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29/12/2018 Retrospectiva STJ: os principais julgamentos de 2018

STJ

Retrospectiva STJ: os principais julgamentos de 2018


Corte julgou o caso mais antigo do país, criminalização do não recolhimento de ICMS e guarda
compartilhada de pets

MARIANA MUNIZ
JAMILE RACANICCI

26/12/2018 07:28 BRASÍLIA

Ministros do STJ. Crédito Sandra Fado

O ano de 2018 no Superior Tribunal de Justiça (STJ) teve espaço para a resolução de
um con itos centenários, como a briga de mais de 123 anos entre a União e a
Família Real brasileira pela posse do Palácio Guanabara, e contemporâneos, como a
regulamentação da guarda compartilhada de animais de estimação.

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Na Corte Especial, houve a decisão que restringiu o foro privilegiado para


governadores e conselheiros de tribunais de contas aos casos relativos ao cargo.

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Com relação aos desembargadores o foro, também por decisão da Corte Especial,
permaneceu no STJ.

Em matéria processual, a Corte Especial fez leituras do Código de Processo Civil de


2015 (CPC/15) e paci cou temas que vinham gerando dúvidas. É o caso, por
exemplo, do julgamento sobre o agravo em recurso especial que não rebate todos
os fundamentos da decisão. Ou da de nição sobre a taxatividade mitigada do rol do
artigo 1.015 do CPC/15.

Já em matéria criminal, o tribunal mudou sua jurisprudência e passou a considerar


que a condenação prévia por porte de drogas para uso pessoal não serve para gerar
agravante de reincidência.

Na intersecção da esfera penal com a tributária, o STJ decidiu que é crime não
recolher o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) próprio, ainda que
declarado.

Em outro julgamento aguardado tanto pela Fazenda e quanto pelos contribuintes, a


Corte de niu que o critério da essencialidade e da relevância determina o conceito
de insumos para permitir créditos de PIS e Co ns – decisão cujo impacto scal é
estimado em R$ 50 bilhões.

Leia, a seguir, seleção do JOTA dos principais julgamentos do STJ em 2018.

Restrição do foro para governadores e conselheiros de


tribunais de contas
Em junho de 2018, a Corte Especial decidiu limitar a prerrogativa de foro para
governadores e conselheiros de tribunais de contas aos casos relacionados ao
mandato e em função do cargo. Os ministros concluíram pela restrição após
decisão do STF que, em maio, restringiu a prerrogativa de foro para deputados e
senadores para crimes relacionados ao cargo e durante o mandato.

Com a decisão da Corte Superior, os processos envolvendo governadores ou


conselheiros que não tiverem relação com os cargos serão baixados para primeira
instância. Só carão no tribunal os casos que estiverem em fase de alegações nais,
perto de serem concluídos.

A restrição da prerrogativa de foro começou a ser debatida no STJ por meio de uma
denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o conselheiro do Tribunal de
Contas do Distrito Federal Márcio Michel Alves de Oliveira pelo crime de fraude no
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pagamento por cheque. Como resultado, os autos foram baixados para a primeira
instância.

Com relação aos governadores, a questão foi de nida na Ação Penal 866, que
envolvia o governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB). No caso, o governador
paraibano Ricardo Coutinho é investigado pela suposta prática de 12 crimes de
responsabilidade cometidos enquanto era prefeito de João Pessoa, em 2010. Os
ministros consideraram que os delitos não têm relação com o exercício do cargo de
governador e mandaram o processo para o Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB).

Manutenção do foro de desembargadores no STJ


Ao contrário do que aconteceu com os governadores e conselheiros de tribunais de
contas, os desembargadores que cometerem crimes comuns e de responsabilidade,
mesmo que não tenham sido praticados em razão do cargo, continuarão sendo
julgados pelo STJ. A Corte Especial seguiu o voto do relator, ministro Benedito
Gonçalves, para quem o foro especial tem por nalidade também resguardar a
imparcialidade necessária ao julgamento, uma vez que evita o con ito de interesses
entre magistrados vinculados ao mesmo tribunal.

Além dos desembargadores, a decisão contempla todos os crimes cometidos por


juízes de segundo grau dos TRFs, TRTs e TREs. De acordo com a Corte Especial, o
foro de desembargadores no STJ será aplicado sempre que um desembargador
acusado da prática de crime sem relação com o exercício do cargo vier a ser julgado
por juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal que ele.

A manutenção do foro privilegiado foi decidida em uma questão de ordem no


julgamento de uma ação penal — APn 878 — envolvendo o desembargador Luís
César de Paula Espíndola, do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, acusado de
lesão corporal contra a mãe e a irmã.

No início da discussão, ainda em agosto de 2018, Gonçalves apontou que “ser


julgado por juiz com duvidosa condição de se posicionar de forma imparcial, a nal,
violaria a pretensão de realização de justiça criminal de forma isonômica e
republicana”.

Condenação prévia por porte de droga para uso próprio


não gera reincidência
Em uma guinada jurisprudencial, o STJ passou a considerar em 2018 que a
condenação prévia por porte de droga para consumo próprio, nos termos do
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artigo 28 da Lei de Drogas, não deve constituir causa geradora de reincidência. As


decisões vieram tanto da 5ª quanto da 6ª Turma – colegiados que compõem a 3ª
Seção.

No Recurso Especial 1.672.654/SP, julgado em agosto pela 6ª Turma, a ministra


Maria Thereza de Assis Moura considerou ser “inequivocamente desproporcional” a
consideração para ns de reincidência, tendo em vista que a posse, embora seja
crime, é punida com medidas de natureza extrapenal.

Para a ministra, “em face dos questionamentos acerca da proporcionalidade do


direito penal para o controle do consumo de drogas em prejuízo de outras medidas
de natureza extrapenal relacionadas às políticas de redução de danos,
eventualmente até mais severas para a contenção do consumo do que aquelas
previstas atualmente, o prévio apenamento por porte de droga para consumo
próprio, nos termos do artigo 28 da Lei de Drogas, não deve constituir causa
geradora de reincidência”.

No Habeas Corpus 453.437/SP, o ministro Reynaldo Soares da Fonseca ponderou


que se as contravenções penais, puníveis com pena de prisão simples, não geram
reincidência, “mostra-se desproporcional o delito do artigo 28 da Lei n. 11.343/2006
con gurar reincidência, tendo em vista que nem é punível com pena privativa de
liberdade”. O caso foi analisado pela 5ª Turma em outubro.

Tendo em vista que a reincidência foi o único fundamento para não aplicar a
diminuição da pena no caso que estava sendo julgado, Fonseca aplicou a redutora. É
que, para a aplicação da causa de diminuição de pena do artigo 33, § 4º, da Lei n.
11.343/2006, o condenado deve preencher, cumulativamente, todos os requisitos
legais: ser primário, de bons antecedentes, não se dedicar a atividades criminosas
nem integrar organização criminosa.

Insumos de PIS e Co ns são itens essenciais à atividade


produtiva
Neste que é considerado o julgamento de 2018 na área tributária tanto por
representantes da Fazenda quanto dos contribuintes, a 1ª Seção do STJ determinou
que, no regime não-cumulativo do PIS e da Co ns, as empresas podem tomar
créditos dos bens e serviços essenciais à atividade produtiva. Mais alinhada à
posição defendida pelos contribuintes, a decisão que de niu o conceito de insumos
tem impacto scal estimado pela União em R$ 50 bilhões somente em 2015,
segundo informações que constam na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de
2019.
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A 1ª Seção concluiu o julgamento do recurso especial repetitivo nº 1.221.170 em


fevereiro deste ano por maioria de cinco votos a três. Os ministros estabeleceram a
tese de que o conceito de insumo se de ne pelos critérios da essencialidade e da
relevância – ou seja, a importância do item para o contribuinte realizar o processo
produtivo e gerar receitas.

A decisão afastou instruções normativas alinhadas com a interpretação mais


restritiva da Receita Federal. Para permitir a tomada de crédito, o órgão exigia que o
bem ou serviço considerado insumo fosse diretamente empregado e consumido no
produto nal.

Em novembro de 2018, a 1ª Seção também negou provimento aos embargos de


declaração interpostos pela Fazenda Nacional. A União alegava que o conceito de
insumos de nido pelo STJ poderia ser usado, “numa interpretação super cial e
desavisada”, para englobar despesas cujo creditamento é proibido por lei. Entretanto,
os ministros entenderam que os argumentos trazidos nos embargos eram novos,
não impugnados na fase de análise do recurso especial.

Não recolher ICMS é crime, mesmo no caso de tributo


declarado
Em agosto de 2018, a 3ª Seção do STJ decidiu que é crime não recolher o Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em operações próprias, ainda
que o tributo tenha sido declarado à scalização. Ao denegar o habeas corpus nº
399.109, os ministros entenderam que o contribuinte que deixar de pagar o ICMS
próprio pode ser responsabilizado por apropriação indébita tributária, que consta no
rol de crimes contra a ordem tributária. De acordo com a lei nº 8.137/1990, a pena é
de seis meses a dois anos de prisão, com pagamento de multa.

Por maioria de seis votos a três, os ministros entenderam que pratica o crime o
contribuinte que não pagar o ICMS, mesmo que tenha informado corretamente à
scalização o valor devido aos cofres públicos estaduais. A defesa alegava, por
outro lado, que a ação de declarar e não recolher o imposto caracterizaria apenas
inadimplemento scal, e não crime.

Tal qual se dá com a apropriação indébita em geral, o


fato de o agente registrar, apurar e declarar em guia
própria ou em livros scais o imposto devido não tem
o condão de elidir ou exercer nenhuma in uência na
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prática do delito, visto que este não pressupõe a


clandestinidade
Ementa do acórdão no HC 399.109

Rol do artigo 1.015 do CPC tem taxatividade mitigada


A Corte Especial decidiu, em dezembro de 2018, que o rol do artigo 1.015 do
Código de Processo Civil de 2015 tem taxatividade mitigada e admite a
interposição de agravo de instrumento quando veri cada urgência. Isso signi ca que
são permitidas outras hipóteses de admissão do recurso que não estão enumeradas
no artigo.  Desde agosto a Corte buscava de nir a natureza do artigo 1.015, que trata
das situações nas quais é possível às partes de um processo propor agravo de
instrumento.

Por um placar apertado – sete votos a cinco – venceu o entendimento da relatora do


recurso repetitivo, ministra Nancy Andrighi. “O rol do artigo 1.015 do CPC é de
taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento
quando veri cada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no
recurso de apelação”, diz a tese.

Segundo a relatora, “a taxatividade do artigo 1.015 é incapaz de tutelar


adequadamente todas as questões em que pronunciamentos judiciais poderão
causar sérios prejuízos e que, por isso, deverão ser imediatamente reexaminadas
pelo segundo grau de jurisdição”. A ideia, de acordo com Andrighi, é “possibilitar a
recorribilidade imediata de decisões interlocutórias fora da lista do art. 1.015 do
CPC, sempre em caráter excepcional e desde que preenchido o requisito urgência”.
Para a ministra, o uso da interpretação extensiva ou analógica dos incisos do artigo
1.015 do CPC não são su cientes para dar conta de todas as situações.

Requisitos para o uso do Incidente de Deslocamento de


Competência
Em decisão de 8 de agosto de 2018, a 3ª Seção – quase por unanimidade –
indeferiu o Incidente de Deslocamento de Competência 14, em que a Procuradoria-
Geral da República (PGR) pedia a transferência da Justiça estadual do Espírito Santo
para a Justiça Federal a apuração de condutas e eventual responsabilização dos
o ciais da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo envolvidos em uma greve
ocorrida em 2017.

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Segundo a PGR, a greve acarretou grave violação de direitos humanos prevista em


tratado internacional do qual o Brasil é signatário e apresentou um risco de
responsabilização internacional do Estado brasileiro em razão incapacidade das
instâncias locais em investigar de forma isenta e efetiva dos fatos.

Para a 3ª Seção, porém, o IDC possui natureza processual, com características de


excepcionalidade e subsidiariedade. Na decisão do STJ, em que cou vencido
apenas o ministro Ribeiro Dantas, a inércia das instâncias locais e o risco de
responsabilização internacional são requisitos correlacionados – este pressupõe
aquele – a serem justi cados sob critérios objetivamente aferíveis.

Segundo a ministra Maria Thereza de Assis Moura, autora do voto vencedor,


“ausente prova de leniência, inércia ou falta de comprometimento das instâncias
locais em processar e julgar os crimes militares próprios objeto do IDC, inviável se
cogitar sobre o risco de responsabilização internacional do Estado brasileiro”. “A
incapacidade das instâncias locais em realizar uma persecução penal efetiva sobre
os fatos deve ser justi cada sob critérios objetivamente palpáveis”, disse.

Ainda de acordo com Maria Thereza, “o deslocamento não aparelha busca


conveniente por uma melhor jurisdição, mas a transferência necessária de uma
jurisdição inerte, ine caz, para uma outra potencialmente capaz de acautelar a
responsabilização do Estado brasileiro no plano internacional”.

A PGR recorreu da decisão do STJ e apresentou um recurso extraordinário para ser


julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O recurso extraordinário foi admitido
pelo presidente do STJ, ministro João Otávio de Noronha. A PGR sustenta que há
repercussão geral da questão e aponta violação direta ao artigo 109, § 5º, da
Constituição Federal, pela possibilidade de responsabilização internacional do Brasil
diante do “elevado risco de contaminação do aparato estadual para a apuração do
ocorrido”. O RE 1181371 foi protocolado no STF no último dia 10/12.

Contestação serve para impedir estabilização da tutela


antecipada
A 3ª Turma interpretou de forma ampla o artigo 304 do Código de Processo Civil
de 2015 e entendeu que outras formas de impugnação, como a contestação,
servem para impedir a estabilização da tutela antecipada. A questão foi discutida no
recurso especial 1.760.966/SP e decidida em dezembro de 2018.

No caso, a controvérsia estava em saber se o juiz de primeiro grau, após analisar as


razões apresentadas na contestação, poderia reconsiderar a decisão que havia
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deferido o pedido de tutela antecipada requerida em caráter antecedente, nos


termos dos artigos 303 e 304 do CPC de 2015, a despeito da ausência de
interposição de recurso pela parte no momento oportuno.

“É de se observar que, embora o caput do artigo 304 do CPC de 2015 determine que
‘a tutela antecipada, concedida nos termos do artigo 303, torna-se estável se da
decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso’, a leitura que deve
ser feita do dispositivo legal é que a estabilização somente ocorrerá se não houver
qualquer tipo de impugnação pela parte contrária”, apontou o relator do caso, Marco
Aurélio Bellizze.

Para o ministro, o artigo 304 do CPC de 2015 disse “menos do que pretendia dizer”,
razão pela qual “a interpretação extensiva mostra-se mais adequada ao instituto,
notadamente em virtude da nalidade buscada com a estabilização da tutela
antecipada”.

“Nessa perspectiva, caso a parte não interponha o recurso de agravo de instrumento


contra a decisão que defere a tutela antecipada requerida em caráter antecedente,
mas, por exemplo, se antecipa e apresenta contestação refutando os argumentos
trazidos na inicial e pleiteando a improcedência do pedido, evidentemente não
ocorrerá a estabilização da tutela”, entendeu.

Segundo Bellizze, não é possível que ocorra estabilização quando há recurso. Caso
contrário, haveria um estímulo à interposição de agravos de instrumento,
sobrecarregando os tribunais. “Da mesma forma, tal situação também acarretaria
um estímulo desnecessário no ajuizamento da ação autônoma, prevista no artigo
304, a m de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada”,
argumentou.

Guarda compartilhada de animal de estimação


A 4ª Turma de niu, em junho de 2018, que é possível regulamentar judicialmente o
direito de visitas ao animal que pertencia a um casal. A decisão foi inédita e
garantiu a um dos ex-cônjuges o direito de visitar o animal de estimação que um dia
foi dos dois. Com o entendimento, o STJ manteve as visitas regulamentadas pelo
Tribunal de Justiça de São Paulo e permitiu que as duas pessoas participem da
criação do pet.

No caso, um homem foi à Justiça pedir para que continuasse vendo a cadelinha
adquirida durante união estável. Com a separação, o bichinho cou com a ex-
companheira. A decisão do STJ não chegou a equiparar a guarda de animal de

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estimação à guarda de lhos. Conforme o entendimento dos ministros, caberá ao


juiz de primeira instância regular a forma de visitação.

Para o relator do caso no STJ, ministro Luís Felipe Salomão, a ideia por trás da
decisão é garantir que “não se está frente a uma coisa inanimada”, sem, no entanto,
estender aos animais de estimação a condição de “sujeito de direito”.  “Reconhece-
se, assim, um terceiro gênero, em que sempre deverá ser analisada a situação
contida nos autos, voltado para a proteção do ser humano, e seu vínculo afetivo com
o animal”, apontou o relator.

“Os tribunais do país têm se deparado com situações desse jaez, com divórcios e
dissoluções de relações afetivas de casais em que a única divergência está
justamente na de nição da custódia do animal”, a rmou Salomão em seu voto. A
discussão se deu no recurso especial nº 1.713.167/SP.

Responsabilidade de transportadora de passageiros por


episódios de assédio sexual
Em decisão inédita, o STJ responsabilizou a Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM) – responsável pela gestão dos trens da capital paulista e da
região metropolitana – pelo assédio sexual sofrido por uma passageira dentro de
um dos vagões do transporte coletivo.

A agressão ocorreu em 2014, quando a vítima embarcou na estação Guaianazes,


pertencente à linha 11. A decisão é de maio de 2018. A CPTM foi condenada a
indenizar a mulher em R$ 20 mil. Ela foi importunada por um homem que esfregou o
pênis em suas nádegas enquanto ela tentava se locomover. Ao se queixar com o
agressor, a vítima foi hostilizada pelos demais passageiros do trem, que a
chamaram de “sapatão”. O assediador era um menor de 16 anos, que chegou a ser
detido pela equipe da CPTM.

A decisão da 3ª Turma do STJ representa uma guinada na jurisprudência do tribunal.


Há anos a Corte vem decidindo que o transportador não responde pelos danos
sofridos pelos passageiros seja em virtude do arremesso de pedras contra o ônibus,
ou em razão de assalto a mão armada no interior do coletivo, por exemplo.

Mas no caso do assédio sexual, a maioria dos ministros entendeu que o dano –
mesmo praticado por terceiro – tem conexão com as atividades prestadas pela
transportadora, que deveria zelar para que seus passageiros fossem levados de
maneira incólume até o local de destino.

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“O ciclo histórico que estamos presenciando exige um passo rme e corajoso. É


papel do julgador, sempre com olhar cuidadoso, tratar do abalo psíquico ocorrido em
decorrência da prestação de transporte. Não pode o ministro assumir uma postura
comodista, e deve questionar a jurisprudência”, a rmou a relatora do caso, ministra
Nancy Andrighi.

A CPTM “nada mais fez para evitar que esses fatos ocorram, para reduzir a
incidência desses eventos ultrajantes, como a disponibilização de mais vagões”,
apontou a relatora. De acordo com ela, entre janeiro e dezembro de 2017 houve um
aumento de 35% com relação ao mesmo período de 2016 no número de assédios
registrados apenas na estação Guaianazes.

“A prestação do serviço de transporte de passageiros vem propiciando eventos de


assédio sexual”, denunciou Andrighi. “Não se pode deixar de ouvir o grito por socorro
das mulheres, vítimas dessa prática odiosa que é o assédio.” 

O caso foi julgado no recurso especial nº 1.662.551/ SP.

STJ só vai admitir recurso que impugne todos


fundamentos da decisão
A Corte Especial decidiu em 2018 não admitir agravo em recurso especial que não
rebata todos os fundamentos da decisão. O chamado agravo em recurso especial é
usado para demonstrar o motivo pelo qual está errada a decisão que negou
seguimento ao recurso especial. Ele serve para submeter a questão ao STJ.

Os ministros julgaram, em conjunto, os Embargos de Divergência nos Agravos em


Recurso Especial (EAREsp) 701.404, 746.775 e 831.326. Os recursos tratavam da
necessidade de impugnação especí ca, em agravo, de todos os fundamentos da
decisão que inadmite recurso especial.

Na Corte Especial, o entendimento xado foi de que a decisão agravada não pode
ser dividida e, portanto, deve ser impugnada em sua integralidade. Ou seja, a parte
deve fazer a impugnação especí ca de todos os argumentos. A partir de agora, para
que o recurso seja admitido, a defesa deverá rebater todos os pontos da decisão e
não apenas da parte que busca a reforma de entendimento no tribunal.

Em processo mais antigo do país, STJ diz que Palácio


Guanabara é da União

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Em quase quatro horas de julgamento, a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça


(STJ) julgou a disputa de 123 anos entre a família imperial brasileira e a União sobre
o Palácio Isabel, hoje Palácio Guanabara, sede do governo do estado Rio de Janeiro.
Por unanimidade, a Corte entendeu que a posse e a propriedade do edifício é da
União.

O processo, que chegou ao Judiciário em 1895, é considerado o mais antigo, ainda


em tramitação, do Brasil. Todos os ministros da Turma seguiram o voto do relator,
Antonio Carlos Ferreira, para quem o palácio, que serviu de moradia para a princesa
e seu marido, o Conde d’Eu, teve origem em recursos do tesouro nacional.

O relator não viu “caracterizada concessão aos ilustres descendentes a qualquer


direito de propriedade”, já que normas infraconstitucionais do império consideravam
o palácio um “próprio nacional residencial”, destinado somente à habitação do
Conde e da Condessa d’Eu.

A decisão do STJ mantém acórdão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região


(TRF2), que reconheceu que a família real possuía o domínio para uso e habitação,
mas que a propriedade sempre foi do Estado.

Os Recursos Especiais 1.149.487 e 1.141.490 discutiam se o Palácio da Guanabara,


no Rio de Janeiro, estava incluído, quando da proclamação da República, em 15 de
novembro de 1889, entre os bens privados da família imperial, ou, se era bem
público destinado apenas à moradia, que teria perdido essa nalidade com o m da
monarquia no Brasil.

MARIANA MUNIZ – Repórter


JAMILE RACANICCI – Repórter

Os artigos publicados pelo JOTA não refletem necessariamente a opinião do site. Os textos
buscam estimular o debate sobre temas importantes para o País, sempre prestigiando a
pluralidade de ideias.

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