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Colocação pronominal

Aula 1
Amélia Lopes Dias de Araújo
Meta

Compreender o princípio geral da colocação pronominal na Língua Portuguesa,


do qual derivam as regras de colocação pronominal.

Objetivos

Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Identificar e classificar as diferentes posições do pronome em relação ao


verbo;

2. Avaliar o contexto frasal e adequar a posição do pronome a ele;

3. Reconhecer os fatores que atraem o pronome e os que interferem na


correta colocação pronominal;

4. Identificar as situações que recomendam o uso da mesóclise e avaliar seu


emprego com base em aspectos como eufonia, estilo e adequação textual.

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Atualização Gramatical - Aula 1: Colocação pronominal
Sumário
Meta ..................................................................................................................... 1

Objetivos ............................................................................................................... 1

Introdução ............................................................................................................ 3

1. Formas de colocação pronominal .................................................................... 5

1.1 Orientação geral ............................................................................................. 5

1.2 Próclise............................................................................................................ 7

1.2.1 Próclise obrigatória...................................................................................... 8

1.2.2 Próclise opcional ........................................................................................ 10

1.3 Ênclise ........................................................................................................... 11

1.3.1 Ênclise dos pronomes o, a, os, as .............................................................. 12

1.4 Mesóclise ...................................................................................................... 14

1.4.1 Mesóclise opcional .................................................................................... 14

1.5 Colocação pronominal nas locuções verbais ................................................ 16

Conclusão............................................................................................................ 20

Exercício .............................................................................................................. 21

Gabarito .............................................................................................................. 24

Bibliografia .......................................................................................................... 27

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Atualização Gramatical - Aula 1: Colocação pronominal
Aula 1 - Colocação pronominal

Introdução

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
[Oswald de Andrade. Seleção de textos. São Paulo, Nova Cultural, 1998.]

Oswald de Andrade, poeta do Modernismo brasileiro, defende no


poema acima o “jeito brasileiro” de falar, que deve ser espontâneo e
independente das regras gramaticais impostas pela norma culta
portuguesa. Ainda que o poeta esteja correto, é importante ressaltar
que há uma maneira de se expressar adequada a cada situação de uso
efetivo da língua. No texto 1, por exemplo, você pode constatar que o uso excessivo da
norma culta em um contexto informal causou um efeito contrário ao esperado.

Texto 1: http://sugestoesdeatividades.blogspot.com.br – com adaptações

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Observe também que a colocação do pronome oblíquo após o verbo amar, no
quadrinho 1 e no 2, soou para a ouvinte de forma diferente da pretendida pelo falante.
Assim, são dois os cuidados que precisamos ter em relação à colocação pronominal. É
preciso evitar que a combinação do verbo com o pronome:

1. não gere uma palavra de significado diferente: quero a mala, vou a marte.

2. não gere um cacófato (palavra de som desagradável):

Obrigado pelas honras que me já dão.


As ideias de Kant, como as concebo... (como as com sebo).

Em situações formais e na escrita, as regras gramaticais devem ser seguidas,


por isso, estudaremos, em nosso primeiro capítulo, as principais orientações relativas à
colocação pronominal de acordo com o padrão culto da língua.

Pronomes oblíquos átonos

Antes de revermos as regras de colocação pronominal, vejamos quais são os


pronomes que podem ser posicionados próximos ao verbo.

Como você deve lembrar, os pronomes pessoais dividem-se em dois grupos: os


retos, que exercem função de sujeito da oração, e os oblíquos, que exercem a função
de complemento verbal. Vamos identificá-los no quadro a seguir:

Pronomes pessoais retos Pronomes oblíquos tônicos Pronomes oblíquos átonos


(função de sujeito) (com preposição) (sem preposição)
Eu mim me
Tu ti te
Ele si, ele, ela se, o, a, lhe
Nós nós nos
Vós vós vos
Eles si, eles, elas se, os, as, lhes

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1. Formas de colocação pronominal

Entre os oblíquos, são os átonos que nos interessam, pois são essas formas
pronominais que, a depender de certos fatores, podem vincular-se ao verbo em três
posições diferentes.

Confira na tabela a seguir:

Colocação Posicionamento do pronome Exemplo


pronominal
Próclise Antes do verbo Não lhe daremos o livro.
Mesóclise Intercalado no verbo Dar-lhe-emos o livro.
(interligado por hifens)
Ênclise Depois do verbo Dou-lhe o livro.
(ligado por hífen)

Os pronomes oblíquos átonos não são vocábulos independentes. Eles só podem


ser usados junto ao verbo (imediatamente antes, depois do verbo ou no meio).
Quando usados em ênclise, os pronomes oblíquos são ligados aos verbos por hífen.
Em locuções verbais, a norma culta recomenda o uso do hífen para ligar o verbo
auxiliar ao pronome átono enclítico. Há, no entanto, gramáticos que já aceitam que o
pronome fique solto entre os dois verbos, como veremos mais adiante.

1.1 Orientação geral

A norma culta impõe inúmeras regras para o correto posicionamento dos


pronomes oblíquos na oração. São tantas as situações diferentes que você pode até
ficar receoso de não conseguir lembrar-se de todas as regras. Mas não se preocupe.
Vamos mostrar algumas orientações que, ao serem seguidas, resolvem boa parte das
dificuldades relativas ao tema. São elas:

a) Não se inicia frase com pronome oblíquo;

Se discutiram as regras de promoção. (incorreto)


Discutiram-se as regras de promoção. (correto)

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b) A próclise é sempre correta, desde que, antes do verbo, não haja pausa (sinal
de pontuação);

O direito à saúde se confunde com o direito à vida.


A sociedade nos obriga a aceitar as regras de convivência.

c) Não se usa ênclise após particípio;

A economia brasileira havia estabilizado-se. (incorreto)


A economia brasileira se havia estabilizado. (correto)
A economia brasileira havia-se estabilizado. (correto)

d) Não se usa ênclise com verbos no futuro do presente e do pretérito do


indicativo.

Discutirá-se a proposta amanhã. (incorreto)


Enviarão nos o documento em breve. (incorreto)

Observação:

Como corrigir as frases acima? Vejamos algumas possibilidades de reescrita:

a) explicitar o sujeito e assim usar a próclise:

Eles nos enviarão os documentos em breve.

b) Usar a mesóclise:

Discutir-se-á a proposta.

Enviar-nos-ão os documentos em breve.

c) Alterar a ordem ou acrescentar uma palavra atrativa e usar a próclise:

Amanhã se discutirá a proposta.

Em breve nos enviarão os documentos.

d) Quando houver voz passiva sintética, pode-se desfazer a mesóclise


transformando-a em voz passiva analítica.

A proposta será discutida amanhã.

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e) Em caso de interrupção ou intercalação marcadas por vírgulas, tanto a próclise
quanto a ênclise poderão ser usadas;

O Estado espera que o povo, independentemente de punição, se mantenha em paz.


(correto)
O Estado espera que o povo, independentemente de punição, mantenha-se em paz.
(correto)

Observação:

Muitos gramáticos entendem que a atração exercida por determinadas


palavras decorre de fatores fonéticos e não da proximidade física. Em razão disso, a
intercalação, por distanciar uma palavra da outra, corta a influência fonética.
Assim, cabe a você escolher a posição que melhor atenda ao ritmo e à entoação da
sua frase.

Agora que conhecemos as orientações gerais, vamos aprofundar nosso estudo.


Veremos as regras relativas a cada uma das posições do pronome.

1.2 Próclise

O princípio básico da colocação dos pronomes é a eufonia, ou seja, a


sonoridade agradável da frase. Para o falante brasileiro, por exemplo, a próclise soa
melhor do que a ênclise. O falante português, por sua vez, tem preferência pela
ênclise. No texto 1, vimos que a ênclise ao verbo na frase “Vou amar-te sempre” não
soou bem e deu margem a interpretação diversa da pretendida pelo falante: “Vou a
Marte sempre”.

O uso do pronome antes do verbo raramente é incorreto, desde que não inicie
a oração. Apesar disso, veremos que a próclise é obrigatória em alguns casos e é
opcional em outros.

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1.2.1 Próclise obrigatória

Há palavras que exercem forte atração sobre os pronomes oblíquos, fazendo


com que eles se posicionem obrigatoriamente antes do verbo. São os chamados
fatores de próclise. Vejamos a seguir cada um deles.

Fatores de próclise:

1. Palavras negativas: não, nada, nunca, nem, ninguém, nenhum, etc.

Nunca se lamentou do fato, nem nos pediu ajuda.


Nada a perturba.
Não se trata de medida cautelar.

2. Advérbios: hoje, lá, talvez, agora, sempre, aqui, etc.

Agora me apoiam.
O advogado talvez o ajude.
Aqui se discute o efeito suspensivo do recurso extraordinário.

Se houver pausa (sinal de pontuação) depois do advérbio, a ênclise será


obrigatória. Compare as duas frases abaixo:

Aqui se discute o efeito suspensivo do recurso extraordinário.

Aqui, discute-se o efeito suspensivo do recurso extraordinário. (com pausa)

É importante que você não confunda a vírgula da pausa com a da


interrupção. Ambas são diferentes, a vírgula da intercalação interrompe a
sequência natural da frase para acrescentar alguma informação entre dois termos
da oração, entre o sujeito e o verbo, por exemplo. Nesse caso, você tanto pode
usar a ênclise quanto a próclise.

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3. Pronomes relativos: que, quem, qual, onde, etc.

Este é o local onde nos encontraremos amanhã.


Os profissionais que se dedicam à área da saúde estão mais sujeitos a doenças.
A petição atende aos requisitos que lhe são inerentes.

4. Pronomes indefinidos: tudo, todos, pouco, muito, algo, alguém, outros, etc.

Tudo se transformou em mistério.


Pouco se sabe a respeito desse político.
Algo o incomoda?

5. Pronomes demonstrativos: isso, aquilo, etc.

Aquilo lhe proporcionou bons momentos de lazer.


Isso se justifica por causa dos recursos admitidos.
Disso se segue que o Estado deverá disciplinar as relações conflituosas.

6. Conjunções subordinativas: que, como, embora, etc.

Embora lhe pedissem, não deu o livro.


Posso atestar que se trata apenas de nova nomenclatura.
Quando se cuida constitucionalmente do direito, a lei deve prevalecer.

7. Frases interrogativas, exclamativas e optativas:

Quem nos procurou ontem?


Como se desperdiçam recursos neste país!
Deus nos proteja!

8. Frases com preposição em + gerúndio:

Em se tratando de educação, qualquer esforço é válido.


Em se tratando de esportes, prefiro o futebol.

Será que há situações em que posso escolher como posicionar o


pronome? A resposta é sim. É o que vamos mostrar no tópico a seguir.

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1.2.2 Próclise opcional

Há casos em que podemos optar por usar a próclise ou a ênclise. A escolha


cabe a você, a depender de seu estilo, do contexto, do ritmo da frase. A dupla
possibilidade ocorre em dois casos:

1. Quando o verbo não inicia a oração. Observe que o sujeito está explícito antes
do verbo.

O direito confunde-se com o desejo. (Ênclise)


O direito se confunde com o desejo. (Próclise)

O eleitor manteve-se acessível a todos os candidatos. (Ênclise)


O eleitor se manteve acessível a todos os candidatos. (Próclise)

Se houver fator de próclise, apenas essa colocação será aceitável:

O direito não se confunde com o desejo.

O eleitor não se manteve acessível a todos os candidatos.

Temos ainda uma segunda situação em que você pode optar tanto pela próclise
quanto pela ênclise:

2. Com o verbo no infinitivo não flexionado precedido de palavra negativa ou


preposição:

Espero não te magoar com minha opinião. (Próclise)


Espero não magoar-te com minha opinião. (Ênclise)

Estamos ansiosos para lhe mostrar a foto. (Próclise)


Estamos ansiosos para mostrar-lhe a foto. (Ênclise)

A educação é ideal para proporcionar-nos escolhas acertadas. (Ênclise)


A educação é ideal para nos proporcionar escolhas acertadas. (Próclise)

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Temos a honra de lhe comunicar o encerramento do projeto. (Próclise)
Temos a honra de comunicar-lhe o encerramento do projeto. (Ênclise)

1.3 Ênclise

Quando o pronome está após o verbo, é chamado de enclítico. Lembre-se de


que nessa posição é preciso usar o hífen entre o verbo e o pronome. A ênclise é usada
nos seguintes casos:

1. Em frase iniciada por verbo.

Verificou-se que o depoente não mentiu.

2. Com o verbo no imperativo afirmativo.

Mostre-me um homem verdadeiramente bom.


Faça-me o favor.

3. Infinitivo impessoal (não flexionado), precedido de preposição A, em se


tratando dos pronomes o, a, os, as:

Todos corriam a ouvi-lo.


Começou a maltratá-la.
Estou inclinado a devolvê-lo.

Vamos entender a razão dessa proibição? Pronuncie as frases acima com o


pronome em próclise ao verbo principal. Você vai perceber rapidinho por que a
eufonia é o princípio básico da colocação pronominal. Com o pronome antes do verbo
ouvir a frase ficaria assim:

Todos corriam a o ouvir.


Como você deve ter constatado, a frase não soou de forma agradável e ficou
até difícil pronunciar a preposição a junto ao pronome o.

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Junto a infinitivo flexionado, regido de preposição, a próclise é obrigatória:

Repreendi-os por se queixarem sem razão.

Por nos esquecermos do documento, fomos impedidos de entrar.

Em geral, com infinitivo impessoal regido de preposição para, pode-se usar


próclise ou ênclise, mesmo com a presença do advérbio não:

Corri para defendê-lo.

Corri para o defender.

Calei-me para não contrariá-lo.

Calei-me para não o contrariar.

1.3.1 Ênclise dos pronomes o, a, os, as

Os pronomes o, a, os, as, quando aparecem em ênclise, podem sofrer alterações


de forma, dependendo da terminação do verbo.

a) Forma verbal terminada em vogal.

Os pronomes o(s), a(s) não se modificam.

Ajudei + os = ajudei-os
Aceita + as = aceita-as

b) Forma verbal terminada em -r, -s ou -z.

O verbo perde a terminação (-r, -s, -z) e o pronome assume a forma de lo(s), la(s):

Vender + o = vendê-lo
Vender + a = vendê-la
Refez + a = refê-la
Demos + as = demo-las
Construir = construí-la
Dividir + a = dividi-la

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1. A alteração acima vale também para mesóclise:

Venderei + o = vender + o + ei = vendê-lo-ei

2. As formas verbais terminadas em -mos perdem o s, quando o pronome


oblíquo é nos:

Encontramos + nos = encontramo-nos

3. Você percebeu a acentuação dos verbos no item b? Os verbos seguidos


de pronomes enclíticos deverão observar as regras gerais de acentuação gráfica.
Em vendê-la, o verbo recebeu o acento circunflexo por se tratar de uma oxítona
terminada em -e. Como você deve se lembrar, acentuamos todas as oxítonas
terminadas em -a, -e, -o, -em e -ens.

Observe também a palavra construí-la. Por que ela foi acentuada? A letra i
formou hiato com a vogal a. Além disso, essa palavra é oxítona, logo, devemos
acentuá-la.

c) Forma verbal terminada em som nasal (-am, -em, -õe, -ão, etc.)

O pronome assume a forma no(s)/na(s)

Viram + o = viram-no
Fazem + as = fazem-nas
Dão + os = dão-nos

Agora só falta vermos os casos em que devemos usar a mesóclise. Essa forma
de colocação pronominal é muito formal, por isso muitos não gostam de usá-la.
Contudo, ela é plenamente aceitável em textos como os que produzimos aqui no
Tribunal, pois textos jurídicos são formais por excelência. O único cuidado que você
precisa observar é quanto ao uso excessivo, o que pode deixar o texto pesado.

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1.4 Mesóclise

Quando o pronome está no meio do verbo, é chamado de mesoclítico.


Colocação pronominal extremamente formal, a mesóclise só é obrigatória quando se
combinam dois fatores:

1º) verbo no futuro (do presente ou do pretérito) iniciando a oração;

2º) ausência de palavra atrativa exigindo próclise.

Dar-se-ia, no caso, a permanência de espécies normativas não acolhidas pela CF/1988.


Contar-lhe-emos toda a verdade sobre o assunto.

Eu sou obrigado a usar a mesóclise? Não, nem sempre é necessário


usá-la. Há casos em que ela é opcional. É o que veremos no tópico a
seguir.

1.4.1 Mesóclise opcional

O emprego da mesóclise é opcional nos casos a seguir:

1. Se o verbo, no futuro, não iniciar a oração, pode-se optar pela mesóclise ou


pela próclise. Veja:

Seus advogados dar-lhe-iam apoio novamente. (frase correta)


Seus advogados lhe dariam apoio novamente. (frase correta)

2. Se houver palavra atrativa, a próclise prevalece sobre a mesóclise.

Seus advogados jamais lhe dariam apoio novamente.

3. Com verbo no futuro, nunca ocorre ênclise. Compare:

Enviarei-te o documento digitalizado. (frase incorreta)

Frases corretas:

Enviar-te-ei o documento digitalizado.


Eu te enviarei o documento digitalizado.

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4. Caso se queira deixar o texto menos formal, pode-se transformar a voz passiva
sintética em voz passiva analítica. Observe:

Realizar-se-á uma reunião. (voz passiva sintética)


Uma reunião será realizada. (voz passiva analítica)

Ufa! Quanto assunto, não é mesmo? Aqui cabe uma pequena pausa. Que tal
conhecer os poemas do irreverente poeta Oswald de Andrade? Eu recomendo dois
poemas: "Amor" e "Relicário". No quadro a seguir, você conhecerá um pouco sobre
esse grande poeta nacional.

Você conhece os poemas-piada ou poema


em pílulas de Oswald de Andrade? Apesar
de curtos, esses poemas carregam
expressiva carga semântica. De forma
irreverente, Oswald defendeu a liberdade
linguística e a criação de novas estruturas
de pensamento. É de autoria dele o menor
poema da língua portuguesa:
"Amor". Conheça outros textos desse
autor em: http://
www.algumapoesia.com.br/poesia 2/
Oswald de Andrade, por Anita Malfatti
poesianet171.htm

Amor

Humor.
[Oswald de Andrade. Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade. 1927.]

{O

Agora que lustramos a nossa cultura e descansamos, vamos voltar ao estudo?


Vejamos como ocorre a colocação pronominal em locuções verbais.

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1.5 Colocação pronominal nas locuções verbais

Quando temos em nossa oração uma locução verbal, ou seja, uma expressão
verbal formada por dois verbos, podemos posicionar o pronome em várias posições.
Mas antes de vermos essas possibilidades, vamos relembrar como a locução verbal é
formada.

Podemos representar a estrutura geral de uma locução verbal da seguinte forma:

1. Verbo auxiliar + verbo principal (infinitivo, gerúndio ou particípio)

Verbo Verbo principal


auxiliar (infinitivo / gerúndio / particípio

Com a locução verbal, a norma culta admite as seguintes possibilidades de


colocação do pronome oblíquo:

a) Antes da locução verbal (desde que não inicie a oração):

se vai estabilizar.
A saúde do paciente se está estabilizando.

se havia estabilizado.

b) Entre os dois verbos da locução:

vai-se estabilizar.

A saúde do paciente está-se estabilizando.

havia-se estabilizado.

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c) Depois do verbo principal (desde que não seja um particípio):

vai estabilizar-se.

A saúde do paciente
está estabilizando-se.

1. Como vimos no tópico 1.1 Orientações gerais para a colocação pronominal, a


norma culta não admite pronome oblíquo depois de particípio.

2. Para gramáticos mais atuais, os fatores de próclise não exercem nenhuma


influência sobre o pronome oblíquo associado a locuções verbais. Observe na frase
abaixo que, apesar de o advérbio não estar antes do verbo auxiliar, o pronome foi
posicionado em ênclise. A norma culta não aceita essa possibilidade, mas já há
gramáticos que abonam essa forma de colocação pronominal.

A saúde do paciente não está-se estabilizando.

Para os mais tradicionais, no entanto, o fator de próclise prevalece. Nesse caso,


deve-se colocar o pronome antes do verbo auxiliar ou depois do verbo principal,
como nas frases abaixo:

A saúde do paciente não se está estabilizando.

A saúde do paciente não está estabilizando-se.

Outra possibilidade para a colocação do pronome em locuções verbais é deixá-


lo solto entre o verbo auxiliar e o verbo principal (sem o hífen). Considera-se, nesse
caso, que o pronome está em próclise ao verbo principal. Essa forma, apesar de já ser
aceita, é considerada menos formal. Confira abaixo:

A saúde do paciente não está se estabilizando.

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2. Verbo auxiliar + preposição + verbo principal no infinitivo

Vejamos agora uma locução verbal ligeiramente diferente. Há entre o verbo


auxiliar e o principal no infinitivo uma preposição. Com esse tipo de estrutura, os
pronomes átonos podem ficar em ênclise ou próclise ora ao verbo auxiliar, ora ao
infinitivo, mesmo com a presença de fator de atração.

Verbo auxiliar Preposição Infinitivo

Há de acostumar-se.
Há de se acostumar.

Não se há de acostumar.
Não há de acostumar-se.
Não há de se acostumar.

Deixou de visitá-lo.
Deixou de o visitar.

Não o deixou de visitar.


Não deixou de visitá-lo.
Não deixou de o visitar.

Que tal assistir às videoaulas? Você encontrará no Moodle três


videoaulas referentes ao assunto de que tratamos na aula 1.
Confira:
Videoaula 1, parte 1: orientações gerais
Videoaula 1, parte 2: próclise opcional
Videoaula 1, parte 3: ênclise dos pronomes oblíquos

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Atualização Gramatical - Aula 1: Colocação pronominal
Você sabe como a mesóclise se formou? O professor Cláudio Moreno traz
uma informação muito interessante sobre essa forma de colocação pronominal.

“(...) a colocação dos pronomes, que deveria ser simples e instintiva, foi
prejudicada por uma série de mal-entendidos que fizeram carreira por aí (...).

Estudos atualizados mostram que este tempo [o futuro do presente]


funciona, na verdade, como uma locução verbal disfarçada. Como herança do
latim tardio, que substituiu a forma única do futuro por uma locução (amare
habeo), nosso futuro, que à primeira vista parece ser uma forma una na verdade
é uma locução invertida, com o auxiliar haver deslocado para a direita:

Eu hei de comprar › comprar hei


Tu hás de comprar › comprar hás
Ele há de comprar › comprar há

Como nosso sistema ortográfico não admite o H interno, vamos


suprimi-lo e pimba! Lá estão nossos conhecidos comprarei, comprarás,
comprará! O que parecia ser uma forma verbal simples é, na verdade, uma forma
composta (comprar + ei, comprar + ás, comprar + á). Desse modo, uma forma
como compraremos deve ser encarada como um vocábulo composto, do tipo de
girassol, passatempo, etc.; a partir de agora, sempre que você vir um verbo no
futuro, poderá enxergar os dois verbos que ali estão combinados.

Na frase ´nós o encontraremos amanhã´, o pronome o está na


posição normal, que é, como vimos, a próclise. Se retirássemos o nós da frase,
contudo, ele já não mais poderia ficar ali, porque estaríamos rompendo o
princípio básico: não se inicia frase com pronome oblíquo – o que nos leva a
outra opção possível, que é a ênclise. No entanto, acabamos de ver que
encontraremos um conjunto de verbos: encontrar = (h)emos. Para colocar o
pronome em ênclise, vamos ter de executar alguns passos ordenados:

1º passo: afastar o verbo auxiliar: encontrar [emos];


2º passo: colocar o pronome em ênclise ao encontrar: encontrá-lo;
3º passo: recolocar o verbo auxiliar: encontrá-lo-emos.

Neste momento, ao ver uma forma como encontrá-lo-emos, os nativos


costumam se jogar de joelhos no chão, exclamando, com respeito quase sagrado:
“mesóclise, mesóclise!”. Não é não, como você agora sabe: é apenas a ênclise ao
futuro. Como a gramática tradicional acreditava que o pronome, neste caso,
estava no meio do verbo (na verdade, ele está entre dois verbos), batizou o
fenômeno de mesóclise (onde meso = meio).” [MORENO, Cláudio. Guia prático
do Português: sintaxe. Porto Alegre: LPM, 2011.]

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Atualização Gramatical - Aula 1: Colocação pronominal
Conclusão

Nesta primeira aula, vimos as regras de colocação pronominal. Vimos também


que o princípio básico da colocação pronominal é a eufonia, ou seja, a sonoridade
agradável. Constatamos também que a próclise é sempre aceitável, desde que não
inicie frase. Outro ponto interessante a considerar é que o contexto, o estilo do autor e
a harmonia da frase são fatores que também interferem na escolha de onde se colocar
os pronomes oblíquos.

Que tal agora colocarmos em prática o que vimos nesta aula? Para fixar o
conteúdo, é importante que você faça os exercícios de fixação. Depois confira suas
respostas com o gabarito.

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Atualização Gramatical - Aula 1: Colocação pronominal
1. No parágrafo abaixo, identifique os pronomes oblíquos átonos e indique se
eles estão em próclise, mesóclise ou ênclise.
“Cumpre à mulher, em seu íntimo, no espaço que lhe é reservado no exercício
do direito à propriedade, sem temor de reprimenda, voltar-se para si mesma,
refletir sobre as próprias concepções e avaliar se quer, ou não, levar a gestação
adiante.” [ADPF 54]

2. Reescreva as frases, substituindo o termo em destaque pelo pronome


oblíquo adequado e fazendo as adaptações necessárias. Siga o exemplo:

Ninguém aceitou sua decisão. Ninguém a aceitou.


a) Todos conhecem seu ponto de vista.
b) Ironizaram muito seu ponta de vista.
c) Recomendarei aos alunos a leitura do livro.
d) Em hipótese alguma recomendarei aos alunos a leitura do livro.
e) Vender os terrenos certamente daria um bom lucro aos proprietários.

3. Coloque corretamente junto aos verbos grifados os pronomes entre


parênteses:

a) Detive para ouvir melhor. (me)


b) Quando ele enfurece, não há nada que detenha. (se – o)
c) Bem vê que não preocupas com essas coisas. (se – te)
d) Lembra de nós – disse o padrinho, despedindo. (te – se)
e) A avó gosta dos netos, trata com carinho, alegra quando vê. (os – se – os)
f) Trataria de repercussão geral? (se)
g) Não trataria de repercussão geral? (se)

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4. Reescreva as frases abaixo com todas as colocações possíveis:

a) Soube que estavam sozinhos: vim para os ajudar.

b) Eu aproximava-me deles com certo receio.

c) Os ingressos para o jogo podem-se comprar aqui.

d) Os homens devem-se amar uns aos outros.

e) Não pode permitir-se o fabrico ou a importação de produtos tóxicos.

f) Começamos a nos preparar para a Copa.

g) Os manifestantes haviam-se retirado.

h) Queremos lhe fazer um pedido.

i) Os presos tinham-se revoltado contra os carcereiros.

j) O navio foi se afastando lentamente.

5. Desfaça a mesóclise, conforme o modelo:

Realizar-se-á uma reunião. (voz passiva sintética)

Uma reunião será realizada. (voz passiva analítica)

a) Vender-se-iam alguns livros.

b) Terminar-se-ão todos os projetos.

c) Consertar-se-ão todos os buracos da rua.

d) Procurar-se-ia um emprego mais adequado.

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6. Introduza o pronome oblíquo átono (entre parênteses) nas locuções verbais
em destaque:

a) O brasileiro precisa habituar a ler mais. (se)

b) O sol ia tornando cada vez mais forte. (se)

c) Ninguém comentava sobre o que havia passado naquela ocasião. (se)

d) Não quiseram dizer nada sobre o acontecido. (me)

e) Você há de acostumar nessa nova casa. (se)

f) Voltei a encontrar depois de muitos anos. (o)

g) Devo contar tudo. (lhe)

h) Não devo contar tudo. (lhe)

7. De acordo com a norma culta, há erro de colocação do pronome oblíquo em:

a) ( ) Não lhe devo nada.

b) ( ) Ele não queria que o vissem.

c) ( ) Eles podiam contar-me o segredo.

d) ( ) Fizeram-no sair da sala, imediatamente.

e) ( ) A carta não sumiu, ele tinha dado-a ao irmão ontem.

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Gabarito

1. “no espaço que lhe é reservado (...)”: próclise

“sem temor de reprimenda, voltar-se (...)”: ênclise

2.

a) Todos o conhecem.

b) Ironizaram-no muito.

c) Recomendar-lhes-ei a leitura do livro.

d) Em hipótese alguma lhes recomendarei a leitura do livro.

e) Vendê-los certamente lhes daria um bom lucro.

3.
a) Detive-me
b) se enfurece/ que o detenha
c) Bem se vê /te preocupas
d) Lembra-te/despedindo-se.
e) Trata-os/ alegra-se/ os vê.
f) Tratar-se-ia
g) Não se trataria

4.

a) vim para os ajudar/vim para ajudá-los – comentário: infinitivo impessoal regido de


preposição para: próclise ou ênclise.

b) Eu aproximava-me/Eu me aproximava – comentário: colocação opcional (ênclise ou


próclise).

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c) Os ingressos para o jogo podem-se comprar aqui./se podem comprar/podem
comprar-se – comentário: com locução verbal todas as colocações do pronome são
possíveis com o verbo principal no gerúndio ou no infinitivo.

d) Os homens devem-se amar/se devem amar/devem amar-se – comentário: locução


verbal

e) Não pode permitir-se/não se pode permitir/não pode se permitir – comentário:


Para boa parte dos gramáticos, os fatores de próclise não exercem atração sobre o
pronome em locuções verbais. Para outros, contudo, o fator de atração deve ser
considerado e há, segundo eles, apenas duas possibilidades: o pronome fica antes do
auxiliar ou após o verbo principal.

f) Começamos a nos preparar/começamos a preparar-nos – comentário: locuções


verbais com preposição antes do verbo principal no infinitivo, todas as posições são
aceitáveis. No caso, a próclise não é possível, pois o verbo inicia a frase.

g) haviam-se retirado./se haviam retirado – comentário: não é possível ênclise após


particípio.

h) Queremos lhe fazer/queremos fazer-lhe – comentário: não é possível próclise


iniciando a frase.

i) Os presos tinham-se revoltado/se tinham revoltado comentário: não é possível


ênclise após particípio.

j) O navio foi-se afastando/se foi afastando/foi afastando-se

5.

a) Alguns livros seriam vendidos

b) Todos os projetos serão terminados.

c) Todos os buracos da rua serão consertados.

d) Um emprego mais adequado seria procurado.

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6.
a) precisa-se habituar / precisa se habituar* / precisa habituar-se/se precisa habituar

b) ia-se tornando/ se ia tornando/ ia tornando-se

c) se havia passado/ havia-se passado/ havia se passado* – comentário: não é possível


ênclise após o particípio.

d) Não quiseram-me dizer/ não me quiseram dizer/ não quiseram dizer-me

e) Você se há de acostumar/ você há de se acostumar/ você há de acostumar-se –


comentário: em locuções verbais formadas por verbo auxiliar, preposição e infinitivo
todas as formas de colocação são possíveis.

f) Voltei a encontrá-lo. – comentário: com infinitivo não flexionado precedido de


preposição a, a ênclise é preferível.

g) Devo lhe contar tudo/ devo contar-lhe

h) Não lhe devo contar/ não devo lhe contar/ não devo contar-lhe

7.
Letra E – Comentário: Não se admite pronome oblíquo após o verbo no particípio.

* Em locuções verbais, a ênclise após o verbo auxiliar sem o uso do hífen é


considerada possível, mas menos formal.

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Bibliografia

ABREU, Antônio Suárez. Curso de Redação. São Paulo: Ática, 1989.

ALMEIDA, Napoleão Mendes. Dicionário de questões vernáculas. 4. ed. São


Paulo: Ática, 1998.

ANDRADE, Oswald de. Primeiro caderno do aluno de poesia.

ANDRADE, Oswald de - Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural, 1998.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna,


1999.

BRASIL, Imprensa Nacional. Manual de redação da Presidência da República. 2. ed.


2002.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. Rio


de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.

CUNHA, Celso CINTRA, Lindley L. F. Nova gramática do português contemporâneo.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar: gramática. São Paulo: FTD, 2003.

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1986.

MORENO, Cláudio. Guia prático do português: sintaxe. Porto Alegre: LPM, 2011.

NEVES, Maria Helena Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora
UNESP, 2000.

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 18. ed. São Paulo: Atual,
1994.

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