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Um passeio pelo Java 5

Parte II – Generics
por Christian Cleber Masdeval Braz

Introdução
A última versão mais importante da linguagem Java havia sido a 1.2. De lá para cá novas versões apenas
revisaram algumas características e corrigiram bugs. A versão 1.5 (Java 5 como vem sendo chamada), no
entanto, é outro marco! Novas características foram incluídas na linguagem tornando-a mais robusta e fácil
de usar. A JVM também sofreu melhorias e está mais rápida e confiável.
No artigo passado falei sobre: laço for melhorado, Autoboxing/Unboxing, enumerações (Enums), métodos
com número de argumentos variável (Varargs) e Static Import. Nesta seqüência, apresento a mais
significativa das mudanças ocorridas, que é a possibilidade de se criar classes e métodos parametrizados
(semelhante às templates do C++). Uma classe ou método paramétrico está apto a ser invocado com tipos
diferentes. Sendo assim, é possível definir uma variável dentro de uma classe ou o argumento de um método
como um tipo paramétrico e apenas quando estes forem efetivamente utilizados este tipo será definido pelo
usuário. Esta é uma tremenda flexibilidade para codificação e possibilita criar soluções mais genéricas e
resumir muito código, o que significa menos necessidade de manutenção. Toda a API padrão da linguagem
(todas as classes que implementam coleções por exemplo) foi refeita para tirar proveito destas facilidades.
O conceito de classe genérica (generics) é simples porém os detalhes para sua correta utilização são
muitos. Espero ao final desse texto ter conseguido explicar de forma clara seus principais pontos.

Classes Genéricas
Considere o código abaixo:
public interface List<E>
{
void add(E x);
Iterator<E> iterator();
}

public interface Iterator<E>


{
E next();
boolean hasNext();
}

As duas interfaces são definidas com o auxílio de parâmetros de tipos formais (formal type parameters),
evidenciados pelas letras embutidas entre os sinais <>. Tipos paramétricos podem ser usados no código
genérico de forma muito semelhante aos tipos convencionais. Um exemplo de utilização do código acima
pode ser:
List<Integer> myList = new LinkedList<Integer>();
myList.add(new Integer(1));
Integer x = myList.iterator().next();

Até o Java 4 existiam apenas listas de Objects e para recuperar qualquer coisa diferente disso era
necessário fazer um type cast. Agora pode-se definir a priori qual o tipo dos dados que uma lista (ou
qualquer outra coleção) irá armazenar. Uma lista de inteiros receberá apenas inteiros, nada além disso. As
conseqüências disso são várias:

•Não é preciso fazer cast para recuperar elementos já que o tipo correto de retorno já está especificado.
•O código fica mais robusto pois agora o compilador pode checar os tipos envolvidos (type safe) o que
não acontecia quando um cast era necessário.
•Menos erros em tempo de execução.
•Exibe naturalmente um certo grau de reaproveitamento de código já que códigos genéricos são feitos
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para serem utilizados com tipos diferentes de dados.

Um ponto muito importante sobre generics está relacionado à subtipos. Considere o exemplo
List<String> ls = new ArrayList<String>();
List<Object> lo = ls;

O que você acha do código acima? Já que String deriva de Object parece razoável supor que uma lista de
strings também é um subtipo de uma lista de objetcs e sendo assim a atribuição acima estaria correta. Pois
bem, considere esta continuação
lo.add(new Object());
String s = ls.get(0);

Na primeira linha um Object foi inserido na lista e na segunda este foi recuperado e atribuído a uma String,
o que é um erro! Quando fizemos a variável lo receber ls esta deixou de ser uma lista apenas de strings e
abriu a possibilidade de inserirmos qualquer tipo de objeto. Definitivamente este não é o tipo de
comportamento que esperamos! É claro que atribuições como a acima não são permitidas e o compilador irá
emitir uma mensagem de erro quando encontrá-las.

Dica

Se Circle é uma subclasse (ou subinterface)


de Shape e G é uma declaração genérica
qualquer então não é verdade que G<Circle> é
também um subtipo de G<Shape>. Esta é uma
noção inicialmente difícil de absorver pois vai
contra nossa intuição natural.

Wildcards
A decisão acima é muito restritiva. Considere a necessidade de imprimir o conteúdo de uma coleção
arbitrária e a tentativa de implementá-la exposta no método abaixo
void printCollection(Collection<Object> c)
{
for(Object e : c)
{
System.out.println(e);
}
}

Como vimos, ao contrário da intuição inicial, esse não é um método apto a receber qualquer tipo de
coleção, mas sim exclusivamente coleções que contêm objetos do tipo Object. Para representar uma coleção
de qualquer coisa devemos usar o caractere ? da seguinte forma: Collection<?>. Isto é chamado de wildcard
type. O novo código utilizando wildcard é
void printCollection(Collection<?> c)
{
for(Object e : c)
{
System.out.println(e);
}
}
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o qual pode ser chamado com qualquer tipo de coleção. Observe que o conteúdo da coleção c é atribuído a
um Object. O wildcard é um tipo desconhecido, mas como temos certeza que será um objeto é seguro
atribuí-lo a uma variável do tipo Object.

Dica

1 - Utilize wildcards sempre que precisar designar um tipo arbitrário. Porém, tenha em mente que neste
caso qualquer variável genérica que for tipada com um ? será apenas para leitura. Assim sendo, o
código

Collection<?> c = new ArrayList<String>();


c.add(new Object()); //Erro de compilação
void add (G var)
irá falhar miseravelmente. Isso porque no método add { var será do tipo ?, o
que representa “qualquer tipo” e como o compilador não array[i] = var; consegue definir qual,
também não permite que a atribuição seja feita. }

2 – A única exceção para isso é a inclusão de null.

Considere uma aplicação gráfica que desenha superfícies (shapes) tais como retângulos e círculos. Para
representar esses componentes no programa podemos definir a seguinte hierarquia de classes

Um método conveniente seria um para desenhar uma coleção de superfícies tal como
public void drawAll(List<Shape> shapes)
{
for(Shape s: shapes)
{
s.draw(this);
}
}

O problema aqui (novamente) é que esse método só pode ser invocado recebendo como parâmetro uma
List<Shape>. Um List<Circle> por exemplo causaria erro de compilação. Isso é muito ruim tendo em vista
que o objetivo do método é ler uma coleção de superfícies, sejam elas círculos ou retângulos. O que
precisamos é de um método que aceite uma lista de qualquer tipo de superfície:
public void drawAll(List<? extends Shape> shapes)
{
for(Shape s: shapes)
{
s.draw(this);
}
}

List<? extends Shape> é um exemplo de bounded wildcard. O ? representa, como antes, um tipo
desconhecido. Entretanto, neste caso, sabemos que esse tipo é um Shape ou um subtipo deste. A
desvantagem de não ser possível modificar uma variável com tipo desconhecido permanece.
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Métodos Genéricos
Declarações de métodos também podem ser genéricas, isto é, parametrizadas por um ou mais parâmetro de
tipo. Imagine como fazer um método que recebe um array de objetos e uma coleção e deve acrescentar todos
os objetos do array dentro da coleção. Uma tentativa pode ser
public void fromArrayToCollection(Object[] a, Collection<?> c)
{
for(Object o : a)
{
c.add(o); //Erro de compilação!
}
}

A opção de fazer Collection<?> para ser possível receber uma coleção arbitrária foi correta, porém, tornou
a coleção c apenas para leitura. Se reformularmos este método como um método genérico podemos resolver
esse problema:
public <T> void fromArrayToCollection(T[] a, Collection<T> c)
{
for(T o : a)
{
c.add(o);
}
}

Podemos chamar este método com qualquer tipo de coleção cujos elementos sejam um supertipo dos
elementos do array. Por exemplo
Object[] objectArray = new Object[100];
Collection<Object> objectCollection = new ArrayList<Object>();

//Suponha as seguintes invocações do método fromArrayToCollection


fromArrayToCollection( Object, Object ); //Infere ser Object
fromArrayToCollection( String, Object ); //Infere ser Object
fromArrayToCollection( Integer, Number ); //Infere ser Number
fromArrayToCollection( Number, Object ); //Infere ser Object
fromArrayToCollection( Number, String ); //Erro de compilação!

Nas quatro primeiras chamadas do método o compilador pôde inferir um tipo válido para T, isto é, um tipo
que é supertipo do outro. Perceba que não é necessário especificar explicitamente um tipo para um método
genérico. O compilador irá inferir o tipo apropriado baseado nos tipos atuais. Na última chamada o método
recebe como argumento um array de números e uma coleção de strings. Como String não é um supertipo de
Number (e vice-versa) o compilador não consegue concluir um tipo válido e acusa erro.

Interoperabilidade com Código Legado


Considere a atribuição:
Collection c = new ArrayList<String>();

Ela é permitida para garantir um certo grau de compatibilidade entre as versões da linguagem (afinal todo
código Java escrito até hoje foi sem generics). Quando um tipo genérico como Collection é utilizado sem
parâmetro de tipo é chamado um raw type. Porém, o uso deste artifício deve ser feito com muito cuidado!
Vejamos seus desdobramentos na linha abaixo:
c.add(new Integer(10)); //unchecked warning

O compilador não acusará erro mas emitirá um aviso. O aviso é necessário porque o compilador não é capaz de
garantir a corretude do resultado. Mas a possibilidade de se incluir um inteiro numa lista de strings não deveria ser um
erro? Teoricamente sim, mas, na prática, se é necessário que código genérico opere com código legado isto deve ser
permitido. Vejamos outro exemplo:
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Dica

Quando usar métodos genéricos ou wildcards?

Use wildcard quando na assinatura do método o tipo paramétrico aparecer somente uma vez, ou
seja, não há interdependência de tipos (nem de retorno, nem de argumentos).

public boolean containsAll(Collection<?> c)

public <T> boolean containsAll(Collection<T> c)

Qual a melhor opção para os métodos acima? O parâmetro T está sendo usado neste caso
apenas para prover polimorfismo e permitir que o método seja invocado com tipos diferentes. Use
wildcards quando precisar representar tipos flexíveis, que é o que pretende-se expressar aqui.

“Métodos genéricos permitem que os tipos paramétricos sejam utilizados para expressar
dependências entre tipos de argumentos e/ou seu tipo de retorno. Se não existe tal
dependência um método genérico não deve ser empregado.”

public <T> T getSomething (T something) {…}


public static <T> void copy (List<T> dest, List<? extends T> src) {…}

Estes métodos são exemplos de dependência do parâmetro de tipo. No primeiro, a dependência


está no tipo de retorno (sim, o tipo de retorno pode ser variável !!) e no segundo a lista de origem (src)
deve ser de algum subtipo da lista de destino (dest).ê

ArrayList<Float> fl = c; //unchecked warning

O compilador não consegue garantir que c contenha apenas objetos Float e emite novamente um aviso.
Fica a cargo do programador satisfazer os contratos estabelecidos e assim, por exemplo, prezar para que c
contenha uma coleção de números.

Chamar código legado a partir de código genérico é intrinsecamente perigoso! Uma vez que você mistura
código genérico com código não genérico todas as garantias de segurança que usualmente um código
genérico provê são perdidas. Entretanto, ainda assim é melhor do que não usar código genérico algum.

Casts, Arrays e Literais de Classe

O que o seguinte código irá imprimir?


List<String> l1 = new ArrayList<String>();
List<Integer> l2 = new ArrayList<Integer>();
System.out.println(l1.getClass() == l2.getClass());

Você pode ficar tentado a dizer que será false mas na verdade é true. Todas as instâncias de uma classe
genérica compartilham a mesma meta-classe (ou run-time class) independentemente dos valores atuais dos
seus parâmetros de tipo (tal como ocorre com classes não genéricas). Uma conseqüência disso é que em
variáveis e métodos estáticos, por serem compartilhados por todas as instâncias, não pode haver referências
a parâmetros de tipo.

Uma outra implicação é que não faz sentido perguntar para uma instância se esta é uma instância de um
tipo particular. O código
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Dica

A inferência de tipos nos métodos genéricos feita pelo compilador nem sempre funciona como
esperamos. Vejamos o trecho de código abaixo.

public static <T> T methodA(T[] array, T element) {…}

String[] sa = new String[10];

MethodA(sa, new String(“xx”)); //infere T = String – OK


MethodA(sa, new Integer(10)); //Consegue inferir T, mas como??

A intenção óbvia é que o tipo dos componentes do array devem bater com o tipo do segundo argumento.
Por esta razão é razoável supormos que a segunda chamada será rejeitada pelo compilador, já que os
tipos String[] e Integer são inconsistentes. Entretanto, não é isso que ocorre! O compilador irá inferir os
supertipos comuns de String e Integer como:

T = Object&Serializable&Comparable<? extends Object&Serializable&Comparable<?>>

que é um tipo sintético usado internamente pelo compilador e denota o conjunto de supertipos de String
e Integer.

Se esta inferência irá ou não produzir o resultado desejado vai depender das circunstâncias. Porém,
podemos fazer com que funcione conforme nossa intuição natural com uma pequena modificação no
código:

public static <T, S extends T> T methodA(T [] array, S element) {…}

Collection cs = new ArrayList<String>();


if(cs instanceof Collection<String>) {…} //ilegal!!

é ilegal, bem como fazer os casts


Collection<String> str = (Collection<String>) cs; // unchecked warning

ou
<T> T badCast(T t, Object o) {return (T) o;} //unchecked warning

Variáveis de tipo não existem em tempo de execução. Em ambos os casos o compilador não pode garantir
a conversão.

Não é permitida, por questões de segurança, a criação de arrays de tipos genéricos. Então as seguintes
tentativas não são válidas
List<String>[] L1 = new List<String>[10]; //Erro – tentativa de criar um array de genéricos
List<String>[] L2 = new List<?>[10]; //Erro – tipos incompatíveis
List<?>[] L3 = new List<String>[10]; //Erro – tentativa de criar um array de genéricos

A única opção possível é a criação de (unbounded) wildcard arrays. Por exemplo

List<?>[] lsa = new List<?>[10]; //OK - array de unbounded wildcard


lsa[0] = new ArrayList<Float>();
lsa[1] = new LinkedList<String>();
List<Integer> li = new ArrayList<Integer>();
li.add(new Integer(10));
lsa[3] = li;
Integer xx = (Integer) lsa[3].get(0); //É necessário um cast
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Dica
Generics são implementados pelo compilador através de um mecanismo de conversão chamado
erasure. Pode-se pensar neste como uma tradução source-to-source onde, basicamente, todas as
informações de tipos genéricos são “apagadas“. Toda informação de tipo entre <> é removida, então,
por exemplo, List<String> é convertido para List. Os outros usos dos parâmetros de tipo dentro do código
são substituídos (geralmente) por Object. Por fim, sempre onde o código resultante não estiver com o
tipo correto um cast para o tipo apropriado é inserido.

Esse funcionamento explica porque uma classe genérica é compartilhada por todas as suas instâncias e
também porque operações de verificação ou conversão de tipos genéricos não funcionam.

A classe java.lang.Class é genérica agora e é um bom exemplo de aplicação de generics além de coleções.
Por exemplo, o tipo String.class é Class<String> e o tipo Calendar.class é Class<Calendar>. Um dos
principais benefícios é a utilização do literal de classe como fábrica de objetos e com a versão genérica isto
ficou mais seguro pois pode-se obter um tipo preciso. Para entender melhor a diferença compare as duas
versões abaixo:

Collection emps = sqlUtility.select(EmpInfo.class, “select * from emps”);



public static Collection select(Class c, String query)
{
Collection result = new ArrayList();
/* Executa a consulta */
for(/* Itera no resultset */)
{
Object item = c.newInstance(); //Retorna um Object
/* Utilize reflexao para setar os atributos do objeto baseado nos registros do banco*/
result.add(item); //Povoa a coleção com Objects
}
return result;
}

Collection<EmpInfo> emps = sqlUtility.select(EmpInfo.class, “select * from emps”);



public static <T> Collection<T> select(Class<T> c, String query)
{
Collection<T> result = new ArrayList<T>();
/* Executa a consulta */
for(/* Itera no resultset */)
{
T item = c.newInstance(); //Retorna um EmpInfo
/* Utilize reflexao para setar os atributos do objeto baseado nos registros do banco*/
result.add(item); // Povoa a coleção com o tipo específico
}
return result;
}

Conclusões
As conclusões devem fornecer um fechamento breve e claro para o artigo.
Fulano de Tal (fulanotal@provedor.com.br) é desenvolvedor certificado Delphi. Trabalha com WebSnap e DataSnap e
desenvolvimento wireless em projetos de integração com soluções enterprise, usando Oracle, BES e Caché.

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