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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS- ICHL

BATALHADORES CONFEITEIROS NA CIDADE DE MANAUS

KIMBERLY GRAZIELA SANTOS DE AMORIM

MANAUS- AM
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS- ICHL

BATALHADORES CONFEITEIROS NA CIDADE DE MANAUS

KIMBERLY GRAZIELA SANTOS DE AMORIM

Orientador: Prof. Mest. Alex Sander Pereira Regis

Monografia apresentada pela aluna


Kimberly Graziela Santos de Amorim
como exigência do curso de
graduação em Ciências Sociais/
Bacharelado da Universidade
Federal do Amazonas, sob a
orientação do Prof. Mrs. Alex Sander
Pereira Regis.

MANAUS- AM
2016
Referencial teórico

Como diria Bourdieu “Nada é mais universal e universalizável do que as


dificuldades” (ano de publicação) e, entre essas dificuldades encontra-se a
construção de um objeto de pesquisa; sempre imperfeito, inacabado e com graus
variados de valoração. Não obstante, faz-se necessário construí-lo ou pelo menos
definir o que se vai construir, problematizar e equacionar enquanto problema
sociológico. (REGIS,2011). Tal construção, vincula-se ao que Mills disserta sobre o
trabalho intelectual e a construção do conhecimento erudito, pois a:

A erudição é uma escolha de como viver e ao mesmo tempo uma


escolha de carreira; quer o saiba ou não, o trabalhador intelectual
forma seu próprio eu é medida que se aproxima da perfeição de seu
ofício; para realizar sua potencialidade, e as oportunidades que lhe
surgem, ele constrói um caráter que tem, como essência, as
qualidades do bom trabalhador. (Mills, p.212)

Como dito acima, a erudição é algo que se constrói através de leituras e


estudos. Esse saber com o tempo se torna mais refinado, aproximando-se então de
uma perfeição – sempre ideal - no objeto de estudo e consequentemente, elevando
o nível de conhecimento do individuo. Assim, Mills diz que os estudiosos das
ciências humanas, principalmente das ciências sociais devem usar a sua
experiência de vida em seu trabalho intelectual. E continua ao dizer que, este
artesanato é realizado dentro de cada um, usando a influência de seu passado em
trabalhos futuros, elevando cada experiência em nível de reflexão e aos poucos
moldar-se a si mesmo como faz o artesão em suas confecções.

Ademais, o autor prossegue em seus escritos e afirma que “o cientista social


deve rever periodicamente o estado de seus problemas e planos.” Fato este que
buscarei fazer nesta construção de objeto de estudo. Assim como essa revisão aos
problemas e planos do projeto, buscarei também ter como base alguns autores e
textos que nortearam o rumo da pesquisa. No entanto, a realização de pesquisas ao
campo também não será descartada, já que para se obter os resultados do
problema será necessária a ida a campo. Isto dito, Mills orienta que “é tolice projetar
um estudo de campo se for possível encontrar a resposta em uma biblioteca” (2009,
p. 33). Ou seja, não se deve apenas utilizar algo que já foi escrito/estudado, mas
que a observação ao campo pode ser algo valioso a pesquisa, uma vez que está
pode ter resultado distintos com o passar do tempo e também poderá colaborar para
uma nova descoberta. Além disso, Mills aconselha ao pesquisador/escritor o uso da
palavra simples, pois como relata, “sei que você concordará que deveria apresentar
seu trabalho numa linguagem tão simples e clara quanto seu assunto e seu
pensamento sobre ele o permitam” (2009, p. 48) .

Assim sendo, a pesquisa tem como intuito geral problematizar a emergência


“nova” classe média Brasileira, em especial a surgida no ramo do
empreendedorismo de confeitaria em Manaus. Essa problematização passará pelo
questionamento da ideia de “nova” classe média e pela desconstrução das
influencias sociais consideradas como naturais pelo ser humano, na tentativa
de evidenciar como certas experiências foram importantes em decisões e atividades
profissionais exitosas ou não no ramo da confeitaria, permitindo, além disso,
caracterizar os perfis dos batalhadores e dos batalhadores empreendedores.

Deste modo, será necessário a compreensão de alguns conceitos como o de


habitus, o de Patrimônios de disposições e o breve debate sobre classe social que
subsidiará o rumo dessa pesquisa. Nesta tentativa utilizar-se-á autores como
Bourdieu que trabalha a ideia de habitus, Bernard Lahire que discute o conceito de
disposição adquiridas, e Jessé Souza que faz uma critica a ideia de “nova” classe
média. Esses autores e conceitos serão chaves para pesquisa, uma vez que, a ideia
de “nova” classe média como veremos adiante, não se sustenta, sendo em verdade
uma nova classe de batalhadores que, junto e para além do contexto de
oportunidades, incorporaram e construíram de forma deliberada ou pré-reflexiva, um
habitus e disposições especificas através de processos de socialização envolvendo
terceiros, parentes, grupos sociais, instituições e etc. que mudaram sua forma de
trabalho e condição de vida, especialmente a partir de disposições como o
pensamento prospectivo , autocontrole e a disciplina.

Conceito de Habitus

O conceito de habitus pode ser visualizado através do campo relacional onde


os indivíduos em interação criam e constroem determinados modos de agir e pensar
mais ou menos estáveis e comuns. Para melhor compreensão, vale ressaltar suas
origens. O termo surgiu com a noção aristotélica de hexis, que significava um estado
adquirido e fortemente estabelecido no caráter moral o qual orienta sentimentos e
desejos, bem como nossa conduta. Foi então que no século treze, que o termo hexis
ao ser traduzido para o latim passa a chamar-se habitus. O termo foi traduzido por
Tomás de Aquino e foi utilizado por diversos autores dentre eles Durkheim e
Bourdieu. Durkheim evoca o conceito como duas situações singulares, a primeira
com sociedades tradicionais e a segunda com os internatos. ( Wacquant,??)
Bourdieu foi o pesquisador então que mais refinou e sistematizou o termo, pois
habitus para ele é:

[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que,


integrando todas as experiências passadas, funciona a cada
momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de
ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente
diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas
[...] (Bourdieu, 1983b, p. 65, )

ou seja, habitus é a transferência de saberes e comportamentos duráveis que passa


de um individuo para o outro no processo de socialização ao longo da vida, sempre
articulando as experiências passadas com as experiências presentes nos atos,
pensamentos e crenças. O passado pesa e se atualiza no presente. Esse individuo
adquire o habitus em contato com outras pessoas em suas relações sociais, seja ela
na família, trabalho, igreja, grupo de amigos e etc.

Apesar do peso e rigidez do passado o habitus como descrito por Loic


Wacquant, (????) “resume não uma aptidão natural, mas social que é, por esta
mesma razão, variável através do tempo, do lugar e, sobretudo, através das
distribuições de poder”. Isto é, o habitus é algo adquirido socialmente, uma vez que,
o tempo e o lugar podem oferecer ao individuo determinada forma de agir, explico
melhor; o habitus por mais que seja adquirido socialmente, ele é adquirido
culturalmente também, já que no mundo inteiro todos participam de culturas
distintas, ou melhor, modos de pensar e agir diferenciados. Assim sendo, o individuo
partilha também de um habitus nacional que fará parte dele o diferenciado de
pessoas com outros habitus em outros lugares do mundo. Participar de um
determinado nicho social é comum ao ser humano, já que ele tende a fazer relações
sociais em casa, no trabalho, escola, igreja e etc. Seu modo de agir e pensar são
influenciados por essas relações, uma pessoa pode mudar de comportamento
dependendo do grupo social onde ela esteja inserida no dado momento, ou seja, ela
age de forma distinta dependendo do grupo de onde ela esteja no momento, uma
vez que cada grupo social possui um habitus mais ou menos diferente.

Além dessa variação no tempo-espaço, outro ponto a ser dito é que o habitus
“pode ser transferível para vários domínios de prática, o que explica a coerência que
se verifica, por exemplo, entre vários domínios de consumo – na música, desporto,
alimentação e mobília, mas também nas escolhas políticas e matrimoniais – no
interior e entre indivíduos da mesma classe e que fundamenta os distintos estilos de
vida (Bourdieu 1979/1984)”, ou seja, o habitus é apreendido conforme a classe
social onde o ser humano está inscrito, sendo transferível aos vários domínios de
atuação do sujeito, de modo que os indivíduos de uma classe especifica partilham
de modos de vidas econômicos, culturais e políticos, isto é, comportamentos e até
mesmo modo de pensar em geral que são resultados da transferência social de sua
classe. Como relata Loic Wacquant (????) ele também “é durável, mas não estático
ou eterno: as disposições são socialmente montadas e podem ser corroídas,
contrariadas, ou mesmo desmanteladas pela exposição a novas forças externas”.
Quer dizer, por mais que o habitus da pessoa seja criado devido ao meio social onde
ele é posto, este habitus também pode ser montando já que suas disposições são
construídas socialmente; ao ter contato com outros grupos, o ser humano adquire
para si novos conhecimentos tornando-os parte do individuo, fazendo com que
naturalize para si novos costumes e desconstrua o que antes lhe era posto como
normal, natural ou fatal.
Assim sendo, o habitus fornece ao mesmo tempo dois princípios. São eles
sociação e individualização. Sociação porque as categorias de juízo e de ação que
resultam da sociedade são compartilhadas por todos os indivíduos que foram
submetidos a condições e condicionamento similares. Ou seja, o habitus masculino,
habitus nacional, burguês e etc. são de sociação por causa de condicionamentos
sociais semelhantes que levam os indivíduos a partilharem do mesmo habitus. Essa
socialização é um processo inacabado, pois é no encontro com a sociedade que se
cria o habitus, e é ele que permite o ser humano avançar em cada situação, ou seja,
inacabado por o ser humano vai criando ou moldando seus hábitos dependendo de
sua situação social. E de individualização porque cada pessoa ao possuir trajetória e
localização únicas no mundo, internaliza uma combinação de esquemas, ou seja,
um habitus único, próprio do individuo. (?????).

Devido a este ser simultaneamente estruturado e estruturante, o habitus


também opera como relata Bourdieu “princípio não escolhido de todas as escolhas”
pois guia ações com intuito que assumam caráter sistemático de estratégias mesmo
que seus resultados não sejam de intenção estratégica e sejam “orquestradas sem
serem o produto da actividade organizadora deum maestro” (Bourdieu 1980/1990:
256). Deste modo os processos de sociaçao e individualização são processos onde
o primeiro, a ação e o juízo são partilhados por pessoas que são submetidos a
mesmas situações ou condições sementes, quanto ao segundo, cada pessoa tem
uma localização e trajetória única no mundo, e por este motivo, cada individuo
interioriza uma composição de esquemas singular. Deste modo, Maria Setton (??
ano) relata sobre o conceito de habitus:

[...] Habitus surge então como um conceito capaz de conciliar a


oposição aparente entre realidade exterior e as realidades
individuais. Capaz de expressar o dialogo, a troca constante e
recíproca entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo das
individualidades. Habitus é então concebido como um sistema de
esquemas individuais, socialmente constituído de disposições
estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes), adquirido nas e
pelas experiências práticas (em condições sociais específicas de
existência), constantemente orientado para funções e ações do agir
cotidiano. [...] (SETTON,??ANO E PÁGINA)

Sociologia disposicionalista: Patrimônios de disposições

A sociologia disposicionalista como relata Marcio de Sá (???) é “uma tradição


sociológica que busca desvelar as disposições que orientam as ações dos
indivíduos nos mais diversos contextos sociais (família, escola, trabalho, grupo de
amigos) nos quais vivem”. Deste modo, o sociólogo Bernard Lahire tem buscado
fazer uma critica a tradição disposicionalista e aos instrumentos de tais
pensamentos. Para Lahire (2004, p.21), é “a tradição disposicionalista, que tenta
levar em consideração, na análise das práticas ou comportamentos sociais, o
passado incorporado dos atores individuais.” Ou seja, a disposição é algo
reconstruído, que nunca é observada diretamente. Torna-se então a disposição do
individuo como algo natural e não reconstruído socialmente. “Portanto, falar de
disposição pressupõe o trabalho interpretativo para dar conta dos comportamentos,
práticas, opiniões e etc”. (p.27), isto é, trata de mostrar os princípios geradores que
“naturalizam” a diversidade das práticas.

De maneira precária, vale registrar o contexto de fundo em que certas


disposições, reais e imaginárias surgiram no contexto Brasileiro. O capitalismo
moderno (Weber,2006) diz que o processo sócio-historico o qual transformou a base
das dimensões da vida em sociedade, apresenta mutações que permitiram, manter
o mercado como instituição que atribui valor e assim hierarquiza os indivíduos. (Sá,
p.2) Deste modo, no Brasil como salienta o autor, a visão do mundo a qual foi
disseminada pelo crescimento econômico da burguesia mercantil e industrial
europeia foi assimila a partir da abertura dos portos da então colônia do comércio
internacional em 1808. (Sá, p.2). Dentre os valores, ideais e instituições modernas,
fora o mercado o principal objeto de importação para se modernizar o Brasil. Como
bem destaca Jessé Souza (2000, p.?) valores e práticas de mercado e um ideal de
homem moderno, disciplinado, autocontrolado, capaz de atender aos pré-requisitos (do
mercado), ficaram como legado histórico deste processo.

Assim sendo, foi após duzentos anos que grandes multinacionais


conseguiram projetar-se no imaginário social como ícone de competência,
excelência e produtividade. Deste modo, um dos mecanismos importantes para o
fortalecimento dos valores e práticas de mercado na cabeça, corpos e corações dos
indivíduos é o estabelecimento de um homem ideal que atenderia às demandas
desse do mercado: o homem de negócio. Suas características seriam: dinâmico,
moderno, arrojado, em algumas situações possuinte de um diploma de escolas
bastantes reconhecidas no ramo dos negócios. (Sá, p.2)
Essa características registradas anteriormente, prevalecem até os dias atuais
para quem deseja trabalhar com negócios e se inserir com sucesso no Mercado e no
Estado em carreiras profissionais1. As empresas são suas fabricações sociais. São
eles que as criam ou nelas trabalham. (Sá, p.2). Registrado esse pano de fundo
histórico que situa a emergência no Brasil - de modo mais acentuado/generalizado-
do modelo de individuo capitalista-empreendedor a ser perseguido como ideal de
sujeito possuidor de valor, cabe agora pormenorizar a discussão sobre disposições.
A sociologia disposicional permite um olhar mais aprofundado a respeito a
ações, pensamentos e sentimentos dos indivíduos, especialmente dos
confeiteiros/batalhadores, já que, existiram e existem alguns princípios geradores de
tais disposições. Esses princípios seriam então frutos originados de hábitos
herdados de seus familiares, dos contextos sociais dos quais participa, de suas
experiências profissionais, educacionais e etc. Isto posto, busca-se mostrar na
pesquisa esse conjunto de disposições que os batalhadores confeiteiros “herdam”
para seus negócios, bem como, a maneira que eles incorporam tais disposições ao
longo de sua trajetória pessoal e profissional, já que isso será relevante para uma
melhor compreensão de seus atos, sentimentos e modo de pensar que,
consequentemente, afetam seus negócios.

Na construção teoria de Lahire, ele faz uma crítica a teoria de habitus de


Bourdieu quanto à ideia de sistemas de disposições incorporadas fruto de um
princípio gerador único e que seria transferível para os diversos contextos dos quais
o individuo fosse submetido, pois afirma que existem variações intra e inter-
individuais nas disposições, afirmando que existem variações intra e inter-individuais
nas disposições e, consequentemente, nos hábitos dos indivíduos de todas as
classes e em comparação com outros membros de uma mesma classe. (Sá, p.7)

A crítica do autor está direcionada para a “coerência do princípio gerador”,


dos habitus das classes. Pois para ele, o mais frequente é a incoerência das práticas
dos indivíduos, é a dissonância das práticas e não a consonância do habitus. Isto é,
sua crítica se desdobra porque Lahire acredita que se deve estudar a história do
individuo, pelas influências que ele sofreu (o qual as considera natural) e não
estudar apenas o habitus do individuo, ou seja, o presente incorporado de classe.
Na perspectiva de Bourdieu a pessoa possui determinado habitus porque cresceu e
viveu naquele ou classe social, enquanto na teoria de Lahire o que deve ser
1
Com veremos adiante é precisamente esse perfil de sujeito que se aproxima mais das disposições
reproduzidas pela moderna classe média brasileira, a classe que melhor se integra ás instituições
Modernas.
observado é a trajetória de vida do individuo. Para Lahire, o fundamental é a
dialética constante entre trajetória individual e pertencimento de classe que se
realiza mediante diversos contextos de socialização.

Deste modo, o autor questiona Bourdieu se não seria melhor, para


compreender a sociedade, voltar o olhar para os indivíduos, uma vez que estes
denotam nas suas disposições, manifestações de aspectos distintos de uma
sociedade em sua condição individual. Deste modo, seria mais fácil falar em
disposições e não sistemas de disposições (habitus) e em princípios geradores (e
não em um único princípio gerador para uma classe) e assim compreender as
variações inter e intra-individuais e as contradições inerentes aos indivíduos. (Sá,
2010). Em suma, o autor nos leva atentar para os contextos distintos dos quais o
individuo é posto, bem como sua trajetória de vida, pois estes serão elementos
centrais para a compreensão de suas ações, pensamentos, sentimentos e outros.
Pois a medida em que se observam esses fatos, entender-se-á o comportamento,
pensamento do individuo frente a diversas situações, neste trabalho por exemplo,
frente ao comportamento do batalhador empreendedor dentro do seu mercado de
trabalho, já que, como visto acima, as disposições adquiridas no decorrer da vida do
individuo serão utilizadas de forma “natural”, inconsciente, mas que possuem sua
relação com contatos anteriormente adquiridos. Caso se olhe apenas para o
presente, alerta Lahire, observará apenas o que o individuo está fazendo no
presente e não sua história de vida. Como relata Marcio Sá:

[...] quando se pensa em disposições, fala-se em modos de pensar,


agir e sentir – não se trata do pensamento, ação ou sentimento em
si, mas sim do que está por trás deles, que “não pode ser observado
diretamente”, mas que pode ser construído interpretativamente e ser
visto como “molas propulsora” de diversos pensamentos, ações e
sentimentos observáveis no cotidiano dos homens de negócio. [...]

Como mencionando acima, não se trata em modos de pensar, agir e sentir em


si, mas como esses modos foram incorporados pelo homem, em especial ao homem
batalhador, que se utiliza dessas disposições e a aplica no modo de trabalho, ou
seja, trás consigo essa bateria de informações e as consolida como natural. Assim
sendo, vale ressaltar que para o individuo, em geral, todas as suas práticas,
decisões e etc. são a seu ver algo natural e não construído. Essa “naturalização” faz
com que o sujeito não perceba o momento que incorporou tais disposições seja ela
de algo, alguém ou de um grupo. O individuo acredita que ser proativo, organizado,
líder e etc. é algo natural dele mesmo e não consegue enxergar as influências de
tais disposições foram incorporadas em algum momento de sua vida.. Essas
disposições que como já vimos, é adquirida e reconstruída socialmente pode afetar
a vida pessoal e profissional do individuo.

Da “Nova” Classe Média Brasileira aos “Batalhadores”

Jessé Souza define o batalhador como uma classe trabalhadora precarizada


formada no pós-fordismo, que se viu obrigada a reinventar-se mesmo sem direitos e
garantias sociais. O batalhador não obstante surge como contraposição a outra
imagem dessa classe trabalhadora. Essa classe foi definida por institutos de
pesquisas, intelectuais e governo como “nova” classe média devido ao potencial de
consumo que está vem tendo nos últimos tempos. Mas Jessé diz que não seria esse
o real motivo para definir essa classe como sendo parte da classe média, mas que
essa classe se define pelo seu árduo trabalho, ou seja, pelo sacrifício familiar, pelo
esforço pessoal e outros sofrimentos que são silenciados, como diria ele, pelo
discurso triunfalista. Não é uma classe que tem capital cultural como a tradicional
classe média, mas uma classe de pessoas que por trabalhem de maneira exaustiva
adquirem novos patamares de existência em termos de renda, consumo e
educação, mas que ainda não consolidaram esse patamar existencial com solidez;
visto que uma margem de insegurança, incerteza e instabilidade econômica e social
está sempre à espreita marcando uma condição com riscos e graus de
precariedade, o que pode ser percebido nos capítulos de recorte empírico de seu
livro sobre o “batalhador”.

Essas proposições estão colocadas no debate que Jessé Souza tem feito em
torno da ideia da “nova” classe média. Esta tem sido bastante falada por estudiosos
e tem sido divulgada na mídia como a classe que mais se tem crescido nos últimos
tempos. Ele faz então uma crítica a diversos autores que acreditam estarem fazendo
ciência. Ademais estão reproduzindo apenas o senso comum. Deste modo, o relato
a baixo ressalta a ideia que esses estudiosos possuem no que diz respeito à ideia
de nova classe média:

“[...] brasileiros que adentraram o mercado de consumo por esforço


próprio, os quais são o melhor exemplo da nova “autoconfiança”
brasileira dentro e fora do Brasil. Mas não apenas isso. Eles seriam
uma nova “classe média”, que está transformando o Brasil no país
moderno e de “primeiro mundo” [...]”.

O Brasil segundo Jessé sofre de “uma doença social grave e não econômica”,
vinculada a crença no economicismo, que é a percepção de que todos os indivíduos
são racionais e que calculam suas chances nas lutas sociais por recursos escassos,
com as mesmas disposições de comportamento e as mesmas disposições de
disciplina, autocontrole e alto responsabilidade.(SOUZA, p.10). No entanto, sabe-se
que isso na pratica não ocorre, pois parte expressiva da população se encontra em
situação de exclusão e marginalidade histórica (ralé estrutural), não possuindo essas
características ou disposições mencionadas acima da qual a classe média goza, e
portanto, essa classe de excluídos não participa de uma processo de ‘igualdade de
oportunidade’ para competir e lutas pelos ‘recursos escassos’.

Para o sociólogo, a classe média não se define apenas por faixa salarial, além de
algum capital econômico o que a classifica/define é a apropriação do capital
privilegiada do capital cultural (familiar e escolar). No entanto, a mídia, a política e
jornais divulgam a “nova” classe média como indivíduos que possuem renda salarial
maior que três salários mínimos. Dados do IBGE comprovam que se pessoa tem a
renda domiciliar mensal entre três e cinco salários-mínimos (entre R$1.635,00 e
R$2.725,00) ela está classificada como sendo da classe C, classe média.
Entretanto, o autor como mencionado acima, faz uma critica a essa ideia já que para
ele não existe uma nova classe média, em razão de que, a apropriação do capital
cultural não se tem passado a essa “nova”, mas o que se tem é uma nova classe de
batalhadores que adquiriram no decorrer de suas trajetórias, habitus e disposições
que foram essências na mudança em suas condições de vida e de trabalho. 2

Classe sociais Brasileiras segundo Jessé Souza: Uma síntese

2
Uma critica pormenorizada da perspectiva economicista sobre a ‘nova’ classe média está contida no artigo “em
defesa da sociologia”..
Para melhor esclarecimento sobre a noção/classificação de batalhador, bem
com sua crucial diferença da perspectiva da ‘nova’ classe média, vale registrar o
quadro geral sobre classes sociais Brasileiras construídas por Jessé Souza,.

Assim sendo, de acordo com sistematização feita de leituras e entrevistas do


autor,3 Jessé caracteriza quatro tipos de classes sociais que ele acredita estarem
presentes no Brasil. São elas a classe dos privilegiados, um por cento (1%) das
pessoas participam dessa classe; a classe média, vinte por cento (20%) da
população faz parte dela, enquanto o restante dessa porcentagem (80%) o qual não
considera ele como nova classe média mas classe oprimida, pois não goza do
mesmo capital cultural e financeiro da mesma; a classe trabalhadora precária e; a
classe dos excluídos.

A classe dos privilegiados também classificada como classe dos endinheirados.


O que a difere da classe média é seu capital econômico privilegiado, ambas
possuem o mesmo capital cultural. Ela detém 70% do PIB brasileiro através do
ganho de capital financeiro: lucros, juros, rendada terra e alugueis. Seu poder
econômico evidencia o grau de perversidade da concentração de renda brasileira.
Ao mesmo tempo, sua ideologia de que a origem de todas as nossas iniquidades é a
corrupção do estado é assimilada e defendida pelas classes restantes. (colocar de
onde tirei)

A classe média tem algum capital econômico, porém não é tão privilegiada
quanto à classe anterior. O que a define é sua apropriação privilegiada do capital
cultural (familiar e escolar). Esse capital normalmente é adquirido dos familiares que
repassam seus habitus aos demais membros de sua família. Capacidades como
concentração, abstração, pensamento prospectivo, e o gosto pelo desenvolvimento
intelectual. Essa classe possui capital para comprar livros para seus filhos e tempo
livre para que esses possam fazer cursos e então acumular o capital cultural familiar,
o qual será responsável pela continuidade dos seus privilégios. Para que isso
ocorra, ela apropria-se do tempo livre das classes inferiores. A classe oprimida,
considerada por alguns como “nova” classe média, não possui acesso a capitais
impessoais. E por conta disso, não consegue ocupar funções de trabalho valorizado
no mercado ou no estado, também, não consegue acesso ao capital econômico.
3
Dentre as entrevistas, citamos duas :a realizada dia tal na tv...link.. http://oglobo.globo.com/economia/para-
classe-media-que-prevalece-o-capital-cultural-7914177
A classe batalhadora precária, também chamada por muitos como “nova” classe
média é denunciada por Jessé como uma fraude útil capaz de acobertar o
sofrimento e a exploração de batalhadores. Essa classe teve sua entrada recente
no mercado de trabalho e no consumo. Ela se limita ao trabalho precoce, penoso,
em regime autônomo e muitas vezes informal. No trabalho autônomo, seus
indivíduos acreditam ser empresários de si quando, dada a expansão do capitalismo
financeiro, trabalham para instituições bancarias, através do vinculo dos
empréstimos. Essa classe tem pontos em comum com a classe operaria da
revolução industrial, mas as fábricas se deslocaram para o ar livre, ou para salas
pequenas, personalizadas.

Classe dos excluídos é chamada por Jessé provocativamente, como ralé, em


um apelo ao senso de superioridades moral da classe media. A ralé não tem acesso
a nenhuma forma de capital impessoal, pois em sua socialização não há requisitos
básicos para possibilitar qualquer apropriação: faltam estímulos afetivos de
autoestima e autoconfiança, prevalecem o domínio dos mais fortes sobre os mais
fracos, a instrumentalização e o abuso sexual. Assim, as pré-condições de
apropriação dos capitais impessoais- a capacidade de concentração, abstração,
pensamento prospectivo (vistas como produtos da simples força de vontade, pelo
senso comum, quando na verdade são produto de socialização) não são
desenvolvidas. O senso comum culparia imediatamente as famílias, mas a estrutura
de exclusão e violência é anterior a elas: a irresponsabilidade de toda a sociedade
produz uma classe de indivíduos abandonados, violentados e fracassados através
de gerações, reproduzindo exercito de pessoas “inutilizáveis” pelo mercado de
trabalho.

Compreendido o quadro geral sobre as classes sociais Brasileiras na


perspectiva de Jessé, agora cabe pormenorizar a descrição/problematização em
torno de noções como “Ralé” e “Batalhador” Para isso, será utilizado o conteúdo de
recorte empírico dos livros de Jessé Souza, “A ralé Brasileira” e “Os Batalhadores
Brasileiros”, com o intuito de fazer o registro sobre os perfis/ tipo ideais do sujeito da
ralé e especialmente do batalhador, para orientar a pesquisa empírica deste trabalho
em torno do “batalhador confeiteiro” na cidade de Manaus,

Ralé e Batalhador: Um quadro de recorte empírico


A ralé brasileira para o autor não é economista porque a classe não tem a ver
com a renda. A ralé são aqueles que normalmente veem de famílias pouco
estruturadas. Diferente da classe média, a ralé não possui tempo livre para comprar
para seus filhos. Essa classe define-se segundo Jessé (xxx), pelo trabalho físico que
faz, ou seja, essa classe por não possuir oportunidades de um melhor aprendizado
acadêmico ( e muitos mais que acadêmico, é emocional, econômico etc..) como na
classe média, tende a vender sua força de trabalho para classe média com o intuito
de trazer dinheiro para dentro de casa.

Essa classe é então comprada pela classe média, pois poupa seu tempo
físico nos trabalhos domésticos, por exemplo, como em outras atividades. Poupando
esse tempo, a classe média pode dar continuidade a seus descendentes no capital
cultural, ou seja, por seus filhos não trabalharem vão ter mais tempo para estudar,
fazer idiomas e consequentemente, obter uma melhor concentração na escola e
melhores cargos no setor trabalhista. A ralé como relata o autor, por não possuir
esse tempo livre e/ou tempo comprado, possui uma maior dificuldade em
concentração na escola e por isso, muitas das vezes, precisa vender sua força
física. A doméstica, por exemplo, é aquela pessoa com pouco estudo, que precisa
enfrentar o fogão quente, trabalhar em pé e que consequentemente, não possui
capital econômico para comprar tempo livre para seus filhos. Seu trabalho árduo,
trás pra si própria doenças devido ao seu esforço físico. Seus filhos por não terem a
mesma oportunidade que outras classes possuem, são aqueles que desde cedo
precisam estudar e trabalhar para ajudar no sustento de casa. O que resultará mais
tarde, em trabalhos parecidos com de seus pais, além do mais, o trabalho precoce e
a falta de tempo, resultam em pouco rendimento ou nenhum, na escola. (citar o
vídeo de onde tirei)

Assim sendo, a ralé brasileira é aquela que dificilmente conseguirá ascender


social, econômica e culturalmente devido às dificuldades e famílias mal estruturadas
das quais fazem parte. Seu perfil típico-ideal, não é de sujeito disciplinado,
autocontrolado, possuidor de pensamento prospectivo, possuidor de relativo capital
econômico, político e cultural etc. O que o distingue o batalhador, pois este, partindo
da leitura do livro “os Batalhadores”, se caracteriza por um certo perfil ou
configuração de disposições. Dentre as várias definições expostas ao longo do livro,
se constata que esse batalhador será nomeado de duas maneiras por Jessé,
batalhador e batalhador empreendedor. O batalhador seria alguém que apresenta
disposições “primárias” para o comércio como disciplina, persistência e noções
praticas de comércio (Souza, p.151), ou seja, esse tipo de batalhador não tem em
mente o “crescimento” de seu negócio, busca apenas o sustento de sua família e um
melhor conforto de vida. Já o batalhador empreendedor é aquele que além das
características encontradas no trabalhador anterior, apresenta características
“secundárias” como capacidade de autossuperação e noções mais sofisticadas de
administração e investimentos. (Souza, p.151).

O perfil do batalhador e batalhador empreendedor, segundo Jessé Souza,


possuem um conjunto de disposições, dentre elas estão: (a) Disposição por
autossuperação: seriam as inclinações e propensões do individuo, ou seja, visam a
superação de condição de vida do individuo seja ela anterior ou atual e,
consequentemente, a projeção do batalhador para outra situação da vida vista por
ele, como melhor, como para seus familiares. (SOUZA, p.96); (b) Disposições
Econômicas gerais: impõe ao individuo para que ele se incorpore ao espírito do
calculo e previsão (SOUZA, p.97), ou seja, a pessoa precisa aprender a disciplina
dos cálculos, nem tudo o que entra em caixa é lucro, entendo isso, o batalhador
consegue organizar melhor suas finanças e se quiser investir naquilo o que pensa
ser necessário seja em si próprio, ou no seu negócio; (c) Disposições
Administrativas: como o batalhador pensa e desempenha sua atividade diária,
atividades essas que seriam responsáveis por um “bom” funcionamento no seu
negócio, ou seja, possui inclinações e propensões à realização de ações de
planejamento, coordenação, ordenação, controle de um negócio (SOUZA, p.97).

De maneira geral, são esses “tipos” ideais de classe que vão orientar a
reflexão em torno do conteúdo empírico de nossa pesquisa. Deste modo, trazendo
essa reflexão para os fins de nosso trabalho, algumas disposições que configuram o
perfil do que Jessé denomina de “batalhador”, a exemplo daqueles que trabalham
com comércio, são adquiridas através do que eles “herdam”, “ativam” ou desativam
no decorrer de sua trajetória que perpassa por uma pluralidade de socializações em
distintos contextos. Assim sendo, buscar-se-á compreender no próximo capítulo
como algumas dessas disposições foram construídas pelos sujeitos
“empreendedores’’ do ramo da confeitaria..
Destarte, nos capítulos seguintes ter-se-á como intuito o relato da vida de
pessoas que se consideram ou não participantes dessa classe de batalhadores e se
elas se sentem participantes da ideia de “nova” classe média. Para isso, os
conceitos e debates delimitados no trabalho acima, servirão como a porte teórico
para dados que serão coletados com o intuito de reafirmar teorias como de habitus e
patrimônios de disposições adquiridas no ramo da confeitaria da cidade de Manaus.
Assim como, retomar essa ideia de “nova” classe média ou nova classe de
batalhadores.

De maneira geral o desenvolvimento da pesquisa tem avançado bem.


Algumas questões relacionadas aos conceito de Habitus e patrimônios de
disposições podemos melhorar depois, mas não é prioridade agora. Mas fica
registrado que podemos melhorar. Quanto ao debate sobre nova classe média acho
que vc consegue melhorar, desenvolvendo melhor a critica ao economicismo, de um
lado, e de outro, tecendo comentários em torno do capital cultural e transferência
imaterial no seio familiar desse capital, elemento distintivo entre as classes...Leia ou
releia introdução (esta de imediato ajuda) e os primeiros capítulos teóricos do livro
da Ralé .

.falando em Ralé vc precisar fazer no tópico “Ralé e Batalhador: Um quadro


de recorte empírico” a mesma coisa que fez em relação aos batalhadores, citar o
livro da ralé, sua parte descritiva, empírica etc...pq os comentários ainda estão
muitos abstratos e superficiais....mas este tópico tem potencial para seu um dos
melhores do trabalho..... Seu trabalho está melhorando, mas registro que ele pode
ficar muito melhor e passar sem dificuldade no ato de apresentar para a banca....
“- lembrar...cópia de introdução e um capítulo do livro do Lahire...tem livro digital....

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