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Componentes da Narrativa

Prof. Eduardo Amaro


Língua e Literatura Latina
Língua e Literatura Portuguesa
Distinções preliminares
- Plano do conteúdo: história, aquilo que é representado numa narrativa, o concatenar-se
de acontecimentos (ações, fatos) e o que se pode chamar de seres personagens, elementos
do ambiente).
- Plano de expressão: discurso, o modo como a história é representada, meios através dos
quais o conteúdo é comunicado.
- Narrativa: ou discurso narrativo, “designa o enunciado narrativo, o discurso oral ou
escrito que assume a realização de um acontecimento ou uma série de acontecimentos”
(Genette) (plano da expressão)
- História (diegese): sucessão de acontecimentos reais ou fictícios, que formam o objeto
desse discurso e as suas várias relações de concatenação, oposição e repetição”. (Genette)
(plano de conteúdo)
- Narração: “o ato de narrar em si mesmo” (Genette)

I – Enredo (também chamado, às vezes, de Trama, Intriga, Entrecho)

- Conjunto dos elementos da história na ordem em que foram dispostos pelo autor no
texto (com todas as possíveis inversões temporais e lógicas). O “modo pelo qual a coisas
que acontecem se organizam na narrativa” (Tomachevski)
Segundo os formalistas russos, o enredo se opõe a fábula, que designa o conjunto
dos elementos da história na ordem lógico-cronológica como resultado da reconstrução
abstraída dos acontecimentos pelo leitor.
- Soma das ações (ou motivos) estruturadas pelo autor. Ações que podem ser
fundamentais para a história (motivos associados ou dinâmicos) ou secundárias para a
composição (motivos livres ou estáticos).
- A impressão ou aparência de verdade que a ficção consegue provocar tanto pelo respeito
às normas do gênero, quanto pela coerência interna da obra ou lógica interna do enredo,
recebe o nome de verossimilhança. Boa parte desse “efeito de real” é também conseguido
por referências explícitas ou implícitas a sistemas extratextuais e códigos ideológicos
comuns ao emissor e ao receptor.

Partes do enredo (divisão tradicional)


a) Apresentação: (exposição, introdução) – fatos iniciais, ações ou motivos
introdutórios que apresentam os primeiros elementos da história (podem estar no
começo ou no desenrolar da história);
b) Complicação: ações ou motivos suplementares responsáveis pelo
desenvolvimento. O corre basicamente pelo choque ou desenvolvimento do
conflito entre quaisquer componentes da história (personagens, fatos, ambiente,
ideias, emoções), causador de tensão (pode haver diversos conflitos em uma
obra);
c) Clímax: é o ponto alto da complicação, momento máximo da tensão e do suspense,
após o qual deve vir necessariamente a solução;
d) Desfecho (solução, desenlace, conclusão): momento em que os conflitos são
resolvidos.
II- Narrador – Voz Narradora/Ponto de vista
- Narrador é a voz que narra os acontecimentos na ficção. Trata-se de uma entidade
fictícia, um sujeito com existência textual, um “ser de papel” (Barthes)

Distinções importantes
- Autor real: a pessoa histórica do escritor;
- Autor implícito: a ideia do autor que o leitor deduz pelas informações presentes no texto;
- Narratário: personagem que eventualmente aparece no texto como destinatário do
narrador;
- Leitor implícito: ideia de público que as escolhas linguísticas, estilísticas e
conteduísticas implicam.
- Leitor real: todos os leitores efetivos da obra, independentemente de tempo e lugar.
Se, de um lado o problema da VOZ diz respeito à pessoa a quem são atribuídos os
enunciados (quem fala), por outro lado, o problema do PONTO DE VISTA refere-se à
pessoa que, no interior da história, efetua a ação de ver, de pensar e de julgar. Exemplos:
a) O lago tocava a beira do bosque. (voz e ponto de vista coincidem); b) Jorge viu que o
lago tocava a beira do bosque (a voz é do narrador e o ponto de vista é da personagem
Jorge).
- O ponto de vista frequentemente muda mais do que a voz: “Jorge pensava que Paulo era
um misantropo; Roberto, ao contrário, julgava que fosse somente tímido; mas ambos se
enganavam. Paulo fingia”.

Tipos de Narrador
- Narrador intradiegético (interno à história) é o personagem que, dentro do texto,
assume o papel de narrador. Também conhecido como narrador-personagem. a)
enunciado produzido em Primeira Pessoa – conta a própria história como protagonista, é
chamado narrador autodiegético; b) enunciado produzido em Primeira Pessoa – conta
uma história da qual participou, ao menos, como testemunha (personagem secundário), é
chamado narrador homodiegético (podem aparecer enunciados em terceira pessoa,
quando o narrador apresenta ações realizadas por outros).
- Narrador extradiegético (externo à história): a narração não é exercida por nenhuma
personagem. O enunciador do discurso está pressuposto, o enunciado é produzido em
Terceira Pessoa. a) Narrador observador: não conta a própria história, nem outra da
qual participou diretamente, é estranho a ela. b) Narrador Heterodiegético: pode ser
ainda onisciente – sabe tudo sobre a história – e onipresente – está em todos os lugares.

III – Personagem (dramatis personae, agente, sujeito actante, sujeito do enunciado)

- Ser ficcional que conduz a ação, pessoas que aparecem numa história, ou que participam
da ação de uma peça de teatro, de um romance, de um filme.
De acordo com sua função, pode ser:
a) Protagonista: personagem principal, herói ou heroína (ou anti-herói), a figura central,
aquela que ganha o primeiro plano da narrativa;
b) Antagonista: é o que responde ou contesta o protagonista, isto é, desafia-o, opõe-se a
ele e a seu destino. É o vilão da história.
c) Secundários: aqueles que, participando dos acontecimentos, não apresentam
importância decisiva na ação, têm participação menor e menos frequente no enredo.
De acordo com a sua caracterização, podem ser (E. M. Foster):
a) Personagens Planas: são estáticas, delineadas com poucos atributos, não evoluem.
Podem ser tipos – apresentam características invariáveis (o professor, o estudante, a dona-
de-casa etc) e caricaturas, apresentando características altamente fixas e depreciativas ou
cômicas (o pão-duro, o sedutor, o palhaço etc);
b) Personagens Redondas: evoluem e apresentam várias qualidades ou características
(físicas, psicológicas, sociais, ideológicas, morais etc). São complexas, multiformes e
dinâmicas.

IV – Tempo

a) Tempo da narração: momento em que o texto foi escrito e as implicações da época na


sua estrutura (histórico-literárias, estéticas, sociais etc);
b) Tempo da leitura: momento da recepção e as alterações que ela pode provocar em
função das experiências do leitor e do momento histórico-cultural em que ele está
inserido;
c) Tempo da narrativa: tempo interno ao texto, sua percepção depende da marcha dos
fatos no interior do enredo. Encontra-se entranhado no enredo e a sua percepção reforça
os aspectos de verossimilhança.
O tempo da narrativa pode ter as seguintes características:
a) Objetivo: Tempo Cronológico. Tempo que se desenvolve na ordem natural dos fatos
do enredo – sucessivo, causalístico, mensurável em horas, dias, meses etc.
a.1) Época da história: trata-se de um pano de fundo para o enredo. Não coincide
necessariamente com o tempo da narração. Publicado no século XX, o livro O nome da
Rosa, de Umberto Eco, ambienta-se na Idade Mèdia;
a.2) Duração da história: algumas histórias desenvolvem-se em pequeno período de
tempo e outras alongam-se por anos. Trata-se de uma questão do efeito que o autor deseja
causar no leitor.
b) Subjetivo: não segue a lógica do tempo cronológico, mas obedece aos impulsos do
narrador ou das personagens. Tempo psicológico, emocional, mágico: relaciona-se com
o monólogo interior e o fluxo da consciência, com o flashback ou analepse e o flash-
forward ou prolepse.
PRESENTE HISTÓRICO: o presente histórico acontece quando um fato do passado é
atualizado na narração ou é apresentado como se estivesse acontecendo naquele
momento, mas é passado em relação à história.

V – Espaço

- Espaço é conjunto de elementos materiais ou espirituais que formam o local onde se


situam as ações dos personagens, local onde os acontecimentos ocorrem.
a) Objetivo: local físico, a terra, o oceano, as montas, as cidades, as fábricas, as casas e
os seus interiores etc;
b) Subjetivo: psicológico ou mental, envolvendo também dimensões oníricas, mágicas e
maravilhosas, tradições, costumes, crenças, hábitos de pensamento, convenções,
instituições, climas sociais, econômicos, morais, religiosos.

REFERÊNCIAS

BARTHES, Roland. O rumor da língua. Lisboa: Edições 70, 1984.


D’ONOFRIO, Salvatore. Dicionário de Cultura Básica (o saber indispensável, os mitos
eternos). Rio de Janeiro: Publit, 2010.
FOSTER, E. M. Aspectos do Romance. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2005.
GENETTE, Gérard. Discurso da narrativa. 3 ed. Lisboa: Veja, 1995.
TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
TOMACHEVSKI, Boris. Teoria de la literatura. Madri: Akai, 1982.

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Disponível em: https://www.academia.edu/17880321/Componentes_da_narrativa

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