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INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

MARIANA PAES DA FONSECA

A GESTÃO E A GOVERNANÇA DO CONHECIMENTO EM SISTEMAS

REGIONAIS DE INOVAÇÃO: O CASO DA ZONA DA MATA MINEIRA SOB A

ÓTICA DAS INSTITUIÇÕES

RIO DE JANEIRO
2019
2

Mariana Paes da Fonseca

A gestão e a governança do conhecimento em sistemas regionais de inovação: o caso da


Zona da Mata mineira sob a ótica das instituições

Tese apresentada, como requisito parcial para


obtenção do título de Doutora, ao Programa de
Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e
Inovação, do Instituto Nacional da Propriedade
Industrial.

Orientador (a): Profa. Dra. Rita Pinheiro-Machado


Coorientador (a): Profa. Dra. Ana Célia Castro

Rio de Janeiro
2019
3

Mariana Paes da Fonseca

A gestão e a governança do conhecimento em sistemas regionais de inovação: o caso da


Zona da Mata mineira sob a ótica das instituições

Tese apresentada, como requisito parcial para


obtenção do título de Doutora, ao Programa de
Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e
Inovação, do Instituto Nacional da Propriedade
Industrial.

Aprovada em 12 de fevereiro de 2019

Orientador (a): Profa. Dra. Rita Pinheiro-Machado


Instituto Nacional da Propriedade Industrial
Coorientador (a): Profa. Dra. Ana Célia Castro
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Celso Luiz Salgueiro Lage
Instituto Nacional da Propriedade Industrial

Prof. Dr. Dirceu Yoshikazu Teruya


Instituto Nacional da Propriedade Industrial

Profa. Dra. Marina Honório de Souza Szapiro


Universidade Federal do Rio de Janeiro

Prof. Dr. Paulo Bastos Tigre


Universidade Federal do Rio de Janeiro

Prof. Dr. Sérgio Medeiros Paulino de Carvalho


Instituto Nacional da Propriedade Industrial

Rio de Janeiro
2019
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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca de Propriedade Intelectual e Inovação “Economista Cláudio Treiguer” – INPI
Bibliotecário Evanildo Vieira dos Santos CRB7-4861

F676g Fonseca, Mariana Paes da.


A gestão e a governança do conhecimento em sistemas regionais de inovação: o caso da
Zona da Mata mineira sob a ótica das instituições. / Mariana Paes da Fonseca. Rio de
Janeiro, 2019. Tese (Doutorado em Propriedade Intelectual e Inovação) – Academia de
Propriedade Intelectual Inovação e Desenvolvimento, Divisão de Programas de Pós-Gradua-
çao e Pesquisa, Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI, Rio de Janeiro, 2019.

318 f.; il.; tab.; quadros.

Orientadora: Profa. Dra. Rita Pinheiro-Machado;


Coorientadora: Profa. Dra. Ana Célia Castro.

1. Gestão do conhecimento – Sistemas regionais de inovação. 2. Sistema regional de


inovação – Minas Gerais. 3. Sistema regional de inovação – Zona da Mata (MG).
I. Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Brasil).

CDU: 5/6:001.76(815.1)
5

DEDICATÓRIA

Aos meus pais Elena e José, pela vida, e à minha amada filha Ana Laura, pela razão de viver.
6

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pela enorme força que me deu especialmente nestes últimos quatro
anos. E por nunca ter me desamparado nos incontáveis obstáculos do caminho.
À minha filha Ana Laura, fonte inesgotável de inspiração e motivação. Pelo seu apoio
diário e sua compreensão nos tantos momentos de ausência física e afetiva. Pelo seu generoso
perdão por isso.
Aos meus pais, Elena e José, por terem possibilitado TUDO, à custa de tanto
sacrifício. Por terem confiado cegamente nas minhas escolhas. Pelo espelho de esforço e
honestidade. E pelas mais sinceras orações.
À família Maia, em especial à Solange e ao Douglas, pelo apoio cotidiano
indispensável. Por terem tornado cada degrau possível.
Às melhores orientadoras do universo, Rita e Ana Célia. Pelo acolhimento, os tantos
conselhos e apontamentos valiosos, pela real presença e contribuição ao longo de todo o
processo. Pelo exemplo pessoal e profissional que eu pretendo seguir para sempre. A todos os
professores e funcionários da Academia do INPI, pelos ensinamentos e suporte.
Aos tantos amigos, os quais infelizmente é impossível nomear individualmente, mas
que eu sei que saberão se reconhecer. Aos de longa data, por jamais terem me abandonado e
pela infinita paciência nos episódios de desespero. Aos mais recentes, por terem tornado tudo
mais suave, saudável e divertido.
À UFJF e aos meus colegas do Departamento de Engenharia de Produção e Mecânica,
por terem permitido o necessário afastamento para a operacionalização da etapa final. Ao
Bruno Milanez e ao Carlos Renato Pagotto, por tudo o que cabe aos amigos no parágrafo
acima, além de todo suporte adicional. Aos da turma de doutorado, pela prazerosa companhia
nesta intensa jornada.
Aos entrevistados e respondentes dos questionários, pela confiança e prestatividade.
Por terem me ajudado muito além do que eu esperava.
GRATIDÃO!
7

RESUMO

FONSECA, Mariana Paes da. A gestão e a governança do conhecimento em Sistemas


Regionais de Inovação: o caso da Zona da Mata mineira sob a ótica das instituições.
2019. 318 f. Tese (Doutorado em Propriedade Intelectual e Inovação) – Instituto Nacional da
Propriedade Industrial, Rio de Janeiro, 2019.

A importância dos ativos de conhecimento e do seu emprego para o desenvolvimento


de inovações é amplamente reconhecida na literatura. Ao mesmo tempo, é crescente o
interesse sobre a influência dos fatores territoriais nos regimes nacionais e regionais de
inovação. Os conceitos de gestão e governança do conhecimento são ainda pouco explorados
no âmbito sistêmico, que envolvem as instituições de ensino e pesquisa, apoio, fomento e
intermediação atuando na geração, difusão e proteção destes ativos. O presente estudo busca
identificar como os dois conceitos, gestão e governança, são e podem ser melhor empregados
no contexto do Sistema Regional de Inovação (SRI) de Minas Gerais, e mais propriamente no
do território da Zona da Mata. A abordagem metodológica empregada dividiu-se em três
estágios de pesquisa: o primeiro, de cunho exploratório, buscou por meio de um levantamento
bibliográfico esclarecer os temas e organizá-los em um modelo estruturado inédito que
compreende a avaliação das capacidades estatais, dinâmicas e cognitivas presentes em um
sistema genérico; o segundo, de caráter descritivo, dedicou-se ao aprofundamento das
particularidades do SRI mineiro focalizando suas políticas correlatas e estrutura institucional
formalizadas, além do panorama acerca dos ativos e fluxos de conhecimento provenientes das
suas instituições de ensino e pesquisa públicas e principais cadeias produtivas; o terceiro, de
natureza explicativa, compreendeu o uso do modelo proposto para identificar em campo, com
emprego de entrevistas e questionários, os fatores que contribuem e impactam no
desenvolvimento econômico da Zona da Mata, sob a ótica das instituições. Com a conclusão
destas etapas, foi possível constatar que os temas governança do conhecimento e sistemas de
inovação, quando experimentados na prática, trazem a tona a subjetividade e complexidade
inerentes às relações pessoais e fenômenos sociais que os fundamentam. Em resumo, sua
aderência é expressivamente influenciada pelo fator humano e sua historicidade. Além disso,
os resultados confirmam a relevância de uma missão e estratégia clara, de longo prazo,
compartilhada pelas instituições em todos os seus níveis, que busquem minimizar os conflitos
de interesse e vaidades comuns nesses sistemas e garantir a continuidade das ações a despeito
das mudanças de gestão e de governos.

Palavras-chave: Gestão e Governança do Conhecimento. Sistemas Regionais de Inovação.


Minas Gerais. Zona da Mata.
8

ABSTRACT

FONSECA, Mariana Paes da. The management and governance of knowledge in Regional
Innovation Systems: the case of Zona da Mata mineira from the institutions perspective.
2019. 318 p. Thesis (Doctorate in Intellectual Property and Innovation) - National Institute of
Industrial Property, Rio de Janeiro, 2019.

The importance of knowledge assets and their use for the development of innovations is
widely recognized in the literature. At the same time, there is growing interest in the influence
of territorial factors on national and regional innovation regimes. The concepts of knowledge
management and governance are still little explored at the systemic level, which involve
teaching and research, support, promotion and intermediation institutions acting in the
generation, diffusion and protection of these assets. The present study seeks to identify how
the two concepts, management and governance, are and can be better used in the context of
the Regional Innovation System (RIS) of Minas Gerais, and more precisely in the territory of
Zona da Mata. The methodological approach used was divided into three stages of research:
the first one, exploratory, sought through a bibliographic survey to clarify the themes and
organize them into an unpublished structured model that includes the evaluation of state,
dynamic and cognitive capacities present in a generic system; the second one, of a descriptive
nature, was devoted to the deepening of this RIS particularities, focusing on its related
policies and institutional structure, as well as the panorama about the assets and knowledge
flows from its public teaching and research institutions and main productive chains; the third
one, of an explanatory nature, included the use of the proposed model to identify in the field,
using interviews and questionnaires, the factors that contribute to and impact on the economic
development of Zona da Mata, from the perspective of institutions. With the conclusion of
these steps, it was possible to verify that the subjects knowledge governance and innovation
systems, when experienced in practice, bring to the fore the subjectivity and complexity
inherent in the personal relations and social phenomena that underlie them. In short, its
adherence is expressively influenced by the human factor and its historicity. In addition, the
results confirm the relevance of a clear and long-term mission and strategy shared by
institutions at all levels that seek to minimize conflicts of interest and vanities common in
these systems and to ensure continuity of actions in spite of governments and management
changes.

Keywords: Knowledge Management and Governance. Regional Innovation Systems. Minas


Gerais. Zona da Mata.
9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Mapa das 12 mesorregiões do estado de Minas Gerais ........................................................28


Figura 2 – Mapa dos 17 territórios de desenvolvimento do estado de Minas Gerais .............................28
Figura 3 – Estrutura da Tese e Questões da Pesquisa ............................................................................36
Figura 4 – Espiral de SECI.....................................................................................................................45
Figura 5 – Ciclo KDCA .........................................................................................................................52
Figura 6 – Dimensões do Método OKA.................................................................................................53
Figura 7 – Modelo Unificado para análise da Gestão do Conhecimento institucional ..........................58
Figura 8 – Contextualização das práticas de governança territorial .......................................................61
Figura 9 – A evolução da cadeia lógica do conceito de capacidades dinâmicas ....................................82
Figura 10 – Fundamentos das capacidades dinâmicas e performance de negócios ...............................85
Figura 11 – Etapas e atividades do ciclo de evolução do conhecimento................................................86
Figura 12 – Capacidades como antecedentes para a Vantagem Competitiva ........................................87
Figura 13 – Modelo analítico para avaliação de capacidades estatais....................................................95
Figura 14 – Modelo Teórico Unificado..................................................................................................96
Figura 15 – Gráficos tridimensional e bidimensional que correlacionam o desenvolvimento econômico
de países versus sua produção científica e tecnológica .................................................110
Figura 16 – Regimes de classificação de países menos desenvolvidos aos mais desenvolvidos .........111
Figura 17 – Fluxos tecnológicos em uma economia subdesenvolvida do tipo avançado ....................112
Figura 18 – Modelo de Sistemas Nacionais de Inovação .....................................................................114
Figura 19 – Quadro conceitual da inovação orientada por processos em Sistemas Nacionais de
Inovação ........................................................................................................................116
Figura 20 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias avançadas
.......................................................................................................................................120
Figura 21 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias de renda
média I...........................................................................................................................121
Figura 22 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias de renda
média II .........................................................................................................................121
Figura 23 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias de renda
média III ........................................................................................................................121
Figura 24 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias menos
desenvolvidas ................................................................................................................122
Figura 25 – Representação da interação entre competências e SNI .....................................................124
Figura 26 – Principais barreiras à inovação dos diferentes tipos de regiões ........................................131
Figura 27 - Dimensões de análise para estruturas de governança em SRI ...........................................134
Figura 28- Subsistemas de um Sistema Regional de Inovação ............................................................137
Figura 29- Participação dos territórios de Minas Gerais no PIB do estado..........................................141
Figura 30 - Evolução do % de dispêndios em C&T de MG em relação à receita do estado em
comparação a evolução média no Brasil (2000-2016) ..................................................143
Figura 31 - Localização das incubadoras de empresas e parques tecnológicos de Minas Gerais ........147
Figura 32- Percentual de execução de recursos financeiros pela FAPEMIG entre 2006 e 2016 .........153
Figura 33 – Variação da proporção investida pela FAPEMIG por Câmara, entre 2005 e 2015 ..........154
Figura 34 - Mapa da distribuição das publicações científicas de universidades públicas federais de
Minas Gerais, 2000 a 2015............................................................................................156
10

Figura 35 - Distribuição das publicações de MG na área de Agricultura, por universidade federal (2000
a 2015)...........................................................................................................................157
Figura 36 - Distribuição das publicações de MG na área de Química – por universidade federal (2000
a 2015)...........................................................................................................................158
Figura 37 - Distribuição das publicações de MG na área de Física – por universidade federal (2000 a
2015) .............................................................................................................................160
Figura 38 - Distribuição das publicações de MG na área de Engenharia – por universidade federal
(2000 a 2015) ................................................................................................................161
Figura 39 - Distribuição das publicações de MG na área de Ciências Veterinárias – por universidade
federal (2000 a 2015) ....................................................................................................161
Figura 40 - Distribuição das publicações por área e universidades mineiras (2000 a 2015) ...............163
Figura 41 - Evolução dos depósitos de patentes das universidades federais de MG – 2000 a 2014 ....163
Figura 42 - Classificação dos depósitos de patentes das universidades federais mineiras por seção do
IPC (2000 a 2014) .........................................................................................................164
Figura 43 – Comparação do percentual de depósitos de patentes com cotitularidade e sem
cotitularidade da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais entre
2000 e 2014, dividido por universidades públicas federais mineiras ............................166
Figura 44 – Depósitos de patente por seção da classificação internacional de patentes dividido por
instituições de ensino superior públicas federais mineiras, 2000 a 2014 ......................166
Figura 45 – Percentual de crescimento anual dos depósitos de patentes por instituição de ensino
superior pública federal, 2000 a 2014 ...........................................................................167
Figura 46 - Variação em volume do valor adicionado bruto das atividades produtivas de MG (2015)
.......................................................................................................................................169
Figura 47 - Mapa da distribuição das aglomerações produtivas nos territórios mineiros (2000) ........172
Figura 48 – Percentual de respondentes por instituição de ensino e pesquisa da Zona da Mata..........252
Figura 49 – Distribuição das áreas dos pesquisadores respondentes ...................................................252
Figura 50 – Distribuição dos respondentes por tempo de atuação no cargo ........................................253
Figura 51 – (a) Principais motivações para escolha da área de pesquisa; (b) Motivações para escolha
da área de pesquisa distribuídas pela área de atuação. ..................................................254
Figura 52 – Tempo de atuação versus motivações para escolha da área..............................................255
Figura 53 – Percepção das principais atividades econômicas da Zona da Mata pelos respondentes ...256
Figura 54 – Razões da baixa representatividade da instituição para as atividades da Zona da Mata
(UFJF) segundo seus pesquisadores..............................................................................257
Figura 55 – Distribuição dos tipos de ativos de PI resultantes das pesquisas ......................................258
Figura 56 – Distribuição das titularidades dos ativos entre as instituições e os pesquisadores............259
Figura 57 – Percentual de ativos de propriedade intelectual transferidos ............................................260
Figura 58 – Principais dificuldades para a transferência dos ativos de PI na perspectiva dos
pesquisadores ................................................................................................................261
Figura 59 – Principais meios usados pelos pesquisadores para acessar informação/conhecimento na
instituição ......................................................................................................................262
Figura 60 – Meios usados pelos pesquisadores para acessar informação/conhecimento fora da
instituição ......................................................................................................................263
Figura 61 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D dentro da
instituição ......................................................................................................................264
Figura 62 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D dentro da
instituição ......................................................................................................................265
Figura 63 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D em IES
externas .........................................................................................................................266
11

Figura 64 – Motivações para parcerias com outras IES .......................................................................267


Figura 65 – Percentual de pesquisadores que estabeleceram parcerias com empresas ........................267
Figura 66 – Características das parcerias entre pesquisadores e empresas ..........................................269
Figura 67 – Como se estabelece o primeiro contato entre o pesquisador e a empresa? .......................269
Figura 68 – Propriedade Intelectual nas parcerias com IES .................................................................270
Figura 69 – Propriedade Intelectual nas parcerias entre pesquisadores e empresas .............................270
Figura 70 – Mecanismos de incentivo para parcerias de P&D e transferência de conhecimento e
tecnologias, na percepção dos pesquisadores................................................................271
Figura 71 – Critérios apontados pelos pesquisadores para avaliação da efetividade das parcerias e
qualidade do conhecimento desenvolvido ....................................................................272
12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Variáveis e indicadores do grupo “Fontes de Inovação” (dispêndios)..................................31


Quadro 2 - Variáveis e indicadores do grupo “Tipos de Conhecimento e Formas de Aprendizado”
(relevância)......................................................................................................................31
Quadro 3 - Variáveis e indicadores do grupo “Foco da Trajetória Tecnológica” (relevância) ..............32
Quadro 4 - Variáveis e indicadores do grupo “Tipos de resultado de inovação”...................................32
Quadro 5 - Variáveis e indicadores do grupo “Variáveis de estrutura e desempenho”..........................32
Quadro 6 – Lista de Entrevistados (Capacidades Estatais) ....................................................................34
Quadro 7 – Lista de Entrevistados (Capacidades Dinâmicas)................................................................35
Quadro 8 - Etapas do processo de gestão do conhecimento científico em comunidades acadêmicas ...49
Quadro 9 - Métricas das dimensões do Método OKA ...........................................................................54
Quadro 10 - Visão geral das abordagens de medição do conhecimento ................................................55
Quadro 11 – Microfundamentos para o desenvolvimento de capacidades dinâmicas ...........................83
Quadro 12 – Tipos de Capacidades Dinâmicas Baseadas no Conhecimento com foco interno ............89
Quadro 13 - Tipos de Capacidades Dinâmicas Baseadas no Conhecimento com foco externo.............90
Quadro 14 - Categorias de países de acordo com o grau de construção de seus SNI ..........................103
Quadro 15 - Fatores de análise do Modelo de Sistemas Nacionais de Inovação .................................115
Quadro 16 – Indicadores de desempenho referentes à capacidade inovativa e capacidade de absorção
.......................................................................................................................................119
Quadro 17 – Dimensões dos principais problemas relacionados aos tipos de regiões .........................130
Quadro 18 – Abordagens das políticas de inovação propostas para cada tipo de região .....................132
Quadro 19 - Condicionantes para o alto e baixo potencial de sistemas regionais de inovação............135
Quadro 20 - Modalidades de apoio à pesquisa oferecida pela FAPEMIG ...........................................151
Quadro 21 - Programas de apoio à inovação tecnológica coordenados pela FAPEMIG .....................152
Quadro 22 – Distribuição das patentes depositadas pelas universidades federais mineiras por seção,
classe e subclasse do CIP (2000 a 2014) .......................................................................165
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Potencial de aplicação do conhecimento/tecnologia produzidos pelo pesquisador na


região, sob a sua ótica ..............................................................................................257
Tabela 2 – Influência dos NIT e/ou Diretorias de Inovação sobre as decisões de pesquisa sob a
ótica do pesquisador .................................................................................................258
Tabela 3 – Percentual de apropriação de ativos por área ...............................................................259
Tabela 4 – Perfil das parcerias de P&D estabelecidas pelos pesquisadores, por área .....................262
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................16

1.1 PROBLEMA, JUSTIFICATIVAS E HIPÓTESES .........................................................21


1.2 OBJETIVOS .......................................................................................................................24
1.3 METODOLOGIA DA PESQUISA ...................................................................................25
1.3.1 Abordagem Metodológica ....................................................................................................26
1.3.2 Objetos e Escopo da pesquisa ...............................................................................................27
1.3.3 Estratégia de Coleta e Análise de Dados ..............................................................................28
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO .......................................................................................35

2. REFERENCIAL TEÓRICO ...........................................................................................................37

2.1 O CONHECIMENTO: UMA ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA .................................39


2.2 GESTÃO DE ATIVOS DE CONHECIMENTO AO NÍVEL INSTITUCIONAL ..............45
2.3 GOVERNANÇA DO CONHECIMENTO MACRO .........................................................59
2.3.1 Custos de Transação, Direitos de Propriedade e Contratos ..................................................71
2.3.2 Visão Baseada em Recursos e Capacidades Dinâmicas .......................................................77
2.3.3 Capacidades Estatais .............................................................................................................91
2.4 SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO (SNI) .............................................................97
2.5 SISTEMAS REGIONAIS DE INOVAÇÃO (SRI) ............................................................126
2.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE A TEORIA ..........................................................................138

3. O SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO DE MINAS GERAIS ..........................................141

3.1. ESTRUTURA INSTITUCIONAL E PRINCIPAIS DIRETRIZES ESTRATÉGICAS .....144


3.2. O SUBSISTEMA DE GERAÇÃO E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO:
PORTFÓLIOS CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS ................155
3.3. O SUBSISTEMA DE APLICAÇÃO E EXPLORAÇÃO DO CONHECIMENTO: AS
ORGANIZAÇÕES ...............................................................................................................................169

4. A GESTÃO E GOVERNANÇA DO CONHECIMENTO NO ECOSSISTEMA DE


INOVAÇÃO DO TERRITÓRIO DA ZONA DA MATA SOB A ÓTICA DAS
INSTITUIÇÕES .................................................................................................................................177

4.1. CAPACIDADES ESTATAIS (INSTITUIÇÕES DE APOIO, FOMENTO,


INTERMEDIAÇÃO E ATORES DOS GOVERNOS)........................................................................177
4.1.1. Capacidades Técnico-administrativas .................................................................................178
4.1.2. Capacidades Político-relacionais ........................................................................................205
4.2. CAPACIDADES DINÂMICAS (INSTITUIÇÕES DE ENSINO E PESQUISA) .............222
4.2.1. Capacidade de identificação de oportunidades ...................................................................234
4.2.2. Capacidade de apreensão de oportunidades ........................................................................240
4.2.3. Capacidade de gerenciamento de ameaças e reconfiguração..............................................249
4.3. CAPACIDADES COGNITIVAS (PESQUISADORES) ...................................................251

5. CONCLUSÃO ...................................................................................................................273

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................287

ANEXO I ............................................................................................................................................304

ANEXO II ...........................................................................................................................................307

ANEXO III..........................................................................................................................................309
16

1. INTRODUÇÃO

Um tema relevante que corrobora a discussão acerca das possíveis estratégias de


crescimento de países em desenvolvimento se refere ao valor atribuído às indústrias
baseadas na ciência, também conhecidas como “portadoras de futuro”. Isto porque essas
indústrias tendem a induzir uma abordagem mais sistêmica sobre as políticas públicas
direcionadas às inovações, uma vez que dependem de expressiva integração com
instituições de pesquisa e com outras empresas do setor, inclusive as pequenas e
emergentes. Estas últimas, por sua vez, são costumeiramente mais ligadas a tecnologias
fluidas, ou seja, atuam em trajetórias tecnológicas cujo projeto dominante não se encontra
definido. Essa característica, como consequência natural, permite o acesso a numerosas
janelas de oportunidade e combinações científicas e tecnológicas, diferente do que
habitualmente ocorre em grandes empresas, mais engessadas pela dependência da trajetória
até então predominante (path dependence).
O papel da ciência no caso de países em desenvolvimento apresenta certas
peculiaridades: tende a ampliar esforços para a criação de capacidades internas de absorção
e aprendizado; demarca linhas de desenvolvimento tecnológico factíveis, reduz custos de
entrada às indústrias; e, aproxima a agenda de pesquisa às necessidades locais, como
observado no caso da saúde e agricultura no Brasil (ALBUQUERQUE et al., 2009).
Também de acordo com Albuquerque et al (2009), economias bem sucedidas são
impulsionadas pela interação entre a ciência e a inovação, ou mais precisamente das
instituições de ciência e tecnologia com as empresas, de forma dinâmica e não linear. Por
outro lado, indústrias com baixa propensão a inovação costumam funcionar como
inibidoras do processo de desenvolvimento científico que, por sua vez, torna-se incapaz de
estimular inovações no âmbito industrial, conformando assim um círculo vicioso nocivo ao
crescimento.
No entanto, evidencia-se no Brasil uma infraestrutura científica que, ainda que
concentrada geograficamente, é capaz de estabelecer vínculos com centros de pesquisa em
todo mundo e com isso acompanhar e monitorar avanços tecnológicos importantes. As
patentes acadêmicas, cuja titularidade pertence a uma instituição de ensino superior (IES),
ou que ao menos um dos inventores é um pesquisador a ela vinculado, respondem por
aproximadamente 19,5% das patentes depositadas via PCT (Patent Cooperation Treaty)
com prioridade brasileira (SILVA et al., 2014). Ainda mais importante, as tecnologias
17

envolvidas indicam um padrão de especialização tecnológica diferente do observado nas


empresas, o que sugere, a princípio, o potencial dessas instituições em renovar a base
tecnológica nacional.
A despeito desses progressos, acredita-se que as Instituições Científicas e
Tecnológicas (ICT) ainda tendem a manter um padrão de produção de conhecimento
dissociado dos interesses do setor produtivo com o intuito de gerar resultados
correspondentes às métricas que lhes são impostas, essencialmente: a produção científica
por meio de publicações que incluem, até mesmo, o simples depósito de patentes ou de
outros ativos de propriedade intelectual (PI1).
Um dos gargalos mais apontados como impeditivo à integração entre a iniciativa
privada e instituições de pesquisa, principalmente públicas, refere-se à insegurança jurídica
acerca dos procedimentos da gestão da inovação. As interpretações das leis que
regulamentam as políticas explícitas de incentivo se demonstram demasiadamente
subjetivas, o que resulta em modos de operacionalização díspares entre essas instituições.
Especificamente quanto às fundações de apoio, responsáveis pela captação de recursos
financeiros extraorçamentários e contratação de mão de obra temporária para projetos de
pesquisa cooperativos, observam-se conflitos entres estas e seus respectivos órgãos de
controle, a exemplo da Controladoria Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da
União (TCU). Isso ocorre, em geral, porque as atividades previstas nos regramentos
sobrepõem-se a outros normativos que, embora possuam objetivos comuns, apresentam
formas de condução divergentes (RAUEN, 2016).
A promulgação da Lei 13.243/20162 (BRASIL, 2016), regulamentada pelo Decreto
9.283 (2018) busca contornar esse e outros problemas quando altera os textos das leis
10.973 (2004)3, 6.815 (1980)4, 8666 (1993)5, 12.462 (2011)6, 8.745 (1993)7, 8.958 (1994)8,
8.010 (1990)9, 8.032 (1990)10 e 12.772 (2012)11, corrigindo incompatibilidades verificadas
na legitimação das relações entre o meio acadêmico e a iniciativa privada, principalmente.

1
Em acordo com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI, 2018), Propriedade Intelectual
(PI) refere-se a criações da mente, como invenções; obras literárias e artísticas; desenhos; e símbolos, nomes
e imagens usados no comércio.
2
Conhecida como Novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação.
3
Conhecida como Lei da Inovação, dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica
no ambiente produtivo, e suas providências.
4
Define a situação jurídica do estrangeiro no país.
5
Institui as normas para as licitações e contratos na Administração Pública, e suas providências.
6
Institui o regime diferenciado de contratações públicas.
7
Dispõe sobre as contratações temporárias por órgãos públicos.
8
Dispõe sobre as relações entre instituições federais de ensino superior e pesquisa com fundações de apoio.
9
Dispõe sobre as importações de bens destinados à pesquisa científica e tecnológica, e suas providências.
18

As mudanças enfatizam o papel dos governos federal, estadual e municipal no


apoio à: colaboração não apenas no desenvolvimento de produtos, mas também nos
contratos de transferência de tecnologia; capacitação de recursos humanos qualificados;
promoção da autonomia dos parques, polos e incubadoras de base científica e tecnológica
quanto ao fomento, concepção e desenvolvimento de projetos; cessão de imóveis para a
instalação e consolidação de ambientes de inovação; participação desses governos na
criação e governança das entidades gestoras de tais ambientes; estímulo à atração de
centros de pesquisa e desenvolvimento de empresas estrangeiras por meio da cooperação
com instituições nacionais e acesso a instrumentos de fomento; e, promoção de programas
específicos para as microempresas e empresas de pequeno porte.
A motivação central desses esforços, não obstante a evolução nos sistemas e
tecnologias de informação verificadas nas últimas décadas, repousa nas tantas evidências
empíricas de que a difusão e a apropriação do conhecimento, inerentes ao processo de
inovar, continuam, invariavelmente, alicerçadas na aproximação de pessoas. Da mesma
forma que as nações, algumas regiões em todo mundo, diante de tal percepção,
experimentam o compartilhamento orgânico do conhecimento e a criação de ambientes
inovadores capazes de gerar valor e competitividade em longo prazo.
O crescente interesse acerca da dinâmica desses ambientes resultou em abordagens
conceituais orientadas à análise da importância dos fatores territoriais na organização de
atividades produtivas e tecnológicas, como distritos e clusters12 industriais, milieu
inovativo, sistemas nacionais e regionais de inovação, entre outros (VARGAS, 2002). Tais
conceitos buscam levantar a importância da diversidade de arranjos institucionais e
produtivos na localização do aprendizado, opondo-se aos argumentos que acreditam na
desterritorialização da economia provocada pela globalização (AMIN, 1993 13 apud
VARGAS, 2002).
O que se defende é que tais ambientes demonstram-se globais quando capazes de
“transportar o universo ao local” (baseado na lógica de funcionamento vertical do espaço
geográfico contemporâneo, ou seja, sua inserção na cadeia de valor global), mas, por outro

10
Dispõe sobre a isenção ou redução de impostos de importação, e suas providências.
11
Dispõe sobre a estruturação dos planos de carreira do magistério, de alguns institutos de pesquisa e dos
técnicos administrativos em educação, além da contratação de professores.
12
Vargas (2002) defende a diferença conceitual entre distritos industriais e clusters industriais, sendo esses
segundos caracterizados por aglomerações de empresas cujo desempenho competitivo se encontra atrelado à
eficiência coletiva (ganhos associados à interação em nível local)
13
AMIN, A. The globalization of the economy: an erosion of regional networks? In: GRABHER, G. (Org.).
The embedded firm: on the socio-economics of industrial networks. Londres: Routledge, 1993. p. 278-
295.
19

lado, traduzem localmente as condições técnicas determinadas por essa divisão do


trabalho. A efetividade dessa contribuição para o mundo depende essencialmente das
oportunidades oferecidas por esses territórios. De acordo com Santos (2006, p. 339):

“A ordem global é “desterritorializada”, no sentido de que separa o centro


da ação e a sede da ação. Seu espaço movediço e inconstante é formado
de pontos, cuja existência funcional é dependente de fatores externos. A
ordem local, que “reterritorializa”, é a do espaço banal, espaço irredutível
(...) porque reúne numa mesma lógica interna todos os seus elementos:
homens, empresas, instituições, formas sociais e jurídicas e formas
geográficas”.

A pré-existência desses elementos reconhecida como fundamental nesses ambientes


– a exemplo dos da iniciativa privada, universidades e instituições de pesquisa, agências de
apoio e fomento públicas e privadas, governo, entre outros – não determina o fluxo de
conhecimento entre eles. E, principalmente, não garante o aprendizado. Algumas
condicionantes intangíveis são apontadas como igualmente essenciais, a saber: ativos de
conhecimento pré-existentes, predisposição empreendedora (inclusive por parte das ICT) e
capacidade e cultura inovadoras que garantam a esses ambientes a construção e
manutenção de suas competências distintivas (DOLOREUX e PARTO, 2005).
Naturalmente, a confiança e a sinergia entre esses atores, bem como a real intenção
de compartilhamento também são aspectos importantes. Nesse sentido, a expressão
“Economia do Aprendizado” parece mais apropriada que “Economia do Conhecimento”,
uma vez que o que realmente é importante para o desempenho competitivo é a habilidade
para o aprendizado, assim como para o esquecimento, dos agentes econômicos, e não o
estoque de conhecimento em si (VARGAS, 2002).
A identificação dos fluxos de conhecimento, bem como o mapeamento de seus
ativos, no entanto, são capazes de orientar políticas públicas explícitas e específicas, no
âmbito local e regional, e, só assim, atrair mão de obra qualificada, centros de pesquisa e
organizações inovadoras. Nota-se, dessa vez, uma espécie de círculo virtuoso quando os
ativos e fluxos impulsionam diretrizes regionais e essas, quando bem implementadas por
suas instituições, permitem novos fluxos, novas apropriações e, sobretudo, o aprendizado
orgânico.
20

Nesse sentido emerge o conceito de governança14, em um caráter mais amplo do


que o verificado em seu emprego habitual, que inclui apenas os mecanismos tradicionais
de articulação de interesses (traduzidos nas políticas mencionadas), mas nesse caso, inclui
também redes sociais e associações informais de diversos tipos. Configura, dessa maneira,
um padrão de atuação e cooperação entre organizações e instituições capaz de regular as
transações dentro e através das fronteiras do sistema em que se inserem.
Os estudos sobre o milieu inovativo15 apontam que as relações presentes nesses
ambientes estruturam-se em três espaços funcionais, a saber: de produção, de mercado e de
apoio. Os últimos, nesse contexto, determinam o equilíbrio entre as atividades inovativas
das firmas e o desenvolvimento local (VARGAS, 2002). Já os modelos de sistemas
regionais de inovação (SRI) buscam complementar esses estudos centrando-se na relação
entre a inovação e o aprendizado, em uma abordagem de “processo mais do que estrutura”
(process rather than structure – PRTS), concentrada em três dimensões analíticas de
interação, destacadas pelo autor: espaço cognitivo (padrões neurais de aprendizado e
desenho único da rede), capacidade de absorção das empresas (exploração das bases de
conhecimento e de novas trajetórias de aprendizado, muito influenciada pelo contexto
institucional) e coordenação de práticas comunitárias (conjunto de valores comuns)
(VARGAS, 2002).
O mapeamento de fluxos e ativos, por si só, não é fácil. Somado a isso, encontra-se
o fato de que estes devem ser dinâmicos e flexíveis. As redes de conhecimento formais,
informais e sociais coexistem, porém não necessariamente coevoluem. Por isso, a
coordenação dessas redes envolve, normalmente, mudanças estruturais profundas e
contínuas a nível econômico e social.
Ademais, uma região per se não se torna automaticamente um espaço de
aprendizado coletivo sem que contenha uma representação de ideias e valores
compartilhados, traduzidos em estratégias e normas comuns. Sob esse enfoque o presente
estudo se debruça. Além de analisar os fluxos de conhecimento de/para instituições e
organizações, dedica-se a explorar a ampliação do conceito de governança que envolve
atores institucionais essenciais para a disseminação e coordenação de diretrizes e,

14
O termo governança, nesse contexto, é compreendido pela forma no qual o poder é exercido na
administração desejavelmente estratégica dos recursos sociais e econômicos, como exposto em um dos
primeiros documentos sobre o tema, “Governance and Development” (BANCO MUNDIAL, 1992).
15
De acordo com Lastres e Cassiolato (2003), milieu inovador pode ser definido como” o local ou a
complexa rede de relações sociais em uma área geográfica limitada que intensifica a capacidade inovativa
local através de processo de aprendizado sinergético e coletivo”.
21

evidentemente, a própria governança praticada por estas instituições do sistema


isoladamente.

1.1 PROBLEMA, JUSTIFICATIVAS E HIPÓTESES

A principal motivação deste estudo se liga ao particular interesse por parte da


autora em compreender o funcionamento do sistema de inovação onde atua
profissionalmente (como professora do curso de engenharia de produção na Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF), única universidade federal situada no território de
desenvolvimento16 da Zona da Mata). Adicionalmente, por ministrar nessa instituição e
curso as disciplinas de Gestão da Inovação e Empreendedorismo.
As justificativas deste estudo partem da compreensão de que, assim como o Brasil é
um país de dimensões continentais, com as mesmas razões, o estado de Minas Gerais (MG)
pode ser enxergado como um estado de grandeza nacional (tendo a quarta maior área
territorial do país, correspondente a 586.521,235 Km2) (IBGE, 2018). Por este motivo, os
entraves ao desenvolvimento percebidos no primeiro escopo podem ser estendidos,
guardando as devidas proporções, ao segundo, a exemplo das suas expressivas
desigualdades econômicas e da desarticulação das políticas públicas explicitamente e
indiretamente dedicadas à inovação.
O estado que figura como macro objeto deste estudo possui o terceiro maior
Produto Interno Bruto (PIB) do país (FJP, 2018), porém 68,1% dele encontra-se
concentrado em quatro de seus 17 territórios de desenvolvimento, a saber: Região
Metropolitana de Belo Horizonte, Sul, Triângulo Norte e Zona da Mata (FJP, 2013).
Apenas o primeiro território detém 44% desse indicador e, não por acaso, também
concentra os principais serviços e indústrias de alto valor agregado.
Apesar disso, MG exporta, principalmente, produtos de baixo conteúdo tecnológico
ligados à sua tradicional matriz produtiva, sendo estes minérios e commodities agrícolas.
Cabe destacar que as exportações de produtos intensivos em conhecimento se reduziram
nos últimos anos de modo mais acelerado do que o verificado no cenário nacional, fazendo

16
As diferenças da segmentação do estado em territórios de desenvolvimento (governo do Estado) e
mesorregiões (IBGE) serão explanadas na subseção referente aos Objetos do Estudo. Para o momento,
destaca-se que o território de desenvolvimento escolhido compreende os microterritórios de Além Paraíba,
Carangola, Cataguases, Juiz de Fora, Lima Duarte, Muriaé, Santos Dumont, São João Nepomuceno e Ubá.
22

com que sua participação no valor das vendas externas brasileiras caísse de 13% em 2014
para 11,5%, em 2015 (FJP, 2015).
Ademais, conforme detalhado na Seção 3, as modalidades de produtos
tecnologicamente sofisticados do estado ainda não se encontram, ao menos formalmente,
completamente alinhadas ao portfólio científico e tecnológico levantado (seus ativos de
conhecimento) em suas instituições de pesquisa, a exemplo do que ocorre nas áreas de TI,
automotiva, aeroespacial e ferroviária, e apenas com clara exceção dos produtos
biotecnológicos e biocombustíveis.
Paralelamente as motivações evidentes nas suas últimas políticas explícitas de
inovação, detalhadas adiante, observa-se em MG uma enraizada especialização científica
na maior parte de suas onze IES alinhadas mais profundamente à sua matriz produtiva
tradicional do que as direcionadas às indústrias situadas na fronteira tecnológica nacional e
global. Tais resultados sugerem o potencial para agregar valor aos produtos e serviços por
essas indústrias.
Por outro lado, as indústrias tradicionais ainda apresentam dificuldades estruturais
para sustentar o seu crescimento econômico por dois motivos essenciais: pautam-se na
racionalização de custos e na especialização regressiva17, beneficiada por cada vez menores
vantagens comparativas, e pelo uso de recursos naturais. Alguns dados da última
PINTEC18 (IBGE, 2016a) reforçam esses argumentos, quando demonstram seus altos
investimentos em inovações em processos, assim como ocorre em nível nacional, porém
ainda concentrados na aquisição de máquinas e equipamentos.
A PINTEC destaca que as indústrias mineiras estabelecem, em geral, poucas
atividades de cooperação com universidades brasileiras (4,9% do total das empresas
identificadas como inovadoras), mas fazem significativo uso delas como fontes de
informação (30,7% das empresas mineiras, enquanto o percentual nacional é de 26,2%).
Dentre os principais obstáculos à cooperação formal encontram-se os custos elevados, a
falta de pessoal qualificado, os riscos econômicos inerentes e a escassez de fontes
apropriadas de financiamento. Ou seja, compreende a inexistência ou ineficácia de
instituições capazes de fazer fluir os ativos de conhecimento das IES para as empresas que
os demandam, bem como de induzir seus efeitos retro-alimentadores, reduzindo assim seus

17
Entende-se por especialização regressiva aquela motivada por condições externas favoráveis que
condicionam um país ou região a priorizar exportações de produtos de baixo conteúdo tecnológico, sobretudo
bens primários, comprometendo assim seu desenvolvimento sustentável em longo prazo.
18
Pesquisa de inovação realizada pelo IBGE e com apoio da FINEP e do Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Telecomunicações para a construção de indicadores de inovação das empresas brasileiras.
23

custos de transação. Essas iniciativas, em uma perspectiva holística, serão denominadas


aqui por gestão e governança.
O conceito de governança, já comum no escopo empresarial (subsistema de uso e
aplicação do conhecimento19), ainda é pouco explorado na literatura sob a ótica das
instituições de pesquisa e instituições de apoio, fomento e intermediação (subsistema de
geração e difusão do conhecimento20). Nesse contexto, a presente pesquisa busca responder
as seguintes questões:
a) Como os elementos e condicionantes regionais afetam o desenho de Sistemas
Regionais de Inovação (SRI)? Como os conceitos de Gestão e Governança do
Conhecimento podem ser incorporados por esses sistemas?
b) Qual a arquitetura institucional do Sistema Regional de Inovação de Minas
Gerais, atualmente?
c) Como a Gestão e a Governança do Conhecimento ocorrem nas instituições de
pesquisa públicas do território da Zona da Mata mineira, atualmente? Como se
dá a Governança do Conhecimento nas demais instituições (de apoio, fomento e
intermediação)?
d) Qual o papel do território da Zona da Mata mineira no SRI do estado e,
consequentemente, no SNI brasileiro?
e) Como melhores práticas de Gestão e Governança do Conhecimento podem
ampliar a efetividade desse papel nas instituições pesquisadas?
A escassez de evidências empíricas e de modelos para aplicação dessa forma de
governança (institucional) configura a principal premissa desse estudo. Outras premissas
também podem ser destacadas especificamente quando ao SRI de Minas Gerais:
a) Este sistema é impactado pelas características do Sistema Nacional de Inovação
brasileiro e também de diferentes maneiras pelos seus territórios de
desenvolvimento.
b) As expressivas discrepâncias econômicas entre esses territórios são diretamente
influenciadas pelos perfis intrínsecos de suas cadeias produtivas principais e
indiretamente pela má distribuição de seus ativos de conhecimento e
tecnológicos.

19
Terminologia empregada por Autio (1998) para designar as empresas e suas relações horizontais e
verticais, a saber: com empresas clientes, fornecedoras e concorrentes.
20
Sugerida também por Autio (1998), refere-se às instituições de ensino, pesquisa, fomento e intermediação
que garantem a criação do conhecimento, bem como sua disseminação.
24

c) A proposição de políticas de inovação que abrangem indistintamente todo o


estado, e que por esse motivo desconsideram as especificidades dos territórios
metropolitanos, periféricos e dominados por indústrias tradicionais (em termos
de demandas e ofertas) pode, além de não gerar resultados econômicos efetivos,
aumentar suas diferenças.
Diante de tais premissas, e das justificativas anteriormente citadas, algumas
hipóteses referentes ao SRI de Minas Gerais podem ser destacadas:
a) As ICT de Minas Gerais contam com um portfólio científico, embora
concentrado geograficamente, capaz de suprir importantes demandas de
conhecimento das suas indústrias, porém subutilizado.
b) Isso ocorre porque as práticas de governança, em geral, focam mais na
indústria como potencial demandante do que nessas instituições como
potenciais ofertantes de conhecimento.
c) Não há clareza sobre quais são as instituições (de pesquisa, fomento, apoio e
intermediação) encarregadas de garantir que a coordenação mais assertiva
ocorra.
d) Coexiste a descontinuidade na definição dos papéis de cada uma das
instituições.

De modo a responder as questões e validar as hipóteses destacadas, foram traçados


os objetivos que seguem.

1.2 OBJETIVOS

Essa pesquisa busca trazer à luz as discussões referentes à gestão e governança do


conhecimento nos níveis institucional e regional. É válido destacar, desde o princípio, que
o conceito de região praticado aqui é estritamente teórico, definido pelo lugar onde um
conjunto de atores se encontra integrado permanentemente, ou seja, limita-se
funcionalmente pela frequência e intensidade de suas interações econômicas. Sob a luz das
contribuições de Storper (1994), as atividades produtivas chave, em especial aquelas que
envolvem alto conteúdo tecnológico e conhecimento, são fortemente enraizadas nos
25

territórios, porém também inseridas em redes que envolvem outros territórios, bem como
partes desterritorializadas do seu sistema de produção e marketing.
Tal enfoque é particularmente importante para o caso de MG, uma vez que o seu
sistema de inovação se apresenta, na prática, subdividido em diversos sistemas menores.
Outra questão, ainda em consolidação, diz respeito às diferenças conceituais entre gestão e
governança, nesse escopo, o que será discorrido nas seções 2.2 e 2.3., porém sem a
pretensão de restringir as possíveis definições dos termos.
Nesse sentido, o objetivo geral do estudo é identificar empiricamente como as
práticas de gestão e governança do conhecimento são e deveriam ser empregadas na Zona
da Mata mineira (sob a ótica das instituições de apoio, fomento, intermediação e ICT), de
modo a revelar e ampliar o seu papel potencial dentro do SRI do estado e no SNI
brasileiro.
Como objetivos específicos, destacam-se:
a) Identificar os diferentes tipos de regiões presentes no SRI mineiro por meio do
mapeamento dos ativos e fluxos de conhecimento (formais) das suas
instituições de ensino e pesquisa públicas, bem como do perfil industrial dos
seus territórios de desenvolvimento. Em maior detalhe, as características da
Zona da Mata mineira.
b) Descrever o histórico das políticas explícitas e implícitas21 de inovação
específicas do estado e analisar sua efetividade e continuidade, além do papel
legitimado das principais instituições de apoio, fomento e intermediação
formalmente envolvidas.
c) Propor um modelo de análise de gestão e governança do conhecimento em
territórios passível de adaptação a outros territórios de natureza semelhante.
Os procedimentos metodológicos empregados para atingir tais objetivos são
discriminados a seguir.

1.3 METODOLOGIA DA PESQUISA

A metodologia adotada no presente estudo e apresentada nesta seção está


fundamentada, principalmente, na estrutura proposta por Gil (2010) e compreende as

21
A exemplo das de educação, trabalho e infraestrutura
26

seguintes informações: abordagem metodológica, definição dos objetos e escopo da


pesquisa e a estratégia de coleta e análise de dados.

1.3.1 Abordagem Metodológica

Quanto às suas características, a pesquisa compreendida por esta tese possui


natureza aplicada, uma vez que é dirigida a um problema real e específico e que envolve
interesses limitados localmente. Para tal, a abordagem desse problema, diante de sua
complexidade, mesclará pesquisas de natureza quantitativa e qualitativa. As primeiras
buscarão conformar um diagnóstico do sistema de inovação mineiro baseado em dados e
informações passíveis de tabulação extraídos de fontes secundárias e primárias (com a
análise dos questionários apresentada na Seção 4.3). Esses resultados, per se, não são
plenamente suficientes para explicar fenômenos permeados por tantas variáveis, como é o
caso dos sociais e políticos. Por esta razão, funcionam como importante insumo para a
segunda abordagem, mais adequada às respostas subjetivas e influenciadas pelo meio.
Ao longo de cada etapa de desenvolvimento, o estudo assumirá três objetivos
metodológicos distintos. O primeiro, apresentado na Seção 2, consiste em uma pesquisa
exploratória. Essa abordagem “têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
problema com vista a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses” (GIL, 2010, p. 41).
Contou, para tal, essencialmente com pesquisas bibliográficas.
O segundo objetivo metodológico, apresentado na Seção 3, compreende uma
pesquisa descritiva que “tem por objetivo primordial a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre
variáveis” (GIL, 2010, p. 42). Fundamenta-se, dessa maneira, na coleta e tratamento de
dados extraídos de fontes secundárias.
Por fim, o último objetivo será alcançado com uma pesquisa explicativa, que
buscará identificar os fatores que contribuem ou impactam os fenômenos descritos na etapa
anterior. Dessa maneira, os procedimentos técnicos empregados envolvem entrevistas e
observação direta (GIL, 2010), cujos resultados são detalhados na Seção 4.
27

1.3.2 Objetos e Escopo da pesquisa

O macro objeto do estudo compreende o SRI de Minas Gerais. Porém, como já


enfatizado anteriormente, os sistemas regionais de modo geral são, ou ao menos deveriam
ser, continuamente influenciados pelas características do SNI onde estão inseridos. Da
mesma forma, as diferenças estruturais identificadas entre os territórios neles
compreendidos sugerem práticas de gestão e governança específicas. Ou seja, é esperado
que aquelas direcionadas às regiões com redes de inovação enraizadas sejam diferentes das
voltadas às mais empobrecidas nesse sentido.
Sendo assim, o objeto da pesquisa explicativa restringe-se ao território da Zona da
Mata Mineira, mas, para garantir a consistência da análise, o estudo parte do levantamento
das características do SRI mineiro pertinentes ao escopo do trabalho. Entende-se como
inseridos nesses sistemas seus subsistemas de aplicação e exploração do conhecimento
(empresas e suas relações com contratantes, fornecedores e concorrentes) e,
principalmente, os de geração e difusão do conhecimento (suas instituições de ensino e
pesquisa, apoio, fomento e intermediação).
Uma importante observação quanto ao escopo geográfico deve ser aqui destacada.
A divisão do estado em territórios de desenvolvimento (empregada pelo governo estadual)
difere da sua classificação em mesorregiões, proposta pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 1990). Essa distinção torna-se imperativa para o território
de desenvolvimento que será analisado, Zona da Mata. Como pode ser observado na
Figura 1, o IBGE divide o estado de Minas Gerais em 12 mesorregiões, com a da Zona da
Mata compreendendo as microrregiões de Cataguases, Juiz de Fora, Manhuaçu, Muriaé,
Ponte Nova, Ubá e Viçosa.
Já a classificação usada pelo governo do estado, e adotada neste estudo, divide-o
em 17 territórios de desenvolvimento, como ilustrado na Figura 2. Para este caso, o
território da Zona da Mata compreende os microterritórios de Além Paraíba, Carangola,
Cataguases, Juiz de Fora, Lima Duarte, Muriaé, Santos Dumont, São João Nepomuceno e
Ubá.
28

Figura 1 – Mapa das 12 mesorregiões do estado de Minas Gerais

Fonte: MINAS GERAIS (2016).

Figura 2 – Mapa dos 17 territórios de desenvolvimento do estado de Minas Gerais

Fonte: Fóruns Regionais (2017).

1.3.3 Estratégia de Coleta e Análise de Dados

A pesquisa exploratória compreendeu a revisão bibliográfica acerca dos conceitos


de Conhecimento (Seção 2.1); Gestão do Conhecimento, enfocando sua perspectiva
institucional (Seção 2.2); Governança do Conhecimento (Seção 2.3); Sistemas Nacionais
de Inovação (Seção 2.4) e Sistemas Regionais de Inovação (Seção 2.5).
A pesquisa descritiva, por sua vez, contou com três etapas. A primeira delas,
apresentada na Seção 3.1, compreende a revisão bibliográfica e documental acerca do
histórico das políticas explícitas de inovação, diretrizes estratégicas, bem como das
29

principais instituições de apoio, fomento e intermediação presentes no SRI de Minas


Gerais, com base em relatórios oficiais do governo do estado, fundações e das próprias
instituições analisadas.
Já a segunda etapa corresponde ao levantamento e análise dos dados referentes ao
portfólio científico e tecnológico das onze instituições de ensino superior e pesquisa
públicas e federais do estado, de uma instituição de ensino superior privada e de uma
instituição de ensino superior estadual (essas duas últimas em função da representatividade
para os seus territórios e do volume de publicações), a saber: Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal de
Uberlândia (UFU), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade Federal de
Lavras (UFLA), Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Universidade Federal de
Itajubá (UNIFEI), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal do
Triângulo Mineiro (UFTM), Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ),
Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MINAS) e Universidade Estadual de Montes
Claros (UNIMONTES). A extração dos dados referentes à produção científica das
instituições de pesquisa aplicada foi desconsiderada devido ao baixo volume, mas as
coautorias dos pesquisadores dessas instituições com os das IES acima citadas puderam ser
devidamente identificadas.
Tal portfólio fundamentou-se em todas as publicações dessas instituições indexadas
22
na base Web of Science no período entre 2000 e 2015 (considerado satisfatório para
análise das características recentes dessa produção). Posteriormente, a análise dessas
publicações foi feita com o uso do software Vantage Point23, em função do alto volume de
publicações coletadas e também devido ao interesse pela realização de estudos
prospectivos avançados.
Para tal foram obedecidos os seguintes passos: busca avançada das publicações de
cada IES na base com emprego do operador booliano OG=(Nome da IES por extenso),
considerando todos os tipos de publicações e línguas; extração dessas publicações por meio
da opção de salvamento “Salvar em outros formatos de arquivo” e gravação do “Registro
Completo” em formato de “Texto sem Formatação”; importação de todos os registros

22
Web of Science é a designação dada a um conjunto de bases de dados conhecidas como Science Citation Indexes
(Science Citation Index, Social Science Citation Index e Arts and Humanities Citation Index), compiladas pelo ISI
(Institute for Scientific Information).
23
VantagePoint é uma ferramenta de mineração de texto para descobrir conhecimento em resultados de busca de bancos
de dados de patentes e literatura. Disponível via https://www.thevantagepoint.com/.
30

extraídos para o software selecionando-se nele o filtro ISI – WOS (referente a base
escolhida). As análises resultantes correspondem à distribuição das publicações pelas IES,
distribuição por grande área de conhecimento, evolução das publicações ao longo do
período analisado, perfil das coautorias por IES, por área e subárea. O resultado é
apresentado na Seção 3.2.
Também na Seção 3.2 é apresentado o levantamento das características dos
depósitos de patentes realizados entre o período de 2000 e 2014 que apresentavam ao
menos uma das IES públicas e federais analisadas no portfólio científico como seus
titulares24 (não incluindo na análise, portanto, a PUC MINAS e a UNIMONTES). Apesar
das patentes concedidas conformarem indicadores de análise mais coerentes (uma vez que
já passaram pelo exame do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI), optou-se
pela análise dos depósitos, por conta da demora verificada nessas concessões pelo instituto,
o que inviabilizaria a análise comparativa entre o portfólio científico e tecnológico. É
possível que os depósitos oriundos dos resultados de pesquisas acadêmicas ocorram
concomitantemente às publicações, o que permite verificar aproximadamente suas
compatibilidades. A desconsideração dos anos de 2015 e 2016 se deu em função dos
atrasos das publicações dos depósitos no sistema, o que fez com que algumas dessas ainda
não tivessem ocorrido na ocasião da análise. Do mesmo modo, 16 depósitos foram
desconsiderados em algumas estratificações, o que é sinalizado quando pertinente, por se
encontrarem incompletos na base. A análise dos dados compreendeu a evolução
quantitativa dos depósitos; a distribuição geral e por IES das seções, classes e subclasses,
em acordo com a Classificação Internacional de Patentes (INPI, 2017); e, o perfil das
cotitularidades.
Também compreendida na pesquisa descritiva, por fim foi realizado o levantamento
das principais aglomerações produtivas do estado distribuídas em seus dezessete territórios
de desenvolvimento e seu desempenho econômico (Seção 3.3), com base em estudos
acadêmicos anteriores, atualizados pelas informações disponibilizadas no portal
Datapedia25 (aba “Potencial Econômico”).
Nesta mesma seção é realizada a análise do perfil inovador da indústria no estado.
Para tal, foram empregados os dados extraídos da PINTEC 2014 (2016a) referentes às
empresas de MG, agrupados nos seguintes indicadores: fontes de inovação; tipos de

24
Tais dados não foram coletados na busca por patentes do site do INPI, mas por levantamento interno na instituição, de
modo a garantir a consideração de todas as variantes possível nos nomes dos titulares, por exemplo: UFMG,
Universidade Federal de Minas Gerais, Univ. Fed. De Minas Gerais, entre outros.
25
Disponibilizado em: https://www.datapedia.info/public/
31

conhecimento e formas de aprendizado empregados; foco da trajetória tecnológica; tipos


de resultado de inovação; e, variáveis de estrutura e desempenho. O cálculo desses
indicadores foi realizado em acordo com a metodologia similar adotada por Campos e Ruiz
(2008) e adaptada, conforme as mudanças dos indicadores apresentados nos relatórios de
2013 e 2016. Estes são apresentados nos Quadros 1, 2, 3, 4 e 5.
A análise de clusters empregada trata-se de uma das técnicas de análise
multivariada utilizada para formar agrupamentos que contemplem o maior número de
informações similares. Tal técnica, aplicada ao contexto analisado, assegura maior
robustez na conformação da taxonomia. A medida de similaridade escolhida foi a distância
euclidiana quadrática e o procedimento para a definição do número de clusters restringiu-
se ao método hierárquico, comprovadamente mais apropriado por não exigir suposições
iniciais quanto a esse número. As análises foram realizadas empregando o software
estatístico Minitab 17 e o método de análise das distâncias adotado foi o de centroides,
com a ligação de medianas.

Quadro 1- Variáveis e indicadores do grupo “Fontes de Inovação” (dispêndios)


Variável Indicador
P&D P&D (R$)/ Receita Líquida de Vendas
D&E Projetos industriais/preparações técnicas (R$)/ Receita Líquida de Vendas
Treinamento Treinamentos/ Receita Líquida de Vendas
Marketing Introdução de inovações no mercado/ Receita Líquida de Vendas
P&D Externo Aquisição externa de P&D/ Receita Líquida de Vendas
Conhecimento Externo Aquisições de outros conhecimentos/Softwares/ Receita Líquida de Vendas
Máquinas/Equipamentos Aquisição/ Receita Líquida de Vendas
Fonte: adaptado de Campos e Ruiz (2008).

Quadro 2 - Variáveis e indicadores do grupo “Tipos de Conhecimento e Formas de Aprendizado”


(relevância)
Variável Indicador
Conhecimento Tácito Contato com outras empresas do grupo, clientes, fornecedores, consumidores,
feiras, concorrentes e outros.
Conhecimento Fontes formais como centros de capacitação profissional e assistência técnica,
Codificado instituições de testes/ensaios e similares.
Pesquisa Departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
Interação Interação com redes de interfirmas e com outras empresas (informatizadas).
Subcontratação Empresas de consultoria para inovação
Interação Universidades Interação com universidades e centros de pesquisa.
Fonte: adaptado de Campos e Ruiz (2008).
32

Quadro 3 - Variáveis e indicadores do grupo “Foco da Trajetória Tecnológica” (relevância)


Variável Indicador
Redução de Custos Inovações que reduzem custos de produção
Melhoria de produtos Inovações que melhoram a qualidade e ampliam a gama de produtos
Diversificação Inovações que visam ampliar a gama de produtos ofertados
Competitividade Inovações que visam manter ou ampliar a participação da empresa no mercado
Mudança dimensional da Inovações que aumentam a capacidade produtiva.
produção
Flexibilização da Inovações que melhoram a flexibilidade produtiva.
produção
Novos mercados Inovações para abertura de novos mercados.
Redução de Impacto Inovações que reduzem impactos no meio ambiente.
Ambiental
Enquadramento Inovações que permitem a adaptação a normas reguladoras no país ou no
regulação exterior.
Fonte: adaptado de Campos e Ruiz (2008).

Quadro 4 - Variáveis e indicadores do grupo “Tipos de resultado de inovação”


Variável Indicador
Inovação/Produto Proporção de firmas do setor que inovaram em produtos novos para ela ou para
o mercado.
Inovação/Processo Proporção de firmas do setor que inovaram em processos novos para ela ou para
o mercado.
Inovação em produto Proporção de firmas do setor que inovaram com produtos novos para o mercado
para o mercado Nacional nacional
Inovação em produto Proporção de firmas do setor que inovaram com produtos novos para o mercado
para o mercado Mundial mundial
Inovação em processo Proporção de firmas do setor que inovaram com processos novos para o
para o mercado Nacional mercado nacional
Inovação em processo Proporção de firmas do setor que inovaram com processos novos para o
para o mercado Mundial mercado mundial
Inovação Incremental Proporção de firmas do setor que inovaram com produtos novos para a empresa,
em produtos mas já existente no mercado nacional.
Inovação Incremental Proporção de firmas do setor que inovaram com processos novos para a
em processos empresa, mas já existente no mercado nacional.
Fonte: adaptado de Campos e Ruiz (2008).

Quadro 5 - Variáveis e indicadores do grupo “Variáveis de estrutura e desempenho”


Variável Indicador
Mão de obra em P&D % de pessoas ocupadas nas atividades internas de P&D (dedicação exclusiva)
Qualificação da mão de % de pesquisadores graduados e pós-graduados
obra
Fontes de financiamento Proporção de firmas do setor que receberam investimento estrangeiro e público
público e estrangeiro para P&D interno
Fonte: adaptado de Campos e Ruiz (2008).

De posse desse segundo conjunto de informações (pesquisa descritiva), a pesquisa


explicativa contou com uma pesquisa de campo, apresentada nas seções 4.1, 4.2 e 4.3,
estruturadas em acordo com o modelo teórico proposto ao final da Seção 2.
33

A análise correspondente às Capacidades Estatais compreendeu dezenove


entrevistas presenciais com representantes das principais instituições do estado e do
território, ligadas direta ou indiretamente, com o seu ecossistema de inovação,
discriminados no Quadro 6. É importante ressaltar que o conceito “Capacidade Estatal”,
melhor detalhado na seção 2.3.3 é aqui empregado para descrever de uma forma mais
ampla o arranjo institucional efetivamente disponível, bem como suas conexões. Não se
restringe, dessa maneira, apenas aos atores de governo, mas a todos aqueles que, ainda que
privados, possuam claramente um papel de apoio, intermediação ou fomento nesse sentido
(papel este identificado por meio dos relatórios oficiais analisados na pesquisa descritiva).
Especificamente para o caso da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de
Minas Gerais (EMATER), em função da sua capilaridade e gestão distribuída, optou-se por
entrevistar os três gestores que atuam no território separadamente. O roteiro empregado
nas entrevistas desse grupo é apresentado no Anexo I e foi previamente enviado a todos os
entrevistados, que autorizaram o uso das informações fornecidas em Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido apropriado. Especificamente nesta seção, a identidade
dos entrevistados foi mantida em sigilo, de modo que suas falas pudessem ser usadas
integralmente sem prejuízos às suas imagens.
Do mesmo modo, a análise referente às Capacidades Dinâmicas contou com oito
entrevistas, realizadas com pelo menos um dos responsáveis pela área de inovação e
transferência de tecnologia de todas as instituições de ensino e pesquisa presentes no
território da Zona da Mata, discriminados no Quadro 7. O roteiro da entrevista realizada
com esse grupo de entrevistados é apresentado no Anexo II. A autorização para uso das
informações fornecidas também conta com a assinatura do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido pelos participantes.
É importante ressaltar que no caso do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais
(IFSudeste) e da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), o setor procurado
encontra-se centralizado nas cidades de Juiz de Fora e Belo Horizonte, respectivamente.
Por essa razão, não foram realizadas entrevistas nos seus campi individualmente, uma vez
que os mesmos não contam até o momento com setores ou pessoas dedicadas às funções
relacionadas à inovação. Embora o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais (CEFET) também conte com a gestão da área centralizada em Belo Horizonte,
possui um NIT e responsável capaz de contribuir com a pesquisa e, por esse motivo, optou-
se por entrevistá-lo.
34

Quadro 6 – Lista de Entrevistados (Capacidades Estatais)


Instituição Cargo Tempo no cargo Nível
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Superintendente de 3 anos e 8 meses Estadual
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Inovação Tecnológica
(SEDECTES)
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Coordenador do Portal 6 anos (na Estadual
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior SIMI coordenação há 2
(SEDECTES) anos e 6 meses)
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Coordenador do Hub 1 ano Estadual
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Minas Digital
(SEDECTES)
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Presidente 3 anos e 6 meses Estadual
Minas Gerais (FAPEMIG)
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Coordenadora do SIMI 7 anos (na função, Estadual
Minas Gerais (FAPEMIG) há 1 semana)
Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais Presidente 3 anos e 6 meses Estadual
(BDMG)
Instituto de Desenvolvimento Integrado de Vice-presidente 3 anos e 1 mês Estadual
Minas Gerais (INDI)
Secretaria de Desenvolvimento Integrado e Subsecretário dos 3 anos e 6 meses Estadual
Fóruns Regionais de Governo Fóruns Regionais de
Governo
Rede Mineira de Inovação (RMI) Presidente 6 anos Estadual
Secretaria de Desenvolvimento Integrado e Secretário Executivo na 3 anos Regional
Fóruns Regionais de Governo Zona da Mata
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Agente de Inovação – 8 meses Regional
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Zona da Mata
(SEDECTES)
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Gerente regional da 11 anos Regional
Pequenas Empresas de Minas Gerais (SEBRAE Zona da Mata e
MINAS) Vertentes
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Analista – Juiz de Fora 3 anos Regional
Pequenas Empresas de Minas Gerais (SEBRAE
MINAS)
Agência de Desenvolvimento de Juiz de Fora e Presidente 3 meses Regional
Região (ADJFR)
Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) Secretário de 4 meses Regional
Desenvolvimento
Econômico, Trabalho e
Turismo
Agência de Inovação de Leite e Derivados Gerente executivo Na agência, há 3 Regional
(Polo do Leite) anos e meio. No
polo, há 11 anos.
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Gerente Regional - 23 anos Regional
Rural de Minas Gerais (EMATER) Muriaé
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Gerente Regional - 10 anos Regional
Rural de Minas Gerais (EMATER) Cataguases
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Gerente Regional – 5 anos e 6 meses Regional
Rural de Minas Gerais (EMATER) Juiz de Fora

A última etapa da pesquisa explicativa (Capacidades Cognitivas) se deu com o


envio de um questionário online a todos os pesquisadores atuantes nas mesmas instituições
de ensino e/ou pesquisa mencionadas no Quadro 7. De cerca de 900 questionários
enviados, obteve-se 103 retornos. As perguntas do questionário se encontram descritas no
Anexo III.
35

Quadro 7 – Lista de Entrevistados (Capacidades Dinâmicas)


Instituição Cargo Tempo no cargo
UFJF Diretor de Inovação 1 ano e cinco meses
UFJF Gerente de Inovação e Transferência de 3 anos (no CRITT a 10
Tecnologia – CRITT (Centro Regional de anos)
Inovação e Transferência de Tecnologia)
IFSudeste Diretora de Inovação/ NITTEC (Núcleo de 5 anos
Inovação e Transferência de Tecnologia)
IFSudeste Pró-reitor de Pesquisa e Inovação 1 ano e três meses
Empresa Brasileira de Chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia 4 anos
Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA Gado de Leite)
Empresa de Pesquisa Coordenador de Transferência e Difusão de 2 anos
Agropecuária de Minas Tecnologia
Gerais (EPAMIG - Instituto
Cândido Tostes)
UEMG Coordenador Geral do Núcleo de Inovação 7 meses
Tecnológica (NIT)
Centro Federal de Educação Coordenador de Inovação Tecnológica/ CIT 7 anos
Tecnológica de Minas Gerais
(CEFET Leopoldina)

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

O trabalho se divide em quatro seções, além das suas conclusões, referências


bibliográficas e os anexos I, II e III.
A seção 1 é compreendida pela introdução; problema da pesquisa, justificativas e
hipóteses; objetivos; metodologia; e estrutura do trabalho.
A seção 2 apresenta o referencial teórico que a fundamentou, subdividido em
quatro subseções, a saber:
a) O conhecimento: uma abordagem epistemológica (2.1)
b) Gestão de ativos de conhecimento ao nível institucional (2.2);
c) Governança do Conhecimento Macro (2.3); subdividida em discussões acerca
de Custos de Transação, Direitos de Propriedade e Contratos; Visão Baseada
em Recursos e Capacidades Dinâmicas; e, Capacidades Estatais.
d) Sistemas Nacionais de Inovação - SNI (2.4)
e) Sistemas Regionais de Inovação – SRI (2.5)
A seção 3 aborda, com base na análise de dados extraídos de fontes secundárias, as
características do SRI mineiro (em acordo com a metodologia escolhida para a pesquisa
36

descritiva). Na subseção 3.1 são apresentadas a estrutura institucional e as principais


diretrizes estratégicas do estado. Na subseção 3.2 o levantamento acerca do subsistema de
geração e difusão do conhecimento (portfólio científico e tecnológico das IES federais). E,
na subseção 3.3 o subsistema de aplicação e exploração do conhecimento (setores
tradicionais e principais aglomerações industriais).
Por fim, a seção 4 detalha o desenvolvimento da pesquisa de campo
compreendendo a análise das informações coletadas nas entrevistas e nas observações
diretas realizadas nas instituições de apoio, fomento e intermediação selecionadas (4.1),
nas IES e de pesquisa aplicada (4.2); e, nos questionários enviados aos pesquisadores
dessas últimas instituições (4.3).
Um esquema relacionando a estrutura da tese e as questões da pesquisa é
apresentado na Figura 3.

Figura 3 – Estrutura da Tese e Questões da Pesquisa


37

2. REFERENCIAL TEÓRICO

É entendido por senso comum que a facilidade no acesso aos dados e informações
resulta em inúmeros benefícios às empresas e às pessoas. Porém, e paradoxalmente, a
quantidade avassaladora em que se encontram disponíveis representa, atualmente, um dos
maiores desafios enfrentados na busca pelo seu uso útil. Choo (2003, p. 27) defende que
quando falta “uma clara compreensão dos processos organizacionais e humanos pelos
quais a informação se transforma em percepção, conhecimento e ação, as empresas não são
capazes de perceber a importância de suas fontes e tecnologias de informação”.
A informação restringe-se a coleção de fatos que, ao serem organizados,
transcendem em valor os próprios fatos isolados. Já o conhecimento é um fruto específico
do contexto e da situação, sendo criado dinamicamente por meio das interações (FREIRE,
2012). A capacidade de inovar, inventar e construir, por sua vez, envolve o uso e
compartilhamento dos conhecimentos existentes, compreendendo centralmente o
aprendizado. Por esse motivo, a orientação dessas interações carece de gestão e governança
e, ainda mais intrinsicamente, de estratégia. A criação e o uso estratégico da informação
ocorrem essencialmente por três motivações distintas: dar sentido às mudanças do
ambiente externo; gerar novos conhecimentos e capacidades por meio do aprendizado; e,
suportar a tomada de decisões importantes (CHOO, 2003).
Essas duas expressões, gestão e governança, são conhecidas pela literatura
empresarial, onde se observa pouca dificuldade em distingui-las. De um modo geral, a
primeira compreende a condução eficaz de recursos e processos (tangíveis e intangíveis)
pelas pessoas de uma empresa, enquanto a segunda dedica-se à coordenação de seus
relacionamentos externos e internos a fim de garantir o equilíbrio no atendimento dos
objetivos de todas as partes interessadas (funcionários, clientes, acionistas, comunidades
afetadas, entre outros). A abordagem desses conceitos em uma perspectiva mais
abrangente, ou seja, compreendendo as especificidades de outros atores além das próprias
empresas, bem como a direção e intensidade das relações entre elas e as instituições que a
cercam, e entre essas instituições, faz-se necessária uma vez que podem determinar
consideravelmente a eficácia e eficiência de sistemas nacionais e regionais de inovação26.

26
Os conceitos de SNI e SRI são detalhados nas seções 2.4 e 2.5 deste estudo. Cabe para o momento destacar
que são compreendidos aqui como as construções institucionais que intencionam promover o progresso
tecnológico de países e regiões.
38

Cooke et al (2000) destacam a importância de se distinguir os termos “organização”


e “instituição”. Em resumo, as instituições são entendidas como elementos responsáveis
pela definição das “regras do jogo”, enquanto as organizações consistem nos times que
jogam tal jogo. Enquanto as primeiras são conformadas pelo conjunto de normas e leis
(formais), assim como hábitos e comportamentos (informais) comuns usados para regular
as interações que ocorrem entre elas e também com as organizações; as segundas
constituem-se por estruturas formais criadas conscientemente e com propósitos específicos.
Porém, na perspectiva evolucionista27, tanto organizações quanto instituições impactam-se
mutuamente e, como consequência, modificam as regras o tempo todo.
Complementarmente, Hodgson (2006) defende as organizações como um tipo
especial de instituição, porém com recursos adicionais. Envolvem, por essa razão: critérios
para o estabelecimento de limites e distinção de membros e não membros; princípios claros
de soberania sobre quem está no comando; e, cadeias de comando que delineiam as
responsabilidades internamente. Desse modo, suaviza as interpretações de diversos autores
quando definem as organizações como meros jogadores. Organizações também envolvem
estruturas ou redes, que necessitam de regras claras de comunicação, associação e
soberania, como as instituições.
A revisão teórica apresentada a seguir traz à luz discussões referentes ao
aprofundamento do conceito de conhecimento, sua gestão e governança nessa perspectiva
amplificada, assim como sobre SNI e o desdobramento desse tema em SRI pela literatura
vigente. Faz-se imperativo destacar que tanto a gestão quanto a governança na abordagem
aqui trabalhada ocorrem sobre os ativos de conhecimento (incorporados pelas organizações
e instituições) e não sobre o conhecimento em si (iniciado nas pessoas, e por isso
ingovernável e irrequieto). Do mesmo modo, o estudo também defende o território como o
lócus dessas organizações e instituições, que reflete assim seus recursos em potencial, ou
seja, os ativos que continuam incorporados e materializados pelas mesmas.

27
Relacionada às concepções neo-schumpterianas, detalhadas na subseção 2.3.1, que entendem as mudanças
tecnológicas como as principais propulsoras do desenvolvimento econômico.
39

2.1 O CONHECIMENTO: UMA ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA

Segundo Bombassaro (1992), na epistemologia moderna (ou teoria racional do


conhecimento), a solução para o problema da fundamentação do conhecimento oscila entre
a racionalidade e a historicidade, por vezes vistas como antagônicas. Sob a ótica analítica
(prática), a historicidade não deveria figurar como objeto de análise, enquanto que na ótica
histórica (teórica), a racionalidade poderia ser considerada como a derivação dos aspectos
históricos inerentes à investigação.
De acordo com Bunge28 (1985) apud Bombassaro (1992), existem sete tipos de
racionalidade: conceitual, lógica, metodológica, gnosiológica, ontológica, axiológica e
prática. A conceitual ocupa-se de minimizar a imprecisão dos conceitos, a lógica por evitar
as contradições e a metodológica por questionar e justificar, conformando-se as três
racionalidades teóricas. Já a racionalidade gnosiológica caracteriza-se por analisar o apoio
empírico e evitar incompatibilidades com o corpo do conhecimento científico e
tecnológico, porém sem postular a experiência como sua única fonte. A racionalidade
ontológica adota a concepção de um mundo coerente com a ciência e tecnologia da época,
bem como do conhecimento disponível acerca do mundo natural e social. A racionalidade
axiológica, por sua vez, determina as metas alcançáveis e relevantes. Por fim, a
racionalidade prática se ocupa dos meios necessários para alcançar tais metas.
As discussões acerca da teoria da racionalidade, no entanto, demonstravam que o
desenvolvimento da racionalidade científica, estimulada pelo progresso científico e
tecnológico, punha de lado o âmbito da ação humana e da ética (APEL, 1985). Por um
lado, defende que o julgamento do que é ou não racional depende mais propriamente de
normas e critérios institucionalizados (concepção criterial). Em contraponto a esta última,
se argumenta que a ciência nem sempre se utiliza da justificação racional para validar suas
pretensões, mas também é influenciada pela capacidade de persuasão das comunidades
científicas, a despeito de quaisquer critérios (concepção não-criterial).
A concepção criterial da racionalidade apoia-se, principalmente, nas contribuições
do Positivismo Lógico e Neopositivismo. Segundo Castañon (2007), o Positivismo Lógico
fundamenta-se no princípio da verificação, ou seja, nele só têm sentido as proposições que
podem ser verificadas empiricamente. Assim, estipula os critérios pelos quais a verdade ou

28
BUNGE, M. Racionalidad y Realism. Madrid: Alianza Editorial, 1985. 191 p.
40

falsidade de uma proposição pode ser averiguada sob determinadas condições. Mais
importante para a presente discussão, identificou a racionalidade como um conjunto de
algoritmos, que supostamente dispensariam o investigador da incumbência de decidir (o
que seria notadamente falível) (BOMBASSARO, 1992).
Para Putnam (1988), a concepção criterial determinada pelo Positivismo Lógico é
autorefutada, pois seus próprios enunciados são desprovidos de demonstração racional. No
entanto, a proposta de racionalidade criterial foi alvo de uma posterior discussão por meio
da epistemologia do Racionalismo Crítico inaugurada por Popper (1975)29 apud Castañon
(2007). Popper, contrariando o princípio da verificabilidade prescrito pelos positivistas,
dedica-se à crítica ao método indutivo e à observação, apontando a importância da
abstração e especulação que independem da experiência observacional por meio do critério
da falsificabilidade (que também distinguiria a ciência da não-ciência) (BARBOSA, 1993).
Para Popper, segundo Castañon (2007), a observação pura, livre de pressupostos e
hipóteses é um mito filosófico. Por outro lado, a ideia psicológica defendida pelo autor
determina que as teorias e expectativas, por vezes inconscientes, acerca da realidade
orientam o que será destacado como relevante para a observação. Porém, qual critério de
cientificidade justificaria uma ideia como conhecimento? Para Popper, o que faz uma
hipótese ser integrada ou não ao conhecimento científico é o fato de gerar ou não
consequências passíveis de falsificação. Porém, para Lakatos e Musgrave (1979)30 apud
Bombassaro (1992), a metodologia defendida por Popper também se apoia no
convencionalismo, uma vez que para existir precisa reconhecer a institucionalização dos
métodos, ou seja, qualquer que fosse o meio de criação da hipótese, este seria
institucionalizado.
Uma das principais críticas ao Racionalismo Crítico, de acordo com Castañon
(2007), reside no fato de que a construção do conhecimento por parte dos cientistas não
ocorre apenas por meio da validação das suas teorias, mas, ainda mais propriamente na sua
falsificação, ou seja, uma teoria científica só pode ser considerada como tal quando é
passível de ser falseável (princípio da falseabilidade ou refutabilidade). A verdade é o ideal
regulador da ciência, mas jamais se tem certeza de tê-la alcançado definitivamente.
Já a concepção não-criterial aproxima-se da ótica histórica, anteriormente
mencionada, e pode inclusive ser apontada como o tipo de racionalidade aceitável pelos

29
POPPER, K. (1975). A Lógica da Investigação Científica. São Paulo: Abril Cultural.
30
LAKATOS, I. e MUSGRAVE, A (Org.). Criticism and the Growth of Knowledge. Cambridge, Cambridge
University Press, 1970, trad. De Octavio M. Cajado, A crítica e o Desenvolvimento do Conhecimento. São
Paulo, Cultrix/EDUSP. 1979.
41

autores que a defendem. Kuhn (1974)31 apud Castañon (2007), um de seus mais
expressivos defensores, introduz o termo paradigma, com o sentido de conjunto de
conquistas científicas e pressupostos universalmente aceitos e compartilhados, que
fornecem um modelo de problemas e soluções aceitáveis à um tipo de pesquisa específica
(CASTAÑON, 2007).
Para Kuhn (1991), a ciência normal é determinada pelas práticas teóricas e
experimentais aceitas pelo paradigma vigente, dotado de regras convencionais ou
arbitrárias, inconscientes. Naturalmente, a persistência do paradigma depende das
habilidades da comunidade científica em sustentá-lo. Porém, quando o conteúdo
informativo visto como anômalo abala a solidez de um paradigma, um novo conjunto de
teorias surge como candidata a novo paradigma por ser capaz de explica-las (ciência
extraordinária). Tal termo aproxima-se, não por acaso, à curva S de Foster (1986), acerca
dos paradigmas tecnológicos, nesse caso, dividindo as fases em fluidas e dominantes.
O pensamento de Kuhn caracteriza-se por não-criterial, por acreditar nos critérios
apenas em sua forma instrumental em relação ao paradigma vigente, mas enumera motivos
em função dos quais emerge um novo paradigma: reorganização gestáltica do quadro
conceitual e factual, interesses, pressões políticas e até mesmo fé. Porém, não é totalmente
historicista, uma vez que defende a incomensurabilidade dos paradigmas. Ou seja, é
impossível compará-los racionalmente. Dada tal impossibilidade, o filósofo acredita que a
escolha entre dois paradigmas é majoritariamente impactada por fatores políticos ou
propagandísticos do momento.
Putnan (1988), diante dos dois pontos de vista (criterial e não-criterial), conclui que
ambos são insustentáveis: acreditar em princípios fixos e imutáveis ou demonstrar que a
racionalidade não existe podem ser consideradas abordagens igualmente equivocadas. Mas
destaca que a cientificidade não deve ser vista como sinônimo de racionalidade, visto que a
ciência pode representar, no máximo, uma das múltiplas vozes da razão. No entanto, ao
aceitar que os valores são pré-condições para o conhecimento, o que supostamente o
aproxima da concepção não-criterial, esses mesmos valores podem ser apontados como
critérios possíveis, ou seja, nesses se baseariam o que deve ou não se deve acreditar,
coletivamente. Para além, se a incomensurabilidade de todo existisse, não haveria como
traduzir a linguagem empregada em outras épocas nas seguintes. Por outro lado, um ponto

31
KUHN, T. Reflections on my Critics. In: Lakatos & Musgrave (ed.). Criticism and the
Growth of Knowledge. Cambridge: Cambridge University Press. p. 231-278, 1974.
42

de equilíbrio razoável pode ser identificado quando a reunião de interesses e propósitos de


pessoas reais, precondições para o conhecimento, põe a relevância como critério aceitável.
Já a historicidade, que emerge principalmente a partir do século XX, vista aqui
mais como complementar à racionalidade que excludente, também pode ser discutida com
o propósito de se estudar o conhecimento produzido pela ciência. Bombassaro (1992)
defende que a sua presença pode ser verificada de dois modos: compreendendo-se a
ciência como produção (processo contínuo de compreensão e explicação do lugar em que
se situa o homem) e como produto (conjunto de enunciados sobre esse lugar). Contudo, a
historicidade também pode ser percebida em um terceiro modo, o do produtor, ou seja, a
historicidade do conhecimento compreende a historicidade do próprio homem.
Segundo Feyerabend (1977, p. 88):
“O material que o cientista realmente dispõe – as leis, os resultados
experimentais, as técnicas matemáticas, os preconceitos epistemológicos,
a atitude frente às absurdas consequências das teorias que aceita – é, sob
muitos aspectos, indeterminado, ambíguo e jamais se acha totalmente
desvinculado de sua história”.

Desse modo, faz-se imperativo distinguir os limites de interação entre o contexto da


descoberta e o contexto de justificação para o avanço da ciência. Paradoxalmente, na
pesquisa científica subsiste uma “tensão essencial”, que de certo modo obriga o cientista a
ser ao mesmo tempo tradicionalista e iconoclasta.
De acordo com Lakatos e Marconi (1991), convém distinguir a história interna da
história externa para fins de descrever os distintos âmbitos que permeiam a historiografia.
No primeiro caso, o desenvolvimento da ciência resulta dos conhecimentos consolidados.
Já o segundo caso o descreve como resultado da estrutura social em que os pesquisadores
se inserem, novamente, configurando fatores residuais não racionais.
Atualmente, as discussões pertinentes ao relativismo concentram-se mais no âmbito
da Sociologia do Conhecimento do que da Filosofia da Ciência, como o Construtivismo
Social. A principal reivindicação dessa teoria é de que a “realidade” é construída
socialmente. Dentre suas características destacam-se: renúncia de um critério de
cientificidade, que demarque ciência de não ciência; rejeição da subordinação do teórico ao
observacional; crença dos resultados da ciência como fruto da interação social; concessão
de primazia à história da ciência para julgá-la; entendimento da sociologia como campo
capaz de explicar a ciência; adoção da incomensurabilidade de paradigmas; e, rejeição da
superioridade epistêmica da ciência.
43

Habermas (1973), complementarmente, levanta a possibilidade de uma teoria da


sociedade, composta por duas esferas, a do mundo vivido, lugar do conhecimento tácito, e
a do mundo sistêmico, composto pelas ações que existem independentemente do processo
comunicativo. A segunda esfera é permeada pela personalidade, sociedade e cultura, e
caracteriza-se pela racionalidade instrumental. Posteriormente, tal conceito estendeu-se
para racionalidade comunicativa (a razão como resultado do discurso), onde ao menos dois
sujeitos, fazendo uso da linguagem, invocam proposições referentes ao seu mundo das
coisas, mundo das normas, mundo das vivências e das emoções.
Machado (2007) discute a produção do conhecimento na contemporaneidade
sugerindo a negação da construção sobre o real como produto da racionalidade. O
pressuposto de que o conhecimento humano é determinado subjetivamente destaca a
ênfase na prioridade da experiência prática, como uma construção contextual e reflexiva. A
realidade, vista como um universo aberto molda-se pela ação das crenças, explicada pela
linguagem, deliberada pelo discurso, satisfeita pela prática e adequada às prioridades da
época.
A concepção do conhecimento científico abordada pela epistemologia moderna
(dividida em racionalidade e historicidade) afastava a verdade sobre a linguagem capaz de
informar os vínculos sociais. Por isso, na perspectiva contemporânea, as influências
culturais, os aspectos da organização social e suas formas de relações, a linguagem e a
tecnologia servem como pano de fundo para legitimar o conhecimento. Para além, emerge
e dá sentido a expressão “conhecimento tácito” proposta por Michael Polanyi (1958).
Polanyi (1958) estrutura o conceito de conhecimento fundamentado em três
pressupostos, a saber: 1) descobertas não podem ser explicadas por regras e algoritmos; 2)
antes de público, o conhecimento é pessoal e construído por indivíduos, o que engloba suas
emoções; e, 3) o saber que antecede o conhecimento explícito (racional, objetivo e
mensurável) é primário, uma vez que todo ele é fundamentalmente tácito (pessoal, técnico
e cognitivo).
Posteriormente, o mesmo autor (1966) debruça-se sobre a discussão acerca desse
conhecimento tácito que compreende, em definição, um entendimento que existe sem ser
constatado. Sua concepção contrasta-se com uma premissa comum da ciência,
supostamente pautada pelo conhecimento impessoal, objetivo e rigoroso. Isso porque
sugere que as descobertas científicas são expressivamente influenciadas pelos valores dos
indivíduos nelas envolvidos. Adicionalmente, ignorar tal envolvimento pessoal implica na
destruição do próprio conhecimento já que é na sua vertente tácita que reside o potencial
44

para alternativas estáveis à objetividade até então absoluta. Em outras palavras, cabe ao
saber tácito, a incumbência pelas inovações fundamentais, uma vez que o ser humano se vê
confrontado com sua mente e munido constantemente de novas compreensões do mundo.
Para Linde (2001), o conhecimento tácito é particularmente problemático para a
gestão do conhecimento, uma vez que é difícil representá-lo por meio de regras. Embora
indescritível, pode ser parcialmente representado pela narrativa. Por essa razão, ao propor
uma taxonomia para os tipos de conhecimento tácito, enfatiza o conhecimento tácito social.
Essa distinção é pertinente para a presente discussão uma vez que o conhecimento social se
mantém e é transmitido de maneiras distintas das demais formas de conhecimento.
Castañon (2007) defende que uma das principais características do conhecimento é
que pode ser transmitido. Tal discussão é relevante, porque essa premissa também o
distingue da crença pessoal intransferível, e o valida apenas quando passível de alguma
verificação técnica. Porém, a noção de crença verdadeira justificada perpassa a
compreensão do que é verdade. Para além, realidade e verdade não são sinônimos, uma vez
que a primeira existe sem que se pense ou deseje. A verdade, por outro lado, trata-se de
uma declaração adequada sobre o real. Desse modo, conhecimento, e mais propriamente
seus ativos, podem ser definidos como a verdade justificada, mesmo que imbuída de
crenças (com exceção dos conhecimentos filosóficos, religiosos e do senso comum).
A criação do conhecimento vista como algo inconsciente, e por isso parcialmente
ingovernável, opõe-se ao conceito de gestão do conhecimento popularizado no início da
década de 90, que previa, genericamente, a sistematização desse processo em etapas e
modelos. Não por acaso, as abordagens iniciais dedicavam-se a gestão do conhecimento
explícito, teoricamente dissociável do indivíduo que o cria, utiliza e dissemina, e
concentrada na sua categorização, acessibilidade e percepção de relevância.
A compreensão do valor do conhecimento tácito não altera de todo a sistematização
em si, mas foca nos próprios indivíduos como eficazes meios de armazenamento e
disseminação. Ao envolver complexos modelos mentais e crenças, o estímulo à conversão
do tácito para o explícito é um processo de articulação de visões e mudanças de
comportamentos em diferentes esferas. Ainda mais importante, as reflexões resgatadas
neste capítulo demonstram ser impossível a gestão do conhecimento em si, mas sim dos
seus ativos, ou seja, do conhecimento tácito ou explícito, passíveis de difusão.
45

2.2 GESTÃO DE ATIVOS DE CONHECIMENTO AO NÍVEL INSTITUCIONAL

A gestão do conhecimento (GC) é um assunto relativamente recente. Sua tratativa


além das fronteiras das organizações se deu, não por acaso, com o início da compreensão
de que a inovação, bem como o conhecimento, não são fenômenos meramente endógenos e
lineares, mas podem e devem ser construídos multidirecionalmente. Apoia-se em fluxos
formais e informais, atuando também no âmbito do “não-apropriável”. Pode compreender
fatores como valores, crenças, experiências, hábitos, educação, dentre outros. E depende,
por consequência, de reflexão, síntese e contexto (TAKEUCHI e NONAKA, 2008).
Os mesmos autores, por meio de uma abordagem evolucionária, defendem que o
conhecimento não é apenas explícito ou tácito, pois estes se complementam. Em outras
palavras, existe um conhecimento tácito em todo explícito, e vice-versa. Um é a tese, outro
a antítese, da sua síntese. E nesse sentido, propuseram a espiral de SECI (Socialização-
Externalização-Combinação-Internalização) que sugere que esse ciclo gira continuamente
e seus resultados e abrangência tendem a se ampliar ao longo do tempo (Figura 4).

Figura 4 – Espiral de SECI

Fonte: adaptado de Takeuchi e Nonaka (2008).

A espiral já se encontra adaptada do âmbito corporativo para o sistêmico, existindo


quatro formas de conversão do conhecimento, do nível individual para o coletivo:
a) Socialização (tácito para tácito): de indivíduo para indivíduo. É mais associada
à observação e experiência do que a linguagem, já que a mera transferência de
46

informação possui pouco efeito quando abstraída das emoções e contextos a ela
relacionados.
b) Externalização (tácito para explícito): do indivíduo para o coletivo.
Consequência da convergência de um grupo em torno de um mesmo
conhecimento, ainda tácito, e que culmina na sua externalização por meio de
conceitos, hipóteses ou modelos.
c) Combinação (de explícito para explícito): do grupo para o meio.
Disponibilização do conhecimento já explícito para demais grupos que,
posteriormente, o combinarão com outros conhecimentos explícitos.
d) Internalização (de explícito para tácito): do meio para o indivíduo. Assimilação
e incorporação, por parte de cada indivíduo, do conhecimento que se encontra a
sua disposição, ao seu conhecimento tácito.

Nota-se que tal classificação mantém a figura do indivíduo como criador inicial do
conhecimento e entende o meio como amplificador. Já os grupos, parte intrínseca dos
meios, quanto mais autônomos e diversificados, melhor o sintetizam. Na tentativa de situar
a espiral do aprendizado no contexto de SRI, o primeiro indivíduo, apenas a princípio,
corresponde ao pesquisador típico, cujo papel é socializar o conhecimento em aulas,
palestras, consultorias e entrevistas; e externalizá-lo em publicações ou eventuais patentes.
É importante verificar, no entanto, que a externalização apenas ocorre quando
outros indivíduos, em geral oriundos de organizações e instituições de ensino, demonstram
interesse e afinidade pelo conhecimento ali explicitado. Ainda assim, isso não implica
diretamente na sua incorporação por estes. O coletivo é tido como uma pequena parcela do
meio, sendo este segundo entendido aqui como a sociedade em geral.
A esse grupo menor, exposto a uma diversidade de conhecimentos explicitados e
capaz de absorver ao menos parte deles, cabe combiná-los ainda de maneira explícita. Para
o caso das instituições de pesquisa, isso resulta na maior parte dos casos em novas
publicações e em novas patentes, que continuam por não atingir o meio diretamente, mas
apenas o coletivo. Já nas empresas, podem ser efetivamente incorporados em seus
produtos, processos e serviços, e assim destinados ao meio (sociedade). Os indivíduos do
meio, então, munidos de diversificados níveis de educação, crenças e histórias podem ou
não ser capazes de absorver o conhecimento ali incorporado e se desenvolver a partir daí.
Essa adaptação da espiral, do âmbito corporativo para o sistêmico, aparentemente
simples, demonstra-se também rasa. Atualmente, é pretensioso imaginar que apenas a
47

academia é capaz de criar conhecimento. O coletivo (aqui compreendendo organizações e


instituições) e o meio (a sociedade em si) também o faz o tempo todo. A espiral, nesse
caso, não é cíclica. Outro exemplo pode ser verificado quanto à abrangência dos efeitos da
socialização, significativamente maior do que os da externalização. O conhecimento tácito
transmitido por um professor/pesquisador em sala de aula ou palestra pode atingir locais
impensáveis, por intermédio de um ouvinte e de suas aplicações particulares. Pode alcançar
famílias, comunidades remotas e grupos sociais sem acesso formal a educação, feito esse
que publicações em geral, e patentes per se, não conseguem acessar. O sentido oposto
também pode ser verificado com alguma intensidade quando, por exemplo, comunidades e
grupos figuram como elemento essencial de geração do conhecimento para pesquisadores.
Regiões intensivas em conhecimento podem então ser definidas por aquelas que
criam conhecimento consistentemente, e em todos esses sentidos, conseguem o disseminar
e incorporá-lo em produtos e serviços. Cumprindo tais requisitos, criam vantagens
competitivas sustentáveis, possivelmente raras e inimitáveis, já que se encontram
enraizadas nas pessoas, e não em seus demais recursos (a exemplo dos naturais), em geral
inflexíveis e comuns.
Uma significativa barreira estrutural refere-se à falta de uma linguagem legítima de
compartilhamento, ou seja, aceitável e compreensível por todos os potencialmente
envolvidos (FREIRE, 2012). Outra barreira corresponde à história de cada indivíduo,
coletivo e meio, uma vez que a memória permite que esses regulem seus próprios
comportamentos, inclusive de formas divergentes. Do mesmo modo, os padrões de
relacionamento e atuação, ao mesmo tempo em que explicitam, catalogam e sistematizam
os comportamentos entendidos como bem sucedidos, também podem fixar e reforçar
paradigmas paralisantes.
O tratamento analítico de tais questões implica em desafios, alguns deles sugeridos
por Terra (2000) e mais restritos ao contexto empresarial, além de alguns outros, a saber:
Diante da falta de um ciclo lógico, como mapear o conhecimento? Como permitir e
estimular os efeitos abrangentes da socialização? Como efetivamente reter o conhecimento
em uma região ao invés de simplesmente acelerar o seu fluxo de informações? Quais
sistemas, políticas e processos precisam ser implementados para estimular comportamentos
de inovação e aprendizado? Como harmonizar os trabalhos coletivo e individual, bem
como as iniciativas multidisciplinares com a necessária especialização?
Especificamente quanto às instituições acadêmicas, são poucos os estudos sobre o
tema que consideram suas particularidades, sendo algumas delas destacadas por Leite e
48

Costa (2007): os processos de comunicação científica, a natureza da produção do


conhecimento científico, a estrutura e comportamento das comunidades científicas e a
cultura verificada no ambiente acadêmico; que se influenciam mutuamente.
Segundo os mesmos autores (2007, p. 93), a comunicação científica é entendida
como um conjunto de “esforços, facilidades, processos dinâmicos e complexos, consensual
e socialmente compartilhados, por meio dos quais o conhecimento científico – em sua
vertente tácita e explícita – é criado, compartilhado e utilizado”. É naturalmente
indissociável da sua produção, já que os esforços de um pesquisador partem de tudo o que
foi construído e divulgado anteriormente. No entanto, constatam que a comunicação
informal é a que mais contribui para o fluxo de conhecimento nesse ambiente, embora os
meios formais sejam mais apropriados para o compartilhamento em sua vertente explícita.
Já as comunidades científicas e epistêmicas, entendidas como as que dominam um
campo de conhecimento específico, ao nível internacional, influenciam substancialmente
os processos de comunicação científica dos ambientes acadêmicos. A cultura e o contexto
da ciência e do conhecimento gerado configuram a dinâmica das interações dessas
comunidades, legitimando comportamentos, práticas e processos (LEITE e COSTA, 2007).
Haas (1992) acrescenta que a lógica causal, presente em comunidades epistêmicas,
permeia a representação de processos sociais ou físicos, suas inter-relações com outros
processos e a consequência das ações que implicam na aplicação do conhecimento
científico e técnico. Por isso, é invariavelmente produto da interpretação humana sobre
fenômenos sociais e físicos, não se atendo apenas a interpretação de dados brutos, ou seja,
do conhecimento majoritariamente tácito.
Leite e Costa (2007) ainda enfatizam que a GC, no âmbito acadêmico, deve ser
estudada nessas duas perspectivas distintas: a vertical (correspondente às comunidades
científicas e epistêmicas) e a horizontal (correspondente às comunidades acadêmicas). As
comunidades científicas e as epistêmicas vêm ao encontro do conceito de redes,
caracterizadas por um interesse básico comum entre seus membros e relações baseadas em
trocas de caráter mais disciplinar que institucional, sem fronteiras. Já as comunidades
acadêmicas constituem-se pelo agrupamento de membros de uma instituição ligados a
atividades de ensino e pesquisa, que compartilham ou não interesses comuns.
Ambas as abordagens não são excludentes, por duas razões: os membros de
comunidades científicas, via de regra, compõem as instituições de ensino e pesquisa (que
materializam as comunidades acadêmicas); e, pesquisadores de comunidades acadêmicas
pertencem, individualmente, a comunidades científicas de suas respectivas áreas de
49

atuação. Dessa maneira, a produção científica de uma instituição constitui,


concomitantemente, a produção científica de diferentes comunidades científicas.
O processo decorrente da gestão do conhecimento científico em comunidades
acadêmicas, portanto, pode ser dividido em cinco partes, segundo Leite e Costa (2007),
que se encontram detalhadas no Quadro 8.

Quadro 8 - Etapas do processo de gestão do conhecimento científico em comunidades acadêmicas


Mapeamento do conhecimento interno prévio para determinação do mapeamento
Identificação
externo (localização das fontes relacionadas com as competências verificadas na
(mapeamento)
comunidade acadêmica).
Quanto ao conhecimento explícito, por meio de serviços bibliotecários, periódicos
científicos, base de dados, internet, repositórios institucionais e temáticos, entre
outros. Quanto ao conhecimento tácito, pelo apoio a participação dos pesquisadores
Aquisição
em eventos nacionais e internacionais, estágio pós-doutoral, intercâmbio de
pesquisadores e estudantes, entre outros. Em ambos os casos, a efetividade é atrelada
a política institucional de estímulo ao compartilhamento interno.
Organização/ Pressupõe uma arquitetura que potencializa a organização e armazenagem de
Armazenagem conteúdos e recuperação rápida e ampla.
Na vertente tácita (interações sociais e comunicação informal); por meio das
Compartilhamento publicações formais; na forma de arquivos abertos e do movimento do acesso livre
(garantindo assim a interoperabilidade, acessibilidade e visibilidade).
Novo conhecimento criado a partir da interação entre os estoques de conhecimento e
Criação
das habilidades e competências dos pesquisadores.
Fonte: adaptado de Leite e Costa (2007).

É importante ressaltar que o modelo proposto pelos autores não considera a


expressiva influência de outros elementos sobre a gestão do conhecimento científico, tais
como, a sociedade, a popularização desse conhecimento para segmentos sociais
específicos, a influência das agências de fomento, sua gestão como um todo e as relações
estabelecidas com a indústria, dentre outros. Além disso, o cerne das discussões que
defendem a importância desse tipo de gestão reside no fato de que, atualmente, trata-se da
principal maneira de garantir vantagens competitivas sustentáveis. No entanto, sob a ótica
das instituições de forma geral, o que pode ser considerado uma vantagem competitiva?
Rubenstein-Montano et al. (2001) buscam compreender as questões que envolvem
a GC por meio do pensamento sistêmico, ou seja, de uma estrutura conceitual para
resolução de problemas que os considerem em sua totalidade, examinando todas as partes
do sistema e suas relações. As fronteiras são definidas com o intuito de distinguir o que
está contido nele e que partes, por outro lado, são consideradas o seu ambiente
influenciador. Os autores ressaltam que o framework atual acerca da GC não é consistente
50

com o pensamento sistêmico, pois negligencia elementos críticos como os objetivos


estratégicos e o contexto cultural.
As recomendações de Rubenstein-Montano et al (2001) vão de encontro com a
espiral de Nonaka e Takeuchi (2008) quando enfatizam que, quaisquer que sejam as
estruturas de aplicação, essa gestão é um processo de melhoria e evolução incremental, e
não de um conjunto de esforços pontuais. Para tal, faz-se necessária a criação de múltiplos
loops de realimentação, além de várias atividades simultâneas, resultando em aprendizado
de fato. O conceito de pensamento sistêmico, dessa maneira, demonstra-se especialmente
interessante para o caso das instituições, sobretudo as de ensino e pesquisa, mas também as
de apoio, fomento e intermediação, uma vez que seus objetivos estratégicos devem
contemplar interesses múltiplos, por vezes divergentes, oriundos do meio que as cercam.
Heisig (2009), com base na análise de 160 modelos de GC, defende que seus
processos comuns (identificar, criar, armazenar compartilhar e aplicar conhecimento), bem
como suas dimensões humanas (cultura, pessoas e liderança), da organização (estruturas e
processos), e da tecnologia e gestão de processos (estratégia e controle), são relevantes
tanto para as organizações privadas quanto para as públicas (aqui também estendidas para
as instituições). Isso ocorre porque da mesma forma buscam, ou ao menos deveriam
buscar, atrair e manter capital humano qualificado, promover o capital social, criar e usar o
capital estrutural, compartilhar processos, melhores práticas e estimular a colaboração.
No entanto, Batista (2012) julga ser necessária a criação de um modelo específico
para a GC no setor público. Isso se deve, principalmente, porque a inovação nas
organizações e instituições públicas costuma se voltar para o aumento da eficiência e
melhorias da qualidade dos serviços prestados à população, a despeito de qualquer
motivação competitiva. O autor propõe um modelo de gestão do conhecimento direcionado
à administração pública brasileira, dividido em seis componentes, a saber:
a) Direcionadores estratégicos da organização (ou instituição), sendo eles: visão,
missão, objetivos estratégicos, estratégias e metas. A visão compreende o que a
instituição almeja ser no futuro, incorporando suas ambições. Já a missão
declara o que essa instituição é, sua razão de ser. Por fim, os objetivos
estratégicos, estratégias e metas buscam traduzir a visão e a missão de forma
objetiva e mensurável.
b) Fatores críticos de sucesso, divididos nas categorias: liderança, tecnologia,
pessoas e processos. Compete à liderança estabelecer a estrutura organizacional
que formalize tal gestão, alocar recursos para viabilizá-la, definir a política de
51

proteção e instituir um sistema de reconhecimento e recompensa baseado em


resultados. Especialmente nas organizações e instituições públicas, a
descontinuidade administrativa pode gerar impactos negativos sobre esse
aspecto. As práticas relacionadas à tecnologia, que incluem suas ferramentas e
técnicas, compreendem mecanismos de busca, repositórios de conhecimento,
intranet, extranet e instrumentos que facilitem a comunicação, colaboração e
compartilhamento nos níveis formal e informal, desde que alinhados às
estratégias. Inclui ainda, em um estágio mais maduro, sistemas de workflow32,
gestão de conteúdo, gestão eletrônica de documentos (GED)33, data warehouse34
e data mining35. As práticas destinadas às pessoas podem compreender fóruns e
listas de discussão, comunidades de prática ou de conhecimento, educação
corporativa, mentoring e coaching36, para promover a aprendizagem contínua e
ativa dos colaboradores. As ações vinculadas aos processos constituem-se,
dentre outras, por: definição das competências organizacionais essenciais e seu
alinhamento com os objetivos estratégicos definidos; modelagem dos sistemas
de trabalho e processos de apoio e finalísticos principais; um sistema de
gerenciamento de riscos que assegure a continuidade das operações, prevenção
e correção; gerenciamento, avaliação e melhoria contínua dos processos
identificados. Como práticas recomendadas mencionam-se a documentação e
disseminação de melhores práticas, benchmarking37 interno e externo, memória
organizacional, sistemas de inteligência, mapeamento e auditoria de
conhecimento, sistemas de gestão por competências, bancos de competências e
gestão do capital intelectual.
c) Processo de GC que inclui ao menos cinco atividades principais, similares às de
Leite e Costa (2007): identificar, criar, armazenar, compartilhar e aplicar,
lançando mão para tal dos fatores críticos anteriormente citados.

32
Refere-se a um conjunto de ferramentas de TI para intermediar eficientemente e de forma planejada as
relações entre as etapas de algum processo.
33
Conjunto de tecnologias dedicado ao gerenciamento de documentos, e suas alterações, de forma digital.
34
Depósito de dados e informações digitais para organização em relatórios usados nas tomadas de decisão.
35
Evolução do data warehouse, organiza dados e informações, conforme padrões e associações sistemáticos.
36
Embora costumeiramente tratados como sinônimos, o mentoring associa-se ao compartilhamento de
experiências e conhecimentos técnicos, enquanto o coaching enfoca o crescimento pessoal e profissional de
forma genérica e abrangente.
37
Nesse contexto entendido como o processo de comparação de boas práticas dentre e entre as instituições.
52

d) Ciclo KDCA (Knowledge-Do-Check-Action), baseado no ciclo PDCA38 (Plan-


Do-Check-Action) (Figura 5). Busca atribuir uso aos conhecimentos
identificados de forma sistematizada, além de controlar tal uso.

Figura 5 – Ciclo KDCA

Fonte: adaptado de Batista (2012).

e) Resultados, que podem ser divididos em imediatos e finais. Os resultados


imediatos se referem à aprendizagem e a inovação, além do consequente
incremento da capacidade de realização ao nível individual, da equipe, da
organização e da sociedade. Já os finais, que decorrem dos imediatos,
correspondem finalmente aos ganhos de qualidade, efetividade, legalidade,
impessoalidade e moralidade.
f) Diz respeito às partes interessadas, o cidadão-usuário e a sociedade.

De acordo com o Centro Canadense para o Desenvolvimento da Gestão (CCMD,


2001), há de se considerar que o tamanho de boa parte das organizações e instituições
públicas dificulta a administração de mudanças de forma mais abrangente. Ademais, a
maneira de gerenciar o conhecimento, em geral, não se encontra claramente definida, bem
como é falha a percepção de existência de um cliente e das necessidades do usuário final.
Fresneda e Goulart (2007) apontam problemas relevantes oriundos da má gestão do
conhecimento nesses tipos de organizações e instituições: a existência de quantidade

38
Método interativo de gestão para melhoria contínua popularizado na literatura sobre Gestão e Controle da
Qualidade.
53

significativa de informações estratégicas não tratadas ou não disseminadas para os


tomadores de decisões governamentais; competências (individuais ou coletivas)
inexploradas; insuficiente colaboração interorganizacional; baixa utilização do trabalho em
grupo, colaborativo e virtual; e, dificuldade em promover o aprendizado coletivo.
Fresneda et al (2008) também apresentam uma proposta de modelo de GC aplicado
a organizações e instituições públicas, construído a partir das experiências do Comitê
Técnico de Gestão do Conhecimento e da Informação Estratégica (CT-GCIE) e baseado no
método Organizational Knowledge Assessment – OKA (Avaliação do Conhecimento
Organizacional), elaborado pelo Banco Mundial.
O método OKA apoia-se em três elementos: pessoas, processos e sistemas. Esses
elementos são constituídos por dimensões do conhecimento (Figura 6), caracterizadas por
métricas traduzidas em 205 questões que compõem o instrumento de coleta de dados do
modelo. As descrições de cada dimensão realizadas por Papa (2008) são sintetizadas e
apresentadas no Quadro 9, aqui já ampliando sua compreensão para além da restrita às
organizações (prescrita no modelo original).

Figura 6 – Dimensões do Método OKA

Fonte: Fresneda et al (2008) traduzido de Fonseca (2006).


54

Quadro 9 - Métricas das dimensões do Método OKA


Grau de recompensa das políticas da organização/instituição às atividades ligadas
ao conhecimento; tolerância aos riscos das ações de inovação; apoio e oferta de
Incentivos Culturais atividades ligadas à aprendizagem; receptividade a mudanças de carreira dos
colaboradores; participação destes na melhoria de desempenho; receptividade a
ideias externas.
Identificação e Receptividade a novas informações que estruturem novos conhecimentos;
Criação do habilidade dos colaboradores em criar conhecimento; investimento e otimização
Conhecimento do capital humano; esforços de captura de informações relevantes.
Estruturas organizacionais favoráveis; suporte as atividades de compartilhamento
Compartilhamento
de conhecimento tácito e explícito; grau de conversão de conhecimento tácito em
do conhecimento
explícito e vice versa; qualidade do compartilhamento para terceiros (externas).
Comunidades de Suporte à criação de nichos e grupos de conhecimento em uma área; natureza e
prática e equipes de efetividade das comunidades de prática; capacidade de catalisar times para
conhecimento resolver problemas e suportar os objetivos.
Abordagens para construção de capital humano; treinamentos voltados a
mudanças comportamentais; inserção de processos de conhecimento nos
Aprendizado
processos de trabalho; utilização e reutilização do know-how, grau de
incorporação de informações externas.
Percepção da GC como um valor; interferência das gerências na arquitetura
organizacional, nos processos e nas políticas; patrocínio dos programas de GC;
Liderança e
flexibilidade a mudanças de dinâmica e estrutura; qualidade e natureza dos
Estratégia
relacionamentos entre a alta administração e os demais membros; grau de
incorporação pela média gerência.
Fluxo do Natureza e efetividade da captura, armazenamento, transformação, disseminação
Conhecimento e fluxo do conhecimento.
Estrutura para absorção e integração do conhecimento aos processos
Operacionalização operacionais; grau com que as práticas permitem e favorecem mudanças; grau de
do conhecimento documentação e acessibilidade dos processos; proveitos dos empregados da
integração e aplicação do conhecimento.
Aptidão na articulação e concretização de objetivos; conhecimento que suporte as
Alinhamento estratégias e objetivos; o quanto as atividades de GC e o conhecimento existente
se alinham aos objetivos; impacto nas respostas e resultados.
Aptidão na identificação, avaliação e aperfeiçoamento da operação interna; grau
de avaliação dos programas de GC; efetividade dos elementos de infraestrutura
Métrica e
relacionados; monitoramento e interação com parceiros; identificação e
Monitoramento
assimilação de informações externas sobre si; medição de desempenho das
pessoas.
Softwares, aplicações e ambientes de comunicação de suporte a GC; natureza e
Tecnologia
capacidade da infraestrutura tecnológica; medição dos seus resultados e uso.
Infraestrutura de
Natureza do processo e facilidade de acesso ao conhecimento implícito; natureza
acesso ao
e efetividade dos mecanismos de busca, medição de resultados e uso do conteúdo.
conhecimento
Conteúdo do Grau de informação sobre suas necessidades; abrangência, qualidade e tipo do
conhecimento conteúdo que possui.
Infraestrutura do ambiente/programa de GC; natureza dos papeis associados a
Infraestrutura
essa infraestrutura; balanceamento dos seus aspectos formais e informais;
ambiental para a GC
existência de laços de realimentação (feedback)
Fonte: Papa (2008).

Fresneda et al (2008) defendem que embora as organizações e instituições públicas


apresentem algumas dimensões semelhantes as das privadas, em outras evidenciam-se
comportamentos distintos relacionados à disseminação e compartilhamento de
conhecimento. Dentre as mais importantes, destacam-se o menor incentivo ao
compartilhamento e pouca importância atribuída à geração de inovações voltadas para uso
55

direto. Também aponta a falta de um cliente definido e da necessidade de lucro, o que


culmina na quase ausência de sistematização dos processos internos e do contato adequado
com os usuários finais, sendo estes os cidadãos e a sociedade como um todo. As
adaptações realizadas pelos autores no método original e a elaboração do software de apoio
SysOKA possibilitaram o início do seu emprego em organizações e instituições públicas do
país para diagnóstico do nível de maturidade de seus programas de GC.
Raub e Sthapit (2001) enfatizam que as tentativas de medição do conhecimento em
uma organização ou instituição são encaradas na literatura sob dois pontos de vista
distintos: o daqueles que acreditam que medir e gerenciar o conhecimento pode ser tão
intangível quanto o próprio conhecimento em si, e o daqueles que defendem a necessidade
de se incorporar medidas relacionadas a este ponto no gerenciamento tradicional,
sobretudo em sua contabilidade. Os autores apresentam um quadro classificando quatro
categorias diferentes de abordagens para o tema, resumidas no Quadro 10.

Quadro 10 - Visão geral das abordagens de medição do conhecimento


Foco no Foco no Desempenho Foco no Capital Foco no Valor
Benchmarking Intelectual
Ideias Compara as Combina indicadores Combina o Capital Orienta e avalia os
atividades de GC financeiros e não Intelectual que consiste esforços de
interna e financeiros, a exemplo no capital humano, reengenharia dos
externamente , com de indicadores de estrutural e relacional. processos
olhar para os processos e clientes. Seu crescimento é O valor de um
processos de Traduz as estratégias medido por um conjunto processo é definido
conhecimento e em medidas de fácil de indicadores, a pelo conhecimento a
seus capacitadores. compreensão exemplo do nível de ele adicionado
educação formal,
propriedade intelectual,
investimentos em
tecnologia da informação
e número de parcerias
estratégicas.
Pontos Rápida avaliação Perspectiva equilibrada Foco mais claro no Metodologia
Fortes das práticas atuais de desempenho conhecimento sistematizada
Pontos Não mede Não apresenta uma Indicadores precisam de Limitado ao passado
Fracos verdadeiramente o medida direta de refinamento da organização
conhecimento conhecimento
organizacional
Fonte: adaptado de Raub e Sthapit (2001).

Outros modelos de maturidade em GC já são empregados por organizações e


instituições públicas do Brasil, a exemplo do Road Map for Knowledge Management
Results39 (American Productivity and Quality Center), o Instrumento para Avaliação da

39
Guia de boas práticas que conduz a institucionalização da GC. Para mais informações consultar:
BATISTA, F. F. Governo que aprende: Gestão do Conhecimento em Organizações do Executivo Federal.
Brasília: IPEA, 2004.
56

Gestão Pública – GesPública40 (Programa Nacional de Gestão Pública e


Desburocratização), o modelo da Asian Productivity Organization, o do Fórum Europeu de
Gestão do Conhecimento e a Metodologia do Prêmio Make – Most Admired Knowledge
Enterprise (BATISTA, 2012). Todos esses modelos apresentam como prescrições comuns
a definição de uma estratégia alinhada aos processos operacionais da
organização/instituição, emprego de tecnologias de suporte, papel de destaque da liderança
e foco em resultados e aprendizagem.
A terceira abordagem parece mais adequada para mensurar o conhecimento em si e
sua gestão, sobretudo em instituições que não visam o lucro diretamente. Muitas
classificações propõem-se a organizar os diferentes componentes do capital intelectual em
categorias. Sveiby (1997) sugere a divisão em três elementos: capital humano (que inclui
know-how, capacidades, competências e experiências); capital estrutural ou organizacional
(que inclui sistemas, redes, políticas, cultura, canais de distribuição, dentre outras
capacidades coletivas); e, capital relacional (que inclui as conexões com terceiros).
Já a distinção sugerida por Brooking (2010) discrimina o capital intelectual nos
seguintes ativos: de mercado (como marcas, clientes, fidelização, canais de distribuição,
entre outros); recursos centrados no ser humano (expertise, habilidades na resolução de
problemas, habilidades de liderança, entre outros), propriedade intelectual (marcas,
patentes, desenhos industriais, entre outros); e, de infraestrutura (como tecnologias,
processos e metodologias). Porém, os métodos apresentados na literatura que buscam
medir o capital intelectual, segundo o autor, não são adaptáveis ao contexto das
instituições, pois se baseiam em valores contábeis de custo, de mercado e na concorrência.
Os esforços nesse sentido, e por esse motivo, concentram-se em medidas pontuais e
temporalmente comparativas, como evolução do volume de ativos de PI ou de parcerias,
possivelmente superficiais perante a densidade de conhecimento que os respaldam, direta
ou indiretamente.
Segundo Sveiby (1997), a metodologia mais aproximada é o Intangible Asset
Monitor (IAM), no qual três medidas pontuais são acompanhadas temporalmente: a
estrutura externa (relacionada aos ativos referentes aos relacionamentos, como imagem da
organização/instituição e parcerias com clientes e fornecedores); estrutura interna (que
pode incluir ativos de PI, manuais, processos sistematizados, sistemas informatizados e

40
Para mais informações consultar: BRASIL. GESPÚBLICA: Programa Nacional de Gestão Pública e
Desburocratização. Brasília: MP-SEGEP, 2015. Disponível em:
http://www.gespublica.gov.br/sites/default/files/documentos/gagp-250_pontos_novo.pdf.
57

administrativos); e, competência dos colaboradores (instrução, habilidades e experiência).


Tais medidas buscam monitorar, com indicadores mais apropriados, a mudança de valor
dos ativos intangíveis ao longo do tempo, em termos de crescimento, renovação, eficiência
e estabilidade. Cada uma dessas dimensões também é avaliada quanto aos valores
financeiro, do cliente, organizacional e de competência, para ter uma clara visão da direção
em que esses valores se desenvolvem.
Já o modelo de GC proposto por Probst et al (2002) divide-se em seis processos
gerenciais e dois estratégicos, estes últimos acrescentando ao esqueleto de modelos
similares a perspectiva de metas e avaliação do conhecimento. Esses elementos são
desdobrados em 39 questões objetivas e encontram-se brevemente descritos a seguir:
a) Identificação: clareza e fácil localização das habilidades, informações e dados
internos e externos necessários.
b) Aquisição: por meio de parcerias ou compra direta.
c) Desenvolvimento: foca no desenvolvimento de novas habilidades,
conhecimentos, ideias e processos, incluindo esforços conscientes de
atualização.
d) Partilha/distribuição: reprodução rápida do conhecimento, proteção e
compartilhamento de aprendizado prévio, troca simultânea de saberes.
e) Utilização: aplicação produtiva do conhecimento em benefício da própria
organização/instituição e, no caso das instituições, também do meio.
f) Retenção: seleção, armazenamento e atualização, por meio do emprego
eficiente de meios de armazenagem.
g) Metas: definição das habilidades que devem ser desenvolvidas e em que nível.
Podem ser divididas em três tipos: normativas (relacionadas à criação da cultura
de desenvolvimento e compartilhamento), estratégicas (conhecimento essencial
e habilidades futuras) e operacionais (desdobramento das duas anteriores em
objetivos concretos e imediatos).
h) Avaliação: avaliação dos próprios objetivos e atividades ligadas ao
conhecimento e a sua gestão.
De modo a unificar os modelos acima analisados, o esquema ilustrado na Figura 7
busca demonstrar quais aspectos serão considerados na análise que a presente tese propõe.
58

Figura 7 – Modelo Unificado para análise da Gestão do Conhecimento institucional

Fonte: a autora.

Alguns pontos comuns a esses modelos referem-se à importância de uma


perspectiva estratégica coerente com o conhecimento criado, compartilhado e usado. Tal
perspectiva, sob a ótica das instituições, envolve sistemas geralmente mais complexos e
abrangentes que os verificados nas organizações, onde o escopo de impacto é mais
facilmente estimado, bem como as suas motivações. Conforme já mencionado, essas
instituições devem buscar resultados que efetivamente melhorem o seu desempenho, mas
também o de organizações, outras instituições e da sociedade como um todo. Por esse
motivo, cresce também em relevância a discussão sobre a governança do conhecimento por
parte desses atores, o que será abordado na seção seguinte, majoritariamente sob o ponto
de vista regional, de especial interesse para o estudo.
59

2.3 GOVERNANÇA DO CONHECIMENTO MACRO

Importantes mudanças ocorreram na economia do conhecimento ao longo dos


últimos anos, em especial aquelas relacionadas à caracterização desse ativo como um bem
público. Para Stiglitz (1999), este é determinado por duas propriedades distintas: de
consumo não rival, ou seja, o consumo de um indivíduo não impede o consumo por outro;
e, não exclusivo, sendo impossível excluir alguém da apreciação desse bem. Diante dessas
características, é admissível entender o conhecimento como bem público global, porém
impuro, visto que para adquiri-lo e usá-lo, pode haver dispêndio de recursos diversos.
O conceito de mercadoria fictícia criado por Karl Polanyi (2011), direcionado
originalmente ao trabalho, à terra e ao dinheiro, pode ser também transposto para a
realidade dos bens intangíveis, como o conhecimento e os ativos de PI. Assim como o
ocorrido nas expropriações oriundas dos cercamentos de terra na Inglaterra, os sistemas de
PI, de acordo com Boyle (2003) transformariam o conhecimento em propriedade privada.
Para o autor, esse aspecto, ao invés de estimular a inovação, a desaceleraria por conta do
monopólio gerado.
Embora remeta aos ativos de PI a garantia de algum retorno ao conhecimento
desenvolvido, ainda assim esses bens não se tornam de todo exclusivos, podendo ser
acessados por meio das características dos produtos e serviços por eles originados, na
postura do proprietário diante do mercado e na publicação de patentes. Stiglitz (1999)
sugere caber ao Estado e aos seus agentes, desempenhar algum papel no fornecimento
público dos ativos de conhecimento já que, na ótica das empresas principalmente, uma vez
que não podem se apropriar completamente dos retornos oriundos da sua produção, não
serão motivadas a desenvolvê-lo e disseminá-lo voluntariamente. As discussões acerca da
intervenção estatal nesse sentido são controversas na literatura, e sua relação com os
aspectos ligados à governança será discutida adiante.
Essa intervenção estatal, na ótica de Stiglitz (1999), pode ocorrer essencialmente
por duas maneiras: pelo aumento do grau de apropriabilidade do conhecimento e pelo
fornecimento de subsídios à pesquisa básica. A primeira é dificultada pela impossibilidade
de se estimar o quanto dos retornos produzidos é oriundo do uso de bens comuns globais
ou locais. Ou seja, o conteúdo estratégico da intervenção constitui-se inclusive da
compreensão de que parte desse continuum se originou, de fato, em uma região.
60

Tão importante quanto à criação e adaptação de novos conhecimentos é a


disseminação destes por um território de interesse. Tal movimento encontra-se atrelado,
inevitavelmente, à eficácia de seu sistema de comunicações. A revolução das
comunicações, além de facilitá-las dentro de países e regiões, aumenta a capacidade
daqueles menos desenvolvidos de usufruir do pool de conhecimento global. Por outro lado,
a incapacidade de partilhar e adquirir conhecimento por esses meios pode alargar suas
desvantagens. A criação de uma infraestrutura de conhecimento compreende também o
aprender a aprender, ou seja, o saber identificar e preencher as lacunas peculiares diante de
um imensurável conjunto de informações.
De acordo com Foss (2006), as abordagens sobre a governança do conhecimento
abrangem múltiplos domínios, como os da própria GC, estudos organizacionais, gestão
estratégica e de recursos humanos. Compreendem a forma como uma série de mecanismos
- em particular aqueles manipuláveis como estruturas organizacionais, a divisão do
trabalho, os sistemas de recompensa, os sistemas de informação, dentre outros - podem
influenciar a criação, a apropriação e o compartilhamento do conhecimento.
O mesmo autor (2006) explica que o conceito representa resumidamente uma
tentativa sustentada de descobrir como as transações que envolvem conhecimento (e que
diferem em suas características) e os mecanismos de governança (que diferem quanto à
forma como lidam com os problemas transacionais) se combinam usando a eficiência
econômica como motivador. Em grande parte, se utiliza dos conceitos da economia
organizacional (sobretudo economia dos custos de transação), mas também reconhece a
necessidade de ir além, em termos de motivação e cognição no nível de indivíduos.
Dallabrida (2015) representa, esquematicamente, as distintas situações-tipo das
práticas de governança, ao nível territorial, a partir das dimensões de ação e poder
prevalecentes, com base em três instâncias: estatal, público-privado e empresarial (Figura
8). Tal classificação vem ao encontro do recorte conceitual realizado no presente estudo. A
instância estatal, por meio das ações do governo, concretiza o processo de governação (que
diferente de governança, volta-se para as ações coordenadas nas instâncias nacional,
estadual, regional ou municipal), impactando as demais instâncias por meio de
regulamentações ou políticas verticalizadas. No outro extremo, da instância empresarial,
emergem as estratégias empresariais e seus mecanismos de cooperação, visando na maioria
dos casos, apenas benefícios econômico-financeiros.
61

Figura 8 – Contextualização das práticas de governança territorial

Fonte: adaptado de Dallabrida (2015).

Cabe ressaltar que esta seção, assim como todo o estudo, concentra-se nas práticas
de governança territorial, que correspondem às parcerias entre atores públicos,
semipúblicos, sociais e empresariais. Os arranjos cooperativos institucionais podem, por
sua vez, ser coordenados por atores estatais (abrangendo o campo das políticas públicas)
enquanto os arranjos cooperativos organizacionais são articulados pelos demais atores, mas
com menor ou maior apoio estatal.
O crescente interesse sobre os mecanismos de governança em que a produção e a
distribuição do conhecimento se baseiam resultou em transformações importantes no
desenho da sua estrutura ao longo do tempo. Esse processo é descrito por Antonelli (2002)
em três etapas. A primeira remete aos ingredientes do grande balanço de acumulação de
conhecimentos públicos comuns à onda de privatizações e liberalizações.
A identificação do papel central do conhecimento externo na produção de novos
conhecimentos marca a segunda etapa, onde a descoberta dos trade off permeados por
escolhas, renúncias e compensações acentuaram o papel da governança em todas as suas
interações e trocas. A compreensão da instabilidade inerente a essas interações, à produção
e distribuição do conhecimento tecnológico abre caminho para uma terceira etapa, onde se
identifica uma nova diretriz para as políticas econômicas ligadas a inovação: a capacidade
de gerir questões de coordenação dinâmicas, o que será discutido em uma subseção
adiante.
62

As contribuições seminais sobre a organização econômica em prol do fornecimento


do conhecimento enxergavam o caráter tecnológico como dotado de altos níveis de
indivisibilidade, não exclusividade, não negociabilidade e, portanto, não apropriabilidade
(ANTONELLI, 2002). Neste contexto, os mercados eram vistos como incapazes de
fornecer apropriados níveis de conhecimento pela falta de incentivos e oportunidades de
implementação da divisão do trabalho, e consequente especialização. Por esses motivos, a
provisão pública de conhecimento tecnológico, e especialmente, do científico, era
considerada uma remediação básica para preencher as lacunas identificadas. O
fornecimento público desses conhecimentos, desse modo, já se iniciava atrelado ao
financiamento de universidades e outras instituições públicas direcionadas a pesquisa.
Outro elemento contextual promoveu uma ruptura paradigmática a partir da década
de 70. O poder de mercado monopolista até então era defendido como o instrumento mais
adequado para promover a acumulação de conhecimento tecnológico. Isso porque se via
nas barreiras de entrada aos mercados a garantia de recursos financeiros para financiar
eventuais despesas de P&D e reduzir riscos de imitação não controlados. Com a criação
das leis de PI, complementarmente ao fornecimento público do conhecimento científico e
tecnológico, puderam também ser consideradas configurações institucionais mais próximas
da ideia de governança do conhecimento, já que supostamente minimizariam os problemas
decorrentes do seu caráter público, que será discutido em seção específica.
As duas vertentes supracitadas contribuíram para os argumentos de uma nova
hipótese que defende que a oferta e a demanda de conhecimento podem ser identificadas, a
criação e implementação de mercados de conhecimento tecnológico são possíveis e os
resultados das interações desses mercados são compatíveis com um sistema competitivo
próximo de condições de equilíbrio (ANTONELLI, 2002). Essa nova abordagem induzia o
patenteamento de seus inventos, e muitas vezes a adentrar os mercados de terceirização
tecnológica de grandes corporações. Um olhar mais atento acerca do funcionamento dos
bens públicos comuns e a necessidade de se colocar em escrutínio a produtividade dos
recursos por eles despendidos, ao nível sistêmico e individual, também se fizeram
oportunos.
Tal reflexão sobre a importância da apropriabilidade tornou possível a compreensão
do papel chave das externalidades tecnológicas e dos efeitos positivos do seu
transbordamento, além do âmbito restrito às transações dos mercados de conhecimento,
mas também por meio das interações tecnológicas. Dessa maneira, a geração do
conhecimento tecnológico torna-se diretamente implicada pela sua demanda, quando os
63

agentes envolvidos tendem a valorizar e acompanhar os níveis de uso de outros agentes


sobre determinados bens.
Portanto, as reais chances de geração de novos conhecimentos relevantes para cada
agente dependem dos seus níveis de acumulação de competências e expertises, educação e
acesso a informação sobre os demais agentes de uma região. A governança deste trade off
que compreende apropriabilidade e externalidade do conhecimento faz-se necessária, não
apenas ao nível organizacional, mas ao nível sistêmico (MAZZOLENI e NELSON, 1998).
As organizações ainda são vistas nesse contexto como o lócus gerador de
competências, uma vez que impulsionam as mudanças tecnológicas gerando e valorizando
o conhecimento relevante para a ação econômica. Assim como o conhecimento, a
competência é um ingrediente central da teoria baseada em recursos, definida não apenas
pelo saber como fazer, mas também saber onde, quando e o que fazer. Mazzoleni e Nelson
(1998) enfatizam que mais do que o verificado nas decisões sobre o fazer ou o comprar,
novas opções surgem entre o fazer e o vender, onde o conhecimento nelas disponíveis é
externalizado como um bem próprio, desencarnado dos seus produtos e serviços.
Naturalmente, diferentes mecanismos de governança emergem de acordo com os
também diversos tipos de conhecimento tecnológico, podendo ser mais tácitos, articuláveis
(interface entre conhecimento tácito e explícito) ou codificados. A materialização desses
mecanismos pode ocorrer desde a contratação de serviços de pesquisa em universidades e
centros de pesquisa até a aquisição de outras empresas. Por outro lado, quanto mais
acumulável for um específico conhecimento tecnológico, maiores serão os incentivos para
a internalização do conhecimento (MAZZOLENI e NELSON, 1998).
Nesse sentido, emerge o conceito de fungibilidade, ou seja, da possibilidade de
consumo após seu uso. Segundo os autores supracitados, notoriamente, quanto maior a
fungibilidade de um conhecimento tecnológico, maior o seu escopo de aplicação e
recombinação e, por esse motivo, é interessante torná-lo mais acessível (do ponto de vista
público). Do mesmo modo, os efeitos da interdependência utilitária e complementaridade
devem ser mapeados em regiões bem definidas de modo a conceber a extensão real da
cumulabilidade do conhecimento.
A compreensão dos níveis reais de cumulabilidade, fungibilidade e
complementaridade do conhecimento tecnológico, tanto pelo lado da demanda quanto da
oferta, permite a dinâmica de retornos crescentes ao nível agregado. Quanto maior o
número de agentes detentores de partes relevantes dos conhecimentos complementares,
64

maior será a produção de conhecimento tecnológico e, eventualmente, de riqueza para todo


o sistema (MAZZOLENI e NELSON, 1998).
As externalidades são apontadas por Antonelli (2002) como o motor dos retornos
crescentes. Por sua vez, estes são circunscritos pelos limites dos módulos ou ativos de
conhecimento dessas regiões. Novamente, essa abordagem induz a reflexão sobre os ativos
de PI, sobretudo as patentes, como importantes dispositivos de informação. Sem eles, as
organizações, e até mesmo as instituições, tendem a manter sob sigilo seus inventos, de
modo a garantir alguma apropriabilidade, tornando assim mais difícil a identificação dos
módulos relevantes e as próprias interações. A identificação de cada módulo de
conhecimento, bem como dos agentes detentores dos mesmos e a avaliação de suas
complementaridades torna-se uma ação imprescindível. Isso, em geral, é oneroso em
termos de custos de busca e de oportunidade quando desempenhado por cada ator
isoladamente.
Assim como as patentes, as publicações e demais instrumentos de sociabilidade
científica configuram dispositivos que aumentam a transparência em mercados de
conhecimento e facilitam suas transações, reduzindo seus custos. Isso porque a quantidade
de conhecimento que cada agente pode gerar depende diretamente do conhecimento
externo disponível, especialmente quando envolvido em projetos de pesquisa
complementares. Tal conhecimento, por sua vez, cresce em função das condições de
comunicação entre as fontes de conhecimento tecnológico (ANTONELLI, 2002).
Conforme enfatizado pelo autor, os mercados de conhecimento tecnológico são
possíveis desde que mecanismos de governança adequados entrem em vigor, porém isso
tende a ocorrer em níveis indeterminados, ou seja, em cada ponto do tempo qualquer
solução pode ser encontrada, sem características padrões de estabilidade e replicabilidade.
Isso ocorre, porque nesses mercados, a produção e a distribuição de conhecimento
tecnológico são caracterizadas por múltiplos equilíbrios, sensíveis a pequenos choques
econômicos não intencionais, a exemplo das políticas monetárias, mudanças estratégicas
nas organizações e ações empreendedoras em geral. Dessa maneira, as questões de
coordenação dinâmica entre agentes e instituições tornam-se imperativas na avaliação do
efeito global de cada ação pontual ao longo do tempo.
A Governança do Conhecimento tratada em uma perspectiva sistêmica e territorial
incute a discussão sobre o papel dos diversos tomadores de decisão, da cultura e das
estruturas institucionais, do perfil das alianças, do contexto inovador, entre outros aspectos
para a efetividade do uso do conhecimento. Ou seja, implica na coordenação de esforços
65

em muitos planos, estratégicos e operacionais, formais e informais. A perspectiva


estratégica parte da definição das competências essenciais a serem desenvolvidas em uma
região, por parte das instituições e organizações que ali se inserem e, igualmente, da
redução dos custos de transação oriundos dos processos de conversão do conhecimento.
Tal perspectiva associa-se, invariavelmente, a mudanças estruturais traduzidas na
reforma administrativa e, sobretudo, na reformulação das funções do Estado. Pereira
(2013) destaca que a diferenciação vertical (entidades desconcentradas e descentralizadas
ao nível regional e local) implica na readequação de suas atribuições e competências,
ampliando a contribuição dessas entidades no desenho e execução das estratégias de
desenvolvimento. Porém, nem sempre essa readequação vem acompanhada por estruturas
de articulação robustas e procedimentos claros.
As estruturas de governança, embora se demonstrem conceitualmente atraentes,
também evidenciam dificuldades de operacionalização em função da diversidade de atores
afetados e da heterogeneidade de seus poderes de intervenção. De um lado, aponta-se a
reconhecida crise de governabilidade oriunda da dificuldade de articulação entre seus
níveis, e de outro, a diversidade de objetivos, interesses, estímulos, prioridades e agendas
isoladas e decorrentes da pouca abertura à cooperação e corresponsabilidade. A
divergência de interesses quando territorializada conduz a tensões e conflitos atrelados à
disputa por recursos escassos e incompatibilidades entre metas de curto e longo prazo.
Pereira (2013) também aponta que a transição de atuações individuais para
coletivas implica na adoção de um processo colaborativo, onde cada elemento extrai mais
benefícios do que os que colocam a serviço do todo. Clarifica, assim, alguns requisitos
indispensáveis à construção das soluções de governança: os objetivos já mencionados,
resultados esperados claros, prazos e o valor das soluções em face da atuação isolada das
partes.
Assim como ocorre na governança organizacional, esse processo carece de
monitoramento, avaliação e divulgação constante de dados. Em síntese, esses esforços
estimulam a formação de capital de três tipos: intelectual (ativos ou módulos de
conhecimento), social (credibilidade e compreensão construída pela interação) e político
(capacidade de agir coletivamente em prol do desenvolvimento de qualidades locais que
possibilitam a atração de recursos externos).
Para criar o conhecimento de modo dinâmico e contínuo, nesse médio e longo
prazo, um sistema precisa de uma visão que sincronize todos os seus elementos. Tal visão
define a direção do processo, que pode ser identificada a partir das questões: O que somos?
66

O que devemos criar? Como podemos fazê-lo? Por que estamos fazendo isso? E,
principalmente: Para onde estamos indo? Deve-se observar que os ativos ou módulos de
conhecimento também podem impedir a criação de novos conhecimentos úteis, uma vez
que os sistemas estão sujeitos à inércia e dificuldade de divergir dos percursos oriundos da
acumulação de experiências anteriores.
Segundo Zhuge (2006), a eficácia de uma rede de conhecimento é alcançada
quando os saberes que fluem em uma mesma cadeia de fluxo chegam às pessoas certas e
são armazenados no espaço correto, ou seja, quando o fluxo ocorre a partir de nós com alta
energia para aqueles de baixa energia (o que é proporcional ao número de fluxos de saída
desses nós). Dessa forma, a governança também deve capacitar uma região a eliminar ou
ao menos minimizar os fluxos incapazes de gerar valor, coordenando estrategicamente a
eficiência logística dos mesmos, o que requer ampla compreensão não apenas de direção e
intensidade, mas principalmente de prioridade (LABIAK JUNIOR, 2012).
Para Nonaka et al (2000), o processo específico de criação de conhecimento é
específico do contexto (em termos de quem participa e como participa, podendo ser este
cultural, social e histórico). Nesse entendimento, o conhecimento precisa de um contexto
físico. Nomeiam esse lugar por “ba”, definido como o contexto compartilhado em que o
conhecimento é partilhado, criado e utilizado. Fornece, assim, a energia, a qualidade e o
território (físico, virtual e mental) para as conversões individuais e para o movimento ao
longo da espiral mencionada anteriormente.
“Ba” é, então, o contexto compartilhado pelos atores que interagem e que, a partir
daí evoluem por meio da autotranscedência para criar conhecimento. No entanto, as
relações entre diversos “ba” não são necessariamente conhecidas a priori, pelo contrário,
não são predeterminadas e claras. A coerência orgânica e interativa de vários “ba” e dos
indivíduos que deles pertencem é apoiada pela confiança mútua e contínuo intercâmbio de
modo a criar e fortalecer relações.
No que tange mais à governança que à gestão do conhecimento, Nonaka et al
(2000) sugerem que tal contexto compartilhado deve ser energizado com elementos como
autonomia, caos criativo, redundância e variedade de requisitos. Defendem que a
autonomia aumenta a chance de exploração de informações valiosas e criação de novos
conhecimentos, uma vez que sistemas autônomos são capazes de executar múltiplas
funções e, desse modo, sublimam as perspectivas individuais para níveis mais elevados.
Por sua vez, o caos criativo estimula as interações evocando, controladamente, visões
ambíguas. Tornando o contexto capaz de romper velhos hábitos e estruturas cognitivas. Já
67

a redundância de informações pode acelerar o processo de criação do conhecimento de


duas formas: promovendo a partilha de conhecimento tácito quando permite que
indivíduos transcendam as fronteiras atribuídas para cooperar com diferentes pontos de
vista; e, garantindo a consistência de direção. Mas, para lidar com tantas contingências, é
necessário oferecer uma variedade de requisitos que garanta combinações diferentes,
flexíveis e rápidas de informação (condizentes com os desafios impostos pelo ambiente).
Para que isso ocorra de modo efetivo, no entanto, é imperativo garantir a simetria no
acesso às informações de maneira que todos possam interagir em condições de igualdade.
Porém, nem sempre há condições ideais para que o fluxo de conhecimento entre os
atores de uma região ocorra, o que em grande parte se deve à falta de perspectivas da sua
própria criação (módulos e ativos prévios) e, principalmente, à incapacidade dos atores em
cooperar, a fragmentação desse sistema em sistemas menores e a base tradicionalista de
seus atores produtivos, conforme aponta Labiak Junior (2012).
Novas questões são sugeridas por Zhuge (2006) e estendidas aqui com o intuito de
orientar a avaliação de um sistema de fluxos, sendo algumas: O conhecimento flui entre as
partes interessadas e é armazenado corretamente? O repasse ocorre entre os nós de maior
intensidade para os de menor intensidade? A composição dos atores é a ideal para o
cumprimento da missão do sistema? Todos os atores são capazes de absorver esse
conhecimento? O fluxo apenas ocorre onde é necessário ou são redundantes? Há confiança
entre os atores? Como considerar e aprimorar os ativos e fluxos já existentes? Como, ainda
assim, permitir o surgimento de novos e diferentes ativos? Quais fatores contribuem
positiva e negativamente para esses fluxos?
Alguns conceitos complementares são pertinentes na tratativa da governança sob o
enfoque regional proposto: governança territorial, redes de poder socioterritoriais, bloco
socioterritorial, concertação social e pactos socioterritoriais. Dallabrida e Becker (2003)
referem-se ao primeiro termo como resultado das relações de poder que se efetivam entre
diferentes agentes nas diversas redes de poder socioterritoriais. Entendem que essas redes,
baseadas nas contribuições de Paulillo (2000), referem-se a qualquer forma de ação
articulada, quer seja em setores, ramos de atividade, no âmbito cultural, religioso, entre
outros. Das redes de poder emerge a necessidade de constituição de um novo bloco
socioterritorial (fruto das escolhas políticas por um modelo específico de
desenvolvimento), ou seja, a definição de novos rumos de desenvolvimento para essa
região, preferencialmente, mas nem sempre, é democrático-participativa.
68

As intervenções territoriais inteligentes dependem em diferentes intensidades da


cultura cívica, do capital social – compreendendo as normas de reciprocidade,
associativismo, hábitos de confiança e cooperação incorporados e relações entre segmentos
variados – ou seja, da propensão à criação e sustentação de ações voluntárias
(DALLABRIDA e BECKER, 2003), além da densidade e qualidade institucional
acumulada. E o objetivo almejado pelos agentes democrático-participativos consiste em
superar a dependente condição de “território-palco” para a de “território-ator”, por meio de
um contínuo processo de concertação social que resulte em novos pactos socioterritoriais
(entendimentos informais ou escritos, entre diferentes setores da sociedade, sobre a
maneira mais adequada de conjugar interesses setoriais e gerais).
Os mesmos autores (2003, p. 77) também compilam a compreensão sobre
governança territorial na literatura como o “complexo processo de tomada de decisão que
antecipa e ultrapassa o governo”. Relaciona-se dessa forma à legitimidade do espaço
público em constituição (físico, virtual e mental), a repartição do poder entre os que
governam e são governados, os processos de negociação que desembocam ou não em
sistemas alternativos de regulação, e a descentralização da autoridade e das funções do
governar. Nessa compreensão, é possível inclusive considerar em um extremo a
governança sem governo, onde as atividades não dependem, necessariamente, de um poder
formal para que sejam aceitas e vençam resistências. Mas dependem da existência de
interlocutores representativos legítimos dos diferentes segmentos da sociedade, com
integral legitimidade. Por outro lado, alguns elementos desfavoráveis são mencionados
como interventores do processo de concertação social: a inexistência de um marco
administrativo-estatal que oportunize a autonomia regional; a grande área objeto de
concertação, multiplicadora dos potenciais focos de conflito; a falta de dinamismo das
instituições; e, a tradicional fragilidade de comunicação interinstitucional.
Dallabrida e Becker (2003) também sintetizam a contribuição de pesquisadores
contemporâneos sobre o que parece fundamental ao desenvolvimento das regiões:
estruturação das relações em rede, tanto econômicas como sociais e institucionais (redes de
poder socioterritoriais); valorização, potencialização e construção de capital social; criação
de locais de inovação que produzam conhecimento a partir de suas próprias capacidades e
demandas; um projeto próprio de desenvolvimento, construído por todo o bloco
socioterritorial; capacidade de organização, cooperação e ação mais em prol da construção
de cenários futuros que da resolução de problemas passados; concepção convergente
desses cenários futuros pelos atores locais (pacto socioterritorial); estruturação de um
69

sistema produtivo local integrado, apoiado por uma estrutura científica local; inter-relações
dinâmicas entre sistemas locais que aumentem sua capacidade de organização e
criatividade.
A estruturação das relações em rede, segundo Lopes (2001), compreende a
existência de diferentes tipos de redes e articulações destas com o território. Atendo-se
apenas ao critério articulação territorial e governança, o autor sugere três tipos essenciais:
rede polarizada, rede constelação e rede segmentada.
As redes polarizadas caracterizam-se por um modelo hierarquizado de organização
onde se evidenciam fracas relações entre os agentes envolvidos, predominantemente
bilaterais e de natureza mercantil. Suas sinergias encontram-se confinadas à capacidade de
coordenação do seu núcleo (quase sempre representado por uma grande organização), o
que faz com que o território tenda a limitar-se ao suporte à estrutura industrial moldada em
função da estratégia deste. Em casos extremos, o meio pode até mesmo ser confundido
com o polo industrial estruturado pelo núcleo. A governança em redes desse formato é
mediada pelo mercado, sendo mais ou menos hierarquizada em função do poder das
organizações do núcleo.
Na maior parte dos casos, a inovação associa-se mais aos recursos dessas
organizações, que a materializam e comercializam, do que propriamente às características
inovadoras do meio. Mas, na medida em que as economias externas por elas captadas nesse
meio crescem em relevância para a sua competitividade, aumenta também seu
enraizamento territorial com perfil tecnológico relativamente avançado. A despeito dessa
propensão, e com exceção da crescente qualificação dos recursos humanos resultante, seu
papel no enriquecimento do meio demonstra-se reduzido (LOPES, 2001).
Já as redes constelação opõem-se as polarizadas por não disporem de um núcleo de
controle, fazendo com que as relações se deem de forma reticular e horizontal, e não se
restrinjam as de mercado. As relações informais e de cooperação crescem em relevância,
fazendo com que seu processo de governança seja conduzido pelos códigos de conduta
emanados pela cultura socioprofissional local. A característica e intensa divisão social do
trabalho e a multiplicidade de relações formais e informais entre os agentes possibilitam as
sinergias de aprendizado orientadas à inovação. Dessa maneira, o território “fornece à rede
o capital relacional e a valência do saber-fazer local, em contrapartida a rede enriquece
esse saber-fazer e alimenta a reprodução do capital relacional do meio por meio da
dinâmica de inovação que impulsiona” (LOPES, 2001, p. 140).
70

Por último, o autor defende que as redes segmentadas podem ser entendidas como
uma abordagem intermediária das duas anteriores. O núcleo destas funciona como uma
rede-constelação de dimensão restrita, capaz de coordenar as ações dos restantes parceiros
da rede (anéis). Desta maneira, os agentes do núcleo concebem as diretrizes em estreita
colaboração entre si, direcionam a partilha de funções e coordenam a participação dos
elementos dos anéis. Essas últimas relações configuram uma sub-rede do tipo polarizada.
Esse enquadramento organizacional ajusta-se aos segmentos onde a inovação caracteriza-
se por significativo conteúdo tecnológico, e consequente dispêndio em P&D, mais
coerentes à realidade das organizações situadas no núcleo do que as dos anéis.
Outra característica apontada por Lopes (2001) como fundamental nas redes
segmentadas refere-se ao fato de que estas não se segmentam apenas por sua configuração
funcional e relações de poder, mas, sob a ótica da articulação com as dinâmicas territoriais,
sendo identificadas como um suporte organizacional mais condizente ao processo de
desenvolvimento global do tipo arquipélago. Ou seja, é o suporte do território virtual
global, já que a intensidade e amplitude de suas interações, seja pelo espaço definido pelo
seu núcleo, ou pelas suas interações com o exterior, configuram-nas naturalmente como
um “espaço fluxo-global”. O seu núcleo constitui-se, assim, de um espaço virtual de fluxos
interterritoriais que, em contrapartida, possui um componente territorial materializado em
nós locais bem definidos, constituindo o veículo de articulação local-global. Graças a isso,
é possível conectar localmente o conhecimento tácito com o formal portador dos impulsos
de inovação externos.
As redes de inovação41, cujos tipos podem sobrepor-se em um mesmo sistema nos
mais variados níveis, adquirem papel relevante na promoção regional da inovação por
meio das suas interações com o subsistema institucional. Um modelo de análise dos fluxos
de conhecimento e interações de regiões, a exemplo do empregado por Labiak Junior
(2012), deve contemplar seus atores de conhecimento científico (universidades, faculdades,
institutos de pesquisa e escolas técnicas), atores empresariais (industriais e de serviços
públicos e privados), atores de fomento (venture capital, garantidores de crédito, agências
de fomento, bancos e fundos de investimento), atores institucionais (SEBRAE, federações
das indústrias e associações), habitats de inovação (incubadoras, polos e parques

41
Caracterizadas pelas relações interorganizacionais que envolvem principalmente empresas, entendidas
como o lócus da inovação, uma vez que a principal compreensão de inovação concentra-se na proposição de
algo novo ou significativamente melhorado ao mercado, e com valor percebido por este (o que
essencialmente ocorre por meio das organizações). Dessa forma, o conceito de redes de inovação é
consensualmente compreendido como mais restrito que o de sistemas de inovação (que envolvem
explicitamente as instituições, além das próprias empresas).
71

tecnológicos) e atores públicos (de âmbito local, estadual e federal, além do legislativo).
Compreendendo que o fluxo de conhecimento, em si, deve ocorrer principalmente entre os
dois primeiros atores, cabe aos três seguintes o papel de coordenar as estratégias e ações de
governança e garantir que ocorram do modo mais eficiente e eficaz possível.
Cooke (2007) propõe que a díade tácito-codificada não é completamente aderente
aos processos de conversão de conhecimento interativo. Sugere para esses casos um termo
intermediário, “conhecimento cúmplice”, aliado ao termo “transceptor” (combinação de
transmissor e receptor) para incorporar as externalizações e internalizações de
conhecimento típicas de sistemas de inovação. Em resposta a questão de como configurar
um ambiente viável para o estímulo de indivíduos, organizações e economias regionais em
prol da inovação, propõe a criação de “vantagens construídas” como uma perspectiva de
política estratégica de uso prático para todos os atores acima mencionados. Seguir tal
proposta implica trabalhar em duas plataformas adicionais de pensamento: além das
plataformas da indústria, atuar também nas plataformas de stakeholders e de políticas.

2.3.1 Custos de Transação, Direitos de Propriedade e Contratos

Zylbersztajn (1995) defende a consideração das instituições na evolução da ciência


econômica, compreendendo que a organização das corporações e do sistema econômico de
uma região não é neutra ao ambiente institucional. Porém, a convergência entre a teoria
econômica e o institucionalismo ocorreu mais recentemente, principalmente por meio da
“nova economia das instituições” ou “economia dos custos de transação (ECT)”, embora
centrada nas organizações e firmas. Nela, os arranjos institucionais de governança
funcionam como uma resposta minimizadora dos custos de produção e transação aos
fictícios pressupostos neoclássicos de custos de transação igual a zero. Para Williamson
(1993b), os custos de transação podem ser definidos como:
“os custos ex-ante de preparar, negociar e salvaguardar um acordo bem
como os custos ex-post dos ajustamentos e adaptações que resultam,
quando a execução de um contrato é afetada por falhas, erros, omissões e
alterações inesperadas. Em suma, são os custos de conduzir o sistema
econômico” (tradução nossa).

Assim, o objetivo central da ECT converge no estudo dos custos das transações
como indutor de modos alternativos de governança, dentro de um arcabouço analítico
72

institucional. A unidade central de análise passa a ser a transação, mais especificamente a


negociação de direitos de propriedade em geral.
Os custos de transação podem ser definidos em três vertentes sugeridas por Fiani
(2011): como custos de se recorrer ao mercado, os associados aos direitos de propriedade,e
os que resultam da divisão do trabalho. O primeiro deles, inaugurado por Coase (1937),
relaciona-se aos custos envolvidos sempre em que é necessário recorrer ao sistema de
preços, na firmação de contratos, compras e vendas e obtenção de informações, por
exemplo. Limita-se, todavia, por não considerar os custos envolvidos para se organizar a
economia, a despeito das atividades econômicas regidas pelo mercado.
Já na segunda vertente, defendida por Eggertsson (1990) e Allen (1998), os custos
de transação e os direitos de propriedade se encontram indissoluvelmente ligados. Porém,
cabe nessa compreensão a discussão: esses determinam os custos de transação ou o
contrário? No primeiro caso, é aceitável que os mesmos possam ser usados para incentivar
as transações percebidas como mais importantes ao desenvolvimento por meio de contratos
mais precisos (o que reduziria os custos). Caso contrário, os esforços em defini-los e
garanti-los seriam inúteis.
A terceira vertente mencionada por Fiani (2011) alia-se a alta divisão do trabalho
verificada na economia moderna, em termos de divisão técnica (intraorganizacional) e
social (interorganizacional). Isso porque o aumento da divisão implica que mais bens e
serviços sejam transferidos entre as diferentes etapas dos processos produtivos, de forma
cooperativa e não conflituosa. Diferente da segunda definição, nesse caso não se trata
apenas de se estabelecer os direitos de propriedade mais adequados, mas no arranjo
institucional mais apropriado.
Especificamente quanto aos direitos de propriedade, o autor destaca que é
importante percebê-los como grandezas multidimensionais. O que sugere um problema na
compreensão da proteção dos mesmos como condicionantes para o desenvolvimento.
Recorrentemente, essa cesta de direitos é alterada pelas condicionantes ambientais
diversas. Em um mundo realista, onde os custos de transação são significativos, pode ser
dispendioso definir antecipadamente os atributos de tal cesta de direitos. Com isso,
algumas das partes podem obter vantagens.
Barzel 42 (1997, p. 4 e 5) apud Fiani (2011) esclarece:
“Quando os custos de transação são positivos, os direitos em relação a
ativos não são perfeitamente delineados. A razão disso é que,

42
BARZEL, Y. Economic analysis of property rights. Cambridge: Cambridge University Press, 2ª ed., 1997.
73

relativamente ao seu valor, alguns dos atributos dos ativos são de


mensuração muito custosa. Por conseguinte, os atributos de tais ativos
não são totalmente conhecidos por seus compradores potenciais, e
frequentemente não são também conhecidos pelos seus proprietários
atuais”.

A partir dessa observação, nova questão emerge: os direitos de propriedade vistos


como inseguros geram custos de transação elevados ou os custos de transação elevados
impedem que os direitos sejam devidamente assegurados? No que concerne aos contratos,
quanto mais expressivas as presenças desses custos, mais imprecisos e incompletos os
mesmos poderão ser. Adicionalmente, isso aumenta a propensão a conflitos. Novamente,
os arranjos institucionais definirão a dimensão desses conflitos regulando os direitos,
acima dos próprios, arbitrando e solucionando os problemas decorrentes da insegurança
(governança ex post). Por isso, como defendido por Coase (1937), o mercado não é o único
arranjo institucional capaz de organizar um sistema econômico. Para as outras estruturas
institucionais direcionadas a esse fim dá-se o nome de estruturas de governança, bem
menos ortodoxas.
Dois pressupostos comportamentais verificados no contexto econômico são de
especial interesse na análise das transações que envolvem o conhecimento tecnológico: a
racionalidade limitada e o oportunismo. O primeiro resulta da condição de competência
cognitiva limitada de receber, estocar, recuperar e processar informação. Quanto mais
complexas as interações, mais incompletas serão as transações por conta das dificuldades
individuais de processamento (WILLIAMSON, 1993a).
Já o segundo atrela-se de forma inevitável ao conflito de interesses já mencionado,
trazendo à tona a conotação ética comportamental de ao menos um dos indivíduos
envolvidos. Balestrin e Arbage (2007) defendem que o oportunismo se relaciona ao padrão
de orientação desse indivíduo em busca do seu próprio interesse e que refletem no padrão
de relacionamento estabelecido com os demais agentes econômicos. Ou seja, é a busca do
interesse próprio com dolo.
O monitoramento e a inclusão de salvaguardas contratuais desses pressupostos
comportamentais são então compreendidos nos custos de transação, e também envolvem
suas características dinâmicas, como as relacionadas à tradição e confiança. Furubotn e
Richter (1991, p. 1) afirmam que “a economia convencional falha nas situações onde os
custos de transação são positivos e onde os direitos de propriedade dos recursos são
estruturados em formatos diferentes daqueles idealizados pelo estudo clássico do
capitalismo” (tradução nossa).
74

Zylbersztajn (1995) indica três grupos de fatores condicionantes das formas


eficientes de governança: a frequência das transações, seus riscos e as especificidades dos
ativos envolvidos. A frequência na qual uma transação ocorre determina a importância da
identidade dos atores envolvidos. O risco afeta a forma pela qual os resíduos são
distribuídos entre esses atores, sobretudo quando da existência de possibilidades de
oportunismo. E, a especificidade dos ativos, talvez o condicionante mais importante,
associa-se as formas de dependência bilateral que implicam na estruturação de formas
institucionais e organizacionais mais apropriadas. Naturalmente, quanto maior a
especificidade, menor a possibilidade de utilização alternativa. Com isso, suas transações
implicam em custos maiores uma vez que sua reutilização não ocorre sem perdas.
As relações entre os direitos de propriedade e as externalidades novamente são
resgatadas quando permitem entender a quem caberá os custos de transação. Na maior
parte das vezes, essas transações não se encontram definidas na forma de um ganho de
eficiência em trocas, em produção e em mix oferecido. A sociedade pode se beneficiar em
curto prazo, mas efeitos redistributivos podem ser percebidos de maneira a atalhar a
adoção de uma estrutura de direito socialmente mais efetiva. Uma solução para esses
casos, dentre as muitas apontadas, se daria com a existência, por exemplo, de uma
instituição reguladora definida pela sociedade que aplicasse os direitos de propriedade sob
a ótica da otimização social de médio e longo prazo (ZYLBERSZTAJN, 1995).
Andersen e Konzelmann (2008) indicam que as fronteiras que separam o ambiente
institucional dos direitos de propriedade intelectual (DPI) e as instituições de governança
não se encontram claramente definidas na literatura. Os autores defendem que tais direitos
representam parte central desses ambientes quando definem as regras do jogo atribuídas à
exploração comercial de invenções técnicas e tecnológicas, bem como das demais
expressões criativas. Dessa maneira, afetam como consequência, os projetos de lei quanto
ao comprimento da proteção, tipos de invenções ou expressões protegidas, alcance do
conhecimento envolvido, tamanho da atividade inventiva considerada, leis de
licenciamento, custos dos procedimentos de proteção e custos das remediações referentes
às violações. Além disso, inclui as normas e rotinas de gestão desses direitos e dos
processos de patenteamento, por exemplo.
Por outro lado, as instituições de governança conduzem a estrutura específica dos
contratos entre as peças do jogo, nomeadamente, as organizações do setor público, privado,
e indivíduos interessados nas receitas atribuídas ao que é protegido. Essa separação
conceitual torna-se útil para a concepção de políticas em geral. O comportamento dessas
75

partes interessadas e, principalmente, suas interações, revelam os incentivos subjacentes


para os indivíduos e organizações para participar desses sistemas de direitos. Assim,
avaliar o desempenho desses implica em identificar tais partes, suas funções e interesses.
É esperado que os governos considerem a sociedade como uma das mais relevantes
partes interessadas em um sistema de DPI. No entanto, os vários grupos da sociedade
podem experimentar os efeitos desses regimes de modos diferentes, com implicações
evidentes quando consideradas as negociações nacionais e internacionais que configuram o
pano de fundo dos mesmos. Sob tal ótica, a escolha de uma estrutura de governança que
considere esses aspectos não é aleatória e depende, entre outros, do tipo de valor financeiro
e não financeiro pretendido pelas partes em seus acordos contratuais de colaboração.
Dentre os possíveis objetivos podem ser identificados: vender ou comprar/ licenciar
para outros ou licenciar pra si (envolvendo interesses conflitantes relacionados à
maximização de lucro, controle de mercados por exclusividade de contratos ou não
execução da venda); licença cruzada (com benefício mútuo da utilização dos direitos em
um acordo livre de royalties, exclusivo e com invenções orientadas em torno de uma
mesma trajetória tecnológica, mas impactada pelos diferentes pesos das patentes); “pool”
de DPI (difere da licença cruzada, porque não garante exclusividade e desencoraja a
coevolução dos padrões competitivos, mas especialmente interessante para mercados de
produtos complexos que envolvem muitas tecnologias diferentes, requerendo fortes
relações de confiança); autorizações concedidas a empresas externas ao “pool” de direitos
via licenciamento; “hold on” (exclusão do acesso de todos aos seus direitos, de modo a
garantir a fatia de mercado ao invés de inserir sua invenção); compartilhamento (típica em
relações de codesenvolvimento e pode ser impactado pela assimetria de poder entre os
parceiros) (ANDERSEN & KONZELMANN, 2008).
Em suma, as instituições de governança não são baseadas apenas no critério de
otimização do valor obtido por meio dos direitos, mas baseiam-se em uma constelação
particular de interesses e poder, o que evidencia inclusive o fato de que os ambientes
institucionais não são neutros, favorecendo alguns “players” em detrimentos de outros.
Tais instituições, desse modo, podem se tornar improdutivas quando o total de custos de
transação envolvidos na participação de algumas entidades do sistema exceder o valor total
ou global criado. Dessa forma, mecanismos de resolução de conflitos figuram como parte
essencial para a sua viabilidade ao longo prazo, sendo estes formais ou informais
(consolidadas pelo convívio social e cristalizadas no hábito, ou até mesmo por pressão de
um grupo social específico, que não o Estado), e integrados na sua rotina.
76

Nesse sentido também emerge o papel dos brokers de conhecimento, como


indivíduos ou instituições envolvidos nos processos de tradução, coordenação e
alinhamento de perspectivas dos players envolvidos, facilitando assim as transações entre
eles. Tais entidades trabalham essencialmente de três maneiras: como gerentes de
conhecimento, agentes de ligação (entre produtores e usuários) e construtores de
capacidade (por meio do aumento ao acesso do conhecimento). No âmbito da governança,
desempenham o necessário trabalho de comunicação, identificação, mediação de conflitos
e educação. Ademais, criam a linguagem comum importante na redução das assimetrias de
informação anteriormente mencionadas (MEYER, 2010).
Diferente do papel dos arranjos institucionais, knowledge brokers podem ser
entendidos como atores em universo organizacional, interorganizacional e
interinstitucional, regional e global, que contribuem para a difusão do conhecimento
criando links indiretos entre aqueles que produzem e os que demandam conhecimento.
Para além, os mesmos podem inclusive extrair seus próprios benefícios da posição
intermediária recombinando-o e explorando-o (KAUFFELD-MONZ & FRITSCH, 2013).
Os estudos no campo de intermediação do conhecimento ainda não se encontram
suficientemente adensados e o papel atribuído aos knowledge brokers é difuso. O termo,
ainda pouco explorado, é empregado em sentido amplo, abrangendo uma diversa gama de
estratégias e atividades. Oldham e McLean (1997) identificam três papéis comuns, a saber:
estruturar o sistema de conhecimento (produção, otimização e uso); estruturar suas
transações (ligando produtores e usuários); e, promover mudança social melhorando as
capacidades dos utilizadores por meio da educação e da informação.
Os desafios específicos enfrentados nessas atividades são separados por Kauffeld-
Monz e Fritsch (2013) em três categorias: fornecimento, ligação e facilitação. Concerne à
primeira atividade identificar as questões que os potenciais usuários do conhecimento vão
precisar responder, localizar os ativos e especialistas capazes de respondê-las
(compreensão muito próxima ao tradicional modelo linear). Dentre os principais desafios
destacados para o fornecimento encontram-se a independência, a objetividade e a
autoridade científica, ou seja, garantir uma interação passiva do intermediador nesse
sentido.
Em contraste, a ligação presume uma atuação mais ativa e intensiva com produtores
e usuários, em um processo cíclico com interface dinâmica (não linear). Envolve os riscos
anteriormente mencionados, aliado ao compromisso de comunicar resultados preliminares
e atenuar incertezas inerentes. A facilitação, entendida como a atividade mais difícil,
77

garante aos envolvidos a atmosfera de confiança necessária, uma vez que as fronteiras
entre a produção e uso nunca estão claras, e também porque os usuários tendem a buscar
resultados mais imediatos.
A despeito das vantagens das relações socialmente incorporadas defendidas até
então, redes capazes de aplicar as mesmas rotinas e que se encontram expostas às mesmas
ideias, tendem a ter baixa capacidade de aprendizado, atenção insuficiente às estratégias e
competências externas a elas e, consequentemente, manterem-se em trajetórias
tecnológicas obsoletas e não competitivas. Especificamente quanto a isso, knowledge
brokers também podem atuar como gatekeepers, ou seja, entidades capazes de monitorar
as informações oriundas de fora dessas redes e traduzi-las à linguagem de produtores e
usuários de conhecimento locais.
Nessa perspectiva, muitas das respostas para as decisões que precisam ser tomadas,
em nível organizacional ou regional, não se encontram apenas por meio da interação entre
produtores e usuários de conhecimento, mas na mudança de conteúdo dos ativos existentes.
Essa atuação, por essa razão, reconhece o valor das formas não tradicionais de produção de
conhecimento (principalmente as instituições de ensino e pesquisa) e traz à luz a
importância da atuação, nos dois extremos, alinhada as mudanças do contexto.

2.3.2 Visão Baseada em Recursos e Capacidades Dinâmicas

É importante ressaltar que o cerne da construção teórica acerca das colaborações


parte do princípio de que se trata de um jogo de soma positiva, ou seja, o todo tende a ser
maior do que a soma das partes. Isso ocorre ao contrário do que se verifica com a
concorrência, compreendida como um jogo de soma zero (para que um ganhe o outro
inevitavelmente perde). Desse modo, a estabilidade dos relacionamentos é crucial e
depende do quanto cada parte é capaz de enxergar ganhos maiores do que obteria por meio
de outras formas de governança. Tais ganhos podem ser verificados na forma de eficiência
estática (economia nos custos de produção e transação) e eficiência dinâmica (inovações),
ambas configurando vantagens competitivas (GRASSI, 2006).
Embora as questões relacionadas à eficiência estática ainda sejam importantes,
observa-se nas últimas décadas a preponderância na busca por eficiência dinâmica nos
acordos de colaboração. Nelson (1996) considera que a compreensão das capacidades
78

dinâmicas responde a pergunta que considera de maior relevância para a visão das firmas:
Por que elas se desenvolvem de formas diferentes em diferentes países? O conceito de
capacidades dinâmicas, portanto, converge no “aprendizado social e coletivo das empresas
e consequente habilidade em intuir, avaliar e reconfigurar novas oportunidades sob a lente
de suas próprias competências” (TEECE et al, 1997, p. 520).
Alguns aspectos ligados a coordenação de arranjos cooperativos como a
distribuição da quase renda gerada, incentivos, monitoração, assimetrias (de tamanho,
poder, capacitação e informação) não encontram respaldo teórico consistente nas teorias da
firma neo-schumpterianas. Como principal impacto, evidencia-se o prejuízo ao estudo de
eficiência dinâmica, sobretudo quanto à redução de custos de transação (GRASSI, 2006).
A área de gestão estratégica é apontada por Foss (2006) como o campo da
administração, dentre os mais tradicionais, onde as abordagens baseadas no conhecimento
foram desenvolvidas e aplicadas com maior sucesso. A teoria ligada à estratégia,
nomeadamente a organizacional, pode ser segmentada em três linhas de pensamento. A
primeira, inaugurada por Porter (1980), atribuía às forças exercidas por um setor sobre a
organização como os aspectos determinantes para as suas decisões estratégicas. A segunda,
também orientada ao meio, e defendida por Shapiro (1989) focava nas imperfeições de
mercado e nas interações estratégicas. Essa abordagem, nomeada como de conflito, adota
ferramentas da teoria dos jogos, a exemplo de estratégias de preços e controle da
informação, como meio para garantir vantagens competitivas. A terceira perspectiva,
inaugurada por Penrose (1959), vista como mais interna, e denominada “visão baseada em
recursos”, direciona-se ao uso estratégico dos pontos fortes de cada organização e
tratamento de seus pontos fracos. Para tal, enfatiza as suas capacidades e ativos específicos
e os mecanismos de isolamento fundamentais para a eficácia do seu uso.
Durante muito tempo, os mecanismos de isolamento supracitados foram suficientes
para garantir o posicionamento vantajoso de algumas organizações em seus setores,
sobretudo quanto à proteção dos seus ativos de conhecimento. No entanto, nas últimas
décadas, as empresas, diante da complexidade tecnológica de seus produtos, bem como das
aceleradas mudanças do mercado, se veem cada vez mais incapazes de inovar sozinhas. A
partir dessas mudanças, desenvolveu-se o campo da inovação aberta. Chesbrough et al
(2006, p. 1) o definem como “o uso intencional das entradas e saídas de conhecimento para
acelerar a inovação interna e expandir os mercados de uso externo da inovação,
respectivamente”.
79

Essa visão indica como necessárias nove perspectivas para o desenvolvimento da


teoria na atualidade, sendo estas (GASSMANN et al; 2010):
a) Perspectiva espacial: uma vez que as pesquisas bem como o desenvolvimento
de produtos e tecnologias se tornaram mais globais, a inovação aberta e o
acesso a recursos-chave foram facilitados. Com o auxílio das tecnologias de
informação e comunicação, equipes virtuais de P&D viabilizam processos de
inovação cada vez mais descentralizados.
b) Perspectiva estrutural: demonstra que a divisão do trabalho aumentou nas
práticas inovativas. Com isso, as cadeias de valor das indústrias encontram-se
mais desagregadas, impulsionadas pela redução de custos e maior
especialização tecnológica.
c) Perspectiva do usuário: envolvimento dos usuários desde as fases iniciais do
processo de inovação, a fim de compreender os requisitos latentes e integrar o
seu próprio conhecimento quanto ao uso das tecnologias e produtos oriundos
(opondo-se assim à visão linear do processo inovativo, que negligencia essas
demandas).
d) Perspectiva do fornecedor: a integração dos fornecedores no processo de
inovação de modo a, por exemplo, reduzir tempo e custos de desenvolvimento
em função das suas habilidades específicas.
e) Perspectiva de alavancagem: corresponde à pesquisa e às práticas de inovação
orientadas para o mercado e às empresas nele inseridas. Ganha importância o
envolvimento do pensamento comercial, por meio das negociações externas de
ativos de PI e sua exploração em novos campos além dos que os originaram.
f) Perspectiva de processo: consideração das três formas de abertura de uma
atividade inovativa, de fora pra dentro, de dentro pra fora e acoplada. Embora
vistas como complementares, o domínio da segunda é destacado.
g) Perspectiva da ferramenta: a criação de instrumentos capazes de promover a
integração entre empresas e usuários, empresas e fornecedores, e entre
empresas em atividades de cooperação.
h) Perspectiva institucional: contraria o modelo de lucros monopolísticos
temporários de Schumpeter por meio da revelação parcialmente gratuita das
invenções e do conhecimento. Os spillovers de conhecimento ocorrem
regularmente por meio de compensações (a exemplo de licenciamentos) ou sem
compensações (como com as iniciativas de código aberto).
80

i) Perspectiva cultural: rompimento com a cultura do “não inventado aqui”. Em


contrapartida, criação da ambiência para identificação de competências e know-
how externos. É influenciada por fatores como valores, sistemas de incentivo,
sistemas de informação, plataformas de comunicação, critérios de tomada de
decisão em projetos, entre outros.
Complementarmente, algumas tendências são identificadas pelos autores para o
campo: a penetração em todas as indústrias como mainstream (perdendo o caráter de
pioneirismo atribuído às grandes organizações que inauguraram o conceito); intensidade de
P&D de alta para baixa tecnologia, incorporando assim, inclusive, as indústrias mais
tradicionais; emprego nas pequenas e micro empresas (em função do rápido crescimento
global e possibilidade de comercialização de seus ativos de conhecimento); processo de
“probe-and-learn” (ruptura com o processo estruturado, linear e top-down e apoio às
interações precoces com fornecedores e usuários, por exemplo); transição de uma estrutura
autônoma para priorização de alianças; universidades desempenhando o papel de
knowledge brokers; processos mais profissionais (tais quais nos modelos “fechados”,
inclusive com o emprego de métricas de desempenho apropriadas); conteúdo não apenas
voltado a produtos, mas também a serviços; PI vista como bem comercial, e não apenas
como mecanismo de proteção, abrindo caminho inclusive para uma nova indústria
destinada aos seus mercados secundários (GASSMANN et al; 2010).
Como pode ser notado, o crescimento do conceito de inovação aberta vai de
encontro às duas primeiras linhas de pensamento sobre estratégia quando ressalta a
importância da cooperação em lugar da competição, bem como coloca a visão baseada em
recursos, e posteriormente, a de capacidades dinâmicas, como propulsoras de parcerias
mais assertivas. Tal visão, inaugurada por Penrose (1959), foi ampliada por Barney (1991)
e Peteraf (1993) e será empregada aqui para introduzir dois vieses de especial interesse
para o estudo: a visão baseada no conhecimento e a relação entre capacidades dinâmicas e
capacidades estatais.
Barney (1991), quando se dedica a explicar a visão baseada em recursos, propõe
que os de uma organização sejam analisados com base em quatro aspectos, a saber: valor,
raridade, imitabilidade e organização. Quanto ao valor, espera-se dos estrategistas a
capacidade de avaliar se um determinado recurso é suficiente para adicionar valor a
organização a despeito das alterações no ambiente competitivo em que se insere ao longo
do tempo. Caso sim, tais recursos e capacidades devem ser alvo de investimento e,
eventualmente, proteção.
81

Porém, ainda que valiosos, os mesmos podem não ser inteiramente raros, ou seja,
também são acessíveis aos concorrentes e, dessa maneira, não configuram diferenciais
relevantes. Ainda que sejam, quando passíveis de fácil imitação (quer seja por duplicação
ou substituição), têm seu potencial enfraquecido. Em geral, uma vez que uma organização
detém recursos valiosos, raros e de difícil imitação, tem em mãos um conjunto de
potenciais vantagens competitivas sustentáveis. Finalmente, é necessário que saiba
explorar tais vantagens, ou seja, que possua uma estrutura formal, sistemas de controle e
políticas de compensação que lhe permita combiná-los a outros recursos e capacidades de
forma exclusiva (organização).
A organização em prol da exploração de vantagens competitivas sustentáveis
sugere que apenas por meio das rotinas organizacionais é possível, de fato, identificar os
ativos que uma organização detém (recursos e habilidades individuais exercitadas). A
partir disso, a fim de incorporar os efeitos oriundos de ambientes globalizados e em
acelerada mutação, emerge o conceito de capacidades dinâmicas criado por Teece et al
(1997). Em sua definição inicial, trata da habilidade de uma firma em integrar, construir e
reconfigurar as competências internas, definidas anteriormente, e as externas.
Adicionalmente, para Eisenhardt e Martin (2000), alteram a base de recursos de uma
empresa, incluindo seus ativos físicos, humanos e organizacionais. Mas, para tal, tais
alterações devem ser propositais (HELFAT & PETERAF, 2009).
Sendo assim, o foco é estendido das especificidades das firmas para o processo pelo
qual a mesma desenvolve e renova suas competências. Baseia-se no tripé: processos
(rotinas ou práticas correntes e aprendizado), posições (ativos, governança, base de
consumidores e relações externas com fornecedores e parceiros) e trajetória (histórico de
decisões e oportunidades tecnológicas e de mercado). Dessa maneira, a rotina
organizacional molda-se pela posição da firma em ativos e por sua trajetória, ambos
determinando as alternativas estratégicas possíveis. Helfat e Peteraf (2009), porém,
recomendam que, dadas as muitas diferenças entre os recursos, a tratativa para a
dinamicidade de ativos tangíveis e intangíveis não pode ser a mesma.
As duas últimas autoras demonstram, esquematicamente, a evolução da cadeia
lógica do tema comparando as reflexões dos seus principais autores em um relativamente
curto período de tempo, o que é demonstrado na Figura 9.
Os microfundamentos apresentados por Teece (2007) para o desenvolvimento
dessas capacidades (sensing, seizing e recombinação/reconfiguração) ainda podem ser
82

considerados a aproximação melhor sucedida de um framework de análise. O Quadro 11


compila as contribuições desse autor.

Figura 9 – A evolução da cadeia lógica do conceito de capacidades dinâmicas

Fonte: adaptado de Heltaf e Peteraf (2009).


83

Quadro 11 – Microfundamentos para o desenvolvimento de capacidades dinâmicas


Capacidade Natureza Microfundamentos
Sensing Acesso às informações existentes; acesso às novas informações Capacidade individual (cognitiva) e de networking para reconhecer, sentir e moldar o
(identificação de e conhecimentos, exógenos e endógenos (perspectiva mercado, as tecnologias e o comportamento de terceiros.
oportunidades e destruidora do equilíbrio de Schumpeter (1939)). Aprendizado, interpretação e atividade criativa.
ameaças) Além da pesquisa e monitoramento do mercado consumidor e Incorporação dessas habilidades cognitivas ao nível organizacional (processos
das tecnologias, compreensão da demanda latente, da evolução organizacionais de síntese e reflexão coletiva).
estrutural das indústrias e mercados, respostas dos fornecedores
Estruturas descentralizadas e autonomia local.
e concorrentes, mudanças normativas e regulatórias.
Prospecção científica e tecnológica local e periférica.
Desenvolvimento conjunto com usuários e/ou fornecedores (inovação aberta)
Prospecção interna e externa de informação e conhecimento.
Seizing Investimentos em desenvolvimento e comercialização Modelagem do negócio (como combinar tecnologias para capturar valor).
(apreensão das assertivos. Escolhas tecnológicas, segmentos de mercado, meios de capturar receita, estratégias de
oportunidades) Flexibilidade nas fases fluidas das trajetórias tecnológicas vendas e parcerias.
(manutenção e melhoria das competências tecnológicas e dos Análise de múltiplas alternativas, compreensão profunda das necessidades dos
ativos complementares) e investimento massivo a partir da usuários, análise completa da cadeia de valor (especialização vertical ou não e
identificação de um projeto dominante. identificação dos gargalos), eficiência relativa nas decisões de terceirização.
Investimento em momentos estratégicos (timing) Pesquisas de mercado e análise dos custos de transação.
Alinhamento da estratégia de negócios com as estratégias de Definição dos limites corporativos (regimes de apropriabilidade, natureza dos ativos
inovação. complementares, posicionamento relativo em relação a esses ativos complementares,
Regras e processos decisórios que desafiam a sabedoria fase da trajetória da indústria – pré ou pós-projeto dominante)
tradicional e contornam aversões aos riscos. Co-especialização (instrumentos e incentivos para complementadores)
Balanceamento da carteira de investimentos envolvendo a co- Projetar estruturas organizacionais, mecanismos de incentivo e rotina que catalisem a
especialização (critérios mais subjetivos e retornos não ação criativa e transbordamento dos ativos e desencorajem a sustentação de ativos e
particionados) grupos que funcionam como “muletas”.
Gerenciamento Recombinação e reconfiguração de ativos e de estruturas Processos decisórios descentralizados
das ameaças e organizacionais enquanto a empresa cresce em uma direção e o Estruturas funcionais x Gestão Multidivisional
reconfiguração mercado e as tecnologias mudam (lançando mão da eficiência
Complementaridades e Co-especialização (uso conjunto de ativos) – mais difíceis de
adquirida nas rotinas)
imitar
Superação das limitações cognitivas e enquadramentos
Estruturas de governança e incentivo a aprendizagem, mecanismos de proteção
decorrentes dos ativos estabelecidos/ estruturas descentralizadas
Distribuição dos resultados
Fonte: adaptado de Teece (2007).
84

O esquema apresentado na Figura 10 resume a base das capacidades dinâmicas e do


desempenho de negócios proposta pelo autor.
Para Teece (2007), o domínio dos aspectos fundamentais para o gerenciamento das
capacidades dinâmicas pode ser compreendido pelos processos: sentir o ambiente,
aproveitar oportunidades e gerenciar ameaças e transformações; todos intimamente ligados
ao conceito de governança. Para o autor, em relação ao último processo especialmente,
torna-se imperativo uma forma de governança que contemple a integração de know how
externo, aprendizagem, compartilhamento e integração do conhecimento. Também
importantes tornam-se os processos de monitoramento e gerenciamento de vazamentos,
roubo e mau uso do conhecimento, segredos industriais e ativos de PI.
Segundo Zollo e Winter (2002), os processos de melhoria nesse sentido relacionam-
se a um ciclo de evolução do conhecimento por meio de três mecanismos de
aprendizagem: acumulação de experiências (incorporadas nas rotinas e procedimentos);
articulação do conhecimento (compartilhamento das experiências individuais); e,
codificação do conhecimento (documentação, armazenamento e recuperação de
informações). Processos estes muito semelhantes aos verificados no capítulo acerca da
gestão do conhecimento. A diferença, que pode ser observada no esquema apresentado na
Figura 11, corresponde ao estímulo externo e feedback propulsores das recombinações.
Tal ideia vem ao encontro do conceito de core competence inaugurado por Prahalad
e Hamel (1990), que também contrapõe as linhas que sustentam a estratégia em uma
perspectiva ambiental e setorial (externa). Mais propriamente, defendem que a concepção
de estratégias competitivas não deve prescindir da análise das capacidades internas da
organização. Definem o conceito como o aprendizado coletivo da organização, em especial
como as mesmas coordenam seus diversos skills produtivos e integram múltiplas correntes
tecnológicas. Para identifica-las, devem atender três critérios: prover acesso aos diversos
mercados (criação de um portfólio de competências em lugar de um portfólio de produtos),
contribuir significativamente na percepção de valor dos consumidores nos seus produtos
finais, e devem ser de difícil imitação pela concorrência.
85

Figura 10 – Fundamentos das capacidades dinâmicas e performance de negócios

Fonte: adaptado de Teece (2007).


86

Figura 11 – Etapas e atividades do ciclo de evolução do conhecimento

Fonte: adaptado de Zollo e Winter (2002).

Foss (2006), no entanto, aponta algumas lacunas que colocam tanto a visão baseada
em recursos, quanto à noção de core competence, como insuficientes. Uma delas é que a
literatura relacionada coloca as capacidades como antecedentes (ao nível de firma) às
vantagens competitivas (também ao nível de firma), denominado como coletivismo
metodológico. Essa postura, no entanto, suprime o nível da ação individual e das
interações. De um modo geral, obscurece o complexo processo de valor apropriado que
não é realizado pelas empresas, e nem por suas capacidades, mas pelo stakeholders
internos equipados por diferentes poderes de barganha e intencionalidades. Assim,
negligencia micro-mecanismos relevantes. Tsoukas (2001), adicionalmente, argumenta que
embora as pessoas identifiquem o conhecimento como individual, não é evidente como ele
se torna posse de um indivíduo e nem em que sentido passa a merecer o adjetivo
organizacional.
O desejo presumido como autoconsciente de reorganizar o saber implica na
intenção do indivíduo de tratar as ações de maneira diferente, revelar aspectos de um
fenômeno (conhecimento), até então invisível, ou simplesmente ver mais claramente.
Ademais, essa reorganização ocorre de forma localizada, ou seja, com base em um ponto
de vista ou tradição único. Assim, a capacidade de julgamento envolve a predisposição
desses indivíduos em desenhar distinções e situa-se em um domínio de ação coletivamente
gerado e sustentado, uma prática comum, um horizonte de significados ou domínio
consensual, com critérios particulares de avaliação, incluindo a alocação de incentivos para
a busca, compartilhamento e acumulação de capital humano (TSOUKAS, 2001).
87

Além dos mecanismos de incentivo, os direitos de propriedade do indivíduo sobre o


conhecimento e o que ele origina influenciam os poderes de barganha quando, a exemplo,
os laços e redes são importantes para a compressão da ligação entre o conhecimento e
retornos superiores, ou seja, concedem legitimidade as alegações de que os funcionários
podem fazer renda. Em outras palavras, os incentivos dos indivíduos em compartilhar,
criar e integrar conhecimento são influenciados pelo quanto os mesmos podem se apropriar
dos benefícios por ele gerados.
Segundo Foss (2006), a noção de core competence e da visão baseada no
conhecimento (que inclui as especificidades citadas nos parágrafos anteriores, além do
desafio de lidar com um recurso nunca de todo conhecido pela empresa), apresentam uma
relação direta entre as capacidades e a vantagem competitiva, como ilustrado pela seta 4 da
Figura 12, o que pode ser empregado apenas para abreviar comportamentos subjacentes
mais complexos. Um fosso na pesquisa acerca das capacidades diz respeito à
contabilização do impacto no desempenho das mesmas em termos de micro-mecanismos,
representados pelas setas 1, 2 e 3. A capacidade ao nível organizacional é reflexo das
representações, crenças e informações detidas por funcionários individuais.

Figura 12 – Capacidades como antecedentes para a Vantagem Competitiva

Fonte: adaptado de Foss (2006).

À medida que se tem obtido avanços nos estudos do conhecimento como fator de
vantagem competitiva, muito foi feito ao nível da identificação das consistências nos
caminhos de desenvolvimento do conhecimento nas organizações, mas pouco ao nível das
interações humanas que são as principais fontes de criação e transferência . A governança
aborda a tentativa de incluir essa fonte primária em uma abordagem individualista (ou seja,
a das motivações individuais). A racionalidade limitada e o oportunismo, já apontados,
88

podem se manifestar de múltiplas formas e podem também ser mitigados ou estimulados


por tais micro-mecanismos.
Outro aspecto levantado pelo autor é a dificuldade em se dimensionar as transações
de conhecimento. A tratativa da tríade frequência, incertezas e especificidade dos ativos
encontra-se também incompleta nas transações em nível individual. Sugerem mais alguns
fatores de dimensionamento importantes como o seu teor tácito versus explícito, qualidade
do sistema versus autonomia, capacidade versus falta de capacidade de ensino,
complexidade versus não complexidade, apropriabilidade e grau de novidade. A
complexidade, diferenciação e especialização, complementaridade e interdependência
surgem como consequência, como contingências importantes para a adoção de
mecanismos de governança dinâmicos.
Tsoukas (2005) afirma que as organizações, sob esse ponto de vista, são sistemas
cognitivos. Em síntese, essa cognição é marcada por três tipos de capacidades, a saber: o
reconhecimento, a manipulação e produção de dados sensoriais (símbolos ou signos); a
interpretação dos símbolos, objetos e eventos; e, a manifestação e ativação dos estados
mentais geralmente identificados nos atos da fala, intencionalidades, emoções e
comportamento proposital. A epistemologia da prática, cognitivista, defende que apenas
indivíduos e organizações podem criar conhecimento. Assim, o debate sobre a natureza do
conhecimento tácito e os limites da sua codificação, como também defendido por Polanyi
(1966), se encontram imersos nessas questões. Os defensores dessa epistemologia, embora
reivindiquem uma não reificada natureza do conhecimento, muitas vezes tratam a sua
transferência de forma excessivamente tradicional, aumentando a pergunta: Transferência
do que? O que os sistemas de governança podem efetivamente gerenciar?
O conhecimento tácito pode ser visto como o elemento principal para a criação de
capacidades dinâmicas nas organizações. Portanto, é da perspectiva da Visão Baseada em
Recursos, estendida para a Visão Baseada em Conhecimento, que emerge o conceito de
Capacidades Dinâmicas Baseadas em Conhecimento. Esta abordagem fundamenta-se mais
no processo de aprendizado do que no próprio conhecimento como recurso estático e
transferível. Nesse entendimento, o conhecimento é algo socialmente construído e sua
criação ocorre por meio das progressivas interações nas práticas de trabalho em contextos
sociais e culturais específicos (GRANT, 1996).
Em análise sobre as principais contribuições dos autores do tema, Denford (2013)
observou oito tipos de capacidades recorrentes, a saber: criação, integração,
89

reconfiguração, replicação (foco interno), desenvolvimento, assimilação, síntese e imitação


(foco externo); resumidas nos quadros 12 e 13.
Helfat e Peteraf (2009) defendem que, teorias emergentes e evolutivas tais, quais a
dos próprios custos de transação e dos limites da racionalidade, demoram a se firmar. O
mesmo ocorre com as discussões sobre capacidades dinâmicas, que ainda mantêm-se
conceituais e focadas em questões fundamentais, pouco claras e muito simplificadas, com
métricas mal resolvidas e caracterizadas pelo baixo suporte empírico.

Quadro 12 – Tipos de Capacidades Dinâmicas Baseadas no Conhecimento com foco interno


Criação Integração Reconfiguração Replicação
Dimensões Exploração Exploração Exploitation Exploitation
Combinativa Absortiva Combinativa Absortiva
Proposta Exploração de novo Reconhecer fontes Combina e Reconhecer,
conhecimento de conhecimento, disponibiliza assimilar e aplicar
dentro da empresa absorver e integrar recursos existentes recursos existentes
por recombinação dentro da empresa na empresa para em qualquer lugar
produzir vantagem dentro da empresa
competitiva
Mecanismos Experimentação Grupos de Aprendizagem Duplicação de
integração, organizacional, reuso recursos e
socialização de conhecimento, processos, bondary
vertical e renovação e spanning43,
horizontal, recombinação transferência de
processos de conhecimento
construção do
conhecimento
Papel da gestão Encorajar cultura de Reconhecer fontes Analisar o ambiente Criar pacotes de
experimentação e de conhecimento e para oportunidades conhecimento
de inovação facilitar de usar recursos dentro da empresa
transferência existentes em novas para maximizar a
interna (entre áreas) combinações exploração de
valor
Impactos Combinação de Permite à empresa Permite à empresa Permite à empresa
recursos internos potencializar e produzir novos replicar sucessos
para criar novo disponibilizar pacotes e únicos em diferentes
conhecimento conhecimento recursos ambientes
original organizacionais
Benefícios Novo conhecimento Utilização de Uso de componentes Crescimento
é apropriado recursos existentes conhecidos decresce organizacional
somente pela para gerar ganhos a incerteza na baseado em
empresa econômicos e novas inovação redistribuição de
configurações conhecimento
Fonte: adaptado de Denford (2013).

43
Entidades dentro da organização cujo papel é ligar as redes internas da organização com as fontes externas
de informação.
90

Quadro 13 - Tipos de Capacidades Dinâmicas Baseadas no Conhecimento com foco externo


Tipos Foco externo
Desenvolvimento Assimilação Síntese Imitação
Dimensões Exploração Exploração Exploitation Exploitation
Combinativa Absortiva Combinativa Absortiva
Proposta Gerar Buscar informação Combinar e Reconhecer e
conhecimento fora fora da empresa redistribuir duplicar
da empresa por para absorção e conhecimento conhecimento
recombinação com aplicação existente na existente de outras
parceiro externo empresa e empresas
parceiros para criar
vantagem
competitiva
Mecanismos Joint Ventures, Aquisições, redes Produção Acordos de
acordos e criação de colaboração e /aplicação conjunta licenciamento e
colaborativa de busca conjunta de e acordos de engenharia reversa
conhecimento conhecimento marketing e
desenvolvimento
Papel da gestão Desenvolver Buscar e Adquirir Identificar
alianças para internalizar novo conhecimentos oportunidades de
maximizar o valor conhecimento via externos e aprender dos
do conhecimento parcerias coordenar recursos parceiros
trocado e/ou internos em novas voluntariamente
combinado combinações
Impactos Permite à empresa Permite o Permite à empresa Permite
gerar novos entendimento das explorar o aprendizagem das
conhecimentos mudanças no conhecimento do empresas mais
com um parceiro ambiente externo e parceiro e atrasadas e reduz a
habilidades para identificar dominância no
reação futura oportunidades de setor
aprendizado
Benefícios Aprendizado Crescimento da Alavancagem de Recuperação ou
mútuo resulta em empresa por recursos dos ganho de market
novo aquisição ou parceiros para share
conhecimento para inclusão em redes melhorar ultrapassando a
as empresas configurações dependência de
parceiras empresas pioneiras
Fonte: adaptado de Denford (2013).

Os conceitos resgatados neste capítulo, a saber: estratégia, visão baseada em


recursos, visão baseada em conhecimento, inovação aberta, capacidades dinâmicas e core
competence; aliados aos do capítulo anterior, acerca de custos de transação e contratos de
PI, convergem no papel desempenhado pelas instituições no favorecimento à cooperação e
redução dos conflitos de interesse inerentes à combinação desses recursos (sobretudo o
conhecimento) em um contexto permeado por acelerada mudança e incertezas. A última
seção deste capítulo discute a efetividade do conceito de capacidades estatais nesse
sentido.
91

2.3.3 Capacidades Estatais

O subsistema de geração e difusão do conhecimento, objeto do presente estudo, é


composto majoritariamente por instituições públicas, como as incumbidas da formação de
profissionais com competências necessárias ao mercado local, as de pesquisa, ensino e
transferência tecnológica e outros órgãos de governança ligados às políticas que suportam
a atividade de pesquisa. Em maior intensidade que no subsistema de uso e aplicação
(organizações), é responsável pela ampliação dos vínculos com organizações e instituições
situadas fora do sistema, como as relações com universidades, empresas estrangeiras e
nacionais de outras regiões (AUTIO, 1998).
Segundo Castro (2016), a importância da análise dos sistemas de C T&I se deve em
grande parte a existência, hoje, de um paradigma tecnológico baseado na ciência. Por este
motivo, é razoável afirmar que o emparelhamento e ultrapassagem tecnológicos de alguns
países ou regiões em setores estratégicos se devem a forma como os seus subsistemas de
geração e difusão do conhecimento são estruturados e interligados.
No entanto, as ICT brasileiras estão distantes do núcleo de tomada de decisão do
país, resultando na baixa participação efetiva nas escolhas estratégicas que tangem as
políticas de inovação em todos os níveis. Os instrumentos voltados à coordenação e
representação dos diversos atores demonstram desempenhar papel mais consultivo do que
de efetiva articulação de interesses e construção de consensos que dependem: da existência
de uma retaguarda de instituições cujo papel é realizar estudos prospectivos e
retrospectivos que subsidiem os processos decisórios; da prospectiva tecnológica contínua
e periodicamente revisada; da consideração dos conflitos de interesse e sua neutralização
na construção do consenso estruturado; e, de um sistema financeiro de inovação enraizado
(CASTRO, 2016).
Diante desse contexto específico, Fiani (2011) defende a fraqueza teórica da ideia
de uma sociedade com uma atividade econômica exclusivamente regida pelos mercados,
ainda que estes sejam totalmente competitivos. A primeira vertente teórica dedicada a
analisar o papel econômico do Estado ficou conhecida como a “Teoria da Busca de
Renda”. Ela tem como busca central, por parte dos agentes privados, de privilégios
concedidos pelo Estado que nomeadamente os protejam da competição. Segundo essa
teoria, a diferença entre “busca de lucro” e “busca de renda” reside nos resultados em
termos de bem estar social. Enquanto o primeiro aumenta a produção na economia, o
92

segundo consome recursos destinados à obtenção desses privilégios por monopolistas. Em


resumo, enquanto alguns ambientes institucionais incentivam a busca de lucro, outros o
fazem com vistas à busca de renda.
Nesse quadro analítico, o papel institucional do Estado na economia é
inevitavelmente negativo. Sua ampliação para além da oferta de justiça e proteção dos
direitos privados resultaria em expressivas distorções econômicas. Ademais, o mais
provável seria a criação de estruturas de governança que acirrem os conflitos, tanto por
parte da competição entre os que buscam privilégios quanto para suas vítimas. Porém, e
como defendido por Evans (2010), uma vez que os padrões institucionais históricos
existem para legitimar interesses individuais e assim delimitam o modo como esses são
perseguidos, um modelo único não pode funcionar. Tanto as ações do Estado, como suas
consequências, são contingentes do contexto.
Karo e Kattel (2014) introduzem, nesse sentido, o conceito de “capacidades
estatais” (ou “capacidades políticas”) definido pela capacidade das instituições em
organizar os recursos coletivos necessários para fazer escolhas inteligentes e alocar
estrategicamente recursos escassos para fins públicos. Tal capacidade é interligada
essencialmente por três escolhas políticas: natureza e fonte das mudanças tecnológicas e de
inovação; financiamento do crescimento econômico; e, gestão pública para fornecer e
implementar opções políticas. Não se trata das capacidades dinâmicas nas organizações, de
um continuum de habilidades, mas de uma variedade de modos e alternativas para
elaboração dessas políticas que variam em acordo com as circunstâncias, porém focadas na
promoção do equilíbrio.
Se alguns aspectos ligados à coordenação das capacidades dinâmicas ainda se
encontram pouco esclarecidos na literatura, aspectos ligados às capacidades
estatais/políticas abrem caminho para uma infinidade de possibilidades e novos
questionamentos. Principalmente, sobre como instituições ligadas ao subsistema de
geração e difusão do conhecimento podem aprender continuamente e rever suas estratégias
de atuação e competências em função das mudanças e demandas do meio.
Segundo Souza (2015, p. 8), capacidade estatal pode ser definida como “o conjunto
de instrumentos e instituições de que dispõe o Estado para estabelecer objetivos,
transformá-los em políticas e implementá-las”. Neste sentido, compreende a capacidade de
formular, conduzir, executar e avaliar as políticas de C T&I, em um espaço no tempo.
Segundo Cingolani (2013), as acepções do conceito permeiam um espectro que
varia desde visões mais liberais associadas, por exemplo, a capacidade de proteger direitos
93

de propriedade, estabelecer contratos e garantir a credibilidade de investidores; até as


intervencionistas, que o atribuem às habilidades de coordenar transformações industriais
em adequação à evolução da concorrência internacional. Para Gomide (2016), em qualquer
um dos extremos, também depende da habilidade das instituições se relacionarem com a
iniciativa privada sem que sejam capturadas por interesses particularistas (como verificado
na “Teoria da Busca de Renda”).
Adicionalmente, Matthews (2012) aponta três perspectivas apontadas na literatura e
empregadas para relacionar as capacidades estatais e as transformações no papel do
Estado. Na primeira delas, as mudanças resultantes da fragmentação das estruturas
burocráticas verticalizadas, a transferência de funções e responsabilidades para a sociedade
civil, entre outros, culminaram na perda de capacidade estatal. Já na segunda, sugere-se o
deslocamento das capacidades do Estado (da produção para a regulação), mas sem perda
de relevância. Uma terceira perspectiva defende que as mudanças associadas à noção de
governança podem ampliar as capacidades de intervenção. Isso porque as interações entre
atores estatais e não estatais podem resultar em complementaridades e sinergias (noção que
se aproxima do conceito de coespecialização defendido por Teece (2007)).
Gomide (2016) indica que as atividades exercidas pelas instituições podem ser
compreendidas em seis dimensões de capacidade, embora não constituam um conjunto de
atributos fixos e atemporais, a saber:
a) Coercitiva: sua função básica, associada à manutenção da ordem pública e a
defesa do território.
b) Fiscal: extração de recursos da sociedade por meio de impostos e posterior
financiamento de programas e provimento de serviços e bens públicos.
c) Administrativa ou Burocrática: implementação de políticas, tendo como
condição necessária à existência de corpo administrativo profissional e dotado
dos recursos imprescindíveis.
d) Relacional: habilidade de se conectar com diferentes grupos da sociedade.
e) Legal ou Regulatória: definição e garantia das “regras do jogo”, responsáveis
por normatizar as relações entre os atores.
f) Política e de condução: poder de agenda e faculdade dos governos eleitos de
fazerem valer suas prioridades, englobando as competências de planejamento
estratégico e fixação de objetivos de longo prazo.
No que concerne o último atributo, intui-se que os padrões de aprendizado desses
agentes decorrem do contexto institucional e seus níveis de interação no sistema,
94

observando duas características: as instituições envolvidas nas políticas de inovação devem


compor parte natural e permanente das políticas econômicas; e, os decisores políticos
devem estar conscientes dos efeitos das demais políticas na de inovação.
Em geral, o mix de políticas de inovação dá importância aos subsídios de P&D e ao
suporte de interações estratégicas entre pontos nodais dos sistemas, mas falta-lhe a
perspectiva de aprendizagem integrada com outras políticas, como as de educação e
trabalho. Para além, isso implica em reconhecer a necessidade de ações que desenvolvam
novas competências nos próprios trabalhadores das organizações e instituições.
Evans (2010) vem ao encontro dessa última constatação e traz à luz três vertentes
da moderna teoria do desenvolvimento particularmente importantes para a construção do
estado desenvolvimentista, sendo elas: a “nova teoria do crescimento”, com foco deslocado
ao reconhecimento do papel das ideias e do capital humano; as “abordagens
institucionais”, que complementam a primeira enfatizando o papel crítico das expectativas
normativas persistentes e compartilhadas; e, a “abordagem da capacidade”, residente na
teoria da escolha social e na interseção entre a filosofia e a economia.
Em consonância com Castro (2016), as “regras do jogo” criam condições para
ações econômicas antecipadas, dessa forma, a questão central do crescimento para Evans
(2010, p. 6) passa a ser:
“Que tipo de providências institucionais melhor capacitarão as sociedades
para construir as organizações e redes necessárias para gestar as novas
habilidades juntamente com novos conhecimentos e ideias, difundindo e
tirando proveito desses ativos intangíveis?”

Doloreux e Parto (2004) determinam que o entendimento do papel das instituições


requer a apreciação da sua complexidade, continuidade e evolução histórica. Esse estudo
demanda a organização cuidadosa das categorias que revelam os níveis, escalas e sistemas
ao redor e por meio dos quais as instituições são construídas. Em outras palavras, além de
específicas do contexto, age coletivamente como uma rede integradora de diferentes
sistemas (sociais, econômicos e políticos, por exemplo), escalas de governança (local,
regional e nacional) e níveis de inter-relação (entre indivíduos, organizações, sociedades).
As especificidades do contexto podem se manifestar pela dependência do passado,
causalidade cumulativa e bloqueios. Ou seja, dependem de ajustes econômicos passados,
moldados pelos feedbacks e reações dos indivíduos às mudanças no ambiente, e são o
produto da relação simbiótica entre organizações e instituições em um processo contínuo
de “causa-efeito-causa”. Assim sendo, as instituições ao mesmo tempo em que resistem as
95

mudanças são capazes de evoluir e transmitir essa direção às gerações consecutivas para
garantir a continuidade, estabilidade, previsibilidade e segurança necessárias.
Para fins analíticos, o modelo proposto por Pires e Gomide (2014) será incorporado
ao modelo unificado de análise do presente estudo, especificamente para os casos das
políticas e instituições diretamente relacionadas à inovação e afins. O modelo desses
autores pode ser resumido no esquema apresentado na Figura 13.
Figura 13 – Modelo analítico para avaliação de capacidades estatais

Fonte: adaptado de Pires e Gomide (2014).

A presente seção, assim como a anterior, não pretende esgotar a discussão sobre as
vertentes institucional e regional da governança e da GC, tendo em vista que se trata de um
tema ainda em consolidação na literatura vigente. Suas motivações e dinâmicas peculiares,
aqui apresentadas, garantem, no entanto, uma sustentação teórica suficiente e necessária
para as seções seguintes, que abordam especificamente os temas SNI e SRI. Nesse último,
a convergência dos assuntos torna o resgate e aprofundamento da discussão sobre
governança inevitável, embora não tão óbvio.
De modo a orientar a análise do estudo de caso proposto, os modelos teóricos
apresentados nas seções 2.2 e 2.3 foram compilados no esquema da Figura 14. Conforme
demonstrado, as abordagens relacionadas às capacidades estatais serão empregadas para
delinear o plano de fundo, com análise direcionada as instituições de apoio, intermediação
e fomento pertinentes; as relacionadas às capacidades dinâmicas serão orientadas as
instituições de ensino e pesquisa (mais precisamente aos seus gestores e decisores); e, por
último, as contribuições acerca da GC e capacidades cognitivas serão incorporadas a
análise das relações entre a instituição e os indivíduos nela inseridos (no caso, seus
pesquisadores).
96

Figura 14 – Modelo Teórico Unificado

Fonte: Elaboração própria.


97

2.4 SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO (SNI)

Observa-se há muito na literatura a tentativa de se identificar e explicar o porquê do


desenvolvimento econômico mais acelerado e duradouro de algumas nações em relação a
outras. Embora a economia neoclássica já imprimisse, em sua ótica, a relevância da
tecnologia e da inovação, ainda as entendiam estáticas como qualquer outro recurso
empregado na atividade produtiva. Dessa maneira, o diferencial competitivo e
maximização de lucros encontravam-se restritamente atrelados a alocação mais eficiente
desses recursos, postos igualmente a disposição de todos, e a natureza das variáveis
manipuladas seria determinada apenas pela estrutura de mercado submetida à firma.
Apenas com o desenvolvimento da Teoria da Firma, do economista Ronald Coase
em 193744, aspectos como diversidade, rotinas organizacionais, capacidade tecnológica,
estratégia, esforços de inovação, coordenação e gestão passaram a integrar a discussão
acerca do emprego da inovação tecnológica nas organizações. Paralelamente, Schumpeter
(1939) contestava a perspectiva neoclássica atribuindo ao desenvolvimento econômico
uma visão mais ampla, impulsionada pelas mudanças tecnológicas e pela destruição
criadora. Para Marins (2006), na lógica do economista, a verdadeira concorrência se dá por
meio de empresas inovadoras e descontinuidades oriundas da substituição de tecnologias
antigas por novas, além das consequentes alterações nos hábitos de consumo.
Embora tenham representado um importante marco para o pensamento econômico
sobre inovação, essas teorias se demonstravam incompletas por não conseguirem explicar
completamente como o processo de geração e difusão tecnológica ocorria em si. Esforços
conjuntos adicionais direcionados a expansão dessa compreensão foram retomados a partir
da década de 70, focados em um primeiro estágio no papel da ciência e da tecnologia como
decisivo para economia, o que culminou em vasta produção teórica e empírica acerca do
tema que fundamentou o conceito sobre SNI (ALBUQUERQUE, 2004).
A Teoria Evolucionária da Mudança Econômica buscou debruçar-se sobre tal
questão incorporando de forma mais realista as contribuições de outras disciplinas, e
revisitando o ponto de vista evolucionário de Schumpeter. Nelson e Winter (1982), dois de
seus precursores, entendem que, em função das descontinuidades, as políticas praticadas
nas empresas deixam, ao menos temporariamente, de ser maximizadoras compulsórias de

44
Em acordo com o artigo The Nature of Firm (1937), de Coase, as empresas se orientam pela demanda do
mercado, e a oferta se ajusta pelo consumo deste do que produzem.
98

lucro, sendo influenciadas por comportamentos e estratégias permeados por incertezas,


desigualdades, racionalidade limitada e diversidades interorganizacionais. Na prática, as
rotinas organizacionais, responsáveis pelo acúmulo de conhecimento tecnológico, são
continuamente desafiadas por tais aspectos, o que promove o aprimoramento destas e da
própria técnica, além da geração de trajetórias em aberto e fora do equilíbrio neoclássico.
Rosenberg (1982, p. 141) também enfatizou a importância dos fatores econômicos
para o progresso científico, mas ressaltou que o progresso tecnológico antecede e estimula
o mesmo em grau equivalente, pois a tecnologia é fonte de questões para a ciência,
conformando um “enorme depósito de conhecimento empírico a ser investigado”,
contribuindo para a definição de uma agenda de pesquisa clara e provendo novos
equipamentos e instrumentos para essa atividade.
Em um segundo estágio evidencia-se a síntese das elaborações anteriores, onde o
conceito de SNI propriamente origina-se (ALBUQUERQUE, 2004) e se aproxima da
definição de Albuquerque (2001, p. 12):
Sistema nacional de inovação é uma construção institucional, produto
seja de uma ação planejada e consciente, seja de um somatório de
decisões não planejadas e desarticuladas, que impulsiona o progresso
tecnológico em economias capitalistas complexas (Freeman, 1988;
Nelson e Rosenberg, 1993). Através da construção desse sistema de
inovação viabiliza-se a realização de fluxos de informação necessários ao
processo de inovação tecnológica. Esses arranjos institucionais envolvem
as firmas, redes de interação entre empresas, agências governamentais,
universidades, institutos de pesquisa, laboratórios de empresas, atividade
de cientistas e engenheiros.

Dosi (1988) dedicou-se nesse segundo estágio a analisar as relações entre o


aprimoramento e o progresso técnico com o crescimento econômico das nações. De
especial interesse para o escopo deste estudo, Freeman (1988) enfatiza que a estrutura
sócio-institucional sempre influencia, negativa ou positivamente, esses processos de
progresso.
É válido destacar que esses autores se utilizam de duas definições distintas e
complementares para o conceito de instituição. A primeira compreende as organizações
não diretamente vinculadas ao mercado, como governos, agências públicas e
universidades, por exemplo. A segunda, mais ampla, abrange toda forma de organização e
comportamentos não diretamente mediados pelo mercado.
Dosi (1988) atribui as diferenças tecnológicas interorganizacionais ao caráter
público e tácito do conhecimento acumulado em cada firma. Variações no conjunto de
informações e competências justificam então os diferentes níveis de conhecimento
99

dinamicamente aplicados no desenvolvimento de cada tecnologia. O desenvolvimento


tecnológico preciso, direcionado e cumulativo (trajetória tecnológica) caracteriza-se por
escolhas tanto econômicas quanto tecnológicas pré-definidas em um projeto dominante.
Porém, a definição desse projeto dominante, assim como os investimentos
direcionados ao seu progresso, é influenciada também pela percepção de oportunidades por
parte das firmas, ampliadas, por sua vez, pelo progresso científico. Dosi (1988) confere as
diferenças entre as firmas às condições de apropriabilidade do conhecimento científico e de
mercado, traduzidas no aparato institucional que garante a proteção das inovações. Assim
sendo, além das diferenças setoriais e da natureza das tecnologias, as disparidades no
progresso tecnológico sofrem influência do contexto econômico e institucional de cada
país, suas externalidades, determinantes do incentivo ou criação de barreiras específicas.
Coricelli e Dosi (1988) ainda destacam que as “visões de mundo”, as convenções
comportamentais, a percepção de oportunidades e as interações entre os agentes são
importantes ingredientes para a explicação de como esses se comportam em termos do
quanto investem em inovação, do progresso técnico esperado, de quais mecanismos de
apropriabilidade tentarão construir, o quanto cooperarão e que papel compete a cada um.
Como consequência, a ordem de mudança emerge das diferentes combinações entre
aprendizado, mecanismos de seleção e estruturas institucionais.
Dosi (1988) enfatiza que a hipótese crucial é a de que as atividades inovadoras são
fortemente selecionadas, com direções precisas e frequentemente cumulativas. Diferente
da concepção de que a tecnologia parte da informação geralmente aplicável e facilmente
reprodutível e reutilizável, e que as firmas podem produzir e usar inovações mergulhando
livremente no pool de conhecimento tecnológico. Dado a sua natureza diferenciada, estas
na verdade buscarão melhorar e diversificar suas tecnologias por meio da busca em zonas
de conhecimento relacionadas à sua base tecnológica. Em outras palavras, o que uma firma
espera construir tecnologicamente no futuro é induzido pelo que desenvolveu no passado.
Dessa forma, e em geral, o progresso tecnológico é permeado pelo
desenvolvimento e exploração de dois aspectos públicos do conhecimento: o primeiro é de
que há certamente elementos “free-good” no progresso tecnológico derivados do fluxo
livre de informações, prontamente disponíveis por meio dos mecanismos de socialização
do conhecimento, como as publicações; o segundo determina que as características
públicas da tecnologia relacionam-se com as interdependências não negociadas entre
setores, tecnologias e firmas, assumindo a forma de complementaridades, sinergias, fluxos
de estímulo e desestímulo não inteiramente correspondentes aos fluxos de commodities.
100

Tais aspectos estruturam um conjunto de externalidades tecnológicas que podem


conformar um ativo coletivo de grupos de firmas/indústrias dentro de regiões/países
(DOSI, 1988).
Os gargalos e oportunidades tecnológicas, experiências e competências
corporificadas nas pessoas e organizações e as capacidades e memórias que transbordam
de uma atividade econômica para outra tendem a organizar as condições contextuais que
são específicas de países, regiões ou firmas; são ingredientes fundamentais do processo de
inovação; e, determinam diferentes incentivos e desestímulos ao mesmo. Essas condições
de contexto são, em diferentes níveis, fruto do resultado não intencional de um processo
descentralizado de organização ambiental e/ou resultado de estratégias explícitas de
instituições públicas e privadas.
Além disso, é importante considerar na análise dos sistemas as diferenças
intersetoriais relacionadas às oportunidades tecnológicas, as opções quanto aos regimes de
apropriabilidade, aos padrões de demanda e, sobretudo, a natureza do conhecimento e
aprendizado nos quais as inovações se baseiam. Esta natureza pode determinar tanto
processos orientados pelo “learning by doing” e incrementos, como aqueles alicerçados
por atividades formais de P&D. Essa compreensão é endossada pela taxonomia proposta
por Pavitt (1984) que categoriza os setores em dominados pelo fornecedor, intensivos em
escala, de fornecedores especializados e baseados na ciência. Taxonomia posteriormente
aperfeiçoada por Tidd et al (2008), incluindo os setores intensivos em informação.
As contribuições de Nelson (1988) e Freeman (1988) acerca dos sistemas de
inovação americano e japonês, respectivamente, demonstram sua complexidade
institucional, sobretudo quanto ao papel das universidades na geração do conhecimento
científico e tecnológico público e dos programas de governo na participação nos
dispêndios em P&D. Nelson (1988) destaca que uma das características mais marcantes
dos SNI é que estes se modificam a todo o momento, na maioria das vezes gradualmente, e
em alguns casos bruscamente. Tais mudanças são ocasionadas, ao menos em parte, pelas
mudanças decorrentes das transformações nos paradigmas tecnoeconômicos.
O autor também defende que as mudanças técnicas, em uma visão retrospectiva,
geram desperdícios, devido à natureza descoordenada e ineficiente das atividades de P&D
nas indústrias em economias capitalistas. Esses desperdícios são de certo modo inevitáveis
quando consideradas as incertezas presentes nos processos de alocação de recursos, dada à
ampla diversidade de caminhos possíveis para uma tecnologia existente, especialmente nos
campos onde as tecnologias são fluidas. O que a noção de sistemas de inovação sob a ótica
101

capitalista pode prover são múltiplas opções de iniciativas e a competição entre os que
apostam em ideias diferentes fundamentadas no acesso difundido ao conhecimento
genérico básico (permitindo a compreensão das possibilidades técnicas e dos mercados).
Fica a cargo desses mercados decidirem factualmente quais são as boas ideias.
O caráter público do conhecimento tecnológico, de certo modo, contorna as
ineficiências associadas à rivalidade, mas traz à tona outros problemas. Como exemplo,
permite questionar a perspectiva Schumpteriana de monopólios temporários, que defende
que os competidores, cedo ou tarde, tornam-se aptos a imitar ou inventar em torno da
inovação original. Esse fim público de toda tecnologia apresenta três benefícios
conhecidos: assegura a partilha saudável dos benefícios da inovação; o conhecimento ali
compreendido provê a base e o estímulo para inovar por parte de outros atores; e, os dois
primeiros mantêm sob controle os riscos de monopólios mais duráveis. E, justamente esses
mesmos benefícios podem desencorajar a inovação em função do medo da rápida imitação.
Segundo Nelson (1988), essas observações trazem à luz a relevância do papel do
desenho institucional dos sistemas, enquanto garantidor de um balanço apropriado entre os
aspectos públicos e privados da tecnologia e do próprio conhecimento. Essencialmente,
esse papel resume-se em tornar disponível o acesso completo ao conhecimento envolvido
nas inovações apenas quando parcialmente suplantados os esforços nele dedicados.
Outro problema resulta dessa constatação: a relação das organizações com
instituições dedicadas a criação do conhecimento genérico e de métodos científicos
direcionados a resolução dos seus problemas não é pautada apenas na orientação adequada
as predileções do mercado, mas principalmente na segurança de que seus competidores não
colherão, antes do tempo, os benefícios por ela cultivados. Essa garantia ocorre
basicamente por meio de três mecanismos: do sistema de patentes, do segredo industrial e
das vantagens associadas com a exploração (ativos complementares).
Já quanto ao papel do governo, Nelson (1988) aponta três diferentes tipos de
suporte: o financiamento a pesquisa básica, a própria geração de demanda e a intervenção
no avanço da competitividade comercial de indústrias particulares. Enquanto a experiência
americana pautou-se nos dois primeiros tipos, a japonesa concentrou seus esforços
principalmente no terceiro. A despeito dessas diferenças, é razoável afirmar que o sucesso
dos sistemas de inovação decorre da acurácia na identificação de áreas chaves que
concentrarão em uma perspectiva de longo prazo, os esforços tecnológicos e
investimentos. Isso é apenas possível quando mudanças profundas ocorrem ao nível
educacional e social porque, naturalmente, e dentre outros motivos, maiores níveis de
102

educação e treinamento (não apenas em P&D) relacionam-se diretamente com a


capacidade de absorção de tecnologias estrangeiras (FREEMAN, 1988).
Lundvall (1988) investigou os aspectos interativos nos processos de inovação. A
distinção entre usuários e produtores nesses processos resulta em importantes implicações
para a teoria econômica. Basicamente, os mercados quando organizados são caracterizados
por transações entre elementos formalmente independentes e seus consequentes fluxos de
informação. Esses fluxos e cooperações diretas podem assumir um formato hierarquizado,
onde os elementos dominam uns aos outros, quer seja em função do seu poder de
financiamento ou por competências técnicas e científicas superiores.
O autor defende que produtores, em geral, são motivados a monitorar o que ocorre
com os usuários. Dentre as principais razões destaca: os processos de inovação dos
usuários podem ser apropriados pelos produtores ou representam para eles ameaças
competitivas potenciais; as inovações em produtos oriundas dos usuários implicam em
novas demandas por equipamentos e processos; o conhecimento produzido por “learning
by using” pode gerar novos produtos apenas quando essas relações são bem estabelecidas e
geram feedbacks; gargalos e interdependências tecnológicas, identificados pelos usuários,
podem representar mercados potenciais para inovações dos produtores; e, esse
monitoramento por estes faz-se necessário para o conhecimento da capacidade de absorção
de novos produtos, em termos de competências e potencial de aprendizado dos usuários.
Por outro lado, os usuários necessitam de informações específicas não apenas
quanto aos novos produtos, mas especialmente quanto às características deles ligadas as
suas demandas específicas. O envolvimento de produtores na resolução desses gargalos
apenas é possível quando os usuários possuem o conhecimento detalhado da confiabilidade
e competência desses produtores.
Esse fluxo de informações ocorre a partir da existência de canais e códigos de
informação apropriados, o que necessariamente envolve custos e tempo. Principalmente
por esse motivo, a sua construção é seletiva, e produtores estabelecem interações com
subgrupos de potenciais usuários, e cada usuário interage com um ou alguns produtores. A
importância da proximidade entre ambos também é destacada, principalmente para lidar
com tecnologias complexas ou que rapidamente e radicalmente mudam. Nesses casos, os
códigos de informação são flexíveis e complexos, e um background cultural comum é
importante para o estabelecimento de padrões tácitos de conduta (LUNDVALL, 1988).
Também de acordo com Lundvall (1988), os sistemas nacionais de produção são
considerados o ponto inicial da definição dos SNI. Isto porque o aprendizado ocorre nesses
103

primeiros sistemas, por learning by doing ou learning by using, além de determinar as


interações entre usuários e produtores necessárias ao learning by interacting. Por outro
lado, os processos de inovação talvez sejam o fator mais importante para a reestruturação
dos sistemas de produção, visto que por meio deles ocorre introdução de novos setores,
rupturas com os antigos e o estabelecimento de novas interações. Por isso, seus sistemas
não tendem a meramente replicar a divisão de trabalho dos sistemas de produção, já que
alguns tendem a ser mais inovadores que outros. As competências identificadas nesses
produtores e usuários, em particular, podem influenciar, inclusive, o progresso e a direção
da ciência básica.
Lundvall (1988) defendia que o que essencialmente separa a ciência básica da
tecnologia é a estrutura institucional, porque a ciência era costumeiramente produzida nas
universidades em acordo com seus padrões de comportamento acadêmicos, enquanto as
tecnologias desenvolviam-se nas empresas seguindo padrões orientados ao lucro. Normas,
valores, incentivos e linguagens ainda tendem a diferir. Não é de se surpreender que o link
entre ambos se trate de uma questão política, e o crescimento do papel da ciência nas
relações entre tecnologia e produção coloque essa questão como prioridade para os SNI.
Os esforços posteriores dos autores supracitados ao longo da década de 90, e
fundamentados por estudos empíricos, ampliaram a compreensão e a consolidação do
termo. Nelson e Rosenberg (1993) sugerem pelo menos quatro grupos de países em função
do grau de construção de seus sistemas de inovação, conforme apresentado no Quadro 14.
Quadro 14 - Categorias de países de acordo com o grau de construção de seus SNI
Grupo Características do S.I.
Avançado  Processo de construção completo e sistemas maduros.
 Progresso tecnológico como principal fonte de desenvolvimento econômico.
 Alto grau de sofisticação na articulação entre os sistemas científico-tecnológico, financeiro
e educacional.
Em  Desenvolvimento econômico acelerado e aproximação crescente dos níveis de renda dos
processo de países avançados (principal indicador desse processo).
Catching  Melhorias nos indicadores de produção tecnológica e científica, redução do analfabetismo
Up e aumento quantitativo de qualificações de nível secundário e superior.
 Concomitância entre os dois grupos de indicadores (econômicos x científico-tecnológicos).
Heterogêneo  Algum grau de construção do Sistema de Inovação, infraestrutura científica e alguma
capacidade tecnológica do setor produtivo, mas caráter incompleto de todos elementos.
 Acesso ao ensino superior limitado e produção tecnológica e científica restrita e aliada a
altas taxas de analfabetismo.
 Grupo heterogêneo porque algumas nações podem apresentar desempenho superior em um
dos aspectos em detrimento de outros.
Baixa  Sistemas de Inovação rudimentares
Renda
Fonte: adaptado de Nelson e Rosenberg (1993).
104

De posse de todo o arcabouço teórico construído ao longo das décadas de 80 e 90


sobre o tema, Edquist (2001) pôde refletir sobre seus principais avanços e gargalos. Dentre
estes últimos, o autor enfatiza que alguns conceitos são utilizados de forma inconsistente
pelos fundadores da abordagem, a exemplo do termo “instituição”, ora sugerindo o sentido
de “atores” ora o de “regras”. Diante dessas divergências, Edquist (2005) se dedicou ao
aprofundamento no assunto por meio de um exercício taxonômico.
Especificamente quanto a aquelas que diretamente influenciam os processos de
inovação, é útil diferenciá-las entre formais e informais. As formais tendem a ser
facilmente visíveis e codificadas, enquanto as informais demandam a observação do
comportamento dos indivíduos e das organizações para serem percebidas. Outra distinção
feita refere-se às instituições “hard” e “soft”, sendo as primeiras percebidas como
vinculativas, prescritivas, e por isso, de alguma forma, policiadas; enquanto as segundas
são entendidas como estabelecedoras de recomendações que podem ou não ser adotadas,
mas nem por isso, menos respeitadas (EDQUIST, 2001).
O mesmo autor também divide as instituições em três funções essenciais: reduzir as
incertezas com a provisão de informação (a exemplo de como atuam as ligadas à PI e
contratos de tecnologia), gerir conflitos e iniciativas de cooperação (como nos conflitos
oriundos dos custos de transação da inovação) e fornecer incentivos (pecuniários e não
pecuniários, além da distribuição justa dos riscos financeiros).
Edquist (2005) defende que falta clareza quanto aos limites funcionais e
geográficos desses sistemas, assim como nas relações e funções das suas variáveis. No
primeiro aspecto apontado, a despeito das necessárias variantes do tema como a dos
sistemas regionais e setoriais, a maioria das políticas públicas direcionadas à inovação se
origina ao nível nacional, tornando evidentes os aspectos políticos do processo de inovação
e o poder e interesse de intervenção do Estado.
Mesmo ao nível nacional, é necessário garantir um mínimo de coerência e
orientação interna. A delimitação funcional do sistema perpassa a sobreposição funcional
dos sistemas regionais e setoriais e as abordagens teóricas originais são, ao menos
isoladamente, incapazes de explicitar o que deve ser incluído ou não em cada um deles.
Quanto ao segundo aspecto, há falta de clareza nas relações e funções das variáveis,
existe o consenso de que organizações e instituições constituem os principais elementos
dos sistemas, mas as especificações dos papéis de cada uma não são as mesmas em
ambientes diversos, como supunha Lundvall (1988), e o mesmo se verifica em termos de
prioridades e interdependência.
105

Essencialmente, tais papéis se dividem em cinco tipos (JOHNSON &


JACOBSSON, 2003): criar conhecimento novo; orientar a direção dos processos de busca
por fornecedores de tecnologia e clientes; fornecer recursos, como capital e competências;
criar economias externas positivas, sob a forma da troca de informação, conhecimento e
visão; e, facilitar a formação de mercados. De fato, há mais semelhanças do que distinções
entre as atividades e as funções dos elementos entre todos os sistemas estudados, mas estes
estudos, segundo Edquist (2001), sugerem que ambas (semelhanças e distinções) foram
elaboradas de forma intuitiva e precisam ser bem fundamentadas de modo a conduzir esse
quadro conceitual ao status de uma única teoria.
Para Katz (1994)45 apud Marins (2006), um único modelo não é capaz de analisar
de forma eficaz o processo de inovação e mudança tecnológica em sociedades que
apresentam organizações sociais distintas. Além disso, critica-se o fato de que as ideias da
Teoria Evolucionista são exclusivamente voltadas para firmas que operam no contexto de
economias industrializadas, uma vez que seus modelos desconsideram a instabilidade
macroeconômica característica de países em desenvolvimento. Para Edquist (2001), de
todo modo, no que tange aos sistemas nacionais, a noção de sistema ótimo é irrelevante e a
trajetória ideal nunca é conhecida. Isso torna não apenas natural, mas imperativo, comparar
diferentes modelos, sem o enrijecimento do que pode ser considerado adequado ou não.
O autor também acrescenta e detalha a influência do Estado nos SNI. As políticas
de inovação por ele concebidas se distribuem em de P&D, tecnológicas, de infraestrutura,
regionais e de educação. E isso se concentra, principalmente, no estímulo a pesquisa
básica, conforme já destacado por Lundvall (1988).
Uma questão nova apontada por Edquist (2001), diz respeito a quando se justifica a
intervenção pública. Dada a falta de sistema ótimo, também se observa a dificuldade na
identificação de um problema a ser resolvido, e ainda mais as suas causas. As falhas do
sistema podem ser divididas em quatro tipos: funções inapropriadas ou ausentes,
organizações inapropriadas ou ausentes, instituições inadequadas ou em falta, interações ou
ligações inadequadas ou ausentes. A simples reprodução de soluções empregadas em
outros ambientes (políticos, econômicos, culturais e sociais), em geral, se demonstra, por
razões óbvias, insuficiente (JOHNSON & JACOBSSON, 2003).

45
KATZ, J. Tecnología, economía y industrialización tardia. In: SALOMÓN, J.; SAGASTI, F.; SACHS, C.
(Org.). Una búsqueda incierta: ciencia, tecnología y desarrollo. Cidade do México: Fondo de La Cultura
Económica, 1994.
106

Também se destacam as publicações da Organização para a Cooperação e


Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o tema, especialmente os estudos Managing
National Innovation (OCDE, 1999) e Dynamising National Innovation Systems (OCDE,
2002). Estes estudos realizam uma extensa análise qualitativa e quantitativa das
experiências verificadas nos sistemas de inovação de diversos países na década de 90, e
situam os efeitos e tipos de ligações que ocorrem dentro e entre sistemas, os grupos focais
relevantes e as implicações políticas.
Como importantes conclusões do primeiro trabalho (OCDE, 1999) destacam-se: o
ambiente e as condições para a inovação nos países da OCDE partem da influência
simultânea de um conjunto de tendências como a importância crescente da base científica;
o aumento da competição e da necessidade de cooperação; e, a crescente interdependência
dos sistemas de países em desenvolvimento. Além disso, a economia do conhecimento não
se restringe as grandes empresas e indústrias de alta tecnologia, pelo contrário; os padrões
de inovação são altamente nacionais, ou seja, cada país traça seu próprio caminho, em
função da situação econômica, especialização e configuração institucional; e, é
fundamental a criação da cultura empreendedora (nos negócios, pesquisa e educação).
O segundo estudo (OCDE, 2002) é organizado em três grupos focais: clusters;
empresas inovadoras e redes; e, mobilidade de recursos humanos. A ampliação da análise
do primeiro estudo possibilitou a identificação de três áreas-chave de atenção: as políticas
implícitas e explícitas de inovação devem ser implementadas em espaços políticos bem
definidos de modo a alcançar as melhores interações e a criação de ambiência inovadora
(coordenadas com mecanismos centralizados e descentralizados); a governança
institucional deve ser a mais flexível possível, compreendendo a divisão do trabalho entre
os setores público e privado, além de mais sensível ao contexto; e, as políticas de
aprendizagem devem ser institucionalizadas, por meio de ferramentas de avaliação e
monitoramento condizentes com os ciclos e fases dos processos políticos.
Além da qualidade das interações, os sistemas de inovação derivam do dinamismo
de algumas dimensões de crescimento, como o aumento da mão de obra e da população (e
seu bem estar); o crescimento econômico que inclui a disponibilidade de fatores chave de
produção bem como o fornecimento de conhecimento técnico e científico alinhados; o
crescimento das reservas de operação do sistema, com recursos materiais e humanos para
novos usos; crescimento de autonomia (em termos de coesão social e ação correspondente
ao aprendizado); crescimento pela transformação (que basicamente contorna os efeitos de
escala que resultam de interações, comunicações e regulações ineficientes); crescimento
107

para as habilidades de mudanças de objetivos (considerando, nesse caso, a reorganização


de propósito e estrutura, e o uso da autonomia para constantes reinvenções) (OCDE, 2002).
Ainda em acordo com o estudo de 2002, especificamente quanto aos clusters, tal
qual ocorre para os setores, seus processos de inovação tendem a diferir. Algumas
situações são apontadas para tal: quando as ICT dominam em intensidade de P&D, clusters
mais maduros são mais demandantes de serviços intensivos em conhecimento; os níveis de
educação nesses clusters são relativamente altos, mas concentrados em altos cargos de
firmas estratégicas; do mesmo modo, os produtos inovadores e as patentes são
concentrados; clusters maduros colaboram com instituições de P&D, mas as relações entre
usuário e produtor tendem a ter mais importância; os clusters mais impactados pelo
mercado doméstico são fortemente dependentes da estrutura regulatória nacional; sistemas
de financiamento direcionados a inovação, em particular venture capital, são cruciais;
clusters nacionais geralmente desenvolvem especializações regionais, assim como estas
costumam conformar partes de cadeias de valor globais.
Já quanto às firmas inovadoras compreendidas nesses sistemas (capazes de
desenvolver habilidades de absorção e aprendizado continuamente), seu crescimento
perpassa a transição entre quatro estágios de firma: estática, inovadora, que aprende e
autogeradora (com maior capacidade de reposicionamento ao nível estratégico, aberta a
mudanças, capaz de se reconfigurar e disposta a aprender continuamente) (OCDE, 2002).
Com relação aos tipos de inovação e de relações do sistema, o estudo conclui que
estes são influenciados pelo perfil de inovação dos seus setores principais, que podem ser:
baseadas na ciência, orientadas pela informação, orientadas pelo mercado, orientadas pelo
custo, entre outros. Destacam que as inovações não tecnológicas são igualmente
importantes, assim como as redes entre empresas estrangeiras e domésticas que se
reforçam mutuamente, especialmente em países menores. Que firmas de alta tecnologia
investem mais em parcerias com instituições de P&D que firmas de baixa tecnologia, mas
essa diferença é pequena entre ambas; e, para essas parcerias, a proximidade geográfica
conta mais que o próprio conteúdo tecnológico (OCDE, 2002).
Por fim, quanto à mobilidade dos recursos humanos, suas evidências empíricas
tiveram uma amostra limitada, mas com uma conclusão relevante: o fluxo de recursos
humanos em sistemas de inovação não foi seriamente integrado aos modelos analisados
anteriormente, embora já reconhecido que os processos de inovação são moldados pelos
sistemas educativos (e as condições de mercado são afetadas pelo desempenho dos
mesmos). Alguns fatores chave acerca desse ponto focal são sinalizados: a mobilidade dos
108

doutorandos (aqui entendidos como pesquisadores em geral) representa um meio


expressivo de intercâmbio de conhecimento; a mobilidade proveniente de instituições de
pesquisa para o setor privado é baixa, enquanto o fluxo de recursos humanos entre
empresas colaboradoras é alto (OCDE, 2002).
A concorrência por mão de obra qualificada ocorre globalmente e, além disso, sua
distribuição desigual não é uma peculiaridade apenas de países em desenvolvimento, tanto
em termos geográficos quanto setoriais. Algumas conclusões, positivas e negativas de
ambos os estudos da OCDE (1999, 2002), ligadas à “fuga de cérebros”, podem ser
induzidas: perda definitiva ou temporária de profissionais qualificados de um sistema para
outro; reforço de laços com instituições ou empresas estrangeiras (por meio de integrações
orientadas pela inovação e pesquisa); a revitalização da base de conhecimento nacional; e,
o desenvolvimento de clusters de pesquisa sem fronteiras.
O mapeamento institucional dos países também apontou diferenças importantes que
merecem destaque. É esperado que todas as estruturas de governança possam refletir
especificidades de seus sistemas políticos, econômicos e sociais. A partir dessa premissa,
uma primeira lição é de que as reformas das estruturas institucionais direcionadas a
ligações mais eficientes com suas políticas e sistemas podem derivar em modelos
descentralizados de governança, que dão mais peso aos aspectos regionais e baseados no
mercado (e criam maior nível de autonomia nas ICT em resposta as demandas locais).
Com o crescimento e consolidação das abordagens empíricas e teóricas acerca do
tema ao longo das décadas de 80 e 90, novas questões posteriormente emergiram,
sobretudo, oriundas da aplicação em contextos diversos. Albuquerque (2004) propõe
quatro novos temas para a agenda de discussão sobre SNI: 1) o enfoque na articulação
entre a construção destes e os processos de superação do atraso econômico (catching up e
forging ahead) das nações; 2) o papel da mensuração da interação entre as atividades de
P&D, as produtivas e de mercado, por meio de feedbacks mútuos; 3) o caráter
interdisciplinar do tratamento do conceito e seu elemento histórico como desencadeador
das diferentes dinâmicas nacionais; e, 4) os efeitos da globalização.
Quanto ao primeiro tema, a articulação entre a construção dos SNI e os processos
de superação do atraso econômico, Stiglitz (1994)46 apud Possas (1999) discrimina as
hipóteses para o crescimento econômico em três linhas, a saber: retornos crescentes de

46
STIGLITZ, J. Economic Growth Revisited. Industrial and Corporate Change, v. 3, n. 1. , p. 65-110,
1994.
109

escala (compreendendo mudanças técnicas e/ou externalidades); acumulação de recursos


ou fatores; e, o catching up entre países ou regiões.
Para Possas (1999, p. 9), a terceira hipótese é mais promissora e ganha força devido
a amplitude das constatações empíricas. Dentre os motivos destaca que: assume diferentes
funções de produção para diferentes economias; o crescimento é visto em sua essência,
como um “deslocamento das funções de produção, incorporação de novas técnicas e
formas de organização econômica”; apresenta a perspectiva aberta para a inclusão de
fatores “histórico-nacionais-institucionais” específicos como parte da explicação do
processo, ou seja, vai ao encontro de todas as afirmações anteriores acerca dos SNI.
O estabelecimento de novos paradigmas tecnológicos cria também um enorme
conjunto de novas oportunidades tecnológicas. As menores condições de apropriabilidade
características da fase fluída das trajetórias configuram chances especiais para os países
retardatários. Em suma:
[...] a movimentação da fronteira tecnológica internacional apresenta dois
aspectos contraditórios: em primeiro lugar, ao ampliar o hiato tecnológico
entre as nações (um dos fatores determinantes do “efeito Rainha
Vermelha47”), introduz a possibilidade de catching up; em segundo lugar,
dadas as mudanças nas condições de apropriabilidade que determina, abre
"janelas de oportunidade" para os países retardatários (ALBUQUERQUE
et al, 2009, p. 70).

Essa movimentação, segundo os mesmos autores, apresenta um problema decisivo


para os países, pois aumenta a necessidade de um maior esforço interno e dinâmico.
Também sugere o aumento do conteúdo científico das tecnologias, ampliando o papel das
instituições de ensino e pesquisa. Sob este ponto de vista, deduz-se que o desenvolvimento
de um sistema de inovação é impulsionado pelo fortalecimento da infraestrutura científica
e pela superação de limiares de produção para a promoção de novos níveis de interação
(mutuamente causais).
Rapini (2000) compara as interações entre as esferas científicas e tecnológicas nos
países que atravessaram o processo de catching up recentemente (Coreia do Sul e Taiwan)
e no Brasil. A principal diferença identificada corresponde à causalidade estatística48 entre
os dois tipos de produção. Enquanto nos países asiáticos analisados ela ocorre de forma

47
Esse efeito, originado nos estudos sobre a biologia evolutiva, refere-se à hipótese de que as espécies (ou
nesse caso as nações) devem se manter em constante evolução não apenas para avançar, mas para não perder
terreno frente à competição global.
48
Na linguagem estatística, o termo causalidade refere-se a todo fenômeno que antecipa outro. Para esse
caso, a produção científica antecede a produção tecnológica, nos dois grupos analisados. Mas, nos países
asiáticos, a causalidade se mostra recíproca, ou seja, a produção tecnológica retroalimenta a científica.
110

recíproca, na realidade brasileira se apresenta unilateral, ou seja, apenas no sentido da


produção científica para a tecnológica.
Também para defender essa teoria, e mensurar a interação entre essas atividades
como recomendado nas abordagens contemporâneas sobre os SNI supracitadas, Bernardes
e Albuquerque (2003) categorizam três grupos de um total de 120 países em função das
semelhanças entre as suas características científicas e tecnológicas (mensuradas apenas
quanto à produção de artigos e depósitos de patentes) e o seu desenvolvimento econômico
(mensurado pelo seu Produto Interno Bruto).
Por meio de um gráfico tridimensional que compila as três variáveis no ano de
1998, comprovam claramente suas correlações, conforme Figura 15. A mesma figura
também apresenta dois gráficos bidimensionais, referentes à relação entre a produção
tecnológica e o PIB (à esquerda) e a produção tecnológica e a produção científica (à
direita), pertinentes para demonstrar, principalmente, que se faz necessário o atingimento
de determinado patamar de produção científica para que a produção tecnológica a
retroalimente, bem como induza efetivamente o crescimento econômico.

Figura 15 – Gráficos tridimensional e bidimensional que correlacionam o desenvolvimento econômico de


países versus sua produção científica e tecnológica

Fonte: Bernardes e Albuquerque (2003).

Os autores também dividem os países em três regimes distintos:


a) Regime I, que engloba os países que não produzem significativamente artigos e
patentes e, principalmente por esta razão, não promovem a articulação entre as
esferas científicas e tecnológicas, o que culmina na baixa apropriação dos
avanços científicos por parte de suas indústrias (a exemplos de alguns países
africanos e da Indonésia);
111

b) Regime II, que abrange os países em desenvolvimento, onde artigos e patentes


são produzidos de forma sistemática, contribuindo para o progresso econômico,
mas as interações entre ciência e tecnologia não se apresentam consolidadas
(como o Brasil);
c) Regime III, composto por países desenvolvidos que, além de possuírem uma
estrutura científica e tecnológica bem consolidada, contemplam mecanismos de
feedback entre as duas dimensões, além de interações diretas entre C&T e a
indústria (como ocorre nos Estados Unidos). Essas características são
esquematizadas na Figura 16.

Figura 16 – Regimes de classificação de países menos desenvolvidos aos mais desenvolvidos

Fonte: adaptado de Bernardes e Albuquerque (2003).

A hipótese básica defendida pelos autores é que existe um limiar no qual a


eficiência na transformação de conteúdo científico para tecnológico (por meio de patentes,
por exemplo), sofre descontinuidade, especificamente entre os regimes II e III. Esse limiar,
traduzido em produção científica per capita e de caráter dinâmico, avança
quantitativamente com mais velocidade no Regime II do que nos outros dois regimes, o
que faz necessário que os países desse regime necessitem aumentar significativamente sua
produção, sob pena de retrocederem ao Regime I.
Fundamentados em Pavitt (1984), que originalmente discriminou os fluxos
tecnológicos nas quatro trajetórias mencionadas anteriormente, Albuquerque et al (2009)
dedicam-se a investigar a trajetória baseada na ciência, relacionada aos casos em que o
desenvolvimento de ondas sucessivas de produtos depende do desenvolvimento prévio de
112

ciências básicas relevantes, sobretudo nas discussões referentes aos países em


desenvolvimento. Nesse estudo, os autores introduzem o quarto tema da agenda sugerida
por Albuquerque e Silva (2005): os efeitos da globalização nos sistemas nacionais.
Inicialmente, os autores demonstram os fluxos tecnológicos que ocorrem interna e
externamente no SNI de países “subdesenvolvidos do tipo avançado”, como o Brasil,
inseridos no cenário internacional (Figura 17).
Os fluxos tecnológicos que partem de firmas “baseadas em ciência” fora dos limites
de um sistema nacional (setas pontilhadas) podem debilitar a dimensão interativa inerente
ao processo de consolidação desse sistema. Como reflexos aponta-se a vulnerabilidade
externa da sua economia. Por outro lado, Narin et al (1997) destacam a propensão nacional
de países tecnologicamente desenvolvidos em lançar mão de forma mais efetiva do
conhecimento científico desenvolvido internamente, o que indica a natureza localizada dos
fluxos de conhecimento, seus efeitos cumulativos, e consequente interação entre progresso
científico e tecnológico.
Figura 17 – Fluxos tecnológicos em uma economia subdesenvolvida do tipo avançado

Fonte: adaptado de Albuquerque, et al (2009).

Albuquerque et al (2009) também argumentam que, em países como o Brasil, é


preocupante o fato de que os gastos em P&D oriundos de transnacionais não sejam
significativos em escala internacional, porém extremamente importantes internamente,
representando parte expressiva do investimento em P&D empresarial no país. Dentre as
principais razões para o investimento em P&D pelas transnacionais em localizações
específicas encontra-se a proximidade de universidades e parques científicos e/ou
tecnológicos.
113

O assunto desta seção parece estar longe do seu esgotamento, e novas discussões
além das propostas por Albuquerque e Silva (2005) ganham destaque, em número e
conteúdo. Fagerberg e Sapprasert (2011) levantam a emergência de uma nova abordagem
para o tema, mais alinhada aos conceitos de aprendizado interativo, como a que emerge das
discussões de Lundvall (2009). A despeito de tudo o que foi discutido até então sobre a
importância do conteúdo científico das inovações, o autor enfatiza que a capacidade para
inovar não pode ser tratada como fruto de esforços isolados. Pelo contrário, a compreensão
de aprendizado dá lugar às experiências diárias de operários, engenheiros e vendedores,
que também produzem inputs essenciais (frutos do learning-by-doing).
Fagerberg e Sapprasert (2011) demonstram que os estudos relacionados aos
sistemas de inovação cresceram mais rapidamente que sobre inovação de forma geral entre
1996 e 2008. No entanto, também observam que, após as contribuições seminais, as
publicações a partir de 2000 são orientadas às realidades de cada nação e suas diferenças.
Afirmam também que um número expressivo de novos estudos compreende as
especificidades de governança dos países em processo de desenvolvimento e suas
respectivas capacidades de absorção; a importância das suas leis de PI (e demais
arcabouços institucionais); e, o papel dos sistemas de educação. Além da perspectiva
externa, correspondente às questões de catching up já mencionadas, os autores se dedicam
à discussão de aspectos internos igualmente relevantes: estruturas institucionais em geral
menos formalizadas; regras menos rígidas; e, agentes e incentivos distintos.
Conforme Bartels et al (2012), são necessárias expressivas adaptações nas
características verificadas nos sistemas de países “ao norte” para a aplicação dos modelos
naqueles “ao sul”, essencialmente as ligadas as suas capacidades, incentivos e arranjos
institucionais. Essas três dimensões podem ser transformadas em um constructo
operacional com as dinâmicas comportamentais desses sistemas em seu cerne. Essas
dinâmicas comportamentais, por sua vez, são determinadas por quatro novos constructos
subjacentes independentes, ilustrados na Figura 18.
O primeiro constructo independente, a dinâmica estrutural da gestão do
conhecimento, acentua o papel central da construção do conhecimento sistêmico, bem
como sua difusão. Esse constructo encapsula o conhecimento como interações entre dados,
informações, educação e respostas do capital humano aos desafios da produtividade.
Compreende atribuir propósito ao conjunto de dados e informações. O segundo constructo,
dinâmica estrutural das tomadas de decisão, reflete as consequências da cultura e captura
as “regras do jogo” institucionais no que tange a como os atores econômicos se envolvem
114

com as políticas regulatórias, além dos padrões de interações peculiares aos agentes dentro
de uma organização institucional nacional. O terceiro constructo, dinâmica estrutural das
relações governo-empresas, alude à articulação entre as esferas do governo e da iniciativa
privada do modelo de Hélice Tripla proposto por Etzkowitz e Leydesdorff (2000). Captura
assim as interações públicas e privadas que dizem respeito às políticas tecnológicas dos
governos e a extensão com que essas relações estão sujeitas a custos de transação. No
quarto constructo, a dinâmica estrutural do mercado, aponta os incentivos e mercados
como mecanismos de sinalização sobre a concorrência na indústria e as características
demográficas desses mercados (BARTELS et al, 2012).

Figura 18 – Modelo de Sistemas Nacionais de Inovação

Fonte: adaptado de Bartels et al (2012).

Os autores investigaram as relações estruturais recursivas desses fatores


empregando análise fatorial e regressão múltipla, a primeira para destilar as variáveis-
chave da literatura e confirmar os constructos, a segunda para estabelecer a importância
relativa desses. As 210 variáveis analisadas dividiam-se em 133 do lado independente (os
quatro constructos) e 77 do lado dependente (dinâmicas comportamentais dos SNI). Para
assegurar a consistência e confiabilidade da análise, foram selecionados os estudos de
países cujos dados se mostravam mais completos, consistindo 26 deles economias
desenvolvidas e 20 emergentes. Após nova análise, os 25 fatores mais influentes do lado
independente foram selecionados (Quadro 15).
115

Quadro 15 - Fatores de análise do Modelo de Sistemas Nacionais de Inovação


Constructo Variáveis determinantes para a competitividade tecnológica
Dinâmica estrutural da Competência técnico-gerencial e de inovação
gestão do conhecimento Efetividade do sistema educacional
Orientação para a informática
Relações com fornecedores na internet
Analfabetismo de adultos
Vetor de produtividade global
Rendimento do ensino superior
Proporção do PIB investida nas relações governo-empresa
Dinâmica estrutural das Autonomia jurídica robusta
tomadas de decisão Adaptabilidade cultural
Incoerência política
Incapacidade política (em termos de políticas públicas, não de políticas de
governo)
Confiança nos tribunais
Dinâmica estrutural das Severidade regulatória
relações governo- Carência administrativa
empresas Ausência de barreiras administrativas
Orientação para exportação
Propriedade de bancos privados
Dinâmica estrutural de Forças de mercado sofisticadas
mercado Flutuação das taxas de câmbio
Pobreza global
Mercado atomístico
Acesso a financiamento externo
Constrangimentos demográficos
Carga fiscal para as empresas
Crescimento real das vendas a varejo
Fonte: adaptado de Bartels et al (2012).

A principal conclusão da análise fatorial revelou que os constructos 2 e 3 são mais


fortemente correlacionados com o fator dependente selecionado (restrito à competitividade
tecnológica) que os constructos 1 e 4, embora estes últimos sejam significativos nas teorias
seminais. No constructo 2, a autonomia jurídica robusta e as políticas de adaptação cultural
demonstraram-se como as variáveis mais relevantes, enquanto no 3, o rigor regulatório e
ausência de barreiras administrativas (a exemplo de bem estabelecidas leis de PI e baixa
burocracia na criação de negócios e no depósitos de patentes) tiveram destaque. Outras
variáveis que se destacaram foram: competência tecno-gerencial e de inovação, efetividade
do sistema educacional, forças de mercado sofisticadas e flutuações das taxas de câmbio.
Os resultados da análise de regressão demonstraram também que a qualidade dos
sistemas de educação é um indicador mais eficaz que o total de matriculados em cursos
superiores, embora o total de adultos analfabetos seja relevante (pois incapacita a difusão
de inovações quando estes figuram como usuários e minimiza a absorção baseada nas
capacidades internas quando figuram como produtores); a incapacidade política produz
expressivos efeitos negativos; assim como mercados atomísticos e constrangimentos
demográficos (população mais velha versus mais jovem, urbana versus rural, por exemplo)
116

tendem a limitar a diferenciação no mercado de bens e serviços inovadores (BARTELS et


al, 2012).
Guan e Chen (2012) comparam a eficiência relativa de diferentes SNI por meio da
modelagem matemática. Para tal, apresentam um quadro conceitual onde demonstram que
esses sistemas são tipicamente orientados por processos de gestão do conhecimento
(Figura 19). Isto significa que o Processo de Inovação é composto basicamente por um
Processo de Produção do Conhecimento (que gera novos conhecimentos a montante) e um
Processo de Comercialização do Conhecimento (que comercializa esses conhecimentos a
jusante).
Ou seja, o investimento no incremento do conhecimento científico e tecnológico
configura o seu primeiro subprocesso de análise, enquanto o segundo subprocesso, a
comercialização do conhecimento, é afetado tanto pelo conhecimento tecnológico
incremental quanto por inputs de comercialização não inovativos. Nota-se, portanto, que
tais subprocessos são relacionais e interdependentes, como esperado, e intermediados pelas
tecnologias.
A Figura 19 também destaca que publicações científicas, embora sejam um produto
do esforço inventivo, são mais indicadores de exploração científica que de
comercialização, ou seja, trata-se de um output “não comercial” do primeiro subprocesso.
Do mesmo modo, o segundo subprocesso depende de forças de trabalho e capital (inputs)
não vinculados a P&D. Esse quadro conceitual demonstra, principalmente, que o Processo
de Comercialização do Conhecimento (determinante em última instância do sucesso
financeiro do Processo de Inovação), sofre os efeitos externos dos ambientes de inovação a
partir de uma perspectiva sistêmica.
Figura 19 – Quadro conceitual da inovação orientada por processos em Sistemas Nacionais de Inovação

Fonte: adaptado de Guan e Chen (2012).


117

Lundvall (2009) também defende essa posição quando propõe que os indicadores
mais relevantes sobre os sistemas nacionais devem refletir a eficiência e a efetividade da
produção, da difusão e da exploração econômica do conhecimento (e não como um efeito
isolado, mas fruto de um processo). Em geral, tais indicadores não são bem desenvolvidos.
De acordo com o autor, uma das medidas mais clássicas para comparar sistemas nacionais
ainda é a proporção do investimento em P&D em relação ao PIB, o que apresenta dois
problemas: refletem apenas um esforço de entrada, mas não dizem nada sobre os resultados
desses esforços; trata-se, de todo modo, de apenas uma forma de input, enquanto o
aprendizado pela cooperação nas rotinas diárias pode ter igual ou até maior importância,
por exemplo. Do mesmo modo, as medidas de output comuns, a exemplo das patentes, da
proporção de produtos inovadores comercializados e da proporção de exportação de
produtos de alta tecnologia, embora juntas sejam razoavelmente satisfatórias, trazem ainda
pouca informação sobre a eficiência de difusão.
A partir dessa compreensão, Guan e Chen (2012) examinam os efeitos dos fatores
contextuais sobre a eficiência e desempenho dos dois subprocessos, produção do
conhecimento e comercialização do conhecimento. Para tal, lançam mão de uma
abordagem determinística, envolvendo programação linear, chamada Data Envelopment
Analysis (DEA), embora se reconheça a dificuldade em isolar com precisão a contribuição
da P&D dos demais esforços comerciais nos resultados de mercado.
Como fatores de input do Processo de Produção do Conhecimento os mesmos
autores consideram: número de cientistas e engenheiros atuando em regime de dedicação
exclusiva, investimentos em P&D diretamente vinculados às atividades de inovação,
estoque de conhecimento prévio acumulado para a produção de conhecimento a jusante. Já
como inputs para o Processo de Comercialização do Conhecimento apontam: estoque de
conhecimento prévio acumulado vinculado às comercializações a montante, quantidade de
trabalho exclusivamente dedicado às atividades não diretamente ligadas a P&D. Como
produto intermediário que ligam ambos os subprocessos destacam o número de patentes
concedidas pela United States Patent and Trademark Office (USPTO), e para os outputs do
primeiro, o número de publicações científicas internacionais. Como os outputs do segundo,
incluem o valor agregado das indústrias e o nível de exportação de novos produtos por
parte das de alta tecnologia.
Por fim, os oito fatores ambientais levantados pelos mesmos autores são: força das
leis de PI, ambiente jurídico para o desenvolvimento tecnológico e sua aplicação, abertura
para comércio e investimentos internacionais, financiamento privado em P&D,
118

desempenho em P&D das universidades, venture capital, colaboração universidade-


indústria e cooperação tecnológica entre empresas. Para a análise foram utilizados os dados
correspondentes de 22 nações, em um período que variou, por fator, entre 1 e 3 anos.
Como resultado das análises, os autores mostraram que o Processo de
Comercialização do Conhecimento desempenha, estatisticamente, um papel mais decisivo
na capacidade de um sistema de inovação do que o Processo de Produção do
Conhecimento. Isso aponta o quão determinantes são as transações de comercialização ao
longo de todo processo de inovação, o que é favorecido pela cooperação universidade-
indústria, e extremamente dependente da atuação dessa segunda.
Também apontam a importância dos seguintes pontos: força dos direitos de PI e do
ambiente jurídico, em ambos subprocessos, tal qual o estudo anterior; a abertura para a
concorrência estrangeira que reduz significativamente a venda de produtos inovadores
produzidos internamente; a forte influência do financiamento privado em P&D para o
segundo subprocesso; o importante papel do venture capital também para o segundo
processo, bem como para a intermediação do primeiro e do segundo.
No mesmo sentido, Castellacci e Natera (2013) investigam a ideia de que a
dinâmica dos SNI é impulsionada pela coevolução de duas dimensões principais: a
capacidade inovadora e a de absorção. Também por meio de um estudo empírico e
quantitativo, baseado na análise de cointegração de painéis, empregam um amplo conjunto
de indicadores para mensurar essas duas dimensões para 87 países entre 1980 e 2007.
Como premissa, propõem que essa dinâmica é impulsionada pela coevolução de
três variáveis relacionadas à capacidade inovativa (inputs de inovação, outputs científicos e
outputs tecnológicos) e cinco fatores relacionados à capacidade de absorção (infraestrutura,
comércio internacional, capital humano, qualidade das instituições e do seu sistema de
governança, coesão social e igualdade econômica). Os indicadores empregados nesse
estudo são discriminados no Quadro 16.
Os resultados desse estudo indicam uma relação de equilíbrio de longo prazo entre
os outputs tecnológicos (patentes), o crescimento dos inputs inovativos (dispêndios em
P&D), a evolução de três variáveis endógenas relacionadas à capacidade de absorção
(capital humano, infraestrutura e comércio internacional), bem como a evolução do PIB
per capita. Também demonstra que a relação entre os outputs científicos e tecnológicos
apresentam um coeficiente negativo, o que a princípio contrasta com a expectativa de uma
dinâmica positiva e auto reforçada.
119

Quadro 16 – Indicadores de desempenho referentes à capacidade inovativa e capacidade de


absorção
Dimensões Indicadores
Capacidade Inovativa Inputs de inovação: % total de dispêndios com P&D em relação ao PIB / % de
investimentos públicos em P&D em relação ao PIB
Outputs científicos: nº de artigos científicos e técnicos por milhão de habitantes
Outputs tecnológicos: n° de patentes depositadas no USPTO por milhão de
habitantes
Capacidade de absorção Comércio internacional: abertura (exportações + importações/PIB) / % de
exportação de produtos de alta tecnologia em relação ao PIB
Capital humano: taxas de matrícula no ensino superior/ taxas de matrícula no
ensino secundário
Infraestrutura: Eletricidade (kilowatts consumidos por hora per capita) /
Telefonia (número de telefones fixos e móveis por cada mil habitantes)
Qualidade das instituições e dos seus sistemas de governança: percepção da
corrupção (transparência internacional), medida em uma escala de 0 (alta
corrupção) a 10 (baixa corrupção).
Coesão social e igualdade econômica: Coeficiente de Gini (desigualdades de
renda internas)
Nível de renda PIB per capita: paridade de poder de compra
Fonte: adaptado de Castellacci e Natera (2013).

Uma possível explicação dada pelos autores é que a relação entre ciência e
tecnologia pode ser caracterizada por diferentes dinâmicas em países com distintos níveis
de desenvolvimento. Puderam constatar que a produção científica pode ser rapidamente
acrescida pelo investimento público durante a fase de catching up de economias em
desenvolvimento, enquanto os outputs tecnológicos produzidos pelas empresas privadas
podem se tornar um driver mais importante nos sistemas de inovação de economias mais
avançadas (o que vem ao encontro do sugerido por Bernardes e Albuquerque (2003)).
Outra constatação importante revela que a maioria das variáveis tende a se ajustar
em um curto prazo quando submetidas a choques externos (por exemplo, mudanças
políticas), retornando ao equilíbrio de longo prazo supracitado. A única exceção a esse
comportamento é observada nos inputs de inovação, que demonstram uma tendência de
desvio mais permanente quando submetidos aos mesmos choques.
Quanto às dinâmicas de capacidade inovativa, o trabalho confirma a hipótese de
ligação entre inputs e outputs do processo de inovação nos dois sentidos. Ou seja, os
investimentos em P&D direcionam os outputs científicos e tecnológicos. Por outro lado, o
crescimento desses outputs sustenta novos investimentos. Já quanto às dinâmicas de
capacidade de absorção, aponta a causalidade bidirecional entre as variáveis de
infraestrutura e comércio internacional (ou seja, os dois fatores se codesenvolvem e
suportam suas dinâmicas mutuamente ao longo do tempo). Resultado análogo não se
verifica na variável capital humano, que não afeta diretamente o crescimento da
120

infraestrutura e do comércio internacional, mas indiretamente sustenta o rendimento per


capita (que por sua vez alimenta as duas outras variáveis).
Especificamente quanto à coevolução entre a capacidade inovativa e de absorção
apontam: os outputs tecnológicos correlacionam-se dinamicamente com a variável de
infraestrutura, mas não diretamente com a de capital humano e comércio internacional; os
outputs científicos correlacionam-se diretamente com as variáveis de infraestrutura e
comércio internacional, e tem efeito unidirecional sobre a dinâmica do capital humano; os
inputs de inovação contribuem com as variáveis de infraestrutura e comércio internacional,
mas não guardam relação direta com o capital humano; o indicador de capital humano
referente à educação superior não guarda efeito significativo sobre as três variáveis de
capacidade inovativa, mas desempenha um papel indireto sobre o PIB per capita (que por
sua vez sustenta esses três elementos) (CASTELLACCI e NATERA, 2013).
Quando segregam a análise para cinco grupos econômicos distintos (o que parece
mais apropriado), a saber: economias avançadas (países da OCDE), economias de renda
média I (Leste da Ásia), economias de renda média II (América Latina), economias de
renda média III (Eurásia) e economias menos desenvolvidas (África e sul da Ásia); os
resultados relacionados às hipóteses gerais anteriores divergem, e são apresentados nos
esquemas das Figuras 20, 21, 22, 23 e 24, além de comparados adiante.

Figura 20 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias avançadas

Fonte: adaptado de Castellacci e Natera (2013).


121

Figura 21 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias de renda média I

Fonte: adaptado de Castellacci e Natera (2013).

Figura 22 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias de renda média II

Fonte: adaptado de Castellacci e Natera (2013).

Figura 23 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias de renda média III

Fonte: adaptado de Castellacci e Natera (2013).


122

Figura 24 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias menos


desenvolvidas

Fonte: adaptado de Castellacci e Natera (2013).

Tal análise comparativa, quando recortada apenas para países em processo de


desenvolvimento (economias de renda média I, II e III), apresenta algumas peculiares que
merecem ser destacadas. No geral, os sistemas desses países diferenciam-se das economias
avançadas nos seguintes aspectos: seus inputs inovativos (dispêndios em P&D) não se
encontram diretamente ligados aos seus outputs científicos e tecnológicos, indicando um
papel menos importante assumido pelas capacidades de P&D privado; a infraestrutura e o
comércio internacional figuram como os fatores de capacidade de absorção mais
importantes, uma vez que ambos relacionam-se entre si e cooperam também com algumas
variáveis de capacidade inovativa, enquanto o capital humano apenas assume um papel
mais central na economia da Eurásia (antiga União Soviética).
Aguirre-Bastos et al (2014) dedicaram-se a estudar especificamente os casos dos
SNI da América Latina, argumentando que há em comum na realidade desses países um
paradoxo relativamente recente: o surgimento de empresas capazes de integrar economias
globais, por um lado, e o aumento de economias informais e muitas vezes ilegais
compostas por empreendimentos e empregos de subsistência, por outro. A instabilidade
social e a existência de instituições públicas fracas oriundas dessas economias impedem,
ou ao menos minimizam suas oportunidades de integração econômica e de crescimento
inclusivo.
Os autores sugerem que uma solução potencial para a redução da exclusão social
desses países se encontra na integração dos seus SNI por meio de agendas de crescimento
articuladas. A despeito das diferenças econômicas e políticas verificadas entre esses países,
propõem para essas agendas: compreensão compartilhada sobre crescimento inclusivo;
123

maior interação entre suas jurisdições (que permita o aprendizado por meio dos êxitos e
fracassos de cada país); deslocamento do foco quase exclusivo de atuação em instituições
públicas de pesquisa e extensão para contribuições nas interações entre organizações; dada
a necessidade de incorporar agentes diversos (decisores políticos, comunidades
marginalizadas, organizações não governamentais, indústrias tradicionais e emergentes),
surge a necessidade de uma abordagem mais qualitativa de pesquisa com esses agentes por
meio, por exemplo, de grupos focais; e, definição de metas de médio e longo prazo a partir
dessa abordagem (inerentes a transformações tão profundas).
Cimoli (2014) discute novos aspectos acerca dos sistemas nacionais e reflete
essencialmente sobre como o acesso assimétrico inicial ao conhecimento tecnológico, em
um mundo cada vez mais caracterizado pela similaridade nos padrões da demanda, figura
como principal determinante dos fluxos comerciais e dos padrões de especialização
internacionais. Abordando as diferenças entre as orientações dos sistemas de países sul-
americanos e asiáticos, defende que a intervenção governamental desempenhou um papel
fundamental para a industrialização em ambos os casos, mas com orientações opostas.
Os sistemas latino-americanos caracterizam-se pela produção para mercados
internos, ao passo que os do sudeste asiático orientam-se para a exportação e
especialização em manufaturados. Nesses últimos, a promoção da cooperação entre
empresas e o envolvimento nas subsidiárias de multinacionais objetivam promover o
acesso estável à transferência de tecnologia e sua frutífera difusão em toda a economia.
Outra diferença essencial desses países é a formação do capital humano e o importante
papel do sistema educacional e científico para o seu desenvolvimento industrial (CIMOLI,
2014).
A importância das instituições no desenvolvimento econômico de países como
Coreia do Sul e Taiwan sugere a compreensão de que este se situa na capacidade de
aplicação de regras fundamentadas em critérios claros de desempenho. Ou seja, a alocação
de recursos por parte do Estado é estreitamente ligada ao desempenho das exportações (e a
concorrência internacional funciona como principal fonte de aprendizado interno)
(CIMOLI, 2014).
As diferenças entre os dois grupos de países supracitados ajudam a ilustrar que,
embora as contribuições das instituições dentro de qualquer sistema devam ser
complementares, diferem significativamente de país para país quanto à motivação e
compromisso para a criação e difusão do conhecimento que criam. Em outras palavras, é
razoável incorporar a ideia de que as distintas estruturas institucionais criam padrões de
124

restrição e incentivos que embora sempre busquem o desenvolvimento, resultam em


desempenhos diferentes quanto à inovação propriamente (CIMOLI, 2014).
O autor propõe a ideia de um conjunto de capacidades tecnológicas (que evoluem
no tempo e espaço) definidas pelas competências por um lado, e desempenho por outro
(Figura 25). Concentra as competências nos elos entre os sistemas de educação e
científicos e os sistemas industriais e de P&D. Porém, também ressalta que o acúmulo de
competências pode ser neutralizado por uma série de fatores (sugerindo que não se trata de
um processo linear), dentre eles a instabilidade macroeconômica típica dos países latinos,
em especial do Brasil e da Argentina.

Figura 25 – Representação da interação entre competências e SNI

Fonte: adaptado de Cimoli (2014).

Da proposta do autor emerge a ideia de que as reflexões acerca do tema pairam hoje
sobre as competências e desempenhos dos SNI como bons parâmetros comparativos do
processo de inovação entre os países, mas já se assume como uma abordagem inapropriada
para conduzir um modus operante (“One size does not fit all”). Para sua compreensão, no
entanto, é importante notar que a ênfase do modelo se encontra nas relações funcionais
entre as variáveis, e não nos seus coeficientes individuais.
125

Desse modo, aproxima-se do defendido por Etzkowitz e Leydesdorff (2000) que


deslocam o lócus dos sistemas nas firmas isoladas para a interação entre elas e as
instituições de ensino e pesquisa, em especial das universidades (em acordo com a Triple
Helix). Para além, esse conceito não denota apenas as relações entre universidades,
empresas e governo, mas também as que ocorrem dentro de cada esfera. Os autores
destacam que as relações externas as esferas acontecem, em geral, ainda com menos
frequência que as internas. Duas supostas explicações podem ser apontadas para esse
comportamento: tais relações são contingenciadas por diferentes mecanismos de
codificação vinculados a cada esfera; e, o termo “desempenho” pode assumir diversos
significados em acordo com cada uma das três perspectivas.
Gregersen e Johnson (2009) também discutem os efeitos retroalimentadores da
estrutura produtiva e da configuração institucional sobre a taxa e a direção das inovações,
mantendo sua relação com o conceito de interação usuário-produtor fundado por Lundvall
(1988). De acordo com os autores, e conforme citado anteriormente, as mais recentes
análises demonstram a necessidade de adaptação por parte das estruturas sociais e
institucionais em função da emergência dos novos paradigmas tecno-econômicos. Rígidas
estruturas organizacionais nas firmas, inflexíveis padrões de cooperação dentro e entre
elas, e inadequadas políticas de ciência e tecnologia demonstram-se, supostamente,
responsáveis pela ineficiência do uso de novas informações tecnológicas por alguns países.
Por esse motivo, cresceu nos últimos anos o interesse acerca dos impactos dos
fatores institucionais sobre as mudanças técnicas. Mais especificamente, em como hábitos
e rotinas são generalizados em grupos permeados por diferentes tipos de organizações
sociais, e como resultam em normas, padrões, tradições, regras e leis (formais e informais).
Dadas essas observações, é crucial que a conexão entre as instituições seja politicamente
neutra. Basicamente, e até contraditoriamente, assim garantem a estabilidade necessária às
mudanças.
Em países de dimensões continentais, como o Brasil, a abordagem de sistemas de
inovação em níveis menores que o nacional faz-se necessária para a compreensão mais
realista desses sistemas e da eficiência de políticas em todas as suas esferas (LUNDVALL
et al, 2002). Assim como nos SNI, um sistema regional constitui-se por redes compostas
por atores públicos e privados que interagem em um território específico, gerando e
ampliando conhecimento e inovação, em um processo de aprendizagem cooperativa, como
será discutido na seção seguinte.
126

2.5 SISTEMAS REGIONAIS DE INOVAÇÃO (SRI)

Asheim et al (2016) defendem a existência de um consenso difundido no ambiente


acadêmico e nos debates políticos de que o conhecimento e a inovação são essenciais para
a garantia da competitividade, do crescimento econômico e da prosperidade de regiões. O
conceito de SRI data da década de 90 e combina os insights advindos da literatura sobre
sistemas de inovação com a simultânea abordagem sobre os modelos de inovação
territoriais. Ainda de acordo com os mesmos autores, além da compreensão de que a
inovação é resultado dos processos de aprendizado interativo, esses últimos modelos
enfatizavam a importância da aproximação geográfica para os fluxos de conhecimento.
Edquist (2001) destaca que o problema da delimitação das fronteiras geográficas
demonstra-se especialmente importante em um SRI. A especificação dos seus limites não
se trata de uma escolha mecânica, mas da identificação de áreas cujos degraus de coerência
e orientação interna são significativamente relacionados ao processo de inovação. A
operacionalização desses critérios pode ocorrer com a visualização de um nível mínimo de
transbordamento de conhecimento, associado com a importância da transferência do
conhecimento tácito entre indivíduos e organizações; a identificação de mercados de
talentos, ou seja, a mobilidade localizada de trabalhadores qualificados; e, uma proporção
mínima de colaboração entre organizações guiada pela inovação.
As condições para a existência de um SRI são diversas, o que culmina na falta de
uma compreensão única sobre o tema e uma taxonomia que possa ser empregada
universalmente. Ainda assim, compreendem-se como tal, regiões com políticas explícitas,
implícitas e específicas de geração e difusão de conhecimento, onde os papéis e interações
entre os diversos atores envolvidos encontram-se minimamente definidos. Asheim et al
(2005) definem três tipos principais de SRI, a saber:
a) SRI Territorialmente incorporado: estímulo às atividades de inovação
localizadas e a processos de aprendizagem interfirmas, sem muita interação
com as instituições que geram conhecimento.
b) SRI Em rede: caracterizado pela intervenção política que visa aumentar a
capacidade de colaboração, e onde, muitas instituições locais, inclusive de
ensino e pesquisa estão envolvidas.
127

c) SRI Regionalizado: a atividade de inovação ocorre principalmente com atores


de fora da região e as relações exógenas representam um papel maior do que as
regionais.

Ainda que a compreensão mais comum do tema refira-se à segunda definição, na


prática as três podem ocorrer, e geralmente ocorrem, em uma mesma região. Os
territorialmente incorporados podem ser comparados, cautelosamente, com o conceito de
clusters ou polos industriais (esses compreendidos no escopo de um SRI, mas não
figurando como sinônimo deste, uma vez que no segundo, as instituições desempenham
um papel mais claro e relevante). Tais aglomerações cumprem em muitos casos o papel de
direcionador vocacional e potenciais demandantes desses territórios, já que quase sempre
se desenvolvem endogenamente. Já quanto aos SRI regionalizados, entende-se que um
sistema regional, naturalmente, deve cumprir algum papel em sistemas maiores, como os
nacionais e setoriais, impactando-os e sendo impactados por estes.
Segundo De La Mothe & Paquet (1998)49 apud Sousa Junior (2014), a literatura
sobre o tema compreende características que auxiliam na conformação do conceito: ênfase
nas firmas como parte da rede na qual as atividades e interações envolvendo tecnologia
ocorrem; nas ligações formais e informais entre instituições e organizações; nos fluxos de
recursos intelectuais existentes; e, no aprendizado como recurso econômico chave. Nota-se
que tais características configuram um apêndice natural do processo já sistêmico de
inovação, onde as firmas são cada vez mais incapazes de inovar sozinhas.
O comportamento de um SRI é moldado pelas normas, leis e rotinas das
instituições e organizações que o compreende, constituindo estímulos (com a redução das
incertezas e da assimetria da informação, por exemplo) ou obstáculos (quando gera uma
cultura conservadora, insegurança jurídica e política, arcabouço legal desfavorável e
desincentivos ao investimento, entre outros) (EDQUIST, 2001). Dessa maneira, estende-se
a sua compreensão para além de influenciada por fatores meramente institucionais, mas
também envolvendo os econômicos, sociais, culturais e políticos, na forma como se cria e
se difundem as inovações.
As recentes abordagens sobre o tema convergem, segundo Doloreux e Parto (2004),
em três dimensões principais de análise, a saber: nas interações entre usuários e produtores,
além das entre produtores e entre usuários; no papel das instituições e na extensão com que

49
DE LA MOTHE, J.; PAQUET, G. Local and Regional Systems of Innovation as Learning Socio-
economies. In: DE LA MOTHE, J.; PAQUET, G. (Org.). Local and Regional Systems of Innovation.
Boston: Kluwer Academic Publishers, 1998. p. 1-18.
128

os processos de inovação são institucionalmente embutidos na configuração dos sistemas


de produção; e, na dependência dos decisores políticos de análises que busquem
operacionalizar verdadeiramente o conceito de SRI. Os autores também apontam que um
problema comum de todos os estudos empíricos é que eles não conseguiram, ainda,
determinar como esses sistemas devem se apresentar na realidade. Por exemplo, o quanto e
que tipos de inovação devem ocorrer em um espaço geográfico para determina-lo como um
SRI? E ainda, se basta terem-se aspirações na condução de um mínimo nível de
organização para a inovação, para se configurar um desses sistemas?
Embora a literatura vigente não seja clara quanto a esses aspectos, desenvolvem-se
em duas linhas de pensamento: análise por meio dos principais elementos que os definem,
com algumas sugestões de indicadores, tais como níveis de educação, intensidade de P&D
regional, bases tecnológicas e outputs tecnológicos, a exemplo das patentes, assim como
ocorre nas análises sobre SNI; e, análise do que pode ser esperado como elementos comuns
a todos os sistemas considerando todo seu espectro de apresentação, que varia de fracos a
fortes, mas existentes.
Asheim et al (2016) acrescentam que as diferenças entre os SRI podem ser
retratadas por duas configurações particulares referentes aos: sistemas regionais
institucionais (SRII) e sistemas regionais empresariais (SRIE). Os SRII são mais
adequados para o estímulo de inovações incrementais em setores tradicionais em função da
promoção de expressivas interações entre usuários e produtores, do suporte regulatório
necessário, do investimento público em P&D, prevendo assim perspectivas de longo prazo.
Já os SRIE, em contraste, oferecem melhores condições para as inovações radicais
e o surgimento de novas indústrias. Esse dinamismo fundamenta-se em fontes de capital de
risco locais, empreendedorismo, excelência científica, demanda de mercado e aumento de
lucros dos acionistas em curto prazo. A prevalência de um ou outro sistema em uma região
é induzida pela estrutura institucional ao nível nacional, naturalmente com os SRIE
sobressaindo-se em economias de mercado mais liberais.
Outro importante mecanismo de distinção refere-se ao fato de que diferentes tipos
de regiões resultam em mudanças sistêmicas típicas. A consagrada abordagem para SRI de
Tödtling e Trippl (2005) baseia-se em insights acerca da teoria do crescimento, nas
abordagens sobre clusters, economia do conhecimento e seus spillovers. Os autores
argumentam que não há um conjunto de melhores práticas em termos de políticas de
inovação aplicável a todo tipo de região. Ademais, as conclusões das análises de “histórias
de sucesso” demonstram-se limitadas, sobretudo em regiões menos favorecidas.
129

Quanto a essa compreensão, Hommen e Doloreux (2004)50 apud Doloreux e Parto


(2004, p. 23) concluem:
Para desenvolver uma abordagem mais compreensiva ao entendimento
dos SRI, é necessário considerar suas falhas assim como seus sucessos, o
aprendizado não localizado assim como o localizado, e seus diferentes
modos de integração, tanto local como globalmente. Uma possível linha
de investigação pode se centrar na natureza precisa e na importância
relativa do aprendizado localizado e não localizado, relacionando-os com
as formas de acumulação do conhecimento que sustentam a globalização
das firmas e a competitividade das regiões. Nesta base, isso seria possível
com a discriminação das condições que habilitam algumas regiões a
adaptar e gerar certas formas de conhecimento de forma mais bem
sucedida que outras. (tradução nossa)

Porém, alguns padrões são levantados por Tödtling e Trippl (2005) para destacar os
impactos das diferenças espaciais nos processos de inovação. Para tal, dividem as regiões
em três tipos: metropolitanas, dominadas por indústrias tradicionais (ou clusters
industriais) e periféricas (detalhadas no Quadro 17). Os autores concluem que as atividades
de P&D, patenteamento e inovações em produtos são, geralmente, concentradas nas
regiões metropolitanas; os spillovers de conhecimento podem ser observados nos clusters
industriais e nas metrópoles, com um alcance limitado a certa distância geográfica
daqueles; embora não se encontre definido na literatura se a efetividade dos processos de
inovação ocorre mais pela especialização ou pela diversificação das aglomerações,
percebe-se que estes são estimulados, em particular, pela complementaridade das
indústrias; as regiões periféricas são, em geral, menos inovadoras e concentradas na
inovação em processos; e, os clusters industriais mais antigos também tendem a serem
menos inovadores com foco em atividades incrementais devido ao predomínio de empresas
controladas externamente.
As principais barreiras verificadas nos três tipos de regiões desenhadas (periféricas,
dominadas por indústrias tradicionais e metrópoles) são esquematizadas na Figura 26.
Observa-se, especialmente naquelas do segundo grupo, o predomínio dos bloqueios
funcionais, cognitivos e políticos sobre os demais.

50
HOMMEN, L.; DOLOREUX, D. Bring back labour in: a ‘new’ point of departure for the regional
innovation approach. In: FLENSBURG, P.; HÖRTE, S. A.; KARLSSON, K. (Org.). Knowledge spillovers
and knowledge management in industrial clusters and industrial networks. Londres: Edward Elgar
Publisher, 2004.
130

Quadro 17 – Dimensões dos principais problemas relacionados aos tipos de regiões


Dimensões dos Tipo de região
Problemas Regiões periféricas Regiões com predomínio de indústrias antigas Regiões metropolitanas
Firmas e Clusters Clusters ausentes ou fracamente Clusters altamente especializados, porém em Muitas indústrias/ prestadores de
Regionais desenvolvidos indústrias maduras ou em declínio serviços qualificados e beneficiados
Dominância de micro e pequenas empresas ou Dominância de grandes empresas por economias de aglomeração
sucursais de grandes empresas Sedes de empresas internacionais e/ou
Falta massa crítica para o desenvolvimento de concentradas em áreas de alta
clusters dinâmicos tecnologia
Baixa capacidade de absorção de Falta de um perfil industrial e de
conhecimento clusters baseados em conhecimento
Universidades e Poucas ou com pouco perfil de atuação Orientadas as indústrias e tecnologias Em alta qualidade e quantidade, mas,
Instituições de Ênfase nas qualificações de nível médio tradicionais em geral, com fracas interações com as
Pesquisa indústrias
Educação e Ênfase nas qualificações de até médio nível Ênfase nas habilidades técnicas. Habilidades Grande variedade de escolas e
Treinamento (especialização rara) gerenciais e qualificações “modernas” instituições educacionais
ausentes
Transferência de Alguns serviços disponíveis (frutos de Muitas e especializadas instituições de Em geral, alta densidade de serviços,
Conhecimento tentativas do passado), mas com estrutura transferência, mas fracamente coordenadas. principalmente os comercializados.
reduzida e pouco efetiva. Em geral pouco orientada a demanda.
Falta de mais serviços especializados.
Em geral pouco orientada a demanda
Redes Fracas devido à baixa clusterização e escassa Geralmente caracterizadas por bloqueios As ligações de mercado dominam.
estrutura institucional políticos e/ou tecnológicos Em geral, poucos clusters e redes
Bloqueios funcionais (redes interfirmas muito relacionadas à inovação (baixo
rígidas), bloqueios cognitivos aprendizado interativo)
(homogeneização da visão de mundo),
bloqueios políticos (relações fortes e
simbióticas entre os atores públicos e privados
que dificultam a reestruturação industrial)
Fonte: Tödtling e Trippl (2005).
131

Figura 26 – Principais barreiras à inovação dos diferentes tipos de regiões

Fonte: adaptado de Tödtling e Trippl (2005).

Derivados das experiências políticas passadas e das novas teorias da inovação,


alguns princípios básicos, em termos de políticas, podem ser pertinentes às especificidades
de cada tipo de região. Tais princípios, todavia, partem da premissa de que não apenas os
capitais físico e humano podem e devem ser desenvolvidos por meio dessas políticas, mas
principalmente, o capital social (formação de relações baseadas na confiança entre os
atores).
Nesse ponto, e como previsto, o conceito de governança é resgatado, além de visto
como uma prática mais eficaz que as tradicionais políticas top-down. Tödtling e Trippl
(2005) reforçam a necessidade de definição de “estratégias potencialmente vencedoras”, da
articulação entre diferentes áreas políticas (coordenação horizontal) e da colaboração entre
as hierarquias locais, regionais e nacionais (coordenação vertical). A escolha dessas
políticas, além de não ser trivial, pressupõe a existência de decisores políticos regionais
preparados e experientes. As abordagens políticas recomendadas são resumidas no Quadro
18.
132

Quadro 18 – Abordagens das políticas de inovação propostas para cada tipo de região
Abordagens Tipo de região
políticas Regiões periféricas Regiões com predomínio de indústrias antigas Regiões metropolitanas
Orientação Reforço/ Modernização da economia regional Renovação da economia regional Melhorar a posição da economia regional na
estratégica da economia do conhecimento global
economia
regional
Estratégia de “Catching up de aprendizado” (organização, Inovação em novos campos e trajetórias Inovações radicais e baseadas na ciência/
Inovação tecnologia)/ Melhorar as estratégias e a Inovação em produtos e processos para novos Promoção da interação entre a indústria e os
capacidade de inovação das PME mercados provedores de conhecimento
Firmas e Reforço dos clusters industriais da região Reforço de clusters em novas e relacionadas Suporte a clusters emergentes relacionados a
clusters Vincular as empresas a clusters de fora da indústrias e tecnologias base de conhecimento regional
regionais região/ Atração de companhias inovadoras e Reestruturação das indústrias dominantes Desenvolvimento de especializações que
formação de novas companhias Diversificação/ Formação de novas firmas/ resultem em sinergias e visibilidade
Atração de clusters relacionados ao Atração de clusters relacionados ao
financiamento estrangeiro direto financiamento estrangeiro direto
Suporte a startups e spin-offs em indústrias
baseadas no conhecimento
Provedores de Atrair instituições nacionais de pesquisa em Estabelecer instituições de pesquisa e Expandir e estabelecer universidades e
Conhecimento ramos relevantes para a economia nacional universidades em novos campos relevantes instituições de pesquisa de alta qualidade em
campos relevantes
Educação/ Desenvolver competências em nível médio Desenvolver novas competências necessárias Criar universidades e escolas alinhadas às
Habilidades (escolas técnicas, de engenharia e de gestão, (escolas técnicas e universidades, por qualificações altamente especializadas
por exemplo) exemplo)
Redes Esquemas de mobilidade (agentes de inovação Estimular o networking com novas indústrias Promover redes regionais entre empresas e
para PME, por exemplo) / Vincular empresas e tecnologias regionais, nacionais e interfaces pesquisa - indústria
aos provedores de conhecimento e agências de internacionais
transferência dentro e fora da região
(abordagem orientada pela demanda)
Fonte: adaptado de Tödtling e Trippl (2005).
133

Fritsch e Slavtchev (2011), por outro lado, identificaram em sua análise em


territórios alemães, que as regiões dominadas por grandes estabelecimentos tendem a
serem menos eficientes em inovação do que aquelas com estabelecimentos de médio porte.
Como fatores determinantes à eficiência, observam que sendo a inovação caracterizada por
uma pronunciada divisão de trabalho, espera-se que tal eficiência dependa da intensidade
com que a base de conhecimento do sistema é explorada e desenvolvida pela interação
entre seus agentes, o que depende do seu potencial de cooperação.
Mais profundamente, os autores analisam que elementos podem propiciar esse
potencial de cooperação. Percebem, por exemplo, que a quantidade de spillovers de
conhecimento dentro do setor privado relaciona-se com o total de empregados dedicados a
P&D. Ou seja, esses profissionais propiciam mais chances de localização de parceiros
adequados. E que a proximidade geográfica entre as universidades e as empresas parceiras
é uma condicionante forte e que, na medida em que um conhecimento demonstra-se único
e requer competências de transferência e aplicação específicas, a força desses spillovers
depende criticamente do grau de similaridade tecnológica e de linguagem entre as partes,
tanto nos do setor público quanto do privado. Também destacam que o setor de serviços
pode desempenhar um importante papel nesse sentido e de diversas formas, por meio de
consultorias, serviços técnicos, fornecimento de capital de risco (além de também
indicarem infraestruturas regionais mais desenvolvidas).
As discussões sobre a lógica que molda a organização territorial reflete a
governança inerente às relações entre os atores. Storper e Harrison (1991) propõem um
modelo dividido em três dimensões de análise: a estrutura dos sistemas de insumo-produto,
suas formas de coordenação e os formatos territoriais das indústrias.
A primeira possibilita investigar o grau de flexibilidade desses sistemas, de acordo
com o grau de economias de escala e escopo geradas nas empresas e na própria indústria,
visando à produção de um bem ou serviço específico. A segunda reflete a estrutura de
poder apresentada por seus atores, capaz de afetar o sistema como um todo. E, a terceira
analisa o grau de aglomeração ou dispersão das atividades industriais. Ainda que tal
modelo se demonstre esquemático para a análise e comparação de diferentes sistemas, a
realidade apresenta padrões bem mais complexos e dinâmicos de interação, permeando os
extremos apresentados na Figura 27.
134

Figura 27 - Dimensões de análise para estruturas de governança em SRI

Fonte: adaptado de Storper e Harrison (1991).

Os fluxos de conhecimento em um SRI podem ser categorizados em três tipos,


sendo eles: entre diferentes organizações (por meio de relações típicas de mercado ou por
colaboração); entre organizações e instituições (por meio de uma dinâmica
interdependente); e, entre diferentes instituições (por meio da convergência ou divergência
entre as legislações aplicadas e nas trocas de informação informais) (EDQUIST, 2001).
As principais características que favorecem os SRI são compiladas por Cooke et al
(2000), a saber: economias de aglomeração, a princípio pela concentração de organizações
e, posteriormente, pelo volume de conhecimento e habilidades construído, e consequente
facilidade na difusão do conhecimento (redução dos custos de transação); aprendizagem
institucional, entendidas como as “regras do jogo” cada vez mais influenciadas pelo
aprendizado externo oriundo dos processos de globalização e internacionalização das
firmas; governança associativa, como a propensão à rede dos principais mecanismos de
governança regionais, delineadores da estratégia econômica regional; disponibilidade de
capital, com a existência de infraestrutura efetiva capaz de estabelecer relações de
confiança para investimentos de risco; e, inovação interativa, tendo a aprendizagem
institucional como rotina e atores com oportunidades reais de acesso e experimentação ao
conhecimento gerado interna ou externamente a região.
Assim, os SRI visam concentrar esforços na criação de políticas de inovação
geograficamente localizadas, baseadas na demanda e oferta de conhecimentos locais. Seu
arcabouço estrutural converge na capacidade de desenvolvimento de capital humano por
135

meio de cooperações, redes formais e informais entre os membros, cultura e perspectivas


políticas compartilhadas e gestão estratégica em áreas-chave como educação e suporte
empresarial.
Ao se restringir o escopo, se observa em alguns casos, gradativa perda de
dependência de agentes públicos, dada a convergência natural de interesses entre iniciativa
privada e ICT, alicerçada pelas vocações locais, o que pode ao longo prazo ser nocivo vista
a “cegueira tecnológica” resultante (COOKE et al, 2000). Ademais, as condicionantes
dessas características, induzidas pelas dimensões organizacionais e institucionais chaves
dividem-se em questões de infraestrutura e superestrutura (COOKE et al, 2000) (Quadro
19).
Quadro 19 - Condicionantes para o alto e baixo potencial de sistemas regionais de inovação
Nível Alto potencial para SRI Baixo potencial para SRI
Tributação e gastos autônomos Gastos descentralizados
Sistema Financeiro Regional Organização financeira nacional
Infraestrutural Influência política na infraestrutura Influência limitada na infraestrutura
Estratégia universidade-indústria Projetos de inovação fragmentados
regional
Dimensão institucional
Cultura cooperativa Cultura competitiva
Aprendizado interativo Aprendizado individualista
Consenso associativo Dissensão institucional
Dimensão organizacional (firmas)
Relações harmoniosas de trabalho Relações de trabalho antagônicas
Treinamentos e mentorias Competências auto adquiridas
Superestrutural
Externalização Internalização
Inovação Interativa P&D isolada (inovação fechada)
Dimensão organizacional (políticas)
Inclusivas Exclusivas
Monitoradas Reativas
Consultivas Autoritárias
Redes Hierárquicas
Fonte: adaptado de Cooke et al (2000).

Dentre os aspectos levantados como infraestruturais apresenta-se o nível de


competência financeira regional, tanto pública quanto privada. Considerando o
financiamento para inovação de alto risco para o setor privado, o envolvimento do governo
por meio de sistemas de crédito e cofinanciamentos são essenciais. É sugerida a existência
de três níveis de competência orçamentária: gastos descentralizados (quando a região é um
canal pelo qual o governo central direciona recursos para despesas específicas e
dedicadas); autonomia de gastos (quando a região pode negociar com o governo central
alocações e investimentos prioritários); e, autonomia fiscal (capacidade ampliada de
desenhar suas próprias políticas de fomento à inovação).
136

Uma segunda condicionante infraestrutural trata da influência política sobre os


investimentos na infraestrutura de base, bem como nas provedoras de conhecimento, como
ICT e ambientes de inovação. Os ambientes demonstram-se mais suscetíveis a essas
interferências políticas, uma vez que podem ter sua criação alicerçada de forma
predominantemente exógena e seguindo, assim, diretrizes de atuação alinhadas a
interesses, por vezes distantes, de sua vocação natural.
Os determinantes ligados à superestrutura são organizados nos níveis institucional,
organizacional (firmas) e de governança organizacional (políticas), que buscam definir a
intensidade de integração e interdependência entre as instituições e as organizações da
região. Em geral, nas regiões caracterizadas pelo baixo nível institucional observa-se maior
competitividade e discordâncias entre seus agentes, ou seja, verificam-se nelas uma baixa
cultura cooperativa, e consequente baixo aprendizado e inovação sistêmica.
O nível organizacional fortalece-se pela cooperação e interação das firmas, abertura
para transações externas (sobretudo as de P&D) e, evidentemente, trocas de conhecimento
e competências dinâmicas. Por fim, o nível de governança organizacional em sistemas de
elevado potencial apresenta alta inclusão de atores e baixa hierarquização, elevada
interação e confiança entre os formuladores de políticas, fatores estes que garantem,
principalmente, a redução de riscos e incertezas inerentes às redes.
Cooke et al (2000) estudaram a realidade europeia e indicam condicionantes que
podem ser comuns ao caso brasileiro, a saber: dependência de diversificação e poder de
atuação das instituições regionais de governança, interações regionais e externas, estrutura
científica e tecnológica consolidada, políticas suportadas por níveis mais altos de
governança (nacionais e globais, por exemplo) e acesso a fundos de apoio.
Autio (1998), por sua vez, define dois subsistemas principais presentes em um SRI:
o de aplicação e exploração do conhecimento e o de geração e difusão do conhecimento.
Esses subsistemas sofrem influências externas de organizações e instrumentos políticos do
SNI, outros SRI, organizações e instrumentos de políticas internacionais (Figura 28).
Esse modelo enfatiza, como destacado por Tödtling e Trippl (2005), que os SRI
estão longe de ser autossustentáveis. Isso implica que fazem várias conexões com atores
nacionais e internacionais e com outros sistemas de inovação. Esses links externos
proporcionam o acesso a ideias, tecnologias e conhecimentos que não são gerados dentro
137

do contexto limitado das regiões. Conforme destacado por Archibugi et al (1999)51 apud
Doloreux e Parto (2004, p. 23): “os espaços podem ser locais, nacionais ou globais, ou,
mais provavelmente, envolverão uma complexa e evolutiva integração em diferentes níveis
de força local, nacional e global” (tradução nossa).

Figura 28- Subsistemas de um Sistema Regional de Inovação

Fonte: adaptado de Autio (1998).

Também, em termos de intervenção pública evidenciam que os atores políticos


regionais, nacionais e internacionais moldam de diferentes maneiras o desenvolvimento e a
dinâmica desses sistemas (demandando práticas de governança multi-nível). Indicam um
padrão para a complexa divisão do trabalho entre esses níveis. No nível regional, pode-se
identificar a criação de competências nos níveis primários e secundários de educação,
incubadoras e centros de inovação, agências de transferência e políticas de clusters. Já ao
nível nacional, apontam-se competências no nível universitário, organizações de pesquisa
especializadas, financiamento a P&D e a inovação (DOLOREUX e PARTO, 2004).
O subsistema de aplicação e exploração do conhecimento é centrado nas
organizações, embora estas também possam gerar conhecimento por meio de

51
ARCHIBUGI, D.; HOWELLS, J.; MICHIE, J. Innovation systems and policy in a global economy. In:
ARCHIBUGI, D.; HOWELLS, J.; MICHIE, J (Org.). Innovation Policy in a global economy. Cambridge:
Cambridge University Press, 1999.
138

investimentos em P&D. Como networking vertical das indústrias entende-se as relações


que ocorrem ao longo de sua cadeia produtiva, ou seja, com seus clientes e fornecedores.
Já o networking horizontal se estabelece pelas parcerias firmadas com outras firmas
(situadas fora da sua cadeia de valor), inclusive com concorrentes (AUTIO, 1998).
O subsistema de geração e difusão do conhecimento, por sua vez, é composto
majoritariamente por instituições públicas, como aquelas incumbidas de mediar a formação
de profissionais com as competências exigidas pelo mercado local, as de pesquisa, ensino e
transferência tecnológica e demais órgãos de governança ligados às políticas e práticas que
suportam a atividade de pesquisa. Em maior intensidade que o primeiro sistema, também é
responsável pela ampliação dos vínculos com as organizações e instituições situadas fora
do sistema, como o ocorrido nas relações com universidades e empresas estrangeiras ou
nacionais de outras regiões (AUTIO, 1998).
Os levantamentos de relacionamentos e fluxos de conhecimento que suportam as
análises do presente estudo sublinham, portanto, a atuação das instituições do SRI, do
estado de Minas Gerais como objeto e mais profundamente as relações e fluxos verificados
no microterritório da Zona da Mata. Para tal, maior enfoque será dado as suas ICT,
agências de fomento e de intermediação sem, no entanto, desvincula-las da inerente
influência estabelecida pelo subsistema de aplicação e exploração do conhecimento.

2.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE A TEORIA

As discussões da literatura sobre Economia da Inovação são consensuais quanto ao


importante papel do conhecimento para a promoção de inovações e consequente
desenvolvimento econômico de regiões e países. No entanto, dentro deste mesmo escopo
teórico, não se evidencia a preocupação em se definir propriamente o que é conhecimento.
Por esta razão, a abordagem epistemológica presente na Seção 2.1 é útil para demonstrar
que o conhecimento, em qualquer das vertentes modernas e contemporâneas da área que se
dedicam a fundamentá-lo, condiciona-se aos interesses e propósitos de pessoas em
primeiro lugar, bem como da sua historicidade e das influências do seu entorno. Tais
fatores colocam invariavelmente elementos como relevância e crenças como
determinantes. Por outro lado, os mesmos elementos são pouco transmissíveis, o que
justifica a pertinente distinção entre o saber tácito e o saber explícito. Uma vez que ela
existe, e é aceita, é razoável defender que apenas os ativos de conhecimento podem ser
139

transferidos e gerenciados, ou seja, a parte do saber individual de algum modo passível de


sociabilização.
Os estudos dedicados a discutir e estruturar a gestão do conhecimento na realidade
das instituições apresentada na Seção 2.2, para isso considerando suas peculiaridades,
também trazem a tona a influência dos aspectos pessoais e sociais sobre os processos de
conversão do saber tácito para o explícito, e vice-versa. Para além disso, enfatizam a
necessidade de pensar nesses processos de modo mais estratégico, tal qual já ocorre nas
organizações. Ainda mais complexo do que definir as diretrizes de atuação dessas
instituições, em especial das de pesquisa, é monitorar o seu desdobramento e execução, o
que envolve, dentre outras métricas possíveis, o capital humano, relacional e estrutural,
sendo os dois primeiros expressivamente subjetivos. De todo modo, a revisão bibliográfica
acerca dos modelos propostos pôde ser incorporada nos roteiros de entrevistas e
questionários empregados no estudo.
Tais modelos, todavia, não incorporam a influência das interações presentes nos
arranjos institucionais no fluxo estratégico do conhecimento das regiões. Por esta razão, foi
imperativo também discutir sobre a governança do conhecimento macro e sistêmica, na
Seção 2.3. Tal discussão ainda não se encontra adensada na literatura, apresentando por
isso diversas reflexões em aberto, a exemplo do papel da intervenção estatal direta; do
trade off entre apropriabilidade e externalidade dos ativos de conhecimento, e
consequentes custos de transação envolvidos; das contribuições das redes de poder
socioterritoriais nas ações de concertação e otimização social (estes dois últimos capazes
de amplificar ou minimizar os efeitos da inerente racionalidade limitada e oportunismo
presentes nas interações desse formato); do efeito dinâmico do tempo sobre os ganhos em
termos de tradição e confiança nestes arranjos; e sobre a personificação destas variáveis
atribuída à figura dos knowledge brokers.
Com a falta de modelos analíticos na literatura que suficientemente considerassem
sobretudo as questões de cunho estratégico, abordagens paralelas também foram utilizadas
de modo a preencher ao menos parcialmente tais lacunas, sendo estas: a visão baseada em
recursos, a visão baseada em conhecimento, inovação aberta, capacidades dinâmicas e
capacidades estatais. Quando combinadas, forneceram indicadores úteis para
operacionalizar a pesquisa de campo do estudo.
Ainda que também pouco instrumentalizáveis, a revisão acerca de Sistemas
Regionais e Nacionais de Inovação que encerra o capítulo teórico do trabalho, demonstra-
se útil para situar, espacialmente, todas as análises anteriores. Os tantos estudos
140

majoritariamente empíricos disponíveis, ao mesmo tempo em que enriquecem a discussão


com os elementos experimentados nas mais diversas e exclusivas realidades, delimitam as
funções que precisam ser de algum modo assumidas nos arranjos institucionais. Não por
acaso, envolve mais claramente os subsistemas de aplicação e exploração do conhecimento
(empresas), entendidas como o lugar onde o conhecimento de fato pode ser convertido em
inovação. Assim, a principal finalidade das Seções 2.4 e 2.5, para além de determinar o que
considerar no estudo, também determinou quem considerar.
A extensa revisão bibliográfica compreendida na presente tese contraditoriamente
suscita mais reflexões do que propriamente as esgota. Nomeadamente, trás a luz a
fundamental inclusão de conhecimentos de ordem psicológica, filosófica e política, não
explorados, mas tão ou mais influentes para os resultados apresentados na seções
seguintes.
141

3. O SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO DE MINAS GERAIS

Segundo o IBGE (2018), a população estimada de Minas Gerais corresponde a


10,1% do total do Brasil. E de acordo com a FJP (2018a), em sua última base de dados
oficial, o estado possuía em 2015 o terceiro maior PIB do país, R$ 519,3 bilhões,
correspondente a 8,7% do PIB nacional. A partir desse ano e, conforme sinalizado em
eventos e coletivas sobre o tema, esse valor não cresceu expressivamente, no entanto
observa-se a retração da participação do setor agropecuário, nomeadamente da produção de
café e leite (de especial interesse para a Zona da Mata, objeto do estudo) (ESTADO DE
MINAS, 2018).
Quando são analisados os 17 territórios de desenvolvimento isoladamente,
evidencia-se, assim como ocorre no cenário nacional, discrepâncias significativas em suas
influências econômicas. Apenas os da Rede Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH),
Sul, Triângulo Norte e Zona da Mata respondiam por 66,2% do PIB do estado em 2015
(FJP, 2018), conforme Figura 29.
Embora acentuada a participação do setor de serviços em todos os territórios, é
possível identificar localidades com maior expressividade no valor adicionado bruto nos
setores industrial e agropecuário, como o Vale do Aço, Campos das Vertentes, Triângulo
Sul (predominância de indústrias tradicionais) e a RMBH para o primeiro (sinalizadas no
mapa da Figura 29 com círculos pretos) e a Noroeste e Central Mineira para o segundo
(sinalizadas no mapa com triângulos cinza).

Figura 29- Participação dos territórios de Minas Gerais no PIB do estado

Fonte: adaptado de FJP (2017).


142

Quanto ao perfil de suas exportações e importações, o estado caracteriza-se em


geral pela exportação de produtos de baixo valor agregado (predominantemente minérios,
produtos siderúrgicos e commodities agrícolas) e importação de alguns produtos que
envolvem de média a alta intensidade tecnológica (como máquinas e equipamentos
industriais, de transporte e agrícolas). Todavia, as exportações de produtos intensivos em
conhecimento cresceram 17,3% entre 2016 e 2017, correspondendo a 11,2% do total
exportado pelo estado (FJP, 2018b). Porém, tal proporção é significativamente inferior à
observada em nível nacional, onde 24,8% do valor exportado referem-se a esse tipo de
produtos.
Dentre as modalidades de produtos intensivos em conhecimento do estado
destacam-se: biotecnológicos e para saúde humana e animal-fármacos-químicos (38,5%);
biotecnológicos para agronegócios-meio ambiente-sinergia (34,9%); complexo das TIC
(24,4%); indústria mecânica-elétrica-instrumentos de precisão (0,2%); indústria
automotiva-ferroviária-naval (0,2%) (FJP, 2018).
As primeiras iniciativas de apoio à construção do sistema de C,T&I do estado se
deram, principalmente, a partir da criação da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de
Minas Gerais (FAPEMIG), em 1985, vinculada, na ocasião, à Secretaria de Estado de
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SECTES), atual Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SEDECTES).
Dentre as modificações estruturais sofridas no sistema a partir de então, destacam-
se a asseguração, em tese, pela Constituição Estadual de 1% da receita orçamentária do
Estado para atividades de CT&I, administradas, principalmente, pela FAPEMIG e pela
EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais
vinculada a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento); a priorização de projetos
ajustados às diretrizes estabelecidas pelo Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia
(CONECIT), embora este nunca tenha funcionado na prática entre 2015 e 2018; a
reestruturação da capacidade técnico-científica das suas instituições de pesquisa, de acordo
com os Planos Mineiros de Desenvolvimento Integrado (PMDI) e Programas dos Planos
Plurianuais de Ação Governamental (PPAG) (ESCHENAZI, 2012). Em 2018, por meio da
sanção da Lei Estadual nº 22.929 (2018), dentre outras disposições, do total das verbas
repassadas à FAPEMIG, foi determinado também que 40% devem ser obrigatoriamente
destinados ao financiamento de projetos desenvolvidos pelas instituições de ensino e
pesquisa estaduais.
143

Consonantemente ao cenário desenhado pela Lei da Inovação, o estado instituiu a


Lei nº 17.348/200852, conhecida como Lei Mineira de Inovação. Essa lei visava
primordialmente operacionalizar a Lei Federal 10.973 (2004) no âmbito estadual ao criar
mecanismos regionais de integração de universidades, institutos de pesquisa e empresas.
Também determinou a criação de um fundo específico para o financiamento de até 90% de
projetos de inovação selecionados. Do mesmo modo, em 2018 a lei estadual foi
reformulada para adequação as alterações da lei nacional promovidas pela Lei Federal
13.243 (2016), conforme Decreto 47442, publicado em julho de 2018.
O Fundo Estadual de Incentivo à Inovação Tecnológica (FIIT), gerido pela
SEDECTES, possui como agente executor e financeiro a Fapemig, e é coordenado por
representantes da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG), Secretaria de
Estado da Fazenda (SEF), Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDE) e
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), promovendo assim, ao
menos em tese, a participação do setor produtivo nas decisões referentes à destinação dos
recursos voltados a inovação tecnológica (LOPES e BARBOSA, 2008).
Apesar dos esforços direcionados à criação de um ambiente mais favorável à P&D
em Minas Gerais, de acordo com dados do MCTIC (2018), o percentual de dispêndios
nesse sentido (P&D e atividades científicas e técnicas correlatas) em relação à receita do
estado desde 2000 foi inferior à média brasileira no mesmo período (Figura 30).

Figura 30 - Evolução do % de dispêndios em C&T de MG em relação à receita do estado em


comparação a evolução média no Brasil (2000-2016)

Fonte: MCTIC (2018) adaptado pela autora.

De modo a compor o pano de fundo para os dados supracitados, um breve resumo


acerca do arranjo institucional do estado e de suas principais diretrizes estratégicas
explicitadas é apresentado na seção seguinte.

52
Disponível via https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=141692.
144

3.1. ESTRUTURA INSTITUCIONAL E PRINCIPAIS DIRETRIZES ESTRATÉGICAS

O Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI) 2016-2017 é um


instrumento que objetiva definir diretrizes estratégicas que diversifiquem suas atividades
produtivas e superem as desigualdades regionais já apontadas, conforme determinado pelo
artigo 231 da Constituição Estadual. Atualmente, envolve na sua elaboração 17 Fóruns
Regionais que representam os territórios de desenvolvimento do estado.
O documento aponta que o estado não conseguiu, nas últimas décadas, direcionar
sua indústria ao padrão da nova “Economia do Conhecimento”, chegando aos anos 2000
“com uma fragilidade estrutural clara, determinada pelo crescente peso da minero-
metalurgia, do intracomplexo minero-metal-mecânico e da indústria tradicional”,
caracterizados por baixa a média intensidade tecnológica (MINAS GERAIS, 2016, p. 10).
O documento também explicita um dos principais desafios a serem enfrentados pela
economia mineira em médio prazo:
“Construir vantagens comparativas dinâmicas e consolidar seu sistema de
inovação, com base na sua infraestrutura de ciência, tecnologia e ensino,
de forma a se posicionar definitivamente como a segunda economia
manufatureira do país, com maior participação relativa de bens de maior
valor agregado e serviços tecnológicos complexos vinculados às novas
tecnologias” (MINAS GERAIS, 2016, p. 11).

Para tal, os setores priorizados pelo plano são: TIC/multimídia, biotecnologia,


nanotecnologia (novos materiais e estruturas inteligentes), para a reestruturação dinâmica
dos demais setores (inclusive dos tradicionais) e promoção de ganhos de produtividade e
competitividade na indústria.
Já os setores intensivos em tecnologia apoiados são: saúde humana e fármacos,
saúde animal, aeroespacial, energias alternativas, equipamentos médicos e
eletroeletrônicos, telecomunicações, tecnologias ambientais e sociais, serviços científicos e
tecnológicos, serviços avançados de apoio às cadeias produtivas, atividades culturais e
artes (design). Resultados positivos de alguns desses setores já emergem, como verificado
no polo de biociências (que concentra 28% das empresas do país, segundo o PDMI), nas
empresas situadas na RMBH e na indústria de softwares.
Atualmente, o estado também conta, segundo o Minas Digital (2017a), com quatro
polos de excelência, nos quais a SEDECTES intenciona concentrar esforços de
organização e fortalecimento de suas estruturas geradoras de conhecimento e tecnologia,
145

prestação de serviços e formação de recursos humanos, sendo eles: Café (Lavras); Leite e
Derivados (Juiz de Fora); Florestas (Viçosa) e Genética Bovina (Uberaba)
O aprofundamento da especialização econômica de Minas associada às
desigualdades regionais se justifica pela negligencia, em um passado recente, de uma
necessária estratégia de diversificação produtiva e de uma alocação espacial equilibrada
dessa produção. Com vistas a interromper o hiato de desenvolvimento inter-regional, o
PDMI (MINAS GERAIS, 2016) propôs um novo reordenamento por meio do Programa
Mineiro de Desenvolvimento Territorial (PMDT), orientado a renovação das bases
institucionais e dos mecanismos de apoio e orientação ao investimento produtivo.
As estratégias, programas e ações foram desdobrados em cinco eixos, a saber:
Desenvolvimento Produtivo, Científico e Tecnológico; Infraestrutura e Logística; Saúde e
Proteção Social; Segurança Pública; e, Educação e Cultura. Porém, todas as relacionadas
ao primeiro eixo, de especial interesse para esta tese, ainda demonstram-se excessivamente
genéricas compreendendo, entre outros: organização dos arranjos produtivos de setores
“portadores de futuro”, criação de instrumentos que incentivem a transformação de
conhecimento em negócios, incentivo às pesquisas vinculadas ao novo paradigma
ambiental, reestruturação do Sistema Mineiro de Inovação (SIMI), impulsão da capacidade
de absorção e geração de inovação das empresas por meio do desenvolvimento e atração de
laboratórios de P&D e centros de excelência, ampliação da oferta de vagas no ensino
superior, além da democratização do acesso por meio da educação à distância. Como
estratégias complementares, destacam-se o incentivo a consolidação de parques
tecnológicos e ofertas diferenciadas de financiamento em P&D, de acordo com as
especificidades de cada território, entre outras (MINAS GERAIS, 2016).
O SIMI, instituído pelo Decreto nº 44.418 em 2006, tem por finalidade “promover
convergência de ações governamentais, empresariais, acadêmicas de pesquisa e tecnologia
para, de forma cooperada, desenvolver a inovação no estado” (MINAS DIGITAL, 2017c).
Possuía em sua composição original o Fórum Mineiro de Inovação, unidade de “ação
cooperativa, consultiva, propositiva e deliberativa, na forma das respectivas Câmaras
Temáticas instituídas”, segundo o Decreto nº 44.418/2006 (MINAS GERAIS, 2006),
substituído em finalidade por outras iniciativas similares a exemplo do Grupo de
Tecnologia e Inovação (GTI) e da Trilha Mineira de Inovação (TMI). Muitos dos dados
recentes referentes ao SIMI se confundem com os divulgados pela Fapemig, e isso se deve
ao fato de que o controle do órgão é compartilhado pela Fundação e pela SEDECTES, por
razões de direcionamento estratégico que serão detalhadas adiante.
146

A coordenação do portal SIMI pela Superintendência de Inovação Tecnológica da


SEDECTES intenciona, além de reunir informações sobre eventos, editais e notícias da
área no estado, também promover a conexão entre pesquisadores, empresários e membros
do governo. Já a atuação da coordenação atribuída à Fapemig ainda guarda relação com
três projetos estruturadores originais: Desenvolvimento Regional e Setorial, Rede de
Formação Profissional e Rede de Inovação Tecnológica (RIT) (MINAS GERAIS, 2010),
porém com expressivos redirecionamentos observados ao longo do tempo.
O primeiro compreendia ações de estruturação de Arranjo Produtivo Local (APL),
Polos de Excelência e Polos de Inovação (esses últimos, voltados ao aceleramento do
processo de desenvolvimento das regiões economicamente frágeis). O segundo
representava-se pela implantação, em parceria com o Governo Federal, de Centros
Vocacionais Tecnológicos e Telecentros, conferindo ao estado consistente infraestrutura de
informática e telecomunicações. Já a RIT dividia-se em três eixos compreendendo:
Ambientes de Inovação (parques tecnológicos, incubadoras e aceleradoras de empresas),
Inovação na Empresa e Inovação na Sociedade (MINAS GERAIS, 2010).
Quanto aos Ambientes de Inovação, o estado possui quatro parques tecnológicos
em operação, sendo eles: Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), fundado em
2005; Parque Tecnológico de Viçosa (tecnoPARQ), de 2011; Parque Científico e
Tecnológico de Itajubá (PCTI), fundado em 2012; e, Parque Científico e Tecnológico de
Uberaba, inaugurado em 1996. Também se encontram em fase de projeto e implantação o
Parque Científico e Tecnológico de Juiz de Fora e região (PCTJFR); e, o Parque
Tecnológico de Lavras (Lavrastec); embora ambos sofram com os reflexos da crise
orçamentária e de redirecionamentos estratégicos para consolidação conforme o planejado
(O LAVRENSE, 2017; CRITT, 2017).
Minas Gerais também conta aproximadamente com 25 incubadoras de empresas,
6,7% das existentes no país, sendo elas: INCULTEC53 (Ouro Preto); INCIT 54
(Itajubá);
INCEVS55 (Pouso Alegre); CIAEM56 (Uberlândia); D.57, INOVA UFMG58, Habitat59,
Nascente60 e FUMSOFT61 (Belo Horizonte); CRITT62 (Juiz de Fora); CenTev63 (Viçosa);

53
Centro de Referência em Incubação de Empresas e Projetos de Ouro Preto
54
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá
55
Incubadora de Empresas do Vale do Sapucaí
56
Centro de Incubação de Atividades Empreendedoras da Universidade Federal de Uberlândia
57
Incubadora de Empresas e Negócios de Design (Universidade do Estado de Minas Gerais)
58
Incubadora de Empresas da Universidade Federal de Minas Gerais
59
Incubadora de Empresas resultado do convênio de cooperação entre Biominas Brasil, o Governo do Estado
de Minas Gerais, a Prefeitura de Belo Horizonte e a Universidade Federal de Minas Gerais.
60
Incubadora de Empresas do Centro Federal de Educação Tecnológica -MG
147

IEP64 (Patos de Minas); Inbatec65 (Lavras); INCETEC66 (Inconfidentes); Avante67


(Brazópolis); INDETEC68 (São João Del Rei); INCET69 e INEMONTES70 (Montes
Claros); Inatel Incubadora71, INTEF72 e PROINTEC73 (Santa Rita do Sapucaí);
NIDUSTEC74 (Alfenas); UNITECNE75 (Uberaba); e, ITEBE76 (Betim). O estado também
possui seis aceleradoras de empresas, todas localizadas em Belo Horizonte (Figura 31)
(SIMI, 2018; RMI, 2018). Grande parte dos parques e incubadoras de Minas Gerais é
articulada pela RMI, associação que apresenta como principal objetivo fortalecer tais
movimentos no estado, desde 1997.

Figura 31 - Localização das incubadoras de empresas e parques tecnológicos de Minas Gerais

Fonte: Elaboração própria.

Quanto ao eixo Inovação na Empresa, dois projetos específicos do estado existentes


até meados de 2016 podem ser destacados: o Programa de Incentivo a Inovação (PII) e os
Encontros de Inovação. O PII, coordenado pela SEDECTES em parceria com o Serviço

61
Coworking e Aceleradora de Negócios
62
Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia
63
Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa
64
Incubadora de Empresas de Patos de Minas
65
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Federal de Lavras
66
Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes
67
Incubadora de Base Tecnológica gerida pela Associação Tancredo Neves
68
Incubadora de Desenvolvimento Tecnológico e Setores Tradicionais do Campo das Vertentes, gerida pela
Universidade Federal de São João Del Rei
69
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros
70
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Montes Claros
71
Incubadora de Empresas do Instituto Nacional de Telecomunicações
72
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e
Educação.
73
Programa Municipal de Incubação Avançada de Empresas de Base Tecnológica do município de Santa
Rita do Sapucaí - MG
74
Incubadora de Base Tecnológica da Universidade Federal de Alfenas
75
Unidade de Tecnologia e Negócios da Universidade de Uberaba
76
Incubadora Tecnológica e Empresarial de Betim
148

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e as ICT do estado,


buscava essencialmente fortalecer o desenvolvimento econômico e social de Minas Gerais,
por meio da comercialização de tecnologias oriundas das universidades, quer seja pela
criação de empresas de base tecnológica (spin-offs) quanto pelo licenciamento destas ao
setor produtivo (MINAS GERAIS, 2010).
Além de um parcial suporte financeiro, o PII concedia a essas instituições um
suporte gerencial traduzido em estudos de viabilidade técnica, econômica, comercial e de
impactos ambientais e sociais (EVTECIAS) de seus inventos, bem como planos
tecnológicos e de negócios, minimizando assim eventuais dificuldades acerca do
desenvolvimento efetivo de produtos, prototipagem, scale up e lançamento, por exemplo.
O programa encontra-se inativo, e contou até 2016 com 672 projetos inscritos, a realização
de 279 EVTECIAS, o desenvolvimento de 150 planos de negócio e protótipos, 20
transferências de tecnologia, 22 empresas de base tecnológica e 67 patentes depositadas
(MINAS DIGITAL, 2017b).
Como principais resultados intangíveis ressaltam-se o maior estímulo à
transferência de tecnologia pelas universidades; maior tendência à formalização desse
processo tendo em vista os retornos financeiros para a instituição e aos pesquisadores por
meio de licenciamentos; maior preocupação com a PI; geração de empreendimentos de
base tecnológica nas incubadoras das instituições de origem; e, minimização da resistência
dos pesquisadores ao ato de empreender (GONÇALVES e SCHIAVON, 2010).
Os Encontros de Inovação promovidos pelo SIMI objetivavam reunir
presencialmente pesquisadores, representantes de empresas e demais stakeholders de um
mesmo setor para promover oportunidades de negócios, transferências tecnológicas e
discussão sobre a necessidade de novas políticas públicas em inovação. Esses encontros
eram organizados em um programa de inovação dividido em seis etapas, cujo tempo de
execução girava em torno de quatro meses: escolha da universidade e do setor; realização
do Seminário de Inovação na universidade (para difusão da importância do conhecimento
aplicável, empreendedorismo e inovação para a comunidade acadêmica); levantamento e
seleção de tecnologias a serem ofertadas no encontro, convite aos responsáveis pelo P&D
nas empresas do setor; workshop de capacitação do pesquisador para a apresentação
comercial; realização do Encontro de Inovação com pitchs dos pesquisadores; e, avaliação
e monitoramento das ações (VALERIANO et al, 2013).
O último eixo de atuação da RIT, originalmente nomeado de Inovação na
Sociedade, apresentou o maior número de iniciativas, sobretudo de 2014 em diante. Nesse
149

período, a maior parte dos esforços do estado concentrou-se na promoção da cultura


empreendedora e de inovação, por meio do programa Minas Digital, embora tenham sido
expressivamente impactados pela crise orçamentária recente.
O programa Minas Digital, lançado em 2015, objetivava, entre outros, expandir o
ambiente de inovação verificado na região de Belo Horizonte para todo o estado. Para tal,
intencionava investir, no período de dez anos, R$ 1 bilhão na formação de jovens no setor
de tecnologia e empreendedorismo, contando com o apoio de instituições como a FIEMG,
SEBRAE, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), FECOMÉRCIO
(Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais), MGTI
(compreendido por quatro entidades representativas do setor de TI – Assespro-MG,
Fumsoft, SINDINFOR e Sucesu Minas), o Centro Federal de Educação Tecnológica de
Minas Gerais - CEFET, o governo dos municípios e as instituições de ensino (MINAS
DIGITAL, 2017).
Em sua primeira etapa, a SEDECTES definiu três pilares de atuação, sendo estes:
estruturação e organização; investimento em gaps; e, criação de visibilidade. O primeiro
deles é entendido como prioritário quando identificada a falta de continuidade e
ordenamento das atividades presentes no estado, relacionadas à tecnologia, inovação e
empreendedorismo. Buscava abranger os programas já existentes e ainda desenvolver os
identificados como necessários (MINAS DIGITAL, 2017d).
Uma primeira iniciativa nesse sentido ocorreu com a idealização dos “Hubs de
Inovação”, que funcionariam como espaços coordenados pelo governo do estado para a
criação de um ambiente completo de formação em empreendedorismo de base tecnológica
em todos os polos regionais, além do posterior encaminhamento dos negócios oriundos da
iniciativa para o Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development (SEED). No
entanto, há apenas um hub em funcionamento atualmente, situado na cidade de Belo
Horizonte, que tem por finalidade estimular a cooperação entre startups e grandes
empresas. O pilar de visibilidade, por outro lado, busca fortalecer parcerias por meio de
eventos de grande alcance e envolvimento de diversas mídias (MINAS DIGITAL, 2017d).
Dentre as ações previstas pelo programa, destacam-se (MINAS DIGITAL, 2017d):
a) Programa Minas Biotec: que tem por prioridade coordenar as ações na área de
biotecnologia e sincronizar seus atores, ampliando e internacionalizando suas
inovações.
b) Cidades Digitais: projeto estruturante, em parceria com a Secretaria de Educação
do Estado, que visa desenvolver uma estrutura de rede de acesso a Internet e
150

ensino a distância, principalmente nas regiões mais remotas (possível


reorganização dos Centros Vocacionais Tecnológicos e Telecentros).
c) Complexo Aeroespacial: busca o desenvolvimento de um cluster da indústria
aeronáutica, por meio da atração de empresas de manufatura, serviços, além de
centros de desenvolvimento tecnológico do setor.
d) Feira Internacional de Negócios, Inovação e Tecnologia (FINIT): evento que
busca funcionar como vitrine das inovações do estado para agentes nacionais e
internacionais (possível ampliação da ideia dos extintos Encontros de Inovação
promovidos pelo SIMI).
e) Programa de Popularização da Ciência e da Tecnologia (Pop Ciência MG):
articulação e coordenação de atividades que divulguem e popularizem a ciência
e a tecnologia no estado e que mobilizem suas ICT em prol da comunicação
pública de seus resultados (possível retomada do programa Inove em Minas).
f) Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development (SEED): programa de
aceleração de ideias para empreendedores com mentorias e capacitação, capital
semente, ambientes de coworking e networking.
g) Tecnologia Assistiva: instalação do centro Mineiro de Tecnologia Assistiva
(CMTA) em Pará de Minas, com laboratórios de Órtese e Prótese, Seating e o
laboratório de Marchas para a criação de rede interativa que promova qualidade
de vida e bem estar para a população mineira (com foco na inovação social).
h) Rede UAITEC (Universidade Aberta e Integrada de Minas Gerais):
fornecimento gratuito de qualificação profissional em polos de educação a
distância distribuídos em todo o estado.
Por sua vez, o apoio prestado pela Fapemig aos pesquisadores e às empresas divide-
se em quatro linhas de fomento, a saber: Pesquisa, Formação de Recursos Humanos,
Inovação Tecnológica e Divulgação Científica. O Quadro 20 resume todas as modalidades
de apoio que objetivam incentivar a pesquisa atualmente, quer seja científica ou
tecnológica.
151

Quadro 20 - Modalidades de apoio à pesquisa oferecida pela FAPEMIG


Modalidade de Fomento Descrição
Projetos de Pesquisa Apoio a projetos com mérito científico e relevância, alinhados com os
Científica e Tecnológica propósitos das políticas públicas do estado.
Projetos Especiais Apoio a projetos temáticos de especial interesse do estado e da sociedade
visando à solução de problemas atuais. Tais projetos caracterizam-se por
envolver diferentes áreas de conhecimento e por apresentarem elevado
grau de originalidade/novidade e/ou atualidade/oportunidade.
Demanda Endogovernamental Apoio a projetos inseridos em programas e planos de interesse do governo,
em atendimento às políticas públicas definidas pelo CONECIT.
Programa Pesquisador Apoio a pesquisadores ou tecnólogos que estejam coordenando projetos
Mineiro - PPM alinhados aos interesses científicos, econômicos e sociais do estado.
Programa de Apoio a Grupos Apoio a projetos para fortalecer e consolidar grupos de pesquisa
Emergentes de Pesquisa - emergentes cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq (mas
PRONEM que não têm suficiente competitividade para captar recursos mais elevados)
e induzir o surgimento e consolidação desses grupos no interior do estado.
Programa de Apoio aos Apoio aos Núcleos de Excelência do estado dando suporte financeiro à
Núcleos de Excelência execução dos seus projetos.
Institutos Nacionais de Apoio a projetos com foco temático em qualquer área de conhecimento,
Ciência e Tecnologia - INCT caracterizados por desenvolvimento em longo prazo, organização
complexa e investimentos de grande vulto.
Programa Primeiros Projetos Apoio a projetos de jovens cientistas e pesquisadores, gerando o suporte a
– PPP fixação desses e nucleação de novos grupos de pesquisa.
Apoio à formação de Redes Incentivo a criação, manutenção e fortalecimento dessas redes,
de Pesquisa Científica possibilitando maior articulação entre pesquisadores e instituições,
otimização de recursos e formação de parcerias com órgãos federais.
Fonte: FAPEMIG (2017).

Atualmente, o estado possui 13 redes de pesquisa científica apoiadas pela


FAPEMIG com as seguintes temáticas: Biomoléculas, Genoma, Nanobiotecnologia,
Farmacologia e Toxicologia, Bioterismo, Biotecnologia para o Agronegócio, Propriedade
Intelectual, Oncologia, Química, Teleassistência, Doenças Infecciosas Humanas e
Animais, Toxinas com Ação Terapêutica, Microscopia e Microanálise. A maioria das redes
é composta, principalmente, pelas universidades federais, mas também conta com a
participação de instituições como a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária), CPqRR (Centro de Pesquisa Renê Rachou – Fiocruz), os institutos federais
e os centros de ensino tecnológico, mas nenhuma organização privada (FAPEMIG, 2017).
Nas modalidades relacionadas à formação de recursos humanos a clientela pode ser
composta por pesquisadores (por meio de bolsas de apoio técnico; de incentivo à pesquisa
e ao desenvolvimento tecnológico; de iniciação científica e tecnológica; de doutorado,
mestrado e pós-doutorado, doutorado-sanduíche; pesquisador visitante; e, estágio técnico-
científico) ou por programas de pós-graduação e instituições em geral (apoio ao mestrado
profissional; bolsa de desenvolvimento tecnológico e incentivo à inovação; bolsa
especialista visitante; programa de apoio à pós-graduação; cotas institucionais de bolsas de
152

iniciação científica; programa de capacitação de recursos humanos; e, programa mineiro de


capacitação docente) (FAPEMIG, 2018b).
Já na linha de divulgação científica, os recursos são destinados à organização e
participação coletiva ou individual em eventos, em atividades junto a instituições de
cooperação internacional, financiamento de publicações e a comunicação científica e
tecnológica em diversos meios (FAPEMIG, 2018d).
A última linha de fomento divide-se em dois grandes programas: Pró-Inovação e
Apoio a empresas em parques tecnológicos (PROPTEC) (Quadro 21).

Quadro 21 - Programas de apoio à inovação tecnológica coordenados pela FAPEMIG


Modalidade Descrição
Pró-Inovação Em parceria com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG),
apoia projetos de desenvolvimento com foco em inovação de produtos,
processos e serviços de empresas instaladas em Minas Gerais. Contempla
investimentos fixos, intangíveis e de capital de giro que resultem em aumento
de qualidade e produtividade, pioneirismo ou aumento de competitividade.
Apoio à empresas em Em parceria com o BDMG, apoia propostas de implantação, ampliação e
parques tecnológicos modernização das empresas localizadas nos parques, compreendendo o
(PROPTEC) financiamento de ativos fixos, capital e giro e investimentos intangíveis.
Fonte: FAPEMIG (2018a).

Os dados referentes aos valores executados pela Fundação entre 2005 e 2016
(FAPEMIG, 2017) (Figura 32), demonstram que a proporção do montante investido em
pesquisas induzidas e universais decaiu expressivamente (embora o total contratado apenas
pelos editais de Demanda Universal tenha se mantido estável no mesmo período, com
crescimento médio anual de 5,2%). No período, a proporção relacionada aos projetos
especiais, endogovernamentais e estruturadores, administrados pela SEDECTES, cresceu
em importância nos últimos anos (FAPEMIG, 2017). Isso sugere que mais recursos vêm
sendo destinados a demandas específicas, e provavelmente mais estratégicas do estado.
Adicionalmente, é importante observar que o arranjo atual, não por acaso, destina à
SEDECTES a maior parte dos projetos para fomento ao empreendedorismo, enquanto à
FAPEMIG aqueles voltados à pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologias e
integração entre instituições de ensino e pesquisa e empresas. No entanto, a priorização do
orçamento apontada acima reafirma a menor ênfase hoje dada aos segundos.
153

Figura 32- Percentual de execução de recursos financeiros pela FAPEMIG entre 2006 e 2016

Fonte: FAPEMIG (2017).

Atualmente, a FAPEMIG conta, além da sua estrutura administrativa, com dez


câmaras de assessoramento (responsáveis pela análise, julgamento e recomendação dos
pleitos). A partir de 2013, a então Câmara das Ciências Sociais, Humanas, Letras e Artes
(SHA) foi dividida em duas, a saber: Ciências Humanas, Sociais e Educação (CHE) e
Ciências Sociais Aplicadas (CSA).
Apenas para fins comparativos, a Figura 33 apresenta a variação da proporção
investida em projetos submetidos a cada Câmara, agrupando a participação do CHE e do
CSA. Observa-se que a participação da Câmara de Agricultura caiu sutilmente (-1,44%),
enquanto a CHE e CSA, guardando os devidos cuidados referentes ao agrupamento,
cresceram em participação após a divisão. Dentro do período de análise, a única que
alterou significativamente a participação foi a de Saúde, indo de 11,1% (2005) para 17,3%
(2015) (maior do conjunto).
O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) também é um ator de
fomento importante do estado, sobretudo no apoio à iniciativa privada. O seu portfólio
atual, especificamente voltado à inovação, conta com os programas Pró-Inovação e
PROPTEC, em parceria com a FAPEMIG, já mencionados; o Inovacred e Inovacred
Expresso, em parceria com a FINEP; e, o MPME Inovadora, junto ao BNDES (BDMG,
2018). E, além desses programas de fomento, também investe nos fundos de Venture
Capital, Growth Capital e Private Equity HorizonTI, AvanTI, NascenTI e Aerotec
154

(controlados pela gestora de fundos de investimento Confrapar); Brasil TI (gerido pela


Ória - Capital em associação com a DLM Private Equity); Criatec II (tendo como gestor
nacional a Bozano Investimentos e assessor operacional a Triaxis Capital), direcionado
principalmente para empresas de TIC, Agronegócios, Biotecnologia, Nanotecnologia e
Novos Materiais; Brasil Sustentabilidade (gerido pela Latour Capital); Criatec III (tendo
como controlador o fundo de capital semente Inseed); e, Brasil Central (gerido pela Cedro
Capital) (BDMG, 2016). Adicionalmente aos mencionados, também se destaca no estado o
Fundotec II (gerido pela FIR Capital) que conta com investidores como Banco do Brasil,
FINEP, PETROS, entre outros de natureza privada (FIR CAPITAL, 2017).

Figura 33 – Variação da proporção investida pela FAPEMIG por Câmara, entre 2005 e 2015

Câmaras de Assessoramento - FAPEMIG


Agricultura (CAG)
Ciências Biológicas e Biotecnologia (CBB)
Ciências da Saúde (CDS)
Ciências Exatas e dos Materiais (CEX)
Recursos Naturais, Ciências e Tecnologias
Ambientais (CRA)
Medicina Veterinária e Zootecnia (CVZ)
Arquitetura e Engenharias (TEC)
Ciências Sociais, Humanas, Letras e Artes
(SHA) - até 2012 / Ciências Humanas, Sociais
e Educação (CHE) e
Ciências Sociais Aplicadas (CSA) - desde
2013
Programa de Capacitação de Recursos
Humanos (PCRH)
Fonte: a autora a partir de dados de FAPEMIG (2006; 2007; 2008; 2009; 2010; 2011; 2012; 2013; 2014;
2015; 2016).

Além da SEDECTES, alguns atores públicos e/ou vinculados à esfera estatal que
atuam de forma complementar devem ser mencionados como o Instituto de
Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (INDI), direcionado a assistir potenciais e
atuais empreendimentos do setor produtivo no estado; a Companhia de Desenvolvimento
Econômico de Minas Gerais (CODEMIG), que conta atualmente com três eixos
estratégicos de atuação (Mineração, Energia e Infraestrutura; Indústria Criativa; e Indústria
de Alta Tecnologia); o sistema da FIEMG que coordena, entre outros serviços direcionados
às empresas, a Rede de Tecnologia de Minas Gerais – RETEC; a Fundação Hospitalar do
Estado de Minas Gerais (FHEMIG), direcionada a prestação de serviços e assistência
hospitalar de importância estratégica; o SEBRAE MINAS; e a já mencionada Rede
Mineira de Inovação. O papel de todos esses agentes no ecossistema de inovação mineiro,
e o reflexo dele no da Zona da Mata, serão tratados na Seção 4.
155

3.2. O SUBSISTEMA DE GERAÇÃO E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO:


PORTFÓLIOS CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DAS UNIVERSIDADES
FEDERAIS

Há em Minas Gerais 342 IES, representando 11,2% das universidades do país,


sendo 17,5% dentre as públicas federais. Além disso, possui cerca de 10% dos programas
de pós-graduação, 10,5% dos programas nas áreas de Engenharias e Ciências Exatas e da
Terra e 13% dos programas de excelência internacional (MEC, 201877).
Mas, embora abrigue esse importante conjunto de IES, além de possuir cerca de
10% de toda produção científica e depósito de patentes do país, apresenta o oitavo menor
investimento em P&D, em relação ao seu PIB, nas suas universidades estaduais (MINAS
GERAIS, 2016), situação essa que começa a ser contornada pela Lei Estadual nº 22.929
(2018), anteriormente mencionada.
Já quanto as suas instituições direcionadas à pesquisa aplicada, apontam-se as
seguintes entidades: Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG),
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Milho e Sorgo (EMBRAPA Milho e
Sorgo), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Gado de Leite (EMBRAPA Gado
de Leite), Centro de Pesquisa René Rachou – Fiocruz Minas (CPQRR), Instituto Nacional
de Telecomunicações (INATEL), Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais
(CETEC), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Fundação Ezequiel
Dias (FUNED), Fundação para Inovações Tecnológicas (FITEC), Centro de
Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), Centro de Pesquisa em Energia
Inteligente (CPEI); e, Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado de Minas
Gerais (Hemominas); tendo as quatro primeiras expressiva representatividade no cenário
nacional (PEREIRA et al, 2015). Também se encontram no estado alguns centros de
pesquisa privados como: o CSEM Brasil, o Google BH e o Centro de Engenharia e
Tecnologia de Minas Gerais – CETE, todos em Belo Horizonte.
Quanto à produção científica de suas universidades públicas federais extraídas da
base Web of Science (Thomson Reuters), foram analisadas 63.117 publicações do período
de 2000 a 2015, cuja distribuição se encontra na Figura 34.

77
Consulta avançada por todos os tipos de Instituição de Ensino Superior ativas no site:
http://emec.mec.gov.br/
156

Figura 34 - Mapa da distribuição das publicações científicas de universidades públicas federais de Minas
Gerais, 2000 a 2015

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados extraídos da THOMSON REUTERS a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k


(2018).

Cabe destacar que quase todas as instituições possuem campi distribuídos em outras
regiões que não se encontram sinalizados no mapa, como o campus de Montes Claros
(Norte de Minas) da UFMG; os campi Rio Paranaíba, próximo a Patos de Minas
(Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba) e Florestal (Metropolitana de Belo Horizonte) da
UFV; os campi de Ituiutaba, Monte Carmelo e Patos de Minas (Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba) da UFU; o campus de Governador Valadares (Vale do Rio Doce) da UFJF; os
campi Mariana e João Monlevade (metropolitana de Belo Horizonte) da UFOP; os campi
Alto Paraopeba (metropolitana de Belo Horizonte), Centro Oeste “Dona Lindu”, em
Divinópolis (Oeste de Minas) e Sete Lagoas (Metropolitana de Belo Horizonte), da UFSJ;
o campus de Iturama da UFTM (Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba); os campi Poços de
Caldas e Varginha (Sul e Sudoeste de Minas) da UNIFAL; o campus Itabira da UNIFEI
(metropolitana de Belo Horizonte); e, os campi Janaúba (Norte de Minas), Unaí (Noroeste
de Minas) e Teófilo Otoni (Vale do Mucuri) da UFVJM78. Não foi possível estratificar a
análise por campus, mas tendo em vista que poucas unidades são localizadas nas regiões
menos desenvolvidas do estado, a conclusão acerca do baixo volume de publicações
oriundas destes territórios pode ser mantida.
Com o software Vantage Point foi possível identificar o perfil da produção
científica mineira. As dez áreas com mais publicações foram: Agricultura (14,72%),
Química (8,36%), Física (8,09%), Engenharia (7,32%), Ciências Veterinárias (6,81%),

78
Informações extraídas nos sites das respectivas instituições em março de 2017.
157

Ciências da Planta (4,16%), Bioquímica e Biologia Molecular (3,90%), Ciência dos


Materiais (3,85%), Ciência da Computação (3,65%) e Farmacologia/ Farmácia (3,36%).
Quanto à área de Agricultura, apenas duas das onze universidades analisadas, a
UFV e a UFLA, foram responsáveis por 77% das publicações no período pesquisado
(Figura 35). Na UFV, as duas subáreas mais expressivas e relacionadas a pelo menos 40%
da sua produção científica correspondem ao emprego da agricultura na melhoria do
desempenho nutricional de animais para corte e produção de laticínios. Outra observação
relevante é a alta concentração de coautorias internas, ou seja, os pesquisadores da área na
UFV publicam mais entre si do que com pesquisadores de outras instituições.

Figura 35 - Distribuição das publicações de MG na área de Agricultura, por universidade federal


(2000 a 2015)

Fonte: THOMSON REUTERS a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k (2018) (elaborado pela autora).

Já quanto às parcerias, a mais relevante é a estabelecida entre a EMBRAPA e a


UFV. Também se destacam as parcerias firmadas entre a UFV e a UFMG, porém,
constatam-se poucas pesquisas conjuntas entre as três instituições, configurando relações
majoritariamente bilaterais. As parcerias internacionais não são expressivas, o que pode, a
princípio, sugerir o distanciamento das trajetórias científicas de países desenvolvidos na
área e, por outro lado, a maior concentração no atendimento às necessidades de caráter
regional e nacional.
Embora seja significativa parceira da UFV, a UFLA dedica-se mais
expressivamente às áreas de Agricultura Multidisciplinar e Agronomia. A EMBRAPA
também figura como principal parceira da instituição, sobretudo nas duas subáreas de
atuação principais, justificando alguma relação entre ambas e a UFV, mas bilateralmente
também nas subáreas de Ciência dos Solos e Horticultura. Em ambas universidades
158

também se verifica um razoável volume de publicações conjuntas com universidades


paulistanas, nordestinas e centro-oestinas.
A área de Química, segunda mais representativa no estado, possui 43% de suas
publicações oriundas da UFMG (Figura 36). Outros 31% são divididos entre a UFV, UFU
e UFJF, porém em subáreas de atuação relativamente associadas, polarizadas pela UFMG.
Dentre as categorias da Web of Science mais mencionadas, destacam-se com importante
expressividade as áreas de Físico-Química e Química Multidisciplinar.

Figura 36 - Distribuição das publicações de MG na área de Química – por universidade federal


(2000 a 2015)

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados extraídos da THOMSON REUTERS a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k


(2018).

A UFMG conta com uma diversidade de parceiros de pesquisa na área, com


destaque para a Universidade de São Paulo (USP), nas subáreas de Físico-Química e
Química Multidisciplinar; UFJF, nas subáreas anteriores, além de Química Inorgânica
Nuclear e Físico-Química Atômica e Molecular (tradução nossa); e, UFOP em Química
Multidisciplinar, Físico-Química e Ciência dos Materiais Multidisciplinar.
Cabe destacar que, dentre os 15 parceiros da UFMG que figuram em mais de 40
ocorrências ao longo do período analisado, 7 tratam-se de universidades também mineiras.
Além disso, parcerias com o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear,
Comissão Nacional de Energia Nuclear, Centro Nacional de Pesquisa Científica
(instituição francesa) e a Fundação Oswaldo Cruz sugerem tentativas de aplicação do
conhecimento desenvolvido.
Já a UFV, embora tendo experimentado um crescimento mais acentuado na área,
possui publicação significativamente inferior a da UFMG em valores absolutos, porém
mais distribuída nas subáreas. Diferente do constatado na instituição anterior, a UFV
estabelece poucas parcerias com outras instituições, sendo as mais relevantes com a
UFMG e a USP, na subárea de Química Multidisciplinar.
159

A UFJF e UFU, dadas as distâncias geográficas das duas instituições anteriores,


também foram contempladas na análise, de modo a, possivelmente, sinalizarem pesquisas
mais direcionadas às demandas locais ou externas ao estado. Ambas foram as que, dentre
as quatro destacadas, mais cresceram na área. A UFU, com crescimento médio anual de
8,0% e a UFJF, de 8,9%.
A UFU apresenta como principais parceiros a UFMG e a USP, nas subáreas de
Físico-Química, Química Multidisciplinar, Química Inorgânica Nuclear e Físico-Química
Atômica e Molecular (tradução nossa), assim como as identificadas nas parcerias da
UFMG com a UFJF. Com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), sobressaem-
se as pesquisas na subárea de Química Inorgânica Nuclear.
Já a UFJF apresenta 109 publicações na subárea de Físico-Química Atômica e
Molecular e 63 na área de Química Inorgânica Nuclear, confirmando sua integração com a
UFMG, UFU e USP. Também se articula, nas mesmas subáreas com a Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Destacam-se em todas as quatro instituições expressivas parcerias bilaterais com
instituições estrangeiras, sem outras instituições presentes nas redes nacionais apontadas.
Na área de Física, terceira em representatividade no estado, três instituições são
responsáveis por quase 70% das publicações do período, a saber: UFMG, UFJF e UFSJ
(Figura 37). Na UFMG, destacam-se coautorias com o Massachusetts Institute of
Technology (MIT), USP, UFV e UFJF. Como principal parceiro da UFMG apresenta-se o
MIT, em coautoria com 8,75% das publicações na área de Física da Matéria Condensada.
Já em Físico-Química Atômica e Molecular, a USP é coautora de 6,86% dos artigos. A
parceria com a UFV corresponde especialmente às publicações da subárea de Física da
Matéria Condensada, mas com apenas 3,37% dos artigos, enquanto com a UFJF diz
respeito, principalmente, a 9,56% dos da subárea de Físico-Química Atômica e Molecular
(parceria mais concentrada que a verificada no caso da USP).
Destaca-se, ainda, a representatividade das coautorias com instituições estrangeiras
por meio de relações diretas, diferente das que ocorrem nas demais instituições. Na UFJF,
56,4% das publicações concentram-se nas subáreas de Física de Partículas e Campos,
Astrofísica/Astronomia e Física Nuclear, que são áreas afins. Dentre seus principais
parceiros se encontram a UFRJ e USP. Já a UFSJ, a partir de 2012, apresentou expressivo
aumento nesta área, especialmente em Física Aplicada, com destaque para publicações
conjuntas com pesquisadores da UFSCAR e da Universidade de Brasília (UnB).
160

Figura 37 - Distribuição das publicações de MG na área de Física – por universidade federal


(2000 a 2015)

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados extraídos da THOMSON REUTERS a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k


(2018).

Em Engenharia, as que se destacaram foram UFMG, UFU e UFJF, com perfis


relativamente distintos de atuação (Figura 38). A UFMG, responsável pelo maior volume
de publicações, destaca-se em Engenharia Elétrica e Eletrônica, onde parte expressiva de
publicações sem parcerias com outras universidades, seguidas das parcerias com o CEFET-
MG e Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).
Nos três últimos anos também se observa o crescimento do conjunto das subáreas
de Telecomunicações e Ciência da Computação, esta última em forte parceria com a
UFOP. Também se identifica o aumento de publicações conjuntas com a UFSJ na subárea
de Sistemas de Controle e Automação, especialmente em 2015. Já na subárea de
Engenharia Ambiental, relativamente estável desde 2009, as principais parcerias se dão
com a UFOP e UFLA, embora pouco numerosas quando comparadas a todo conjunto. Já as
parcerias com a USP ocorreram em subáreas diversas; com a Universidade Estadual
Paulista (UNESP) se concentraram na de Engenharia Elétrica e Eletrônica. Ademais, as
diversificadas parcerias com instituições estrangeiras demonstram o alinhamento da
universidade com as trajetórias científicas e tecnológicas de nível mundial.
A UFU, além de se destacar nas subáreas de Engenharia Elétrica/Eletrônica e
Engenharia Química, apresenta publicações proporcionalmente equivalentes na área de
Engenharia Mecânica, porém em maioria exclusivamente internas ou com instituições
localizadas fora do estado, na ordem: London South Bank University, Universidade Federal
de Santa Catarina, Universidade de São Paulo, Centre National de la Recherche
Scientifique (CNRS), entre outras. As parcerias firmadas com a USP e UFMG concentram-
se na área de Engenharia Elétrica e Eletrônica. É válido destacar que a UFMG, embora
também especialista nessa subárea, não se destaca como parceira da instituição.
161

Figura 38 - Distribuição das publicações de MG na área de Engenharia – por universidade federal


(2000 a 2015)

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados extraídos da THOMSON REUTERS a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k


(2018).

A área de Engenharia na UFJF foi, dentre as instituições destacadas, a de maior


crescimento, sobretudo a partir de 2010 (média anual de 13,08%). Sua especialidade
concentra-se também na área de Engenharia Elétrica e Eletrônica. Porém, como já
enfatizado, embora as três instituições dediquem-se mais a mesma subárea, pouco
estabelecem parcerias entre si. No caso da UFJF, boa parte ocorre com universidades
fluminenses como UFRJ, Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC RJ).
Comportamento similar ao da área de Agricultura é observado na de Ciências
Veterinárias, onde a UFMG e UFV detêm 80% das publicações no período analisado
(Figura 39). Na UFMG, boa parte das publicações aloca-se na subárea genérica de
Ciências Veterinárias, mais especificamente, em Ciência da Agricultura para Dieta Animal
(tradução nossa), em parcerias com a UFV e EMBRAPA. Em menor proporção também se
observa publicações conjuntas na área de Parasitologia com a Fiocruz e a UFOP.

Figura 39 - Distribuição das publicações de MG na área de Ciências Veterinárias – por


universidade federal (2000 a 2015)
162

Elaboração própria, a partir dos dados extraídos da THOMSON REUTERS a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k


(2018).
A mesma área na UFV, como esperado em função do que foi visto anteriormente,
também concentra as subáreas de Ciências Veterinárias e Ciência da Agricultura para Dieta
Animal (tradução nossa). No entanto, diferente do verificado com a UFMG e a
EMBRAPA, vem apresentando queda expressiva no desempenho quantitativo das
publicações. Ainda nas mesmas subáreas, a instituição também publica esporadicamente
com a UNESP (ápices em 2001 e 2011) e Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
(UFMS), sendo esta última parceira mais constante. Também nesses casos, apresentam
poucas relações com universidades estrangeiras.
As outras dez áreas do ranking de publicações com maior expressividade nas
universidades analisadas são apresentadas na Figura 40.
Dentre as universidades privadas e estaduais, duas se destacam pelo volume de
publicações, a PUC MINAS e a UNIMONTES, responsáveis por mais de 76% das
publicações desse conjunto. A primeira instituição conta com campi nas cidades de Arcos
(Oeste); Belo Horizonte, Betim, Contagem e Serro (Metropolitana); Guanhães (Vale do
Rio Doce); e, Poços de Caldas (Sul e Sudoeste de Minas). Embora suas publicações
ocorram em áreas diferentes, observa-se que a maioria se concentra nas de alto conteúdo
tecnológico.
Já a UNIMONTES, possui campi que oferecem cursos em áreas tecnológicas nas
cidades de Bocaiuva, Janaúba e Montes Claros (Norte de Minas); e Joaíma
(Jequitinhonha); e concentra mais publicações nas áreas de Agricultura e Saúde. Esta
universidade ganha destaque por situar-se em uma região pouco desenvolvida
economicamente, o que em parte justifica suas pesquisas mais direcionadas a demandas
sociais.
Com vistas a traçar o perfil tecnológico das IES mineiras, foram levantados 1.047
depósitos (cerca de 6% dos depósitos do estado no mesmo período), entre 2000 e 2014,
que envolviam ao menos uma IES federal como titular. É importante ressaltar que as sutis
diferenças quantitativas nas análises relacionadas à titularidade e à área se devem ao fato
de que alguns depósitos se encontram com informações incompletas, possibilitando sua
consideração em apenas alguns casos.
163

Figura 40 - Distribuição das publicações por área e universidades mineiras (2000 a 2015)
Percentual de cada instituição

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados extraídos da THOMSON REUTERS a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k


(2018).

Assim como ocorreu em todo país, o total de depósitos provenientes dessas IES
cresceu a uma taxa expressiva, principalmente entre 2009 e 2012, e, após esse período,
vem declinando de forma ainda mais acentuada (Figura 41). Entre 2000 e 2014, o
crescimento médio anual de depósitos foi de 17,6%. O decréscimo dos depósitos destas
instituições nos dois últimos anos analisados pode ser justificado, ao menos em parte, pelo
desestímulo dos pesquisadores e dos NIT diante das mudanças estratégicas verificadas nas
políticas de inovação do estado, que serão discutidas na Seção 4.

Figura 41 - Evolução dos depósitos de patentes das universidades federais de MG – 2000 a 2014
Quantidade de depósitos

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).
164

Com base na Classificação Internacional de Patentes (CIP), a maior parte dos


depósitos da análise (71%) corresponde às seções de Necessidades Humanas e
Química/Metalurgia (Figura 42). Informações detalhadas acerca das principais seções são
detalhadas no Quadro 22.

Figura 42 - Classificação dos depósitos de patentes das universidades federais mineiras por seção
do IPC (2000 a 2014)

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).

De todos os depósitos considerados, apenas 68 possuem empresas como cotitulares,


sendo 75% deles com empresas mineiras, 23,5% com empresas brasileiras de fora do
estado, e apenas um caso (1,5%) com uma empresa estrangeira. Embora as classes desses
depósitos sejam diversificadas, é válido destacar que a classe de Medição/Teste, com
16,4% dos 68 depósitos, enquadrada na seção de Física, demonstrando que embora a seção
possua média representatividade no total de depósitos, apresenta expressivo potencial de
transferência para a indústria (21,3% dos 68 depósitos analisados quando consideradas
todas as classes). Destacando, a seção de Química/Metalurgia, que compreende 39,3% dos
depósitos, seguida da seção de Necessidades Humanas, com 26,2%.
165

Quadro 22 – Distribuição das patentes depositadas pelas universidades federais mineiras por seção, classe e subclasse do CIP (2000 a 2014)
Seção Crescimento Médio Principais classes (representatividade) Principais subclasses (representatividade)
Anual de depósitos
Necessidades 27,02% Ciência Médica ou Veterinária, Higiene (69,4%) Preparações para Finalidades Médicas, Odontológicas ou Higiênicas
Humanas – A61K (72,3%)
Silvicultura, Pecuária, Caça, Captura em armadilhas, Conservação de corpos de seres humanos ou animais, Biocidas,
Pesca (16,3%) Repelentes ou Atrativos de pestes, Reguladores do crescimento de
plantas –A01N (49,2%)
Aprisionamento, Captura ou Afugentamento de Animais, Aparelhos
para destruição de animais nocivos ou plantas nocivas – A01M
(17,5%)
Pecuária, Tratamento de aves, peixes, insetos, Piscicultura, Criação
ou reprodução de animais, não incluídos em outro local, novas
criações de animais – A01K (12,7%)
Química/ 15,29% Química Orgânica (33,13%) Dada a diversificação das classes, o detalhamento das subclasses não
Metalurgia Bioquímica, Cerveja, Álcool, Vinho, Vinagre, foi compreendido nesta seção
Microbiologia, Enzimologia, Engenharia Genética ou
Mutação (17,5%)
Compostos Macromoleculares Orgânicos, sua
preparação ou processamento químico, composições
baseadas nos mesmos (12,5%)
Tratamento de águas, de águas residuais, de esgotos,
lamas ou lodos (8,12%)
Química Inorgânica (6,25%)
Cimento, Concreto, Pedra Artificial, Cerâmica e
Refratários (5,31%)
Física 24,07% Medição/Teste (67,5%) Investigação ou análise dos materiais pela determinação de suas
propriedades químicas ou físicas (62,34%)
Medição de variáveis elétricas e magnéticas (12,99%)
Cômputo, Cálculo e Contagem (15,8%) Processamento elétrico de dados digitais (38,9%)
Identificação, apresentação, suporte e manipulação de transportes de
dados (33,3%)
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).
166

A FAPEMIG destaca-se como cotitular de significativa parte dos depósitos


(24,5%), resultado esperado, uma vez que incorpora essa contrapartida em sua política de
fomento. A taxa anual de crescimento da sua participação foi significativamente superior
que o total do estado, sendo essa de 38,1%, sobretudo a partir de 2006 (quando a maioria
das políticas direcionadas à inovação já haviam sido implantadas). A distribuição da
participação por seção acompanha a do total de depósitos, porém com sutil predominância
da seção de Química e Metalurgia, e taxa de crescimento expressivamente maior, 82,1%,
pois a segunda seção melhor posicionada (Necessidades Humanas) é de 16,1%. Isso em
partes pode ser justificado pelo perfil das IES que mais contam com o apoio da FAP,
principalmente porque mais produzem tecnologicamente, como verificado no parágrafo a
seguir e detalhado na Figura 43.
Quando analisada a distribuição da participação da FAP por IES observam-se
diferenças importantes (Figura 43). Enquanto instituições como UFV, UFMG, UFJF e
UFOP são mais independentes da Fundação, outras contam com a sua forte atuação. O
caso mais destacado é da UFLA, que possui quase a totalidade de seus depósitos em
parceria com a FAPEMIG. No entanto, tais informações devem ser analisadas com cautela
visto que, embora seja imperativa a cotitularidade para os casos de tecnologias oriundas de
projetos de pesquisa fomentados pela instituição, não há, além dos próprios editais,
documento formal e mecanismo de controle que garantam o atendimento dessa exigência.

Figura 43 – Comparação do percentual de depósitos de patentes com cotitularidade e sem


cotitularidade da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais entre 2000 e 2014,
dividido por universidades públicas federais mineiras
Percentual de depósitos

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).

A Figura 44 detalha as características dos depósitos de cada instituição ao longo do


período estudado. Conforme mencionado, 16 depósitos encontravam-se incompletos na
base do INPI, e, por esse motivo, não puderam ser considerados neste gráfico.
167

Figura 44 – Depósitos de patente por seção da classificação internacional de patentes dividido por
instituições de ensino superior públicas federais mineiras, 2000 a 2014
Instituição

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).

A UFMG, em 2016, destacou-se como a maior depositante residente de patentes de


invenção do país (INPI, 2017). Ao longo do período aqui analisado, foram realizados 631
depósitos sob a sua titularidade. A Figura 45 demonstra a evolução do número de depósitos
de cada uma das IES mineiras. A escala logarítmica fez-se necessária para tornar o gráfico
mais claro, uma vez que o número de depósitos dessa instituição é significativamente
maior que o das demais. Apesar disso, também foi possível verificar que outras instituições
apresentaram uma taxa de crescimento anual nos depósitos superior a da UFMG, sendo
estas: UFV, UFJF, UFLA, UNIFEI, UFOP e UFSJ.

Figura 45 – Percentual de crescimento anual dos depósitos de patentes por instituição de ensino
superior pública federal, 2000 a 2014
Crescimento médio anual

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).
168

A UFMG, além de se destacar pelo volume de depósitos, também chama atenção


pelo fato de que mais da metade dos mesmos (64,25%) ocorreram sem qualquer tipo de
parceria (sem cotitularidade). Diferente de como ocorre nas suas coautorias científicas com
outras IES mineiras, nesse caso apenas três figuram com algum destaque como parceiras
tecnológicas, sendo estas a UFOP (10), a UFU (6) e a UFV (6).
As parcerias da UFMG com as demais IES mineiras correspondeu a 59,3% de todas
realizadas no período, mas representam menos que 5% dos depósitos da instituição. Da
mesma forma, as parcerias com organizações (mineiras, de fora do estado e do país)
representam apenas 6,8% dos depósitos, e que não se concentram em uma seção ou classe
específica. Dentre os realizados com empresas de fora do estado, destacam-se contínuos
depósitos com a Petrobrás (RJ), em diversas classes. Já as com empresas mineiras são em
grande maioria com microempresas.
O universo de análise da UFV compreendeu 100 depósitos de patentes identificados
entre 2000 e 2014. Essa universidade também se caracteriza pela maior parte de depósitos
sem cotitularidades (61,8%), mas com mais parcerias com outras IES do estado do que a
UFMG, a saber: UFOP (7), UFMG (6), UFJF, UFLA e UFU (1 cada). A instituição contou
nesse período com apenas quatro parcerias com empresas mineiras, sendo todas
microempresas, três delas em 2011.
Já para a UFOP foram analisadas 86 patentes, com boa parte sem cotitularidade
(41,2%). Suas principais instituições parceiras são, como esperado com base nos resultados
anteriores, a UFMG (10), a UFV (7) e a USP (4) em classes e anos distintos. Sua única
parceria com uma organização é antiga, datando de 2003, sendo esta uma multinacional de
grande porte.
A UFLA tem como principais instituições parceiras a EPAMIG (2) e UFV (1), mas
com depósitos pontuais. Sua única cotitularidade com empresa foi em 2010, com uma
microempresa. A UFJF realizou 75 depósitos entre 2000 e 2014, sendo 73,5% deles sem
cotitularidade com outras instituições. Destaca-se timidamente como parceira mais recente
a UFSJ, mas apenas com três depósitos. Apesar de verificadas parcerias pontuais com
outras instituições mineiras como UFMG, UFOP e UFV (1 cada), também se observa o
desenvolvimento de tecnologias junto a instituições de fora do estado, a exemplo da UFRJ,
UFCE e UFSC (1 cada). Três das quatro parcerias realizadas com empresas também se
deram com organizações de fora do estado, duas de São Paulo (2014) de pequeno e médio
porte e uma do Rio Grande do Sul (2008), de médio porte. Dos 65 depósitos realizados
pela UFU, 16 deles foram com organizações do estado, sendo apenas uma de grande porte.
169

A UNIFEI, por sua vez, trata-se da única instituição a não ter nenhuma parceria
tecnológica dentro do período analisado com a FAPEMIG, tendo grande parte dos seus
depósitos sem nenhum tipo de parceria documentada (19 de 26). Três de seus depósitos
dividem a titularidade com inventores, sendo um de fora do estado (São Paulo), mas ex-
aluno da universidade, em 2009; e, os outros dois com um docente a ela vinculado, ambos
em 2006. Por fim a análise dos depósitos da UFSJ (12), UNIFAL (11), UFVJM (6) e
UFTM (1), dada sua dispersão e descontinuidade, se mostrou inconclusiva.
Embora a pesquisa dedique-se a explorar os conceitos de gestão e governança do
conhecimento nas instituições, considerou-se importante traçar um breve panorama sobre
as principais cadeias produtivas do estado, ou seja, do seu subsistema de aplicação e
exploração deste conhecimento. Isto porque a pré-existência de demandantes para o que é
produzido, científica e tecnologicamente, é entendida como condicionante para que os
fluxos sejam facilitados. A análise é apresentada na seção que se segue.

3.3. O SUBSISTEMA DE APLICAÇÃO E EXPLORAÇÃO DO CONHECIMENTO: AS


ORGANIZAÇÕES

A variação em volume do valor adicionado bruto das atividades produtivas de


Minas Gerais refletiu em um decréscimo de 4,0% em 2015 em relação a 2014 (Figura 46).
Considerando as alterações em volume de produção isoladamente, o setor agropecuário
recuou em -0,1%, a indústria em -1,8% e o setor de serviços em -2,1% (FJP, 2018a).

Figura 46 - Variação em volume do valor adicionado bruto das atividades produtivas de MG


(2015)
Variação percentual

Fonte: adaptado de FJP (2018a).


170

De acordo com a FJP (2015), as dificuldades estruturais da indústria mineira em


sustentar o crescimento econômico regional se devem, inicialmente, à interrupção do
processo de diversificação das suas cadeias produtivas locais na década de 90. Ademais, a
estratégia defensiva de sobrevivência das empresas na época foi pautada na racionalização
de custos e especialização regressiva, quando as vantagens comparativas tradicionais e uso
da base de recursos naturais se intensificaram. Um grande desafio do estado se encontra no
inovar por parte das suas empresas, lançando mão da solidez institucional de suas ICT.
A economia mineira é tradicionalmente caracterizada por acentuada especialização
produtiva e clusters industriais expressivos. Dentre esses, destacam-se os seguintes
complexos: minero metalúrgico, extrativo, automobilístico, agroindustrial e de fabricação
de alimentos. De acordo com Sousa Junior (2014), a principal aglomeração industrial do
estado corresponde ao primeiro complexo, concentrado nas proximidades da RMBH. O
estado responde por 46% de toda a extração de minério de ferro do país e 28% da produção
nacional de aço.
Sousa Junior (2014) defende que a constituição do setor no estado pode vir a ser a
mais bem sucedida experiência de um sistema setorial de inovação no país. Santos e Diniz
(2010) trazem à luz argumentos que endossam tal posicionamento dividindo-os
didaticamente em duas vertentes: a expressiva presença de instituições que suportam o
desenvolvimento técnico e científico nos campos de mineralogia, geologia e metalurgia,
como a tradicional Escola de Minas de Ouro Preto, da Escola de Engenharia da UFMG e
da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC); e, o elevado grau de
maturidade da sua indústria.
Esse sistema setorial de inovação sustentou-se ao longo de muitos anos pela força
das parcerias estabelecidas entre as instituições de ensino e pesquisa e a iniciativa privada,
mantidas após a privatização de empresas como a Açominas (Gerdau), Usiminas e
COSIPA (Usiminas), Acesita e Belgo Mineira (Arcelor Mittal), Mannesmann (Vallourece),
e traduzidas por uma consistente rede de relacionamentos e pela formação de mão de obra
qualificada.
O cluster automobilístico, outra aglomeração relevante, desenvolveu-se no mesmo
território após a instalação da fábrica da FIAT, em 1976, sendo esta a maior instalação da
empresa no mundo (FIAT, 2018). Já a agroindústria é mais desconcentrada espacialmente,
distribuindo-se pelo Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas (grãos), Sul de Minas e Alto
Paranaíba (café) e Zona da Mata, Alto Paranaíba, Noroeste e Sul de Minas (pecuária
leiteira). De acordo com Gilio et al (2016), Minas Gerais, em 2015, contribuiu com 13,6%
171

do PIB do agronegócio brasileiro que, por sua vez, correspondeu a cerca de um quinto do
PIB nacional no mesmo ano. Entre 2004 e 2015, o PIB do mesmo setor no estado
aumentou 75%, enquanto o crescimento do brasileiro foi na ordem de 24%. Porém, em
valores absolutos, ainda concentra-se fortemente no segmento primário.
Além das aglomerações de abrangência estadual e nacional supracitadas, também
se verifica a existência de aglomerações locais de importante inserção nos mercados
nacional e internacional, como na área de tecnologia da informação e eletroeletrônicos
(RMBH), moveleira em Ubá, calçados em Nova Serrana, eletroeletrônicos e
telecomunicações em Santa Rita do Sapucaí e, mais recentemente, na área de biotecnologia
também na RMBH e no Triângulo Sul.
Bastos e Almeida (2008) mapearam as aglomerações industriais existentes nas
microrregiões do estado no ano 2000 adotando para tal a metodologia do Quociente
Locacional (que mede a especialização produtiva de cada região) e o Gini Locacional
Modificado (que mede a concentração geográfica de cada setor industrial). Os autores
empregaram duas bases de dados na análise: o Censo Demográfico (emprego formal e
informal) e a Relação Anual de Informações Sociais - RAIS (emprego formal).
Os resultados desta pesquisa foram agrupados no presente estudo e sintetizados na
Figura 47 com base nos 17 territórios mineiros anteriormente apresentados, e apenas para
os clusters identificados em ambas as bases de dados. Essa figura demonstra que as regiões
reconhecidas como mais evoluídas economicamente tendem a concentrar a maior parte das
aglomerações e, principalmente, aquelas caracterizadas por maior conteúdo tecnológico.
Também segundo os dados da PINTEC 2014 (IBGE, 2016), que compreenderam o
triênio 2012– 2014, as organizações mineiras respondiam a época por 11,8% do total de
empresas pesquisadas. Dentre as correspondentes às indústrias de extração e
transformação, no total de 14.085, cerca 35,5% informam que inovaram em produtos e/ou
processos (o que representa uma queda nas inovações em comparação com a pesquisa
anterior, de 2009-2011 (IBGE, 2013), quando essa proporção era de 40,4%).
172

Figura 47 - Mapa da distribuição das aglomerações produtivas nos territórios mineiros (2000)

Fonte: Elaboração própria.

Os setores intensivos em tecnologia, naturalmente, são os que apresentam a maior


quantidade de empresas inovadoras, como de coque e biocombustíveis (77%), produtos
químicos e farmacêuticos (63%), máquinas e equipamentos (60%), desenvolvimento de
programas de computador (54%), impressão e reprodução de gravações (50%) e máquinas
aparelhos e materiais elétricos (48%) (SOUSA JUNIOR, 2014). Na contramão, encontram-
se empresas de setores economicamente importantes para o estado, como a indústria
extrativista, de alimentos e fabricação de produtos de metal (analisadas adiante).
As inovações em cooperação com ICT, em relação ao total de empresas inovadoras
são poucas, mas dobrou de 2,8% (2009-2011) para 5,8% (2012-2014). As aquisições
externas de P&D e de outros conhecimentos externos, independente das fontes,
corresponderam a 2,3% e 4,1% do total dispendido em atividades inovativas,
respectivamente, no triênio 2009-2011 (IBGE, 2013); e, de 4,5% e 3,6%, no triênio 2012-
2014 (IBGE, 2016).
Cabe destacar que o crescimento na aquisição externa de P&D é reforçado quando
também considerado que o total despendido em atividades inovativas decresceu em 24,6%
entre os dois triênios. Dentre os principais obstáculos identificados pelas empresas que
173

inovam de alguma forma destacam-se os elevados custos, a falta de pessoal qualificado, os


riscos econômicos excessivos e a escassez de fontes de financiamento (IBGE, 2016a).
Embora os dados da pesquisa para Minas Gerais encontrem-se pouco desagregados
por setor, foi possível realizar algumas análises de clusterização estatística que permitiram
identificar similaridades e divergências no comportamento inovador daqueles considerados
mais tradicionais e expressivos no estado: a indústria extrativa, alimentícia, siderúrgica e
automobilística, além de compará-las com o comportamento verificado nas demais
indústrias do estado. A clusterização foi baseada em cinco parâmetros distintos: fontes de
inovação; tipos de conhecimento e formas de aprendizado; foco da trajetória tecnológica;
tipos de resultado de inovação; e, variáveis de estrutura e desempenho.
Quanto às fontes de inovação, o nível de similaridade identificado para 3
agrupamentos foi de 90,8%. O cluster 1, composto pelas indústrias extrativas, fabricação
de produtos alimentícios e produtos siderúrgicos destacou-se pela baixa intensidade nos
esforços inovativos e maior aproximação dos seus centroides com o centroide global
(equivalente a todos os setores de Minas Gerais) nos indicadores relacionados à aquisição
de P&D externos e de máquinas e equipamentos (fontes externas de inovação). O setor de
fabricação de automóveis, caminhonetas e utilitários, caminhões e ônibus (único
enquadrado no cluster 2), embora compreendesse apenas três respondentes no estado,
comporta-se de maneira ligeiramente diferente nesse indicador, investindo
expressivamente em fontes de inovação internas (P&D). O cluster 3, por sua vez, refere-se
às outras atividades da indústria no Estado, não detalhadas na pesquisa. De modo geral,
verifica-se o investimento ligeiramente maior em inovação, quando comparados ao
centroide global, mas concentrado na aquisição de máquinas e equipamentos e baixa
relevância nos investimentos em P&D.
A análise referente aos tipos de conhecimento empregados e formas de aprendizado
baseou-se em seis indicadores: pesquisa (interno), conhecimento tácito, codificado,
interação, subcontratação e interação com universidades (externos). O nível de
similaridade identificado para três agrupamentos foi de 90%. O cluster 1, composto nesse
caso apenas pelas indústrias extrativas, caracteriza-se pela alta relevância atribuída às
fontes externas de conhecimento e aprendizado, destacando-se a importância dos contatos
com fornecedores, clientes, outras empresas, feiras, universidades e centros de pesquisa. O
cluster 2, constituído pela indústria alimentícia e “outros setores da indústria”, destaca-se
pela ligeira relevância dada às fontes de conhecimento tácito, explícito e interações,
quando comparado ao centroide global, e baixa relevância atribuída às universidades,
174

centros de pesquisa e consultorias. Por fim, o cluster 3 compreende os setores siderúrgico e


automobilístico. Nesses setores destaca-se a importância atribuída à pesquisa interna em
contraponto a baixa relevância das fontes externas de conhecimento.
A trajetória tecnológica de uma indústria pode ser moldada por determinantes de
ordem técnica, produtiva, científica ou econômica, e resulta na confluência de uma série de
condicionantes históricos (path dependence). Esta dependência pode garantir o
crescimento assertivo do setor como também distanciar as tecnologias mais eficientes da
tecnologia dominante (o que é apontado como “cegueira tecnológica”) (TIDD et al, 2008).
Inúmeros fatores podem contribuir para a determinação da trajetória tecnológica de
um setor. Com base nos dados da PINTEC 2011 (IBGE, 2013), foram levantados: a
redução de custos, a melhoria de produtos, a diversificação de produtos, a competitividade
(como reflexo da necessidade de manutenção e ampliação da participação no mercado), o
aumento da capacidade produtiva, a flexibilização da produção, a entrada em novos
mercados, a redução dos impactos ambientais e o atendimento às exigências de cunho
regulatório.
O nível de similaridade identificado para os 3 agrupamentos foi de 67,3%, bem
inferior aos anteriores. O cluster 1, assim como na análise anterior, compreende apenas o
setor de Indústrias Extrativas. Caracteriza-se pela ênfase dada, principalmente, a
manutenção e ampliação de mercado, abertura de novos mercados, além do atendimento as
exigências regulatórias. Também se destacam, naturalmente, os esforços direcionados à
minimização dos impactos ambientais, inerentes a esse setor. Já o cluster 2, composto
pelas indústrias alimentícia, siderúrgica e demais setores (exceto o automobilístico),
caracteriza-se essencialmente pelas tecnologias voltadas ao aumento da capacidade e
flexibilização da produção. Tal informação corrobora para o enquadramento desses setores
como intensivos em escala, ao menos quanto a esse aspecto. Por fim, e novamente, o
cluster 3 comtempla o setor automobilístico, atuante tanto nas iniciativas voltadas à
economia de escala, como nas direcionadas à economia de escopo. Nesse setor, destaca-se
a baixa importância atribuída às tecnologias que objetivam aumentar a flexibilidade dos
processos bem como nas que visam atender a aspectos regulatórios.
A análise relacionada aos tipos de resultados de inovação faz-se necessária diante
das diferentes maneiras de consubstanciar os resultados de uma mudança tecnológica, além
de assegurar a correta caracterização qualitativa de inovação, para fins comparativos. Para
essa análise, identificou-se a possibilidade de explorar mais profundamente os resultados,
diferente do observado em estudos similares, em função da maior diversidade dos dados
175

obtidos na PINTEC 2014 (IBGE, 2016a). Neste caso, optou-se por separar a análise
referente às inovações em produtos e processos, além de comtemplar também as inovações
para o mercado mundial que, embora menos expressivas quantitativamente, são de extrema
importância para setores que precisam atuar em escala global.
O nível de similaridade identificado para dois agrupamentos foi de 97,4%. Neste
caso, todos os setores analisados, exceto o da indústria automobilística, enquadraram-se no
cluster 1. Este cluster comtempla indústrias mais intensivas em inovações em processos do
que em produtos. Além disso, o cluster destaca-se por compreender dois setores
responsáveis por introduções de produtos e processos novos para o mercado mundial,
embora também apresente resultados significativos quanto às inovações incrementais. O
cluster 2 relaciona-se à indústria automobilística, caracterizada por introduzir inovações
em produtos e processos no mercado nacional, embora sem nenhuma representatividade no
mercado mundial. A baixa relevância das inovações incrementais pode ser justificada pelo
protecionismo verificado nessa indústria e pela menor importância atribuída à codificação
do conhecimento, que pode diluir tais inovações em meros incrementos de know-how,
embora se devam considerar as implicações do pequeno número de amostras coletadas.
A última análise visou identificar a relação entre aspectos de estrutura e
desempenho dos setores com as características inovativas levantadas nas análises
precedentes. Dentre as variáveis disponibilizadas na edição da PINTEC 2014 (2016a), as
mais associadas à análise foram mão de obra em P&D (em relação ao total de pessoas
empregadas), qualificação das pessoas em atividades de pesquisa (percentual de graduados
e pós-graduados em relação ao total de envolvidos) e percentual de investimentos públicos
e estrangeiros em relação ao dispêndio em P&D. Dados sobre a concentração de mercado e
volume de exportações não foram comtemplados nas últimas versões da pesquisa.
O nível de similaridade identificado para os três agrupamentos foi de 94,74%. O
cluster 1 agrupa os setores de indústrias extrativas, fabricação de produtos alimentícios e
demais setores da indústria. Naturalmente, neles observam-se a baixa representatividade da
mão de obra exclusivamente dedicada à P&D, o que corrobora com as conclusões
levantadas anteriormente, relacionadas aos dispêndios feitos nessas atividades e a
priorização por fontes de conhecimento externas. A qualificação dos poucos profissionais
dedicados a essas atividades também é baixa, contemplando poucos graduados e pós-
graduados. Por fim, tais setores contam com baixos financiamentos oriundos de fontes
públicas e estrangeiras.
176

O cluster 2 constitui-se apenas pelo setor de siderurgia. Observa-se nesse caso, a


maior representatividade dos investimentos públicos e estrangeiros direcionados às
atividades de P&D. Tal setor é extremamente estratégico para o estado e o país, que figura
como o 5º maior exportador líquido de aço (INSTITUTO AÇO BRASIL, 2017) do mundo.
No entanto, tais exportações possuem pouco valor agregado, o que suscita maiores
investimentos em tecnologia com esse perfil no setor (em uma possível tentativa de
deslocamento do setor como intensivo em escala para o de fornecedor especializado).
Já o cluster 3 novamente traz o setor de fabricação de automóveis, caminhonetas e
utilitários, caminhões e ônibus. Neste setor, ao contrário do anterior, observa-se maior
empregabilidade de pessoas exclusivamente dedicadas à P&D e maior qualificação das
mesmas. No entanto, caracteriza-se também pela inexistência de investimentos públicos e
estrangeiros diretos. Essa informação, quando associada às anteriores, resulta em duas
conclusões importantes. Primeiro, considerando-se o alto investimento em P&D atribuído
ao setor nas seções anteriores, observa-se que o mesmo acontece exclusivamente por meio
de recursos próprios. Segundo, a falta de investimentos estrangeiros pode ser explicada
pelo desinteresse das matrizes em desenvolver pesquisas nas filiais/ mineiras.
De posse das informações levantadas e analisadas ao longo de toda a Seção 3, as
entrevistas puderam ser realizadas, assim como os questionários distribuídos aos
pesquisadores, de modo a validá-las em campo e, dentro do possível, justifica-las. Os
resultados desta etapa são apresentados na seção seguinte.
177

4. A GESTÃO E GOVERNANÇA DO CONHECIMENTO NO ECOSSISTEMA DE


INOVAÇÃO DO TERRITÓRIO DA ZONA DA MATA SOB A ÓTICA DAS
INSTITUIÇÕES
Em consonância ao modelo teórico proposto, a pesquisa envolveu três esferas
de análise, a saber: capacidades estatais, capacidades dinâmicas e capacidades
cognitivas (apresentadas nas seções 4.1, 4.2 e 4.3, nessa ordem).

4.1.CAPACIDADES ESTATAIS (INSTITUIÇÕES DE APOIO, FOMENTO,


INTERMEDIAÇÃO E ATORES DOS GOVERNOS)

Tanto a análise da capacidade técnico-administrativa, quanto a político-relacional,


será de início tratada no nível estadual e regional separadamente dentro das seções, para
que só posteriormente, as suas relações sejam demonstradas, apenas para fins didáticos.
A princípio, é imperativo destacar dois pontos comuns observados em boa parte das
entrevistas desse grupo. O primeiro, mais relacionado ao âmbito estatal, indica que as
iniciativas ligadas à inovação capitaneadas pelo governo, e em especial pela SEDECTES,
sofreram uma ruptura entre 2014 e 2015. Em parte, o redirecionamento estratégico se deve
às mudanças no perfil da gestão tanto nas secretarias, como também nas próprias
instituições parceiras, mas os impactos da crise orçamentária também figuram como
fatores determinantes para os casos de descontinuidades. Fica evidente que tais
descontinuidades também foram percebidas ao nível local.
Já na região analisada, as diferentes percepções quanto à vocação econômica do
território da Zona da Mata pelos seus atores evidenciam a existência de três redes de
inovação distintas, que embora coexistam, não demonstram atividades de cooperação
consistentes, sendo elas: Leite e derivados/ Cafeicultura / Agricultura em geral;
Tecnologias de Informação e Comunicação; e, Serviços em Saúde/ Educação. Dessa
maneira, houve o cuidado de se identificar quando as considerações referiam-se
especificamente ao polo de Juiz de Fora (mais dedicado às duas últimas) e quando podiam
ser estendidas a todo o território de fato (ainda mais direcionado a primeira rede).
178

4.1.1. Capacidades Técnico-administrativas


Atualmente, a SEDECTES se organiza em três subsecretarias: Ciência, Tecnologia
e Inovação; Ensino Superior; e a mais recente, Desenvolvimento Econômico. A primeira
subsecretaria, por sua vez, divide-se em duas superintendências: Inovação Social e
Inovação Tecnológica. A subsecretaria em questão, e suas superintendências são hoje,
majoritariamente, gerenciadas por empresários que, embora conhecidos e de renome no
ambiente de negócios estadual, em alguns casos, nunca haviam atuado especificamente
com C,T&I na esfera pública.
Por essa razão, as lideranças da secretaria, assim como sua equipe formada em sua
maioria por jovens, em 2015, atravessaram um processo acelerado de aprendizado que
resultou em notório redirecionamento estratégico, e consequente redistribuição de papéis
interna e externamente. Ao longo do tempo, isso pôde ser claramente observado com o
enfraquecimento de programas direcionados ao estímulo da cooperação universidade-
indústria, incubadoras, parques tecnológicos, redes de pesquisa, entre outros, e a criação de
outros mais direcionados ao fomento e apoio de startups, programas de aceleração de
empresas (sendo o SEED a primeira aceleradora estatal da América do Sul), coworkings (a
exemplo do programa Minas Inova79) e visibilidade (com eventos como o Pint of Science,
FINIT e Campus Party em substituição à extinta Inovatec, feira voltada ao ambiente
acadêmico, e pouco efetiva para o transbordamento de conhecimento e tecnologias).
De acordo com o Entrevistado 1:
“Nós tínhamos muitas patentes, papers, muita formação de mão de obra
rica. Costumava frequentar São Paulo e Rio de Janeiro e tiravam sarro de
mim em algumas empresas. Eles falavam: Tá vendo aquela turminha de
cinquenta rapazes e moças ali? É tudo mineiro. Porque mineiro forma e
todo mundo vai pra São Paulo e Rio de Janeiro. Então no planejamento
estratégico (da SEDECTES) eu trabalhava muito com incubadoras e
parques tecnológicos. E mineiro tem uma desvantagem de que ele faz
muita coisa, muito bem, e ganha vários prêmios e troféus, melhor
incubadora do país, melhor parque tecnológico, melhor isso, melhor
aquilo, e na hora que chega ele fica tímido, pega esse troféu e põe pra
pendurar paletó. E o carioca, que é um excelente profissional de
marketing, ganha uma medalhinha em 10º lugar e faz museu. Todo
dinheiro, FINEP, BNDES, bolsas do CNPq, tudo vai lá pro Rio de
Janeiro e Minas se ferra. Nesse planejamento estratégico eu sugeri o
seguinte: tirar o pé de ciência e tecnologia, empurrar um pouco mais pra
FAPEMIG, e cuidar de inovação. Tirar a ideia do papel e virar empresa.”

79
Programa lançado em novembro de 2017 direcionado a prefeituras e instituições sem fins lucrativos
visando o apoio a criação de ambientes de coworkings pelos territórios do estado, entre outras iniciativas de
disseminação.
179

O Entrevistado 2 endossa esse argumento quando defende que a missão da


FAPEMIG, além de fomentar a pesquisa básica e aplicada e a geração de conhecimento, é
atuar como facilitador para que esse conhecimento alcance o mercado na forma de
inovação. Destaca que o histórico de investimento em ciência e tecnologia pelo estado foi
de fato mais expressivo entre 2007 e 2015, mas que ainda sim, faltava a ele, assim como
ocorre no país, um plano de desenvolvimento com base no conhecimento. Dessa maneira,
as ações ficam a critério dos gestores públicos escolhidos momentaneamente. Nas suas
palavras: “Nós estamos voando, desde sempre, em um céu esfumaçado. Não sabemos
exatamente de onde estamos partindo e aonde vamos chegar”. A FAPEMIG, em particular,
a princípio acompanhou esse movimento em função da obrigação legal de auxiliar a
secretaria financeiramente e, como uma secretaria possui mais poder político que uma
fundação, acabou direcionando a maior parte das ações em acordo com os seus objetivos.
Mas o Entrevistado 2 também enfatiza que o mundo das startups trata-se de um
movimento mundial, onde a inovação se faz mais presente, mas que por outro lado enfrenta
muitas dificuldades para competir. Paralelamente, o meio convencional de se investir em
P&D internamente, predominante nas grandes empresas, demonstrava-se lento e custoso.
Então ele verifica que esses dois fatores, aliados ao desemprego que atinge jovens de perfil
muito criativo, porém ainda não tão experientes e qualificados, favoreceram a escolha
pelas novas diretrizes naturalmente. Particularmente, ele observa que faltavam mecanismos
para a efetiva transferência de tecnologias das universidades para o mercado nas ações
anteriores. As startups, nesse sentido, se mostraram mais um caminho possível para um
estudante de doutorado, por exemplo, que passou a ser estimulado a iniciar um negócio a
partir da sua tese. Ainda segundo o mesmo entrevistado, antes a UFMG tentava
comercializar suas patentes por meio de editais, o que não funcionava. Com esse incentivo
percebe que as mesmas estão transbordando mais naturalmente. Na sua ótica:
“Nós da FAPEMIG temos uma percepção muito clara de que se
continuarmos financiando pesquisa da cabeça do pesquisador e obtendo
relatórios que ninguém lê, e que não gera benefício para a sociedade
diretamente, nós não vamos ser financiados. A sociedade não vai querer
financiar para o cara publicar paper e ter um currículo muito bom. É
bom, necessário, ninguém é contra, mas não para aí. Nosso modelo
evoluiu para isso, não há pecado nenhum nisso. Porque em 2021, 2022
apresentar número de artigos publicados por brasileiro lá fora é ridículo,
não tem sentido se não houver minimamente o desenvolvimento da
economia do conhecimento aqui”.

O histórico das mudanças verificadas nas atribuições do Sistema Mineiro de


Inovação (SIMI) e na sua estrutura funcional ilustra o redirecionamento mencionado. A
180

princípio, a equipe se instalava totalmente na SEDECTES e suas ações eram


explicitamente voltadas à promoção das relações entre pesquisadores e empresas, ligando
ofertas e demandas tecnológicas, por meio de uma rede social e em eventos e encontros
presenciais. Com a mudança de gestão, entre 2014 e 2015, essa rede foi descontinuada
(também em razão da criação da plataforma iTec em nível federal) e deu lugar a um portal
para divulgação de conteúdos desenvolvidos de forma colaborativa (notícias, colunas,
vídeos, e-books, oportunidades, etc.). Na mesma época, todas as atividades que restaram
relativas à primeira função ficaram a cargo de uma equipe lotada na FAPEMIG (que entre
2015 e 2017 acabou mais dedicada ao apoio aos eventos ligados a empreendedorismo),
como já mencionado. Segundo o Entrevistado 3:
“Atualmente, o Portal apoia a intermediação, antigamente a gente
realizava a ação. Por exemplo, a gente realizava os Encontros de
Inovação. Só que na nossa secretaria foram criados outros projetos que
atendem a essa demanda, por exemplo, o Hub Minas Digital. Hoje
inclusive eles estão fazendo a conexão entre startups e grandes empresas.
Então eles buscam a demanda da grande empresa e jogam o desafio para
as startups, e a gente apoia. Mas a gente não executa a ação mais. Com
essa mudança de estratégia a gente realiza ações maiores com
metodologias já existentes. Então, por exemplo, aconteceu a FINIT. Lá
na FINIT aconteceu o “100 open startups”, essa foi uma ação apoiada
pelo SIMI. A gente abraçou o evento todo, mas essa ação foi via SIMI.
Nos Encontros de Inovação a gente fazia um negócio mais restrito com as
instituições, mas aí a gente viu que é um negócio que já está acontecendo
naturalmente, que várias instituições estão fazendo internamente”.

A fala do Entrevistado 4, além de reforçar a divisão de papéis entre a FAPEMIG e a


SEDECTES apontada pelo Entrevistado 1, indica que isso ocorreu em função do perfil do
presidente da Fundação, enxergado por muitos atores como “um comandante discreto da
ciência, tecnologia e inovação em Minas Gerais”: “O ideal é que tivesse uma unidade aqui
trabalhando na articulação com o pesquisador. O incentivo à inovação e ao
empreendedorismo na academia”. Quando se verificou o enfraquecimento desse tipo de
iniciativa na secretaria, segundo o Entrevistado 4, a atuação do atual presidente foi decisiva
para que nem tudo fosse abandonado.
O Entrevistado 5, embora concorde com esse entendimento, não enxerga que essas
investidas, isoladamente, tenham conseguido impedir perdas expressivas. Por obrigação ou
crença, aponta que as ações da FAPEMIG acabaram invariavelmente rendidas às diretrizes
do governo, perdendo autonomia nos últimos anos:
“O que eu entendi é que no início ele fez um trabalho de catequização,
mas as pessoas só compreendem o que elas querem. Então faltou energia
pra ele continuar com essa insistência e pra não morrer na praia, pra não
181

perder totalmente a evidência, acho que foi melhor compactuar. A


proposta do SIMI é muito interessante, mas no meio do caminho ela se
desvirtuou até mesmo pra se adequar a essa nova realidade. Hoje o SIMI
é um canal para divulgação especialmente das iniciativas da SEDECTES
de forma geral. O projeto foi desvirtuado, isso é o que todo mundo
entende. Ele perdido, ficamos todos”.

O Entrevistado 6, em acordo com a sua experiência prática nas ações que buscam
integrar startups com médias e grandes empresas, aponta alguns entraves específicos das
relações explícitas com as universidades. Para ele, as empresas do estado procuram
soluções rápidas, fáceis e baratas. Por essa razão, o modelo de desenvolvimento
empregado nas IES ainda não consegue atender suas necessidades. Além disso, as
tecnologias nelas desenvolvidas em grande parte se mostram pouco aderentes ao mercado e
imaturas.
Ademais, verifica o conflito ideológico das instituições como outro impeditivo,
uma vez que a maioria dos pesquisadores, e até mesmo seus gestores, não enxergam a
pesquisa aplicada como atividade primordial. Ademais, o mesmo entrevistado indica que
as empresas do interior são menos inclinadas à inovação, embora seja reconhecido que a
concentração dos eventos em Belo Horizonte dificulte tanto a participação de startups
como de médias e grandes empresas dos demais territórios no programa Hub Minas
Digital. Porém, em um segundo momento, conclui que as falhas de comunicação nos dois
sentidos (dos territórios para o hub e vice versa) são um fator relevante. No entanto,
defende que o intuito do programa não é trabalhar com soluções que envolvam big science
e, por essa razão, a integração explícita com as instituições de ensino e pesquisa não é
considerada relevante.
O Entrevistado 7 também destaca um entrave importante relacionado ao perfil do
empresariado mineiro para a implementação de novas diretrizes e políticas. Embora o
BDMG tenha a inovação como carro-chefe em seu planejamento estratégico, é imperativo
que as políticas públicas contem com o interesse daqueles para as quais se destinam:
“Uma coisa que eu tenho aprendido aqui, é que se formulam políticas
públicas pensando que o outro lado, que vai se utilizar, quer essa política
pública. Nós estamos custando a ter 100 projetos financiados aqui dentro,
porque o empresário de Minas não inova, a gente tem a política, mas
ninguém inova. Tem muitas “startupzinhas”, mas que não querem virar
empresas, mas aumentar valor, vender e começar outra. O grosso do
perfil do empresariado mineiro é extrativista, o que a gente tem de
indústria de transformação é a que veio importada com as multinacionais.
A indústria extrativista não quer inovar, ela quer tirar, jogar, nem
processa, não agrega. O que é uma grande contradição, porque Minas
Gerais tem uma indústria baseada nas indústrias do século passado,
182

algumas ilhas localizadas, mas conta com o maior número de


universidades federais do país. E até hoje não tem uma política pública
clara pra dialogar com isso.”

Ainda para o mesmo ator, a priorização dos programas direcionados às startups é


uma iniciativa quase exclusiva da SEDECTES. O BDMG oferece linhas de investimento
específicas para spin offs acadêmicos, das quais fazem parte a CODEMIG, a FUNDEP, a
Fundação Manoel Bernardes e a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa –
Participações (FUNDEPAR). Para ele, além do perfil dos empresários, o diálogo
universidade-empresa é um componente difícil nas universidades. Existem graus distintos
de maturidade, da produção científica, apropriação e transferência entre as diferentes
instituições (também sinalizado pelo Entrevistado 6). Por essa razão, o próprio banco vem
desenvolvendo um hub de inovação, direcionado a acelerar empresas ligadas às suas áreas
estratégicas e em um grau de maturidade maior do que as startups atendidas pelo Hub de
Inovação e pelo SEED.
Tal iniciativa é apontada pelo Entrevistado 7 como uma alternativa para que o
banco possa se inserir no ecossistema de inovação do estado. Atribui a assumida
redundância de papéis entre as instituições a um problema mais relacionado à ciência
política do que à ciência e tecnologia, evidenciando um claro conflito de interesses (que
será detalhado na próxima seção). Em termos estritamente técnico-administrativos,
enxerga que isso apenas ocorre porque um claro plano de atuação não se encontra
enraizado na estrutura e na burocracia do estado, tal qual defendido pelo Entrevistado 2.
Ainda quanto ao perfil do empresariado e a capacidade de prover conhecimento
aplicado por parte das universidades, o Entrevistado 8 acrescenta a sua percepção acerca
das empresas de alto conteúdo tecnológico. Ele aponta que a maioria que considera se
instalar no estado é low tech, ou pelo menos as unidades do negócio que destinam para
funcionar nele (concentrando as suas atividades intensivas em conhecimento na matriz em
outro estado ou país). Tais empresas colocam a proximidade de mercados e de
fornecedores de matéria-prima e mão de obra como condições mais importantes que a
produção científica e tecnológica do entorno. Porém, para os poucos casos em que a
presença de universidades e centros de P&D é um critério relevante, essas informações são
mapeadas por uma equipe interna e pelas próprias empresas interessadas (a despeito da
dificuldade que as próprias IES percebem no mapeamento de seu portfólio, a ser tratado na
seção Capacidades Dinâmicas).
183

No entanto, assim como foi defendido pelo Entrevistado 2, o mesmo ator


argumenta que a pré-existência de mão de obra qualificada em uma região implica
necessariamente na existência de centros de pesquisas e universidades por trás. A
existência de universidades com centros de pesquisa, laboratórios compartilháveis para
pesquisas aplicadas, normatizados e credenciados por agências e apropriados para os testes
demandados por empresas high-tech restringem, expressivamente, as opções de localização
dessas organizações. Nas suas palavras: “Alguns territórios querem aderir aos modismos
como parques e startups sem espectrômetro de massa. Esses programas de aceleração de
startups são grandes vazios sem um laboratório de P&D robusto atrás”. Uma exceção
apontada são os laboratórios disponibilizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa e
Inovação Industrial (Embrapii) e seus lab factories. Todavia, essas estruturas, quando
existem, são providas pela CODEMIG, e o INDI atua estritamente na sua divulgação.
Para o Entrevistado 7, é notório que no atual governo há uma clara falta de
coordenação desde 2015, internamente, como também com as iniciativas passadas. Isso
porque inexistem, não apenas no estado, experiências de ciência e tecnologia enraizadas na
estrutura capazes de perdurar por sucessivas gestões do governo: “A SEDECTES mudou,
não olhou para o que tinha que ser feito e nem pro que já tinha sido feito”. Outro fator que
aponta como relevante é que as temáticas tecnologia e inovação são transversais,
compreendendo e acoplando diversas dimensões, como educação, financiamento, entre
outras (ou seja, diferentes instituições), bem como inúmeros setores, a exemplo de
agricultura, saúde e educação (conduzidos por outras secretarias). Tanto as instituições
quanto as secretarias, no entanto, possuem as suas próprias diretrizes de atuação.
As iniciativas do “Minas Digital” capitaneadas pela nova gestão, que até 2016 eram
propositalmente concentradas em Belo Horizonte (em função de estrutura já estabelecida e
expressiva), ascenderam a cidade no cenário de inovação e empreendedorismo nacional,
fazendo com que profissionais qualificados e empresas intensivas em tecnologia
começassem a considerar não migrar para outras capitais, em acordo com a percepção do
Entrevistado 1. Nesse segundo momento, foi verificada a necessidade de estender as
práticas vistas como bem sucedidas para as demais regiões do estado.
Segundo o Entrevistado 1, em 2017, percebeu-se que muitos ecossistemas de
inovação locais já funcionavam de modo independente do governo central, e muito pela
iniciativa de jovens lideranças que promoviam eventos como hackathons, startup
weekends, fóruns, meetups, entre outros, a despeito dos poucos recursos. Tais atividades
foram mapeadas e esses líderes convidados a integrar a equipe da SEDECTES como
184

agentes locais de inovação, por meio do acesso a treinamentos e recebimento de uma bolsa
mensal. O papel principal desses agentes, é promover os programas do governo nos
territórios, reportar as demandas específicas à secretaria, além de representá-la em reuniões
e eventos locais. Dos 130 agentes locais atualmente contratados, 32 encontram-se
distribuídos pelo interior do estado, e apenas um agente estratégico atua em todo o
território da Zona da Mata.
Em 2018, o governo mineiro se deparou com o agravamento de sua crise
orçamentária, o que culminou, segundo o Entrevistado 1, com “alguma coisa de
penumbra”. Os projetos aprovados passaram a não receber os recursos a eles atribuídos, a
exemplo do próprio SEED. A aceleradora, por meio de licitação que contou com 1.100
empresas candidatas, selecionou 40 delas para receber o aporte planejado inicialmente,
sendo 10 empresas estrangeiras, 10 de outros estados, e 20 mineiras, o que não ocorreu até
agora. Parte da equipe exclusivamente contratada e treinada para atuar no processo de
aceleração, diante das incertezas acerca do futuro do projeto, migrou para outras
instituições e organizações, e 5 das 40 empresas selecionadas, até o mês de julho de 2018,
desistiram para participar de programas de aceleração fora do país.
É notório, em boa parte dos relatos, que o esvaziamento das iniciativas direcionadas
à ciência e tecnologia propriamente, aliado a falta de recursos para os novos programas,
frustrou parte daqueles inseridos na esfera estatal e nas instituições relacionadas, como
demonstra o relato do Entrevistado 1:
“E, felizmente, eu saio do estado no final do ano, porque eu queria muito
apoiar ciência e tecnologia, muito mais. Então parques tecnológicos,
incubadoras de empresas, polos, eu tinha que fazer muito mais coisas,
biotecnologia, etc. Mas tudo foi carregado, sempre, pra
empreendedorismo, startups, aceleradoras. É um pouco frustrante, porque
eu venho dessa área e quando eu cheguei aqui todo mundo falou: Uau, ele
está lá. Legal, hein? Embaixador! Mas eu não consegui, infelizmente eu
não consegui. Porque é em função de forças governamentais que a coisa
acontece. [...]Eu sou empresário, trabalho aqui a 4 anos, e na hora que
acabar eu nunca mais volto pro governo. Não quero trabalhar mais no
governo. Existem moedas (eu sei que está sendo gravado) mas, existem
moedas. Então a FIEMG tem uma moeda, o SEBRAE tem uma moeda, e
aqui tem outra moeda. A moeda aqui se chama voto. Se eu apoio o polo
do leite, 50 pessoas vão ficar felizes. Se eu faço um programa de startup
universitário, uau! Espalha para todo lado, todos os jovens vão falar do
governo, que tá apoiando, e tal. Então se ouvir muito as pessoas, as
moedas deles talvez não sejam a mesma moeda do SEBRAE, que quer
educar pequenos empresários, ou da FIEMG, que pensa em dinheiro,
indústrias, e tudo mais. São interesses diferentes. E também timing, eles
querem rápido demais, lá (na FIEMG e no SEBRAE) eles querem
planejamento estratégico e tudo mais. [...] Das coisas que não foram
legais: creio que foi muito abandonado... Na minha opinião o estado é um
185

fomentador de uma série de iniciativas, ele não faz. Ele tem que
incentivar, ele tem que apoiar, e o fomento a pesquisa e desenvolvimento,
polos, isso foi abandonado completamente. Todo mundo está esperando
um novo governo pra ressuscitar. Porque foi muito pra linha empresarial
e pouco para apoio a pesquisa e desenvolvimento.”

Por outro lado, o Entrevistado 2 defende que a capacitação promovida pelos


programas ligados às startups é capaz de formar competências e habilidades que não são
ensinadas nas universidades, como correr riscos calculados, colaborar, ser confiável e
confiar. Os jovens que passam por esses programas, ainda que não sejam bem sucedidos
em suas ideias de negócio, podem vir a serem CEO e empregados de grandes empresas ou
funcionários públicos de qualidade superior. Ademais, os impactos das pesquisas nessas
startups é muito claro, o que ocorre é que por vezes nem se sabe que a tecnologia e
conhecimentos empregados nelas teve origem em uma universidade, mas certamente esse
movimento não existiria sem a influência da UFMG e da PUC, por exemplo.
Independentemente da transferência formal de tecnologias, os gestores de startups foram
graduandos ou pós-graduandos dessas instituições de ensino e pesquisa.
Para esse ator, não houve esvaziamento da C&T, mas a coincidente escassez de
recursos a partir de 2016 devido à crise orçamentária. Com exceção dos recursos para os
programas da SEDECTES, os destinados à Fundação para suas ações não estão sendo
repassados. Para ele: “O diagnóstico está errado, embora a percepção seja correta”.
Na opinião do Entrevistado 5, a política da presente gestão é muito clara, mas no
primeiro momento percebe, assim como destacado pelo Entrevistado 1, que não se
entendia muito bem do que se tratava o movimento de startups. Ele cita inclusive, que por
essa razão em dado momento houve a intenção de se descontinuar o projeto SEED, o que
gerou uma expressiva pressão na mídia. Com isso, percebeu-se a oportunidade de
promoção das políticas para o público jovem. Embora não seja contrário aos eventos e da
proposta dos agentes de inovação, não acredita na sua efetividade sem uma estrutura de
suporte consistente por trás do processo de sensibilização. Adicionalmente, defende que
não há como promover o desenvolvimento sem o envolvimento direto das universidades.
Especificamente quanto aos efeitos nas incubadoras e nos parques, ele observa que
muitos processos foram desfeitos, por vezes por falta de entendimento e vontade: “Mudam
os governantes ou o reitor, e eles não mexem naqueles projetos, porque entendem que
aquilo ali não é substancial para o município ou instituição”. Do mesmo modo, esclarece
que a relação da RMI com os agentes de inovação locais ocorre no âmbito dos municípios,
na ponta. Descreve que no início, quando a ideia dos agentes começou a ser implementada,
186

houve a sinalização para que os ambientes os buscassem proativamente. Em seu


entendimento, tratava-se de um desperdício de energia, porque se alegou que essas pessoas
eram influentes nos ecossistemas, conheciam, sobretudo, o universo das startups, mas
ignoravam o fato de que as incubadoras também apoiam startups, inclusive mantendo seus
próprios programas de aceleração. Em suas palavras:
“Eles precisaram ir a Israel para entender o que é uma incubadora. Houve
um desgaste muito grande, sobretudo dos nossos gestores, a gente tinha o
dever de insistir com o assunto, apresentar números, mas eu te confesso
que não adiantou muito. A política de apoio às incubadoras eu não posso
dizer que morreu nesses últimos quatro anos, mas ela foi bastante
enfraquecida. A gente tinha edital de apoio às incubadoras, por ano, e a
gente teve um só edital nesse governo que demorou dois anos para ser
pago.”

A reformulação dos Encontros de Inovação, assim como a construção do Programa


DELA, para incentivar o empreendedorismo por parte especialmente de alunas de pós-
graduação, apoiados pela unidade do SIMI na fundação reforçam a intenção de se retomar
as iniciativas que promovam a inovação em ambientes acadêmicos. De todo modo, o
Entrevistado 4 destaca que esses projetos são desenvolvidos e implementados embasados
nos resultados de ações anteriores da fundação, bem como das demandas levantadas, mas
sem o envolvimento de outras instituições nos estágios iniciais.
A qualidade das startups apoiadas pelos programas de apoio e fomento também
preocupa alguns desses atores. O Entrevistado 1 aponta que parte expressiva desses
negócios não se preocupa em gerar empregos, renda, cuidar de famílias e desenvolver o
estado, mas de sobreviver à custa de investidores. Segundo o entrevistado, a inovação
ocupa-se de três frentes: ferramentas, métricas e cultura; sendo a terceira delas a mais
difícil de ser incorporada no longo prazo. Por essa razão, é preocupante a banalização das
ferramentas e conceitos, que culminam em pouca efetividade das ações e na baixa
atratividade de investidores de alto nível. A redundância no papel das instituições
corroboram nesse sentido, segundo o Entrevistado 3:
“O SEBRAE criava os programas lá, o SEDECTES outros programas,
FIEMG... Pra você ter uma ideia, programas de aceleração em cada
esquina tem um. Os programas do SIMI começam lá na base, que é o
empreendedorismo na escola, universitário, aceleração, contato com o
mercado. A gente vê vários programas de aceleração acontecendo, várias
instituições criando programas de pré-aceleração, só que ninguém faz a
ponte com o mercado. E aí acontece a síndrome do Peter Pan, a startup
nunca quer crescer. Ela tá no SEED, depois vai pra outro programa de
aceleração, FIEMG Lab e fica naquilo ali. E aí fica aquele ciclo.”
187

Por outro lado, a experiência direta do Entrevistado 1 na criação e condução de


incubadoras, e da própria RMI, entre 1995 e 2007, demonstra que a inserção desses
ambientes dentro das universidades não foi trivial, porque as startups ligadas às áreas de
alto conteúdo tecnológico (como biotecnologia e eletrônica) são, em sua grande maioria,
spin offs acadêmicos. E credita a esses negócios a capacidade de verdadeiramente atrair
bons investimentos.
Porém, os exemplos da Biominas, situada em Belo Horizonte, como sua recém-
criada incubadora, a Biostartup, assim como dos negócios originados na INATEL, em
Santa Rita do Sapucaí, direcionados às tecnologias assistivas, traz a luz a uma necessidade
específica desses tipos de negócio. Diferente do que ocorre nas startups de Tecnologia da
Informação, por exemplo, o investimento em spin offs acadêmicos envolve um capital
paciente, uma vez que suas pesquisas demoram a gerar retorno, o que em tese desmotivaria
os investidores habituais. Desse modo, caberia ao estado utilizar dos seus programas para
dar um “banho de startup” nesses negócios, ou seja, torná-los mais atraentes.
O programa do governo mais próximo dessa finalidade, incluído posteriormente no
projeto Minas Digital, é o Startup Universitário, cujo primeiro edital foi lançado em
outubro de 2017, tendo por objetivo despertar a cultura empreendedora em professores de
graduação e pós-graduação das universidades mineiras, por meio da seleção de até 100
profissionais que receberiam o aporte para transformar suas tecnologias em negócios, ou
desenvolvê-las a ponto de transferi-las; e, conduzir espaços de ideação em seus campi (o
que se assemelha ao extinto Programa de Incentivo a Inovação – PII). No entanto, o
Programa supostamente foi pensado sem o envolvimento de outros atores em sua
concepção, em uma aparente tentativa emergente de recuperar o vínculo perdido com as
universidades, assim como o programa DELA da FAPEMIG. De acordo com o
Entrevistado 1:
“No caso da participação das universidades, é que cada um tem seu
tempo, o governo tem um tempo rápido demais, então criou uma coisa
chamada “Startup Universitário”. Este programa foi criado assim: Poft!
Ninguém ficou sabendo, nem a secretaria de Educação ficou sabendo
disso aqui. Não foi pesquisado. Aí eu fiquei, por ordem do secretário, de
bolar o Startup Universitário. Eu como era do núcleo de
empreendedorismo da Fundação Dom Cabral falei: Bom, vamos fazer
isso aqui, isso aqui, isso aqui. Mas temos que pesquisar.”

Outra iniciativa que indica a intenção de se retomar o diálogo mais direto com as
IES se dá com o programa Alianças Estratégicas que, embora integre o programa Minas
Inova da SEDECTES, não era do conhecimento de nenhum dos três entrevistados da
188

secretaria até a ocasião, bem como das instituições diretamente vinculadas à inovação. Em
geral, o Programa intenciona promover a conexão entre as IES, a sociedade, agentes do
setor público e produtivo em todos os territórios do estado. É razoável afirmar, inclusive,
que se tem demonstrado a ação melhor sucedida para esse fim até o momento.
Já a percepção das instituições acerca do papel da Zona da Mata mineira para o
cenário de desenvolvimento direcionado pela inovação é difusa. As lacunas de
comunicação entre o governo central e os territórios são perceptíveis quando as instituições
mais ligadas ao primeiro não conseguem identificar claramente sua vocação econômica,
quando muito ainda ligada ao polo do leite e pela expressividade de alguns NIT, sobretudo
do CRITT (UFJF). Nas palavras do Entrevistado 1: “Eu não sei quais são as demandas de
lá, eu só penso em leite, laticínios”. Do mesmo modo, para o Entrevistado 3:
“A visão de vocação que eu tenho é o exemplo do polo do leite. A gente
tem muita ação na área lá, o evento é muito grande, a gente apoiou três ou
quatro edições lá, essa é a visão que eu tenho daqui, sentado na minha
cadeira aqui em Belo Horizonte lá da Zona da Mata. [...] Mas eu não sei
se o polo está rodando ainda, eu não sei se ele ainda existe”.

Do mesmo modo, o Entrevistado 4 evidencia a falta de clareza e a desconexão.


Inclusive não era de seu conhecimento que o polo do leite, atualmente, funciona como
agência, de modo parcialmente independente do governo:
“A gente trabalhou para as tecnologias do leite, relacionada ao leite. Na
minha cabeça é o que vem, mas eu não sei te falar. Para o DELA, a gente
tem como parte da ação fazer um levantamento das competências da
região, dos potenciais parceiros, do ambiente de inovação. Especialmente
por causa do polo do leite, que é um projeto vinculado, recebia recursos
da secretaria. A gente não teve repasse de recursos pra eles esse ano; não
sei como eles estão funcionando também. Até o ano passado eu ajudei a
organizar alguns eventos na área.”

Até mesmo o fato de que o projeto do Parque Científico e Tecnológico de Juiz de


Fora e Região, planejado para ser inaugurado em 2014, não saiu do papel, não era de
conhecimento do Entrevistado 3, que inclusive acreditava que o mesmo se encontrava em
operação, assim como a InDesign, incubadora do IFSudeste, desativada há anos. Do
mesmo modo, nenhum dos atores entrevistados em Belo Horizonte conhecia a existência
do Grupo de Trabalho Desenvolvimento e Inovação na Mata Mineira (GDI Mata), com
dois anos de atuação, e que será detalhado na próxima seção.
O entrevistado 5 não soube identificar uma vocação para a região, ainda que tenha
acompanhado superficialmente o projeto do parque supracitado. Não consegue informar se
na ocasião houve algum estudo estratégico para identificar as competências tecnológicas
189

da universidade ou âncoras que pudessem direcioná-lo. É válido ressaltar que boa parte das
críticas direcionadas ao projeto à época ocorreu justamente pela falta de uma vocação
clara, ou discordâncias com as vocações apontadas, a saber: Leite, Tecnologia da
Informação, Metalmecânica, Eletroeletrônica e Fármacos. É percebido por ele que as
análises parecem essencialmente subjetivas, como com o perfil das incubadoras, que
acabam por induzir suposições sobre o potencial das IES, ainda que não em sua plenitude.
Na visão do Entrevistado 3, isso ocorre porque as instituições e organizações desse
território não sabem comunicar suas ações ao SIMI, enquanto outras regiões buscam mais
a organização para se divulgar e obter apoio:
“A Zona da Mata se articula só dentro da região, acho que deveria ter
uma articulação com outras comunidades, por exemplo, buscar apoio no
vale da eletrônica, ter conexões entre as regiões. A conexão apenas via
pesquisador é muito pequena em relação ao ecossistema todo. E quando
existe a troca do indivíduo perde-se essa conexão. A UFMG, por
exemplo, ela mostra pra sociedade. Eu não sei qual é a visão do pessoal
que mora lá em Juiz de Fora, da atuação da universidade, mas aqui você
vai a qualquer instituição, em qualquer evento, o pessoal vê a UFMG
como grande polo de conhecimento importante pra cidade, pra região e
para o estado, então eu vejo que além da estrutura interna da instituição,
eles conseguem criar um vínculo com outras instituições muito forte.
Com o SIMI, por exemplo, eles vieram aqui e pediram nosso apoio.
Pessoal, a gente tem uma vitrine tecnológica, a gente propõe pesquisa a
rodo lá e o que vocês podem fazer pra apoiar a gente?”

O mesmo argumento é utilizado pelo Entrevistado 6. Para ele, faltam centros de


referência que prospectem as ações da região e as encaminhem para as coordenações
centrais, o que poderia ser realizado pelos NIT das instituições, aceleradoras e ambientes
80
de coworkings, por exemplo. Algumas organizações, a exemplo da Rota Zero 40 tentam
desempenhar esse papel, mas nesse caso o entrevistado não enxerga as startups por ela
articuladas como suficientemente maduras. Supõe, por essa razão, que esses novos
negócios não são alcançados pelo radar do Hub Minas Digital pela baixa expressividade,
caso contrário seriam facilmente indicados por fundos de investimento, aceleradoras ou
centros de transferência, por exemplo. Sem a estruturação de um banco de dados prévio
pela própria região, o hub, e mesmo o SIMI, não conseguem atuar de modo abrangente.
Adicionalmente, o Entrevistado 3 também aponta que a rotatividade de pessoas
tanto na SEDECTES, quanto nas equipes dos NIT (principal canal de comunicação com as
demais regiões do estado) é em parte causadora do enfraquecimento dessa conexão:

80
Rede situada em Juiz de Fora para estimular o empreendedorismo, a inovação e o desenvolvimento
econômico, social e tecnológico da cidade por meio da conexão entre os seus agentes locais, sobretudo os
ligados às startups.
190

“A conexão é entre pessoas, não entre instituições. Então os entraves


ocorrem de ambos os lados, quando troca a gestão do núcleo lá, até você
se conectar com os parceiros, demora um tempo, e no nosso caso, a gente
tem centenas de parceiros pelo estado, então a gente não tem o controle
de tudo o que está acontecendo. [...] O SIMI não tem CNPJ, então quando
você tem CNPJ você pode assinar termos de cooperação técnica, essa
gestão do conhecimento fica registrada.”

O mesmo entrave é apontado pelo Entrevistado 6, ao sinalizar que a equipe que


opera o Hub Minas Digital é composta exclusivamente por bolsistas da FAPEMIG, e pelo
Entrevistado 4 que, embora atue precisamente na sua função há pouco tempo, trabalha para
o SIMI desde 2011:
“O que eu pude ver ao longo desse tempo trabalhando com inovação é
que é um cenário hoje composto basicamente por bolsistas, a rotatividade
é muito alta. Nos parques, incubadoras, nos nossos projetos, você não
tem uma equipe de trabalho, que está ali desde sempre. A pessoa sai e a
história sai um pouco junto com a pessoa. Cada gestão é um recomeço, a
parte boa é que é uma chance de reativar coisas que foram perdidas, mas
isso é a base de convencimento da importância de cada coisa, às vezes
chega uma pessoa que tem uma visão diferente, ou que não conhece
mesmo. Porque ciência e tecnologia é um tema que não é tão difundido,
né? [...] A gente de fato está distante, dos NIT, das universidades. Eles
saíram do nosso radar, a gente parou de trabalhar junto. Eu não me
lembro de ter sido demandada por eles. Mas sem explicação aparente.
Um parou e o outro parou também, daí deu uma esfriada. A gente quer
retomar isso, e o ideal é que o mapa seja atualizado pelas próprias
instituições, para que a gente tenha a informação validada e retome esses
contatos. Eu acho que o SIMI deveria ser o agente articulador, nas duas
unidades, trabalhando juntos.

Nas palavras do Entrevistado 5, a cada vencimento dos quatro anos de atuação de


um governo, é necessário que a RMI recomece o que chama de “catequização”. Assim
como apontado pelo Entrevistado 4, na falta de um rastro das iniciativas, e possivelmente
na falta de um plano maior, algumas instituições precisam perder tempo e energia no
convencimento da nova gestão, mostrando o que vem sendo feito e o que precisa ter
continuidade. Para ele, quando isso começa a ser entendido, já se passaram os quatro anos
novamente. Acrescenta que isso não se trata de uma exclusividade do governo, mas
também é percebido na gestão das universidades e dos ambientes de inovação. Para além, e
assim como também observado pelo Entrevistado 7, os projetos, mecanismos e ambientes
de apoio dedicados à ciência e inovação são muito sensíveis, e essas rupturas nas ações
impactam negativamente os processos que, são por si só, mais custosos e demorados.
Como exemplo positivo, menciona a cidade de Santa Rita do Sapucaí, reconhecido polo de
eletrônica no sul no estado, cuja estrutura em prol do empreendedorismo e da inovação
191

encontra-se, a tal ponto enraizada, que perpassa as diferentes gestões (institucionais e


governamentais).
O mesmo é sinalizado pelo Entrevistado 6, quando fala especificamente sobre a
disseminação do projeto Hub Minas Digital:
“Eu acho que tem uma ignorância do meu lado de entender quais são as
principais gerações de conhecimento da Zona da Mata. Eu sei que tem
especificidades regionais, mas o grande desafio é que isso não está muito
organizado, acessível, a gente não tem um banco de dados fácil.
Nenhuma das empresas da Zona da Mata veio nos procurar. A nossa
prospecção está muito pautada nas empresas que a gente tem alguma
proximidade e que são impactadas pela nossa comunicação. Nós não
temos um relacionamento muito extenso com a Mata, apenas com o
agente de inovação. Pode ser por falta de foco do agente local e
dificuldade de acesso. Nossos agentes são jovens e existe um nível de
desconfiança absurda do empresário mineiro, vinculado ao setor público.
Agora para as startups, o grau de inovação, em termos de disrupção e
maturidade tecnológica e comercial é baixo. Naturalmente, as empresas
das capitais têm mais maturidade que as do interior, é onde tem
concentração de capital.”

O Entrevistado 7 também sinaliza que a Zona da Mata, mais recentemente, foi


impactada pela decadência da economia do estado do Rio de Janeiro que, segundo estudos
do BDMG, a impacta em razão da proximidade geográfica. Ainda que a região conte com
um ativo expressivo, a UFJF, na sua visão a cidade de Juiz de Fora não é capaz de irradiar
o seu desenvolvimento para os outros municípios do território, como Ubá e Rio Pomba.
Explica que isso em parte de deve a questões logísticas, uma vez que a condição das
estradas que ligam esses municípios é muito precária.
Percepção parecida é apresentada pelo Entrevistado 8 quanto à priorização dos
projetos a serem distribuídos pelas regiões. Embora reconheça que a Zona da Mata conte
com uma universidade robusta e com competências diversas, ao menos em alguns dos
setores estratégicos priorizados, a prospecção restringe-se às regiões sul e metropolitana,
supostamente por oferecerem além de diversidade nos seus portfólios científicos e
tecnológicos, condições infraestruturais de suporte relevantes (como serviços empresariais,
médicos, shoppings, aeroportos). Por tal motivo, a despeito da expressiva produção
científica do estado e da região, os mesmos não são considerados em alguns radares de
investimentos. É importante nesse momento destacar que, em acordo com a fala do
Entrevistado 9, o levantamento dessas demandas estruturais que buscam tornar as regiões
mais competitivas é o principal papel do colegiado dos Fóruns Regionais na Zona da
192

Mata81, formado por 25 membros da sociedade civil, mas que hoje não conta com nenhum
representante da academia e do empresariado regional.
O mesmo entrevistado aponta um entrave cultural importante nesse sentido. As
demandas levantadas pelo colegiado de certo modo condicionam a região a um perfil
industrial tradicionalista, a seu ver ultrapassado (o de Manchester Mineira). Em razão
dessa visão tradicionalista e industrial, a métrica adotada pelo Conselho local (composto
por representantes da sociedade civil), e comprada pelo governo por intenções políticas
(voto), é a atração de grandes indústrias que mantêm a região em um modelo de
desenvolvimento ultrapassado. Destaca, todavia, que quanto mais a atuação do fórum
busca se afastar da influência de Juiz de Fora, mais apresenta o potencial de dinamizar a
economia da região. Ele destaca, por exemplo, articulações pontuais entre a academia e
setores tradicionais que cooperam para torná-los mais inclinados à era do conhecimento,
como na cafeicultura e piscicultura ornamental.
Dentro de Juiz de Fora, especificamente, o Entrevistado 10 indica a preocupação
com ações que incentivem a relação entre startups locais e grandes empresas, o que muito
se relaciona com as deficiências infraestruturais mencionadas acima. A princípio, a
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo do município estuda
mecanismos de indução para a contratação local de serviços de apoio a negócios, como a
concessão mais estratégica de descontos no Imposto sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana (IPTU) para as grandes organizações. Mas observa que os impostos não
costumam ser o maior entrave. Ao tentar entender melhor as demandas do setor de
telecomunicações, principalmente internet, evidenciou que antes de qualquer política de
cunho fiscal ou tributário, a principal necessidade é a garantia de serviços de suporte em
telecomunicação de qualidade. Nesse sentido, ele indica que o poder municipal possui
gravíssimas restrições, por envolver uma política nacional de telecomunicações regida pela
Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL.
A fala do Entrevistado 10, entretanto, contraria a percepção do Entrevistado 9 ao
trazer luz às medidas mais recentes do município. Para o primeiro, existe uma
complexidade de ações e vocações possíveis em uma base territorial maior, como é o caso
do polo de Juiz de Fora, e por isso é difícil criar um único recorte para o seu
desenvolvimento: “Então você cria faróis para destinarem um caminho”. Para tal, faz-se

81
Iniciativa desenvolvida em 2014, com o objetivo de estabelecer a articulação entre o estado e a sociedade
civil, nas suas mais variadas organizações, em cada um dos 17 territórios, bem como entre as instituições,
atualmente lotado na Secretaria do Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG).
193

necessário elencar ações de curto prazo, com indicadores e metas, o que de fato não ocorria
na cidade: “Então como a gente não sabe pra onde ir, a gente fica parado, e de vez em
quando coisas esbarram na gente.” Prova disso surge ao se analisar o arcabouço legal do
município, cujos componentes não conversam entre si e são frutos majoritariamente de
projetos que visavam atender as demandas de um setor específico, que se pretendia reter
por meio de subsídios, porque “por alguma coincidência esbarrou na gente”. Em suas
palavras:
“Então você tem, por exemplo, uma lei específica para fomentar o setor
metal mecânico. Juiz de Fora eu te falo tem realmente uma vocação para
metal mecânica porque a gente está hoje no eixo de transporte de minério
e a gente tem gasoduto passando pelo nosso centro industrial. Então a
gente tem como receber essa demanda, e a gente está ampliando a
participação na matriz de empresas de metal mecânica. Você tem a
CODEME, AÇOTEL, ABRAFER que foram instaladas recentemente
aqui na cidade, mas você não criou uma indução de desenvolvimento
ampla. [...] Não está se estudando que cidade que eu quero ter daqui a 10
anos. Você criando uma demanda passiva, você cria um arcabouço legal,
no caso se isso for possível, e retém essa empresa aqui. Então acontecem
algumas dissoluções, por exemplo, você visita uma dessas empresas de
metal mecânica e realmente existe um grande número de funcionários.
Elas são importantes para o município, é até um setor que a gente
pretende aprofundar. Mas essa empresa precisa de mão de obra
qualificada. O escritório de projetos dela não fica em Juiz de Fora, fica
em Belo Horizonte. Mas eles mandam o projeto pra cá e montam aqui. O
ideal é que ficasse aqui em Juiz de Fora também. Você poderia ter criado
um estímulo também para que os negócios de diferenciação, no caso de
pesquisa e tecnologia, projetos, ficassem aqui. Como a gente não tem o
ICMS casado com a pesquisa e desenvolvimento, ela vai preferir ficar em
Belo Horizonte, porque em Belo Horizonte vai ter uma reposição de mão
de obra maior do que aqui”.

Um ponto comum identificado entre a percepção do Entrevistado 11 e do


Entrevistado 8 é de que, embora Juiz de Fora concentre consistentes serviços na área de
educação, e principalmente relacionados à formação superior, ainda não é capaz de formar
especialistas. Embora essa informação pareça incompatível com a percepção do
Entrevistado 10 e do diretor de inovação da UFJF (entrevistado do segundo grupo), existe
uma sutil diferença entre as suas falas: os dois primeiros defendem que o expressivo
número de faculdades disponibiliza um volume de mão de obra qualificada que o território
não consegue absorver. No entanto, as empresas do mesmo território e as de fora, que
estudam em nele se instalar via INDI, carecem de especialistas. Com o emprego de
palavras diferentes, essa observação se relaciona com a fala do Entrevistado 2, entre
outros, sobre o papel “invisível” dos pesquisadores e dos centros de pesquisa das IES. Em
194

resumo, a vertente de ensino dessas IES forma, em grande quantidade, profissionais


qualificados, mas apenas a vertente pesquisa, forma especialistas de fato.
Em contrapartida, o Entrevistado 10 aponta uma iniciativa de prospecção direta,
que supostamente trabalharia esse processo de forma mais induzida. Motivado pela busca
de investimentos públicos em um cenário cada vez menos propício à inovação, percebeu
oportunidades de acesso por meio da Agência Nacional do Cinema (ANCINE), que possui
um projeto para incentivo a Arranjos Produtivos Regionais, mais precisamente de cinema,
fotografia e desenvolvimento de jogos. Tendo identificado o direcionamento da maior
parte dos municípios para o primeiro, como também o ascendente mercado consumidor de
jogos eletrônicos, selecionou esse arranjo para induzir com políticas públicas correlatas,
além da parceria com a UFJF, prevendo um longo horizonte de planejamento, além de
dificuldades de contingenciamento:
“Antes mesmo de eu começar a prospectar o negócio eu busquei a UFJF,
porque a formação no Brasil nessa área ainda é lenta, a maioria são
cursos livres, a gente ainda não tem muitas faculdades de jogos
eletrônicos no Brasil, nem cursos técnicos. Eu acredito que se as
universidades federais não entram em campo vai ser muito difícil uma
universidade privada querer abrir esta frente. O poder público no Brasil
vai sofrer por falta de musculatura, na medida em que a perna é curta.
Então eu tenho um projeto de desenvolvimento de combustíveis
renováveis acontecendo, que tem uma demanda grande; eu tenho o varejo
do dia a dia que é a autorização para início de negócios, cessão de
terrenos, principalmente de política antiga que é um passivo gigante; e,
além disso, eu ainda tenho que encaixar esse projeto, com uma equipe de
17 pessoas. A UFJF sofre muito com esse problema também, é uma falta
de musculatura muito grande.”

Já a definição das vocações econômicas do território da Zona da Mata pelas


instituições de apoio, fomento e intermediação nele inseridas, o divide em três redes de
inovação bem definidas, coexistentes, conforme apontado anteriormente, mas que pouco se
comunicam, sendo elas: Leite e Derivados/ Cafeicultura/ Agricultura em geral; Serviços
em Saúde/ Educação; e, Tecnologias da Informação/ Comunicação. De acordo com o
Entrevistado 12:
“O projeto da saúde foi desenhado pelo SEBRAE junto ao agente de
inovação, e dentro dele existem várias ações, desde o diagnóstico do
setor, que vai incluir um determinado número de empresas que vão ser
entrevistadas e vão ter toda a parte de gestão trabalhada. Bem como vão
ter também outras ações de transbordo. Uma delas que a gente está
propondo é justamente interligar o pessoal de tecnologia, o pessoal de
negócios e o pessoal da saúde. Isso tudo para fazer networking, para fazer
a economia girar. Porque a gente percebeu que hoje o CRITT desenvolve
tecnologia para área da saúde, mas os diretores de hospitais, médicos e
195

tudo mais, não sabem que esta tecnologia está sendo desenvolvida aqui. E
muitas vezes, por não saber, eles acabam contratando tecnologia em outro
lugar. É justamente para fazer este desenvolvimento local mesmo.”

O Hub Minas Digital, supostamente, ajudaria na execução desse projeto, uma vez
que se destina a ligação entre startups (no caso de TIC) com grandes empresas (como as do
setor de saúde). No entanto, por falta de recursos humanos, especificamente mais agentes
de inovação, esse projeto ainda não foi desdobrado para a região, assim como alguns
outros do Minas Digital. Na realidade atual, as demandas tecnológicas das grandes
empresas do setor precisariam ser encaminhadas para a unidade do hub de Belo Horizonte,
do mesmo modo que as ofertas das startups para a solução das mesmas, o que nunca
ocorreu por esse meio.

Para o Entrevistado 10, no entanto, a percepção do setor de serviços em saúde como


provável vocação econômica da cidade é “quase boa”, mas contém uma falha grave: a
contratação desses serviços demanda alto poder aquisitivo. Do contrário, o seu ticket
médio82 tende a cair, até que chegue a ser deficitário. Para ele: “Juiz de Fora poderia ter um
setor de serviço rico se o entorno fosse rico. Mas quem consome aqui é pobre. A Zona da
Mata está entre as piores regiões no ranking de desenvolvimento de Minas”. No entanto, a
cidade recebe habitantes de inúmeros municípios para tratamentos de saúde. Segundo ele,
apesar de contar com cerca de 600 mil habitantes, a cidade possui 2 milhões de carteiras do
SUS cadastradas.

Na sua visão, a resolução nesse sentido beira o utópico. Para o setor hospitalar,
principalmente, o ideal seria buscar soluções que agreguem o desenvolvimento tecnológico
e o setor industrial, além da mera prestação de serviços sem valor agregado.

“A gente é sim um polo de serviços em saúde, mas a gente não tem, por
exemplo, um braço em pesquisa e desenvolvimento, de tecnologia e
inovação em saúde. Então a saúde se restringir em serviço não é
necessariamente um polo de desenvolvimento. E é natural que a gente
seja um polo em serviços de saúde, porque a gente polariza uma região de
dois milhões de habitantes, tanto no serviço público de saúde quanto no
privado. Evidente que você pode pegar essa energia e concentrar esforços
para que ela tenha algo maior, que abranja outras áreas, que é o que hoje
tem se debatido. Até a UFJF quer criar aqui um polo de pesquisa e
tecnologia para a indústria médica. Mas a Becton Dickinson está aqui há
quanto tempo? 60, 70 anos. Por que a gente não virou ainda? Agora a
gente está tomando essa decisão. O que eu acho é que não foi uma
decisão tomada com base em diagnóstico. Foi uma decisão por

82
Na literatura sobre negócios refere-se ao valor médio de vendas por usuário.
196

observação, pura e simples. Se eu tenho aqui um serviço que é muito


utilizado na região, se eu tenho aqui uma universidade federal já
constituída há muito tempo também, eu vou utilizar essas duas forças
para atrair outro setor que eu não tenho que é pesquisa e tecnologia na
área farmacêutica, ou tecnologia de ponta para produção de softwares e
hardwares para cirurgia, para atendimento médico. E ai eu vou fazer a
transferência tecnológica da universidade para o setor produtivo. Então
eu não estou falando que isto não é bom, mas não sei se posso chamar
isso de vocacionamento, eu acho que a questão é essa”

Já na percepção do Entrevistado 13, o perfil conservador do empresariado da Zona


da Mata pode se justificar pelo processo de colonização de Minas Gerais, que se iniciou na
região em função das condições naturais favoráveis à produção de café (mais ao norte do
território) e leite e derivados (mais ao sul). Nestes dois casos, no entanto, ele observa
rumos diferentes quando se trata de inovação. No caso da cafeicultura, em um passado não
muito distante, atribuía-se ao produto da região uma qualidade inferior a de outras
localidades. Por essa razão, buscou-se a adoção de tecnologias mais ligadas à qualidade do
café. Por outro lado, as dificuldades dos produtores de leite referem-se mais a
produtividade.
Nesses casos, os maiores produtores dedicaram-se a investir em mecanismos que a
aumentassem, enquanto que os menores vêm perdendo competitividade nesse setor. Indica
a falta de visão desses últimos quando observa que as características das pequenas
propriedades, bem como do mercado no entorno, são favoráveis ao redirecionamento da
sua atuação para a fruticultura. Adicionalmente, a população rural em geral está
envelhecendo, e enquanto o café, alvo das iniciativas de exportação, se mostra uma opção
interessante para os jovens produtores, a pecuária do leite não apresenta as mesmas
expectativas de sucessão. O Entrevistado 14 acrescenta nesse sentido, que as empresas do
setor que permanecem atuando estão muito estabelecidas, o que acaba impedindo que
novas adentrem e oxigenem o mercado regional.
A percepção diversa da vocação do território da Zona da Mata em parte se justifica
pelo fato de que a maior parte das instituições de apoio, fomento e intermediação do
território se localizam exclusivamente em Juiz de Fora, que é mais direcionada ao setor de
saúde e educação, e que concentra o maior número de startups na área de TIC. Muito da
compreensão dessas instituições, com exceção da EMATER e do SEBRAE (por conta da
sua maior capilaridade) e consequentes ações, não consideram as especificidades de outros
microterritórios, como Muriaé, Cataguases e Ubá, onde a primeira vocação econômica
citada indiscutivelmente prevalece.
197

Isso pode ser ilustrado, por exemplo, pelo envolvimento da prefeitura de Juiz de
Fora em algumas das iniciativas promovidas pelo agente de inovação do território. O
recente evento JF Inteligente, com a finalidade muito próxima da do Hub de Inovação,
embora pontual, envolveu a Secretaria de Desenvolvimento de Juiz de Fora, o apoio do
agente, entre diversas outras instituições, como o CRITT e o SEBRAE. Estes dois últimos,
inclusive, são apontados pelo Entrevistado 12 como importantes fornecedores de
diagnóstico mais aderente às demandas locais. Todavia, o mesmo não ocorre com outros
microterritórios.
Na Zona da Mata, embora se defenda que a atuação do agente de inovação seja
imparcial na alocação dos recursos e divulgação dos programas da SEDECTES por todos
os microterritórios, é notório que, pela falta de mão de obra, entre outros, alguns setores e
regiões são mais apoiados que outros. Neste caso, os problemas de assimetria informativa
sobrepõem os de conflitos de interesse (melhor explanados na seção seguinte). Os agentes,
pela falta de um diagnóstico oficial e alcance, agem por suposição sobre que programas se
aplicam a região, e quais setores podem ser considerados estratégicos, por vezes até
mesmo negligenciando outros tão ou mais relevantes (principalmente no caso dos arranjos
produtivos locais prioritários). Desse modo, o acesso aos recursos disponibilizados pela
secretaria via agente depende, quase que exclusivamente, da proatividade dos
demandantes. Mas o Entrevistado 12 acrescenta que a falta de uma cultura mais inovadora
por aqueles, desperta a rejeição por qualquer iniciativa idealizada pelo estado ou a
exigência de soluções prontas.
O Entrevistado 10 acredita que, em parte, isso se deva à baixa integração entre as
esferas municipais, estadual e federal. Na sua visão, nenhuma delas se ocupa do
mapeamento das vocações regionais:
“Vou pegar a SEDECTES, ela não veio aqui, o secretário ou
superintendente não vieram aqui... Do mesmo jeito que eu olhei o
cardápio de serviços do Ministério da Cultura e o planejamento deles para
os próximos anos tentando encaixar algum desenvolvimento em longo
prazo aqui em Juiz de Fora, o contrário não é feito. A gente tem, por
exemplo, o projeto da Macaúba, ligado a agricultura, mas só que de base
tecnológica. O beneficiamento do seu subproduto emprega o
conhecimento de algumas patentes de tecnologia. Além disso, você
precisa de conexão com TI, envolve uma série de tecnologias,
instituições, muita coisa que passa a anos luz do conhecimento da
SEDECTES [...] E aí eu falo com relação ao planejamento estratégico da
SEDECTES: um modelo de nação que eu quero ter para uns 20, 30 anos
vai ter que ter uma diretriz transversal à instância federal, estadual e
municipal. Então primeiro tenho que ter uma diretriz pactuada. A partir
do momento que eu pactuei diretrizes com todas as instâncias e a
198

iniciativa privada, eu vou criar um plano de ação estratégico. E esse plano


de ação vai ser quebrado em ações, responsáveis, metas e indicadores.”

Principalmente em função das deficiências observadas na atuação dos agentes de


inovação da SEDECTES, se fortalece no território a atuação de duas instituições: o
SEBRAE e a EMATER. Ambas possuem em comum, e se distinguem das demais, por
duas características: capilaridade (possuem unidades em quase todas as cidades do
território) e suas lideranças, como demonstrado no Quadro 6, que atravessaram governos
estaduais e municipais sucessivos mantendo as mesmas pessoas no cargo por mais de dez
anos. Por essa razão, foi possível perceber claramente que ambas incorporam de fato o
papel de disseminadores das ações governamentais e não governamentais, possuem muita
credibilidade ao olhar das instituições e organizações, e conseguem diagnosticar as
demandas e potencialidades dos microterritórios isoladamente.
As ações do SEBRAE localmente se dividem em duas vertentes claras: a execução
de políticas que estimulam direta e indiretamente a inovação em micro e pequenas
empresas (mas também extrapoladas para outros tipos de organizações, como cooperativas
e instituições de ensino) e o apoio ao desenvolvimento dos ecossistemas de inovação.
Apesar do órgão se dividir em três níveis de atuação distintos (federal, estadual e
municipal), inclusive tendo a Unidade de Acesso a Inovação e Sustentabilidade situada em
Belo Horizonte como norteador, possui autonomia ao se articular localmente, integrando as
políticas de instituições como UFJF, IFSudeste e as devolutivas dos Fóruns Regionais.
O Entrevistado 15 sinaliza que por essa razão, e diferente do verificado ao nível
estadual, as suas entregas em cada programa são muito bem definidas (com início, meio e
fim claros). Adicionalmente, o Entrevistado 16 destaca que, em função de uma recente
normativa, a instituição agora pode atuar como sócia de empresas, aportando capital
semente, a exemplo do proposto pelo SEED. Porém, e novamente em função da sua
capilaridade, bem como da cultura enraizada pouco impactada pelas mudanças no governo,
isso tende a ocorrer de modo mais eficaz. Nas palavras dele: “É o papel atribuído ao
SEED, só que o SEBRAE já está capilarizado e enraizado. A estrutura que é o mais difícil,
a gente tem. Vai passar governo, entrar governo e a gente vai estar lá”.
A despeito disso, como já observado, os programas da SEDECTES não são
desdobrados no território de forma eficiente, o vínculo das unidades locais com os
programas ocorre pelo SEBRAE de Belo Horizonte, mas apenas quando julgado
apropriado. Nas palavras do Entrevistado 15:
199

“O SEBRAE de Belo Horizonte claramente não vê o território da Mata


como um ecossistema de inovação maduro para desdobrar tudo. Mas eu
também reconheço isso. Fora isso há outras regiões com movimentos
mais consistentes que a Zona da Mata. Eu acho que se têm atores capazes
de promover a indução desse ecossistema, são as instituições de ensino e
pesquisa (como está acontecendo no norte do estado, na região sul e em
BH).”

Em razão principalmente da capilaridade, aliada à credibilidade do SEBRAE ao


nível local, a visão da vocação econômica, das potencialidades e deficiências da região da
Zona da Mata por parte do mesmo entrevistado é muito clara:
“Hoje nós temos polos muito claros: móveis em Ubá, piscicultura
ornamental na região de Muriaé, o café em Manhuaçu, suinocultura em
Ponte Nova. O setor primário prevalece nas melhores estruturas
econômicas da região. Algum setor de serviços, a educação e a saúde têm
tido um trabalho forte de sustentação econômica no cenário daqui. Mas
falando de indústria, há boas espalhadas pontualmente pelo território.
Não há APL, mas indústrias isoladas. Os laticínios são muito
pulverizados, eles estão muito enfraquecidos aqui na Mata, a
produtividade é baixa, inclusive. É uma região que precisa achar
alternativas. O setor de serviços pode ser, mas por outro lado faltam
políticas claras de desenvolvimento para esses setores. A nossa região foi
muito atacada nos últimos anos pelos nossos estados vizinhos. A redução
do ICMS nos municípios beneficiados pelos royalties de petróleo fez com
que muitas empresas saíssem daqui e fossem para o Rio de Janeiro. E não
houve uma outra política que não fosse tributária, que de fato pudesse
contribuir com o desenvolvimento desses polos aqui na região. A
pecuária talvez seja o setor mais enigmático. Nós temos grandes institutos
de pesquisa, como a EMBRAPA, a EPAMIG, representada pela Cândido
Tostes, o IFSudeste de Rio Pomba, que têm uma capacidade muito
grande de geração de conhecimento, mas a bacia em si é muito frágil, a
produtividade dela é muito baixa. O que se destaca não é nem a produção
de leite, mas a genética empregada na reprodução de bovinos, isso é uma
coisa que pontualmente tem se destacado em algumas regiões aqui,
Guarani, Goianá, Coronel Pacheco. Mas muito pequeno para produzir um
trabalho de desenvolvimento maior. As startups de TI estão crescendo,
mas a passos mais lentos do que eu vejo em outras regiões de Minas. O
setor de saúde se desenvolve por iniciativa dos empresários, porque não
tem nenhuma política pública para o setor também não. O que se destaca
no setor de saúde aqui? É que nós temos empresas, em Juiz de Fora, não é
que têm clínicas de ponta, com inovação, melhores equipamentos, mas
elas têm hoje um equipamento físico grande, em crescimento. Inclusive
se relacionam com centros de pesquisa, como no caso da Maternidade
Santa Therezinha e da Suprema83. Isso por iniciativa dos empresários, que
inclusive gerem hospitais de outras regiões, como Rio, Belo Horizonte,
Contagem, Betim. Reconhecidamente como empresários gestores. E isso
tem promovido o crescimento dessa área, a excelência em alguns pontos
como cirurgia plástica em Ubá. No caso do leite, a baixa integração com
os reconhecidos institutos de pesquisa pode se dever ao perfil do

83
Faculdade de Ciências Médicas e da Sáude de Juiz de Fora.
200

empresariado local, formado por pequenos produtores sem muita visão.


Mas também a falta de um programa que efetivamente insira essas
instituições no desenvolvimento da bacia leiteira, intermunicipal. A
EMATER é um trabalho extensivo, de assistência técnica, capacitações,
mas pelo menos nas discussões em que eu participo, ela não trabalha no
desenvolvimento da bacia leiteira ou da piscicultura. Eles fazem o
trabalho de extensionistas muito bem feito, ataca a empresa rural, mas
incapaz de discutir aqui políticas de desenvolvimento.

Inclusive, é evidente em diversos momentos dos relatos a expressiva relação entre


as duas instituições, principalmente na ponta (apoiando cooperativas e pequenos
produtores). De um modo geral, a ação do SEBRAE é mais diversificada, e por isso,
também atende as necessidades dos setores de serviços e de TI, enquanto a EMATER se
dedica exclusivamente ao setor primário, embora se utilize indiretamente da influência dos
setores intensivos em conhecimento para promover melhorias na produtividade e qualidade
dos processos dos seus assistidos, bem como da própria empresa. Um exemplo se encontra
na fala do Entrevistado 16, sob a ótica do SEBRAE:
“A gente tem muito projeto em parceria com eles. Como um projeto de
café lá em Manhuaçu que faz parte da nossa regional. A EMATER está
direto lá com a gente, nós entramos com a parte de gestão e inovação e a
EMATER entra com a parte técnica. Quando a gente monta o projeto
com os empresários, o empresário precisa da parte técnica também e a
gente quando pode puxa a EMATER. E quando tem algo relacionado a
mercado, de qualificação, de cooperativa eles nos chamam também”.

No SEBRAE, em função da sua visão mais abrangente de todo território, a


priorização dos projetos ocorre de forma significativamente embasada, mais com foco nas
potencialidades do que nas vocações. Segundo o Entrevistado 15, a vocação pode até
figurar como um sinalizador inicial das ações, mas também se fazem necessários
elementos mais consistentes, como capacidade de mobilização, vontade empresarial e
perspectivas de políticas de desenvolvimento. Cita como exemplo o setor de cervejaria
artesanal em Juiz de Fora, indicado como potencialidade pelo Entrevistado 12. Para ambos,
há pouca articulação empresarial, tais empresários muitas vezes atuam fora da legalidade, e
por essa razão, não há perspectivas de crescimento, embora a vocação seja evidente. Para
de fato identificar as potencialidades, o SEBRAE conta com a participação de empresários,
prefeituras, entre outros atores no diagnóstico e planejamento dos programas, além de
levantamentos aprofundados quando necessário.
Para análise da atuação da EMATER, em função da maior distribuição das suas
gerências na região analisada, verificou-se a necessidade de realizar entrevistas com
201

representantes de três microterritórios distintos, a saber: Juiz de Fora, Cataguases e Muriaé.


Em todas as três entrevistas, embora se defenda o papel da instituição mais direcionado a
assistência técnica a pequenos produtores rurais e extensão (por meio de uma equipe
técnica própria distribuída por quase todas as cidades), observa-se claramente a ponte
realizada entre o conhecimento produzido pela academia e os técnicos extensionistas. Isso,
naturalmente, varia de gerência para gerência, em razão das potencialidades de cada
microterritório, bem como da proximidade de instituições de ensino e pesquisa afins.
Pode-se destacar a próxima relação entre a unidade de Muriaé com o campus rural
de agroecologia do Instituto Federal da mesma cidade, de todas as unidades com a
EMBRAPA Gado de Leite, EPAMIG (em especial ao Instituto Cândido Tostes, de Juiz de
Fora) e UFV. O mesmo, no entanto, não é verificado com o CEFET de Leopoldina e as
universidades estaduais de Carangola e Ubá, cuja oferta de cursos não se encontra
desenhada de acordo com a demanda explícita ou pelo perfil de atuação mais difuso. Em
vários momentos ressaltam, no entanto, que houve um enfraquecimento nessas relações
mais recentemente, atribuído principalmente à falta de recursos das instituições de
pesquisa, inclusive para os eventos de divulgação das pesquisas. O Entrevistado 13 aponta
como razão para essa vulnerabilidade, a dependência dos recursos do governo, por parte
dessas instituições, enquanto que parte do orçamento da EMATER é oriundo de outras
fontes, como convênios com prefeituras, ministérios e prestação de serviços para a
iniciativa privada.
Outra observação recorrente na fala das três gerências refere-se ao cuidado com o
tipo de conhecimento e tecnologia que é levado pelo técnico extensionista aos produtores.
Eles observam que nos casos em que se tentou aplicar o resultado pronto de uma pesquisa
nas propriedades, sem a compreensão prévia das reais necessidades dos produtores
(technology push), houve baixa aderência e desperdício de recursos. Por conta disso,
priorizam o envolvimento dos pesquisadores assim que as demandas dos produtores são
levantadas, de modo que as soluções sejam desenvolvidas conjuntamente. Por essa razão,
apontam os Institutos Federais (sobretudo os de Rio Pomba e Muriaé) como fontes de
conhecimento mais aplicado que a UFJF, por exemplo. Também sugerem que essa relação
possui a historicidade como componente forte, já que parte dos IF são continuidade das
tradicionais escolas agro técnicas da região, tendo por isso formado boa parte dos técnicos
da empresa.
202

Além disso, em alguns casos, a vocação mais específica dessas instituições


promove a adequação das soluções em escalas menores, o que é especialmente importante
nesses casos. Na fala do Entrevistado 17:
“As universidades têm um papel importante também na geração de
informações técnicas que vão ser retrabalhadas com os agricultores, mas
essencialmente o que a gente vê é a falta de interlocução com as
necessidades da base, para que se faça uma pesquisa dentro da realidade
desses povos. Porque não dá para pensar em inovação com os povos do
campo só de cima para baixo. [...] Por outro lado, muitas vezes a solução
não está nas empresas ou nas entidades que a gente se relaciona
diretamente. Eu fico imaginando o tanto de conhecimento que tem dentro
das universidades de Juiz de Fora e que a gente não tem acesso, muitas
vezes por falta de conhecimento mesmo.”

O mesmo entrevistado aponta essa maior articulação como necessária para o


aquecimento do setor de leite e derivados. Observa que a localização das principais
instituições de ensino e pesquisa ligadas ao setor em Juiz de Fora pode, de certo modo,
distanciá-las do lócus de aplicação do conhecimento produzido (no caso, os demais
microterritórios). Ele também percebe que o município, de perfil mais industrial, comercial
e de serviços, acaba ofuscando naturalmente esse transbordamento. Acredita que a
articulação promovida pelos fóruns regionais e pelo programa Alianças Estratégicas como
positiva nesse sentido, sobretudo por ambos considerarem as demandas da sociedade civil,
uma vez que identifica que alguns municípios possuem poucas associações de porte.
Outro ponto comum e relevante entre o SEBRAE e a EMATER é a existência de
uma unidade central, em Belo Horizonte, responsável pela definição de um plano
estratégico para as instituições, bem como seu desdobramento para as unidades locais. No
caso da EMATER, em acordo com as vocações econômicas e potencialidades percebidas.
Porém, assim como no SEBRAE, a proximidade dos atendidos, das lideranças políticas e
institucionais locais influencia a adaptação do plano a cada realidade, garantindo assim que
não haja um engessamento. Ainda que na maioria dos casos a proximidade das
representações locais seja vista como positiva, é notório que pode comprometer a
apropriação do conhecimento, quando a autonomia de ação por vezes confina o
conhecimento na figura de uma pessoa e nas relações condicionadas que ela estabelece ao
longo do tempo.
Exemplo disso é mencionado pelo Entrevistado 17, que enfatiza a autonomia do
técnico extensionista na busca por soluções nas próprias instituições de pesquisa, o que a
princípio é visto como mais assertivo e ágil. Evidentemente, há na EMATER a
203

preocupação com a disseminação do que é aprendido nas reuniões periódicas entre os


técnicos, coordenadores, gerentes e equipe técnica interna, além da realização de eventos
com a participação de todos os atores envolvidos.
Por fim, quanto aos aspectos relacionados ao monitoramento e fiscalização, na
SEDECTES, onde também se inclui o portal SIMI, o Hub Minas Digital e a coordenação
dos agentes de inovação, o primeiro restringe-se essencialmente à prestação de contas
quanto ao uso dos recursos, e não propriamente sobre a efetividade desse uso frente aos
resultados dos programas. Em função da destinação de 1% do PIB do estado à FAPEMIG,
em tese (sendo 40% direcionado à SEDECTES), o acompanhamento do seu emprego é
realizado pela própria Fundação e pela SEPLAG (Secretaria de Planejamento e Gestão),
por meio de relatórios que apenas indicam o que foi realizado e o que não foi diretamente
com a SEPLAG, tal qual ocorre nos Fóruns Regionais. Nas palavras do Entrevistado 1:
“Tentei em 2015 fazer dois planejamentos estratégicos, fui impedido.
Eles não querem planejamento estratégico. Nunca trabalhei em um lugar
que não queria planejamento estratégico. Metas, ações, responsáveis e
tudo mais. Então não se mede. A FINIT, por exemplo, teve 70.000
pessoas, que legal. Houve 150 encontros de startups com grandes
empresas, que legal. Tinha bastante palestrante, tinha, então foi um
sucesso. O impacto de fato não é medido.”

Segundo o Entrevistado 2, os critérios empregados pela FAPEMIG para o


monitoramento das iniciativas são essencialmente o financeiro e o impacto causado na
sociedade. Como impacto, é esperado que a valorização dos talentos do estado fosse
perceptível, uma vez que em um momento de desemprego, o foco é capacitar pessoas.
Mas, em um olhar mais amplo, também reforça que com a falta de um plano, aliada ao
grande volume de ações desencontradas, é difícil medir efetivamente o que de fato
funcionou. O mesmo ponto de vista é compartilhado pelo Entrevistado 7: “Para você
monitorar e fiscalizar você precisa ter algo pra monitorar e fiscalizar. Se você não tem uma
ação coordenada, um programa, o que você vai monitorar?”.
No caso das instituições de intermediação e apoio, uma dificuldade apontada pelos
Entrevistados 3, 11, 14 e 15, é mensurar a efetividade das ações, uma vez que justamente
pelo papel de conexão, nem sempre possuem acesso aos resultados das parcerias.
Adicionalmente, o último também defende a falta de um plano que direcione as métricas
perseguidas: “Os empresários e instituições aqui não conseguem promover esse
desenvolvimento, desmotivados em partes por atuarem descolados de uma diretriz maior”.
204

Para o caso da EMATER e do SEBRAE, alguns entraves de monitoramento, a


despeito do forte desdobramento do planejamento estratégico já apontado, refere-se
essencialmente à dificuldade em se mensurar as melhorias na qualidade de vida dos
pequenos produtores e empresários, foco das suas atuações, que envolvem um conjunto
complexo e subjetivo de variáveis.
Como exemplificado pelo Entrevistado 3: “Quando você fazia a conexão entre um
pesquisador e a empresa, depois que eles davam a mão não falavam mais o que aconteceu.
Se gerou negócio, inovação, não tem como você mensurar.” Atualmente, o impacto dessas
ações é verificado por “feeling”, principalmente com base na intensidade de participação
dos territórios nos eventos promovidos em Belo Horizonte. Porém, de acordo com o
Entrevistado 4, que atuou como gestor de avaliação e monitoramento em uma das equipes
do SIMI entre 2011 e 2015:
“No SIMI do passado, como o foco principal era colocar universidades e
empresas em contato, a gente acompanhava essas interações depois de
um tempo, a gente tinha uma metodologia, fazia entrevistas estruturadas
por telefone, 3, 6, e 1 ano após. É importante pra gente, mas ainda não
temos o mesmo hoje, porque está tudo sendo retomado”.

Por outro lado, em instituições a exemplo da RMI, cujo escopo de atuação é mais
claro e de certa forma mais preservado, o monitoramento é muito importante. Junto ao
SEBRAE, e parcialmente financiada pela SEDECTES, foi desenvolvida uma metodologia
para acompanhamento das incubadoras e parques pelo antigo governo, mantida até então.
A plataforma criada para divulgação desses dados, a INOVADATA MG, se encontra ativa
e é administrada pela UFV. É importante destacar que essa ferramenta, no entanto, não foi
mencionada por nenhum dos demais entrevistados.
Já de acordo com o Entrevistado 10, além dos critérios e indicadores externos,
amplamente divulgados para situar os municípios comparativamente, não existe hoje na
prefeitura metas e indicadores vinculados a cada ação específica, como no caso do projeto
de diesel verde, o que considera necessário para atrair parceiros. Naturalmente, quanto
mais complexo o projeto, mais sensível é atribuir os seus impactos, a exemplo das
melhorias socioeconômicas. Para o momento, admite: “Tudo nosso é indicador macro, só
que é um trabalho muito grande, porque não adianta elencar indicadores menores se você
não vai conseguir acompanhar”.
Já quanto à fiscalização, a falta de um ator com tal responsabilidade dedicado a
cuidar das iniciativas de cooperação entre as instituições, principalmente, permite que os
papéis das mesmas sejam incorporados de acordo com interesses de ocasião. Claramente,
205

isso pode favorecer atitudes oportunistas, uma vez que não se sabe o que deve ser feito,
também não se sabe o que não se deve fazer. Ainda que por desinformação, instituições ou
organizações de fora do estado podem recorrer primeiro ao SIMI que ao INDI para se
conectar com as de Minas, inclusive sendo atendidas. O que significa, no mínimo,
desconsiderar a missão da segunda instituição.
Na esfera municipal o Entrevistado 10 também admite não ser possível garantir a
inexistência de atos oportunistas, sobretudo nos recentes projetos que envolvem diversos
players. Como alguma garantia de prevenção, sinaliza a existência ainda possível de um
funcionário da prefeitura exclusivamente dedicado à administração dos diferentes
interesses e centralização da informação, como referência para os demais. No entanto, isso
não garante a apropriação do conhecimento caso esse mesmo funcionário se desligue da
prefeitura (o que é comum nas mudanças de gestão). Especialmente nesses momentos, os
projetos mais longos se mostram mais sensíveis a assimetrias de informação, e
consequente oportunismo. O ideal, a seu ver, é que a administração pública consiga
institucionalizar os processos bem como delimitar critérios para a atuação dos players.
Segundo o entrevistado, a gestão pública caracteriza-se por essência pelos ciclos, que
conflitam diretamente com essa institucionalização, mas que por outro lado, é um meio de
garantir democraticamente as renovações.
No caso das instituições mais capilarizadas, os conflitos de interesse são mais bem
contornados pelo perfil político dos seus representantes que atuam por muito tempo na
função e que, por isso, garantem a credibilidade necessária. Isso inclusive reforça a
importância do tempo nas relações, apontado na literatura como um dos fatores principais
para a minimização desses conflitos. Para eles, as iniciativas explicitamente ligadas ao
governo, a exemplo dos fóruns regionais, quando conseguem alcançar as instâncias
municipais, costumam sofrer rejeição por questões políticas e partidárias, bem como em
função da crise de credibilidade que permeia a cultura do brasileiro em geral.

4.1.2. Capacidades Político-relacionais

Ao nível estadual, em 2015, foi sugerida a criação do Grupo de Tecnologia e


Inovação na SEDECTES, cuja intenção era a de reunir, a cada dois meses, representantes
da RMI, BDMG, SEBRAE, FIEMG, INDI, entre outros, para dialogar e compartilhar suas
206

ações junto à secretaria. De acordo com o Entrevistado 1 tal iniciativa funcionou em um


primeiro momento, mas foi se enfraquecendo ao longo do tempo em função de conflitos de
interesse e ego: “Alguns atores acharam que “Não, agora não preciso mais” e aí o
SEBRAE falou “Não, já que é assim vamos fazer o nosso projeto”, a FIEMG “Ah, já que é
assim, vamos fazer o nosso””.
Para o Entrevistado 5, que participou pessoalmente de algumas dessas reuniões,
embora o discurso fosse de integração, as mesmas tratavam basicamente da discussão
sobre a agenda da SEDECTES, sem participação ativa do grupo na sua construção: “A
gente levava algumas coisas para pauta, mas elas não eram de fato inseridas”. Também não
contavam com a participação de representantes de muitas instituições externas.
Com a falta de algo que de algum modo integrasse esses atores, as suas diferentes
demandas chegavam à secretaria de forma desarticulada. Antes da crise orçamentária, isso
resultava em dispêndios de recursos pouco efetivos, duplicidade de ações e até mesmo
competição entre as instituições. Após a crise orçamentária do estado, foi flagrante a
necessidade de novamente planejar em conjunto. Em maio de 2017, foi criada a Trilha
Mineira de Inovação (TMI), intencionando estimular a cooperação entre as mesmas
instituições e mapear as suas ações e resultados em todos os territórios. Porém, dessa vez,
orquestrada pela coordenação do Portal SIMI que, atuando como organização, de certo
modo isentaria as decisões da influência de algum ator em específico.
No mesmo período, representantes da SEDECTES fizeram um benchmarking em
Portugal onde conheceram o projeto Portugal 2020, um acordo de cooperação entre o país
e a Comissão Europeia para promoção do desenvolvimento do país. Para tal, foi contratada
uma empresa de consultoria que cuidou, durante dois anos, do seu planejamento e
implantação. Entre outras ações, chamou a atenção o claro mapeamento dos papéis de cada
entidade no ecossistema de inovação do país e, posteriormente, todos os recursos
disponíveis foram concentrados nessas entidades, em acordo com esses papéis. O rápido
resultado positivo estimulou que os representantes da secretaria e da FAPEMIG buscassem
uma consultoria similar em Israel.
Com a vinda da consultora israelense a Minas Gerais foram realizadas entrevistas
com diversos agentes da indústria, academia e governo. Como resultado foi proposto, em
2018, o projeto MOVEM (Movimento pela Nova Economia Mineira), ainda em fase de
planejamento e mobilização. Em acordo com o Entrevistado 6, diretamente envolvido na
idealização do projeto, nesta fase estão sendo delineados seus cinco pilares norteadores, a
saber: startups, cooperação, internacionalização, capacitação e acesso a capital.
207

No entanto, o pouco conhecido sobre esta proposta, em tudo se assemelha a já


existente Trilha Mineira de Inovação, que atravessa o processo de formalização dos
acordos de cooperação. Segundo o Entrevistado 3: “Precisou vir alguém de fora pra falar:
olha, vocês têm muita coisa, só precisam criar uma linha lógica e estratégica de atuação”.
O Entrevistado 2 reforça: “Num país que tem um plano, a missão das instituições está
conectada ao plano, é um só e todo mundo conhece. [...] Na ausência, vocês não criam um
ecossistema, mas ecossistemas”.
Por essa razão, atualmente, as ações da TMI e do MOVEM se confundem, o que é
perceptível quando verificado que nenhum dos entrevistados soube apontar quem e o que,
de fato, é responsável por essa articulação. Mas, a tendência, segundo o Entrevistado 3, é
de que a TMI passe a integrar o MOVEM, e o SIMI assuma esse papel mais claramente.
Isso porque ainda que o mesmo esteja lotado em uma das superintendências da
SEDECTES, conseguiu perpassar pelos governos garantindo alguma autonomia.
Para o Entrevistado 5, é muito difícil que haja atualmente uma entidade capaz de
articular os interesses de todas as instituições. Por outro lado, aponta que existem muitas
pessoas no ecossistema de inovação mineiro responsáveis pelo movimento e que querem
fazer as coisas acontecerem, em suas palavras, “pessoas que fazem a diferença”. Menciona
o SEBRAE, atores do próprio governo, das representações empresariais e o presidente do
BDMG, que inclusive puxou para si a responsabilidade pela TMI. Ele vê como estratégico
que a trilha não fique nas mãos do governo “por conta dessa probabilidade terrível das
coisas morrerem”.
As vaidades e divergências culturais são apontadas pelo Entrevistado 1 como
entraves para a continuidade de todas as três ações supracitadas (GTI, TMI e MOVEM),
em especial para a última, em função das frustrações com as anteriores, assim como a falta
de um responsável legitimado por todos os agentes para essa função:
“Então a ideia é mapear quem é quem em Minas e fazer um plano de
Estado, e não de Governo. Tirar todas as vaidades das instituições e fazer
um plano de governo para Minas. Tem que ter uma governança. A atual
liderança não é unânime. Por que é que o SEBRAE, a FIEMG com um
novo presidente, BDMG, vão participar do MOVEM, tendo a governança
dessa liderança, que está saindo do governo? Então, acho eu que há um
problema de credibilidade, tem que ter uma liderança.” [...] Aqui tem que
ser alguém que todos falem: Você vai ser esse. Se a governança não for
legal o MOVEM morre na maternidade. E aí eles estão lutando, vamos lá,
Trilha Mineira não é. Agora tem que ser o MOVEM. Mas o MOVEM é
uma ideia boa, fantástica, a governança tem que ser bem cuidada. Precisa
de alguém orquestrando pelo menos no começo. Cada um tem suas
atividades. A FIEMG não vai parar para trabalhar no MOVEM. Tem que
ter uma governança por enquanto.”
208

O MOVEM, sob a ótica do Entrevistado 2, é um movimento orquestrado por


pessoas, não por instituições. Por essa razão, é esperado que o governo, ou qualquer ator
voltado para a sua gestão, ingresse em um segundo momento, para viabilizá-lo, quando
suas diretrizes estiverem mais bem delineadas. Antes disso, enxerga como necessária a
prévia organização de uma malha social verdadeiramente interessada. O próprio SIMI, cuja
origem contou com a sua motivação pessoal, não por acaso já levantava essa bandeira
quando se pretendia desvinculado do governo. Porém, na percepção Entrevistado 5 o
movimento trata mais de uma iniciativa do governo que da própria TMI, uma vez que
foram os representantes daquele a visitarem Israel e convidarem a consultora, além de não
ter certeza sobre a efetiva participação de outros atores envolvidos na Trilha. Para o
Entrevistado 2, em seu entendimento aquela não funcionou como o pretendido, porque
depende de uma mudança natural, abrangente e gradativa:
“Você vai criando essas possibilidades e elas vão evoluindo. Um dia,
quem sabe, a gente consegue emplacar. Porque os governos desde sempre
são formados por pessoas que vão para lá não é para criar MOVEM, é
para criar fortuna. Você tem um CONECIT (Conselho Estadual de
Ciência e Tecnologia) formado por pessoas, algumas comprometidas com
o desenvolvimento, outras não; outras por uma questão de oportunidade.
Não pode perder a esperança. Todos os movimentos no mundo que deram
certo começaram na sociedade civil, o governo não começa nada. Pode
ser que mais adiante alguma instituição orquestre; hoje você não tem
clima para mais nada no governo. O governo é movido pelas forças da
sociedade, que precisa se articular (instituições, organizações, etc). O que
o empresariado mineiro até hoje correu atrás? De fechar mercado (o que
se evidencia na atuação de instituições como CNI e FIEMG). O
empresariado mineiro quando vota num deputado é para fechar o
mercado. A governança tem que nascer com a necessidade.”

Para o Entrevistado 7, a descontinuidade das iniciativas de integração não se trata


apenas de um problema relacionado ao perfil dos gestores das instituições, mas comum às
áreas de ciência e tecnologia. Os conceitos ligados à mesma, a exemplo do SRI, são úteis
para explicar, mas não instrumentalizam. Ainda assim, durante muito tempo funcionaram
como balizadores de políticas públicas. O próprio caso do BDMG e da CODEMIG é
empregado para ilustrar esse apontamento. O papel da segunda é aportar capital paciente
em empresas que desejam se instalar em Minas Gerais (equity), enquanto que o banco
oferta crédito. Mas, em razão dos problemas de coordenação, ambos os agentes atuam de
forma bem integrada, porém desarticulada da secretaria: “Com a CODEMIG o banco
consegue conversar, agora a SEDECTES é de fato “A SEDECTES””.
Em outra discussão, a fraqueza na relação com a SEDECTES é evidente. O INDI,
instituição financiada pelo BDMG, Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais
209

(CODEMGE84) e CODEMIG, assume formalmente, entre outros papéis, o de promover o


investimento e o comércio exterior no estado, articulando para isso os setores público e
privado. Para tal, conta com a colaboração de um comitê especificamente dedicado a essas
questões, no qual a SEDECTES possui representação. Porém, o Entrevistado 8 destaca que
a atuação da secretaria ocorre de modo pontual, apenas quando questões relacionadas à
provisão de conhecimento científico e de tecnologias são consideradas como critério
relevante para a prospecção de empresa ou centro de pesquisa, o que não ocorre com
frequência, conforme destacado na seção anterior.
No mesmo sentido, o Entrevistado 18 aponta o vazio de diálogo. Ele indica que a
SEDECTES, assim como as outras secretarias, participou de alguns eventos do projeto dos
fóruns no início, mas que atualmente a sua participação não é efetiva. Isso fica ainda mais
evidente quando se observa que o secretário executivo dos fóruns na Zona da Mata
desconhece a existência do agente de inovação do mesmo território.
No caso do Fórum, o mesmo ocorre com as instituições de ensino e pesquisa e as
empresas locais, que não possuem representação no conselho criado com representantes da
sociedade civil para conduzi-lo localmente. Essa observação vai de encontro ao defendido
pelos envolvidos no MOVEM: o governo atua em acordo com o que é reivindicado. No
caso das IES, quando verificada a necessidade de dada competência para solucionar uma
demanda deste conselho, essa solução é encaminhada a subsecretaria de Ensino Superior
(lotada na SEDECTES), ou outras secretarias em acordo com a demanda, responsável por
apontar as fontes mais relacionadas, processo esse muito parecido com o realizado pelo
agente de inovação e comentado adiante. Porém, e como já apontado diversas vezes, a
compreensão das competências de cada território por parte da secretaria é muito rasa, o que
resulta, novamente, na concentração da busca por soluções na RMBH. O programa
Alianças Estratégicas, já mencionado, é apontado como uma solução recente para
capilarizar essas soluções, usando para tal algumas das demandas do Fórum nas suas
reuniões. É importante destacar novamente, que nenhum membro da SEDECTES
entrevistado possui conhecimento sobre esse programa.
Do mesmo modo, os Fóruns são apontados pelos Entrevistados 8, 13, 15, 17 e 19
como importante fonte de informação acerca das demandas e ofertas locais, embora não
reconheçam a sua atuação enquanto articulador. Já a participação dos governos municipais

84
Desmembramento recente da CODEMIG, criada para cuidar exclusivamente dos royalties oriundos da
extração de nióbio.
210

nessas discussões varia em função de restrições políticas, sobretudo em termos de


divergências partidárias e dos tipos de demandas levantadas.
O baixo envolvimento das universidades em todas as iniciativas de integração é
endossado pelo Entrevistado 2, que destaca apenas a tímida participação da UFMG. Na sua
visão, não há expectativas de envolvimento das IES atualmente, porque as mesmas estão
lidando com as suas próprias crises e reajustamentos. Mas até mesmo para o seu papel em
um plano maior, é necessário que haja prioridades. Essas instituições até então nunca
foram diretamente imbricadas com o desenvolvimento, restringindo-se a formar pessoas. O
estado absorveu por certo tempo, mas não é mais capaz. Por essa razão, o seu modelo de
desenvolvimento também é posto em cheque.
Em contraste, é possível perceber que nos casos onde a relação entre as instituições
de apoio, fomento e intermediação com as IES ocorre, a despeito desses movimentos, as
segundas acabam por atuar como uma garantidora da continuidade de diretrizes e ações de
gestão para gestão. Isso ocorre na RMI, por exemplo, que sempre contou em sua
presidência e conselho com representantes da academia. No entanto, o caso onde isso é
mais notório é no BDMG, cujo presidente é professor titular da UFMG, na área de
desenvolvimento regional, e pesquisador em economia da inovação. Por essa razão,
desenvolveu uma área de estudo permanente no banco, orientada por professores do Centro
de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da UFMG. De acordo com o
Entrevistado 7:
“Existe uma sinergia e um fluxo constante de conhecimento entre o
CEDEPLAR e o BDMG, independente dos governos. Os diretores
sempre são buscados no CEDEPLAR. Em dado momento houve uma
descontinuidade nesse grupo de estudos, mas que foi revertida. Não por
acaso, o BDMG fez 55 anos e o CEDEPLAR, 50. O CEDEPLAR foi
criado por iniciativa de funcionários do BDMG. Então o risco de ruptura
estratégica é menor.”

No entanto, o mesmo não ocorreu com o extinto PII, que contava com a articulação
das IES e o SEBRAE. De acordo com o Entrevistado 15, o programa se perdeu mesmo
gerando resultados muito positivos. Isto ocorreu porque, quando o governo parou de
investir os recursos necessários, as IES acreditaram que esses recursos deveriam passar a
ser providos pelo SEBRAE, que passava por dificuldades financeiras. Também defende
que não seria interessante para ambos dar continuidade a um projeto percebido como não
prioritário pelo governo.
211

Como já mencionado, ações ligadas à TMI coordenadas pelo Portal SIMI


continuam sendo realizadas, sem aparente conexão com o projeto MOVEM. Um mapa
atualizado e interativo (para atualização pelos próprios atores distribuídos por Minas
Gerais) se encontra em processo de execução, de modo a identificar os agentes do
ecossistema de inovação, bem como suas atividades (apontado por diversos atores como
necessário, na seção anterior). De acordo com o Entrevistado 3:
“A gente apresentou esse mapa na reunião da TMI e o pessoal ficou
encantado, porque não existe nenhum repositório que mostre o cenário do
estado. Geralmente, por exemplo, o estado de Minas liga solicitando a
informação de quantas startups têm no estado, não tem como a gente
pontuar. Eu consigo pontuar através do meu mapa que tem o Hub Minas
Digital com um senso das startups, o senso dele aponta que tem x
startups no estado. Incubadoras, eu já consigo ter uma visão geral por
causa da RMI, que é uma instituição que atua diretamente com esse foco.
Então o mapa também vai auxiliar essas instituições e também acredito
que a Zona da Mata, pra gente ter uma visão do ecossistema de lá. Então
cada instituição do estado vai poder se utilizar do mapa do SIMI para
criar o seu repositório de gestão do conhecimento.”

Na visão do Entrevistado 2, integrante da TMI, esta fracassou:


“A TMI teve um momento importante de mostrar que nós precisamos de
uma cadeia, isso está demonstrado. Tentamos fazer com que o BDMG
assumisse, ele não pegou, porque não estão lá para isso. O MOVEM
nasceu sem cabeça, a trilha nasceu com cabeça. Os papéis podem se
confundir, mas não vejo isso como um problema. Nós estamos em uma
fase de tentativas e erros. A trilha morreu, porque não é tarefa da
secretaria e da FAPEMIG fazer algo dessa magnitude, nós não temos esse
mandado, quem tem esse poder é o governo. Se esses dirigentes máximos
não se envolvem, não tendo um plano, nem o movimento na cabeça, a
gente vai fazendo pelo movimento civil. A diferença do MOVEM é que a
gente buscou saber por que a trilha não funcionava: “egossistemas””.

O Entrevistado 8 admite, por exemplo, que o INDI não se envolve efetivamente nas
políticas de CT&I do estado. Sua representatividade na TMI restringe-se basicamente aos
casos em que existem critérios de cunho científico e tecnológico nas decisões de
investimento. Os atores da trilha, dessa forma, se articulam para tratar cada situação
pontualmente. Porém, o papel de cada um não é enxergado claramente, o que sob sua ótica
não implica em grandes dificuldades, uma vez que suas demandas são atendidas por
qualquer um que se interesse em fazê-lo.
Assim como ocorre quanto ao aparente esvaziamento das iniciativas ligadas a C&T
mencionadas na seção anterior, também se percebe em alguns relatos o ceticismo quanto
212

ao interesse dos gestores de cada instituição em trabalhar conjuntamente. Nas palavras do


Entrevistado 1:
“São mundinhos diferentes, como vinagre, óleo e água. Não se misturam,
porque têm interesses diferentes, timing diferentes. É um tal de jogo de
vaidades, diferente de um país na Europa, que é pequeno, tudo junto,
misturado. Não sei se num caso pequeno como na Zona da Mata tem
esses núcleos que não se misturam, mas aqui, falando de estado, e demais
instituições, enfim, cada um cria projetos concomitantes, eu tenho um
projeto aqui, o próprio “Meu primeiro negócio” bate com um mundo de
projetos do SEBRAE e da FIEMG. Cada um tem um, que é a mesma
coisa. [...] Também eu achava que o GTI ficaria tão forte que, ao nos
reunirmos a cada dois meses, a gente conversaria “Olha, eu estou
querendo fazer um projeto para o Norte de Minas”, o estado vai fazer
isso, a FIEMG isso, o BDMG isso. Olha que legal. Mas desfaleceu-se e
agora que se quer criar um MOVEM, não se acredita mais nessa
integração. Dependendo do governo que entrar, consiga fazer.”

O mesmo “jogo de vaidades” é mencionado pelo Entrevistado 4:


“O que eu percebo é a vaidade das instituições. A sensação que eu tenho
é que não é todo mundo por uma causa. Acabam fazendo coisas que
competem ou batem de frente. Tem muita vaidade entre pessoas, cargos,
os chefes pensam de forma diferente. Eu acho que a vaidade inclusive é a
responsável pela assimetria de informação.”

O Entrevistado 6, embora concorde que o grande volume de iniciativas não se


comunica no estado em função das falhas de comunicação (assimetria informativa), ego e
competição (conflito de interesses), também defende a ideia de movimento, bandeira do
MOVEM, como uma solução nesse sentido. Na sua visão, a racionalidade nas ações tende
em algum momento a superar as questões de ego. Mas para que tal racionalidade ocorra,
novamente enfatiza a necessidade de uma proposta de valor clara, além de pessoas atuando
como articuladoras chaves. Não por acaso, o presidente da FAPEMIG, inúmeras vezes
mencionado como “comandante discreto” está à frente da ação, ainda que não
declaradamente.
A mudança nas agendas das instituições, muito comuns nas trocas de gestão (como
acontecido recentemente na FIEMG) também é vista como causadora da dificuldade de
integração e recorrente descontinuidade dos programas. Muitos projetos desenvolvidos em
parceria entre instituições se perderam quando uma nova gestão, ao assumir, redirecionou
as estratégias da instituição, e também alterou a configuração das equipes internamente,
fazendo com que as conexões (entre pessoas) construídas também se perdessem. Por outro
lado, o Entrevistado 3 acredita que ações como o GTI, a TMI e o MOVEM podem atenuar
esses efeitos, porque o grupo, se bem estruturado, pode funcionar como garantidor dos
213

interesses comuns, a despeito das mudanças pontuais: “As diretrizes do grupo que são
levadas em consideração para se executar as ações. O conhecimento que está ali continua”.
O Entrevistado 3 também indica que, contornadas as dificuldades de planejamento
supracitadas, a burocracia (em termos de tramitações jurídicas) verificada no desenho dos
acordos de cooperação torna-se o principal entrave para a sua execução. O estado e as
instituições são muito grandes, e isso envolve uma expressiva burocracia para azeitar os
acordos, além da burocracia de cada instituição, para ele: “Dentro da trilha o papel de cada
uma é bem definido, a questão é mais burocrática e jurídica”.
O Entrevistado 5, que na trilha atua como sinalizador dos ambientes de inovação do
estado, destacando a competência presente nos mesmos para apoio a empreendimentos
inovadores, corrobora com esse argumento:
“A gente assinaria um termo de acordo, mas desde o início da instituição,
sempre tem um órgão que tem algum problema jurídico e esse termo não
foi assinado até hoje. Se eu não me engano tem uns cinco meses,
acontece uma reunião a cada mês que tem na pauta a assinatura do termo.
Num primeiro momento foi a FAPEMIG, depois passou para o SEBRAE,
hoje é a FIEMG que está amarrando o termo. Ela já tinha aprovado, mas
como houve alteração de governança, pode ser que isso tenha impactado
de alguma forma. Há uma forte pressão, inclusive do governo, porque se
entende que isso de alguma forma pode manter as ações que estão sendo
desenvolvidas no estado.”

A falta, até o momento, de um mapeamento consistente das competências


existentes em todo estado faz com que a busca de colaboradores para a criação dos
conteúdos do Portal SIMI seja feita com base nas redes de relacionamento estabelecidas
informalmente, muito concentradas na RMBH. Os agentes de inovação da secretaria,
anteriormente mencionados, também teriam, segundo o Entrevistado 3, a incumbência de
sinalizar essas competências, além de divulgar os benefícios do mesmo, junto aos outros
programas. No entanto, defende que o número de agentes é muito reduzido para promover
o fluxo eficaz das informações nos dois sentidos. Nas palavras do Entrevistado 12:
“Hoje só há um agente na Zona da Mata para tocar todos os projetos.
Sejam eles os que vêm de Belo Horizonte, sejam eles os apoiados dentro
da cidade. Por exemplo, hoje a gente está trazendo um processo de
aceleração em Juiz de Fora, em paralelo a gente tem o projeto Meu
Primeiro Negócio que está iniciando nas escolas, o Startup Universitário
que está em implementação também. Então acaba que são muitos projetos
em paralelo para uma pessoa só”.

Por essa razão, diante da necessidade de expertise específica para a implementação


de um projeto no território, é comum que o agente solicite a coordenação de Belo
214

Horizonte que a providencie, ou a busque restritamente em sua rede de contatos pessoais. É


importante lembrar que, como mencionado anteriormente, a identificação das
competências acontecendo na coordenação central do mesmo modo, ou seja, lançando-se
mão do networking informal, novamente o processo fica concentrado nas instituições de
Belo Horizonte. Mas, também se identificou que o perfil dos agentes de inovação, que em
sua maioria é de jovens universitários ou recém-formados, não se adequa às características
verificadas em um knowledge broker. A baixa idade e o pouco acesso às instituições e
organizações, por vezes implicam em descrédito por parte dos gestores das mesmas, como
verificado na fala do Entrevistado 12:
“E uma segunda dificuldade que eu colocaria também seria a do acesso às
grandes empresas. Eu tenho que fazer todo um caminho, conseguir algum
contato dentro da empresa, ele me direcionar a alguém do escalão
superior, apresentar todo o projeto para várias pessoas e assim chegar a
alguém que tenha poder de decisão. E, basicamente, eu teria que fazer
isso empresa por empresa. Existem algumas entidades que facilitam
como a Agência de Desenvolvimento, Câmara de Dirigentes Lojistas, só
que esse contato entre o estado e essas instituições esta em
desenvolvimento, mas ainda pode melhorar muito. Ainda não é efetivo.”

A dificuldade de atuação do agente de inovação do território também é percebida


pelo Entrevistado 15:
“A comunicação é muito ruim. Essa articulação, mesmo com o agente, é
muito restrita e não produz nenhum efeito de mover o ecossistema
inovativo aqui. Eles não têm networking, não têm entrada nos vários
organismos daqui. Muitas vezes você não os vê participando de
discussões oriundas de iniciativas locais, mas mais das que partem do
governo do estado. Eles são porta vozes dos programas do governo, não
das iniciativas locais. O ideal seria, mesmo que uma pessoa, que tivesse
essa interface com os agentes, o conhecimento do território, do papel das
instituições, as empresas e startups, para conseguir adequar a realidade
do território a esses programas. O SEBRAE, por sua capilaridade,
isenção, histórico independente e consolidação de networkings, oferece
isso. Hoje tem mais dificuldades do que no passado de fazer essa
articulação, mas por falta de diretrizes de atuação. Mas, faltam recursos
humanos para desempenhar esse papel de agente de inovação, mas
mesmo se isso fosse possível, precisaria de diretrizes claras.”

Essas deficiências na atuação do agente de inovação e a necessidade de integrar as


esferas estatal, acadêmica e da iniciativa privada de algum modo no território impulsionou
a criação de outros arranjos com essa finalidade, capitaneados por gatekeepers naturais e
“discretos”, a exemplo da Agência de Desenvolvimento de Juiz de Fora e Região
(ADJFR), do GDI Mata, da Agência de Inovação de Leite e Derivados, antigo Polo do
215

Leite, e agora desvinculada no governo estadual, e do recém-criado Conselho Municipal de


Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação (Comdeti), em Juiz de Fora.
A ADJFR, fundada em 1997, é atualmente presidida por um empresário local do
setor de serviços em saúde, mas conta em sua diretoria de inovação com o coordenador do
GDI, que também é o diretor de inovação da UFJF e do CRITT (que essencialmente atua
como catalizador das competências demandadas pelas empresas afiliadas, o que ainda não
ocorre com frequência). Segundo o Entrevistado 11, ela age em prol do desenvolvimento
da região facilitando a relação entre organizações afiliadas. No entanto, sua atuação não se
restringe ao universo empresarial, o que fica evidente quando destaca que a mesma possui
assento no conselho superior da UFJF, além de acesso formal a prefeitura municipal de
Juiz de Fora.
Em sua fala, o Entrevistado 11 demonstra ter se preocupado logo na sua posse com
a relação que a Agência estabelece com outras instituições de finalidade semelhante, a
exemplo da FIEMG, do Centro Industrial e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), bem
como com uma possível redundância nas ações. Ainda que todas busquem o
desenvolvimento, sua questão era: “Até que ponto elas são redundantes? Até que ponto são
complementares? Até que ponto são sinérgicas? Até que ponto são rivais?”. O intuito,
segundo ele, era garantir uma aproximação sinérgica e inteligente da Agência, além da
demarcação do seu escopo.
Quanto à inserção da Agência no ambiente de C&T do território, menciona a
criação de dois comitês, o de Startups e Tecnologias e o de Sustentabilidade Ambiental. Na
sua visão, a necessidade do primeiro surgiu quando identificado um perfil muito
tradicionalista nas empresas afiliadas. Em sua experiência atuando na gestão hospitalar,
recorrentemente precisa executar prospecções de startups capazes de gerar soluções para
as grandes empresas do ramo, e deduz que essa demanda não se trata de uma
especificidade do mesmo. É importante destacar que o seu objetivo muito se aproxima das
atividades do Hub de Inovação, bem como do projeto mencionado pelo agente de inovação
em parceria com o SEBRAE local, nesse caso direcionado ao setor de saúde.
Para além, traz à luz algumas falhas de diagnóstico das administrações centrais: em
várias ocasiões o território é apontado como ainda despreparado para as iniciativas que
visam ligar startups a médias e grandes empresas locais; o agente de inovação do território
se dedica, junto ao SEBRAE, a um projeto cuja finalidade é a mesma do Hub Minas
Digital, que o próprio ainda não trouxe para o território; o SEBRAE de Belo Horizonte não
considera estratégico para a Zona da Mata uma ação que o SEBRAE do território vem
216

articulando. No entanto, é interessante observar que na ADJFR não é habitual que essa
prospecção seja feita dentro das IES, mas caso haja a necessidade, o canal principal seria o
CRITT, e mais propriamente seu diretor que é integrante da Agência.
Esse mesmo diretor de inovação da UFJF, do CRITT e da ADJFR, também figura
como um dos fundadores do GDI Mata, cujo papel é delimitar e coordenar as iniciativas de
colaboração entre as universidades, instituições de pesquisa e empresas da região. O grupo
tem dois anos de atuação e sua coordenação geral é composta, além da UFJF, pela
EPAMIG, EMBRAPA, Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e
Extensão (FADEPE), IFSudeste, a prefeitura de Juiz de Fora e o SEBRAE. Em diversas
ocasiões das entrevistas com representantes das instituições locais, o grupo é apontado
como a iniciativa mais eficiente para a integração do ecossistema de inovação do território
atualmente.
Não por acaso, o diretor de inovação da UFJF defende que a motivação para a sua
criação se deu com a identificação do papel estratégico que essa IES apresenta tanto na
aproximação com setores tradicionais, aumentando a sua competitividade, como na
germinação de atividades novas que, para além das vantagens locacionais da cidade,
podem se desenvolver. Nota-se que a diversificação do portfólio da instituição, apontado
em outros momentos como barreira para a interação, nesse caso é vista como positiva, ou
ao menos como tradução da pluralidade inerente de vocações percebidas na cidade.
Para o Entrevistado 10, o GDI é o primeiro passo de um processo maior. Em sua
visão, representa um ganho de cooperação gigantesca nos últimos anos e aponta que o
diretor de inovação da UFJF é um dos responsáveis por isso, o que é reforçado pelo
Entrevistado 15, quando percebe os ganhos, sobretudo na transferência de tecnologias. Não
é difícil perceber, inclusive, que este diretor é quem melhor assume o papel de knowledge
broker da região atualmente. Como segundo passo, o Entrevistado 15 aponta como
necessário um trabalho focado nas empresas, que as ajude a identificar dentro do portfólio
de conhecimento e tecnologias locais, presentes nas instituições de pesquisa e startups,
aquelas passíveis de incorporação. Portanto, atribui também ao GDI o papel de alinhar o
intangível ao tangível. Reconhece que esse trabalho é bem mais difícil, e envolve a criação
de um ferramental capaz de garantir essa prospecção o que, segundo o diretor de inovação
da UFJF, já vem sendo desenvolvido por meio de um aplicativo pelo departamento de
Ciência da Computação da universidade.
O Entrevistado 17 também menciona o GDI como articulador de uma ação
importante para a instituição: o registro de indicação geográfica do queijo minas artesanal.
217

Essa iniciativa, segundo ele, envolveu via GDI instituições como EMBRAPA, EMATER,
EPAMIG, SEBRAE e as prefeituras dos municípios que concentram a produção desse
queijo. No momento, os papéis ainda não estão definidos, mas considera importante o
envolvimento dessas instituições desde o início, prevendo contribuições relevantes, como a
execução de análises de mercado pelo SEBRAE, levantamentos das peculiaridades dos
processos e característica do próprio queijo pela EPAMIG, entre outros.
Já o Entrevistado 15, outro membro fundador do grupo, informa que a atuação do
GDI possui um limitante: ele articula, mas não possui recursos próprios para fomentar,
dependendo para tal dos recursos das instituições envolvidas (que atravessam crises
financeiras diversas). Uma alternativa levantada junto ao SEBRAE foi a de levantar capital
com a prestação de serviços, porém essa ação precisaria de um responsável formal, o que
ainda não ocorreu. Também ao nível local, observa-se a falta de clareza nos papéis como
fator determinante, se não para a descontinuidade de ações, pelo menos para o seu
enfraquecimento:
“Sem uma política clara de desenvolvimento do ecossistema, as entidades
não conseguem se enxergar dentro dos processos inovativos. Os esforços
ficam segmentados, fracionados, espalhados, sem muita força de produzir
resultados mais efetivos na região. O GDI ainda não conseguiu atingir o
papel ao qual propôs e está caminhando com dificuldades para isso. A
própria EMBRAPA não tem participado muito dessas discussões. Os
Institutos Federais, apesar de serem muito participativos, ainda são muito
incipientes nisso, diferente de um CRITT que já está ali há anos, que tem
toda uma estrutura física. Os demais são incipientes. O forte daqui
mesmo é a UFJF. A EMBRAPA e a EPAMIG entram pouco nessas
discussões, produzem inovação, óbvio, mas a busca ocorre muito pelo
pesquisador, mas uma coisa muito pontual, no contexto de assistência
técnica. Atuam de forma muito isolada, fracionada. As universidades
estaduais são inexistentes no processo de inovação.”

Já o Comdeti, criado em julho de 2018 e presidido pelo secretário municipal de


Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de Juiz de Fora, trata-se da
reformulação do antigo conselho de desenvolvimento econômico do município, suspenso
em 2017, depois de identificado que setores ligados à tecnologia e inovação não possuem
representatividade no desenho das políticas públicas elencadas pela prefeitura. Tal
Conselho é composto por 24 entidades, paritárias na representação pública e privada.
Em entrevistas realizadas pouco antes da criação desse Conselho, o Entrevistado 10
admitia que as ações da prefeitura referentes à C&T eram pontuais, e as relações
restringiam-se essencialmente a projetos em cooperação com a UFJF. Segundo ele, esses
projetos eram oriundos de demandas passivas, recebidas por agentes externos, onde a
218

prefeitura atuava criando superfícies de contato com a localidade. Uma exceção trata-se da
Plataforma de Querosene Renovável da Zona da Mata, que combina o emprego de duas
tecnologias em desenvolvimento na Inglaterra e na Alemanha, e que foi de fato mapeada
por um gestor de projetos interno e prospectada para a cidade. Essencialmente, o projeto
conta com o uso de insumos que a região possui em abundância, no caso os resíduos do
tratamento do rio Paraibuna e a biomassa proveniente da Macaúba, para a produção de
diesel verde. O que ele espera que aconteça a partir de agora, e com iniciativas proativas
como essa, é criar políticas de transbordo, com estudos direcionados por instituições como
UFJF e IF, que forme profissionais e empresas de base tecnológica para atender as
demandas desses negócios, ou até mesmo concorrer com eles.
Inclusive, ele admite que o projeto em específico, vem realizando conexões mais
efetivas entre as instituições do que o GDI isoladamente. Segundo ele, trata-se de uma
estrutura bem articulada, que envolve players complexos como o governo britânico,
Petrobrás, Gol, EMATER, GDI, Institutos Federais, UFJF, UFV, UFMG, Ministério de
Minas e Energia, Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), entre muitos outros.
Curiosamente, ele sinaliza que a produção de diesel verde depende, além da matéria prima
que pode ser produzida na região (Macaúba), de um insumo típico de países pouco
desenvolvidos: a fração orgânica de lixo (resultante do tratamento do rio Paraibuna).
Também ressalta que os papéis das IES são muito bem identificados e distribuídos:
“Você tem a UFJF com a parte de tecnologia da plataforma, você tem a
UFV com a parte de tecnologia envolvida no plantio da Macaúba, a
UFMG com a validação do combustível, ela é uma certificadora nacional,
você tem o IF com o desenvolvimento das tecnologias de manejo e com o
convencimento dos agricultores. Em parceria com esses cursos técnicos a
gente vai criar as UTD (Unidades Técnicas Demonstrativas) para ensinar
as boas práticas de cultivo agrícolas mais rentáveis para o agricultor. O
projeto é altamente tecnológico em tudo, no que você vai implementar de
inovação física, é altamente tecnológico no que você vai transmitir de
conhecimento para mudanças de manejo, em termos de ganho de
eficiência usando o mesmo solo. E ele também tem uma inovação de
cultura, que é você ambicionar projetos de economia circular, todos os
fatores econômicos estão aqui, e eles se retroalimentam, que é uma coisa
nova no Brasil, e é uma cultura que a gente não tem”

O Entrevistado 17 também menciona a participação da EMATER no projeto, bem


como demonstra ciência das suas atribuições. Segundo ele, o papel é essencialmente levar,
junto aos Institutos Federais, o conhecimento acerca do projeto para os pequenos
agricultores, bem como auxiliar na construção das UTD e capacitar os extensionistas para
as ações. Destaca esse trabalho como importante, porque a cultura da Macaúba, embora
219

seja uma planta nativa, não é tradicional na região. Esse fator inclusive promove a
integração específica com as instituições de pesquisa:
“A integração com as universidades se dá com eventos técnicos, visitas
de campo, seminários, simpósios, tanto para conhecer, o que eles têm
para nos apresentar, quanto numa etapa adiante que seria de passar para
os agricultores. Vou te dar um exemplo, nós vamos fazer um seminário
de Macaúba em Lima Duarte. Vem um pessoal da iniciativa privada, da
UFV, o produtor que tem uma prática já no cultivo, inclusive a visita é na
propriedade dele; e vem a parte institucional que é a secretaria de
Agricultura, que é quem embasou, rodou o estado todo, conheceu e vem
apresentar o que eles viram. E é o extensionista que no dia a dia vai fazer
a interlocução.”

Por fim, porém não menos importante, pode ser destacada a atuação da Agência de
Inovação de Leite e Derivados, ainda conhecida no ecossistema de inovação local como
Polo do Leite. De acordo com o Entrevistado 14, o plano estratégico do Polo de Excelência
do Leite, quando era em sua totalidade administrado pela SEDECTES até 2014, já previa a
sua desvinculação gradativa do governo. Todavia, também destaca que desde o mesmo
ano, a sua missão mudou expressivamente. Atualmente, o órgão funciona de modo
parcialmente autônomo o que garante alguma independência dos recursos financeiros da
secretaria (evidente inclusive pelo desconhecimento da atuação do agente de inovação
local até o presente ano):
“Tivemos frustrações por causa das crises, e hoje sobrevivemos muito
mais com os recursos oriundos das consultorias prestadas aos afiliados,
além das anuidades pagas pelos mesmos (30 no total, entre pessoas
físicas e jurídicas). Nós temos um evento, chamado Inovalácteos, onde
também há uma expectativa em termo de patrocínios, mas não muito.
Trabalhamos quase que como voluntários. Em editais, como do BNDES,
tentamos entrar como entidade de apoio junto às instituições de pesquisa
para captar algum recurso.”

O Inovalácteos é apontado pelo Entrevistado 14 como a principal ação desta no


setor. Seu intuito é prospectar tecnologias e ideias, desenvolvidas majoritariamente por
instituições de pesquisa para emprego em indústrias do ramo em todo o país. O principal
objetivo é incentivar iniciativas de inovação aberta entre pesquisadores e empresários,
além de apoiar a busca por investimentos para a continuidade das pesquisas pelos
primeiros. Ele destaca a participação da UFJF com tecnologias ligadas à inovação, internet
das coisas, sensores e testes rápidos para detecção de falhas no leite (principalmente pelos
departamentos de Engenharia Elétrica, Física, Química e de Farmácia), além das
instituições de Viçosa, Paraná e Lavras, mais direcionadas ao desenvolvimento de novos
produtos.
220

Embora, enquanto Agência, esta atenda instituições e organizações de todo o país


indistintamente, o Entrevistado 14 destaca que a localização em Juiz de Fora se atribui às
vocações percebidas nas instituições de ensino e pesquisa da cidade ou próximas, a
exemplo da EMBRAPA, do Instituto Cândido Tostes (EPAMIG), do mestrado profissional
em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados da UFJF e do IF Rio Pomba. Em sua
opinião, o lócus de produção de conhecimento no setor ainda se encontra indiscutivelmente
na Zona da Mata. No entanto, percebe a diminuição da participação dessas mesmas
instituições no Inovalácteos, atribuída a princípio a redução do volume de pesquisas, mas
também reconhece que a instituição possa não estar conseguindo atraí-las. De fato, os
entrevistados dessas instituições tiveram dificuldades em informar sobre a situação da
Agência e se a mesma continuava funcionando.
A cada edição do evento supracitado são selecionadas dez tecnologias para compor
o portfólio da Agência. Porém, ele destaca que ela não vem sendo bem sucedida nas
atividades de transferência às empresas. Aponta que essa situação pode ser revertida com a
recente parceria com a empresa Verde Campo, startup da Coca Cola no setor, e também
pelo Centro de Inovação e Tecnologia (CIT) da FIEMG, que estuda incluir tais tecnologias
em seu portfólio de aceleração. Em razão do baixo nível de maturidade verificado na
maioria das soluções, muitas das parcerias se dão na forma de contratos de P&D, o que em
parte justifica a falta de rastreabilidade dos resultados. No entanto, ele também acredita
que isso se deva a uma característica do próprio setor:
“No início estávamos mais otimistas, com muitas ofertas, mas têm várias
iniciativas de inovação aberta e muitos fundos de investimento para isso,
nós não conseguimos foi atraí-los para o setor. Eu não vejo muita
inovação no setor ainda. Não em novos produtos; mais processos.
Esperávamos o comparecimento de fundos de investimento, mas acho
que eles estão interessados em outros segmentos, com dinâmica mais
rápida. Mas em processos, internet das coisas, o cara desenvolve para
uma coisa e serve para o leite também”.

Também observa como entrave o fato de que as grandes empresas do setor, já


trazem as tecnologias ligadas aos produtos, prontas de fora, ou as desenvolvem
internamente. A indução das práticas de inovação aberta se concentra nos fornecedores de
insumos, a exemplo da Gemacom Tech, fornecedores de equipamentos e eventuais
pequenos produtores. Também aponta o registro de novos produtos como um impeditivo
forte: “Nós estamos sempre a reboque de produtos estrangeiros, a dinâmica da legislação é
outra, mais ágil. Registrar um produto no Brasil na área de alimentos é complicado
demais...”. Também identifica o atraso em termos de infraestrutura, justificado em partes
221

pela dificuldade na importação de insumos e equipamentos, principalmente por parte dos


centros de P&D privados, o que acaba induzindo a adoção de tecnologias prontas. Por
último, cita a desconfiança do pequeno produtor em relação às investidas da academia.
A despeito da escassez de recursos para atuar, aliada a perda de conexões em
função das mudanças de gestão em outras instituições (a exemplo da própria FIEMG), o o
Entrevistado 14 acredita ser a Agência de Inovação em Leite e Derivados a principal
intermediadora dos atores do setor na região. No entanto, e como já mencionado para os
casos das instituições de pesquisa, os atores do setor entrevistados não a reconhecem como
articuladora principal. Justificam, embora também seja estatal, que isso se deva a crise de
moralidade do governo estadual, mais recentemente acentuada. Por outro lado, nesse caso,
isso também pode ocorrer pela sobreposição de papéis e competição entre as instituições.
De acordo com o Entrevistado 14: “Esta agência não substitui o trabalho extensionista da
EMATER, mas sempre procura atuar nos vazios. Isso é importante em uma rede tão densa
de atores. Há muito ego”.
Assim como visto ao nível estadual, ainda não se identifica regionalmente uma
instituição que promova a ligação entre os atores em totalidade. No entanto, enquanto no
estado ninguém parece desejar assumir para si a responsabilidade, no território da Zona da
Mata muitas entidades reivindicam esse papel. Para o Entrevistado 15, o movimento deve
ser endógeno. As próprias instituições precisam entender que precisam desse movimento
para se desenvolver. O GDI supostamente cumpriria esse papel, mas não tem um dono. Na
sua visão, faz-se necessário estimular empresários e representantes da sociedade civil, tal
qual o defendido pelo Entrevistado 2 a respeito do MOVEM. Enquanto isso não ocorrer,
no seu entendimento, haverá o sombreamento de papéis e esforços desarticulados,
redundantes e impulsionados pelas mais diversas motivações: “Igual agências de
desenvolvimento, eu acho que tem muita agência para pouco desenvolvimento”. Tal qual
ocorre na esfera estatal:
“Tem casos em que fazemos um convênio com algumas instituições para
promover o setor x em uma região. Começam as reuniões, definem-se as
diretrizes e faz-se um plano de ação. Até chegar nisso é uma novela. Aí
quando chega a hora de aplicar o recurso, aplicam em coisas que não têm
relação nenhuma com aquele programa, com aquele projeto. Acham que
tem que fazer papel que não deveriam, e aí, muitas vezes, por interesses.
É muito difícil conseguir levar um plano de trabalho de forma isenta,
porque sempre no fundo tem interesses personalizados. As instituições
aqui são personalizadas, interesses de poder provinciano. Aqui os maiores
eventos empresariais não saem na coluna de economia, saem na coluna
social.”
222

4.2.CAPACIDADES DINÂMICAS (INSTITUIÇÕES DE ENSINO E PESQUISA)

Como será possível observar no decorrer desta seção, as instituições de ensino e


pesquisa entrevistadas se encontram em diferentes níveis de desenvolvimento quanto à
gestão da ciência, tecnologia e inovação. Naturalmente, isso se traduz na estrutura de
suporte oferecida e não pode ser desconsiderado. O presente tópico, dessa maneira,
objetiva situar o leitor previamente sobre o organograma desses setores, o processo
empregado na formulação das suas estratégias e políticas de atuação, a missão e papel
percebidos em prol do desenvolvimento regional, bem como a relação que estabelecem
com o governo estadual.
O CRITT (Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia), diversas
vezes mencionado na seção anterior, trata-se do NIT da UFJF, criado em 1995. Ou seja,
antes mesmo da publicação da Lei 10.973 (2004), que determinava a existência desses
núcleos nas universidades. Desde a sua criação, o CRITT atua em três frentes, a saber:
incubação de empresas de base tecnológica, transferência de tecnologias e treinamentos
(setores finalísticos). Além disso, conta com equipes dedicadas aos setores administrativo e
financeiro, de comunicação e marketing, proteção do conhecimento, qualidade, recursos
humanos e tecnologia da informação (setores de apoio).
Na UFJF, a diretoria de inovação e a diretoria do CRITT são centralizadas em uma
só pessoa. Mas, estruturalmente, esse desenho sofreu algumas alterações em razão das
mudanças de reitores, tendo sido na antiga gestão, por exemplo, alocada como um
apêndice da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa. Atualmente, essa diretoria se
reporta diretamente a reitoria, o que garante maior autonomia e articulação externa. Ainda
assim, o atual diretor considera que a inovação não é tratada com a mesma relevância da
tríade pesquisa-ensino-extensão, o que se justifica pela falta de um conselho interno que
discuta a política de inovação permanentemente, tal qual ocorre com a extensão.
Já no IFSudeste, a diretoria de inovação da instituição e o seu NIT, embora também
dirigidos pela mesma pessoa, possuem uma estrutura bem diferente da verificada na UFJF.
Nesse caso, a diretoria é lotada na Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação,
situada em Juiz de Fora, sendo esta subordinada ao reitor e responsável por todos os
Institutos Federais da Zona da Mata (Rio Pomba, Muriaé, Cataguases, Santos Dumont,
Ubá e Juiz de Fora) e de parte de outros territórios próximos. Enquanto na UFJF a unidade
conta com três equipes nos setores finalísticos, no IFSudeste ela é composta por apenas
223

duas pessoas, a diretora entrevistada e um estagiário, responsáveis por cuidar de todas as


questões que envolvem PI, empreendedorismo, transferência de tecnologia, além da
prospecção de parceiros (que depende da figura da diretora e da sua rede de contatos).
De modo muito semelhante, o NIT da UEMG, embora responda diretamente à
reitoria, é centralizado na cidade de Belo Horizonte. Internamente conta com um conselho
diretor, acima da sua coordenação, composto por três pró-reitorias (pesquisa, extensão e
ensino), o próprio coordenador entrevistado e três pesquisadores. Assim como verificado
no IFSudeste, as representações do NIT nas unidades distribuídas pelo estado ainda estão
sendo estruturadas, não havendo nada formalizado até o momento nesse sentido.
Assim como na UEMG, no CEFET existe uma coordenação geral para tratar das
questões mais estratégicas ligadas à inovação na instituição, situada em Belo Horizonte.
Porém, na unidade de Leopoldina entrevistada, há um NIT, chamado CIT (Coordenação de
Inovação Tecnológica), que cuida das atividades de PI, transferência de tecnologia e
incubação de empresas por meio da incubadora Nascente, criada em 2000. O CIT vincula-
se a Diretoria de Pós-graduação e Pesquisa da unidade, enquanto que a Nascente à
coordenação de extensão. Estuda-se unificar essa gestão com a criação de uma
coordenação geral de empreendedorismo e inovação, que reportaria diretamente ao
conselho diretor, em estrutura muito parecida ao que ocorre na UEMG.
Na EMBRAPA a estrutura funcional do setor demonstra-se menos hierarquizada.
Atualmente, existe na unidade de Gado de Leite analisada uma chefia geral e abaixo dela
outras três chefias adjuntas, a saber: de Administração, de Pesquisa e Desenvolvimento e
de Transferência de Tecnologia.
Já na EPAMIG, a coordenação de transferência e difusão de tecnologia responde
diretamente ao Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia de Belo Horizonte
(próximo, portanto, do verificado na UEMG e no CEFET). Segundo o coordenador da
unidade de Juiz de Fora, essa estrutura funciona há cerca de 20 anos. Nesse caso, engloba
as funções de transferência de tecnologia e prospecção de demanda, embora o coordenador
entrevistado considere essa segunda função muito mais importante, negligenciada, e
claramente dependente de um gatekeeper que estabeleça fortes conexões pessoais e que
seja dotado de uma boa visão de negócios.
Segundo o atual diretor de inovação da UFJF, a diretoria tem hoje uma clara função
interna e externa. A interna é de estimular os pesquisadores a entenderem que suas
atividades podem ser convertidas em inovação e colaboração com empresas. A externa é
articular os agentes econômicos e públicos de alguma forma vinculados ao
224

desenvolvimento (como é feito pelo GDI). Ou seja, tem por missão, nos dois eixos, fazer
com que a pesquisa encontre o universo empresarial, por meio de spin offs acadêmicos,
incubação de empresas ou transferência de tecnologias. Vale lembrar que esse mesmo
diretor foi mencionado na seção anterior como principal articulador do GDI, além de
diretor de inovação da ADJFR.
Ele considera que essa atividade é especialmente importante para uma cidade a
muito defendida por gestores públicos e dirigentes empresariais como detentora de uma
suposta vantagem logística: conecta-se em várias malhas (em especial nas ferroviária e
rodoviária) com o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Defende que essa aparente
vantagem, historicamente, comprometeu a sua estratégia de desenvolvimento, sobretudo
quando Juiz de Fora perdeu a condição de “Manchester Mineira” e seu entorno a
relevância na cafeicultura. Quando o mercado regional foi nacionalizado, exatamente por
conta da abertura das vias de contato com as demais regiões, expôs toda fragilidade da
indústria local, mais tradicional (essencialmente têxtil).
Nesse momento, percebe-se a tentativa dos governos em atrair investimentos de
perfil diversos, a exemplo da Becton Dickinson, Facit (fabricante de máquinas de escrever
já extinta), Mendes Junior (hoje incorporada pela ArcelorMittal) e Mercedes-Benz. Em
comum, tais indústrias não conseguiram trazer para a cidade sua cadeia de fornecedores e,
rigorosamente, não fazem qualquer tipo de colaboração com a UFJF. A sua percepção vai
ao encontro da do secretário de desenvolvimento de Juiz de Fora, exposta na seção
anterior, quando demonstra que a falta de uma clara política de desenvolvimento na cidade
fez com que as oportunidades que surgiram fossem aproveitadas indiscriminadamente, e
outras não aproveitadas.
No entanto, a margem dessas ações o referido diretor percebe que ocorreu a
constituição de uma rede de serviços vigorosa, em especial em saúde e educação, para dar
suporte a essas atividades. A UFJF, nesse contexto, assume um papel estratégico, muitas
vezes não percebido por seus membros e pela cidade em sua plenitude. Na sua visão, a
instituição possui hoje condições de aumentar a competitividade das indústrias tradicionais
adormecidas (como as pequenas facções originadas com o enfraquecimento das grandes
indústrias têxteis), lançando mão do conhecimento tácito incorporado na área com seus
departamentos de Artes e Design, Economia, Administração e Química, por exemplo;
como induzir atividades relacionadas ao seu potencial científico e tecnológico, como em
Energia, Engenharias, TI, e Saúde. Com relação em específico a essa última, destaca:
225

“Nós temos uma rede hospitalar que vai muito além da demanda local,
hospitais públicos e privados bem equipados e temos na universidade
todos os cursos importantes para apoiar a produção de equipamentos
médico/ odontológicos e medicamentos que são duas atividades baseadas
na ciência (science based). O que falta pra nós é esse elemento do meio
que é um setor produtivo, porque se tratam de atividades em que o
desenvolvimento do produto depende muito da interação da prática
clínica, o medicamento você precisa fazer os testes, o equipamento se
desenvolve a partir da operação dele na prática clínica”.

A visão do chefe-adjunto de transferência de tecnologia da EMBRAPA, embora


aponte outros setores relevantes, demonstra-se bem próxima em relação ao polo de Juiz de
Fora, onde a empresa se encontra localizada:
“Acho que na Zona da Mata existem algumas microrregiões que têm uma
economia bem clara. Por exemplo, na região de Manhuaçu ali o café é
bem claro; na região de Ubá e os municípios vizinhos é o móvel; e, em
praticamente todas as regiões, o leite. O leite ainda é uma vocação
importante, mas precisamos de um produto de qualidade melhor, um
queijo mais sofisticado. Precisamos de órgãos de governo para ajudar a
gente a pensar nisso. Em Juiz de Fora especificamente, nas cidades
maiores da Zona da Mata, temos educação, saúde, prestação de serviços,
comércio, trabalhos com tecelagem.”

Quando a diretora de inovação do IFSudeste foi consultada sobre as contribuições


da instituição para o desenvolvimento do território, bem como do papel do NITTEC nesse
sentido, esta destaca que a missão dos institutos federais, de um modo geral, é muito bem
definida, que é a de fazer a conexão da pesquisa aplicada com os arranjos produtivos
sociais e culturais das regiões onde se inserem. Ou seja, a sua função na promoção da
inovação é mais clara do que nas universidades, ainda muito focadas na pesquisa básica
(embora isso esteja mudando). Mas, ainda que esse papel esteja formalizado, ela não
percebe internamente essa compreensão, o que não torna os pesquisadores dos institutos
mais empreendedores. Da mesma forma como ocorre nas universidades, existe uma
resistência expressiva por parte destes em estabelecer parcerias externas, o que ela acredita
que ocorra muito em razão de terem tido boa parte da sua formação dentro de ambientes
universitários. Portanto, trata-se de uma questão cultural.
Quanto às funções específicas da diretoria de inovação e do NITTEC, ela destaca
uma atuação importante no âmbito da PI, evidenciada pela colocação da instituição entre as
maiores depositantes de patentes do INPI. Ela também observa que as atividades ligadas ao
empreendedorismo, quando o atual campus de Juiz de Fora ainda era o Colégio Técnico
Universitário (CTU) ligado à UFJF, eram mais expressivas, inclusive contando com uma
226

incubadora de empresas, a InDesign, hoje desativada. Nesse sentido, estuda-se o


lançamento de um programa de formação empreendedora, direcionado ao público interno e
apoiado pela UFJF, UFMG, prefeitura e demais instituições do ecossistema de inovação da
região. Essa primeira iniciativa do IFSudeste oferecerá o diagnóstico necessário para os
próximos passos. Por fim, a área de transferência de tecnologia é vista como um dos
gargalos na instituição, que ainda lida com muitas incertezas jurídicas e com a falta de uma
pessoa exclusivamente dedicada ao levantamento das demandas.
O coordenador do CEFET de Leopoldina entrevistado pontua a evidente relação
entre os projetos dos institutos federais e dos centros federais, nomeadamente o de alinhar-
se a arranjos produtivos locais. No entanto, indica que tal alinhamento pode ocorrer de
modos diversos e, sobretudo sofisticados:
“Aqui, por exemplo, a gente é basicamente uma região da pecuária
leiteira. O agronegócio talvez seja o maior responsável pela arrecadação
do município, mas o CEFET (que tem 31 anos) não possui nenhum curso
voltado para o agronegócio. Os nossos cursos são na área de informática,
mecânica, eletrotécnica, eletromecânica e engenharia de controle e
automação. Então se fossemos seguir essa exigência da aderência, talvez
Cataguases fosse mais indicada para conter um CEFET. Mas hoje nós
estamos quebrando esse mito. Se tem uma área capaz de apresentar
demandas em outras áreas do conhecimento é o agronegócio, que é
totalmente carente de novas tecnologias, máquinas, processos,
automação. Já possuímos parcerias efetivas com a EMBRAPA, já
fizemos visitas técnicas, estamos decididos a quebrar as barreiras
existentes e dialogar com esse setor, que além de demandar muita
tecnologia, apresenta a dificuldade de adaptar e integrar as adquiridas
externamente”.

Não por acaso, a parceria com a EMBRAPA no desenvolvimento de Trabalhos de


Conclusão de Curso (TCC) direcionados à resolução de problemas reais do setor já vem
sendo aplicada no CEFET, sem aparentes entraves burocráticos como verificado no
IFSudeste. Uma possível explicação para isso, que também justifica a não incorporação do
CEFET como instituto federal, é a de que alguns centros se mantiveram, por se
demonstrarem melhor sucedidos em termos de pesquisa aplicada, inclusive com
consolidados programas de pós-graduação, o que os aproxima mais da realidade de
universidades tecnológicas.
Como esperado, a função da UEMG, tal qual a do CEFET, alinha-se a dos institutos
federais quanto ao desejado atendimento as demandas dos setores em seu entorno. Na
visão do coordenador do NIT da UEMG, trata-se de um ponto positivo da instituição, que
segundo ele localiza-se em lugares estratégicos do estado, por vezes sendo a única pública
227

disponível em algumas regiões, o que vê como importante, especialmente para a


distribuição do desenvolvimento. No entanto, quando consultado especificamente sobre as
contribuições das duas unidades da Zona da Mata, em Carangola e Ubá, não soube
determina-las precisamente, o que se deve a baixa relação que estabelecem com ambas.
Ele supõe que na de Ubá, em função da existência de uma escola de design próxima
a uma forte indústria moveleira, o fluxo de conhecimento ocorra mais naturalmente. No
entanto, e conforme mencionado pelo coordenador do SEBRAE na Zona da Mata, isso não
se verifica na prática, sendo a UEMG pouco atuante nas iniciativas de integração na cidade
e no seu entorno. Já o NIT da UEMG, em função do seu perfil centralizado, embora em
tese assuma a função de auxiliar a comunidade acadêmica em tudo o que se relaciona com
inovação, basicamente atua no apoio jurídico aos depósitos de patentes e registros de
marcas e desenhos industriais, ou seja, não acompanha o processo anterior à apropriação (o
desenvolvimento das tecnologias e parcerias de P&D) e nem após (transferências para o
mercado).
O papel geral da EMBRAPA Gado de Leite é notoriamente mais específico.
Segundo o seu chefe-adjunto de transferência de tecnologia, o foco da empresa é o leite da
“porteira para dentro”, ou seja, a produção de leite em todo território nacional. Ele também
destaca que, diferente da época em que a empresa se estabeleceu em Juiz de Fora (há 42
anos), a região não é mais a principal produtora de leite do país. Ainda assim, a sua
pecuária do leite reproduz a variedade de modelos de produção verificada em todo o
Brasil, que vai desde a criação em pasto até a confinada, o que demanda diferentes tipos de
pesquisa.
Quanto ao papel da empresa exclusivamente na região, para além das pesquisas, ele
aponta a realização de eventos para a disseminação desse conhecimento aos produtores
locais, em grande parte em parceria com a EMATER, que essencialmente os alimenta com
informações sobre as demandas dos mesmos. Mas destaca que, diferente dessa empresa,
não atuam apenas voltados aos de pequeno porte. Inclusive, aponta essa característica
como capaz de adaptar tecnologias, a princípio direcionadas aos grandes para uso dos
menores. Essa informação vai de encontro à fala do gerente da unidade da EMATER de
Muriaé, que indica que os pequenos produtores estão perdendo competitividade pela falta
de acesso a tecnologia, sobretudo as capazes de aumentar a sua produção. Para o
entrevistado da EMBRAPA, isso ocorre, principalmente, pelo baixo nível de escolaridade,
que por vezes impacta na capacidade de absorção, o que não necessariamente significa
falta de interesse ou visão.
228

A unidade da EPAMIG em Juiz de Fora é fruto da incorporação (a partir de 1976),


assim como o ocorrido em várias outras instituições do estado, do tradicional Instituto
Cândido Tostes, existente desde 1935. Este instituto foi a primeira escola da América
Latina com vocação laticinista, montada em acordo com o modelo das escolas
dinamarquesas o que, segundo o coordenador entrevistado, justifica sua forte inclinação
mercadológica. No entanto, ele também ressalta que a principal atuação se dava com o
ensino, e que a ênfase em pesquisa só ocorreu após se tornar uma unidade da EPAMIG. O
conflito na percepção interna e das demais instituições sobre o atual papel da EPAMIG
inclusive é muito evidente nas entrevistas, diferente do que ocorre com a EMBRAPA
(claramente dedicada à pesquisa) e a EMATER (claramente dedicada à extensão). Nas
palavras do coordenador da unidade:
“É uma empresa de pesquisa agropecuária (EPAMIG). Só que a nossa
vocação, a vocação da nossa unidade principal é ensino. Mas a empresa
nos cobra pela pesquisa, e não somos reconhecidos pelo ensino. Isso
gerou realmente um conflito: Eu vou me dedicar mais a que? Tenho
vocação do ensino, estou numa instituição que tem a vocação do ensino;
mas eu tenho por obrigação da pesquisa.”

O entendimento conflituoso acerca do papel da instituição aliado a uma


administração excessivamente centralizada, inclusive nas atividades ligadas à PI, na
percepção do seu coordenador, impede quase que em absoluto a autonomia nas ações:
“A gente fica preso, amarrado a algumas demandas e não temos a
liberdade necessária pra expressar o que realmente fazemos; a verdadeira
causa da nossa existência. Um exemplo: em 1949 a Cândido Tostes,
ainda não era EPAMIG, idealizou a “I Semana do Laticinista”. Esse
evento veio crescendo, virou Congresso Nacional de Laticínios, já
albergou uma série de eventos, mas sempre sendo um evento técnico e
científico. E, num dado momento, por razões mais políticas do que
técnicas, a coordenação do evento foi transferida para Belo Horizonte,
para a sede. Isso descaracterizou o evento trazendo conflitos inclusive
entre a unidade do interior e a sede da empresa. E obviamente
interferindo no interesse do nosso público, que nós dominávamos. Então
essas intervenções são muito caóticas no meu ponto de vista. Quando
você cria um departamento em Belo Horizonte, ao qual você é ligado,
sem ter uma estrutura matricial de informação, a estrutura é piramidal,
isso gera conflito de interesses e, invariavelmente, vai gerar uma
dicotomia, uma miopia técnico-científica”.

Embora atue formalmente com inovação há mais de 20 anos, as diretrizes da UFJF


nesse sentido eram muito genéricas, respaldadas apenas pelo Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI). No presente ano, em função da necessidade de regular internamente o
novo marco legal, a primeira política de inovação da instituição foi desenvolvida com a
229

participação de um pesquisador interno de cada grande área com experiência na


transferência de tecnologias (por meio de licenciamentos, spin offs, contratos de P&D,
entre outros), que compõem o Conselho Setorial de Pesquisa e Pós-graduação (CSPP).
Posteriormente, o documento foi divulgado para outros pesquisadores para revisão.
O diretor defende que as diretrizes estratégicas contidas no plano precisam
considerar mais do que a elevação dos indicadores convencionais, como número de
depósitos de patentes, registros de softwares e contratos com empresas, o que está
acontecendo, a despeito da queda de estímulos verificada nos últimos anos. Quanto a isso,
menciona inclusive os impactos negativos da descontinuação do PII nesse sentido,
contornados pelos esforços de sensibilização do CRITT. A seu ver, é igualmente
importante que se perceba uma clara conexão com o desenvolvimento da economia
regional e o mercado local. Neste sentido, e novamente para o caso da área de saúde
vislumbrado, ele destaca o projeto de um centro de pesquisa clínica, mais aplicado:
“Mas ainda há pouca conexão entre serviços de saúde, produção e
conhecimento. O complexo é a conexão dessas três atividades. O atrator
principal seria a constituição do centro de pesquisa clínica. Porque é uma
atividade onde o produto é muito gerado na conexão com a prática
clínica. Não é um produto que você põe na prateleira e vê se tem
mercado. Ele tem que ser testado por muito tempo e dentro do serviço.
Essa é uma vantagem que nós temos, a nossa rede hospitalar e o
conhecimento, está faltando algo no meio, esse centro pode ser a solução.
Essa é a minha menina dos olhos.”.

Do mesmo modo percebe a oportunidade de aproveitar o potencial e reputação do


setor de energia das engenharias para atendimento a uma demanda de mercado
identificada: a oferta de um programa de eficiência energética, oferecido a agentes
econômicos como forma de reduzir os custos com energia; e, a criação de um centro de
certificação de produtos eletrônicos, serviço ainda pouco ofertado no país.
Além desses objetivos mais estratégicos, a instituição busca desenvolver programas
que criem um ambiente permanente de inovação, por meio de três eixos: a Bolsa de
Inovação e Tecnologia (BITEC), dirigida aos estudantes e que tem como resultado o
desenvolvimento de uma tecnologia ou produto; a reedição interna do PII, chamada
INTEC (Incentivo a Inovação e Tecnologia) dirigida a professores de áreas selecionadas
(tecnologia social, TIC, engenharias e saúde) e também com foco em resultados tangíveis;
e, os desafios de inovação, dirigido a estudantes, mas com um pesquisador como
coordenador, ligados a uma área apontada como relevante, a exemplo do voltado a solução
para os resíduos orgânicos que a universidade gera. Cita como desdobramento deste
230

último, novos projetos em andamento, como o Startup UFJF (plataforma API no Sistema
Integrado de Gestão Acadêmica) e o Desafio GDI (aplicativo para localização das
expertises presentes na universidade por parte dos empresários, e das demandas por parte
dos pesquisadores). Também destaca que esses desafios contarão com espaço de
coworking recém-inaugurado na instituição para a sua efetivação. Como enfatiza: “A
inovação tem que ser menos discursiva, menos uma pregação. De que adianta você ficar
falando para o menino que ele tem que inovar? Você tem que por ele para inovar”.
O IFSudeste, embora conte com uma estrutura menor direcionada à inovação, e
talvez por essa razão, já conta com uma política de inovação revisada em acordo com o
novo marco legal e que se encontra em fase de ajustamento ao Decreto 9.283/2018, que
visa regulamentar seus dispositivos. Além desse documento, a instituição também possui
um regulamento específico para as questões ligadas a PI e outro que normatiza a prestação
de serviços de forma geral (não apenas aos ligados à inovação). Diferente do ocorre na
UFJF, a formulação da política não envolveu diretamente seus pesquisadores, mas um
conselho composto por diretores de pesquisa e extensão dos dez campi ativos.
Especificamente quanto à definição e implementação de diretrizes estratégicas, o
IFSudeste conta com dois comitês, um de pesquisa e outro de inovação, com essa
finalidade, e que conta na sua composição com membros da reitoria, o pró-reitor de
pesquisa e graduação e os diretores de pesquisa de cada campus. Além disso, as ações na
área guiam-se pelo PDI, traçado para um horizonte de quatro anos. Uma dificuldade
apontada pela diretora nesse aspecto refere-se ao fato de que o IFSudeste é uma instituição
multicampi, o que faz com que os membros da reitoria por vezes estejam distantes das
ações de cada unidade. Até o momento, tanto as diretrizes estratégicas, como parte
expressiva das decisões operacionais está centralizada na figura da diretora, com exceção
de poucos campi que contam com alguma assessoria na área, como o de Rio Pomba, mas
sem cargos padronizados. Nas palavras da diretora:
“Infelizmente a reitoria não tem condições de estar presente dentro do
campus para estar disseminando isso e fazendo ações de sensibilização.
Então a gente realmente conta com os nossos comitês de pesquisa e de
inovação, que são a nossa ponte com os pesquisadores. É muito difícil a
gente ter o contato com o pesquisador da ponta. Por isso, a gente tem esse
comitê para que cada campus possa trazer essas demandas. Essa é a
missão de cada um deles que está aqui representando o campus. Trazer as
demandas e levar o que a gente tá discutindo aqui.”

Assim como nos institutos federais, a UEMG possui uma política de inovação
recém-aprovada, mas que já carece de atualização, pois acabou por não considerar as
231

mudanças do novo marco legal, seu decreto e nem a consequente revisão da lei estadual de
inovação. O coordenador aponta como ainda mais importante que a política, e que se
encontra em processo de desenvolvimento, um programa de inovação que consiga
operacionaliza-la em todas as unidades. No entanto, na elaboração da política não foram
envolvidos representantes das mesmas, uma vez que o processo se iniciou bem antes da
estadualização de boa parte delas. O mesmo conselho supracitado cuida do delineamento
das diretrizes estratégicas do núcleo, eventualmente envolvendo algumas unidades, apenas
quando necessário. Tais diretrizes, por sua vez, não são obrigatoriamente vinculadas a
outros documentos de cunho estratégico, a exemplo do PDI elaborado pela reitoria.
A unidade CEFET Leopoldina já conta com uma política de inovação aprovada e
atualizada, embora o coordenador entrevistado reconheça que faltam algumas diretrizes
para operacionaliza-la. Embora seja um documento único para todas as unidades, sua
elaboração contou com a participação de um professor de lá, além de outros das demais
unidades. Posteriormente, o documento foi disponibilizado para os demais para avaliação,
em processo similar ao ocorrido na UFJF. Além disso, mais recentemente, o centro vem
buscando institucionalizar suas ações ligadas à inovação, que até então ocorriam de modo
isolado. Para isso, contam com uma parceria estabelecida com o SEBRAE para fortalecer a
cultura empreendedora entre os pesquisadores, o que vem acontecendo.
Na EMBRAPA, a estratégia de atuação em termos de inovação é pensada de modo
bem centralizado e abrangente, e depois desdobrada para as unidades, como a de Gado de
Leite analisada. Essas diretrizes são divulgadas no site da empresa, em uma plataforma
chamada “Agropensa”, coordenada pela Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas
(SIRE). Essas estratégias gerais são adaptadas à realidade de cada unidade pela chefia de
pesquisa dividida em quatro núcleos temáticos. Mas quanto à sua política de inovação
propriamente, esta também se encontra em fase de adequação ao marco legal. Além disso,
a unidade analisada conta com um departamento dedicado a contratos, assessoria jurídica e
PI, que respalda os pesquisadores sempre que necessário.
A EPAMIG conta com um conselho dedicado a respaldar as decisões estratégicas
na matriz de Belo Horizonte, que são desdobradas para as demais unidades, composto por
várias entidades externas, como a EMBRAPA, do sistema S, as ligadas ao agronegócio,
entre outras. Nas unidades, os planos de atuação são adaptados conforme a realidade de
cada departamento de pesquisa e, ao menos em parte, as suas especificidades são
consideradas pelo conselho central (embora ele aponte que não há feedbacks apropriados).
232

No entanto, trata-se da única instituição entrevistada que não possui uma política de
inovação formalizada, o que aos olhos do coordenador não é imprescindível, uma vez que
sempre atuaram com a pesquisa aplicada, e dessa forma os procedimentos nesse sentido já
se encontram tacitamente incorporados. No entanto, todos os contratos e convênios são
avaliados pelo departamento jurídico também situado em Belo Horizonte. Por outro lado, o
mesmo coordenador, em outro momento, menciona o quanto a falta de uma política de
inovação formal fez com que se perdessem muitas oportunidades de licenciamento e
decorrente perda de know how capitalizável.
Já quanto ao envolvimento das instituições com os programas da SEDECTES, o
diretor de inovação da UFJF destaca a participação em eventos, a exemplo da FINIT e
Empreenda em Ação, em desafios como o Startup Universitário, mas principalmente em
função do recente programa Alianças Estratégicas, também apontado pela diretora do
IFSudeste e pelo coordenador do CEFET, mencionado na seção anterior e que ainda não é
do conhecimento de alguns entrevistados da própria secretaria:
“Então, com base numa definição de quais são os territórios em que a
política publica vai incidir, o estado vem, chama as universidades, os
agentes econômicos, eles definem alguns eixos, e a partir desses eixos são
formulados projetos. E a expectativa é que o estado venha e aporte
recursos para que esses projetos se viabilizem. [...] Aqui nós fizemos um
encontro em abril, onde definimos alguns eixos: bovinocultura e turismo
rural, complexo econômico e industrial da saúde, sustentabilidade e
resíduos, agricultura familiar, energia, TIC, cidades inteligentes e
empreendedorismo tecnológico. Bovinocultura e turismo rural, por
exemplo, quem vai dirigir é a EMATER. Complexo econômico é a
FADEPE e a UFJF. Sustentabilidade e resíduos, Viçosa vai tocar.
Energia e TIC, UFJF, e aí vai”.

A gerente de inovação e transferência de tecnologia da UFJF destaca que os


estímulos à inserção da instituição no ecossistema de inovação regional vêm acontecendo
nos últimos anos, o que fica evidente pelas parcerias com a prefeitura de Juiz de Fora e
com o SEBRAE local. Mas também reconhece o agente de inovação local, ex-bolsista do
CRITT inclusive, como responsável pela disseminação dos programas de inovação da
SEDECTES, como com o apoio ao JF Inteligente e o programa de aceleração Lemonade
(promovido e apoiado pela Fundep, Fundepar, UFMG, SEDECTES, FAPEMIG e
SEBRAE Minas). Do mesmo modo, o pró-reitor de pesquisa e inovação do IFSudeste
sinaliza que a aproximação dos institutos com o estado é pequena e, assim como verificado
em várias falas anteriores, percebe que isso pode ocorrer, porque a pauta de inovação do
233

governo se encontra atualmente mais direcionada a criação de startups e do estímulo a


cultura empreendedora.
O baixo envolvimento com as políticas da SEDECTES também é verificado na
EMBRAPA, que aponta que isso ocorria melhor com a atuação do Polo do Leite, que
realizava eventos, apoiava projetos e comprava equipamentos do setor, com recursos dessa
secretaria. É relevante destacar que o representante da EMBRAPA não sabia informar se o
polo ainda se encontrava ativo, o que sinaliza o total desvinculo da instituição com a
Agência de Inovação de Leite e Derivados, e reforça as falhas de comunicação apontadas
na seção anterior. Do mesmo modo, o coordenador da EPAMIG indica que não há
atualmente nenhuma relação da instituição com as políticas da SEDECTES, bem como
com outras instituições públicas, a exemplo da EMATER. Nesse segundo caso, justifica a
baixa interação por conta de divergências políticas:
“O deputado que indica o presidente da EPAMIG não é o mesmo
deputado que indica o presidente da EMATER. Eles não se bicam,
pertencem a grupos políticos diferentes. E não interagem, então não há
interação dos órgãos. É um sistema piramidal. [...] A EPAMIG tem 900
funcionários. Se o presidente não fala com o presidente da EMATER que
tem 3.500 funcionários, você deixa os dois grupos de funcionários sem
conexão entre eles. Eles não se comunicam.”

No entanto, é importante destacar que uma das mais importantes parcerias citadas
pelo coordenador da EPAMIG, que se articula com a EMBRAPA e que segundo ele é de
sua autoria, é do queijo Serras de Ibitipoca, que vem sendo capitaneado pela EMATER de
Juiz de Fora, como mencionado na seção anterior (também em parceria com a
EMBRAPA).
A unidade do CEFET Leopoldina destaca-se das demais instituições por
demonstrar-se mais inteirada dos programas do governo direcionados às instituições de
pesquisa, ainda que se enfatize que não há muito contato com o agente de inovação do
território e nem sua participação efetiva nos fóruns regionais. Além da atuação no GDI
Mata, o coordenador menciona a participação da instituição na FINIT, nos programas
Startup Universitário e Alianças Estratégicas, e inclusive a possibilidade de pleitear uma
das sete unidades recentemente previstas para o Hub Minas Digital no interior. Ele
demonstra que a comunicação mais estreita acontece em função da existência da
coordenação central em Belo Horizonte, embora o mesmo não ocorra na UEMG e na
EPAMIG.
Por essa razão, inclusive, o mesmo coordenador percebe que a relação entre
instituições de pesquisa e empresas tem sido mais estimulada pelas recentes políticas, e
234

defende que é preciso tempo para romper a barreira cultural presente nas instituições para a
cooperação e efetivação da tríplice hélice. Na sua fala, “os interesses são diferentes, as
expectativas são diferentes”. Assim como verificado em diversos trechos da seção anterior,
também observa que há muitas iniciativas que pavimentam o caminho do movimento de
startups, mas que os atores ainda estão desencontrados, além de não saberem se divulgar.
Identifica, inclusive, a mudança de enfoque da FAPEMIG, mas aponta a falta de iniciativas
para tracionar os negócios de base tecnológica dentro das universidades, que além de
desenvolverem o perfil empreendedor nos pesquisadores, contornem entraves burocráticos,
especialmente legais, inerentes aos negócios com esse perfil. Ele também sugere a criação
de alguma garantia de retorno aos investimentos públicos em spin offs, já que nem sempre
um pesquisador de uma universidade pública almeja que seu negócio cresça a ponto de
gerar impacto positivo na sociedade, o que a seu ver deveria ser mandatório.

4.2.1. Capacidade de identificação de oportunidades

O atual diretor de inovação da UFJF indica que as ações da instituição nesse sentido
ainda ocorrem no “varejo”, ou seja, ou a empresa procura a universidade com uma
demanda e o CRITT busca internamente as competências para solucioná-la ou a mesma
equipe busca a empresa com o intuito de licenciar alguma tecnologia apropriada. Ele
espera que o aplicativo Desafio GDI, anteriormente mencionado, funcione melhor para a
prospecção indutora e permanente. Além disso, o setor de transferência de tecnologia vem
trabalhando na montagem de um roadmap, para mapear as expertises da universidade e as
oportunidades de mercado no âmbito regional. Dentre as suas ações recentes, destaca-se a
criação do software ARCA, junto a alunos da engenharia, instrumento para busca
automática das competências internas com base nas informações do Lattes dos
pesquisadores.
Já no IFSudeste, as atividades de prospecção de oportunidades restringem-se à
participação da instituição no GDI, bem como mais recentemente, do programa Alianças
Estratégicas. Diferente do que a sua diretora aponta como mais maduro no CRITT, e como
já demonstrado, não há uma equipe dedicada à prospecção mais formal de parceiros. Para o
caso da identificação das capacidades individuais, em razão de uma demanda trazida pelo
próprio GDI, foi realizado um levantamento interno onde cada pesquisador cadastrou as
235

suas expertises em um banco de dados, para posterior divulgação no portal do grupo.


Como não se trata de um banco interativo, e que foi feito há cerca de dois anos,
possivelmente já se encontra desatualizado. Novamente, a condição de multicampi é
apontada como um problema em dois sentidos: as demandas que surgem para a diretoria se
concentram em empresas situadas em Juiz de Fora e seu entorno, portanto, distantes dos
campi do instituto que melhor lhes atenderiam; e, as demandas oriundas de empresas
próximas a esses campi nem sempre são comunicadas à direção de inovação, o que
inclusive prejudica esse mapeamento.
Quanto aos aspectos de síntese e reflexão coletiva, a gerente de transferência de
tecnologia do CRITT destaca que isso ainda ocorre pontualmente, sem emprego de algum
instrumento específico. O mapa das expertises, embora útil, por si só não reúne as pessoas.
Faz-se necessário utilizar as suas informações para promover a articulação entre os
pesquisadores e os setores econômicos que possam atender, por meio de encontros. A
institucionalização desse processo requer vivência prática, e nesse aspecto já percebe
alguns entraves, sendo estes muito próximos aos levantados na seção anterior pelo
presidente do BDMG e pelo coordenador do Hub Minas Digital, entre outros. Na
percepção do diretor de inovação da UFJF, ainda persiste a resistência à interação tanto por
parte dos pesquisadores como do empresariado local. Os primeiros, pela dificuldade em
colocar no horizonte das suas atividades a relação com o mercado; e, os segundos, pela
baixa inclinação a inovações mais arriscadas. Percebe como uma solução para tais entraves
a maior participação da universidade em grupos como a ADJFR e do próprio GDI.
A gerente de inovação e transferência de tecnologia do CRITT destaca que há cerca
de um ano o órgão vem buscando atuar de modo mais estratégico, elencando alguns setores
de atuação, como o de serviços, para a promoção de Meetups que envolvem pesquisadores
de vários departamentos identificados como afins, bem como empresas do ramo. Ela
sinaliza que essa iniciativa ocorre majoritariamente de dentro para fora, ou seja, as
expertises são levantadas internamente e levadas ao empresariado local por meio desses
eventos. O acesso a empresas ocorre atualmente pelo GDI, e mais recentemente, pela
parceria coma Secretaria de Desenvolvimento de Juiz de Fora. Nas suas palavras:
“Tem uma série de estratégias, mas todas elas hoje têm partido de uma
noção muito fundamental que é: entender internamente as nossas
expertises (com esse mapeamento) e reuni-las em serviços, pacotes. A
gente tem feito reuniões, agrupando professores de áreas diferentes e tem
sido até legal, porque alguns já se conhecem, outros não. E outro ponto é
essa questão da prospecção ativa, é ir procurando empresas que podem
ser interessadas. Temos atuado nestas frentes: olhar internamente o que a
236

gente tem; levantar as demandas que as empresas têm; e, tentar colocar


em contato. Não é nada trivial isso, não é fácil, é um processo. Mas aí a
gente tem um amplo trabalho de conhecer essa tecnologia interna. Porque
é um campus, 20.000 alunos, 2.000 professores, 300 e poucos
laboratórios; isto está mapeado, a gente já tem como encontrar. [...] Só
que também não adianta criar a demanda sendo que eu não vou poder
ofertar. É uma faca de dois gumes.”

Ela acrescenta que o processo de síntese e reflexão coletiva, segundo estágio


analisado, ocorre essencialmente de três formas: as demandas externas são publicadas no
site do CRITT para que todos os pesquisadores da instituição tenham acesso; são enviados
e-mails aos chefes dos departamentos considerados mais relacionados às demandas para
que os mesmos repliquem aos seus pesquisadores; é realizada a consulta das expertises por
meio do ARCA. Nos dois últimos casos, a combinação interna das expertises ocorre por
intermediação do CRITT após a abordagem com os pesquisadores interessados. Do mesmo
modo ela indica que o CRITT hoje lança mão de canais como a Rede Mineira de Inovação
e a Rede Mineira de Propriedade Intelectual para prospectar parcerias com outras
instituições de ensino e pesquisa mineiras, quando julga necessário, embora reconheça que
o canal mais efetivo para essas alianças ainda seja o próprio pesquisador por meio da sua
rede de contatos.
Assim como apontado no CRITT, no NITTEC o processo de síntese e reflexão
coletiva ocorre, principalmente, pelos próprios pesquisadores, sem interferência do NIT.
Mas é notório que, em razão das redes de pesquisadores formadas intercampi, bem como
com outras instituições de pesquisa, isso ocorre com frequência nas atividades de pesquisa,
o que não necessariamente resulta em inovação. Quanto às atividades de desenvolvimento
conjunto (com usuários e/ou fornecedores de conhecimento) ela menciona alguns casos
que sinalizam melhorias na sinergia, como no já citado projeto da Macaúba; na área de
leite com a EPAMIG, iniciado por um pesquisador e, posteriormente, reforçado pelo GDI;
e, mais recentemente, com a EMBRAPA, onde está sendo estudada a possibilidade de
direcionar os trabalhos de conclusão dos cursos de Engenharia Mecatrônica e Sistemas de
Informação para solucionar problemas reais da empresa (parceria que surgiu no evento
Vacaton – Ideas for Milk, como reforçado pelo pró-reitor de pesquisa e inovação, similar
ao que já ocorre no CEFET). Esse último caso, inclusive, também ilustra os problemas nas
parcerias causados pelas incertezas jurídicas na instituição, mais especificamente, com a
apropriação das soluções geradas em função do nível de participação de cada entidade e
dos custos de manutenção de grande volume de patentes.
237

Na UEMG, como esperado em função dos apontamentos anteriores, as prospecções


de mercado acontecem essencialmente por iniciativa da comunidade acadêmica local. Já o
mapeamento das expertises internas distribuídas pelas unidades ocorre com a análise do
currículo dos pesquisadores, reforçado pela rede informal já estabelecida, e proporcionada
pela estrutura enxuta. Porém, em geral, a empresa demandante recorre aos pesquisadores
diretamente, não se utilizando do NIT para tal, o que inclusive explica a dificuldade em
responder as demais questões do roteiro de entrevista. Mas é evidente que o fluxo de
conhecimento ocorre, porque gera oportunidades de apropriação, e essas são encaminhadas
ao NIT. Como consequência, a etapa posterior, de síntese e reflexão coletiva é prejudicada,
já que as unidades não se percebem inseridas em uma estrutura maior e permanecem
enraizadas, não estabelecendo relações de pesquisa com as demais. O coordenador do NIT
acredita que isso se deva ao fato de que a UEMG existe há pouco tempo, quando
comparada às demais instituições de pesquisa do estado, e que isso tende a melhorar com a
sua maturidade.
Já no CEFET, além da identificação das expertises alinhadas às demandas externas,
o coordenador do CIT também aponta que a instituição buscou realizar um mapeamento
tecnológico das atividades de pesquisa e extensão para identificar as oportunidades de
patenteamento. Ele demonstra que a preocupação com a PI é grande, porque pesquisadores
e alunos da instituição costumeiramente participam de feiras e eventos onde expõem o que
desenvolvem. Esse mapeamento interno das expertises é facilitado pela estrutura menor,
que permite que as demandas sejam encaminhadas para os departamentos que julgam mais
apropriado, tal qual ocorre no CRITT.
Na mesma instituição é destacado o papel da empresa júnior como eficiente canal
para a prospecção de oportunidades de mercado e disponibilização do conhecimento
desenvolvido para o público. Além disso, o coordenador entrevistado indica que a
instituição vem desenvolvendo fóruns locais para estimular e provocar as comunidades
interna e externa às práticas de cooperação em prol da retomada do desenvolvimento da
região. Porém, reforça que o trabalho de síntese e reflexão coletiva, ao menos interno, se
deve a ação das empresas juniores, muito próximas dos pesquisadores que atuam como
seus orientadores. Por outro lado, é percebido que esse canal pode atrapalhar a retenção do
conhecimento em função da rotatividade comum nesse tipo de empresas, o que tentam
minimizar com esforços de explicitação do conhecimento. Do mesmo modo que verificado
nas demais instituições, a prospecção entre instituições ocorre muito em função dos
pesquisadores de modo isolado, por conta das redes pessoais que trazem consigo.
238

O entrevistado da EMBRAPA destaca que uma das maneiras mais eficientes da


empresa identificar oportunidades de mercado é via EMATER. Além disso, indica a
existência de um SAC (Serviço de Atendimento ao Cidadão) para essa finalidade, além da
realização de eventos, palestras e pesquisas com usuários e técnicos (da EMATER). No
entanto, ele também percebe que os pesquisadores e suas redes compõem um canal
importante. Por outro lado, não vê o GDI como meio eficiente, por falta de foco (atua em
muitas áreas ao mesmo tempo).
A identificação das expertises na EMBRAPA é feita de modo informal, em função
do conhecimento sobre elas obtido em reuniões do cotidiano. Isso pode ocorrer para esse
caso, porque a equipe de pesquisadores da empresa é composta por cerca de 80 pessoas,
número expressivamente menor do que o verificado na UFJF, por exemplo, além do fato
de que trabalham em áreas correlacionadas. Ademais, também contam com o apoio dos
gestores de cada um dos núcleos temáticos. Isso, por outro lado, é identificado como
problemático quando a pessoa portadora de determinada competência, ou que sabe
identificá-la se desliga da empresa, perdendo-se assim todo o conhecimento não
explicitado. Em algumas áreas consideradas estratégicas internamente, essa explicitação é
de algum modo garantida com a dedicação de uma equipe, de modo que pelo menos dentro
dela, o conhecimento seja compartilhado. Da mesma maneira as expertises de outras
instituições de ensino e pesquisa são identificadas, sobretudo por meio de redes de contato
pessoal pré-estabelecidas ou formadas em congressos da área, o que indica que ocorre com
muita frequência. Como exemplo menciona as realizadas com instituições ligadas à área de
TI, para o desenvolvimento de aplicativos e processos automatizados que auxiliem as
atividades do produtor. Por outro lado, evidencia que essas parcerias devem acontecer de
modo continuado, e não apenas em eventos e desafios (intenção esta já sinalizada pela
diretora do IFSudeste).
Uma peculiaridade é percebida na EPAMIG que, como já mencionado, não possui a
mesma relação com a EMATER, apontando os ex-alunos como principal canal para acesso
às demandas das empresas onde os mesmos trabalham. Adicionalmente, os tradicionais
eventos promovidos pela instituição favorecem as atividades de prospecção, embora se
perceba que a maioria dos pesquisadores da instituição atua nela há muitos anos, e por isso
já estabelece vínculos mais enraizados com as empresas que as demais analisadas.
Ademais, como ainda não se trata de uma instituição de ensino superior (embora esse
projeto esteja sendo amadurecido em parceria com a UFJF), não há a obrigatoriedade de
239

um NIT. Ou seja, na prática a “demanda de balcão” é formalizada em projeto pelo


pesquisador e submetida à avaliação da presidência.
Assim como na EMBRAPA, o baixo número de pesquisadores (no caso, 15) aliado
à alta especificidade de atuação, faz com que as capacidades individuais possam ser
identificadas tacitamente. Do mesmo modo, ocorre o processo de síntese e reflexão
coletiva. Quando um pesquisador inicia um projeto e nele percebe a necessidade de
complementá-lo com outra expertise, não encontra dificuldades em identificá-la
internamente ou externamente (por meio de suas redes informais). No entanto, essa
comodidade, assim como percebida na EMBRAPA, evidencia a falta de uma gestão formal
do conhecimento, ou seja, muito dele se perde com a saída de um pesquisador (o que para
a EPAMIG, que conta com muitos colaboradores antigos, e enfrenta dificuldades de
contratar, parece mais preocupante).
A gerente do CRITT destaca que o maior entrave verificado na identificação de
oportunidades (de mercado e tecnológicas) é a falta de mão de obra capacitada para atuar
em termos de inteligência estratégica e competitiva, o que evidentemente também ocorre
no IFSudeste e na UEMG. O diretor de inovação da UFJF e o coordenador do CIT do
CEFET Leopoldina também apontam a cultura academicista do pesquisador como um
dificultante recorrente, o que vem sendo aos poucos contornado pela atuação daqueles
mais jovens. Isso também é apontado pelo coordenador da UEMG, que o justifica pelo
reflexo da política de inovação tardia aliado ao baixo alcance em cada campus.
Adicionalmente, o chefe-adjunto de transferência de tecnologia da EMBRAPA
aponta a falta de informações sobre o conhecimento disponível nas demais instituições de
ensino e pesquisa. Isso, principalmente, porque essas instituições contrataram recentemente
muitos novos profissionais, o que o leva a crer que há muito a ser mapeado. Já o
coordenador da EPAMIG reforça que a centralização das decisões em Belo Horizonte
culmina na priorização equivocada dos recursos. Com isso, falta orçamento, por exemplo,
para financiar a participação dos pesquisadores em eventos da área. No CEFET, além dos
entraves já mencionados, a legislação também é vista ainda como um impeditivo,
principalmente na atuação dos procuradores que, na falta de normativa clara de atuação,
acabam por impor barreiras jurídicas pesadas às práticas de cooperação, o que
naturalmente tende a melhorar com a política e o aumento de iniciativas cujas medidas
possam ser replicadas.
240

4.2.2. Capacidade de apreensão de oportunidades

O diretor de inovação da UFJF percebe que, em função da necessidade de se


acentuar as colaborações entre universidades e empresas, ainda não há condições propícias
para a existência de um gatekeeper. Atribui à falta de densidade de ações e massa crítica
para que não se pense em critérios para a seleção de mercados ou tecnologias até então.
Mas, por outro lado, reconhece a existência de áreas com as quais as parcerias podem
prover maiores rendimentos para a instituição e para a economia regional (a exemplo do
Complexo Econômico e Industrial da Saúde). No entanto, novamente não ignora o
potencial de gerar competividade para setores vistos como tradicionais:
“Na minha percepção pessoal, tanto a universidade quanto a cidade
negligenciam uma tradição que embora não seja situada em atividades na
fronteira da produção e do conhecimento, mas sobrevivem com o
conhecimento tácito, que são os setores mais tradicionais na área de
alimento e têxtil. Essa coisa do conhecimento tácito é difícil de mensurar,
mas é real, é efetivo. Eu trabalhei durante muitos anos com o sindicato
dos trabalhadores têxteis, e eu assisti nos anos 70, 80, início dos 90, como
as indústrias mais tradicionais foram desaparecendo, mas isso não
redundava necessariamente no desaparecimento da atividade. Porque o
sujeito que era um trabalhador durante muitos anos, ele às vezes
comprava a máquina que o patrão estava se desfazendo e montava uma
facção. Então se alguém fizer um levantamento das principais ocupações
ainda hoje em JF no setor industrial, que é reduzido, você tem muita
gente ocupada nessa atividade. E não há nenhuma política pública pra
elas. Há algumas que sobrevivem, Keeper, Bressan, etc. Essas não, têm
marca, escala e conseguem ter até uma participação de mercado de
alguma importância. Agora as outras que são dispersas, a universidade
pode ajudar em vários níveis, na formalização da atividade,
aperfeiçoamento dos processos, até para atender legislações, NR12,
recuperação da identidade da marca da cidade na produção e mesmo no
design de produtos, com um instituto como o IAD. Nós tentamos reunir
um pouco esses empresários aqui e chamamos alguns pesquisadores, mas
ainda não resultou em muita coisa. O setor de alimentos está andando um
pouco mais, a gente tem tanto uma área muito consolidada que é a dos
laticínios, mas também tem feijão, panificação, etc. Na minha cabeça era
isso: o que nós temos de ponta na fronteira seria energia e saúde, mas ao
mesmo tempo nós tínhamos que salvar os setores tradicionais.”

Na sua visão, esse entendimento não significa que as ações não estejam sendo
pensadas de forma estratégica, ainda que informalmente. Ambos os tipos de atividades (as
direcionadas aos setores de alto conteúdo tecnológico e aos tradicionais) compõem a
tradição e a história do território, e “são diferentes de atividades que você traz apenas
241

porque teve oportunidade de trazer, mas que não se conectam nem com as universidades,
nem com as vocações regionais”, a exemplo das siderúrgicas e das montadoras.
Em termos mais operacionais, a gerente de inovação e transferência de tecnologia
do CRITT aponta que a avaliação do potencial de transferência das tecnologias pela
unidade ocorre, a princípio, baseada em aspectos economicamente mensuráveis.
Reconhece que nem todas as tecnologias patenteadas pela UFJF são passíveis de
transferência, o que é medido com o emprego de diversas ferramentas internas, de modo a
evitar o dispêndio de recursos. Algumas outras, ainda que atendam a esses critérios,
apresentam dificuldades para o amadurecimento até o estágio desejado pelas empresas. E,
embora todas as demandas externas de empresas sejam recebidas e encaminhadas de modo
irrestrito (em maior proporção para áreas percebidas como vocacionadas pela instituição),
naquelas oriundas de parceiros institucionais também se analisa a viabilidade financeira, o
custo de oportunidade, o custo-benefício, a colocação da imagem da universidade e do
CRITT e o alinhamento a seu escopo de atuação (PI, empreendedorismo e inovação).
Já quanto às escolhas tecnológicas, embora ela defenda que a unidade seja capaz de
identificar as áreas que mais demandam tecnologias na região, a pesquisa interna ainda é
orientada pelo modelo de inovação “science push”: “Eu não consigo dizer: Professor, não
pesquisa isso não só porque você veio do mestrado, do doutorado avaliando esta linha
teórica. Pesquisa isso, o mercado está pedindo isso na sua área”. Na sua visão, as
universidades brasileiras, de um modo geral, ainda trabalham orientadas pelo modelo
linear de primeira geração. No entanto, ela também observa que os pesquisadores que
atuam mais próximos ao NIT e que desenvolvem projetos de P&D em parceria com
empresas já possuem um olhar diferenciado, uma vez que em muitos casos, suas pesquisas
são desde o início encomendadas por empresas (modelo de terceira geração).
A diretora de inovação do IFSudeste também indica que não existem, atualmente,
quaisquer critérios para a seleção do que deve e o que não deve ser investido pela
instituição. Isso, segunda ela, faz com que muitos esforços dos pesquisadores ainda sejam
voltados para a pesquisa básica, a despeito da missão dos IF. Mas ela acredita também que
a escolha por determinadas áreas não ocorra, porque não há o conhecimento aprofundado
sobre as vocações de cada campus, bem como dos seus entornos. Em recente edital para
fomento de parcerias com entidades externas (Edital de Interface entre Pesquisa, Extensão
e Inovação), cuja exigência era a pré-existência de um demandante empresarial, foram
verificadas poucas iniciativas de cunho mais tecnológico e inovador, mas uma parceria é
apontada pelo pró-reitor de pesquisa e inovação como vocacionada:
242

“Temos parcerias com a EMATER no desenvolvimento de políticas para


a Agricultura Familiar. Neste caso, a aproximação foi fortalecida com a
participação do presidente da EMATER em um curso de pós-graduação
Lato sensu em Agroecologia oferecido pelo campus Rio Pomba. Esta área
tem sido apoiada com recursos do MAPA via CNPq em uma proposta de
trabalho por meio de Núcleo de Estudo em Agroecologia.”

O coordenador do NIT da UEMG, por sua vez, sinaliza a necessidade de incorporar


nos programas de inovação em desenvolvimento critérios para melhor selecionar as
oportunidades de mercado e tecnologias. Porém, até o momento, ele verifica como
dificultante a falta de massa crítica em razão das poucas experiências nas atividades de
prospecção e condução de parcerias. Acredita que os melhores critérios seriam a
viabilidade mercadológica e econômica, inclusive nos ativos alvos de proteção que
costumeiramente recebem. Embora no CEFET as escolhas de segmentos e tecnologias
também não sejam formalizadas, a percepção e experiência dos membros do CIT acabam
por induzir o desenvolvimento de soluções voltadas ao agronegócio e indústrias da região,
em especial as de alimentos.
Já na EMBRAPA, a seleção do que se deve pesquisar, bem como das demandas que
se devem atender são muito alinhadas com as diretrizes vindas de Brasília, configurando o
único caso onde isso ocorre explicitamente. Inicialmente, o pesquisador deve apresentar o
seu projeto de P&D para um grupo de cerca de 20 pessoas. Caso o projeto seja aprovado, é
apresentado ao Núcleo de Avaliação de Projeto, dedicado a analisar se o mesmo se
encontra em acordo com o edital pleiteado. Após essa etapa, também é discutido em um
comitê técnico interno. O mesmo ocorre para a análise das oportunidades externas, que são
discutidas internamente, e quando é o caso, encaminhadas para outras unidades, sempre
guiadas pelo Plano Diretor da EMBRAPA e o Plano Diretor da Unidade. Tal análise, em
ambos os casos, envolve um horizonte de planejamento e pode ser flexibilizada, ou seja, as
unidades locais podem abrir exceções caso vislumbrem oportunidades para o futuro. Por
essas razões, não identifica entraves quanto à seleção.
No entanto, e embora defenda que a atuação da empresa é indiferente ao porte do
produtor, ao falar sobre cotitularidades, fica evidente, ainda que não proposital, que as
grandes empresas parceiras obtêm alguma vantagem. Em um exemplo sobre o
desenvolvimento de um medicamento com nanopartículas para controle da mastite, foi
necessária a parceria com uma grande indústria farmacêutica para a viabilização do
protótipo e resolução de problemas de scale up e lançamento. Em função dessa parceria, o
acesso ao medicamento passou a ser parcialmente controlado por essa empresa, é notório
243

que pode funcionar como barreira à aquisição pelos menores produtores. Esse mesmo caso
também demonstra que a escolha tecnológica se deu de dentro pra fora. A pesquisa que
originou a solução foi iniciada por pesquisadores da instituição há cerca de dez anos, que
consideraram a alta ocorrência do problema como uma oportunidade. Para tal, inclusive,
contrataram dois pesquisadores na área de nanotecnologia. A busca pela parceira ocorreu
em um estágio bem mais avançado, por meio de licitação. Proporcionalmente, o subchefe
do setor da empresa indica que dessa forma é que as transferências mais ocorrem na
instituição, ou seja, os especialistas trabalham em uma solução que automaticamente gera
produtos, o que é facilitado pelo alto nível de especialização.
Apesar disso, a EMBRAPA estuda no momento mecanismos para induzir a
pesquisa aplicada. O processo desenhado fará com que logo no início, o pesquisador já
consiga identificar que tipo de produtos irá gerar e para que mercado. O entrevistado na
empresa defende que isso na EMBRAPA é mais importante do que nas universidades, por
exemplo, por se tratar de uma empresa pública com foco em pesquisa, e que por isso
depende de resultados palpáveis. Para essa análise será empregada uma escala de
maturidade tecnológica conhecida como TRL (Technology Readiness Level).
Processo parecido ocorre na EPAMIG, embora bem menos estruturado. Diante de
uma demanda externa, cria-se um “petit comité”, capaz de avaliar tecnicamente questões
como viabilidade, custo-benefício, programação de receitas e despesas, para posterior
encaminhamento ao comitê gerencial. Esse segundo comitê é responsável por formatar o
projeto nos moldes exigidos pela unidade central de Belo Horizonte, e apenas quando a
mesma o aprova, o trabalho se inicia. Para o caso das escolhas tecnológicas, o mesmo
acontece, porém ele aponta uma crítica limitação de mão de obra. Por exemplo, ainda que
se perceba a necessidade de pesquisas na área de mecatrônica, não há na instituição um
profissional especializado na área.
Quanto à priorização dos meios de capturar receita e valor pela instituição, o diretor
de inovação da UFJF aponta que o conservadorismo de parte dos pesquisadores (inclusive
em setores tecnológicos), atrelado as suas métricas de produtividade ainda muito
direcionadas à produção científica, fazem com que o número de ativos de PI seja baixo e,
com isso, os licenciamentos ainda não sejam vistos como meio mais efetivo de capitalizar.
O trabalho, a seu ver, é ainda de sensibilização dos pesquisadores tanto para apropriação
quanto para comercialização. Isso inclusive permitirá que outras áreas promissoras, além
das anteriormente apontadas, possam ser identificadas. Em suas palavras:
244

“Ninguém tem como abrir mão do financiamento público. Mesmo porque


a atividade de inovação envolve muitas incertezas, não é só o risco de
inventar uma coisa que não pegue no mercado, mas é exatamente não
saber nada do que pode acontecer com a atividade que você está
desenvolvendo. Então você precisa de uma segurança, de um capital
paciente, ninguém está querendo abrir mão do financiamento público,
mas você precisa ter volume, e não temos. Nosso problema agora é esse”.

Para contornar esse problema em específico, ele intenciona direcionar à FADEPE


(Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão) a atividade de
prospectar as oportunidades no mercado. A seu ver, a Fundação possui mais capacidade
para tal; enquanto o CRITT deve se dedicar a buscar as expertises internamente. Em razão
dessa capacidade, ele percebe que o melhor formato para captura de valor são as parcerias
para a contratação de know-how e prestação de serviços, sobretudo após as aberturas
criadas no novo marco legal. Embora reconheça que isso não necessariamente implique em
atividades inovativas, a desburocratização na prestação de pequenos serviços via FADEPE
(de até R$ 18 mil) pode abrir portas para parcerias mais sofisticadas.
A gerente de inovação e transferência de tecnologia do CRITT e o coordenador do
CEFET reforçam esse argumento quando defendem os contratos de P&D como os meios
mais efetivos para que as instituições de pesquisa consigam capturar valor, melhorar seus
indicadores de inovação e possibilidades de licenciamento. Esses tipos de parcerias,
segundo a entrevistada do CRITT, por serem mais duradouras, e envolver as empresas
desde o início, atraem investimentos para a melhoria de laboratórios e contratação de
bolsistas. Ambas as falas sinalizam a escolha estratégica por esse canal. O mesmo é
defendido pela diretora de inovação do IFSudeste:

“Você fazer P&D é muito melhor do que você ficar batendo cabeça
depois pra licenciar uma coisa que já está desenvolvida sem nenhuma
interação e conexão com uma necessidade real. Independente de número,
de valores, quanto que vai ganhar e não vai. O P&D, mesmo que não
ganhe muito com o licenciamento depois, a utilidade, principalmente
quando você desenvolve em parceria, ela é muito mais garantida, você
tem maiores possibilidades de aplicação disso no mundo real, na vida
real. Reduz os custos da incerteza, porque você está compartilhando com
o parceiro. Quando a empresa ajuda no desenvolvimento é uma
possibilidade a mais de depois fazer o licenciamento para essa companhia
para que ela possa colocar aquilo no mercado de alguma forma”.

Os representantes das demais instituições entrevistadas não foram capazes de se


posicionar claramente sobre os melhores meios de capturar valor e receita, bem como os
245

canais de relacionamento e comercialização mais apropriados, muito porque não possuem


normativas para inovação formalizadas, implementadas e/ou incorporadas. Em geral, todos
verificam, ao menos em tese, que os contratos de P&D são meios mais eficientes para se
capturar valor que os licenciamentos dos ativos protegidos, e isso se deve à notória
aderência ao mercado aliada às relações mais duradouras, ainda mais favorecidas naquelas
que contam com a historicidade da atuação como ponto forte (a exemplo do IFSudeste de
Rio Pomba, do Instituto Cândido Tostes, hoje EPAMIG Juiz de Fora, e de algumas
universidades estaduais). No caso da EPAMIG, no entanto, o seu coordenador destaca a
impossibilidade de se selecionar canais de comercialização, uma vez que as demandas de
mercado hoje são expressivamente maiores que a capacidade da instituição em atendê-las:
“Nós focamos muito mais na nossa capacidade de atender no que na capacidade de geração
de receita”.
Como entraves específicos das atividades de seleção de tecnologias, oportunidades
e canais, a gerente do CRITT destaca novamente a questão de mão de obra, mas nesse
caso, para avaliar o que é não é factível para além dos seus aspectos economicamente
mensuráveis. Ela percebe que a coleta das informações necessárias para essas análises é
dificultada, sobretudo no caso das patentes já depositadas, que dependem de dados
adicionais que devem ser fornecidos pelos pesquisadores, que nem sempre colaboram. Ela
enfatiza que a nova política de inovação gerará avanços expressivos em termos de difusão
e comercialização, mas não garantirá que o mesmo vá ocorrer quanto à criação e produção
de tecnologias: “Ela não garante que o professor vai fazer uma pesquisa com uma
qualidade melhor em termos de aplicação com cunho inovador”.
Já no IFSudeste, a falta de clareza quanto as vocações dos campi e dos seus
entornos dificulta as escolhas de oportunidades e escolhas tecnológicas. Embora isso seja
visto como necessário, inclusive para a instalação de cursos mais apropriados, não há hoje,
nas instituições, pessoas dedicadas a fazer tal levantamento. Entraves muito semelhantes
são identificados na UEMG, que enfrenta dificuldades na definição de todos esses critérios
por não conseguirem acompanhar como as parcerias ocorrem atualmente e como ocorriam
antes da estatização de algumas unidades e da criação do NIT.
Os entraves da EPAMIG nesse sentido demonstram-se mais preocupantes. Nas
palavras do seu coordenador, não houve ao longo dos anos a preocupação com a
substituição imediata de um valor. Ou seja, por inúmeras razões a instituição foi perdendo
profissionais e esses não foram prontamente substituídos:
246

“Se você perde um nó dessa estrutura, você precisa substituir. Mas aqui
não, você perde um, perde dois, perde três e quando você vê você já
perdeu cinco e ali fica um vazio. [...] Aconteceu muito. Para você ter uma
noção, nós tivemos dois concursos em 34 anos. Ai você vai perdendo, vai
perdendo... Chegou ao cúmulo de nós sermos cinco pesquisadores. Fez
um concurso e foi pra 21, ai já estamos perdendo de novo.”

A proteção do conhecimento envolvido nas tecnologias alvo de patenteamento é


vista como bem resolvida na UFJF, uma vez que essa atividade é administrada por um dos
seus setores mais antigos. É esperado que a nova política de inovação amplie a discussão
sobre a importância da proteção do conhecimento nas atividades de cooperação menos
explícitas, como na própria prestação de serviços. É sabido que muito do conhecimento
produzido internamente flui para as empresas ainda de modo desordenado. Como ação é
prevista, adicionalmente a política, uma extensão do Sistema Integrado de Gestão
Acadêmica (SIGA) que condicione o acesso aos editais de fomento à formalização dessas
relações. No CEFET, de modo similar, é percebida a dúvida dos pesquisadores sobre qual
parte do conhecimento podem reivindicar como seu. O que é agravado por não adotarem
contratos específicos de know how.
Nesse mesmo sentido, a gerente de inovação e transferência de tecnologia do
CRITT destaca a importância de se institucionalizar as parcerias via NIT. Reforça que
desde 2015, isso vem sendo condicionado com a proibição de financiamentos via FADEPE
de projetos que não sejam do conhecimento do Núcleo, tanto os via PROEX (Pro-Reitoria
de Extensão) quanto os via PROPP (Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa).
Especificamente nos contratos de P&D, isso permite que os fluxos de conhecimento sejam
contabilizados pelas horas de consultoria, assessoria e treinamento no escopo dos projetos:
“Hoje em dia já está articulado com a PROEX, a PROPP e com a própria
FADEPE. Então a gente tem conseguido fechar este fluxo. Ou o
pesquisador vai fazer as parcerias por fora e vai ficar errado, respondendo
no CPF dele, ou então ele vai se institucionalizar. Em um desses três
eixos que podem fechar acordos com a universidade: PROEX, PROPP e
CRITT. E os contratos de know how dentro do licenciamento, que é aqui
dentro do CRITT”.

O IFSudeste, em função do baixo volume de parcerias efetivadas (ao menos


formalizadas via NIT), embora conte com atividades consistentes no que tange a PI, não
conta formalmente com práticas que visem em específico controlar o fluxo de
conhecimentos entre pesquisadores e empresas no “meio do caminho”, ou seja, sobre a sua
difusão ao longo do processo de P&D conjunta. O que sinalizam existir até o momento são
247

cláusulas contratuais que buscam de algum modo proteger divulgações de conteúdo sem
autorização da entidade. Nas palavras da diretora: “Existe uma preocupação nesse sentido,
ainda que mínima”. O mesmo ocorre na UEMG, onde o NIT acaba por restringir sua
atuação à proteção no fim do processo. Não existe por parte dele qualquer controle sobre o
fluxo informal de conhecimento, o que também sugere a perda de know how ao longo do
processo. Isso acaba por resultar no desinteresse pela proteção tanto pelos pesquisadores
quando pelas empresas. No caso dos primeiros, pelo ceticismo na sua efetividade e dos
segundos, porque já puderam acessar o conteúdo passível de proteção.
Na EPAMIG, como já mencionado, as questões referentes à PI são integralmente
tratadas por um departamento específico localizado na unidade de Belo Horizonte. Já na
EMBRAPA, acredita-se que o acompanhamento mais próximo das parcerias, logicamente
oportunizado pelo menor número de pesquisadores, conta também a favor da apropriação
do conhecimento:
“Aqui é tudo formalizado. Todos passam aqui no meu setor. O parceiro
faz contato o pesquisador, depois o pesquisador apresenta pra gente, nós
avaliamos, o chefe avalia. Se sim, retorna para o pesquisador, ele faz um
plano de trabalho junto com endereçado externo, apresenta de novo,
passa na assessoria jurídica e segue um fluxo contínuo. A gente tenta ser
o mais ágil possível para não desanimar o parceiro, mas com um olhar
muito atento sobre a legalidade do processo. Sempre defendendo os
direitos da EMBRAPA. E a gente conclui que o fluxo aqui é mais rápido
do que com o parceiro privado.”

O diretor de inovação da UFJF destaca como principal ativo complementar da


instituição, as redes constituídas entre os seus pesquisadores e outras instituições de
pesquisa estrangeiras, embora admita que tais redes ainda não se encontrem mapeadas. Já
no IFSudeste, são apontados os laboratórios, a exemplo dos da área de alimentos da
unidade de Rio Pomba e os de edificações da unidade de Juiz de Fora, assim como no
CEFET (embora os mais modernos se situem na unidade de Belo Horizonte e são
utilizados pela unidade de Leopoldina, conforme a necessidade). Além disso, nos institutos
federais, o fato de que boa parte das estruturas é herdada de escolas dotadas de forte
historicidade (a exemplo da Escola Agrotécnica de Rio Pomba e do CTU), contribui para a
reputação e relações pré-estabelecidas com agentes das respectivas regiões. Portanto, no
campus cuja vocação é clara e fortalecida pelo tempo de atuação, o fator reputação fica
mais evidente. Isso fica claro, por exemplo, na forte e antiga relação entre o campus de Rio
Pomba e a EPAMIG de Juiz de Fora (antigo Instituto Cândido Tostes), que ocorre a
despeito das ações do NIT. Na EMBRAPA, a marca é indiscutivelmente vista como o ativo
248

mais forte, seguido pelos laboratórios (a exemplo do Multiusuário de Bioeficiência na


Pecuária, em Coronel Pacheco) e pesquisadores muito especializados, assim como também
destacado pelo CEFET. Além da marca e reputação de algumas escolas, na UEMG o
acesso barato a serviços altamente especializados, como os de design, é destacado.
Quanto aos mecanismos de incentivo a cooperação direcionados aos pesquisadores
e alunos, o diretor de inovação da UFJF destaca os desafios de inovação anteriormente
mencionados, além das bolsas, bem como o retorno financeiro envolvido. No entanto, na
sua compreensão, “as pessoas se movem pela riqueza, pelo prestígio e pelo poder. Até aqui
eu acho que os pesquisadores se movem muito em busca do prestígio”. O mesmo é
defendido pelo coordenador da EPAMIG, sendo nesse caso o prestígio quase o único
mecanismo de incentivo possível, já que os seus pesquisadores ainda não recebem
royalties. Por isso, o primeiro novamente destaca a importância de se criar um clima na
universidade em que inovar passe a ser visto como “cult, aceitável, organizado e
permanente”. E principalmente, que demonstre que os atos de publicar e de inovar não são
excludentes. O coordenador do CEFET endossa tais argumentos e percebe como principal
incentivo, a oportunidade de resolver problemas reais da sociedade.
No IFSudeste os mecanismos de incentivo também restringem-se a provisão de
bolsas de pesquisa e apoio a publicações de livros e artigos. Os critérios para progressão,
como ocorre na UFJF, ainda não estão vinculados à produção tecnológica. A EMBRAPA
nesse sentido pode ser apontada como um exemplo positivo. Na instituição, as promoções
e premiações são vinculadas à produção científica e tecnológica dos pesquisadores:
“Todo ano você pode ser promovido dentro do grupo. Então quanto mais
você produzir, mais chances você tem de ser promovido na sua carreira.
Agora a gente está mudando um pouco para valorizar mais o produto e
menos as publicações. A sociedade espera da gente o produto. Essa
questão da pontuação do que estamos avaliando mais ou menos é uma
gestão da própria unidade”.

Já na UEMG, os principais mecanismos de incentivo percebidos pelo NIT, embora


ainda não suficientemente explorados pelos pesquisadores dos campi, são refletidos nas
possibilidades de patenteamento e consequente peso no currículo. O coordenador do
Núcleo ressalta que a procura vem aumentando em função desse benefício. Mas como
ainda não há casos de retornos pecuniários frutos de licenciamentos, essa possibilidade
ainda não é vislumbrada, e pode por isso desmotivar os esforços nesse sentido.
O critério percebido como mais relevante sobre a efetividade das parcerias na UFJF
é se as mesmas geraram um ativo permanente incorporado na universidade, a exemplo de
249

laboratórios. Além disso, e não menos importante, são a continuidade e a recorrência. A


gerente de inovação e transferência de tecnologia do CRITT acrescenta que é feita uma
análise crítica com base nos relatórios finais, onde são aplicadas pesquisas de satisfação,
inclusive com métricas e indicadores. Ela enfatiza que seria também interessante, embora
não haja corpo técnico para tal, avaliar o impacto das parcerias nas empresas e na
sociedade, a exemplo do aumento de contratações.
Para o IFSudeste, em função da sua missão, é reconhecido ainda que não
formalmente, que o melhor critério seria o impacto para os arranjos locais, embora a
formalização de parcerias seja muito recente e faltem amostras para se analisar aspectos
como recorrência e satisfação de parceiros, assim como também apontado no CEFET. Na
EMBRAPA, embora os critérios não sejam bem definidos, o subchefe entrevistado aponta
que são capazes de estimar o valor gerado em cada parceria (o que de algum modo os
distingue como empresa), enquanto que na EPAMIG essa avaliação se dá estritamente por
“feeling”. Não muito diferente ocorre na UEMG, onde a análise da efetividade,
especificamente para as questões relacionadas à PI, ocorre caso a caso. Mas o coordenador
do NIT da instituição destaca que a maioria dos registros e depósitos ocorre na área de
design, em função da tradição das suas escolas, área onde é mais natural que as análises de
viabilidade mercadológica e econômica ocorram durante o processo de desenvolvimento.

4.2.3. Capacidade de gerenciamento de ameaças e reconfiguração

Para o diretor de inovação da UFJF, não seria adequado que a sua unidade ou
qualquer outra interferisse nas decisões sobre o que pesquisar pelo pesquisador. Acredita
que o que pode ser feito nesse sentido é a incorporação no planejamento institucional de
ações sutilmente indutoras, como os próprios desafios e bolsas supracitados.
Quanto à resistência a mudanças dos pesquisadores, acredita que possa haver nisso
algo positivo. Enquanto a atividade de pesquisa demonstra-se árdua e demorada, os apelos
do mercado podem ser voláteis. Mas também reconhece o enrijecimento e inércia
estritamente nesse sentido. Produz-se muito conhecimento aplicável, o que demonstra que
o maior problema não está na aderência, mas na cultura, o que tende a mudar. Por outro
lado, as questões estruturais acabam por ser um impeditivo quando o setor de transferência
de tecnologia do CRITT, em razão da falta de mão de obra e predominância de bolsistas,
250

não consegue fornecer o suporte apropriado aos pesquisadores, que acabam desmotivados:
“Não adianta também só sensibilizar o pesquisador, ele vem e a coisa não dá resultado, é
frustrante”. É importante enfatizar que esse problema também foi apontado pela presidente
da RMI na seção anterior, quando questiona a falta de estrutura que verdadeiramente
suporte os programas do estado, para além dos esforços de sensibilização.
O direcionamento da atividade de prospecção para a FADEPE pode ser uma
solução para o último problema por dois motivos: permitirá que o setor de transferência
dedique mais tempo a relação com o pesquisador do que com o mercado; e, porque possui
mais flexibilidade para contratação de pessoas. De fato, a seu ver nem as ações de demand
pull e nem as de technology push são atribuições do pesquisador, principalmente pela falta
de perfil comercial e gerencial do mesmo, embora recaiam sobre ele em muitos casos. Mas
para que o CRITT ou a FADEPE assumam esse papel, é necessário que contem com uma
equipe com mais domínio sobre as tecnologias e suas possibilidades de mercado, além de
mais diversa tecnicamente. A dependência dos recursos públicos para que isso ocorra,
atrelada à morosidade na atuação, é também vista como um importante fator limitante.
No IFSudeste, a centralização das decisões sobre pesquisa e inovação na reitoria
tem seus prós e contras. A distância física dos campi é vista como o maior dificultante, de
certo modo suavizado pela representatividade nos comitês. No entanto, a entrevistada
acredita que muitas das demandas de cada unidade, assim como as oportunidades por elas
vislumbradas sejam perdidas nesse caminho. Tal qual ocorre na UFJF, é identificada uma
expressiva resistência dos pesquisadores em redirecionar suas pesquisas em acordo com as
necessidades do mercado. Segundo ela, a solução para o problema no momento é o
transbordo. Ou seja, na medida em que as parcerias forem gerando resultados positivos
para os pesquisadores envolvidos, espera-se que mais deles sejam encorajados a cooperar.
Já a EMBRAPA, conta em sua estrutura com o Comitê de Assessoria Externa
(CAE) composto por pessoas ligadas a cadeia do leite, selecionadas por sua matriz em
Brasília, que acompanha diretamente o trabalho em reuniões bianuais onde são avaliados
os direcionamentos para pesquisa e possíveis redirecionamentos. Ainda assim se verifica
resistência nesse sentido, sobretudo no caso das pesquisas mais antigas, difíceis de
descontinuar por essa razão. Como alternativa, o entrevistado aponta a contratação de
novos pesquisadores nas áreas consideradas potenciais, bem como a formação de novos
convênios, considerados capazes de promover a oxigenação gradativa.
Como diversas vezes mencionado, a centralização das decisões no caso da
EPAMIG impacta negativamente na autonomia de atuação da unidade entrevistada. Isto é
251

agravado pela dependência dos recursos públicos, que faz com que as pesquisas que não se
encontram no escopo definido, não sejam financiadas. Quando ao processo oposto, a
resistência à mudança por parte do pesquisador, ele defende que embora ocorra, o
engessamento do sistema é o principal impeditivo (sistema piramidal).
No CEFET, embora também se verifique uma hierarquia forte, a independência de
atuação prevalece inclusive no que depende das autorizações da unidade de Belo
Horizonte. Porém, o coordenador aponta que isso apenas ocorre porque tais processos não
estão institucionalizados, com arcabouços e diretrizes claras. Isso pode indicar que o
estabelecimento de uma política única nas instituições mais fragmentadas, sem a
concomitante construção de estrutura que garanta responsáveis igualmente distribuídos,
pode contribuir para o engessamento das ações, ao invés de fluidez. Também observa um
distanciamento do pesquisador das demandas de mercado, o que pode ser contornado com
as iniciativas de aproximação mencionadas e aumento dos casos bem sucedidos que tende,
como dito por outros entrevistados, a contagiar os mais conservadores.
Embora a centralização das decisões ocorra em várias das instituições analisadas, o
caso da UEMG talvez se mostre o mais crítico. É assumido que na instituição atualmente
não há nenhum mecanismo capaz de garantir a integração das ações. Como a transferência
de tecnologia e conhecimento ocorre formal e informalmente em cada unidade, muito em
razão da historicidade e tradição presente em suas escolas, e só passa a ser de
conhecimento do NIT em casos de apropriação, esse costuma atuar nomeadamente de
forma reativa. Nesse caso, inclusive, não é possível apontar claramente a rejeição por parte
dos pesquisadores às mudanças de trajetórias, uma vez que o acompanhamento não é feito,
embora se espere que os programas de inovação comecem a atuar nesse sentido.
Em diversas colocações feitas nas entrevistas abordadas nessa seção e na anterior, a
figura do pesquisador, bem como suas ações, é verificada como condicionante chave para a
eficiência e eficácia dos fluxos de conhecimento em sistemas de inovação. Por essa razão,
a última seção abordará a perspectiva desses atores sobre o tema abordado.

4.3.CAPACIDADES COGNITIVAS (PESQUISADORES)

De modo a considerar a percepção dos pesquisadores, atores individuais do


subsistema analisado, em complemento as entrevistas descritas nas duas seções anteriores,
252

foram enviados questionários àqueles vinculados às instituições de ensino e pesquisa do


território da Zona da Mata. Não foi possível contar apenas com a participação dos da
unidade da UEMG de Carangola, em razão da falta de retorno até a data de tabulação dos
dados. A distribuição das respostas por instituição, das áreas de pesquisa e do tempo de
atuação dos respondentes são apresentados nas Figuras 48, 49 e 50.

Figura 48 – Percentual de respondentes por instituição de ensino e pesquisa da Zona da Mata

Figura 49 – Distribuição das áreas dos pesquisadores respondentes


253

Figura 50 – Distribuição dos respondentes por tempo de atuação no cargo

Quando interrogados acerca das motivações para a escolha das suas áreas de
pesquisa observa-se claramente que aspectos de natureza pessoal (como trajetória
profissional e afinidade) ganharam mais peso do que os ligados às influências do ambiente
(a exemplos das demandas ambientais e sociais e diretrizes das suas instituições, grupos de
pesquisa e programas) (Figura 51a). Se segregados e relativizados por área, apenas no caso
da Agronomia as demandas de mercado foram expressivamente pontuadas (40% dos
respondentes) (Figura 51b).
254

Figura 51 – (a) Principais motivações para escolha da área de pesquisa; (b) Motivações para escolha da área de pesquisa distribuídas pela área de atuação.

(a) (b)

Continuidade da linha de pesquisa desenvolvida na graduação e pós-


graduação 1
Afinidade pessoal 2
Demanda do mercado 3
Demanda social 4

Atendimento das diretrizes estabelecidas formalmente pela instituição


(política de inovação, planejamento estratégico, reuniões com essa
finalidade, entre outros) 5

Atendimento das diretrizes estabelecidas informalmente pela instituição


(editais, bolsas de fomento e instrumentos se sensibilização priorizando
áreas selecionadas pela instituição, maior número de eventos
relacionados às áreas priorizadas, entre outros) 6
Pertencimento ao corpo docente de um programa de pós-graduação na
área 7
Pertencimento a um grupo de pesquisa na área 8
255

A influência do tempo de atuação sobre as motivações também foi investigada


(Figura 52). Neste caso, é válido destacar a sutil queda de relevância dos aspectos pessoais
em relação à influência dos programas de pós-graduação e grupos de pesquisa aos quais
esses pesquisadores estão vinculados ao longo do tempo. A variação do peso das demandas
de mercado e sociais, no entanto, embora expressivas, são inconclusivas, com picos nos de
3 a 5 anos e 10 a 15 anos, para o primeiro aspecto, e nos de 15 a 20 anos para o segundo.

Figura 52 – Tempo de atuação versus motivações para escolha da área


Percentual de cada instituição

Continuidade da linha de pesquisa desenvolvida na graduação e pós


1 graduação
2 Afinidade pessoal
3 Demanda do mercado
4 Demanda social
Atendimento das diretrizes estabelecidas formalmente pela instituição
(política de inovação, planejamento estratégico, reuniões com essa
5 finalidade, entre outros)

Atendimento das diretrizes estabelecidas informalmente pela instituição


(editais, bolsas de fomento e instrumentos se sensibilização priorizando áreas
selecionadas pela instituição, maior número de eventos relacionados às áreas
6 priorizadas, entre outros)

7 Pertencimento ao corpo docente de um programa de pós-graduação na área


8 Pertencimento a um grupo de pesquisa na área

Ainda que, em geral, as motivações se encontrem menos vinculadas às demandas


sociais e de mercado, a percepção desses pesquisadores quanto às principais atividades
econômicas da Zona da Mata é coerente com a indicada nas entrevistas discutidas nas
seções anteriores (4.1 e 4.2), bem como com o levantamento da Seção 3.3. Como a UFJF
contou com o maior número de respondentes, é compreensível que as atividades
predominantes em Juiz de Fora e seu entorno tenham sobressaído (setor de serviços em
256

educação e saúde), o que apenas endossa as evidências de que boa parte dos pesquisadores
ao menos conhece o potencial produtivo do entorno, conforme demonstrado no gráfico de
Pareto da Figura 53, onde as barras sinalizam o número de respostas para cada opção e a
linha o percentual acumulado das mesmas. As atividades de Serviços – Educação; Setor
Primário – Pecuária; Serviços – Saúde; Comércio; Setor Primário – Agricultura; e,
Indústria – Produtos Alimentícios juntas foram mencionadas em cerca de 70% das
respostas, o que indica forte concentração.

Figura 53 – Percepção das principais atividades econômicas da Zona da Mata pelos respondentes

Tais observações vão ao encontro da classificação atribuída pelos respondentes à


contribuição das suas instituições no fornecimento de conhecimento e tecnologias
alinhados às atividades apontadas, com nota média 6,0. A única exceção é verificada na
EMBRAPA, cuja localização foi escolhida desde a instalação em função do perfil
produtivo regional (leite e derivados) e que, por essa razão, apresentou média 8,0. No
entanto, os institutos federais, as unidades do CEFET e da UEMG, cujas existências
supostamente consideram a historicidade e necessidades locais, apresentaram a pior média
(5,0).
Em função do volume de respostas (56% abaixo de 6,0), apenas as razões da baixa
representatividade dada pelos pesquisadores da UFJF foram analisadas. É importante
destacar a relevância atribuída à inexistência ou deficiência dos canais de ligação entre
oferta e demanda de conhecimento (Figura 54). Como também é possível observar na linha
do gráfico que representa o percentual acumulado do número de respostas, a falta de um
canal apropriado, a excessiva burocracia nas transações e a pouca abertura das
organizações respondem por 70% das respostas.
257

Apenas para esta análise, considerando as áreas que contaram com mais de três
respondentes, também se percebe diferenças na percepção do potencial de aplicação do que
cada pesquisador produz no território da Zona da Mata. Foi solicitado que os mesmos
atribuíssem uma nota, entre 0 e 10, para tal potencial percebido. É imperativo observar que
as áreas que contam com o maior volume de produção científica e tecnológica (conforme
apontado na Seção 3.2) são aquelas cujos pesquisadores menos verificam aderência com o
mercado regional (engenharias, física e química). Todas as médias são demonstradas na
Tabela 1.
Figura 54 – Razões da baixa representatividade da instituição para as atividades da Zona da Mata (UFJF)
segundo seus pesquisadores

Tabela 1 - Potencial de aplicação do conhecimento/tecnologia produzidos pelo pesquisador na


região, sob a sua ótica
Potencial de aplicação na Zona da Mata
Área de Pesquisa (média das notas dos respondentes)
Enfermagem 9,0
Engenharia Civil 9,0
Agronomia 8,7
Engenharia de Produção 8,7
Artes e Design/ Artes Visuais/ Cinema 8,4
Educação Física 8,4
Engenharia Mecânica 7,7
Biologia/ Biotecnologia/ Farmácia 7,5
Odontologia 7,5
Ciência e Tecnologia de Alimentos/ Nutrição 7,4
Ciência da Computação 7,0
Medicina 7,0
Engenharia Elétrica 6,8
Sociologia/ Economia/ Humanas em geral 6,2
Química 6,2
Engenharia de Materiais e Metalúrgica 6,0
Física 4,7
258

Já quando consultada a influência dos NIT e diretorias de inovação sobre as


decisões de pesquisa, nota-se em todas as áreas a baixa relação, o que de certo modo é
justificado pela deficiência do canal apontada anteriormente. Assim como no quadro
anterior, foi solicitado que os pesquisadores atribuíssem uma nota, entre 0 e 10, para o
tamanho dessa influência (Tabela 2).

Tabela 2 – Influência dos NIT e/ou Diretorias de Inovação sobre as decisões de pesquisa sob a ótica do
pesquisador
Influência dos NIT/ Diretoria de Inovação
Área de pesquisa (média das notas dos respondentes)
Agronomia 5,7
Enfermagem 4,0
Artes e Design/ Artes Visuais/ Cinema 3,9
Odontologia 3,5
Engenharia Elétrica 3,4
Engenharia Mecânica 3,3
Biologia/ Biotecnologia/ Farmácia 3,3
Ciência e Tecnologia de Alimentos/ Nutrição 3,2
Engenharia de Materiais e Metalúrgica 3,0
Sociologia/ Economia/ Humanas em geral 2,8
Ciência da Computação 2,6
Medicina 2,3
Engenharia Civil 2,3
Educação Física 2,2
Física 1,1
Química 0,7
Engenharia de Produção 0,0

A maioria dos pesquisadores respondentes não possui ativos de PI registrados e/ou


depositados (64%), como mostra a Figura 55. Dentre os que possuem, predominam as
patentes (21% do total). Esse resultado condiz com as áreas que apresentam o maior
percentual de apropriação, e que reforçam o portfólio tecnológico apresentado na Seção
3.2, sobretudo quanto às áreas de Química, Física, Engenharias e Ciência/ Tecnologia de
Alimentos (Tabela 3).

Figura 55 – Distribuição dos tipos de ativos de PI resultantes das pesquisas


259

Tabela 3 – Percentual de apropriação de ativos por área


Área de pesquisa % Apropriação
Artes e Design/ Artes Visuais 83%
Química 67%
Engenharia Mecânica 67%
Física 57%
Sociologia/ Economia/ Humanas em geral 50%
Ciência e Tecnologia de Alimentos 50%
Engenharia Civil 43%
Odontologia 33%
Engenharia de Produção 33%
Engenharia de Materiais e Metalúrgica 33%
Agronomia 33%
Biologia / Biotecnologia/ Farmácia 31%
Engenharia Elétrica 20%
Educação Física 20%
Ciência da Computação 14%

Apenas para os casos dos que possuem ativos de PI, as decisões sobre a distribuição
da titularidade são difusas, predominando os casos em que a instituição do pesquisador
figura exclusivamente ou ao menos como uma das titulares (Figura 56). Embora tal
resultado esteja de acordo com a LPI, que prescreve que os ativos gerados pelos
funcionários são de propriedade de quem os emprega, também pode indicar que em alguns
casos a instituição abre mão deste direito por desinteresse ou desconhecimento.

Figura 56 – Distribuição das titularidades dos ativos entre as instituições e os pesquisadores


260

Condizente com o verificado ao nível nacional e no levantamento bibliográfico, a


transferência desses ativos para o mercado é baixa (Figura 57). Dentre as ocorridas,
predominam dentro da própria Zona da Mata ou para outros estados e nas mesmas áreas
destacadas no portfólio científico e tecnológico da região, a saber: Física, Engenharias e
Ciência e Tecnologia de Alimentos.

Figura 57 – Percentual de ativos de propriedade intelectual transferidos

Quando consultados acerca das principais dificuldades para a transferência dos


ativos que foram apropriados, novamente se evidenciam as lacunas referentes às ações de
intermediação (Figura 58), quando os órgãos responsáveis são apontados como
excessivamente burocráticos e carentes de procedimentos estruturados, e que pode em
parte justificar a desmotivação dos pesquisadores em fazê-lo, dificuldades que juntas
totalizam 50% das respostas (conforme a linha do gráfico). Além das deficiências de
comunicação e divergências de expectativas apontadas. É importante destacar que a
insegurança jurídica, muito pontuada em pesquisas anteriores e mencionada na revisão
bibliográfica, não figura mais como uma dificuldade expressiva. Isto pode sinalizar que,
ainda que as políticas de inovação não estejam totalmente desenhadas e difundidas nas
instituições, o marco legal e leis anteriores correlatas já podem ter gerado impactos
positivos nesse sentido.
O conhecimento sobre o que é produzido (científica e tecnologicamente) nas suas
áreas ou em áreas afins dentro da instituição é, em geral, baixo (com classificação média
de 6,5), o que pode explicar os poucos casos de parcerias interdepartamentais. Quando essa
classificação é estratificada por área, as melhores ocorrem nas de Artes e Design/ Artes
Visuais/ Cinema, Enfermagem, Química, Ciência da Computação, Biologia/
Biotecnologia/ Farmácia e Engenharia Elétrica.
261

Figura 58 – Principais dificuldades para a transferência dos ativos de PI na perspectiva dos pesquisadores

Os meios apontados como mais usuais para acessar informações e conhecimento na


instituição foram buscas por publicações científicas e eventos internos (43%), embora boa
parte (28%) não faça distinção entre o que é produzido interna e externamente em suas
prospecções. É válido sinalizar que as publicações tecnológicas, seguidas da consulta a um
setor dedicado a essa organização (a exemplos dos NIT) não são vistos como relevantes
(Figura 59).
A classificação dos perfis das parcerias para P&D, quanto à relevância, apresentada
na Tabela 4 (que apresenta a média das notas, entre 1 a 10, atribuídas pelos pesquisadores a
cada tipo, por área), endossa a afirmação de que as decisões sobre os temas de pesquisa
ocorrem majoritariamente em função da continuidade daquelas desenvolvidas ao longo da
trajetória acadêmica dos pesquisadores, que pode ter ocorrido em IES distintas da que
trabalham. Desse modo, é compreensível que ocorram mais parcerias entre pesquisadores
de diferentes instituições, a despeito da distância física, o que em parte refuta o argumento
de que o fluxo de conhecimento condiciona-se à aproximação física. Como esperado, as
parcerias com empresas, governos, associações, entre outros, são no geral menos
influentes. Algumas exceções, no entanto, se verificam nas áreas de Biologia/
Biotecnologia/ Farmácia, Ciência e Tecnologia de Alimentos/ Nutrição e Medicina, onde
as parcerias com pesquisadores de outros departamentos da mesma instituição
262

predominam, assim como nas de Agronomia, Artes e Design/ Artes Visuais/ Cinema e
Física, com maior alinhamento intradepartamental.

Tabela 4 – Perfil das parcerias de P&D estabelecidas pelos pesquisadores, por área
Parcerias de
P&D com Parcerias com Parcerias com
Parcerias de P&D pesquisadores de pesquisadores de empresas,
com pesquisadores outros outras governo,
do mesmo departamentos da instituições de associações,
Área de pesquisa departamento minha instituição ensino e pesquisa entre outros.
Agronomia 7,0 6,3 4,3 3,7
Artes e Design/ Artes Visuais/
Cinema 7,0 4,2 5,3 4,4
Biologia/ Biotecnologia/
Farmácia 5,7 7,9 5,7 2,6
Ciência da Computação 4,4 3,1 3,3 1,6
Ciência e Tecnologia de
Alimentos/ Nutrição 4,8 6,1 4,9 3,0
Sociologia/ Economia/
Ciências Sociais 3,2 5,3 7,0 3,7
Educação Física 3,8 3,6 5,4 2,2
Enfermagem 2,0 2,0 5,7 2,7
Engenharia Civil 5,3 5,4 4,7 4,3
Engenharia de Materiais e
Metalúrgica 4,3 3,7 5,7 2,7
Engenharia de Produção 1,3 6,7 3,3 7,7
Engenharia Elétrica 3,4 2,4 6,2 5,0
Engenharia Mecânica 3,3 4,3 4,0 4,7
Física 6,9 2,7 7,0 3,9
Medicina 2,8 7,0 6,3 0,5
Odontologia 6,5 4,7 4,0 2,5
Química 3,8 3,8 4,5 3,2
Média Geral 4,7 4,7 5,4 3,3

Situação similar ocorre quando respondem sobre os meios mais empregados para
acessar informação/conhecimento fora da instituição, onde predominam a busca por
publicações científicas e participação em eventos externos, além da consulta a outras
mídias, em detrimento a publicações tecnológicas e parcerias com atores não acadêmicos,
como empresas e membros da comunidade em geral (Figura 60). Embora as parcerias de
pesquisa ocorram mais com pesquisadores de outras IES, a participação em grupos de
pesquisas e estudos interinstitucionais não é vista como instrumento mais efetivo, o que
pode se justificar, nesse caso, pelo distanciamento físico.
263

Figura 59 – Principais meios usados pelos pesquisadores para acessar informação/conhecimento na


instituição

Figura 60 – Meios usados pelos pesquisadores para acessar informação/conhecimento fora da instituição
264

Especificamente quanto aos instrumentos para identificação de parceiros para P&D


dentro da instituição, é notória a predominância daqueles informais, em comparação às
iniciativas mais estruturadas, como reuniões com essa finalidade ou com a intervenção
explícita do NIT e/ou diretoria de inovação. Assim como pontuado nas entrevistas da
Seção 4.2, por rejeição ou hábito, a abordagem de parceiros ainda se restringe às ações do
próprio pesquisador, que em geral não consegue enxergar esses setores como facilitadores
(Figura 61). Também, porque esses setores não contam com estrutura capaz de assisti-los
nesse sentido e apresentam políticas de inovação recém-instituídas ou em fase de
desenvolvimento.

Figura 61 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D dentro da instituição

Quando estratificada a localização das IES parceiras dos 78 (76%) pesquisadores


que estabeleceram esses tipos de parcerias nos últimos cinco anos (Figura 62) nota-se que
estas são distribuídas em similar proporção entre instituições de Minas Gerais e do Rio de
Janeiro, endossando a polarização do segundo estado apontada nas entrevistas.
265

Figura 62 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D dentro da instituição

Dentre as 160 instituições parceiras mencionadas se destacam em ordem de


ocorrência: UFRJ, UFV, UFMG, USP, FIOCRUZ, Laboratório Nacional de Computação
Científica (LNCC) e Universidade Federal Fluminense (UFF). Faz-se importante reforçar
que o maior número de respondentes situados em Juiz de Fora acentua a relação com o
estado do Rio de Janeiro. Embora a UFJF figure com alguma expressividade como parceira
das demais instituições consultadas, o oposto não ocorre, sendo estas pouco mencionadas
pelos pesquisadores da universidade. Também é imperativo destacar que a UEMG de Ubá,
instituição cujas menções são baixas, foi citada três vezes por pesquisadores diferentes da
UFJF como parceira nas áreas de Artes e Design/ Artes Visuais e Engenharia de Materiais,
o que muito se associa às demandas do polo moveleiro da região (ainda que relativamente
distante de Juiz de Fora).
Novamente, e como mostra a Figura 63, os NIT e/ou diretorias de inovação da
instituição são os instrumentos menos usuais para a prospecção de parceiros externos, tal
qual ocorre para internos. Ademais, indica que os pesquisadores atuam de forma
independente e usam suas próprias redes de relacionamento, visto que as duas primeiras
categorias mais votadas foram selecionadas por 76 e 56 pesquisadores, respectivamente.
Dentre as instituições apontadas como intermediadoras são mencionadas, além das
próprias parceiras: EMATER, SEBRAE, prefeituras e órgãos municipais como Corpo de
Bombeiros e Defesa Civil (que reforçam as conclusões acerca das capacidades político-
relacionais desses atores na Seção 4.1.2).
266

Figura 63 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D em IES externas

As principais motivações para a busca de parceiros de P&D em outras IES (Figura


64) foram a complementação de conhecimento não disponível no seu
departamento/instituição (74 respostas), ainda que reconheçam não saber o suficiente sobre
o que é produzido internamente; o acesso a oportunidades de financiamento (36 respostas);
as redes de relacionamento já estabelecidas (27 respostas); e, as possibilidades de melhoria
nos indicadores do departamento/instituição (23 respostas).
Assim como ocorre com parcerias de P&D com outras IES, devido a baixa
relevância atribuída anteriormente, apenas 31% dos respondentes (32 pesquisadores)
revelaram ter estabelecido parcerias com empresas nos últimos cinco anos. Destes, e
diferente dos parceiros acadêmicos, a maior parte se deu com empresas situadas na Zona
da Mata (Figura 65). As áreas correspondentes, independente da localização das mesmas,
são, em ordem de ocorrência: Engenharias, Ciência da Computação, Ciência e Tecnologia
de Alimentos , Física e Química.
267

Figura 64 – Motivações para parcerias com outras ICT

Figura 65 – Percentual de pesquisadores que estabeleceram parcerias com empresas

A informação do parágrafo anterior, aliada ao portfólio tecnológico e respostas


acerca dos ativos de PI por área, é reforçada quando verificados os tipos de parcerias que
268

os pesquisadores estabelecem com empresas (Figura 66), para o desenvolvimento e


melhoria de produtos e/ou processos e consultorias, em detrimento de ações formais de
transferência (licenciamentos e contratos de P&D). Essa informação sugere que muito do
conhecimento produzido nas IES é de certo modo transferido, mas esse fluxo não é
formalmente mapeado. E, em muitos casos não é sequer percebido pelo pesquisador.
Em 32% dos casos, equivalente a 15 respostas, no entanto, apontam que a proposta
de parceria ocorre por iniciativa própria, e em 28% (11 respostas) por colegas
pesquisadores da mesma instituição, sendo as empresas responsáveis apenas por 13% dos
casos (6 respostas) (Figura 67). E, os NIT e/ou diretorias de inovação também são pouco
representativos nessa etapa. Nos poucos casos de intermediação por outras instituições são
apontadas a Agência Polo do Leite e a Prefeitura de Juiz de Fora, novamente reforçando as
conclusões das entrevistas.
As questões referentes à PI nas parcerias com IES e empresas demonstram dois
aspectos relevantes (Figuras 68 e 69). O primeiro é que, assim como suposto
anteriormente, boa parte dos pesquisadores não se preocupa com a apropriação do
conhecimento e das tecnologias resultantes (recorrendo pouco aos NIT para isto). O
segundo é que, como também apontado nas entrevistas, nos casos em que estes Núcleos
são envolvidos, isto ocorre apenas no final do processo de parceria, mais propriamente
quando existe interesse em registrar ou depositar os ativos. Essa conclusão complementa as
observações acerca das dificuldades de transferência percebidas pelos NIT, uma vez que
não atuam ao longo de todo processo, naturalmente possuem mais dificuldades de executar
plenamente suas funções, como no estabelecimento de cláusulas contratuais específicas
para as negociações com empresas. Em apenas dois casos outras instituições foram
mencionadas como apoiadoras da etapa de apropriação, a FAPEMIG e a FADEPE.
269

Figura 66 – Características das parcerias entre pesquisadores e empresas

Figura 67 – Como se estabelece o primeiro contato entre o pesquisador e a empresa?


270

Figura 68 – Propriedade Intelectual nas parcerias com IES

Figura 69 – Propriedade Intelectual nas parcerias entre pesquisadores e empresas


271

A percepção dos pesquisadores acerca dos seus principais mecanismos de incentivo


para a formação de parcerias de P&D e de transferências de conhecimento e tecnologias se
mostra diferente da dos gerentes e coordenadores dos NIT e diretores de inovação
entrevistados (Figura 70). Enquanto que para os segundos o prestígio e a reputação são
entendidos como mecanismos preponderantes, os primeiros indicam os benefícios
financeiros como mais relevantes. Essa conclusão pode indicar que as estratégias de
atração adotadas por esses núcleos não são as mais apropriadas, uma vez que os
licenciamentos e contratos de P&D, embora sejam os meios que melhor trazem esses
retornos, não são os mais adotados pelos pesquisadores.

Figura 70 – Mecanismos de incentivo para parcerias de P&D e transferência de conhecimento e tecnologias,


na percepção dos pesquisadores

Do mesmo modo, quando verificado se os departamentos em que estes


pesquisadores se encontram lotados adotam alguma norma ou rotina para armazenamento,
mapeamento e resgate do conhecimento produzido internamente, verificou-se que em
90,7% dos casos (88 respostas), isso não ocorre. Essa informação complementa algumas
das anteriores, quando indica que, não tendo os NIT e diretorias de inovação total
conhecimento e controle sobre o que é produzido, e isso também não ocorrendo dentro dos
próprios departamentos, a gestão do conhecimento por parte das instituições como um todo
é ineficaz, o que justifica as baixas iniciativas de parcerias, sobretudo com empresas e a
baixa aderência percebida sobre o que é produzido por parte do mercado regional. É
272

importante pontuar que isso ocorre de forma menos acentuada nas instituições com
vocações mais específicas, a exemplo da EMBRAPA, EPAMIG e dos institutos federais
consultados, supostamente em razão da maior facilidade em organizar as informações
quando se tratam de áreas que naturalmente se comunicam.
Por fim, os critérios considerados mais importantes para a avaliação da efetividade
das parcerias e da qualidade do conhecimento desenvolvido (Figura 71), acompanham
diversas conclusões anteriores. Na falta de métricas e indicadores de desempenho mais
alinhados à produção tecnológica, os pesquisadores ainda se baseiam no aumento da
produção científica, bem como na recorrência das parcerias, como parâmetros de
desempenho possíveis. Adicionalmente, os impactos socioambientais e ganhos de
visibilidade não são entendidos como tão importantes, provavelmente em razão das
dificuldades em mensurá-los. É esperado que as novas políticas de inovação estimulem o
interesse por produções de cunho tecnológico e transferências formais de conhecimento de
modo geral, o que demandará, entre outros, a organização e mapeamento do conhecimento
que podem ofertar, com vistas aos ganhos pecuniários almejados.

Figura 71 – Critérios apontados pelos pesquisadores para avaliação da efetividade das parcerias e qualidade
do conhecimento desenvolvido
273

5. CONCLUSÃO
O levantamento bibliográfico, documental e a pesquisa de campo apresentados
neste estudo foram, em conjunto, essenciais para que se cumprissem todos os objetivos
propostos de forma satisfatória. Era esperado que a pesquisa, ao envolver questões de
naturezas sociais tão complexas e pouco previsíveis, não pudesse se restringir a análise de
dados e informações oriundos apenas de fontes secundárias. Os temas governança do
conhecimento e sistemas de inovação nela abordados, quando experimentados na prática,
trazem como pano de fundo a subjetividade inerente às relações pessoais em que se
baseiam (como previsto pela abordagem epistemológica).
Quanto aos seus objetivos específicos, a distinção entre os tipos de regiões
presentes no SRI mineiro como um todo (por meio do mapeamento de ativos e fluxos de
conhecimento formais das suas IES, assim como dos perfis industriais principais) foi
condição necessária para que se considerasse previamente, sobretudo ao longo das
entrevistas referentes às Capacidades Estatais, as disparidades existentes entre os sistemas
de inovação dos territórios do estado e, com isso, o que do conjunto de políticas públicas
dedicadas à inovação poderia ser aplicado à Zona da Mata de fato. A contextualização do
objeto do estudo na estrutura de nível estadual que o envolve, como também a descrição
das suas desigualdades internas, trouxe à luz o entendimento de que as políticas de cunho
estratégico em Minas Gerais que busquem promover o seu desenvolvimento econômico
sustentável, mas que desconsiderem sua heterogeneidade, provavelmente, resultará em
baixa efetividade e continuidade, como em diversos pontos foi evidenciado para este
objeto de estudo. Apesar da intenção, sobretudo da SEDECTES, de alcançar com seus
projetos todo o estado, na prática foi evidente o enfraquecimento das conexões com a Zona
da Mata, nos dois sentidos, ao longo dos últimos quatro anos (o que enfatiza, entre outros,
a igual ou maior relevância das redes de poder socioterritoriais quando comparadas à
intervenção estatal).
As análises aqui realizadas e os tantos outros estudos acerca dos portfólios
científicos e tecnológicos das instituições de ensino e pesquisa mineiras sugerem que ainda
há muito a ser explorado. Para além, tanto a indispensável modernização das suas
indústrias tradicionais quanto o incentivo a criação de outras trajetórias de conhecimento e
tecnológicas, sem obrigatória ruptura com as anteriores, pautam-se na ainda excessiva
dependência do estado de seus recursos naturais.
A discussão sobre a interação entre ciência e inovação, materializada
principalmente nas relações entre instituições de pesquisa e empresas, é apropriada para o
274

estado, detentor da maior quantidade de universidades públicas do país (sendo algumas


delas inclusive destaque no cenário nacional e mundial, a exemplo da UFV e da UFMG) e
de importantes instituições de pesquisa. As informações aqui levantadas demonstram que a
infraestrutura científica mineira possibilita vínculos de alto nível entre essas instituições
com as de fora do sistema de inovação mineiro, mas insuficientemente replicados quando
consideradas as suas principais cadeias produtivas (inclusive as de alta tecnologia). Esta
observação reforça o defendido na literatura sobre SRI e SNI, quando determina que o
fluxo de conhecimento ocorre organicamente entre os nós de alta e baixa energia pouco
influenciado pelas simples delimitações territoriais.
As análises quantitativas e qualitativas apresentadas na Seção 3 sinalizaram os
aspectos indispensáveis à correta orientação da pesquisa de campo. Como impactos
evidentes das deficiências no SNI brasileiro sobre o SRI mineiro destacam-se: a
descontinuidade das políticas públicas explicitamente ligadas à inovação, traduzida nas
profundas e constantes mudanças institucionais e regulatórias ao longo dos anos; a ainda
baixa atenção dada às especificidades setoriais por essas políticas; a baixa empregabilidade
de pesquisadores pelas empresas; a má distribuição das IES públicas pelo estado analisado;
a forte especialização em setores industriais pouco intensivos em tecnologia; a baixa
expressividade das exportações de manufaturados de alto valor agregado; a alta
dependência de instrumentos públicos de financiamento; a dominação de setores
estratégicos por multinacionais; e, a influência das interações históricas de longo prazo na
conformação dos sistemas locais e setoriais de inovação entendidos como bem sucedidos.
Novamente, tais resultados demonstram a pertinência das discussões teóricas sobre
estratégia e epistemologia (e mais propriamente historicidade).
Complementarmente, provou-se necessário o levantamento do histórico das
políticas públicas explícita e implicitamente ligadas à inovação do estado, bem como suas
descontinuidades ao longo do tempo. A compreensão do papel legitimado das instituições
envolvidas, assim como suas estratégias de atuação documentadas, puderam ser validadas
em campo, e, apenas desse modo pôde-se apontar as incoerências na sua implementação
justificadas, entre outros, por conflitos de interesses entre seus gestores; deficiências de
monitoramento e fiscalização; pelo impacto das trocas de gestão no seguimento das ações
previstas; e, pela falta de clareza nos papéis de cada envolvido, melhor detalhadas adiante.
Adicionalmente, que as diferenças verificadas entre os territórios do estado mencionadas
também implicam na efetividade das suas ações locais.
275

Especificamente quanto ao sistema mineiro, mais recentemente, a priorização pelo


desenvolvimento dos setores de TIC, biotecnologia, nanotecnologia, fármacos, saúde
animal e aeroespacial alinha-se ao conteúdo dos portfólios científico e tecnológicos
levantados (expressivos nas áreas de agricultura voltadas a dieta animal, química, física,
engenharia elétrica, bioquímica e biologia molecular, ciência dos materiais, ciência da
computação e farmácia). Corrobora para esse direcionamento o aumento relativo do
fomento oriundo da FAPEMIG em projetos especiais, endogovernamentais e
estruturadores (ou seja, naqueles inseridos em programas e planos de interesse do
governo); e, os pilares do programa Minas Digital.
Essas primeiras constatações foram importantes para justificar o aprofundamento
do estudo sobre a gestão e governança do conhecimento no território escolhido, guiado por
um modelo teórico estruturado, que contemplou a análise das atuações e motivações dos
atores de governo, de apoio, intermediação e fomento pertinentes (capacidades estatais);
das instituições de ensino e pesquisa, e mais propriamente dos seus setores ligados à
inovação (capacidades dinâmicas); e, dos pesquisadores ligados a estas últimas
(capacidades cognitivas). Ademais, e embora suficientemente enfatizado que sua aplicação
deve considerar as especificidades políticas, educacionais, sociais e culturais de cada caso,
acredita-se que pode fornecer insights e orientações valiosas para o seu aproveitamento em
estudos futuros da mesma natureza.
Com o seu uso, o objetivo geral de identificar empiricamente como as práticas de
gestão e governança do conhecimento são e deveriam ser empregadas no território
estudado, com intuito de revelar e ampliar o seu papel potencial dentro do SRI mineiro
pôde ser alcançado. Para além, as diferentes percepções verificadas dentro e entre cada
esfera supracitada permitem conclusões que vão além das já defendidas em estudos
similares, e que são apresentadas nos próximos parágrafos.
Quanto às capacidades estatais, isoladamente, a divisão da análise entre as técnico-
administrativas e político-relacionais mostrou-se útil para o estudo de caso. Embora
naturalmente se impactem, é possível que dentro de um escopo temporal de avaliação as
deficiências em alguma delas prevaleçam. Foi percebido que em um passado mais recente,
por exemplo, as segundas foram mais determinantes para a descontinuidade de iniciativas
em nível estadual, enquanto que as primeiras em nível regional. Isto porque as questões
relacionadas a conflitos de interesses, a falta de clareza nos papéis institucionais, baixa
propensão à cooperação e desalinhamento de estratégias foram menos incidentes entre as
instituições que atuam exclusivamente na Zona da Mata. Por outro lado, a duplicidade de
276

ações e a falta de condições estruturais para a sua execução foram recorrentes nas falas dos
entrevistados do mesmo território.
Por sua vez, os reflexos das mudanças de gestão nos governos e nas instituições
puderam ser confirmados em ambos os níveis de análise. De um modo geral, é perceptível
o esvaziamento dos projetos que estimulam o envolvimento das universidades no apoio à
inovação nas empresas, sejam elas tradicionais ou startups. Por outro lado, também foram
evidenciadas ações pontuais e desvinculadas da SEDECTES, que de alguma maneira
buscaram resgatar no último ano esse vínculo enfraquecido e sinalizam discordâncias com
o modo como as ações da secretaria foram conduzidas, especialmente no último governo.
Não é possível mensurar os impactos da concomitante crise orçamentária sofrida pelo
estado sobre os projetos, percebida com diferentes graus de influência pelos entrevistados,
embora flagrante na atuação dos fóruns regionais, no trabalho dos agentes locais de
inovação e nos programas previstos para o Minas Digital. Mas a maioria concorda que, a
despeito da crise, as ações concentram-se na região metropolitana, contrariando a ideia de
desenvolvimento territorial integrado defendida nos planos governamentais de médio
prazo.
Principalmente na ótica das instituições que assumem de algum modo a
incumbência de apoiar o desenvolvimento, se em um primeiro momento o
redirecionamento estratégico para políticas que estimulassem a criação de startups não
foram percebidas de um todo equivocadas, uma vez que acompanhavam uma tendência
global; em um segundo, demonstraram-se insuficientemente embasadas por um estrutura
que as suportassem permanentemente, para além do processo de sensibilização, como com
a provisão de incubadoras e parques tecnológicos. Em outras palavras, os efeitos residuais
previstos por esses estímulos, inclusive como alternativas para o escoamento do portfólio
científico e tecnológico abundante nas instituições de ensino e pesquisa, não se deram
como o esperado, ao menos de forma explícita. As razões apontadas divergem, ora
atribuídas à baixa cultura empreendedora ainda presente nessas instituições, aliada a
imaturidade e pouca aderência ao mercado das tecnologias por elas produzidas, ora pelo
baixo interesse das empresas mineiras por alternativas que envolvam “big science”.
Outro diagnóstico importante trata-se das falhas de divulgação sobre as ações entre
as secretarias e instituições, que nem sempre são propositalmente concorrentes. Como
exemplo, podem ser mencionados a baixa ou inexistente integração entre os agentes de
inovação e os fóruns regionais; o desconhecimento por parte de entrevistados vinculados à
própria SEDECTES do programa Alianças Estratégicas, e sobre a permanência ou extinção
277

do CONECIT; e, os inúmeros programas de aceleração capitaneados por quase todas as


instituições entrevistadas isoladamente. O mesmo ocorre entre o governo do estado e a
região estudada, nos dois sentidos. Na administração central, a compreensão sobre as
potencialidades da Zona da Mata e das ações regionais (como o GDI Mata e os rumos do
Polo do Leite) é quase nula, enquanto que os programas ligados ao Minas Digital
apresentam baixa capilaridade territorial. Novamente, as causas sugeridas são diversas:
deficiente atuação dos agentes de inovação locais; falta de uma diretriz clara de atuação
nas instituições; reduzido esforço de divulgação das iniciativas regionais por parte das
instituições do território; escassez de mão de obra no governo estadual para prospectar
demandas e oferecer soluções direcionadas; alta rotatividade de pessoas nos cargos
responsáveis pelas ligações; e, rejeição e ceticismo por qualquer iniciativa ligada ao
governo.
Não por acaso, as instituições que possuem mais capilaridade no território, e que
também contam com unidades estratégicas na capital, como SEBRAE e EMATER, são
distinguidas como as verdadeiramente capazes de minimizar essas contingências, com
gestões mais longas e que perpassam governos; desdobramento das estratégias em todos os
níveis, sem perda de autonomia; presença física em quase todos os municípios; e, histórica
relação com as partes interessadas locais, inclusive com as de ensino e pesquisa.
Uma questão recorrentemente sinalizada é a de que a criação de uma infraestrutura
de suporte na região é condicionante para que haja o fluxo de conhecimento entre
instituições de ensino e pesquisa e empresas. Isto diz respeito tanto às questões
relacionadas à qualidade de vida, logística e segurança, quanto à disponibilização de mão
de obra especializada (e não apenas qualificada). Adicionalmente, demanda um viés mais
oportunista dos governos locais, lançando mão da identificação de potencialidades, bem
como selecionando os investimentos setoriais de modo mais assertivo. No entanto, essa
seleção não é tarefa fácil haja vista a discordância sobre as vocações econômicas da Zona
da Mata, mais precisamente, entre o setor de serviços e a indústria tradicional. Em ambos
os casos, falta fixar meios de agregação de valor, como com um polo que alie os serviços
aos setores produtivos afins no primeiro caso, ou com o estímulo à inovação e acesso
facilitado às tecnologias pela segunda, que também sofre com o envelhecimento dos
produtores e consequente falta de oxigenação.
Quanto à fiscalização e monitoramento, é esperado que a falta de diretrizes de
atuação claras em quase todas as instituições impossibilite ou ao menos dificulte a sua
efetividade. Até mesmo as instituições percebidas como mais eficientes em termos de
278

abrangência, SEBRAE e EMATER, assim como as outras analisadas, apontam a


incomensurabilidade de alguns resultados como dificultante. É sabido que o retorno dos
investimentos feitos em inovação, em todos os sentidos, não é imediato. Além disso, as
ações das instituições são transversais e, por isso, os reflexos multifatoriais. Como também
sinalizado nas entrevistas, a literatura atual sobre sistemas de inovação e governança, e a
própria legislação pertinente, ainda são pobres em termos de instrumentalização, o que
pôde ser observado com as dificuldades verificadas na formulação dos acordos de
cooperação e das políticas institucionais de inovação, por exemplo.
Por esta mesma razão, os entraves em termos de fiscalização sinalizados na
literatura como principais promotores de atitudes oportunistas e da assimetria de
informação foram validados em campo. Fica evidente na análise das capacidades político-
relacionais, principalmente, que a maior dificuldade em termos de governança, também em
ambos os níveis, é a de promover a integração das ações e articulação de interesses entre os
envolvidos no sistema. É válido novamente destacar que as instituições e suas relações são
influenciadas pelo perfil de seus gestores, providos de diferentes visões e por vezes
motivados pelo ego e vaidades. As iniciativas de criação de um órgão ou movimento capaz
de trabalhar como mediador são, constantemente, enfraquecidas ou ocorrem capitaneadas
por muitos atores simultaneamente (o que fica notório com as diversas agências, grupos e
movimentos em prol do desenvolvimento existentes e desintegrados).
Em algumas falas, a falta de uma missão clara para o estado, respaldada por uma
estratégia comum e isenta, foi apontada como agravante, assim como em menor grau o
impacto das diferenças políticas. Nas instituições cujas gestões perpassam as mudanças no
governo, foi percebida a maior facilidade na condução de projetos de longo prazo e
formação de parcerias, uma vez que as agendas e equipes não mudaram muitas vezes. Por
isso, as tentativas de integração interinstitucionais, na forma de governança, ainda que não
tenham sido suficientemente bem sucedidas até agora, apontam que ao menos é percebida
a necessidade de se garantir que as diretrizes estratégicas do estado e da região também se
mantenham a despeito das mudanças de gestão.
Como consequência, foi claramente evidenciada a desmotivação de alguns atores à
contribuição em ações do governo nesse sentido, reforçada pela crise de moralidade
política instaurada. Por outro lado, quando essas ações desvinculam-se do estado, e mais
propriamente da SEDECTES, logo perdem força pela falta de um líder legitimado e de
recursos (como visto na TMI, no GDI e Agência de Inovação de Leite e Derivados), entre
outros motivos. Ainda assim, o suposto desinteresse compartilhado pelos atores que foram
279

alvo das políticas, nomeadamente as instituições de pesquisa as empresas, é visto como


relevante.
Para alguns entrevistados, o empresariado mineiro é excessivamente conservador e
pouco articulado; as startups, que poderiam promover a modernização de setores, são
menos inovadoras do que o necessário; e, a cultura presente nas instituições de pesquisa
ainda é muito direcionada à pesquisa básica, além de resultar em conhecimento e
tecnologias com reduzidos transbordamentos.
Das entrevistas também emerge a importância de knowledge brokers, já que a
integração entre as pessoas que compõem as instituições depende de fatores como
credibilidade histórica e capacidade de articulação, para além de nomeações formais. Por
isto, indivíduos de forma isolada, atualmente, assumem de modo mais ativo esse papel do
que aqueles que formalmente o detêm, a exemplos dos agentes locais de inovação e
secretários executivos dos fóruns regionais. Em nível regional, o papel tácito concentra-se
nas mãos do diretor de inovação do CRITT (UFJF), enquanto que em nível estadual, nas
do presidente da FAPEMIG, ambos expressivamente apontados como reais mediadores de
interesses, capazes de mapear competências, serem canal efetivo de alianças e norteadores.
Em um segundo estágio da pesquisa de campo, as diretorias de inovação das
instituições de pesquisa e NIT, apontados como os canais mais indicados para promover a
ligação entre o governo (e mais propriamente a SEDECTES), as instituições do estado e os
pesquisadores, foram consultados. Ainda que o processo para regulamentação da operação
dessas entidades seja relativamente recente, na prática foram encontradas instituições que
se encontram em diferentes estágios de maturidade. Como consequência, também com
diferentes contingências operacionais.
Como pontos comuns verifica-se a dificuldade em garantir suficiente autonomia de
atuação dos Núcleos, sobretudo em suas relações externas. De um modo geral, estes
passaram por sucessivos reajustes estruturais para, de algum modo, minimizar os impactos
procedentes da falta de recursos e bloqueios culturais, concentrando seus esforços, em
ordem de relevância, na proteção de ativos de PI, no empreendedorismo acadêmico e na
transferência de tecnologias. Da mesma forma que verificado nas instituições de
intermediação, apoio e fomento, as diretrizes estratégicas para atuação nas de pesquisa são
difusas e pouco explícitas. A falta de recursos humanos em qualidade e quantidade
dedicados a essas atividades é flagrante, e agravada nos casos daquelas compostas por
muitos campi distribuídos pelo território, justamente com o objetivo de escoar pesquisas de
natureza aplicada, como UEMG, IF, EPAMIG, e em menor grau, o CEFET, cuja gestão da
280

área é concentrada nas reitorias. Em grande parte das falas, porém, a implementação das
políticas de inovação em acordo com o novo marco legal (com exceção da EPAMIG) é
vista como potencial atenuante, embora se perceba que a sua formulação não envolva
suficientemente os diversos campi. Uma exceção é a EMBRAPA, pois ainda que conte
com uma forte hierarquia e gestão do tipo topdown, apresenta um desdobramento eficiente
em função da qualidade dos seus processos de comunicação internos.
O tamanho e o grau de especialização dessas instituições também foram percebidos
como fatores que impactam a atuação das diretorias e núcleos. Em geral, quanto menos
pesquisadores e mais concentradas em áreas são as pesquisas, mais fácil é articulá-las com
o mercado e orquestrar o fluxo de conhecimento internamente, bem como usufruir das
políticas públicas e dos mecanismos de apoio externos. Do mesmo modo, essas
características favoráveis também facilitam a percepção dos seus pesquisadores acerca da
sua missão regional e seu papel comparativamente a outras instituições.
Também nesse grupo foram observadas dificuldades em determinar quais seriam as
vocações econômicas do território da Zona da Mata. Porém, se nas instituições
entrevistadas no primeiro grupo isto se deve, principalmente, ao distanciamento físico da
administração central, às falhas de comunicação e articulação e a concentração das ações
na região metropolitana; nas do segundo grupo, a divisão entre a percepção dos atores de
Juiz de Fora e do entorno (mais influenciados pelo estado do Rio de Janeiro) e dos das
demais localidades sugere incongruências importantes e específicas. Quando
adicionalmente é constatado que as instituições de pesquisa mais maduras e que contam
com estruturas de apoio à inovação, comparativamente mais robustas, como UFJF e
EMBRAPA, concentram-se na cidade supracitada, justifica-se o enfraquecimento da sua
atuação junto aos demandantes de outros microterritórios. Porém, e novamente, isso é
minimizado pela força de ação, historicidade e capilaridade de instituições como a
EMATER e o SEBRAE.
Em paralelo, a participação da UFJF e do IFSudeste, este segundo em menor
intensidade, no GDI, na ADJFR e no Comdeti revelam a sutil inclinação estratégica destas
instituições para os esforços exógenos de desenvolvimento e fortalecimento do setor de
serviços em saúde e educação. Ou seja, do mesmo modo que as diferenças interterritoriais
dificultam a implementação de políticas topdown, as intraterritoriais as agravam. Pouco foi
defendido que as alianças podem abranger áreas não explicitamente relacionadas com as
principais aglomerações produtivas verificadas no território, o que apenas ocorreu no caso
do CEFET Leopoldina, quando defendido pelo seu entrevistado que o desenvolvimento das
281

áreas de TI e automação, por exemplo, podem dinamizar inclusive as atividades dos


setores mais tradicionais, como agricultura.
Em geral, a descontinuidade dos programas de governo mais ligados às instituições
de ensino e pesquisa foi percebida pelos entrevistados. E, pela mesma razão, a mobilização
regional ganhou mais relevância, principalmente na percepção das instituições de Juiz de
Fora, que mencionam positivamente ações do GDI e da prefeitura da cidade (evidente no
projeto Macaúba), embora haja a preocupação com a falta de foco em médio e longo prazo.
O mesmo ocorre acerca da compreensão do papel do agente de inovação da SEDECTES,
mais reconhecido pelas instituições da cidade, em função da já mencionada dificuldade do
mesmo em acessar, fisicamente, outros microterritórios. Em menor grau, as divergências
político-partidárias também são mencionadas para os casos das escolhas dos gestores das
instituições de pesquisa e empresas estatais em geral, e consequente impacto na formação
de parcerias. O perfil das pessoas ligadas à inovação nas instituições é determinante para o
fluxo de conhecimento, bem como o tempo de atuação na função é favorável na inserção
em redes, o que é visto no CRITT e no CEFET, mas que por outro lado torna as relações e
os processos demasiadamente tácitos e informais.
Quanto à capacidade de identificar oportunidades, a prospecção de mercado ainda é
muito baixa, e agravada pela deficiente compreensão das expertises internas disponíveis,
principalmente nas multicampi e/ou maiores, além da concomitante falta de clareza quanto
à missão e estratégia da instituição e escassez de mão de obra para exercer essa atividade.
Na visão da maioria dos entrevistados, a cultura conservadora presente na atuação dos
pesquisadores dificulta esse trabalho, bem como o da etapa seguinte de síntese e reflexão
coletiva, dependente da proatividade destes em estabelecer relações externas. Para isso, é
importante que as políticas de inovação em fase de implementação sejam acompanhadas de
iniciativas de sensibilização consistentes, o que para os Núcleos é atrelada a compreensão
dos ganhos em prestígio e reconhecimento oriundos da cooperação por estes profissionais
(diferente do verificado na ótica dos próprios pesquisadores, sinalizada adiante).
Em relação aos entraves no acesso às informações por parte do empresariado local,
acredita-se na sua minimização com o crescimento dos grupos e agências de
desenvolvimento. Em resumo, fica evidente o impacto das incertezas acerca das vocações
econômicas do território na operação dos núcleos, atreladas às ineficiências internas, em
termos de estratégia, estrutura organizacional e cultura. Por outro lado, nota-se uma
tendência de crescimento da sua articulação com as instituições de intermediação, apoio e
282

fomento, em razão das recentes iniciativas locais de integração, que podem inclusive
promover o alinhamento estratégico necessário em médio e longo prazo.
Os entraves na etapa de identificação das oportunidades internas e externas
verificadas, naturalmente afetam a capacidade de apreensão das mesmas, o que foi também
investigado. Ao menos formalmente não foi possível identificar a existência de alguém que
atuasse como um gatekeeper nessas instituições. Isto, especialmente, por faltar densidade
nas ações de transferência que permitisse o acúmulo de massa crítica necessário para a
seleção racional do mercado e tecnologias. Os critérios de seleção também variam com o
perfil dos gestores na ocasião, e nem sempre condizem com o defendido pelos
pesquisadores. Ainda que fosse possível empregar critérios em um processo de seleção de
oportunidades, a dificuldade de mensurá-los quanto à viabilidade técnica e financeira,
custo de oportunidade e colocação da imagem, muito subjetivos, é outro agravante.
Não há consenso sobre quais seriam as métricas de desempenho desejáveis sob o
ponto de vista das instituições de ensino e pesquisa, uma vez que as próprias atravessam
mudanças importantes quanto aos seus limites de atuação na sociedade. Novamente, a
única exceção ocorre na EMBRAPA, não por acaso, por melhor conseguir desdobrar a
estratégia em todos os níveis hierárquicos, o que permite a operacionalização de um
processo sistemático de seleção, que impacta inclusive as decisões de contratação de novos
pesquisadores. Ainda assim, predominam na empresa as iniciativas de Science push. Ou
seja, ainda que as pesquisas sejam selecionadas, isso ainda é pouco impulsionado pelo
mercado diretamente, e mais pelo feeling dos seus pesquisadores.
Os contratos de prestação de serviços e de P&D são percebidos por todos como
mais efetivos para a captura de valor que os licenciamentos, ainda que boa parte dos
entrevistados não conte com experiência suficiente para opinar com propriedade. As
mudanças propostas pelo marco legal podem, dessa forma, corroborar quando em tese
desburocratizam essas atividades. Isso se deve, entre outros fatores, à maior aderência ao
mercado, aliada às relações mais duradouras com as organizações, principalmente nas
instituições onde o efeito da historicidade é flagrante. Da mesma forma, no caso de
licenciamentos, falta mão de obra capaz de levantar as informações técnicas necessárias ao
processo de oferta, o que nem sempre ocorre com a contribuição do pesquisador.
No entanto, essas questões não diminuem a importância da apropriação dos ativos
resultantes. Pelo contrário, é esperado que as políticas também a reforcem nas relações
com empresas, já que esses resultados são mais propensos à transferência. Mas, para isso,
faz-se importante que os NIT sejam efetivamente reconhecidos como o melhor meio para
283

tal resultado. Não há nesses Núcleos e nas instituições como um todo, mecanismos
adequados para a apropriação do conhecimento, para além das tecnologias. Embora
apontado como relevante, não há até então, alguma solução vista como capaz de sanar esse
problema. Ou seja, boa parte do que se produz nessas instituições pode fluir para as
empresas sem qualquer rastreabilidade. Ademais, as conclusões acerca dos ativos
complementares trazem à luz, principalmente, e mais uma vez, o impacto da historicidade
sobre os vínculos locais, na forma de reputação, redes informais de colaboração ou
estrutura física construída ao longo dos anos.
A incompatibilidade na visão do segundo grupo (NIT e/ou diretorias de inovação) e
do terceiro (pesquisadores) é mais notória quando consultados os mecanismos de
incentivos mais apropriados para a cooperação. Enquanto que para o primeiro o prestígio
figura como fator preponderante, para o segundo fica evidente a preocupação e interesse
por retornos pecuniários. Isto não, necessariamente, acontece apenas com a provisão de
royalties para os pesquisadores, mas principalmente, traduz-se nos sistemas de avaliação
de desempenho individual e progressões de cargo. Não por acaso, na instituição que se
demonstra melhor sucedida quanto à transferência de tecnologias e formação de parcerias,
a EMBRAPA, a produção tecnológica direcionada às demandas de mercado (ainda que não
formalizadas) é incorporada como critério para promoções.
Ainda na análise sobre capacidade de apreensão, é esperado que a falta de critérios
formais para as escolhas mercadológicas e tecnológicas comprometa a definição de
requisitos que de algum modo também avaliem a efetividade das parcerias. Assim como no
primeiro grupo entrevistado, isso se agrava pela subjetividade e extenso prazo necessário
para retorno dos resultados. Além disso, se percebe a crise ideológica quanto ao papel que
instituições de pesquisa, sobretudo as universidades, deveriam desempenhar em relação ao
seu entorno. Neste caso, as diferenças no perfil dos gestores influenciam expressivamente a
opinião sobre as métricas mais apropriadas, ora mais financeiras e mercadológicas, ora
mais ligadas à tradicional função social dessas instituições.
A análise sobre a capacidade de gerenciar ameaças e se reconfigurar reflete todas as
lacunas supracitadas. Diante das dificuldades de identificar oportunidades, interna e
externamente, e assim fazer escolhas mais assertivas, não é possível direcionar essas
escolhas para que conduzam as instituições a uma posição mais eficaz para o território.
Novamente, a visão pessoal dos gestores entrevistados emerge, quando creditam, em
diferentes graus, à sua atuação a incumbência de direcionar os esforços de P&D internos. É
percebido o quanto predomina a resistência dos pesquisadores às mudanças de trajetórias,
284

quer seja pelas questões culturais já mencionadas, quer seja pelas dificuldades vivenciadas
pelos NIT para atendê-los e orientá-los. Ainda é controverso nas instituições, a quem
melhor cabe o papel de prospectar demandas e adequar as tecnologias ao mercado, ora
recaindo no NIT, ora no pesquisador. No que concerne às questões de reconfiguração, a
distância física dos NIT para alguns campi compromete a percepção acerca das mudanças
de ambiente e autonomia de atuação. Embora, em parte, as soluções careçam de
investimento em estrutura, o tempo é apontado como essencial para que cada vez mais
pesquisadores percebam as vantagens de se produzir em acordo com as necessidades
explícitas do meio.
Por fim, a análise das capacidades cognitivas buscou compreender a visão na base
do sistema, os pesquisadores, reais produtores do conhecimento. Dentre as principais
conclusões, nesse sentido, destacam-se o maior peso da trajetória acadêmica e das
preferências pessoais desses profissionais sobre suas decisões de pesquisa, em relação às
influências do mercado e da sociedade, embora o tempo de atuação o suavize. Isto pode
indicar que o próprio ambiente acadêmico, nomeadamente as relações que se estabelecem
internamente, consegue causar algum direcionamento comum, mais até que as demandas
externas, ainda que a compreensão das mesmas por estes pesquisadores seja aderente à
realidade apontada na Seção 3.
Em diversas respostas é notório que os pesquisadores sentem falta de um canal
efetivo de ligação entre a academia e o mercado, o que põe em cheque a atuação defendida
pelos entrevistados dos dois primeiros grupos e pode ser apontada como causa raiz para as
demais conclusões que se seguem. Os respondentes também sinalizam o desinteresse pelo
empresariado local pelo que é produzido pelas instituições (assim como defendido nas
entrevistas, embora em parte possa ocorrer pela falta de acesso estruturado a esses ativos).
Observam ainda, em geral, que suas instituições são pouco eficazes em atender as
necessidades regionais percebidas. Contraditoriamente, aqueles que atuam nas áreas que
mais produzem científica e tecnicamente são os que mais enfrentam dificuldades de
difusão, mas são ainda os que melhor conseguem transferir seus ativos. Confirma-se o
baixo interesse acerca da apropriação desses ativos (o que pode endossar o pouco
esclarecimento sobre suas vantagens).
As poucas transferências que ocorrem são feitas ao nível local ou para fora de
Minas Gerais, salientando a baixa contribuição para o estado. Já as parcerias de P&D
ocorrem com mais frequência com outras instituições, em parte pelo desconhecimento do
que é realizado internamente, em parte pelas relações prévias procedentes da trajetória do
285

pesquisador. Foram também constatados: a prevalência dos canais informais para a


formação de parcerias de desenvolvimento; o peso da proximidade do estado do Rio de
Janeiro nas relações com outras instituições e com empresas (conforme destacado nas
entrevistas); as instituições de intermediação destacadas na seção de Capacidades Estatais
como mais influentes também são apontadas (EMATER, SEBRAE e prefeituras); a
possibilidade de escoamento de conhecimento não mapeado para empresas (ressaltando a
relevância de contratos para além dos licenciamentos, como os de know-how); a
proatividade dos pesquisadores predomina em todos os tipos de iniciativas de prospecção,
quando comparadas as ações dos NIT; o envolvimento tardio dos NIT nas parcerias, mais
precisamente quando envolvem ativos de PI (o que dificulta sua atuação nas
transferências); e, os retornos pecuniários como principal mecanismo de incentivo,
condizente com a conclusão sobre a falta de indicadores de desempenho mais alinhados
com a produção tecnológica e a dificuldade em se mensurar resultados subjetivos como
impacto social, ambiental e visibilidade.
As conclusões gerais desta pesquisa podem ser divididas em dois pontos de
reflexão: os aspectos identificados como relevantes para a aplicação da gestão e
governança do conhecimento em instituições e regiões; e, especificamente, sobre como
repercutem no desenvolvimento do território da Zona da Mata. Quanto ao primeiro ponto,
os efeitos do fator humano e do tempo (historicidade) foram recorrentemente pontuados ao
longo da pesquisa de campo. A revisão acerca da abordagem epistemológica já anunciava
que a construção e a difusão do conhecimento não podem ocorrer dissociadas dessas duas
condicionantes.
No entanto, a estratégia defendida para a gestão e governança dos ativos de
conhecimento na literatura parece valorizar as diretrizes de comando hierárquicas. Em
outras palavras, em diferentes graus para cada caso, negligencia os valores, motivações,
interesses, restrições e trajetórias individuais. A própria estrutura conceitual
propositalmente sugerida no texto, de capacidades estatais para cognitivas, induz essa
percepção. Ao passo que, quando os resultados da pesquisa de campo são verificados em
ordem invertida (ou seja, das capacidades cognitivas para as estatais), ganham mais
sentido. Por essa razão, uma sugestão possível para efetividade das práticas de governança
trata-se do exercício de uma abordagem bottom-up, ou seja, de baixo para cima. Para o
tema, em particular, o debate a partir dos pesquisadores.
Utilizando o caso da Zona da Mata como exemplo, foi claramente constatado que
os fluxos de conhecimento ocorrem no território em grande parte a despeito das ações dos
286

NIT e diretorias de inovação das instituições, bem como das de intermediação, fomento e
apoio. Porém, como e porque ocorrem ainda é pouco investigado. Isto porque todas as
iniciativas formais de integração e colaboração possuem em comum a exclusão da figura
do pesquisador. Concomitantemente, nos casos pontuais percebidos como bem sucedidos,
ou seja, nas relações que geram resultados econômicos para o próprio território, sua
atuação como real articulador dos demais atores do sistema é notável. E, como também
identificado pelos questionários, obedecem ao curso de uma longa trajetória de trabalho
pouco ou nada abalada pelas mudanças de gestão e conflitos de interesse nas estâncias
superiores, sendo influenciadas pelas relações que estes estabelecem com o meio
informalmente, de forma proativa.
É importante salientar que essa solução pode prover a estratégia comum tão
defendida pelos entrevistados, além de mais aderente à realidade. Ela garantiria a sua
continuidade, mas não resolveria os entraves estruturais como escassez de recursos
humanos e falhas de comunicação dentro e entre as instituições, também apontadas nessa
discussão, mas não exclusivas à promoção da inovação. Também traz à luz a necessidade
de reflexão sobre o papel planejado versus desempenhado pelos NIT e por outras
instituições nesse contexto. Os Núcleos, passando a funcionar também como porta-vozes
dos pesquisadores, em todos os sentidos, podem mais facilmente se posicionar nas redes
externas e melhor concentrar suas demandas, e assim ajudar na consolidação da vocação
econômica do território junto aos outros atores do sistema, bem como perante a
administração central do estado. A validação dessas novas hipóteses carece de investigação
que foge do escopo temporal dessa pesquisa, mas que revelam questões oportunas para
trabalhos futuros.
287

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VALERIANO, C. G.; VILELA, E. F.; PEREIRA, J. L. A.; SILVA, B.A.; RIBEIRO, L. S.


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ANPROTEC, XXIII, Recife. Anais... Brasília: ANPROTEC, 2013.

VARGAS, M. Proximidade territorial, aprendizado e inovação: Um estudo sobre a dimensão


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da nova economia das instituições. Tese (Livre Docência) – Universidade de São Paulo, São Paulo,
1995. 241 p.
304

ANEXO I
Roteiro de Entrevista – Capacidades Estatais

Objetivo central: Identificar a capacidade técnico-administrativa e político relacional dos


órgãos/ instituições em nível local e estaduais dedicadas a elaboração e execução das
políticas/programas de inovação e correlatas.
Nome da instituição/orgão:
Nome do entrevistado:
Cargo:
1. A quanto tempo atua na função?
2. A quanto tempo a instituição/unidade funciona na estrutura atual? (solicitar acesso ao
histórico de reestruturações).
3. Qual o organograma atual da instituição?
4. Descreva as principais funções atribuídas à instituição referentes à gestão de C&T e
Inovação.
5. Como as políticas de C&T e Inovação de nível federal e estadual são desdobradas a
nível local atualmente? (Pesquisar e questionar estrutura e divisão do trabalho).
1ª etapa: Identificação dos problemas
1. Como você identifica o papel de região da Zona da Mata no desenvolvimento
econômico de Minas Gerais e do Brasil (vocação econômica do território)?
2. Quais os entraves relacionados à criação de conhecimento, tecnologias e inovação
(sobretudo nas empresas ligadas à vocação mencionada) que impactam o desenvolvimento
da região/estado atualmente?
3. Qual o processo empregado na definição e delimitação desses problemas (grupos de
estudo, fóruns, comitês, equipe técnica permanente...)?
4. Quais os atores governamentais e não governamentais (a exemplo de grupos de
interesse, partidos políticos, meios de comunicação, think tanks, destinatários,
organizações do terceiro setor, fornecedores, organismos internacionais, comunidades
epistêmicas, financiadores, especialistas) envolvidos nessa etapa (identificação de
problemas na área de C&T e Inovação)?
2ª etapa: Formulação de alternativas
1. A instituição conta com políticas explícitas e diretrizes estratégicas para mitigar os
problemas apontados? Quais são?
2. Quem são os responsáveis pela sua elaboração e revisão (secretarias/ instituições/ órgãos
vinculados)?
3. Como são identificados e providenciados as competências/conhecimento necessários?
305

4. Qual o papel e participação das universidades federais e estaduais, bem como dos
institutos federais e de pesquisa, nessa etapa (se possível, apontar alguns exemplos de
parceria)?
5. Quais são os mecanismos de incentivo, coerção e conscientização direcionados aos
atores citados nessa etapa (formulação de alternativas)?
6. Como são definidas e desenhadas as estruturas de cooperação e alinhamento de
interesses entre as indústrias tradicionais, de alto conteúdo tecnológico e produtores de
conhecimento?
7. A quem é atribuído o papel de ligar essas entidades, prospectar novas oportunidades e
conhecimento e gerenciar seu uso na formulação e implementação dessas soluções?
3ª etapa: Implementação
1. Como é gerenciado o reflexo das mudanças nas agendas e diretrizes dos atores
envolvidos nas políticas e programas em implantação atualmente (Por exemplo: mudanças
econômicas e de mercado impactando setores industriais específicos, novo marco legal de
C&T para as universidades, crise política, etc...)?
2. Quais os principais obstáculos verificados na implementação de suas diretrizes
estratégicas, políticas e programas (de nível local e desdobramentos dos de nível estadual e
nacional)? (Por exemplo: conflitos de interesse, custos excessivos, enrijecimento de
setores, falta de massa crítica...)
3. De que maneiras tais obstáculos são/ poderiam ser solucionados (mecanismos de
resolução de conflitos, sistemas de recompensas, estrutura de incentivos, etc)?
4. Quais e como os seguintes instrumentos são empregados nas políticas e programas em
implantação atualmente (não é necessário aplicar em cada programa/política, é suficiente
exemplificar como esses instrumentos são explorados na implementação, em complemento
a questão anterior): regulamentações, desregulamentações e legalizações; instrumentos de
punição; instrumentos fiscais e subsídios; prestação de serviços públicos; divulgação de
informações, campanhas de mobilização; seguros governamentais, transferência de renda
(a exemplo de microcréditos), discriminação seletiva positiva (a exemplo do favorecimento
de setores industriais estratégicos); prêmios e concursos; certificados e selos.
5. Quais foram os principais parceiros externos da instituição nos dois últimos anos
(instituições de ensino e pesquisa, outras instituições, empresas públicas ou privadas, por
exemplo). Quais foram os objetivos e resultados dessas parcerias?
4ª etapa: Avaliação e monitoramento
1. Quais os critérios, indicadores e padrões (absolutos, históricos e normativos)
empregados para avaliação das políticas? Como estes, em específico, são analisados:
economicidade (nível de utilização dos recursos), produtividade (nível de saídas do
processo), eficiência econômica (relação dos dois primeiros), eficiência administrativa
(conformação da execução com os métodos estabelecidos), equidade (distribuição dos
benefícios).
2. Quais os meios empregados para a divulgação dos critérios e dos indicadores para as
partes interessadas?
306

3. Como é garantida a apropriação dos resultados dessas políticas (conhecimento,


tecnologias, capital humano) pelo estado/região, todas as partes e setores interessados?
4. Quais mecanismos de fiscalização são empregados para mitigar a assimetria
informativa, oportunismo e risco moral (salvaguardas contratuais ou, mecanismos
informais de garantia, como “tradição e confiança”)?
5. A quem é atribuído esse papel de fiscalizar e regulamentar as transações envolvidas na
implementação das políticas/ programas de inovação (instituição/ departamento regulador,
etc)? Quais mecanismos de fiscalização são empregados para mitigar a assimetria
informativa e oportunismo?
307

ANEXO II
Roteiro de Entrevista – Capacidades Dinâmicas

Objetivo central: Identificar como os conceitos de capacidades dinâmicas e gestão do


conhecimento podem ser empregados no contexto das instituições de ensino e/ou pesquisa

1ª etapa: Conexão com capacidades estatais

Nome da instituição:

Nome do Entrevistado:

Cargo:

A quanto tempo atua na função/cargo?

1. Qual a estrutura funcional da diretoria de inovação da instituição?

2. Há quanto tempo o setor atua com essa estrutura? (Levantar histórico de reestruturações).

3. Como você definiria a missão e a vocação da instituição para o desenvolvimento regional e


nacional?

4. Descreva as principais funções atribuídas a Diretoria de Inovação nesse sentido.

5. A instituição conta com uma Política de Inovação formalizada?

6. Se sim, quem são os responsáveis pela sua elaboração e revisão? (Solicitar acesso ao
documento e entrevistar envolvidos).

7. A instituição conta com um núcleo especificamente responsável pela definição e


implementação de diretrizes estratégicas relacionadas à P&D? Se sim, quem compõe esse núcleo?
(Entrevistar membros do núcleo).

8. Quais são, em resumo, essas diretrizes?

9. Como as estratégias de inovação do estado são desdobradas à instituição?

2ª etapa: Capacidade de Identificação de Oportunidades

1. Quais as práticas adotadas para identificação das oportunidades de mercado e tecnológicas


pela instituição (práticas de prospecção local e periférica)?

2. Quais as práticas adotadas para identificação das capacidades individuais (prospecção de


conhecimento e tecnologias interna)?

3. Como essas capacidades são incorporadas a nível institucional (processos de síntese e


reflexão coletiva)?

4. Quais as práticas adotadas para identificação de informações e conhecimentos provenientes


de outros produtores (instituições de ensino e pesquisa)?

5. Como se dão os processos de desenvolvimento conjunto com parceiros externos (usuários e


fornecedores do conhecimento e tecnologias)?

6. Quais são os maiores obstáculos nesse sentido (IDENTIFICAÇÃO de oportunidades de


mercado, capacidades individuais, incorporação, outras instituições, desenvolvimento conjunto)?
308

3ª etapa: Capacidade de apreensão de oportunidades

1. Quais os critérios e práticas adotadas para a seleção das oportunidades, informações,


conhecimento e tecnologia disponíveis capazes de capturar valor para a instituição e região?

2. Como são realizadas as escolhas tecnológicas (o que deve ser pesquisado e desenvolvido)?

3. Como é realizada a seleção dos segmentos de mercado a serem atingidos (indústrias,


setores, grupos sociais)? Quais são?

4. Como são definidos os meios de capturar receita e valor? Quais são?

5. Como são definidas as estratégias de comercialização e prospecção de parceiros (canais e


relacionamentos)?

6. Quais são os maiores obstáculos nesse sentido? (SELEÇÃO de oportunidades/ informação


e conhecimento/ tecnologias disponíveis; escolhas do que deve ser pesquisado e desenvolvido;
segmentos de mercado; meios de capturar valor; canais e relacionamentos).

7. Como a Política de Inovação e/ou Diretrizes são desdobradas ao longo de toda a cadeia de
valor (criação e produção do conhecimento/tecnologia, combinações internas e externas, difusão e
comercialização).

8. Como e por quem o regime de apropriabilidade (do conhecimento e dos resultados


tecnológicos) é organizado atualmente?

9. Quais outros ativos (complementares), além do próprio conhecimento, são identificados


como relevantes para essas ações e são apropriados? Ex: redes de relacionamento-chave, recursos-
chave, infraestrutura...

10. Como a estrutura institucional e quais os mecanismos de incentivo são empregados para
promover a co-especialização e complementaridades (entre pesquisadores internos e entre
pesquisadores e atores externos).

11. Como os resultados, nesse caso, são distribuídos?

12. Quais critérios são empregados para avaliar a efetividade dessas parcerias? E da qualidade
do conhecimento/ tecnologias produzidos?

4ª etapa: Capacidade de gerenciamento de ameaças/ reconfiguração

1. Qual o nível de centralização das decisões acerca das pesquisas e desenvolvimento de


tecnologias na instituição? (O que deve ser pesquisado e com quem)

2. Como a integração das decisões é garantida? (atendimento de todos os interesses)

3. Você nota alguma resistência ao abandono das trajetórias de produção do


conhecimento/tecnologias vigente em prol daquelas mais aderentes as atuais necessidades do
mercado/sociedade?

4. O que pode ser feito nesse sentido?


309

ANEXO III
Questionário – Capacidades Cognitivas

1. Nome da instituição

2. Nome do pesquisador

3. Departamento

4. Área de pesquisa

Marque todas que se aplicam.

Matemática
Probabilidade e Estatística
Ciência da Computação
Astronomia
Física
Química
Geociências
Oceanografia
Biologia Geral
Genética
Botânica
Zoologia
Morfologia
Fisiologia
Bioquímica
Biofísica
Farmacologia
Imunologia
Microbiologia
Parasitologia
Ecologia
Engenharia Civil
Engenharia Sanitária
Engenharia de Transportes
Engenharia de Minas
Engenharia de Materiais e Metalúrgica
Engenharia Química
Engenharia Nuclear
Engenharia Mecânica
Engenharia de Produção
Engenharia Naval e Oceânica
Engenharia Aeroespacial
Engenharia Elétrica
Engenharia Biomédica
Medicina
Nutrição
Odontologia
310

Farmácia
Enfermagem
Saúde Coletiva
Educação Física
Fonoaudiologia
Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Agronomia
Recursos Florestais e Engenharia Florestal
Engenharia Agrícola
Zootecnia
Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca
Medicina Veterinária
Ciência e Tecnologia de Alimentos
Materiais
Biotecnologia
Artes e Design/ Artes Visuais
Outro:

5. A quanto tempo trabalha nessa instituição?

Até 3 anos
De 3 a 5 anos
De 5 a 10 anos
De 10 a 15 anos
De 15 a 20 anos
Mais de 20 anos

6. Selecione, em ordem de importância, as três atividades econômicas que você mais


associa com a VOCAÇÃO da Zona da Mata mineira.

Setor primário - Agricultura


Setor primário - Pecuária
Setor primário - Serviços de Suporte (Preparação de solo, serviços veterinários, por
exemplo)
Setor primário - Florestamento
Setor primário - Pesca e Caça
Setor primário - Lavra de Metais
Setor primário - Lavra de Carvão
Setor primário - Lavra de Petróleo e Gás
Setor primário - Lavra de Minérios Não Metálicos
Indústria - Construção
Indústria - Produtos Alimentícios
Indústria - Produtos de Fumo
Indústria - Produtos Têxteis
Indústria - Vestuário
Indústria - Produtos de Madeira
Indústria - Móveis
Indústria - Produtos de Papel
Indústria - Gráfica e Imprensa
311

Indústria - Produtos Químicos


Indústria - Derivados de Petróleo/ Carvão/Álcool
Indústria - Produtos de Borracha e Plástico
Indústria - Produtos de Couro
Indústria - Produtos de Pedra, Argila, Vidro
Indústria - Siderurgia Primária
Indústria - Produtos de Metal
Indústria - Maquinário Industrial
Indústria - Equipamentos Elétricos
Indústria - Transportes
Indústria - Instrumentos de Medição
Indústria - Outras Indústrias
Indústria - Tecnologia da Informação e Comunicação
Infraestrutura - Transportes
Infraestrutura - Comunicação
Infraestrutura - Eletricidade, Gás e Saneamento
Comércio
Finanças
Serviços - Transporte
Serviços - Hotelaria
Serviços - Entretenimento
Serviços - Saúde
Serviços - Educação
Serviços - Informática
Serviços – Outros

7. Em uma escala de 0 a 10, como você classifica a contribuição da sua instituição na


criação e comercialização de conhecimento/tecnologias alinhadas às VOCAÇÕES
selecionadas na pergunta anterior?

(0) Não Contribui a (10) Contribui

8. Caso tenha respondido um valor menor ou igual a 6, quais seriam as razões para baixa
representatividade na sua opinião? (selecionar até 2 opções)

Os pesquisadores da instituição produzem conhecimento/ tecnologia mais alinhados


às necessidades de outras regiões/ países.
Os pesquisadores da instituição desconhecem as demandas de conhecimento/
tecnologia da região.
Falta um canal apropriado para ligar os conhecimentos/ tecnologias criados na
instituição e o mercado regional.
Os canais empregados para ligar os conhecimentos/ tecnologias criados na instituição
e o mercado são excessivamente burocráticos.
As principais atividades econômicas da região apresentam baixo conteúdo
tecnológico e potencial para especialização.
As organizações vinculadas às principais atividades econômicas da região
demonstram pouca abertura à colaboração com instituições de pesquisa e inovação
312

Outro:

9. Quais foram as principais motivações para a escolha do tema/área de pesquisa das suas
últimas publicações? (selecionar até 3 opções)

Continuidade da linha de pesquisa desenvolvida na graduação e pós graduação


Afinidade pessoal
Demanda do mercado
Demanda social
Atendimento das diretrizes estabelecidas formalmente pela instituição (política de
inovação, planejamento estratégico, reuniões com essa finalidade, entre outros)
Atendimento das diretrizes estabelecidas informalmente pela instituição (editais,
bolsas de fomento e instrumentos se sensibilização priorizando áreas selecionadas
pela instituição, maior número de eventos relacionados às áreas priorizadas, entre
outros)
Pertencimento ao corpo docente de um programa de pós-graduação na área
Pertencimento a um grupo de pesquisa na área
Outro:

10. Em uma escala de 0 a 10, como você classifica o potencial de aplicação do


conhecimento/ tecnologia que VOCÊ desenvolve no território da Zona da Mata?

(0) Pouco Aplicável a (10) Muito aplicável

11. Em um escala de 0 a 10, o quanto a direção, a diretoria de inovação ou o núcleo de


inovação tecnológica da instituição influenciam as suas decisões sobre o que pesquisar?

(0) Sem influência a (10) Completa Influência

12. Você possui ativos de propriedade intelectual (marcas, patentes, programas de


computador, entre outros) registrados/depositados?

Direito Autoral
Patente
Marca
Desenho Industrial
Topografia de circuito integrado
Não possuo
Outro:

13. Se possui algum dos ativos mencionados na questão anterior, selecione a forma como a
313

titularidade dos mesmos foi distribuída (é possível selecionar mais de uma opção, caso
tenha ocorrido de maneiras diferentes em cada registro/depósito).

Figuro como único titular


Divido a titularidade com a instituição em que trabalho
A instituição em que trabalho é a titular e eu figuro como único inventor
A instituição em que trabalho é a titular e eu figuro como um dos inventores, sendo
os demais colaboradores da mesma instituição.
A instituição em que trabalho é a titular e eu figuro como um dos inventores, sendo
ao menos um dos demais colaborador de outra instituição/empresa
A instituição em que trabalho divide a titularidade com outra instituição/empresa
Outro:

14. O conhecimento/tecnologia protegidos por esses ativos foram transferidos formalmente


para empresas (por meio de contratos de tecnologia, assistência técnica, cessão ou
licenciamento, por exemplo)?

Marcar apenas uma oval.


Sim, todas
Metade ou mais da metade delas
Menos da metade delas.
Nenhuma

15. Quanto as que foram transferidas, qual a localização da maioria das empresas que as
adquiriram?

Marcar apenas uma oval.


Território da Zona da Mata
Estado de Minas Gerais, com exceção do território da Zona da Mata Brasil, com
exceção do estado de Minas Gerais
Fora do Brasil
Não sei informar

16. Quanto ao conhecimento/tecnologia desenvolvidos, quais as principais dificuldades


verificadas na sua transferência (entre instituições e entre instituições e empresas)?
(selecionar até 3 opções)

Divergência de expectativas entre os pesquisadores envolvidos e a empresa


Excessiva burocracia por parte da instituição em que trabalho
Excessiva burocracia por parte das organizações e instituições parceiras
314

Falta de um procedimento estruturado para esse tipo de transferência na instituição


Assimetria de informação entre os envolvidos
Dificuldades de comunicação entre os envolvidos
Alto risco de oportunismo por parte das empresas
Dificuldade de valoração do conhecimento/ tecnologia transferido
Dificuldade na identificação de mercados potenciais
Dificuldade no processo de scale up (produzir em maior escala que a laboratorial)
Insegurança jurídica
Falta de motivação por parte do pesquisador (poucos instrumentos de incentivo)
Outro:

De todo conhecimento/ tecnologia que você produz, o quanto dele se deve a:

17. Parcerias de P&D com pesquisadores do mesmo departamento


(0) Pouco a (10) Muito

18. Parcerias de P&D com pesquisadores de outros departamentos da minha instituição


(0) Pouco a (10) Muito

19. Parcerias com pesquisadores de outras instituições de ensino e pesquisa


(0) Pouco a (10) Muito

20. Parcerias com empresas, governo, associações, entre outros.


(0) Pouco a (10) Muito

21. Em uma escala de 0 a 10, como você classifica o seu conhecimento sobre o que é
produzido (científica e tecnologicamente) na sua área ou em áreas afins pelos demais
pesquisadores da sua instituição?
(0) Pouco a (10) Muito

22. Quais os meios você mais utiliza para acessar novas informações/conhecimentos na sua
área e em áreas afins dentro da instituição? (selecionar até 3 opções)
Busco por publicações científicas de pesquisadores da instituição
Busco por publicações tecnológicas (depósitos de patentes, registros de softwares,
por exemplo) de pesquisadores da instituição
Por meio de outras mídias, a exemplo do site ou plataformas de conhecimento
internos
315

Participo de eventos internos (simpósios, congressos, encontros, etc)


Participo de grupos de pesquisa e estudo exclusivamente internos
Busco por essas informações/conhecimentos em um setor dedicado ao seu
armazenamento, controle e divulgação na instituição.
Não faço distinção entre o conhecimento produzido internamente e externamente
para me atualizar
Outro:

23. Quais os meios você mais utiliza para acessar novas informações/conhecimento na sua
área fora da instituição? (selecionar até 3 opções)

Busco por publicações científicas de pesquisadores de outras instituições


Busco por publicações tecnológicas (depósitos de patentes e registros de softwares,
por exemplo) de pesquisadores de outras instituições
Por meio de outras mídias, a exemplo de sites ou plataformas de conhecimento na
área
Eventos externos (simpósios, congressos, encontros, etc)
Participo de grupos de pesquisa e estudo compostos por pesquisadores de outras
instituições
Faço parcerias com empresas
Faço parcerias com membros da comunidade em geral (ONGs, associações,
conselhos de classe, governo, entre outros)
Outro:

24. Quais instrumentos você mais utiliza para identificar potenciais parceiros de pesquisa
e/ou desenvolvimento de tecnologias dentro da sua instituição? (selecionar até 3 opções)
Participação em eventos internos na minha área e em áreas afins
Reuniões formais no meu departamento (com essa finalidade)
Reuniões formais fora do meu departamento (com essa finalidade)
Reuniões informais no meu departamento
Reuniões informais fora do meu departamento
Acesso e sou acessado pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (ou unidade ligada à
inovação) da instituição
Prospecto e contacto pesquisadores internos sozinho
Não faço parcerias de P&D com pesquisadores do mesmo departamento atualmente.
Não faço parcerias de P&D com pesquisadores de outros departamentos da
instituição atualmente.
Outro:
316

25. Você realizou, nos últimos cinco anos, parcerias de pesquisa e/ou desenvolvimento
com pesquisadores de outras instituições de ensino e pesquisa?
Sim
Não

26. Se a resposta da questão anterior for positiva, seus principais parceiros atuam em que
instituições?

27. Quais instrumentos você mais utiliza para identificar potenciais parceiros de pesquisa
e/ou desenvolvimento de tecnologias em instituições de ensino e pesquisa externas?
(selecionar até 3 opções)
Participação em eventos externos na minha área e em áreas afins
Reuniões organizadas pelas instituições com essa finalidade
Reuniões organizadas pelas instituições sem essa finalidade
Acesso e sou acessado pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (ou unidade ligada à
inovação) da minha instituição ou da instituição parceira
Acesso e sou acessado por outras instituições que promovem essa intermediação
Prospecto e contacto pesquisadores externos sozinho
Outro:

28. Caso tenha selecionado a resposta "Acesso e sou acessado por outras instituições que
promovem essa intermediação". Quais seriam essas instituições?

29. Quais as principais motivações para as parcerias com pesquisadores de outras


instituições de ensino e pesquisa? (selecionar até 3 opções)
Acesso a mais oportunidades de financiamento
Possibilidade de complementar conhecimento não disponível no seu
departamento/instituição
Maior possibilidade de acessar mercados por meio de consultorias, assistências
técnicas ou transferência de tecnologias
Oportunidade de resolver problemas sociais/ambientais específicos de outras regiões
Oportunidade de resolver problemas sociais/ambientais específicos da minha região
Menor engessamento e burocracia em outros departamentos/ instituições
Possibilidade de melhorar os indicadores do seu departamento/ instituição
A reputação dos parceiros permite a publicação em periódicos de maior impacto na
área
Possuo redes de relacionamento mais antigas ou mais afinidade com pesquisadores
de outras instituições
317

Não possuo parceiros de pesquisa e desenvolvimento em outras instituições


Outro:

30. Nos últimos cinco anos, realizou alguma parceria de pesquisa e/ou desenvolvimento
com empresas?
Sim, principalmente com empresas situadas no território da Zona da Mata
Sim, principalmente com empresas situadas do Estado de Minas Gerais, com exceção
do território da Zona da Mata
Sim, principalmente com empresas nacionais, com exceção das situadas no estado de
Minas Gerais
Sim, principalmente com empresas estrangeiras
Não

31. Se a resposta da questão anterior for positiva, como se caracterizam essas parcerias?
Marque todas que se aplicam.
Desenvolvimento e melhoria conjuntos de produtos/ processos
Transferência de tecnologia protegida pela instituição (patente, desenho industrial,
direito autoral) por meio de cessão ou licenciamento
Transferência de tecnologia não protegida pela instituição por meio de contrato
Consultoria
Assistência técnica
Treinamentos
Aluguel de laboratórios
Outro:

32. Como costuma se estabelecer o primeiro contato com a empresa?


Marque todas que se aplicam.
Por intermédio do setor responsável pela transferência de tecnologia e conhecimento
na instituição
Por intermédio de outros pesquisadores da instituição
Por intermédio de pesquisadores de outras instituições
Por meio da minha prospecção e contato direto
Por meio da prospecção e contato direto feitos pela empresa
Por meio de encontros, eventos e feiras com essa finalidade
Por intermédio de outras instituições, com exceção das de ensino e pesquisa parceiras
Outro:
318

33. Caso tenha respondido "Por intermédio de outras instituições, com exceção das de
ensino e pesquisa parceiras", quais são elas?

34. Mencione o nome das três empresas parceiras mais recentes, caso houver. (sinalizar
quando uma delas for um spin off acadêmico de sua propriedade)

35. Como, na maior parte do casos, são resolvidas as questões relacionadas à propriedade
intelectual nas parcerias realizadas com outras instituições de pesquisa?
Todo o processo de apropriação é conduzido pelo Núcleo de Inovação Tecnológica/
Diretoria de Inovação da instituição em que trabalho
Todo o processo de apropriação é conduzido pelo Núcleo de Inovação Tecnológica/
Diretoria de Inovação das instituições parceiras
Todo o processo de apropriação é conduzido conjuntamente pelo Núcleo de Inovação
Tecnológica/ Diretoria de Inovação de todas as instituições envolvidas
O processo de apropriação é conduzido por mim com o apoio do Núcleo de Inovação
Tecnológica/ Diretoria de Inovação da instituição em que trabalho
O processo de apropriação é conduzido por mim sem o apoio do Núcleo de Inovação
Tecnológica/ Diretoria de Inovação da instituição em que trabalho
O processo de apropriação é conduzido por mim com o apoio de instituições externas
Não me aproprio formalmente do conhecimento/ tecnologia produzidos
Outro:

36. Caso tenha selecionada a alternativa "O processo de apropriação é conduzido por mim
com o apoio de instituições externas", quais são elas?

37. Como, na maior parte do casos, são resolvidas as questões relacionadas à propriedade
intelectual nas parcerias realizadas com empresas?
Todo o processo de apropriação é conduzido pelo Núcleo de Inovação Tecnológica/
Diretoria de Inovação da instituição em que trabalho
Todo o processo de apropriação é conduzido pela empresa parceira
Todo o processo de apropriação é conduzido conjuntamente pelo Núcleo de Inovação
Tecnológica/ Diretoria de Inovação da instituição em que trabalho e a empresa
O processo de apropriação é conduzido pelos pesquisadores envolvidos com o apoio
do Núcleo de Inovação Tecnológica/ Diretoria de Inovação da instituição em que
trabalho
O processo de apropriação é conduzido pelos pesquisadores envolvidos sem o apoio
do Núcleo de Inovação Tecnológica/ Diretoria de Inovação da instituição em que
trabalho
O processo de apropriação é conduzido pelos pesquisadores envolvidos com o apoio
de instituições externas
319

O processo de apropriação é conduzido pelos pesquisadores envolvidos em conjunto


com a empresa parceira
Não me aproprio formalmente do conhecimento/ tecnologia produzidos
Outro:

38. Caso tenha selecionada a alternativa "O processo de apropriação é conduzido por mim
com o apoio de instituições externas", quais são elas?

39. Quais os mecanismos de incentivo, na sua opinião, são mais apropriados para estimular
o pesquisador a desenvolver e transferir tecnologias em conjunto e para o mercado local?
Retorno financeiro pessoal
Reconhecimento por parte da instituição
Reconhecimento por parte da comunidade científica
Reconhecimento por parte das empresas e demais entidades da região
Acesso facilitado a fomento para novas pesquisas e infraestrutura
Maior peso nos critérios de avaliação de desempenho internos e progressões de cargo
Outro:

40. O seu departamento possui alguma norma ou rotina interna para


armazenamento/mapeamento/resgate do conhecimento produzido ao longo dos anos (quem
e o que produziu)?
Sim
Não

41. Quais critérios você utiliza para avaliar a efetividade das suas parcerias e qualidade do
conhecimento produzido? (selecionar até 3 opções)
Recorrência das parcerias
Rentabilidade para as empresas
Rentabilidade para as instituições de ensino e pesquisa envolvidas
Impacto social/ambiental na região
Aumento da produção científica das instituições envolvidas
Aumento da produção tecnológica das instituições envolvidas
Aumento da visibilidade e melhoria na reputação dos pesquisadores e instituições
envolvidas
Não avalio a efetividade das parcerias após o encerramento dos projetos
Não realizo parcerias com instituições ou empresas
Outro:

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