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RAQUEL PIÑEIRO
Recriação fidedigna do estúdio londrino de Francis Bacon realizada em Dublin com objetos do pintor. GETTY
Anos atrás, Anthony Cronin deu uma explicação muito freudiana para a preferência do
pintor pelos espaços estreitos e escuros: aparentemente, quando era criança, Bacon
ficava muitas vezes sob os cuidados de uma babá ou uma amiga de sua mãe que tinha
um relacionamento com um jovem soldado. Quando ele a visitava, o casal queria estar
sozinho, mas o pequeno Francis os interrompia constantemente, o que levou a mulher a
resolver trancá-lo em um armário no andar superior, onde ele permanecia durante
horas. Daí a fixação posterior do artista pela estreiteza.
Um dos espaços míticos da Madri literária − descrito, por exemplo, no romance Las
Máscaras del Héroe (as máscaras do herói), de Juan Ramón de Prada − era o escritório
do criador das greguerías, a famosa torre no número 4 da rua Velázquez, no atual Hotel
Wellington. Ali se acumulavam bugigangas, máscaras, espelhos, a famosa boneca de
cera de tamanho natural com a que convivia… As imagens da época mostram o escritor
e humorista preso em um autêntico horror vacui que o levava a colecionar
compulsivamente todo tipo de imagens e a cobrir com colagens e fotomontagens seus
pertences. Os objetos originais se perderam quando Gómez de la Serna se mudou para
Buenos Aires, mas pode ser visitada uma recriação no Museu de Arte Contemporânea
de Madri.
Uma das mesas do estúdio de Darboven, a quem o Reina Sofía dedicou uma exposição em 2015, recriando a
metódica desordem de seu lugar de trabalho. FELIX KREBS | HANNE DARVOBEN FOUNDATION
Não é de estranhar que a artista conceitual conhecida por suas obras cheias de listas de
números e anotações tivesse certa compulsão por armazenar objetos. As casas em que
viveu − do grande lar herdado de seu pai até sua residência em Nova York − tiveram
como constante as mesas que ela ia enchendo de objetos. Quando ocupava totalmente
uma, passava para outra, como registro e medida da passagem do tempo. O Museu
Reina Sofía dedicou uma exposição à sua casa-estúdio, na qual se comprovou que a
artista estava rodeada não só por séries de calendários, anotações e desenhos, como
também por bonecos, instrumentos musicais e souvenirs do mundo todo.
Seria uma decepção ver que o fundador e diretor da Troma, uma das mais lendárias
produtoras de filmes B, trabalha em um espaço minimalista e imaculado. Felizmente,
nosso desejo se cumpre e seus escritórios são exatamente o compêndio de máscaras de
látex, figuras de papelão, fitas horríveis, merchandising antigo e objetos a ser
identificados.
Os dois andares adjacentes no bairro nova-iorquino de Chelsea nos quais a artista viveu
com sua família permanecem praticamente inalterados desde sua morte, em 2010,
como uma cápsula do tempo. De um lado, uma galeria e biblioteca em que se expõem
alguns de seus trabalhos e do outro, a residência, que não está aberta ao público em
geral, mas cujas fotos mostram a tênue desordem em que viveu a autora das icônicas
esculturas de aranhas. Um espaço no qual a domesticidade foi desaparecendo − ela
deixou de usar o forno depois da morte de seu marido, em 1973 − para se transformar
em um espaço de trabalho.
Adere a
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Síndrome Diógenes · Marie Kondo · Espaços trabalho · Criatividade · Decoração lar · Casa lar · Psicologia
· Condições trabalho · Bem-estar · Estilo vida · Trabalho
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