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Zane Halruth
Mestre em Relações Internacionais no Programa San Tiago Dantas, UNESP-UNICAMP-PUC-SP.
Matemática e Analista de Negociações Políticas Internacionais.
Resumo:
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e, depois, na aliança com o Irã e a Arábia Saudita – a estratégia dos
“Dois Pilares”. Esse esquema desmoronou com a revolução islâmica
que, em fevereiro de 1979, instalou no Irã um regime teocrático
muçulmano que elegeu os EUA como inimigo número 1. A
reviravolta aconteceu ao fim de uma década em que o “choque” do
petróleo havia elevado a importância estratégica do Oriente Médio a
um patamar sem precedentes. Finalmente, em dezembro de 1979, a
União Soviética iniciou sua intervenção militar no Afeganistão. Foi
nesse contexto conturbado que os EUA adotaram como política oficial
a defesa do petróleo do Golfo Pérsico pela forças das armas. A
Doutrina Carter – que o historiador Douglas Little definiu como “uma
Doutrina Monroe para o Oriente Médio” – foi anunciada em 23 de
janeiro de 1980, no discurso anual “O Estado da União”. Essa tomada
de posição foi um esforço da Casa Branca para retomar a iniciativa
política no Oriente Médio e marcar uma atitude de firmeza do EUA
diante um duplo desafio: 1) assegurar o controle das reservas de
petróleo do Golfo Pérsico, e 2) reagir à ação militar da URSS na Ásia
Central, interpretada, ao menos publicamente, como uma ameaça. O
discurso do presidente vinculou o petróleo e a segurança do Golfo
Pérsico em dois parágrafos chaves. (FUSER, 2006 p.27)
Esta política externa realizada pelos EUA para patrulhar o Golfo Pérsico e impedir que
as forças externas interferissem na região, garantindo fornecimento de petróleo e energia
adequada para os EUA e economia global, foi objetivamente articulada pelo poder executivo,
mas com apoio da opinião pública americana. E o congresso observava em privilegiada situação
de esperar os resultados e testar se os poderes dado ao executivo, no que tange esse assunto,
teriam bons resultados. Hoje, os EUA identificam o terrorismo global e a proliferação nuclear,
como sendo ameaças de segurança crítica e tal como no passado na culminante Doutrina Carter,
os EUA adotaram uma série de posturas e ações em política externa que traduzisse essa nova
constatação. Esse conjunto de informações seria convergente se não houvesse apesar desta
política, a tentativa dos EUA em criar um novo regime de não proliferação que favorecesse e
provavelmente melhorasse a segurança estadunidense. A premissa seria: cada caso é um caso?
ou há um padrão decisório em termos de segurança? Os contrastes dessas decisões com sua
execução criam um dilema ou uma lacuna explicativa que as teorias políticas e suas hipóteses
ficam por vezes em xeque. Portanto como poderíamos explicar esse processo por meio de uma
teoria?
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Foreign Policy Analysis is a decision-making approaches and theories fall within the subfield of foreign policy analysis, within
the larger field of international relations. Foreign policy analysis (known as FPA) is distinguished from other theoretical
approaches in international relations by its insistence that the explanatory focal point must be the foreign policy decision
makers themselves and not larger structural or systemic phenomena. Explanatory variables from all levels of analysis, from
the most micro to the most macro, are of interest to the analyst to the extent that they affect the decision making process.
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que um determinado Estado adota uma política particular. Concentrando-se exclusivamente nos
níveis nacional e individual de análise, a FPA explica as ações e decisões de cada um dos
tomadores de decisão e não de sistemas (Hudson, 2005). A FPA pode explicar os diversos
fatores que levaram à aprovação da Iniciativa de Proliferação da Segurança (PSI) como política
oficial dos EUA, mas não pode explicar se essa política irá na verdade fazer algo para prover de
fato segurança.
Este artigo visa diminuir esta lacuna, oferecendo uma exploração teórica do processo
através do qual as decisões de política externa e os acordos se tornam regras constitutivas de um
regime de segurança. Primeiro vou discutir as vertentes teóricas da diferença entre a unidade e
abordagens no nível do sistema que produziu o dilema articulado acima. Em seguida,
examinarei a abordagem FPA para a política externa, identificando seu foco exclusivo na
tomada de decisões. Então, oferecerei uma lente de análise para diminuir esta lacuna. Esta lente
baseia-se em insights construtivistas, que os regimes de segurança são conjuntos de regras. Ao
estudar a política externa como um processo que adiciona à aplicação de insights construtivistas
torna-se possível estudar a produção de regras e a criação de um novo regime de segurança.
O NÍVEL DE ANÁLISE
Os teóricos sistêmicos são claros ao afirmar que um sistema não é simplesmente uma
soma de suas partes constituintes. As decisões individuais, ações, características e capacidades
não se adicionam para formarem as estruturas sistêmicas. Pelo contrário, a distribuição global,
interação e as relações entre esses elementos formulam propriedades sistêmicas além do
controle de qualquer uma unidade. A natureza material das teorias tradicionais leva a uma visão
bastante sistêmica de reposição de elementos para um neo-realista, é tão simples como a
distribuição de recursos. Neoliberais também podem adicionar distribuição de informação e
estruturas institucionais. Enquanto qualquer um pode alterar a unidade de suas próprias
capacidades ou de acesso à informação internamente ou alterar as capacidades de outra unidade
através de uma interação, o resto do sistema não permanece estático enquanto isso ocorre, há
sempre algo acontecendo que influencia um grande todo. Qualquer ação que acontece no
âmbito de outras ações está relacionada a alterações e novas distribuições que fornecem efeitos
sistêmicos e resultados.
Thus, of all subfields in international relations, FPA is the most radically integrative theoretical interprise. Investigations into
the roles that personality variables, perception and construction of meaning, group dynamics, organizational process,
bureaucratic politics, domestic politics, culture and system structure play in foreign policy decision making are the core
research agenda of FPA. Fonte: http://www.americanforeignrelations.com/A-D/Decision-Making-Decision-making-and-
foreign-policy- analysis.html#ixzz0yHmlqx8I. Acesso em junho de 2010.
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Grande parte da literatura de estudos de segurança, especialmente no realista, neo-
realista, e da tradição neoliberal, centra-se neste nível sistêmico e nos constrangimentos
sistêmicos da ação estatal. A estrutura destes constrangimentos sistêmicos geralmente é
bastante rigorosa e traçam limites de ação do Estado para as práticas que tendem a manter o
sistema existente. Na verdade, a crítica do realismo estrutural original era que ele não tinha uma
teoria da mudança (Ruggie, 1986), não havia alternativa para a mudança no sistema de uma
guerra curta e não há maneira de mudar o próprio sistema em seu todo. Esta crítica, porém, veio
de uma veia construtivista. Ataques neoliberais sobre o realismo estrutural desafiou a premissa
da competição sobre a cooperação dentro dos limites da sistêmica (Keohane, 1984), mas não de
outra maneira a questão da mudança.
Pode-se pensar que os estudos de segurança, com seu foco de longa data sobre a
aplicação do poder militar, pode oferecer noções consistentes de mudança, mas não é esse o
caso. Estudos tradicionais de segurança ainda vêem a capacidade militar como uma
condicionante da ação do Estado. Solicita-se de acordo com (Baldwin, 1996) a ampliação do
foco de estudos de segurança, um olhar além do poder militar, um olhar na capacidade de ação
da sociedade civil, criando um desafio a unidade de análise e não se contestando o viés
estrutural do campo. Consequentemente, a grande área da literatura de estudos de segurança é
muito mais capaz de oferecer introspecção em que os Estados devem fazer em resposta a uma
determinada situação e como uma determinada situação pode influenciar a ação do Estado ao
invés de sugerir como um Estado pode reformular a sua situação de segurança ou em que
nuances a sociedade civil americana pode atuar. Aquém de seu potencial, essa estagnação
deixou o campo sem a visão exploratória necessária da não leitura clara, também segundo a
opinião de (Smith, 2004), da nova ênfase militar dos EUA na “definição de estratégias” para
utilizar recursos militares americanos para moldar o ambiente estratégico de uma região crítica
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(Priest, 2003) não se considerando também a sociedade civil como uma variável influenciadora
dessas estratégias.
O CERNE DA DECISÃO
Foreign Policy Analysis (FPA) evoluiu como uma das muitas críticas das teorias
estruturais. Qualquer um que tivesse experiência estudando ou servindo no governo americano
facilmente observa que as decisões do governo, raramente, são seguidas de constrangimentos
estruturais como neorealistas e neoliberais teorizaram. FPA parte da premissa de que os atores,
Estados, indivíduos, organizações e instituições são elementos chaves em decisões de política
externa, e essas decisões são resultados relevantes na política internacional para ser explicada
(Hudson 2005). O campo, portanto, divide o processo decisório para explicar por que os atores
fazem as escolhas que fazem. As teorias desenvolvidas giram em torno de uma literatura
centrada em dois diferentes níveis de decisão. A literatura política sob influência da FPA
claramente teoriza o óbvio, nenhuma decisão do governo é sempre uma resposta puramente
racional aos imperativos sistêmicos (Allison e Zelikow 1999). Pelo contrário, ela reflete a
batalha política dentro do governo, a empurrar e puxar políticos de diferentes agendas. A
política externa final é, assim, um compromisso, não refletindo o que o sistema exige, mas sim
os que as diferentes facções dentro do governo de um Estado podem concordar. Ao trazer de
volta a política e as organizações para o estudo da política, a literatura política produz
explicações de eventos que são bastante fiéis à experiência política real.
Outros trabalhos de FPA são focados em pessoas. No caso dos EUA em política externa,
grande parte da literatura centrou-se na tomada de decisão presidencial, uma vez que é o
presidente que faz a maioria das principais decisões de segurança nacional. Há numerosos
estudos para investigar os diversos fatores que podem causar um indivíduo a fazer as escolhas
que faz; desde fatores psicológicos, personalidade cognitiva à influência do grupo. Ao longo
dos anos, o avanço nesse campo têm se tornado muito eficiente em se analisar os vários fatores
que contribuem para uma decisão. Uma das consequências globais da agenda de investigação
tem sido a redução de uma decisão a uma escolha entre alternativas políticas. Embora esse
enfoque possa produzir teoria, dá uma versão reduzida da tomada de decisões e dos processos
de política externa. Isso impede que o analista estude o que acontece após a decisão, mais
notavelmente a sua implementação. Para ser mais preciso estudiosos de FPA não trabalham em
um vácuo. Inicialmente, alguns dos primeiros estudiosos a fazer política externa, designados
policy makers, incluiam todo este processo em sua formulação, decisão e execução, ambos
relacionados (Snyder et al. 2002). A divisão entre a escolha de política e execução das políticas
tem suas raízes em 1890, quando a cadeira acadêmica Woodrow Wilson estabeleceu a distinção
entre política e administração (Palumbo, Calista e de Estudos Políticos da Organização,1990).
Desde então, a Ciência Política e a Administração Pública mantiveram-se como disciplinas
distintas. No entanto, a política de escolha não é resolvida por si só, decisão isolada. A
execução é vital nesse modo de análise.
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na tendência de antropomorfizar o Estado e outros intervenientes de RI. O fracasso da
antropomorfização do Estado que não é sobre se “os Estados são pessoas também”, no sentido
analítico (Wendt, 1999), mas sim que os Estados não são atores individuais. Estados, como
todo ator relevante em RI, são as empresas participantes, o congresso, os movimentos da
sociedade civil, a opinião pública e demais derivados. Enquanto um indivíduo pode aplicar suas
próprias escolhas, assegurando que a ação corresponde à escolha, os grandes atores
corporativos, especialmente aqueles organizados em burocracias, escolha e a aplicação seriam
processos separados. Estudos de organizações complexas e suas burocracias demonstram “(...)
discrepâncias enormes em organizações de grande porte que produzem espetacular fracasso da
interação de muitas vezes erros banais na execução” (Perrow, 1984). Alguém deve fazer uma
política escolhida e pautada em uma realidade e normalmente, não será o presidente.
Além disso, grande parte da disputas burocráticas que Allison (1999) descreve como
parte do processo de tomada de decisões continua durante todo o processo de execução. Isso
ocorre porque o significado de qualquer política não está definido em uma decisão. É preciso
ação para interpretar o que a política vai significar na prática. As decisões não podem explicar
todas as situações possíveis em que a política será aplicada, cabendo aos executores a aplicação
a política em circunstâncias imprevistas para produzir uma regra geral (Howard 2004a; Yanow
1996). O “burocrático experiente” sabe que a decisão é apenas metade da batalha, e estão
dispostos e capazes a dar forma ao processo de implementação na mudança de política de
preferências. Por exemplo, a decisão da administração Bush para ir à ONU antes de lançar a
guerra no Iraque. Embora esta decisão representasse uma vitória para o Departamento de
Estado, outras agências foram capazes de moldar a execução da decisão, fazendo a
apresentação que o Secretário de Estado Colin Powell fez, refletir essa análise. Assim, embora a
“linha dura” possa ter perdido na decisão de ir para a ONU, finalmente conseguiram o que
queriam porque a apresentação de Powell na ONU, agora reconhecida como falha em maior
parte de seu curso de ação devido a repercussão causada pelo questionamento da legitimidade
da guerra quando os EUA decidiram fazê-la mesmo sem a aprovação da ONU; demonstra em
outra perspectiva de análise a seguinte constatação: um momento decisivo na condução da
guerra foi que uma batalha burocrática venceu na fase de execução, apesar dos pesares das
consequências oriundas desta.
Das inúmeras decisões de política externa feita a cada ano, cabe-se perguntar: algumas
são mais importantes que outras? Algumas têm efeitos mais duradouros do que outras?
Algumas funcionam melhor do que outras? Se a análise se reduz a decisão individual, é difícil
dizer. No entanto, se a análise é expandida para a execução dessa decisão, então se torna
possível responder essas perguntas e até teorizá-las.
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Significativamente, a FPA é secretamente um projeto estrutural, que procura articular os
fatores que produzem uma determinada decisão, mas em nenhum lugar na FPA há espaço para
a creditação da criatividade individual pura, inovação e escolha. Relatos descritivos de batalhas
políticas burocráticas creditadas a indivíduos criativos para saltar por uma janela política
perfeitamente aberta soam como propaganda política, mas as mais rigorosas teorias sejam de
FPA ou de RI indicam a redução do tomador de decisão a uma equação, eliminando a
criatividade individual. O arbítrio é necessariamente imprevisível, mas não desconectos de uma
estrutura decisória mais complexa. Existe a crença de se estar construindo uma solução criativa
para problemas repentinos, no terreno, que é a marca de uma política de sucesso. Normalmente,
essas adaptações políticas podem acontecer no processo decisório majoritariamente em nível de
trabalho, não em nível de decisão política, e são, portanto, fora da vista de teorias FPA entrando
nas fronteiras das Teorias de Relações Internacionais com um olhar mais detalhado no elemento
e no conjunto. Portanto, a FPA repousa seu foco principal, quase exclusivo, na tomada de
decisões, enquanto as Teorias de Relações Internacionais analisam as possíveis conseqüências e
efeitos das tomadas de decisão. Não havendo uma análise coerentemente relacional entre
tomada de decisão, implementação e consequências-efeitos do contexto decisório. Isso implica
em se considerar como esses termos se relacionam em uma análise
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está a chave para ligar o nível da unidade de análise da FPA e do nível sistêmico de análise de
estudos de segurança (Kubálková, 2001). O link é a prática de falar, de modo a ser
compreendida, a partilha de significado. Um ator tem uma série de coisas possíveis de se dizer e
devem chegar a um ato de fala. Há decisões a serem tomadas e as oportunidades para a atitude e
criatividade na forma como é feito. Mas, também existem constrangimentos estruturais, um ator
não pode simplesmente dizer o que ele quer e esperar que o mundo se ordene de acordo com tal
ato. Os atores precisam dizer as coisas de certa maneira a serem compreendidos. Idioma,
instância, sentido e significado são contextuais. Este significado compartilhado passa a ser
chamado de regras. Assim, regimes como o Estado são um conjunto de entendimentos
partilhados. Regimes de segurança é um conjunto de entendimentos partilhados sobre o que é
segurança e como os Estados podem atuar para perceber a segurança. Regimes habilitam e dão
sentido às práticas do mundo material. Este significado evolui e muda com a prática.
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possibilitando análises conjunturais mais apuradas no contexto de políticas internacionais, não
se restringindo apenas ao caso particular dos EUA, relacionando-se porém a uma rede maior de
possibilidades a qual pode ser sistematicamente explorada.
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