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Um sapato, muitos significados: as estampas e sua função simbólica no

Converse 'Chuck Taylor' All Star


A shoe, many meanings: the prints and their symbolic function in Converse 'Chuck
Taylor' All Star

Cléo Rocha Ramos


Especialista em Design de Estamparia pelo SENAI CETIQT

Sérgio Luís Sudsilowsky


Coordenador dos Bacharelados em Design de Moda e Design de Superfície do SENAI CETIQT

Resumo
Este artigo se propõe a investigar de que forma as estampas produzidas para os
calçados da linha ‘Chuck Taylor’ All Star, da marca Converse, são pensadas de
acordo com a significação adquirida por este calçado ao longo de sua história. Com
base em uma pesquisa bibliográfica, apresenta um resumo da história do ‘Chuck
Taylor’ All Star, sua forte relação com os movimentos de contracultura, surgidos a
partir da década de 1950 e o rock n’roll, além de apontar de que maneira estas
relações influenciam na temática das coleções estampadas. Também contextualiza
o calçado (e suas estampas) dentro do perfil consumidor da sociedade
contemporânea, principalmente em relação às novas tribos urbanas. Por fim, o artigo
lista uma série de exemplos de coleções estampadas com o objetivo de ilustrar os
argumentos apresentados.
Palavras- chave: Converse ‘Chuck Taylor’ All Star. Contracultura. Rock. Estampa.

Abstract
This article aims to investigate how the prints produced for the footwear line 'Chuck
Taylor All Star, of Converse brand, are designed according to the significance
acquired by this footwear throughout its history. Based on a literature search,
summarizes the history of the 'Chuck Taylor’ All Star, its strong relationship with the
counterculture movement which emerged from the 1950s and rock n’roll while
pointing out how these relationships influence the theme of the printed collections. It
also contextualizes the shoes (and their prints) within the consumer profile of
contemporary society, especially in relation to the new urban tribes. Finally, the
article lists a number of examples of printed collections in order to illustrate the
arguments presented.
Keywords: Converse ‘Chuck Taylor’ All Star. Counterculture. Rock. Pattern.

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INTRODUÇÃO
As superfícies adquirem cada vez mais importância no nosso dia-a-dia. Estão nas
telas de televisão, nas telas de cinema, nos cartazes e nas páginas de revistas
ilustradas, por exemplo. As superfícies eram raras no passado. Fotografias, pinturas,
tapetes, vitrais e inscrições rupestres são exemplos de superfícies que rodeavam o
homem. Mas elas não equivaliam em quantidade nem em importância às superfícies
que agora nos circundam. (FLUSSER apud RÜTHSCHILLING, 2008, p. 24)

Segundo Peterson (2007), o ‘Chuck Taylor’ All Star, modelo mais antigo de tênis da
marca Converse, com seu visual elegante e moderno, seus padrões e formas
geométricos (presentes na sola do calçado e no reforço na parte frontal),
durabilidade e funcionalidade, tornou-se popular nos EUA a partir da década de
1920, principalmente entre os jogadores norte-americanos de basquete. Desde
então, mesmo com poucas modificações em sua forma original, o 'Chuck Taylor' All
Star resistiu à passagem dos anos, às mudanças de público-alvo e, principalmente,
às constantes transformações da moda, passando de calçado esportivo mais
popular dos EUA a símbolo de juventude e rebeldia nos anos da contracultura, e, por
fim, tornando-se um ícone de estilo nos dias de hoje. Esta perenidade de um único
modelo nos traz uma pergunta: como um tênis que mantém sua forma inalterada há
mais de sessenta anos ainda faz sucesso? Além disso, como uma peça de design
com tamanha perenidade continua sendo “jovem” e “contemporânea”?

Este sucesso pode ser atribuído a dois fatores importantes: a sucessão de


significados adquiridos pelo modelo ‘Chuck Taylor’ All Star original de cano médio
durante toda a sua história (e, consequentemente, pela linha de calçados de mesmo
nome desenvolvida a partir deste primeiro modelo); e o redirecionamento da marca
Converse para o mercado de moda, a partir da sua aquisição pela gigante Nike, que
se caracterizou através do lançamento de coleções limitadas da linha ‘Chuck Taylor’
All Star, com o emprego das mais variadas padronagens, cores e materiais.

Partindo desses dois pontos, vamos discutir neste artigo de que maneira as
coleções estampadas do ‘Chuck Taylor’ All Star participam da constante renovação
da marca Converse dentro deste mercado e como estas estampas são adequadas
às significações adquiridas por este calçado, desde o lançamento do primeiro
modelo há mais de 90 anos até os dias atuais.

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1 CONVERSE 'CHUCK TAYLOR' ALL STAR: DE CALÇADO ESPORTIVO A


PRODUTO DE MODA

Lançado em 1917 pela empresa norte-americana Converse e chamado


primeiramente de Converse All Star, o tênis esportivo de cano médio (modelagem
pouco acima do tornozelo), feito de lona preta e sola de borracha (fig. 1a) começou a
ser utilizado por atletas de várias modalidades esportivas, principalmente do
basquete. Quatro anos depois, Charles “Chuck” Taylor, na época jogador de
basquete, juntou-se a Converse e passou a colaborar no aperfeiçoamento do tênis
All Star, sugerindo modificações para torná-lo mais adequado à prática do esporte.
Sua grande colaboração, tanto no desenvolvimento como na divulgação e venda do
Converse All Star, consolidou-o como principal modelo de calçado utilizado pelos
jogadores de basquete dos Estados Unidos, tanto colegiais e universitários, quanto
profissionais. Na década de 1930, em homenagem a Chuck Taylor, a Converse
passa a incluir sua assinatura nesta linha de calçados.

A Converse lança em 1936 um modelo de cano médio branco, com frisos vermelhos
e azuis (numa referência à bandeira norte-americana), exclusivamente para os
atletas americanos que participariam das Olimpíadas de Berlim (fig. 1b). No ano
seguinte, o modelo passou a ser vendido abertamente nas lojas. Durante a Segunda
Guerra Mundial, este modelo também foi adotado pelo exército americano para o
treinamento de seus soldados. Desde 1948, o All Star de cano médio possui a
mesma aparência dos modelos produzidos hoje.

Em 1957, os modelos de cano baixo (também conhecidos como Oxford) são


lançados como uma alternativa mais casual aos modelos de cano médio (fig. 1c). A
principal diferença em sua aparência é que a parte do calçado feita em lona é
cortada exatamente abaixo do tornozelo, eliminando um par de ilhoses, e o selo
lateral com a logo Converse ‘Chuck Taylor’ All Star foi eliminado. Tempos depois, um
pedaço de tecido retangular com a logo licenciada All Star, costurado sobre o topo
da lingueta, passou a ser utilizado como forma de substituir o selo lateral.

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Figura 1: a) Converse All Star original de 1917 b) 'Chuck Taylor' All Star “Olímpico” Branco
Óptico c) 'Chuck Taylor' All Star Oxford
Fonte: 1a) www.mundodastribos.com 1b) www.chucksconnection.com 1c) www.converse.com

A partir dos anos 1950, influenciados por estrelas de cinema e do rock, como James
Dean e Elvis Presley, os jovens americanos adotam o All Star em seu dia-a-dia.
Hollywood também passou a utilizar cada vez mais o calçado em seus filmes, como
nos musicais “Amor, Sublime Amor” (West Side Story, de 1961), como vemos na
figura 2, e “Nos Tempos da Brilhantina” (Grease, de 1978).

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Figura 2: Cena do filme “Amor, Sublime Amor” (West Side Story). Neste filme, as duas gangues
rivais diferenciavam-se pelas cores de All Star que usavam: os Jets calçavam modelos oxford
pretos e os Sharks, oxford brancos.
Fonte: www.parkcitiespeople.com

Nos anos 1970 os times de basquete começaram a deixar de calçar All Star, uma
vez que outras marcas iniciaram o desenvolvimento de calçados com tecnologia
mais avançada e materiais mais adequados à prática do esporte. Porém,
simultaneamente, o All Star começou a tornar-se popular entre os membros das
chamadas contraculturas, principalmente músicos de bandas de rock e outras
pessoas que queriam mostrar que “não faziam parte do sistema”.

Na mesma época, sobretudo entre o final da década de 1970 e o início da seguinte,


com o surgimento da cultura fitness e a explosão das academias de ginástica, surge
também um novo nicho de mercado para os calçados esportivos nos EUA que,
consequentemente, influenciou o resto do mundo: a geração baby boom, que
cresceu durante as décadas de 1950 e 60 calçando All Stars e outros calçados
esportivos, continuou a usá-los durante sua vida adulta, nos anos 1970 e 80. As
pessoas começavam a adotar um estilo de vida mais casual, preferindo vestir roupas
confortáveis ao invés de vestir-se formalmente. Mesmo sem ter relação alguma com
esportes, muitas delas compravam tênis porque eles eram “modernos” e
confortáveis de usar. (PETERSON, 2007).

A popularidade do All Star estendeu-se ao longo da década de 1980 à medida que


as novas gerações o redescobriam. Para atender este mercado jovem, a Converse

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lançou novos modelos, e começou a tentar dissociar o All Star do basquete e do


esporte, a fim de caracterizá-lo como um produto de moda. Porém, naquele
momento, esta estratégia não funcionou. Sem novos esportes ou atividades de lazer
que estivessem ligadas à linha 'Chuck Taylor' All Star para aumentar seu apelo
comercial, o tênis foi sucessivamente deixando de ser consumido, ficando
“rebaixado às liquidações” (PETERSON, 2007, p. 51). Porém, na década de 1990,
as vendas do 'Chuck Taylor' All Star dão uma nova guinada por puro acaso, voltando
à moda graças ao cantor Kurt Cobain, vocalista e líder da banda grunge Nirvana,
sendo adotado consequentemente pelos seguidores do movimento grunge.

Em 2003, a Converse, enfrentando enormes problemas financeiros, foi comprada


pela Nike, não somente pelo valor da marca e dos seus produtos, como o 'Chuck
Taylor' All Star, mas também para conquistar um espaço de mercado ainda não
muito bem atendido pela empresa, o segmento dos tênis de preço mais baixo.

Como estratégia colocada pela Nike para recuperar o mercado antes dominado pela
Converse, esta última passou por mudanças no posicionamento da marca.
Utilizando uma “rede seletiva para distribuir o produto, valor agregado à marca e
comunicação, além de trabalhar com formadores de opinião” (ALL..., 2007), a
Converse rapidamente recuperou antigos clientes e conquistou as novas gerações,
voltando a se tornar um sinônimo de “juventude descolada” e moderna”. Agora o
‘Chuck Taylor’ All Star é reconhecido como “um calçado que irá suavizar seu visual,
dar-lhe um certo status de estrela do rock, e permitir que você misture moda casual
e formal, num equilíbrio interessante de moda high and low1.” (PETERSON, 2007, p.
16, tradução livre).

2 O CONVERSE ‘CHUCK TAYLOR’ ALL STAR E SUA RELAÇÃO COM AS


CONTRACULTURAS

Um dos fatores fundamentais que transformaram o All Star de calçado esportivo em


objeto de culto pela moda foi sua adoção, a partir do fim da Segunda Guerra
Mundial, pelos integrantes dos movimentos de contracultura e a consequente
absorção do jeito de vestir desses grupos pela indústria cultural de massa.

1 High and low: numa tradução literal, “alto e baixo”. Esse é um conceito de moda que tem como principal
característica a mistura de peças sofisticadas e outras mais básicas, peças de grifes com outras populares etc.

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Segundo Ferreira (2008), as contraculturas eram “culturas produzidas em oposição à


‘sociedade’ em que viviam”. Através da formulação e experimentação de novos
modelos utópicos de práticas, valores e referências sociais, tais grupos buscavam a
inteira reversão da ordem coletiva vigente. Os movimentos de contracultura
desenvolveram-se na América Latina, Europa e principalmente nos EUA.

Cada um desses movimentos de contracultura tinha suas características próprias –


vestimentas, comportamento, livros, filmes, ídolos, artistas, gestos, gírias, etc. Mas
nada influenciou mais esses jovens do que a música - principalmente, o rock and
roll.

Segundo Ferreira (2008), “a música estende-se de tal modo no processo de


construção da identidade individual e social destes jovens que chega a constituir
referência para um novo nome, correspondente a uma nova condição identitária do
sujeito”, tornando-se um elemento de reconhecimento do indivíduo dentro de um
determinado grupo social.

O rock não se expressa somente através da música, mas também do cinema e


comportamento e, principalmente, através do traje. Os diversos estilos de rock que
surgiram até aquele momento, relacionados aos movimentos de contracultura,
inauguraram uma antimoda, opondo-se aos padrões definidos pelas regras da Alta
Costura e da sociedade de então, quando as vestimentas ainda definiam, de forma
clara, as diferenças entre os sexos e as posições sociais. Baudot apud Trinca (2005)
afirma que “até aquele momento, não seguir a linha dominante da moda indicava
que se era pobre. A partir dos anos 1960 isso significava muito claramente o que é
ser livre”. Ou seja, os novos modos de vestir adotados expressavam um
distanciamento total da moda dominante, com o objetivo de desagradar, surpreender
e chocar, principalmente as gerações anteriores e a estrutura das tradicionais
famílias burguesas. Para os jovens, os ídolos do rock representavam uma forte
oposição à sociedade vigente, e imitar o jeito de vestir de seus músicos e bandas de
rock favoritos era uma das maneiras mais claras de expressar seu inconformismo.

O primeiro grupo de contracultura, conhecido como Geração Beat, nasceu nos


Estados Unidos durante as décadas de 1950 e 60, liderado por jovens universitários
de classe média – a grande maioria deles nascidos logo após o fim da guerra

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(conhecida como Geração Baby Boom2). Estes jovens criticavam o regime


tecnocrático3 do american way of life, o consumismo gerado pelo capitalismo, a
burocracia e a corrida armamentista da Guerra Fria e expressavam-se,
principalmente, através da literatura e da poesia – além de um modo particular de
vestir.

Outros movimentos se seguiram, com ideais diferentes – mas sempre liderados pela
juventude, e com o mesmo caráter contestador – até o surgimento do punk na
década de 1970.

O movimento punk nasce em Nova York (EUA) no final dos anos 1960 e início dos
anos 70 e também na Inglaterra em meados desta mesma década. Porém, havia
diferenças entre a cena punk dos dois países. A cena americana era muito mais
musical do que comportamental (SPOSITO; GONÇALVES, 2005). Já na Inglaterra, o
punk surge como forma de protesto dos jovens de classes mais baixas, diante da
grave crise econômica de então e, consequentemente, da falta de acesso à
educação (restrita às classes sociais privilegiadas) e ao mercado de trabalho. A falta
de boas perspectivas em relação ao futuro gerava um grande sentimento de revolta
entre os jovens, e esse descontentamento era refletido nas letras e no estilo
agressivo de suas músicas, assim como em suas atitudes antiautoritárias e
subversivas e estilo visual chocante, de indumentária bem marcada.

A década de 1990 vê nascer, na cidade de Seattle (Washington, EUA), o movimento


grunge. Ao contrário do punk, o grunge não possuía o mesmo caráter contestatório,
apesar de também ser, a princípio, um movimento underground4. Seus seguidores
estavam mais para niilistas, alienados e “introspectivos-auto-destrutivos” (ACOM,
2007). Naquela época, a população jovem de Seattle – em sua grande maioria
caucasiana – enfrentava as consequências do governo Reagan: o número de
cidadãos abaixo do nível de pobreza cresceu entre 1981 e 1992, e a ajuda financeira
para o ensino superior foi substancialmente reduzida. O clima cinzento e chuvoso da

2 É como costumam ser chamadas as pessoas nascidas entre meados da década de 1940 e meados da década
de 1960. O nome Baby Boom justifica-se pela explosão demográfica ocorrida após o fim da Segunda Guerra
Mundial. Segundo acadêmicos, “o ser humano tem uma característica de aumentar a reprodução quando se
sente ameaçado ou em perigo por determinados períodos, que foi o caso da Segunda Grande Guerra”.
(SERRANO, 2010)
3 Tecnocracia: Sistema de organização política e social baseado na predominância do técnicos. Tecnocrata: 1.
Partidário da tecnocracia. 2. Político, administrador ou funcionário que procura razões meramente técnicas e/ou
racionais, desprezando os aspectos humanos e sociais dos problemas. (FERREIRA, 1975)
4 Underground (numa tradução literal, “subterrâneo”) é um termo utilizado para descrever um ambiente cultural
considerado fora dos padrões comerciais e dos modismos e que está fora da mídia.

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cidade e seu isolamento geográfico também contribuíram para aumentar o


descontentamento desses jovens, que sentiam desiludidos, isolados e um pouco
desesperados, e a músicas que compunham e tocavam expressavam essa
mentalidade. As letras possuíam um aspecto mais pessoal, sem referências a temas
de caráter comum e social. O som do grunge era diferente de qualquer estilo musical
predominante da época. Além de refletir o humor de uma juventude insatisfeita, foi
também uma reação contra a superficialidade das canções e letras da música pop e
de algumas bandas de rock, e dos excessos de seus figurinos e penteados.

E por falar em “figurino”, voltando aos beatniks (como eram chamados os membros
da Geração Beat), esses demonstravam sua conduta antimaterialista através de um
profundo desinteresse pela moda, adotando como uniforme a vestimenta simples da
tradição operária norte-americana: calça Levi's 501, camisa de jeans sem gravata e
camiseta, além de calçados simples – modelos masculinos adotados pelas mulheres
e sandálias pelos homens.

Já o movimento punk, principalmente na Inglaterra, adotou roupas intencionalmente


elaboradas para parecerem tão repugnantes quanto possível aos olhos da
sociedade: cabelos cortados rentes à cabeça e tingidos de qualquer cor que não
fosse natural (rosa, roxo, azul, etc.) e arrumados na forma de espetos com vaselina;
narizes, orelhas, rostos, lábios e outras extremidades furados com alfinetes de
fralda, aos quais eram pendurados correntes e insígnias; camisas velhas e rasgadas
e gravatas finas desfiguradas com pichações de títulos de canções, perversões ou
observações críticas; pulseiras e coleiras de couro preto com tachas prateadas, às
vezes trazendo correntes presas. (BURCHILL; PARSONS apud FRIEDLANDER,
2006).

A moda grunge, em oposição ao excesso de detalhes da moda punk e do exagero e


luxo dos anos 1980, utilizava roupas inspiradas na classe proletária de Seattle, com
roupas muito largas e gastas, muitas vezes adquiridas por doação, e camisa de
flanela com estampa xadrez, como a dos lenhadores. Além da camisa xadrez (cujas
mangas longas, muitas vezes, escondiam as picadas provocadas pelo uso de
drogas injetáveis), completavam o visual as calças jeans esfarrapadas, camisetas de
bandas, gorros, longos cabelos gordurosos e barba por fazer. Muitos desses ícones
foram difundidos, principalmente, pelo músico Kurt Cobain (fig. 3), considerado a
maior referência para os seguidores deste movimento.
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Figura 3: o músico grunge Kurt Cobain usando um modelo Converse 'Chuck Taylor' All Star
Fonte: www.converseallstar.com.br

Um objeto comum na indumentária de vários destes grupos de contracultura, de


diferentes épocas e com ideologias tão distintas, é o Converse 'Chuck Taylor' All Star.
Segundo Peterson (2007), muitos desses movimentos o adotaram como uma
alternativa aos caros tênis de couro de alta performance feitos na Ásia por
trabalhadores escravos (antes de ser comprada pela Nike, a Converse produzia seus
produtos nos EUA). O calçado tornou-se muito popular entre pessoas que adotavam
estilos de vida alternativos, como por exemplo, os vegetarianos (uma vez que, como
era um tênis feito de lona e borracha, não era utilizada matéria-prima animal para
fabricá-lo). Mas a fama do 'Chuck Taylor' All Star naqueles anos de contracultura está
relacionada, principalmente, aos músicos de bandas de rock e seus fãs. Quando o All
Star passou a calçar os pés do rock, consequentemente seus fãs fizeram o mesmo,
porque usá-lo significava que eles também estavam contra o sistema.

Porém, com o crescimento dessas contraculturas, o mercado e os meios de


comunicação de massa perceberam naqueles jovens rebeldes um novo nicho de
mercado e transformaram essa rebeldia em um produto, comercializando-a na forma
de serviços e bens de consumo – como o próprio rock and roll, filmes específicos
para o público jovem, gírias, gestos, símbolos materiais e/ou culturais, etc.
(SARMENTO, 2006). Ou seja, as propostas das contraculturas foram diluídas e
reinterpretadas de acordo com a lógica do mercado, a fim de tornar a obra

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consumível por um público mais extenso e gerar um aumento do consumo. Essa


vulgarização acarretou no enfraquecimento e até mesmo extinção da maioria dessas
contraculturas, principalmente de suas ideologias.

O mesmo aconteceu com o jeito de vestir desses grupos. A antimoda criada pelas
contraculturas foi apropriada, diluída e reinterpretada pela indústria da moda,
transformando a ruptura com os padrões até então estabelecidos em um novo
padrão. Muitas das roupas e acessórios antes associados às contraculturas e o rock,
como as jaquetas perfecto, os coturnos Doctor Martens, o jeans five pocket, a t-shirt
e, inclusive, o Converse ‘Chuck Taylor’ All Star, são considerados atualmente itens
de moda básica, ou seja, são peças que jamais saem de moda e que constituem,
senão uma verdadeira moda, um estilo em si (BAUDOT, 2002).

3 A FUNÇÃO SIMBÓLICA DAS ESTAMPAS NAS COLEÇÕES DO CONVERSE


'CHUCK TAYLOR' ALL STAR

Fiorin apud Garcia e Miranda (2007, p. 53) conceitua estilo como “o conjunto de
características que determina a singularidade de alguma coisa; ou, em termos mais
exatos, é o conjunto de traços recorrentes do plano de conteúdo ou da expressão por
meio dos quais se caracteriza um autor, uma época, etc. [...]”. Os autores também
trabalham com o conceito de “fato de estilo”, ou seja, quando uma determinada
característica de um produto de moda torna-se uma referência para seus usuários e
para o público em geral, criando para este objeto uma “identidade autopreservativa”.
Mesmo que este produto passe por reformulações posteriores, sua identidade, ou
seja, o traço particular que o caracteriza e o distingue dos demais, é sempre
mantida, a fim de que o usuário não perca sua identificação com o objeto.

A “identidade-autopreservativa” do Converse ‘Chuck Taylor’ All Star é muito bem


estabelecida. Com um forte apelo visual e facilmente reconhecido pelo público em
geral, sua forma permanece inalterada há mais de seis décadas – e ainda assim
continua popular e ganhando a cada dia novos usuários. Talvez o grande atrativo
deste calçado para seus consumidores seja exatamente esta simplicidade de design
e função, numa total oposição a uma era de modelos de tênis de alta performance –
e altos preços.

Porém, apesar do visual clássico ser um dos principais atrativos deste produto para

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seus consumidores, a lógica do fast fashion traz a necessidade de renová-lo


constantemente, para que ele resista dentro do ciclo de vida do produto de moda,
onde novos produtos (inéditos ou somente com upgrade, ou seja, inovações em um
mesmo modelo) são produzidos a cada temporada, e programados para se tornarem
ultrapassados em um curto prazo de tempo ou até o próximo lançamento. Para
manter um produto em alta no mercado, é necessário “reorganizar continuamente
seus elementos plásticos e figurativos, recriando-os e ressignificando-os como parte
de uma bricolagem, tornando-se outros” (GARCIA; MIRANDA, 2007, p. 54) – porém,
sem perder o estilo que caracteriza este produto e com o qual o consumidor já
possui um vínculo estabelecido. Esse é o tipo de interferência que a estamparia
pode proporcionar, favorecendo a diferenciação do produto, através de intervenções
na sua superfície, sem ocasionar, entretanto, mudança estrutural significante, o que
poderia causar um distanciamento de seu usuário por causa de uma quebra de
identificação com o produto.

Nas coleções de moda, as estampas têm como principal função traduzir em imagens
gráficas o conceito do produto, da coleção e da marca para o qual foram
desenvolvidas, levando em consideração as especificidades de seu público-alvo,
além de valorizar e diferenciar as modelagens das peças do vestuário (PEREIRA;
RIBEIRO, 2008). A estampa, hoje em dia, não deve ser vista apenas como um
ornamento para superfícies, e sim como um produto de design, ou seja, além de ser
bem elaborada do ponto de vista estético, formal e funcional, deve também ter uma
função simbólica específica e um propósito de comunicação.

Os elementos simbólicos presentes nas estampas das roupas ou dos acessórios,


construídos através da combinação de determinados elementos estéticos, formais e
funcionais, devem caracterizar aspectos do estilo de vida e dos valores culturais de
certas pessoas e grupos sociais, além de aspectos sensíveis e emocionais
particulares do usuário. A significação atribuída à estampa por estes elementos
simbólicos ajuda os consumidores a estabelecerem uma identificação com o
produto. O usuário utiliza as imagens impressas nas roupas como um meio de auto-
expressão e de reconhecimento dentro da sociedade em que vive. Ou seja, através
da estampa, ele mostra aspectos particulares de sua personalidade, além de inserir-
se dentro de um determinado grupo social.

Além disso, é importante ressaltar que a imagem simbólica de uma estampa (ou de
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um produto), do ponto de vista da teoria de comunicação do produto, relaciona-se


diretamente com as características sociais, econômicas, políticas e espirituais que
definem uma determinada sociedade numa determinada época (como por exemplo,
as tradições, diferenças de prestígio e poder entre classes sociais, nível de
desenvolvimento tecnológico, entre outros). (GOMES FILHO, 2006).

Como observado anteriormente, entre as décadas de 1950 e 80, tribos urbanas


como os hippies, punks etc. propunham ao mundo, cada uma delas à sua maneira,
suas próprias revoluções, ideologias e estilos de vida. Porém, de acordo com Araújo
(2007), após a queda do muro de Berlim, o mundo entrou numa era pós–moderna
em que as grandes ideologias perderam espaço. Com o crescente avanço de meios
de comunicação como a internet e o multiculturalismo, novas tribos urbanas
surgiram em todas as partes, buscando espaço e identidade próprios. Contudo,
estas tribos urbanas contemporâneas, ao contrário das de outrora, não têm mais
como objetivo interferir no contexto da história moral e/ou política da sociedade.
Agora, o vínculo social que forma as novas tribos e estabelece os laços afetivos
entre seus indivíduos é construído principalmente através de critérios subjetivos
como a identificação de sentimentos e afinidades comuns, da troca de experiências
cotidianas e principalmente, através da música e da estética de suas vestimentas,
penteados e alterações corporais.

O rock ainda se mantém como o principal estilo musical de muitas destas novas tribos
urbanas. Sua rebeldia e a insatisfação com o mundo e com os padrões estabelecidos
já foram incorporadas pela indústria cultural. O rock tornou-se parte da cultura de
consumo e agora é um produto globalizado que transcende limites sociais, culturais e
geográficos, assim como o jeans e a Coca-Cola, e estreitou ainda mais sua relação
com as artes visuais, principalmente com a moda, garantindo dessa maneira sua
permanência na indústria cultural. (ARAÚJO, 2007)

O traje e todos os seus elementos componentes (inclusive a estampa) transformaram-


se num sistema de significação de caráter simbólico e forma particular de codificação
de informação. Cada uma das peças do vestuário, através da combinação de formas,
linhas, direções e volumes, cores, texturas, arranjos de pontos (costura), contrastes,
simetrias e assimetrias, comprimentos e larguras, carrega códigos específicos. Esses
códigos presentes nos vários elementos que formam o traje, combinados entre si,
formam uma mensagem que identifica o grupo social ao qual o sujeito pertence. Para
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inserir-se em um grupo social, é necessário que o indivíduo conheça minimamente os


códigos presentes nos signos das vestimentas, bem como a forma correta de
selecioná-los e combiná-los, compondo uma mensagem compreensível e aceitável
para outros que compartilham dela. (CERTEAU apud SANT’ANNA, 2007).

A rapidez e o descarte, tão comuns nas mudanças de estilos por temporada dos
desfiles de moda, passaram a ser observados em outros aspectos do
comportamento das novas tribos. Pular de uma tribo para outra, ou até mesmo
pertencer a mais de uma tribo, algo impensável na época das contraculturas, tornou-
se comum. Testemunhamos neste momento uma constante releitura e confluência
de estilos passados, tanto na música como na moda. Os estilos dentro do próprio
rock — hippie, punk, heavy metal, new wave, gótico, britpop, etc. — segmentam-se,
alternam-se e/ou sucedem-se constantemente. Isto é, já não se faz mais necessário
optar por isto ou aquilo, quando a simultaneidade do contemporâneo me permite ter
ambos. A cada nova temporada, os desfiles de moda apresentam, alternadamente
ou simultaneamente, releituras da moda de décadas ou até mesmo séculos
passados. (ARAÚJO, 2007)

Voltando mais uma vez nosso olhar para as características imagéticas da antimoda
construída pelo rock e pelas contraculturas, podemos observar que, mesmo sendo
absorvidas pela indústria da moda, referências visuais como o código cromático
(contrastes intensos, uso maciço do preto e de cores básicas e/ou primárias, etc.),
materiais adotados (jeans, couro, lona, metais etc.), produtos como o próprio ‘Chuck
Taylor’ All Star, entre outras, ainda mantém o significado de juventude e rebeldia e,
principalmente, o desejo de oposição ao status quo. Devido a esta forte significação
que ainda carregam, estes elementos visuais continuam a ser adotados pelas novas
tribos urbanas, em novas combinações e interpretações.

Atualmente, mesmo contando com um público consumidor amplo e variado,


pertencente a todos os segmentos da sociedade, o ‘Chuck Taylor’ All Star é adotado,
principalmente, pelas novas gerações e suas tribos urbanas, que ainda veem neste
calçado um ícone de rebeldia e de rompimento com os padrões estabelecidos. Atenta
às transformações de seu público consumidor e a fim de manter o ‘Chuck Taylor’ All
Star associado ao rock e às tribos urbanas, as novas coleções estampadas da
Converse têm como principal fonte de referência os elementos visuais característicos
das culturas jovens de ontem e de hoje. Além disso, várias coleções têm estampas
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desenvolvidas em parceria com grandes nomes da moda, da música e das artes, os


principais formadores de opinião do público jovem nesta sociedade contemporânea
definida pela imagem. O número de coleções é extenso e pulverizado, repletas por
uma grande variedade de temas, com o objetivo de atender aos mais diversos estilos
e gostos, tanto de indivíduos particulares como de grupos sociais distintos.

4 UMA TELA DE LONA EM BRANCO SOBRE UM PEDAÇO DE BORRACHA -


EXEMPLOS DE DESIGN DE ESTAMPARIA PARA O CONVERSE 'CHUCK
TAYLOR' ALL STAR

As coleções da linha ‘Chuck Taylor’ All Star dividem-se em duas categorias


principais: os modelos de cores básicas, em produção contínua, e os modelos
sazonais, feitos em tiragem única e geralmente disponíveis por cerca de um ano (ou
até que se esgotem nos estoques).

Os modelos de cores básicas representam o visual clássico do produto. Os ‘Chuck


Taylor’ All Star principais hoje em dia são os clássicos modelos preto-e-branco, preto
monocromático (com a parte em lona e a sola pretas), branco óptico, branco natural,
azul marinho, vermelho e rosa. O rosa não era uma cor básica no passado, mas isso
mudou devido à grande expansão da popularidade do ‘Chuck Taylor’ All Star entre o
público feminino. (PETERSON, 2007).

Os modelos de coleções limitadas tendem a ser mais caros, não somente pela
utilização de padronagens, cores e materiais diferenciados, como também, em
alguns casos, por estampas exclusivas desenvolvidas por associações entre a
marca Converse e personagens midiáticos como músicos, estilistas, marcas de
moda, artistas plásticos, ilustradores e personagens de HQs, videogames e
animações.

Em geral, as estampas desenvolvidas para a linha ‘Chuck Taylor’ têm como


características estéticas comuns o uso de fortes contrastes de cor e contornos
definidos. Formas geométricas são também bastante comuns, como diferentes
combinações de listras, xadrezes, quadriculados e corações, além de estampas
camufladas e de pele de animais.

Como dito anteriormente, a música e seus elementos visuais são uma das principais

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inspirações para criação de estampas para a linha ‘Chuck Taylor’ All Star. A linha
mais significativa de todas é a Music Collection, cujos modelos têm como elementos
imagéticos símbolos representativos de bandas de rock (fig. 4). Alguns desses
artistas e bandas são relacionados aos movimentos da contracultura americana
(Grateful Dead e Jimi Hendrix nas décadas de 1960 e 70, Ramones na década de
1970, Nirvana na década de 1990), ou britânica (como The Clash e The Who).
Também já foram feitas estampas especiais para bandas de rock como Aerosmith,
Rolling Stones e Metallica. Vários desses artistas também são conhecidos como
usuários dos modelos 'Chuck Taylor' All Star. Além da linha Music Collection, é
recorrente o uso de símbolos comumente relacionados ao rock, como caveiras, em
estampas de outras coleções da linha 'Chuck Taylor' All Star.

Figura 4: Alguns modelos da linha Music Collection. Da esquerda para direita, de cima para
baixo: Converse ‘Chuck Taylor’ All Star Kurt Cobain, Jimi Hendrix, The Clash, Metallica,
Ramones, Grateful Dead
Fontes: www.revistacriativa.globo.com, teenscraze.com, www.converseallstar.com.br e
www.converse.com

Seguindo uma tendência de personalização, em 2005 a Converse lançou a coleção


“Stencil Chucks” (fig. 6), que consistia em pares de All Star lisos que vinham
acompanhados de um kit de stencil de customização com três estênceis pequenos,
com a logo licenciada All Star em diferentes tamanhos e tinta em spray, permitindo
ao usuário personalizar seu próprio par de tênis e pintar a marca em qualquer parte
do calçado, ou até mesmo em outros lugares. Vale citar que sempre foi uma prática
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comum entre os usuários do ‘Chuck Taylor’ All Star customizarem eles mesmos seus
pares de tênis, seja mudando as cores dos cadarços, fazendo aplicações,
escrevendo textos ou desenhando, tanto sobre a parte em lona como sobre a sola
de borracha.

Figura 5: All Star 'Stencil Chucks'


Fonte: www.chucksconnection.com

A maior variedade de estampas e coleções limitadas estão disponíveis


principalmente para o mercado norte-americano. Um exemplo é a linha Dr. Seuss,
lançada em 2010, cujos modelos são estampados com ilustrações de personagens
do escritor e cartunista norte-americano Theodor Seuss Geisel (1904 - 1991),
conhecido por seus livros infantis, como Horton Choca um Ovo (que inspirou a
animação Horton e o Mundo dos Quem, de 2008) e Como Grinch Roubou o Natal,
inspiração para o filme O Grinch (2000), estrelado por Jim Carrey. Em 2012, a
Converse lançou uma nova coleção inspirada no recente filme de animação O Lorax:
Em Busca da Trúfula Perdida (inspirado em outro livro do mesmo artista). Entretanto a
marca adota como estratégia comercial o lançamento de coleções limitadas exclusivas
para alguns países estrangeiros, utilizando nas estampas o trabalho de artistas locais
(tradicionais ou contemporâneos), como por exemplo, os modelos lançados em 2008
e 2010, no México, inspirados na artista plástica Frida Kahlo (cuja renda foi revertida
para um projeto social de uma comunidade indígena do país). No Brasil, em 2010,
foi lançada uma coleção com estampas desenvolvidas pelo ilustrador Filipe Jardim
e, em outubro de 2012, a Converse, em parceria com a Fundação Oscar Niemeyer,
lançou uma coleção inpirada na obra do arquiteto, com um modelo ‘Chuck Taylor’
estampado com sua caligrafia (fig. 7).

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Figura 6: Acima: modelos ‘Chuck Taylor’ All Star Filipe Jardim e Con amor, Pita y Olga, da
coleção Converse Frida Kahlo 2010. Abaixo: modelo ‘Chuck Taylor’ Oscar Niemeyer
Fonte: www.converseallstar.com.br e www.converse.com.mx

Com o objetivo de elevar os modelos da Converse ao status de ícone fashion, a


marca também investiu em associações com grandes marcas do mundo da moda.
Entre as mais recentes, podemos citar a associação com a grife italiana Missoni
desde o ano de 2010 e, a partir de 2011, com a estamparia finlandesa Marimekko
(fig. 8). Todas as coleções foram estampadas com padronagens que melhor
representavam o estilo destas marcas, como a famosa estampa “espinha de peixe”
da Missoni. No caso da primeira coleção da Marimekko, as três estampas
selecionadas, Tarha (1963) e Pikkusuomu (1965) e Kirppu (1980), pertencem a
coleções consagradas em ensaios e desfiles de moda. No Brasil, já foram feitas
coleções em parceria com marcas de moda nacionais como a Animale, a FARM e a
Imaginarium (estas coleções são vendidas somente nas lojas destas marcas).

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Figura 7: Modelos Converse Marimekko primavera 2011. Acima, da esquerda p/ direita: ‘Chuck
Taylor’ Tarja e ‘Chuck Taylor’ Kirppu. Abaixo: ‘Chuck Taylor’ Pikkusuomu
Fonte: www.converse.com

Além dessas parcerias e intervenções, a Converse proporciona ao seu cliente a


possibilidade de ter um produto literalmente único. Os sites da Converse nos EUA e
Reino Unido oferecem ao consumidor a possibilidade de desenvolver seu próprio All
Star “customizado” através de um catálogo de cores e estampas.

Além disso, existem artistas que pintam estampas à mão, exclusivas, sobre o ‘Chuck
Taylor’ All Star. O modelo mais comumente usado para isto é o branco de cano
médio. A marca FARM, no evento de lançamento de sua coleção outono / inverno
2011, montou um espaço especial de customização onde quem comprasse um
‘Chuck Taylor’ básico levava pra casa um tênis único, customizado na hora pelo
artista plástico Mateu Velasco. De setembro a outubro de 2012, a marca carioca Q-
Guai realizou uma exposição em uma de suas lojas com vários modelos ‘Chuck
Taylor’ All Star brancos customizados por nomes conceituados de diferentes áreas,
como moda, comunicação e gastronomia. Dentre eles, o designer de joias Raphael
Falci, a estilista Raquel Wymann, o ilustrador Felipe Guga,o stylist José Camarano, a
apresentadora Mariana Gross e a chef Zazá Piereck. Com o fim da exposição, estes
modelos exclusivos foram colocados à venda.

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CONCLUSÃO

O traje é, desde sempre, um dos principais meios utilizados pelo rock e pelos
movimentos jovens de contracultura para expressar seu descontentamento com a
sociedade. Assumindo uma posição importante nessa indumentária simbólica, o
Converse ‘Chuck Taylor’ All Star, antes um calçado esportivo, foi um dos elementos
incorporados pelos seguidores das contraculturas e fãs de rock, como também
aconteceu com a calça jeans e a camiseta branca tipo “t-shirt” e, desde então, este
tênis mantém uma forte relação com a música e as tribos urbanas.

Além dessa função simbólica de identificação de tribo urbana, o Converse ‘Chuck


Taylor’ All Star tornou-se um item de moda básica (assim como várias outras peças
adotadas pelas contraculturas e pelo rock), utilizado pelos mais diversos grupos
econômicos e sociais, mas os conceitos de juventude, rebeldia e rompimento com
os padrões ainda permanecem associados ao calçado. Por isso, o All Star ainda é
visto por muitos usuários como um objeto de moda que lhe permite diferenciar-se
dentro de seu meio. Até os dias de hoje, tal calçado permanece popular entre as
mais diferentes tribos urbanas contemporâneas que, mesmo sem o engajamento
político e social das antigas contraculturas, ainda buscam expressar, através da
moda, uma forte diferenciação do senso estético comum.

Tendo essas tribos como público consumidor mais influente, a maior parte das
coleções de estampas desenvolvidas para o ‘Chuck Taylor’ All Star utiliza elementos
cromáticos e formais característicos desses grupos, agregando a este produto de
moda não somente valor estético, mas também simbólico.

Com novas coleções lançadas a cada temporada e sempre atenta às mudanças de


seu público consumidor e às tendências do mercado fashion, a Converse utiliza a
estamparia como um dos principais meios para manter o ‘Chuck Taylor’ All Star como
um produto diferenciado dentro do ciclo de vida do produto de moda, sem que este
perca sua identidade estética e formal e, principalmente, sua significação para seus
consumidores. Enfim:

Nenhum outro calçado fornece tantas opções para auto-expressão como


um par de ‘Chuck Taylor’ All Star. É espantoso perceber como este clássico
tênis de basquete continua a se reinventar em nossa cultura popular.
(PETERSON, 2007, p. 91, tradução livre)

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paradoxal1>. Acesso em: 16 fev. 2011.

Currículo Resumido do(s) Autor(es)

Cléo Rocha Ramos


Possui Pós-Graduação Lato Sensu em Design de Estamparia pelo
SENAI/CETIQT (2010). Bacharel em Desenho Industrial - Hab.
Programação Visual pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2009).
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3305648719511528

Sérgio Luís Sudsilowsky


Possui graduação em DESENHO INDUSTRIAL pela Universidade do
Estado da Bahia (1998) e mestrado em Design pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (2003), onde também realiza tese de
doutoramento. Atualmente é Coordenador dos Bacharelados em Design de
Moda e Design de Superfície da Faculdade Senai-Cetiqt (RJ), além de atuar
como professor e orientador nas Pós-graduações em Design de Estamparia
e Design de Moda na mesma instituição. Atuando como designer, seu
portfólio apresenta projetos em diversas áreas como comunicação visual,
moda, estamparia, cenografia e produto. Como pesquisador, investiga os
temas: design de superfície, estamparia, projeto em design, metodologia de
projeto, cenários prospectivos e tendências (mercado e comportamento).
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1077442879872675

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