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Nem tão #simples assim [recurso eletrônico]: o desafio de monitorar políticas públicas nas redes
sociais / Coordenação Marco Aurelio Ruediger. – 2. ed. - Rio de Janeiro : FGV, DAPP, 2017.
1 recurso online (34 p.). – (Caderno de referência de metodologia)
Dados eletrônicos
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-68823-50-7
CDD – 351
Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas
Fundada em 1944, a Fundação Getulio Vargas nasceu com o
objetivo de promover o desenvolvimento socioeconômico
do Brasil por meio da formação de administradores
qualificados, nas áreas pública e privada. Ao longo
do tempo, a FGV ampliou sua atuação para outras áreas
do conhecimento, como Ciências Sociais, Direito,
Economia, História e, mais recentemente, Matemática
Aplicada, sendo referência em qualidade e excelência,
com suas oito escolas.
Escritório
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Diretor
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DAPP
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EXPEDIENTE
Coordenador
Marco Aurelio Ruediger
Organizadores
Lucas Calil
Tatiana Ruediger
Pesquisadores
Amaro Grassi
Danilo Carvalho Silva
Humberto Ferreira
Pedro Lenhard
Ricardo Faria
Thamyres Dias
Projeto Gráfico
Luis Gomes
ÍNDICE
///
Visão Geral............................................. 6
Subjetividades Coletivas........................... 8
O Objeto Linguístico............................... 10
Monitor de Temas................................... 12
Modularidade...................................... 16
Referências ............................................32
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
VISÃO
GERAL
A internet e as redes sociais representam profunda ção têm potencial, portanto, para afetar as políticas
mudança na forma como os indivíduos se relacio- públicas em diferentes momentos e sob diferentes
nam no início do século XXI. Esses novos paradig- posições teóricas. Elas podem afetar a discussão
mas de conectividade e interatividade, que afetaram sobre os problemas que demandam a ação do Es-
as relações sociais, também abriram grande espaço tado e alterar o ciclo clássico de políticas públicas,
para a interação entre as pessoas e o Estado, assim permitindo verificar percepções sobre externalida-
como reduziram custos de ação coletiva para movi- des negativas e positivas da ação estatal de forma
mentos sociais. A influência da internet na política mais imediata.
se verifica desde questões como o financiamen-
to de campanhas políticas — nos Estados Unidos, Tal processo de reformulação do entendimento das
por exemplo — até a realização de grandes pro- dinâmicas inerentes à esfera pública – em leitura
testos em países da América do Sul, da África e da atualizada do conceito estabelecido por Habermas
Ásia, como a Primavera Árabe, entre 2010 e 2012 (1990) –, inclusive, representa um desafio para a
(CASTELLS, 1999, 2015; CHADWICK and HOWARD, gestão pública, que é convocada a responder de for-
2010; MARGETTS et al., 2016; OATES et al., 2006). ma mais célere e propositiva frente a demandas da
As novas tecnologias de informação e comunica- sociedade civil. Transparência, por exemplo, como
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
SUBJETIVIDADES
COLETIVAS
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
cebidos pelos seus membros (DOMINGUES, 2004, (DOMINGUES, 1998). Posteriormente, tal processo
p. 27). No entanto, cabe lembrar que em certas co- deve se articular à realidade social do indivíduo
letividades existe consciência relacionada a pró- por meio do processo secundário, no qual ele tenta
pria causalidade coletiva, mesmo que apenas de casar a imagem mental formada pelo id durante o
modo prático - no sentido que Giddens distingue processo primário com um objeto do mundo real
entre a consciência prática e discursiva (GIDDENS, (FREUD, 1900).
1986). Isso significa que os indivíduos em questão
não seriam capazes de expressar discursivamen- Temos, portanto, que, segundo a conceituação de
te o impacto causal que sofreram ou que causam. subjetividades coletivas por Domingues, “a vida
Domingues então chama de centramento involun- social é tecida e se constitui como uma rede inte-
tário a causalidade exercida por uma coletividade rativa, multidimensional, na qual atores individu-
cujos atores ignoram seu impacto coletivo (DO- ais e coletividades se influenciam de forma mútua
MINGUES, 2004, p.28). O centramento, no entanto, casualmente” (DOMINGUES, 2002 p. 68). Seja
depende do “potencial intrínseco e específico de virtualmente ou face-a-face, a partir do momen-
cada sistema social” (DOMINGUES, 2004, p.29) e to em que atores se encontram em uma situação
não ocorrerá necessariamente, pois é contingente. social específica, eles tentarão interpretar a situ-
ação na qual estão inseridos, de forma similar a
Dois aspectos centrais são responsáveis tanto explicada por Goffman (1974) em sua definição da
pelas mudanças nos sistemas sociais quanto pela situação. A maneira como os atores se percebem
reprodução e “inércia” dos mesmos: a memória mutuamente forma o campo comum de interação
social e a criatividade social. Enquanto ambas se tanto entre indivíduos como entre subjetividades
encontram atreladas à subjetividade individual e (MEAD, 1934; DEWEY, 1927; STONE, 1962; SNOW,
se estabelecem a partir de processos interativos, 2001; CICOUREL, 1993).
a memória é composta de elementos mnêmicos,
fruto de processos interativos das próprias sub- Por conta disso, torna-se necessário uma análise
jetividades coletivas que, ao longo do tempo, se que leve em conta as diferentes subjetividades co-
cristalizam de forma variável, dependendo da letivas em relação umas às outras, tentando en-
subjetividade coletiva em questão, tanto material- tender as diferenças do “mundo da vida” de cada
mente em símbolos e objetos como também no uma e também como suas interpretações se cons-
próprio corpo, cérebro e inconsciente individuais troem umas em relação às outras. No entanto, não
(DOMINGUES, 1998). Tais elementos, aliados às podemos esquecer que tais coletividades também
consequências não intencionais da ação, ao poder são formadas por indivíduos, cujas constantes
e às inclinações interativas individuais e de cada interações sociais e interpretações simbólicas
coletividade, ajudam a organizar os sistemas so- das mesmas podem, por um lado, manter o sta-
ciais, sedimentando regras, comportamentos e tus quo, perpetuando comportamentos e símbolos
padrões de interação tanto entre indivíduos como já padronizados e, por outro lado, transformar os
entre coletividades. símbolos por meio da criatividade social, dando
novos sentidos às ações e à realidade. Um mesmo
No entanto, eles também são passíveis de trans- símbolo pode emergir de uma coletividade e ser
formações maiores ou menores quando a criativi- cooptado por outra, que o emprega em um sentido
dade social é exercida através de tais interações. diferente de seu primeiro uso devido ao contexto
A fonte primária da criatividade é encontrada no hermenêutico específicos de cada coletividade
inconsciente sob a forma do que Freud chama de (SWIDLER, 2001; SCHUDSON, 1989; WALZER,
processo primário, que nada mais é que o inces- 1985; SAHLINS, 1981; HALL, 1973).
sante deslizar de sentido típico do inconsciente
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
O OBJETO
LINGUÍSTICO
///
A pesquisa em redes sociais sobre assuntos como como recorte de análise dotado de coerência inter-
segurança, saúde, educação e corrupção deman- na (BARROS, 2005), e sobre o qual há a emergência
da certa complexidade na identificação do objeto de efeitos de sentido apreendidos pelas articula-
estudado e na reflexão sobre como esse objeto é ções semânticas inerentes ao próprio texto.
coletado a partir das discussões públicas. É dife-
rente, por exemplo, empenhar uma pesquisa sobre Ou seja: qualquer objeto discursivo, como uma
um nome, uma hashtag ou uma marca, em que as pintura, uma cena de um filme, um capítulo de um
palavras selecionadas para a busca obedecem a romance ou um tuíte, uma vez recortado para es-
uma restrição rígida quanto à temática. Entretanto, tudo, é considerado texto (FIORIN, 2004), e, para
como repetir o mesmo princípio minimalista para a análise de dados da internet o objeto semiótico
algo abrangente como segurança pública? A pala- se converte em amplo corpus, contemplado em
vra segurança? E, mais importante: como se certi- larga escala, como um conjunto coerente. O re-
ficar de que a base de dados analisada correspon- ferencial de identidade coerente é a presença, em
de, de fato, a um universo aceitável — em relação cada postagem que integra esse corpus, de figuras
à precisão e ao volume — do debate sobre o tema discursivas pertencentes ao campo semântico que
na internet? se deseja estudar, com delimitação a priori – uma
vez estabelecida a hipótese de recobrimento
Sob esse foco, a FGV/DAPP desenvolveu, de forma dos campos semânticos sob determinados con-
pioneira, um processo específico de categorização ceitos, os objetos são recuperados na coleta de
semântica, que obedece ao raciocínio científico da postagens via web.
semiótica discursiva (GREIMAS e COURTÉS, 2011;
HJELMSLEV, 1978; GREIMAS, 1986; FONTANILLE, Tome-se como exemplo a segurança pública, as-
2008), linha de estudos linguísticos de elevada sunto extensamente estudado pela FGV/DAPP, e
importância principalmente na Europa e com am- não apenas em pesquisas em redes sociais. Antes
pla adoção nas principais universidades do Brasil. de se lançar uma hipotética busca, com base em
A semiótica discursiva – cujo principal expoente um conjunto de palavras-chave, faz-se necessário
histórico é Algirdas J. Greimas – entende o texto compreender o que compõe, nos âmbitos social
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
e institucional, a segurança pública no Brasil (ou Ao fim, quando há o lançamento de uma regra
com um recorte estadual, que considere as diferen- complexa para fazer a busca nas redes sociais, o
ças regionais). Nessa etapa, a equipe de pesquisa conjunto de textos que se encaixam em qualquer
realiza um levantamento de quaisquer conceitos atributo dessa regra (uma referência à polícia, ou
ou figuras discursivas que se associem à noção a um crime, ou mesmo a um órgão estatal) é visto
abstrata de segurança: a polícia; as delegacias; os como dotado de uma recorrência semântica inter-
delitos, como assaltos, roubos ou furtos; as ques- na — o que, na semiótica, se denomina isotopia
tões legislativas, como a legalização das drogas (GREIMAS e COURTÉS, 2011, p. 275-278) — em
ou a reforma do código penal; as autoridades; as relação ao tema geral. Assim, é possível fragmen-
siglas; e os órgãos públicos. Com esse propósito, tar a busca em múltiplos subtemas, restringindo o
há uma reflexão interdisciplinar entre os especia- objeto a determinados recortes dentro de um tema
listas da FGV/DAPP, que se ocupam da delimitação mais abrangente: menções à polícia, menções a di-
das construções textuais que remetam ao tema da ferentes crimes.
segurança pública (e de qualquer outro tema).
Na construção das regras de pesquisa, para que
Esse método objetiva iconizar (GREIMAS e COUR- haja a correta delimitação do corpus, a FGV/DAPP,
TÉS, 2011, p. 250-251; BARROS, 2005, p. 69) as em consonância com o raciocínio semiótico, leva
temáticas sob bases qualitativas – quanto à acu- em consideração as regras de sintaxe inerentes
rácia da coleta e à pertinência das figuras discur- ao sistema linguístico do idioma de estudo, mas
sivas – e quantitativas, quanto ao volume de da- sempre com o cuidado de contemplar variações
dos obtidos em absoluta proximidade ao volume regionais, erros gramaticais e o uso de expres-
completo de publicações referentes às temáticas sões idiomáticas e gírias, antevendo potenciais
no período (e na fonte de dados) de pesquisa. Por contrações, comuns no âmbito da internet, e
isso, finalizada a delimitação das figuras discursi- quaisquer construções coloquiais que integrem
vas que remontam ao tema da segurança, é preciso o debate. Textos que não obedeçam à norma
fazer testes para verificar o volume categorizado e culta, sob a perspectiva da Linguística (DISCINI,
a assertividade da regra de pesquisa, um conjun- 2013), não sofrem distinção.
to de expressões, frases e termos organizados por
operadores lógicos, de correlação entre campos
semânticos. É nessa etapa que é possível excluir
expressões incorretas, identificar ironias e constru-
ções metafóricas e avaliar o que deve ou não deve
integrar a regra de pesquisa — em uma consulta
prévia ao universo de dados da fonte pesquisada
(principalmente o Twitter).
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
MONITOR
DE TEMAS
O Monitor de Temas é uma ferramenta atualizada em tempo real, pela
///
FGV/DAPP, com o volume de menções a seis abrangentes temáticas
de políticas públicas, no que se refere ao contexto brasileiro de deba-
te: segurança, saúde, educação, mobilidade, protestos e corrupção.
Há três anos, o Monitor identifica tendências, oscilações e assuntos
que centralizam, por certo momento, as discussões no Twitter. Sempre
que o Enem ou programas de governo para o ensino superior surgem
na pauta, o volume de postagens sobre educação aumenta; o mesmo
ocorre com a saúde — no começo do ano, por exemplo, houve elevado
debate sobre o assunto por causa do vírus zika; e, em geral, é de segu-
rança pública que os brasileiros mais falam, embora, desde o começo
de 2015, haja muitas semanas em que a ferramenta chega a coletar
mais de um milhão de postagens sobre corrupção.
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
11.100
9.100
7.900
4.300
Superlotação
dos Presídios
Maioridade
Penal
Reforma
Penal
Desmilitarização
da Polícia Militar
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
v
O TEMPO DA ANÁLISE TEXTUAL
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
INTERAÇÕES
NA ESFERA VIRTUAL:
GRAFO DE RETWEETS
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
MODULARIDADE
///
Depois de colocar os dados no Gephi, fazemos coletivas online em interação. Cada um dos
uso da estatística de modularidade do progra- grupos possui mais ligações entre seus nós do
ma. A modularidade permite o mapeamento que entre seus nós e os de outro cluster, o que
dos diferentes grupos de uma rede (NEWMAN, coincide com a intuição de Newman (2004;
2004; 2006). Um grupo/comunidade/cluster 2006) de que indivíduos vão estabelecer mais
de nós assim será classificado caso a liga- relações - aqui representadas por arestas -
ção entre os nós seja maior que sua ligação com pessoas dentro de seu grupo do que com
com outros nós da rede (VINCENZO, 2008). O pessoas que estão fora de seu grupo.
algoritmo utilizado pelo programa é baseado
no método Louvain (BLONDEL et al., 2008). Cada uma das subcoletividades da subjetivi-
Ele encontra partes da rede que possuem alta dade coletiva online será colorida de uma cor
modularidade em duas principais etapas. A diferente para que possamos distingui-las no
primeira delas otimiza a modularidade local, grafo. Cada nó pertencerá a uma única sub-
varrendo com vértices aleatórios toda a rede, coletividade. Em seguida, calcula-se o grau
enquanto a segunda agrega a comunidade re- ponderado para que possamos diferenciar vi-
petindo passes interativamente até que a mo- sualmente os nós que são autoridades pelo ta-
dularidade atinja seu ponto máximo. Ou seja, manho de seu nome/label. O grau soma os pe-
a rede vai sendo dividida em grupos que vão sos das arestas (no caso, se contabiliza peso
testando todas as possíveis combinações de 1 para cada retweet) e nos dirá quais perfis
nós existentes até que nenhum deles possa tiveram mais republicações, ou seja, de quem
pertencer a nenhum outro grupo (NEWMAN, vem as informações mais propagadas. Chama-
2006). remos estes perfis de autoridades. Essa medi-
da é interessante para estudar fenômenos na
Ao final do processo, o algoritmo separa a internet porque existe a tendência a uma mas-
rede em grupos (GIRVAN; NEWMAN, 2004) sificação de posts: primeiro, publicam uma
chamados “clusters” e que aqui serão analisa- mensagem original que, em seguida, pode ser
dos como representações das subjetividades republicada para se tentar difundir um assunto
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
ou ponto de vista. Assim, o grau analisado em claro, irá variar dependendo do seu nível de
conjunto com a atividade do perfil indica o tipo centramento, que varia de acordo com o nível
de participação ou engajamento que o tornou de identificação interno.
relevante.
O que me leva a dizer que um cluster pode ser
Agora, finalmente, podemos usar o algoritmo visto como uma subjetividade coletiva é o alto
ForceAtlas2. O algoritmo atrai os nós cujas nível de compartilhamento comum que os indi-
arestas são mais espessas - ou seja, os pon- víduos dentro de um mesmo cluster possuem
tos que mais se relacionam -, e repele os nós (NEWMAN, 2004; 2006), o que indica um alto
que se relacionam menos (GIRVAN; NEWMAN nível de interação entre seus membros. Isso
2004), nos fornecendo uma informação visual significa que, se estou dentro do cluster x,
de como os diferentes perfis e grupos se rela- provavelmente compartilharei posts ou notí-
cionam em rede (NOACK, 2009; JACOMY et al., cias que outras pessoas do meu cluster tam-
2014). Segundo Conover et al.(2011), os algo- bém irão compartilhar. Esse comportamento
ritmos de clusterização como o ForceAtlas2 indica que pensamos de forma similar em al-
dividem a rede de retweets em grupos de perfis gum ponto, que existe uma espécie de lógica
que expressam visões políticas diferentes. que nos é comum e que faz com que o mesmo
conteúdo x pareça interessante e relevante a
A representação que obtemos após a criação ponto de sentirmos o ímpeto de compartilhá-
do gráfico é informacional em alguns aspec- -lo e, assim, publicizá-lo (BOYD; GOLDER; LO-
tos: as ligações entre os nós que mostram uma TAN, 2008). De certa forma isso significa dizer
relação entre os perfis, a posição dos nós no também que existe uma lógica compartilhada
grafo, o tamanho do rótulo dos nós e sua cor. dentro dos grupos, pois seus indivíduos com-
Olharemos também para as autoridades do partilham o mesmo entendimento de certos
grafo, ou seja, os nós que possuem maior grau símbolos e valores.
de entrada. Depois, aliaremos este resultado a
uma análise qualitativa dos principais tweets Como as pessoas interagem de forma mais ou
por cluster. Dessa forma, teremos uma boa no- menos orgânica na rede, a criação de grupos
ção de como cada grupo faz uso de diferentes de interesse ocorre a partir de um centramento
significantes, significados e argumentos para involuntário, como Domingues (2004) coloca.
publicizar temas específicos, o que nos ajuda- Assim, partindo da visão de Dowbor e Szwako
rá a identificar o que une os perfis dentro dele (2013) na qual movimentos sociais são vistos
- se há uma ideologia predominante no grupo, como performances, poderemos interpretar
por exemplo. Além disso, poderemos verificar um retweet como o momento no qual alguém
se uma interpretação de um assunto por deter- do público passa a entoar o repertório junto
minado grupo é disputado em outro grupo, o com os atores. Nessa transição de passividade
que nos ajudará a entender se as subjetivida- para atividade, podem até mesmo sugerir re-
des coletivas em questão possuem inclinações pertórios novos, que serão assimilados à me-
interativas. As inclinações interativas se refe- dida que tais repertórios encontrem atores que
rem à dimensão das subjetividades coletivas se juntem ao coro.
que ditam suas relações com as outras. Isso,
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
O QUE
SIGNIFICAM
OS DADOS
A metodologia de construção e categorização usada pela FGV/DAPP
///
é importante porque impede o levantamento arbitrário ou limitado
sobre um tema, baseado em um conjunto pequeno de palavras e
hashtags, e sem considerar a perspectiva do conceito de texto e,
principalmente, as possibilidades semânticas a respeito de um as-
sunto. Por isso, é fundamental a reflexão linguística acerca do obje-
to de estudo em redes sociais. Uma palavra, mais que uma palavra,
é, sobretudo, uma figura discursiva, concreta ou abstrata, dotada de
um efeito de sentido em função das demais construções linguísticas
com as quais se associa. Por isso, as regras de busca da FGV/DAPP
consideram associações e restrições entre termos e expressões.
v
Uma pesquisa simples sobre segurança pública retornaria um resultado impreciso: como es-
tudar o debate sobre o tema a partir, por exemplo, apenas das palavras “segurança” e “polícia”?
Grafos
v
Mapa de uma rede de perfis que interagem sobre determinado assunto ou perfil. Os grafos
permitem a identificação dos grupos e subgrupos que mais se comunicam (os clusters), os in-
fluenciadores mais relevantes e quem são as pessoas que operam como as “pontes” entre dois
grupos distintos. Em levantamentos sobre questões políticas, essas pontes são, em geral, a im-
prensa, porque produz as notícias que repercutem coletivamente.
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
GRAFO DO PROCESSO
DE IMPEACHMENT
DE DILMA ROUSSEFF 2016
O grafo acima se refere à repercussão, no Twitter, neste caso, o cluster laranja é composto por perfis
da votação do processo de impeachment contra a da imprensa, mais próximos do cluster azul, e por
então presidente Dilma Rousseff, na Câmara dos atores de grupos políticos contrários ao impeach-
Deputados. No grafo — apresentado, aqui, sem a ment, mas adversários, na esfera política, do go-
identificação dos atores que interagem no deba- verno de Dilma.
te — é possível ver, em azul, do lado esquerdo, os
perfis cujo discurso é favorável à abertura do impe- Também é pertinente destacar que, para a coleta
achment contra Dilma, e, em vermelho, do lado di- da base de dados do Twitter que compõe o grafo,
reito, os perfis contrários ao processo. Como já ex- foi utilizado o processo linguístico de categori-
plicado, quanto maior o nó representando o ator na zação por regras de pesquisa, com a elaboração
discussão, maior a relevância que ele desempenha de uma extensa chave de busca com centenas
no debate, já que o diâmetro do círculo é proporcio- de palavras e construções lexicais para capturar,
nal à quantidade de retuítes que esse ator obteve. com precisão, o debate volumoso de 17 de abril
de 2016, quando a Câmara decidiu pela continu-
Além disso, a exemplo do que já explicamos ante- ação do impeachment de Dilma. Esse processo é
riormente, quanto mais central um perfil na dispo- o mesmo para qualquer visualização, análise ou
sição do grafo, maior o alcance do que ele publica recorte de estudo, porque o objeto, conforme já
e mais vasta a rede de perfis com os quais interage; mencionado, se mantém: o texto.
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
EM QUALQUER
IDIOMA
///
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Nuvens
v de Palavras
NUVEM DE PALAVRAS
EM FRANCÊS SOBRE
O BREXIT
NUVEM DE PALAVRAS
EM ALEMÃO SOBRE
O BREXIT
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DEBATE
POLÍTICO
NO BRASIL
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
JORNADAS
DE JUNHO
///
A primeira visualização é resultado do monitoramento da rede du-
rante todo o mês de junho de 2013, com foco na discussão sobre
as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. O movimento
se iniciou em torno do aumento no preço do transporte público e
logo assumiu outras pautas, como pedidos por mais investimentos
na área de saúde e educação. Apesar de, no calor do momento,
ter sido difícil identificar os diferentes grupos políticos envolvidos
nos protestos, o método aqui descrito se mostrou eficiente para
executar tal tarefa.
GRAFO 1: JORNADAS
DE JUNHO DE 2013
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
Podemos ver que existiram diversas diferentes Na parte superior do grafo, podemos ver o cluster
subcoletividades, cada uma representada por verde, a maior subcoletividade do período, abran-
uma cor, durante Junho de 2013. A subcoletivi- gendo quase 29% das menções. No grupo, muitos
dade em amarelo agrupa diversos segmentos da dos tweets mais populares são postados por ce-
imprensa tradicional e possui centralidade no lebridades virtuais e youtubers como Felipe Neto,
grafo por ser utilizada por todos os grupos. Ela é PeceSiqueira e até a fictícia Irmã Zuleide, além de
responsável por cerca de 13% de menções. Rafinha Bastos. A subcoletividade parece oscilar
entre os espectros de direita e esquerda, dependen-
À esquerda, em rosa, encontramos perfis mais do do tema em pauta. PeceSiqueira, por exemplo,
alinhados à esquerda política, incluindo o perfil é declaradamente de esquerda, enquanto FelipeNe-
do deputado Jean Wyllys. A subcoletividade rosa to parece ter um viés mais libertário, além de ser
é composta pelos manifestantes que chamaram anti-petista. Apesar disso, ambos não possuem
os primeiros protestos, e foi responsável por cer- nenhum tipo de fidelidade partidária, o que pode ex-
ca de 5% das postagens. Em vermelho, também plicar como foram parar no mesmo grupo.
à esquerda do grafo, encontra-se a subcoletivi-
dade identificada como grupo de apoio ao PT e Talvez eles apelem para a massa que ingressou há
à Dilma, cujas hashtags mais populares foram pouco na esfera política, descrentes no sistema po-
#ApoioDilma #TamoJuntoDilma e #Brasil13. lítico institucional tal qual o temos hoje. Isso expli-
caria também a forte rejeição à polícia e à mídia. No
Na parte inferior do grafo podemos identificar o entanto, o que parece ser consenso no grupo é o
cluster azul, com orientação ideológica mais à orgulho nacional, que também se reflete nas hash-
direita. Dentre suas autoridades estão o Blogdo- tags mais populares, como mudabrasil, changebra-
Noblat, a PMESP e o PastorMalafaia. Apesar das zil, ogiganteacordou e verásqueumfilhoteunãofo-
hashtags mais populares se referirem aos protes- geàluta. Além disso, outros pontos de encontro do
tos em geral - como #vemprarua e #mudabrasil grupo são a crítica à truculência policial e a mídia
-, também surge na coletividade a #ForaDilma, tradicional, vista como tendenciosa e duramente
revelando o forte anti-petismo do grupo. repreendida por tentar deslegitimizar os protestos.
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
DISPUTA
ELEITORAL
O segundo exemplo refere-se à repercussão, na rede, do segundo
turno das eleições presidenciais de 2014, a partir de dados cole-
///
tados durante 24 horas, em 25 de outubro, véspera do pleito. No
grafo, há uma marcada polarização entre dois grupos políticos em
oposição, refletindo a dinâmica eleitoral. Esses grupos se organi-
zam em dois clusters: o primeiro (em azul, à esquerda), formado
pelos perfis que apoiavam a candidatura do senador Aécio Neves
(PSDB), e o segundo (em vermelho, à direita), por perfis de apoio
à reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT) — ambos mo-
dalizados em torno dos perfis de maior influência dentro de cada
cluster. No centro do grafo e, portanto, com maior alcance em dife-
rentes clusters, surgem perfis ligados a veículos de imprensa, com
importante papel de articulação.
GRAFO 2: VÉSPERA
DO SEGUNDO TURNO
DAS ELEIÇÕES DE 2014
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
PROTESTOS
PRÓ-IMPEACHMENT
O terceiro grafo, por sua vez, representa o debate público no
///
Twitter sobre os protestos pró-impeachment realizados em
15 de março de 2015, em diversos estados. Neste caso, o
cluster da imprensa se dissipa, integrando-se ou àquele fa-
vorável à manutenção governo Dilma — em vermelho — ou
àquele que defendia seu afastamento — em azul. Este último
ocupa um espaço maior e mais central na visualização, o que
denota uma posição mais hegemônica no debate, demons-
trando uma significativa adesão dos principais atores que
participaram da discussão às ideias do movimento.
GRAFO 3: PROTESTOS
PRÓ-IMPEACHMENT,
EM MARÇO DE 2015
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
O último grafo, publicado a seguir, sem os ró- A polarização verificada em momentos anterio-
tulos, que identificam os atores, representa as res dá lugar, dessa forma — diante da crise de
menções, no Twitter, aos protestos de 13 de confiança do brasileiro com relação aos políticos
março de 2016, que reuniram mais de 3 milhões e à política, relacionada ao crescente número de
de pessoas em todo o Brasil, em torno de uma denúncias de corrupção —, a uma forte desiden-
pauta majoritariamente pró-impeachment. Vê- tificação popular com os dois grupos em dispu-
-se, neste, o surgimento de um grande cluster, ta, a exemplo do que ocorreu em 2013, quando
em amarelo, ocupando a posição de maior des- as movimentações populares se mostravam, no
taque do grafo. Nesse grupo, estão perfis favorá- plano do debate público da internet, afastadas
veis ao impedimento da então presidente Dilma e de articulações políticas tradicionais.
às investigações da Operação Lava Jato.
O monitoramento do debate político na internet política. A análise dessas séries históricas ajuda,
se configura, assim, uma das mais importantes ainda, na antevisão de comportamentos políticos
linhas de atuação do núcleo de análise de redes a partir de padrões de interação. Tal aplicação foi
sociais da FGV/DAPP. Conforme já apontado, a utilizada pela FGV/DAPP, com sucesso, para esti-
utilização desta metodologia permite acompa- mar previamente as dimensões dos protestos de
nhar as variações nos modelos de comportamen- 13 de março de 2016, retratados no grafo acima,
to nas redes mais relevantes para a sociedade por meio da observação de sua repercussão nas
brasileira — especialmente o Facebook e o Twit- redes em datas anteriores.
ter —, e relacioná-las às mudanças na agenda
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
PESQUISA
EM ANDAMENTO
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
METODOLOGIA INTEGRADA DE
PESQUISA EM REDES SOCIAIS
SOCIOLOGIA APLICADA
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DIRETORIA DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
LINGUÍSTICA APLICADA
VISUALIZAÇÃO DE DADOS
A DIFICULDADE É POSITIVA
ATUALIZAÇÕES FREQUENTES
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
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