1) Quais as alterações fisiopatológicas encontradas na zona de penumbra do
AVE? Com base nisto, que tipos de intervenções podem ser feitas para reduzir a área de dano após o AVE? Uma região cerebral de baixa perfusão e que perdeu seu potencial de membrana(foco de infarto cerebral/núcleo isquêmico) é rodeada por uma área na qual a perfusão intermediária vigora(zona de penumbra) e as células despolarizam intermitentemente(despolarização peri-infarto). Além disso, há acidose respiratória, expressão gênica seletiva, diminuição da síntese protéica e, em relação à área cerebral infartada, melhor aproveitamento de glicose e maior extração de oxigênio. Nessa zona de penumbra, o anel de tecido moderadamente isquêmico é chamado de penumbra isquêmica e, embora as células cerebrais permaneçam viáveis por mais tempo do que as do núcleo isquêmico, elas também morrerão, se permanecerem privadas de fluxo sangüíneo adequado. As intervenções a serem feitas têm o caráter de suprimir algumas das manifestações bioquímicas citadas acima, como fornecer um melhor fluxo sangüíneo cerebral (para obter uma melhor oxigenação local) e reduzir, em níveis adequados, o nível arterial da pressão parcial de dióxido de carbono.
2) Quais os mecanismos fisiopatológicos estão envolvidos na gênese da
enxaqueca? Qual a relação destes com os tratamentos disponíveis? Recentemente, extensas pesquisas sobre o mecanismo da enxaqueca nos mostraram a existência de duas teorias. Com o trabalho de Harold Wolff e col. foi confirmado que o responsável pelos sintomas da aura enxaquecosa é a vasoconstrição intracraniana. A cefaléia é decorrente da dilatação de rebote e da distenção dos vasos cranianos, bem como da ativação dos axônios nociceptivos perivasculares. Esta teoria é por causa dos seguintes eventos: 1- Ocorre a distensão dos vasos extracranianos e estes pulsam durante um ataque de enxaqueca em vários pacientes, mostrando a importância primaria dos vasos cranianos. 2- Podemos causar cefaléia ipsilateral pela estimulação dos vasos intracranianos em pacientes sadios. 3- As substâncias que promovem vasoconstrição, como os alcalóides do esporão do centeio abortam a cefaléia e os vasodilatadores como os nitratos, podem provocar um ataque. A hipótese alternativa, a teoria neurogênica, identifica o cérebro como o gerador da enxaqueca e afirma que a suscetibilidade em qualquer indivíduo aos ataques de enxaqueca reflete limiares intrínsecos para o cérebro. As pessoas que defendem a hipótese neurogênica observam que as crises de enxaqueca são, amiúde, acompanhadas por vários sintomas neurológicos focais (na aura) e vegetativos (no pródromo) que não podem ser simplesmente explicados pela vasoconstrição em uma única distribuição neurovascular. Observações atuais clínicas e experimentais sugerem que o cérebro, embora geralmente insensível, consegue ativar ou sensibilizar (direta ou indiretamente) as fibras do nervo trigêmio nas meninges. Em algumas formas de enxaqueca, eventos neurofisiológicos endógenos no neocórtex (como os que ocorrem durante a aura) promovem a liberação de substâncias nociceptivas (ex. potássio, prótons e metabólitos do araquidonato) do neocórtex para o espaço intersticial. Nos espaços de Virchow- Robin, as substâncias liberadas acumulam-se, atingindo níveis suficientes para ativar ou sensibilizar as fibras trigeminovasculares que circundam os vasos da pia-máter que suprem o neocórtex em drenagem. Com a homeostase normal, o cérebro mantém, rigorosamente o equilíbrio do seu ambiente extracelular, e os íons ou transmissores liberados pelos compartimentos celulares são rapidamente captados na glia e nos neurônios em velocidades que mantêm constantes os níveis desses íons, transmissores w neuromoduladores. Antes do início da cefaléia, os mecanismos associados a oligemia disseminada podem aumentar a liberação de várias substâncias, bloquear a captação e a inativação – aumentado, assim, os níveis extracelulares -, bem como oprimir os mecanismos normais de depuração. As substâncias liberadas podem deflagar ou sensibilizar pequenas fibras nociceptivas não-mielinizadas, assim como deflagar a cefaléia ou sensibilizar aferentes perivasculares para fatores transmitidos pelo sangue ou outros fatores ainda não identificados. A latência da cefaléia (20 a 40 minutos), observada na enxaqueca, refletiria o tempo necessário a que os níveis extracelulares excedam um limiar para despolarização axonal. A conduta terapeutica para enxaqueca consiste em intervenção farmacológica e não-farmacológica. O tratamento não-farmacológico envolve técnicas de modificações de comportamento, como evitar fatores deflagradores (ex.ingestão de determinados alimentos ou aditivos alimentares, cheiros fortes ou luz brilhante) e estabelecimento de refeições regulares e padrões de sono consistentes. O tratamento farmacológico da enxaqueca inclui terapia abortiva, administrada para encurtar o ataque ou diminuir a intensidade da cefaléia. Depressão da propagação Trabalhos levaram à hipótese de que a enxaqueca resulta de uma depressão de propagação da atividade elétrica cortical (“depressão de propagação de Leão”). A depressão de propagação é um fenômeno elétrico observado em espécies não humanas e ocorre no córtex cerebral, em resposta a estímulos nocivos. Uma redução focal na atividade elétrica e um aumento no fluxo sangüíneo são observados, os quais propagam-se através do hemisfério na velocidade de 2-3 milímetros por minuto. Alterações serotoninérgicas A serotonina, 5-HT, é uma amina biogênica neurotransmissora que foi responsabilizada pela patogenia da enxaqueca. Foi descrito que os níveis plasmáticos e plaquetários de 5-HT variam durante as diferentes fases da crise de enxaqueca. Ao mesmo tempo, são excretados na urina grandes quantidades de 5- HT e de seus metabólitos, no decorrer de muitas crises de cefaléia. O manejo farmacológico da crise depende de sua intensidade e produz melhor resultado se iniciado precocemente. Para formas leves de enxaqueca, analgésicos simples(aspirina e acetaminofeno) podem ser suficientes. Na falha desses, ou em enxaquecas moderadas, são usadas associações de acetaminofeno e codeína ou AINEs. Como inibidores da ciclooxigenase, estes diminuem a síntese de prostaglandinas, envolvidas na gênese da crise dolorosa. Nas dores moderadas, também se usam associações com isometepteno(simpaticomimético vasoconstritor menos eficaz que a ergotamina, mas sem efeitos indesejáveis). Nas crises intensas esporádicas, a ergotamina, ou diidroergotamina, é a droga de escolha. Produz vasoconstrição da artéria carótida externa e de seus ramos, bem como de artérias extracranianas. É agonista não seletivo, interagindo com receptores adrenérgicos 1 e 2, dopaminérgicos e serotoninérgicos(5-HT 1 e 5-HT 2). A diidroergotamina, de eficácia similar, constringe modestamente artérias periféricas, mas é potente vasoconstritor. Ergóticos são comumente comercializados em associação com outros analgésicos, barbitúricos, anticolinérgicos ou com cafeína. O sumatriptano, agonista seletivo dos receptores 5-HT 1, com alta afinidade para os subtipos 5-HT 1D e 5-HT 1B, tem igual eficácia em crises intensas. Seu mecanismo de ação é especulativo, sugerindo-se que bloqueie a transmissão neural em fibras trigeminovasculares, desencadeie resposta neuroinflamatória, bem como module a liberação de neurotransmissores em terminais neuronais.