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O Social
em Questão 43
Número 43
Primeiro quadrimestre de 2019
Publicada em janeiro de 2019
O Social em Questão está inserido nas seguintes bases indexadoras de periódicos científicos:
i)CLASE – Citas Latinoamericanas em Ciencias Sociales y Humanidades (Universidad Nacional
Autonoma de México - UNAM): http://clase.unam.mx; ii)LATINDEX – Sistema Regional de
Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal
(UNAM) – Diretório, Catálogo e Revistas en línea: http://www.latindex.unam.mx. iii)BIBLAT
– Bibliografía Latinoamericana en revistas de investigación científica y social (UNAM): http://
biblat.unam.mx/pt/buscar/%22o-social-em-questao%22; iv)DIADORIM – Diretório de
Políticas Editoriais das Revistas Científicas Brasileiras (IBICT): http://diadorim.ibict.br; v)
PERIÓDICOS NACIONAIS (CAPES): http://www.periodicos.capes.gov.br; vi)SUMÁRIOS.ORG
– Sumários de Revistas Brasileiras (Fundação de Pesquisas Científicas de Ribeirão Preto -
FUNPEC-RP): http://www.sumarios.org/ e vii)REDIB (Red Iberoamericana de Innovación y
Conocimiento Científico): https://www.redib.org/ ; viii) REDALYC (Red de Revistas Científicas
de América Latina y el Caribe, España y Portugal): https://redalyc.org
Para maiores informações:
http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br
https://www.facebook.com/osocialemquestao O Social em Questão. Ano XXII, nº 43,
volume 1, janeiro a abril (2019), Rio de
O Social em Questão 43 Janeiro: PUC-Rio. Departamento de Serviço
Social, 1997-2019; 14 cm x 21 cm.
Profº Antonio Carlos de Oliveira (PUC-Rio)
Quadrimestral.
Profª Regina Celia Tamaso Mioto (UFSC)
ISSN: 1415-1804
1. Serviço social – Periódicos. 2. Assistentes
Editoração: Rafael Soares Gonçalves sociais – Periódicos. I. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Departamento de
Revisão de textos e normalização: Ana Lole Serviço Social.
Design e diagramação: Fábio Rapello Alencar
CDD: 361
Produção: Departamento de Serviço Social da PUC-Rio
Conselho Editorial
Agnès Deboulet – Université de Paris 8-Vincennes Saint Denis/CRH-LAVUE
Aldaíza Sposati – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Ana Cristina Arcoverde – Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco
Ana Maria Doimo – Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade
Federal de Minas Gerais
Ana Maria Quiroga – Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
Departamento de Serviço Social/PUC-Rio
Denise Câmara de Carvalho – Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte
Edésio Fernandes - DPU Associates/University College London
Jeremias Ferraz Lima – Instituto de Psiquiatria, Setor de Psicoterapia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro
José Maria Gomes – Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Lena Lavinas – Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Leonia Capaverde Bulla – Faculdade de Serviço Social, Departamento de Métodos e Técnicas
do Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Luiz Antônio Machado da Silva – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade
Federal do Rio de Janeiro/professor visitante da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Margarida de Souza Neves – Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro
Maria Carmelita Yazbeck – Departamento de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo
Potyara A. Pereira – Programa de Pós-graduação em Política Social da Universidade Federal
de Brasília
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Federal Fluminense
Sueli Gomes Costa – Departamento de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense
Vanilda Paiva – Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana
(PPFH) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Vicente de Paula Faleiros – Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília
SUMÁRIO/ SUMMARY
Relações família-Estado
Referências
ARAÚJO, C.; SCALON, C. Percepções e atitudes de mulheres e homens so-
bre a conciliação entre família e trabalho pago no Brasil. In: ARAÚJO, C.;
SCALON, C. (Org.). Gênero, família e trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: FGV/
FAPERJ, 2003. p. 15-78.
BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janei-
ro: Nova Fronteira, 1985.
Notas
1 Psicólogo e Doutor em Serviço Social. Professor Adjunto do Departamento de
Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
e líder do Grupo de Pesquisa do CNPq “Famílias, Violência e Políticas Públicas”.
Brasil. ORCID: 0000-0001-8854-6195. E-mail: antoniocarlos@puc-rio.br
Resumo
A Constituição Federal de 1988 marca a trajetória democrática brasileira. Diante dis-
to, este artigo discutirá sobre os avanços que ocorreram a partir deste aparato legal,
quanto à ampliação do conceito de família. Para tanto, apresentará o acontecimento
histórico que repercutiu de forma significativa na sociedade brasileira, bem como nas
famílias em geral. Destacará os atores e a correlação de forças que se estabelece-
ram neste processo histórico brasileiro. Para o desenvolvimento do artigo utilizou-se
como metodologia a revisão bibliográfica. Verificou-se o cenário e os atores envol-
vidos no processo, observando-se o conflito de poderes que margearam o aconte-
cimento, havendo ao final do processo avanços com relação à concepção de família.
Palavras-chave
Família; Constituição Federal; Constituinte.
Legislative advance and enlargement of the family concept after the Constitution
of 1988
Abstract
The Federal Constitution of 1988 marks the Brazilian democratic trajectory. In view
of this, this article will discuss the advances that occurred from this legal appara-
tus, regarding the enlargement of the concept of family. To do so, it will present the
historical event that had significant repercussions on Brazilian society, as well as on
families in general. It will highlight the actors and the correlation of forces that have
established themselves in this Brazilian historical process. For the development of
the article, the bibliographical review was used as methodology. It was verified the
scenario and the actors involved in the process, observing the conflict of powers
that bordered the event, having at the end of the process, advances in relation to the
conception of family.
Keywords
Family; Federal Constitution; Constituent.
Introdução
A família constitui-se o primeiro núcleo social no qual o indivíduo
inicia seu processo de socialização, porém, a família como se enten-
de na contemporaneidade, não se estabeleceu de maneira única em
todas as civilizações, sofrendo mudanças ao longo do tempo e das
culturas (REIS, 2006).
A partir desta definição, pretende-se analisar o tema família, es-
pecificamente a família brasileira destacando a Constituição Federal
de 1988 (CF/1988). Para tanto, faremos um breve resgate histórico de
como era constituída a família no Brasil, anterior a esse aparato legal,
sendo apresentadas algumas particularidades que influenciaram no
processo de promulgação da CF/1988. Trataremos sobre os atores e as
correlações de forças que se deram neste momento histórico brasi-
leiro, que culminou em avanços com relação aos direitos sociais e em
destaque a ampliação do conceito de família.
O presente artigo destaca, num primeiro momento, o Brasil Colônia
e a constituição da família patriarcal, posteriormente enfoca a famí-
lia nuclear e a forte discriminação dos relacionamentos extraconju-
gais. Nos anos 1960/70, alguns fatores alteram substancialmente os
padrões sociais de família no Brasil e com eles, houve também uma
modificação substancial na própria lei posteriormente.
No processo de democratização do País, mudanças sociais, econô-
micas e políticas ocorreram diante da mobilização popular. O artigo,
aqui empreendido, procura destacar essa trajetória e os avanços legis-
lativos com relação à ampliação do conceito de família após a CF/1988.
Eles não se reunirão para ditar aos Constituintes que textos de-
vem aprovar ou não. Eles irão reunir-se para ouvir a Nação, dis-
cutir com o Povo as suas aspirações, estimular a participação da
cidadania no processo de discussão da natureza e fins do Estado,
e estimulá-la a escolher bem os Delegados Constituintes.
O autor complementa:
Considerações finais
A análise de conjuntura revela-se como método eficaz para com-
preender determinado acontecimento, permitindo ao pesquisador
aferir mecanismos e ferramentas para contextualizar o objeto da aná-
lise com a realidade de fato vislumbrada no período.
Para uma adequada análise de conjuntura se faz necessário observar
qual o cenário envolto ao acontecimento que se propõe a pesquisar, ob-
servando fatos anteriores e concomitantes. Na sequência é importante
constatar os atores envolvidos figuras relevantes, para aquele aconteci-
mento; aqui não se trata apenas de uma pessoa física, é possível que o
ator seja uma pessoa jurídica, inclusive um ente despersonalizado.
Ademais, verificado o cenário e os atores, deve-se observar a
correlação de forças existente, o conflito de poderes que margeiam
o acontecimento.
Partindo dessas premissas a pesquisa definiu a promulgação da
CF/1988 como acontecimento a ser submetido a análise, com enfoque
na nova concepção de família adotada pelo constituinte, destacando
aspectos sociais, econômicos e políticos significativos no período.
O êxito da análise é a discussão da essência da CF/1988, com pon-
deração do cenário juntamente com nova abrangência da expressão
família, colacionando-se para tal ensinamento sobre a evolução his-
tórica do termo família.
O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019 pg 23 - 42
Avanço legislativo e ampliação do conceito de família pós-Constituição de 1988 39
Referências
ALVES, R. R. Família Patriarcal e Nuclear: Conceito, características e trans-
formações. 2009. Disponível em: <https://pos.historia.ufg.br/up /113/o/IIS-
PHist09_RoosembergAlves.pdf>. Acesso em: 08 jul. 2015.
ANDRADE JR., C. G. C. de. União Estável Poliafetiva: Aspectos Jurídicos. 2016.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito). Universidade Es-
tadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa: UEPG, 2016.
ARANTES, A. A Constituição Federal de 1988 e o movimento popular. 2013.
Disponível em: <http://contee.org.br/contee/index.php/2013/10/a-consti-
tuicao-de-1988-e-o-movimento-popular/>. Acesso em: 10 nov. 2017.
ARAUJO, C. O processo constituinte brasileiro, a transição e o Poder Consti-
tuinte. Lua Nova, São Paulo, n. 88, p. 327-380, 2013.
BRANDÃO, L. C. Os movimentos sociais e a Assembleia Nacional Constituinte
de 1987-1988: entre a política institucional e a participação popular. Disser-
Notas
1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas
pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Mestre em Ciências So-
ciais; Bacharel em Serviço Social; Especialista em Politica de Atendimento a
Criança e ao Adolescente; Especialista em Educação Especial. Especialista em
Política de Assistência Social – SUAS. Atualmente atua como assistente social
no município de Carambeí/PR. Brasil. ORCID: 0000-0003-4059-4678. E-mail:
vssato@yahoo.com.br
4 Nos escritos de Engels (2010), teremos a concepção de família por outro viés.
Para o autor, a família foi constituída a partir da propriedade privada, situação em
que se precisava de uma garantia de que haveria herdeiros legítimos da proprie-
dade. Engels concebe a família monogâmica como criação humana, constituída
para a defesa da propriedade privada, uma vez que com a expansão das riquezas
e as novas relações sociais e econômicas, precisava uma paternidade “indiscutí-
vel” (ENGELS, 2010).
Resumo
O presente artigo discute o cuidar em famílias a partir da produção de reflexões
acerca do termo cuidado, sua transversalidade no campo científico e seus reba-
timentos nas famílias. Esta análise é pautada no debate das relações desiguais de
gênero, sendo o cuidado o elemento estruturante do lugar do feminino no campo da
reprodução social da vida. Pensar o cuidado como trabalho implica reconhecer seus
custos e valorá-lo, isto é debatido na perspectiva conceitual da economia dos cuida-
dos. Além de abrir espaço em conceber o cuidado pelo viés do direito garantido para
famílias a fim de avançar em relações mais equitativas de gênero.
Palavras-chave
Cuidado; Famílias; Gênero.
It's always like this, it's all I am! Care, Gender and Families
Abstract
This article discusses the care inside families starting with reflections about the term
care, its transversality in the scientific field and its impacts. This analysis is based on
the discussion of unequal gender relations, being the care, the structuring element of
the feminine place in the social reproduction of life. Suppose care as a job involves
recognizing its costs and value it, what is discussed in the conceptual Care Economy
perspective. Besides, it opens space for conceiving care for the Right bias to be gua-
ranteed for the families in order to advance in more equitable gender relations.
Keywords
Care; Families; Gender.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
espaços separados” (CARLOTO, 2015, p.194), que não deveria ser so-
Ainda segundo Mioto e Prá (2015), vale salientar que esse “cam-
po do cuidado” necessita de muito estudo, pois não há uma definição
conceitual de cuidado, sendo assim essa categoria fica solta, pois tudo
e nada pode ser considerado como cuidado.
Tal questão adquire especial relevância quando há o desenvolvi-
mento de trabalhos junto às famílias, pois a falta de definição acerca
do cuidado pode revelar algumas armadilhas a serem consideradas e
enfrentadas ao pensar e trabalhar com as relações familiares, sobre-
tudo, nas categorizações acerca do certo/errado e do bom/ruim, em
uma perspectiva normatizadora e culpabilizadora.
Considerações finais
Ao tomar o cuidado como objeto de estudo constata-se quanto o
caminho é longo, transversal, polissêmico e com múltiplas dimensio-
nalidades, sendo necessário demarcar de que lugar a pesquisa parte
para se debruçar sobre o descortinar desta terminologia.
O presente artigo partiu do pressuposto de apresentar o quanto a cons-
trução deste conceito é transversal, ressaltando que para o estudo das re-
lações sociais de cuidado, o campo das ciências sociais corrobora com
conteúdos que tecem o processo de construção conceitual deste termo.
Referências
Notas
5 Alteridade refere a aceitação do outro como ele é, dessa forma, se oferta o que o
outro precisa e não o que eu acho melhor para ele (PEREIRA, 2009).
7 Para aprofundar a discussão ver: Sorj (2013), Esquivel (2012), Carrasco (2012), En-
ríquez (2005), Batthyány (2004), Duarte (2011), Montaño (2010), Aguirre (2009) e
Lyra et al. (2007) entre outros que abordam o cuidado nessa perspectiva.
Resumo
Inúmeros são os desafios que se apresentam para as mulheres, sobretudo para as
de baixa renda, na tentativa de conciliar as responsabilidades familiares e as deman-
das do trabalho remunerado. A ausência e/ou oferta limitada de serviços dificultam
ou retardam a entrada das mulheres no mercado de trabalho, produzindo tensio-
namentos e demandas para as políticas sociais. Com base em pesquisa qualitativa
realizada com famílias usuárias da Política Nacional de Assistência Social em Floria-
nópolis/SC buscou-se analisar como estas famílias se organizam em relação ao uso
do tempo de maneira a articular as responsabilidades entre trabalho remunerado
e trabalho não remunerado, sobretudo nas tarefas que dizem respeito ao cuidado.
Palavras-chave
Trabalho; Família; Cuidado; Uso do tempo.
Family, care work and time use: challenges for low income women
Abstract
There are many challenges for women, especially those with low incomes, in an at-
tempt to reconcile family responsibilities and the demands of paid work. The ab-
sence and / or limited supply of services hinders or slows the entry of women into
the labor market, producing tensions and demands for social policies. Based on qual-
itative research carried out with families using the National Policy of Social Assistance
in Florianopolis/SC, it was sought to analyze how these families organize themselves
in relation to the use of time in order to articulate the responsibilities between paid
work and unpaid work, tasks that concern care.
Keywords
Work; Family; Care; Time-use.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
de 12 anos. Esse dado é relevante, uma vez que o cuidado com crianças
cuidadoras?
Neste item, buscamos refletir sobre os cuidados pessoais e de aten-
ção à própria saúde das entrevistadas.
Ao responderem questões referentes às horas de sono, as entrevis-
tadas referiram dormir de três a sete horas diárias.
Quanto às horas gastas com higiene e cuidados pessoais, como to-
mar banho, escovar os dentes, cortar as unhas, etc., as entrevistadas
afirmaram gastar de 20 minutos a uma hora diária.
No tocante à prática de exercícios físicos, as respondentes relata-
ram não praticar nenhum exercício físico, exceto andar de bicicleta,
que, nesse caso, configura-se como uma necessidade, pois se trata do
meio de locomoção disponível, dada a ausência de transporte público
eficiente e de qualidade em Florianópolis.
Quando questionadas sobre as horas de descanso, todas as entre-
vistadas afirmaram não dispor de tempo para descansar, pois estão
sempre articulando estratégias de diferentes tipos a fim de conciliar
as demandas entre trabalho e responsabilidades familiares.
Nota-se, a partir da reflexão sobre o trabalho do cuidado – es-
pecialmente ao se considerarem as horas gastas com cuidados
pessoais –, que a vida e o cotidiano das mulheres entrevistadas
são para os outros, de tal maneira que elas não podem se ausen-
tar, pois os demais integrantes do núcleo familiar necessitam de
seus cuidados. Carloto, Nogueira e Damião (2017), ao discutirem
o uso do tempo das mulheres beneficiárias do Programa Bolsa-
-Família, questionam se é possível as mulheres com responsabili-
dades familiares cuidarem e pensarem em si mesmas e buscarem
trabalho e autonomia financeira, sendo que passam o dia inteiro
no cuidado dos familiares.
As autoras consideram que a mulher, historicamente destinada
aos cuidados domésticos familiares, sem ter essas atividades com-
partilhadas em esfera microssocial com homens e em esfera ma-
Considerações finais
Por meio dos resultados obtidos neste estudo, buscou-se contribuir
para o aprofundamento da temática proposta, colocando em evidên-
cia o trabalho do cuidado. Para contemplar os objetivos propostos,
optamos por uma abordagem de natureza qualitativa e apostamos nas
metodologias de pesquisa sobre o uso do tempo.
De forma resumida, as pesquisas de uso do tempo têm como ob-
jetivo mensurar o tempo dedicado aos distintos tipos de atividades
que as pessoas realizam. Esse tipo de instrumento permite dar maior
visibilidade a todas as formas de trabalho que se realizam tanto fora
como dentro do domicílio, sejam elas remuneradas ou não. O uso do
tempo dos indivíduos também está relacionado a práticas culturais e
condições materiais e financeiras das classes sociais (CARLOTO, 2015).
As evidências empíricas revelam que não há transferência, por par-
te das mulheres, das responsabilidades pela execução das atividades
relativas ao trabalho de cuidado para outros membros da família. Os
dados obtidos mostram que a renda familiar é uma variável importan-
te para um menor quantitativo de horas dedicadas ao trabalho familiar.
As mulheres pobres são as que executam maior jornada de trabalho
total e são as que têm menos tempo livre. A situação socioeconômica,
que permite maior acesso aos serviços de apoio, age como elemento
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ISSN: 2238-9091 (Online)
88 Tassiane Antunes Moreira e Liliane Moser
Referências
AGUIRRE, R. Los cuidados familiares como problema público y objeto de po-
líticas. In: ARRIAGADA, I. (Coord.). Família y políticas públicas em América La-
tina: Una historia de desencuentros. Santiago de Chile: Cepal, 2007. p. 187-198.
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tina. In: ARAÚJO, C.; PICANÇO, F.; SCALON, C. (Org.). Novas Conciliações
e Antigas Tensões?: Gênero, família e trabalho em perspectiva comparada.
Bauru: Edusc, 2007. p. 223-268.
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ón e inclusión sociales, Cepal, Serie Seminarios y Conferencias, n. 46, Santia-
go de Chile. Nações Unidas, jul. 2005.
BARCELOS, M. S. A incorporação da família nos serviços de saúde: um de-
bate a partir das concepções dos profissionais num hospital de alta comple-
xidade. Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Programa de Pós-Gradu-
ação em Serviço Social, Centro Socioeconômico, Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis, UFSC, 2011.
BRUSCHINI, M. C.; RICOLDI, A. M. Família e trabalho: difícil conciliação para
mães trabalhadoras de baixa renda. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 39,
n.136, p. 93-123, jan./abr. 2009.
Notas
5 O objetivo geral desta pesquisa consistiu em analisar como cinco famílias re-
ferenciadas no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Ingleses do
Rio Vermelho se organizam em relação ao uso do tempo de maneira a articular
as responsabilidades entre trabalho remunerado e trabalho não remunerado.
Para contemplar esse objetivo, foi realizada entrevista semiestruturada com as
famílias e aplicação de questionário, a partir de uma abordagem qualitativa. O
conjunto de dados da pesquisa pode ser consultado na dissertação “Trabalho e
Vida Familiar: um estudo sobre o uso do tempo com famílias usuárias da Política
Nacional de Assistência Social em Florianópolis (SC)” apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina
(Cf. MOREIRA, 2018).
Karina Batthyány1
Natalia Genta2
Sol Scavino3
Resumen
El presente artículo busca conocer cómo son las estrategias de cuidado infantil en
Uruguay. Para ello, se creó una tipología de estrategias de cuidado en base a los mi-
crodatos de la Encuesta de Nutrición Desarrollo Infantil y Salud, que permite cono-
cer niveles de familismo en la población con niños de 0 a 6 años a cargo. El análisis
pone de manifiesto que a pesar de que Uruguay es pionero en América Latina en
desarrollar un Sistema Nacional Integrado de Cuidados, persisten serias dificultades
para gozar del derecho al cuidado, lo que perpetúa una ciudadanía de segunda en
las mujeres.
Palabras clave
Género; Cuidado infantil; Corresponsabilidad.
Changes and permanence in child care strategies in the life course: a gender analysis
Abstract
This article seeks to know how child care strategies are in Uruguay. To do this, a
typology of care strategies was created based on the microdata of the Childhood
Development and Health Nutrition Survey, which allows knowing levels of familism
in the population with children from 0 to 6 years of age. The analysis shows that
although Uruguay is a pioneer in Latin America in developing an Integrated National
System of Care, serious difficulties persist to enjoy the right to care, which perpetu-
ates a second citizenship in women.
Keywords
Gender; Child care; Co-responsibility.
Resumo
Este artigo procura saber como são as estratégias de cuidado infantil no Uruguai.
Para isso, foi elaborada uma tipologia de estratégias de cuidado com base nos mi-
crodados da Pesquisa de Nutrição, Desenvolvimento Infantil e Saúde, que permite
conhecer os níveis de familismo na população de crianças de 0 a 6 anos de idade. A
análise mostra que, embora o Uruguai seja pioneiro na América Latina no desenvol-
vimento de um Sistema Nacional Integrado de Atenção, persistem sérias dificulda-
des em usufruir o direito ao cuidado, o que perpetua a cidadania de segunda classe
nas mulheres.
Palavras-chave
Gênero; Cuidado infantil; Corresponsabilidade.
Introducción
El presente artículo busca conocer cómo son las estrategias de cui-
dado infantil en Uruguay. Este país presenta la peculiaridad de contar
con el primer Sistema Nacional Integrado de Cuidados en la región,
que se propone corresponsabilizar los cuidados entre Estado, merca-
do, comunidad y familia, y también entre varones y mujeres encon-
trándose dentro de sus objetivos la modificación de la actual división
sexual del trabajo en Uruguay. Para ello, en relación al cuidado infantil,
se ha avanzado en la generación de mecanismos para la redistribuci-
ón del trabajo de cuidados que se expresan en al menos dos grandes
ejes: el aumento de los centros de cuidado infantil (que no garantizan
la corresponsabilidad entre varones y mujeres, pero liberan tiempo de
cuidado) y la modificación en los subsidios de cuidado. La Ley 19.161
amplía de 12 a 14 semanas la licencia por maternidad (obligatoria), ex-
tiende la licencia paternal (que puede llegar a 13 días en el caso de
trabajadores dependientes de la actividad privada) y establece para
O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019 pg 95 - 120
Cambios y permanencias en las estrategias de cuidado infantil en el curso de vida... 97
Metodología
El presente trabajo analiza las estrategias de cuidado, mediante
la elaboración de una tipología de estrategias de cuidado basada en
quienes participan de los cuidados (familia, Estado, mercado) a tra-
vés de las horas de dedicación, de modo de conocer la interacción
entre la tipología y otras variables relevantes para los cuidados. Para
su elaboración se trabajó con los datos de la ENDIS, cuyos institutos
pg 95 - 120 O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019
ISSN: 2238-9091 (Online)
104 Karina Batthyány, Natalia Genta e Sol Scavino
Tabla 2. Distribución de las estrategias de cuidado según edad de los niños. Primer y
segunda ola. Total país 2013 y 2015
Ola 1 Ola 2
Menor a un año 1 año 2 años 3 años 4 años
Familista 82,8 62,0 51,6 32,1 15,2
Baja participación
7,1* 15,4 20,1 30,5 43,4
del Estado
Fuente: elaboración propia en base a ENDIS –primer y segunda ola - INE-IECON-UCC. *Nota: menor
a 30 casos por celda.
Tabla 3. Asistencia de los/as niños/as a centros de cuidado infantil. Total país, 2013 y
ISSN: 2238-9091 (Online)
2015
No asiste 64,1
Ola 1 Asiste 35,9
Total 100
No asiste 22,6
Ola 2 Asiste 77,4
Total 100
Fuente: elaboración propia en base a ENDIS – primera y segunda ola - INE-IECON-UCC. *Nota: menor
a 30 casos por celda.
Fuente: elaboración propia en base a ENDIS –primer y segunda ola - INE-IECON-UCC. *Nota: menor
a 30 casos por celda.
Fuente: elaboración propia en base a ENDIS –primer y segunda ola - INE-IECON-UCC. *Nota: menor
a 30 casos por celda
Tabla 6.Tipología de Estrategias de Cuidado por terciles de ingresos de los hogares de los/
as niños. Total país, 2013 y 2015.
Ola 1 Ola 2
Primer Segundo Tercer Primer Segundo Tercer
Tercil Tercil Tercil Tercil Tercil Tercil
Familista 70,0 60,7 43,9 30,8 23,0 14,7
Baja
participación del 21,7 19,7 8,1 50,1 46,1 20,1
Estado
Alta participación
3,4* 3,2* 1,6* 13,3 11,2 4,5
del Estado
Baja
2,4* 8,0 14,8 3,5* 10,8 18,8
mercantilización
Alta
2,0* 6,6 28,9 1,7* 7,9 37,8
mercantilización
Participación
combinada
,5* 1,8* 2,9* ,6 1,0 4,0
de Estado y
mercado
Total 100 100 100 100 100 100
Fuente: elaboración propia en base a ENDIS – primer y segunda ola - INE-IECON-UCC. *Nota: menor
a 30 casos por celda.
Ola 1 Ola 2
No trabaja Trabaja No trabaja Trabaja
Familista 74,2 48,1 34,5 16,9
Baja
participación del 19,5 14,5 45,7 34,8
Estado
Alta
participación del 1,3 3,6 9,4 9,2
Estado
Baja
3,2 11,7 6,4 13,5
mercantilización
Alta
1,8* 19,3 3,9* 22,8
mercantilización
Participación
combinada
0,0* 2,8 0,1* 2,8
de Estado y
mercado
Total 100 100 100 100
Tabla 8. Estrategias de cuidados por horas dedicadas al mercado laboral de las madres.
Total país, 2013.
Hasta 20 horas Más de 20
No trabaja Total
semanales horas
Familista 74,3 62,6 46,1 58,2
Baja participación del
19,4 24,6 13,1 16,4
Estado
Alta participación del
1,3 3,5 3,6 2,7
Estado
Baja mercantilización 3,2 7,2 12,3 8,4
Alta mercantilización 1,8* 1,6* 21,7 12,5
Participación combinada
,0* 0,5* 3,2 1,8
de Estado y mercado
Total 100 100 100 100
Fuente: elaboración propia en base a ENDIS –primer ola - INE-IECON-UCC. *Nota: menor a 30 casos
por celda
Tabla 9. Estrategias de cuidados por horas dedicadas al mercado laboral de las madres.
Total país, 2015.
Hasta 20 horas Más de 20
No trabaja Total
semanales horas
Familista 33,6 24,6 15,4 22,9
Baja participación del
46,6 42,1 32,2 38,6
Estado
Alta participación del
9,2 10,1 9,0 9,3
Estado
Baja mercantilización 7,0 12,3 13,4 11,1
Alta mercantilización 3,4* 10,1* 26,6 16,3
Participación combinada
0,1* 0,8* 3,3 1,9
de Estado y mercado
Total 100 100 100 100
Fuente: elaboración propia en base a ENDIS –segunda ola - INE-IECON-UCC. *Nota: menor a 30
casos por celda
Tabla 10. Tipo de estrategia de cuidados por compatibilidad de horarios del centro de
cuidado infantil y trabajo. Total país, 2013 y 2015.
Ola 1 Ola 2
Es No es Es No es
compatible compatible compatible compatible
Baja
participación del 65,0 35,0 78,5 21,5
Estado
Alta
participación del 72,4 27,6* 78,2 21,8*
Estado
Baja
83,8 16,2* 81,9 18,1*
mercantilización
Alta
84,9 15,1 87,7 12,3
mercantilización
Participación
combinada
49,6* 50,4* 76,2* 23,8*
de Estado y
mercado
Total 73,2 26,8 80,8 19,2
Fuente: elaboración propia en base a ENDIS –primer y segunda ola - INE-IECON-UCC. *Nota: menor
a 30 casos por celda
Reflexiones finales
Los principales resultados dan cuenta del predominio en la socie-
dad uruguaya de una estrategia familista de cuidado infantil en los
niños más pequeños que se transforma hacia una con apoyo parcial
del Estado conforme avanza la edad de los niños.
En términos de los significados que los datos descritos implican en
las políticas de protección social en Uruguay, es posible sostener que
aún es imprescindible aumentar la oferta de centros de cuidado in-
fantil para niños/as de entre 0 y 2 años, principalmente, y en general
aumentar la carga horaria que se oferta. También se puede profundizar
en el mejoramiento de mecanismos de Licencias Parentales individu-
ales e intransferibles, para promover un cambio cultural que modifi-
que efectivamente la actual división sexual del trabajo.
El análisis de los datos muestra que si bien se está avanzando en ga-
rantizar los derechos al cuidado, las condiciones actuales no permiten
que la desfamiliarización genere condiciones para el desarrollo de las
mujeres en, por ejemplo, el ámbito laboral en igualdad de condiciones
que los varones. Sin embargo, el tema es parte de la agenda pública y
se siguen haciendo esfuerzos presupuestales para que la progresivi-
dad hacia la universalidad sea una realidad en el país.
En la estrategia familista se registra la mayor cantidad de horas de
cuidado no remunerado dedicado por las madres así como el por-
las mujeres las que experimentan los costos de no contar con servi-
cios públicos disponibles a jornada completa y quienes deben, o bien
trabajar a jornada parcial con la pérdida de ingresos que esto significa
o bien abandonar el mercado laboral. Esto es además aún más impor-
tante en el caso de los niños menores de tres años para quienes tam-
poco existen servicios púbicos a jornada parcial universales.
Se deberá trabajar desde la política pública para permitir socializar
los costos del cuidado a través de la generación de servicios públicos
que permitan articular el trabajo con los cuidados. De lo contrario, en
el marco de un contexto sociocultural que asocia a las mujeres al cui-
dado, y de la idea generalizada de que el ámbito ideal de cuidado es en
la familia, las mujeres seguirán asumiendo los costos del cuidado de
los niños de forma individual.
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Notas
Resumo
Buscou-se descrever o perfil socioeconômico pessoal das cuidadoras e dos ido-
sos dependentes, identificando os fatores associados à relação de cuidado e as
representações sociais acerca da mesma. Entrevistou-se 24 cuidadoras, utilizan-
do-se a técnica SnowBall para a seleção da amostra. Foi realizada a Análise de
Conteúdo, fundamentada pela Teoria das Representações Sociais. Os fatores so-
cioeconômicos e pessoais das cuidadoras podem influenciar na relação de cui-
dado e em suas representações.
Palavras-chave
Mulher idosa; Cuidadora; Perfil Socioeconômico.
Profile of elderly caregiving women and the factors associated with the care relationship
Abstract
The aim was to describe the personal socioeconomic profile of caregivers and de-
pendent elderly, identifying the factors associated with the care relationship and the
social representations about it. Twenty-four caregivers were interviewed using the
SnowBall technique for sample selection. Content Analysis, based on Theory of So-
cial Representations, was carried out. The socioeconomic and personal factors of
caregivers can influence the care relationship and its representations.
Keywords
Elderly woman; Caregiver; Socioeconomic Profile.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
Métodos
a) Caracterização da pesquisa e local do estudo
Este estudo é de natureza qualitativa, com abordagem exploratória
e descritiva, tendo como estratégia de pesquisa o estudo de caso.
A pesquisa foi realizada no município de Viçosa, MG, uma vez que
conta com 11,03% de pessoas idosas em sua população total, sendo
este valor representativo ao se comparar com o percentual desta faixa
etária no Brasil, ou seja, 10,8% da população. Destaca-se que a popu-
lação idosa viçosense possui maior número de mulheres, cuja porcen-
tagem foi de 6,1%, com um diferencial de 1,2% a mais do que os ho-
mens idosos no município (4, 9%) (IBGE, 2010). Esses dados mostram
que a referida cidade é propícia para os estudos em envelhecimento.
b) Sujeitos da pesquisa
A pesquisa envolveu, especificamente, as mulheres idosas que
ofertavam o cuidado a idosos(as) dependentes em suas atividades de
vida diária, com debilidades motoras e/ou mentais. O critério para in-
clusão na pesquisa é ser familiar da pessoa demandante de cuidado.
Para a definição da amostra foi utilizada uma das técnicas de amos-
tragem chamada snowball sampling, também conhecida como ca-
deia de informantes ou método da bola de neve, segundo Biernacki
e Waldorf (1981). Esta técnica permite definir a amostra de sujeitos da
pesquisa por referência, ou seja, a partir de uma pessoa com o perfil
para a pesquisa buscam-se as demais por indicação da mesma e, as-
sim, sucessivamente. Desde modo, a pesquisa teve uma amostra não
probabilística, não podendo ter seus resultados generalizados, e sim
analisados para os indivíduos participantes da pesquisa.
pg 121 - 142 O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019
124 Alessandra V. de Almeida, Simone C. T. Mafra, Emília P. da Silva,
Solange Kanso e Sheila Maria Doula
Resultados e discussão
Nessa seção serão apresentados os dados que se referem aos per-
fis socioeconômico, pessoal e familiar das idosas cuidadoras e dos(as)
idosos(as) dependentes, além das informações que dizem respeito aos
aspectos significativos do contexto da relação de cuidado.
pg 121 - 142 O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019
126 Alessandra V. de Almeida, Simone C. T. Mafra, Emília P. da Silva,
Solange Kanso e Sheila Maria Doula
VARIÁVEIS Frequência %
Estado Civil
Casada 16 66,7
Solteira 4 16,6
Viúva 2 8,3
Separada 1 4,2
Divorciada 1 4,2
Total 24 100
Raça
Branca 16 66,7
Negra 8 33,3
Total 24 100
Religião
Católica 19 79,2
Evangélica 4 16,6
Espírita 1 4,2
Total 24 100
Escolaridade
Não frequentou a escola 4 16,7
Ensino Fundamental – 1ª fase (incompleto) 9 37,5
Ensino Fundamental – 1ª fase (completo) 4 16,7
Ensino Fundamental – 2ª fase (incompleto) 0 0
Ensino Fundamental – 2ª fase (completo) 2 8,3
Ensino Médio Incompleto 0 0
Ensino Médio Completo 2 8,3
Ent. 10 “É porque eu casei com ele, né? Nós temos que cuidar um do
outro.”
Por
Ent. 11 “Porque eu que tenho que cuidar dela, né? Porque eu que sou
obrigação Por ser mãe 1
mãe, fiquei no lugar de mãe, de pai.”
Ent. 1 “Cuidando dele obrigada, né? Porque, os filhos não quer, né?”
Por ser esposa
e não haver
2
quem queira Ent. 4 “Porque não tinha outra pessoa para cuidar e como diz o
cuidar outro: é mulher e marido, né? Aí cuida eu sozinha, porque os filhos
dele não ajudam.”
Ent. 19 “É Amor! Não tem outra coisa.”
À pessoa
6
dependente
Por amor Ent. 13 “O amor, né? O amor de mãe.”
Ent. 5 “O amor que a gente tem. O carinho com ela. Tem que ter muita
paciência e como diz o outro: a gente está aqui para servir mesmo.”
Ent. 12 “Querendo ou não ele é pai dos meus filhos, né? Cuido por
À Deus 1
amor a Deus.”
Ent. 21 “Acho que por ser minha mãe, ela cuidou de mim, hoje eu
Por retribuição 1
tenho que cuidar dela, né?”
Ent. 18 “... porque todas elas (irmãs) trabalham e (...) eu não quis trabalhar.”
Ent. 17 “Porque quem que ia cuidar dele? Tinha que ser eu mesma
Ausência de outro cuidador 3
né? É por não ter outra pessoa.”
Ent. 8 “Cuido dele para ele ficar bem. Procuro fazer as coisas que ele
precisa e gosta.”
Necessidade do cuidado 4 Ent. 7 “Ele perdeu a visão, como é que faz? Eu não conseguiu fazer
nada mais sem ajuda.”
Ent. 3 “(...) eu acho a idade dele avançada para passar pelo que
ele passou. Foi uma coisa muito séria, de uma hora por outra que
abalou nós todos lá em casa.”
Ent. 9 “Ah, porque tenho que cuidar, porque a gente sempre vai
perder a mãe da gente... cuidar dela enquanto ela tá aqui com a
gente, depois falta, acabou, não é? (...) Por amor, medo de perder.
Medo da perda 2
Ent. 6 “Meu dom é de doar. Medo dela morrer e o menino (filho) com
quem vai ficar?
Ent. 4 “Eu fico dó dela, porque ela tem muito sobrinho, mas ninguém
esquenta a cabeça com ela.”
Sentimento de pena 2
Ent. 2 “Ah, eu fico com dó dela, coitada, é minha irmã, né?! É só nós duas.”
Considerações finais
A análise do perfil das mulheres investigadas elucidou diversas
questões que podem levar a compreensão da realidade vivenciada
por outras cuidadoras informais idosas, num contexto de vida em que
já são evidentes as marcas da velhice. Foi possível observar que os
O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019 pg 121 - 142
Perfil das mulheres idosas cuidadoras e os fatores associados à relação de cuidado 139
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censo2010/default.shtm>. Acesso em: 22 out. 2018.
Notas
Resumo
O artigo reflete sobre as concepções de trabalho social com famílias por parte de
psicólogos. O referencial teórico utilizado foi o materialismo histórico dialético. Para
tanto, foram levantados e analisados 34 artigos científicos sobre a temática. Duas
concepções sobre trabalho social com famílias emergiram. Uma tradicional, voltada
à clínica individualizante, moralista e liberal que adota práticas adaptativas das fa-
mílias à sociedade capitalista. Outra denominada crítica, que aponta concepções e
práticas que visam promover crítica e mudanças na realidade social. Conclui-se que
o termo trabalho social com famílias é polissêmico e dialético, enquanto conceito,
pois pode denotar tanto práticas adaptativas como críticas.
Palavras-chave
Trabalho social com famílias; CRAS; Psicologia; Política Pública de Assistência Social.
Abstract
The article reflects on the conceptions of social work with families of psychologists.
The theoretical reference used was dialectical historical materialism. Thirty-four sci-
entific papers on the subject were selected and analyzed. Two conceptions of social
work with families emerged. A traditional one, oriented to the individualizing, mor-
alistic and liberal clinic that adopts adaptive practices of the families to the capitalist
society. Another, called critic, that points out conceptions and practices that aim to
promote social criticism and changes in social reality. We conclude that the term so-
cial work with families is polysemic and dialectical, as a concept, since it can denote
both adaptive and critical practices.
Keywords
Social work with families; CRAS; Psychology; Social welfare public policy.
Procedimentos Metodológicos
O levantamento de artigos ocorreu no sítio da Scientific Eletronic Li-
brary Online, mais conhecido no Brasil por SciELO3. Realizamos a bus-
ca com as palavras-chave: Psicologia e Assistência Social em todo o
conteúdo do artigo. Tivemos como resposta o montante de 115 artigos.
Todavia, foi necessário o estabelecimento de outras formas de filtrar o
conteúdo para excluir material que não tivesse relação com a temática.
Exportamos a citação dos artigos para um arquivo e realizamos
uma seleção manual dos textos. Já de saída, um artigo foi excluído por
estar repetido na base de dados.
O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019 pg 143 - 164
Concepções de trabalho social com famílias por parte de psicólogos em artigos... 145
Ximenes, Paula e Barros (2009) nos ressaltam que tais práticas ten-
dem a ser assistencialistas ou tecnicistas. Na primeira a relação do psi-
cólogo com a comunidade é paternalista; distanciada; não favorece o
processo de análise e reflexão; limita-se à satisfação de necessidades
imediatas e favorece a dependência e submissão da comunidade. Já as
práticas tecnicistas promovem uma relação hierárquica entre o saber
profissional e os erigidos localmente, submetendo a comunidade a in-
teresses alheios aos dos seus membros.
pg 143 - 164 O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019
ISSN: 2238-9091 (Online)
152 Gustavo Henrique Carretero
Referências
ISSN: 2238-9091 (Online)
Notas
ISSN: 2238-9091 (Online)
4 Tradução livre de: “In this sense, we understand that socio-educative actions are
not expected to promote significant changes if they remain separated from socio-
economic, cultural and political strategies. The main challenge put by the CISAS
model is precisely to integrate social support, social inclusion, and participation
through reflexive methods and effective actions, moving towards a change that
could make a difference both in the promotion of citizenship and in the struggle
against poverty and social exclusion.”
Resumo
O presente artigo analisa o processo de transmutação das políticas de proteção so-
cial no contexto de crise do capital em sua fase financeirizada. Trata-se de um estudo
bibliográfico e documental sobre o desenvolvimento do Welfare italiano. Atualmen-
te, nos países europeus, observa-se a generalização de programas de renda mínima,
reafirmando tendências de reforço do familismo e de “monetarização dos direitos
sociais”. Diante do crescimento dos índices de desigualdade e pobreza, a política de
assistência social é efetivada de forma fragmentada e seletiva, características que
são reforçadas por elementos de sua formação social que se constituem obstáculos
para uma política homogênea e universal.
Palavras-chave
Monetarização dos direitos sociais; Pobreza; Programas de Renda Mínima; Famílias
italianas; Formação social italiana.
The growth of poverty and the Italian minimum income program of the family: the
Italian case
Abstract
This article analyzes the process of transformation of social protection policies in
the context of the crisis of capital in its financialized phase. This is a bibliographical
and documentary study on the development of Italian Welfare. Currently, in Europe-
an countries there is a generalization of minimum income programs, reaffirming the
tendencies whether to reinforce familism and the “monetarization of social rights”.
Accordingly, the growth of the indices of inequality and poverty, the welfare policy is
implemented in a fragmented and selective manner, characteristics that are reinfor-
ced by elements of its social formation, thus constitute obstacles to a homogenous
social and welfare policy and universal.
Keywords
Monetarization of social rights; Poverty; Minimum Income Programs; Italian families;
Italian social formation.
Introdução
O presente texto busca analisar o processo de crise do capital e
suas reverberações para o Estado e transmutação das formas e mo-
dalidades como este intervém nas diferentes expressões da questão
social3 no contexto italiano. Procuramos analisar a realidade italiana
com ênfase para as políticas sociais (no caso, as políticas e os progra-
mas socioassistenciais), o crescimento da pobreza, do pauperismo e
do desemprego neste País. Mais especificadamente, a implementação
dos atuais programas de renda mínima, reafirmando tendências seja
de reforço do familismo seja de “monetarização dos direitos sociais”,
em detrimento da efetivação de políticas sociais universais e efetivas.
No contexto de crise estrutural do capital, iniciado na década de
1970, sob a égide do capital financeiro no comando da acumulação,
diversos processos são postos em movimento objetivando a retoma-
da das taxas de lucros e novas alternativas de mercado, principalmen-
te para o capital financeiro.
Procura-se analisar o desenvolvimento dos programas ou medidas
de renda mínima nos países europeus, com destaque para a expe-
riência italiana. Dessa forma, realiza-se um estudo de caso, relacio-
nando as atuais tendências da política de assistência social italiana, a
formação social e histórica nacional, bem como os pressupostos para
acumulação do capital financeiro rentista que vem impondo novas
modalidades de proteção social, a saber tendência mundial de “mo-
netarização dos direitos sociais” (GRANEMANN, 2007).
O estudo sobre o desenvolvimento das políticas sociais em um
determinado País sucinta a análise de elementos particulares de sua
formação social e sua relação com o movimento geral do capital in-
ção social. Para Mioto (2010) o familismo não pode ser confundido
famílias italianas
Os anos 2000 sinalizam para o período de grandes mudanças a ní-
vel político governamental e internacional. No governo italiano, entre
os anos de 2001 a 2006 o Primeiro-Ministro foi o centro-direitista Sil-
vio Berlusconi. Madama (2012) afirma que tal governo, além de cortar
gastos para as políticas sociais, ainda procurou reforçar uma visão da
família como principal amortizador social.
Posteriormente, entre aos anos de 2006 a 2008 o País passou por
governos caracterizados de centro-esquerda e centro-direita, cain-
do em uma crise e recessão econômica, que se observava por toda a
Europa. Em tal contexto, adotou-se, de 2011 a 2013, um governo ca-
racterizado como “técnico”, ou seja, não possuía uma ligação com ne-
nhum partido político, que teve como Primeiro-Ministro Mario Monti10.
Posteriormente, nos anos de 2013 a 2018, a Itália teve um governo de
centro-esquerda, porém com uma grande pluralidade parlamentar.
A partir de 2018, a configuração política italiana é muito preocupante.
Nas últimas eleições, uma parte significativa dos eleitores não votaram
(27% dos que possuem direito) 11. Após uma grave crise política, o partido
populista de centro, o Movimento Cinque Stelle, teve a maior parte dos
votos dos eleitores (32,6%), mas não o bastante para assumir sozinho o
parlamento e se aliou ao partido de extrema-direita Lega Nord, que ob-
teve 17,3% dos votos. O novo governo, de um lado, assumiu a respon-
sabilidade de implementar um programa de garantia de renda mínima
condicionado para uma importante parcela da população pauperizada
pela atual crise financeira que abateu o País desde 2008; do outro lado,
assumiu uma política nacionalista com o fechamento das fronteiras para
os imigrantes e para os refugiados, alimentando um discurso xenófobo
e infringindo leis internacionais de Direitos Humanos. Tentando aliar de-
mandas eleitorais extremamente opostas, a manutenção do atual go-
verno está em perene instabilidade. Tenta-se, neste contexto, realizar
reformas nas políticas sociais, trabalhistas e da previdência social.
Observações conclusivas
A partir do estudo da realidade europeia e, particularmente, aque-
la italiana, observa-se cada vez mais a constante tendência de “mo-
netarização dos direitos sociais” em detrimento da efetivação de
políticas sociais universais e efetivas. Particularmente, na Europa, é
possível evidenciar que as medidas de transferência de renda são
tomadas como principais mecanismos para responder às situações
de extrema pobreza. Tais intervenções se desenvolveram diferente-
mente em cada País, em acordo aos modelos de welfare nacional e
o movimento geral do capital financeirizado.
Ao elemento da crise do capital, transmutação do Estado Social por
meio da adoção de medidas neoliberais, soma-se, também, a elemen-
O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019 pg 165 - 192
O crescimento da pobreza e os Programas de Renda Mínima voltados às famílias... 187
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Notas
1 Doutora em Serviço Social pela Università di Roma Tre (Itália), professora do De-
partamento de Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Brasil. ORCID: 0000-0002-3329-4856. E-mail: salyannass@gmail.com. Organi-
zação de fomento à pesquisa que apoia o trabalho: Bolsa de Doutorado Pleno no
Exterior, fornecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), BEX: 0549/2012-6; Programa PNPD/CAPES.
4 A tese intitulada “Lo sguardo delle donne sulle politiche de contrasto alla povertà:
un’analisi comparativa tra Brasil e Italia” foi defendida na Scuola Dottorale in Pe-
dagogia e Servizio Sociale pela Università degli Studi Roma Tre (Roma/Itália), em
2016.
5 Vale ressaltar que para a realização do referido Doutorado contou-se com uma
Bolsa de Doutorado Pleno no Exterior, fornecida pela Coordenação de Aperfeiço-
amento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para as duas autoras. Entre os perí-
odos de 2012 a 2016 (BEX: 0549/2012-6) para Salyanna de Sousa, entre os perío-
dos de 2014 a 2016 (BEX: 13742/13-2) para Gisele Anselmo. Além, de atualmente,
a autora Gisele Anselmo ser bolsista do Programa Nacional de Pós-Doutorado
(PNPD/CAPES) com o Projeto de Pesquisa intitulado: “Os Programas de transfe-
rência de renda no Brasil e na Itália: seus anseios, suas tentativas, seus detratores
e seus opositores”, realizado no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e
Direitos Sociais (PPGSSDS/FASSO) na Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (UERN).
6 Cabe ressaltar, que Behring e Boschetti (2011, p. 47) afirmam que não se pode
indicar com precisão o surgimento das primeiras iniciativas reconhecidas como
políticas sociais. Ela é comumente relacionada aos movimentos de massa social-
-democratas e ao estabelecimento dos Estados europeus no final do século XIX,
com sua generalização situada na passagem do capitalismo concorrencial para o
monopolista, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial.
7 Behring e Boschetti (2011) chamam nossa atenção para a diferença no uso dos
termos “Welfare State” e políticas sociais. Destarte, o termo “Welfare State” re-
fere-se a um período histórico, econômico e político marcado pela superação da
óptica securitária e a incorporação de um conceito ampliado de seguridade so-
cial, pautado no combate à pobreza, que se expressou principalmente no Plano
Beveridge publicado em 1943 na Inglaterra.
10 Em seu curto período, tal governo implantou diversas medidas austeras de ata-
que aos direitos sociais e trabalhistas. Em 2012 entra em vigor a Lei “Monti-Forne-
ro”, caracterizada como uma contrarreforma na Previdência Social italiana. Sobre
as características da Política da previdência social italiana sugerimos a leitura do
artigo de Silva (2016).
11 Para uma compreensão estatística mais exaustiva das últimas eleições eleitorais,
12 Entre os países europeus com uma média de risco de pobreza superiores à mé-
dia italiana encontram-se a Grécia, Estônia, Letônia, Lituânia, Espalha, România e
Bulgária, enquanto os Países Baixos demonstram um aumento do risco de pobre-
za similares aquele da Itália (Relatório BES 2017 – ISTAT).
14 A social card foi instituída em 2008 e funciona como um cartão de credito que é
recarregado bimensalmente, utilizado para compra somente de gêneros alimen-
tares e pagamentos de faturas de serviços públicos. Atualmente o valor da social
card é em torno a 40 euros mensais.
Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar o perfil e as configurações familiares dos
idosos que recebem Benefício de Prestação Continuada (BPC) e são assistidos pelo
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Tapanã no município de Belém,
Pará, Brasil. A metodologia utilizada está relacionada a pesquisa quantitativa e qua-
litativa, e foi organizada por meio de pesquisas bibliográficas e análise documental
da instituição. Foram analisados 100 perfis dos idosos assistidos pelo CRAS-Tapanã
que receberam o BPC no ano de 2017. Nos resultados constatamos um número ele-
vado de idosos provedores/chefes de famílias que sustentam e/ou complementam
o orçamento familiar.
Palavras-chave
Idoso; Benefício de Prestação Continuada (BPC); CRAS.
Benefit of Continuing Provision for old age: Profile and family composition of those
assisted by CRAS-Tapanã, in Belém-Pará.
Abstract
The purpose of this study is to analyze the profile and the family settings of elderly
people who receive Continuous Benefit Benefit (BPC) and are assisted by the Refer-
ence and Social Assistance Center (CRAS) in the municipality of Belém, Pará, Brazil.
The methodology used is related to quantitative and qualitative research, and was
organized through bibliographical research and documentary analysis of the institu-
tion. We analyzed 100 profiles of elderly people assisted by CRAS-Tapanã and re-
ceived the BPC in 2017. In the results we found a large number of elderly providers
and heads of families who support or support their families.
Keywords
Elderly; Continuous Benefit Benefit (BPC); CRAS.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
como aquele não tem mais como produzir também não contribui-
rá para acumular riquezas, ao contrário dos jovens que são ativos.
O não reconhecimento de habilidades, experiências e vivências do
trabalhador idoso é marcada por preconceitos e discriminação, não
tendo mais oportunidade de trabalho na sociedade capitalista o im-
pulsiona ao trabalho informal4 em diversos segmentos, seja em sua
casa ou na rua, para assim poder garantir sua subsistência, bem
como, de seus familiares.
Atualmente podemos perceber que nas novas configurações fami-
liares temos idosos independentes que ainda auxiliam filhos e netos,
principalmente no cuidado com os netos enquanto os filhos trabalham
ou quando os mesmos se separam, bem como parentes que coabitem
com os mesmos, mudando assim o conceito de família nuclear e for-
mando novas configurações.
Osório e Valle (2002) afirmam que a família pode se apresentar sob
três formatos básicos: a nuclear (conjugal) constituída pelo tripé pai-
-mãe-filhos, a “extensa” (consanguínea) pode ser composta também
por outros membros que tenham quaisquer laços de parentesco e a
“abrangente” que inclui os não parentes que coabitem. A estrutura fa-
miliar varia, portanto, conforme a latitude, as distintas épocas históri-
cas e os fatores socio-políticos, econômicos ou religiosos prevalecen-
tes num dado momento do desenvolvimento de determinada cultura.
Definir família não é fácil devido às modificações nas suas con-
figurações que ocorreram e que ainda ocorrem e são decorrentes
das transformações socioeconômicas vividas na atualidade e moti-
vadas pelo processo de globalização neoliberal que tem influencia-
do na dinâmica e estabilidade familiar, as quais causam alterações
significativas no padrão tradicional de organização familiar. Atual-
mente vemos que a família patriarcal vem deixando de ser modelo
em detrimento de outras composições familiares, fazendo-se ne-
cessário trazer um conceito mais ampliado de família. Mioto (2000)
define família como:
do BPC
Apresentaremos de maneira detalhada, nesse item as caracterís-
ticas do perfil dos idosos pesquisados, reiterando que foram levan-
tados dados de 100 (cem) usuários atendidos no referido CRAS. Para
melhor apresentação analisaremos as tabelas e os gráficos ao longo
das discussões. Os dados serão analisados e divididos da seguinte
forma: idade, sexo, escolaridade, estado civil, moradia, tipos de fa-
mília e pessoas que dependem da renda do idoso. A variável sexo
será relacionada de forma comparativa com as demais variáveis.
Com relação a idade e sexo, constatamos que, dos 100 (cem)
perfis analisados, têm-se 68 mulheres e 32 homens, com idades
variadas entre 65 (sessenta e cinco) e 94 (noventa e quatro) anos.
Os idosos, em sua maioria, possuem entre 70 e 74 anos (41%), e os
demais 65-69 anos (11%), 75-79 anos (30%) e os restantes, 80-94.
Cabe destacar que existe um percentual maior de mulheres em to-
das as faixas etárias.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2010), a população idosa feminina é cada vez maior e a tendência é
aumentar cada vez mais, atualmente corresponde a 55%, fazendo
referência a feminização da velhice, ou seja, quanto mais a popu-
lação envelhece, mais feminina ela se torna. As mulheres predomi-
nam entre a população idosa, dada a menor mortalidade, realidade
de muitos países.
É importante ressaltar que foram encontrados 17% de idosos a
partir de 80 anos, e acima dos 90 apenas uma mulher, ou seja, ido-
sos em idade avançada, mas que ainda se mantêm autônomos. Este
é um dado muito relevante, levando-se em conta de que é uma
amostra de chefes de família, ou seja, ainda após os 80 anos en-
contram-se pessoas responsáveis pela renda do seu núcleo fami-
liar. O Brasil vem aumentando o número de idosos com 80 anos e
vai redefinindo papéis na sociedade com relação aos idosos ativos.
Sexo
Escolaridade Nº de respostas %
Masculino Feminino
Ensino fundamental
22 38 11 11%
incompleto
Ensino fundamental
02 07 41 41%
completo
Ensino médio incompleto 01 0 30 30%
Ensino médio completo 01 02 11 11%
Não alfabetizado 05 21 06 06%
Ensino superior completo 01 0 01 01%
Total 32 68 100 100%
Fonte: Elaboração das autoras, com base em dados das fichas PAIF (2018)
do que estudar, pois havia também, até metade do século XX, uma
Sexo
Tipo de família Nº de respostas %
Masculino Feminino
Unipessoal 07 17 24 24%
Nuclear 14 05 19 19%
Monoparental 04 19 23 23%
Reconstituída 01 01 02 02%
Extensa 06 26 32 32%
Total 32 68 100 100%
Fonte: Elaboração das autoras, baseado em dados das fichas PAIF, 2018
Sexo
Categorias Nº de respostas %
Masculino Feminino
Sustentam familiares 20 43 63 63%
Dividem renda com
03 10 13 13%
familiares
Se mantém 08 16 24 24%
Total 31 69 100 100%
Fonte: Elaboração das autoras, baseado em dados das fichas PAIF (2018)
Fonte: Elaboração das autoras, baseado em dados das fichas PAIF (2018)
vés dos recursos do BPC, sendo famílias com até 8 pessoas. Desse
Considerações finais
O estudo bibliográfico trouxe questões sobre o envelhecimento e
o trabalho na sociedade capitalista onde é possível afirmar que, o es-
tigma de que o idoso é improdutivo está associado diretamente ao
modo de produção capitalista o qual compreende o ser humano ape-
nas como força de trabalho.
As mudanças ocorridas nas famílias geraram novas configurações fa-
miliares e o aumento do número de idosos no mundo, bem como a redu-
ção da fecundidade. Desse modo, concluímos que atualmente a família
resulta de mudanças demográfica, biológica, social, econômica e cultural.
Após a análise dos perfis dos idosos, percebemos que estes, em sua
maioria, são provedores/chefes de família e a partir da condição de chefe
O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019 pg 193 - 216
Benefício de Prestação Continuada - Idoso:Perfil e composição familiar dos ... 213
Referências
Notas
Resumo
O desenvolvimento das tecnologias proporcionou um prolongamento significativo
na perspectiva de vida das pessoas com condições crônicas complexas de saúde,
bem como trouxe à tona novas possibilidades de cuidado. A atenção domiciliar como
uma proposta inserida na política de saúde vem se configurando como alternativa ao
modelo hospitalar hegemônico num movimento que consideramos contraditório. Se
por um lado pode favorecer os usuários dos serviços, por outro pode sobrecarregar
as famílias que aderem a esse tipo de programa. Logo, nesse artigo pretendemos
refletir sobre alguns elementos dessa contradição.
Palavras-chaves
Atenção domiciliar; Família; Centralidade dos cuidados; Política social.
Home Health Care and the centrality of care in the family: coparticipation or over
accountability?
Abstract
The development of technologies has provided a significant prolongation of the life
expectancy of people with complex chronic health conditions and has brought new
possibilities of care to the fore. Home care as a proposal inserted in health policy is
becoming an alternative to the hegemonic hospital model in a movement that we
consider contradictory. If on the one hand it can favor the users of the services, on
the other it can overwhelm the families that adhere to this type of program. There-
fore, in this article we intend to reflect on some elements of this contradiction.
Keywords
Home Care; Family; Centrality of care; Social policy.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
Conclusão
É indispensável para as reflexões sobre as políticas sociais na atu-
alidade entendermos como o modo de produção capitalista impera
nos mais variados níveis das relações sociais, bem como interfere
diretamente na elaboração, implementação e execução das políti-
pg 217 - 238 O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019
ISSN: 2238-9091 (Online)
234 Bárbara Figueiredo Santos e Márcia Regina Botão Gomes
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São Paulo: Cortez Editora, 2011.
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para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o fun-
cionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasí-
lia, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.
htm>. Acesso em: 07 jun. 2018.
Notas
6 Para estudos sobre esta temática, ver: Behring e Boschetti (2011) e Faleiros (1986).
8 Mioto (2003) chama atenção para esta divisão que é apenas para efeito de expo-
sição, considerando que na realidade não existem famílias totalmente autossufi-
cientes ou totalmente dependentes.
13 Esse familiar na maioria dos casos se expressa na figura feminina (mãe, filha, avó,
vizinha), isso se dá em função da construção histórica e social da divisão sexual,
em que o cuidar é considerado inerente à mulher.
Resumo
Este ensaio visa apresentar reflexões sobre os homens na política de proteção social
brasileira. Tomando a Política Nacional de Assistência Social como ponto de partida,
construímos um diálogo entre os estudos sobre relações de gênero, masculinidades
e proteção social. Reconhecemos o papel e importância, historicamente construí-
dos, das mulheres na gestão das famílias. Contudo, pensar os homens como sujeito
da/na política de proteção social constitui um desafio, sendo estratégico enfrentar a
sua (in)visibilidade no acesso aos programas da assistência social.
Palavras-chave
Homens; Masculinidades; Gênero; Proteção Social; Bolsa Família.
Men and Social Protection: challenges for the National Policy of Social Assistance
Abstract
This essay aims to present reflections on men in Brazilian social protection pol-
icy. Taking the National Policy on Social Assistance as a starting point, we built a
dialogue between studies on gender relations, masculinities and social protec-
tion. We recognize the historically constructed role and importance of women in
household management. However, thinking about men as a subject of social pro-
tection policy is a challenge, and it is strategic to face their (in) visibility in access
to social assistance programs.
Keywords
Men; Masculinities; Gender; Social Protection; Cash Transfer Program.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
Conclusão
Os questionamentos aqui levantados são pontos de partida para
alavancar o debate sobre homens e masculinidades na PNAS e, em
pg 239 - 256 O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019
ISSN: 2238-9091 (Online)
252 Daniel de S. Campos, Ludmila F. Cavalcanti e Marcos Antonio F. do Nascimento
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www.abep.org.br/publicacoes/index.php/livros/article/view/113/111>. Aces-
so em: 24 out. 2018.
ÁVILA, M. B.; FERREIRA, V. Trabalho remunerado e trabalho doméstico no
cotidiano das mulheres. Recife: Edições Sos Corpo. 2014.
Notas
ISSN: 2238-9091 (Online)
Resumo
A proposta deste artigo é debater como as condicionalidades do Programa Bolsa
Família (PBF) vêm sendo entendidas e administradas pelos técnicos, beneficiários
e representantes das políticas de educação, saúde e assistência social. Os dados
que embasam essa análise são de uma pesquisa realizada num município de grande
porte do Paraná. Os sujeitos da pesquisa foram sete assistentes sociais e psicólo-
gos, na modalidade de técnicos que foram escolhidos por serem responsáveis pelo
acompanhamento às famílias em descumprimento de condicionalidade dentro do
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), três profissionais representantes
no município pelas políticas de saúde, educação e assistência social e oito benefi-
ciários do PBF em descumprimento de condicionalidade no ano de 2013 moradores
no território do CRAS. A escolha do CRAS e dos beneficiários se deu por sorteio. Esta
pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Universidade Estadual de Londrina
(UEL) como preconiza a resolução n.196/1996. A conclusão indicou: a perspectiva
familista; a meritocracia; direito e dever como sendo sinônimos; estigmatização e
preconceito sofridos pelo(a) beneficiário(a) do PBF.
Palavras-chave
Programa Bolsa Família; Condicionalidades; Direitos.
Abstract
This article discusses how the conditionalities of the Bolsa Família Program (BFP) are
understood and administered by technicians, beneficiaries and representatives of
education, health and social assistance policies. The research was conducted in a
large city of the Paraná Estate. Seven social workers and psychologists were inter-
viewed in the category of technicians responsible for monitoring families in non-
compliance with conditionalities within the Reference Center on Social Assistance
(CRAS), three health, education and social assistance professionals. And eight ben-
eficiaries of the program who are in disregard of conditionalities in the year 2013,
residents of the territory of CRAS. The choice of CRAS and the beneficiaries was by
lot. This research was approved by the ethics committee of the State University of
Londrina (UEL) as recommended by resolution n.196/1996. The conclusion indicated:
the familistic perspective; meritocracy; right and duty as being synonymous; stigma-
tization and prejudice suffered by the beneficiary (a) of the BFP.
Keywords
Bolsa Família Social Programa; Requirements; Rights.
Introdução
O Programa Bolsa Família (PBF) foi criado no governo Lula por
meio da Medida Provisória nº 132 de 20 de outubro de 2003, após
a unificação de programas remanescentes como o Cartão Alimenta-
ção, Bolsa Escola e Auxílio Gás. O Programa Fome Zero foi incorpo-
rado a ele, após a constituição da Lei nº 10.836 de 09 de janeiro de
2004. O Decreto nº 5.209 de 17 de setembro de 2004 esclarece que
a finalidade do programa seria unificar os procedimentos de admi-
nistração e execução de ações de transferência de renda, e cadastra-
mento único do governo federal. O PBF introduziu grandes avanços
no que diz respeito ao direito à renda às famílias que se encontravam
em situação de pobreza e extrema pobreza.
A forma de ingressar no PBF é por meio de auto declaração de
renda, não sendo destinado a todos os que atendam os critérios de
elegibilidade monetária, dependendo para tanto da quantidade de
cotas municipais.
Para Cobo (2012) a noção de cota existente no programa não pos-
sibilita a todos que atendam os critérios de elegibilidades estabeleci-
dos pelo programa a contemplação com o benefício, ferindo o próprio
princípio da focalização utilizado no programa. Para a autora não basta
O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019 pg 257 - 280
Entre o direito e o dever: uma reflexão sobre a exigência de condicionalidades ... 259
Pobreza X Neoliberalismo
O combate à pobreza ganhou visibilidade na América Latina nos
anos 1990 e seu enfrentamento caracterizou-se pela sua individuali-
zação. As políticas sociais, nesse contexto, tiveram o papel de inserir
os pobres no padrão de sociabilidade contemporâneo, gerando pro-
teção individual, focando a intervenção nos mais pobres, esvazian-
do o comprometimento com os direitos sociais e deixando de lado o
compromisso com o padrão de sistema de proteção social universal
(MAURIEL, 1998).
Neste aspecto Telles (1994) assevera:
A reestruturação industrial, as mudanças no padrão tecnológico
e transformações na composição do mercado vêm produzindo
um novo tipo de exclusão social, em que à integração precária
no mercado se sobrepõem o bloqueio de perspectivas de futuro
Considerações finais
Referências
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pectiva de gênero. Revista de La Cepal 85. Chile, p. 101-112, abr. 2005.
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DRAIBE, S. M. O Welfare no Brasil: características e perspectivas. Caderno
de Pesquisa, Unicamp, n. 8, 1993.
Notas
1 Docente na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Assistente Social, mestre
em Psicologia Social, com doutorado e pós-doutorado em Serviço Social pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Brasil. ORCID: 0000-
0003-1953-9201. E mail: cmcarloto@gmail.com
Resumo
O presente estudo tem como objetivo apresentar uma análise das famílias do DE-
GASE, com uma breve abordagem do cenário institucional. Traz o recorte teórico
adotado na pesquisa desenvolvida no ano de 2017, referente ao Movimento de Mães
que se organizaram ao longo das duas últimas décadas, a partir da dor, do sofrimen-
to de terem seus filhos acusados de autores de atos infracionais e que enfrentam a
dura realidade das instituições fechadas. Famílias que fazem parte de uma parcela da
população que vivencia a desigualdade econômica e social, possuindo gênero, raça,
cor e com um acesso restrito às políticas públicas.
Palavras-chave
Movimento de Mães; Famílias; Socioeducativo.
Abstract
The present study aims to present an analysis of the families of DEGASE, with a brief
approach to the institutional setting. It brings the theoretical cut adopted in the re-
search developed in the year 2017, referring to the Mothers Movement that have
organized over the last two decades, from the pain, the suffering of having their
children accused of authors of infractions and facing the tough reality of closed
institutions. Families that are part of a portion of the population that experiences
economic and social inequality, possessing gender, race, color and have restricted
access to public policies.
Keywords
Mothers Movement; Families; Socioeducational.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
tipos de famílias; por isso, nos referimos “FAMÍLIAS”, no plural “[...] signi-
fica pensá-las em suas relações tanto com a sociedade mais ampla onde
se inserem quanto, também, nas formas como estas se atualizam na vida
diária das pessoas que lhe dão concretude” (FREITAS et al., 2010, p. 16).
Entendemos que a família moderna e, consequentemente, as fa-
mílias que compõem o Movimento das Mães dos Meninos do DE-
GASE apresentam uma diversidade de arranjos familiares (AFONSO;
FILGUEIRAS, 1995) e, são sujeitos sociais, sendo necessário situá-los
historicamente enquanto sujeitos, em um contínuo processo de trans-
formação. Assim, quando pensamos em “famílias” é necessário rela-
cionarmos com as diferentes realidades, para além de “vínculos de
parentesco”7. Por isso, nos reportamos ao que entendemos por este
termo, lançando mão do que Freitas et al. (2010, p. 20) definem “[...]
enquanto um processo de articulação de diferentes trajetórias de vida,
onde se entrecruzam as relações de classe, gênero, etnia e geração.
Além do lugar de reprodução biológica – e também social e afetiva”.
São famílias que precisam ser compreendidas a partir das pos-
síveis construções de relações familiares que possam tecer com a
base no seu cotidiano e não de uma realidade “nuclearizada” (FREI-
TAS et al., 2010). Sarti (1994, p. 52) define bem o que é família para
o pobre: “[...] são da família aqueles com quem se pode contar, isto
quer dizer, aqueles que se retribuem ao que se dá, àqueles, portanto,
para com quem se tem obrigações”.
Por sua vez, a Norma Operacional Básica do Sistema Único de As-
sistência Social8 (BRASIL, 2005, p. 90) define o conceito de família “[...]
como núcleo afetivo, vinculado por laços consanguíneos, de aliança
e de afinidade, que circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas,
organizadas em torno de relações de geração e gênero”. Podemos en-
tender que a realidade das famílias do DEGASE – mais ainda, das famí-
lias pobres brasileiras – é da necessidade de coletivizarem o cuidado
de seus filhos, caracterizando o que é denominado como “circulação
de crianças”9 por Fonseca (1990; 2002).
O que você não entende você não percebe, você não sabe, né,
então quando eu fui entender o que era, quando eu fui me ver
enquanto uma mulher negra, que eu não me via enquanto uma
mulher negra, então quando eu fui me enxergar enquanto uma
mulher negra... então assim... então eu fui abrindo meus horizon-
tes, né, e aí o que acontece... (MÔNICA CUNHA)12.
Considerações finais
As pessoas que transitam nos quarteirões das ruas do bairro da Ilha
do Governador, mais precisamente no sub-bairro do Galeão, onde es-
tão instaladas algumas unidades do Novo Degase – recepção e tria-
gem, internação provisória e internação – comumente verificam um
cenário com filas de mulheres (das mais diversas idades), sentadas
nos meios fios das calçadas à porta desses espaços, esperando aten-
dimento ou a hora da visita. São mães, tias, avós, muitas consanguíne-
as outras chamadas “de consideração”, por fazerem parte da história
de vida daqueles adolescentes que ali estão, privados de liberdade.
Nos dias de visitas, podemos observar que muitas estão carregadas
de pacotes: biscoitos, materiais de higiene e demais objetos que são
permitidos entrar nessas unidades. Algumas vêm de lugares longínquos,
chegando cedo para não atrasar o horário da visita, uma vez que pas-
sam por um procedimento de “revista” onde precisam se desnudar se
quiserem estar por algumas horas ao lado de seu “filho” (LOPES, 2015).
O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019 pg 281 - 302
O Movimento de Mães do DEGASE – luta e dor 297
Este é um lugar de pertencimento que, mesmo com toda dor que traz,
permite que essas mulheres se identifiquem e se vejam enquanto grupo,
com anseios próprios de grupos, construindo suas histórias e lutas.
Referências
ISSN: 2238-9091 (Online)
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sionização no Sistema Penitenciário, Escola de Serviço Penitenciário do Rio
Grande do Sul e Pontifícia Universidade Católica. Porto Alegre: PUC/RS, 21 a
24 mar. 1990.
Notas
3 Entrevista realizada com Glória uma representante das organizações que com-
põem o Movimento das Mães dos Meninos do DEGASE (Cf. MOTTA, 2017).
social por meio do qual se realizam esses vínculos” (FREITAS et al., 2010, p. 17).
10 “[...] não se deve esquecer que, mediante a política social, é que direitos sociais
se concretizam e necessidades humanas (leia-se sociais) são atendidas na pers-
pectiva da cidadania ampliada” (PEREIRA, 2008, p. 165).
12 Entrevista realizada com Mônica Cunha uma representante das organizações que
compõem o Movimento das Mães dos Meninos do DEGASE (Cf. MOTTA, 2017).
13 Entrevista realizada com Glória uma representante das organizações que com-
põem o Movimento das Mães dos Meninos do DEGASE (Cf. MOTTA, 2017).
Resumo
O Trabalho Social com Família (TSF) é um dos principais serviços implementados na
Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Além de se constituir de forma contra-
ditória devido ao jogo de forças e interesses que envolvem toda política pública, é um
desafio para o assistente social que, apesar de ser guiado por um projeto profissional
crítico e libertador, tem sua ação emancipadora limitada por um conjunto de questões
próprias aos moldes que as políticas públicas assumem, especialmente, a partir das
reformas neoliberais. Esse artigo constitui-se de uma pesquisa teórica voltada para
discutir os limites e possibilidades do alcance da emancipação a partir do TSF.
Palavras-chave
Emancipação; Serviço Social; Trabalho Social com Família (TSF).
Abstract
Social Work with Family (TSF) is one of the main services implemented in National
Social Assistance Policy (PNAS). Besides being constituted in a contradictory way
due to the play of forces and interests that involve all public politics, it is a challenge
for the social worker, who, despite being guided by a critical and liberating profes-
sional project, has its emancipatory action limited by a set of issues specific to the
patterns that public policies assume, especially, from neoliberal reforms. This article
is a theoretical research aimed at discussing the limits and possibilities of achieving
emancipation from the TSF.
Keywords
Emancipation; Social Work; Social Work with Family (TSF).
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
Conclusão
ISSN: 2238-9091 (Online)
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Notas
1 Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí (UFPI); Mestrado
em Políticas Públicas pela UFPI; Doutoranda em Políticas Públicas pela UFPI. Bra-
sil. ORCID: 000-0002-4490-0807. E-mail: polianacarvalho10@hotmail.com
Resumo
Este artigo problematiza a articulação entre deficiência, cuidado e políticas públicas
analisando a incorporação do cuidado às pessoas com deficiência nas políticas de
assistência social e saúde. Parte-se do conceito de deficiência proposto pelos teóri-
cos do modelo social que apresentaram a deficiência como constituinte da condição
humana. Assim, o cuidado a essas pessoas é assumido como uma necessidade so-
cial que exige respostas públicas. A análise empreendida aponta para a insistência
na família como provedora principal de cuidados e propõe-se reconhecer o cuidado
como um direito social, o que implica no deslocamento de responsabilidade do es-
paço privado para a esfera pública.
Palavras-chaves
Deficiência; Cuidado; Família; Políticas Públicas.
Abstract
This article discusses the articulation between disability, care and public policies an-
alyzing the incorporation of care to the disabled in the policies of social assistance
and health. It starts from the concept of deficiency proposed by the theorists of the
social model who presented the deficiency as constituent of the human condition.
Thus care for these people is assumed to be a social need requiring public responses.
The analysis pointed to the insistence on the family as the main provider of care and
it is proposed to recognize care as a social right, which implies the displacement of
responsibility from the private space to the public sphere.
Keywords
Disability; Caution; Family; Public Policy.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
Considerações finais
O caráter social do cuidado, conforme informado na revisão teórica,
condiciona a disponibilidade para cuidar e receber cuidados à organi-
zação econômica e política, bem como aos aspectos culturais e éticos
de uma sociedade. No Brasil, as políticas econômicas de orientação
neoliberal reduzem a intervenção estatal ao mínimo no que se refe-
pg 325 - 348 O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019
ISSN: 2238-9091 (Online)
344 Patrícia Maccarini Moraes
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______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria
Nacional de Assistência Social. Orientações técnicas: Proteção social básica
no domicílio para pessoas com deficiência e idosas. Brasília-DF, 2017.
Notas
1 Doutoranda em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço So-
cial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Assistente Social no Ins-
tituto Federal de Santa Catarina, campus Caçador. Brasil. ORCID: 0000-0003-
1821-7411. E-mail: pmaccarinimoraes@gmail.com
2 Ilse Zirbel (2016), em sua tese de doutora intitulada “Uma teoria político-feminista
do cuidado”, realizou uma ampla revisão teórica sobre o assunto.
3 By "care" in the context of this article, I mean the support and assistance one indi-
vidual requires of another where the one in need of care is "inevitable dependent"
that is, dependent because they are too young, too ill or impaired, or too frail, to
manage daily self-maintenance alone.
4 “[...] sujeito não incorporado – não nascido, não está desenvolvendo, não está
doente, não está deficiente e nunca envelhece – que domina nosso pensamento
sobre questões de justiça e questões de política” (KITTAY; JENNINGS; WASUN-
NA, 2005, p. 445).
Nota
1 Assistente Social. Mestre e Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em
Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
E-mail: lma17rj@gmail.com
Notas
1 Assistente Social e Mestre em Política Social pela Universidade Federal Fluminen-
se (UFF). Doutorando em Política Social pelo Programa de Estudos Pós-Gradua-
dos em Política Social da UFF (Bolsista Capes). Brasil. E-mail: gllucesi@gmail.com
Reginaldo Ghiraldelli1
Resumo
Este artigo apresenta reflexões sobre a formação em Serviço Social, com ênfa-
se para o estágio supervisionado, em um cenário brasileiro marcado pelo avanço
do conservadorismo e por uma profunda crise política e econômica, que provoca
ameaças às liberdades democráticas, regressão de direitos sociais, cortes orça-
mentários no ensino superior público e, ao mesmo tempo, mediante medidas ne-
oliberais, incentiva a proliferação do ensino privado e a distância. Em linhas gerais,
apresenta desafios na implementação dos princípios e diretrizes da Política Nacio-
nal de Estágio (PNE), construída coletivamente como estratégia de luta e resistên-
cia da categoria profissional.
Palavras-chave
Serviço Social; Formação Profissional; Estágio supervisionado.
The drawing of the National Internship Policy and the impasses for its implementation
Abstract
This article presents reflections about the formation in Social Work, with emphasis
on the supervised internship, in a brazilian case marked by the advance of con-
servatism and a profound political and economic crisis, which provokes threats to
democratic freedoms, regression of social rights, budget cuts in education at the
same time, through neoliberal actions, encourages the proliferation of private and
distance education. In general terms, it indicates some challenges in the implemen-
tation of the principles and guidelines of the National Internship Policy (PNE), col-
lectively built as a strategy of struggle and resistance of the professional category.
Keywords
Social Work; Training Professional; Supervised internship.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
Considerações finais
A construção democrática e coletiva da PNE representou um mar-
co histórico para o Serviço Social brasileiro no sentido de apresentar
princípios orientadores do processo de supervisão de estágio que até
então precisavam ser delimitados e explicitados como forma de de-
fender o projeto de formação profissional crítico construído ao longo
dos últimos anos. Materializar os princípios norteadores da PNE em um
cenário de precarização das relações de trabalho e de uma ofensiva
reforma estrutural que atinge o sistema educacional brasileiro significa
resistir às injunções da ordem monopólica capitalista e persistir nas
trilhas que vislumbram um horizonte em que a emancipação humana
possa realmente ser concretude.
Considerando que a formação profissional se insere em um movi-
mento contraditório e complexo, situar o estágio nessa trama é enten-
dê-lo como parte integrante da totalidade social, que com suas múlti-
plas determinações incide na formação e no cotidiano de trabalho de
assistentes sociais. Por isso, não se pode desconsiderar nessa análise
as tendências da política educacional brasileira, as transformações no
pg 349 - 370 O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019
ISSN: 2238-9091 (Online)
368 Reginaldo Ghiraldelli
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Notas
Resumo
O presente artigo tem por objetivo fomentar o debate acerca dos impactos do
neoliberalismo sobre as mulheres. Tal debate torna-se imperioso tendo em vista
a agudização das políticas neoliberais que vivenciamos na atualidade e a forma
perversa com a qual desmonta direitos já conquistados da classe trabalhadora e
a maneira particular que estas políticas incidem sobre as mulheres proletárias. Ao
longo do exposto analisamos como o desmonte dos direitos sociais, ocorridos por
conta dos ajustes neoliberais, reorganizam negativamente a vida das mulheres,
impactando, inclusive, nos movimentos sociais organizados.
Palavras-chaves
Feminismo; Neoliberalismo; Contrarreforma do Estado.
The impacts of neoliberalism over workers women: care sphere and the precariza-
tion of the female work
Abstract
This article aims to promote the debate about the impacts of neoliberalism on
women. Such a debate becomes imperative in view of the exacerbation of the
neoliberal policies we are experiencing today and the perverse form with which it
dismantles already won rights of the working class and the particular way in which
these policies affect women proletarians. Throughout the above we analyze how
the dismantling of social rights, due to neoliberal adjustments, negatively reorga-
nize the lives of women, impacting even on organized social movements.
Keywords
Feminism; Neoliberalism; counter-reform of the State.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
forte nos estratos mais altos das nossas sociedades, que não depen-
Considerações finais
As mulheres que compõem o setor precarizado da economia são,
com frequência, as que se encontram, por sua condição de classe e
raça, já em situação de vulnerabilidade social. Dessa forma, determi-
nadas explorações, que Jules Falquet chama de “imbricadas”, atingem
as mulheres negras e pobres de forma muito mais profunda.
O capital global do neoliberalismo maximiza essa exploração do
trabalho precarizado, que Falquet vai chamar de “trabalho conside-
rado como feminino” ou “trabalho desvalorizado”. Esse ponto é muito
importante para nossa pesquisa, uma vez que tratamos, por um lado,
das políticas públicas de caráter neoliberal que atentam contra a au-
tonomia e emancipação das mulheres e, por outro lado, da aceita-
ção por parte da sociedade – mesmo àquelas parcelas mais afetadas
por tais ideais – do conjunto de ideologias dominantes contrárias ao
pg 371 - 392 O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019
ISSN: 2238-9091 (Online)
388 Ana Carolina Brandão Vazquez e Ana Taisa da Silva Falcão
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Notas
1 Assistente social. Mestra e doutoranda em Serviço Social pelo Programa de Pós-
-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Brasil. ORCID https://orcid.org/0000-0002-7189-0384. E-mail: acbvazquez@
gmail.com
6 De acordo com Fernandes (2005, p. 416): “[...] a articulação política entre os mais
iguais, democrático-oligárquica em sua essência e em suas aplicações, assume,
de imediato e irremediavelmente, a forma de uma cooptação sistemática e ge-
neralizada. A cooptação se dá entre grupos e facções de grupos, entre estratos
e facções de estratos, entre classes e facções de classe, sempre implicando a
mesma coisa: a corrupção intrínseca e inevitável do sistema de poder resultante.”
9 “Em algumas passagens de suas obras, Hegel comenta que todos os grandes
fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por
assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como
tragédia, a segunda como farsa.” (MARX, 2011, p. 25).
10 Cabe ressaltar que o Chile foi o laboratório do neoliberalismo como modelo po-
lítico-econômico nos anos da ditadura de Pinochet, antes mesmo de ser implan-
tado como modelo na Inglaterra.
12 A pesquisa foi coordenada pela professora Clara Araújo e financiada pela FAPERJ.
Foram aplicados 1198 questionários em todo o estado do Rio de Janeiro.
Resumo
A violência é um fenômeno de amplitude mundial, expressando múltiplos aspectos
da sociabilidade contemporânea, cujas manifestações incluem a violência contra a
mulher. A pesquisa objetivou demonstrar as formas da violência praticadas contra
a mulher em vias públicas e noticiadas em jornais. Metodologicamente foram estu-
dados 287 casos noticiados por dois jornais impressos no segundo semestre do ano
de 2015 e analisados por estatística descritiva. Os resultados apontam predomínios
de danos ao patrimônio e agressões. Concluiu-se que a violência em vias públicas
contra mulheres expressa, também, relações sociais transversais, impregnadas cul-
turalmente por questões afetas às configurações de gênero.
Palavras-chave
Violência; Violência contra as mulheres; Violência nas ruas.
Abstract
Violence is a worldwide phenomenon, expressing multiple aspects of contempo-
rary sociability, whose manifestations include violence against women. The research
aimed to demonstrate the forms of violence practiced against women on public
roads and reported in newspapers. Methodologically, we studied 287 cases reported
by two newspapers printed in the second half of 2015 and analyzed by descriptive
statistics. The results indicate the predominance of property damage and aggression.
We conclude that violence on public spaces against women expresses cross-sec-
tional social relations, impregnated culturally with gender configurations.
Keywords
Violence; Violence Against Women; Violence on the streets.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
A violência na contemporaneidade
O aumento das atuais formas de expressão da violência reflete as
transformações sociais decorrentes das políticas de desregulamen-
tação da vida social de caráter neoliberal que conduzem ao avanço
da mundialização do capital. Tais transformações – que envolvem as
transformações tecnológicas de produção e organização da economia
– tem provocando desmedidas mudanças que, cada vez mais apro-
fundam as desigualdades regionais, os contrastes socioeconômicos,
as transformações em organizações e práticas sociais.
Em conjunto, tais eventos na esfera da economia e da política, têm
produzido transformações nas identidades sociais e culturais, nos valores
simbólicos e nas novas expressões ideológicas que esgarçam a sociabi-
pg 393 - 412 O Social em Questão - Ano XXII - nº 43 - Jan a Abr/2019
396 Isabel Maria de O. Ferraz, Raquel M. L. Gentilli,
Maria Carlota de R. Coelho e Victor Israel Gentilli
ISSN: 2238-9091 (Online)
Conclusão
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Notas
1 Mestra em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local pela Escola Superior de
Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Brasil. ORCID:
0000-0001-7697-0626. E-mail: isabel.emescam@gmail.com