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Unidade 02
Direito da Infância e da Juventude - Unidade 02
Sumário
1. Introdução 18
3. Direitos Fundamentais: 20
Referências 29
Créditos 30
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Direito da Infância e da Juventude - Unidade 02
1. Introdução
Os Direitos Fundamentas são elementos basilares que norteiam toda a atividade legislativa e
concretude da ordem jurídica.
No que se refere aos direitos da infância e juventude, podemos afirmar que se encontram positivados
na Carta Magna no seu Art. 227 caput e outros artigos conexos: sendo duplamente encontrados no texto
constitucional, tanto no Capítulo VII - “Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso”,
como no TÍTULO II - “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”.
Assim, os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes têm um lugar todo especial no
universo dos direitos humanos. Isso porque além dos direitos fundamentais voltados a qualquer pessoa
humana, crianças e adolescentes gozam de direitos só seus, como o direito fundamental à convivência
familiar, ao lazer e a ser visto como pessoa em condição peculiar de desenvolvimento, levando à
consequência última de inimputabilidade penal.
Além de todos os direitos fundamentais, crianças e adolescentes contam com o princípio da prioridade
absoluta, ou seja, terão atendimento e proteção priorizados em quaisquer circunstâncias. Tais direitos fundamentais
são consagrados em diversos diplomas internacionais como a Declaração Universal dos Direitos das
Crianças, de 1959, e a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças, de 1989.
Em nosso ordenamento jurídico, seus direitos fundamentais são reconhecidos no caput do Art. 227
da Constituição Federal de 1988:
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Em comunhão com o artigo constitucional supracitado, o ECA veio ratificar a proteção especial
direcionada às crianças e aos adolescentes quando prescreveu os primeiros artigos do Estatuto:
O Art. 3º do ECA ratifica os princípios 1 e 2 da Declaração dos Direitos da Criança das Nações
Unidas, já os Arts. 4º e 5º foram extraídos dos Art. 6º e Art. 227 da Constituição Federal. Respaldado na
Doutrina da Proteção Integral, o Estatuto prevê ao longo dos seus ditames direitos específicos da criança
e do adolescente, além de tantos outros, peculiares a todos os seres humanos.
Buscaremos analisar cada um dos direitos fundamentais, expondo pontos mais importantes de cada um.
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3. Direitos Fundamentais
Quando falamos em direito à vida é imperioso a compreensão de que não se restringe apenas à mera
sobrevivência. Ela implica, principalmente, no reconhecimento do direito de viver com dignidade,
direito assegurado a todo cidadão, viver com meios mínimos de sobrevivência adequada. No que se trata
da infância e adolescência, esses direitos necessitam ainda mais de uma concreta efetividade, garantidos
pela ordem jurídica desde o momento da concepção.
O Art. 7º do ECA estabelece que os direitos à vida e à saúde serão efetivados através de
políticas públicas que permitam o nascimento e desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência:
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de
políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em
condições dignas de existência.
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O direito à vida possui muitas ramificações de grande importância, como o direito à vida garantida
desde a concepção, a assistência às presidiarias para que possuam condições adequadas ao aleitamento
materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medidas privativas de liberdade.
A Organização Mundial de Saúde entende que a saúde envolve não apenas o bem-estar físico,
mas também mental e social, trabalhando na prevenção de doenças.
No sistema de garantias preconizado pelo ECA, é dever da família, da comunidade e do poder
público assegurar esse direito fundamental às crianças e adolescentes, posto estar estreitamente vinculado
ao direito à vida.
O Art. 11 do ECA estabelece as obrigações dos estabelecimentos de saúde, abordando à
escrituração dos atendimentos e à identificação do neonato, com o escopo de evitar a troca acidental de
crianças recém-nascidas.
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do
adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no
acesso a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.
§ 1o A criança e o adolescente com deficiência serão atendidos, sem discriminação ou segregação,
em suas necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação.
§ 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àqueles que necessitarem, medicamentos,
órteses, próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação
para crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades
específicas.
§ 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequente de crianças na primeira
infância receberão formação específica e permanente para a detecção de sinais de risco para o
desenvolvimento psíquico, bem como para o acompanhamento que se fizer necessário.
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia
intensiva e de cuidados intermediários, deverão proporcionar condições para a permanência em
tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente.
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante
e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho
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Quando falamos em direito fundamental à saúde, o Estado deve garantir uma abordagem global,
indo desde a prevenção ainda no útero materno à amamentação. Quando o ECA fala em atendimento integral
à saúde abrange tanto a assistência médico-hospitalar, passando pelo fornecimento de medicamentos, apoio
psicológico, dentre outros que se façam necessários em cada caso.
Nesse contexto, é imprescindível que o Estado crie mecanismos para efetivação do direito ao
atendimento integral à saúde.
Nesse Título do ECA referente ao direito à vida e à saúde, o legislador estabeleceu a obrigatoriedade
de encaminhamento à Justiça da Infância e Juventude às gestantes ou mães que manifestem o interesse
de entregar seus filhos à adoção, devendo, caso se julgue necessário, o acompanhamento da assistência
psicológica. Todas essas medidas visando o melhor interesse da criança.
O ECA ao disciplinar a matéria “liberdade” seguiu a linha constitucional, defendendo que a criança
e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo
de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Ratificando o preceito constitucional, o legislador defendeu que o direito à liberdade, à dignidade e
ao respeito formam o alicerce para a formação do ser em desenvolvimento. Já no Art. 16 do ECA, houve
uma preocupação em especificar a abrangência do termo “liberdade”:
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei.
Do tema podemos citar vários aspectos importantes, quando fala em liberdade de opinião e expressão
percebe-se o cuidado do legislador em garantir que a criança e o adolescente possuam meios de livremente
formar seu entendimento sobre um determinado assunto, vez que não podemos cogitar do processo
educacional sem um raciocínio crítico da matéria discutida.
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Um detalhe interessante é que a opinião provêm de um aspecto íntimo e pessoal. Já quando falamos
em “expressão” entende-se como a opinião sendo externada, logo, encontra-se disciplinado no ordenamento
jurídico, vez que toda ação humana que pode causar danos a terceiros deve ser coibida, a exemplo da calúnia
e da injúria.
Interessante abordagem legislativa, a qual tratou do tema direito à liberdade, respeito e dignidade
de forma individualizada, particularizando cada qual de forma exaustiva. Determina em seu Art. 17, no
qual o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e
do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e
crenças, dos espaços e objetos pessoais.
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Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como
participar da definição das propostas educacionais.
Embasados nos Arts. 205 e 206 da Constituição Federal, considera-se que a educação,
direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.
O ECA estabelece diversos direitos da criança e do adolescente como ensino fundamental, obrigatório
e gratuito, inclusive para os que a eles não tiveram acesso na idade própria; atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; atendimento em
creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; acesso aos níveis mais elevados do ensino,
da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; oferta de ensino noturno regular,
adequado às condições do adolescente trabalhador; atendimento no ensino fundamental, através de
programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
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A Carta Magna prevê uma divisão de competências na esfera de responsabilidades para a educação.
Art. 211, CF/88: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime
de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições
de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva,
de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do
ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil.
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio.
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino
obrigatório.
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular.
Embora seja clara a previsão constitucional, percebemos uma realidade ainda distante da determinação
legal. Como direito fundamental à criança e ao adolescente, o ensino público vem se mostrando muito
abaixo do esperado para a concretização do princípio da prioridade absoluta.
No que se refere ao ensino ministrado à criança e ao adolescente portador de deficiência, a lei
específica diz que deve haver atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino. A ausência do Poder Público em implementar políticas
educacionais com o escopo de efetivar tal medida pode caracterizar responsabilidade civil e administrativa
do agente responsável pela omissão.
Por último, quando falamos no ensino noturno, o Estatuto não proíbe sua disponibilidade aos
menores de dezoito anos. Longe disso, procura incentivar os cursos noturnos para os adolescentes que
desenvolvam atividade laboral durante o dia, com o escopo de conjugar o ensino ao trabalho.
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O Art. 63, ECA fala em três princípios norteadores na realização do trabalho pelo adolescente:
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios:
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular;
II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;
III - horário especial para o exercício das atividades.
O artigo supracitado preceitua que o trabalho do jovem deve levar em consideração as peculiaridades
da idade, tais como alterações de ânimo, força física, personalidade em fase de formação, bem como
variações hormonais. Recordando que quando fala em horário especial, busca-se priorizar o acesso escolar
de tal forma que o trabalho não atrapalhe a formação acadêmica do adolescente. Sendo expressamente
vetado o trabalho noturno.
Com escopo de proteção integral do jovem, dispõe o ECA, no Art. 67, que ao adolescente empregado,
aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou
não-governamental, é proibido o trabalho:
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• Noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte;
• Perigoso, insalubre ou penoso;
• Realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico,
moral e social;
• Realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola.
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Outro aspecto com relação ao menor de idade, e tratado pela Lei do Trabalho Rural, é com relação ao
salário desses trabalhadores. Determina o Art. 11 que os maiores de 16 anos que trabalhem no meio rural é
assegurado o salário-mínimo igual ao adulto trabalhador.
A Lei Rural traz horários diferenciados para o trabalho noturno, assim, para efeitos de trabalho rural,
o trabalho do menor de idade é proibido entre os períodos compreendidos entre 21 (vinte e uma) e 5 (cinco)
horas na lavoura, e na pecuária entre 20 (vinte) e 4 (quatro) horas.
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Referências
AMIN, Andréa Rodrigues. In MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord). Curso
de Direito da Criança e do Adolescente. 4.ed. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2010.
ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005.
de do Sul, 2003.
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Créditos
O trabalho Direito da Infância e da Juventude - Unidade 02: Direitos Fundamentais de Anarda Pinheiro Araújo, Ana Paula Araújo de Ho-
landa, Cláudio Alcântara Meireles Júnior, Diane Espindola Freire Maia, Núcleo de Educação a Distância da UNIFOR está licenciado com
uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
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