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VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7

CC 27
As razões sobre a implantação do curso de Matemática em um campus da
Universidade Federal de Goiás no interior goiano

CIVARDI, Araújo Jaqueline


CEPAE/UFG
aqaraujo@yahoo.com.br
RABELO, Rafaela Silva
CAJ/UFG
rafaelasilvarabelo@hotmail.com

RESUMO

Em 1980 foram construídas no município de Jataí-Go as instalações daquela que seria a sede do Campus
Avançado da Universidade Federal de Goiás no sudoeste goiano e em 1981 teve início neste município o Curso de
Ciências com habilitações em Matemática, Química e Física. Na segunda metade da década de 80 o curso foi
encerrado, e em 1996 o curso de Licenciatura em Matemática foi instalado no Campus Avançado de
Jataí/Universidade Federal de Goiás - CAJ/UFG (atualmente Campus Jataí/Universidade Federal de Goiás). O
objetivo da pesquisa foi buscar compreender as razões que levaram a implantação do curso de Ciências com
habilitação em Matemática em 1981, seu encerramento em 1986 e dez anos depois a implantação do curso de
Licenciatura em Matemática no CAJ/UFG.A origem dessa pesquisa baseia-se no fato de que a primeira autora desse
trabalho compôs o quadro inicial daquele grupo de quatro professores, que em 1996 deram início ao processo de
instalação do referido curso no CAJ/UFG. Algumas questões foram essenciais nesta investigação, sendo elas: i) Por
que o Curso de Ciências com habilitação em Matemática foi um dos primeiros cursos a serem levados para o CAJ/
UFG?; ii) Por que o Curso de Ciências foi encerrado alguns anos depois? iii) Que razões levaram à abertura do
Curso de Licenciatura em Matemática em 1996? Todas estas perguntas delinearam o tema central desta investigação
que retrata a história da implementação do curso de Licenciatura em Matemática do CAJ/UFG sob a ótica de seus
gestores. Para o levantamento dos dados nos valemos da história oral temática o que nos permitiu concluir que a
idéia embrionária da implantação do curso de Ciências na década de 80 levou à consolidação da universidade
Federal de Goiás no interior goiano, mais especificamente no sudoeste goiano. Já a implantação do curso de
Licenciatura em Matemática, em 1996, no CAJ foi uma “jogada estratégica” por parte dos gestores e poder político
local visando à expansão do mesmo e o conseqüente fortalecimento econômico e desenvolvimento social da região,
uma vez que este, através do oferecimento de suas disciplinas, subsidiaria cursos de relevantes para o
desenvolvimento regional como Agronomia, mas outros cursos que viriam posteriormente alavancar a economia da
região

Palavras chave: História. Licenciatura em Matemática. Interiorização.

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AS RAZÕES SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO CURSO DE MATEMÁTICA EM UM CAMPUS DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS NO INTERIOR GOIANO

CIVARDI, Araújo Jaqueline


CEPAE/UFG
jaqaraujo@yahoo.com.br
RABELO, Rafaela Silva
CAJ/UFG
rafaelasilvarabelo@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Em 1980 foram construídas no município de Jataí as instalações daquela que seria a sede do
Campus Avançado da Universidade Federal de Goiás no sudoeste goiano e em 1981 teve início neste
município o Curso de Ciências com habilitações em Matemática, Química e Física. Na segunda metade da
década de 80 o curso foi encerrado, e em 1996 o curso de Licenciatura em Matemática foi instalado no
Campus Avançado de Jataí/Universidade Federal de Goiás - CAJ/UFG (atualmente Campus
Jataí/Universidade Federal de Goiás).
Passados 27 anos desde que o curso de Matemática foi oferecido como uma das habilitações do
Curso de Ciências, e 12 anos desde que foi implantado como curso de licenciatura sentimos a necessidade
de fazer viva e documentada sua história.
Vários aspectos históricos poderiam ser abordados acerca do curso de Licenciatura em
Matemática, mas compreender como ocorreu seu processo de implantação na cidade de Jataí deveu-se ao
fato de que a primeira autora desse artigo compôs o quadro inicial daquele grupo de quatro professores,
que em 1996 deram início ao processo de instalação do referido curso no CAJ/UFG, sem, contudo, saber
ao certo os reais motivos que precederam àquela tomada de decisão. Para isto algumas questões foram
essenciais nesta investigação, sendo elas:
 Por que o Curso de Ciências com habilitação em Matemática foi um dos primeiros cursos a serem
levados para o CAJ/ UFG?
 Por que o Curso de Ciências foi encerrado alguns anos depois?
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 Que razões levaram à abertura do Curso de Licenciatura em Matemática em 1996?
Todas estas perguntas delinearam o tema central desta investigação que retrata a história da
implementação do curso de Licenciatura em Matemática do CAJ/UFG sob a ótica de seus gestores.

Acreditamos que as informações obtidas através desse estudo poderão esclarecer não só a origem
do curso de Matemática no sudoeste goiano, mas também qual tem sido sua importância para o
desenvolvimento educacional, social e econômico tanto local quanto regional. Além disto, entendemos
que tratar tal temática sob a ótica dos gestores consiste em reconstituir e interpretar os fatos pautados na
visão de quem ajudou a edificar a realidade do CAJ e do Curso de Matemática naquela instituição.

2. A HISTÓRIA ORAL NO ÂMBITO DA PESQUISA

Encontrar documentos capazes de elucidar ou reconstruir o passado contemporâneo da história da


UFG e do CAJ se apresentaram em muitas situações uma árdua missão. Os registros escritos se encontram
mal arquivados e a memória de nosso passado recente é algo pouco explorado no CAJ/UFG. Apesar de
os registros escritos serem potentes instrumentos e fontes investigativas para o historiador, entendemos
que tais recursos ganham novas matizes quando se complementam com as vozes e experiências daqueles
que ajudaram a construir a história do meio social e profissional dos quais fazem ou fizeram parte. Por
possuirmos tal concepção e por estarmos interessadas em retratarmos o processo de implantação e
encerramento dos Cursos de Ciências (década de 80) e re(implantação) do curso de Licenciatura em
Matemática no CAJ (década de 90), optamos por tratar esta temática a partir da análise documental
articulada à história oral como técnica.
Ao assumirmos a utilização da história oral como técnica em nossa investigação não se deixou de lado
os meandros das discussões epistemológicas acerca do estatuto da história oral (MEIHY, 2000;
JOUTARD, 2006; THOMSON, 2006; PORTELLI, 2006; LEIDESDORFF, 2006; GARNICA, 2006),
muito menos desconsiderou-a como meio de expressão das vozes silenciadas pela história oficial
registradas em documentos historiográficos (MEHY, 2000; SANTOS, 2005).
O que realmente considerou-se é que a história oral em conjunto com a documentação escrita
permite perceber evidências que seriam difíceis de serem observadas se optássemos ou só pela oralidade
ou só pela escrita. Dito de outro modo, a opção pela história oral temática se deve ao entendimento de que
a história se (re)constrói a partir de contextos e situações vivenciadas sob a ótica de diferentes atores
sociais cujas memórias, como bem coloca Garnica (2006, p. 89), “via de regra são negligenciadas”, bem
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como de fontes primárias, arquivos, imagens, e de tantos outros registros capazes de elucidar “a verdade
das histórias” (GARNICA, 2006, p.89).

3. O CONTEXTO DOS ENREDOS HISTÓRICOS, OS SUJEITOS DA PESQUISA E OS


INSTRUMENTOS E ESTRATÉGIAS INVESTIGATIVAS

A pesquisa em questão desenvolveu-se no Campus Jataí, uma das unidades da Universidade


Federal de Goiás, na cidade de Jataí, Estado de Goiás que, devido ao movimento de expansão das
instituições federais de ensino, transformou-se em 11 de novembro de 2005 de Campus Avançado de Jataí
(Resolução CEPEC nº 145) em Campus Jataí da Universidade Federal de Goiás (Resolução CONSUNI nº
20/2005).
Por se tratar de uma pesquisa histórica pautada em depoimentos orais dos gestores que elaboraram
e executaram os projetos de implantação dos Cursos de Ciências (década de 80) e Licenciatura em
Matemática do CAJ (década de 90), os sujeitos significativos da presente pesquisa são estes
administradores.
Dentre estes sujeitos convidamos inicialmente para serem entrevistados o ex-diretor do CAJ no ano
de 1981 (professor Mauro Urbano Rogério), a ex-diretora do CAJ (professora Ana Cáritas Teixeira
Souza), o ex-chefe do Departamento de Matemática do Instituto de Matemática e Física (IMF)1 da UFG
de Goiânia (professor Ronaldo Alves Garcia) e a ex-coordenadora do Curso de Matemática no ano de
1996 no CAJ (professora Marina Tuyako Mizukoshi) e a diretora do Instituto de Matemática e Estatística
(IME) (professora Gisele de Araújo Prateado Gusmão) no ano de 2008. A partir destas entrevistas e
documentos levantados, vimos a necessidade de num segundo momento entrevistar a pró-reitora de
extensão da UFG do período de 1978 a 1981 (professora Maria do Rosário Cassimiro), um membro do
conselho comunitário da cidade de Jataí e que foi posteriormente o primeiro presidente da Fundação
Educacional de Jataí2 (FEJ) em Jataí (Sr. Adelino Ganeiro das Neves).
Ao início da pesquisa, deparamo-nos com uma série de dificuldades relacionadas à coleta dos
registros históricos, como documentos oficiais, que pudessem auxiliar no desenvolvimento da presente
pesquisa. Isto se deve em parte ao mal arquivamento desses documentos. Entretanto, com o desenrolar da

1
O IMF, composto de três departamentos em 1996, desmembrou-se em três institutos: Instituto de Física, Instituto de
Informática e Instituto de Matemática e Estatística e esta estrutura vigora até hoje, ano de 2008.
2
FEJ – Entidade educacional parceira da UFG que auxilia na manutenção administrativa e acadêmica do CAJ.
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investigação, conseguimos, na sede da UFG, na cidade de Goiânia, os documentos abaixo relacionados, os
quais serviram de fontes para nosso trabalho:
• Atas das reuniões da Câmara de Extensão do final da década 70 e década de 80;
• Atas das reuniões de departamento de Matemática do Instituto de Matemática e Física das décadas
de 80 e 90;
• Convênios, resoluções e relatórios da UFG referentes aos períodos históricos sobre os quais
tratam a presente investigação.
• Documentos de acervo particular de alguns dos entrevistados tais como: jornais contendo
reportagens sobre o CAJ na década de 80 e 90, relatório de prestação de contas do presidente da
FEJ em 84; ofícios da FEJ, registros fotográficos da visita da reitora na década de 80 e da
formatura da primeira turma de Ciências do CAJ.
Além dos documentos anteriormente citados, nos valemos de entrevistas com roteiros semi-
estruturados realizadas com os gestores anteriormente mencionados.
A coleta de dados realizou-se essencialmente no segundo semestre de 2007 e primeiro semestre de
2008. De modo geral as estratégias compreenderam:
- a coleta de documentos;
- elaboração do termo de compromisso de concessão da entrevista;
- contato com os depoentes julgados significativos para a pesquisa e apresentação dos objetivos da
pesquisa; estrutura da entrevista e convite para participação da mesma; uma vez aceito o convite emitiu-se
por e-mail os termos de compromisso de concessão de entrevista aos sujeitos da pesquisa, os quais foram
assinados pela entrevistadora e pelos entrevistados(as). Estes foram registrados em cartório.
- realização das entrevistas registradas em áudio no período de setembro a outubro de 2007;
- realização de entrevistas complementares realizadas no período de janeiro a fevereiro de 2008;
- reiteração, durante as entrevistas, sobre a conferência de que toda a documentação produzida na pesquisa
não seria publicada sem autorização prévia do colaborador;
- envio de e-mails agradecendo a colaboração do(a) entrevistado(a), com o objetivo de estabelecer a
continuidade do processo;
- transcrições das entrevistas e envio para os entrevistados;
- sistematização e análise dos dados;

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- elaboração de relatórios submetidos à apreciação dos entrevistados e posterior envio à Pró-Reitoria de
Pesquisa e Pós-Graduação da UFG.

4. AS RAZÕES QUE LEVARAM À IMPLANTAÇÃO E ENCERRAMENTO DO CURSO DE


CIÊNCIAS COM HABILITAÇÃO EM MATEMÁTICA NA DÉCADA DE 80 NO CAJ/UFG

De acordo com o relatório de atividades da Pró-reitoria de Extensão (1978-1981), no começo da


gestão do reitor, professor José Cruciano de Araújo, instalou-se na Pró-reitoria de Extensão o desejo de
interiorização da UFG, cuja idealizadora do projeto foi a ex-pró-reitora de extensão (1978 a 1981)
professora Maria do Rosário Cassimiro3. Com base neste relatório em 1980 foi apresentado na XXVIII
Reunião de Reitores das Universidades Brasileiras, sob o título de “A Universidade e a Problemática
Econômica”, o documento que justificava a relevância da interiorização da UFG. Os argumentos que
fundamentaram tal iniciativa foi preeminentemente baseados na alegação de que a explosão demográfica e
o crescimento desordenado da capital estava provocando problemas relacionados à busca de moradia, de
serviços de saúde pública, saneamento básico, busca de empregos e esvaziamento de recursos humanos do
interior. Portanto, argumentos de cunho social e econômico.
A escolha da cidade de Jataí como uma das cidades para abrigar a sede da UFG não foi por acaso.
Como era objetivo do projeto de interiorização estender a UFG a diferentes regiões do Estado e nestas
existirem cidades pólos que pudessem abarcar suas instalações, era preciso que houvesse, nessas mesmas
cidades, parcerias consistentes com o poder público, o qual viabilizaria a instalação de um Campus da
UFG naquela cidade. Este fato ocorreu com Jataí. A partir do momento em que membros da comunidade
local ficaram sabendo do projeto de interiorização em um evento social, no qual estava presente o então
reitor, professor José Cruciano de Araújo, cidadão jataiense, estes levaram a idéia ao LIONS CLUBE de
Jataí e posteriormente ao conselho comunitário4, convocado para uma reunião pelo então presidente do
LIONS, Sr. Cláudio Elias Cintra. Dessa reunião designou-se uma comissão que iria até reitoria da UFG, e,
dentre os membros desta comissão, se encontrava o Sr. Adelino Ganeiro das Neves, empresário da cidade
de Jataí. Após reunião preliminar com o reitor, esta comissão dirigiu-se à pró-reitoria de extensão, e
conversou diretamente com a pró-reitora sobre a instalação da universidade em Jataí. De acordo com a

3 Em 1980 a professora Maria do Rosário Cassimiro era a Presidente da Câmara de Extensão, vinculada a Pró-reitoria de
Extensão, atual Pró-reitoria de Extensão e Cultura e de 1982 a 1986 foi Reitora da UFG.
4
Entidade que consta de representantes de diferentes entidades de classes que se reunia sob convocação de alguma entidade ali
representada.
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pró-reitora, esta solicitação seria prontamente atendida desde que se adquirisse, através de doação, uma
área física para a construção de um edifício nos moldes daqueles estabelecidos pela UFG, que seria a sede
da universidade.
Assim que essa comissão retornou a Jataí, o Sr Adelino Ganeiro das Neves reuniu-se com o então
prefeito Mauro Antônio Bento (prefeito de Jataí de 1977 a 1983) e lhe expôs os resultados oriundos
daquela reunião ocorrida entre os membros da comissão designada para ir até Goiânia, em especial à pró-
reitoria de extensão. A partir daquela conversa, o prefeito autorizou que fosse fechado o acordo com a
UFG. Em 1980, a prefeitura comprou parte do terreno de propriedade do Instituto Samuel Graham (ISG) e
aí se construiu o edifício do CAJ/UFG (Conferir Figura 1)

Atual área do ISG

Atual Área do
CAJ/UFG

Figura 4. Fotos do CAJ na década de 1980 e sua vista aérea no ano de 2008

Além dos requisitos anteriormente citados, outros dois foram relevantes para que a UFG fosse para
Jataí. O primeiro dizia respeito ao fato de que esta cidade não possuía, naquele período,
universidades/faculdades públicas ou particulares. A idéia da pró-reitoria de extensão era levar a UFG
para uma cidade que carecesse de uma instituição universitária, portanto, aquelas que possuíam algum
centro de ensino superior eram descartada do rol das possíveis cidades pólo. O segundo referia-se a fato de
que Jataí possuía um contingente populacional capaz de abarcar a instalação de uma universidade em seu
município.
Ainda no ano de 1980, o Conselho Coordenador de Ensino e Pesquisa da Universidade Federal de
Goiás deliberou, em reunião plenária, realizada em 04 de março de 1980, a criação do Campus Avançado
de Jataí (Resolução nº. 145), subordinado à Pró-reitoria de Extensão. Quanto ao curso, foi definido a

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implantação do Curso de Licenciatura em Ciências, com habilitação em Matemática (40 vagas), Física (30
vagas) e Química (20 vagas).
A eleição desse curso não foi por acaso. Ele foi escolhido para atender a demanda da região, de
acordo com o estudo sociológico realizado em 1979, através do qual, professores e alunos de Sociologia e
Antropologia investigaram as reais carências sócio-econômicas de Jataí. Aliado a esse trabalho vigorava
no MEC uma resolução que previa a criação de Curso de Ciências com habilitações em Matemática,
Física, Biologia e Química. Com base nessa resolução e no já referido estudo sobre as necessidades de
ensino em Jataí, resolveu-se oferecer o Curso de Ciências como primeiro curso de graduação.
Em 1981, deu-se início no município de Jataí o funcionamento desses cursos, os quais foram
ministrados por professores de diferentes departamentos da UFG, sendo que parte desses professores se
deslocavam semanalmente de Goiânia a Jataí para ministrarem as disciplinas contempladas na matriz
curricular das referidas habilitações
De acordo com o projeto de interiorização da UFG, foi previsto que o curso de Ciências
funcionasse no período diurno e que teria apenas duas turmas, portanto, dois processos seletivos e que
posteriormente daria lugar a outro curso. Assim, este curso teria data prevista de início e término, uma vez
que era característica do projeto de interiorização não abrir cursos “perenes”, mas sim cursos provisórios
que atendessem às demandas da região na qual seriam instalados, conforme depoimentos do primeiro
diretor do CAJ, de um dos membros da comissão que solicitou a ida da UFG para Jataí e da ex-pró-reitora
de extensão, designados, respectivamente por D, MC e PRE:
D: então a idéia era fazer com que só houvesse dois vestibulares e depois esses cursos seriam substituídos por outros,
esses cursos iriam pra outros locais,(..).
MC: (...) idéia da extensão era uma idéia dirigida, não era uma idéia permanente, eu vou lá, formo, faço uma fornalha
NE, nessa área, preparo isso, entrego entendeu, depois vou para outra fornalha preparando professores para o futuro.
PRE: a filosofia original (...) é, que se não precisa mais de professores naquela área ele ia5 por exemplo pra Catalão,
que tava ali pertinho, relativamente perto não é,(...)

Outros fatores que também contribuíram para o encerramento do curso foram: o alto índice de
evasão, o número reduzido de formandos e os altos custos que arcava a universidade em manter o curso de
Ciências conforme relatado em ata, das linhas 2 a 19, pg. 142 da 206ª Reunião da Câmara de
Extensão/CCEP, ocorrida aos vinte e dois dias do mês de maio de 1986, além da não contratação de
professores devido a regras de contingenciamento do governo, o que dificultou a disponibilização de
professores da UFG para o CAJ, conforme depoimento do primeiro diretor do CAJ no ano de 1981.

5 “ele ia por exemplo pra Catalão” se refere ao curso ser deslocado para o campus de outra cidade no interior de Goiás.
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A conquista de um campus da UFG para a cidade de Jataí fez com que a comunidade local se
mobilizasse para o seu não fechamento, para isto foi criada a Fundação Educacional de Jataí que daria um
maior suporte a UFG no que diz respeito às questões administrativas e acadêmicas do CAJ. Em 1985 foi
assinado um convênio entre UFG e FEJ, através do qual criou-se o curso de Pedagogia dando assim
continuidade às suas atividades.

5. AS RAZÕES QUE LEVARAM À IMPLANTAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM


MATEMÁTICA NA DÉCADA DE 90

Passados quase oito anos do encerramento do curso de Ciências, iniciaram no CAJ, em


aproximadamente 1994/1995, novas discussões acerca da implantação do Curso de Licenciatura em
Matemática naquela unidade. A iniciativa, de acordo com o chefe do Departamento de Matemática do
antigo IMF, professor Ronaldo Alves Garcia, partiu da diretora do campus naquele período, professora
Ana Cáritas Teixeira Souza. Esta contactou a reitoria da UFG e solicitou-lhe uma reunião para a qual
foram convidados todos os chefes de departamentos da UFG e na qual também esteve presente a então
presidente da Fundação Educacional de Jataí, professora Maria Abadia Machado, e nela a diretora do
CAJ/ UFG formalizou a solicitação de novos cursos para o Campus Avançado de Jataí, dentre eles o de
Matemática.
Naquela reunião, o curso de Matemática foi representado pelo chefe de departamento do IMF, o
qual levou tal solicitação para ser discutida entre os pares em reunião departamental. Como o
Departamento de Matemática já possuía experiências com o processo de interiorização, aí se incluem a
própria cidade de Jataí em 1981, Catalão6 em 1988 e Rialma7 em 1993, a discussão e conseqüente
instalação do Curso de Licenciatura em Matemática no CAJ em 1996 foi natural, segundo depoimentos do
então chefe do Departamento de Matemática do IMF, da diretora do IME e da Coordenadora do Curso de
Matemática do CAJ em 1996.
Dentre os motivos alegados para a implantação do Curso de Matemática no CAJ em 1996
encontram-se:
- preocupação com a formação dos professores de matemática do ensino básico que em sua maioria não
possuía habilitação específica na área;

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Cidade do sudeste goiano.
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Cidade do norte goiano.
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- formação de profissionais que pudessem atuar no mercado de trabalho de maneira competente, de modo
que a formação obtida no âmbito universitário se refletisse em diferentes espectros da sociedade;
- geração de benefícios para o ensino básico local e das cidades circunvizinhas;
- contribuição para o processo de expansão do CAJ, uma vez que o Curso de Licenciatura em Matemática
ofereceria disciplinas básicas para Agronomia;
- disponibilização por parte da UFG de cursos que fossem fáceis de serem organizados e dispensassem
baixos custos para sua manutenção, embora a comunidade local desde a implantação do CAJ em 1980,
clamasse por cursos socialmente mais expressivos como de Medicina, Direito dentre outros;
- projeção da cidade de Jataí na região, uma vez que esta sediaria um pólo-universitário de renome e
respeitabilidade como a Universidade Federal elevando assim seu status no sudoeste goiano;
- interesses políticos, embora não fosse mencionado nos depoimentos qual seria o teor desses interesses. O
que foi deixado claro é que em situações de interiorização de uma universidade, há sempre concessões e
interesses por parte da instituição universitária, dos poderes locais e de diferentes setores da sociedade no
desenvolvimento de tais projetos.
- desenvolvimento econômico local, pois com a implantação do curso de Matemática percebia-se que este
alavancaria indiretamente o desenvolvimento econômico da cidade de Jataí, uma vez que subsidiaria
cursos como Agronomia, expoentes para o aceleramento da economia local.
Portanto, no que se refere às razões sobre a implantação do Curso de Licenciatura em Matemática
em 1996, identificamos duas categorias de análise, a saber: político-educacional e sócio-político-
econômica.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A idéia embrionária da implantação do curso de Ciências na década de 80 levou à consolidação da


universidade Federal de Goiás no interior goiano, mais especificamente no sudoeste goiano. Já a
instauração do curso de Licenciatura em Matemática, em 1996, no CAJ foi uma “jogada estratégica” por
parte dos gestores e poder político local visando à expansão do mesmo e o conseqüente fortalecimento
econômico e desenvolvimento social da região, uma vez que este, através do oferecimento de suas
disciplinas, subsidiaria não só o curso de Agronomia, mas outros cursos que viriam posteriormente
alavancar a economia da região.

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Atualmente a coordenação de Matemática atende a demanda de nove cursos dos quatorze que
vigoram no ano de 2008, isto é, 64% dos cursos do CAJ, oferecendo-lhes diferentes disciplinas. A partir
de 2009, atenderá dez cursos. Estas estatísticas reforçam a idéia da ex-diretora do CAJ no ano de 1996,
que, naquele período prognosticou que o CAJ só cresceria e se consolidaria como unidade se viessem
cursos de base que servissem de suporte a cursos de expressão econômica e social para a região.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GARNICA, A. V. M. Historia oral e educação matemática. In: BORBA, M. de C.; ARAÚJO, J. de L.
(Orgs.). Pesquisa Qualitativa em Educação Matemática. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 79-
100.
GARNICA, A. V. M. O escrito e o oral: uma discussão inicial sobre os métodos da história. Revista
Ciência e Educação, 5(1), 27-35. 1998.
JOUTARD, P. Desafios à História Oral do Século XXI. http://www.fiocruz.br/editora/media/03-HO02.pdf
Acesso em: 5 de dezembro de 2006.
LEIDESDORFF, S. Desafios do transculturalismo. http://www.fiocruz.br/editora/media/03-HO02.pdf
Acesso em: 5 de dezembro de 2006.
MEIHY, J. C. S. B. Manual de História Oral. 3ª Edição. Edições Loyola. São Paulo, 2000.
PORTELLI, Alessandro. Memória e diálogo: desafios da história oral para a ideologia do século XXI.
http://www.fiocruz.br/editora/media/03-HO02.pdf Acesso em: 5 de dezembro de 2007.
SANTOS, A. P. História oral e memória: uma abordagem acerca da construção da hidrelétrica Itaipu.
UNESP. FCLs. CEDAP, v.1. n.2, 2005.
THOMSON, A. Aos cinqüenta anos: uma perspectiva internacional da história oral.
http://www.fiocruz.br/editora/media/03-HO02.pdf Acesso em: 5 de dezembro de 2006.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Câmara de Extensão. Ata da 206ª Reunião da Câmara de
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UNIVERSIDADE FEDERA DE GOIÁS: Resolução CONSUNI nº 20, de 11 de novembro de 2005.
Goiânia, 2005.
S N H M – 2009 11
ISBN – 978-85-7691-081-7

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