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CULTURA

10 gênios que viviam na mais completa (e harmoniosa)


desordem
Acumulavam objetos seguindo uma linha temporária, sua própria
personalidade transbordante ou deixando-se levar por alguma obsessão.
Só as mentes geniais podem encontrar a ordem nesse caos

RAQUEL PIÑEIRO

17 FEV 2019 - 20:01 BRT

Proliferam as teorias que relacionam diretamente a criatividade à


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desordem, pelo menos tanto quanto as que vinculam ter um espaço
de trabalho organizado com a produtividade e a capacidade de
realizar o trabalho. Seja você partidário de que um pouco de
bagunça é imprescindível para desenvolver a imaginação ou seja
você pró-Marie Kondo, é surpreendente ver a quantidade de gênios
que trabalharam ou viveram, muitas vezes misturando as duas
coisas, mergulhados no caos.

Francis Bacon - Concentrar-se e reconcentrar-se


Por que resolvemos
fazer faxina e
arrumação quando
O acúmulo de pincéis, latas de tinta e objetos variados nos estúdios
estamos estressados?
dos pintores é uma constante, mas no caso do britânico de origem
irlandesa, há uma coisa particularmente impressionante: o tamanho
reduzido de seu espaço de trabalho, apenas um quarto com
claraboia. Bacon manteve durante toda sua vida uma preferência
pelos lugares pequenos. Chegou a comprar um apartamento
Jogar fora um objeto
espaçoso e luminoso, mas pouco tempo depois acabou voltando
por dia vai fazer você
se sentir melhor para apartamento de um quarto e cozinha.

Recriação fidedigna do estúdio londrino de Francis Bacon realizada em Dublin com objetos do pintor. GETTY

Anos atrás, Anthony Cronin deu uma explicação muito freudiana para a preferência do
pintor pelos espaços estreitos e escuros: aparentemente, quando era criança, Bacon
ficava muitas vezes sob os cuidados de uma babá ou uma amiga de sua mãe que tinha
um relacionamento com um jovem soldado. Quando ele a visitava, o casal queria estar
sozinho, mas o pequeno Francis os interrompia constantemente, o que levou a mulher a
resolver trancá-lo em um armário no andar superior, onde ele permanecia durante
horas. Daí a fixação posterior do artista pela estreiteza.

Gómez de la Serna − ‘Horror vacui’

ARQUIVO ALFONSO SÁNCHEZ PORTELA

Um dos espaços míticos da Madri literária − descrito, por exemplo, no romance Las
Máscaras del Héroe (as máscaras do herói), de Juan Ramón de Prada − era o escritório
do criador das greguerías, a famosa torre no número 4 da rua Velázquez, no atual Hotel
Wellington. Ali se acumulavam bugigangas, máscaras, espelhos, a famosa boneca de
cera de tamanho natural com a que convivia… As imagens da época mostram o escritor
e humorista preso em um autêntico horror vacui que o levava a colecionar
compulsivamente todo tipo de imagens e a cobrir com colagens e fotomontagens seus
pertences. Os objetos originais se perderam quando Gómez de la Serna se mudou para
Buenos Aires, mas pode ser visitada uma recriação no Museu de Arte Contemporânea
de Madri.

Hanne Darboven − Coleções em camadas

Uma das mesas do estúdio de Darboven, a quem o Reina Sofía dedicou uma exposição em 2015, recriando a
metódica desordem de seu lugar de trabalho. FELIX KREBS | HANNE DARVOBEN FOUNDATION

Não é de estranhar que a artista conceitual conhecida por suas obras cheias de listas de
números e anotações tivesse certa compulsão por armazenar objetos. As casas em que
viveu − do grande lar herdado de seu pai até sua residência em Nova York − tiveram
como constante as mesas que ela ia enchendo de objetos. Quando ocupava totalmente
uma, passava para outra, como registro e medida da passagem do tempo. O Museu
Reina Sofía dedicou uma exposição à sua casa-estúdio, na qual se comprovou que a
artista estava rodeada não só por séries de calendários, anotações e desenhos, como
também por bonecos, instrumentos musicais e souvenirs do mundo todo.

Alexander Calder − O gênio da sucata


GETTY

As imagens do luminoso estúdio de Calder em Roxbury, Connecticut, poderiam parecer


tiradas do depósito de um ferreiro ou soldador. Comparada com os bancos de
ferramentas organizados milimetricamente ou com as ferramentas de bricolagem
dispostas metodicamente que povoam páginas como Pinterest, a oficina de Calder é
uma homenagem ao caos: peças metálicas, de madeira ou de materiais sintéticos
amontoadas ao lado de ferramentas de todo tipo, pinturas, tábuas e fios, das quais
surgem de vez em quando algumas de suas famosas esculturas móveis. Caos, sim, mas
um caos prolífico, capaz de dar origem a algumas das peças mais representativas do
século XX.

Jackson Pollock − Um estúdio que é um Pollock em si mesmo


Se alguém desconhecesse a técnica e o tipo de pintura que desenvolvia Pollock, uma
visita à sua casa e estúdio em Springs, Nova York, daria uma ideia bastante aproximada
de qual foi a marca registrada do grande pintor do expressionismo abstrato. Embora a
casa mantenha a ordem e a arrumação que se espera em uma família mais ou menos
convencional, no estúdio do jardim, uma construção de madeira projetada para guardar
equipamentos de pesca, está espalhada a criatividade de Pollock. As paredes, o chão e o
teto estão cheios das salpicos com que ele encheu suas grandes telas, e nas fotografias
da época se vê como se acumulavam dezenas de latas de tinta abertas. A
consequência? O estúdio é, muito mais que outros espaços de trabalho de grandes
pintores, um Pollock em si mesmo.

Lloyd Kaufman - Escritórios de filmes B


TROMA

Seria uma decepção ver que o fundador e diretor da Troma, uma das mais lendárias
produtoras de filmes B, trabalha em um espaço minimalista e imaculado. Felizmente,
nosso desejo se cumpre e seus escritórios são exatamente o compêndio de máscaras de
látex, figuras de papelão, fitas horríveis, merchandising antigo e objetos a ser
identificados.

Mark Zuckerberg − Uma mesa ‘vivida’


FACEBOOK

As imagens do polêmico do criador do Facebook trabalhando em seu escritório são


infinitamente analisadas, e delas se tiram principalmente duas lições. Primeira: você
precisa tapar a webcam do seu computador. Segunda: uma mesa de trabalho
desorganizada, “vivida”, normal, na qual se acumulam livros, cabos e garrafas de
Gatorade, não é incompatível com ser multimilionário.

Tony Hsieh − A falta de tempo... para arrumar


ZAPPOS

Se há um escritório de um empreendedor digital de hoje que merece estar nesta lista, é


o de Tony Hsieh, CEO da empresa de roupa online Zappos. Objetos espalhados entre
plantas que enfeitam a típica zona de trabalho que os empresários de seu nível usam
cada vez mais: um espaço compartilhado com seus funcionários, sem paredes e
diáfano, indistinguível do resto. No caso dele, além disso, sua mesa repleta de coisas é
um reflexo direto da agenda cheia, supomos, de seu dono.

Bernard Buffet − Personalidade e pintura transbordantes


GETTY

A pintura do chamado “primeiro mega-artista moderno”, tão famoso em sua época


como Picasso, milionário desde jovem e considerado um emblema da “nova França” ao
lado de Brigitte Bardot, saía da tela, enchendo as paredes e o chão de seus estúdios e
salpicando todos os objetos que ele acumulava a seu redor. Suas imagens trabalhando
rodeado por esse monte de coisas ajudaram a fortalecer sua aura de artista de
personalidade transbordante.

Louise Bourgeois − A agressividade do íntimo

Os dois andares adjacentes no bairro nova-iorquino de Chelsea nos quais a artista viveu
com sua família permanecem praticamente inalterados desde sua morte, em 2010,
como uma cápsula do tempo. De um lado, uma galeria e biblioteca em que se expõem
alguns de seus trabalhos e do outro, a residência, que não está aberta ao público em
geral, mas cujas fotos mostram a tênue desordem em que viveu a autora das icônicas
esculturas de aranhas. Um espaço no qual a domesticidade foi desaparecendo − ela
deixou de usar o forno depois da morte de seu marido, em 1973 − para se transformar
em um espaço de trabalho.

AMERICAN FEDERATION OF ARTS

A caixa de pinturas desarrumada, tal qual ela a deixou; a parede descascada


transformada em um mural em que pendurava recortes, fotografias (com Damien Hirst
ou Bono) e cartas; lembranças e bugigangas acumuladas nos cantos e, sobre a lareira,
números de telefone escritos por ela diretamente na parede. Um espaço tão íntimo e
agressivo como a própria obra de sua proprietária.

Adere a

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Síndrome Diógenes · Marie Kondo · Espaços trabalho · Criatividade · Decoração lar · Casa lar · Psicologia
· Condições trabalho · Bem-estar · Estilo vida · Trabalho
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