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Goiânia
2008
II
Goiânia
2008
III
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Revalino Antônio de Freitas - Universidade Federal de Goiás/FCHF/DCS
______________________________________________________________________
Jordão Horta Nunes – Universidade Federal de Goiás/FCHF/DCS
Orientador
IV
AGRADECIMENTOS
RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO: A PARTIDA.................................................................................. p. 01
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................p.49
5 REFERÊNCIAS....................................................................................................p.51
6 ANEXOS
ANEXO A – Questionário da pesquisa
ANEXO B – Roteiro da entrevista da pesquisa
ANEXO C – Termo de consentimento livre e esclarecido
1
INTRODUÇÃO: A PARTIDA
Certa vez1 Pierre Bourdieu afirmou que se tivesse que caracterizar seu trabalho
em duas palavras ele falaria: estruturalismo construtivista ou construtivismo
estruturalista. A base estruturalista presente nas obras de Bourdieu advém das tradições
saussuriana e lévi-straussiana que concebem a existência de estruturas sociais objetivas
que independem dos indivíduos, ainda assim a partir da influência da base construtivista
considera que os modos de agir, pensar e sentir dos indivíduos são cunhados
socialmente. A admissão da relação dialética do social nesta perspectiva demonstra o
esforço teórico de Bourdieu para superar a oposição entre sociedade e indivíduo e
objetividade e subjetividade. Esta visão é que direciona o pensamento sociológico de
Bourdieu e é também o que pretendo tratar aqui do ponto de vista da teoria do habitus e
das considerações recentes feitas por alguns autores, como Bernard Lahire e Claude
Dubar, sobre a teorização de Bourdieu. Para tanto começarei com uma apresentação
dos conceitos básicos de Bourdieu para a teoria do habitus para depois apresentar
algumas ressalvas e críticas quanto sua teorização.
O conceito de “espaço social” de Bourdieu é para mim uma boa maneira de
iniciar a explicitação da teoria do habitus. O espaço social é construído em cada
momento histórico por princípios de diferenciação social e trata-se de um conjunto de
posições sociais que coexistem e são relativas umas às outras (perspectiva relacional e
estruturalista); por meio deste conceito é possível visualizar as disposições físicas de
cada grupo no espaço social. Por sua vez, a posição social é caracterizada pela
quantidade que cada indivíduo possui de “capital cultural” e “capital econômico”2, o
primeiro refere às qualidades intelectuais produzidas e transmitidas no processo da
socialização e o segundo pelos bens econômicos que cada um tem, sendo que um pode
converter no outro. A transposição dos dois capitais exprime o capital global, dá base
1
Em uma conferência proferida na Universidade de San Diego, 1986 (BOURDIEU, 1990).
2
Existem ainda o “capital social” referente aos relacionamentos sociais que cada um logra e os
pertencimentos a grupos; o “capital político” fundamenta grupos que podem ser capazes de manipular as
estruturas objetivas da vida social e o “capital simbólico” diz das capacidades de persuadir os outros
indivíduos a uma determinada visão de mundo (BOURDIEU, 1998)
5
3
Dubar faz restrições à utilização do termo “identidade” já que este tende a ser visto de forma a-histórica
e ambígua, no entanto o autor afirma não ter encontrado um termo que melhor sintetizasse a problemática
abordada no livro e era uma maneira de prosseguir e formalizar o seu conceito de “formas identitárias”.
9
funcionam aqui como tipos ideais, na realidade essas duas formas sociais se misturam e
até confundem-se. A abordagem sociológica das identidades sociais proposta por Dubar
será desenvolvida a seguir, por hora basta mencionar que Dubar admite como ponto
central para a construção das identidades a articulação dessas duas transações –
relacional e biográfica. Trata-se da dupla identificação, para si e para o outro,
desenvolvidas nas relações entre si próprio e o outro daí a interdependência das formas
de identidades e das formas de alteridade4.
Dubar questiona a existência de um movimento histórico que propicia a
mudança de um modo de identificação para outro, presume-se então que são
interligadas as transformações sociais e as transformações de identidade. A partir desta
hipótese Dubar utiliza clássicos da literatura das ciências sociais, na tentativa de captar a
maneira como emergem figuras identitárias típicas e significativas em um dado
momento histórico. Para tanto analisa três processos susceptíveis de modificação de
modos de identificação: o Processo Civilizador de Norbert Elias, que assinala a noção
de identidade “Nós-Eu”; o Processo de Racionalização de Weber que marca a passagem
da formas coletivas a formas individuais de identificação e o Processo de Libertação de
Marx e Engels, em que se defende um processo revolucionário nas relações de
dominação e a passagem das sociedades comunitárias pré-capitalistas as sociedades
comunistas pós-capitalistas.
A complexificação das formas societárias e diversificações das disposições
incorporadas têm como conseqüência múltiplas formas identitárias e formas de
alteridade. Diante deste panorama, tanto a posição adotada por Dubar quanto por Lahire
acerca da teoria do habitus remetem à relevância dos aspectos da vida pessoal para as
análises sociológicas. Na tentativa de apreender as tensões constitutivas dos processos
identitários, Dubar estima as subjetividades nos processos sociais vivenciados e teoriza
sobre a identidade social dos indivíduos. Já Lahire, influenciado pela psicanálise e
preocupado com as singularidades da vida social, visa o âmago, aspira mais fundo -
uma Sociologia Psicológica, que discorra sobre as experiências negativas, atos de
recalque, atos de repressão dos indivíduos.
A partir da reconstrução teórica presente no livro A socialização Dubar ressalta
o caráter social das identidades, que tradicionalmente são tratadas como fenômenos
4
Tomás Tadeu da Silva afirma que a identidade depende da diferença e vice e versa, nem uma nem a
outra são autônomas, ou seja, não podem ser concebidas por si só. A afirmação de uma identidade, como
ato lingüístico, expressa uma sucessão de identidades descartadas em um sistema simbólico em que estão
envolvidas relações de poder (2000).
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5
Stuart Hall afirma que a identidade nacional é indispensável para a construção da identidade cultural de
um país e que estas identidades são constituídas por meio dos sistemas de representação cultural –
discursos – que influenciam a ação dos indivíduos e produzem sentimentos. Os discursos demarcam as
diferenças nacionais e a disputa por poder. Já Renato Ortiz, representante brasileiro da sociologia da
cultura, defende que a identidade de um país está entrelaçada à cultura nacional do mesmo. A identidade
nacional se constitui de uma pluralidade de identidades com diferentes níveis de poder, é resultado,
portanto de uma construção simbólica.
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6
A categorização segundo atributos pessoais é constante no processo comunicativo e serve como
referência para o que é considerado normal. As antecipações e expectativas – demandas normativas
apresentadas – que temos do que uma pessoa é, é denominado identidade social virtual, o que realmente a
pessoa vem a ser é denominado identidade social real. Goffman teoriza sobre o fosso entre essas duas
identidades e conceitua esta lacuna existente como “estigma”.
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Toda pessoa se apresenta aos outros e a si mesma, e se vê nos espelhos dos julgamentos que eles
fazem dela. As máscaras que ela exibe então e depois ao mundo e a seus habitantes são
moldados de acordo com o que ela consegue antecipar de seus julgamentos. Os outros se
apresentam também, usam as suas próprias marcas de máscara e, por sua vez, são avaliados
(1999, p. 29).
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A luta por reconhecimento toma corpo no cenário político no fim do século XX, quando a sociedade
civil logra das primeiras políticas afirmativas, graças às pressões exercidas nas instituições políticas e
sociais quanto ao reconhecimento das diferenças. Enquanto as políticas afirmativas lutam pelo
reconhecimento social, as políticas de transformação, mais comuns, lutam pelas redistribuições sociais de
bens e serviços (FRASER, 2001). Por sua vez Axel Honneth também teoriza sobre a luta por
reconhecimento, considerando as influências negativas do não reconhecimento no plano da vida prática,
ou seja, as conseqüências na identidade pessoal (HONNETH, 2003).
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entre as múltiplas dimensões da identidade dos indivíduos, a dimensão profissional adquiriu uma
importância particular. Por ter se tornado um bem raro, o emprego condiciona a construção das
identidades sociais, por passar por mudanças impressionantes, o trabalho obriga a
transformações delicadas; por acompanhar cada vez mais todas as modificações do trabalho e do
emprego, a formação intervém nas dinâmicas identitárias por muito tempo além do período
escolar (2005).
especificas dos consumidores cada vez mais exigentes. Portanto, o setor de serviços e a
informalidade emergem com a intensificação do processo de industrialização e
complexificação da sociedade e é demarcado pela heterogeneidade e especialização das
atividades prestadas.
Estes pressupostos explicitam caracterizações das mudanças no mundo do
trabalho, como o declínio do trabalho assalariado e, por conseguinte o aumento das
atividades não assalariadas, principalmente em ocupações de baixa qualificação, além
de trabalhos sem carteira assinada em empresas de menor porte (MORAIS, 2006).
Cada qual de sua forma (serviços e informalidade) demarcam possibilidades imperativas
de inserção sócio-econômica no tecido social. O setor de serviços assinala duas
direções: uma delas é articulada a serviços modernos, de alta tecnologia e que exige
profissionais qualificados a outra, e em contraposição, emerge como uma perspectiva de
sobrevivência e requer pouca qualificação. Cabe ressaltar que as mudanças do mundo
do trabalho não atingem todos de modo equivalente, principalmente atinge aqueles
menos favorecidos socialmente, os “inúteis ao mundo” como denomina Castel (1999).
Comumente, no Brasil, estes tendem a se acomodarem no setor informal da economia e
em segmentos tradicionais (Cf. MELO, 1998 e MORAIS, 2005); portanto, ficam à
margem dos benefícios e seguridades sociais proporcionados pela formalidade.
Entretanto sob tais circunstâncias encontram abrigo contra o desemprego e alternativas
de sobrevivência.
Os trabalhadores de baixa qualificação padecem da herança escravocrata do
nosso país, continuam a exercer atividades desprivilegiadas e praticamente não logram
reconhecimento social. Compreendem esses serviços aqueles relacionados aos serviços
pessoais: manutenção e reparação, limpeza e conservação, serviços de alimentação,
serviços domésticos, serviços de beleza, dentre outros. Além disso, devem se adequar
às mutáveis formas de organização do trabalho e contratação nesses setores e ainda
conviver com as diversas disparidades sociais (tecnológicas, econômicas, culturais).
Ainda que a expansão destes dois fenômenos seja inquestionável e compreenda
importantes transformações no mundo do trabalho do século XX, a produção científica
sobre os serviços e a informalidade ainda é escassa, principalmente no que se refere à
sociologia do trabalho, que ainda abrange principalmente o setor produtivo. Entretanto é
fundamental a análise sociológica que se refere à relação entre práticas de consumo e
cultura do trabalho, haja vista que, ao lado e até acima da posição ocupada pelo trabalho
como elemento diferenciador nas relações sociais está o consumo, como marcador e
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1) serviços distributivos: atende a demanda das empresas após o processo produtivo finalizado,
as atividades de distribuição dos bens, transporte, comércio, armazenagem;
2) serviços produtivos: atende a demanda das empresas durante o processo produtivo, são por
natureza produtos intermediários, seguro, serviços bancários, serviços jurídicos, propaganda e
publicidade, comunicação, corretagem;
3) serviços pessoais: atende a demanda individual, hotelaria, restaurantes/bares, cabeleireiros,
domésticos;
4) serviços sociais: atende a demanda coletiva, educação, saúde, lazer, administração
pública. (Cf. MELO,1998).
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Mesmo assim não é consenso na literatura que serviço é o que não produz bens materiais. Ruy Braga,
inspirado na vertente marxista, sustenta que serviço é um tipo de produção, é uma forma imaterial de
“produtividade” (BRAGA, 2006).
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9
Atualmente a frota de motocicletas de Goiânia em números proporcionais é a maior do país,
corresponde a uma motocicleta para cada oito pessoas da cidade, e em números absolutos está atrás
apenas da cidade de São Paulo. (ASSIS, 2006).
10
Em 1997 o Conselho Nacional de Trânsito (CONATRAN) classificou a motocicleta como veículo
inapropriado para transportar passageiros. Após um ano o Departamento Nacional de Trânsito
(DENATRAN) repassou a responsabilidade da institucionalização do serviço de mototáxis para a esfera
municipal, mesmo que o processo de regularização envolva atribuições de todas as instâncias do país (a
municipal determina regras de segurança, a estadual licencia o veículo e a federal habilita o condutor).
Ainda assim o Supremo Tribunal Federal considerou que o serviço de mototáxi era inconstitucional,
22
13
O artigo 31 do regulamento determina as proibições relativas ao serviço de mototáxi e expressa os
conflitos existentes entre os interessados, as CPS não podem se instalarem e nem mototaxistas
estacionarem por mais de quinze minutos a uma distância inferior que cem metros de terminais de
transporte coletivo ou de pontos oficiais de táxi ou mototáxi. (GOIÂNIA, 2004).
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14
A escala Likert consiste na tentativa de situar indivíduos em relação aos outros, trata-se de uma escala
de respostas medida do extremo positivo ao extremo negativo, a escala serve como instrumento de
medida para individualizar comportamentos e opiniões (DOISE, 2001, p.188; REA; PARKER, 2000, p.
243). No questionário usamos cinco categorias de respostas, mas a escala passou a ter apenas três
respostas após a análise dos questionários do pré-teste, que indicou que as respostas confluíram
majoritariamente para os extremos, perdendo, portanto a validade da escala.
15
Em anexo está o questionário e o roteiro de entrevistas utilizado na pesquisa empírica.
25
3.3 “Dá pra viver, não dá pra ricá”: o perfil social dos informantes
16
O gráfico de distribuição, boxplot, avalia a simetria dos dados, demonstra a concentração dos casos da
variável, a dispersão dos mesmos nos quartis e a extremidade dos casos.
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Gráfico 2
27
declara Dorival17 “Dá pra viver, não dá pra ricá” ou Pedro “Ser mototaxista é uma droga
irreversível, nunca mais sai dessa vida, por causa do dinheiro que a gente ganha”.
17
Os nomes dos informantes são fictícios.
18
“As representações sociais são sempre tomadas de posição simbólicas, organizadas de maneiras
diferentes. As representações sociais são os princípios organizadores de relações simbólicas entre atores
sociais. Trata-se de princípios relacionais que estruturam as relações simbólicas entre indivíduos e grupos,
constituindo ao mesmo tempo um campo de troca simbólica e uma representação desse campo (DOISE,
2001, p.193).
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se nunca fez uma curva a 100km/h enquanto levava um fino de um taxista raivoso na contramão
de uma rua movimentada ás 6 horas da tarde no carona desses seres fantásticos.. E se vc admira
esses cavaleiros urbanos, justiceiros prontos a obliterar qualquer malfeitor na rua com
capacetadas e cadeiras de bar.. podendo mesmo até destruir o PCC, dominar o tráfico de drogas
no Brasil, derrubar o governo e impor uma nova ditadura, mas que têm muitas partidas de damas
e baralho pra jogar do que se preocupar com essas futilidades.. Junte-se a nós! O santuário dos
mototaxistas amarelos.
Alô amigos sem veículo próprio, e que adoram aventuras repentinas aqui no Pará ou em outros
Estados. Aqueles que viajam poeticamente na noite e sentem aquele cheiro oculto de capacete
compartilhado por todos. Apresento-vos "Eu adoro Mototaxi",Venha, junte-se a nós:Agora ou
nunca!!
Eu acho que a moto é o seguinte, eu acho que, igual o cara pilota o avião dele lá, a moto da gente
é mais ou menos isso, é bom, dá uma sensação boa, você ligar a moto ali dá uma sensação boa.
Oh, um exemplo, você tá no trânsito ali, aqueles carros passando e você vai e enfia no meio e
vira aquele angu de caroço e sai lá do outro lado, é bom. É uma sensação, uma adrenalina boa.
Às vezes cê passa um susto aqui, começa a cair dali, vai embora e é bom, sei que é bom.
Olha no meu ambiente de trabalho o que me deixa satisfeito é poder fazer um serviço bem feito,
ter um cliente satisfeito, você deixa o cliente no horário certo, você presta um serviço pra ele,
você vê que o cliente ficou satisfeito, isso me deixa satisfeito também, porque eu gosto de ver,
como é que fala? Eu gosto de ser prestativo, então é muito bom.
33
Desde os sete anos eu já vendia picolé, engraxava. Aí trabalhei numa fábrica de cabide no
intervalo desses oito anos pra nove. Aí depois dez, onze anos eu trabalhei num açougue, meio
período. Aí depois trabalhei numa oficina mecânica. Então... só que eu nunca dei certo com
patrão. Eu nunca dei certo com patrão. A hora que eles vinham me encher o saco eu já saía do
serviço. Pra você ver, minha carteira nesse tempo todinho ela é assinada duas vezes só, pouco
tempo. Uma vez foi dois anos, da outra vez foi seis meses, porque eu nunca dei conta. Aí eu
conheci o mototáxi! (Walter)
Sim, sim, eu me identifico, porque o seguinte, eu já tive vários tipos de trabalho, eu sempre fui
auxiliar de contabilidade, auxiliar administrativo, já trabalhei em grandes empresas, grande
porte, como Govesa, já trabalhei na Somafértil, já trabalhei na VASP, não era exatamente a
VASP, mas era uma terceirizada da VASP que prestava serviço aqui em Goiânia, então eu já
trabalhei em varias empresas de grande porte, mas sempre trabalhei assim não gostando do que
eu fazia, certo? Eu trabalhava mais assim pelo dinheiro, pelo salário, pra ter uma estabilidade.
Hoje não, hoje eu sou mototaxista, a gente sabe que não é um salário fixo, mas graças a Deus,
Deus tem abençoado a gente, e eu me identifico muito com o mototaxista, conheço bem Goiânia,
conheço assim vários setores de Goiânia (...) Então assim, eu gosto de ser mototaxista, é um
trabalho assim que você não fica preso naquele local, local de trabalho, naqueles quatro paredes,
você sai, às vezes você pega alguma viagem pra fazer, ah isso aí é uma maravilha, você viajar
pra algum lugar trabalhando, ganhando dinheiro e ainda conhecendo aqueles lugares lindos que
você conhece. (Josué)
Trabalhei desde os onze anos, trabalhei como feirante. Fiz muitos cursos, tentei uma vaga de
emprego no mercado, nunca consegui. Aí sempre trabalhei de ambulante, aí consegui fazer
cursos, trabalhei de costureira. Fiz informática básica, eu fiz montagem e manutenção de micro,
fiz, de informática eu fiz muitos cursos. Fiz corte e costura, fiz curso de cabeleireira. Então,
diploma lá eu tenho um monte. Só que eu nunca consegui emprego fixo de carteira assinada. Aí
eu vi que eu podia muito bem aprender a andar de moto e ia conseguir ter uma renda que se eu
fosse trabalhar pra alguém eu não ia ter e que eu trabalhando de mototaxista eu ia poder, além de
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trabalhar, buscar a minha filha na escola, levar ela pra algum lugar. Isso que num serviço a gente
fica presa lá e não pode fazer. Ai, também de ficar saindo. Você vai pra outros lugares você
conhece pessoas diferentes, então é muito bom. (Elizabeth)
Eu saí de lá por causa do salário alto, eu tava com três mil e quinhentos na carteira mais hora
extra que eu fazia e tirava na faixa de mil e quinhentos, eles me mandaram embora pra contratar
três com meu salário e ainda sobrou dinheiro, os caras que eu ensinei, eu ensinei os caras o
serviço e eles tão lá até hoje, um é até gerente.
Voltou então a trabalhar com pintura e lanternagem, sua primeira ocupação, mas
não se sentiu satisfeito e então resolveu fazer um trabalho temporário na CPS de um
amigo de infância enquanto recebia o seguro desemprego; iria ficar apenas três meses,
até terminar de receber o seguro. No entanto já trabalha como mototaxista há um ano e
meio e o vocabulário de motivos já foi incorporado. Ricardo se identifica com a
atividade, pois nela está conhecendo outra faceta de sua personalidade já que o
nervosismo teve que ser minado para dar lugar à paciência necessária à atividade, mas,
contrariamente aos três mencionados logo atrás, sente-se preocupado com a família
devido à instabilidade financeira da ocupação. Gostaria mesmo é de ter estudado e
exercer advocacia, mas aos dezesseis anos teve seu primeiro filho e foi obrigado a
trabalhar e deixar os estudos.
Houve maior dispersão em relação à identificação de aspectos negativos da
atividade pelos informantes. Nota-se que cada um privilegiou algumas características
que estavam mais latentes na situação vivida e na memória subjetiva Apenas alguns
aspectos podem ser considerados como elementos constitutivos do vocabulário de
motivos; os outros expressam avaliações individuais (STRAUSS, 1970) sobre a
atividade exercida e não assumem papel social típico.
Alguns perigos são característicos da atividade de mototáxi, como os relativos a
assaltos e ao trânsito. Muitas vezes o mototaxista não conhece o passageiro e a chamada
pode ser na verdade um trote, uma armadilha; percebe-se então a criação de estratégias
por parte dos mototaxistas para reduzir os perigos da atividade. Gilmar relata uma delas:
“Dependendo a gente dispensa cliente, porque a profissão já é arriscada aí chega um
cara estranho, que quer ir pra longe, eu não arrisco, invento uma desculpa, falo que
tenho cliente marcado, que estou indo embora.”. Já o trânsito é considerado o maior
inimigo do mototáxi, pois além da motocicleta não ser considerada um veículo seguro19
existem os abusos e a neurose do trânsito que tornam a atividade ainda mais arriscada.
Com certeza o maior transtorno da atividade é o acidente, pois o mototaxista pode se
19
No discurso comum diz-se que o pára-choque de moto é a testa do motoqueiro ou ainda que o pára-
choque de motoqueiro é o peito no chão, ou, de forma mais intensa, que moto é sinônimo de morte na
certa.
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20
A cobrança das corridas é indicada pela SMT e o cálculo é de acordo com os quilômetros percorridos
durante a corrida. No período da institucionalização do serviço tentou-se incorporar na motocicleta um
taxímetro, mas a tentativa foi em vão. A ausência do taxímetro implica em uma negociação maior dos
preços e, portanto um grau maior de pessoalidade na prestação do serviço.
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poucas corridas para a central e para os mototaxistas. Quando indagado sobre o seu
ambiente de trabalho, Tonie respondeu:
Na Central é muito relativo isso aí... Quando está bom de corrida está todo mundo feliz, todo
mundo ganhando dinheiro, todo mundo sorrindo pra as paredes. Mas quando dá uma parada aí às
contas começam aumentar... Aí tem uns estressadinhos que já começam a fechar a cara para um
lado e reclamar de tudo. Mas eu não tenho muito o quê reclamar não.
Na Central às vezes é meio custoso, porque em todo lugar a gente vê que tem diversos tipos de
pessoas, tem aquela pessoa mais ranzinza, pessoas mais exigentes, pessoas falsas querendo puxar
o seu tapete, em todo lugar é assim. Aqui somos 25 motoqueiros, posso dizer que 20 salvam,
mas os outros 5... São pessoas velhas, impossível de conviver com elas, mas infelizmente você
tem que lidar com qualquer tipo de pessoa. (Geraldo)
Olha aqui na central, no meu ambiente de trabalho, a gente trabalha com pessoas desleais, até
meio dissimuladas, que não tem um pouco de educação. Assim, a gente trabalha com homem, os
caras não respeita. Você está aqui dentro comendo, o cara chega, um sem educação, e arrota. Eu
não arroto aqui, mas os meninos chega e arrota, eu tô comendo um chega e arrota, solta um gás
ai. O que me chateia mais é a falta de educação dos meninos, a falta de compreensão um com
outro. Eu falo para eles a gente passa mais tempo junto, um com o outro, do que com a nossa
própria família dentro de casa. Então a gente tem cuidar um do outro como uma família. (Júlio)
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Accounts são justificativas presentes no vocabulário de motivos que aparecem em contextos de ação
em que se busca o entendimento de atores sociais envolvidos em situações típicas.
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22
O trabalho emocional acontece em atividades em que ocorrem relações constantes e diretas entre
trabalhador e cliente e é caracterizado pelo fato de o trabalhador ajustar sua maneira de se comportar
visando à maior satisfação do cliente (HOCHSCHILD, 1983). No curso obrigatório de qualificação e
aperfeiçoamento da atividade o mototaxista tem um módulo específico para aprender a se relacionar com
pessoas e tratar bem o cliente.
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Alguns moram nas CPS ou praticamente residem, estando quase sempre livres
para eventuais corridas. A fala de Carlos expressa essa situação: “Eu alugo minha casa
apenas pra guardar as minhas coisas, vou lá apenas pra tomar banho e volto pra central”.
Os casos extremos tendem a acontecer quando os mototaxistas têm algum objetivo
material a ser alcançado ou necessitam prover financeiramente o tempo em que ficaram
impossibilitados de trabalhar.
Fonseca (2005) explica que os mototaxistas da favela da Rocinha tendem a ser
imediatistas e organizar o tempo de trabalho segundo o rendimento diário capaz de
suprir as necessidades do dia, um deles afirma “Trabalho até fazer R$ 50,00!”. De forma
semelhante ao que ocorre no bairro carioca, Vicente declara seu cálculo diário: “Para eu
começar a ganhar dinheiro em um dia tenho que ter feito R$ 35,00, porque tenho que
pagar diária de R$ 13,00, almoço, gasolina...”. Neste sentido nota-se que as exigências
relativas à ocupação não são pensadas a médio/longo prazo, ou seja, o rendimento não é
planejado segundo as necessidades básicas inerentes ao serviço, como trocar o
instrumento de trabalho, suas peças, adereços e regularização junto a SMT. A lógica
imediatista e pouco reflexiva dos mototaxistas interfere diretamente no modo com que
organizam o tempo e revela a insuficiência deste modo, presente em conseqüências no
estilo de vida adotado, mas também a incorporação fácil e direta do vocabulário de
motivos por parte da categoria.
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Não, trabalhar mesmo nele, eu não vou trabalhar nele pra vida toda, porque é um serviço
cansativo. E a cada dia que passa vai ficando mais perigoso. Então eu tento assim, tirar uma
renda pra mim continuar os meus estudos e ter uma profissão melhor. Porque a gente não vai dar
conta. Igual tem muita gente que tem muitos anos de mototaxista e tá cansado. Então eu não
pretendo ficar muitos anos. Ah o meu sonho mesmo é eu fazer uma faculdade de farmácia e ser
farmacêutica. Ainda pretendo ser. (Elizabeth)
Eu gostaria de trabalhar na área de Medicina, mas acho que é um pouco tarde pra isso. Por
exemplo, como eu trabalho com moto... Se eu trabalhasse como motoqueiro em uma equipe
médica eu me sentiria realizado. (Hilton)
Olha se eu fosse hoje ainda estudar, vamos supor que eu fosse um adolescente de dezoito anos e
fosse fazer faculdade eu procuraria ser um...Se não fosse um jogador de futebol, ou um atleta,
pra trazer medalha pro Brasil aqui eu seria um jogador de futebol, se não fosse tentaria fazer um
curso de direito, que tem um leque maior de opções né, você pode seguir um jurista, um juiz de
direito, um promotor de justiça, um delegado, até um oficial de polícia né. Até mesmo um
advogado, montar um consultório bom aí que você consegue vencer né. Eu acho que é a
profissão que tem mais chance de você ter uma boa profissão é o direito né. Eu seria. (Gildo)
Agora.. Ah ter terminado uma faculdade, e/ou estar cursando uma faculdade, estar finalizando
uma faculdade, pra que eu possa cursar a minha vida na área que eu gosto, na área que eu gosto,
como eu disse, eu gosto muito de fazenda. Como eu disse agorinha pros amigos eu gosto muito
de veterinária, zootecnia. (Edmar)
Ai, depois que eu sai da ótica eu fui trabalhar com o meu irmão num negócio aí que não deu
certo, né? Aí eu fiquei desempregado por causa disso. Aí tava difícil de arrumar emprego por
causa do meu nome, porque ele sujou meu nome, né? Porque eu emprestei meu nome pra ele e
tal. E eu peguei e aí andando e tal, minha mãe mora aqui de frente, eu vi a plaquinha ali que tava
precisando de motoqueiro sem moto pra trabalhar na moto do dono da central. E eu peguei e vim
cá pra ver como é que era, e foi indo e eu fui tomando gosto. Com o tempo eu já tinha minha
moto, né? E aí eu peguei, apareceu uma vaga pra trabalhar na moto própria e eu comecei, como
clandestino mesmo, né? E depois que eu legalizei.
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Para Freidson (1998) profissão é uma ocupação que logra reconhecimento social e necessita de
conhecimento especializado, portanto é autônoma, detentora do monopólio sobre o campo e com ideais
de profissionalismo específicos. Embora o sentido de profissão no contexto da resposta não corresponda
ao da sociologia das profissões, traz algumas semelhanças, pois compreende um certo tipo sistematização
das atividades requeridas na ocupação, já que os permissionários devem fazer cursos de qualificação,
além do reconhecimento legal.
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Bom, eu faço, eu faço, eu transporto, né, faço corrida de motobói que no caso é porque tem o
mototáxi que carrega pessoas e motobói que carrega mercadoria né, serviço de banco... Tem
cliente que, que te pega, vamos supor, contrata meu dia “Ah vai lá em Hidrolândia pra mim!”, eu
faço viagem também, então acontece muito e a gente tá ali pra o que der e vier, chegou “Ou me
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leva lá em Brasília!” a gente vai na hora. E é desse jeito, chegou ali, a gente tá pra servir e pra
correr pra qualquer lugar. E também tem muitas mulheres que procuram o meu serviço no caso
pra é, como se diz, é, investigar, seguir o marido, (risos), homem também procura...
Bom, eu não tenho os meus clientes como clientes, tenho eles como meus amigos, é um... É uma
coisa muito, assim, interessante que eu acho, é uma coisa que eu adoto pra mim, não ter como
meus clientes, mas sim como meus amigos né, isso, e assim não só pra trabalho, mas pra
qualquer coisa, pra ajudar quando tiver precisando, num é só serviço.
A maioria da minha clientela é do sexo feminino. A maioria das vezes contam assuntos pessoais,
da vida particular dela. Muitas das vezes é do trabalho dela, da profissão dela e muitas vezes da
vida íntima, da vida particular dela, da vida conjugal dela. Existe muito isso. Parece que tem
determinados assuntos, que elas têm medo de conversar com marido e conversa com a gente. É
como se a gente fosse um psicólogo, só escutando.
O que se pode perceber nas falas dos entrevistados é que a maneira de trabalhar
dos mototaxistas é moldada pelas vontades dos usuários do serviço. Assim, os
trabalhadores ficam praticamente à mercê dos caprichos dos clientes, pois na medida em
que os mototaxistas aceitam as exigências dos clientes mais estão submetidos às suas
vontades, ou seja, as práticas de consumo direcionam e dão forma à cultura do trabalho
dos mototaxistas. Nesse sentido, a submissão por parte dos mototaxistas às vontades dos
clientes expressa um certo tipo de “servidão” e para a ocupação isto é negativo porque
diverge dos princípios do profissionalismo (tratamento igual para todos os clientes,
horário fixo de atendimento). A fala de João, dono de uma CPS, desabafa comentando
essa dimensão “servil”:
O motoqueiro em si, faz o que quer, cobra o preço que ele quer cobrar, ele trabalha da forma em
que quer trabalhar, ele trabalha onde ele quer trabalhar, mesmo que o regulamento não permita
isso. Mas o que mais me indigna mesmo é o preço da corrida, porque eu acho muito caro e não
tem fiscalização. (...) Por exemplo, o motoqueiro começou a fazer sua clientela, começou a ficar
bem, só que ele quer chegar tarde no serviço, ele que matar serviço, quer dizer ele chega tarde,
um cliente liga, não encontra ele, chama outro, o outro vai e crau no cliente, amanhã ele não vai
trabalha eu vou no cliente dele, o cliente gosta do meu atendimento, que eu tô sempre presente, o
cliente vai querer ficar comigo.
46
Percebeu-se que boa parte dos mototaxistas crê em Deus, apesar de afirmarem
não ter religião e não freqüentarem igrejas, cultos ou rituais. Oram e pedem proteção
quanto às incertezas do dia-a-dia de trabalho e quanto às instabilidades ocasionadas pela
precariedade da atividade. A crença em Deus anuncia um subterfúgio intrínseco à
atividade e certa evasão quanto às dificuldades do serviço. Funciona quase uma mania
recorrente expressa em frases típicas tais como “Se Deus permitir, quiser...” e “Graças a
Deus...”. Abaixo estão às respostas de alguns dos informantes quanto à questão de
estímulo a memória: “quando você está indo para o trabalho quais são as primeiras
coisas que passam pela sua cabeça”:
Ah primeira coisa que passa é eu pensar em Deus pra me proteger o dia inteiro porque o perigo
que a gente corre na rua é muito. Porque tem muitas pessoas que é ruim. (Nádia)
Nossa na minha cabeça a primeira coisa que passa, é nossa, que Deus me abençoa porque é
perigoso demais, a primeira coisa. Ah perigoso o trânsito, primeiro eu peço a Deus que ele me
abençoe, depois eu peço a Deus que o dia seja bom, não seja tão estressante, que o ambiente de
trabalho seja assim bem tranqüilo porque motoqueiro vou te contar ele é muito estressado, o dia
todo assim. (João)
Primeiro lugar, costumo fazer uma oração pra Deus. Pedindo pra que todos nós sejamos
protegidos pela força divina mesmo é lógico. Antes de iniciar qualquer trabalho durante o dia.
Peço para que esse dia seja abençoado como o de ontem e os outros anteriores. E que seja melhor
que cada dia após o outro. Eu acredito, muito, muito em Deus. (Hildo)
A primeira coisa que passa, é quando eu coloco o capacete, eu faço uma oração e peço a Deus
para iluminar os meus caminhos durante todo o dia... Dou uma olhada na moto vejo como estar à
situação dela. (Tonie)
Graças à Deus tem me sustentado. (...) E tem coisas maiores. Eu sei que Deus vai me dar coisas
maiores. Há poucos dias atrás eu tava comentando com um amigo meu, graças a Deus a gente é
abençoado, tal, e isso aqui é só um teste. Eu sei que se eu passar por esse teste, uma coisa muito
maior Deus vai me colocar. É um teste, eu preciso ser aprovado. É como você vai fazer uma
48
prova pro vestibular. Se você passar e for aprovado você vai cursar. Se você cursar e ser
aprovado você vai ser alguém. Outro dia eu peguei uma jovem aí, era tarde. Dez horas da noite.
Era viciada. Hoje em dia eles falam que é a droga mais... Misericórdia essa droga! Chama pedra.
Então... “vamo ali”, tal. Aí no decorrer eu vi que ela tava atrás dessa droga. Aí eu comecei a
conversar com ela em nome de Jesus. “Amiga, você é tão jovem, tão bonita, envolvida com
essas coisas...” Aí comecei a falar pra ela de Jesus: “olha, a Bíblia fala que o seu corpo é templo
do Espírito Santo. E você tá estragando o seu corpo com isso aí.” Entendeu, a sua saúde tá indo
embora, a sua juventude já tá indo embora, comecei a pregar pra ela. E ela chegou a chorar.
Naquele momento que ela chorou, viu que ela realmente estava errada, e reconheceu o erro dela.
Não sei se ela procurou o senhor, se ela foi pra dentro de uma igreja, não sei. Mas foi gratificante
pra mim. Quer dizer, eu podia ajudar ela naquele momento. Falei do senhor pra ela...
As pessoas me respeitam, entendeu? Elas sabem que eu sou evangélico, que eu sou crente
entendeu? Elas sabem que, as pessoas lá, os meus colegas de serviço sabe, assim, quando tem
alguma, algum negócio assim que é de confiança, eles já, chamam o Josué, chama o Josué,
porque eles sabem que o Josué não vai dar o cano em ninguém, vai cumprir com aquele horário
direitim, se a pessoa combina comigo, por exemplo: olha moço eu to precisando de um mototáxi
pra me pegar quatro e meia da manhã, tem alguém que possa fazer isso? Chama o Josué, porque
eles sabem que eu não vou fazer nenhum tipo de, sabe?!
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
como hipótese durante o processo da pesquisa como: a crença em Deus que se revelou
arraigada a atividade e também fatores migratórios evidentes em atividades
desvalorizadas socialmente.
As representações sindicais da categoria, a despeito de seu caráter pioneiro em
Goiânia, foram expressas pelos trabalhadores apenas relacionadas a interesses políticos
pessoais dos representantes e se caracterizaram por uma apatia notória de parte dos
representados, demarcando assim o caráter não participativo da categoria. Esse aspecto
foi detectado na pesquisa, mas não aprofundado, ainda que expresse um sério problema
na constituição identitária ocupacional, já que é através das instâncias de representação
que se adquire autonomia profissional, monopólio sobre um campo e reconhecimento
social (Cf. FREIDSON). Mesmo com os benefícios adquiridos pelo SINDIMOTO, nota-
se uma fragilidade representativa séria, já que os mototaxistas praticamente não
participam das decisões tomadas e isso recai na identificação da atividade como uma
ocupação e não como uma profissão devido ao modo genérico de organização dos
mesmos. A efetivação de negociações sindicais pertinentes renderia benefícios para a
categoria e teria reflexos no fortalecimento da “identidade para o outro”, conforme a
teoria sociológica da identidade profissional de Claude Dubar.
Este trabalho pode contribuir para pesquisas relacionadas à identidade social e à
identidade ocupacional, como também em áreas afim a sociologia do trabalho como a
psicologia do trabalho, a economia, antropologia do consumo entre outros campos.
51
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Tempo/Espaço. In: Modernidade líquida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar,
2001.
BOURDIEU, Pierre. Espaço social e espaço simbólico. In:______. As razões práticas. Sobre
a teoria da ação. 8 ed. Campinas: Papirus, 2007, p. 13-33.
______. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, M. A. ; CATANI, A.. Escritos
sobre educação. 4ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, p. 73-79.
_____. Espaço social e poder simbólico. In:______. As coisas ditas. São Paulo: Brasiliense,
1990, p. 149-168.
BRAGA, Ruy. Trabalho e fluxo informacional: Por uma sociologia da condição proletária
contemporânea. In: 30º Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, 2006.
DUBAR, Claude. Dinâmicas históricas das formas identitárias. A crise das identidades
profissionais. In: A crise das identidades – A interpretação de uma mutação. Porto:
Afrontamento, 2006.
52
FONSECA, Natasha Ramos Reis. Sobre duas rodas: o mototáxi como uma invenção do
mercado. Dissertação (Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais) - Escola
Nacional de Ciências Estatísticas/IBGE, 2005.
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre uma identidade deteriorada. 4ed. Rio de Janeiro:
Guanabara-Koogan, 1998.
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento – A gramática moral dos conflitos sociais. São
Paulo: 34, 2003.
MELO, Hildete Pereira de et alli. O Setor Serviços no Brasil: Uma Visão Global –1985/95.
Rio de Janeiro: IPEA, março 1998. (Texto para Discussão, N.º 549).
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1994.
54
SILVA, Tomás Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In: Identidade e
diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.
TELLES, Vera Silva. Mutações do trabalho e experiência social. Tempo social, São Paulo, v.
18, n. 1, p. 173- 195, junho 2006.
55
Esta é uma pesquisa de sociologia do trabalho da UFG ligada ao NEST (Núcleo de Estudos sobre o
Trabalho), que tem como intuito, estritamente científico, examinar a construção da identidade
profissional/ocupacional dos mototaxistas, identificar as interações entre estes e seus clientes,
analisar a organização do trabalho desta categoria profissional na região metropolitana de Goiânia.
Agradeço a colaboração e gostaria que pudesse responder algumas questões acerca do seu trabalho,
sendo que os seus dados e sua identidade serão preservados. E a análise dos mesmos serão
analisados coletivamente.
Características Gerais:
1 - Nome: ______________________
2 - Idade: ______________________
1. Sim 2. Não, mas pretendo retornar 3. Não, parei definitivamente. 99. NS/NR
13 - A sua moradia é:
99. NS/NR
Trabalho:
99. NS/NR
99. NS/NR
Jornada de trabalho:
26 - Caso tenha outro emprego, qual a carga horária total por dia de
trabalho?________________________ 98. NA
Opiniões:
33 ( ) O mototaxista deve conhecer bem a cidade (ruas, setores, hospitais, escolas, bares etc.).
38 ( ) Acontecem muitos acidentes envolvendo motoqueiros em Goiânia porque estes não têm
qualificação para transitar em motos.
45 ( ) Existe pouco vínculo entre mototaxista e cliente porque para o cliente não importa quem é o
mototaxista, o que importa é chegar onde desejam.
47 ( ) A melhor maneira de fidelizar clientes é estar em um bom ponto, ou seja, que tenha grande
volume de pessoas que necessitem do serviço.
49 ( )Ser simpático com o cliente é o que o mototaxista deve fazer para conquistá-lo.
52 - Se o questionário fosse auto-aplicável você acha que responderia? 1. Sim 2. Não 99. NS/NR
Observações:
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- Imagine que agora está em cima da sua moto indo para o trabalho, o que você pensa que tem te
aguardando no seu dia de trabalho, qual a primeira coisa que vem à sua cabeça quando você se
lembra do seu trabalho?
Dia-a-dia de trabalho
- Conte-me sobre seu dia de trabalho (tentar obter uma narrativa). A respeito do seu cotidiano se
trabalho como ele é me descreva.
- Em sua jornada de trabalho, o que você costuma fazer quando não está fazendo corridas ou
serviços de motobói?
- Eu quero saber, em seu cotidiano, como você preenche o tempo que lhe sobra além do tempo em
que trabalha?
Trajetória de vida
Trajetória profissional
- Agora eu quero que você me fale sobre sua trajetória profissional, os empregos que teve, onde
trabalhou...
- A partir do histórico que me descreveu gostaria que me falasse sobre os motivos que te motivou a
começar a trabalhar como mototaxista.
Identidade ocupacional
- De que maneira você se sente em relação as suas expectativas, anseios relativos a sua ocupação
como mototaxista.
- De modo geral você se identifica com o que faz, por quais motivos, explique-se.
- Como você acha que seria da sua vida se não trabalhasse como mototaxista?
- Com o que você realmente gostaria de trabalhar, com o que acha que se sentiria realizado?
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- Eu queria que me falasse sobre os seus hábitos, o que você costuma fazer, o que gosta de fazer.
Costumes e gostos.
- Você seria capaz de se posicionar numa escala social, numa classe social. De que classe social
você se considera?
Laços primários
- Eu gostaria que você me falasse um pouco sobre sua família, seus amigos, sua comunidade.
Gênero
- A moto, o trânsito, tem alguma coisa a ver com o masculino? Então que tem a ver com o feminino
ou masculino dependendo do caso?
- A atividade de mototaxista colabora para sua identidade como homem ou como mulher? Em que
sentido me conte, ou dê exemplos.
- Você poderia me dar exemplos de situações marcantes vivenciadas por você com seus clientes.
- Procure remontar uma típica conversa que tem com seus clientes, qual o tipo de conversa mais
comum que ocorre?
SINDIMOTO/FENAMOTO
- E Robson Alves?
- Você tem o hábito de levar reivindicações sobre o trabalho ao sindicato? Ou mesmo discutir
questões acerca do trabalho dos mototaxistas?
SMT
- Quais as experiências mais marcantes vivenciadas por você referentes à SMT que você se recorda.
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser
esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao
final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador
responsável, Em caso de recusa você não será penalizado de forma alguma. Em caso de dúvida você
pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás pelo telefone 3521-
1075 ou 3521-1076.
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar, sob o ponto de vista da sociologia do
trabalho e do consumo os subsetores de serviços pessoais (atividades que atendem a demanda
privada, que ocorrem , por exemplo, em bares, recreação, serviços domiciliares, serviços de beleza
etc.) e de serviços distributivos (atividades ligadas ao comércio, transporte, comunicação e
armazenagem) no Brasil, com destaque à na região metropolitana de Goiânia. Seus objetivos
específicos são: analisar algumas formas de trabalho formal ou informal nos subsetores
mencionados, as ocupações, as transformações de representações sociais de trabalho nos nichos
selecionados, questões de gênero, interações e relações sociais de trabalho, cultura do trabalho e do
consumo nos respectivos subsetores. São utilizadas informações de arquivos de órgãos públicos
(SEPLAN, SEDESEN, DETRAN, IBGE), de bases de dados (RAIS, Censo Demográfico, PNAD),
de instituições do sistema S (SEBRAE) e de livros e artigos especializados sobre o assunto. São
também realizadas entrevistas com trabalhadores e seus familiares, consumidores de serviços,
proprietários de estabelecimentos comerciais ou gerentes de agências de serviços. Serão realizadas
cerca de 100 entrevistas nos dois anos de duração do projeto de pesquisa. Os resultados desta
pesquisa serão publicados em revistas científicas e em sites de eventos científicos e estarão
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disponíveis aos entrevistados, caso queiram certificar-se da pertinência das informações veiculadas.
A Universidade Federal de Goiás aproxima-se, assim, das necessidades e demandas da sociedade,
procurando alternativas para analisar as representações sociais da cultura do trabalho e das práticas
de consumo no setor de serviços, com ênfase nos serviços pessoais e de distribuição (como o
comércio). As entrevistas serão realizadas por três alunas do Curso de Ciências Sociais, Lúbia
Gonzaga Dutra, Marina Lemes Landeiro e Laís Lima; eventualmente o professor orientador, Jordão
Horta Nunes, os acompanhará na realização das entrevistas, que serão gravadas em áudio e durarão,
em média, de 20 a 40 minutos. Os pesquisadores devem identificar-se no momento da entrevista. Só
serão efetivadas entrevistas após a assinatura do termo de consentimento da participação da pessoa
como sujeito da pesquisa. A identidade do entrevistado será resguardada e só serão divulgadas
informações relacionadas a pseudônimos ou nomes fictícios. O entrevistado tem o direito de, a
qualquer momento durante ou após a entrevista, retirar seu consentimento, obrigando o pesquisador
a não utilizar as informações porventura registradas. O sujeito entrevistado não incorrerá em
qualquer sanção ou penalidade caso retire seu consentimento.
_______________________________________
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Observações complementares: