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Capítulo IV

Transição à Turbulência

4.1. Introdução

Considere-se um escoamento em regime laminar, sobre o qual perturbações, de


pequenas amplitudes e com larga banda de frequências, são introduzidas. A transição ao
regime de turbulência, identificada por, entre outros pesquisadores, Reynolds (1883),
pode ocorrer. As perturbações, submetidas a um processo não linear de amplificação, dão
origem a instabilidades fluidodinâmicas, que por sua vez desenvolvem estruturas
turbilhonares. Estas perturbações podem ter diferentes fontes e naturezas: mecânicas,
dinâmicas, térmicas ou geométricas. Por exemplo, as vibrações das paredes de uma
tubulação de uma instalação industrial, propagam-se para o interior do escoamento, na
forma de perturbações mecânicas; oscilações na vazão de um fluido gerarão perturbações
dinâmicas, enquanto flutuações no fluxo de energia térmica darão origem a perturbações
térmicas e, ainda, ondulações ou rugosidade nas paredes caracterizam perturbações
geométricas. Na maioria dos escoamentos, as perturbações são provenientes de
diferentes fontes e caracterizadas por uma larga banda de frequências.
O processo de transição à turbulência é, ainda, pouco compreendido e envolve
mecanismos físicos de grande complexidade. Até a atualidade, ainda não foi desenvolvida
nenhuma teoria suficientemente abrangente sobre o tema “transição à turbulência”,
capaz de representar todos os seus aspectos físicos. Embora os mecanismos de interação
entre as instabilidades sejam não lineares, as primeiras fases do processo de transição à
turbulência são de natureza linear. Sob estas circunstâncias, a teoria da estabilidade linear
pode oferecer grande contribuição à compreensão dos fenômenos físicos associados ao
início do processo de transição à turbulência. A teoria da estabilidade não linear é
também uma ferramenta interessante, mas ainda não pôde trazer luz ao entendimento
desse tema, até a atualidade. Essas teorias, da estabilidade linear e da estabilidade não
linear, têm contribuído para descobrir o que pode acontecer no processo de transição,
mas não pode contribuir para descobrir as causas dos acontecimentos.
Alternativamente, a modelagem matemática diferencial para a fluidodinâmica tem
trazido avanços significativos para a compreensão do tema transição à turbulência e para
a compreensão da turbulência em si, resultando em poderosa ferramenta de análise e
compreensão da natureza física dos escoamentos. Um escoamento turbulento apresenta
todas as características de um sistema dinâmico e, quanto mais turbulento, maior é o
número de graus de liberdade que o caracteriza. A solução plena do modelo matemático
diferencial que modela esse tipo de sistema dinâmico requer que todos os graus de
liberdade sejam resolvidos simultaneamente. Essa metodologia é conhecida como
Simulação Numérica Direta, cujo acrônimo DNS será utilizado ao longo de todo o texto.
Ele vem do inglês, Direct Numerical Simulation. De fato, a metodologia DNS permite
praticar o que, realisticamente, pode ser denominado de experimentação virtual dos
escoamentos transicionais e turbulentos. Essa metodologia tem permitido entender
grande quantidade de aspectos físicos dos escoamentos e se tornou uma das duas
principais metodologias de análise da turbulência nos fluidos, complementando o que
será denominado, no presente texto, de experimentação material. Muitos exemplos serão
apresentados ao longo do presente texto.
A despeito de todos os avanços conseguidos na compreensão do tema transição à
turbulência, utilizando-se da teoria da estabilidade linear, da teoria da estabilidade não
linear, da experimentação material e da experimentação virtual, esse tema continua
sendo um dos maiores desafios da física moderna e ainda carece de uma teoria fechada e
completa. O presente texto expressa o que se compreende sobre o tema e será
apresentado de forma a classificar, por grupos, os escoamentos que transicionam do
regime laminar para o regime turbulento. Essa classificação deve seguir padrões, segundo
a natureza física da formação e do transporte das instabilidades fluidodinâmicas e das
estruturas turbilhonares que caracterizam o cenário da transição dos escoamentos.
Apesar dos teoremas de Rayleigh e Fjortoff, terem sido demonstrados para escoamentos
invíscidos inflexionais, ver Drazin and Reid (1981), suas aplicações se estendem, também,
aos escoamentos viscosos. Em vista disso, pensou-se, durante muito tempo, que somente
os escoamentos cisalhantes livres fossem suscetíveis de transicionar. Coube a Prandtl
constatar que os efeitos viscosos podem desestabilizar escoamentos do tipo camada
limite, onde não existe inflexionalidade do perfil médio de velocidade. Além dos
escoamentos do tipo camada limite, existem outros escoamentos viscosos suscetíveis de
transição à turbulência, os quais também não apresentam inflexionalidade.
Todos os escoamentos que transicionam podem ser agrupados em função da
natureza física das instabilidades que caracterizam a transição, ou seja, transição de
natureza cisalhante livre, transição de natureza viscosa, transição de natureza centrífuga,
transição por convecção natural e transição de Marangoni, devido a gradientes de tensão
interfacial. Finalmente, têm-se os escoamentos complexos que resultam da combinação
de dois ou mais tipos dos escoamentos canônicos, citados acima. A seguir estes
escoamentos são estudados separadamente e exemplos ilustrativos serão também
apresentados.

4.2. Escoamentos cisalhantes livres

Entende-se por escoamentos cisalhantes livres, aqueles que ocorrem sem a


presença de paredes e apresentam regiões de variações espaciais da velocidade das
partículas de fluido, ou seja, apresentam regiões com cisalhamento. De particular
interesse são aqueles que apresentam cisalhamento inflexional e, em especial, aqueles
cujos campos de velocidade média atendem aos teoremas de Rayleigh (1880) e Fjortoff
(1950). Eles podem ser subdivididos em três tipos distintos, apesar do processo de
transição ser similar em todos eles. São eles: camadas de mistura, jatos e esteiras.

4.2.1. Camadas de mistura


Uma camada de mistura se origina a partir de uma camada cisalhante que se
localiza entre escoamentos de fluidos com velocidades diferentes, tal como ilustram as
Figuras 4.1 (a) e (b). Na Figura 4.1 (a) o estado inicial é uma distribuição inflexional de
velocidade que se repete ao longo de todo o domínio. Na Figura 4.1(b) tem-se um estado
inicial que se caracteriza por um perfil inflexional de velocidade na entrada do domínio.
Esse perfil modela a condição de contorno na entrada e será mantido ao longo de todo o
tempo de simulação. Quando os campos médios de velocidade que se estabelecem ao
longo de toda a camada (Fig. 4.1(a)), ou na entrada do domínio (Fig. 4.1(b)), atendem aos
teoremas de Rayleigh (1880) e Fjortoff (1950), ficam garantidas as condições necessárias,
mas não suficientes, para que estas camadas se tornem instáveis, na presença de
perturbações externas e internas. Dependendo do número de Reynolds que caracteriza
este escoamento e da banda de frequências que caracteriza as perturbações, pode
ocorrer transição à turbulência. Para tanto, o campo de velocidade inflexional amplifica as
perturbações injetadas, dando origem a instabilidades de Kelvin-Helholtz, as quais
evoluem para estruturas turbilhonares de Kelvin-Helmholtz. Assim, as camadas
cisalhantes, inicialmente estáveis, transformam-se em camadas de mistura instáveis. A
evolução para a transição à turbulência ocorrerá de duas maneiras distintas:
apresentando um comportamento dito temporal ou apresentando um comportamento
dito espacial. Ambos os casos serão discutidos nos próximos itens.

4.2.1.1. Camada de mistura em desenvolvimento temporal

A Figura 4.1 ilustra a distribuição de velocidade. O perfil ali apresentando deve ser
repetido em todo o domínio de cálculo, de forma auto similar. A variação inflexional de
velocidade ocorre na direção vertical. A velocidade varia de um mínimo U 1 até um

máximo U 2 . O ponto de inflexão se localiza no centro do domínio. A camada cisalhante

está delimitada entre as duas linhas pontilhadas. A espessura inicial  está representada
à direita da figura onde se esquematiza uma forma de defini-la, sendo a distancia entre os
dois pontos de cruzamento entre a tangente ao ponto de inflexão e as duas retas verticais
tangentes à distribuição de velocidade.

Pontos de inflexão
Camada cisalhante

Figura 4.1. Domínio no qual se representam, qualitativamente, o campo inicial de


velocidade inflexional, para camadas de mistura em desenvolvimento temporal.

As imagens da Figura 4.2 mostra uma sequência de fases do processo de formação


das instabilidades de Kelvin-Helmholtz em uma camada de mistura em desenvolvimento
temporal. Em um primeiro momento, perturbações com uma banda larga de frequências
são injetadas sobre o campo inflexional de velocidades, ilustrado com linhas de corrente
uniformes, como pode ser visualizado na Fig. 4.2(a). Na sequência, observa-se a
manifestação de instabilidades sobre a camada cisalhante, ilustrada na Figura 4.2 (b), o
que resulta do processo de amplificação das perturbações injetadas no escoamento. Estas
oscilações aparecem com um comprimento de onda dito o mais amplificado e
representado por  , associado ao qual aparece o número de onda mais amplificado e
max

representado por kmax  2 / max .

O processo de amplificação das perturbações pode ser mais bem entendido


analisando o campo de pressão. Sabe-se que a velocidade local é inversamente
proporcional à distância entre as linhas de corrente. A pressão é maior na região de
menor velocidade, o que gera gradientes de pressão que por sua vez geram forças
verticais ascendentes e descendentes, como indicado na Figura 4.2 (a). Observa-se que a
força gerada pelos gradientes de pressão sobre a camada cisalhante é uniformemente
distribuída sobre toda a sua extensão. O fato desta distribuição de forças ser uniforme não
pode, por si só, gerar instabilidades. Como o sistema está sendo perturbado, o processo
não linear de amplificação de perturbações se encarrega de gerar a primeira instabilidade
fluidodinâmica. A primeira instabilidade que surge tem comprimento de onda  max
como

ilustrado na Figura 4.2 (b).


A partir do momento que esta primeira instabilidade se manifesta surge um
desbalanceamento no campo de pressão, como ilustrado na Figura 4.2 (b). De fato, com o
aparecimento da instabilidade na forma de uma onda, aparecem cristas e vales, com
regiões de compressão e de expansão das linhas de corrente, indicando regiões de
aceleração e de desaceleração respectivamente. Assim os gradientes de pressão mudam
de sinal alternadamente, gerando um desbalanceamento sobre o campo de força,
originalmente uniforme. Essa inversão no sinal dos gradientes de pressão está ilustrada
nas Figuras 4.2 (b) e (c).
Este processo é não linear e irreversível, desde que as condições de operação do
sistema sejam mantidas. Uma vez iniciado o processo de geração desta instabilidade, ela
se amplificará, gerando uma forte interação, das cristas e dos vales, com as correntes de
velocidades U 1 e U 2 . As cristas serão transportadas, na direção do escoamento, mais

rapidamente que os vales, iniciando um processo de enrolamento da camada cisalhante,


como ilustrado na Figura 4.2 (c). Assim, inicia-se o processo de enrolamentos
turbilhonares, de natureza periódica, conhecidos como estruturas turbilhonares de Kelvin-
Helmholtz.

Camada cisalhante
p- p- p- p- p- p- p- p- p-

p+ p+ p+ p+ p+ p+ p+ p+ p+
+ + + +
- - -
(a)
p- p- p- p-
p+ p+ p+

p+ p+ p+ p+
p- p- p-
max

(b)

(c)
Figura 4.2. Comportamento das linhas de corrente na fase inicial do processo de transição
de uma camada de mistura temporal.

Este valor de número de onda é selecionado, pelo escoamento, entre todos os


demais comprimentos de onda que compõem o espectro de valores do número de onda
das perturbações injetadas. Os mecanismos físicos de seleção deste número de onda kmax ,

ainda não são completamente conhecidos. Um estudo muito importante foi realizado por
Betchov e Szewcyk (1963), tendo em vista quantificar o número de onda mais amplificado
em função do número de Reynolds, para escoamentos do tipo camadas de mistura em
desenvolvimento temporal. Esse autores utilizam a teoria da estabilidade linear (Drazin,
2002 e Drazin e Reid, 2004), o que resultou em um diagrama de estabilidade. Esse
diagrama é ilustrado na Figura 4.3, a qual é uma adaptação qualitativa da publicação
original. Essa figura é muito útil para melhor compreender o processo de transição à
turbulência. Essa figura é apresentada com parâmetros adimensionais, ou seja, no eixo
vertical aparece o número de onda adimensional k , onde  é a espessura da camada de
mistura; no eixo horizontal aparece o número de Reynolds Re  U /  , foi definido com
base em  e na velocidade média U  U1  U 2  / 2 . As linhas que aparecem na figura são

isovalores da taxa adimensional de amplificação kci / U das perturbações, em que ci é a

velocidade de transporte das ondas de perturbações.


Para ilustrar a utilidade desse diagrama, escolhe-se um valor para o número de
Reynolds, por exemplo, Re  12 , traça-se uma reta vertical que cruza as várias iso-linhas

de taxa de amplificação. Em particular, essa linha vertical tangencia a iso-linha de


kci / U  0,1 . As demais linhas que essa vertical cruza são relativas a taxas de

amplificação com valores inferiores a esse valor. Isso significa que para esse valor de
Reynolds, a taxa de amplificação máxima é  kci / U max  0,1 que corresponde a

 k max  0, 25 . Assim, a primeira instabilidade a aparecer deve ter esse comprimento de


onda. Outros comprimentos de onda estariam sendo amplificados simultaneamente,
porém com menores taxas de amplificação, o que significa que as instabilidades
secundárias viriam a se manifestar, visivelmente, em tempos posteriores.
É importante enfatizar que todos os comprimentos de onda que caracterizam a
banda abaixo da linha neutra do diagrama de estabilidade, se amplificam de forma
simultânea, mas com taxas de amplificação diferentes. Assim, na evolução do processo de
transição, todos os números de onda presentes nesta banda amplificada, dão origem a
uma ampla variedade de instabilidades que comporão o espectro de estruturas
turbilhonares do escoamento turbulento, resultante deste processo de transição.
Eventualmente instabilidades podem se emparelhar para gerar maiores comprimentos de
onda ou uma instabilidade pode se quebrar em duas ou mais, para dar origem a outras
instabilidades de menores comprimentos de onda, devido aos fortes cisalhamentos
existentes no escoamento. Cabe ressaltar que o principal mecanismo de formação de
instabilidades não é o processo de quebra ou de emparelhamento de instabilidades e sim
o processo de amplificação de perturbações com comprimentos de onda diferentes do
comprimento de onda dito “o mais amplificado”.
1, 0
kci / U 0
k 0, 00
Região de estabilidade
0, 05
0,10
0, 5 0,15

kmax
Região de instabilidades

0, 0
0, 0 10, 0 20, 0 30, 0 40, 0
U 0
Re 

Figura 4.3. Diagrama de estabilidade, adaptado de Betchov e Szewcyk (1963), apresentado
esquematicamente.

Uma análise mais detalhada da Figura 4.3 pode ser útil para compreensão física da
dinâmica de uma camada de mistura temporal, assim como para a validação de resultados
numéricos obtidos da solução computacional das equações que compõem o modelo
diferencial, ou seja, a equação da continuidade e as equações de Navier-Stokes. O campo
de velocidade média de base, utilizado para a obtenção dessa figura é dado por:

U  y   U tanh  y /   . (4.1)

O diagrama mostra uma região de estabilidade, com taxas de amplificação negativas e


uma região de instabilidades, com taxas de amplificação positivas, separadas por uma
linha neutra, dada por taxa nula de amplificação. As linhas de taxas de amplificação
constantes são ilustradas. Cada valor do número de Reynolds que se fixa, determina-se
um valor kmax correspondente à máxima taxa de amplificação. A linha tracejada une os

pontos relativos às máximas taxas de amplificação. Essa curva pode ser dada por um
polinômio, conforme sugerido por Betchov e Szewcyk (1963). Torna-se possível prever
qual será o comprimento de onda mais amplificado em uma camada de mistura temporal,
para um dado valor do número de Reynolds.
A evolução do processo de amplificação de perturbações e geração das
instabilidades de Kelvin-Helmholtz está ilustrada também na Figura 4.4, obtida por meio
da solução numérica das equações de Navier-Stokes, utilizando-se a metodologia pseudo-
espectral de Fourier (Moreira e Silveira-Neto, 2007). Observa-se na Figura 4.4 (a) a
amplificação da perturbação de comprimento de onda max e na Figura 4.4 (b) tem-se o

início do enrolamento da camada cisalhante, dando início à formação das instabilidades


de Kelvin-Helmholtz. Nas Figuras 4.4 (c) e (d) essas instabilidades se completam e
promovem o transporte de fluido rico em quantidade de movimento linear (sentido
descendente) e fluido pobre em quantidade de movimento linear (sentido ascendente)
para o interior das estruturas turbilhonares. Esse processo explica, fisicamente, a
denominação camada de mistura, atribuída a este tipo de escoamento. No presente caso,
mostra-se uma camada de mistura bidimensional em desenvolvimento temporal, uma vez
que as estruturas turbilhonares são periódicas e topologicamente semelhantes ao longo
do espaço. Isto implica que estas estruturas turbilhonares evoluem ao longo do tempo,
preservando, a cada instante, uma similaridade topológica espacial.
O processo de evolução temporal de uma camada de mistura se dá através do
desenvolvimento de novas instabilidades com comprimentos de onda diferentes de max .

Estas novas instabilidades podem ser entendidas como harmônicos e sub-harmônicos do


número de onda k max
 2 /  . Elas se desenvolvem com uma taxa de amplificação
max

inferior a max , com a qual as instabilidades primárias aparecem. Pode-se entender que as

demais instabilidades que comporão o espectro indicado na Figura 4.3 se amplificarão de


forma concomitante com a instabilidade primária, dita a mais amplificada. Porém, elas só
se manifestam em tempos posteriores, devido ao fato que elas são amplificadas com taxas
de amplificação inferiores à taxa máxima. Essas instabilidades harmônicas podem ser
localizadas no espectro de taxas de amplificação ilustrado na Figura 4.3. Fisicamente estas
instabilidades podem se manifestar como aparelhamento das instabilidades primárias.
Esses emparelhamentos ocorrem devido ao fato que a esteira de instabilidades primárias
oscila com um comprimento de onda    , fazendo com que as instabilidades de
max

Kelvin-Helmholtz entrem de forma sucessiva em regiões mais rápidas e em regiões mais


lentas do escoamento, criando um novo enrolamento e duplicando o tamanho das
estruturas turbilhonares. Esse mecanismo é semelhante ao enrolamento de Kelvin-
Helmholtz, através do qual as estruturas primárias se formam. Assim, formam-se
estruturas maiores, caracterizadas por números de onda menores que o número de onda
mais amplificado, k  kmax . Da mesma forma, harmônicos com k  k se formam no
max

interior das instabilidades primárias de Kelvin-Helmholtz, como ilustrado na Figura 4.5.


Elas passam a compor o espectro de estruturas turbilhonares que caracterizam o
escoamento em transição para seu estado de turbulência plena.

Figura 4.4. Camada de mistura bidimensional em desenvolvimento temporal (figura


retirada de Moreira e Silveira-Neto, 2007). À esquerda visualiza-se um escalar passivo e à
direita, visualiza-se a vorticidade.
Figura 4.5. Camada de mistura bidimensional em desenvolvimento temporal. Formação de
instabilidades hormônicas de Kelvin-Helmholz dentro de instabilidades primárias também
de Kelvin-Helmholz.

O processo de transição à turbulência passa forçosamente pela formação de


instabilidades tridimensionais. Escoamentos deste tipo ocorrem com frequência na
natureza e, muitas vezes, podem ser visualizados com o auxílio de algum traçador natural,
por exemplo, as nuvens na atmosfera terrestre ou a existência de impurezas nas águas do
rio Negro e do rio Solimões. A título de ilustração, a Figura 4.6 mostra uma camada de
mistura em desenvolvimento temporal, visualizada na atmosfera terrestre, graças à
presença de nuvens, posicionadas justamente na região que se encontram as duas
correntes adjacentes de ar, a velocidades diferentes. Neste caso, as correntes de ar
deslocam-se da direita para a esquerda, sendo que a corrente mais rápida se encontra
acima das instabilidades de Kelvin-Helmholtz enquanto que a corrente mais lenta se
encontra abaixo. Isso faz com que os enrolamentos de Kelvin-Helmholtz aconteçam no
sentido anti-horário. Percebe-se, qualitativamente, a natureza tridimensional desse
escoamento.
As instabilidades tridimensionais podem ser estudadas com detalhes por simulação
computacional. Simulações foram realizadas no MFLab, usando o código AMR3DP,
desenvolvido por pesquisadores desse laboratório. Trata-se de uma camada de mistura
em desenvolvimento temporal tridimensional. O domínio é cartesiano e definido por
D  0;8  0;4  0;8 . O sistema de eixos coordenados é composto por  x, y, z  . Esse

domínio foi discretizado por uma malha de  64,32, 64  sendo que esse código
computacional possibilita o refinamento adaptativo e, no presente caso, foram utilizados
3 níveis de refinamento. O perfil de base de velocidade foi dado por:

  y  2 
V  (u, v, w)  (20  tanh   , 0, 0) . (4.2)
  

Figura 4.6. Camada de mistura em desenvolvimento temporal; escoamento atmosférico


tridimensional (acervo pessoal).

Como pode ser deduzido da Equação (4.2) e da especificação do domínio, as velocidades


das correntes livres, na direção longitudinal do domínio são 10 m / s  e 10 m / s  . Sobre

as três componentes de velocidades iniciais foi superposto um ruído branco de


intensidade 1% da velocidade das correntes livres na direção do escoamento, 0,5% na
direção vertical e 0,25% na direção transversal. Esse é um ruído aleatório no espaço. A
espessura inicial  0 , ilustrada na Figura 4.1, foi aqui estabelecida em  0  0,1  m . A

viscosidade cinemática do fluido é   102 m2 / s  . Assim, o número de Reynolds,

baseado na espessura inicial da camada de mistura é Re0  200. Condições de contorno

de periodicidade são utilizadas na direção do escoamento e na direção transversal. Na


direção vertical foi utilizada a condições de escoamento livre.
Na Figura 4.7 mostra-se 4 tempos da evolução do escoamento. Na Figura 4.7 (a) tem-se o
tempo t  0 s  na aparece apenas o ruído imposto sobre as componentes da velocidade

inicial, dadas pela Equação (4.2). Foi utilizado um gerador de ruído branco. Esse ruído
modela as perturbações que estão sempre presentes em qualquer experimento, como o
que foi apresentado pela Figura 4.6. Na Figura 4.7 (b) percebe-se que o escoamento
selecionou um comprimento de onda max , que, em conformidade com a teoria da

estabilidade linear, foi amplificado com taxa de amplificação máxima. Esse processo dá
origem às chamadas instabilidades de Kelvin-Helmholtz. Observa-se que o comprimento
do domínio na direção do escoamento é Lx  8 m e que, na Figura 4.7 (b), apareceram 5

estruturas de Kelvin-Helmholtz o que resulta em um comprimento de onda da simulação


computacional de max.sc  1,6 m . Utilizando o diagrama de estabilidade de Betchov e

Szewcyk (1963), representado qualitativamente pela Figura 4.3, considerando que o


Reynolds inicial é Re0  200 , obtém-se a previsão de comprimento de onda mais

amplificado, obtido pela teoria de estabilidade linear, max.tel  1,6 m . Essa comparação

valida a metodologia e o modelo computacional utilizado, frente à teoria da estabilidade


linear. Percebe-se ainda na Figura 4.8 (b) o início do processo de indução de instabilidades
longitudinais, as quais se manifestam mais claramente na Figura 4.7 (c). Esses filamentos
longitudinais se enrolam sobre as instabilidades de Kelvin-Helmholtz, gerando fortes
efeitos mecânicos e fortes deformações, contribuindo para o processo de
tridimensionalização do escoamento. Essas instabilidades longitudinais se manifestam
posteriormente às instabilidades de Kelvin-Helmholtz. No entanto, elas estão sendo
amplificadas ao mesmo tempo que as instabilidades de Kelvin-Helmholtz, porém com taxa
de amplificação menor. Na Figura 4.7 (d) percebe-se uma maior riqueza de instabilidades
longitudinais e de outras mais, com uma variedade de comprimentos de onda. Percebe-se
que a transição se inicia com a organização e a seleção de cinco comprimentos de onda,
ilustrados na Fig. 4.7 (b). Na Fig. 4.7(c) tem-se quatro comprimentos de onda, mostrando
que duas instabilidades de Kelvin-Helmholtz se emparelharam. Na Fig. 4.7 (d) tem-se
apenas dois comprimentos de onda, mostrando que ocorreram mais dois
emparelhamentos. Nesse instante o escoamento já se encontra em estado avançado de
tridimensionalização, o qual pode ser caracterizado como um regime de turbulência em
evolução. Objetiva-se com essas figuras ilustrar o processo de transição à turbulência e
não a turbulência plenamente desenvolvida.
Na Figura 4.8 apresentam-se a análise da sensibilidade da evolução temporal do
escoamento ao tipo de ruído injetado na condição inicial da simulação. O caso simulado é
o mesmo da Figura 4.7, mas com modificações no ruído. Na Figura 4.8 (a) tem-se que os

(a) (b)

(c) (d)
Figura 4.7. Camada de mistura em desenvolvimento temporal; ruído superposto à
condição inicial; (a), (b), (c) e (d) sequencia temporal do escoamento, visualizado com iso-
valores do critério Q. Simulação realizada no MFLab-FEMEC-UFU, por Rafael Romão,
utilizando o modelo computacional AMR3DP.
ruídos nas três direções têm sementes e intensidades diferentes. Na Figura 4.8 (b) tem-se
as mesmas sementes, mas intensidades inferiores ao caso (a). Percebe-se o mesmo
padrão da transição, porém, no caso (a) tem-se uma evolução mais avançada que no caso
(b). Esse padrão era esperado uma vez que, se as sementes são as mesmas, as frequências
são as mesmas nos dois casos. No entanto, sendo a intensidade do ruído do caso (b)
menor que do caso (a), é natural que a transição ocorra mais tardiamente.

Da Figura 4.8 (b) para a Figura 4.8 (c) alterou-se as sementes, mas mantiveram-se
as intensidades. Assim, as frequências injetadas terão níveis de energia diferentes, porém
as larguras das bandas de frequências são mantidas iguais. Percebe-se que os padrões dos
escoamentos são diferentes, porém o comprimento de onda mais amplificado foi
mantido, uma vez que o número de estruturas turbilhonares manteve-se igual a cinco.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 4.7. Camada de mistura em desenvolvimento temporal; iso-valores do critério Q
de visualização; (a) Ruídos com as sementes e intensidades diferentes nas três
direções; (b) Ruídos com as mesmas sementes do caso (a) mas com intensidades iguais
entre si e inferiores ao caso (a); (c) Ruídos com as sementes diferentes do caso (b) mas
com intensidades iguais ao caso (b) e iguais entre si; (d) Ruído somente na direção
longitudinal, nova semente, mesma intensidade dos casos (b) e (c). Simulação
realizada no MFLab-FEMEC-UFU, por Rafael Romão, utilizando o modelo
computacional AMR3DP.
Da Figura 4.8 (d) o mesmo escoamento dos itens anteriores, porém com ruído
apenas na direção longitudinal e com semente diferente e mesma intensidade.
Novamente a transição ocorre, mas com um padrão diferente. É interessante notar que,
apesar de não ter ruído na direção transversal ao escoamento, as instabilidades nessa
direção também se desenvolvem. Efetivamente o fato de não ter sido injetada
explicitamente perturbações nas direções transversais não quer dizer ausência de
perturbações. Foi realizada uma simulação sem nenhuma perturbação sobre a condição
inicial e o escoamento transicionou, mostrando a presença de ruído numérico, associado
aos erros inerentes aos métodos de discretização temporal e espacial.
Os experimentos numéricos mostram que a transição à turbulência é altamente
sensível a pequenas mudanças na condição inicial, mesmo a alterações na semente do
ruído injetado inicialmente. No entanto, a “escolha” do comprimento de onda mais
amplificado, max , só depende do número de Reynolds que caracteriza o escoamento.

4.2.1.2. Camada de mistura em desenvolvimento espacial

Uma camada de mistura espacial se caracteriza pelo desenvolvimento de


instabilidades de Kelvin-Helmholtz, por mecanismos similares aqueles já descritos na
seção anterior para camada de mistura em desenvolvimento temporal.
Figura 4.8. Domínio no qual se representam, qualitativamente, o campo inicial de
velocidade inflexional, para camadas de mistura em desenvolvimento espacial.

Enquanto em uma camada de mistura temporal as instabilidades se desenvolvem


simultaneamente e se distribuem similarmente ao longo do espaço, em uma camada de
mistura em desenvolvimento espacial as estruturas de Kelvin-Helmholtz são formadas
sucessivamente, com número de onda mais amplificado k , nas proximidades da entrada
max

do domínio as quais são transportadas ao longo do mesmo. À medida que vão sendo
transportadas elas se emparelham, formando estruturas ainda maiores, com k  k ma x
. Este

processo de emparelhamento caracteriza o enlarguecimento da camada de mistura


espacial, como ilustrado nas Figuras 4.8. Observa-se a existência de um campo de
velocidade inflexional, composto de duas correntes de velocidades diferentes, de
magnitudes U1 e U2. O desenvolvimento das instabilidades de Kelvin-Helmholtz pode ser
observado. O tamanho característico das estruturas turbilhonares aumenta, à medida que
elas são transportadas espacialmente, através do mecanismo de emparelhamento
turbilhonar, comentado no parágrafo anterior e ilustrado na Figura 4.9. Observa-se que a
camada como um todo oscila, com comprimento de onda crescente ao longo da direção
do escoamento, o que está ilustrado pela linha tracejada. Essas oscilações transportam as
instabilidades de Kelvin-Helmholtaz para cima e para baixo, fazendo com que elas entrem
em regiões mais rápidas e mais lentas respectivamente, e, em consequência uma
instabilidade alcança a outra, promovendo o emparelhamento sucessivo. Isso envolve
estruturas turbilhonares de comprimentos de onda cada vez maiores, à medida que elas
são transportadas na direção da saída do domínio. Esse é o principal mecanismo de
enlarguecimento espacial da camada de mistura. A sua espessura é dada por   x  .
Percebe-se que essa função tem um comportamento linear ao longo do espaço, como
ilustrado na Figura 4.9.
Estas estruturas turbilhonares, apresentadas na Figura 4.9, são bem organizadas
nas grandes escalas, são também conhecidas como estruturas coerentes. A coerência se
deve ao fato que elas têm um tempo de vida maior que o seu tempo característico, ou
seja, o tempo necessário para elas completarem um giro completo. A descoberta destas
estruturas levou a se acreditar que, pelo menos em nível das grandes estruturas, a
turbulência apresenta um dado nível de organização e coerência, do ponto de vista
estatístico. Em outras palavras, são estruturas capazes de guardar uma dada forma
topológica por um tempo superior ao seu tempo característico de rotação.

  x

Figura 4.9. Camada de mistura em desenvolvimento espacial, acervo próprio.

A transição à turbulência passa forçosamente por aspectos físicos de natureza


tridimensional. A noção mais básica desse processo é entendida na atualidade pela
presença de instabilidades fluidodinâmicas na direção transversal ao escoamento, as quais
se manifestam sobre as estruturas primárias de Kelvin-Helmholtz. Concomitantemente
surgem filamentos longitudinais contra rotativos que entrelaçam com as instabilidades de
Kelvin-Helmholtz gerando fortes efeitos mecânicos de deformação. Esse cenário pode ser
visualizado na Figura 4.10 onde são apresentadas as instabilidades e estruturas
turbilhonares de Kelvin-Helmholtz primárias, as instabilidades e estruturas transversais e
os filamentos contra rotativos longitudinais. Esse é o cenário qualitativo que caracteriza o
início do processo de transição à turbulência.
A partir desse cenário, instabilidades e estruturas com outros comprimentos de
onda aparecerão, cuja formação é regida por processos não lineares, os quais são ainda
pouco conhecidos. Esses novos comprimentos de onda compõem um espectro largo,
cheio e contínuo, o qual caracteriza o regime de escoamento turbulento. Essa é uma das
principais características dos escoamentos turbulentos. Esse estágio pode ser visualizado
na segunda metade do domínio apresentado na Figura 4.10.
Observa-se a presença de estruturas turbilhonares que são compostas de uma
grande quantidade de outras estruturas filamentares. Esse é um bom exemplo pelo qual
se pode mostrar a importância da nomenclatura “estruturas turbilhonares” ao invés de
“vórtices” ou “turbilhões”. De fato, essa figura nos mostra que a turbulência é
caracterizada pela presença de estruturas (composições) e não de vórtices ou turbilhões.
Percebe-se que apesar da complexidade dessas estruturas, elas guardam, quando se
observa o todo, formas de estruturas de Kelvin-Helmholtz, o que foi evidenciado usando-
se uma linha branca superposta à imagem computacional, como se mostra na Figura 4.10
(a). As maiores estruturas presentes nesse escoamento têm tempo de vida t superior ao
seu tempo característico de giro  , e, por isso, são também caracterizadas, do ponto de
vista estatístico, como estruturas coerentes. Na Figura 4.11 ilustra-se a trajetória circular
fechada de uma partícula material, transportada pelo movimento global da estrutura
coerente. A partícula material se desloca com uma velocidade  , para o que ela gasta um

tempo de giro  .

(a)

(b)
(c)
Figura 4.10. Camada de mistura em desenvolvimento espacial: instabilidades de Kelvin-
Helmholtz; instabilidades transversais e filamentos longitudinais; tridimensionalização e
desenvolvimento da turbulência; Figure (c) foi adaptada de Brow and Roshko (1974).



Figura 4.11. Ilustração do movimento de uma partícula material, percorrendo uma


trajetória circular fechada, para caracterizar o seu tempo característico de giro.

O conceito de estrutura coerente foi lançado por Brow and Roshko (1974), que
observaram essas estruturas turbilhonares por experimento material. Dessa referencia
retirou-se a Figura 4.10 (c), onde se percebe a grande semelhança qualitativa entre o
resultado obtido pela experimentação virtual e pela experimentação material.

4.2.2. Jatos

Os escoamentos do tipo jato podem ser classificados em jatos em


desenvolvimento temporal e jatos em desenvolvimento espacial. Os jatos temporais são
menos frequentes na natureza e em aplicações industriais. Mesmo assim é de grande
interesse o seu estudo, tendo em vista desvendar os intrincados aspectos físicos do
processo de transição à turbulência e também da turbulência desenvolvida. Outros
aspectos igualmente interessantes se referem à turbulência transitória. Em particular
interessa-se pelos processos de energização de um espectro, assim como do processo de
decaimento da turbulência, mediante a injeção ou à dissipação da energia cinética
turbulenta. A seguir esses dois grupos de escoamentos são estudados nos aspectos
introdutórios ao tema.

4.2.2.1. Jatos temporais

Os jatos temporais se estabelecem sempre que se dispõe de um campo de


velocidade inflexional em superávit, como ilustrado na Figura 4.12. Faz-se necessária a
presença de perturbações superpostas ao campo inflexional de base de velocidade. Essas
perturbações são provenientes de efeitos físicos do próprio escoamento ou ainda do meio
ambiente, tais como ondas de pressão, vibrações estruturais, efeitos geométricos, os
quais são amplificados e geram instabilidades fluidodinâmicas. O perfil de velocidades
representado se repete ao longo de todo o domínio, o que caracteriza o seu
comportamento temporal.

Figura 4.12. Ilustração de um campo inflexional de velocidades de base, em superávit. O


escoamento ilustrado ocorre da esquerda para a direita.
A teoria da estabilidade linear também mostra que, de forma similar aos
escoamentos do tipo camada de mistura, as perturbações serão amplificadas e que
instabilidades de Kelvin-Helmholtz formar-se-ão no modo mais amplificado.
Na Figura 4.13 mostra a evolução tridimensional de um jato do tipo temporal. Esse
escoamento é caracterizado, do ponto de vista dinâmico, pelo parâmetro número de
Reynolds Re  5000 , onde a espessura do campo cisalhante inflexional está ilustrada na

Fig. 4.12. O módulo da vorticidade está sendo visualizado. As sequências temporais de


imagens ilustram a formação e a evolução das instabilidades de Kelvin-Helmholtz, o
aparecimento de filamentos longitudinais e o estabelecimento do regime turbulento. A
sequência da Fig. 4.13(a) mostra vistas tridimensionais do escoamento. A sequência da
Fig. 4.13(b) mostra cortes verticais que passam pelo eixo de simetria do jato e evidencia-
se as instabilidades de Kelvin-Helmholtz nas duas primeiras vistas e a tridimensionalização
do escoamento nas demais vistas. A sequência da Fig. 4.13(c) mostra cortes horizontais
que evidenciam, nas duas últimas vistas, a presença dos filamentos longitudinais.

(a)

(b)
(c)
Figura 4.13. Evolução tridimensional de um jato temporal: formação de instabilidades de
Kelvin-Helmholtz (Souza e Silveia-Neto, 2005), filamentos longitudinais e transição a
turbulência; o campo do módulo da vorticidade; (a) vistas tridimensionais, (b) cortes
verticais e (c) cortes horizontais.

As simulações foram realizadas utilizando-se a metodologia pseudoespectral de


Fourier, a qual será apresentada no capítulo de Turbulência Isotrópica. Isso foi possível,
considerando-se que esses escoamentos (jatos em evolução temporal) são periódicos em
todas as direções. Por apresentar taxa de convergência espectral e por calcular as
derivadas espaciais com erro de máquina, essa metodologia não apresenta difusão e
dispersão numéricas. Os erros nos cálculos das derivadas são muito pequenos e não
podem simular as perturbações necessárias para que ocorra a transição do regime laminar
para o regime turbulento. Assim, foi necessária a injeção controlada de ruído nas
simulações. Simulações realizadas sem ruído não transicionam. Esse ruído foi modelado
utilizando-se geradores de números aleatórios, conforme descrito por Souza, Souza e
Silveira-Neto (2005). O ruído foi superposto ao campo de velocidades iniciais. As
instabilidades fluidodinâmicas se desenvolvem, atingindo o estado de turbulência.
Posteriormente a turbulência entra em regime de decaimento. Isso significa que a energia
injetada pela condição inicial é utilizada para o desenvolvimento da turbulência, a qual se
encarrega de dissipar essa energia cinética em energia térmica que passa a ser
armazenada pelo fluido que escoa.
Cada instabilidade fluidodinâmica presente nesse escoamento porta uma dada
quantidade de energia cinética turbulenta. Essas instabilidades evoluem no tempo com
um dado número de onda. Pode-se associar a quantidade de energia, por unidade de
número de onda, à energia transportada por cada instabilidade presente no escoamento.
A essa quantidade de energia por unidade de número de onda, denomina-se densidade
espectral de energia cinética específica turbulenta, denotada por E  k  , dada em

 J / kg 
 1 / s  . A denominação específica refere-se à energia por unidade de massa, enquanto

a denominação densidade refere-se a energia específica por unidade de número de


frequência ou de número de onda. Doravante essa grandeza será denominada por
densidade espectral de energia, a qual ser obtida usando a transformada de Fourier das
flutuações das componentes do vetor velocidade. Para tanto, toma-se a componente
u  x , t  , amostrada em um tempo t fixo, variando-se o vetor x ao longo de todo o

domínio ocupado pelo escoamento. Determina-se sua flutuação u  x , t  em relação à sua

média espacial u  x , t  , tal que:

u  x , t   u  t   u  x , t  . (4.1)

A variância da flutuação da velocidade é dada, por exemplo, pela correlação


média:

1 T 1 T
uu  x   u  x , t u  x , t  dt   u*  x , t  u  x , t  dt   u  x , f u  x , f  df .
F *

T 0 T 0 0
(4.2)

O superíndice (*) que aparece na Eq. (4.2) indica o conjugado da função correspondente.
A segunda igualdade que aparece nessa equação se deve ao fato que u*  x, t   u  x, t  ,

tendo em conta que u  x , t  é uma função real. A última igualdade dessa equação se

apoia no teorema de Parseval. Observa-se que todos os termos da Eq. (4.2) têm unidade
de  J / kg  . Define-se a densidade espectral da energia específica:

*

Euu  x , f   u  x , f  u  x , f   u R  u I u R   2
 u I  u R  u I
2
. (4.3)
Assim, a equação (4.2) pode ser reescrita da seguinte forma:

uu  x    u  x, f u  x, f  df   Euu  x, f  df .


F * F
(4.4)
0 0

Vamos agora relembrar a definição de energia cinética turbulenta e como expressá-la


envolvendo um dualismo entre o espaço físico e o espaço de Fourier.

F F
k  x   u2  2  w2     Euu  x , f   E  x , f   Eww  x , f   df   E  x , f  df . (4.5)
1 1
2  02 0

Em caso de amostragem espacial, o tratamento estatístico, deve ser feito sobre as


variações espaciais. Assim, a decomposição em uma parcela média e uma parcela
flutuante é dada por:

u  x , t   u  t   u  x , t  (4.6)

A variância da flutuação da velocidade é dada pela correlação média espacial:

 u  x, t  u  x, t  dx  V  u  x, t  u  x, t  dx   u  k , t  u  k , t  dk .
1 1
uu  t  
*
*
(4.7)
V V V Vˆ

Define-se a densidade espectral da energia específica:

 
*
    
Euu k , t  u k , t u k , t  u R  u I u R   2
  u I  u R  u I
2
. (4.8)

Assim, a equação (4.7) pode ser reescrita da seguinte forma:

   
uu  t    ˆ u k,t u k,t dk   ˆ Euu k,t dk .  
*
(4.9)
V V
A energia cinética turbulenta é expressa envolvendo um dualismo entre o espaço físico e o
espaço de Fourier:

1  2 2
u   w2    ˆ  Euu  k , t   E  k , t   Eww  k , t  dk   E  k , t dk .
1
k t    (4.10)
2  V2

A evolução temporal da densidade espectral da energia cinética específica


turbulenta, E  k , t  , é apresentada na Figura 4.14. Os espectros são apresentados para

três valores do número de Reynolds. Para cada valor de Reynolds tem-se uma sequencia
temporal dos espectros, mostrando a evolução da turbulência. Os escoamentos foram
inicializados no regime laminar, com campos de velocidade inflexionais. Como comentado
no parágrafo anterior, perturbações foram superpostas aos campos de base iniciais.
Assim, os diferentes comprimentos de onda foram amplificados estabelecendo-se os
espectros. Percebe-se que à medida que o tempo transcorre, os espectros tendem a uma
inclinação de -5/3, que é a inclinação predita pela lei de Kolmogorov (1941a) e
Kolmogorov (1941b).

(a) (b)
(c)
Figura 4.14. Densidade espectral de energia cinética turbulenta para jatos em
desenvolvimento temporal: (a) Re  1.600 ; (b) Re  5.000 e (c) Re  10.000 .

Observa-se ainda que quanto maior o número de Reynolds, mais próxima se torna
a inclinação dos espectros da inclinação esperada. Isso se deve ao fato que quanto maior
o número de Reynolds mais intensa se torna a turbulência e mais se aproxima da condição
de turbulência tridimensional desenvolvida. Percebe-se que, como esperado, para
escoamentos energizados pela condição inicial apenas, o estado de turbulência se
estabelece, mas, logo em seguida ela entra em decaimento. Isso fica claro olhando, por
exemplo, os espectros para Re  5.000 . Em t=20 s, o espectro apresenta os níveis mais

elevados par todos os números de onda. Para t=30 s e t=40 s e par k  10 1/ s  a

turulencia apresenta níveis de energia menores que para t=20 s, ilustrando assim o
processo de decaimento.

4.2.2.2. Jatos espaciais

Jatos em desenvolvimento espacial são escoamentos resultantes da injeção de um


fluido com uma dada velocidade em um meio que pode estar em repouso ou mesmo com
uma velocidade menor que a velocidade do próprio jato. Neste caso forma-se um perfil de
velocidade média inflexional em superávit. Isto acontece porque a velocidade do jato é
maior que a velocidade do meio ambiente, como ilustram as Fig. 4.15 (a) e (b).
Figura 4.15. Ilustração de um bocal gerador de um jato em um meio em repouso (a) e
caracterização das condições iniciais para geração de um jato em desenvolvimento
espacial (b).

Os jatos podem ser classificados segundo a geometria que os formam. Fala-se de um jato
redondo se ele foi gerado por um orifício circular, jato plano ou retangular se foi gerado
por um bocal plano ou retangular. Em qualquer um destes tipos de jatos a transição a
turbulência é caracterizada, à semelhança das camadas de mistura, pela formação de
instabilidades primárias do tipo Kelvin-Helmholtz, as quais induzirão a formação de
filamentos secundários. As interações dos filamentos longitudinais contra rotativos com as
estruturas turbilhonares primárias de Kelvin-Helmholtz induzirá a formação de oscilações
transversais, as quais se amplificam e compõem o cenário da transição à turbulência
tridimensional. A Figura 4.16 ilustra esquematicamente o processo de transição a
turbulência, com as diferentes fases que a caracteriza: (1) jato originário de um bocal
convergente, na sua fase de desenvolvimento; (2) formação de instabilidade de Kelvin-
Helmholtz e geração de instabilidades toroidais bidimensionais axi-simétricas; (3)
crescimento e deformação dos toroides pelos mecanismos de emparelhamento e pelo
desenvolvimento de filamentos longitudinais contra rotativos; (4) desenvolvimento de
turbulência tridimensional a qual se organiza em uma vasta banda de escalas, como ilustra
a Figura 4.16 (a). A presença dos filamentos longitudinais contra rotativos pode ser
visualizada na Figura 4.16 (b), a qual representa um corte horizontal assinalado no plano
horizontal desenhado na Figura 4.16 (a). Visualizam-se estruturas turbilhonares na forma
de cogumelos distribuídos ao redor do jato. Esses cogumelos são formados pela presença
dos filamentos longitudinais contra rotativos. Os filamentos interagem com as estruturas
primárias toroidais, gerando fortes deformações e contribuindo para o processo de
transição. Este cenário tem sido observado tanto em trabalhos de experimentação
material quanto em trabalhos de experimentação numérico-computacional.
Como nos casos precedentes, as primeiras instabilidades aparecem de forma
senoidal, indicando um processo de amplificação seletivo de perturbações. Os jatos
transicionam a baixos valores do número de Reynolds, a exemplo do que acontece com
todos os escoamentos cisalhantes livres. Para os jatos circulares a transição se inicia a
Red=10 ( Re  Ud v ) segundo Drazin e Reid (1981).
A transição de um jato laminar para um jato turbulento acontece à jusante do
bocal que lhe dá origem. Ela depende da geometria do orifício ou do bocal e também das
condições do escoamento à montante. Desta forma os experimentos são dificilmente
comparáveis entre si do ponto de vista da dinâmica e da topologia do escoamento. Torna-
se também difícil de comparar dados de experimentações materiais com dados de
experimentações virtuais ou computacionais, exceto do ponto de vista estatístico. No
entanto, mesmo do ponto de vista estatístico, faz-se necessário o conhecimento
detalhado da fluidodinâmica à montante do bocal.
(a) (b)
Figura 4.16. Jato redondo em transição; (a) visualização de um plano de iluminação laser
vertical e (b) plano de iluminação laser horizontal, transversal ao jato, na posição indicada
pelo plano horizontal de corte do jato (figura adaptada de Moreira e Silveira-Neto, 2007).

Na Figura 4.17 apresenta-se o resultado de uma simulação numérica das grandes


escalas (LES), realizada por Moreira (2007). Na Figura 17(a) visualiza-se o jato circular em
desenvolvimento espacial, o qual se encontra em transição do regime laminar para o
regime turbulento. Verifica-se o desenvolvimento de instabilidades de Kelvin Helmholtz
seguidas de estruturas turbilhonares toroidais consecutivas. Na Figura 17(b) visualiza-se o
que está ocorrendo no plano horizontal indicado na Figura 17(a). Percebe-se a presença
de pares turbilhonares semelhantes a cogumelos, ilustrando a existência de estruturas
turbilhonares contra rotativas que se desenvolvem na direção axial do jato.
Esse estado de turbulência plena pode ser verificado quantitativamente na
densidade espectral de energia cinética turbulenta relativa à região de turbulência
desenvolvida apresentada na Figura 4.17. Uma sonda numérica foi colocada na parte mais
instável do jato e as componentes da velocidade foram amostradas em função do tempo.
Foi feita a transformada de Fourier das séries temporais das componentes de velocidade.
A densidade espectral de energia cinética turbulenta foi obtida utilizando-se a parte real e
a parte imaginária da transformada, como apresentado na Eq. (4.3). Esse espectro é
apresentado na Figura 4.18. Observa-se uma banda de frequências energizadas compondo
nessa distribuição da densidade espectral de energia cinética turbulenta. Como esperado,
as maiores estruturas, caracterizadas pelas menores frequências, são as mais energizadas.
O espectro apresenta uma banda inercial, com inclinação em -5/3, como previsto pela lei
de Kolmogorov, válida para turbulência desenvolvida. Esse espectro representa o
resultado da transferência não linear de energia entre todas as estruturas turbilhonares
que estão presentes na região turbulenta do jato. No entanto, apenas parte do espectro
está sendo resolvida, uma vez que ele foi truncado em uma frequência de corte
determinada pelo passo de tempo e pela dimensão da malha numérica utilizada para a
solução do escoamento. A parte não resolvida do espectro, também conhecida como
escalas sub malha deve interagir não linearmente com a as grandes estruturas, as quais
são determinadas pela solução numérica das equações de Navier-Stokes filtradas. Essa
interação é feita pelo modelo de fechamento da turbulência.
(a) (b)
Figura 4.17. Simulação numérica das grandes escalas da turbulência, relativa ao processo
de transição de um jato redondo (Moreira e Silveira-Neto, 2007): (a) jato em
desenvolvimento espacial na direção vertical e (b) plano horizontal de visualização na
posição indicada.
Figura 4.18. Simulação numérica de grandes escalas do processo de transição de um jato
redondo. Densidade espectral da energia cinética turbulenta, extraída da zona de
turbulência desenvolvida do jato da Figura 4.17 (Moreira e Silveira-Neto, 2007).

Figura 4.19. Evolução espacial da velocidade do jato na sua linha central, função da
coordenada z, para três valores do número de Reynolds (Moreira e Silveira-Neto, 2007).

A distribuição da velocidade média (temporal) do jato, na sua linha central, função


da coordenada z é apresentada na Figura 4.19. São apresentadas três curvas para três
valores do número de Reynolds. Os resultados são comparados com dados experimentais.
A velocidade cai com a posição, devido ao processo de expansão do jato que se
desenvolve espacialmente, como mostra a Figura 4.15 (b).

4.2.3. Esteiras

Os escoamentos do tipo esteiras são originários de campos inflexionais de


velocidade, deficitários em relação ao meio que os envolvem. As fontes desse tipo de
campo de velocidade estão ligadas a escoamentos de correntes livres mais rápidas que
uma corrente intermediária mais lenta. O cisalhamento proporciona a formação de
campos de velocidades inflexionais deficitários. Essa é uma forma que pode ser
encontrada na natureza ou que pode ser gerada, de forma controlada, em laboratórios. A
outra fonte, mais frequente na natureza e em aplicações industriais, ocorre quando um
escoamento de um fluido passa sobre um obstáculo, por exemplo, um automóvel, uma
aeronave, ou qualquer corpo imerso em um fluido. Este é sem dúvida o escoamento
transicional mais familiar para todas as pessoas, mesmo para os mais leigos no assunto,
que já tiveram a oportunidade de observar a clássica esteira de Von Karman à jusante dos
pilares de uma ponte. De forma similar aos escoamentos apresentados nos itens
anteriores, os escoamentos do tipo esteiras também podem ser classificados em esteiras
temporais e em esteiras espaciais. Suas características serão apresentadas em sequência.

4.2.3.1. Esteiras temporais

As esteiras temporais são formadas a partir de campos de velocidades inflexionais


em déficit, como ilustrado na Figura 4.20. Nessa figura, mostram-se uma distribuição de
velocidades, onde o cisalhamento inflexional é gerado por duas correntes mais rápidas de
fluido, adjacentes a um núcleo relativamente mais lento. Estão desenhados também dois
pontos de inflexão e a espessura  das camadas cisalhantes. O campo de velocidades ali
apresentado é o campo inicial que dará origem às instabilidades de Kelvin-Helmholtz. Esse
campo é auto similar em todo o domínio, o que ocasionará que as instabilidades serão
repetidas no espaço e evoluirão no tempo. Isso justifica a denominação de esteira
temporal, de forma análoga ao que foi discutido para camadas de mistura e jatos
temporais.

Figura 4.20. Ilustração de um campo inflexional de velocidades de base, em déficit. O


escoamento ilustrado ocorre da esquerda para a direita e evolui de forma temporal.

Partindo-se de um campo inicial como esse, ilustrado na Figura 4.20, e


superpondo-se perturbações, mecanismos não lineares, inerentes aos escoamentos
cisalhantes inflexionais, irão amplificá-las. Resulta, então, que serão geradas instabilidades
fluidodinâmicas do tipo Kelvin-Helmholtz, já descritas nos escoamentos canônicos
apresentados anteriormente.
Para ilustração desse processo, foram realizadas simulações, no MFLab-FEMEC-
UFU, de escoamentos do tipo esteira em desenvolvimento temporal, utilizando-se de
modelos numérico-computacionais desenvolvidos em casa. Foi utilizado um código
computacional pseudoespectral de Fourier, que possibilita resolver as equações de
Navier-Stokes tridimensionais para escoamentos incompressíveis de Fluidos newtonianos.
A condição inicial média foi estabelecida utilizando-se a equação abaixo:

 c y2 
u  y, t  0   U 1  e 1  , (4.11)
 

onde U é a velocidade do meio que envolve a esteira, c1 é uma constante que modela a

taxa de cisalhamento. Esse perfil determina uma espessura   1  m das camadas

cisalhantes (Sondergaard, 1996). As componentes médias da velocidade u e  são nulas


em t=0. Para modelar matematicamente as perturbações físicas presentes em qualquer
laboratório material, superpõe-se perturbações, aleatórias no espaço, sobre as
componentes médias iniciais impostas em todos os pontos do domínio:

u  x, y, z, t  0   u  y, t  0   auu  x, y, z  , (4.12)

  x, y, z, t  0   a   x, y, z  , (4.13)

w  x, y, z, t  0   aw w  x, y, z  , (4.14)

onde au , a e aw modelam as amplitudes das perturbações aleatórias cujas variações

espaciais são modeladas por u,   e w . A superposição desse ruído aos campos iniciais
de velocidade são necessários quando se utiliza um método numérico-computacional de
altíssima acurácia, com erros numéricos da ordem de erros de máquina. Assim, sem erros
numéricos e sem uma perturbação matemática superposta ao campo de base inicial, não
ocorreria a transição de laminar para turbulento, como ocorre no experimento material e
até mesmo em experimentos numérico-computacionais com métodos convencionais. De
fato, nesse caso, os erros numéricos, inerentes aos métodos de baixa taxa de
convergência, servem de modelo para o ruído, garantindo a transição dos escoamentos,
mesmo sem a superposição de ruído matemático.
Existem disponíveis na literatura diversas técnicas de geração de ruídos, muitas das
quais utilizam geradores de números pseudorrandômicos de bibliotecas abertas ao
público. Escolheu-se para a simulação da esteira plana a utilização do ruído digital
proposto por Smirnov, Shi e Celik (2001), denominado RFG, (Random Flow Generator)
tendo em vista os resultados satisfatórios obtidos nas simulações de Moreira (2011).
Dentre as vantagens da utilização do RFG, destacam-se a facilidade de implementação e
seu baixo custo computacional. Detalhes dos parâmetros do método RFG implementados
no código IMERSPEC3DP podem ser encontrados em Moreira e Silveira-Neto (2011). Para
o número de Reynolds, escolheu-se o valor Re  346 , estimado como sendo um valor
suficiente para o desenvolvimento das principais estruturas turbilhonares do escoamento.
Os parâmetros adotados para a simulação estão definidos na Tabela 4.1.

Tabela 4.1: Valores dos parâmetros utilizados na simulação da esteira plana


Número de processos: 128
Modos de Fourier, nx, ny, nz: 128 × 128 × 256
Modelos de turbulência: Smagorinsky
Dimensões do domínio, (Lx, Ly, Lz):  40 , 20 , 20 
Tempo total de simulação: 300[s]
CFL: 0,8
Velocidade característica: U  1 [m/s]
Espessura das camadas cisalhantes,  : 1 [m]
Número de Reynolds: Re  346
Método de integração temporal RK46

 au , a , aw   10 3
,103 ,103 

A integração temporal foi realizada com o método de Runge-Kutta de quarta ordem, de


seis passos de tempo, RK46 (Allampalli; Hixon, 2009).

Na Figura 4.21 mostra-se o escoamento visualizado em tempos diferentes,


partindo-se da condição inicial, Figura 4.21 (a). Os campos de vorticidade e as iso-linhas
são visualizados. Na Figura 4.21 (b), decorridos alguns segundos, observa-se que a camada
cisalhante tornou-se mais larga, mostrando que houve difusão da vorticidade que é
máxima na linha de inflexão, no centro do domínio, tendendo a zero quando se afasta
dessa linha. Observa-se ainda nessa figura que o escoamento tornou-se instável,
mostrando que as perturbações superpostas à condição inicial foram amplificadas,
gerando uma sequência espacial de quatro instabilidades com o mesmo comprimento de
onda. Esse comprimento de onda é conhecido por max , o qual foi selecionado pelos

mecanismos não lineares, para ser amplificado com taxa máxima de amplificação. Assim,
ele é o primeiro a aparecer na forma de instabilidades fluidodinâmicas.
Essas instabilidades que aparecem aqui na esteira são de mesma natureza das
instabilidades que foram apresentadas e discutidas para camadas de mistura e jatos. Os
mecanismos de formação são os mesmos já descritos anteriormente, o que permite que
essas instabilidades que compõem a esteira espacial sejam também ditas de Kelvin-
Helmholtz. É interessante observar que se formam duas alas de instabilidades, uma
superior e uma inferior. Elas encontram-se defasadas entre si, caracterizando o conhecido
modo sinuoso de formação e transporte de instabilidades. Essas instabilidades giram no
sentido horário na ala superior e no sentido anti-horário na ala inferior. À medida que
giram, elas transportam fluido das camadas externas a elas, regiões essas, ricas em
quantidade de movimento linear, o que as energiza e faz com que elas cresçam ao longo
do tempo. Isso pode ser observado na sequência de imagens. As estruturas turbilhonares
aumentam de tamanho com o tempo. Nas camadas de mistura, estudadas anteriormente,
o principal mecanismo de aumento de tamanho das estruturas turbilhonares eram os
emparelhamentos. Aqui, no caso de esteira simulada, os emparelhamentos não se
apresentam e o principal mecanismo de crescimento é o transporte advectivo de
quantidade de movimento linear, promovido pela rotação das estruturas turbilhonares.
Outros comprimentos de onda se amplificam concomitantemente com max . Eles

podem ser observados em uma visualização tridimensional, como mostra a Figura 4.22.
Nessa figura apresenta-se a visualização do escoamento em quatro tempos diferentes e
sob dois ângulos de visualização: Figura 4.22(a) perspectiva e Figura 4.22(b) vista superior.
Percebe-se pela primeira linha que em um tempo após a condição inicial as instabilidades
de Kelvin-Helmholtz foram formadas com comprimento de onda max e que superpostas a

elas, podem ser encontradas outras instabilidades de comprimentos de onda diferentes.


Isso ilustra o fato que toda uma banda de comprimentos de onda estão sendo
amplificados concomitantemente, porém com taxas de amplificação diferentes. Na
segunda linha, as duas figuras mostram fortes efeitos tridimensionais na forma de
instabilidades do tipo “grampo de cabelo” que se entrelaçam com as instabilidades de
Kelvin-Helmholtz. Tanto na segunda quanto na terceira linhas podem ser identificados
fortes efeitos mecânicos que as interações não lineares promovem entre as instabilidades,
promovendo a tridimensionalização do escoamento. Na quarta linha tem-se uma grande
riqueza de instabilidades e um escoamento completamente tridimensional e
possivelmente turbulento.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.21. Esteira em desenvolvimento temporal: isso linhas de vorticidade; evolução


temporal, partindo da condição inicial. Re  U /   346 .
(a) (b)
Figura 4.22. Esteira em desenvolvimento temporal: iso-superfícies do critério Q;
evolução temporal; Re  U /   346 .
4.2.3.2. Esteiras espaciais

Os escoamentos do tipo esteiras espaciais aparecem à jusante de um obstáculo


onde se gera um escoamento médio recirculante, o qual dá origem a um campo
inflexional de velocidade em déficit, como ilustrado na Fig. 4.23. Tem-se a formação de
uma camada cisalhante em desenvolvimento espacial. Uma perturbação com uma gama
larga de frequências ou de números de onda deve ser superposta a esse campo inflexional
de base, a fim de desenvolver instabilidades do tipo Kelvin-Helmholtz que serão
transportadas e que sofrerão uma evolução espacial.

Figura 4.23. Ilustração de um campo inflexional de velocidades de base, em déficit. O


escoamento ilustrado ocorre da esquerda para a direita e evolui de forma espacial.

Na Fig. 4.23(a) visualizam-se o escoamento sobre uma esfera. O escoamento,


caracterizado por Re=10.000, acontece da esquerda para a direita. As instabilidades a
jusante da esfera são apresentadas utilizando-se o critério Q. Observa-se a formação das
estruturas turbilhonares do tipo grampo de cabelo, as quais entrelaçam entre si. A
formação dessas estruturas se dá a partir da recirculação que ocorre após a esfera, a qual
se torna assimétrica e dispara a formação dessas estruturas turbilhonares. Assim, essas
estruturas são formadas a partir de um campo inflexional de velocidade, de geometria
toroidal, o que caracteriza que, antes de formar as estruturas “grampos de cabelo”,
formam-se instabilidades de Kelvin-Helmholtz, como pode ser visto na Figura 4.24(b).

(a)

(b)
Figura 4.24. Escoamento sobre uma esfera: Re=10.000. Visualizam-se o critério Q. Acervo
pessoal (Duarte e Silveira-Neto, 2015).

Na Figura 4.24 (a), logo após a esfera, a instabilidade de Kelvin-Helmholtz se


deformou, formando uma aba pontiaguda, a qual dá origem a uma estrutura tipo “grampo
de cabelo”. Assim, o processo de transição a turbulência passa antes pela formação de
instabilidades de Kelvin-Helmholtz, como nos escoamentos cisalhantes precedentes. O
tratamento estatístico do escoamento sobre a esfera permite a determinação, via
experimentação numérica, de todos os parâmetros estatísticos de interesse. Em
particular, apresenta-se na Figura 4.25, o coeficiente de arrasto, obtido por simulação
numérica, do escoamento sobre uma esfera, retirado da dissertação de mestrado de Melo
e Silveira-Neto (2012). Observa-se que os resultados numéricos instantâneos, com
apresentado na Figura 4.25, dá origem a uma ótima estatística. Observa-se que para
Re  2,0 106 , os resultados experimentais mostram uma queda brusca do coeficiente do
arrasto. Esse efeito é conhecido por “crise do arrasto”, o qual é consequência da transição
da camada limite sobre a esfera, à montante da linha de descolamento da camada limite.
A simulação numérica não resulta no mesmo efeito, uma vez que a transição da camada
limite não pode ser capturada com o nível de refinamento utilizado na presente
simulação. No entanto, cabe aqui observar que uma boa estatística só pode vir de bons
resultados instantâneos. Assim, conclui-se que o que foi apresentado, na forma de
resultados instantâneos, representa bem a realidade física, experimentada em túneis de
vento materiais, como apresentado em White (1991), utilizado como referência para
comparação no presente texto.

Figura 4.25. Escoamento sobre uma esfera: Re=10.000. Comparação do coeficiente de


arrasto gerado sobre uma esfera. Acervo pessoal (Duarte e Silveira Neto, 2015).

Uma esteira pode se manifestar em dois modos de instabilidades, sendo o mais


comum o modo sinuoso, apresentado na Figura 4.24. O modo varicoso, que será
apresentado a seguir, é um modo raramente obtido, tanto em experimentos numéricos
quanto em experimentos materiais. Na Figura 4.26 apresenta-se o escoamento gerado por
uma bolha em movimento de ascensão em um meio líquido. Os parâmetros
adimensionais que controlam esse escoamento bifásico são os seguintes: razão de
viscosidade dinâmica,   c / d  54,3 (razão entre as viscosidades dinâmicas das fases

contínua e dispersa);   c / d  100,0 (razão entre as massas específicas das fases

contínua e dispersa); Eo   g  db2  /   3,6 (número de Eötvos);

Mo   g  c4  /  c2  3   2,581 1011 (número de Morton) e

Re =  c U bf db  / c  1329,0 (número de Reynolds).

Observa-se a esteira turbilhonar deixada pela bolha em ascensão. Nas Figuras 4.26 (a), (b)
e (c) tem-se o modo varicoso, com a presença de instabilidades toroidais axissimétricas.
Na Figura 4.26 (d) os toroides perdem a axisimetria e dá origem à bifurcação para o modo
sinuoso de emissão e transporte de instabilidades fluidodinâmicas. O modo sinuoso pode
ser claramente visualizado na Figura 4.26 (e).

(a) (b) (c) (d) (e)


Figura 4.26. Escoamento à jusante de uma bolha em movimento de ascensão:
  c / d  54,3 ;   c / d  100,0 ; Mo  2,581 1011 ; Re = 1.329,0 . Transição do
modo varicoso para o do sinuoso. Acervo pessoal (Pivello et al. 2013).

Na Figura 4.27 mostra-se uma sequencia temporal onde visualizam-se a evolução espacial
da esteira de estruturas turbilhonares. A montagem destaca a bolha da esteira, de tal
forma a se poder visualizar a geometria da bolha, a qual é deformável. O modo sinuoso de
geração de instabilidades está presente nessa figura. As estruturas turbilhonares são
coerentes, fato que pode ser observado pela permanência das mesmas, no domínio de
experimentação, por uma longa distância, equivalente a 30db. No entanto, devido aos
efeitos tridimensionais, a vorticidade é dissipada, e as estruturas turbilhonares vão
desaparecendo à medida que se afastam de sua fonte geradora, ou seja, a bolha.

Figura 4.27. Escoamento à jusante de uma bolha em movimento de ascensão:


  c / d  54,3 ;   c / d  100,0 ; Mo  2,581 1011 ; Re = 1.329,0 . Transição à
turbulência. Acervo pessoal (Pivello et al. 2013)

4.2.3.3. Efeitos Tridimensionais

Na Figura 4.28 busca-se evidenciar a presença das estruturas longitudinais contra


rotativas. Elas caracterizam a fase inicial de transição à turbulência. Foram plotados dois
isovalores da componente axial da vorticidade, z  5 1/ s  e z  5 1/ s  . Isso pode

ser visualizado na Figura 4.28 (a). As cores azul e vermelha correspondem a esses
isovalores de vorticidade e desenham estruturas turbilhonares que giram no sentido
horário e anti-horário. A natureza contra rotativa dessas estruturas pode ser visualizada
na Figura 4.28 (b), utilizando-se de campos da velocidade. Cortes horizontais sobre a
esteira estão ali apresentados. O plano (1) foi feito de forma a visualizar o que está
ocorrendo no centro da bolha e os planos (2), (3) e (4) foram feitos na esteira, como
ilustrado na Figura 4.28 (a). Vários pares contra rotativos são identificados sobre os quatro
planos horizontais. Todos eles estão correlacionados, mostrando estruturas contra
rotativas semelhantes. A interação dessas estruturas longitudinais com as estruturas de
Kelvin-Helmholtz, as quais foram visualizadas na Figura 4.26, representa a fase inicial de
todo o complexo processo de transição à turbulência.

(a) (b)
Figura 4.28. Escoamento à jusante de uma bolha em movimento de ascensão:
  c / d  54,3 ;   c / d  100,0 ; Mo  2,581 1011 ; Re = 1.329,0 . Presença de
filamentos turbilhonares longitudinais contra rotativos. Acervo pessoal (Pivello et al.
2013).
Na Figura 4.29 mostram-se o escoamento sobre um cilindro horizontal muito
longo. A razão de aspecto, definida como L / D , onde L e D são respectivamente o
comprimento e o diâmetro do duto. Para os presentes resultados foi utilizada a razão
L / D  56 . O número de Reynolds, baseado no diâmetro do tubo, é dado por
Re D  5,0 105 . Visualizam-se o campo de vorticidade, sendo a Figura 4.29 (a) uma vista

em perspectiva e a Figura 4.29 (b) uma vista superior do escoamento. Os tempos físicos
do escoamento em (a) e (b) são respectivamente t=40 [s] e t=60 [s].

(a)

(b)
Figura 4.29. Escoamento sobre um cilindro horizontal; razão de aspecto L / D  56 ;
Re D  5,0 10 5 ; visualizam-se o campo de vorticidade; (a) vista em perspectiva do

escoamento e (b) vista superior. Acervo pessoal, agradecimentos ao pesquisador, Helio


Ribeiro-Neto.
Na Figura 4.29 (a) visualizam-se, o cilindro em cor cinza e estruturas turbilhonares de
Kelvin-Helmholtz a jusante do cilindro. Essas estruturas são transportadas e
tridimensionalizam-se rapidamente, dando origem a filamentos longitudinais, assim como
a estruturas filamentares do tipo grampo de cabelo. As estruturas turbilhonares mais
energizadas, Kelvin-Helmholtz, são as portadoras da maior quantidade de energia cinética
turbulenta. Elas recebem essa energia do escoamento médio e excitam o cilindro a vibrar
em uma banda de frequências. Uma análise de interação fluido-estrutura permite
evidenciar o comportamento não linear dessa interação. Esse é um exemplo industrial da
enorme importância de se compreender o processo físico da transição à turbulência.

4.3. Camada limite

Quando um objeto move no interior de um meio fluido ou quando um meio fluido


se move em relação a um corpo, as moléculas de fluido que se encontram na vizinhança
do corpo interagem com o corpo, tendo o seu movimento afetado pela presença do
corpo. Forças fluidodinâmicas são então geradas entre o corpo e o fluido. Essa influência
se propaga no interior do fluido pelo processo difusivo em regime laminar e pelo processo
difusivo e advectivo simultaneamente, quando o regime de escoamento for turbulento.
Essa transferência de informação entre o fluido e o corpo gera efeitos termodinâmicos
entre os dois meios materiais. Forças fluidodinâmicas e fluxos térmicos surgirão em
consequência dessa interação. Sabe-se que o regime do escoamento, laminar ou
turbulento, afeta de forma dramática no processo de transferência de informações. A
turbulência aumenta a força fluidodinâmica e o fluxo térmico entre dos dois meios. A
teoria de cama limite foi iniciada pelo grande professor e pesquisador alemão, Ludwig
Prandtl, por volta do ano de 1900. Os detalhes sobre essa teoria pode ser encontrado no livro de
um dos seus orientados, Schlichting (1968).
O atrito viscoso e a troca de massa e energia térmica entre um corpo e um fluido
que o envolve aumentam significativamente com a transição do escoamento para o
regime turbulento. Compreender e controlar os fenômenos físicos envolvidos na transição
de uma camada limite, desperta muitos interesses práticos, devido aos anseios de se
reduzir os efeitos de arraste em aeronaves, navios, submarinos entre outros. Muitos
interesses também surgem para se reduzir os custos de bombeamento e maximizar a
eficiência de trocadores térmicos, bem como de mistura de componentes em processos
químicos. Esse tema será aqui discutido.
Nas seções precedentes comentou-se sobre os escoamentos cisalhantes livres, nos
quais a transição se dá graças ao processo de geração de instabilidades de Kelvin-
Helmholtz, pouco dependentes dos efeitos viscosos, mas altamente dependentes do
comportamento dos campos médios de velocidade, que devem ser inflexionais. Enfatiza-
se novamente que se trata de instabilidades de natureza cisalhante. No caso de camadas
limite a origem da turbulência não pode ter ligação com a inflexionalidade dos perfis
médios de velocidade e passa a ter uma forte dependência dos efeitos viscosos. As etapas
da transição, reconhecidas até o momento, são ilustradas esquematicamente na Figura
4.29, para o caso particular de uma placa plana.
Supõe-se que o escoamento que antecede à transição seja laminar, assumindo-se,
que não existe turbulência no escoamento à montante da placa. A fase (1) é a formação
das primeiras instabilidades, junto à parede, de pequenas amplitudes e de
comportamento laminar, as quais são denominadas ondas de Tollmien-Schlichting ou
ondas TS. Essas instabilidades são as primeiras a aparecerem no escoamento, sendo,
portanto, amplificadas com uma taxa máxima. O comprimento de onda medido na
direção do escoamento é denominado max . Em seguida estas ondas se colocam a oscilar

na direção transversal à placa (2), com um comprimento de onda harmônico, também


selecionado entre todos os comprimentos de onda injetados na forma de perturbações.
Isso dá origem as instabilidades conhecidas como grampo de cabelo, ferradura de cavalo e
lambda. Estas instabilidades são filamentos turbilhonares contra rotativos que se erguem
para o interior da camada limite. Segundo Schlichting (1968), White (1991) e Lesieur
(1995) este processo de soerguimento dos filamentos contra rotativos pode ser explicado
pelo processo de bombeamento de fluido da região parietal em direção à região central
do escoamento, como ilustrado na Figura 4.30. No presente texto, este argumento é
complementado, considerando os movimentos combinados de translação do escoamento,
relativo ao filamento, e o movimento de rotação do filamento. Este efeito de movimentos
combinados gera uma força de sustentação conhecida como efeito Magnus. Isto pode ser

5.- Turbulência 3D
4.- Spots Turbulentos
3.- Indução não linear
dos processos de
bombeamento de
fluido vertical e de
soerguimento das
cristas das
instabilidades
2.- Oscilações
transversais sobre
as ondas TS
1.- Ondas de Tollmien-
Schlchting

Figura 4.30. Transição de uma camada limite sobre uma placa plana (experimento
realizado por Perry and Li, 1990); esquemas ilustrativos das fases da transição a
turbulência de uma camada limite sobre uma placa plana.

FL

(a) (b)
Figura 4.31. Transição de uma camada limite sobre uma placa plana (adaptação feita por
Silveira-Neto), com esquemas ilustrativos das fases de transição.

visualizado nas Figuras 4.31 (a) e (b). Nota-se que sobre as cristas, os efeitos de
bombeamento e de Magnus se somam no sentido de soerguer o filamento turbilhonar
para o interior do escoamento. Por outro lado, nos vales, eles se subtraem, de forma que
o filamento se mantém junto à parede.

Estruturas do
tipo grampo de
cabelo.

Estruturas do
tipo lambda  .

(a)
Estruturas do
tipo ferradura
de cavalo.

(b)
Figura 4.32. Secção transversal laser das instabilidades ferradura de cavalo. Adaptado de
Taneda (1981).

As estruturas turbilhonares que caracterizam essa fase da transição apresentam


pelo menos três topologias distintas que levam à seguinte nomenclatura: estruturas tipo
“lambda” (  ), estruturas tipo “grampo de cabelo” e estruturas tipo “ferradura de cavalo”.
Essas estruturas estão ilustradas nas Figuras 4.31 (a) e (b). Observando com cuidado,
podem-se identificar todas elas na fase de transição de uma camada limite sobre uma
placa plana, conforme pode ser visualizado na Figura 4.30.
Na sequência (3), como uma consequência das instabilidades do tipo filamentos,
surgem os famosos bursts turbulentos que representam fortes concentrações de
vorticidade as quais geram transportes violentos de matéria da parede para o interior da

Figura 4.33. Spot turbulento no interior de uma camada limite plana em transição
(retirado de Cantwell et al., 1978).

camada limite, visualizados classicamente por meio de injeção de fumaça. A última fase
(4) da transição, ilustrada em detalhe na Figura 4.33, representa uma espécie de
reorganização do escoamento em spots turbulentos com fortes concentrações de energia
cinética turbulenta, o que dá ao processo de transição um caráter fortemente
intermitente. A fase 5 representa, simbolicamente, o estado de turbulência plena.
A exemplo do que foi ilustrado para o caso dos escoamentos do tipo esteira, uma
camada limite também se desenvolve sobre diferentes tipos de geometrias. Na Figura
4.33(a) mostra-se a camada limite que transiociona sobre uma esfera. A camada limite
tem sua origem no ponto de estagnação à montante da esfera. À medida que o
observador se desloca sobre a superfície da esfera, aparecem as ondas de Tollmien-
Schlchting e as estruturas dos tipos: grampo de cabelo, lambda e até mesmo do tipo
ferradura de cavalo, típicas do processo de transição em camadas limite. Estes detalhes
podem ser visualizados na Figura 4.34(b).

(a)

(b)
Figura 4.34. Camada limite sobre a primeira metade à esquerda de uma esfera (a);
detalhes das ondas de Tollmien-Schlchting e das instabilidades tipo grampo de cabelo (b).

4.4. Convecção de Rayleigh-Bérnard e convecção de Marangoni

Além dos escoamentos já apresentados podem-se encontrar outros tipos,


igualmente importantes e que merecem comentários e análises. A seguir apresentam-se
exemplos de escoamentos e suas instabilidades características que eventualmente podem
conduzi-los ao processo de transição à turbulência.
Supor uma camada de fluido entre duas placas horizontais separadas de uma
distância e, submetidas a uma diferença de temperatura T . Se a placa superior estiver
mais aquecida que a placa inferior, como ilustrado na Figura 4.35 (a), estabelece-se um
meio fluido termicamente estratificado de modo estável. As camadas de fluido que se
encontram da metade do domínio para cima têm temperatura superior ao valor de
referencia, T , temperatura média, o que implica que a diferença entre as forças de

empuxo e peso, dada por  T  T   0 é positiva na metade superior do domínio. No

entanto, as partículas permanecem em repouso, e esse fato leva a conclusão que a força
resultante sobre uma partícula fluida, nesse problema, deve ser nula. Isso se deve ao fato
que a parede vertical barra o movimento das partículas e faz estabelecer um gradiente de
pressão que equilibra exatamente a força peso. O mesmo acontece na metade inferior do

domínio, onde  T  T   0 levando à tendência das partículas de fluido descerem. Isso

leva ao aumento da pressão à medida que desloca na direção da parede inferior,


equilibrando as forças atuantes e mantendo as partículas em repouso.
Dessa forma, esse meio fluido permanece em repouso. A transferência de energia
térmica, da placa superior para a placa inferior se dá por meio do processo difusivo
apenas. Não é possível estabelecer correntes advectivas. Ter-se-á, nesse problema, um
processo convectivo no qual a componente difusiva estará presente, mas a componente
advectiva será nula.
Se a placa inferior for a mais aquecida, Figura 4.35 (b), estabelece-se uma
estratificação térmica instável, ou seja, o fluido contido na metade inferior do canal, onde

 T  T   0 terá a tendência de subir, enquanto a segunda metade superior, onde

 T  T   0 terá a tendência de descer. Se o sistema fosse isento de qualquer

perturbação ele permaneceria em repouso, mesmo sendo um sistema instável. Acontece


que em qualquer experimento sempre ter-se-á a presença de perturbações, sejam elas
mecânicas, dinâmicas ou geométricas. Uma vez perturbado o sistema vai selecionar um
comprimento de onda para ser o mais amplificado e formação de instabilidades
fluidodinâmicas se iniciará. O fluido da metade inferior do domínio subirá em regiões
específicas, intermediadas por regiões onde o fluido da segunda metade superior do
domínio descerá. Serão formadas as células de Rayleigh-Bernard. Observa-se que a única
forma do fluido se deslocar é essa, uma vez que camadas completas de fluido não podem
se deslocar sem que outra camada venha substituí-la. As correntes advectivas se
estabelecem, permitindo que o fluido aquecido, presente na região inferior se desloque
para a região fria superior, estabelecendo a componente de transporte advectivo de
energia térmica.

(a)

(b)
Figura 4.35. Representação esquemática do experimento de Rayleigh-Bernard: duas
placas paralelas com temperaturas diferentes; (a) estratificação estável: placa superior
mais aquecida e (b) estratificação instável: placa superior menos aquecida.

Através da teoria de estabilidade linear mostra-se que o comprimento de onda


mais amplificado, nesse tipo de problema, será igual à altura da camada de fluido, que é
igual a distância entre as placas. Assim, quando esse sistema se torna instável, células
advectivas formar-se-ão, de forma a que correntes ascendentes e correntes descendentes
ocorrerão no meio fluido. Dessa forma, o princípio da conservação da massa será atendido
nesse problema de fluidodinâmica. A configuração mais provável a acontecer será na
forma de células hexagonais ascendentes e descendentes. Essas são as conhecidas células
ou instabilidades de Rayleigh-Bernard que aparecem em escoamentos de convecção
térmica natural. Fala-se aqui de “convecção”, uma vez que se encontram as suas duas
componentes, ou seja, a advecção (transporte de uma informação pelo movimento da
matéria) e a difusão (transporte de uma informação pela existência de gradientes de um
potencial, em um meio material).
Essas instabilidades só aparecerão a partir de condições críticas envolvendo o
modo de operação (caracterizado pela diferença de temperatura entre as placas,  e
pelo campo gravitacional do local no qual o experimento está sendo realizado), o tipo de
fluido (caracterizado por suas propriedades físicas) e a geometria do sistema
(caracterizada pela distância e entre as placas). Estes parâmetros, operacional, físico e
geométrico, quando agrupados via análise dimensional permite a definição do número de
Rayleigh, dado pela igualdade abaixo:

 g Te3
Ra  (4.15)


onde, ,  e  são respectivamente o coeficiente de expansão volumétrica, o


coeficiente de difusão térmica e o coeficiente de difusão molecular de quantidade de
movimento linear. O comprimento característico e é a distância entre as placas. Essa
última propriedade é mais conhecida como coeficiente de viscosidade cinemática do
fluido. Assim, se esse parâmetro adimensional for maior que um valor crítico, Ra>Rac,
inicia-se o processo de amplificação de perturbações e a formação das ditas
instabilidades de Rayleigh-Bernard. Dois modos de transição podem ser identificados:
rolos longitudinais e células hexagonais, como ilustrado na Figura 4.36. O valor crítico
do número de Rayleigh para o qual ocorre a transição, segundo a teoria da
estabilidade linear (Drazin and Reid, 2004) é Ra=1.707. Uma vez que essas
instabilidades primárias se manifestam, outros números de onda serão amplificados e
o processo de transição à turbulência se estabelece. As Figuras 4.37 (a) e (b) ilustram o
processo de transição e a Figura 4.37 (c) ilustra o regime de turbulência.
Figura 4.36. Representação esquemática das instabilidades de Rayleigh-Bernard; (a) modo
rolos e (b) modo células hexagonais.

Nas Figuras 4.37 (a), (b) e (c) mostra-se três configurações de escoamentos numa camada
horizontal de fluido, relativas a três regimes diferentes de escoamento. Observa-se que à
medida que se aumenta o número de Rayleigh o escoamento se torna menos organizado,
mais instável. Na Figura 4.37 (a) têm-se as células de Bernard ainda bem organizadas. Nas
Figuras 4.37 (b) e (c) estas células desapareceram e surge um regime mais desorganizado,
onde os regimes de transição à turbulência, e, possivelmente de turbulência, podem ser
encontrados. O movimento presente neste tipo de escoamento se deve ao processo de
transformação de energia potencial em energia cinética o que alimenta as correntes
convectivas. Existem também os efeitos viscosos que requerem a reposição da energia
cinética das partículas de fluido, a partir da energia potencial.
(a)

(b)

(c)
Figura 4.37. Convecção de Bernard em uma camada fluida horizontal, para Pr=0,7:
(a) Ra=4,8x104; (b) Ra=1,3x105 e (c) Ra=1,7x105.
Problemas semelhantes a este podem ser encontrados, nos quais o movimento do
fluido é alimentado por outra fonte motriz. Imagine-se, por exemplo, uma camada de
fluido fina colocada sobre uma placa plana horizontal e com uma interface entre essa
camada de fluido e o fluido que a envolve, acima dela. Essa interface é também conhecida
como uma superfície livre, que está no lugar da segunda placa, do experimento anterior.

Efeitos de tensão interfacial aparecerão nessa interface. Aquecendo-se a superfície


inferior do fluido, como já discutido, podem surgir instabilidades verticais. Aparecem
então, na interface, regiões mais aquecidas, nos centros das células ascendentes, e
regiões mais frias, nos centros das células descendentes. Em consequência, gradientes
horizontais de temperatura se manifestam na interface. O coeficiente de tensão
interfacial,  , varia com a temperatura, diminuindo na direção dos pontos mais
aquecidos. Neste caso surge um campo de força resultante, em consonância com os
gradientes de temperatura, que promoverá movimento horizontal das partículas de fluido
localizadas na interface. Esse é o chamado efeito Maragoni, o qual, combinado com o
efeito de Rayleigh-Bernard, alimenta o movimento que caracteriza as chamadas células
Maragoni. O efeito Marangoni, pode ser quantificado pelo número adimensional de
Marangoni:

d 1
Mg   .e.ΔT , (4.16)
dT 

onde e é um comprimento característico, distância entre as placas; é o coeficiente de


difusão térmica;  é a viscosidade dinâmica e T é a diferença entre as temperaturas
das placas.

A Figura 4.38 ilustra os traços das células de Marangoni formadas no solo de um


lago (salt lake) após o processo de secagem gerado pela evaporação da água. Percebe-se
que estas células, cujas marcas foram deixadas no solo do lago, são muito regulares e não
podem caracterizar um regime turbulento, mas é certo que, sendo instabilidades,
caracterizam o início do processo de transição.
Observa-se que, quando se tem superfície livre, em problemas de convecção
natural, as duas fontes de manutenção da advecção (energia interfacial e energia
potencial) coexistem. A relação entre o efeito de Marangoni e o efeito de Rayleigh-
Bernard, pode ser quantificada pela relações entre os parâmetros adimensionais, Ma
(número de Maragoni) e Ra (número de Rayleigh), conforme Equação (4.16):

Ma

 d / dT  .
Ra   g  e2  (4.17)

Observa-se que os efeitos de Marangoni serão tão mais predominantes sobre os


efeitos de Raynleigh-Beranrd quanto maior forem as variações do coeficiente de tensões
interfaciais; quanto menor for o peso específico das partículas de fluido; quanto menor for
o coeficiente de expansão térmica ou ainda quanto menor for a espessura da camada de
fluido. À título de exemplo, se se coloca óleo silicone sobre uma superfície horizontal e se
a espessura e da camada de líquido não excede 3 mm então os efeitos de Marangoni
serão predominantes.

Figura 4.38. Traços de células hexagonais convectivas de Marangoni geradas no fundo de


um lago (inhabitat.com/bolivias-salar).
Este é um tipo de escoamento que pode ser encontrado em muitos problemas
práticos. Além disso, ele tem sido objeto da atenção de muitos pesquisadores, tornando-
se um campo muito rico para análise de instabilidades e a evolução para escoamentos
turbulentos.

4.5. Instabilidades de Taylor-Couette

Outra família de instabilidades, semelhantes às instabilidades de Rayleigh-Bérnard,


se formam em escoamentos isotérmicos no interior de uma cavidade formada por dois
cilindros concêntricos rotativos. Este tipo de escoamento é conhecido como escoamento
de Couette circular, já que a única fonte de movimento é o movimento de suas fronteiras.
Neste caso as forças centrífugas geradas pela rotação estão ligadas à formação e
manutenção das instabilidades de Taylor-Couette, a serem descritas e discutidas nesta
seção.
Caso a rotação do cilindro externo seja maior que a rotação do cilindro interno, o
escoamento induzido pelos movimentos dos cilindros, no interior da cavidade, será
incondicionalmente estável. Isso se deve ao fato que a distribuição de força centrífuga
será crescente com a direção positiva do eixo coordenado r. Por outro lado, se a rotação
do cilindro interno for superior à rotação do cilindro externo o escoamento será instável e,
se perturbado, dará origem a instabilidades fluidodinâmicas. De forma similar ao que foi
descrito para os escoamentos de Rayleigh-Taylor, as perturbações injetadas no
escoamento podem ser de natureza geométrica, dinâmica e mecânica. A teoria de
estabilidade linear mostra que o comprimento de onda mais amplificado para esse tipo de
escoamento é igual a duas vezes a espessura do canal anular, definida como d  r0  ri .

Assim, as instabilidades fluidodinâmicas primárias terão geometria toroidais, quando


vistas em um corte axial ao sistema, como ilustrado nas Figuras 4.39 (a) e (b). Nessas
figuras mostram-se esses toroides para dois regimes de operação diferentes, ou seja, para
duas rotações distintas. A rotação do cilindro externo é nula e a rotação do cilindro
interno é diferente de zero. A rotação do cilindro interno do caso da Figura 4.39 (b) é
maior que a rotação do cilindro interno do caso da Figura 4.30 (a). Na Figura 4.39 (a)
ilustram-se as instabilidades toroidais contra rotativas de Taylor-Couette. Essas
instabilidades permanecem axisimétricas. O comprimento de onda mais amplificado é
dado por max  2d , observado e medido na direção axial. Quanto a rotação é

incrementada, surge uma nova família de instabilidade de comprimento de onda   max

medido na direção azimutal  . Em um experimento material ou virtual, à medida que se


aumenta a rotação do cilindro interno, novas instabilidades são formadas pelo processo
não linear de amplificação de perturbações, o que dá origem a uma família de
instabilidades fluidodinâmicas. Esse processo de multiplicação dos comprimentos de onda
caracteriza a transição do regime laminar para o regime turbulento.
Nas Figuras 4.40 (a), (b) e (c) tem-se a visualização, via experimentação material,
destas instabilidades, assim como do processo de transição à turbulência. Na Figura 4.40
(a) visualizam-se os toroides, contra rotativos, relativos a uma diferença de rotação, sendo
o escoamento ainda laminar, porém tridimensional e transiente. À medida que a rotação
do cilindro interno aumenta surgem oscilações harmônicas sobre os toroides, Figura 4.40
(b) as quais se amplificam e o escoamento transiciona para turbulência, como se ilustra
nas Figura 4.40 (c). Observa-se que o processo de formação de instabilidades depende da
relação das rotações dos cilindros, λ =  1 2 . Se c1  λ <  então o sistema será

instável. Para 0  λ < c1 então o sistema será sempre estável. O parâmetro λc1 é a

relação de rotações crítica para a qual ocorre a transição para a turbulência. Ressalta-se
ainda que λc1 depende do tipo de perturbações injetadas no sistema.

De forma genérica, escoamentos entre cilindros concêntricos rotativos, com


velocidades de rotação dos cilindros constantes, têm a solução analítica das equações de
Navier-Stokes, para regime laminar, segundo White (1974), expressa da seguinte forma:
 (r )  Ar  B / r (4.18)

onde
A  (Ωo Ro2 - Ωi Ri2 ) ( Ro2  Ri2 ) e B  (Ωo - Ωi ) Ri2 Ro2 ( Ro2  Ri2 ) ,
(a) (b)

Figura 4.30. Esquema ilustrativo do escoamento de Couette circular e das instabilidades


de Taylor-Couette.

(a) (b) (c)


Figura 4.40. Instabilidades de Taylor-Couette (a); oscilações harmônicas (b) e transição
para a turbulência (c); Figura retirada de Coles (1965).
sendo Ωo e Ωi as velocidades angulares do cilindro interno e do cilindro externo

respectivamente. A Eq. (4.18) é função só do raio r e representa a combinação da rotação


de corpo sólido (primeira parcela) e do vórtice potencial (segunda parcela).
As instabilidades fluidodinâmicas, promovidas por pequenas perturbações, neste
tipo de escoamentos foram estudadas por Taylor (1922), analítica e experimentalmente.
Ele determinou, para pequenos espaçamentos entre os cilindros, d  ro  ri , comparados

com ri , que o problema se simplifica e o escoamento passa a depender do número de

Taylor, Ta  ri L3 (Ωi2 - Ωo2 )  2 . Quando este parâmetro aumenta acima do valor crítico,

Tac  1.708 , surgem as instabilidades de Taylor-Coutte, que são células toroidais


contrarotativas axisimétricas com comprimento de onda de duas vezes L , chamadas
vórtices de Taylor. O interesse desta seção está centrado no caso em que o cilindro
externo permanece sem rotação, o  0 , e o cilindro interno gira a uma velocidade

angular i  0 , visando evidenciar as instabilidades de Taylor-Coutte.

As simulações foram conduzidas considerando duas configurações geométricas: a


primeira considerando os parâmetros geométricos do estudo experimental de Andereck
et. al. (1985), com relação de raios   R0 / Ri  1,13 e razão de aspecto   L / d  30 ,

sendo L o comprimento do canal anular.


A Figura 4.41 mostra a comparação da distribuição da velocidade tangencial entre
os resultados numéricos e a solução teórica dada pela Eq. (4.18), para dois valores de
números de Reynolds: Red  50 e 100. O perfil da velocidade tangencial, gerado no

presente trabalho, descreve exatamente o perfil analítico. Trata-se de casos com números
de Reynolds abaixo do número de Reynolds crítico Radc  114 (valor equivalente ao Tac ),

onde o escoamento está caracterizado como laminar. As outras componentes da


velocidade são praticamente nulas, para escoamentos estáveis.
100

Re=50 : Teórico
80 Re=100 : Teórico
Re=50 : Presente trabalho
Re=100 : Presente trabalho

60
- 
(vL)/

40

20

0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

  i
r (r-Ro)/(Ri-Ro)
r / r r
0 0 
Figura 4.41. Distribuição da velocidade tangencial para o escoamento anular de Couette;
Re =50 e 100. Acervo pessoal (Padilla e Silveira-Neto,2004).

Incrementou-se o valor do número de Reynolds até Re =118, valor ligeiramente acima do


Ra c , e obteve-se a formação de estruturas toroidais contrarotativas dispostas

longitudinalmente (cinco células). Elas podem ser vuisualizadas nas Figuras 4.33 (a), (b) e
(c). Trata-se da formação dos vórtices de Taylor-Couette, desenhados com campos das
componentes da velocidade adimensionalizadas, uL /  ,  L /  e wL /  , plotadas em um
plano ( r, z ) arbitrário. A velocidade radial (Fig. 4.42 (a)), descreve vórtices alternados
(positivo, negativo) ordenados axialmente por pares. A velocidade tangencial (Fig. 4.42(b))
mostra ondas com os picos coincidentes com as partes positivas da velocidade radial e
com vales coincidentes com as partes negativas. A velocidade axial (Fig. 4.42 (c)) mostra
células alternadas ordenadas em sentido radial, cujo centro coincide com a interface dos
campos negativo e positivo da velocidade radial. O campo vetorial de velocidade é
apresentado na Fig. 4.43, evidenciando a presença de células contrarotativas de forma
quadrada, o que significa excelente concordância com os experimentos de Schultz-
Grunow (1938), Hein (1956), Cole (1965) e Wereley e Lueptow (1999). Portanto, o
comprimento de onda axial mais amplificado é max  2L como previsto pela teoria da

estabilidade linear.

- 
(uL)/
0.5
0.3
0.1
-0.1
-0.3
-0.5
(a)
- 
(vL)/
118.0
97.8
77.6
57.4
37.1
16.9

(b)
-
(wL)/ 
0.5
0.3
0.1
-0.1
-0.3
-0.5

(c)
Figura 4.42. Campos de velocidade para Re =118,  =1,133 e  =10. (a) radial, (b)
tangencial, (c) axial. Acervo pessoal (Padilla e Silveira-Neto, 2004).

Figura 4.43. Campo vetorial da velocidade para Re =118,  =1,133 e  =10. Acervo
pessoal (Padilla e Silveira-Neto, 2004).

A seguir apresentam-se as estruturas do escoamento nas três dimensões, nas


Figuras 4.44 (a), (b) e (c). As componentes da velocidade radial (Figura 4.44 (a)), axial
(Figura 4.44 (b)) e a vorticidade (Figura 4.44 (c)) foram utilizadas para a visualização. Os
valores da componente radial da vorticidade correspondentes z  2 (cor cinza) e

  2 (cor verde) foram plotados. Pode-se observar, através do corte, que os vórtices de
Taylor-Couette são axisimétricos e contrarotativos.
(a)

(b)

(c)

Figura 4.44. Vista em perspectiva das isosuperfícies de: (a) velocidade radial, (b)
velocidade axial, (c) vorticidade z  2 (cor cinza) e   2 (cor verde); para Red  118 ,
  1,133 e   30 . Acervo pessoal (Padilla e Silveira-Neto, 2004).
Para Red  2.190 observa-se que ocorre a transição à turbulência, Figura 4.45. Percebe-se

as estruturas toroidais instáveis e tridimensionais, caracterizando um estado de alto nível


de instabilidades fluidodinâmicas. Observa-se que as estruturas toroidais são mantidas
mas com altos níveis de tridimensionalidades. Essas estruturas são um exemplo de
estruturas coerentes, as quais possuem um tempo de vida longo, quando comparado com
o seu tempo característico, necessário que para que elas completem uma volta.

Figura 4.45. Isosuperfícies instantâneas: (a) componente radial da velocidade, (b)


componente axial da velocidade, (c) componente azimutal da velocidade, (d) vorticidade.
Acervo pessoal (Padilla e Silveira-Neto, 2004).
A figura 4.37(a) mostra a distribuição temporal da componente radial da velocidade,
amostrada em um ponto central do canal anular. Percebe-se que o sinal apresenta uma
banda larga de frequências, o que pode ser visualizado de forma quantitativa na Figura
4.46(b). Esse é um regime de transição à turbulência, onde uma banda larga de
frequências já está estabelecida, mas ainda não se trata de uma banda larga e contínua de
frequências. Não se pode ainda caracterizar esse regime como turbulento.

(a)

(b)
Figura 4.46. (a) distribuição temporal de velocidade radial e (b) distribuição temporal da
densidade espectral de potência. Acervo pessoal (Padilla e Silveira-Neto, 2004).

Este é apenas mais um cenário de transição à turbulência com características similares aos
precedentes, ou seja: surgimento de instabilidades típicas do escoamento, como resultado
do processo de amplificação de perturbações; bifurcação destas instabilidades primárias e
geração de uma nova família de instabilidades e, finalmente, formação de um espectro
largo de instabilidades característico do regime de turbulência. O leitor interessado
pode encontrar mais detalhes sobre o tratamento analítico deste problema, via teoria da
estabilidade linear em Tritton (1988).

4.6. Instabilidades e turbilhões de Görtler

Turbilhões de Görtler é um escoamento secundário que aparece no interior de uma


camada limite, sob condições adequadas, ou seja, que a parede seja curva com
concavidade positiva e que a espessura da camada limite seja comparável à curvatura da
placa. Se a espessura da camada limite for pequena comparada com o raio de curvatura, o
gradiente de pressão normal à parede é desprezível. Por outro lado, se a sua espessura for
da comparável ao raio de curvatura, surge um campo de força centrífuga que deve ser
equilibrado por um gradiente de pressão contrário que aponta da parede para o centro do
escoamento. Mediante a injeção de perturbações, e se o número de Görtler (G) supera
0,3, então instabilidades centrífugas podem aparecer. Como consequência, aparecem
turbilhões de Görtler no interior da camada limite. Esse parâmetro adimensional é
definido por:

U    
1/2

G (4.19)
  R 
,

onde U  é a velocidade externa à camada limite;  é a espessura de momentum; éa

viscosidade cinemática e R é o raio de curvatura da parede. Esse número adimensional


representa a relação entre os efeitos centrífugos e os efeitos viscosos. Parte dessas
variáveis e os turbilhoes de Görtler estão ilustrados na Figura 4.47. Observa-se que à
semelhança dos turbilhões de Taylor-Couette, os turbilhoes de Görtler também são contra
rotativos. Para mais detalhes sobre esse tema, as referências Görtler (1955) e Saric (1994)
podem ser consultadas.
Figura 4.47. Instabilidades de Görtler formadas no interior de uma camada limite sobre
um corpo curvo côncavo.

4.7. Escoamentos complexos

Os escoamentos ditos complexos são os mais frequentes na natureza e nas


aplicações industriais e tecnológicas. Eles podem ser entendidos como sendo uma
composição dos escoamentos canônicos apresentados nas seções precedentes. Do ponto
de vista da transição, muito do que foi apresentado, em matéria da natureza física das
instabilidades, pode ser encontrado no interior da família de escoamentos complexos.
O caso de uma expansão brusca, em um canal retangular, é aqui apresentado
como exemplo desta classe de escoamentos. Esta geometria, ilustrada na Figura 4.48, é
bastante simples de ser discretizada, propiciando, no entanto, o aparecimento de um
escoamento transicional de alta complexidade. Outra característica que torna essa
geometria um caso teste muito utilizado, tanto por experimentalistas materiais, quanto
por experimentalistas virtuais, é o fato que o descolamento da camada limite inferior
ocorre em um ponto fixo, independente das condições do escoamento à montante da
expansão. Como ilustrado na Figura 4.48, na região (1) tem-se duas camadas limite, a
superior e a inferior e, entre elas, tem-se escoamento potencial. Sobre o degrau, no ponto
(2), a camada limite inferior descola e gera-se uma zona cisalhante (3) com a formação de
estruturas turbilhonares do tipo Kelvin-Helmholtz, as quais são submetidas ao efeito de
confinamento e são transportadas em direção à região de recolamento da camada limite,
no ponto (5). Essa região é de grande complexidade física, devido ao choque das
estruturas turbilhonares com a parede inferior do canal. Tem-se ainda uma região de
escoamento recirculante (4) interagindo com a camada cisalhante (3). Após a região de
recolamento encontra-se a região de redesenvolvimento da camada limite (7) com a qual
interagem as estruturas turbilhonares que são transportadas para a saída do canal.
Resumindo, essa é uma geometria simples, por ser cartesiana. No entanto, o escoamento
é muito complexo e de difícil predição por simulação numérico-computacional.
Entre as grandezas estatísticas que se busca obter são os perfis médios das
componentes da velocidade, o coeficiente de pressão, as componentes do tensor de
Reynolds, bem como a energia cinética turbulenta. Outra grandeza muito importante
nesse problema é o comprimento de recolamento da camada limite inferior, que fornece
a distância entre o ressalto e o ponto (5).

Figura 4.48. Características geométricas e físicas qualitativas do escoamento transicional


sobre uma expansão brusca.

A seguir são apresentados resultados de simulações numéricas realizadas por Silveira-


Neto et al. (1993). Esse trabalho foi considerado como a primeira simulação numérica
aplicada a um problema industrial, utilizando-se da metodologia LES (Large Eddy
Simulation). A transição à turbulência de um escoamento complexo foi estudada
numericamente nesse trabalho.
Na Figura 4.49 mostra-se o resultado de uma simulação bidimensional do
escoamento no interior do canal com uma expansão brusca. O número de Reynolds
baseado na altura do degrau é ReH  38.000 e a razão de aspecto é R  W / H  2.5 ,

onde W é a altura do canal a jusante do degrau e H é a altura do degrau. A componente


transversal da vorticidade,  z , foi utilizada para visualizar o escoamento. A cor vermelha

indica vorticidade negativa (sentido horário) e a cor azul indica vorticidade positiva
(sentido anti-horário). Percebe-se a formação da camada cisalhante inferior após o ponto
de descolamento da camada limite, como ilustrado pelo ponto (2) na Figura 4.48.
Estruturas turbilhonares do tipo Kelvin-Helmholtz são formadas e transportadas na
direção da parede inferior, como ilustrado pelo número (3) da Figura 4.48. Após colidir na
região de recolamento da camada limite, ponto (5) da Figura 4.48, as estruturas são
transportadas na direção da saída do canal. A formação das estruturas de Kelvin-
Helmholtz se dá devido à recirculação que se forma a jusante do degrau, criando um
campo de velocidade inflexional.
Na parte superior do canal, observa-se que a camada limite descolou, dando
origem a inflexionalidade no campo de velocidade e criando, por consequência, estruturas
de Kelvin-Helmholtz. Elas são transportadas sequencialmente na direção da saída do
canal. É curioso perceber o descolamento de uma camada limite sobre uma placa plana!
Isso se dá, nesse caso, por se tratar de um escoamento confinado entre duas placas e
numa região em que o campo de pressão é variável, dando origem a gradientes adversos
de pressão sobre a placa plana superior. Como é de conhecimento, campos de pressão
que apresentam gradientes adversos podem promover descolamento de camadas limite.
Apesar de se tratar de uma simulação bidimensional, detalhes importantes foram
capturados, como o fenômeno de bursting (explosão) de vorticidade na parede inferior do
canal, como assinalado pelas setas brancas na Figura 4.49. Esse tipo de efeito físico foi
capturado também em experimentos materiais por Pronchick and Kline (1983) utilizando
um túnel de vento e visualização com injeção de fumaça.
Figura 4.49. Escoamento bidimensional à jusante de uma expansão brusca. Sequencia
temporal dos campos de vorticidade transversal z  . Número de Reynolds baseado na

altura do degrau, ReH  38.000 ; razão de aspecto R  W / H  2.5 . Acervo pessoal

(Silveira-Neto et al., 1993).


Na Figura 4.50 apresenta-se resultados de uma simulação tridimensional do
escoamento no canal com expansão brusca. Na Figura 4.50 (a) visualiza-se, através de
uma vista inclinada do canal de saída, após a expansão brusca, isosuperfícies de
vorticidade e na Figura 4.50 (b) visualiza-se as isosuperfícies do campo de pressão, sendo
neste caso uma vista superior do canal. Percebe-se o processo de transição em ambas as
figuras, com a presença de estruturas turbilhonares de primárias de Kelvin-Helmholtz, as
quais experimentam fortes efeitos tridimensionais quando são transportadas para a
direita da figura. Visualiza-se claramente a presença dos estruturas turbilhonares
longitudinais contrarotativas longitudinais, induzidos, pelas estruturas primárias já
descritas. A intensa ação mecânica destas estruturas filamentares longitudinais sobre as
estruturas primárias pode ser percebida na Figura 4.50 (b). Reconhece-se a importância
delas no processo de transição à turbulência e para o estabelecimento da turbulência em
si, num estágio posterior não mostrado nestas figuras. Esta configuração refere-se a um
degrau pequeno e, portanto, a parede inferior exerce uma forte influência sobre o
processo de transição.

Figura 4.50. Escoamento tridimensional sobre uma expansão brusca; número de Reynolds
baseado na altura do degrau, ReH  38.000 ; razão de aspecto R  W / H  2.5 : (a)
isovalores da vorticidade longitudinal, x  2,5 U 0 / H e (b) isobárica p  0,3U o2 .

Acervo pessoal (Silveira-Neto et al., 1993).

Buscando-se evidenciar melhor o processo de transição à turbulência do escoamento à


jusante do degrau, outra simulação foi realizada em uma geométrica com largura superior
ao caso precedente, apresentado na Figura 4.50. Dessa forma tem-se a oportunidade de
evidenciar um número maior de estruturas turbilhonares longitudinais contra rotativas.
As estruturas de Kelvin-Helmholtz foram desenhadas com a vorticidade transversal
z  3U 0 / H , cor lilás, e os filamentos longitudinais foram desenhados com a vorticidade
longitudinal x  2,5 U 0 / H , cores verde, x  2,5 U 0 / H , e amarelo,

x  2,5 U 0 / H . Claramente os filamentos longitudinais se enrolam sobre as estruturas


de Kelvin-Helmholtz.

Figura 4.51. Escoamento tridimensional sobre uma expansão brusca; número de Reynolds
baseado na altura do degrau, ReH  6.000 ; razão de aspecto R  W / H  1, 25 ; isovalor

da vorticidade transversal z  3U 0 / H ; isovalores da vorticidade longitudinal,

x  2,5 U 0 / H . Acervo pessoal (Silveira-Neto et al., 1993).


Outro fato que se evidenciou foi a reconecção observada entre os filamentos de mesmo
sinal sobre a segunda estrutura de Kelvin-Helholtz. Dois filamentos de sinais contrários
não pode se reconectar. Por isso eles saltam uns sobre os outros de forma a encontrar um
parceiro de mesmo sinal para que possa ocorrer a reconecção entre aqueles de mesmos
sinais. Esse efeito físico pode ser visualizado na Figura 4.51 sobre a segunda estrutura de
Kelvin-Helmholtz, à direita dessa Figura. Para melhor visualizar os filamentos longitudinais
contra ratativos, foi feito um corte transversal ao escoamento, como assinalado pelo
plano desenhado com uma linha branca no centro da Figura 4.51. O campo vetorial de
velocidade foi traçado, o qual é apresentado na Figura 4.52. Observa-se claramente as
estruturas na forma de cogumelos, desenhadas com os vetores velocidade. As cores
variando do vermelho ao azul representam o sinal da velocidade, sendo o vermelho
positivo e o azul negativo.

Figura 4.52. Corte vertical (a-a) sobre os turbilhões longitudinais da Figura 4.51; campo
vetorial da velocidade. Acervo pessoal (Silveira-Neto et al., 1993).

Com os resultados desse experimento numérico foi possível estabelecer um


cenário do processo de transição do regime laminar para o regime turbulento. Esse
cenário inicia-se pela formação de estruturas turbilhonares de Kelvin-Helmholtz, as quais
são transportadas sequencialmente da entrada para a saída do domínio. O próximo
evento identificado foi a indução de filamentos longitudinais contra rotativos, pela ação
do fluido intermediário às estruturas de Kelvin-Helmholtz. Identificou-se ainda a
possibilidade de aparelhamento entre filamentos longitudinais de mesmo sinal.

4.8. Turbulência homogênea e isotrópica

Muitas são as investigações teóricas desenvolvidas sobre o tema turbulência


homogênea e isotrópica: as propriedades estatísticas dos escoamentos são invariantes por
translação (homogeneidade) e invariantes por rotação (isotropia). Uma aproximação
experimental para este tipo de turbulência é o caso do escoamento gerado atrás de uma
tela fina. Assim, as constatações teóricas podem ser comprovadas experimentalmente. As
teorias advindas para este tipo de escoamento conduzem a várias predições, não só no
que se refere aos espectros de potência, mas também às constantes de difusão as quais
modelam as taxas de transporte de quantidade de movimento, energia térmica e
escalares passivos e ativos, no interior dos escoamentos turbulentos. É dentro deste
contexto que foi desenvolvida a teoria de Kolmogorov, a qual será abordada em outro
capítulo.
Na Figura 4.53 apresenta-se as estruturas turbilhonares que resultam de uma
simulação numérica direta de um escoamento turbulento em uma caixa cúbica periódica.
Esse escoamento é um exercício acadêmico que mais se aproxima da hipótese de
isotropia. Percebe-se visualmente, Figura 4.53 (a), que as estruturas turbilhonares,
representadas pelo campo de vorticidade, são similares em todo o domínio de cálculo. O
espectro de energia cinética turbulenta, em número de onda, correspondente a esse
estado de turbulência, é apresentado na Figura 4.53 (b). Percebe-se que esse espectro,
plotado em escala log-log, apresenta uma inclinação em -5/3, o que atende a lei de
Kolmogorov (1941 a e b). Esse resultado retirado do acervo pessoal (Moreira e Silveira-
Neto, 2011).
(a) (b)
Figura 4.53. Turbulência isotrópica em uma caixa cúbica periódica: (a) vorticidade e (b)
densidade espectral de energia cinética turbulenta. Ilustram-se a lei de Kolmogorov
(1941); resultado retirado do acervo pessoal (Moreira e Silveira-Neto, 2011).

4.9. Turbulência e caos

Todo efeito sucede uma causa. Uma só linha errada nos programas
computacionais utilizados nas bolsas de valores e assistir-se-á a uma onda de
instabilidades financeiras mundiais. Assim se exprimem aqueles que se interessam por
uma das mais importantes disciplinas da atualidade: a teoria do caos. Por muito tempo a
ciência funcionou ao abrigo da satisfação geral e confortável dos fenômenos previsíveis e
das equações lineares. Conhecendo-se a vazão da torneira e o volume da banheira
determina-se rapidamente o tempo necessário para enchê-la. Conhecendo-se o peso do
satélite e a altura da órbita desejada, calcula-se o empuxo necessário ao lançador para
executar a tarefa de colocá-lo em órbita. Conhecendo-se o número de famintos
espalhados pelo imenso Brasil calcula-se a quantidade de alimento necessária para saciá-
los por um período determinado. Mas o que dizer do comportamento dinâmico das bolsas
mundiais nos dias que seguiriam a dita libertação do Koweit em 1991? O que dizer sobre o
que acontecerá com a população de regiões específicas do nordeste brasileiro em função
do êxodo rural que têm acontecido nas últimas décadas? A resposta é quase nada!
A ciência tradicional muito pouco pode afirmar sobre os fenômenos naturais
complexos. No entanto, falando em fenômenos complexos, nós estamos mergulhados
neles e apenas se conhece isto! A disciplina do caos não é nada nova. Ainda em 1889
Henri Poincaré já tinha descoberto a noção de caos determinístico no contexto de um
problema de mecânica celeste a três corpos. Ele se afastou de suas equações,
considerando os parcos recursos de cálculo daquela época. Hoje, no entanto, os
progressos das ciências matemáticas e dos extraordinários recursos de cálculo apontam
para um novo horizonte.
Os escoamentos turbulentos têm sido vistos como um dos mais importantes e
menos compreendidos domínios da dinâmica dos fluidos. Tem sido verificado também
que muitos sistemas dinâmicos com menor número de graus de liberdade apresentam
características semelhantes aos movimentos turbulentos. Alguns destes sistemas são
muito mais simples que os escoamentos e a compreensão dos seus comportamentos
podem ajudar a entender sistemas cada vez mais complexos.
A palavra turbulência tem sido intimamente associada aos escoamentos, apesar de
que isto não é verdadeiro. Como já ressaltado, vários outros sistemas dinâmicos que se
caracterizam por um número de graus de liberdade suficientemente elevado pode atingir
o regime de turbulência. Observa-se que todos os sistemas dinâmicos são modelados
matematicamente por equações determinísticas. Observa-se ainda que um sistema
dinâmico com baixo grau de liberdade não pode atingir tal regime turbulento, podendo
atingir, no entanto, comportamentos altamente imprevisíveis. É nesse sentido que se fala
de caos determinístico.
Para compreender melhor este importante tópico, será feita uma digressão dos
sistemas fluidos e alguns exemplos de sistemas dinâmicos não fluidos serão discutidos.

4.9.1. Sistema dinâmico tipo pêndulo simples

Considera-se um pêndulo simples com um grau de liberdade: rotação circunferencial,


como ilustrado na Figura 4.54. Considera-se inicialmente uma situação em que se tenham
os efeitos dissipativos presentes. Posiciona-se o pêndulo no ponto C e libera-o. Neste
momento sua aceleração é máxima e sua velocidade é nula. Ao passar pelo ponto B sua
aceleração é nula e sua velocidade é máxima. Ao se dirigir ao ponto A o comportamento
se inverte até se atingir o ponto de equilíbrio B, tendo, no entanto, menor nível de energia
potencial que no ponto C, devido aos efeitos dissipativos. Ao longo dos ciclos o pêndulo a
inicial será dissipada, até atingir o repouso no ponto B. Define-se o chamado espaço das
fases como sendo composto por duas variáveis, a aceleração e a velocidade. O
comportamento deste sistema está plotado no espaço das fases na Figura 4.55(a). O
ponto para o qual o sistema converge é um ponto de equilíbrio. Neste caso particular ele
corresponde ao repouso, o que não constitui uma regra e sim uma particularidade.

Figura 4.54. Sistema dinâmico tipo pêndulo simples.

Para o caso em que o sistema ilustrado não está submetido a efeitos dissipativos,
ou se ele é movido por uma força externa o equilíbrio será representado por um círculo
limite para o qual o sistema deve convergir, como ilustrado na Figura 4.55(b).
Círculo limite

(a) (b)
Figura 4.55. Representação dinâmica no espaço de fases.

4.9.2. Movimento caótico de um pêndulo

O conceito de movimento caótico é algo bastante abstrato. Assim, será utilizado


aqui um sistema dinâmico simples, que, mesmo não sendo um sistema fluido, é um
arranjo que exibe este tipo de comportamento. Supor o pêndulo do caso precedente,
porém com três graus de liberdade: movimento circular e movimento vertical. Desta
forma a esfera do pêndulo pode percorrer uma trajetória esférica de raio variável. Trata-
se de um arranjo conhecido como um pêndulo esférico ou cônico. O ponto de apoio do
pêndulo pode oscilar segundo uma senoide, com uma amplitude pequena comparada
com o comprimento do pêndulo. Se a frequência f de forçagem está próxima da
frequência natural do sistema, as oscilações se amplificarão e darão origem a um regime
instável. Como resultado, existe uma faixa de frequências de excitação para as quais a
esfera do pêndulo orbita no interior da casca esférica de raio máximo ao invés de
percorrer um arco sobre esta casca esférica.
É este movimento orbital que exibe o fenômeno com o qual o estudo está
relacionado. Experimentos já realizados mostram que o sistema exibe um comportamento
surpreendente na forma de oscilações, à medida que a frequência de excitação é alterada.
É curioso observar que quando a frequência de excitação é levemente superior à
frequência natural, o sistema adquire um comportamento caótico, enquanto que se ela é
levemente inferior, isto não acontece. Na Figura 4.56 mostra-se um conjunto de 36 órbitas
assumidas pelo sistema em tempos diferentes. Ressalta-se que é totalmente imprevisível
qual delas o sistema assumirá em um dado tempo, apesar de este sistema ser regido por
equações determinísticas. Isto mostra a sua extrema sensibilidade às perturbações
injetadas. Neste sentido diz-se que o sistema evoluiu para um regime de caos
determinístico. Mais detalhes sobre este estudo pode ser encontrado em Tritton (1988).

Figura 4.56. Comportamento caótico das órbitas de um pêndulo esférico. Figura feita pelo
autor do presente texto.

4.9.3. Caos na dinâmica dos fluidos

Fica evidente, com base nos argumentos apresentados nas seções precedentes,
que um mesmo sistema dinâmico pode tanto estar em regime caótico quanto em regime
ordenado para diferentes valores do parâmetro de forçagem. O sistema percorre então
um caminho (transiciona) para o caos à medida que se varia este parâmetro. Os processos
de transição para o caos e transição para a turbulência serão comparados
qualitativamente.
A primeira razão pela qual a teoria do caos pode ser importante para a dinâmica
dos fluidos é a turbulência. Deve-se enfatizar que existem algumas formas pelas quais um
escoamento pode exibir um comportamento caótico. A questão é, quando um
escoamento torna-se turbulento pode ser diferente de quando ele se torna caótico. Um
escoamento de Taylor-Couette, por exemplo, pode adquirir várias combinações de
regimes: laminar, caótico laminar e turbulento caótico. Seguindo as ideias modernas sobre
caos, pode-se considerar os movimentos turbulentos como exemplos de caos
determinístico, desde que se admita que os mesmos sejam governados pelas equações
determinísticas de Navier-Stokes.
Duas configurações mais estudadas neste tipo de transição tem sido o caso de
convecção de Bernard entre duas placas planas horizontais e o escoamento de Taylor-
Couette entre dois cilindros rotativos concêntricos. No caso da convecção de Bérnard duas
rotas de transição são identificadas: rota de multiplicação frequências e a rota de
intermitência. A Figura 4.57 ilustra os espectros de potência para diferentes valores do
número de Rayleigh. Observa-se nas Figuras 4.57(a) e (b) que existe uma multiplicação de
frequências, passando pela Figura 4.57(c) onde se observa a presença de intermitência
através dos níveis de energia das diversas frequências. Finalmente se observa na Figura
4.57(d) um espectro de energia contínuo, mostrando a presença de uma banda de
frequências e caracterizando um estado caótico e turbulento do escoamento.
Figura 4.57. Espectro de potência da velocidade em uma experiência de Bérnard,
mostrando o processo de multiplicação de frequências e de intermitência: (a)
Ra/Rac=21,0; (b) Ra/Rac=26,0; (c) Ra/Rac=27,0 e (d) Ra/Rac=36,9 (adaptado de Tritton,
1988).

Observa-se que pequenas mudanças na bancada experimental pode promover o


aparecimento de uma rota diferente para o caos. As razões não são bem conhecidas. Fica
ainda uma questão de difícil resposta: pode uma rota standard para o caos ser identificada
na transição para a turbulência?
Uma última questão a ser abordada aqui é a possibilidade de retorno à ordem ou
processo de relaminarização de um escoamento. Sob alguns efeitos estabilizadores os
escoamentos podem ser relaminarizados e retornar à ordem. Um exemplo é o caso de
reestabilização de escoamentos turbulentos quando submetidos a fortes efeitos de
estratificação estável em massa específica. Os efeitos de rotação assim como de
compressibilidade exercem papeis semelhantes.

4.10. A visão determinística e a visão estatística da turbulência

A turbulência é um regime de operação de sistemas dinâmicos de grande


complexidade. Muito já se compreende sobre ele, mas, sem dúvida, resta ainda muito
mais a compreender. Segundo a visão já adquirida, tudo indica que a turbulência é um
regime determinístico e como tal ela é, na sua essência, previsível. A questão de
imprevisibilidade, já discutida, está associada às impossibilidades científicas ligadas à falta
de capacidade de se fornecer corretamente as condições iniciais e de contorno, assim
como de termos fonte, aos métodos de solução dos modelos matemáticos diferenciais.
Outro limitante são os recursos computacionais disponíveis. De fato, pequeníssimos erros
nas condições iniciais, nas condições de contorno ou em termos fonte serão amplificados
exponencialmente pelas interações não lineares, gerando instabilidades que são
dependentes destes ruídos. Qualquer variação nessas condições determinarão estados
completamente diferentes nas previsões. Um dos primeiros cientistas a perceber este fato
foi Henrri Poincaré, o qual descobriu no fim do século passado que um sistema simples
como o sistema sol-terra-lua interagindo gravitacionalmente, pode ter um
comportamento imprevisível ou caótico. Este é, no entanto, um ponto de vista
determinista, pois se trata de um sistema dinâmico regido por equações determinísticas. É
neste sentido que Einstein diz que ‘‘Deus não decide por jogo de dados’’ pois certamente
Ele conhece em todos os detalhes as ínfimas perturbações que vibram no Universo.
Um exemplo fantástico de sistema caótico é o comportamento dinâmico da nossa
atmosfera: desafio colossal é a previsão meteorológica do nosso clima. Surpreendentes
são também os avanços conseguidos neste domínio, graças ao aumento de exatidão nas
medidas de estações experimentais, as quais são fornecidas a computadores cada vez
mais potentes que executam códigos computacionais cada dia mais representativos da
física destes escoamentos. Esse conjunto de fatores tem permitido a previsão do
comportamento climático com bom nível de confiabilidade para até alguns dias futuros.
Felizmente, para a maior parte das aplicações da engenharia e mesmo para a
busca da compreensão fenomenológica dos escoamentos, a previsão exata da posição e
da fase de uma estrutura turbilhonar não é tão indispensável como se pode imaginar. Tão
importante é uma boa previsão do comportamento estatístico de um sistema dinâmico.
Isto significa que mesmo que não se possa reproduzir exatamente uma experiência
material, realizada em um laboratório, sabe-se que se pode reproduzi-la, com uma
experiência virtual, no que se refere ao seu comportamento estatístico.
Por exemplo, as estruturas turbilhonares reproduzidas numa experiência numérica
(solução numérica do modelo matemático) não correspondem exatamente aos turbilhões
observados numa experiência material, no que se refere às sua posição no espaço e no
tempo, por mais próximas que sejam as condições iniciais e limites. No entanto, quando
se extrai as informações estatísticas desses resultados teóricos, obtêm-se excelentes
concordâncias com a estatística do experimento material. Outro fato importante é que os
fenômenos físicos são também corretamente representados, o que permite
interpretações e compreensão a partir de resultados de experimentos virtuais.
Ficam então as ideias de que os comportamentos dos sistemas dinâmicos podem
ser imprevisíveis mesmo sendo eles regidos por equações determinísticas. De fato, não é
possível fornecer exatamente as mesmas condições iniciais e de contorno presentes nos
experimentos. Por outro lado o comportamento estatístico dos sistemas dinâmicos
independe destas perturbações iniciais para a maior parte das aplicações práticas. As
ferramentas estatísticas de modelagem da turbulência são, portanto indispensáveis e
permitem também auxiliar não só na questão da imprevisibilidade como também na
questão crucial da pequena potência computacional disponível para se resolver, de forma
direta, os escoamentos turbulentos. Será visto em capítulos posteriores que a modelagem
da turbulência está diretamente associada com essas características.

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