO
Interação social

normal autismo

- Maior a severidados sintomas, menor a ativação dos neurônios espelho


Estudos de Neuroimagem
 Estudos quantitativos voxel por voxel Redução substância cinzenta

 Giros frontais inferiores


 Núcleo caudado
 Parietal medial
 Temporal superior

 Parietal medial
 Temporal superior

Arch Gen Psychiatry. 2012;69(2):195-209


Alterações estruturais

 Alteração do padrão dos principais sulcos nas


regiões frontal e temporal

 Diferenças morfométricas em áreas da linguagem:

Indivíduos normais - aumento cortical da área da


linguagem frontal lateral inferior esquerdo
Indivíduos TEA – aumento contralateral
Molecular Autism, 2011
Tensor de difusão - DTI

Corpo caloso:
Redução número fibras
Volume

Psychiatry Research: Neuroimaging 194 (2011) 333–339


Fascículo fronto-occipital inferior

Fascículo longitudinal superior

Corpo caloso
Comunicação não-verbal – processamento facial

- As faces servem de uma fonte central de informação social.


- Pacientes autistas falham em usar a informação da face para este fim (afeto facial, o olhar e a
expressão facial)

normal

- Menor ativação giro fusiforme


- Utilizam ativação de outras áreas em resposta as faces
Fatores ambientais x autismo

Uso de substâncias durante a


gestação: Infecção pré-natal:
Talidomida Citomegalovírus
Ácido Valpróico Herpes simples
Misoprostol Rubéola
Álcool (diário) Sarampo
Cigarro (diário) Sífilis
Toxoplasmose
• Fatores Perinatais de risco:
• Sangramento vaginal
• Prematuridade
• Baixo APGAR 5’ (hipóxia)
NEAD STUDY (Neurodevelopmental Effects of Antiepileptic Drugs)
www.neadstudy.com; www.web.emmes.com/study/nead

VPA: aumento de 7 x o risco de TEA!!


Outros fatores pre e perinatais

 Idade materna e paterna avançada


 Diabetes gestacional
 Gestação múltipla
 Primeira gestação em relação às demais
 Imigração parental (sexo masculino e áreas
urbanas)
 Exposição à poluição
 Depressão materna e uso de IRSS
Fatores ambientais x autismo
Fatores ambientais x autismo
Fatores ambientais x autismo
PESO DOS FATORES ETIOPATOGÊNICOS

Ambiente

Genética
Genética
Ambiente
E A EPIGENÉTICA???
Epigenética

 Modificações epigenéticas do DNA são


estáveis e podem ser transmitidas por gerações
 Modelos animais: alterações da metilação do
DNA que se transmitiu para as células
germinativas
ABORDAGEM TERAPÊUTICA

 Consenso atual: intervenções educacionais precoces,


orientadas de modo comportamental, associada a
terapias reabilitadoras suplementares são os
tratamentos mais eficazes desenvolvidos até o
momento
 Intervenção farmacológica = terapia auxiliar, que
pode amenizar ou suprimir comportamentos
específicos e capacitar a criança a participar dos
ambientes familiar e escolar
ABORDAGEM TERAPÊUTICA

 Deve ser multimodal, multidisciplinar e


individualizado – a fim de obter mudanças
comportamentais funcionais que se generalizem e
que sejam mantidas ao longo do tempo,
resultando na completa inclusão em todos os
aspectos da vida em comunidade.
TERAPIAS AUXILIARES
 Fisioterapia e Terapia Ocupacional
 Terapia da fala e da linguagem
 Arteterapia e Musicoterapia
 Equoterapia
 Educação física
TERAPIAS ESPECÍFICAS

 ABA (Applied Behavior Analysis) –


baseada no condicionamento operante
para incrementar comportamentos
socialmente significativos e reduzir
comportamentos indesejáveis. Vários
métodos instrucionais específicos
encaixam-se no ABA: DTT (ensino
experimental distintivo), VB (análise
da conduta verbal)
TERAPIAS ESPECÍFICAS

 Modelo do desenvolvimento baseado


no relacionamento e na diferença
individual = Floor Time – pode ser
um complemento útil à terapia
comportamental tradicional
TERAPIAS ESPECÍFICAS

 Ensino estruturado – creditados à divisão


TEACCH (tratamento e educação de crianças
autistas e com déficit da comunicação)
Outras abordagens

? ?

? ? ?
O PAPEL E IMPORTÂNCIA DA ESCOLA
Farmacoterapia nos TEA

Indicação: permitir que a criança se beneficie das


intervenções comportamentais:

 Comportamentos Obsesivo-compulsivos/Estereotipias
 Falta de atenção, hiperatividade
 Comportamentos agressivos/auto-mutilantes
 Transtornos do sono
Tratamento de sintomas específicos

 Curta duração
 Abrir janelas de oportunidade
 Permitir maximizar as intervenções sociais,
comunicativas, cognitivas, e educacionais
Estudos duplo-cego, controlados com placebo em TEA

 Anti-psicóticos (n=531)
Haloperidol: 4 estudos
Risperidona: 4 estudos
Aripiprazole: 2 estudo
Olanzepina: 1 estudo
 Fluoxetina: 2 estudos (n=61)
 Fluvoxamina: 2 estudos (n=64)
 Clonidina: 2 estudos (n=15)
 Clomipramina: 2 estudos (n=15)
 Buspirona: 1 estudo
 Metilfenidato: 1 estudo (n=10)
 Naltrexone: 15 estudos (n= 180)
 Fenfluramina: 14 estudos (n= 165)
Dr. Carlos Gadia
 Piridoxina (Vitamina B-6): 5 estudos (n= 130)
 Secretina: 13 estudos (N >500)
Indicação específica

 Comportamento agressivo, auto-mutilante,


agressividade, estereotipias intensas

NEUROLÉPTICOS
 Haloperidol
 Risperidona*
 Olanzepina
 Quetiapina
 Ziprasidona
 Aripiprazole*
RISPERIDONA EM AUTISMO

 Sólida evidencia de melhora de comportamento agressivo,


irritabilidade e comportamentos auto-mutilantes e mudanças de
humor em estudos DCPC

 Bem tolerada e efetiva por até 6 meses

 Necessário monitorar movimentos involuntários, ganho de peso


e síndrome metabólica

Dr. Carlos Gadia


Indicação específica

 Depressão, ansiedade, comportamentos


repetitivos, oscilação de humor
Anti-Depressivos:
Clomipramina
Fluoxetina
Fluvoxamina
Sertralina
Citalopram/Escitalopram

Estabilizadores do humor
Indicação específica

 Desatenção, hiperatividade, impulsividade

Estimulantes do SNC
Metilfenidato
D-metilfenidato
Sais de Anfetaminas

Agonistas Alfa-Adrenérgicos
Clonidina
Guanfacina

Atomoxetina
Intervenções promissoras

Ocitocina interanasal melhora tarefas de reconhecimento de emoções em


indivíduos com TEA (Guastella AJ et al. Biol Psychiatry, Nov 2009)
- Não precisamos ser “salvos” pela próxima descoberta da medicina
- Conceito de NEURODIVERSIDADE
“Diagnósticos” do cérebro humano
segundo os ASPIES

 Obcessivamente social

 Facilmente distraído

 Déficit de atenção aos detalhes


PARECE QUE PARA SE TER SUCESSO NA CIÊNCIA E NA ARTE,
UM TRAÇO DE AUTISMO É ESSENCIAL

You might also like