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Me diga um lugar onde isso existe!

Essa é a pergunta que já espero encontrar ao


iniciar um debate sobre liberdade.
Querendo fazer uma crítica definitiva, o
argumentador que possui restrições à liberdade
invoca imediatamente a questão: “Me dê um
exemplo de um país onde isso funciona”. Ora, o
argumento é por completo contraditório,
essencialmente, é como perguntar em qual
fazenda de escravo a liberdade funciona e vou
explicar o por quê.
Mesmo sem saber, o indivíduo que critica a
liberdade o faz apoiado no animal político de
Aristóteles complementado por invocações ao
conceito dos filósofos Thomas Hobbes, John
Locke e Rousseau, esses legitimam a existência de
governos acima da liberdade dos governados, o
crítico da liberdade utiliza o conceito do
contratualismo ao afirmar que um indivíduo não
é escravo, pois esse optou estar sob a égide de um
contrato social — algo como: é o preço que se
paga por viver em sociedade.
A liberdade é essencialmente o completo
respeito à propriedade privada de Locke, dou
ênfase na palavra “completo” porque não existe
meia liberdade, veja que, se você é meio livre, é
também meio preso. Para Locke, cada homem é
proprietário de sua própria pessoa, sobre a qual
mais ninguém detém direito algum. O trabalho
do seu corpo e o labor das suas mãos são seus e é
por essa via que a transforma em sua
propriedade. Propriedade privada não é apenas a
mercearia do seu João, propriedade privada é o
aquilo físico que pertence a alguém também
físico, uma casa, um veículo, o corpo humano é
uma propriedade, inclusive o que compõe o
corpo, tal como um dedo, o dinheiro é
propriedade daquele que honestamente o possui.
Tendo apresentado os personagens propriedade e
contrato social, é sob eles que esse artigo se
desdobrará.
Os defensores da liberdade-até-certo-
ponto alegam que a liberdade é algo inferior ao
estado e deve estar ao subjugo deste. O estado,
tal como Rousseau descreveu, é o ente
responsável por limitar a liberdade dos
indivíduos, pois sem limites, os indivíduos
matariam uns aos outros, Thomas Hobbes
complementa Rousseau no raciocínio: “o homem
é o lobo do homem”. O crítico reconhece a
liberdade como algo bom em sua maioria, porém
admite que um homem livre é livre também para
cometer o mal. Disso resulta a criação do estado
mediador, tal como Aristóteles propôs, dado que,
para esse, o homem é um animal político. Ora,
aqui deve-se questionar, qual é a relação entre o
político de Aristóteles e o monopólio dos
contratualistas. O animal político só fará política
se existir um estado monopolizando as decisões
em último nível? É evidente que não, nosso
relacionamento cotidiano nos mostra que,
deontologicamente, fazemos política. Se hoje o
estado deixasse de existir, a política continuaria
existindo, negar isso é apenas o natural vício
social em acreditar que política é sinônimo de
estado. Por conseguinte, o lobo de Hobbes é
fundamentado na irracionalidade de que, se dois
lobos escolherem um terceiro, esse deixa de ser
um lobo para ser uma ovelha. Não há lógica em
supor que, se mal, um ser humano passará a ser
bom só por ter sido eleito para ser bom. São
nessas contradições que o crítico da liberdade,
mesmo sem saber, fundamenta seu argumento de
que cercear a liberdade é o melhor caminho.

Filósofos do contratualismo
Assumindo o exposto pelos filósofos do
contrato social citado anteriormente, o crítico se
vale da incoerência para justificar que a
propriedade privada está sob domínio do estado,
ora, se o estado decide o que posso ou não posso
fazer ou consumir está desconsiderando minha
liberdade sob minha propriedade, o corpo. Se o
estado é quem decide se posso ou não vender
laranjas, está atentando contra minha
propriedade laranja, se o estado toma uma parte
do meu dinheiro com o pretexto de fazer algo
bom, está atentando contra minha propriedade, o
dinheiro, por fim, se o estado proíbe a secessão,
está atentando contra minha propriedade no
claro interesse em proibir a concorrência.
É o estado, que o crítico da liberdade
acredita, quem limita indicar a resposta para a
pergunta de “onde é que existe um país que isso
funciona”, é o estado do crítico à liberdade que
proíbe a minha liberdade de viver em liberdade e
afirmar que minha casa é meu país. Vivemos em
um mundo estatista, esses não reconhecem em
mim uma propriedade independente vivendo sob
preceitos próprios, do mesmo efeito são
acometidos os indivíduos defensores do
estatismo, esses só conseguem reconhecer como
estado, aquele reconhecido por estados de direito
que só ele reconhece, outra clara contradição.
A indicação frequente do crítico à liberdade
recorre ao famoso dito popular: “os incomodados
que se mudem” ou seja, “não gostou vai embora”,
mais uma afirmação contraditória, pois parte do
pressuposto que o “todo” tem um dono e esse
dono é o estado, estado que existe apenas porque
os defensores convalidam, o estado como
conhecemos é uma criação humana, não é uma
condição humana, tal como a sociabilidade ou a
fome. O defensor do estado se arroga como filho
do estado e acredita possuir o direito de se fazer
prevalecer junto da maioria de que minha
propriedade está à mercê de sua verdade, ora,
apesar de parecer, o que a maioria acredita ser
verdade não passa a ser verdade apenas por causa
disso. Se assim fosse, poderíamos dar como
errado o indivíduo que foi assaltado por estar em
menor número que seus algozes, ou de forma
ainda mais incisiva, dar como errada a fome no
indivíduo que não ter o que comer.
O crítico à liberdade cita o conceito de
condomínio para justificar o conceito de estado,
outra incoerência, o convívio social e financeiro
de um condomínio são opções, condomínio
vendem uma parcela da propriedade privada
apenas para quem quiser comprar, condomínios
são regidos por um contrato, aceita o contrato
aquele que livremente optar por isso. Um
condomínio não proíbe a construção de outro
condomínio na propriedade vizinha, um
condomínio não impõe regras fora de sua
propriedade. Contratar o serviço de um
condomínio é tão opcional como escolher fazer
compra no supermercado x ou y. É evidente que,
uma vez contratado, estabelecem-se regras, mas
essas foram aceitas de livre vontade pelos
indivíduos que optaram por elas, ainda assim, tais
aplicam-se somente aos optantes. O contrato de
um condomínio é real, existe, é assinado e pode
ser cancelado, já Rousseau não nos permite ver o
contrato social, não permite sequer o distrato. O
que diferencia um condomínio do estado como
ele é hoje é o consentimento. É possível
interpretar um condomínio como um estado, a
liberdade não restringe a organização de estados,
a liberdade apenas afirma que o indivíduo deve
consentir em associar e desassociar de quem ou
do que quiser quando quiser. O crítico da
liberdade aponta para a constituição estatal
alegando ser ela o contrato social, nova
contradição, pois o aceite da constituição como
uma regra aceita por mim pressupõe que
anteriormente eu optei pelo contratualismo que
me subordinaria a esse posterior contrato-
constituição.
Por fim, pode-se concluir que exemplos de
onde funciona a liberdade são encontrados em
qualquer propriedade, somente aquele que nega a
existência da propriedade privada é que não
consegue enxergar.

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