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Roma, a Cidade Eterna

Escrever sobre Roma significa dar um mergulho em quase três


mil anos de história. As sete colinas, que não mais existem na sua
forma original, testemunharam o início de uma civilização que se
tornou o mais formidável império da Antiguidade. Em Roma
surgiu uma língua , o latim , que dominou a cultura por XX
séculos. Em Roma nasceu o Direito, que serviu de inspiração
para todos os códigos do Ocidente e lá foi criada a arte e os
estilos arquitetônicos usados como modelo durante milênios por
quase todo o mundo.
Primeiro um centro do imenso Império Romano e depois como
sede da cristandade, a cidade de Roma exerceu uma influência
sem par na história do Ocidente. Sua história mistura lenda e
realidade e até seu próprio nome constitui um enigma: pode ter
sido derivado de "stroma" (cidade do rio), do etrusco "Ruma"
(cúmulo, multidão), ou do seu lendário fundador Rômulo.

Roma foi construída sobre uma região vulcânica e como


conseqüência da erosão,
Afresco da Antiguidade mostra Roma no apogeu apresentava uma superfície
do império com morros baixos
divididos por pequenos vales e depressões. Essa é a origem das sete
colinas, que são: o Palatino, no centro; o Capitolino a noroeste e entre o
norte e o sudoeste, formando uma curva, o Quirinal, o Viminal, o
Celiano e o Aventino, todos na margem esquerda do rio Tibre. Na
margem direita fica apenas uma colina, o Janículo. Nascida na Ilha de
Tiberina, a cidade logo preferiu as elevações que podiam ser
defendidas com mais facilidade e eram livres da malária, que infestava
os vales. O núcleo primitivo, a Roma Quadrata, limitava-se a uma O editor de A Relíquia encaminhando-se para o
pequena área no Palatino. Com o crescimento da cidade, foram Coliseu (ao fundo)
ocupadas também as áreas pantanosas depois de grande trabalho de drenagem.
Com relação a sua fundação, a lenda diz que um filho de Marte foi enviado à terra para fundar uma cidade
que mudaria a face do mundo. Rômulo e seu irmão Remo, filhos da sacerdotisa Réia Silvia, descendentes do
guerreiro troiano Enéias, foram deixados em uma cesta nas águas do rio Tibre. Amamentado por uma loba,
Rômulo sobreviveu, cresceu, fundou a aldeia-fortaleza de Roma
Quadrata e depois matou seu irmão.

A história conta que as colinas do vale do rio Tibre abrigavam


aldeias dos Sabinos, depois conquistadas por emigrantes do Lácio,
ou Latium - pastores e lavradores que fugiam das planícies
pantanosas. O fato é que Roma nasceu na colina Palatina e entrou
para a história a partir de 753 a.C., data reconhecida de sua
fundação. Mas suas origens remontam ao ano 5000 a.C., quando os
ligúrios e íberos, vindos da Espanha e Gália, chegaram na Península
Itálica. Entes povos foram conquistados pelas tribos indo-européias,
que fundaram o povoado de Vilanova, nas cercanias da atual cidade
de Bolonha. No fim da Idade do Bronze, outros clãs indo-europeus
vieram se juntar aos demais e dessa fusão surgiram várias cidades,
as ruínas do Coliseu,o maior anfiteatro da
entre elas Alba Longa e Lavínia. Não se sabe exatamente quando
antiguidade, construído por Vespasiano em
72 d.C. cujo verdadeiro nome é anfiteatro
Flávio
essas colônias sabinas e latinas uniram-se numa só comunidade.
No começo, Roma foi governada por sete reis. Pela Via Salária, uma estrada cujo nome vem do transporte
de sal do litoral, e que cortava o rio e os pântanos, chegaram os etruscos que contribuíram para construir a
Roma gloriosa que depois surgiria. A dinastia etrusca iniciou-se no governo de Tarquínio Prisco, e sua
civilização floresceu entre os séculos VII e VI a.C., alcançando grande desenvolvimento comercial, militar,
cultural e artístico. Entretanto, devido à falta de unidade política e às sucessivas guerras contra os gregos, os
etruscos foram derrubados pela aristocracia romana.

Os etruscos foram expulsos e em 509 a.C. a cidade tornou-se república, governada por dois cônsules. Ao
lado desses dois líderes, atuavam o Senado e a Assembléia Popular. O desenvolvimento de Roma foi
interrompido bruscamente em 390 a.C. devido à invasão dos gauleses que incendiaram a cidade. A derrota
provocou reformas na organização militar, que passou a alistar os plebeus no exército. Outra conquista
popular que contribuiu para fortalecer o Estado foi a publicação, pelo Senado, do Código de Direito Civil,
conhecido como a Lei das Doze Taboas.
A importância política de Roma crescia e em 270 a.C. praticamente toda a Itália estava sob o poder romano,
surgindo assim, o maior Estado do mundo ocidental com uma população de 4 milhões de habitantes. Logo,
o domínio se estendeu para além das fronteiras da península itálica e as famosas legiões romanas
conquistaram um imenso império que se estendeu até o Oriente. Com a anexação da Ásia Menor,
transformada em província em 133 a.C., o Estado Romano conseguiu, em pouco mais de 50 anos, se
converter numa potência internacional sem rival em todo o mundo da época. O ápice do império romano foi
atingido no governo de Augusto.
A lenta decadência de Roma teve como causas as lutas internas, a própria imensidão do império e suas
excessivas despesas militares, os imperadores corruptos (Calígula, Nero e Cláudio), o nascimento do
cristianismo e a pressão dos bárbaros nas fronteiras. No ano 313 Constantino reconhece a vitória do
cristianismo e em 380 Teodósio o declara única religião do
império. Primeiro com Alarico e depois com Átila, os povos
bárbaros atacaram Roma, incendiaram a cidade, reduzindo-a a
uma cidade secundária do império bizantino. Neste ínterim,
crescia e se consolidava o poder do papado que havia se
estabelecido em Roma, fazendo dela a capital mundial do
cristianismo.
No século IX, quando o papa Leão III coroou Carlos Magno
como imperador do Sagrado Império Romano, pareceu que a
antiga glória estaria de volta. Pura ilusão: uma longa batalha Vista de Roma com o Vaticano (Praça São Pedro)
entre a Igreja e a nobreza feudal, entre o papado e o império em primeiro plano.
(batalha pelas investiduras), acabaria por extenuar Roma. Em
1309, o papa foi obrigado a se transferir para Avignon, onde permaneceu até 1377. Durante a Idade Média,
Roma foi ocupada militarmente várias vezes.
Sede oficial do papado, Roma foi o principal foco de um dos maiores movimentos artístico-filosófico-
científicos que a História já presenciou: o Renascimento. Grandes pontífices como Julio II e Leão X
ajudaram a criar a grande Roma Renascentista e depois barroca, onde surgiram monumentos e obras de arte
de excepcional esplendor, graças a artistas como Bramante, Miguel Ângelo e Rafael, entre outros; e
construtores de palácios e igrejas, como Bernini e Borromini. A Roma barroca com suas fontes, palácios,
jardins e monumentos, é o que de melhor existe na civilização ocidental. Nos séculos que se seguiram à
queda do império, Roma firmou cada vez mais o seu prestígio de grande cidade, condição que lhe valeu os
títulos de "Capital do Mundo" e "Cidade Eterna".
Logo após o Cisma Ocidental (1378-1417), Roma se torna a sede da nova República. Em 1798 é invadida
pelos franceses, Napoleão retira a autoridade do papado e Pio X é deportado para a França. Segue uma
breve restauração e logo depois o papa Pio X recupera o poder. Com o "Risorgimento", o pontífice é
novamente obrigado a fugir, nascendo a República do triunvirato de Mazzini. Em 1870, as forças da
unificação italiana entram em Roma e acabam com o poder temporário dos papas, elevando a cidade a
capital da Itália. Durante meio século se desenvolve uma surda guerra entre o papado e o Estado Italiano,
que acabará com o Pacto Lateranenses de 1929, quando o fascismo já começava a dominar a Itália. O papa
regressa como chefe do cristianismo universal e como monarca do menor Estado do mundo, a Cidade do
Vaticano. O regime fascista de Mussolini tenta devolver a Roma sua glória antiga, demolindo construções e
construindo estádios, estradas e monumentos, mais acaba mergulhando a cidade e o país na Segunda Guerra
Mundial. Terminado o conflito, Roma se notabilizou pelo crescimento urbanístico, pela restauração dos
monumentos e obras de arte, pela conservação das ruínas do antigo império e por escavações de sítios
arqueológicos, que proporcionaram o ressurgimento de preciosidades. Enfim, se torna capital do cinema
italiano, um grande centro turístico, uma potência econômica e uma metrópole cosmopolita.
Roma é o cenário perfeito para uma viagem inesquecível, uma cidade romântica e cheia de histórias contada
em cada monumento, em cada rua, em cada edifício, em cada sítio. História como a da Igreja de
Sant'Agnese in Agone, construída no século XVIII pelo papa Inocêncio X, no local onde existia, no ano 300
a.C., um dos maiores bordéis de Roma, e para onde teria sido levada a jovem Agnes, cristã que foi
martirizada pelos romanos. Exposta nua aos clientes do bordel, diz a lenda que os seus cabelos cresceram
milagrosamente, escondendo seu corpo. Quase toda construção romana repousa sobre uma lenda. Nas
próximas edições de A Relíquia vamos fazer um "passeio" pelas ruas de Roma, descrever suas maiores
atrações e, claro, contar suas histórias, que são muitas...

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