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O RISCO BIOLÓGICO E SUA REGULAMENTAÇÃO

NA LEGISLAÇÃO NACIONAL
PRISCYLA MAIRA DE SOUZA ROQUE - priscylaroque@gmail.com
FACULDADE PITÁGORAS - PITÁGORAS - IPATINGA

Área: 4 - ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO


Sub-Área: 4.4 - PROJETO E GESTÃO DA SEGURANÇA DO TRABALHO

Resumo: O RISCO BIOLÓGICO ESTÁ INTRÍNSECO A UM EXTENSO ROL DE


ATIVIDADES. ENTRETANTO, OBSERVA-SE QUE O SEU ENQUADRAMENTO NA
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA POUCO EVOLUIU AO LONGO DOS ANOS. O ANEXO XIV
DA NR 15 - ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES ENCONTRA-SE DEFASADO E
REVELA LACUNAS NO QUE DIZ RESPEITO À SUA ABRANGÊNCIA, METODOLOGIA
DE ANÁLISE E ENTENDIMENTO. DESTOANTE DA TENDÊNCIA MUNDIAL, O
BRASIL AINDA CONVIVE COM O FENÔMENO DE “MONETIZAÇÃO DO RISCO”
QUE CONFERE AO TRABALHADOR UM ACRÉSCIMO MONETÁRIO AO SALÁRIO
COMO COMPENSAÇÃO PELA EXPOSIÇÃO DE SUA SAÚDE E SEGURANÇA A
CONDIÇÕES INSALUBRES. FORAM SELECIONADOS OS ITENS DO TÓPICO DE
INSALUBRIDADE DE GRAU MÁXIMO DO ANEXO XIV DA NR 15 PARA
CONSTITUÍREM O OBJETO DE ESTUDO DESTE TRABALHO. ESCRITO COM BASE
EM UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA, O ARTIGO FOI FUNDAMENTADO ATRAVÉS
DE CONCEITOS, LEIS, NORMAS E SITUAÇÕES JÁ ABORDADAS POR OUTROS
AUTORES SOBRE O RISCO BIOLÓGICO E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE
OCUPACIONAL DOS TRABALHADORES A ELE EXPOSTOS. ALÉM DISSO, O ARTIGO
FOI ENRIQUECIDO ATRAVÉS DE UMA ANÁLISE CRÍTICA SOB A ÓTICA DA
AUTORA NO QUE REFERE À APLICABILIDADE DA NORMA, SUAS DEFICIÊNCIAS E
PROPOSTAS PARA MELHORIAS NESTA REGULAMENTAÇÃO. AO PROCURAR
AMPLIAR A DISCUSSÃO SOBRE OS RISCOS BIOLÓGICOS E OS ASPECTOS DE
INSALUBRIDADE, O QUE SE BUSCA É UMA ATENÇÃO ESPECIAL PARA O LABOR
NESTAS CONDIÇÕES, VISANDO A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DOS
TRABALHADORES.

Palavras-chaves: RISCO BIOLÓGICO; INSALUBRIDADE; EXPOSIÇÃO


OCUPACIONAL A MATERIAL BIOLÓGICO.
XXV SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
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BIOLOGICAL RISK AND ITS REGULATION IN


NATIONAL LEGISLATION
Abstract: BIOLOGICAL RISK IS INTRINSIC TO AN EXTENSIVE RANGE OF
ACTIVITIES. HOWEVER, IT IS OBSERVED THAT ITS FRAMEWORK IN BRAZILIAN
LEGISLATION HAS NOT EVOLVED OVER THE YEARS. ANNEX XIV TO NR 15 -
UNHEALTHY ACTIVITIES AND OPERATIONS IS OUT OF DATE ANND REVEALS
GAPS WITH RESPECT TO ITS BREADTH, METHODOLOGY OF ANALYSIS AND
UNDERSTANDING. OUT OF THE WORLD TREND, BRAZIL STILL LIVES WITH THE
PHENOMENON OF “MONETIZATION OF RISK” THAT GIVES WORKERS A
MONETARY INCREASE IN WAGES AS COMPENSATION FOR EXPOSING THEIR
HEALTH AND SAFETY TO UNHEALTHY CONDITIONS. THE ITEMS OF THE TOPIC
OF MAXIMUM HEALTH OF ANNEX XIV OF NR 15 WERE SELECTED TO BE THE
OBJECT OF STUDY OF THIS WORK. BASED ON A BIBLIOGRAPHICAL REVIEW,
THE ARTICLE WAS BASED ON THE CONCEPTS, LAWS, NORMS AND SITUATIONS
ALREADY DISCUSSED BY OTHER AUTHORS ABOUT THE BIOLOGICAL RISK AND
ITS RELATION WITH THE OCCUPATIONAL HEALTH OF THE WORKERS EXPOSED
TO IT. IN ADDITION, THE ARTICLE WAS ENRICHED THROUGH A CRITICAL
ANALYSIS FROM THE PERSPECTIVE OF THE AUTHOR REGARDING THE
APPLICABILITY OF THE STANDARD, ITS DEFICIENCIES AND PROPOSALS FOR
IMPROVEMENTS IN THIS REGULATION. IN SEEKING TO BROADEN THE
DISCUSSION ON BIOLOGICAL RISKS AND THE INSALUBRITY ASPECTS, WHAT IS
SOUGHT IS A SPECIAL ATTENTION TO THE WORK UNDER THESE CONDITIONS,
AIMING TO GUARANTEE THE HEALTH AND SAFETY OF WORKERS.

Keyword: BIOLOGICAL RISK; UNHEALTHY; OCCUPATIONAL EXPOSURE TO


BIOLOGICAL MATERIAL

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1. Introdução
O risco biológico, no âmbito da saúde e segurança do trabalho, está relacionado à
probabilidade de exposição ocupacional a material biológico que possa implicar em acidente
de trabalho que cause agravo a saúde do trabalhador, advindo das condições ambientais de
trabalho.
Segundo a NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, são
considerados agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus,
entre outros. (BRASIL, 1978)
A legislação trabalhista brasileira estabelece que o trabalhador tenha direito à redução
de riscos inerentes ao ambiente de trabalho, através da aplicação de normas de saúde, higiene
e segurança, conforme se verifica no Art. 7º, inciso XXII da Carta Magna Brasileira.
(BRASIL, 1988).
Paradoxalmente, a mesma legislação prevê ainda em seu Art 7º, inciso XXIII a
compensação financeira devida ao trabalhador que labore em condições de trabalho
consideradas penosas, insalubres e perigosas.
Diferentemente da tendência das legislações internacionais, o Brasil ainda convive
com a “monetização do risco” que confere ao trabalhador um adicional ao salário como
compensação pela exposição de sua saúde, segurança e integridade física devido ao fator
insalubre presente nas atividades. Desta forma, a insignificante compensação financeira passa
a ser complemento de renda do trabalhador e desestimula os empregadores a implantarem
medidas que reduzam e até mesmo eliminam os riscos presentes no ambiente laboral.
No que tange os riscos biológicos, o problema é ainda maior. O anexo XIV da NR 15
– Atividades e Operações Insalubres que trata sobre a exposição do trabalhador aos agentes
biológicos está ultrapassada e não contempla em sua totalidade os parâmetros adequados para
prevenção e proteção do trabalhador, assim como, a caracterização assertiva do risco e a
abrangência de todo o rol de atividades que estão efetivamente expostos a esses agentes
(BRASIL, 1979).

Deste modo, por não haver amparo legal, perícias judiciais de insalubridade e
periculosidade que decorrem sobre este assunto acabam sendo decididas de forma arbitrária.

Desta forma, através do método de pesquisa exploratória, o presente trabalho pretende


analisar alguns pontos controversos a respeito da regulamentação dos riscos biológicos na
legislação nacional e seu impacto na saúde e segurança do trabalhador.

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2. Análise do anexo XIV da NR 15

TABELA 1 – Relação das atividades que envolvem agentes biológicos, conforme a Norma Regulamentadora 15.

Fonte: Elaborado pela autora (2018).

2.1 Insalubridade de grau máximo

Para fins de insalubridade, enquadram neste tópico somente os profissionais que se


dediquem de forma exclusiva e permanente às atividades listadas.
O item 1 dispõe sobre os profissionais que laboram em ambientes hospitalares na
assistência à pacientes em isolamento por doenças infectocontagiosas.
Segundo o Ministério da Saúde1, os microorganismos podem ser transmitidos dentro
do ambiente hospitalar por uma das quatro vias: contato, ar, veículo comum e vetor (apud,
AGUIAR; LIMA; SANTOS, 2008).
De fato, a transmissão pelo ar e por contato constitui os principais meios de
propagação de doenças nestes ambientes.

1
Ministério da Saúde. Prevenção de infecções adquiridas no hospital: um guia prático. Lisboa.
Disponível em: <https://www.dgs.pt/programa-nacional-de-controlo-da-infeccao/documentos/manuais-
de-boas-praticas/prevencao-de-infeccoes-adquiridas-no-hospital-um-guia-pratico-pdf.aspx. > Acesso
em: 12 /04 /2018.

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Bernadino Ramazzini parafraseou um sábio dizer de Hipócrates: “O ar é para os


mortais o autor da vida e das doenças”. (2016, p. 108)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) através da resolução de n º 9 , de 16
de janeiro de 2003, estabeleceu padrões de referência de qualidade do ar de interiores, em
ambientes climatizados artificialmente de uso público. (BRASIL, 2003).
Além disso, sugere que seja realizada análise quantitativa de microorganismos
dispersos no ar pelo método de impactação com acelerador linear.
Por sua vez, a transmissão por contato se dá através do manuseio de materiais perfuro
cortantes, como por exemplo, a manipulação de agulhas, cateteres intravenosos e lâminas para
execução dos procedimentos de enfermagem.
CARDO (1997) aborda em seu estudo que durante uma exposição ocupacional a
sangue, pelos menos 20 patógenos podem ser transmitidos de modo direto ou indireto,
destacando-se o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), o Vírus da Hepatite B (HBV) e os
Vírus da Hepatite C (HCV) pela maior importância epidemiológica e clínica.
O item 2 engloba os profissionais que trabalham em atividades que envolve o contato
com animais portadores de doenças infectocontagiosas (carbunculose, brucelose, tuberculose),
como se verifica no caso das indústrias de abate e processamento de carnes e derivados.
Conforme abordado por (CARDOSO; MARRA; SOUZA; 2012), o exercício desta
atividade no território brasileiro é inspecionado pelo MAPA – Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento nas suas instâncias federal, estadual e municipal.
O risco de transmissão de agentes infecciosos além de impactar na saúde ocupacional
individual representa grandes consequências para a saúde pública em geral, pois os
trabalhadores de abatedouros configuram os primeiros hospedeiros a serem expostos aos
agentes etiológicos de zoonoses. (MAYON, 1992).
O Presidente da República, através do decreto Nº 9013 de março de 2017, dispôs o
regulamento que disciplina as novas diretrizes para fiscalização e inspeção industrial e
sanitária de produtos de origem animal. Como forma de atestar a saúde do animal, o decreto
determina a realização da inspeção “ante mortem” realizada por médico veterinário na etapa
de recebimento do animal para verificação da procedência e existência de alguma zoonose. A
inspeção “pos mortem” é realizada durante o processo de abate pelos inspetores do órgão
fiscalizador conforme a sua instância, no qual são avaliados para evitar que carnes
provenientes de animais doentes sejam comercializadas. (BRASIL, 2017)
O item 3 diz respeito aos profissionais que trabalham em atividades em contato com
esgoto em galerias e tanques. As galerias são encontradas nas ruas e logradouros. Os tanques

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localizam-se nas estações de tratamento de esgoto.


O saneamento básico é um dos meios mais importantes para a prevenção de doenças.
NUVOLARI (2003) destaca que o sistema de esgotamento sanitário compreende
desde a geração dos esgotos domésticos até a sua destinação final, tendo como principais
constituintes desta rede: ligação predial, rede coletora, coletores tronco, interceptores,
estações elevatórias, emissários, estação de tratamento e corpo receptor.
O esgoto pode ainda ser compreendido como os despejos provenientes das águas
vindas dos usos domésticos, industriais, comerciais, de áreas agrícolas, de superfície e outros
efluentes. JORDÃO (2009.
Segundo o MET – Ministério do Trabalho e Emprego, os principais microrganismos
presentes no esgoto são fungos, bactérias e vírus que podem causar enfermidades agudas ou
crônicas. Dentre as enfermidades agudas, predominam as doenças infecciosas diarréicas,
hepáticas e respiratórias. As crônicas são representadas principalmente pela asma brônquica e
pela alveolite alérgica. (apud DIONÍSIO, J. A., 2006)
Por fim, o item 4 abrange os profissionais que trabalham com o lixo urbano (coleta e
industrialização).
A coleta de lixo faz parte do processo de limpeza urbana das cidades.
A norma também é aplicável para os profissionais da indústria do lixo que mantém
contato com os materiais a serem segregados para a reciclagem, conhecidos como catadores
de lixo.
Um estudo de caso realizado por PORTO et al. (2004) em um aterro metropolitano no
Rio de Janeiro demonstrou que entre as doenças contraídas no período de avaliação,
destacaram-se as gripes e resfriados (24,4%); dores e problemas osteoarticulares (17,7%);
pressão alta (14,4%); problemas respiratórios (10,0%), além de outras com menores índices
como é o caso de acidentes, doenças de "nervo", dores estomacais e problemas cardíacos.
Vale ainda registrar a presença de um caso de hanseníase, que a pessoa entrevistada afirmou
ter sido adquirida no local de trabalho.
Em relação às doenças já contraídas em algum momento do passado, os entrevistados
apontaram principalmente os resfriados (88,1%), conjuntivite (45,6%), dengue (23,3%),
verminoses (22,3%), alergias (11,9%), problemas dermatológicos (11,4%). Além disso, foram
mencionadas asma, doenças sexualmente transmissíveis, hepatite, tuberculose e cólera.

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3. Metodologia

O estudo consiste de uma pesquisa exploratória e foi desenvolvido mediante pesquisa


bibliográfica nas bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Google
Acadêmico.
Como critério de inclusão, adotou-se somente as fontes cujas temáticas estão
relacionadas ao risco biológico no ambiente laboral e sobre a incidência de adicional de
insalubridade pela exposição ocupacional aos agentes biológicos.
Como critérios de exclusão, não foram considerados os estudos que embora tratassem
sobre doenças advindas por agente biológico, não fizessem uma ligação restrita destas com o
ambiente do trabalho.
A seleção dos itens do anexo XIV da NR 15 que foram discutidos ao longo deste
artigo corresponde à percepção da autora como os principais responsáveis por controvérsias
no entendimento, abrangência e aplicação da norma.
Esta percepção fora fundamentada através da consulta ao acervo de jurisprudências do
TRT – Tribunal Regional do Trabalho de todas as regiões na plataforma do site JusBrasil, no
qual verificou-se que os temas que envolvem o adicional de insalubridade em grau máximo
são em maior número objetos de discussão judicial em perícias.

4. Análise dos dados e discussão

O item 1 demonstra na realidade uma situação impraticável, visto que dificilmente os


hospitais dispõem de profissionais para atender de forma estritamente exclusiva aos pacientes
em condição de isolamento. O que normalmente se vê em ambientes hospitalares é a
alternância do atendimento por parte dos profissionais de saúde, ora em ambiente de
isolamento, ora nas demais áreas. O fato é justificado pela grande demanda por atendimento
médico nos hospitais e isto contribui de forma intensa para o favorecimento da transmissão
cruzada.
Outro ponto preocupante está relacionado ao caso dos odontólogos que estão
igualmente expostos a estes patógenos e não estão contemplados de forma específica na NR
15. Estes profissionais exercem suas atividades de certa forma “às cegas”, pois não possuem
rastreabilidade a respeito das condições de saúde dos pacientes.
Vale ressaltar que a ocorrência de um acidente do trabalho com material perfuro
cortante em um contato eventual com um paciente portador de doença infecciosa também
oferece risco de transmissão e contágio de doença.

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Em se tratando da qualidade do ar nestes ambientes, embora a ANVISA recomende a


realização de análise quantitativa para atestar a qualidade do ar em ambientes climatizados,
observa-se que não há uma legislação específica para os ambientes hospitalares que devido às
suas particularidades requerem parâmetros mais restritivos.
Desta forma, analisando o que a norma preconiza a insalubridade dificilmente será
considerada em seu grau máximo e sim como grau médio, devido ao fato de descaracterizar o
contato permanente.
A análise do item 2 demonstra que embora exista uma legislação que regulamente as
normas de saúde e segurança nas atividades de abate e processamento de carnes e derivados, o
risco de transmissão de doenças neste ambiente ainda constitui um fator de grande
preocupação. Isso pode ser evidenciado em decorrência de nem todos os estabelecimentos,
ainda que tenham certificação federal, estadual ou municipal, realizarem a inspeção “ante
mortem” para atestar a saúde dos animais.
A subestimação desta avaliação preliminar se deve ao fato dela não ser realizada pelos
inspetores federais, estaduais ou municipais. Desta forma, a rejeição de um animal infectado
para o abate se dá somente na inspeção “pós mortem” e isto contribui para o aumento da
transmissibilidade de doenças para os trabalhadores, pois o contato com os estes animais já
inicia-se desde à recepção.
A situação se torna ainda mais agravante em se tratando dos abatedouros clandestinos
que ainda são uma triste realidade no Brasil.
Ainda que a norma especifique somente três doenças como infectocontagiosa para
efeito de insalubridade, o trabalhador ainda está exposto a outras zoonoses que também
merecem atenção: teníase, hidatidose, leptospirose, toxoplasmose, salmonelose e antraz.
Estes fatos apontam para a necessidade de intensificar a fiscalização neste setor e a
implantação de medidas de prevenção realmente eficazes que garanta a preservação da saúde
e segurança dos trabalhadores e até mesmo do consumidor final.
O item 3 aborda uma atividade bastante costumeira no que diz respeito ao saneamento
básico, entretanto, ainda há uma deficiência de políticas públicas e medidas de prevenção de
doenças que garanta a saúde e segurança destes trabalhadores.
Há poucos estudos que decorrem sobre este assunto sendo, portanto, necessário um
olhar mais crítico para o trabalho realizado por estes profissionais.
Além disso, há um instrumento de controvérsia em relação ao adicional de
insalubridade para os profissionais que realizam a limpeza de banheiros e sanitários em
ambientes públicos, pois não se encontram claramente amparados pela legislação. Ora, o vaso

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sanitário pode ser conceituado como o início da rede de esgoto, e constitui um ambiente de
grande proliferação de agentes microbianos.
De forma similar aos trabalhadores que trabalham em contato com o esgoto, a análise
do item 4 revela que estes profissionais estão em contato com elevada carga microbiana em
suas atividades laborais. O lixo se qualifica como veículo para proliferação e disseminação
das mais variadas formas de doenças, desde Gripes e Dermatites até mesmo doenças mais
graves como, AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida e Hepatites.
No caso dos catadores de lixo, observa-se que nem sempre os profissionais têm
consciência de que as condições de trabalho a que estão expostos possuem estreita relação
com o surgimento de doenças ocupacionais, uma vez que, esses trabalhadores percebem o lixo
como fonte de sobrevivência.
Diferentemente de outros países que possuem políticas públicas bem definidas a
respeito da geração, destino e tratamento dos resíduos sólidos, o Brasil ainda não tem a coleta
seletiva implantada de forma sistêmica em seu território. Em países desenvolvidos é comum a
utilização de biodigestores até mesmo em residências para acelerar o processo de
decomposição da matéria orgânica e aperfeiçoar os produtos resultantes deste processo. Desta
forma, representa uma solução ideal para o tratamento dos resíduos sólidos orgânicos e
redução de microrganismos patogênicos no lixo doméstico e disseminação de doenças.
O descarte inadequado de materiais perfuro cortantes também configura um agravo
para a saúde destes trabalhadores. Há algumas legislações que ponderam sobre o descarte de
RSS – Resíduos de Serviços de Saúde, como por exemplo, a RDC N° 306 da ANVISA
(BRASIL, 2004), Resolução N° 358 do CONAMA (BRASIL, 2005) e preconizam que todo
estabelecimento que gera RSS deve elaborar um PGRSS - Plano de Gerenciamento de
Resíduos de Serviços de Saúde conforme as particularidades do resíduo gerado.
Um fator de risco que merece destaque neste contexto é o caso dos usuários de
insulina em domicílio que também geram RSS. A ausência de orientação técnica sobre o
acondicionamento e disposição final destes resíduos favorece o descarte inadequado e coloca
em risco a saúde e segurança dos coletores e catadores de lixo.
Várias são as atividades e situações ocupacionais que expõem os trabalhadores aos
riscos biológicos. Observa-se que no geral os empregadores insistem em implantar de forma
direta os EPI – Equipamento de Proteção Individual sem antes buscar medidas de proteção
coletiva através dos EPC – Equipamento de Proteção Coletiva, onde for aplicável, a fim de
possibilitar agir primordialmente nas condições insalubres do ambiente. Desta forma, haveria
uma redução de insalubridade nos ambientes de trabalho e consequentemente a

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“desmonetização” do risco e prevenção da saúde do trabalhador.

5. Conclusão

O estudo possibilitou abordar algumas particularidades da regulamentação do Risco


Biológico na legislação nacional e demonstrou de forma específica a relação da exposição
ocupacional a estes agentes com os adicionais de insalubridade em grau máximo praticados
atualmente.
No contexto nacional, pouco se avançou em termos de legislação no que concerne à
proteção da saúde e segurança dos trabalhadores que laboram em ambientes considerados
insalubres, em especial aos que trabalham em contado com agentes biológicos. A
“monetização do risco” ainda é uma triste realidade destes trabalhadores.
Todavia, o Brasil está isolado neste caminho de monetização. A tendência que se
confirma internacionalmente é no sentido da prevenção e evolução das políticas de saúde e
segurança com a perspectiva de redução e até mesmo eliminação do risco.
De forma geral, o anexo XIV da NR 15 apresenta lacunas questionáveis em diversos
aspectos. A forma de análise estritamente qualitativa não oferece embasamento do ponto de
vista prevencionista para garantir a proteção da saúde do trabalhador, pois não possibilita
quantificar o risco a que está efetivamente exposto. Outro aspecto a ser questionado está
relacionado ao seleto grupo de atividades que são contemplados na norma em detrimento de
outras que embora tenham contato com agentes biológicos, não possuem previsão legal. Além
disso, o contato permanente preconizado pela norma para fins de insalubridade não considera
que em um contato eventual pode haver o risco de transmissão de doenças.
Nesse sentido, é necessário que a legislação nacional se alinhe à tendência
internacional e busque pela redução dos riscos biológicos nos locais de trabalho.
Os meios para esta mudança pode estar no avanço da legislação, implantação de
políticas públicas relacionadas à saúde e segurança que garanta a proteção destes
trabalhadores e a disseminação do conhecimento.
Sem dúvida alguma, valorizar e preservar a vida do trabalhador através de medidas
preventivas tem maior valia do que recompensar monetariamente e negligenciar a
possibilidade de tornar o ambiente de trabalho um lugar saudável.

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Referências
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