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NEUROBIOLOGIA APLICADA
À NEUROPSICOLOGIA
FIGURA 2.1 Neurônio e seus constituintes: 1 – pericário, 2 – dendrito, 3 – axônio, 4 – espinhas dendríticas,
5 – botões terminais, 6 – sinapse, 7 – núcleo, 8 – organelas, 9 – citoesqueleto, 10 – despolarização,
11 – astrócitos, 12 – oligodendrócitos, 13 – bainha de mielina.
Uma vez ativados, esses receptores levam e algumas drogas que causam vício, exer-
à abertura de canais iônicos na membrana cem seus efeitos por interferirem em eta-
pós-sináptica, que produzem a entrada de pas da neurotransmissão.
íons Na+ e K+, gerando novo potencial de Existem numerosos neurotransmis-
ação nessa célula, excitando-a. Assim, o sores, e de diversos tipos, como aminas
impulso nervoso de um neurônio é trans- (dopamina, noradrenalina, serotonina,
mitido a outro pela ação de uma substân- histamina), aminoácidos (glutamato,
cia química, o neurotransmissor. É por isso glicina, aspartato, ácido gama-aminobu-
que se diz que a linguagem do SN é eletro- tírico-GABA), neuropeptídeos (substância
química. No entanto, há receptores que, P, endorfinas, encefalinas, vasopressina), a
quando ativados, produzem abertura de acetilcolina, a adenosina trifosfato (ATP),
canais de cloreto (Cl-), que, ao entrarem o óxido nítrico, que é um gás, dentre ou-
na célula, tornam-na mais negativa ainda, tros. Alguns neurotransmissores são pro-
exercendo, assim, uma ação inibitória so- duzidos no pericário e transportados pelo
bre a célula pós-sináptica. Ao receber men- citoesqueleto para a terminação axonal, e
sagens de diferentes neurônios, excitatórias outros são produzidos na própria termina-
e inibitórias, a célula nervosa integra os ção. Na maior parte das sinapses há coe-
sinais, de forma que, se os estímulos so- xistência de neurotransmissores, o que
mados são excitatórios o suficiente para amplia a complexidade de suas ações na
despolarizar a célula, o impulso nervoso é sinapse, pois eles podem agir isoladamen-
gerado. Há ainda receptores que, além de te, de forma conjugada ou como modula-
promoverem a despolarização, gerando um dores da ação do outro.
potencial de ação no neurônio pós- Como mencionado anteriormente, o
sináptico, desencadeiam a produção de SN não é constituído apenas de neurônios,
substâncias químicas nesse neurônio; eles mas também de outra família de células
são os denominados segundos-mensagei- chamadas coletivamente de neuróglia, glia
ros, que ativarão processos celulares que ou gliócitos. A neuróglia é um conjunto de
incluem a produção de novas proteínas. células não-neuronais cujas funções permi-
Essas proteínas são necessárias para a for- tem garantir a infra-estrutura imprescin-
mação de novos terminais axônicos e espi- dível para o funcionamento dos neurônios.
nhas dendríticas que caracterizam o fenô- São cinco os tipos de gliócitos com funções
meno de neuroplasticidade, ou seja, de re- bem específicas.
organização dos circuitos neurais pela for- Os astrócitos (Figuras 2.1 e 2.2) têm
mação de novos contatos sinápticos entre funções relacionadas ao suporte estrutu-
neurônios. Após atuar sobre seu receptor, ral para os neurônios; aos mecanismos de
o neurotransmissor é removido da fenda reparação e cicatrização no SN; à forma-
sináptica (de outra forma a célula pós- ção da barreira hematoencefálica, que di-
sináptica não poderia responder a outras ficulta a entrada de substâncias do sangue
mensagens enviadas pelo neurônio pré- para o tecido nervoso; à regulação do flu-
sináptico) por difusão, inativação ou de- xo sangüíneo, garantindo-o quando os neu-
gradação por enzimas presentes na fenda rônios estão mais ativos com demanda
ou recaptação, através de transportadores maior de oxigênio e glicose; à recaptação
presentes na membrana pré-sináptica ou de íons e neurotransmissores, participan-
na membrana de astrócitos – células da glia do do processo de neurotransmissão; à pro-
que recaptam neurotransmissores para dução de fatores tróficos importantes para
degradá-los ou reutilizá-los. Psicofármacos, a sobrevivência de neurônios.
como antidepressivos, medicamentos uti- Os oligodendrócitos, presentes no SN
lizados na demência de Alzheimer, álcool central (SNC), e as células de Schwann,
Neuropsicologia 25
FIGURA 2.3 Sistema nervoso central. A – Visão medial do encéfalo, em hemicabeça mostrando
estruturas do SNC, 1 – cérebro: (a) telencéfalo e (b) diencéfalo, 2 – cerebelo, 3 – tronco encefálico:
(a) mesencéfalo, (b) ponte, (c) bulbo, 4 – IV ventrículo, 5 – medula espinhal. B – Corte transversal de
medula espinhal, 6 – substância branca, 7 – substância cinzenta, 8 – nervo espinhal, 9 – gânglio
sensitivo. C – Visão medial do encéfalo em corte sagital mediano, 10 – corpo caloso, 11 – tálamo,
12 – hipotálamo, 13 – hipófise e 14 – epitálamo. Fotos de modelos em resina do acervo do Laboratório
de Neuroanatomia do Departamento de Morfologia – ICB-UFMG.
rar que o SNP leva ao SNC informações para-as com informações registradas, pro-
(impulsos nervosos aferentes) somáticas cessando a informação recebida e respon-
vindas de diversas partes do corpo (auditi- dendo com impulsos eferentes somáticos,
vas, visuais, gustativas, olfativas, táteis, conduzidos aos músculos estriados, ou
térmicas, nociceptivas, proprioceptivas), e eferentes viscerais, levados aos músculos
viscerais, informando sobre o estado dos lisos, cardíaco e glândulas, sempre pelo
órgãos internos. O SNC recebe, avalia, com- SNP. Dessa interação resultam respostas
Neuropsicologia 27
FIGURA 2.4 Formação do sistema nervoso. Figura esquemática do sistema nervoso de embrião
humano aos 28 dias (A), 36 dias (B) e 3 meses (C) de gestação mostrando o desenvolvimento das
vesículas encefálicas características da ontogênese: 1 – prosencéfalo, 2 – telencéfalo, 3 – diencéfalo,
4 – mesencéfalo, 5 – rombencéfalo, 6 – metencéfalo, 7 – mielencéfalo, 8 – medula espinhal primitiva
FIGURA 2.5 Vascularização do SNC. Os dois sistemas de irrigação arterial do encéfalo se originam da
aorta: o sistema carotídeo é mais anterior e o sistema vertebral é posterior. Em B, vista pelo ângulo indicado
pela luneta em A (Reproduzido com autorização de Lent, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos funda-
mentais de neurociência. São Paulo: Atheneu, 2004).
FIGURA 2.6 Visão esquemática do reflexo de retirada: 1 – fibra nervosa aferente sensitiva componente de
nervo espinhal, 2 – neurônio sensitivo localizado em gânglio espinhal, 3 – neurônios sensitivos, 4 – interneurônio,
5 – neurônio motor, 6 – fibra nervosa eferente motora (Reproduzido com autorização de Lent, R. Cem
bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Atheneu, 2004).
ções sensitivas chegam à medula pelas que atuam sobre os órgãos efetuadores:
raízes posteriores dos nervos espinhais, e músculos lisos, cardíaco e glândulas, sem o
os impulsos motores saem pelas raízes controle voluntário do indivíduo. Esse con-
anteriores. A ME integra reflexos somáti- junto de neurônios constitui o sistema ner-
cos (p. ex., reflexo pate- voso visceral – SNV (Fi-
lar e reflexo de retirada) gura 2.7). A porção efe-
A medula espinhal integra reflexos
e viscerais (p. ex., refle- somáticos e viscerais e serve de
rente motora desse siste-
xos de defecação e mic- zona de passagem de informa- ma é conhecida como sis-
ção) e serve de zona de ções sensitivas, a serem processa- tema nervoso autônomo
passagem de informa- das e interpretadas no encéfalo, (SNA) e apresenta duas
ções sensitivas, a serem e de impulsos motores, vindos do divisões: o sistema nervo-
tronco encefálico ou do cérebro
processadas e interpre- para neurônios motores medulares. so simpático e o paras-
tadas no encéfalo, e de simpático.
impulsos motores, vin- A localização dos
dos do tronco encefálico ou do cérebro neurônios motores (medula espinhal ou
para neurônios motores medulares. Essas tronco encefálico), o neurotransmissor uti-
informações são conduzidas por axônios lizado (noradrenalina ou acetilcolina) e as
organizados em tratos ascendentes e des- funções de cada sistema são distintas. O
cendentes, específicos para cada modali- SNA simpático é ativado em situações de
dade sensorial (temperatura, dor, tato, “luta ou fuga” que demandam gasto
pressão, propriocepção, vibração) e fun- energético, como acontece em situações de
ção motora (controle da musculatura dos estresse que desencadeiam taquicardia, au-
membros ou do tronco). Estes se dispõem mento da freqüência respiratória, dilata-
em regiões bem delimitadas e definidas ção das pupilas, palidez cutânea, sudorese,
da substância branca da medula. Assim, aumento de fluxo sanguíneo para os mús-
as lesões da ME, inter- culos. Já o SNA paras-
rompendo a comunica- simpático é recrutado
ção entre ela e o encé- As informações originadas nas em situações de repou-
vísceras são integradas no sistema
falo, podem resultar em nervoso central e terminam por
so, quando o organismo
comprometimento de ativar neurônios motores que atu- está acumulando ener-
motricidade e/ou sensi- am sobre os órgãos efetuadores: gia, como ocorre após
bilidade das regiões do músculos lisos, cardíaco e glându- uma refeição, durante a
corpo abaixo do nível da las. Esse é o chamado sistema ner- digestão dos alimentos,
voso visceral, que é ativado em si-
lesão cujas característi- tuações de “luta ou fuga”.
quando a freqüência
cas dependerão da sua cardiaca diminui e a
localização nas diferen- salivação, a produção de
tes regiões da ME. Os reflexos que depen- sucos gástricos e o peristaltismo aumen-
dem apenas dos circuitos medulares, como tam. No entanto, apesar de os reflexos
o reflexo patelar e de micção, são pre- viscerais serem integrados sem a participa-
servados. ção do cérebro, as funções viscerais podem
As informações originadas nas vísce- ser influenciadas pela atividade do hipotá-
ras também têm acesso ao SNC pelos ner- lamo, de áreas límbicas, da ínsula e de ou-
vos espinhais (em alguns casos, dependen- tras áreas do córtex cerebral que projetam
do do órgão, por nervos cranianos) e, de conexões direta ou indiretamente para os
forma geral, não se tornam conscientes por neurônios motores viscerais. Assim, os pen-
não serem conduzidas até áreas específicas samentos, as emoções, nossas idéias podem
do córtex cerebral. Essas informações são desencadear alterações de nossa fisiologia
integradas no SNC, na medula ou no tron- (Martin, 1996; Brust, 2000; Kolb e Whi-
co encefálico, ativando neurônios motores shaw, 2002; Lent, 2004; Machado, 2004;
Neuropsicologia 33
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S3
S4
Tronco simpático
FIGURA 2.7 Sistema nervoso visceral: porção eferente. Diagrama mostrando a inervação simpática e
parassimpática para as principais vísceras do organismo. Página 54/Figura 5.2/Cosenza, R.M. Fundamen-
tos de neuroanatomia. 3ª ed., publicado por Editora Guanabara Koogan SA Copyright © (2005), reprodu-
zido com permissão da Editora e do Autor.
Nervos cranianos
III Nervo oculomotor Movimento dos olhos, acomodação visual, midríase pupilar
A Córtex cerebral
Tálamo
Sistema
límbico
Locus ceruleus
Núcleo da Cerebelo
formação
reticular
B
Corpo estriado
Córtex
pré-frontal
Via nigro-
estriada FIGURA 2.9 Sistemas modulató-
Via meso- rios aminérgicos da formação
límbica reticular. A) – Centros e vias nora-
drenérgicas mostrando o locus
ceruleus com projeções para ex-
Via mesocortical
tensas áreas de todo o SNC e nú-
Sistema límbico
cleos da FR inervando o hipotála-
Núcleo infundibular mo, áreas límbicas e a medula
Área tegmentar ventral espinhal. B) – Centros e vias dopa-
Substância minérgicas mostrando a substân-
negra cia negra com projeções para o
corpo estriado; a área tegmentar
ventral com eferências para áre-
as límbicas e para o córtex pré-
frontal; e áreas hipotalâmicas com
C projeções para eminência media-
Córtex na e hipófise. C) – Centros e vias
Corpo cerebrais
estriado serotonérgicas mostrando os nú-
Tálamo cleos da rafe situados mais
rostralmente com projeções para
extensas áreas do cérebro e
aqueles situados mais caudal-
mente inervando a medula espi-
nhal e o cerebelo. Páginas 80 e
Sistema 81/Figuras 8.4, 8.5 e 8.6/Cosenza,
límbico
R.M. Fundamentos de neuroana-
Núcleos da
rafe rostrais
tomia. 3ª ed., publicado por Edi-
tora Guanabara Koogan SA Copy-
Núcleos da Cerebelo
rafe caudais right © (2005), reproduzido com
permissão da Editora e do Autor.
Neuropsicologia 37
FIGURA 2.11 Hipotálamo e suas conexões. A – Peça anatômica mostrando hipotálamo (acervo do Labo-
ratório de Neuroanatomia do Departamento de Morfologia – ICB – UFMG). B – Núcleos e conexões
hipotalâmicas. C – Relações entre hipotálamo e hipófise. D – Aferências e eferências hipotalâmicas (Re-
produzido com autorização de Lent, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência.
São Paulo: Atheneu, 2004).
40 Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo, Cosenza & cols
duzidas por células do sistema imunoló- nes e ao câncer, por exemplo. O nível san-
gico. O HP processa essas informações e, guíneo de hormônios secretados por glân-
pela ativação do SNA, do sistema nervoso dulas periféricas e de citocinas produzidas
entérico e do sistema endócrino (via cone- pelo sistema imunológico influenciam, por
xões com a hipófise), envia comandos mecanismo de retroalimentação e/ou ati-
neurais e químicos para os diversos órgãos vação de receptores em órgãos linfóides, a
e tecidos realizarem os ajustes fisiológicos produção de hormônios produzidos pelo
necessários. Ele ativa também regiões HP. Essas substâncias também atuam, atra-
corticais e áreas límbicas que produzirão vés das conexões do HP com outras regiões
comportamentos motivados, como as ações cerebrais, sobre aspectos cognitivos e emo-
de buscar um local aquecido, água, alimen- cionais do comportamento.
tos, atos sexuais e outros. Lesões hipotalâ- O HP participa também do controle
micas podem resultar em uma variedade dos ritmos biológicos circadianos. Os di-
de sintomas, incluindo obesidade, distúr- versos parâmetros fisiológicos, como tem-
bios hormonais, alterações de controle de peratura corporal, níveis de hormônios e
temperatura, diminuição da motivação e eletrólitos, atividade de determinadas enzi-
oscilações de humor, dependendo do local mas, níveis de atenção, sono, entre outros,
do dano. variam ao longo do dia. Essas variações é
O HP é o principal centro regulador que constituem os ritmos biológicos. O nú-
da atividade visceral, e sua estimulação cleo supraquiasmático recebe informações
pode desencadear alterações de freqüên- provenientes da retina informando a pre-
cias cardíaca e respiratória, vasodilatação, sença ou não de luz no meio externo e as
sudorese, entre outras, incluindo a modu- repassa aos demais núcleos hipotalâmicos.
lação das atividades de macrófagos e Estes acoplam seu funcionamento e, por-
linfócitos e, portanto, das respostas tanto, o dos ritmos internos do nosso orga-
imunológicas. Nele ocorre a integração en- nismo ao ritmo claro/escuro da natureza.
tre sistemas reguladores do organismo: os O HP é também importante no fenô-
sistemas nervoso, endócrino e imunológico. meno das emoções, particularmente nas
Neurônios hipotalâmicos dos núcleos su- suas manifestações periféricas, ou seja, nas
pra-óptico e paraventricular produzem alterações de freqüências cardíaca e respi-
hormônios, ocitocina e vasopressina ratória, salivação, sudorese, peristaltismo
(hormônio antidiurético) que são libera- intestinal, expressão motora, entre outras,
dos em capilares da neuroipófise, agindo desencadeadas por elas. Estabelece cone-
sobre o útero e sobre os rins. Outros nú- xões com áreas límbicas (complexo amig-
cleos produzem hormônios que são libera- dalóide, região septal, hipocampo) e cor-
dos em vasos sanguíneos do sistema por- ticais, como a área pré-frontal, envolvidas
ta-hipofisário que os conduzem à adenoi- na regulação e nos comportamentos desen-
pófise onde atuam, estimulando ou inibin- cadeados pelas emoções e, por meio do
do a produção e a liberação de hormônios complexo amigdalóide, com áreas corticais
dessa glândula. temporais e parietais envolvidas com o
Os hormônios produzidos pela ade- processamento sensorial. O hipotálamo
noipófise exercem um papel regulador so- constitui uma região nodal do SN, integra-
bre as demais glândulas endócrinas e mo- dora de diversos sistemas, cuja atividade
dulam também a atividade de células como resulta nas respostas viscerais, endócrinas,
macrófagos e linfócitos. Assim, o HP in- imunológicas e motoras relacionadas aos
fluencia tanto o funcionamento do siste- comportamentos cognitivo e emocional
ma endócrino como o do sistema imuno- motivados pela interação do indivíduo com
lógico, interferindo na resposta do orga- o meio ambiente e resultantes dela (Lezak,
nismo às infecções, às doenças auto-imu- 1995; Brust, 2000; Kolb e Whishaw, 2002;
Neuropsicologia 41
Lâmina
A Núcleo Núcleos medular
dorsomedial intralaminares interna
Núcleo anterior
Núcleo reticular
Núcleo centromediano
Pulvinar
Núcleo ventral
anterior
Núcleo ventral
lateral
Corpo geniculado medial
Núcleo ventral Núcleo ventral
Corpo geniculado lateral póstero-medial póstero-lateral
B C
4 4
7
1
5
1 6
8 5
3 2
FIGURA 2.12 Tálamo: divisões e projeções para o córtex cerebral. A – Visão esquemática dos principais
núcleos do tálamo. B – Face dorso-lateral do hemisfério cerebral mostrando as áreas de projeção dos
núcleos talâmicos. C – Face medial do hemisfério cerebral, mostrando as áreas de projeção dos núcleos
talâmicos. Os números das regiões corticais correspondem aos números dos núcleos talâmicos dos quais
recebem projeções. 1 – porções dos lobos parietal, temporal e occipital, 2 – área visual primária (borda
do sulco calcarino), 3 – área auditiva primária (giro temporal transverso anterior), 4 – áreas motoras (giro
pré-central e áreas pré-motora e motora suplementar), 5 – área pré-frontal, 6 – giro do cíngulo, 7 e 8 – área
somatossensorial primária (giro pós-central). Página 96/Figura 11.1/Cosenza, R.M. Fundamentos de
neuroanatomia. 3ª ed., publicado por Editora Guanabara Koogan SA Copyright © (2005), reproduzido
com permissão da Editora e do Autor.
gura 2.13) notam-se os hemisférios cere- e da regulação dos movimentos e das estra-
brais ligados pelo corpo caloso, feixe de tégias de comportamento, traduzindo
axônios de neurônios do córtex cerebral do cognição em ação.
hemisfério esquerdo (HE) que se conectam As aferências para o corpo estriado
com áreas corticais correspondentes do dorsal chegam, a partir de áreas corticais
hemisfério direito (HD) e vice-versa, man- motoras, ao neoestriado e daí se dirigem
tendo a comunicação inter-hemisférica. O ao globo pálido, de onde partem as eferên-
telencéfalo é constituído pelo córtex cere- cias de volta, via TL, para o córtex cerebral
bral (Cc), camada de substância cinzenta (regiões motoras e dorsolateral e orbito-
onde predominam corpos de neurônios frontal do CPF). Integram esse circuito a
cujos axônios se dirigem para a substância substância negra, com projeções dopami-
branca do cérebro em direção a outras re- nérgicas recíprocas para o neoestriado, e o
giões do próprio Cc ou para fora dele, em subtálamo, que tem conexões recíprocas
direção a outras áreas do SNC. Junto a es- com o globo pálido. Essas vias têm impor-
ses últimos estão também axônios vindos tante papel no planejamento e no controle
de outras regiões do SN em direção ao Cc, da motricidade corporal e dos movimen-
constituindo a cápsula interna (Figura tos oculares, e também desempenham fun-
2.13). Em regiões mais basais observam- ção mais ampla no controle do comporta-
se grupamentos neuronais dispostos no mento e das funções cognitivas. As lesões
meio da substância branca, os chamados dos NB e das estruturas a eles relaciona-
núcleos da base (NB) do cérebro. das produzem distúrbios do controle e co-
ordenação do padrão de movimentos, mas
não da sua produção, resultando em dimi-
NÚCLEOS DA BASE nuição (hipocinesias) ou aumento (hiper-
cinesias) da quantidade de movimento,
Os principais componentes dos NB (Fi- distúrbios do tônus muscular e da postura.
guras 2.13 e 2.14) são (1) corpo estriado Na doença de Parkinson ocorre lesão da
dorsal, composto pelo neoestriado (núcleo substância negra e conseqüente diminui-
caudado e putâmen) e pelo globo pálido e ção da ação dopaminérgica sobre o corpo
o corpo estriado ventral, constituído pelo estriado, resultando em dificuldade para
núcleo acumbente (ou iniciação dos movimen-
accumbens) e pelo pálido tos, tremores, rigidez
ventral. São também Os núcleos da base participam do muscular. Hemibalismo,
considerados NB o nú- planejamento e da regulação dos coréia de Sydenham,
movimentos e das estratégias de
cleo basal de Meynert, síndrome de Tourette,
comportamento, traduzindo cog-
envolvido com processos nição em ação. transtorno obsessivo-
cognitivos, e o complexo compulsivo e doença de
amigdalóide, ou amígda- Huntington são quadros
la cerebral, que, embora tenham funções que apresentam movimentos anormais e/
diversas das do corpo estriado dorsal e ven- ou dificuldades cognitivas e de controle do
tral, estão também localizado na base do comportamento relacionadas às disfunções
cérebro. Por outro lado, por razões de afini- dos NB.
dade funcional, alguns autores incluem, O corpo estriado ventral é constituí-
entre os NB, a substância negra mesen- do pelo estriado ventral e pelo pálido ven-
cefálica, o núcleo tegmental peduncular tral (extensões ventrais, respectivamente,
pontino e o núcleo subtalâmico, estruturas da porção anterior do núcleo caudado e
que têm conexões com o corpo estriado do globo pálido). O estriado ventral, re-
dorsal. Os NB participam do planejamento presentado pelo núcleo acumbente, rece-
44 Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo, Cosenza & cols
A B
5
2 6
3
5 7 4
4 9
6 7
3
5
6
9 4
FIGURA 2.13 Encéfalo em corte frontal. B – Cérebro em corte transversal. C – Corte transversal de cérebro.
1 – córtex cerebral, 2 – substância branca, 3 – corpo caloso, 4 – cápsula interna, 5 – núcleo caudado, 6 –
putâmen, 7 – globo pálido, 8 – hipocampo, 9 – tálamo (Foto de modelos em resina e peça anatômica do
acervo do Laboratório de Neuroanatomia do Departamento de Morfologia – ICB – UFMG).
Neuropsicologia 45
A B
Caudado
Tálamo
Putâmen
Globo pálido
(externo)
Globo
pálido
(interno)
Núcleo
subtalâmico
Substância
Negra
C D
6 2
1
6 1
5 3 3
1
2
4
FIGURA 2.14 Núcleos da base e suas conexões. Desenho esquemático representando as conexões dos
núcleos da base. A – O corpo estriado (caudado + putâmen) recebe a maioria das aferências dos núcleos
da base, vindos do córtex cerebral e da substância negra. B – O globo pálido (externo + interno) recebe do
estriado e do núcleo subtalâmico e envia eferentes ao tálamo. Reproduzido com autorização de Lent, R.
Cem Bilhões de Neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Atheneu, 2004). C e D –
Núcleos da base e estruturas relacionadas. 1 – núcleo caudado, 2 – putâmen, 3 – globo pálido, 4 – tálamo,
5 – cápsula interna, 6 – corno anterior do ventrículo lateral (foto de modelo em resina e peça anatômica do
acervo do Laboratório de Neuroanatomia do Departamento de Morfologia – ICB – UFMG).
A
7 8
12 2
1
13 4 3
5
6
10
11
15
FIGURA 2.15 Cérebro em vistas lateral (A) e medial (B) mostrando lobos 1 – frontal, 2 – parietal, 3 – occipital,
4 – temporal, 5 – ínsula, 6 – giro do cíngulo, 7 – giro pré-central, 8 – pós-central, 9 – sulco calcarino, 10 –
corpo caloso, 11 – fórnix, 12 – córtex pré-frontal dorsolateral, 13 – córtex orbitofrontal, 14 – córtex orbitomedial,
15 – úncus. Fotos de modelo em resina e peça anatômica do acervo do Laboratório de Neuroanatomia
do Departamento de Morfologia – ICB – UFMG.
48 Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo, Cosenza & cols
6 4 3 1
A 8 5
11
9 7a
7b
19
46
10 40
18
45
44
41
52 42
47
22
11
17
21
38
37 18
19
20
6 4 3 1
8 2
B 5
9 7
24 31
32
23
19
10 33
26
29
30 18
10 27
11 34
28 17
36
38 18
19
37
20
FIGURA 2.16 Áreas citoarquitetônicas do córtex cerebral, segundo Brodmann. As diferentes áreas são
indicadas por números e símbolos diferentes. Página 107/Figura 13.2 Cosenza, R.M. Fundamentos de
Neuroanatomia. 3ª ed., publicado por Editora Guanabara Koogan SA Copyright © (2005), reproduzido
com permissão da Editora e do Autor.
A B
FIGURA 2.17 A – Áreas funcionais do córtex cerebral humano. As áreas primárias são indicadas por setas;
as secundárias, por círculos; as terciárias, por triângulos; e as áreas límbicas, por asteriscos. B – Visão
esquemática da representação somatotópica no córtex do giro pré-central (homúnculo motor) e do giro
pós-central (homúnculo sensitivo). Páginas 108 e 109/Figuras 13.3 e 13.4/Cosenza, R.M. Fundamentos de
neuroanatomia. 3ª ed., publicado por Editora Guanabara Koogan SA Copyright © (2005), reproduzido
com permissão da Editora e do Autor.
po e vice-versa. Nessa região também exis- envia fibras para a área primária motora.
te uma somatotopia, análoga à observada Áreas unimodais processam o mesmo tipo
na área somatossensorial primária, sendo de informação das áreas primárias, mas em
a representação de face e mãos também um nível hierárquico diferente. Após pro-
maior. Lesões nessa área resultam em pa- cessamento, as informações fluem para áre-
ralisias ou perda dos movimentos comple- as límbicas, onde serão utilizadas nos me-
xos das porções distais dos membros canismos de memória e emoção; para o
contralaterais. CPF, onde serão importantes para a memó-
Áreas secundárias ou de associação ria operacional e funções executivas; para
unimodal são áreas corticais adjacentes às áreas envolvidas com a linguagem e com o
áreas primárias às quais estão diretamente reconhecimento de objetos (área temporo-
conectadas e de onde recebem impulsos parietal); para o córtex parietal relaciona-
nervosos relacionados com uma determi- do à atenção espacial; e para o córtex pré-
nada modalidade sensorial ou com a motor envolvido com o planejamento dos
motricidade. No caso da área de associa- movimentos. Além de processar a informa-
ção unimodal motora, ela não recebe, mas ção, essas áreas também a armazenam, me-
Neuropsicologia 51
diante influência de áreas límbicas (hipo- nhecimento. Suas lesões produzem agno-
campo) e reorganização de suas sinapses. sias visuais. No entanto, existem circuitos
A área unimodal somatossensorial é neurais distintos nessa área, responsáveis
adjacente ao giro pós-central, no lobo por diferentes aspectos do processamento
parietal (áreas 5, 7 de da informação visual
Brodmann), e participa que, se lesados, produ-
do processamento da lo- Áreas secundárias ou de associa- zem déficits visuais espe-
ção unimodal processam o mes-
calização tátil, da explo- cíficos, como perda da
mo tipo de informação das áreas
ração manual ativa, da primárias, mas em um nível hierár- capacidade de distinguir
coordenação para alcan- quico diferente. Além de proces- as cores (acromatopsia)
çar e pegar com as mãos sar a informação, essas áreas tam- ou as formas (amor-
e das memórias soma- bém a armazenam, mediante in- fognosia) e incapacida-
fluência de áreas límbicas (hipo-
tossensoriais. Suas le- campo) e reorganização de suas
de de perceber movi-
sões resultam em agno- sinapses. mentos pela visão (aci-
sia tátil (dificuldade pa- netopsia). Circuitos dor-
ra identificar um objeto sais, cujas projeções se
pelo tato), apraxia tátil (os objetos não dirigem para o lobo parietal, estão envol-
podem ser manipulados sem o auxílio da vidos na atenção espacial, importante para
visão), entre outros quadros. Uma peque- a localização dos objetos pela visão (lesões
na porção dessa área (S2) tem caracterís- podem levar à negligência visual hemies-
ticas mistas de área primária e de associa- pacial). Áreas ventrais são especializadas
ção unimodal, e ela parece estar envolvida no reconhecimento da forma dos objetos e
na percepção da dor. Sua lesão pode cau- de padrões complexos, sendo importantes
sar distúrbios na capacidade de perceber para o reconhecimento genérico de faces,
os estímulos dolorosos. objetos, palavras. Lesões na borda inferior
A área unimodal auditiva é localiza- do lobo temporal podem levar à proso-
da no lobo temporal (áreas 22, 21 de pagnosia (incapacidade de reconhecer fa-
Brodmann). Possui sub-regiões que permi- ces). A interrupção das conexões dessas
tem a localização espacial das fontes so- regiões com áreas límbicas pode acarretar
noras (via dorsal) e a identificação de se- uma incapacidade de vincular emoções a
qüências auditivas complexas e dos sons essas sensações visuais (hipoemociona-
(vocalização) específicos da espécie (via lidade) ou incapacidade de armazenar no-
ventral). Lesões na área unimodal auditi- vas memórias visuais (amnésia visual).
va no HE resultam em A área unimodal
dificuldades para a com- Áreas terciárias ou de associação
motora é localizada à
preensão dos sons da lin- heteromodais estão envolvidas frente e adjacente ao
guagem, enquanto as le- com raciocínio, pensamento abs- giro pré-central (áreas 6,
sões da mesma área no trato, processos de simbolização, 8 de Brodmann) e é
HD provocam distúrbios resolução de problemas, cálculo constituída de sub-regi-
mental, formulação de objetivos,
na percepção dos sons planos de vida e estratégias de
ões: área pré-motora e
musicais (amusia). comportamento, ajuste social do motora suplementar,
A área unimodal comportamento, processos moti- relacionadas ao planeja-
visual ocupa área exten- vacionais e de memória. mento das seqüências de
sa nos lobos occipital movimentos voluntários
(áreas 18, 19 de Brodmann) e temporal necessários para execução de uma deter-
(áreas 37, 20, 21 de Brodmann). A função minada ação; campos oculares frontais,
dessa área é, de forma geral, a construção relacionados aos movimentos voluntários
do estímulo visual a partir de suas caracte- dos olhos; e a área motora cingulada, que
rísticas, permitindo ao indivíduo seu reco- participa dos movimentos que têm conota-
52 Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo, Cosenza & cols
ção emocional. Essas sub-regiões recebem provavelmente são mantidas nas áreas
conexões de áreas unimodais e hetero- unimodais, mas permitem o acesso a elas.
modais dos lobos parietal e frontal e têm Estão envolvidas, por exemplo, com o ra-
conexões recíprocas com áreas motoras ciocínio, o pensamento abstrato, os proces-
subcorticais (corpo estriado e cerebelo). sos de simbolização, a resolução de pro-
Suas eferências dirigem-se ao córtex mo- blemas, o cálculo mental, a formulação de
tor primário. O fluxo sangüíneo na área objetivos e de planos de vida, o ajuste social
motora suplementar aumenta quando o do comportamento, os processos motiva-
indivíduo pensa em um movimento, e ocor- cionais e de memória. Produzem estraté-
re alteração da atividade elétrica na área gias comportamentais, enviando instruções
motora secundária antes do início do mo- às áreas motoras.
vimento voluntário. Essas regiões são im- Áreas de associação heteromodais
portantes também no armazenamento de
memórias motoras (memória de procedi- estariam encarregadas de prover endere-
mento). Lesões nessas áreas causam ços ou mapas que inter-relacionam os
apraxias (incapacidade de executar deter- fragmentos de conhecimento que são es-
pecíficos das diferentes modalidades, que
minados atos motores voluntários sem que
assim podem tornar-se coerentes em ter-
exista déficit motor). Uma porção da área mos de experiências, memórias e pensa-
unimodal motora, as partes triangular e mentos. (Cosenza, 2004)
opercular do giro frontal inferior (áreas 44,
45 de Brodmann), constitui a área de Bro- A área heteromodal temporoparietal
ca, responsável pelo planejamento e inici- é localizada na confluência dos lobos
ação dos movimentos articulatórios para parietal e temporal (áreas 39, 40 e parte
expressão da linguagem, localizada bem à da área 7 de Brodmann). Ela recebe proje-
frente da área motora primária que con- ções das áreas unimodais posteriores e
trola os músculos relacionados com a conecta-se com áreas límbicas e com a por-
vocalização. Lesões nessa região produzem ção mais anterior do lobo frontal, a área
afasia motora ou de expressão, na qual o pré-frontal ou córtex pré-frontal (CPF). In-
indivíduo compreende a tegra as diferentes mo-
linguagem falada ou es- dalidades sensoriais,
crita, mas não consegue Áreas de associação hetero- contribuindo para o pro-
se expressar adequada- modais “estariam encarregadas cesso de simbolização;
de prover endereços ou mapas
mente, utilizando-se, ge- possibilita o reconheci-
que inter-relacionam os fragmen-
ralmente, de monossí- tos de conhecimento que são es- mento específico de fa-
labos. pecíficos das diferentes modalida- ces, objetos e vozes; re-
Áreas terciárias ou des, que assim podem tornar-se laciona-se com a praxia,
de associação heteromo- coerentes em termos de experiên-
a linguagem, a integra-
cias, memórias e pensamentos”
dais são áreas corticais (Cosenza, 2004). ção visuomotora, a gera-
que recebem o fluxo das ção de planos motores e
informações já elabora- a atenção e percepção
das nas áreas primárias e unimodais. São espaciais. As lesões na área temporoparietal
áreas integradoras de funções sensoriais, do HE causam dificuldades para realizar
motoras, límbicas e não-límbicas e conec- operações aritméticas (acalculia) e para
tam-se com as áreas unimodais e as áreas discriminar os próprios dedos (agnosia dos
límbicas. Não estão diretamente relaciona- dedos), dificuldades na percepção espacial
das nem com a sensibilidade nem com a e na discriminação esquerdo/direito, além
motricidade, sendo denominadas áreas de déficits relacionados à linguagem, como
heteromodais, multimodais ou supramo- dificuldade para ler (alexia), nomear ob-
dais. Não armazenam informações, que jetos (anomia) e escrever (disgrafia). As le-
Neuropsicologia 53
A B Córtex pré-
frontal Córtex associativo
Córtex cingulado
Núcleos
anteriores do
tálamo
Tr. mailo-
talâmico
Corpos Formação
Fórnix
mamilares hipocampal
Hipotálamo
C
Amigdala
FIGURA 2.18 Sistema límbico. A – Lobo límbico originalmente proposto por Broca. B – regiões participantes
do sistema límbico como proposto por Papez. C – Componentes originais do circuito de Papez e aqueles
acrescentados por outros pesquisadores. Reproduzido com autorização de Lent, R. Cem bilhões de neurô-
nios: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Atheneu, 2004.
(de procedimento) é preservada, o que in- CPF recebe aferências do núcleo dorso-
dica que os diferentes tipos de memórias medial do TL, da amígdala, do córtex
possuem substratos neurais distintos. parietal posterior heteromodal, da área
O giro do cíngulo, tegmentar ventral e tem
localizado acima do cor- projeções para o hipotá-
O sistema dopaminérgico me-
po caloso, compõe o cha- solímbico/mesocortical) é constituí-
lamo, o núcleo amigda-
mado lobo límbico, cons- do pela área tegmentar ventral lóide, o córtex parietal
tituído por áreas corticais mesencefálica, e sua atividade re- posterior, o giro do cín-
filogeneticamente anti- laciona-se aos mecanismos de re- gulo, o córtex pré-motor
gas, que são o hipocampo compensa que regulam os com- e os núcleos da base. As
portamentos motivados, como bus-
e o giro paraipocampal. ca de alimento, de sexo e de situ-
diversas regiões da área
Possui conexões com a ações que proporcionam prazer. pré-frontal, dorsolateral,
amígdala e o hipocam- Drogas de abuso, como cocaína, medial e orbitofrontal,
po, o tálamo, o córtex agem nesse sistema. contribuem de diferen-
parietal inferior, o córtex tes formas para o plane-
pré-frontal e tem projeções para áreas jamento, a execução e a monitoração das
autonômicas do TE e também para a ME, estratégias de comportamento mais ade-
onde pode influenciar o comportamento quadas para fazer frente às situações do
motor. Diferentes regiões do giro do cíngulo cotidiano, sempre influenciadas pela ativi-
têm conexões e funções distintas relacio- dade das estruturas límbicas.
nadas ao processamento da dor, à ativida- O hipotálamo, através de suas cone-
de visceral, à atenção, à seleção de respos- xões com o SNA e com a hipófise, é res-
tas, ao controle motor, ao processamento ponsável pelas manifestações fisiológicas
visuoespacial, à memória, à avaliação dos das emoções. Integrado com as demais es-
estados emocionais internos, à motivação truturas límbicas, notadamente a amígda-
e à regulação da atividade cognitiva e emo- la e o córtex frontal, é considerado o cen-
cional. Suas lesões podem produzir apa- tro da expressão das emoções (Lezak,
tia, mutismo, mudanças de humor e da per- 1995; Martin, 1996; Brust, 2000; Bush, Luu
sonalidade. Estudos sugerem seu envolvi- e Posner, 2000; Kolb e Whishaw, 2002;
mento em alguns aspectos do transtorno Lent, 2004; Machado, 2004; Cosenza,
obsessivo-compulsivo, da esquizofrenia, da 2005; Felten e Józefowicz, 2005; Gazza-
demência de Alzheimer e da depressão. niga e Heatherton, 2005; Bear, Connors e
O circuito de recompensa (sistema Paradiso, 2006; Saxe, 2006).
dopaminérgico mesolímbico/mesocortical
– Figura 2.9) é constituído pela área
tegmentar ventral mesencefálica, cujas pro- CONSIDERAÇÕES FINAIS
jeções dopaminérgicas (feixe prosence-
fálico medial) chegam até o hipotálamo, o Utilizando o modelo de funcionamen-
núcleo acumbente, a área septal, o giro do to cerebral proposto por Luria (1981), po-
cíngulo e o CPF. Sua atividade relaciona-se demos descrever o comportamento huma-
aos mecanismos de recompensa que regu- no considerando o fluxo de informações
lam os comportamentos motivados, como através das diversas estruturas do SN. Es-
busca de alimento, de sexo e de situações tímulos desencadeiam impulsos nervosos,
que proporcionam prazer. Drogas de abu- unidades de informação no SN. Essas in-
so, como cocaína, agem nesse sistema. formações são conduzidas por vias senso-
Todas as estruturas mencionadas an- riais ao longo da medula espinhal, do tron-
teriormente possuem conexões, diretas ou co encefálico e do tálamo até atingirem re-
indiretas, com o CPF que, nessa perspecti- giões posteriores do córtex cerebral, onde
va, participa da regulação das emoções. O as informações sensoriais são processadas
58 Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo, Cosenza & cols