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Comportamento alimentar
e seus transtornos
A
alimentação moderna é a principal razão pela qual as pessoas de todo o mundo estão cada vez mais
doentes. Recente matéria publicada na revista Super Interessante mostrou que 80% das doenças de co-
ração, 90% dos casos de diabetes e 70% dos casos de alguns tipos de câncer podem ter uma ligação
estreita com hábitos de vida e alimentares. Pesquisas mundiais atestam que o comer inadequada-
mente é uma das maiores causas de morte, junto com o tabaco.
0ARAA0SICOLOGIAAALIMENTA¥ÎOSEDElNECOMORESPOSTACOMPORTAMENTALINmUENCIADAPORCONDI¥ÜESSOCIAIS
e culturais. Sendo assim, o impacto sociocultural no padrão alimentar e no desenvolvimento de transtornos
alimentares tem sido estudado mais frequentemente, avaliando-se os costumes e re-
LA¥ÜESFAMILIARESEASINFORMA¥ÜESVEICULADASPELOSMEIOSDECOMUNICA¥ÎOEMMASSA
Nota-se, portanto, que o “comer desordenado” tem afetado crianças e adolescen-
TESEMMAIORNÞMEROEINTENSIDADEEGANHAATEN¥ÎODEPESQUISADORESEPROlSSIONAIS
da clínica. Tanto que na versão corrente do DSM-5, o Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais, editado no Brasil em 2014, os transtornos da alimentação (in-
fância) passaram a ser descritos como parte dos transtornos alimentares – anterior-
mente essa nomenclatura era exclusiva para adultos. Antes disso os transtornos da
ALIMENTA¥ÎOEMCRIAN¥ASERAMCONSIDERADOSUMTIPONÎOESPECIlCADODETRANSTORNO
em separado ao dos adultos.
SHUTTERSTOCK
Esta edição da Psique se debruça sobre os problemas alimentares no artigo de
capa produzido pela psicóloga Flávia Machado Seidinger Leibovitz. Segundo ela
escreve no texto, apesar da complexidade em aferir o aumento da incidência desses
transtornos na infância, é certo que há uma procura maior por tratamento do transtorno de alimentação em
CRIAN¥ASEADOLESCENTESEÏBEMPOSSÓVELQUEHAJASIMUMAUMENTOEMCURSOEQUEIRÉSECOMPLEXIlCAREN-
QUANTOPERDURAREMASDIlCULDADESCOMAOBESIDADEEMNOSSACULTURA
Flávia ainda explica que há que se ter cuidado ao falar sobre transtornos alimentares, pois “paradoxal-
mente, quem recusa o alimento o mantém no comando de sua vida, habitando seu pensamento 24 horas por
dia – inclusive como principal motivo de abandono do tratamento”, principalmente em crianças, para quem a
chancela de um diagnóstico psiquiátrico pode gerar consequências psicossociais, muitas vezes negativas. Por
ESSARAZÎOALERTAQUECABEAOSPROlSSIONAISDACLÓNICACUIDARDOSEQUÓVOCOSGERADOSACERCADOASSUNTOESEUS
efeitos muitas vezes danosos, zelando por não replicá-los e perpetuá-los.
/FATOÏQUEAINDAHÉMUITOSIMPASSESEDESAlOSPARATRATARTRANSTORNOSALIMENTARESEDEALIMENTA¥ÎOPRIN-
cipalmente no universo infantil, e esperamos que este artigo traga luz a esse debate.
Boa leitura!
CAPA
Transtornos
que preocupam 56
Bulimia, anorexia nervosa,
transtornos alimentares e
DAALIMENTA¥ÎOGANHAM
: SHUT TERSTOCK
CADAVEZMAISESPA¥OEM
PESQUISASCIENTÓlCAS
IMAGEM DA CAPA
01:15:50
21/12/2016
MATÉRIAS
ENTREVISTA O analista
Especialista em Psicologia desceu do salto 70
Financeira, Patrícia Rezende Nova realidade social exige
Chedid Simão alerta para a que a razão na prática
necessidade de um consumo clínica seja exercida
mais consciente COMMAISmEXIBILIDADE
SEÇÕES
05 EM CAMPO Volta por cima
14 IN FOCO
#ASOREALCONlRMAQUEUMADAS
16 SUPERVISÃO
formas de enfrentar adversidades
18 PSICOPOSITIVA
ÏARESILIÐNCIARESSIGNIlCANDO
20 PSICOPEDAGOGIA
um momento difícil
22 SEXUALIDADE
32 COACHING
76
34 LIVROS
Síndromes e dist
50 CIBERPSICOLOGIA doss
iê
BIOFEEDBACK CARDÍACO
O treino da coerência cardíaca,
estado que demonstra o equilíbrio do
sistema nervoso autônomo, é uma das
ferramentas cada vez mais usadas no
tratamento coadjuvante de quadros de
ansiedade e depressão. Por meio de um
sensor corporal ligado a um computador,
o indivíduo pode saber, em tempo real,
como está a sua coerência, monitorando
seu comportamento para alcançá-la –
o chamado biofeedback cardíaco. “Por
meio de exercícios de concentração
mental, respiração controlada e uso de
imaginação positiva, podemos atingir
esse estado de equilíbrio, que tem
repercussões imediatas em nossa saúde”,
explica Marco Fabio Coghi, responsável
por tecnologia brasileira de biofeedback.
(Fonte: www.makeitpositivemag.com)
CORPO E MENTE
CORRER MELHORA A
CONECTIVIDADE CEREBRAL
A conexão entre regiões cerebrais distintas é importante
para funções cognitivas como planejamento, tomada de decisão
e capacidade de mudar o foco de atenção entre tarefas. Achados
CIENTÓlCOSPUBLICADOSNAREVISTAFrontiers in Human Neuroscience
demonstram que essa conectividade é maior no cérebro de cor-
redores em comparação à de indivíduos mais sedentários.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universi-
dade do Arizona compararam exames cerebrais de corredores
adultos jovens com os de adultos jovens que não praticavam ati-
vidade física regular. Os participantes do estudo tinham apro-
ximadamente a mesma idade – de 18 a 25 anos – com índice de
Konvalinka, P. Vuust. Oxytocin improves synchronisation in leader- Comportamental com foco em resiliência, bem-estar
e performance. É coach certificada pelo Instituto de
follower interaction. 3CIENTIlC 2EPORTS N ART
Psicologia Positiva e Comportamento.
A QUESTÃO DO DISCURSO
REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 123
ENTREVISTA RENATO JANINE RIBEIRO
Sidnei de Oliveira fala sobre a simbiose Se o Brasil está no fundo do poço,
entre Filosofia e Música em sua pesquisa como tirá-lo de lá?
ANO IX No 123 – www.portalcienciaevida.com.br
canaliz
e educação:
Cinema
ditatorial
Imagenco
filosófi
Mitologia
ar paixões
a experiência
em sala
s no texto
de um
de aula
e a verdade
grega,
Platão
como
regime
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Com curadoria Perencini
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TEMPORÊNEANA&ACULDADE
E
REFLEXÃO E PRÁTICA: Imagens como mediadoras do discurso
os conceitos
principalmente à questão do discurso 1704) – enquanto de autocracia e
e da defesa de argumentos. Na etapa objeto da mente, originado a partir retórica. Nesse f ilme, o discurso retó-
I, há a retomada dos gregos antigos da experiência sensível. A palavra é rico é tomado como um veículo para
no que se refere à noção de Alétheia um componente fundamental para difundir e defender ideias e posições
e a credibilidade do discurso poético a manifestação das ideias – simples políticas (no caso, a autocracia) e, da
– palavra sagrada e acreditada. Na- e complexas. Na etapa III, a propos- mesma forma que o exemplo grego,
quela sociedade, fundamentalmente ta do texto é de uma apreciação do também promove um encantamento.
A norte-americana Angela XX, também com atuação marcan- a uma geração em que a luta políti-
Davis é considerada uma das perso- te neste século. Pós-doutoranda ca foi uma arena fundamental para
nalidades mais libertárias do século em Ciências da Comunicação pela a mudança do mundo. E isso nos
ECA-USP, professora do Centro de anos 60, um cenário que se consti-
Em Sala de Aula: Qualidade da educação rural na pauta do MST
Estudos Latino-Americanos sobre tuiu numa década importante para
Cultura e Comunicação da USP, in- a transformação social. Rosane re-
www.portalcienciaevida.com.br
tegrante da Cojira-SP (Comissão de lembra que a carreira política de
Jornalistas pela Igualdade Racial), Angela ganha visibilidade mun-
Qual a sua
autora e organizadora de diversos dial na década de 1970, quando ela
desculpa?
O ato de
desculpar-se livros, entre eles Espelho Infiel: o foi presa pela acusação grave de
na mira
de estudos
sociológicos Negro no Jornalismo Brasileiro, Mídia conspiração, sequestro e homicí-
Primavera
das Mulheres
Temas como
e Racismo, Rosane Borges escreveu dio. Tornou-se, por isso, a terceira
a orelha do livro Mulheres, Raça e mulher a integrar a Lista dos Dez
assédio e
aborto
reacendem
Os contornos
da direita
lançado no Brasil. Uma personagem fascinante que a
Como PFL
e DEM
delinearam o
COMO Angela Davis é mulher, negra, faz absolutamente comprometida
INIMIGO
atual cenário
da política
conservadora
brasileira
O medo transformou
comunista e feminista, um conjun- com a mudança social, a partir de
as relações sociais
to de características que sinaliza ref lexão e da prática. A entrevis-
A verdadeira
identidade
da “piriguete” e as configurações
Feminilidade e urbanas, confinando a
comportamento
sexual população entre muros para um ativismo considerado pe- ta completa concedida por Rosane
exagerados
reforçam
hegemonia
rigoso para o establishment. Rosane Borges pode ser conferida na edi-
masculina
E
quilibrar o orçamento e manter uma COLOGIA %LA RESSALTA QUE O DESCONTROLE lNANCEIRO
VIDA lNANCEIRA CONTROLADA SÎO DESAlOS pode ser originário de um problema emocional, que
difíceis de enfrentar, principalmente em deve ser tratado. Mas faz uma ressalva: “Para ser
momentos de crise econômica, como a considerado um problema de ordem emocional é
atual fase do Brasil. Há indivíduos perdulários, mas necessário que seja tomado por um impulso, tenha
que conseguem, aos poucos, alterar seus hábitos e certa frequência na vida do indivíduo e causado
adequar seu padrão de vida à própria realidade. PREJUÓZOSNÎOAPENASDEORDEMlNANCEIRA-ASSEÏ
Entretanto, existem situações em que a pessoa é UMFATOISOLADOUMAESCOLHAÏDELICADOAlRMARSER
tomada por um sentimento incontrolável de gastar um problema emocional”.
mais do que o bolso comporta. Nesses casos, a Psi- Patrícia é graduada em Psicologia, pós-graduada
cologia Financeira pode ser uma importante aliada em Psicopedagogia, tem formação em Terapia Com-
para auxiliar quem sofre de alguns transtornos re- portamental e Cognitiva, com extensão em Psico-
lacionados ao problema. logia Econômica, Educação Financeira, Mercado
Especialista na área, a psicóloga Patrícia de Re- Financeiro e Mercado de Ações, além de ser capa-
zende Chedid Simão destaca que, apesar de ser um citada como mediadora e conciliadora judicial. Atua
campo de estudo relativamente novo, vem ganhan- na área clínica desde 1996 como psicóloga e profes-
do espaço e importância no amplo espectro da Psi- sora em Orientação do Comportamento Financeiro.
Financeira diz respeito à administração pequenos grupos e de NO ORÇAMENTO DAQUELA QUE POSSUI UM
de recursos, desde individuais a peque- TRANSTORNO?
nos grupos e de uma sociedade como uma sociedade como um PATRÍCIA: !DIlCULDADEÏESPERADAQUAN-
um todo, já a Econômica, por sua vez, é do não se tem conhecimento do assun-
a ciência que estuda a atividade econômi- todo, já a Econômica, to, familiaridade, falta experiência. O
ca no âmbito social. O comum entre elas
é que as duas se utilizam da Psicologia,
por sua vez, é a transtorno tem dois aspectos: já se tem
conhecimento. Em alguns casos se inicia
que, por sua vez, é a ciência que estuda o ciência que estuda a a prática, mas não existe sustentação da
comportamento. Já em termos de como mesma; e quase sempre vem associado a
CADA UMA TRABALHA NÎO TERIA DElNI¥ÎO atividade econômica no algum tipo de prejuízo.
até porque Psicologia Financeira é um
termo que vem sendo utilizado pela mí- âmbito social QUANDO E POR QUE A PESSOA PRECISA DE
dia e a cada dia surgem novos nomes e UM TRATAMENTO PSICOLÓGICO?
trabalhos propostos por diferentes linhas ordem emocional é necessário que seja PATRÍCIA: E importante avaliar o contexto
da Psicologia. Como disse, isso é um pro- tomado por um impulso, tenha certa em que a queixa se apresenta. Alguns pon-
cesso que vem crescendo. Já a Psicologia frequência na vida dele e tenha causado tos devem ser observados: a queixa trazida
Econômica tem na Vera Rita de Melo PREJUÓZOSNÎOAPENASDEORDEMlNANCEI- é uma constante na vida do indivíduo; já
Ferreira, psicanalista de formação, seu ra. Mas se é um fato isolado, uma esco- fez tentativas de mudar e não conseguiu;
maior nome para essa proposta. Fui alu- LHAÏDELICADOAlRMARSERUMPROBLEMA as pessoas o alertam para isso; sempre
na de sua primeira turma e, sem sombra emocional. Pelo contrário, às vezes se BUSCAJUSTIlCATIVASOUEVITAFALARSOBRESUAS
de dúvida, muitos estudos e informações faz até necessário. Por exemplo: quando CONDUTAS lNANCEIRAS O COMPORTAMENTO
que temos hoje no Brasil, nesse campo, A DOR OU O CONmITO SÎO MUITO GRANDES em questão já lhe causou problemas, não
devemos a ela. Psicologia Econômica é necessitamos da famosa “válvula de APENAS NO CAMPO lNANCEIRO COMO TAM-
um estudo que surgiu na Europa. Tam- escape”. Melhor que seja no cartão de BÏMPESSOALPROlSSIONALEAFETIVOSEXUAL
bém se falou muito de economistas com- CRÏDITODOQUElCARDOENTEBATEROCAR- avaliar a saúde. Em determinadas situ-
portamentais e sua proposta está em ro, fumar ou beber. Foi um descontrole, A¥ÜES ESSAS CONDUTAS lNANCEIRAS GERAM
trazer a Psicanálise como contribuição à sem dúvida, mas é importante entender problemas de saúde física e emocional.
%CONOMIA *É OUTROS PROlSSIONAIS SEGUI-
ram a linha da terapia comportamental
cognitiva, na qual eu me enquadro, ape-
sar de nunca descartar ideias de autores
DAS DEMAIS LINHAS !lNAL Ï TUDO MUITO
novo e acredito que qualquer informação
que possa ajudar deve ser compartilhada.
Devemos ter o cuidado em não dividir a
0SICOLOGIA COMO lZERAM NA POLÓTICA /
que está em jogo aqui é a salubridade de
uma nação.
A matemática da educação
DESCONTROLE FINANCEIRO É UM PROBLE - GIG\`IGdGG
MA EMOCIONAL? e gastar menos do que
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PATRÍCIA: Depende. Precisamos entender
IMAGEM: 123RF
Ï
o que levou o indivíduo a esse descontro- desprendidos de emoções
le. Para ser considerado um problema de
QUAIS OS PRINCIPAIS ERROS QUE OS INVES- UM TRATAMENTO COM BASE NA PSICOLO - QUAIS SERIAM OS CONSELHOS QUE DARIA
TIDORES COMETEM EM RELAÇÃO ÀS QUES- GIA F INANCEIRA PODE SER UMA ALTERNA- AO LEITOR EM RELAÇÃO A COMO LIDAR
TÕES EMOCIONAIS? TIVA PARA CASAIS EM CRISE NO RELACIO - COM O DINHEIRO?
PATRÍCIA: São as famosas atitudes im- NAMENTO POR RAZÕES FINANCEIRAS? DE PATRÍCIA: %STÉEMCRISElNANCEIRA%N-
pulsivas. Investidores que cometem esse QUE MANEIRA? tão, primeiro, comece revendo seus
tipo de erro se enquadram no mesmo PATRÍCIA: Sim, mas temos de levar em valores. Segundo, veja suas aptidões e
PERlLQUECOMPRADORESCOMPULSIVOSSØ conta os valores, conceitos e pré-concei- o que, de fato, o faz feliz, e, terceiro,
que nesse caso o objeto dele é o merca- tos de cada um dos parceiros. Ainda vive- levante seus recursos internos e trans-
DO lNANCEIRO /S ESQUEMAS COGNITIVOS mos numa cultura em que a cobrança de forme o que você tem de melhor em
são os mesmos. A decisão pelos investi- papéis é muito grande, principalmente no algum produto ou serviço que possa
IMAGEM: SHUTTERSTOCK
mentos, às vezes, é tomada pela oferta, QUE DIZ RESPEITO Ì lGURA MASCULINA QUE vir, de alguma maneira, a ser compar-
pelo modismo e é imediata, sem plane- tem de ser o provedor. Além disso, ainda TILHADO % lNALIZANDO DESENVOLVA SUA
jamento algum. pecamos muito em cima de uma ideia er- capacidade de amar.
MENTE presente
ESTAR NO MOMENTO DE AGORA PERMITE DESLIGAR
A CAPACIDADE CEREBRAL DE ALERTAR PARA
AS POSSIBILIDADES QUE PODEM ESTAR NOS AGUARDANDO
A
observação atenta pode ser forma. Persegui-lo é como perseguir um “A iluminação parte de processos mui-
entendida como a capaci- fantasma, um que constantemente nos TOSSIMPLESvENSINAOlLØSOFOAUSTRÓACO
dade de estar presente. A escapa e quanto mais corremos para Rudolf Steiner em A Iniciação, em que
presença, em sua aparente alcançá-lo, mais rapidamente ele foge. É apresenta formas de desenvolver a ha-
simplicidade, guarda algo impalpável por isso que a civilização corre apressa- bilidade de se conectar ao que chama
e abstrato que perseguimos com fre- da, raramente valoriza aquilo que tem de “mistérios superiores da existência”
quência nos lugares errados: “felicida- e está sempre querendo mais e mais. A n O QUE SØ Ï POSSÓVEL POR MEIO DE UM
DE Ï ESTAR NO PRESENTEv COMO DElNIU felicidade, então, consiste não em rea- processo meditativo, um conceito que
OlLØSOFO!LAN7ATTSUMDOSGRANDES LIDADESSØLIDASMASEMALGOABSTRATOE na época ainda era considerado parte
difusores do pensamento asiático no SUPERlCIALCOMOPROMESSASEEXPECTA- de um campo do ocultismo, restrito
mundo ocidental. Estar presente é o tivas”, conclui Watts. a poucos. Steiner derruba essa ideia,
requisito para perceber a vida de forma Sem conseguirmos nos livrar, ao mostrando que o treino da atenção ple-
plena e deixar-se maravilhar por ela. menos de vez em quando, da angústia na – ou “iluminação”, como aborda – é
“Como o que sabemos do futuro é DE SERMOS COMANDADOS PELO RELØGIO E ACESSÓVELATODOSEhPROCEDEDAMESMA
FEITOAPENASDEELEMENTOSABSTRATOSELØ- da pressão que representam os ideais forma que com todo o restante saber
gicos – inferências, palpites e deduções QUE NOSSA CULTURA CONSTRØI E PROPA- ou capacidade do ser humano”: basta
– ele não pode ser degustado, sentido, GA TÎO BEM ACABAMOS lCANDO EM UM estar disposto e ter a paciência para
visto, ouvido ou desfrutado de alguma constante estado de alerta. Percebemos desenvolver e despertar sentimentos
sinais de que atrás de alguma árvore E PENSAMENTOS LATENTES h/ INÓCIO SE
pode haver um predador: o coração fará com a contemplação, de uma de-
QUEBRAR A ACELERAAPETITESONOERESPIRA¥ÎOlCAM terminada maneira, de diversos seres
MOLDURA DO a lterados, causa ndo uma sensação pa ra- da Natureza – por exemplo, uma trans-
lisadora de ameaça. parente e bem-formada pedra (cristal),
ABSOLUTISMO Muito antes do termo mindfulness ga- uma planta e um animal. Procure-se
E ACEITAR O nhar popularidade no Ocidente, a psi- inicialmente dirigir toda a atenção à
CØLOGAEPESQUISADORA%LLEN,ANGERDO comparação da pedra com o animal,
INCERTO REQUEREM
Departamento de Psicologia da Univer- da seguinte forma: os pensamentos que
RECONHECER O QUE sidade de Harvard, estudava o fenôme- PARAAÓSÎODIRIGIDOSTERÎODEATRAVESSAR
DE FATO ESTÁ SOB no da atenção plena. Quando a mente a alma acompanhados de sentimentos
está presente, ela defende, nos tornamos vivos. E nenhum outro pensamento, ne-
NOSSO CONTROLE E SENSÓVEISAOCONTEXTO-ASNÎOBASTADE- nhum outro sentimento poderão intro-
DEIXAR FLUIR SEM CIDIRESTARPRESENTEODOMÓNIODAATEN- meter-se e perturbar a contemplação
ção é uma habilidade que, como qual- intensiva e compenetrada”, instrui. Essa
RESISTÊNCIA AQUILO quer outra, precisa ser exercitada. contemplação profunda pode ser dire-
QUE NÃO ESTÁ Começa com a prática de perceber. cionada a outros sentidos: para alguns,
DIREITOS
do terapeuta
D
esde o século XIX, não fo- tência são intrínsecas à vida e ao contex- tua para uma grande complexidade e di-
ram poucos os teóricos que to pessoal do paciente? É exatamente so- lCULDADEPARAOALCANCEDEÐXITOSTOTAIS
debateram sobre as habilida- bre essas situações que muito do trabalho Não é raro que supervisores tenham
des, competências pessoais da supervisão em psicoterapia mira sua que tranquilizar seus supervisionandos
e técnicas requeridas dos psicólogos e prática e esforços. PARA QUE ESTES NÎO lQUEM SOFRENDO OU
psiquiatras para que viessem a oferecer /S DESAlOS PARA QUE SE CONCRETIZE se acusando por fracassos que, na verda-
UMAAJUDAQUALIlCADAECOMPOUCORIS- uma relação terapêutica sólida e, então, de, nada mais são do que trechos de uma
co de iatrogenias a seus clientes. Pas- aconteçam as mudanças comportamen- história maior ainda a ocorrer. O que pa-
sando pelas ideias de autoconsciência tais, emocionais e cognitivas propostas no RECEOlMDEUMAHISTØRIATERAPÐUTICADO
pela autoanálise em Freud até a neces- início do tratamento dependem de fato- indivíduo, na grande maioria das vezes, é
sidade de medidas objetivas de evolu- RES$ESDEOTIPODEDIlCULDADETRANSTOR- só um capítulo desse paciente no seu pro-
ção do tratamento em Hans Eysenck, o no mental) apresentado pelo paciente e o cesso de mudança. Os problemas que uma
fantasma do erro e da imperícia sempre grau de motivação para o processo psico- díade paciente-terapeuta teve no passado
assombrou o setting terapêutico. terápico até a capacidade de engajamento podem representar material extremamen-
Mas o que dizer aos clínicos quando numa relação colaborativa minimamente TERICOPARAOTRABALHODEOUTROPROlSSIO-
a refratariedade, a desmotivação e a resis- empática com o terapeuta, tudo compac- nal com aquele mesmo paciente.
A
pergunta pode parecer estra- ELA PORQUE AGUARDO UMA CONlRMA¥ÎO Finalmente o retorno que eu esperava.
nha. Mas eu mesma tenho de outro paciente sem a qual não consi- Volto ao texto com a urgência de uma
que me concentrar para ter go saber ao certo quais horários dispo- colunista que está com seu prazo de en-
a certeza de estar aqui, es- níveis terei para marcar a nova consul- trega estourando. Releio as linhas até
crevendo esta coluna. Pior, me lembro ta. Volto a este texto. Releio a primeira então produzidas e sou assaltada por
de uma tarefa importante, paro e vou frase. “Caramba, aquele paciente já de- um pensamento que diz: “Não posso
até ela. No caminho encontro aque- via ter me retornado!” Pego o celular, me esquecer de dar um retorno àquela
le papelzinho com o telefone de uma entro no WhatsApp A lM DE CHECAR AS paciente nova!”. É quando a conclusão
paciente nova que aguarda um retor- mensagens. Não. Ele ainda não respon- SURREAL SE FAZ ØBVIA .ÎO DElNITIVA-
no meu para marcarmos uma consulta deu. Volto ao texto. Escrevo mais uma MENTE NÎO ESTOU AQUI / QUE SIGNIlCA
para amanhã. Não consigo retornar a frase. O celular treme. Mensagem nova. que estou escrevendo este texto como
Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora
universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, Ou acesse www.escala.com.br
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área.
graziano@psicologiapositiva.com.br
A experiência de
VIAJAR SOZINHO
INSEGURANÇAS E ANSIEDADES
EXAGERADAS DE CRIANÇAS (E DOS PAIS)
ULTRADEPENDENTES PODEM SER VENCIDAS
NOS ACAMPAMENTOS RECREATIVOS QUE
ESTIMULAM O DESENVOLVIMENTO DE NOVAS
HABILIDADES E O AMADURECIMENTO SOCIAL
S
EMPRE QUE CHEGAM AS FÏRIAS OU ção infantil ou juvenil seja clara em meio 3ALVO EXCE¥ÜES SE SUlCIENTEMEN-
feriados prolongados vemos a às atividades recreativas. Em tal sentido, te amadurecidas e preparadas pela
euforia das crianças pela busca além das referências de amigos, da fa- família, a partir dos seis ou sete anos
por diversão. Uma opção que mília ou da escola, é importante os pais as crianças poderão aproveitar e mui-
virou moda no país foram os acampa- VERIlCAREMAATUALIDADEDASINFORMA¥ÜES to a experiência de viajar sem os pais
mentos recreativos. Apesar dos pedidos recebidas. Sites e revistas são bons meios ATÏPARADESENVOLVERNOVASHABILIDADES
INSISTENTESDEALGUNSlLHOSMAISAVENTU- de pesquisa, mas a experiência e o relato sociais, de autoestima e de autonomia,
REIROSMUITOSPAISHESITAMEMDEIXÉ
LOS DEQUEMJÉFOIOULEVOUOSlLHOSSÎOMAIS POISSOZINHASTERÎODERESOLVERPEQUE-
VIAJAR SOZINHOS PARA UM ACAMPAMENTO CONlÉVEIS !LÏM ISSO VALE LEMBRAR AS nos problemas de cuidados pessoais,
desses. Mas essa pode ser uma ocasião experiências similares anteriormente vi- de relacionamento, que via de regra a
DE APRENDIZADO PARA PAIS E lLHOS PO- venciadas, que envolveram separação da MÎE DECIDE PELO lLHO TERÎO DE APREN-
rém, claro, deve ser bem pensada. FAMÓLIAEDIlCULDADESDERELACIONAMENTO der e aceitar viver sob novas regras e
-ANDAR O lLHO PARA UM ACAMPA- QUEASCRIAN¥ASTENHAMENFRENTADOCOM LIDARCOMSITUA¥ÜESDEMEDODEDORMIR
MENTOÏØTIMOPARAAMPLIARSEUCONTA- seus iguais e outros adultos, inclusive se por exemplo, em conjunto com outras
to e relacionamento social, incentivar a passaram por exemplo por experiências crianças que estão passando pela mes-
PARTICIPA¥ÎOEMNOVOSGRUPOSTRABALHAR de bullying, ou se sofreram a separação ma situação.
ASQUESTÜESDEACEITA¥ÎODASDIFEREN¥AS de modo muito acentuado. Esses fatores O amadurecimento social é visível,
pessoais, desenvolver sua independência devem ser levados em consideração antes HÉMELHORIANAAUTONOMIAESENTIDODE
e autonomia, ajudar a vencer inseguran- DEOPTARPORMANDAROlLHOOUNÎO segurança pessoal na maioria dos ca-
ças e ansiedades exageradas de crianças O cuidado deve ser maior ainda sos. Além disso, uma nova rotina gera
(e também dos pais) ultradependentes, QUANDO ALÏM DO PERlL DE INSEGURAN- NOVOS INTERESSES APRENDIZAGENS DIVER-
ENSINAR A RESOLVER SOZINHAS PROBLEMAS ¥A DIlCULDADE DE AJUSTE SOCIAL TIMIDEZ SIlCADASINTERIORIZAADISCIPLINAMUDA
do dia a dia, a seguir regras, adaptar-se a ou mesmo uma introspecção maior, a o comportamento.
SITUA¥ÜESDIFERENTESENTRETANTOSOUTROS criança estiver em meio a um tratamen- Mais importantes que a idade cro-
fatores. Essa espécie de atividade é mui- TOESPECIlCOSEJAFÓSICOPSICOLØGICOFO- NOLØGICA PARA ENVIAR A CRIAN¥A SÎO A
TOINDICADADEVIDOÌSVANTAJOSASHABILI- NOAUDIØLOGO PSICOPEDAGØGICO /S PRO- maturidade emocional e a autonomia já
dades que desenvolve. lSSIONAISENVOLVIDOSSABERÎOORIENTAROS adquiridas, tanto por meio da educação
Para que nada dê errado, é decisivo es- PAISESPECIlCAMENTESOBREASVANTAGENS familiar quanto pelas experiências ante-
COLHERUMACAMPAMENTOBEMESTRUTURA- e desvantagens de tal empreitada nesse riores, como dormir em casa de amigos,
DOONDEAPROPOSTADEAPOIOÌSOCIALIZA- momento da vida dessa criança. sair de férias com parentes etc.
MAISTÓMIDAFAZNOVOSAMIGOS
Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e
Crianças menores de seis ou sete Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de
anos não têm ainda tantas defesas emo- Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia da
cionais, a não ser que os pais acreditem ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso
de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
QUE O lLHO ÏBEM AMADURECIDO PARA A
O desenvolvimento
da IDENTIDADE
PESQUISAS MOSTRAM QUE AS
PESSOAS TRANSEXUAIS COM DISFORIA
DE GÊNERO APRESENTAM MAIORES
CHANCES DE EXIBIR TRANSTORNOS
PSIQUIÁTRICOS AO LONGO DE SUAS VIDAS
A
PUBLICA¥ÎO DA a EDI¥ÎO DO TIlCAM COM O SEU SEXO EOU GÐNERO DE
-ANUAL $IAGNØSTICO E %STA- NASCIMENTO D TRANSEXUAL Ï QUEM NÎO
TÓSTICO DOS 4RANSTORNOS -EN- SEIDENTIlCACOMSEUSEXODENASCIMENTO
TAIS $3-
DA !SSOCIA¥ÎO E PROCURA ADEQUAR OU PASSOU POR ADE-
0SIQUIÉTRICA!MERICANA!0! EXPANDIU QUA¥ÎO PARA O GÐNERO COM O QUAL SE
AVISÎOSOBRESEXOEGÐNEROSEXOREFERE- IDENTIlCAOQUEEMVÉRIOSMASNÎOEM
SE TANTO A MASCULINO QUANTO A FEMINI- TODOSOSCASOSENVOLVETRANSI¥ÎOSOMÉ-
NO RELACIONADO AOS ASPECTOS BIOLØGICOS TICAPORTRATAMENTOHORMONALECIRURGIA
COMO CROMOSSOMOS SEXUAIS GÙNADAS de redesignação sexualADEQUA¥ÎODOSEXO
HORMÙNIOS SEXUAIS E GENITÉLIA INTERNA E DENASCIMENTOPARAOGÐNEROCOMOQUAL
EXTERNA NÎO AMBÓGUAS E GÐNERO Ï UTILI- O INDIVÓDUO SE IDENTIlCA E DISFORIA DE
ZADOPARADESIGNAROPAPELSOCIALnME- GÐNERO REFERE
SE Ì INCONGRUÐNCIA ACEN- TOS RELATAM SINTOMAS SIGNIlCATIVOS DE
NINOOUMENINAHOMEMOUMULHERQUE TUADAENTREOSEXODENASCIMENTOE COMO ESTRESSE PSICOLØGICO E PROCURAM TOMAR
NAMAIORIADASPESSOASESTÉRELACIONADO ELE Ï PERCEBIDO E MANIFESTADO NO COM- MEDIDAS PARA ALTERAR AS CARACTERÓSTICAS
AO SEXO DE NASCIMENTO %NTRETANTO O PORTAMENTO DO INDIVÓDUO COM DURA¥ÎO DESEUSCORPOSPOREXEMPLOPORMEIO
DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL DO GÐNERO DEPELOMENOSSEISMESESALÏMDOMAIS DOUSODEHORMÙNIOSSEXUAISECIRURGIA
SOFRE INmUÐNCIAS BIOPSICOSSOCIAIS E NEM ESSA CONDI¥ÎO DEVERÉ ESTAR ASSOCIADA A PLÉSTICA DE FORMA A SE ADEQUAREM O
TODOS OS INDIVÓDUOS SE PERCEBEM COMO SOFRIMENTOCLINICAMENTESIGNIlCATIVOOU MAIS PRØXIMO POSSÓVEL AO GÐNERO COM
HOMENSOUMULHERES$AÓVÉRIASCLASSIl- PREJUÓZONOFUNCIONAMENTOSOCIALPROlS- OQUALSEIDENTIlCAM6ALELEMBRARQUE
CA¥ÜESA DESIGNA¥ÎODEGÐNEROREFERE- SIONALOUEMOUTRASÉREASIMPORTANTESDA OSINDIVÓDUOSTRANSEXUAISPODEMOUNÎO
SE Ì DESIGNA¥ÎO INICIAL COMO HOMEM VIDADOINDIVÓDUO%MBORANEMTODOSOS APRESENTAR DISFORIA DE GÐNERO SEGUNDO
OU MULHER E GERALMENTE ISSO OCORRE NO INDIVÓDUOS VENHAM A SENTIR DESCONFORTO O$3-
NASCIMENTO E POR CONSEGUINTE CRIA
SE COMORESULTADODETALDESARMONIAMUI- 0ESQUISAS MOSTRAM QUE AS PESSOAS
O hGÐNERO DE NASCIMENTOv B IDENTIDA- TOSSENTIRÎOSEASINTERVEN¥ÜESDESEJADAS TRANSEXUAIS COM DISFORIA DE GÐNERO TÐM
DE DE GÐNERO Ï UMA CATEGORIA DA IDEN- SOBREOFÓSICOPORMEIODEHORMÙNIOSE MAIORES CHANCES DE EXIBIR TRANSTORNOS
TIDADE SOCIAL E REFERE
SE Ì IDENTIlCA¥ÎO OUCIRURGIASNÎOESTIVEREMDISPONÓVEIS PSIQUIÉTRICOSAOLONGODESUASVIDASENTRE
DO INDIVÓDUO COMO HOMEM OU MULHER 0ESSOAS QUE SE IDENTIlCAM COMO ELES EPISØDIOS DEPRESSIVOS TENTATIVAS DE
IMAGENS: 123RF E ARQUIVO PESSOAL
OU OCASIONALMENTE COM ALGUMA CATE- TRANSEXUAIS REPORTAM NA SUA HISTØRIA EOUSUICÓDIOEHISTØRIADETRAUMAFÓSICO
GORIA DIFERENTE DE HOMEM OU MULHER DESCONFORTOPERSISTENTECOMOSEXOQUE EOUEMOCIONAL DURANTEAINFÊNCIA-AIS
C TRANSGÐNEROS REFERE
SE AO AMPLO LHEFOIDESIGNADONONASCIMENTOEAPRE- ESPECIlCAMENTEPESSOASQUEAPRESENTAM
CONJUNTO DE INDIVÓDUOS QUE TRANSITORIA- SENTAMFORTEIDENTIlCA¥ÎOCOMOGÐNERO TRANSTORNOANSIOSOASSOCIADOÌTRANSEXU-
MENTEOUPERSISTENTEMENTENÎOSEIDEN- OPOSTOAOSEUSEXODENASCIMENTO-UI- ALIDADECOMDISFORIADEGÐNEROTENDEMA
TOC em
crianças
Comportamentos
C omportamentos repetitivos
repetitivos
fazem
fazem parte
parte ttambém
ambém dodo
universo
universo infantil
infantil e adolescente,
adolescente,
trazendo
trazendo llimitações
imitações que
que
prejudicam
prejudicam asas relações
relações ssociais
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Cognitivas do Rio Grande do Sul (ATC-RS).
E
m crianças e adolescen- São comuns preocupações com
tes, rituais, medos, com-
portamentos repetitivos simetria, alinhamento ou exatidão (precisar
e eventuais fobias fazem organizar os brinquedos por tamanho ou
parte do desenvolvi-
mento normal e devem ser diferen- categoria, sensação de que as coisas não
ciados dos sintomas do TOC, como estão no devido lugar) ou simplesmente
é o caso das crianças pequenas, que
apresentam rituais nos horários de refazer várias vezes para que fique perfeito
dormir (uma determinada maneira
para adormecer), comer (dificuldade curso geralmente é crônico e, caso fazer lavagens excessivas e rituali-
em misturar as comidas) e demorar não seja tratado, se mantém por toda zadas das mãos para ter certeza de
no banho. Esses comportamentos a vida, raramente desaparecendo por que estão limpas); dúvidas seguidas
tendem a ser mais frequentes entre completo (American Psychiatric As- de verificações ou de perguntas re-
os 2 e 4 anos de idade (Evans et al., sociation, 2014). Caracteriza-se pela petidas, ou necessidade de confir-
1997). As crianças de 3 a 5 anos cos- presença de pensamentos, impulsos mações (checagens para confirmar
tumam brincar de imitar comporta- ou imagens recorrentes e persisten- se os materiais estão na mochila, li-
mentos de outras pessoas (mímica), tes (obsessões) e comportamentos ou gar seguidas vezes para se certificar
repetir as mesmas brincadeiras, mú- atos mentais repetitivos (compulsões) de que nada de horrível aconteceu
sicas e até assistir aos mesmos filmes realizados, na maior parte das vezes, com um familiar; verificar a porta
diversas vezes. Na idade escolar, os com o intuito de diminuir o descon- da casa ou do carro para garantir
jogos passam a ter regras rígidas, que forto que acompanha as obsessões. que esteja trancada), sendo segui-
são discutidas e negociadas entre os Nas crianças e adolescentes, os dos, muitas vezes, por evitações
participantes, e há muito interesse sintomas mais comuns são: medo (não usar o banheiro da escola ou
por coleções (figurinhas, modelos de de contaminação seguido de com- não chegar perto dos colegas). Tam-
carros, aviões, bonecos, filmes, etc.). pulsão por limpeza e lavagem (evi- bém são comuns preocupações com
Na adolescência, é muito co- tar utilizar o banheiro da escola ou simetria, alinhamento ou exatidão
mum ter grande interesse por artis- da casa de um amigo, não dividir o (precisar organizar por tamanho ou
tas, celebridades, estilos musicais/ lanche por considerar nojento/sujo, categoria os brinquedos, sensação
banda de música, bem como cole- de que as coisas não estão no devido
ção de objetos e lembranças de um lugar/ordem) ou simplesmente refa-
ídolo. Todos estes comportamentos zer várias vezes para que fique per-
permanecem durante uma determi- feito ou completo (refazer os temas
nada fase do desenvolvimento e de casa, passar a limpo várias vezes
não interferem nas atividades as anotações de aula ou os cadernos,
diárias nem prejudicam o de- reler inúmeras vezes uma página ou
sempenho escolar. um parágrafo para ter certeza de que
Já o transtorno obsessivo- entendeu tudo ou de que a letra está
-compulsivo (TOC) é uma perfeita) (Bortoncello et al., 2014).
doença mental grave, que aco- Podem estar presentes pensamentos
mete principalmente indiví- de conteúdo indesejado e repugnan-
duos jovens no final da adoles- te (medo de xingar outras pessoas
cência, embora muitas vezes os ou de dizer involuntariamente algo
primeiros sintomas se ma- obsceno, medo de ser responsável
nifestem na infância. Seu por desgraças, como provocar um
desastre de carro ou queda de avião
por ter pensado ou sonhado). Ou-
Medos e fobias eventuais
tro sintoma com comorbidade com
são normais, fazem parte
da evolução de crianças e
o TOC é a acumulação compulsiva
adolescentes e não devem ser (grande dificuldade em descartar
confundidos com os sintomas brinquedos quebrados ou estraga-
Rotina alterada
A rotina diária da criança e do ado-
lescente com TOC pode ser mui-
to alterada pela doença. E eles pró- Apesar dos primeiros sintomas se manifestarem na infância, o TOC é uma doença grave, que atinge
prios percebem seus comportamentos especialmente jovens no final da adolescência
como estranhos e diferentes do com-
portamento dos seus colegas. Sentem Podem estar presentes pensamentos de
vergonha e, muitas vezes, precisam
disfarçar ou esconder-se para realizar conteúdo indesejado como medo de xingar
seus rituais compulsivos. ou de dizer involuntariamente algo obsceno,
O TOC causa sofrimento sig-
nificativo, interfere no rendimento medo de ser responsável por desgraças, como
escolar, nas relações sociais e no provocar desastre de carro ou queda de avião
funcionamento familiar. Os sinto-
mas podem ser muito graves e inca- por ter pensado ou sonhado com isso
pacitantes, sendo acompanhados de
medos acentuados, impedindo, por pacientes pediátricos apresentam
exemplo, a criança ou o adolescente geralmente pouco insight sobre a na-
de frequentarem a escola ou de con- tureza de suas obsessões, que está
viverem com os colegas. associada à dificuldade de expres-
Esse transtorno acomete 2% são verbal, o que torna o diagnósti-
a 3% dos indivíduos, o que seria co mais difícil, e são mais propensos
em média 1 em cada 40 indivíduos a terem comorbidades como tiques,
(Hollander; Simeon, 2012), sendo depressão maior, transtorno do dé-
que os familiares de 1º grau de por- ficit de atenção com hiperatividade Revisão dos
tadores do TOC têm quatro vezes (TDAH) e transtorno desafiador pensamentos negativos
mais chances de desenvolverem a opositivo (Geller, 2006). A terapia cognitivo-comportamental, co-
nhecida por TCC, é uma linha da psicotera-
doença (Hettema et al., 2001). Um Um estudo multicêntrico no
pia proposta e desenvolvida pelo psicólogo
estudo com 2.323 adolescentes de Brasil com 842 pacientes clínicos norte-americano Aaron Beck, que preconiza
14 a 17 anos, alunos do ensino mé- verificou que o início dos sintomas a revisão dos pensamentos negativos por in-
dio, encontrou uma prevalência do ocorreu um pouco mais cedo nos termédio das informações obtidas ao longo
TOC atual de 3,3% (Vivan et al., homens, em média aos 12,4 anos, e da vida. O método reúne um conjunto de téc-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/123RF
IMAGEM: 123RF
chances de uma remissão completa.
Mesmo sendo altamente preva- mais tarde em mulheres, aos 12,7 anos
NAS BANCAS!
28 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Estudo realizado PARA SABER MAIS
___________. Practice parameter for the assessment and treatment of children and
adequado pode-se reduzir e até eli- adolescents with obsessive-compulsive disorder. Journal of the American Academy of
minar por completo os sintomas do Child & Adolescent Psychiatry, v. 51, n. 1, p. 98-113, 2012.
paciente, restabelecendo sua quali- GOMES, J. B.; BORTONCELLO, F. C. TOC: Apreendendo sobre os Pensamentos
dade de vida. Desagradáveis e os Comportamentos Repetitivos. Porto Alegre: Sinopsys Editora, 2016.
Transformação
para o ANO TODO
O FENÔMENO DO “COMO SERIA SE...” NÃO É EXCLUSIVO
NAS PROMESSAS HABITUAIS QUE REPRESENTAM UM NOVO
CICLO, MAS PERMANECE FIRME POR TODA A VIDA
Q
uem não inicia um ano com a mais alto, limitando-nos a achar alterna- sensações limitantes tomarem as rédeas
CABE¥ACHEIADEREmEXÜESSO- tivas para transformar em realidade tudo da nossa vida, fazendo-nos acreditar que
BREOANOQUElCAPARATRÉSE aquilo que desejamos. essa é uma opção mais segura, calma e
ansioso sobre o que está por Quantas pessoas brilhantes, corajosas, tranquila de viver. É assim que deixamos
vir? É uma mistura de sensações positivas determinadas e comprometidas vivem para trás nossas ideias, objetivos, sonhos
e negativas que varia de indivíduo para dessa forma? Elas simplesmente deixam de criança e essência, tudo para viver com
indivíduo, mas normalmente inclui alívio, de lado os seus próprios objetivos devido medo do nosso futuro, mas não nos da-
satisfação, alegria, esperança, medo, an- às interferências que surgem no meio do mos conta de que esse mesmo futuro que
siedade, frustração, entre muitas outras. caminho e nem tentam ir além por medo tememos já está sendo criado, porém, por
Por isso, independentemente do estado de errar, de não serem aceitas ou de sim- outras mãos: as mãos do medo.
atual, nos primeiros meses do ano é pre- plesmente não dar certo. Para alcançar as metas, sejam pesso-
ciso diminuir e reorganizar a mente para AISOUPROlSSIONAISEDEIXARDELADOTUDO
vivenciar tudo de maravilhoso que a vida ANTES DE aquilo que nos aborrece e não nos serve
pode oferecer. mais, precisamos desmascarar as falsas
PROMOVER UMA
É comum nesse período desenhar- seguranças que os hábitos nos propiciam,
mos planos e projetos para os próximos TRANSFORMAÇÃO, É e sobre as quais constantemente constru-
meses, agregando diversas promessas e NECESSÁRIO FAZER ímos a vida. Para realizar uma mudança,
já sonhando com os resultados. Conse- precisamos morrer metaforicamente para
guimos até visualizar como será quando
UMA VERDADEIRA o que já não faz sentido no momento. É
aquele objetivo for alcançado, sentir a feli- AUTOAVALIAÇÃO, como a metamorfose da lagarta. Para se
CIDADEDEQUANDOlNALMENTECUMPRIRMOS CONSIDERANDO transformar em borboleta, ela desaparece
com tais promessas e até ouvir todas as e “morre” para aquela identidade que não
palavras de incentivo e conforto como se ALGUNS ASPECTOS terá mais propósito dali em diante.
fossem trilha sonora de nossas vidas. Mas QUE VÃO GUIAR AS Antes de promover uma transforma-
qual o verdadeiro saldo dos resultados ção, é necessário fazer uma verdadeira au-
NOSSAS AÇÕES E
dessas promessas depois dos primeiros toavaliação, considerando alguns aspectos
meses do ano? DECISÕES DURANTE que vão guiar as nossas ações e decisões
Todos os sonhos tomam conta dos O ANO COMPLETO durante o ano.
nossos pensamentos, mas muitas vezes Estar consciente de onde se encontra
lCAMOSPRESOSNOhCOMOSERIASEvEDEI- A sensação é de que há um grande no momento e para onde se deseja ir é
xamos todos os objetivos guardados em abismo entre onde se está e o lugar que se UMA DELAS !UTOAVALIA¥ÎO E IDENTIlCA¥ÎO
uma gaveta esperando o momento certo quer chegar. Parece que sempre há mais das próprias competências, qualidades,
de serem realizados. Desse modo, não vi- problemas do que soluções e que surgirão experiências e potencialidades são im-
vemos a vida em plenitude, já que permi- mais obstáculos do que caminhos livres. portantes, assim como os pontos fracos a
timos que as desculpas e os medos falem Daí, então, deixamos o medo e outras SEREM MELHORADOS ¡ IMPORTANTE REmETIR
r
laze dinheiro
bebê
neg
ó ci o
s
bebê
ento
s am
ca
ainda sobre as motivações e os valores nho e manter a resiliência necessária para Comece hoje mesmo! Não precisa
mais importantes da sua vida. Analise a alcançar aquilo que tanto desejamos. esperar outro ano iniciar para colocar os
situação de partida e a possível evolução .ADAÏMAISDESAlADORDOQUEVIVERDE PLANOS E OBJETIVOS EM PRÉTICA !lNAL A
e desenhe detalhadamente como irá che- acordo com nossos sonhos, assim como vida tem que ser vivida todos os dias e não
gar ao estado desejado e o que precisa ser nada é tão emocionante que criar objeti- apenas nos primeiros meses de um novo
feito para isso. Ou seja, tenha claro quais vos no pensamento, antecipando-se ao fu- ano. Colher os melhores resultados sem-
serão as suas estratégias, o plano de ação, turo. Nessa busca pelo sucesso e do que o pre é uma tarefa constante e prazerosa.
AEXECU¥ÎOEAFORMADEVERIlCARSEOSRE- faz feliz, recorde-se sempre de que há mo- E lembre-se: sonhos e metas nunca
sultados estão de acordo com cada etapa mentos na vida em que nós também preci- deixarão de existir, pois eles são combustí-
DESENHADA4ERUMPRAZOPARAAlNALIZA- samos “morrer” para o velho e viver o que vel para a vida. Portanto, tenha em mente
ção do processo é importante para que o escolhemos. Somos capazes de decidir que a busca pela realização é constante e
compromisso seja assumido, e ele deve ser sobre pontos limitantes para transformar periódica, por isso não atrase nem deixe
real, ou seja, possível de ser alcançado. tudo o que ousamos sonhar em realidade. para trás aquilo que pode realizar hoje.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ACERVO PESSOAL
Um Fio de Silêncio
Autora: Daisy Justus
Editora: 7 Letras
Número de páginas: 80
rigor na comunicação.
Para o AVANÇO
e a COMPREENSÃO
O debate sobre as síndromes
presentes no ambiente social e escolar,
em pleno século XXI, causam dificuldades
de diagnósticos e entendimento de
sintomas e comportamentos
SHUTTERSTOCK
Identidades PLURAIS
Síndromes de Christ-Siemens-Touraine, Marshall,
Waardenburg, Down e Noonan apresentam certas
características similares, mas ainda despertam estranhamento
e desconhecimento nos profissionais de saúde e educação
Por Marlinda Gomes Ferrari, Rogério Drago, Camila Reis dos Santos,
Michell Pedruzzi Mendes Araújo e Lívia Vares da Silveira
E
ste dossiê traz alguns estu- -Siemens-Touraine, Marshall, Wa- uns com os outros do que com seus
dos que têm sido desenvol- ardenburg, Down e Noonan. São próprios irmãos.
vidos pelo Gepei – Grupo artigos breves, que trazem descri- A herança genética dessa síndro-
de Estudos e Pesquisas ções acerca das síndromes em ques- me está relacionada a um gene reces-
em Educação e Inclusão, vinculado tão, além de outras informações que sivo ligado ao cromossomo X (70%
à linha de pesquisa de Diversidade podem ser úteis para o planejamen- dos casos) ou proveniente de uma mu-
e Práticas Educacionais Inclusivas, to da ação pedagógica de sujeitos tação nova nesse cromossomo (30%
do Programa de Pós-Graduação em concretos, já que tais estudos são dos casos). No caso de herança gené-
Educação da Universidade Federal fruto de pesquisas maiores (Drago, tica, como as mulheres possuem dois
do Espírito Santo, que tratam de su- 2013a, 2013b, 2014), que são desen- cromossomos X (cariótipo 46, XX),
jeitos diagnosticados por síndromes, volvidas pelo grupo junto a crian- ela pode ser apenas portadora do gene
às vezes raras, outras vezes nem tan- ças e adolescentes matriculados nas alterado em um de seus cromossomos,
to, mas que se presentificam no am- escolas comuns da educação básica ou seja, ser heterozigotas para o gene e
biente social e escolar e que, em pleno dos diferentes municípios do estado não desenvolver a patologia.
século XXI, ainda causam estranha- do Espírito Santo. Segundo Visinoni (2009), cerca de
mento e desconhecimento por parte 70% das mulheres heterozigotas podem
de profissionais das mais diferentes Síndrome rara manifestar sinais brandos da síndrome,
áreas e do público em geral.
O objetivo deste dossiê é apre-
sentar ao leitor artigos focando
A síndrome de Christ-Siemens-
-Touraine ou displasia ecto-
dérmica hipoidrótica ligada ao
tais como ausência de alguns dentes e
atividade sudorípara levemente dimi-
nuída. Porém, os homens, por terem
síndromes com diferenças feno- cromossomo X é uma síndrome ge- apenas um cromossomo X (cariótipo
típicas e genotípicas, mas que se nética rara, com incidência de um 46, XY), se esse X tiver a alteração gené-
assemelham no sentido de trazer em cada cem mil meninos nascidos. tica, desenvolverão a patologia. Como
para o debate a existência de sujei- Geralmente não afeta o desenvol- o cromossomo X masculino é sempre
tos únicos revestidos da pluralidade vimento intelectual e psicomotor. de origem materna, no caso de herança
identitária, que é subjetivada a par- Pessoas acometidas pela síndrome genética, o gene alterado é transmiti-
tir do diagnóstico. Nesse sentido, de Christ-Siemens-Touraine têm do pela mãe portadora do mesmo para
trazemos as síndromes de Christ- aparência típica e se parecem mais seus filhos do gênero masculino.
Nesse contexto, cabe trazer à tona
Marlinda Gomes Ferrari é licenciada em Pedagogia, mestre e doutoranda em Educação pelo PPGE/CE/UFES.
algumas definições do site da Funda-
Rogério Drago é autor do livro Síndromes: Conhecer, Planejar e Incluir (Wak). Licenciado em Educação, é mestre ção Nacional de Displasias Ectodér-
pelo PPGE/CE/UFES, doutor pela PUC-Rio e pós-doutor em Educação pelo PPGE/CE/UFES. micas (NFED), que tem por objetivo
Camila Reis dos Santos é bióloga e licenciada em Pedagogia. Mestre em Educação pelo PPGE/CE/UFES e pesquisar, informar e conectar pessoas
doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal-PPGBV-UFES. acometidas por displasias ectodérmi-
Michell Pedruzzi Mendes Araújo é biólogo, mestre em Educação pelo PPGE/CE/UFES e doutorando do cas. No site, é destacado que o corpo é
Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal-PPGBV-UFES.
formado por bilhões de células, sendo
Lívia Vares da Silveira é licenciada em Pedagogia e mestre em Educação pelo PPGE/CE/UFES.
que cada célula tem em seu interior uma
zer ao debate a fala de Vasconcelos homem pela notação 46, XY (p.13). relacionadas com os genes – entidades
Tratamento
O tratamento dos sujeitos com
síndrome de CST é puramente
paliativo e tem por objetivo fornecer
uma melhoria nas condições de vida,
aumentando o conforto e a autoesti-
ma. Portanto, é recomendado con-
São os cromossomos que transportam as informações trolar a temperatura corporal através
de banhos frios, compressas frias,
\IG
GI\G¢ÔGGGI\G¢G: bebidas geladas, ambientes refrigera-
Nesse sentido, qualquer alteração no número de dos, uso de roupas leves e evitar es-
forço físico. Além disso, é importante
cromossomos ou na sequência de seus genes, o acompanhamento de uma equipe
durante a meiose, produz uma inviabilidade celular multidisciplinar que inclua: pediatra,
geneticista, dermatologista, odontólo-
genéticas responsáveis pela heredita- orelhas grandes; pele fina, lisa, seca e go, psicólogo e pedagogo.
riedade. As principais características ocasionalmente podem ocorrer áreas Os indivíduos com hipodontias
fenotípicas (aspecto físico, exterior) com alteração de pigmentação; perda graves poderão ser submetidos a tra-
do indivíduo com a síndrome de auditiva pode ocorrer raramente; foto- tamentos protéticos, para aumentar
Christ-Siemens-Touraine são: ausên- fobia; desenvolvimento defeituoso ou
cia ou defeitos nos dentes; sudorese incompleto dos ductos lacrimais; dis-
ausente ou diminuída, resultando trofia da córnea; diminuição da fun-
em intolerância ao calor, sendo que a ção das glândulas lacrimais.
capacidade reduzida de transpiração O diagnóstico deve ser suspeitado
resulta em hipertermia e os pacientes diante da descamação ao nascimento
manifestam febre intermitente, em es- e/ou uma febre recorrente de origem
pecial durante o clima quente e após desconhecida logo no primeiro ano
exercícios ou refeições; ausência ou
escassez capilar e corporal. Os cabe-
de vida. A incapacidade de transpirar
na intolerância ao calor pode causar
Características secundárias
Algumas características secundárias
los são finos, esparsos, secos e pouco incapacitação severa e febre alta acima da síndrome de Marshall incluem pele
pigmentados. Curiosamente, a barba e de 40º C após um pequeno esforço ou flexível, unhas em forma de “colher”,
bigode são normais, apesar de os pelos mesmo durante a alimentação. A fe- esclera (tecido fibroso externo que re-
pubianos e da axila serem escassos. bre também pode causar convulsões, veste o globo ocular, conhecido como
Geralmente, as unhas são normais, podendo resultar em danos neuro- branco do olho) azul, idade óssea ace-
mas podem ocorrer distrofia (unhas lógicos. A biópsia da pele fetal com o lerada, tórax estreito, escoliose, testa
defeituosas) ou ausência ao nascimen- uso de fetoscópio e a ultrassonografia proeminente, problemas respiratórios,
dificuldades na alimentação, arco pala-
to, podendo ser frágeis ou quebradiças. 3D podem ser instrumentos úteis na
tino elevado, falanges médias das mãos
A pessoa pode ter também lábios gros- detecção da síndrome de um embrião
anormais, pés longos, calcanhares pro-
sos, proeminentes; ponte nasal baixa; ainda na fase intrauterina. eminentes, retardo psicomotor, retardo
nariz em sela1 com base achatada; ru- no crescimento, orelhas pequenas.
gas ao redor dos olhos, nariz e boca; 1
Destruição maciça do tecido nasal.
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dossiê
Estudos
de CASOS
esclarecem
DÚVIDAS
Algumas síndromes, conhecidas por serem
doenças genéticas, são mais comuns do
que a maioria das pessoas acha e, aos
poucos, vão sendo desvendadas por
intermédio de pesquisas teóricas e práticas
Por Euluze Rodrigues da Costa Junior, Josué Rego da Silva, Michelli Drago,
Rogério Drago, Aline de Melos Catrinck, Eduardo Lopes da Cunha e Raíssa
dos Santos Prado, Dirlan de Oliveira Machado, Israel Rocha Dias
P
ensar sobre a síndrome de os familiares. A motivação pela te- – PPGE da Universidade Federal do
Waardenburg não é uma mática foi potencializada a partir do Espírito Santo – UFES.
novidade para os autores contato com outros pesquisadores A partir dos estudos de Martins,
deste artigo. O interesse da linha de Diversidade e Práticas Yoshimoto e Freitas (2003), Barzotto
havia surgido a partir da observação Educacionais Inclusivas, do Progra- e Folador (2004) e Araújo, Araújo e
de traços comuns da síndrome entre ma de Pós-Graduação em Educação Gonring (2014), a síndrome de Wa-
ardenburg foi descrita inicialmente
Euluze Rodrigues da Costa Junior é mestre em Educação (UFES), professor assistente do pelo oftalmologista e geneticista ho-
Departamento de Linguagens, Cultura e Educação da Universidade Federal do Espírito Santo landês P. J. Waardenburg no ano de
(DLCE/UFES).
1951. A síndrome de Waardenburg é
Josué Rego da Silva é mestrando em Educação (PPGE/UFES) e graduado em Letras-Libras. É bolsista
Capes/DS.
uma doença de incidência genética,
Michelli Drago é especialista em Educação Especial Inclusiva, graduada em Educação Física e professora
de herança autossômica de penetrân-
de Educação Física na Prefeitura Municipal de Vitória. cia e expressividade variada, e pode
Rogério Drago é licenciado em Educação, mestre em Educação pelo PPGE/CE/UFES, doutor em representar cerca de 3% das causas de
Educação pela PUC-Rio e pós-doutor em Educação pelo PPGE/UFES. surdez em crianças. Ainda segundo os
Aline de Melos Catrinck, Eduardo Lopes da Cunha e Raíssa dos Santos Prado são licenciados em estudos, os sinais clínicos são repre-
Pedagogia pela UFES.
sentados pela heterocromia total ou
Dirlan de Oliveira Machado é mestre em Educação pelo PPGE/CE/UFES, especialista em Artes,
Gestão Escolar e Alfabetização e Letramento. Licenciada em Pedagogia, professora de Educação parcial da íris; mecha branca frontal de
Especial no município de Viana e professora de Ações Inclusivas no município de Cariacica, ambos cabelo; surdez profunda unilateral ou
no Espírito Santo. bilateral; entre outras.
Israel Rocha Dias é mestre em Educação pelo PPGE/CE/UFES, licenciado em Pedagogia, professor do Segundo Barzotto e Folador
Atendimento Educacional Especializado e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ambos no município
de Serra, no Espírito Santo. (2004), a origem genética é respon-
sável por cerca de 50% de indivíduos
Para Martins, Yoshimoto e Frei- é importante lembrar que os estudos com Carlos, apenas ele e sua mãe têm
tas (2003), a deficiência auditiva ou a pioneiros sobre essa síndrome, em surdez profunda. O entrevistado re-
Mais comum
/GGGI
GG^
1GG
HGIGG
IGI
G
G
IGG
O s pesquisadores que produ-
ziram este artigo, criaram es-
tudos, como Thompson (2008) e
Castro e Ferrari (2013), para abordar
A origem genética é responsável por cerca de 50% a síndrome de Down, considerada
como o acidente cromossômico mais
^
I
IÈIGG
G
G: comum e conhecido, com frequên-
*
^
GG
IÈIG cia de um caso para cada 800 nasci-
mentos. Essa incidência elevada tem
auditiva isolada quanto o somatório de outras forte relação com a idade materna,
características da síndrome em órgãos diversos acometendo com maior frequência
mulheres com 35 anos de idade ou
lata que, segundo seus pais, a surdez naquela época e, a partir do diagnós- mais (Thompson, 2008).
nunca foi preocupação durante a sua tico, confirmaram a surdez. Ainda segundo estudos, a proba-
gestação, e quando completou nove Desde a infância, Carlos frequen- bilidade de ocorrência de uma ges-
meses de idade descobriram que ele tou espaços da comunidade surda tação de um bebê com síndrome de
era surdo. Procuraram um médico onde a comunicação ocorria por meio Down para uma mulher de 20 anos se
dá em torno de 1 caso para 1.600 nas-
PARA SABER MAIS cimentos, enquanto para uma mulher
de 35 a frequência é de 1 para cada
MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO DA 370 (Griffths apud Castro; Ferrari,
SÍNDROME DE DOWN 2013). Esses mesmos autores apon-
tam, ainda, que apesar do risco subir
O diagnóstico confirmatório da síndrome de Down é feito logo após o nasci-
mento do bebê, por meio do exame chamado cariótipo. No entanto, exis-
tem outras técnicas, que são chamadas de métodos invasivos e métodos não
gradativamente após os 30 anos de
idade, tem aumentado o número de
invasivos. Os principais métodos invasivos são a amniocentese1 e a biópsia do casos em mães mais jovens, porém a
vilo corial2, que tem por finalidade analisar o líquido amniótico e uma amostra da causa ainda é desconhecida.
placenta. Segundo Castro e Ferrari (2013), esses métodos são confirmatórios, Essa síndrome foi descrita pri-
no entanto são dolorosos e oferecem risco de aborto em torno de 1%. Entre os meiramente pelo médico inglês
métodos não invasivos destaca-se a análise da translucência nucal pelos exames John Langdon Down em 1866. Po-
ultrassonográficos, nos quais é possível detectar alguma anormalidade. Por meio rém, apenas em 1959 o geneticista
do ultrassom morfológico, por exemplo, podem-se observar os marcadores francês Jérôme Lejeune verificou
anatômicos do osso nasal, que são diferentes em um bebê com síndrome de que a causa da síndrome de Down
Down. Esses tipos de exame não oferecem risco, contudo não podem ser usa- era genética, “sendo resultado de
dos como métodos confirmatórios, mas apenas como marcadores de risco. uma alteração tipo numérica, que
GG\GGIG
^
G`I^
GHGHGGGG
GP:
1 ocorre durante a divisão celular do
GIGG
IGHG
P:
2
embrião ou durante a formação dos
44 psique ciência&vida
Síndromes e distúrbios genéticos
IG^
1GG
H
a partir de outras redes de interdependência,
primeiramente é importante lembrar que os estudos
pioneiros sobre essa síndrome, em meados do
século XX, focalizavam pressupostos clínicos
Cromossomos geralmente com uma prega transver- com a síndrome possui característi-
Normalmente, nas células da espécie
humana existem 46 cromossomos di-
sa palmar única; os pés apresentam cas que se assemelham ao Alzhiemer.
vididos em 23 pares. Porém, em 95% maior separação entre o hálux e o E Mello (apud Castro; Ferrari, 2013,
dos indivíduos com a síndrome de segundo dedo; hipotonia muscular; p. 222-223) ressalta que: “[...] aparen-
Down encontram-se em suas célu- alterações visuais e auditivas. temente, o Alzheimer não se origina
las 47 cromossomos divididos em 23 No que tange ao desenvolvi- a partir de determinado período da
pares, estando o cromossomo extra mento cognitivo dos indivíduos com vida desses indivíduos, mas, sim, al-
ligado ao par 21, o que se chama de síndrome de Down, Bissoto (2005) terações histológicas semelhantes às
trissomia livre. apresenta algumas concepções que encontradas no mal de Alzheimer [...]
relacionam o declínio das capacida- culminando na manifestação de de-
gametas dos seus genitores” (Cas- des referentes à linguagem e de es- mência em uma idade mais avançada.
tro; Ferrari, 2013, p. 218). quemas motores ao atingir a adoles- Essa tese é reforçada pelo fato de que
Os estudos destacam também cência e a possibilidade mais elevada genes importantes para a patogenici-
que, além da trissomia do cromos- de tais indivíduos desenvolverem o dade da doença de Alzheimer estão
somo 21 existe a síndrome de Down mal de Alzheimer, ressaltando resul- localizados no cromossomo 21.
Mosaico, que atinge cerca de 2% dos tados obtidos por meio de pesquisas Algumas questões ainda valem
indivíduos e é detectada por meio do de Devenny e colaboradores (1992, ser ressaltadas, considerando de-
exame cariótipo, que mediante uma apud Bissoto, 2005) que “não reve- terminadas características que são
amostra de mistura de células é en- laram achados significativos a apoiar postas como sendo próprias do su-
contrada uma porcentagem das célu- a hipótese de correlação entre en- jeito com síndrome de Down, como
las com a trissomia do 21 e outra por- velhecimento e decréscimo das fa- por exemplo a sexualidade aflorada
centagem sem a trissomia. E, ainda, culdades cognitivas dos portadores e a afetuosidade. Muitas vezes essa
as translocações, que ocorrem em 3% de síndrome de Down” (p. 82). No correlação ocorre por não haver um
a 4% dos casos e ocorre quando a có- entanto, Mello (apud Castro; Ferra- conhecimento mais amplo acerca da
pia do cromossomo 21 é translocada ri, 2013) afirma que a demência que síndrome, ou até mesmo por não con-
para outro cromossomo, geralmente geralmente se manifesta em adultos siderar outras possibilidades, sejam
os de números 14, 21 ou 22. elas do ccontexto social ou biológico
As principais características
cas des- indivíduo, o que acaba por ser mis-
do indiví
sa síndrome são: déficit cognitivo,
ognitivo, tificado ccomo tal.
que varia de acordo com os estímu- A sexualidade
sex aflorada é um dis-
los utilizados a fim de potencializar
ializar o túrbio sesexual e não tem relação com
desenvolvimento dos indivíduos uos que o déficit cognitivo. A afetuosidade
apresentam a síndrome; vulnerabili-
nerabili- relacionada com a consideração
está relac
dade maior a algumas doenças, as, como de que ttais sujeitos são mentalmen-
cardiopatias e problemas respirató-
espirató- te crianças.
crianç Vale salientar que essas
rios; baixa estatura; olhos amendoa-
mendoa- características podem ser atenuadas
caracterí
dos com a presença das manchasnchas de dependendo do modo como são sig-
dependen
Brushfield na íris; ponte nasal
3
al baixa; nificadas (ou não) no contexto social
pescoço curto; mãos curtas e largas,
IMAGENS: 123RF/SHUTTERSTOCK
^
1GG
H\G
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I
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IIGGI^IGG
a uma agregação de um elemento normal IIG
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I
: em crianças
A síndrome de Down foi descrita primeiramente grande; nariz bulboso e a ponta nasal
achatada e a base alargada. Na fase
\
IÈ%'G
escolar, a face parece grotesca ou fá-
<CAA:+\9GG<D@DIG cies miopáticas5, e o contorno facial
torna-se triangular.
GIÈ%\Ï'
IGIGG No período da adolescência e no
da síndrome de Down era genética adulto jovem: os olhos tornam-se me-
nos proeminentes; o nariz mais fino,
(macro) e no contexto escolar (mi- em 1963, baseados em nove pacien- com a ponta nasal mais alta; o pescoço
cro). Pode-se ressaltar que o ser hu- tes de ambos os sexos, definiram é alado ou com trapézios proeminen-
mano tem possibilidades infindáveis uma nova condição, distinta da sín- tes. Na fase adulta: as pregas nasola-
e a síndrome de Down e suas caracte- drome de Turner, que mais tarde biais6 são proeminentes; a implemen-
rísticas precisam ser entendidas pelo veio a receber o epônimo síndrome tação de cabelo na fronte é alta; a pele
viés social, sem desmerecer o viés bio- de Noonan. Caracteriza-se por baixa torna-se enrugada e transparente.
lógico. Porém, o segundo não pode estatura, defeito cardíaco, pescoço Ao nascer, o comprimento mé-
ser impeditivo do primeiro. curto ou alado, deformidade toráci- dio do bebê é de 47 cm e o peso é em
ca, fácies características com hiper- geral normal em 40% dos afetados
Herança dominante telorismo 4 e deficiência intelectual pela síndrome de Noonan. Durante
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II:
visuais e auditivas Idd¤¤:I:H¤G¤GH¤@=@¤<=:
Acabou a
faculdade,
E AGORA?
A BUSCA PELA PRIMEIRA
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pós investir de quatro a cinco ENORMES LISTAS INlNDÉVEIS DE CERTIlCA-
anos nos bancos de uma fa- DOSQUEMUITASVEZESNÎOPOSSUEMADE-
CULDADEOPROlSSIONALDEVERIA rência com o cargo em questão.
estar pronto para entrar no ! EXPERIÐNCIA CONTA CLARO MAS Ï
mercado de trabalho. Mas a realidade é a capacidade de administração emo- mesmo que elas estejam distantes de
BEM DIFERENTE POIS O MERCADO ESCASSO cional que vai fazer toda diferença no suas moradias. É um grande erro pen-
PELAATUALCRISEAINDAEXIGEEXPERIÐNCIA lNAL$ESDECEDODEVE
SEBUSCARINVES- sar que poderá se acostumar aos longos
ou oferta de estágios com baixa ou ne- tir nessa área de crescimento pessoal. trajetos e ao desperdício de horas todos
nhuma remuneração. A inteligência emocional aliada à ca- os dias dentro dos transportes públicos
O Brasil está começando agora a pacidade de se comunicar claramente LOTADOS!OlNALOTRABALHOPODERÉlCAR
entrar na tendência mundial de prepa- TORNAM ATÏ MESMO O CANDIDATO COM insuportável apenas porque esse item
RARUMGRANDEQUANTITATIVODEPROlSSIO- MENOR EXPERIÐNCIA UMA BOA AQUISI¥ÎO não foi computado com sua real impor-
nais de nível tecnólogo para dar veloci- para as empresas. tância. Sempre que fazemos processo
dade à entrada no mercado de trabalho Excelente estratégia para uma carrei- de recrutamento e seleção alertamos os
de uma nova geração de trabalhadores. ra promissora é buscar estágios o mais candidatos para a possibilidade de esgo-
O que mais impulsiona as pessoas nessa cedo possível. Muitas pessoas deixam tamento físico e mental que isso pode
direção é o curto tempo de formação PARAOlNALDOCURSOMASISSOPODERE- acarretar e na possível perda de rendi-
E ALIADO A ISSO OS SALÉRIOS CRESCENTES tardar ainda mais a formação e principal- mento na instituição.
dessa categoria. mente o aprendizado prático. Além de ser É importante ter critérios e analisar
Algumas ações podem ser úteis para uma forma de criar networkingUMAREDE bem as empresas para as quais se preten-
um bom começo na área de interesse. de contatos sólida dentro do seu ambien- DEMANDAROCURRÓCULO(OJEPELAINTER-
4ER UM CURRÓCULO BEM ELABORADO POR TEPROlSSIONALQUEPODESERÞTILNOFUTURO NETÏPOSSÓVELDESCOBRIRMUITACOISASO-
EXEMPLO SEJA VIRTUAL OU NÎO Ï A PRI- Um detalhe importante que os ini- bre as relações das empresas com os seus
meira impressão que o candidato deixa CIANTESNOUNIVERSOPROlSSIONALIGNORAM funcionários. Uma dica é acessar o site do
e pode abrir portas para uma entrevista ÏADIlCULDADEDAMOBILIDADEURBANAE Tribunal da Justiça do Trabalho do Esta-
pessoal. Os departamentos de RH dão QUASE SEMPRE BUSCAM COLOCA¥ÜES EM do que deseja e procurar pelo nome da
mais valor para a desenvoltura do que EMPRESASQUEOFERECEMMAIORESSALÉRIOS empresa. Se houver muitas ocorrências
on-line
forma s” e “envia r fotos erótica s não
é necessa ria mente prova de a mor”.
Esse último é um relato constante
em consultório, principa lmente da s
mulheres. Em vários momentos ouço
OS MODELOS DE EXPRESSÃO DA que é prova de a mor envia r esse tipo
SEXUALIDADE SOFRERAM ALTERAÇÕES de fotos pa ra o pa rceiro. Outra s men-
ciona m que se sentia m pressionada s
SIGNIFICATIVAS AO LONGO DAS ÚLTIMAS a isso. Por f im, já me foi narrado um
DÉCADAS, PRINCIPALMENTE NO QUE SE evento em que a paciente necessitou
enviar fotos íntima s para o parceiro,
REFERE AO CONCEITO DE “EXPLÍCITO” quando este estava viajando, para
que ele não a traísse.
T
empos atrás seria impensá- tipo de comportamento está atrelado Segundo tópico é a objetif icação:
vel termos revista s, websi- a diversos danos emocionais a quem ainda existe uma cultura (doentia)
tes, f ilmes, livros e debates sofre essa retaliação, desde sintoma- predomina nte de que a s mulheres são
acalorados sobre sexo e tologia condizente com transtorno vista s como objeto e o envio de fotos
suas vertentes. Essa é uma conquis- depressivo maior até casos de suicí- permite que diversos pa rceiros(a s) a s
ta de muitos anos de lutas, dores e dio. Dessa forma, de maneira direti- utilizem como troféus, mostra ndo-a s
de diversa s causa s, desde a igua ldade va , comento a lguns tópicos que po- para terceiros (esses relatos costu-
entre homens e mulheres até a liber- dem ajuda r no cuidado pa ra que esse mam ser feitos por pacientes do sexo
tação sexua l. Porém, como toda s a s tipo de experiência não ocorra com masculino). Combatendo esse ponto,
mudanças, essa também está inseri- você, leitor(a), ou com pacientes que perspectivas do campo da Psicologia
da, no século XXI, no campo da tec- na rra m essa dema nda. demonstra m que envia r fotos íntima s
nologia e, como esperado, a lguma s O primeiro ponto: verif ique seus pode estar relacionado a diversos
características negativas surgiram. pensamentos de permissão. Co- problema s psicológicos, dentre eles
Um tema que passou a ter maior mumente os pacientes mencionam
visibilidade na ciberpsicologia, que que enviar fotos íntima s para o(a)
relaciona a sexualidade negativa- pa rceiro(a) não irá gera r consequên- NO CAMPO DA
mente ao uso de aparelhos eletrôni- cia s, o que é um enga no em vários LEGISLAÇÃO AINDA
cos, é o chamado revenge porn, que casos. Na verdade, existem diversos
tipos de problemática s relacionada s
EXISTEM LACUNAS
pode ser compreendido como o ato
de utilizar fotos íntima s como um a esse comportamento, como o ris- SOBRE A PUNIÇÃO
recurso para realizar chantagens ou co de inva são de hackers que possa m DE QUEM TEM
punições, com o conhecimento ou utilizar essa s fotos para f ins negati-
não do outro. Um exemplo comum vos, assaltos (permitir ao infrator ter
A CONDUTA DO
é um relacionamento entre jovens acesso ao ba nco de dados do celula r), CHAMADO REVENGE
em que, após a ruptura , o pa rceiro enviar de forma incorreta fotos para PORN, CONSIDERADO
ou parceira ameaça divulgar fotos grupos de Whatsapp (ca sos de vídeos
eróticas do outro na internet caso a e fotos que caem em grupos da fa- UM TIPO DE
relação de fato seja f inalizada. Esse mília desse aplicativo não são raros) ABUSO SEXUAL
50 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
prejuízos signif icativos na autoesti- buem são diversos, desde a dif iculda- nos relacionamentos, a ascensão da
ma, dif iculdades sexuais, transtorno de de compreender o assunto como cibercultura e a liberação da sexu-
depressivo maior e transtornos de a minimização dos danos do revenge alidade são realidades, porém toda
ansiedade. Um tópico secundário à porn. Apesar de ser um tema ainda essa alteração social deve e pode ser
objetif icação é o julgamento: a mu- emergente, mas que, como dito, já vivenciada com poucos riscos à in-
lher comumente é relatada como a entrou no campo da discussão da Psi- tegridade emocional dos envolvidos.
culpada. Em relação a esse terceiro cologia, é inegável verif icar os inú- Como psicoterapeuta, meu posicio-
aspecto, é verif icado que, infeliz- meros impactos que ele traz à vítima. namento é de não estimular o envio
mente, ainda existe um abismo para A principal estratégia, até então, é a de fotos íntimas, mesmo que esteja-
que esse tipo de avaliação machista prevenção. As atuais conf igurações mos suscetíveis a isso.
seja modif icado, porém, em diver-
sos veículos de comunicação e nos Referências:
relatos de pacientes em consultório, HAKALA, P.; RIMPELA, A.; SALMINEN, J.; VIRTANEN, S. M.; RIMPELA, M. Back, neck, and shoulder pain
G
IdGGIIG:British Medical Journal9:>=@9=;;=:
existe uma sincronia nessa informa-
# ''-. (9:e)$'--*)9&:1:e' ++ .9%:e-'/)9: IG
IG
ção: a mulher foi quem errou em en- G
9IG9G
IGI:Upslada Journal
viar as fotos, o homem não. of Medical Sciences,:<=;9:?9=;<@:
Aspectos legais: um site intitu- %( -*)9 :e. 0 )9%:e-1$)9): IIGGG
GI:Pain Research and
lado endrevengeporn.org tem como Management9:<A9:<9=;<<:
proposta gerar campanhas para a TORSHEIM, R.; ERIKSSON, L.; SCHNOHR, C. W.; HANSEN, F.; BJARNASON, T.; VALIMAA, R. Screen-
criminalização do revenge porn, que é HG
GIG
IGIGGG
I)
II:BMC
Public Health9:<;9=;<;:
considerado um tipo de abuso sexual.
IMAGENS: 123RF/ACERVO PESSOAL
DIVERGENTE:
pensando fora da caixa
VALORIZAÇÃO DO FOCO E DESEMPENHO EM ATIVIDADES
QUE REQUEREM PENSAMENTO ANALÍTICO LEVAM
AO CONTROLE METACOGNITIVO DO PENSAMENTO
E
stamos vivendo tempos de foco ness”. Essa ironia sobre uma versão pop cérebro se adapta ao treinamento da
executivo na tarefa, com uma da meditação mindfullness revela uma capacidade de focar a atenção, e gen-
valorização de tudo que possa CRÓTICA AO ENTENDIMENTO SUPERlCIAL DA tilmente afastar pensamentos intrusos.
aumentar nosso desempenho população, induzido pelo enfoque ba- Se treinarmos um determinado circui-
no trabalho ou no estudo. O resgate nalizador da mídia, sobre os conceitos to cerebral, as conexões se fortalecem,
da prática milenar da meditação do fundamentais dessa rica vertente, e e a cada prática melhoramos o de-
tipo mindfullness atinge níveis de po- não à meditação em si. De fato, exis- sempenho naquelas funções. Fazendo
pularidade tão grande que já circulam tem muitos benefícios na prática desse uma analogia com o sistema muscular,
brincadeiras, como as contidas no jogo tipo de meditação, e diversos estudos da mesma forma que aumentamos o
de palavras da expressão “macmindfull- de Neurociências mostraram que o NÞMERO DE lBRAS MUSCULARES OU SUA
EM TEMPO DE
TRATAR
Problemas alimentares na
infância são preocupação
mundial e passaram a ser mais
pesquisados e publicados
entre pediatras e psicanalistas
Por Flávia Machado Seidinger Leibovitz
54 psique ciência&vida
SHUTTERSTOCK
B
ulimia e anorexia nervo- adultos. Para melhor compreensão, se-
sa, transtornos alimenta- guiremos utilizando aqui a nomencla-
res e transtornos da ali- tura anterior que os diferencia.
mentação são nomes que O que hoje se conhece por trans-
circulam na mídia com tornos alimentares corresponde a um
frequência no século XXI. Nunca é de- grupo de diagnósticos de transtornos
mais advertir sobre a seriedade com a mentais ligados ao comportamento,
qual merecem ser encarados. O comer sobretudo o comportamento alimen-
“desordenado” na infância era descrito tar, podendo incluir prática excessiva Prejuízo Psicossocial
no Brasil pela tradução de Feeding Di- de atividade física e outras variantes do Os transtornos alimentares são os
sorders, em nosso idioma transtornos comportamento de controle obsessivo transtornos mentais de maior morbida-
da alimentação, nomes bastante seme- do peso, como a presença ou não de de e mortalidade, inclusive por suicídio.
lhantes. Na versão corrente do DSM-5, práticas purgativas, variando em cada São considerados os mais graves dentre
os transtornos psiquiátricos. Produzem
o Manual Diagnóstico e Estatístico de diagnóstico/subtipo. Na atualidade importante prejuízo psicossocial e uma
Transtornos Mentais, editado no Brasil são fortemente ligados às questões série de complicações clínicas: odon-
em 2014, os transtornos da alimenta- com a própria imagem, preocupação tológicas, dermatológicas, gástricas,
ção (TdA) (infância) passaram a ser excessiva com o peso, geralmente distúrbios endocrinológicos e cardio-
descritos como parte dos transtornos acompanhado de um saber decidido a patias. Devido à incidência de suicídio
e depressão, estimada em vinte vezes
alimentares (TA) – anteriormente esse respeito – muitas vezes por com- mais alta entre jovens com transtornos
nomenclatura exclusiva para adultos. portamentos aprendidos na internet, alimentares, estes foram considerados
Antes disso os TA em crianças eram ou pela adesão ao polêmico e perigo- como doenças mentais prioritárias pela
considerados um tipo não especifica- síssimo slogan “anorexia como estilo Organização Mundial da Saúde.
do de transtorno, em separado ao dos de vida” – espécie de roleta russa à qual
e perigosa realidade que tem início com a ideia de que se pode controlar seu
cionando-se muito mais ao abastado uso. Porém, encontramos no relato dos que cruzaram a fronteira diagnóstica e
do que ao que falta, e com a excessiva que tarde demais vieram a dar-se conta de que essa lógica havia adquirido vida
preocupação em emagrecer dos pais ou própria, e como um mestre autoritário passado a comandar sua existência.
à restrição de certos alimentos.
58 psique ciência&vida
sumo “24 horas” do capitalismo na era vez mais rápidas que estamos vivendo?
globalizada, na qual o Ideal do corpo O sujeito contemporâneo sofre desse
magro como padrão de beleza, veicula- “desamparo” – o que coincide com o
do associado a status, sucesso, controle, aspecto emocional descrito na psico-
triunfo, contribuindo para a insatisfação logia das anorexias e bulimias: sujeitos
com a imagem corporal, segundo meta- desorientados pelos laços sociais em
nálise de Groesz et al (2002). As teses liquidação são desamparados e pade-
do sociólogo Zigmunt Bauman vão na cem das descompensações do controle,
mesma direção, nas obras Sociedade de acossados pela demanda frenética de Para um bom tratamento
Há consenso na literatura científica em
Consumo e Modernidade Líquida; nes- consumir e descartar, inclusive alimen- afirmar que quanto mais cedo chegar ao
ta, analisa que recaem sobre os ombros tos. O Outro da sociedade de consumo tratamento, melhor efetividade: segundo
do indivíduo responsabilidades que até é a grande mãe que empurra a comida. Schmidt (2015), enquanto 60% a 80%
então pertenciam ao Estado, ou aos re- O termo anorexia mental foi res- dos adolescentes com anorexia nervosa
se recuperam em abordagem que inclui
gimes monárquicos e feudais, resultan- gatado por Lacan por colocar acento
a família, apenas 20% a 30% dos adultos
do no aumento da angústia existencial, no aspecto psíquico e não no aspecto que tiveram a forma mais duradoura da
traduzida em comportamentos com- orgânico do termo médico “nervosa” – doença se restabelecem, mesmo com o
pulsivos a objetos de consumo, inclusi- aliás, ressurgido fortemente em tempos melhor dos tratamentos. Diante da enor-
ve o alimento. Quais as consequências atuais regidos pelo DSM e a Psiquiatria me dificuldade em aceitar tratamento, são
levados por terceiros e tendem a abando-
subjetivas da economia neoliberal nesse Neurobiológica. Lacan dizia que a ano-
ná-lo facilmente. Nossa revisão de litera-
processo? E o declínio da função pater- rexia mental caracterizava-se por um tura encontrou: taxa de abandono de 40%
na, mudanças nas estruturas familiares “voraz apetite de amor”, e nesta não dei- a 60% nos adultos. Entre filhos de pais
e sociais, dentre outras revoluções cada xa de comer, mas “come o nada”; frase separados e em pacientes que apresen-
tam comportamento purgativo há mais
abandono do tratamento, também guar-
O que se costuma referir no main stream dando relação inversa com escolaridade.
Adolescentes e crianças têm melhor ade-
da literatura psiquiátrica é que a bulimia são, pois os pais obrigatoriamente partici-
pam. Seidinger-Leibovitz (2016)
teria sido descrita somente um século
depois. No entanto, há registros médicos
de impacto que suscitou debates teóri-
do quadro da bulimia bem mais antigos cos, importando destacar seu ponto de
verdade: por mais que recuse o alimen-
to no seu jogo para inverter a relação de
poder e controle, o sujeito anoréxico re-
laciona-se excessivamente com esse ob-
jeto, dele alimentando-se em sua sofrida
obsessão diuturna, isto é, relaciona-se
com o mesmo excesso que comanda sua
recusa. Anorexia e bulimia, TA e obesi-
dade: dois lados da mesma moeda, que
possuem em sua raiz um voraz apetite,
tal qual nas adicções.
Na bulimia a
negação dos
riscos é ratificada
pela captura
da imagem de
um corpo “com
peso normal”
como sinônimo
de saúde. Muitas
vezes, as pessoas
com bulimia não
são identificadas
As pessoas que sofrem de transtornos alimentares adotam discursos semelhantes aos adictos ao álcool e
outras drogas, apresentando semelhanças psicológicas
como padecendo
de TA, e o
frequência e marcados por aspectos tando seu pensamento 24 horas por dia mantêm em
psicológicos próprios.Escutamos em – inclusive como principal motivo de
tom pesaroso, cotidianamente, na clí- abandono do tratamento, o que é en-
segredo
nica: “Tarde demais. Queria com isso contrado em estudo qualitativo como
controlar tudo, mas passei a ver que “uma escravidão ao vício” (Seidinger-
era controlada. Fui perdendo autono- -Leibovitz, 2015).
mia e muitas outras coisas”. Discurso
corrente na problemática da adicção Desfazer o mal-entendido
ao álcool e outras drogas, cujo funcio-
namento psíquico se assemelha aos
TA, especialmente à bulimia. Na lite-
A nomenclatura médica interna-
cional ilumina a diferença entre
Eating Disorders – em adolescentes e
ratura científica médica há uma linha adultos; e Feeding Disorders – trans-
de pesquisa que considera TA como tornos da alimentação em crianças;
“comportamento aditivo”. Essa classi- diferença que se esclarece na língua
ficação diferencia-se do que até então inglesa: a declinação passiva do verbo
se conhecia por adicção. Os addicti- feeding coloca a dependência da crian-
ve behaviour, descritos por Goodman ça em seu ato de “ser alimentado” pelo
em 1990, passaram a ser um grupo de o(O)utro. Assim implica “a relação”
comportamentos com características e supõe, em oposição, adolescentes e
e psicodinâmica específicas, nos quais adultos “autônomos” em sua alimenta-
a noção de adicção extrapola a ideia de ção (Eating); enquanto o ato alimentar
droga enquanto substância e entende do bebê/criança inclui o adulto que
como aspecto principal a “relação adi- lhe apresenta o mundo e é responsável
tiva” com diversos objetos investidos por alimentar a criança, passiva ainda
do caráter “droga” para determinados neste ato (Feeding). A diferença não se
sujeitos, inclusive a comida, seja ela restringe a preciosismos de linguagem,
excessivamente presente – na bulimia
– também excessiva, mas ambivalen-
Curiosamente, o que caracteriza a
temente negada, na anorexia. Parado- bulimia é o “excesso de fome” e não
xalmente, quem recusa o alimento o a prática de vômitos provocados,
mantém no comando de sua vida, habi- como acredita a maioria
do com tais operações de separação do No início do aqui tocados guardam relação com essa
Outro, resultará uma falta, de um lado, forma muito particular de padecimen-
e um objeto, de outro (chamado objeto século XX, to que se encontra na clínica, e que tem
a). Em torno destes se organizarão as surgiu o termo se feito notar fora dela, também nos ou-
pulsões, o circuito de satisfação. Dessa tdoors ou passarelas, pela semelhança
defasagem, dessa falta constitutiva re-
“anorexia mental”, das formas apresentadas na anorexia
sulta o sujeito do inconsciente, como ser depois resgatado na cultura atual sob o Império das Ima-
de linguagem, resultando em diferentes
estruturas psíquicas, por assim dizer.
por Lacan por gens; o que é vez por outra denunciado,
flagrado ou (in)confesso, nos segredos
No complexo interjogo com o colocar acento no da bulimia, já que essa variante não fica
Outro e seu consentimento ou recusa aspecto psíquico evidente no corpo.
da separação do Outro materno se co- Estima-se que a bulimia seja sub-
locam as tentativas de recuperação e e não no aspecto diagnosticada em torno de apenas
perda, o que nos permite compreender orgânico do termo 30% de sua real incidência, e somen-
melhor a dimensão da questão com o te pequena parte busque tratamento.
controle, central nessa clínica. Como o
médico “nervosa” Dentre outras razões, devido ao temor
sujeito, no adolesc(S)er, tem dificulda- por restaurar o peso ou ver-se sem os
des e “inseguranças” em consentir com imagem, em que sempre encontrarão métodos imaginados como eficazes
efetivar essa separação, pode resistir a defeitos, e a ilusão de que a magreza os de emagrecimento e causadores de
tornar-se adulto e vir a fazer-se presa apagaria, resolvendo tais angústias. consequências mortíferas inimagi-
dos circuitos libidinais mais antigos A nós, profissionais da clínica, náveis para tais sujeitos. Na bulimia a
de sua história: orais e anais, especial- cabe cuidar dos equívocos e seus efei- negação dos riscos à saúde é ratificada
mente implicados nos fenômenos ali- tos muitas vezes danosos, legados des- pela captura da imagem do corpo “com
mentares, os métodos de esvaziamento sa confusão, e sempre que possível ze- peso normal”. Assim, a grande maio-
do corpo, tentando murchar um Outro lar por não replicá-la, não perpetuá-la. ria das pessoas com bulimia pode não
muito cheio, do qual são ambivalentes ser identificada como tal mantendo
em separar-se; vacilando em consentir Desafios seu padecimento e comportamentos
com a perda apegam-se ao corpo da in-
fância, e conflitos maiores se deslocam
para o alimento e o problema de sua
M as, afinal, o que isso tem a ver
com os transtornos da alimen-
tação ou alimentares? Todos os pontos
de risco – dentre outros, parada car-
díaca – em segredo. Essas demandas
não se apresentam diretamente, mas
se enredam silenciosamente por meio
de outros comportamentos e queixas.
Escutá-los, saber acolhê-los sem jul-
gar, tratá-los e/ou encaminhá-los são
fundamentais. As dificuldades no re-
lacionamento interpessoal de tais pa-
cientes fazem com que o investimento
dos profissionais na aliança terapêutica
deva ser constante; condição sine qua
non para adesão a tratamento farmaco-
lógico, tendendo a reduzir o abandono
do tratamento clínico como um todo.
O tratamento segundo Guideli-
nes da American Psychiatry Associa-
tion (2006) preconiza em primeiro
lugar ativar a motivação para tratar,
destacando a aliança terapêutica, a
restauração do peso saudável (cresci-
Em adolescentes e adultos a psicoterapia ainda é a primeira conduta a ser indicada, acompanhada de
mento e desenvolvimento em crianças
tratamento com psicofármacos – quando associada a outros sintomas psiquiátricos –, nutrição, terapia e adolescentes), bem como padrões ali-
ocupacional, endocrinologia, a depender da complexidade do caso e faixa etária mentares mais adequados, reduzindo
Id
G
IG:British Journal of Addiction, v. 85, n. 11, p. 1403-
a associação 1408, 1990.
das tensões nas HAY, P. J.; MOND, J.; BUTTNER, P.; DARBY,: G
HGGIGd
sequential community surveys in South Australia. PLoS ONE, v. 3, n. 2, p. 1541, 2008.
relações com o TA LACAN, J. O Seminário, livro 4, p.188. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995.
LASÈGUE, C. Da anorexia histérica. In: Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 1, n. 3,
p. 158-171, trad. Pereira, MEC, São Paulo, 1998.
restrição e controle de compulsões e LASK B & WATSON, L. A Short Introduction to Understanding and Supporting Children with Eating
purgações; cuidando das complicações Disorders, Jessica Kingsley Publ, London & Philadelphia, 2016.
físicas e psiquiátricas, psicossociais. SCHMIDT, U. 100 words. Anorexia nervosa. The British Journal of Psychiatry, v. 207, n. 4, 2015.
O padrão-ouro, na criança e ado- SEIDINGER-LEIBOVITZ, F. M. et al. Abandono do tratamento em anorexia nervosa e bulimia: uma revisão
lescência com TA seria o mesmo, crítica. Revista Interface, n. 11, p. 120-137.
acrescido da exigência total dos pais ou SEIDINGER9!:(:-IG
I`I
GHG
GGGHGGG
alimentares na visão dos pacientes: um estudo clínico-qualitativo. [Mestrado] Faculdade de Ciências
responsável pela criança, especialmen-
Médicas, Unicamp, 2014.
te o responsável na hora das refeições, SILVERMAN, A. H. Interdisciplinary care for feeding problems in children. Nutrition in Clinical Practice, v.
figura fundamental neste caso. (Bryan 25, n. 2, p. 160-165, 2010.
Lask, 2015; Fairburn et al) STEIN, D. M.; LAAKSO, W. Bulimia: a historical perspective. In: International Journal of Eating Disorders, v.
7, n. 2, p. 201-210, 1988.
As demais abordagens STICE, E & WHITENTON, K. Risk Factors for Body Dissatisfaction in Adolescent Girls: A Longitudinal
LADOS de
metades INTEIRAS
O AMOR PRESSUPÕE UM EU DIVIDIDO EM PARTES QUE SE
OPÕEM. ESSA É A LIÇÃO DE O VISCONDE PARTIDO AO MEIO,
UMA FÁBULA DE ÍTALO CALVINO QUE EXPLORA O FANTÁSTICO
A
mar o outro faz-nos perceber Sentir-se pela metade é bem pró- idealizações que precisamos sofrer para
nossa incompletude. Ao no- prio da juventude quando se permite nos darmos conta do quanto o ideal é
tarmos em nós mesmos dois deixar a força natural do desenvolvi- inimigo do real.
lados como inimigos irre- mento empurrá-la em direção à tota- Metade de nós revela virtude, outra
conciliáveis, sentimos a luta entre eles lidade, um lugar a que nunca se chega. metade mostra maldade, mas, para além
e também a dor de se ferirem para uni- Em nosso amadurecimento, o sentir- dessas metades, existimos. Precisamos
rem-se em um todo chamado indivíduo. -se incompleto deverá continuar para sair dessa ignorância de nos sentirmos
É dessa forma que obtemos o verdadeiro que nos faça sentir que ainda há vida inteiros. Inteiros por pensarmos que so-
ato de amar a si e ao outro. Assim nos a ser vivida. mos só virtuosos ou então apenas des-
ensina o livro O Visconde Partido ao Meio Vivemos lidando com a ideia do trutivos até que os sintomas apareçam
de Ítalo Calvino. aceitável e do não aceitável em nossa para denunciar a inconsciência dessa
O visconde Medardo, no intuito de convivência com aqueles que nos ar- unilateralidade.
agradar alguns duques, vai à guerra e rodeiam e com os que podem nos dar Ensina a Psicologia de C. G. Jung
é atingido por um tiro de canhão que ou não amor. Escondemos na sombra o que todas as vezes em que o homem se
o divide ao meio. Retorna à sua cidade comportamento ou ideia que nos pareça encontra em num de seus extremos, sua
uma metade do visconde que se revela fazer perder esse amor e exibimos o que outra parte o avisa em sonhos. Um ho-
muito cruel. Quando os habitantes da achamos que irá impressionar o outro na mem vivendo sua unilateralidade como
cidade já estavam desanimados e amar- ilusão de ser amado. Chega o momento o bem absoluto ou o mal absoluto é
gurados, eis que aparece a outra meta- em que nos sentimos divididos e perce- alguém que prejudica os demais e a si
de como um visconde absolutamente bemos que parte de nós é desejo e outra próprio com a sua incompletude. Quan-
bom. Até que os habitantes percebem parte é renúncia. do conseguimos alertá-lo desses lados
que maldades e virtudes igualavam-se Muitas são as feridas que experi- opostos e irreconciliáveis, precisamos de
na desumanidade, pois pessoas cheias mentamos em nome da boa educação um ego forte para suportar a tensão até
de boas intenções podem ser chatas e dos nossos pais e são essas feridas pri- que transcenda para uma terceira condi-
terríveis. Por amor a Pamela, essas duas mais que nos atrapalham em fazer parte ção completamente nova. Essa terceira
bandas do visconde entram num duelo dessa unidade universal que chamamos condição é diferente de cada uma das
e se ferem mortalmente. Para salvá-las, natureza. Algumas fazem-nos perder duas outras originais, mas também con-
o dr. Trelawney costura uma metade parte de si e, como se estivéssemos ata- tém, de algum modo, aquelas mesmas
na outra e faz das duas partes um úni- DOSAUMlOINVISÓVELGUIAMO
NOSPOR partes opostas entre si.
co visconde. Nas palavras do autor, “o ele nessa busca do que possa nos com- Quando metade de nós mesmos
homem mutilado, incompleto, inimigo pletar. Ao encontrarmos o que estava não consegue amar, e essa condição
de si mesmo, precisou do amor para perdido, unimo-nos pela paixão para pertence a outra metade à qual não
tornar-se inteiro”. depois sentirmos tão opostas as nossas conseguimos estar unidos, o objeto
do nosso amor poderá nos fazer sentir Sofremos com o drama de nos sen- esses dois lados é a esperança da intei-
confusão já que não estamos inteiros tirmos inacabados. Sempre estamos reza. Somente o homem consciente de
nesse ato. Uma metade luta com a ou- por nos completar com alguma busca sua incompletude e em busca de se har-
tra, e apenas quando se ferem é que se que muitas vezes aparece na forma de monizar com a natureza que o acolhe,
torna possível, mediante tratamento, objetos ou atitudes irracionais diagnos- e que ele chama de Deus, é que poderá
transcender esses opostos incompatí- ticados como angústias existenciais. É o tornar-se um indivíduo.
veis para tornarem-se unos e dignos sofrimento da alma do homem sempre Para aqueles que enxergaram a
dessa união. Descobrimos que nossa a buscar se completar com afazeres e disputa de Hillary Clinton e Donald
parte perdida estava projetada nos ou- atividades lúdicas, ou mesmo vícios, ex- Trump como o discurso de um lado
tros e era tracionada pela angústia da pressões imaginais do que o completa. bom e civilizado contra um lado mau
incompletude. Dessa forma, o papel do Por outro lado, aqueles que se sen- EPRIMITIVOEUCONVIDO
OSAREmETIREM
analista é costurar e unir o que antes tem completos talvez não sintam mais a sobre o que existe de certeza no que vai
existia separadamente. necessidade de viver para buscar o que ser e o quanto em nós mesmos apare-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ DIVULGAÇÃO E ARQUIVO PESSOAL
lhes falta. A nossa parte boa e a parte cem esses dois lados disfarçados em
mesquinha nunca conseguem fazer ao sintomas ou modos de vida inapropria-
outro algo virtuoso, porém a luta entre dos à evolução do ser.
O Visconde
Partido ao Meio
Autor: Ítalo Calvino
Editora: Companhia Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano.
das Letras É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia.
carlos@ijba.com.br / www.ijba.com.br
Número de páginas: 104
Respostas
contraditórias
entre arrepios e
/3%2)!$/BLACK MIRROR02/6/#!
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4%-!3!0!2%.4%-%.4%
!02%3%.4!$/3%-5-&5452/
028)-/-!315%.!2%!,)$!$%*£
./3!.'534)!-!45!,-%.4%
T
rataremos aqui do episódio 4 da temporada mais atual, a
terceira, porém recomendamos a série Black Mirror para
ser assistida na íntegra. Cada episódio mostra de maneira
INDEPENDENTEUMAHISTØRIACOMINÓCIOMEIOElM-ASELA
se amarra e sempre deixa um gosto de “quero mais”. Essa temporada
que foi disponibilizada há pouco tempo chegou ainda mais provoca-
tiva. Futuro e presente se fundem de uma forma realmente genial, e,
segundo o que o criador dela tem declarado em entrevistas, parece
SERESSAMESMASUAINTEN¥ÎOCAUSARARREPIOSEREmEXÎO
Somos apresentados a duas ambições igualmente ansiadas, um
sistema de saúde de cuidado integral que contempla a velhice com
cuidados paliativos no sentido de dar qualidade de vida e minimi-
zar o sofrimento; e a possibilidade de que, de alguma maneira, se
tenha o recurso de driblar a morte ou tomá-la nas próprias mãos,
além de deixar uma mensagem implícita no quanto de virtual tem o
que chamamos de vivência, mas diferente do argumento de Matrix
(1999/2003) das irmãs Wachowski, em San Junipero as escolhas per-
tencem à própria pessoa.
O episódio que foi dirigido por Owen Harris e roteirizado por
#HARLIE "ROOKER COME¥A NAQUELE ESTILO lLME ANOS JUVENTUDE E
DIVERSÎOLIBERDADEELOCALDEVERANEIO!JOVEMTÓMIDA9ORKIE-A-
ckenzie Davis) leva o espectador a conhecer sua narrativa para em
SEGUIDAENTRAREMCENAAhDESCOLADAv+ELLY'UGU-BATHA
2AW /
encontro das duas trará ao episódio uma sensação de “fofura”, que
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nho com muitos anos a menos ou mais
magro, mais atlético, mais encorpado,
bronzeado etc.? Alguns pais sonham
COMSEUSlLHOSCOMOBEBÐSOUCRIAN¥AS
DEPOIS QUE ELES JÉ ESTÎO HÉ MUITO NA
FASEADULTA4ERAJUVENTUDEDEVOLTANÎO
ÏDEALGUMAMANEIRAUMDESEJOIMENSO
DEUMAGRANDEPARCELAQUEJÉESTÉCOMA
idade mais que madura?
Outro ponto a pensarmos é no quan-
TOAPØSAJUVENTUDEUMSUJEITOPERMANE-
ce muito parecido com o antes, apenas
tendo seu corpo sofrido os impactos do
envelhecimento, como dizem popular-
MENTE hPOR DENTRO AINDA Ï UM JOVEMv
Esse episódio toca com encantamento
nesse aspecto, como se fosse possível
abrir na vida uma outra possibilidade de
O encontro da jovem tímida Yorkie (Mackenzie Davis) e da descolada Kelly (Gugu Mbatha-Raw) dá um EXPERIÐNCIA.OSERIADOOTEMPOQUEPO-
tom de “fofura” ao gênero de suspense da série dem experimentar isso é limitado, no es-
tilo “embalos de sábado à noite”, e então
pouco tem a ver com o restante da série, ¡).4%2%33!.4% aproveitam tudo que podem. É dada a
que quase sempre cai para o suspense até possibilidade a alguns de que, depois de
com certo terror. Esse ponto fora da cur-
/2/4%)2/4%2 morrer, possam continuar para sempre
va da série acaba se convertendo em uma %3#/,()$/%33% em San Junipero.
gostosa surpresa. 2%#/24%$/3!./3 “Gostei, você é autêntica”, lança Kelly
De forma bastante competente, intro- PARA 9ORKIE RECONHECENDO SUA SINGULAR
duz na relação que se forma entre Kelly -!2#!$/30/25- lGURAFRENTEAOSOUTROSQUEVIVEMALIIN-
E 9ORKIE UM AFETIVO HISTØRICO E UMA RE- £0)#%$%-5$!.! tensamente em busca dos referenciais da
lação daquilo que se costuma nomear MODA DOS ANOS ¡ INTERESSANTE O RO-
$%#/-0/24!-%.4/
COMOhSAIRDOARMÉRIOvOUSEJAASSUMIR teiro ter escolhido esse recorte de tem-
para si e para o entorno a orientação se- !4¡$%3#!-"!2%- PO AlNAL FORAM ANOS MARCADOS POR UM
xual diversa do que impõe como norma 5-2%42/#%33/ ápice de mudança de comportamento,
TODO O CONJUNTO SOCIAL ! CONVERSA QUE uma revolução que vinha das décadas de
acontece entre as duas sobre essa ques-
02).#)0!,-%.4%0%,/ 60/70 até descambar em um retrocesso e
tão, de como foi para cada uma perceber !0!2%#)-%.4/$! fechamento principalmente pelo apareci-
sua orientação homoafetiva e como foi !)$315%-/$)&)#/5 MENTODA!IDSQUEMODIlCOUOSPADRÜES
sustentar isso em seus grupos sociais, é DEBUSCASEXUALAFETIVA1UEMFOIJOVEM
de uma delicadeza informativa, e leva
/30!$2%33%85!)3 NADÏCADADESABEDALIBERDADEIMENSA
mesmo o mais empedernido espectador que se respirou em sua primeira metade e
a uma empatia com a história que será a pensar que nos mecanismos dos sonhos todo um declínio nisso que descamba nas
condutora da trama. muitos fazem com que o sonhador se décadas seguintes, produzindo gerações
VEJAANOSMAISJOVEMOUAINDACOMFOR- bem mais confusas em relação às esco-
/3/.(/$!*56%.45$% MASMODIlCADASQUECOMBINAMCOMO lhas que podem fazer, convivem em igual
/LUGARÏEFETIVAMENTEUMSONHOJÉ DESEJADO1UEMNUNCASEVIUEMUMSO- medição de forças com um movimento
que é uma vivência compartilhada pu-
ramente mental, possibilitada por inven-
Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor em Saúde
ções tecnológicas que permitem criá-lo.
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maneira, essa fase de imensa potência
O enredo condutor
deixará em todos um traço de nostalgia da trama mostra
E DESEJO DE RETORNO 6ERDADE QUE Ï UM como foi sustentar
momento de muito vazio existencial e a percepção da
angústias sem nome, mas também pos- orientação homoafetiva
nos grupos sociais
sui um olhar de amplidão que a vida
das protagonistas.
vai tratar mais adiante, enquadrar sem Yorkie luta contra
piedade. O roteiro desse episódio con- a angústia que isso
templa essa saudade que nos atravessa costumeiramente
no correr da vida e principalmente fren- provoca nela
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CONCEITO
NOVOS (e vazios)
DESAFIOS da Psicanálise
Em função da nova realidade social, a prática na clínica aponta
para um profissional que não tenha o perfil de dono da verdade,
pois a necessidade obriga uma postura interrogativa
Por Roney A. Moraes
É
inegável a mudança que o emblema de sujeito do suposto saber, o palmente, tudo pode ser dito, mas nada
tratamento analítico sofreu famoso “s.s.s.” lacaniano. Não é papel pode ser afirmado. Sob pena de propor
ao longo dos anos desde sua do analista ditar a verdade definitiva. uma psicoterapia “uma”, quando as
função pelo pioneirismo de Até porque não a possui. Ninguém é problematizações são “múltiplas”.
Sigmund Freud. Do iní- dono da razão, mas, sim, cheio de in- É possível ficar à vontade para sub-
cio do século XX até hoje, a Psicanálise certezas, e o psicanalista não foge à verter certas teorias, porque para o filó-
tem evoluído junto com as necessidades regra. Hoje, o psicanalista, frente às sofo Derrida “escrever é retirar-se. Não
culturais e humanas e de acordo com os novas fronteiras clínicas e sociais, deve para sua tenda para escrever, mas da
novos paradigmas do século XXI. adotar uma postura interrogativa. sua própria escritura. Cair longe da sua
O analista desceu do salto. Não Simpatias ou dogmatismo por es- linguagem, emancipá-la ou desampa-
mais lhe cabe exibir o seu pomposo colas à parte... Na transmissão, princi- rá-la, deixá-la caminhar sozinha e des-
Roney A. Moraes é psicanalista; Especialista em Saúde Mental e Dependência Química; Mestre em tos contribuem para o surgimento de um
!G
G Ôe+IG::IeG
+IGP+
eGG
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G número maior dessas pessoas, as quais
IG!
GG
0`GIGe(H
G
GIGhÔ+IGG^IG
G
^ pertencem a um grupo psicopatológico
-Ge
G
+GHRIGG
G
e(H
GIG
GGI
'G': que denominamos de portadores de pa-
tologia do desvalimento.
predominam. Conexão é o termo que altamente estressados consiga preencher tais vazios.
NO DIRECTION HOME
BOB DYLAN
A mais completa biografia do artista
Centenas de livros foram publicados sobre outro jornalista conseguiu. Finalmente, depois
%RE '\ODQ PDV HVWH p R ~QLFR HVFULWR FRP de 20 anos de muita pesquisa, No Direction
a cooperação do biografado. Robert Shelton Home foi publicado pela primeira vez em 1986
teve acesso exclusivo aos familiares e amigos HDFODPDGRFRPRELRJUDÀDHVVHQFLDOGHVVHJr-
bem próximos de Dylan, algo que nenhum nio de temperamento difícil, mas apaixonante.
O jovem
Hughes
em 1912
H
oward Robard Hughes Junior
foi um aviador, construtor de
AVIÜES INDUSTRIAL PRODUTOR E
diretor de cinema e um dos
homens mais ricos do mundo. Ficou fa-
MOSOAOQUEBRARORECORDEMUNDIALDE
VELOCIDADEEMUMAVIÎO&OIMUITOBELO
SEDUTOR E ELEGANTE .ASCEU NA VÏSPERA
DE .ATAL DE NÎO GOSTAVA DA DATA
POISNÎOTINHAFESTADEANIVERSARIOSEM
PAREAREMCOMO.ATAL#OMOESTUDAN-
TE APRESENTA UM INTERESSE ESPECIAL POR
matemática, voo e mecânica. Cresceu
Howard Hughes em FORTEMENTE INmUENCIADO E SUPERPROTE-
frente ao seu novo GIDO POR SUA MÎE !LLENE (UGHES QUE
Boeing Army Pursuit Plano, apresentava misofobia (medo de germes
na década de 1940
e de contágios de enfermidades). Por
CONTA DISSO TRATAVA DE ISOLAR SEU lLHO
Do CÉU
de todos os germes ambientais. Assim,
O MENINO CRESCEU COM UMA PERCEP¥ÎO
HOSTILEPERIGOSADOMUNDOEXTERIOR.A
ADOLESCÐNCIA (UGHES TEVE UMA PARALI-
ao INFERNO
SIAElCOUMESESSEMANDARTENDOSIDO
DIAGNOSTICADO COMO CAUSA PSICOLØGICA
(hoje denominada transtorno histri-
ÙNICO /S MÏDICOS NÎO ENCONTRARAM
HOWARD HUGHES NÃO SE CAUSAS ORGÊNICAS !PØS lCAR ØRFÎO FOI
DECLARADO UM MENOR EMANCIPADO E TO-
AMEDRONTAVA EM SER PILOTO EM VOO MOU O CONTROLE DA COMPANHIA DO SEU
PAIAOSANOSESTIMADAEMMILHÎO
EXPERIMENTAL DE IMENSOS AVIÕES, DEDØLARES$EVIDOÌSUACRIA¥ÎOISOLADA
MAS SUCUMBIU ÀS “AMEAÇAS” TINHAPOUCOSAMIGOSERADESCONlADOE
EXAGERADAMENTE PREOCUPADO COM SUA
CRIADAS POR MINÚSCULOS GERMES PRØPRIA SAÞDE &OI DIAGNOSTICADO COMO
RESILIÊNCIA:
entre a expectativa
e a realidade
Momentos difíceis, por
piores que sejam, podem
ser encarados por meio de
inúmeras reações e maneiras
de enfrentamento, com
o objetivo de retomar o
autodesenvolvimento a partir
de novos aprendizados
Por Amanda Oliveira
invisíveis. A obra tenta ajudar as pessoas a entenderem que quem passa por um 2005.
trauma grande, às vezes, só precisa de carinho e atenção. O objetivo do livro YUNES, M.; SZYMANSKI, H. Resiliência:
não é oferecer um manual de como superar adversidades, mas, sim, revelar que é hÔ9IIGI
Gh
possível reconstruir a vida, mesmo quando tudo parece estar perdido. críticas. In: TAVARES, J. (Org.). Resiliência e
Educação. São Paulo: Cortez, 2001.
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RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
Esta revista foi impressa na Gráfica Oceano, com emissão zero de
fumaça, tratamento de todos os resíduos químicos e reciclagem de
todos os materiais não químicos.
Condutopata POLÍTICO
O CONCEITO DOS INDIVÍDUOS NARCISISTAS QUE
TÊM PODER PARA ROUBAR E ROUBAM PARA TER O PODER.
É UM TRANSTORNO DO CARÁTER, ACIMA DE TUDO,
COM EVIDENTE COMPROMETIMENTO DA CRÍTICA
O
quadro clínico teve origem em 1835, na loucura Seria possível se falar em dois subtipos. Primeiro, aqueles
moral de Henry Pritchard. No correr desses 181 QUEENTRAMPOBRESNAPOLÓTICAEPORMEIODELAROUBAMPARAl-
anos, vieram outros nomes: loucura lúcida ( Júlio de car ricos. Nesse caso, o escopo precípuo desses indivíduos é ter
Matos), cego moral (Schule), personalidade psico- o poder para roubar e roubar para ter o poder. Larapiam verda-
pática, psicopata, sociopata e condutopata, termo que adotamos deiras fortunas, das quais para qualquer pessoa normal a meta-
por ser etimologicamente o mais apropriado para caracterizar DEOUBEMMENOSJÉSERIASUlCIENTEPARAASUAFAMÓLIANETOSE
certos indivíduos que, enfermos do caráter, praticam atos do- bisnetos viverem extremamente bem. E mesmo já atingido esse
entios que as pessoas normais não praticam. Por isso conduto- nível de riqueza, continuam roubando, pela enfermidade do ca-
patia, pois a pathéia, a moléstia, está na conduta. ráter, pela tara de enriquecer, ganância e deformidade moral.
Existem inúmeros tipos de condutopatas (psicopatas). Para /SEGUNDOTIPODECONDUTOPATAPOLÓTICOPODESERIDENTIlCADO
dar exemplo, só com Kurt Schneider são dez: hipertímico, quando o escopo precípuo não é o dinheiro, porque ele já é rico,
carente de estima, fanático, explosivo, abúlico etc. Há outras mas o poder para mandar pelo prazer em subjugar o próximo, a
CLASSIlCA¥ÜESPITORESCASBUROCRATASOLENEAMÉVELINSOSSOCIR- lMDEALIMENTAREINmARCADAVEZMAISASSUASVAIDADESEXACER-
cunspecto presumido, laborioso eufórico. Entre os condutopa- badas. É um transtorno do caráter, narcisismo acima de tudo,
tas criminosos são citados: serial killer, tarado sexual, criminoso com evidente comprometimento da crítica.
nato, desalmado etc. Porém, quanto à nocividade, ambos se equivalem. Aqueles
A nosso juízo, está faltando cunhar outro tipo: condutopata que são pobres roubam do povo, lesando-o não só na saúde e na
político, para caracterizar o homem público que, por distúrbio educação, bases primordiais para qualquer país, mas em tudo
do caráter, lesa impiedosamente o povo. o mais. E quanto àqueles que são ricos, o grande problema é
que esse subtipo compõe-se de indivíduos extravagantes, quer
na imagem, quer nas ideias. Um bom exemplo é Hitler, com os
seus gestos narcísicos, bigodinho tipo cerdas de escova den-
tal e ideias racistas, nacionalistas, discriminatórias etc. E agora
Donald Trump, com a sua fácies abespinhada, topete bizarro a
la faisão-dourado (pássaro chinês) e ideias xenófobas, dizendo
que vai construir um muro isolando países e que mulheres se
arrastam pela vagina.
São os condutopatas políticos, sem altruísmo, perigosos, de-
magogos e boquirrotos que, além do distúrbio de conduta que
caracteriza a perturbação mental de que padecem, não têm re-
morso sobre aquilo que fazem de errado. São incorrigíveis.
ARQUIVO PESSOAL/123RF
FRIEDRICH
NIETZSCHE
ENTRE O PASSADO E O FUTURO