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A ORGANIZAÇÃO CIENTIFICA DO
TRABALHO: O ENFOQUE CLÁSSICO
cessas se ampUaram". Desta forma, as "novas" condições de trabalho são determi- tarefas, (vi) as medidas de aferição da capacidade profissional de cada indivídu
nadas: do grupo e (vii) os procedimentos necessários ao estabelecimento de padrões ab
(i) pelo estudo dos movimentos e das operações complementares: neste lutos e relativos de desempenho.
caso, tendo sido dado o quadro de operações, os gestores decom- A racionalização organizacional, nos moldes da OCT, impõe, desta i
põem o trabalho em operações complementares, analisam cada mo- ma, um esquema de controle, mais propriamente de controle da organização <
vimento e suprimem os que julgam supérfluos. O trabalho é regula- trabalhadores nos locais de trabalho com a finalidade de subtraí-la, e que se fí
mentado através de normas e planos rigorosos, cujo acompanha- ainda de acordo com Oliveira (1986), nos seguintes pontos: (i) na qualificação
mento indica as alterações necessárias ao seu funcionamento; trabalhador (vale acrescentar, segundo a ática do capital); (ii) em suas aptidões; (
(ii) pelo estudo de tempos elementares: a determinação dos tempos ele- na capacidade de manuseio e/ou operações de equipamentos, máquinas, ferramer
montares constitui-se em uma operação essencial no esquema da e instrumentos; (iv) na quantidade, qualidade e ritmo de trabalho (em termos de
OCT. O trabalhador deve executar um certo número de gestos, sem- brecarga ou ociosidade); (v) na distribuição dos produtos por postos de trabalho
pré mais ou menos os mesmos para o mesmo trabalho, os quais de- fases cíclicas de ociosidade: (vi) no estabelecimento de prioridades e no domínio
vem ser passíveis de serem contados e cuja rapidez pode ser avaliada relações informais.
pêlos gestores. A cada categoria de trabalho, repetitivo, livre ou No plano do arranjo físico da produção (layout), o objetivo da OCT é
misto, correspondem, segundo Palewski (1954, p. 37), condições di- mentar a eficiência do fluxo de trabalho, otimizar o uso de espaço disponível, mel
ferentes de ajustes de tempo. Assim, a determinação dos procedi- rar o controle sobre o processo de fabricação, aumentar a produtividade (diminuii
mentos da execução do trabalho é previamente fornecida; o tempo de não-trabalho através de sua intensificação) e proporcionar flexibilid;
(iii) pelo estudo do controle'. a base física do controle, na OCT, é a elimi- em caso de variações com operações relacionadas ou com modificações de proc
nação, pêlos gestores, das falhas do processo de trabalho, visando sós. Um estudo do programa de produção, incluindo a relação de materiais e com
reduzir o tempo de operação» melhorar a qualidade, aproveitar os re- nentes, as operações necessárias, as máquinas e equipamentos e o fluxo de ope
síduos de matéria-prima e de compostos excedentes. Isto é realizado coes, é realizado na área de planejamento operacional: o arranjo físico é, neste sei
através de mecanismos tais como cartões ou fichas, relatórios, bole- do, o desenho concreto das fases do processo de trabalho e de produção. A análise
tins, análises estatísticas (tabelas, gráficos etc.), entre outros. concepção original de cada um dos fundadores da OCT significa compreender 1
apenas este sistema como o que pretensamente o sucede (a administração flexível'
As consequências, do ponto de vista do trabalhador, são bastante eviden-
tes. Para a organização produtiva, o que se busca com o emprego da OCT é uma
rígida disciplina na execução do trabalho, de acordo com padrões definidos na 1 A CONCEPÇÃO DE FREDERICK W. TAYLOR
cúpula, a qual é conseguida pelo acionamento de todos os níveis hierárquicos envol-
vidos no processo produtivo. Toda a definição sobre o trabalho, todo o processo de-
O ambiente organizacional no qual Taylor vai basear seus estudos reft
cisório e todos os padrões de desempenho são definidos pela hierarquia superior, o
se a empresas de produção de peças que exigiam dos trabalhadores ritmos de
que significa que o trabalhador não cria seu trabalho, mas adapta-se a um trabalho
balho cuja execução era extenuante e nas quais o desperdício era significativo, í
determinado, concebido em outra esfera da divisão parcelar. Como sugere Fullmann
estudo mais importante, que trata dos princípios da gerência científica (TAYLC
(1975), o saber operário é menosprezado, diante do saber da cúpula.
1911), decorre em grande medida de sua experiência em uma empresa de produ
Na OCT, as tarefas são descritas em minúcias nos planos de cargos e nos de lingotes de aço, especialmente no processo de carregamento destes lingotes
manuais de organização e métodos (O&M), sendo a racionalização a palavra-chave vagões. Taylorjá havia sido empregado de outras empresas e sua dedicação aos
deste sistema, pois as tarefas, as responsabilidades, a autoridade, as cargas de traba- tudos o levou a formar-se em engenharia. Vmdo de uma família quacker, protest
Uio, o arranjo físico e as nonnas disciplinares encontram-se a ela submetidos. Com tes de rígidos conceitos acerca da importância da disciplina e do trabalho, Fredei
efeito, o estudo do trabalho, na ótica de O&M, segundo Oliveira (1986, p. 320), Winslon Taylor encarava o trabalho como uma obrigação a que todos deviam c
significa "distribuir deforma criteriosa e racional as tarefas que já vêm sendo rea- correr e a disciplina como um valor que todos os trabalhadores deviam seguir
ïizadas pela empresa" e ^fwciona como instrumento de estudo da situação existente suporte para seus estudos está baseado na ideia de que quanto mais o indivíduo
e âe mudança para a situação desejada, quando da racionalização organizacional". batha, mais o mesmo faz por merecer recompensas espirituais, de que o traba
Todas as tarefas são, neste processo de racionalização, descritas detalhadamente, a disciplinado colabora para aumentar a potência da soma dos trabalhos individua
partir de entrevistas e observações, indicando-se o tempo de execução e o volume de que alguns são possuidores da dádiva de pensar e devem fazê-lo para coman
total de trabalho executado, As tarefas individuais são agrupadas em atividades, de os que receberam a graça de executar.
onde emerge o Quadro de Distribuição do Trabalho, instrumento gerencial que pos-
Observando os trabalhadores da American Steel Company no carre
sibilita o controle sobre (i) o conjunto das operações do processo de trabalho, (ii) o mento de lingotes de aço em vagões e tendo percebido, através do controle do pa
tempo de trabalho de cada unidade, (iii) a sequência do processo, (iv) a necessidade mento que era efetuado por peça, que alguns operários produziam mais do que
de matéria-prima ou de estoques, (v) os instrumentos de análise comparativa das tros, Taylor decide aplicar e testar seu método nesta empresa. Para tanto, escol'
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um trabalhador imigrante de forte compleição física e de baixo nível de infeUgência (TRAGTENBERG, 1977, p. 76) Convém observar, no entanto, que Taylor pretende
para servir ao seu experimento, ou seja, escolheu o que deveria ser, em sua con-
negar o antagonismo entre o capital e o trabalho, tirando do trabalhador a liberdade
cepção, o trabalhador ideal, o seu padrão de operário', fisicamente forte, pouco in-
de organizar a própria atividade. Isto é possível porque o trabalhador, tendo perdido
teligente, submisso e dependente do emprego. Estando em situação irregular nos a possibilidade de agir sobre o preço do seu trabalho no momento em que o executa,
USA e tendo apenas a garantia de sua produção como forma de sobrevivência, este
não tem outro recurso para ganhar mais além do recurso, muito mecânico, de traba-
trabalhador necessitava garantir seu emprego, o que colaborou para que aceitasse üiar mais. Sendo assim, o taylorismo somente consegue aliar prosperidade, harmo-
participar do teste. Taylor dividiu o trabalho em várias operações, que correspon- nia, eficiência e maior carga de trabalho para o operário, porque se constitui na "tra-
diam aos movimentos mais económicos, e treinou o trabalhador, medindo a quantí-
âução administrativa da lógica e dos interesses da burguesia, num momento dado
dade produzida de cada peça em termos de tempo de produção, até que ele as execu- de seu desenvolvimento histórico". (TRAGTENBERG, 1977, p. 76)
tasse no limite de suas possibilidades, isto é, a máxima produção no mínimo tempo.
Tendo alcançado este limite, Taylor define o que seria a produção de um operário Nos fundamentos de sua gerência científica, Taylor vai mais além na des-
padrão tendo em vista seu padrão de operário. Este padrão deveria se estender a valorização do homem, ao traduzir a alienação do trabalhador do processo de íraba-
lho através de uma interpretação primária de seu comportamento. De fato, Taylor
toda a fábrica. Embora este seja o método pelo qual ficou conhecido, ou seja, a de-
composição do trabalho e sua cronometragem de maneira a reduzir tempo e (1911) traduz a alienação por vadiagem e, como um profeta secular assevera: como
engenheiros e administradores, nós conhecemos mais de perto esses fatos (vadia-
movimento, de imediato é conveniente esclarecer que um esboço do taylorismo deve
gem) que quaisquer outros e estamos mais bem aparelhados para dirigir um movi-
superar esta leitura banal, pois, "além dessas trivialidades reside uma teoria que
mento contra as ideias falsas, esclarecendo não só os trabalhadores, como todos os
nada mais é que a explícita verbalização do modo capitalista de produção".
cidadãos a respeito da verdade. Sua concepção acerca da natureza dos fenómenos
(BRAVERMAN, 1977, p. 83)
sociais aproxima-o de uma análise de natureza maniqueísta. Assim, o taylorismo,
De fato, Taylor iniciou seus estudos sobre a análise e a simplificação do tratado como uma ciência do trabalho, tem, na realidade, a pretensão de ser uma
trabalho a partir de um método empírico-experimental, por ele chamado de científí- ciência do trabalho dos outros, nas condições do capitalismo. "Não é a melhor ma-
co, em 1893, embora seu principal livro tenha sido publicado em 1911. Seu objetivo neira de trabalhar em geral, que Taylor busca, mas um resposta ao problema espe-
era obter a melhoria na execução do trabalho e sua intensificação através da automa- cífico de como controlar melhor o trabalho alienado - isto é, a força do trabalho
tização. Neste sentido, sugeria, como princípios: (i) definir o trabalho a ser executa- comprada e vendida". (BRAVERMAN, 1977, p, 85-6) Este controle do trabalho
do, analisando-o e determinando seu processo ótimo; (ii) adaptar o operário à técni- alienado é viabilizado na medida em que a alienação é tratada por vadiagem (indo-
ca, através da qualificação e treinamento dos executantes das tarefas; (iii) separar a lência natural e sistemática), de forma a que o esquema teórico taylorista seja facil-
concepção da execução no desenvolvimento e na realização do processo de trabalho, mente aceito.
de modo que o trabalhador conheça suas funções e empregue nelas os melhores mé-
Apoiado em tais bases, Taylor apresenta a verdadeira razão de sua gerên-
todos defmidos pela gerência; (Ív) especializar as funções de direção ou gestão, es-
cia científica: a divisão de trabaüio entre a gerência e os trabalhadores, ou seja, a
pecialmente no que se refere aos estudos para a fabricação e a coordenação das ati-
separação fundamental de cérebro e mão. Com efeito, a finalidade do estudo do tra-
vidades funcionais (TAYLOR, 1911). As consequências imediatas do sistema taylo- balho, por Taylor, não é a de fornecer ao trabalhador maior conhecimento científico,
rista foram a fadiga, a monotonia, a sujeição do trabalhador a uma tarefa predeter- tampouco fortalecer sua capacidade para o trabalho, de modo que melhorando as
minada para a qual não agregava nenhuma iniciativa, fenómenos estes que, aliás, técnicas os trabalhadores sejam com eles elevados. Antes, o objetivo é o de baratear
chamam a atenção de Elton Mayo, como se verá mais adiante.
a força de trabalho do trabalhador diminuindo o seu preparo e aumentando a sua
Adotando o discurso do capitalismo industrial, Taylor propõe o máximo produção. Para tal fim, os estudos dos processos de trabalho são reservados à gerên-
de prosperidade ao capitalista e ao assalariado. Por trás desta aparente boa intenção, cia, ao mesmo tempo em que são obstados aos trabalhadores. A estes, os resultados
no entanto, esconáe-se o aproveitamento total do homem, ou seja, a exploração ra- são comunicados apenas sob a forma de funções simplificadas, orientadas por Íns-
cional do trabalhador pela extração da mais-valia. A prosperidade generalizada trata truções precisas, as quais os trabalhadores devem apenas seguir, pois não precisam
somente de uma prosperidade unilateral, porquanto não é dada ao trabalhador senão compreender os raciocínios técnicos ou dados subjacentes. A gerência científica de
uma pequena parcela dos resultados, tendo em vista sua colaboração . Taylor Taylor, portanto, cria o monopólio do conhecimento, através do que controla cada
somente pode fazer tal proposta partindo de um pressuposto igualmente falso, qual uma das fases do processo de trabalho e os modos como o trabalho é executado.
seja, o de que existe uma identidade de interesses entre trabalhadores e capitalistas. Para Taylor (1911), mesmo o mais competente dos operários é incapaz de
Para firmar as bases ideológicas de sua pregação messiânica, Taylor parte do ponto compreender a gerência científica sem uma orientação de seus superiores, quer por
de vista segundo o qual o interesse dos trabalhadores é o da administração, desco- falta de instrução, quer por capacidade mental insuficiente. Em vista disto, cabe à
nhecendo as tensões entre a personalidade e a estrutura da organização formal . administração planejar o ofício dos operários, bem como dirigir seus atos para um
trabalho mais rápido e melhor. Assim, "a capacidade do operário tem um valor se-
O termo "colaborador" em substituição a trabalhador, tão em moda atualmente e que pretende ter um czindário, o essencial é a tarefa de planejamento. A especialização extrema do ope-
significado mais "coq?oratívo", Já aparece em Taylor com a mesma intenção: a identidade de interesses. ràrio, no esquema de Taylor, torna supérflua sua qualificação . (TRAGTENBERG,
Como se verá, adiante, H. Ford também o utilizará. 1977, p. 72) Cabe à gerência, na concepção de Taylor (1911), a função de reunir
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ïoàos os conhecimentos tradicionais que no passado possuíram os trabalhadores e trolando-o, Taylor lança os termos básicos das funções administrativas, que até hoje
então classificá-los, tabulá-los, reduzi-los a normas, leis ou fórmulas. Em conse- permanecem em essência inalteradas.
qüência, na medida em que preconiza a apropriação e formalização de todo o conhe-
Com a administração apropriando-se das funções intelectuais, Taylor
cimento possuído pêlos trabalhadores, Taylor promulga o princípio da dissociação
somente poderia requerer, para o êxito de sua gerência, trabalhadores obedientes e
do processo de trabalho das especialidades dos trabalhadores. Assim, o processo de
com reduzida capacidade mental. De fato, na concepção de Taylor (1911), um
trabalho irá depender não absolutamente das capacidades destes, mas inteiramente
operário classificado faz justamente o que se lhe manda e não reclama, pois sua
das políticas industriais, pois, da mesma forma como o capital possuí os meios físi-
maior virtude é a de ser tão estúpido e fleumático que mais se assemelha em sua
cos de produção (máquinas e equipamentos), também possui os meios intangíveis
constituição mental a um boi. E preciso considerar que, com a grande imigração de
(estudos, técnicas etc.), já que não apenas o capital é propriedade do capitalista, mas
o próprio trabalho tomou-se parte do capital.
estrangeiros em situação ilegal nos EUA à época, acompanhada da baixa organiza-
cão política dos mesmos, aos trabalhadores somente restava ser obedientes.
Os trabalhadores não apenas perdem o controle sobre os instrumentos de pro- Taylor, percebendo que a consciência do trabalhador de sua alienação
duçao como também devem perder o controle até de seu trabalho e do modo como provém de experiências e contatos inter-relacionaís e que sua força estaria na ação
o executam. Este controle pertence agora àqueles que podem 'arcar com o es-
coletiva, propõe como regra inflexível, falar e tratar com um trabalhador de cada
tudo dele afim de conhecê-lo melhor ao que os próprios trabaï'haàores conhecem
vez. Todas estas considerações, encobertas pêlos discursos da "eficiência" e da
sua atívidade viva. (BRAVERMAN, 1977, p. 103-6)
"amistosa cooperação da gerência", têm como fím a sistemática apropriação de valor
Apropriando-se dos conhecimentos do trabalhador e reservando-os para excedente. As contradições do sistema TayÏor não são simplesmente contradições
a gerência, o taylorismo concorre para o estabelecimento de relações sociais anta- teóricas, senão um reflexo do caráter antagônïco das relações de produção capiía-
gônicas e de trabalho alienado, na medida em que não só separa mão e cérebro, listas. Os métodos tayloristas são um aperfeiçoamento dos métodos capitalistas de
mas os divide e os toma hostis. A separação entre a concepção e a execução re- 'exploração , ao passo que a colaboração do trabalhador acaba por ser uma colabo-
sulta, entre outras, em uma desumanização do processo de trabalho, na medida em ração forçada, "durante a qual a administração toma conta de todo o componente
que os trabalhadores ficam reduzidos ao nível de trabalho em sua "forma animal". pensador da ativiâade do trabaïhaâor, enquanto que este só deve obedecer e czim-
Nesta medida, é possível entender que, para a administração da força de trabalho prir as indicações de seu 'dirigente mais capaz"'. (GVISHÍANI, 1977, p. 197-9)
comprada, a ciência do trabalho de Taylor nunca pode ser desenvolvida pelo tra- Com o trabalho dependente do capital, o "Sistema Taylor" conseguiu ob-
balhador, mas sempre pela gerência, de maneira que o capital possa impor ao tra- ter consideráveis resultados económicos para o capital, já que as vantagens salariais
balho a eficiência metodológica e o ritmo das tarefas. Fica evidenciado, também, dos trabalhadores desaparecem na medida em que o nível de produção mais elevado
que o núcleo do quadro teórico taylorista é a distinção nítida entre a concepção e a toma-se generalizado. No exemplo de seus resultados económicos, Taylor apresenta
execução. "Depois de estabelecida, essa dicotomia passa a ser a forma a priori de as vantagens ao novo sistema, deixando claro que:
todo enfoque das realidades da empresa, Torna-se prescrüiva". (MOTTEZ, 1973, (i) o número de trabalhadores é reduzido, para a mesma tarefa;
p. 13) No esquema teórico taylorista o trabalho do operário, completamente pla-
(Íi) a média da remuneração para os trabalhadores cresce em 63%;
nejado pela direção, é transmitido através de instruções escritas completas que
minudenciam não só a tarefa como os meios usados para realizá-la. Sendo assim, (ÜÍ) o custo médio diminui em 54%;
"no plano de sua Teoria da Administração, Taylor define a burocracia como (iv) a média de execução de tarefa (produção) aumenta em 269%.
emergente das condições teóricas de trabalho, predominando a organização sobre o
Não é difícil perceber que a empresa é a maior beneficiária de tal sistema,
homem, acentuando comofator motivador único, o monetário". (TRAGTENBERG,
pois o trabalhador, para aumentar sua remuneração em 63%, deve produzir mais
1977, p. 76) 269% do que o fazia. O custo da empresa decresce não só em função do menor
O apanágio imediato da apropriação, pela gerência, das atividades in- número de trabalhadores, mas principalmente tendo em vista o incremento de tra-
telectuais, é a criação de instrumentos de controle. No relato de Taylor sobre o balho não pago. A empresa, que pagava um salário total de US$ 690,00 pelo velho
manejo de ferro-gusa por tarefa, por exemplo, fica ilustrado de forma clara o eixo sistema, passou a pagar um total de US$ 263,20 no novo sistema, reduzindo suas
sobre o qual gira toda a gerência moderna: "o controle do trabalho através das àe- despesas com o pagamento da força de trabalho em 62%. Não há dúvida quanto à
cisÔes que são tornadas no curso do trabalho . (BRAVERMANN, 1977, p. 68) prosperidade para o capitalista no "Sistema Taylor", mas é insustentável a argu-
Através da história, o controle caracterizou-se como o principal aspecto da gerência. mentação de igual prosperidade ao empregado, por dois lógicos e simples motivos:
Com Taylor, no entanto, o controle adquiriu dimensões sem precedentes, na medida (í) 460 trabalhadores deixaram de trabalhar; (ií) o incremento relativo da produção é
em que para a gerência é essencial impor ao trabalhador a maneira pela qual o tra- de 4,27 vezes maior do que o incremento relativo da remuneração.
balho deve ser executado. Planejando o trabalho, organizando-o, dirigindo-o e con- Não há, como Taylor quer fazer crer em suas argumentações, uma dis-
tribuição igualitária dos resultados de um processo mais eficiente de trabalho. Antes,
Convém observar cuidadosamente esta questão, na medida em que este é o cerne não apenas do taylo- acentua-se a apropriação de valor excedente: não é sem razão que a cooperação
rismo, mas da teoria gerência!. científica de Taylor (1911) vá requerer uma transformação na atitude mental dos
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trabalhadores com relação ao seu trabalho e ao seu patrão. Embora em seu dis-
definição e nos processos de organização das atividades, não interfere na superpo-
curso Taylor busque desenvolver uma verdadeira ciência, sob o aparato de uma co-
sição complexa dos fms e dos meios e não contesta determinados objetivos, pois são
operação ínfima e cordial entre a direção e os trabalhadores, ele vai ocupar-se, de
estes fatores que possibilitam a dicotomia dirigente-dirigido. A administração cien-
fato, em desenvolver métodos e formas de organização do trabalho e não em desen- tífica apresenta uma face de implacável evidência racional, acossando todas as fon-
volver tecnologia, onde sua atuação é ínfima.
tes de incerteza e esmiuçando cada pormenor, apenas porque entende que os ob-
No esquema teórico de Taylor, como bem aponta Tragtenberg (1977), 2 A CONCEPÇÃO DE HENRY FORD
paralelamente à desquahficação do trabalho e à crescente alienação do sujeito di-
vidido, é dada ênfase à estrutura monocrática da organização, na qual prevalece a
Henry Ford foi ao mesmo tempo um visionário e um empresário indus-
racionalização. Taylor encara a organização social da produção como uma organiza-
trial que se assemelha ao modelo de capitalista descrito por Marx. Suas concepções
cão estritamente formal, em que é valorizada a obediência e em que são recusadas acerca da integração produtiva, do sistema em escala da produção (linha de monta-
todas as relações não prescritas no conteúdo funcional. Taylor valoriza o elitismo
gem) ou produção em massa, da redução dos tempos mortos, do gerenciamento do
intelectual da administração, a serviço do capitalismo, ao mesmo tempo em que
processo de produção (especialmente do sistema de aquisição, distribuição e em-
propõe o controle cerrado e rigoroso sobre o trabalhador. Colocando o lucro como
prego de matéria-prima, peças e componentes), da gestão do desperdício e do sis-
razão de ser da gerência, projeta a ciência da administração sobre uma base racional
tema geral da produção e da realização do valor excedente, antecede toda a atua!
e próspera. A síntese do controle sobre os trabalhadores, alienando-os do processo
formulação do chamado modelo toyotista de produção. H. Ford tem uma concepção
de escolha e tolhendo-lhes a liberdade individual, resulta do fato de que a gerência
pioneira sobre o que hoje se chama de just-in-ïime, kanban e produção integrada,
taylorisía não só exige que o trabalhador faça o que tem a fazer, como o impede de
terminologia atribuída a um novo modelo ou processo de gestão mas cuja operacio-
fazer outra coisa. A racionalidade dá à obrigação um caráter místico, legitimando-a,
nalidadejá se encontrava por ele explicitada. (FORD, 1922; 1926a; 1929) Não for-
ao mesmo tempo em que se encontra delimitada, segundo interesses autoritários.
mula prmcípios de produção flexível, talvez até porque a mesma, em qualquer cir-
A gestão taylorista domina amplamente o campo das experiências interin- cunstância, seria impossível à época. Mas, uma leitura de suas reflexões e de sua
dividuais, de forma que aos operários são impingidos todos os atos, dentro ou fora visão da indústria permitem reassegurar (FARIA, 1992), sem qualquer dúvida, que o
do âmbito do trabalho, institucionalizando a relação de submissão. Tal relação per- chamado modelo toyotista não é senão um taylorismo-fordismo de base microeÏe-
mite institucionalizar a obediência em nome da autoridade necessária. Isto implica írônica, um taylorismo-fordismo computadorizado, um taylorismo-fordismo enver-
exprimir a autoridade racional mascarando o poder, em seu aspecto coercitivo e ma-
nizado, acrescido de um modo de gestão dos empregados sustentado nas ideias de
nipulador, encobrindo a luta pelo reconhecimento, os conflitos e seu resultado mais Douglas McGregor (1960), as quais incentivam os teamwork e permitem que se
imediato: a vitória de uma categoria de chefes que se julga possuídora da organiza- operacionalize a concepção de trabalhador flexível em lugar do trabalhador espe-
cão porque define suas orientações, canalizando os esforços individuais no trabalho cializaào, típico do fordismo. E, de qualquer modo, bastante estranho que alguns
organizativo. Como as tarefas são fragmentadas e o trabalhador deixa de ser utili- pesquisadores que se debruçaram sobre esta questão não tenham considerado em
zado como ser humano, pois importam mais suas qualidades bovinas, a gerência suas análises os fundamentos da concepção de H. Ford e de McGregor e insistam
recorre à criatividade e à capacidade do operário em proporções insignificantes. em considerar o modelo japonês como sendo original (KAPLINSKY, 1988;
Com isto, a organização científica do trabalho reforça a divisão entre uma elite aâ- KENNEY ana FLORIDA, 1988; SCHONBERGER," 1982; SUG1MORÍ et alii,
ministrativa e uma massa de trabalhadores: à primeira, apta ao comando, é dada a
1977), enquanto o próprio proponente do just-in-time reconhece a influência de H.
inteligência e, quem sabe, a bondade de simplificar o trabalho; à segunda, Ínapta à Ford.(OHNO,1987)
inteligência, é oferecida a liberdade de trabalhar ou não naquelas condições.
Diferentemente do taylorismo, que se concentra nos modos de operacio-
A racionalização taylorista, com efeito, na medida em que não acarreta nalizar a produção em termos de unidades produtivas, o fordismo tem um alcance
grandes consequências, não modifica a ordem das coisas, não implica alteração na que ultrapassa a fábrica, tomando-se a expressão política da acumulação capitalista,