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MANAUS- AM
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS- ICHL
MANAUS- AM
2016
Referencial teórico
Conceito de Habitus
Além dessa variação no tempo-espaço, outro ponto a ser dito é que o habitus
“pode ser transferível para vários domínios de prática, o que explica a coerência que
se verifica, por exemplo, entre vários domínios de consumo – na música, desporto,
alimentação e mobília, mas também nas escolhas políticas e matrimoniais – no
interior e entre indivíduos da mesma classe e que fundamenta os distintos estilos de
vida (Bourdieu 1979/1984)”, ou seja, o habitus é apreendido conforme a classe
social onde o ser humano está inscrito, sendo transferível aos vários domínios de
atuação do sujeito, de modo que os indivíduos de uma classe especifica partilham
de modos de vidas econômicos, culturais e políticos, isto é, comportamentos e até
mesmo modo de pensar em geral que são resultados da transferência social de sua
classe. Como relata Loic Wacquant (????) ele também “é durável, mas não estático
ou eterno: as disposições são socialmente montadas e podem ser corroídas,
contrariadas, ou mesmo desmanteladas pela exposição a novas forças externas”.
Quer dizer, por mais que o habitus da pessoa seja criado devido ao meio social onde
ele é posto, este habitus também pode ser montando já que suas disposições são
construídas socialmente; ao ter contato com outros grupos, o ser humano adquire
para si novos conhecimentos tornando-os parte do individuo, fazendo com que
naturalize para si novos costumes e desconstrua o que antes lhe era posto como
normal, natural ou fatal.
Assim sendo, o habitus fornece ao mesmo tempo dois princípios. São eles
sociação e individualização. Sociação porque as categorias de juízo e de ação que
resultam da sociedade são compartilhadas por todos os indivíduos que foram
submetidos a condições e condicionamento similares. Ou seja, o habitus masculino,
habitus nacional, burguês e etc. são de sociação por causa de condicionamentos
sociais semelhantes que levam os indivíduos a partilharem do mesmo habitus. Essa
socialização é um processo inacabado, pois é no encontro com a sociedade que se
cria o habitus, e é ele que permite o ser humano avançar em cada situação, ou seja,
inacabado por o ser humano vai criando ou moldando seus hábitos dependendo de
sua situação social. E de individualização porque cada pessoa ao possuir trajetória e
localização únicas no mundo, internaliza uma combinação de esquemas, ou seja,
um habitus único, próprio do individuo. (?????).
Essas proposições estão colocadas no debate que Jessé Souza tem feito em
torno da ideia da “nova” classe média. Esta tem sido bastante falada por estudiosos
e tem sido divulgada na mídia como a classe que mais se tem crescido nos últimos
tempos. Ele faz então uma crítica a diversos autores que acreditam estarem fazendo
ciência. Ademais estão reproduzindo apenas o senso comum. Deste modo, o relato
a baixo ressalta a ideia que esses estudiosos possuem no que diz respeito à ideia
de nova classe média:
O Brasil segundo Jessé sofre de “uma doença social grave e não econômica”,
vinculada a crença no economicismo, que é a percepção de que todos os indivíduos
são racionais e que calculam suas chances nas lutas sociais por recursos escassos,
com as mesmas disposições de comportamento e as mesmas disposições de
disciplina, autocontrole e alto responsabilidade.(SOUZA, p.10). No entanto, sabe-se
que isso na pratica não ocorre, pois parte expressiva da população se encontra em
situação de exclusão e marginalidade histórica (ralé estrutural), não possuindo essas
características ou disposições mencionadas acima da qual a classe média goza, e
portanto, essa classe de excluídos não participa de uma processo de ‘igualdade de
oportunidade’ para competir e lutas pelos ‘recursos escassos’.
Para o sociólogo, a classe média não se define apenas por faixa salarial, além de
algum capital econômico o que a classifica/define é a apropriação do capital
privilegiada do capital cultural (familiar e escolar). No entanto, a mídia, a política e
jornais divulgam a “nova” classe média como indivíduos que possuem renda salarial
maior que três salários mínimos. Dados do IBGE comprovam que se pessoa tem a
renda domiciliar mensal entre três e cinco salários-mínimos (entre R$1.635,00 e
R$2.725,00) ela está classificada como sendo da classe C, classe média.
Entretanto, o autor como mencionado acima, faz uma critica a essa ideia já que para
ele não existe uma nova classe média, em razão de que, a apropriação do capital
cultural não se tem passado a essa “nova”, mas o que se tem é uma nova classe de
batalhadores que adquiriram no decorrer de suas trajetórias, habitus e disposições
que foram essências na mudança em suas condições de vida e de trabalho. 2
2
Uma critica pormenorizada da perspectiva economicista sobre a ‘nova’ classe média está contida no artigo “em
defesa da sociologia”..
Para melhor esclarecimento sobre a noção/classificação de batalhador, bem
com sua crucial diferença da perspectiva da ‘nova’ classe média, vale registrar o
quadro geral sobre classes sociais Brasileiras construídas por Jessé Souza,.
A classe média tem algum capital econômico, porém não é tão privilegiada
quanto à classe anterior. O que a define é sua apropriação privilegiada do capital
cultural (familiar e escolar). Esse capital normalmente é adquirido dos familiares que
repassam seus habitus aos demais membros de sua família. Capacidades como
concentração, abstração, pensamento prospectivo, e o gosto pelo desenvolvimento
intelectual. Essa classe possui capital para comprar livros para seus filhos e tempo
livre para que esses possam fazer cursos e então acumular o capital cultural familiar,
o qual será responsável pela continuidade dos seus privilégios. Para que isso
ocorra, ela apropria-se do tempo livre das classes inferiores. A classe oprimida,
considerada por alguns como “nova” classe média, não possui acesso a capitais
impessoais. E por conta disso, não consegue ocupar funções de trabalho valorizado
no mercado ou no estado, também, não consegue acesso ao capital econômico.
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Dentre as entrevistas, citamos duas :a realizada dia tal na tv...link.. http://oglobo.globo.com/economia/para-
classe-media-que-prevalece-o-capital-cultural-7914177
A classe batalhadora precária, também chamada por muitos como “nova” classe
média é denunciada por Jessé como uma fraude útil capaz de acobertar o
sofrimento e a exploração de batalhadores. Essa classe teve sua entrada recente
no mercado de trabalho e no consumo. Ela se limita ao trabalho precoce, penoso,
em regime autônomo e muitas vezes informal. No trabalho autônomo, seus
indivíduos acreditam ser empresários de si quando, dada a expansão do capitalismo
financeiro, trabalham para instituições bancarias, através do vinculo dos
empréstimos. Essa classe tem pontos em comum com a classe operaria da
revolução industrial, mas as fábricas se deslocaram para o ar livre, ou para salas
pequenas, personalizadas.
Essa classe é então comprada pela classe média, pois poupa seu tempo
físico nos trabalhos domésticos, por exemplo, como em outras atividades. Poupando
esse tempo, a classe média pode dar continuidade a seus descendentes no capital
cultural, ou seja, por seus filhos não trabalharem vão ter mais tempo para estudar,
fazer idiomas e consequentemente, obter uma melhor concentração na escola e
melhores cargos no setor trabalhista. A ralé como relata o autor, por não possuir
esse tempo livre e/ou tempo comprado, possui uma maior dificuldade em
concentração na escola e por isso, muitas das vezes, precisa vender sua força
física. A doméstica, por exemplo, é aquela pessoa com pouco estudo, que precisa
enfrentar o fogão quente, trabalhar em pé e que consequentemente, não possui
capital econômico para comprar tempo livre para seus filhos. Seu trabalho árduo,
trás pra si própria doenças devido ao seu esforço físico. Seus filhos por não terem a
mesma oportunidade que outras classes possuem, são aqueles que desde cedo
precisam estudar e trabalhar para ajudar no sustento de casa. O que resultará mais
tarde, em trabalhos parecidos com de seus pais, além do mais, o trabalho precoce e
a falta de tempo, resultam em pouco rendimento ou nenhum, na escola. (citar o
vídeo de onde tirei)
De maneira geral, são esses “tipos” ideais de classe que vão orientar a
reflexão em torno do conteúdo empírico de nossa pesquisa. Deste modo, trazendo
essa reflexão para os fins de nosso trabalho, algumas disposições que configuram o
perfil do que Jessé denomina de “batalhador”, a exemplo daqueles que trabalham
com comércio, são adquiridas através do que eles “herdam”, “ativam” ou desativam
no decorrer de sua trajetória que perpassa por uma pluralidade de socializações em
distintos contextos. Assim sendo, buscar-se-á compreender no próximo capítulo
como algumas dessas disposições foram construídas pelos sujeitos
“empreendedores’’ do ramo da confeitaria..
Destarte, nos capítulos seguintes ter-se-á como intuito o relato da vida de
pessoas que se consideram ou não participantes dessa classe de batalhadores e se
elas se sentem participantes da ideia de “nova” classe média. Para isso, os
conceitos e debates delimitados no trabalho acima, servirão como a porte teórico
para dados que serão coletados com o intuito de reafirmar teorias como de habitus e
patrimônios de disposições adquiridas no ramo da confeitaria da cidade de Manaus.
Assim como, retomar essa ideia de “nova” classe média ou nova classe de
batalhadores.