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Seminário da Prática IV

Aula 2
As Faces da Estilística
Prof. Antonio Lemes Guerra
Junior
Doutor em Estudos da Linguagem (UEL)
Mestre em Estudos da Linguagem (UEL)
Graduado em Letras (UEL)
Objetivos da aula:
Apresentar as principais abordagens da Estilística,
a partir de estudos teóricos diversos;
estabelecer as bases para a análise estilística de
textos nos campos fonológico, lexical, sintático e
semântico.
As faces da estilística
Estilística do som ou fônica
Estilística da palavra ou léxica
Estilística da frase ou sintática
Estilística da enunciação ou semântica

(CÂMARA JUNIOR, 1978; MARTINS, 1989; MATTOS, 1969)


A estilística do som

Também chamada de fonoestilística, trata dos


valores expressivos de natureza sonora
observáveis nas palavras e nos enunciados.”

Os sons da língua – como outros sons dos seres –


podem provocar-nos uma sensação de agrado ou
desagrado ou ainda sugerir idéias, impressões.”

(MARTINS, 1989, p. 26)


“Um detalhe muda tudo.”
Vídeo

Trocando as trilhas sonoras

Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=9HhlIv8Gfi8
Motivação sonora

SIGNIFICANTE SIGNIFICADO
(fonema utilizado) (sentido produzido)
Não arbitrariedade do som linguístico

Imitação sonora
Tentativa de tradução de sons variados por meio de
sons da língua (onomatopeias).
Transferência sonora
Sugestão de impressões sensoriais não auditivas por
meio de sons linguísticos (sinestesia).
Correspondência articulatória
Correspondência entre movimentos articulatórios da
produção do som e a ideia que exprime.

(MARTINS, 1989)
O cérebro humano associa sons com ideias.

IMPRESSÃO INTELECTUAL


IMPRESSÃO SENSORIAL
Potencial expressivo dos fonemas

Vogais
[a] risadas, vozes altas, batidas, ideias
de claridade, brancura, amplidão
[é] [ê] [i] sons agudos, estridentes, ideias de
estreiteza
[o] [u] sons profundos, graves, cheios,
ideias de fechamento, escuridão
Potencial expressivo dos fonemas

Consoantes
Plosivos [p ] [t ] [k ] ruídos abruptos
[b ] [d ] [g ] batidas ou queda

Fricativos [f ] [s ] [x ] sopros e cochichos


[v ] [z ] [j ] ruídos continuados

Nasais [m] [n] [nh] roncos e gemidos

Vibrantes [r] [rr] prolongamento de


ruídos
Laterais [l] [lh]
Atividade

Que palavras representam bem os sons a que se


referem?
Aliteração e assonância

“Aliteração é a repetição insistente dos mesmos sons


consonantais, podendo ser eles iniciais, ou integrantes
da sílaba tônica, ou distribuídos mais irregularmente
nos vocábulos próximos. A repetição vocálica em
sílabas tônicas é a assonância.”
(MARTINS, 1989, p. 38)
Exemplos:
“Em tempo de tormenta e vento esquivo, De tempestade
escura e triste pranto.”
(Camões)

“Tíbios flautins finíssimos gritavam.”


(Bilac)
Homeoteleuto, eco e rima

O homeoteleuto é o aparecimento de uma terminação


igual em palavras próximas, sem obedecer a um
esquema regular. [...] O eco é um homeoteleuto não
intencional, não estético, que se costuma considerar
um vício de linguagem [...] A rima é a coincidência de
sons, geralmente finais de palavras, que se dá na
poesia, em conformidade a um esquema mais ou
menos regular.”
(MARTINS, 1989, p. 40-41)
Homeoteleuto, eco e rima
Exemplos:

“O sol cresce, amadurece.”

“eu não podia, por lei de rei...”


(Guimarães Rosa)

“A votação durou toda a sessão e o resultado


foi não.”
Onomatopeia

Num sentido mais limitado, onomatopéia significa a


reprodução de um ruído – ou mais modestamente a
tentativa de imitação de um ruído por um grupo de
sons da linguagem. É a transposição na língua
articulada humana de gritos e ruídos inarticulados.”

(MARTINS, 1989, p. 47)


Harmonia imitativa

Efeito que se estende ao longo de um enunciado, de um


fragmento de prosa, de um poema, e que resulta dum
aglomerado de recursos expressivos: peculiaridades dos
fonemas, repetições de fonemas, de palavras, de
sintagmas ou frase, do ritmo do verso ou da frase.”

(MARTINS, 1989, p. 50)


Harmonia imitativa
Exemplo:

Trem de Ferro

Café com pão


Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso maquinista?

(Manuel Bandeira)
Vídeo

Castelo Rá Tiim Bum - Trem de Ferro - Manuel


Bandeira

Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=4UWWxXUab7M
Vídeo

Trem de Ferro

Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=jgpNvpXNPRg
A estilística da palavra

A estilística léxica ou da palavra estuda os


aspectos expressivos das palavras ligados aos seus
componentes semânticos e morfológicos, os
quais, entretanto, não podem ser completamente
separados dos aspectos sintáticos e contextuais.”
(MARTINS, 1989, p. 71)
Palavras gramaticais
Uso estilístico/expressivo de artigos, pronomes e
advérbios para transmissão de efeitos de sentido
diversos.
Exemplos:
“Sei lá o que ele quer dizer...”

“Quero ser alguém na vida.”

“Estou com uma fome!”


Palavras lexicais
Uso estilístico/expressivo de substantivos,
adjetivos (e advérbios deles derivados) e verbos
para transmissão de efeitos de sentido diversos.
Exemplo:

“Mais do que um carro, o Opala Gran Luxo é um


privilégio [...] Acima de tudo, qualidade Chevrolet.”
(Anúncio do automóvel Opala - novembro/1971)
Tonalidade afetiva/emotiva das palavras

A tonalidade afetiva de uma palavra pode ser


inerente ao próprio significado ou pode resultar de
um emprego particular, sendo perceptível no
enunciado em razão do contexto, ou pela entoação
(enunciado oral) ou por algum recurso gráfico,
como aspas, grifo, maiúsculas/minúsculas, tipos de
impressão, e outros (enunciado escrito).”

(MARTINS, 1989, p. 78-79)


A linguagem figurada

O mais importante fator de afetividade é


certamente o emprego da linguagem figurada.”
(MARTINS, 1989, p. 90)

linguagem fi gurada


intenso poder expressivo
Metáfora

A metáfora é o emprego de um significante


com um significado secundário ou a
aproximação de dois ou mais significantes,
estando, nos dois casos, os significados
associados por semelhança [...].”
(MARTINS, 1989, p. 96)
Vídeo

Metáfora

Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=uBA1nUHJhI0#t=131
Sinônimos
“Palavras que têm significados idênticos ou
semelhantes aos de outras.”
Existem sinônimos perfeitos?

A MENINA É BONITA.

A MENINA É BELA.

A MENINA É LINDA.
Afirma-se comumente que não existem
sinônimos perfeitos, palavras intercambiáveis
em todos os contextos. Na verdade, de pouca
utilidade seriam duas ou mais palavras que
executassem exatamente o mesmo papel, que
exprimissem exatamente o mesmo sentido, a
mesma nota expressiva. Se isso,
eventualmente, chega a acontecer, uma delas
acaba sendo abandonada. Dentre uma
constelação de palavras que têm um mesmo
valor referencial, temos a possibilidade de
escolher a que, por uma peculiaridade
determinada, mais se ajusta ao pensamento,
ao contexto em que se deve inserir.”
(MARTINS, 1989, p. 104-105)
Atividade

SÉRIES SINONÍMICAS
Elaborem frases em que o verbo “deixar” apresente
os signifi cados de:
1) Separar-se, largar
2) Permitir
3) Cessar
4) Desistir
5) Adiar
6) Ceder
7) Omitir
A expressividade na formação de palavras
Pode-se obter efeitos expressivos pela utilização
de:
Neologismos
Derivações prefixais
Derivações sufixais
Derivações regressivas
Derivações impróprias
A estilística da frase

Na sintaxe, quem fala ou escreve escolhe entre os


tipos de frase, obedecendo a um número mais ou
menos restrito de regras rígidas.”
(MARTINS, 1989, p. 129)

À Estilística sintática interessa a consideração dessa


norma – dos tipos de frase que se podem formar – e
os desvios dela que constituem traços originais e
expressivos.”
(MARTINS, 1989, p. 130)
Possibilidades de sentido
O menino trabalha.
(fato verdadeiro; entoação descendente; frase declarativa)
O menino trabalha!
(fato que causa admiração, apreciação; entoação
ascendente; frase exclamativa)
O menino trabalha?
(fato que se quer esclarecer como verdadeiro ou falso;
entoação ascendente; frase interrogativa)
Ó, menino, trabalha.
(fato desejável, ordem; pausa após o vocativo, curva
melódica mais acentuada no verbo, elevação e queda mais
intensas; frase imperativa)
(MARTINS, 1989, p. 131)
Frases incompletas

Frases inorgânicas, inarticuladas, elípticas.”


(MARTINS, 1989, p. 145)

Exemplos:
“Silêncio.”
“Atenção.”
“Caramba!”
“Cada macaco em seu galho.”
“Casa de ferreiro, espeto de pau.”
Elipses

[...] “elipse é a brevidade da expressão resultante de


alguma coisa que se deixou de dizer, ou por se ter dito
em outra frase, oração ou sintagma, ou por outra razão
de ordem afetiva ou estética.”
(MARTINS, 1989, p. 152)
Exemplos:
“- Ele vem jantar?” “- Não disse.”

“Bento ficou sério. Até mais simpático.”


(Guimarães Rosa)

“Tu vendeu a mulher, é capaz de vender até hóstias de


Deus, seu filho de uma!”
(Guimarães Rosa)
Pleonasmos
Pleonasmo = Redundância

“Considera-se redundância o fato de uma


informação ser transmitida por uma quantidade de
signos linguísticos superior ao essencialmente
necessário. [...] Embora supérfluos, os elementos
redundantes têm a sua razão de ser, visto que
compensam as perturbações na transmissão de
mensagens (ruídos).”
(MARTINS, 1989, p. 157)
Pleonasmos
Exemplos:

“Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de


Portugal!”
(Fernando Pessoa)

“E sorria o sorriso descuidoso dos invencíveis.”


(Monteiro Lobato)
Ordem dos termos nas frases
A ordem de um termo, na estrutura do enunciado,
pode instaurar alterações de sentido e, portanto,
constitui um importante recurso estilístico.
Advérbios:
Desgraçadamente, o homem perdeu todos os seus
bens.
O homem, desgraçadamente, perdeu todos os seus
bens.
O homem perdeu, desgraçadamente, todos os seus
bens.
O homem perdeu todos os seus bens,
desgraçadamente.
Ordem dos termos nas frases
Adjetivos:
O homem grande não cabia no carro.
O grande homem foi considerado herói.
Concordância

“A concordância tem na língua portuguesa particular


importância [...] além de ser um fato gramatical, é
também um fato estilístico, o que quer dizer, mais
rebelde à sistematização.”
(MARTINS, 1989, p. 181)

Concordância estilística


“ultrapassa os limites da correção e atende a
necessidades expressionais”
Concordância
Exemplos:

“Viu um casal de noivos, na flor da vida, que se


debatiam já com a morte...”
(Machado de Assis)

“Mas a gente é sertanejos, ou não é sertanejos?”


(Guimarães Rosa)
A estilística da enunciação

“Enunciação é um ato de comunicação verbal. Um


indivíduo põe em funcionamento a sua língua para
dizer alguma coisa a outro(s) indivíduos(s). [...] O
produto da enunciação é o enunciado, sequência
acabada de palavra de uma língua emitida por um
falante.”

“A Linguística da Enunciação pesquisa – no


enunciado – as marcas dos vários elementos
relacionados com a enunciação: situação, contexto
sócio-histórico, locutor, receptor, referente.”
(MARTINS, 1989, p. 189)
Poema do amor moderno
Referências
CÂMARA JUNIOR, Joaquim Mattoso. Contribuição
à estilística portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Ao
Livro Técnico, 1978.
MARTINS, Nilce Sant’Anna. Introdução à
estilística: a expressividade na língua portuguesa.
São Paulo: T.A. Queiroz; Edusp, 1989.
MATTOS, Geraldo. Estilística da língua
portuguêsa. Curitiba: Escola Construtural, 1969.

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