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RESUMO
O objetivo desse artigo é apresentar resultados de uma pesquisa sobre as formas de avaliação do
ambiente domiciliar de pessoas com deficiência física utilizadas pelos terapeutas ocupacionais (TO’s)
e arquitetos. Trata-se de uma pesquisa transversal, descritiva e exploratória, com abordagem quanti-
qualitativa. Foram aplicados questionários com sete gestores TO’s e com onze arquitetos
especialistas em acessibilidade. Observou-se que ambos os grupos identificaram dificuldades em
avaliar o ambiente doméstico. Tal dificuldade está associada à falta de capacitação técnica na área.
Essa pesquisa contribuiu para a identificação das principais dificuldades relacionadas à prática
interdisciplinar em projetos arquitetônicos de acessibilidade para pessoas com deficiência física.
ABSTRACT
The objective of this paper is present results of a research about ways of assessing the home
environment of people with disabilities employed by occupational therapists (OT’s) and architects. This
is a cross-sectional, descriptive and exploratory research, with quantitative and qualitative approach.
Questionnaires were applied to seven OT´s managers and eleven architects experts in the
accessibility. It was observed that both groups identified difficulties in assessing the domestic
environment. This difficulty is associated with the lack of technical capacity in the area. This study
aimed to identify the main difficulties related to interdisciplinary practice between architectural
accessibility for people with physical disabilities.
1. INTRODUÇÃO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo têm como base a compilação das respostas aos questionários dos 18
indivíduos, sendo em sete Terapeutas Ocupacionais e onze Arquitetos.
O cruzamento dos dados comuns entre terapeutas ocupacionais e arquitetos, em relação à avaliação
do ambiente domiciliar, pode ser observado na Tabela 1. No total entre as duas áreas, 55% identifica
dificuldades em avaliar o ambiente doméstico. Cabe ressaltar que ao examinar tais dados
separadamente, para os arquitetos esta dificuldade é bem menor do que para os terapeutas
ocupacionais. Por outro lado, os arquitetos relatam dificuldade frente à especificidade do assunto em
relação ao ambiente domiciliar de pessoas com deficiência física.
Tabela 1 - Dificuldades de arquitetos e terapeutas ocupacionais para avaliar ambientes
domésticos.
Tipo de entrevistado
Terapeutas Total
Arquitetos(n.11)
Ocupacionais(n.07)
A13/TO14. Não 54,5% 28,6% 44,4%
Você identifica
dificuldades para avaliar Sim 45,5% 71,4% 55,6%
ambientes domésticos?
Total 100,0% 100,0% 100,0%
Respostas
Percentual de
N % Casos
As avaliações existentes
não abrangem de forma 3 25,0% 33,3%
significativa
Falta de capacitação
Multi - A13/TO14. técnica para atuação 4 33,3% 44,4%
nesta área
Você identifica dificuldades Falta de instrumento de
2 16,7% 22,2%
para avaliar ambientes avaliação
domésticos? Falta de parceria
com profissionais de 3 25,0% 33,3%
reabilitação física
Tipo de entrevistado
Terapeutas
Arquitetos Ocupacionais Total
A12/TO13.Você conhece
Não 45,5% 85,7% 61,1%
alguma avaliação,
padronizada ou não, para Sim 54,5% 14,3% 38,9%
avaliação de ambientes?
Total 100,0% 100,0% 100,0%
Do total de 38,9% referenciados na Tabela 3, que relatam conhecer avaliações padronizadas, quando
observados os itens listados na Tabela 4, identifica-se que os Checklists são predominantes (44%).
Considerando a tradução da palavra, entende-se que este instrumento é utilizado como um tipo de
ajuda informativa para reduzir falhas da atenção e memória humana, garantindo a integridade na
realização de uma tarefa, na medida em que lista itens a serem observados para compor a avaliação.
Contudo, destaca-se que, no caso de avaliação de ambientes, não se pode considerar que um
checklist seja um instrumento para a avaliação de um sujeito que necessita de um projeto funcional
que absorva suas necessidades físicas em um ambiente adequado às suas demandas
personalizadas, isto é, que favoreçam sua autonomia e qualidade de vida. Nesse sentido, o uso do
Checklist como instrumento de avaliação pode reduzir as possibilidades de uma intervenção que
contemple todas as necessidades dos usuários.
Tabela 4 - Citação das avaliações, padronizadas ou não, para avaliação de ambientes.
Respostas
% de Casos
N Percentual
Avaliação de uso e de
1 11,1% 14,3%
Multi - A12/TO13 comportamento
Avaliação pós-ocupação 1 11,1% 14,3%
Conhece alguma avaliação, Checklist 4 44,4% 57,1%
padronizada ou não, Programa da Secretaria
para avaliação de ambientes. da Pessoa com 1 11,1% 14,3%
Deficiência de São Paulo
Questionário 1 11,1% 14,3%
Tese de Maria Elisabete
1 11,1% 14,3%
Lopes
Total 9 100,0% 128,6%
Respostas
N Percentual % de Casos
Avaliação do ambiente 11 30,6% 68,8%
Multi - A11/TO12. domiciliar utilizado pelo
profissional
Instrumentos usados Avaliação institucional 2 5,6% 12,5%
para avaliação de projetos Avaliação padronizada 1 2,8% 6,3%
arquitetônicos. quantitativa ou qualitativa
Entrevista 9 25,0% 56,3%
Normas da ABNT NBR 13 36,1% 81,3%
9050/2004
Total 36 100,0% 225,0%
Observa-se na Tabela 6 que, na opinião dos respondentes, a categoria profissional com que eles
mais atuam é a dos Fisioterapeutas (50%) seguindo dos TO’s (25%). Porém, destaca-se que
mundialmente, o profissional responsável e capacitado para realizar a análise de tarefas e a
avaliação de desempenho das pessoas com deficiência física são os terapeutas ocupacionais
(LUZO; MELLO; CAPANEMA, 2004; MELLO, 2008).
Tabela 6 - Profissionais com os quais os arquitetos e terapeutas ocupacionais atuam e/ou
auxiliam com conhecimento sobre o desempenho do deficiente físico.
Respostas
% de Casos
N %
Na atuação em parceria com outros profissionais, observa-se que o TO atua conjuntamente com
outros profissionais de reabilitação em 71,4% dos casos e os arquitetos, atuam sozinhos em 72,7%.
Este resultado provavelmente é reflexo do perfil dos TOs respondentes, pois todos fazem parte de
centros de reabilitação, que tem seu foco no trabalho interdisciplinar. Destaca-se ainda que a própria
estrutura institucional favorece a troca e parceria com outros profissionais de reabilitação. Já os
arquitetos, neste sentido, estão distantes dos centros de reabilitação e da especificidade das
patologias. Nesse sentido, pode-se discutir que estes profissionais podem ter conhecimento limitado
sobre as possibilidades funcionais das pessoas com deficiência física, pelo distanciamento das
instituições onde estas são atendidas. Estes dados favorecem a necessidade de se discutir sobre a
importância interdisciplinar nesta área de atuação de projetos de ambientes domiciliares, para estes
usuários.
Tipo de entrevistado
Terapeutas
Arquitetos Ocupacionais Total
Em parceria com outros
A9/TO22. profissionais de 18,2% 71,4% 38,9%
reabilitação
Atuação em parceria com No setor público em
9,1% 5,6%
outros profissionais espaços públicos
Não se aplica 28,6% 11,1%
Sozinho 72,7% 44,4%
Total 100,0% 100,0% 100,0%
Quando questionados sobre qual (is) aspecto (s) os TO’s e arquitetos consideravam importante, em
ordem de prioridade, na avaliação do ambiente, as respostas apresentam algumas semelhanças. O
Gráfico 1 apresenta a classificação dada pelos respondentes das duas categorias profissionais,
juntas, onde o “Teste do indivíduo no ambiente” foi apontado como prioritário. Contudo, quando se
analisa os Gráficos 2 e 3, com o mesmo questionamento e separados por categoria, nota-se que a
categoria dos Arquitetos prioriza a “Observação do ambiente”, já o TO, o “teste do individuo no
ambiente”.
É importante discutir que esta prioridade não é meramente uma coincidência, mas pode ser um
reflexo do foco de atuação de cada categoria profissional. O arquiteto, em sua prática, de modo geral,
tem como foco a observação do ambiente e o TO, o Individuo/ Sujeito. Estas características
fortalecem hipótese da pertinência e da necessidade da interação entre a Arquitetura e a Terapia
Ocupacional, de modo que cada área, com sua prática e foco possam se somar, objetivando a
interdisciplinaridade nos trabalhos voltados a projetos do ambiente domiciliar de pessoas com
deficiência física.
Gráfico 1 - Quais aspectos arquitetos e terapeutas ocupacionais consideram importantes na
avaliação do ambiente, em ordem de prioridade.
Em síntese, com base nos dados de caracterização dos TO’S e dos Arquitetos em relação à
avaliação do Ambiente domiciliar pode-se observar que: tanto os TO’s como os arquitetos identificam
dificuldades em avaliar o ambiente doméstico, havendo indícios de maior dificuldade para os TO’s do
que para os arquitetos, a partir das respostas apresentadas. Tal dificuldade tem como motivo
principal a falta de capacitação técnica na área, acreditando-se ser para os TO’s a questão do projeto
do ambiente e para os arquitetos, a funcionalidade dos usuários.
Identificaram-se alguns pontos importantes que podem sustentar a questão da formação profissional
para atuar na área de projetos arquitetônicos de acessibilidade para pessoas com deficiências. O
estudo realizado por Renger (2009), no qual se relata a diferença dos currículos de TO e arquitetos. A
autora ponta que os cursos de formação em TO apresentam pouca ênfase no estudo da ergonomia,
diferente da formação em Arquitetura. No entanto, o ensino da análise da atividade humana e sobre
avaliações se encontram presentes em todas as grades curriculares de TO.
Quando os terapeutas ocupacionais e arquitetos foram questionados em relação à dificuldade de
avaliação do ambiente doméstico de pessoas com deficiência física, os aspectos mais reportados
foram: as avaliações existentes não abrangem de forma significativa as necessidades dos
profissionais, a falta de capacitação técnica para atuação nesta área e a escassez de parceria com
profissionais de reabilitação física.
4. CONCLUSÃO
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS