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RIO DE JANEIRO
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Rio de Janeiro
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Rio de Janeiro
2019
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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca de Propriedade Intelectual e Inovação “Economista Cláudio Treiguer” – INPI
Bibliotecário Evanildo Vieira dos Santos CRB7-4861
CDU: 5/6:001.76(815.1)
5
DEDICATÓRIA
Aos meus pais Elena e José, pela vida, e à minha amada filha Ana Laura, pela razão de viver.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pela enorme força que me deu especialmente nestes últimos quatro
anos. E por nunca ter me desamparado nos incontáveis obstáculos do caminho.
À minha filha Ana Laura, fonte inesgotável de inspiração e motivação. Pelo seu apoio
diário e sua compreensão nos tantos momentos de ausência física e afetiva. Pelo seu generoso
perdão por isso.
Aos meus pais, Elena e José, por terem possibilitado TUDO, à custa de tanto
sacrifício. Por terem confiado cegamente nas minhas escolhas. Pelo espelho de esforço e
honestidade. E pelas mais sinceras orações.
À família Maia, em especial à Solange e ao Douglas, pelo apoio cotidiano
indispensável. Por terem tornado cada degrau possível.
Às melhores orientadoras do universo, Rita e Ana Célia. Pelo acolhimento, os tantos
conselhos e apontamentos valiosos, pela real presença e contribuição ao longo de todo o
processo. Pelo exemplo pessoal e profissional que eu pretendo seguir para sempre. A todos os
professores e funcionários da Academia do INPI, pelos ensinamentos e suporte.
Aos tantos amigos, os quais infelizmente é impossível nomear individualmente, mas
que eu sei que saberão se reconhecer. Aos de longa data, por jamais terem me abandonado e
pela infinita paciência nos episódios de desespero. Aos mais recentes, por terem tornado tudo
mais suave, saudável e divertido.
À UFJF e aos meus colegas do Departamento de Engenharia de Produção e Mecânica,
por terem permitido o necessário afastamento para a operacionalização da etapa final. Ao
Bruno Milanez e ao Carlos Renato Pagotto, por tudo o que cabe aos amigos no parágrafo
acima, além de todo suporte adicional. Aos da turma de doutorado, pela prazerosa companhia
nesta intensa jornada.
Aos entrevistados e respondentes dos questionários, pela confiança e prestatividade.
Por terem me ajudado muito além do que eu esperava.
GRATIDÃO!
7
RESUMO
ABSTRACT
FONSECA, Mariana Paes da. The management and governance of knowledge in Regional
Innovation Systems: the case of Zona da Mata mineira from the institutions perspective.
2019. 318 p. Thesis (Doctorate in Intellectual Property and Innovation) - National Institute of
Industrial Property, Rio de Janeiro, 2019.
The importance of knowledge assets and their use for the development of innovations is
widely recognized in the literature. At the same time, there is growing interest in the influence
of territorial factors on national and regional innovation regimes. The concepts of knowledge
management and governance are still little explored at the systemic level, which involve
teaching and research, support, promotion and intermediation institutions acting in the
generation, diffusion and protection of these assets. The present study seeks to identify how
the two concepts, management and governance, are and can be better used in the context of
the Regional Innovation System (RIS) of Minas Gerais, and more precisely in the territory of
Zona da Mata. The methodological approach used was divided into three stages of research:
the first one, exploratory, sought through a bibliographic survey to clarify the themes and
organize them into an unpublished structured model that includes the evaluation of state,
dynamic and cognitive capacities present in a generic system; the second one, of a descriptive
nature, was devoted to the deepening of this RIS particularities, focusing on its related
policies and institutional structure, as well as the panorama about the assets and knowledge
flows from its public teaching and research institutions and main productive chains; the third
one, of an explanatory nature, included the use of the proposed model to identify in the field,
using interviews and questionnaires, the factors that contribute to and impact on the economic
development of Zona da Mata, from the perspective of institutions. With the conclusion of
these steps, it was possible to verify that the subjects knowledge governance and innovation
systems, when experienced in practice, bring to the fore the subjectivity and complexity
inherent in the personal relations and social phenomena that underlie them. In short, its
adherence is expressively influenced by the human factor and its historicity. In addition, the
results confirm the relevance of a clear and long-term mission and strategy shared by
institutions at all levels that seek to minimize conflicts of interest and vanities common in
these systems and to ensure continuity of actions in spite of governments and management
changes.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 35 - Distribuição das publicações de MG na área de Agricultura, por universidade federal (2000
a 2015)...........................................................................................................................157
Figura 36 - Distribuição das publicações de MG na área de Química – por universidade federal (2000
a 2015)...........................................................................................................................158
Figura 37 - Distribuição das publicações de MG na área de Física – por universidade federal (2000 a
2015) .............................................................................................................................160
Figura 38 - Distribuição das publicações de MG na área de Engenharia – por universidade federal
(2000 a 2015) ................................................................................................................161
Figura 39 - Distribuição das publicações de MG na área de Ciências Veterinárias – por universidade
federal (2000 a 2015) ....................................................................................................161
Figura 40 - Distribuição das publicações por área e universidades mineiras (2000 a 2015) ...............163
Figura 41 - Evolução dos depósitos de patentes das universidades federais de MG – 2000 a 2014 ....163
Figura 42 - Classificação dos depósitos de patentes das universidades federais mineiras por seção do
IPC (2000 a 2014) .........................................................................................................164
Figura 43 – Comparação do percentual de depósitos de patentes com cotitularidade e sem
cotitularidade da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais entre
2000 e 2014, dividido por universidades públicas federais mineiras ............................166
Figura 44 – Depósitos de patente por seção da classificação internacional de patentes dividido por
instituições de ensino superior públicas federais mineiras, 2000 a 2014 ......................166
Figura 45 – Percentual de crescimento anual dos depósitos de patentes por instituição de ensino
superior pública federal, 2000 a 2014 ...........................................................................167
Figura 46 - Variação em volume do valor adicionado bruto das atividades produtivas de MG (2015)
.......................................................................................................................................169
Figura 47 - Mapa da distribuição das aglomerações produtivas nos territórios mineiros (2000) ........172
Figura 48 – Percentual de respondentes por instituição de ensino e pesquisa da Zona da Mata..........252
Figura 49 – Distribuição das áreas dos pesquisadores respondentes ...................................................252
Figura 50 – Distribuição dos respondentes por tempo de atuação no cargo ........................................253
Figura 51 – (a) Principais motivações para escolha da área de pesquisa; (b) Motivações para escolha
da área de pesquisa distribuídas pela área de atuação. ..................................................254
Figura 52 – Tempo de atuação versus motivações para escolha da área..............................................255
Figura 53 – Percepção das principais atividades econômicas da Zona da Mata pelos respondentes ...256
Figura 54 – Razões da baixa representatividade da instituição para as atividades da Zona da Mata
(UFJF) segundo seus pesquisadores..............................................................................257
Figura 55 – Distribuição dos tipos de ativos de PI resultantes das pesquisas ......................................258
Figura 56 – Distribuição das titularidades dos ativos entre as instituições e os pesquisadores............259
Figura 57 – Percentual de ativos de propriedade intelectual transferidos ............................................260
Figura 58 – Principais dificuldades para a transferência dos ativos de PI na perspectiva dos
pesquisadores ................................................................................................................261
Figura 59 – Principais meios usados pelos pesquisadores para acessar informação/conhecimento na
instituição ......................................................................................................................262
Figura 60 – Meios usados pelos pesquisadores para acessar informação/conhecimento fora da
instituição ......................................................................................................................263
Figura 61 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D dentro da
instituição ......................................................................................................................264
Figura 62 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D dentro da
instituição ......................................................................................................................265
Figura 63 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D em IES
externas .........................................................................................................................266
11
LISTA DE QUADROS
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................16
5. CONCLUSÃO ...................................................................................................................273
ANEXO I ............................................................................................................................................304
ANEXO II ...........................................................................................................................................307
ANEXO III..........................................................................................................................................309
16
1. INTRODUÇÃO
1
Em acordo com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI, 2018), Propriedade Intelectual
(PI) refere-se a criações da mente, como invenções; obras literárias e artísticas; desenhos; e símbolos, nomes
e imagens usados no comércio.
2
Conhecida como Novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação.
3
Conhecida como Lei da Inovação, dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica
no ambiente produtivo, e suas providências.
4
Define a situação jurídica do estrangeiro no país.
5
Institui as normas para as licitações e contratos na Administração Pública, e suas providências.
6
Institui o regime diferenciado de contratações públicas.
7
Dispõe sobre as contratações temporárias por órgãos públicos.
8
Dispõe sobre as relações entre instituições federais de ensino superior e pesquisa com fundações de apoio.
9
Dispõe sobre as importações de bens destinados à pesquisa científica e tecnológica, e suas providências.
18
10
Dispõe sobre a isenção ou redução de impostos de importação, e suas providências.
11
Dispõe sobre a estruturação dos planos de carreira do magistério, de alguns institutos de pesquisa e dos
técnicos administrativos em educação, além da contratação de professores.
12
Vargas (2002) defende a diferença conceitual entre distritos industriais e clusters industriais, sendo esses
segundos caracterizados por aglomerações de empresas cujo desempenho competitivo se encontra atrelado à
eficiência coletiva (ganhos associados à interação em nível local)
13
AMIN, A. The globalization of the economy: an erosion of regional networks? In: GRABHER, G. (Org.).
The embedded firm: on the socio-economics of industrial networks. Londres: Routledge, 1993. p. 278-
295.
19
14
O termo governança, nesse contexto, é compreendido pela forma no qual o poder é exercido na
administração desejavelmente estratégica dos recursos sociais e econômicos, como exposto em um dos
primeiros documentos sobre o tema, “Governance and Development” (BANCO MUNDIAL, 1992).
15
De acordo com Lastres e Cassiolato (2003), milieu inovador pode ser definido como” o local ou a
complexa rede de relações sociais em uma área geográfica limitada que intensifica a capacidade inovativa
local através de processo de aprendizado sinergético e coletivo”.
21
16
As diferenças da segmentação do estado em territórios de desenvolvimento (governo do Estado) e
mesorregiões (IBGE) serão explanadas na subseção referente aos Objetos do Estudo. Para o momento,
destaca-se que o território de desenvolvimento escolhido compreende os microterritórios de Além Paraíba,
Carangola, Cataguases, Juiz de Fora, Lima Duarte, Muriaé, Santos Dumont, São João Nepomuceno e Ubá.
22
com que sua participação no valor das vendas externas brasileiras caísse de 13% em 2014
para 11,5%, em 2015 (FJP, 2015).
Ademais, conforme detalhado na Seção 3, as modalidades de produtos
tecnologicamente sofisticados do estado ainda não se encontram, ao menos formalmente,
completamente alinhadas ao portfólio científico e tecnológico levantado (seus ativos de
conhecimento) em suas instituições de pesquisa, a exemplo do que ocorre nas áreas de TI,
automotiva, aeroespacial e ferroviária, e apenas com clara exceção dos produtos
biotecnológicos e biocombustíveis.
Paralelamente as motivações evidentes nas suas últimas políticas explícitas de
inovação, detalhadas adiante, observa-se em MG uma enraizada especialização científica
na maior parte de suas onze IES alinhadas mais profundamente à sua matriz produtiva
tradicional do que as direcionadas às indústrias situadas na fronteira tecnológica nacional e
global. Tais resultados sugerem o potencial para agregar valor aos produtos e serviços por
essas indústrias.
Por outro lado, as indústrias tradicionais ainda apresentam dificuldades estruturais
para sustentar o seu crescimento econômico por dois motivos essenciais: pautam-se na
racionalização de custos e na especialização regressiva17, beneficiada por cada vez menores
vantagens comparativas, e pelo uso de recursos naturais. Alguns dados da última
PINTEC18 (IBGE, 2016a) reforçam esses argumentos, quando demonstram seus altos
investimentos em inovações em processos, assim como ocorre em nível nacional, porém
ainda concentrados na aquisição de máquinas e equipamentos.
A PINTEC destaca que as indústrias mineiras estabelecem, em geral, poucas
atividades de cooperação com universidades brasileiras (4,9% do total das empresas
identificadas como inovadoras), mas fazem significativo uso delas como fontes de
informação (30,7% das empresas mineiras, enquanto o percentual nacional é de 26,2%).
Dentre os principais obstáculos à cooperação formal encontram-se os custos elevados, a
falta de pessoal qualificado, os riscos econômicos inerentes e a escassez de fontes
apropriadas de financiamento. Ou seja, compreende a inexistência ou ineficácia de
instituições capazes de fazer fluir os ativos de conhecimento das IES para as empresas que
os demandam, bem como de induzir seus efeitos retro-alimentadores, reduzindo assim seus
17
Entende-se por especialização regressiva aquela motivada por condições externas favoráveis que
condicionam um país ou região a priorizar exportações de produtos de baixo conteúdo tecnológico, sobretudo
bens primários, comprometendo assim seu desenvolvimento sustentável em longo prazo.
18
Pesquisa de inovação realizada pelo IBGE e com apoio da FINEP e do Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Telecomunicações para a construção de indicadores de inovação das empresas brasileiras.
23
19
Terminologia empregada por Autio (1998) para designar as empresas e suas relações horizontais e
verticais, a saber: com empresas clientes, fornecedoras e concorrentes.
20
Sugerida também por Autio (1998), refere-se às instituições de ensino, pesquisa, fomento e intermediação
que garantem a criação do conhecimento, bem como sua disseminação.
24
1.2 OBJETIVOS
territórios, porém também inseridas em redes que envolvem outros territórios, bem como
partes desterritorializadas do seu sistema de produção e marketing.
Tal enfoque é particularmente importante para o caso de MG, uma vez que o seu
sistema de inovação se apresenta, na prática, subdividido em diversos sistemas menores.
Outra questão, ainda em consolidação, diz respeito às diferenças conceituais entre gestão e
governança, nesse escopo, o que será discorrido nas seções 2.2 e 2.3., porém sem a
pretensão de restringir as possíveis definições dos termos.
Nesse sentido, o objetivo geral do estudo é identificar empiricamente como as
práticas de gestão e governança do conhecimento são e deveriam ser empregadas na Zona
da Mata mineira (sob a ótica das instituições de apoio, fomento, intermediação e ICT), de
modo a revelar e ampliar o seu papel potencial dentro do SRI do estado e no SNI
brasileiro.
Como objetivos específicos, destacam-se:
a) Identificar os diferentes tipos de regiões presentes no SRI mineiro por meio do
mapeamento dos ativos e fluxos de conhecimento (formais) das suas
instituições de ensino e pesquisa públicas, bem como do perfil industrial dos
seus territórios de desenvolvimento. Em maior detalhe, as características da
Zona da Mata mineira.
b) Descrever o histórico das políticas explícitas e implícitas21 de inovação
específicas do estado e analisar sua efetividade e continuidade, além do papel
legitimado das principais instituições de apoio, fomento e intermediação
formalmente envolvidas.
c) Propor um modelo de análise de gestão e governança do conhecimento em
territórios passível de adaptação a outros territórios de natureza semelhante.
Os procedimentos metodológicos empregados para atingir tais objetivos são
discriminados a seguir.
21
A exemplo das de educação, trabalho e infraestrutura
26
22
Web of Science é a designação dada a um conjunto de bases de dados conhecidas como Science Citation Indexes
(Science Citation Index, Social Science Citation Index e Arts and Humanities Citation Index), compiladas pelo ISI
(Institute for Scientific Information).
23
VantagePoint é uma ferramenta de mineração de texto para descobrir conhecimento em resultados de busca de bancos
de dados de patentes e literatura. Disponível via https://www.thevantagepoint.com/.
30
extraídos para o software selecionando-se nele o filtro ISI – WOS (referente a base
escolhida). As análises resultantes correspondem à distribuição das publicações pelas IES,
distribuição por grande área de conhecimento, evolução das publicações ao longo do
período analisado, perfil das coautorias por IES, por área e subárea. O resultado é
apresentado na Seção 3.2.
Também na Seção 3.2 é apresentado o levantamento das características dos
depósitos de patentes realizados entre o período de 2000 e 2014 que apresentavam ao
menos uma das IES públicas e federais analisadas no portfólio científico como seus
titulares24 (não incluindo na análise, portanto, a PUC MINAS e a UNIMONTES). Apesar
das patentes concedidas conformarem indicadores de análise mais coerentes (uma vez que
já passaram pelo exame do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI), optou-se
pela análise dos depósitos, por conta da demora verificada nessas concessões pelo instituto,
o que inviabilizaria a análise comparativa entre o portfólio científico e tecnológico. É
possível que os depósitos oriundos dos resultados de pesquisas acadêmicas ocorram
concomitantemente às publicações, o que permite verificar aproximadamente suas
compatibilidades. A desconsideração dos anos de 2015 e 2016 se deu em função dos
atrasos das publicações dos depósitos no sistema, o que fez com que algumas dessas ainda
não tivessem ocorrido na ocasião da análise. Do mesmo modo, 16 depósitos foram
desconsiderados em algumas estratificações, o que é sinalizado quando pertinente, por se
encontrarem incompletos na base. A análise dos dados compreendeu a evolução
quantitativa dos depósitos; a distribuição geral e por IES das seções, classes e subclasses,
em acordo com a Classificação Internacional de Patentes (INPI, 2017); e, o perfil das
cotitularidades.
Também compreendida na pesquisa descritiva, por fim foi realizado o levantamento
das principais aglomerações produtivas do estado distribuídas em seus dezessete territórios
de desenvolvimento e seu desempenho econômico (Seção 3.3), com base em estudos
acadêmicos anteriores, atualizados pelas informações disponibilizadas no portal
Datapedia25 (aba “Potencial Econômico”).
Nesta mesma seção é realizada a análise do perfil inovador da indústria no estado.
Para tal, foram empregados os dados extraídos da PINTEC 2014 (2016a) referentes às
empresas de MG, agrupados nos seguintes indicadores: fontes de inovação; tipos de
24
Tais dados não foram coletados na busca por patentes do site do INPI, mas por levantamento interno na instituição, de
modo a garantir a consideração de todas as variantes possível nos nomes dos titulares, por exemplo: UFMG,
Universidade Federal de Minas Gerais, Univ. Fed. De Minas Gerais, entre outros.
25
Disponibilizado em: https://www.datapedia.info/public/
31
2. REFERENCIAL TEÓRICO
É entendido por senso comum que a facilidade no acesso aos dados e informações
resulta em inúmeros benefícios às empresas e às pessoas. Porém, e paradoxalmente, a
quantidade avassaladora em que se encontram disponíveis representa, atualmente, um dos
maiores desafios enfrentados na busca pelo seu uso útil. Choo (2003, p. 27) defende que
quando falta “uma clara compreensão dos processos organizacionais e humanos pelos
quais a informação se transforma em percepção, conhecimento e ação, as empresas não são
capazes de perceber a importância de suas fontes e tecnologias de informação”.
A informação restringe-se a coleção de fatos que, ao serem organizados,
transcendem em valor os próprios fatos isolados. Já o conhecimento é um fruto específico
do contexto e da situação, sendo criado dinamicamente por meio das interações (FREIRE,
2012). A capacidade de inovar, inventar e construir, por sua vez, envolve o uso e
compartilhamento dos conhecimentos existentes, compreendendo centralmente o
aprendizado. Por esse motivo, a orientação dessas interações carece de gestão e governança
e, ainda mais intrinsicamente, de estratégia. A criação e o uso estratégico da informação
ocorrem essencialmente por três motivações distintas: dar sentido às mudanças do
ambiente externo; gerar novos conhecimentos e capacidades por meio do aprendizado; e,
suportar a tomada de decisões importantes (CHOO, 2003).
Essas duas expressões, gestão e governança, são conhecidas pela literatura
empresarial, onde se observa pouca dificuldade em distingui-las. De um modo geral, a
primeira compreende a condução eficaz de recursos e processos (tangíveis e intangíveis)
pelas pessoas de uma empresa, enquanto a segunda dedica-se à coordenação de seus
relacionamentos externos e internos a fim de garantir o equilíbrio no atendimento dos
objetivos de todas as partes interessadas (funcionários, clientes, acionistas, comunidades
afetadas, entre outros). A abordagem desses conceitos em uma perspectiva mais
abrangente, ou seja, compreendendo as especificidades de outros atores além das próprias
empresas, bem como a direção e intensidade das relações entre elas e as instituições que a
cercam, e entre essas instituições, faz-se necessária uma vez que podem determinar
consideravelmente a eficácia e eficiência de sistemas nacionais e regionais de inovação26.
26
Os conceitos de SNI e SRI são detalhados nas seções 2.4 e 2.5 deste estudo. Cabe para o momento destacar
que são compreendidos aqui como as construções institucionais que intencionam promover o progresso
tecnológico de países e regiões.
38
27
Relacionada às concepções neo-schumpterianas, detalhadas na subseção 2.3.1, que entendem as mudanças
tecnológicas como as principais propulsoras do desenvolvimento econômico.
39
28
BUNGE, M. Racionalidad y Realism. Madrid: Alianza Editorial, 1985. 191 p.
40
falsidade de uma proposição pode ser averiguada sob determinadas condições. Mais
importante para a presente discussão, identificou a racionalidade como um conjunto de
algoritmos, que supostamente dispensariam o investigador da incumbência de decidir (o
que seria notadamente falível) (BOMBASSARO, 1992).
Para Putnam (1988), a concepção criterial determinada pelo Positivismo Lógico é
autorefutada, pois seus próprios enunciados são desprovidos de demonstração racional. No
entanto, a proposta de racionalidade criterial foi alvo de uma posterior discussão por meio
da epistemologia do Racionalismo Crítico inaugurada por Popper (1975)29 apud Castañon
(2007). Popper, contrariando o princípio da verificabilidade prescrito pelos positivistas,
dedica-se à crítica ao método indutivo e à observação, apontando a importância da
abstração e especulação que independem da experiência observacional por meio do critério
da falsificabilidade (que também distinguiria a ciência da não-ciência) (BARBOSA, 1993).
Para Popper, segundo Castañon (2007), a observação pura, livre de pressupostos e
hipóteses é um mito filosófico. Por outro lado, a ideia psicológica defendida pelo autor
determina que as teorias e expectativas, por vezes inconscientes, acerca da realidade
orientam o que será destacado como relevante para a observação. Porém, qual critério de
cientificidade justificaria uma ideia como conhecimento? Para Popper, o que faz uma
hipótese ser integrada ou não ao conhecimento científico é o fato de gerar ou não
consequências passíveis de falsificação. Porém, para Lakatos e Musgrave (1979)30 apud
Bombassaro (1992), a metodologia defendida por Popper também se apoia no
convencionalismo, uma vez que para existir precisa reconhecer a institucionalização dos
métodos, ou seja, qualquer que fosse o meio de criação da hipótese, este seria
institucionalizado.
Uma das principais críticas ao Racionalismo Crítico, de acordo com Castañon
(2007), reside no fato de que a construção do conhecimento por parte dos cientistas não
ocorre apenas por meio da validação das suas teorias, mas, ainda mais propriamente na sua
falsificação, ou seja, uma teoria científica só pode ser considerada como tal quando é
passível de ser falseável (princípio da falseabilidade ou refutabilidade). A verdade é o ideal
regulador da ciência, mas jamais se tem certeza de tê-la alcançado definitivamente.
Já a concepção não-criterial aproxima-se da ótica histórica, anteriormente
mencionada, e pode inclusive ser apontada como o tipo de racionalidade aceitável pelos
29
POPPER, K. (1975). A Lógica da Investigação Científica. São Paulo: Abril Cultural.
30
LAKATOS, I. e MUSGRAVE, A (Org.). Criticism and the Growth of Knowledge. Cambridge, Cambridge
University Press, 1970, trad. De Octavio M. Cajado, A crítica e o Desenvolvimento do Conhecimento. São
Paulo, Cultrix/EDUSP. 1979.
41
autores que a defendem. Kuhn (1974)31 apud Castañon (2007), um de seus mais
expressivos defensores, introduz o termo paradigma, com o sentido de conjunto de
conquistas científicas e pressupostos universalmente aceitos e compartilhados, que
fornecem um modelo de problemas e soluções aceitáveis à um tipo de pesquisa específica
(CASTAÑON, 2007).
Para Kuhn (1991), a ciência normal é determinada pelas práticas teóricas e
experimentais aceitas pelo paradigma vigente, dotado de regras convencionais ou
arbitrárias, inconscientes. Naturalmente, a persistência do paradigma depende das
habilidades da comunidade científica em sustentá-lo. Porém, quando o conteúdo
informativo visto como anômalo abala a solidez de um paradigma, um novo conjunto de
teorias surge como candidata a novo paradigma por ser capaz de explica-las (ciência
extraordinária). Tal termo aproxima-se, não por acaso, à curva S de Foster (1986), acerca
dos paradigmas tecnológicos, nesse caso, dividindo as fases em fluidas e dominantes.
O pensamento de Kuhn caracteriza-se por não-criterial, por acreditar nos critérios
apenas em sua forma instrumental em relação ao paradigma vigente, mas enumera motivos
em função dos quais emerge um novo paradigma: reorganização gestáltica do quadro
conceitual e factual, interesses, pressões políticas e até mesmo fé. Porém, não é totalmente
historicista, uma vez que defende a incomensurabilidade dos paradigmas. Ou seja, é
impossível compará-los racionalmente. Dada tal impossibilidade, o filósofo acredita que a
escolha entre dois paradigmas é majoritariamente impactada por fatores políticos ou
propagandísticos do momento.
Putnan (1988), diante dos dois pontos de vista (criterial e não-criterial), conclui que
ambos são insustentáveis: acreditar em princípios fixos e imutáveis ou demonstrar que a
racionalidade não existe podem ser consideradas abordagens igualmente equivocadas. Mas
destaca que a cientificidade não deve ser vista como sinônimo de racionalidade, visto que a
ciência pode representar, no máximo, uma das múltiplas vozes da razão. No entanto, ao
aceitar que os valores são pré-condições para o conhecimento, o que supostamente o
aproxima da concepção não-criterial, esses mesmos valores podem ser apontados como
critérios possíveis, ou seja, nesses se baseariam o que deve ou não se deve acreditar,
coletivamente. Para além, se a incomensurabilidade de todo existisse, não haveria como
traduzir a linguagem empregada em outras épocas nas seguintes. Por outro lado, um ponto
31
KUHN, T. Reflections on my Critics. In: Lakatos & Musgrave (ed.). Criticism and the
Growth of Knowledge. Cambridge: Cambridge University Press. p. 231-278, 1974.
42
para alternativas estáveis à objetividade até então absoluta. Em outras palavras, cabe ao
saber tácito, a incumbência pelas inovações fundamentais, uma vez que o ser humano se vê
confrontado com sua mente e munido constantemente de novas compreensões do mundo.
Para Linde (2001), o conhecimento tácito é particularmente problemático para a
gestão do conhecimento, uma vez que é difícil representá-lo por meio de regras. Embora
indescritível, pode ser parcialmente representado pela narrativa. Por essa razão, ao propor
uma taxonomia para os tipos de conhecimento tácito, enfatiza o conhecimento tácito social.
Essa distinção é pertinente para a presente discussão uma vez que o conhecimento social se
mantém e é transmitido de maneiras distintas das demais formas de conhecimento.
Castañon (2007) defende que uma das principais características do conhecimento é
que pode ser transmitido. Tal discussão é relevante, porque essa premissa também o
distingue da crença pessoal intransferível, e o valida apenas quando passível de alguma
verificação técnica. Porém, a noção de crença verdadeira justificada perpassa a
compreensão do que é verdade. Para além, realidade e verdade não são sinônimos, uma vez
que a primeira existe sem que se pense ou deseje. A verdade, por outro lado, trata-se de
uma declaração adequada sobre o real. Desse modo, conhecimento, e mais propriamente
seus ativos, podem ser definidos como a verdade justificada, mesmo que imbuída de
crenças (com exceção dos conhecimentos filosóficos, religiosos e do senso comum).
A criação do conhecimento vista como algo inconsciente, e por isso parcialmente
ingovernável, opõe-se ao conceito de gestão do conhecimento popularizado no início da
década de 90, que previa, genericamente, a sistematização desse processo em etapas e
modelos. Não por acaso, as abordagens iniciais dedicavam-se a gestão do conhecimento
explícito, teoricamente dissociável do indivíduo que o cria, utiliza e dissemina, e
concentrada na sua categorização, acessibilidade e percepção de relevância.
A compreensão do valor do conhecimento tácito não altera de todo a sistematização
em si, mas foca nos próprios indivíduos como eficazes meios de armazenamento e
disseminação. Ao envolver complexos modelos mentais e crenças, o estímulo à conversão
do tácito para o explícito é um processo de articulação de visões e mudanças de
comportamentos em diferentes esferas. Ainda mais importante, as reflexões resgatadas
neste capítulo demonstram ser impossível a gestão do conhecimento em si, mas sim dos
seus ativos, ou seja, do conhecimento tácito ou explícito, passíveis de difusão.
45
informação possui pouco efeito quando abstraída das emoções e contextos a ela
relacionados.
b) Externalização (tácito para explícito): do indivíduo para o coletivo.
Consequência da convergência de um grupo em torno de um mesmo
conhecimento, ainda tácito, e que culmina na sua externalização por meio de
conceitos, hipóteses ou modelos.
c) Combinação (de explícito para explícito): do grupo para o meio.
Disponibilização do conhecimento já explícito para demais grupos que,
posteriormente, o combinarão com outros conhecimentos explícitos.
d) Internalização (de explícito para tácito): do meio para o indivíduo. Assimilação
e incorporação, por parte de cada indivíduo, do conhecimento que se encontra a
sua disposição, ao seu conhecimento tácito.
Nota-se que tal classificação mantém a figura do indivíduo como criador inicial do
conhecimento e entende o meio como amplificador. Já os grupos, parte intrínseca dos
meios, quanto mais autônomos e diversificados, melhor o sintetizam. Na tentativa de situar
a espiral do aprendizado no contexto de SRI, o primeiro indivíduo, apenas a princípio,
corresponde ao pesquisador típico, cujo papel é socializar o conhecimento em aulas,
palestras, consultorias e entrevistas; e externalizá-lo em publicações ou eventuais patentes.
É importante verificar, no entanto, que a externalização apenas ocorre quando
outros indivíduos, em geral oriundos de organizações e instituições de ensino, demonstram
interesse e afinidade pelo conhecimento ali explicitado. Ainda assim, isso não implica
diretamente na sua incorporação por estes. O coletivo é tido como uma pequena parcela do
meio, sendo este segundo entendido aqui como a sociedade em geral.
A esse grupo menor, exposto a uma diversidade de conhecimentos explicitados e
capaz de absorver ao menos parte deles, cabe combiná-los ainda de maneira explícita. Para
o caso das instituições de pesquisa, isso resulta na maior parte dos casos em novas
publicações e em novas patentes, que continuam por não atingir o meio diretamente, mas
apenas o coletivo. Já nas empresas, podem ser efetivamente incorporados em seus
produtos, processos e serviços, e assim destinados ao meio (sociedade). Os indivíduos do
meio, então, munidos de diversificados níveis de educação, crenças e histórias podem ou
não ser capazes de absorver o conhecimento ali incorporado e se desenvolver a partir daí.
Essa adaptação da espiral, do âmbito corporativo para o sistêmico, aparentemente
simples, demonstra-se também rasa. Atualmente, é pretensioso imaginar que apenas a
47
32
Refere-se a um conjunto de ferramentas de TI para intermediar eficientemente e de forma planejada as
relações entre as etapas de algum processo.
33
Conjunto de tecnologias dedicado ao gerenciamento de documentos, e suas alterações, de forma digital.
34
Depósito de dados e informações digitais para organização em relatórios usados nas tomadas de decisão.
35
Evolução do data warehouse, organiza dados e informações, conforme padrões e associações sistemáticos.
36
Embora costumeiramente tratados como sinônimos, o mentoring associa-se ao compartilhamento de
experiências e conhecimentos técnicos, enquanto o coaching enfoca o crescimento pessoal e profissional de
forma genérica e abrangente.
37
Nesse contexto entendido como o processo de comparação de boas práticas dentre e entre as instituições.
52
38
Método interativo de gestão para melhoria contínua popularizado na literatura sobre Gestão e Controle da
Qualidade.
53
39
Guia de boas práticas que conduz a institucionalização da GC. Para mais informações consultar:
BATISTA, F. F. Governo que aprende: Gestão do Conhecimento em Organizações do Executivo Federal.
Brasília: IPEA, 2004.
56
40
Para mais informações consultar: BRASIL. GESPÚBLICA: Programa Nacional de Gestão Pública e
Desburocratização. Brasília: MP-SEGEP, 2015. Disponível em:
http://www.gespublica.gov.br/sites/default/files/documentos/gagp-250_pontos_novo.pdf.
57
Fonte: a autora.
Cabe ressaltar que esta seção, assim como todo o estudo, concentra-se nas práticas
de governança territorial, que correspondem às parcerias entre atores públicos,
semipúblicos, sociais e empresariais. Os arranjos cooperativos institucionais podem, por
sua vez, ser coordenados por atores estatais (abrangendo o campo das políticas públicas)
enquanto os arranjos cooperativos organizacionais são articulados pelos demais atores, mas
com menor ou maior apoio estatal.
O crescente interesse sobre os mecanismos de governança em que a produção e a
distribuição do conhecimento se baseiam resultou em transformações importantes no
desenho da sua estrutura ao longo do tempo. Esse processo é descrito por Antonelli (2002)
em três etapas. A primeira remete aos ingredientes do grande balanço de acumulação de
conhecimentos públicos comuns à onda de privatizações e liberalizações.
A identificação do papel central do conhecimento externo na produção de novos
conhecimentos marca a segunda etapa, onde a descoberta dos trade off permeados por
escolhas, renúncias e compensações acentuaram o papel da governança em todas as suas
interações e trocas. A compreensão da instabilidade inerente a essas interações, à produção
e distribuição do conhecimento tecnológico abre caminho para uma terceira etapa, onde se
identifica uma nova diretriz para as políticas econômicas ligadas a inovação: a capacidade
de gerir questões de coordenação dinâmicas, o que será discutido em uma subseção
adiante.
62
O que devemos criar? Como podemos fazê-lo? Por que estamos fazendo isso? E,
principalmente: Para onde estamos indo? Deve-se observar que os ativos ou módulos de
conhecimento também podem impedir a criação de novos conhecimentos úteis, uma vez
que os sistemas estão sujeitos à inércia e dificuldade de divergir dos percursos oriundos da
acumulação de experiências anteriores.
Segundo Zhuge (2006), a eficácia de uma rede de conhecimento é alcançada
quando os saberes que fluem em uma mesma cadeia de fluxo chegam às pessoas certas e
são armazenados no espaço correto, ou seja, quando o fluxo ocorre a partir de nós com alta
energia para aqueles de baixa energia (o que é proporcional ao número de fluxos de saída
desses nós). Dessa forma, a governança também deve capacitar uma região a eliminar ou
ao menos minimizar os fluxos incapazes de gerar valor, coordenando estrategicamente a
eficiência logística dos mesmos, o que requer ampla compreensão não apenas de direção e
intensidade, mas principalmente de prioridade (LABIAK JUNIOR, 2012).
Para Nonaka et al (2000), o processo específico de criação de conhecimento é
específico do contexto (em termos de quem participa e como participa, podendo ser este
cultural, social e histórico). Nesse entendimento, o conhecimento precisa de um contexto
físico. Nomeiam esse lugar por “ba”, definido como o contexto compartilhado em que o
conhecimento é partilhado, criado e utilizado. Fornece, assim, a energia, a qualidade e o
território (físico, virtual e mental) para as conversões individuais e para o movimento ao
longo da espiral mencionada anteriormente.
“Ba” é, então, o contexto compartilhado pelos atores que interagem e que, a partir
daí evoluem por meio da autotranscedência para criar conhecimento. No entanto, as
relações entre diversos “ba” não são necessariamente conhecidas a priori, pelo contrário,
não são predeterminadas e claras. A coerência orgânica e interativa de vários “ba” e dos
indivíduos que deles pertencem é apoiada pela confiança mútua e contínuo intercâmbio de
modo a criar e fortalecer relações.
No que tange mais à governança que à gestão do conhecimento, Nonaka et al
(2000) sugerem que tal contexto compartilhado deve ser energizado com elementos como
autonomia, caos criativo, redundância e variedade de requisitos. Defendem que a
autonomia aumenta a chance de exploração de informações valiosas e criação de novos
conhecimentos, uma vez que sistemas autônomos são capazes de executar múltiplas
funções e, desse modo, sublimam as perspectivas individuais para níveis mais elevados.
Por sua vez, o caos criativo estimula as interações evocando, controladamente, visões
ambíguas. Tornando o contexto capaz de romper velhos hábitos e estruturas cognitivas. Já
67
sistema produtivo local integrado, apoiado por uma estrutura científica local; inter-relações
dinâmicas entre sistemas locais que aumentem sua capacidade de organização e
criatividade.
A estruturação das relações em rede, segundo Lopes (2001), compreende a
existência de diferentes tipos de redes e articulações destas com o território. Atendo-se
apenas ao critério articulação territorial e governança, o autor sugere três tipos essenciais:
rede polarizada, rede constelação e rede segmentada.
As redes polarizadas caracterizam-se por um modelo hierarquizado de organização
onde se evidenciam fracas relações entre os agentes envolvidos, predominantemente
bilaterais e de natureza mercantil. Suas sinergias encontram-se confinadas à capacidade de
coordenação do seu núcleo (quase sempre representado por uma grande organização), o
que faz com que o território tenda a limitar-se ao suporte à estrutura industrial moldada em
função da estratégia deste. Em casos extremos, o meio pode até mesmo ser confundido
com o polo industrial estruturado pelo núcleo. A governança em redes desse formato é
mediada pelo mercado, sendo mais ou menos hierarquizada em função do poder das
organizações do núcleo.
Na maior parte dos casos, a inovação associa-se mais aos recursos dessas
organizações, que a materializam e comercializam, do que propriamente às características
inovadoras do meio. Mas, na medida em que as economias externas por elas captadas nesse
meio crescem em relevância para a sua competitividade, aumenta também seu
enraizamento territorial com perfil tecnológico relativamente avançado. A despeito dessa
propensão, e com exceção da crescente qualificação dos recursos humanos resultante, seu
papel no enriquecimento do meio demonstra-se reduzido (LOPES, 2001).
Já as redes constelação opõem-se as polarizadas por não disporem de um núcleo de
controle, fazendo com que as relações se deem de forma reticular e horizontal, e não se
restrinjam as de mercado. As relações informais e de cooperação crescem em relevância,
fazendo com que seu processo de governança seja conduzido pelos códigos de conduta
emanados pela cultura socioprofissional local. A característica e intensa divisão social do
trabalho e a multiplicidade de relações formais e informais entre os agentes possibilitam as
sinergias de aprendizado orientadas à inovação. Dessa maneira, o território “fornece à rede
o capital relacional e a valência do saber-fazer local, em contrapartida a rede enriquece
esse saber-fazer e alimenta a reprodução do capital relacional do meio por meio da
dinâmica de inovação que impulsiona” (LOPES, 2001, p. 140).
70
Por último, o autor defende que as redes segmentadas podem ser entendidas como
uma abordagem intermediária das duas anteriores. O núcleo destas funciona como uma
rede-constelação de dimensão restrita, capaz de coordenar as ações dos restantes parceiros
da rede (anéis). Desta maneira, os agentes do núcleo concebem as diretrizes em estreita
colaboração entre si, direcionam a partilha de funções e coordenam a participação dos
elementos dos anéis. Essas últimas relações configuram uma sub-rede do tipo polarizada.
Esse enquadramento organizacional ajusta-se aos segmentos onde a inovação caracteriza-
se por significativo conteúdo tecnológico, e consequente dispêndio em P&D, mais
coerentes à realidade das organizações situadas no núcleo do que as dos anéis.
Outra característica apontada por Lopes (2001) como fundamental nas redes
segmentadas refere-se ao fato de que estas não se segmentam apenas por sua configuração
funcional e relações de poder, mas, sob a ótica da articulação com as dinâmicas territoriais,
sendo identificadas como um suporte organizacional mais condizente ao processo de
desenvolvimento global do tipo arquipélago. Ou seja, é o suporte do território virtual
global, já que a intensidade e amplitude de suas interações, seja pelo espaço definido pelo
seu núcleo, ou pelas suas interações com o exterior, configuram-nas naturalmente como
um “espaço fluxo-global”. O seu núcleo constitui-se, assim, de um espaço virtual de fluxos
interterritoriais que, em contrapartida, possui um componente territorial materializado em
nós locais bem definidos, constituindo o veículo de articulação local-global. Graças a isso,
é possível conectar localmente o conhecimento tácito com o formal portador dos impulsos
de inovação externos.
As redes de inovação41, cujos tipos podem sobrepor-se em um mesmo sistema nos
mais variados níveis, adquirem papel relevante na promoção regional da inovação por
meio das suas interações com o subsistema institucional. Um modelo de análise dos fluxos
de conhecimento e interações de regiões, a exemplo do empregado por Labiak Junior
(2012), deve contemplar seus atores de conhecimento científico (universidades, faculdades,
institutos de pesquisa e escolas técnicas), atores empresariais (industriais e de serviços
públicos e privados), atores de fomento (venture capital, garantidores de crédito, agências
de fomento, bancos e fundos de investimento), atores institucionais (SEBRAE, federações
das indústrias e associações), habitats de inovação (incubadoras, polos e parques
41
Caracterizadas pelas relações interorganizacionais que envolvem principalmente empresas, entendidas
como o lócus da inovação, uma vez que a principal compreensão de inovação concentra-se na proposição de
algo novo ou significativamente melhorado ao mercado, e com valor percebido por este (o que
essencialmente ocorre por meio das organizações). Dessa forma, o conceito de redes de inovação é
consensualmente compreendido como mais restrito que o de sistemas de inovação (que envolvem
explicitamente as instituições, além das próprias empresas).
71
tecnológicos) e atores públicos (de âmbito local, estadual e federal, além do legislativo).
Compreendendo que o fluxo de conhecimento, em si, deve ocorrer principalmente entre os
dois primeiros atores, cabe aos três seguintes o papel de coordenar as estratégias e ações de
governança e garantir que ocorram do modo mais eficiente e eficaz possível.
Cooke (2007) propõe que a díade tácito-codificada não é completamente aderente
aos processos de conversão de conhecimento interativo. Sugere para esses casos um termo
intermediário, “conhecimento cúmplice”, aliado ao termo “transceptor” (combinação de
transmissor e receptor) para incorporar as externalizações e internalizações de
conhecimento típicas de sistemas de inovação. Em resposta a questão de como configurar
um ambiente viável para o estímulo de indivíduos, organizações e economias regionais em
prol da inovação, propõe a criação de “vantagens construídas” como uma perspectiva de
política estratégica de uso prático para todos os atores acima mencionados. Seguir tal
proposta implica trabalhar em duas plataformas adicionais de pensamento: além das
plataformas da indústria, atuar também nas plataformas de stakeholders e de políticas.
Assim, o objetivo central da ECT converge no estudo dos custos das transações
como indutor de modos alternativos de governança, dentro de um arcabouço analítico
72
42
BARZEL, Y. Economic analysis of property rights. Cambridge: Cambridge University Press, 2ª ed., 1997.
73
garante aos envolvidos a atmosfera de confiança necessária, uma vez que as fronteiras
entre a produção e uso nunca estão claras, e também porque os usuários tendem a buscar
resultados mais imediatos.
A despeito das vantagens das relações socialmente incorporadas defendidas até
então, redes capazes de aplicar as mesmas rotinas e que se encontram expostas às mesmas
ideias, tendem a ter baixa capacidade de aprendizado, atenção insuficiente às estratégias e
competências externas a elas e, consequentemente, manterem-se em trajetórias
tecnológicas obsoletas e não competitivas. Especificamente quanto a isso, knowledge
brokers também podem atuar como gatekeepers, ou seja, entidades capazes de monitorar
as informações oriundas de fora dessas redes e traduzi-las à linguagem de produtores e
usuários de conhecimento locais.
Nessa perspectiva, muitas das respostas para as decisões que precisam ser tomadas,
em nível organizacional ou regional, não se encontram apenas por meio da interação entre
produtores e usuários de conhecimento, mas na mudança de conteúdo dos ativos existentes.
Essa atuação, por essa razão, reconhece o valor das formas não tradicionais de produção de
conhecimento (principalmente as instituições de ensino e pesquisa) e traz à luz a
importância da atuação, nos dois extremos, alinhada as mudanças do contexto.
dinâmicas responde a pergunta que considera de maior relevância para a visão das firmas:
Por que elas se desenvolvem de formas diferentes em diferentes países? O conceito de
capacidades dinâmicas, portanto, converge no “aprendizado social e coletivo das empresas
e consequente habilidade em intuir, avaliar e reconfigurar novas oportunidades sob a lente
de suas próprias competências” (TEECE et al, 1997, p. 520).
Alguns aspectos ligados a coordenação de arranjos cooperativos como a
distribuição da quase renda gerada, incentivos, monitoração, assimetrias (de tamanho,
poder, capacitação e informação) não encontram respaldo teórico consistente nas teorias da
firma neo-schumpterianas. Como principal impacto, evidencia-se o prejuízo ao estudo de
eficiência dinâmica, sobretudo quanto à redução de custos de transação (GRASSI, 2006).
A área de gestão estratégica é apontada por Foss (2006) como o campo da
administração, dentre os mais tradicionais, onde as abordagens baseadas no conhecimento
foram desenvolvidas e aplicadas com maior sucesso. A teoria ligada à estratégia,
nomeadamente a organizacional, pode ser segmentada em três linhas de pensamento. A
primeira, inaugurada por Porter (1980), atribuía às forças exercidas por um setor sobre a
organização como os aspectos determinantes para as suas decisões estratégicas. A segunda,
também orientada ao meio, e defendida por Shapiro (1989) focava nas imperfeições de
mercado e nas interações estratégicas. Essa abordagem, nomeada como de conflito, adota
ferramentas da teoria dos jogos, a exemplo de estratégias de preços e controle da
informação, como meio para garantir vantagens competitivas. A terceira perspectiva,
inaugurada por Penrose (1959), vista como mais interna, e denominada “visão baseada em
recursos”, direciona-se ao uso estratégico dos pontos fortes de cada organização e
tratamento de seus pontos fracos. Para tal, enfatiza as suas capacidades e ativos específicos
e os mecanismos de isolamento fundamentais para a eficácia do seu uso.
Durante muito tempo, os mecanismos de isolamento supracitados foram suficientes
para garantir o posicionamento vantajoso de algumas organizações em seus setores,
sobretudo quanto à proteção dos seus ativos de conhecimento. No entanto, nas últimas
décadas, as empresas, diante da complexidade tecnológica de seus produtos, bem como das
aceleradas mudanças do mercado, se veem cada vez mais incapazes de inovar sozinhas. A
partir dessas mudanças, desenvolveu-se o campo da inovação aberta. Chesbrough et al
(2006, p. 1) o definem como “o uso intencional das entradas e saídas de conhecimento para
acelerar a inovação interna e expandir os mercados de uso externo da inovação,
respectivamente”.
79
Porém, ainda que valiosos, os mesmos podem não ser inteiramente raros, ou seja,
também são acessíveis aos concorrentes e, dessa maneira, não configuram diferenciais
relevantes. Ainda que sejam, quando passíveis de fácil imitação (quer seja por duplicação
ou substituição), têm seu potencial enfraquecido. Em geral, uma vez que uma organização
detém recursos valiosos, raros e de difícil imitação, tem em mãos um conjunto de
potenciais vantagens competitivas sustentáveis. Finalmente, é necessário que saiba
explorar tais vantagens, ou seja, que possua uma estrutura formal, sistemas de controle e
políticas de compensação que lhe permita combiná-los a outros recursos e capacidades de
forma exclusiva (organização).
A organização em prol da exploração de vantagens competitivas sustentáveis
sugere que apenas por meio das rotinas organizacionais é possível, de fato, identificar os
ativos que uma organização detém (recursos e habilidades individuais exercitadas). A
partir disso, a fim de incorporar os efeitos oriundos de ambientes globalizados e em
acelerada mutação, emerge o conceito de capacidades dinâmicas criado por Teece et al
(1997). Em sua definição inicial, trata da habilidade de uma firma em integrar, construir e
reconfigurar as competências internas, definidas anteriormente, e as externas.
Adicionalmente, para Eisenhardt e Martin (2000), alteram a base de recursos de uma
empresa, incluindo seus ativos físicos, humanos e organizacionais. Mas, para tal, tais
alterações devem ser propositais (HELFAT & PETERAF, 2009).
Sendo assim, o foco é estendido das especificidades das firmas para o processo pelo
qual a mesma desenvolve e renova suas competências. Baseia-se no tripé: processos
(rotinas ou práticas correntes e aprendizado), posições (ativos, governança, base de
consumidores e relações externas com fornecedores e parceiros) e trajetória (histórico de
decisões e oportunidades tecnológicas e de mercado). Dessa maneira, a rotina
organizacional molda-se pela posição da firma em ativos e por sua trajetória, ambos
determinando as alternativas estratégicas possíveis. Helfat e Peteraf (2009), porém,
recomendam que, dadas as muitas diferenças entre os recursos, a tratativa para a
dinamicidade de ativos tangíveis e intangíveis não pode ser a mesma.
As duas últimas autoras demonstram, esquematicamente, a evolução da cadeia
lógica do tema comparando as reflexões dos seus principais autores em um relativamente
curto período de tempo, o que é demonstrado na Figura 9.
Os microfundamentos apresentados por Teece (2007) para o desenvolvimento
dessas capacidades (sensing, seizing e recombinação/reconfiguração) ainda podem ser
82
Foss (2006), no entanto, aponta algumas lacunas que colocam tanto a visão baseada
em recursos, quanto à noção de core competence, como insuficientes. Uma delas é que a
literatura relacionada coloca as capacidades como antecedentes (ao nível de firma) às
vantagens competitivas (também ao nível de firma), denominado como coletivismo
metodológico. Essa postura, no entanto, suprime o nível da ação individual e das
interações. De um modo geral, obscurece o complexo processo de valor apropriado que
não é realizado pelas empresas, e nem por suas capacidades, mas pelo stakeholders
internos equipados por diferentes poderes de barganha e intencionalidades. Assim,
negligencia micro-mecanismos relevantes. Tsoukas (2001), adicionalmente, argumenta que
embora as pessoas identifiquem o conhecimento como individual, não é evidente como ele
se torna posse de um indivíduo e nem em que sentido passa a merecer o adjetivo
organizacional.
O desejo presumido como autoconsciente de reorganizar o saber implica na
intenção do indivíduo de tratar as ações de maneira diferente, revelar aspectos de um
fenômeno (conhecimento), até então invisível, ou simplesmente ver mais claramente.
Ademais, essa reorganização ocorre de forma localizada, ou seja, com base em um ponto
de vista ou tradição único. Assim, a capacidade de julgamento envolve a predisposição
desses indivíduos em desenhar distinções e situa-se em um domínio de ação coletivamente
gerado e sustentado, uma prática comum, um horizonte de significados ou domínio
consensual, com critérios particulares de avaliação, incluindo a alocação de incentivos para
a busca, compartilhamento e acumulação de capital humano (TSOUKAS, 2001).
87
À medida que se tem obtido avanços nos estudos do conhecimento como fator de
vantagem competitiva, muito foi feito ao nível da identificação das consistências nos
caminhos de desenvolvimento do conhecimento nas organizações, mas pouco ao nível das
interações humanas que são as principais fontes de criação e transferência . A governança
aborda a tentativa de incluir essa fonte primária em uma abordagem individualista (ou seja,
a das motivações individuais). A racionalidade limitada e o oportunismo, já apontados,
88
43
Entidades dentro da organização cujo papel é ligar as redes internas da organização com as fontes externas
de informação.
90
mudanças são capazes de evoluir e transmitir essa direção às gerações consecutivas para
garantir a continuidade, estabilidade, previsibilidade e segurança necessárias.
Para fins analíticos, o modelo proposto por Pires e Gomide (2014) será incorporado
ao modelo unificado de análise do presente estudo, especificamente para os casos das
políticas e instituições diretamente relacionadas à inovação e afins. O modelo desses
autores pode ser resumido no esquema apresentado na Figura 13.
Figura 13 – Modelo analítico para avaliação de capacidades estatais
A presente seção, assim como a anterior, não pretende esgotar a discussão sobre as
vertentes institucional e regional da governança e da GC, tendo em vista que se trata de um
tema ainda em consolidação na literatura vigente. Suas motivações e dinâmicas peculiares,
aqui apresentadas, garantem, no entanto, uma sustentação teórica suficiente e necessária
para as seções seguintes, que abordam especificamente os temas SNI e SRI. Nesse último,
a convergência dos assuntos torna o resgate e aprofundamento da discussão sobre
governança inevitável, embora não tão óbvio.
De modo a orientar a análise do estudo de caso proposto, os modelos teóricos
apresentados nas seções 2.2 e 2.3 foram compilados no esquema da Figura 14. Conforme
demonstrado, as abordagens relacionadas às capacidades estatais serão empregadas para
delinear o plano de fundo, com análise direcionada as instituições de apoio, intermediação
e fomento pertinentes; as relacionadas às capacidades dinâmicas serão orientadas as
instituições de ensino e pesquisa (mais precisamente aos seus gestores e decisores); e, por
último, as contribuições acerca da GC e capacidades cognitivas serão incorporadas a
análise das relações entre a instituição e os indivíduos nela inseridos (no caso, seus
pesquisadores).
96
44
Em acordo com o artigo The Nature of Firm (1937), de Coase, as empresas se orientam pela demanda do
mercado, e a oferta se ajusta pelo consumo deste do que produzem.
98
capitalista pode prover são múltiplas opções de iniciativas e a competição entre os que
apostam em ideias diferentes fundamentadas no acesso difundido ao conhecimento
genérico básico (permitindo a compreensão das possibilidades técnicas e dos mercados).
Fica a cargo desses mercados decidirem factualmente quais são as boas ideias.
O caráter público do conhecimento tecnológico, de certo modo, contorna as
ineficiências associadas à rivalidade, mas traz à tona outros problemas. Como exemplo,
permite questionar a perspectiva Schumpteriana de monopólios temporários, que defende
que os competidores, cedo ou tarde, tornam-se aptos a imitar ou inventar em torno da
inovação original. Esse fim público de toda tecnologia apresenta três benefícios
conhecidos: assegura a partilha saudável dos benefícios da inovação; o conhecimento ali
compreendido provê a base e o estímulo para inovar por parte de outros atores; e, os dois
primeiros mantêm sob controle os riscos de monopólios mais duráveis. E, justamente esses
mesmos benefícios podem desencorajar a inovação em função do medo da rápida imitação.
Segundo Nelson (1988), essas observações trazem à luz a relevância do papel do
desenho institucional dos sistemas, enquanto garantidor de um balanço apropriado entre os
aspectos públicos e privados da tecnologia e do próprio conhecimento. Essencialmente,
esse papel resume-se em tornar disponível o acesso completo ao conhecimento envolvido
nas inovações apenas quando parcialmente suplantados os esforços nele dedicados.
Outro problema resulta dessa constatação: a relação das organizações com
instituições dedicadas a criação do conhecimento genérico e de métodos científicos
direcionados a resolução dos seus problemas não é pautada apenas na orientação adequada
as predileções do mercado, mas principalmente na segurança de que seus competidores não
colherão, antes do tempo, os benefícios por ela cultivados. Essa garantia ocorre
basicamente por meio de três mecanismos: do sistema de patentes, do segredo industrial e
das vantagens associadas com a exploração (ativos complementares).
Já quanto ao papel do governo, Nelson (1988) aponta três diferentes tipos de
suporte: o financiamento a pesquisa básica, a própria geração de demanda e a intervenção
no avanço da competitividade comercial de indústrias particulares. Enquanto a experiência
americana pautou-se nos dois primeiros tipos, a japonesa concentrou seus esforços
principalmente no terceiro. A despeito dessas diferenças, é razoável afirmar que o sucesso
dos sistemas de inovação decorre da acurácia na identificação de áreas chaves que
concentrarão em uma perspectiva de longo prazo, os esforços tecnológicos e
investimentos. Isso é apenas possível quando mudanças profundas ocorrem ao nível
educacional e social porque, naturalmente, e dentre outros motivos, maiores níveis de
102
45
KATZ, J. Tecnología, economía y industrialización tardia. In: SALOMÓN, J.; SAGASTI, F.; SACHS, C.
(Org.). Una búsqueda incierta: ciencia, tecnología y desarrollo. Cidade do México: Fondo de La Cultura
Económica, 1994.
106
46
STIGLITZ, J. Economic Growth Revisited. Industrial and Corporate Change, v. 3, n. 1. , p. 65-110,
1994.
109
47
Esse efeito, originado nos estudos sobre a biologia evolutiva, refere-se à hipótese de que as espécies (ou
nesse caso as nações) devem se manter em constante evolução não apenas para avançar, mas para não perder
terreno frente à competição global.
48
Na linguagem estatística, o termo causalidade refere-se a todo fenômeno que antecipa outro. Para esse
caso, a produção científica antecede a produção tecnológica, nos dois grupos analisados. Mas, nos países
asiáticos, a causalidade se mostra recíproca, ou seja, a produção tecnológica retroalimenta a científica.
110
O assunto desta seção parece estar longe do seu esgotamento, e novas discussões
além das propostas por Albuquerque e Silva (2005) ganham destaque, em número e
conteúdo. Fagerberg e Sapprasert (2011) levantam a emergência de uma nova abordagem
para o tema, mais alinhada aos conceitos de aprendizado interativo, como a que emerge das
discussões de Lundvall (2009). A despeito de tudo o que foi discutido até então sobre a
importância do conteúdo científico das inovações, o autor enfatiza que a capacidade para
inovar não pode ser tratada como fruto de esforços isolados. Pelo contrário, a compreensão
de aprendizado dá lugar às experiências diárias de operários, engenheiros e vendedores,
que também produzem inputs essenciais (frutos do learning-by-doing).
Fagerberg e Sapprasert (2011) demonstram que os estudos relacionados aos
sistemas de inovação cresceram mais rapidamente que sobre inovação de forma geral entre
1996 e 2008. No entanto, também observam que, após as contribuições seminais, as
publicações a partir de 2000 são orientadas às realidades de cada nação e suas diferenças.
Afirmam também que um número expressivo de novos estudos compreende as
especificidades de governança dos países em processo de desenvolvimento e suas
respectivas capacidades de absorção; a importância das suas leis de PI (e demais
arcabouços institucionais); e, o papel dos sistemas de educação. Além da perspectiva
externa, correspondente às questões de catching up já mencionadas, os autores se dedicam
à discussão de aspectos internos igualmente relevantes: estruturas institucionais em geral
menos formalizadas; regras menos rígidas; e, agentes e incentivos distintos.
Conforme Bartels et al (2012), são necessárias expressivas adaptações nas
características verificadas nos sistemas de países “ao norte” para a aplicação dos modelos
naqueles “ao sul”, essencialmente as ligadas as suas capacidades, incentivos e arranjos
institucionais. Essas três dimensões podem ser transformadas em um constructo
operacional com as dinâmicas comportamentais desses sistemas em seu cerne. Essas
dinâmicas comportamentais, por sua vez, são determinadas por quatro novos constructos
subjacentes independentes, ilustrados na Figura 18.
O primeiro constructo independente, a dinâmica estrutural da gestão do
conhecimento, acentua o papel central da construção do conhecimento sistêmico, bem
como sua difusão. Esse constructo encapsula o conhecimento como interações entre dados,
informações, educação e respostas do capital humano aos desafios da produtividade.
Compreende atribuir propósito ao conjunto de dados e informações. O segundo constructo,
dinâmica estrutural das tomadas de decisão, reflete as consequências da cultura e captura
as “regras do jogo” institucionais no que tange a como os atores econômicos se envolvem
114
com as políticas regulatórias, além dos padrões de interações peculiares aos agentes dentro
de uma organização institucional nacional. O terceiro constructo, dinâmica estrutural das
relações governo-empresas, alude à articulação entre as esferas do governo e da iniciativa
privada do modelo de Hélice Tripla proposto por Etzkowitz e Leydesdorff (2000). Captura
assim as interações públicas e privadas que dizem respeito às políticas tecnológicas dos
governos e a extensão com que essas relações estão sujeitas a custos de transação. No
quarto constructo, a dinâmica estrutural do mercado, aponta os incentivos e mercados
como mecanismos de sinalização sobre a concorrência na indústria e as características
demográficas desses mercados (BARTELS et al, 2012).
Lundvall (2009) também defende essa posição quando propõe que os indicadores
mais relevantes sobre os sistemas nacionais devem refletir a eficiência e a efetividade da
produção, da difusão e da exploração econômica do conhecimento (e não como um efeito
isolado, mas fruto de um processo). Em geral, tais indicadores não são bem desenvolvidos.
De acordo com o autor, uma das medidas mais clássicas para comparar sistemas nacionais
ainda é a proporção do investimento em P&D em relação ao PIB, o que apresenta dois
problemas: refletem apenas um esforço de entrada, mas não dizem nada sobre os resultados
desses esforços; trata-se, de todo modo, de apenas uma forma de input, enquanto o
aprendizado pela cooperação nas rotinas diárias pode ter igual ou até maior importância,
por exemplo. Do mesmo modo, as medidas de output comuns, a exemplo das patentes, da
proporção de produtos inovadores comercializados e da proporção de exportação de
produtos de alta tecnologia, embora juntas sejam razoavelmente satisfatórias, trazem ainda
pouca informação sobre a eficiência de difusão.
A partir dessa compreensão, Guan e Chen (2012) examinam os efeitos dos fatores
contextuais sobre a eficiência e desempenho dos dois subprocessos, produção do
conhecimento e comercialização do conhecimento. Para tal, lançam mão de uma
abordagem determinística, envolvendo programação linear, chamada Data Envelopment
Analysis (DEA), embora se reconheça a dificuldade em isolar com precisão a contribuição
da P&D dos demais esforços comerciais nos resultados de mercado.
Como fatores de input do Processo de Produção do Conhecimento os mesmos
autores consideram: número de cientistas e engenheiros atuando em regime de dedicação
exclusiva, investimentos em P&D diretamente vinculados às atividades de inovação,
estoque de conhecimento prévio acumulado para a produção de conhecimento a jusante. Já
como inputs para o Processo de Comercialização do Conhecimento apontam: estoque de
conhecimento prévio acumulado vinculado às comercializações a montante, quantidade de
trabalho exclusivamente dedicado às atividades não diretamente ligadas a P&D. Como
produto intermediário que ligam ambos os subprocessos destacam o número de patentes
concedidas pela United States Patent and Trademark Office (USPTO), e para os outputs do
primeiro, o número de publicações científicas internacionais. Como os outputs do segundo,
incluem o valor agregado das indústrias e o nível de exportação de novos produtos por
parte das de alta tecnologia.
Por fim, os oito fatores ambientais levantados pelos mesmos autores são: força das
leis de PI, ambiente jurídico para o desenvolvimento tecnológico e sua aplicação, abertura
para comércio e investimentos internacionais, financiamento privado em P&D,
118
Uma possível explicação dada pelos autores é que a relação entre ciência e
tecnologia pode ser caracterizada por diferentes dinâmicas em países com distintos níveis
de desenvolvimento. Puderam constatar que a produção científica pode ser rapidamente
acrescida pelo investimento público durante a fase de catching up de economias em
desenvolvimento, enquanto os outputs tecnológicos produzidos pelas empresas privadas
podem se tornar um driver mais importante nos sistemas de inovação de economias mais
avançadas (o que vem ao encontro do sugerido por Bernardes e Albuquerque (2003)).
Outra constatação importante revela que a maioria das variáveis tende a se ajustar
em um curto prazo quando submetidas a choques externos (por exemplo, mudanças
políticas), retornando ao equilíbrio de longo prazo supracitado. A única exceção a esse
comportamento é observada nos inputs de inovação, que demonstram uma tendência de
desvio mais permanente quando submetidos aos mesmos choques.
Quanto às dinâmicas de capacidade inovativa, o trabalho confirma a hipótese de
ligação entre inputs e outputs do processo de inovação nos dois sentidos. Ou seja, os
investimentos em P&D direcionam os outputs científicos e tecnológicos. Por outro lado, o
crescimento desses outputs sustenta novos investimentos. Já quanto às dinâmicas de
capacidade de absorção, aponta a causalidade bidirecional entre as variáveis de
infraestrutura e comércio internacional (ou seja, os dois fatores se codesenvolvem e
suportam suas dinâmicas mutuamente ao longo do tempo). Resultado análogo não se
verifica na variável capital humano, que não afeta diretamente o crescimento da
120
Figura 21 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias de renda média I
Figura 22 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias de renda média II
Figura 23 – Relações entre a capacidade inovativa e capacidade de absorção de economias de renda média III
maior interação entre suas jurisdições (que permita o aprendizado por meio dos êxitos e
fracassos de cada país); deslocamento do foco quase exclusivo de atuação em instituições
públicas de pesquisa e extensão para contribuições nas interações entre organizações; dada
a necessidade de incorporar agentes diversos (decisores políticos, comunidades
marginalizadas, organizações não governamentais, indústrias tradicionais e emergentes),
surge a necessidade de uma abordagem mais qualitativa de pesquisa com esses agentes por
meio, por exemplo, de grupos focais; e, definição de metas de médio e longo prazo a partir
dessa abordagem (inerentes a transformações tão profundas).
Cimoli (2014) discute novos aspectos acerca dos sistemas nacionais e reflete
essencialmente sobre como o acesso assimétrico inicial ao conhecimento tecnológico, em
um mundo cada vez mais caracterizado pela similaridade nos padrões da demanda, figura
como principal determinante dos fluxos comerciais e dos padrões de especialização
internacionais. Abordando as diferenças entre as orientações dos sistemas de países sul-
americanos e asiáticos, defende que a intervenção governamental desempenhou um papel
fundamental para a industrialização em ambos os casos, mas com orientações opostas.
Os sistemas latino-americanos caracterizam-se pela produção para mercados
internos, ao passo que os do sudeste asiático orientam-se para a exportação e
especialização em manufaturados. Nesses últimos, a promoção da cooperação entre
empresas e o envolvimento nas subsidiárias de multinacionais objetivam promover o
acesso estável à transferência de tecnologia e sua frutífera difusão em toda a economia.
Outra diferença essencial desses países é a formação do capital humano e o importante
papel do sistema educacional e científico para o seu desenvolvimento industrial (CIMOLI,
2014).
A importância das instituições no desenvolvimento econômico de países como
Coreia do Sul e Taiwan sugere a compreensão de que este se situa na capacidade de
aplicação de regras fundamentadas em critérios claros de desempenho. Ou seja, a alocação
de recursos por parte do Estado é estreitamente ligada ao desempenho das exportações (e a
concorrência internacional funciona como principal fonte de aprendizado interno)
(CIMOLI, 2014).
As diferenças entre os dois grupos de países supracitados ajudam a ilustrar que,
embora as contribuições das instituições dentro de qualquer sistema devam ser
complementares, diferem significativamente de país para país quanto à motivação e
compromisso para a criação e difusão do conhecimento que criam. Em outras palavras, é
razoável incorporar a ideia de que as distintas estruturas institucionais criam padrões de
124
Da proposta do autor emerge a ideia de que as reflexões acerca do tema pairam hoje
sobre as competências e desempenhos dos SNI como bons parâmetros comparativos do
processo de inovação entre os países, mas já se assume como uma abordagem inapropriada
para conduzir um modus operante (“One size does not fit all”). Para sua compreensão, no
entanto, é importante notar que a ênfase do modelo se encontra nas relações funcionais
entre as variáveis, e não nos seus coeficientes individuais.
125
49
DE LA MOTHE, J.; PAQUET, G. Local and Regional Systems of Innovation as Learning Socio-
economies. In: DE LA MOTHE, J.; PAQUET, G. (Org.). Local and Regional Systems of Innovation.
Boston: Kluwer Academic Publishers, 1998. p. 1-18.
128
Porém, alguns padrões são levantados por Tödtling e Trippl (2005) para destacar os
impactos das diferenças espaciais nos processos de inovação. Para tal, dividem as regiões
em três tipos: metropolitanas, dominadas por indústrias tradicionais (ou clusters
industriais) e periféricas (detalhadas no Quadro 17). Os autores concluem que as atividades
de P&D, patenteamento e inovações em produtos são, geralmente, concentradas nas
regiões metropolitanas; os spillovers de conhecimento podem ser observados nos clusters
industriais e nas metrópoles, com um alcance limitado a certa distância geográfica
daqueles; embora não se encontre definido na literatura se a efetividade dos processos de
inovação ocorre mais pela especialização ou pela diversificação das aglomerações,
percebe-se que estes são estimulados, em particular, pela complementaridade das
indústrias; as regiões periféricas são, em geral, menos inovadoras e concentradas na
inovação em processos; e, os clusters industriais mais antigos também tendem a serem
menos inovadores com foco em atividades incrementais devido ao predomínio de empresas
controladas externamente.
As principais barreiras verificadas nos três tipos de regiões desenhadas (periféricas,
dominadas por indústrias tradicionais e metrópoles) são esquematizadas na Figura 26.
Observa-se, especialmente naquelas do segundo grupo, o predomínio dos bloqueios
funcionais, cognitivos e políticos sobre os demais.
50
HOMMEN, L.; DOLOREUX, D. Bring back labour in: a ‘new’ point of departure for the regional
innovation approach. In: FLENSBURG, P.; HÖRTE, S. A.; KARLSSON, K. (Org.). Knowledge spillovers
and knowledge management in industrial clusters and industrial networks. Londres: Edward Elgar
Publisher, 2004.
130
Quadro 18 – Abordagens das políticas de inovação propostas para cada tipo de região
Abordagens Tipo de região
políticas Regiões periféricas Regiões com predomínio de indústrias antigas Regiões metropolitanas
Orientação Reforço/ Modernização da economia regional Renovação da economia regional Melhorar a posição da economia regional na
estratégica da economia do conhecimento global
economia
regional
Estratégia de “Catching up de aprendizado” (organização, Inovação em novos campos e trajetórias Inovações radicais e baseadas na ciência/
Inovação tecnologia)/ Melhorar as estratégias e a Inovação em produtos e processos para novos Promoção da interação entre a indústria e os
capacidade de inovação das PME mercados provedores de conhecimento
Firmas e Reforço dos clusters industriais da região Reforço de clusters em novas e relacionadas Suporte a clusters emergentes relacionados a
clusters Vincular as empresas a clusters de fora da indústrias e tecnologias base de conhecimento regional
regionais região/ Atração de companhias inovadoras e Reestruturação das indústrias dominantes Desenvolvimento de especializações que
formação de novas companhias Diversificação/ Formação de novas firmas/ resultem em sinergias e visibilidade
Atração de clusters relacionados ao Atração de clusters relacionados ao
financiamento estrangeiro direto financiamento estrangeiro direto
Suporte a startups e spin-offs em indústrias
baseadas no conhecimento
Provedores de Atrair instituições nacionais de pesquisa em Estabelecer instituições de pesquisa e Expandir e estabelecer universidades e
Conhecimento ramos relevantes para a economia nacional universidades em novos campos relevantes instituições de pesquisa de alta qualidade em
campos relevantes
Educação/ Desenvolver competências em nível médio Desenvolver novas competências necessárias Criar universidades e escolas alinhadas às
Habilidades (escolas técnicas, de engenharia e de gestão, (escolas técnicas e universidades, por qualificações altamente especializadas
por exemplo) exemplo)
Redes Esquemas de mobilidade (agentes de inovação Estimular o networking com novas indústrias Promover redes regionais entre empresas e
para PME, por exemplo) / Vincular empresas e tecnologias regionais, nacionais e interfaces pesquisa - indústria
aos provedores de conhecimento e agências de internacionais
transferência dentro e fora da região
(abordagem orientada pela demanda)
Fonte: adaptado de Tödtling e Trippl (2005).
133
do contexto limitado das regiões. Conforme destacado por Archibugi et al (1999)51 apud
Doloreux e Parto (2004, p. 23): “os espaços podem ser locais, nacionais ou globais, ou,
mais provavelmente, envolverão uma complexa e evolutiva integração em diferentes níveis
de força local, nacional e global” (tradução nossa).
51
ARCHIBUGI, D.; HOWELLS, J.; MICHIE, J. Innovation systems and policy in a global economy. In:
ARCHIBUGI, D.; HOWELLS, J.; MICHIE, J (Org.). Innovation Policy in a global economy. Cambridge:
Cambridge University Press, 1999.
138
52
Disponível via https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=141692.
144
prestação de serviços e formação de recursos humanos, sendo eles: Café (Lavras); Leite e
Derivados (Juiz de Fora); Florestas (Viçosa) e Genética Bovina (Uberaba)
O aprofundamento da especialização econômica de Minas associada às
desigualdades regionais se justifica pela negligencia, em um passado recente, de uma
necessária estratégia de diversificação produtiva e de uma alocação espacial equilibrada
dessa produção. Com vistas a interromper o hiato de desenvolvimento inter-regional, o
PDMI (MINAS GERAIS, 2016) propôs um novo reordenamento por meio do Programa
Mineiro de Desenvolvimento Territorial (PMDT), orientado a renovação das bases
institucionais e dos mecanismos de apoio e orientação ao investimento produtivo.
As estratégias, programas e ações foram desdobrados em cinco eixos, a saber:
Desenvolvimento Produtivo, Científico e Tecnológico; Infraestrutura e Logística; Saúde e
Proteção Social; Segurança Pública; e, Educação e Cultura. Porém, todas as relacionadas
ao primeiro eixo, de especial interesse para esta tese, ainda demonstram-se excessivamente
genéricas compreendendo, entre outros: organização dos arranjos produtivos de setores
“portadores de futuro”, criação de instrumentos que incentivem a transformação de
conhecimento em negócios, incentivo às pesquisas vinculadas ao novo paradigma
ambiental, reestruturação do Sistema Mineiro de Inovação (SIMI), impulsão da capacidade
de absorção e geração de inovação das empresas por meio do desenvolvimento e atração de
laboratórios de P&D e centros de excelência, ampliação da oferta de vagas no ensino
superior, além da democratização do acesso por meio da educação à distância. Como
estratégias complementares, destacam-se o incentivo a consolidação de parques
tecnológicos e ofertas diferenciadas de financiamento em P&D, de acordo com as
especificidades de cada território, entre outras (MINAS GERAIS, 2016).
O SIMI, instituído pelo Decreto nº 44.418 em 2006, tem por finalidade “promover
convergência de ações governamentais, empresariais, acadêmicas de pesquisa e tecnologia
para, de forma cooperada, desenvolver a inovação no estado” (MINAS DIGITAL, 2017c).
Possuía em sua composição original o Fórum Mineiro de Inovação, unidade de “ação
cooperativa, consultiva, propositiva e deliberativa, na forma das respectivas Câmaras
Temáticas instituídas”, segundo o Decreto nº 44.418/2006 (MINAS GERAIS, 2006),
substituído em finalidade por outras iniciativas similares a exemplo do Grupo de
Tecnologia e Inovação (GTI) e da Trilha Mineira de Inovação (TMI). Muitos dos dados
recentes referentes ao SIMI se confundem com os divulgados pela Fapemig, e isso se deve
ao fato de que o controle do órgão é compartilhado pela Fundação e pela SEDECTES, por
razões de direcionamento estratégico que serão detalhadas adiante.
146
53
Centro de Referência em Incubação de Empresas e Projetos de Ouro Preto
54
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá
55
Incubadora de Empresas do Vale do Sapucaí
56
Centro de Incubação de Atividades Empreendedoras da Universidade Federal de Uberlândia
57
Incubadora de Empresas e Negócios de Design (Universidade do Estado de Minas Gerais)
58
Incubadora de Empresas da Universidade Federal de Minas Gerais
59
Incubadora de Empresas resultado do convênio de cooperação entre Biominas Brasil, o Governo do Estado
de Minas Gerais, a Prefeitura de Belo Horizonte e a Universidade Federal de Minas Gerais.
60
Incubadora de Empresas do Centro Federal de Educação Tecnológica -MG
147
61
Coworking e Aceleradora de Negócios
62
Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia
63
Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa
64
Incubadora de Empresas de Patos de Minas
65
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Federal de Lavras
66
Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes
67
Incubadora de Base Tecnológica gerida pela Associação Tancredo Neves
68
Incubadora de Desenvolvimento Tecnológico e Setores Tradicionais do Campo das Vertentes, gerida pela
Universidade Federal de São João Del Rei
69
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros
70
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Montes Claros
71
Incubadora de Empresas do Instituto Nacional de Telecomunicações
72
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e
Educação.
73
Programa Municipal de Incubação Avançada de Empresas de Base Tecnológica do município de Santa
Rita do Sapucaí - MG
74
Incubadora de Base Tecnológica da Universidade Federal de Alfenas
75
Unidade de Tecnologia e Negócios da Universidade de Uberaba
76
Incubadora Tecnológica e Empresarial de Betim
148
Os dados referentes aos valores executados pela Fundação entre 2005 e 2016
(FAPEMIG, 2017) (Figura 32), demonstram que a proporção do montante investido em
pesquisas induzidas e universais decaiu expressivamente (embora o total contratado apenas
pelos editais de Demanda Universal tenha se mantido estável no mesmo período, com
crescimento médio anual de 5,2%). No período, a proporção relacionada aos projetos
especiais, endogovernamentais e estruturadores, administrados pela SEDECTES, cresceu
em importância nos últimos anos (FAPEMIG, 2017). Isso sugere que mais recursos vêm
sendo destinados a demandas específicas, e provavelmente mais estratégicas do estado.
Adicionalmente, é importante observar que o arranjo atual, não por acaso, destina à
SEDECTES a maior parte dos projetos para fomento ao empreendedorismo, enquanto à
FAPEMIG aqueles voltados à pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologias e
integração entre instituições de ensino e pesquisa e empresas. No entanto, a priorização do
orçamento apontada acima reafirma a menor ênfase hoje dada aos segundos.
153
Figura 32- Percentual de execução de recursos financeiros pela FAPEMIG entre 2006 e 2016
Figura 33 – Variação da proporção investida pela FAPEMIG por Câmara, entre 2005 e 2015
Além da SEDECTES, alguns atores públicos e/ou vinculados à esfera estatal que
atuam de forma complementar devem ser mencionados como o Instituto de
Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (INDI), direcionado a assistir potenciais e
atuais empreendimentos do setor produtivo no estado; a Companhia de Desenvolvimento
Econômico de Minas Gerais (CODEMIG), que conta atualmente com três eixos
estratégicos de atuação (Mineração, Energia e Infraestrutura; Indústria Criativa; e Indústria
de Alta Tecnologia); o sistema da FIEMG que coordena, entre outros serviços direcionados
às empresas, a Rede de Tecnologia de Minas Gerais – RETEC; a Fundação Hospitalar do
Estado de Minas Gerais (FHEMIG), direcionada a prestação de serviços e assistência
hospitalar de importância estratégica; o SEBRAE MINAS; e a já mencionada Rede
Mineira de Inovação. O papel de todos esses agentes no ecossistema de inovação mineiro,
e o reflexo dele no da Zona da Mata, serão tratados na Seção 4.
155
77
Consulta avançada por todos os tipos de Instituição de Ensino Superior ativas no site:
http://emec.mec.gov.br/
156
Figura 34 - Mapa da distribuição das publicações científicas de universidades públicas federais de Minas
Gerais, 2000 a 2015
Cabe destacar que quase todas as instituições possuem campi distribuídos em outras
regiões que não se encontram sinalizados no mapa, como o campus de Montes Claros
(Norte de Minas) da UFMG; os campi Rio Paranaíba, próximo a Patos de Minas
(Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba) e Florestal (Metropolitana de Belo Horizonte) da
UFV; os campi de Ituiutaba, Monte Carmelo e Patos de Minas (Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba) da UFU; o campus de Governador Valadares (Vale do Rio Doce) da UFJF; os
campi Mariana e João Monlevade (metropolitana de Belo Horizonte) da UFOP; os campi
Alto Paraopeba (metropolitana de Belo Horizonte), Centro Oeste “Dona Lindu”, em
Divinópolis (Oeste de Minas) e Sete Lagoas (Metropolitana de Belo Horizonte), da UFSJ;
o campus de Iturama da UFTM (Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba); os campi Poços de
Caldas e Varginha (Sul e Sudoeste de Minas) da UNIFAL; o campus Itabira da UNIFEI
(metropolitana de Belo Horizonte); e, os campi Janaúba (Norte de Minas), Unaí (Noroeste
de Minas) e Teófilo Otoni (Vale do Mucuri) da UFVJM78. Não foi possível estratificar a
análise por campus, mas tendo em vista que poucas unidades são localizadas nas regiões
menos desenvolvidas do estado, a conclusão acerca do baixo volume de publicações
oriundas destes territórios pode ser mantida.
Com o software Vantage Point foi possível identificar o perfil da produção
científica mineira. As dez áreas com mais publicações foram: Agricultura (14,72%),
Química (8,36%), Física (8,09%), Engenharia (7,32%), Ciências Veterinárias (6,81%),
78
Informações extraídas nos sites das respectivas instituições em março de 2017.
157
Figura 40 - Distribuição das publicações por área e universidades mineiras (2000 a 2015)
Percentual de cada instituição
Assim como ocorreu em todo país, o total de depósitos provenientes dessas IES
cresceu a uma taxa expressiva, principalmente entre 2009 e 2012, e, após esse período,
vem declinando de forma ainda mais acentuada (Figura 41). Entre 2000 e 2014, o
crescimento médio anual de depósitos foi de 17,6%. O decréscimo dos depósitos destas
instituições nos dois últimos anos analisados pode ser justificado, ao menos em parte, pelo
desestímulo dos pesquisadores e dos NIT diante das mudanças estratégicas verificadas nas
políticas de inovação do estado, que serão discutidas na Seção 4.
Figura 41 - Evolução dos depósitos de patentes das universidades federais de MG – 2000 a 2014
Quantidade de depósitos
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).
164
Figura 42 - Classificação dos depósitos de patentes das universidades federais mineiras por seção
do IPC (2000 a 2014)
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).
Quadro 22 – Distribuição das patentes depositadas pelas universidades federais mineiras por seção, classe e subclasse do CIP (2000 a 2014)
Seção Crescimento Médio Principais classes (representatividade) Principais subclasses (representatividade)
Anual de depósitos
Necessidades 27,02% Ciência Médica ou Veterinária, Higiene (69,4%) Preparações para Finalidades Médicas, Odontológicas ou Higiênicas
Humanas – A61K (72,3%)
Silvicultura, Pecuária, Caça, Captura em armadilhas, Conservação de corpos de seres humanos ou animais, Biocidas,
Pesca (16,3%) Repelentes ou Atrativos de pestes, Reguladores do crescimento de
plantas –A01N (49,2%)
Aprisionamento, Captura ou Afugentamento de Animais, Aparelhos
para destruição de animais nocivos ou plantas nocivas – A01M
(17,5%)
Pecuária, Tratamento de aves, peixes, insetos, Piscicultura, Criação
ou reprodução de animais, não incluídos em outro local, novas
criações de animais – A01K (12,7%)
Química/ 15,29% Química Orgânica (33,13%) Dada a diversificação das classes, o detalhamento das subclasses não
Metalurgia Bioquímica, Cerveja, Álcool, Vinho, Vinagre, foi compreendido nesta seção
Microbiologia, Enzimologia, Engenharia Genética ou
Mutação (17,5%)
Compostos Macromoleculares Orgânicos, sua
preparação ou processamento químico, composições
baseadas nos mesmos (12,5%)
Tratamento de águas, de águas residuais, de esgotos,
lamas ou lodos (8,12%)
Química Inorgânica (6,25%)
Cimento, Concreto, Pedra Artificial, Cerâmica e
Refratários (5,31%)
Física 24,07% Medição/Teste (67,5%) Investigação ou análise dos materiais pela determinação de suas
propriedades químicas ou físicas (62,34%)
Medição de variáveis elétricas e magnéticas (12,99%)
Cômputo, Cálculo e Contagem (15,8%) Processamento elétrico de dados digitais (38,9%)
Identificação, apresentação, suporte e manipulação de transportes de
dados (33,3%)
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).
166
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).
Figura 44 – Depósitos de patente por seção da classificação internacional de patentes dividido por
instituições de ensino superior públicas federais mineiras, 2000 a 2014
Instituição
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).
Figura 45 – Percentual de crescimento anual dos depósitos de patentes por instituição de ensino
superior pública federal, 2000 a 2014
Crescimento médio anual
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados obtidos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2016).
168
A UNIFEI, por sua vez, trata-se da única instituição a não ter nenhuma parceria
tecnológica dentro do período analisado com a FAPEMIG, tendo grande parte dos seus
depósitos sem nenhum tipo de parceria documentada (19 de 26). Três de seus depósitos
dividem a titularidade com inventores, sendo um de fora do estado (São Paulo), mas ex-
aluno da universidade, em 2009; e, os outros dois com um docente a ela vinculado, ambos
em 2006. Por fim a análise dos depósitos da UFSJ (12), UNIFAL (11), UFVJM (6) e
UFTM (1), dada sua dispersão e descontinuidade, se mostrou inconclusiva.
Embora a pesquisa dedique-se a explorar os conceitos de gestão e governança do
conhecimento nas instituições, considerou-se importante traçar um breve panorama sobre
as principais cadeias produtivas do estado, ou seja, do seu subsistema de aplicação e
exploração deste conhecimento. Isto porque a pré-existência de demandantes para o que é
produzido, científica e tecnologicamente, é entendida como condicionante para que os
fluxos sejam facilitados. A análise é apresentada na seção que se segue.
do PIB do agronegócio brasileiro que, por sua vez, correspondeu a cerca de um quinto do
PIB nacional no mesmo ano. Entre 2004 e 2015, o PIB do mesmo setor no estado
aumentou 75%, enquanto o crescimento do brasileiro foi na ordem de 24%. Porém, em
valores absolutos, ainda concentra-se fortemente no segmento primário.
Além das aglomerações de abrangência estadual e nacional supracitadas, também
se verifica a existência de aglomerações locais de importante inserção nos mercados
nacional e internacional, como na área de tecnologia da informação e eletroeletrônicos
(RMBH), moveleira em Ubá, calçados em Nova Serrana, eletroeletrônicos e
telecomunicações em Santa Rita do Sapucaí e, mais recentemente, na área de biotecnologia
também na RMBH e no Triângulo Sul.
Bastos e Almeida (2008) mapearam as aglomerações industriais existentes nas
microrregiões do estado no ano 2000 adotando para tal a metodologia do Quociente
Locacional (que mede a especialização produtiva de cada região) e o Gini Locacional
Modificado (que mede a concentração geográfica de cada setor industrial). Os autores
empregaram duas bases de dados na análise: o Censo Demográfico (emprego formal e
informal) e a Relação Anual de Informações Sociais - RAIS (emprego formal).
Os resultados desta pesquisa foram agrupados no presente estudo e sintetizados na
Figura 47 com base nos 17 territórios mineiros anteriormente apresentados, e apenas para
os clusters identificados em ambas as bases de dados. Essa figura demonstra que as regiões
reconhecidas como mais evoluídas economicamente tendem a concentrar a maior parte das
aglomerações e, principalmente, aquelas caracterizadas por maior conteúdo tecnológico.
Também segundo os dados da PINTEC 2014 (IBGE, 2016), que compreenderam o
triênio 2012– 2014, as organizações mineiras respondiam a época por 11,8% do total de
empresas pesquisadas. Dentre as correspondentes às indústrias de extração e
transformação, no total de 14.085, cerca 35,5% informam que inovaram em produtos e/ou
processos (o que representa uma queda nas inovações em comparação com a pesquisa
anterior, de 2009-2011 (IBGE, 2013), quando essa proporção era de 40,4%).
172
Figura 47 - Mapa da distribuição das aglomerações produtivas nos territórios mineiros (2000)
obtidos na PINTEC 2014 (IBGE, 2016a). Neste caso, optou-se por separar a análise
referente às inovações em produtos e processos, além de comtemplar também as inovações
para o mercado mundial que, embora menos expressivas quantitativamente, são de extrema
importância para setores que precisam atuar em escala global.
O nível de similaridade identificado para dois agrupamentos foi de 97,4%. Neste
caso, todos os setores analisados, exceto o da indústria automobilística, enquadraram-se no
cluster 1. Este cluster comtempla indústrias mais intensivas em inovações em processos do
que em produtos. Além disso, o cluster destaca-se por compreender dois setores
responsáveis por introduções de produtos e processos novos para o mercado mundial,
embora também apresente resultados significativos quanto às inovações incrementais. O
cluster 2 relaciona-se à indústria automobilística, caracterizada por introduzir inovações
em produtos e processos no mercado nacional, embora sem nenhuma representatividade no
mercado mundial. A baixa relevância das inovações incrementais pode ser justificada pelo
protecionismo verificado nessa indústria e pela menor importância atribuída à codificação
do conhecimento, que pode diluir tais inovações em meros incrementos de know-how,
embora se devam considerar as implicações do pequeno número de amostras coletadas.
A última análise visou identificar a relação entre aspectos de estrutura e
desempenho dos setores com as características inovativas levantadas nas análises
precedentes. Dentre as variáveis disponibilizadas na edição da PINTEC 2014 (2016a), as
mais associadas à análise foram mão de obra em P&D (em relação ao total de pessoas
empregadas), qualificação das pessoas em atividades de pesquisa (percentual de graduados
e pós-graduados em relação ao total de envolvidos) e percentual de investimentos públicos
e estrangeiros em relação ao dispêndio em P&D. Dados sobre a concentração de mercado e
volume de exportações não foram comtemplados nas últimas versões da pesquisa.
O nível de similaridade identificado para os três agrupamentos foi de 94,74%. O
cluster 1 agrupa os setores de indústrias extrativas, fabricação de produtos alimentícios e
demais setores da indústria. Naturalmente, neles observam-se a baixa representatividade da
mão de obra exclusivamente dedicada à P&D, o que corrobora com as conclusões
levantadas anteriormente, relacionadas aos dispêndios feitos nessas atividades e a
priorização por fontes de conhecimento externas. A qualificação dos poucos profissionais
dedicados a essas atividades também é baixa, contemplando poucos graduados e pós-
graduados. Por fim, tais setores contam com baixos financiamentos oriundos de fontes
públicas e estrangeiras.
176
79
Programa lançado em novembro de 2017 direcionado a prefeituras e instituições sem fins lucrativos
visando o apoio a criação de ambientes de coworkings pelos territórios do estado, entre outras iniciativas de
disseminação.
179
O Entrevistado 6, em acordo com a sua experiência prática nas ações que buscam
integrar startups com médias e grandes empresas, aponta alguns entraves específicos das
relações explícitas com as universidades. Para ele, as empresas do estado procuram
soluções rápidas, fáceis e baratas. Por essa razão, o modelo de desenvolvimento
empregado nas IES ainda não consegue atender suas necessidades. Além disso, as
tecnologias nelas desenvolvidas em grande parte se mostram pouco aderentes ao mercado e
imaturas.
Ademais, verifica o conflito ideológico das instituições como outro impeditivo,
uma vez que a maioria dos pesquisadores, e até mesmo seus gestores, não enxergam a
pesquisa aplicada como atividade primordial. Ademais, o mesmo entrevistado indica que
as empresas do interior são menos inclinadas à inovação, embora seja reconhecido que a
concentração dos eventos em Belo Horizonte dificulte tanto a participação de startups
como de médias e grandes empresas dos demais territórios no programa Hub Minas
Digital. Porém, em um segundo momento, conclui que as falhas de comunicação nos dois
sentidos (dos territórios para o hub e vice versa) são um fator relevante. No entanto,
defende que o intuito do programa não é trabalhar com soluções que envolvam big science
e, por essa razão, a integração explícita com as instituições de ensino e pesquisa não é
considerada relevante.
O Entrevistado 7 também destaca um entrave importante relacionado ao perfil do
empresariado mineiro para a implementação de novas diretrizes e políticas. Embora o
BDMG tenha a inovação como carro-chefe em seu planejamento estratégico, é imperativo
que as políticas públicas contem com o interesse daqueles para as quais se destinam:
“Uma coisa que eu tenho aprendido aqui, é que se formulam políticas
públicas pensando que o outro lado, que vai se utilizar, quer essa política
pública. Nós estamos custando a ter 100 projetos financiados aqui dentro,
porque o empresário de Minas não inova, a gente tem a política, mas
ninguém inova. Tem muitas “startupzinhas”, mas que não querem virar
empresas, mas aumentar valor, vender e começar outra. O grosso do
perfil do empresariado mineiro é extrativista, o que a gente tem de
indústria de transformação é a que veio importada com as multinacionais.
A indústria extrativista não quer inovar, ela quer tirar, jogar, nem
processa, não agrega. O que é uma grande contradição, porque Minas
Gerais tem uma indústria baseada nas indústrias do século passado,
182
agentes locais de inovação, por meio do acesso a treinamentos e recebimento de uma bolsa
mensal. O papel principal desses agentes, é promover os programas do governo nos
territórios, reportar as demandas específicas à secretaria, além de representá-la em reuniões
e eventos locais. Dos 130 agentes locais atualmente contratados, 32 encontram-se
distribuídos pelo interior do estado, e apenas um agente estratégico atua em todo o
território da Zona da Mata.
Em 2018, o governo mineiro se deparou com o agravamento de sua crise
orçamentária, o que culminou, segundo o Entrevistado 1, com “alguma coisa de
penumbra”. Os projetos aprovados passaram a não receber os recursos a eles atribuídos, a
exemplo do próprio SEED. A aceleradora, por meio de licitação que contou com 1.100
empresas candidatas, selecionou 40 delas para receber o aporte planejado inicialmente,
sendo 10 empresas estrangeiras, 10 de outros estados, e 20 mineiras, o que não ocorreu até
agora. Parte da equipe exclusivamente contratada e treinada para atuar no processo de
aceleração, diante das incertezas acerca do futuro do projeto, migrou para outras
instituições e organizações, e 5 das 40 empresas selecionadas, até o mês de julho de 2018,
desistiram para participar de programas de aceleração fora do país.
É notório, em boa parte dos relatos, que o esvaziamento das iniciativas direcionadas
à ciência e tecnologia propriamente, aliado a falta de recursos para os novos programas,
frustrou parte daqueles inseridos na esfera estatal e nas instituições relacionadas, como
demonstra o relato do Entrevistado 1:
“E, felizmente, eu saio do estado no final do ano, porque eu queria muito
apoiar ciência e tecnologia, muito mais. Então parques tecnológicos,
incubadoras de empresas, polos, eu tinha que fazer muito mais coisas,
biotecnologia, etc. Mas tudo foi carregado, sempre, pra
empreendedorismo, startups, aceleradoras. É um pouco frustrante, porque
eu venho dessa área e quando eu cheguei aqui todo mundo falou: Uau, ele
está lá. Legal, hein? Embaixador! Mas eu não consegui, infelizmente eu
não consegui. Porque é em função de forças governamentais que a coisa
acontece. [...]Eu sou empresário, trabalho aqui a 4 anos, e na hora que
acabar eu nunca mais volto pro governo. Não quero trabalhar mais no
governo. Existem moedas (eu sei que está sendo gravado) mas, existem
moedas. Então a FIEMG tem uma moeda, o SEBRAE tem uma moeda, e
aqui tem outra moeda. A moeda aqui se chama voto. Se eu apoio o polo
do leite, 50 pessoas vão ficar felizes. Se eu faço um programa de startup
universitário, uau! Espalha para todo lado, todos os jovens vão falar do
governo, que tá apoiando, e tal. Então se ouvir muito as pessoas, as
moedas deles talvez não sejam a mesma moeda do SEBRAE, que quer
educar pequenos empresários, ou da FIEMG, que pensa em dinheiro,
indústrias, e tudo mais. São interesses diferentes. E também timing, eles
querem rápido demais, lá (na FIEMG e no SEBRAE) eles querem
planejamento estratégico e tudo mais. [...] Das coisas que não foram
legais: creio que foi muito abandonado... Na minha opinião o estado é um
185
fomentador de uma série de iniciativas, ele não faz. Ele tem que
incentivar, ele tem que apoiar, e o fomento a pesquisa e desenvolvimento,
polos, isso foi abandonado completamente. Todo mundo está esperando
um novo governo pra ressuscitar. Porque foi muito pra linha empresarial
e pouco para apoio a pesquisa e desenvolvimento.”
Outra iniciativa que indica a intenção de se retomar o diálogo mais direto com as
IES se dá com o programa Alianças Estratégicas que, embora integre o programa Minas
Inova da SEDECTES, não era do conhecimento de nenhum dos três entrevistados da
188
secretaria até a ocasião, bem como das instituições diretamente vinculadas à inovação. Em
geral, o Programa intenciona promover a conexão entre as IES, a sociedade, agentes do
setor público e produtivo em todos os territórios do estado. É razoável afirmar, inclusive,
que se tem demonstrado a ação melhor sucedida para esse fim até o momento.
Já a percepção das instituições acerca do papel da Zona da Mata mineira para o
cenário de desenvolvimento direcionado pela inovação é difusa. As lacunas de
comunicação entre o governo central e os territórios são perceptíveis quando as instituições
mais ligadas ao primeiro não conseguem identificar claramente sua vocação econômica,
quando muito ainda ligada ao polo do leite e pela expressividade de alguns NIT, sobretudo
do CRITT (UFJF). Nas palavras do Entrevistado 1: “Eu não sei quais são as demandas de
lá, eu só penso em leite, laticínios”. Do mesmo modo, para o Entrevistado 3:
“A visão de vocação que eu tenho é o exemplo do polo do leite. A gente
tem muita ação na área lá, o evento é muito grande, a gente apoiou três ou
quatro edições lá, essa é a visão que eu tenho daqui, sentado na minha
cadeira aqui em Belo Horizonte lá da Zona da Mata. [...] Mas eu não sei
se o polo está rodando ainda, eu não sei se ele ainda existe”.
da universidade ou âncoras que pudessem direcioná-lo. É válido ressaltar que boa parte das
críticas direcionadas ao projeto à época ocorreu justamente pela falta de uma vocação
clara, ou discordâncias com as vocações apontadas, a saber: Leite, Tecnologia da
Informação, Metalmecânica, Eletroeletrônica e Fármacos. É percebido por ele que as
análises parecem essencialmente subjetivas, como com o perfil das incubadoras, que
acabam por induzir suposições sobre o potencial das IES, ainda que não em sua plenitude.
Na visão do Entrevistado 3, isso ocorre porque as instituições e organizações desse
território não sabem comunicar suas ações ao SIMI, enquanto outras regiões buscam mais
a organização para se divulgar e obter apoio:
“A Zona da Mata se articula só dentro da região, acho que deveria ter
uma articulação com outras comunidades, por exemplo, buscar apoio no
vale da eletrônica, ter conexões entre as regiões. A conexão apenas via
pesquisador é muito pequena em relação ao ecossistema todo. E quando
existe a troca do indivíduo perde-se essa conexão. A UFMG, por
exemplo, ela mostra pra sociedade. Eu não sei qual é a visão do pessoal
que mora lá em Juiz de Fora, da atuação da universidade, mas aqui você
vai a qualquer instituição, em qualquer evento, o pessoal vê a UFMG
como grande polo de conhecimento importante pra cidade, pra região e
para o estado, então eu vejo que além da estrutura interna da instituição,
eles conseguem criar um vínculo com outras instituições muito forte.
Com o SIMI, por exemplo, eles vieram aqui e pediram nosso apoio.
Pessoal, a gente tem uma vitrine tecnológica, a gente propõe pesquisa a
rodo lá e o que vocês podem fazer pra apoiar a gente?”
80
Rede situada em Juiz de Fora para estimular o empreendedorismo, a inovação e o desenvolvimento
econômico, social e tecnológico da cidade por meio da conexão entre os seus agentes locais, sobretudo os
ligados às startups.
190
Mata81, formado por 25 membros da sociedade civil, mas que hoje não conta com nenhum
representante da academia e do empresariado regional.
O mesmo entrevistado aponta um entrave cultural importante nesse sentido. As
demandas levantadas pelo colegiado de certo modo condicionam a região a um perfil
industrial tradicionalista, a seu ver ultrapassado (o de Manchester Mineira). Em razão
dessa visão tradicionalista e industrial, a métrica adotada pelo Conselho local (composto
por representantes da sociedade civil), e comprada pelo governo por intenções políticas
(voto), é a atração de grandes indústrias que mantêm a região em um modelo de
desenvolvimento ultrapassado. Destaca, todavia, que quanto mais a atuação do fórum
busca se afastar da influência de Juiz de Fora, mais apresenta o potencial de dinamizar a
economia da região. Ele destaca, por exemplo, articulações pontuais entre a academia e
setores tradicionais que cooperam para torná-los mais inclinados à era do conhecimento,
como na cafeicultura e piscicultura ornamental.
Dentro de Juiz de Fora, especificamente, o Entrevistado 10 indica a preocupação
com ações que incentivem a relação entre startups locais e grandes empresas, o que muito
se relaciona com as deficiências infraestruturais mencionadas acima. A princípio, a
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo do município estuda
mecanismos de indução para a contratação local de serviços de apoio a negócios, como a
concessão mais estratégica de descontos no Imposto sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana (IPTU) para as grandes organizações. Mas observa que os impostos não
costumam ser o maior entrave. Ao tentar entender melhor as demandas do setor de
telecomunicações, principalmente internet, evidenciou que antes de qualquer política de
cunho fiscal ou tributário, a principal necessidade é a garantia de serviços de suporte em
telecomunicação de qualidade. Nesse sentido, ele indica que o poder municipal possui
gravíssimas restrições, por envolver uma política nacional de telecomunicações regida pela
Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL.
A fala do Entrevistado 10, entretanto, contraria a percepção do Entrevistado 9 ao
trazer luz às medidas mais recentes do município. Para o primeiro, existe uma
complexidade de ações e vocações possíveis em uma base territorial maior, como é o caso
do polo de Juiz de Fora, e por isso é difícil criar um único recorte para o seu
desenvolvimento: “Então você cria faróis para destinarem um caminho”. Para tal, faz-se
81
Iniciativa desenvolvida em 2014, com o objetivo de estabelecer a articulação entre o estado e a sociedade
civil, nas suas mais variadas organizações, em cada um dos 17 territórios, bem como entre as instituições,
atualmente lotado na Secretaria do Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG).
193
necessário elencar ações de curto prazo, com indicadores e metas, o que de fato não ocorria
na cidade: “Então como a gente não sabe pra onde ir, a gente fica parado, e de vez em
quando coisas esbarram na gente.” Prova disso surge ao se analisar o arcabouço legal do
município, cujos componentes não conversam entre si e são frutos majoritariamente de
projetos que visavam atender as demandas de um setor específico, que se pretendia reter
por meio de subsídios, porque “por alguma coincidência esbarrou na gente”. Em suas
palavras:
“Então você tem, por exemplo, uma lei específica para fomentar o setor
metal mecânico. Juiz de Fora eu te falo tem realmente uma vocação para
metal mecânica porque a gente está hoje no eixo de transporte de minério
e a gente tem gasoduto passando pelo nosso centro industrial. Então a
gente tem como receber essa demanda, e a gente está ampliando a
participação na matriz de empresas de metal mecânica. Você tem a
CODEME, AÇOTEL, ABRAFER que foram instaladas recentemente
aqui na cidade, mas você não criou uma indução de desenvolvimento
ampla. [...] Não está se estudando que cidade que eu quero ter daqui a 10
anos. Você criando uma demanda passiva, você cria um arcabouço legal,
no caso se isso for possível, e retém essa empresa aqui. Então acontecem
algumas dissoluções, por exemplo, você visita uma dessas empresas de
metal mecânica e realmente existe um grande número de funcionários.
Elas são importantes para o município, é até um setor que a gente
pretende aprofundar. Mas essa empresa precisa de mão de obra
qualificada. O escritório de projetos dela não fica em Juiz de Fora, fica
em Belo Horizonte. Mas eles mandam o projeto pra cá e montam aqui. O
ideal é que ficasse aqui em Juiz de Fora também. Você poderia ter criado
um estímulo também para que os negócios de diferenciação, no caso de
pesquisa e tecnologia, projetos, ficassem aqui. Como a gente não tem o
ICMS casado com a pesquisa e desenvolvimento, ela vai preferir ficar em
Belo Horizonte, porque em Belo Horizonte vai ter uma reposição de mão
de obra maior do que aqui”.
tudo mais, não sabem que esta tecnologia está sendo desenvolvida aqui. E
muitas vezes, por não saber, eles acabam contratando tecnologia em outro
lugar. É justamente para fazer este desenvolvimento local mesmo.”
O Hub Minas Digital, supostamente, ajudaria na execução desse projeto, uma vez
que se destina a ligação entre startups (no caso de TIC) com grandes empresas (como as do
setor de saúde). No entanto, por falta de recursos humanos, especificamente mais agentes
de inovação, esse projeto ainda não foi desdobrado para a região, assim como alguns
outros do Minas Digital. Na realidade atual, as demandas tecnológicas das grandes
empresas do setor precisariam ser encaminhadas para a unidade do hub de Belo Horizonte,
do mesmo modo que as ofertas das startups para a solução das mesmas, o que nunca
ocorreu por esse meio.
Na sua visão, a resolução nesse sentido beira o utópico. Para o setor hospitalar,
principalmente, o ideal seria buscar soluções que agreguem o desenvolvimento tecnológico
e o setor industrial, além da mera prestação de serviços sem valor agregado.
“A gente é sim um polo de serviços em saúde, mas a gente não tem, por
exemplo, um braço em pesquisa e desenvolvimento, de tecnologia e
inovação em saúde. Então a saúde se restringir em serviço não é
necessariamente um polo de desenvolvimento. E é natural que a gente
seja um polo em serviços de saúde, porque a gente polariza uma região de
dois milhões de habitantes, tanto no serviço público de saúde quanto no
privado. Evidente que você pode pegar essa energia e concentrar esforços
para que ela tenha algo maior, que abranja outras áreas, que é o que hoje
tem se debatido. Até a UFJF quer criar aqui um polo de pesquisa e
tecnologia para a indústria médica. Mas a Becton Dickinson está aqui há
quanto tempo? 60, 70 anos. Por que a gente não virou ainda? Agora a
gente está tomando essa decisão. O que eu acho é que não foi uma
decisão tomada com base em diagnóstico. Foi uma decisão por
82
Na literatura sobre negócios refere-se ao valor médio de vendas por usuário.
196
Isso pode ser ilustrado, por exemplo, pelo envolvimento da prefeitura de Juiz de
Fora em algumas das iniciativas promovidas pelo agente de inovação do território. O
recente evento JF Inteligente, com a finalidade muito próxima da do Hub de Inovação,
embora pontual, envolveu a Secretaria de Desenvolvimento de Juiz de Fora, o apoio do
agente, entre diversas outras instituições, como o CRITT e o SEBRAE. Estes dois últimos,
inclusive, são apontados pelo Entrevistado 12 como importantes fornecedores de
diagnóstico mais aderente às demandas locais. Todavia, o mesmo não ocorre com outros
microterritórios.
Na Zona da Mata, embora se defenda que a atuação do agente de inovação seja
imparcial na alocação dos recursos e divulgação dos programas da SEDECTES por todos
os microterritórios, é notório que, pela falta de mão de obra, entre outros, alguns setores e
regiões são mais apoiados que outros. Neste caso, os problemas de assimetria informativa
sobrepõem os de conflitos de interesse (melhor explanados na seção seguinte). Os agentes,
pela falta de um diagnóstico oficial e alcance, agem por suposição sobre que programas se
aplicam a região, e quais setores podem ser considerados estratégicos, por vezes até
mesmo negligenciando outros tão ou mais relevantes (principalmente no caso dos arranjos
produtivos locais prioritários). Desse modo, o acesso aos recursos disponibilizados pela
secretaria via agente depende, quase que exclusivamente, da proatividade dos
demandantes. Mas o Entrevistado 12 acrescenta que a falta de uma cultura mais inovadora
por aqueles, desperta a rejeição por qualquer iniciativa idealizada pelo estado ou a
exigência de soluções prontas.
O Entrevistado 10 acredita que, em parte, isso se deva à baixa integração entre as
esferas municipais, estadual e federal. Na sua visão, nenhuma delas se ocupa do
mapeamento das vocações regionais:
“Vou pegar a SEDECTES, ela não veio aqui, o secretário ou
superintendente não vieram aqui... Do mesmo jeito que eu olhei o
cardápio de serviços do Ministério da Cultura e o planejamento deles para
os próximos anos tentando encaixar algum desenvolvimento em longo
prazo aqui em Juiz de Fora, o contrário não é feito. A gente tem, por
exemplo, o projeto da Macaúba, ligado a agricultura, mas só que de base
tecnológica. O beneficiamento do seu subproduto emprega o
conhecimento de algumas patentes de tecnologia. Além disso, você
precisa de conexão com TI, envolve uma série de tecnologias,
instituições, muita coisa que passa a anos luz do conhecimento da
SEDECTES [...] E aí eu falo com relação ao planejamento estratégico da
SEDECTES: um modelo de nação que eu quero ter para uns 20, 30 anos
vai ter que ter uma diretriz transversal à instância federal, estadual e
municipal. Então primeiro tenho que ter uma diretriz pactuada. A partir
do momento que eu pactuei diretrizes com todas as instâncias e a
198
83
Faculdade de Ciências Médicas e da Sáude de Juiz de Fora.
200
Por outro lado, em instituições a exemplo da RMI, cujo escopo de atuação é mais
claro e de certa forma mais preservado, o monitoramento é muito importante. Junto ao
SEBRAE, e parcialmente financiada pela SEDECTES, foi desenvolvida uma metodologia
para acompanhamento das incubadoras e parques pelo antigo governo, mantida até então.
A plataforma criada para divulgação desses dados, a INOVADATA MG, se encontra ativa
e é administrada pela UFV. É importante destacar que essa ferramenta, no entanto, não foi
mencionada por nenhum dos demais entrevistados.
Já de acordo com o Entrevistado 10, além dos critérios e indicadores externos,
amplamente divulgados para situar os municípios comparativamente, não existe hoje na
prefeitura metas e indicadores vinculados a cada ação específica, como no caso do projeto
de diesel verde, o que considera necessário para atrair parceiros. Naturalmente, quanto
mais complexo o projeto, mais sensível é atribuir os seus impactos, a exemplo das
melhorias socioeconômicas. Para o momento, admite: “Tudo nosso é indicador macro, só
que é um trabalho muito grande, porque não adianta elencar indicadores menores se você
não vai conseguir acompanhar”.
Já quanto à fiscalização, a falta de um ator com tal responsabilidade dedicado a
cuidar das iniciativas de cooperação entre as instituições, principalmente, permite que os
papéis das mesmas sejam incorporados de acordo com interesses de ocasião. Claramente,
205
isso pode favorecer atitudes oportunistas, uma vez que não se sabe o que deve ser feito,
também não se sabe o que não se deve fazer. Ainda que por desinformação, instituições ou
organizações de fora do estado podem recorrer primeiro ao SIMI que ao INDI para se
conectar com as de Minas, inclusive sendo atendidas. O que significa, no mínimo,
desconsiderar a missão da segunda instituição.
Na esfera municipal o Entrevistado 10 também admite não ser possível garantir a
inexistência de atos oportunistas, sobretudo nos recentes projetos que envolvem diversos
players. Como alguma garantia de prevenção, sinaliza a existência ainda possível de um
funcionário da prefeitura exclusivamente dedicado à administração dos diferentes
interesses e centralização da informação, como referência para os demais. No entanto, isso
não garante a apropriação do conhecimento caso esse mesmo funcionário se desligue da
prefeitura (o que é comum nas mudanças de gestão). Especialmente nesses momentos, os
projetos mais longos se mostram mais sensíveis a assimetrias de informação, e
consequente oportunismo. O ideal, a seu ver, é que a administração pública consiga
institucionalizar os processos bem como delimitar critérios para a atuação dos players.
Segundo o entrevistado, a gestão pública caracteriza-se por essência pelos ciclos, que
conflitam diretamente com essa institucionalização, mas que por outro lado, é um meio de
garantir democraticamente as renovações.
No caso das instituições mais capilarizadas, os conflitos de interesse são mais bem
contornados pelo perfil político dos seus representantes que atuam por muito tempo na
função e que, por isso, garantem a credibilidade necessária. Isso inclusive reforça a
importância do tempo nas relações, apontado na literatura como um dos fatores principais
para a minimização desses conflitos. Para eles, as iniciativas explicitamente ligadas ao
governo, a exemplo dos fóruns regionais, quando conseguem alcançar as instâncias
municipais, costumam sofrer rejeição por questões políticas e partidárias, bem como em
função da crise de credibilidade que permeia a cultura do brasileiro em geral.
84
Desmembramento recente da CODEMIG, criada para cuidar exclusivamente dos royalties oriundos da
extração de nióbio.
210
No entanto, o mesmo não ocorreu com o extinto PII, que contava com a articulação
das IES e o SEBRAE. De acordo com o Entrevistado 15, o programa se perdeu mesmo
gerando resultados muito positivos. Isto ocorreu porque, quando o governo parou de
investir os recursos necessários, as IES acreditaram que esses recursos deveriam passar a
ser providos pelo SEBRAE, que passava por dificuldades financeiras. Também defende
que não seria interessante para ambos dar continuidade a um projeto percebido como não
prioritário pelo governo.
211
O Entrevistado 8 admite, por exemplo, que o INDI não se envolve efetivamente nas
políticas de CT&I do estado. Sua representatividade na TMI restringe-se basicamente aos
casos em que existem critérios de cunho científico e tecnológico nas decisões de
investimento. Os atores da trilha, dessa forma, se articulam para tratar cada situação
pontualmente. Porém, o papel de cada um não é enxergado claramente, o que sob sua ótica
não implica em grandes dificuldades, uma vez que suas demandas são atendidas por
qualquer um que se interesse em fazê-lo.
Assim como ocorre quanto ao aparente esvaziamento das iniciativas ligadas a C&T
mencionadas na seção anterior, também se percebe em alguns relatos o ceticismo quanto
212
interesses comuns, a despeito das mudanças pontuais: “As diretrizes do grupo que são
levadas em consideração para se executar as ações. O conhecimento que está ali continua”.
O Entrevistado 3 também indica que, contornadas as dificuldades de planejamento
supracitadas, a burocracia (em termos de tramitações jurídicas) verificada no desenho dos
acordos de cooperação torna-se o principal entrave para a sua execução. O estado e as
instituições são muito grandes, e isso envolve uma expressiva burocracia para azeitar os
acordos, além da burocracia de cada instituição, para ele: “Dentro da trilha o papel de cada
uma é bem definido, a questão é mais burocrática e jurídica”.
O Entrevistado 5, que na trilha atua como sinalizador dos ambientes de inovação do
estado, destacando a competência presente nos mesmos para apoio a empreendimentos
inovadores, corrobora com esse argumento:
“A gente assinaria um termo de acordo, mas desde o início da instituição,
sempre tem um órgão que tem algum problema jurídico e esse termo não
foi assinado até hoje. Se eu não me engano tem uns cinco meses,
acontece uma reunião a cada mês que tem na pauta a assinatura do termo.
Num primeiro momento foi a FAPEMIG, depois passou para o SEBRAE,
hoje é a FIEMG que está amarrando o termo. Ela já tinha aprovado, mas
como houve alteração de governança, pode ser que isso tenha impactado
de alguma forma. Há uma forte pressão, inclusive do governo, porque se
entende que isso de alguma forma pode manter as ações que estão sendo
desenvolvidas no estado.”
articulando. No entanto, é interessante observar que na ADJFR não é habitual que essa
prospecção seja feita dentro das IES, mas caso haja a necessidade, o canal principal seria o
CRITT, e mais propriamente seu diretor que é integrante da Agência.
Esse mesmo diretor de inovação da UFJF, do CRITT e da ADJFR, também figura
como um dos fundadores do GDI Mata, cujo papel é delimitar e coordenar as iniciativas de
colaboração entre as universidades, instituições de pesquisa e empresas da região. O grupo
tem dois anos de atuação e sua coordenação geral é composta, além da UFJF, pela
EPAMIG, EMBRAPA, Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e
Extensão (FADEPE), IFSudeste, a prefeitura de Juiz de Fora e o SEBRAE. Em diversas
ocasiões das entrevistas com representantes das instituições locais, o grupo é apontado
como a iniciativa mais eficiente para a integração do ecossistema de inovação do território
atualmente.
Não por acaso, o diretor de inovação da UFJF defende que a motivação para a sua
criação se deu com a identificação do papel estratégico que essa IES apresenta tanto na
aproximação com setores tradicionais, aumentando a sua competitividade, como na
germinação de atividades novas que, para além das vantagens locacionais da cidade,
podem se desenvolver. Nota-se que a diversificação do portfólio da instituição, apontado
em outros momentos como barreira para a interação, nesse caso é vista como positiva, ou
ao menos como tradução da pluralidade inerente de vocações percebidas na cidade.
Para o Entrevistado 10, o GDI é o primeiro passo de um processo maior. Em sua
visão, representa um ganho de cooperação gigantesca nos últimos anos e aponta que o
diretor de inovação da UFJF é um dos responsáveis por isso, o que é reforçado pelo
Entrevistado 15, quando percebe os ganhos, sobretudo na transferência de tecnologias. Não
é difícil perceber, inclusive, que este diretor é quem melhor assume o papel de knowledge
broker da região atualmente. Como segundo passo, o Entrevistado 15 aponta como
necessário um trabalho focado nas empresas, que as ajude a identificar dentro do portfólio
de conhecimento e tecnologias locais, presentes nas instituições de pesquisa e startups,
aquelas passíveis de incorporação. Portanto, atribui também ao GDI o papel de alinhar o
intangível ao tangível. Reconhece que esse trabalho é bem mais difícil, e envolve a criação
de um ferramental capaz de garantir essa prospecção o que, segundo o diretor de inovação
da UFJF, já vem sendo desenvolvido por meio de um aplicativo pelo departamento de
Ciência da Computação da universidade.
O Entrevistado 17 também menciona o GDI como articulador de uma ação
importante para a instituição: o registro de indicação geográfica do queijo minas artesanal.
217
Essa iniciativa, segundo ele, envolveu via GDI instituições como EMBRAPA, EMATER,
EPAMIG, SEBRAE e as prefeituras dos municípios que concentram a produção desse
queijo. No momento, os papéis ainda não estão definidos, mas considera importante o
envolvimento dessas instituições desde o início, prevendo contribuições relevantes, como a
execução de análises de mercado pelo SEBRAE, levantamentos das peculiaridades dos
processos e característica do próprio queijo pela EPAMIG, entre outros.
Já o Entrevistado 15, outro membro fundador do grupo, informa que a atuação do
GDI possui um limitante: ele articula, mas não possui recursos próprios para fomentar,
dependendo para tal dos recursos das instituições envolvidas (que atravessam crises
financeiras diversas). Uma alternativa levantada junto ao SEBRAE foi a de levantar capital
com a prestação de serviços, porém essa ação precisaria de um responsável formal, o que
ainda não ocorreu. Também ao nível local, observa-se a falta de clareza nos papéis como
fator determinante, se não para a descontinuidade de ações, pelo menos para o seu
enfraquecimento:
“Sem uma política clara de desenvolvimento do ecossistema, as entidades
não conseguem se enxergar dentro dos processos inovativos. Os esforços
ficam segmentados, fracionados, espalhados, sem muita força de produzir
resultados mais efetivos na região. O GDI ainda não conseguiu atingir o
papel ao qual propôs e está caminhando com dificuldades para isso. A
própria EMBRAPA não tem participado muito dessas discussões. Os
Institutos Federais, apesar de serem muito participativos, ainda são muito
incipientes nisso, diferente de um CRITT que já está ali há anos, que tem
toda uma estrutura física. Os demais são incipientes. O forte daqui
mesmo é a UFJF. A EMBRAPA e a EPAMIG entram pouco nessas
discussões, produzem inovação, óbvio, mas a busca ocorre muito pelo
pesquisador, mas uma coisa muito pontual, no contexto de assistência
técnica. Atuam de forma muito isolada, fracionada. As universidades
estaduais são inexistentes no processo de inovação.”
prefeitura atuava criando superfícies de contato com a localidade. Uma exceção trata-se da
Plataforma de Querosene Renovável da Zona da Mata, que combina o emprego de duas
tecnologias em desenvolvimento na Inglaterra e na Alemanha, e que foi de fato mapeada
por um gestor de projetos interno e prospectada para a cidade. Essencialmente, o projeto
conta com o uso de insumos que a região possui em abundância, no caso os resíduos do
tratamento do rio Paraibuna e a biomassa proveniente da Macaúba, para a produção de
diesel verde. O que ele espera que aconteça a partir de agora, e com iniciativas proativas
como essa, é criar políticas de transbordo, com estudos direcionados por instituições como
UFJF e IF, que forme profissionais e empresas de base tecnológica para atender as
demandas desses negócios, ou até mesmo concorrer com eles.
Inclusive, ele admite que o projeto em específico, vem realizando conexões mais
efetivas entre as instituições do que o GDI isoladamente. Segundo ele, trata-se de uma
estrutura bem articulada, que envolve players complexos como o governo britânico,
Petrobrás, Gol, EMATER, GDI, Institutos Federais, UFJF, UFV, UFMG, Ministério de
Minas e Energia, Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), entre muitos outros.
Curiosamente, ele sinaliza que a produção de diesel verde depende, além da matéria prima
que pode ser produzida na região (Macaúba), de um insumo típico de países pouco
desenvolvidos: a fração orgânica de lixo (resultante do tratamento do rio Paraibuna).
Também ressalta que os papéis das IES são muito bem identificados e distribuídos:
“Você tem a UFJF com a parte de tecnologia da plataforma, você tem a
UFV com a parte de tecnologia envolvida no plantio da Macaúba, a
UFMG com a validação do combustível, ela é uma certificadora nacional,
você tem o IF com o desenvolvimento das tecnologias de manejo e com o
convencimento dos agricultores. Em parceria com esses cursos técnicos a
gente vai criar as UTD (Unidades Técnicas Demonstrativas) para ensinar
as boas práticas de cultivo agrícolas mais rentáveis para o agricultor. O
projeto é altamente tecnológico em tudo, no que você vai implementar de
inovação física, é altamente tecnológico no que você vai transmitir de
conhecimento para mudanças de manejo, em termos de ganho de
eficiência usando o mesmo solo. E ele também tem uma inovação de
cultura, que é você ambicionar projetos de economia circular, todos os
fatores econômicos estão aqui, e eles se retroalimentam, que é uma coisa
nova no Brasil, e é uma cultura que a gente não tem”
seja uma planta nativa, não é tradicional na região. Esse fator inclusive promove a
integração específica com as instituições de pesquisa:
“A integração com as universidades se dá com eventos técnicos, visitas
de campo, seminários, simpósios, tanto para conhecer, o que eles têm
para nos apresentar, quanto numa etapa adiante que seria de passar para
os agricultores. Vou te dar um exemplo, nós vamos fazer um seminário
de Macaúba em Lima Duarte. Vem um pessoal da iniciativa privada, da
UFV, o produtor que tem uma prática já no cultivo, inclusive a visita é na
propriedade dele; e vem a parte institucional que é a secretaria de
Agricultura, que é quem embasou, rodou o estado todo, conheceu e vem
apresentar o que eles viram. E é o extensionista que no dia a dia vai fazer
a interlocução.”
Por fim, porém não menos importante, pode ser destacada a atuação da Agência de
Inovação de Leite e Derivados, ainda conhecida no ecossistema de inovação local como
Polo do Leite. De acordo com o Entrevistado 14, o plano estratégico do Polo de Excelência
do Leite, quando era em sua totalidade administrado pela SEDECTES até 2014, já previa a
sua desvinculação gradativa do governo. Todavia, também destaca que desde o mesmo
ano, a sua missão mudou expressivamente. Atualmente, o órgão funciona de modo
parcialmente autônomo o que garante alguma independência dos recursos financeiros da
secretaria (evidente inclusive pelo desconhecimento da atuação do agente de inovação
local até o presente ano):
“Tivemos frustrações por causa das crises, e hoje sobrevivemos muito
mais com os recursos oriundos das consultorias prestadas aos afiliados,
além das anuidades pagas pelos mesmos (30 no total, entre pessoas
físicas e jurídicas). Nós temos um evento, chamado Inovalácteos, onde
também há uma expectativa em termo de patrocínios, mas não muito.
Trabalhamos quase que como voluntários. Em editais, como do BNDES,
tentamos entrar como entidade de apoio junto às instituições de pesquisa
para captar algum recurso.”
desenvolvimento (como é feito pelo GDI). Ou seja, tem por missão, nos dois eixos, fazer
com que a pesquisa encontre o universo empresarial, por meio de spin offs acadêmicos,
incubação de empresas ou transferência de tecnologias. Vale lembrar que esse mesmo
diretor foi mencionado na seção anterior como principal articulador do GDI, além de
diretor de inovação da ADJFR.
Ele considera que essa atividade é especialmente importante para uma cidade a
muito defendida por gestores públicos e dirigentes empresariais como detentora de uma
suposta vantagem logística: conecta-se em várias malhas (em especial nas ferroviária e
rodoviária) com o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Defende que essa aparente
vantagem, historicamente, comprometeu a sua estratégia de desenvolvimento, sobretudo
quando Juiz de Fora perdeu a condição de “Manchester Mineira” e seu entorno a
relevância na cafeicultura. Quando o mercado regional foi nacionalizado, exatamente por
conta da abertura das vias de contato com as demais regiões, expôs toda fragilidade da
indústria local, mais tradicional (essencialmente têxtil).
Nesse momento, percebe-se a tentativa dos governos em atrair investimentos de
perfil diversos, a exemplo da Becton Dickinson, Facit (fabricante de máquinas de escrever
já extinta), Mendes Junior (hoje incorporada pela ArcelorMittal) e Mercedes-Benz. Em
comum, tais indústrias não conseguiram trazer para a cidade sua cadeia de fornecedores e,
rigorosamente, não fazem qualquer tipo de colaboração com a UFJF. A sua percepção vai
ao encontro da do secretário de desenvolvimento de Juiz de Fora, exposta na seção
anterior, quando demonstra que a falta de uma clara política de desenvolvimento na cidade
fez com que as oportunidades que surgiram fossem aproveitadas indiscriminadamente, e
outras não aproveitadas.
No entanto, a margem dessas ações o referido diretor percebe que ocorreu a
constituição de uma rede de serviços vigorosa, em especial em saúde e educação, para dar
suporte a essas atividades. A UFJF, nesse contexto, assume um papel estratégico, muitas
vezes não percebido por seus membros e pela cidade em sua plenitude. Na sua visão, a
instituição possui hoje condições de aumentar a competitividade das indústrias tradicionais
adormecidas (como as pequenas facções originadas com o enfraquecimento das grandes
indústrias têxteis), lançando mão do conhecimento tácito incorporado na área com seus
departamentos de Artes e Design, Economia, Administração e Química, por exemplo;
como induzir atividades relacionadas ao seu potencial científico e tecnológico, como em
Energia, Engenharias, TI, e Saúde. Com relação em específico a essa última, destaca:
225
“Nós temos uma rede hospitalar que vai muito além da demanda local,
hospitais públicos e privados bem equipados e temos na universidade
todos os cursos importantes para apoiar a produção de equipamentos
médico/ odontológicos e medicamentos que são duas atividades baseadas
na ciência (science based). O que falta pra nós é esse elemento do meio
que é um setor produtivo, porque se tratam de atividades em que o
desenvolvimento do produto depende muito da interação da prática
clínica, o medicamento você precisa fazer os testes, o equipamento se
desenvolve a partir da operação dele na prática clínica”.
último, novos projetos em andamento, como o Startup UFJF (plataforma API no Sistema
Integrado de Gestão Acadêmica) e o Desafio GDI (aplicativo para localização das
expertises presentes na universidade por parte dos empresários, e das demandas por parte
dos pesquisadores). Também destaca que esses desafios contarão com espaço de
coworking recém-inaugurado na instituição para a sua efetivação. Como enfatiza: “A
inovação tem que ser menos discursiva, menos uma pregação. De que adianta você ficar
falando para o menino que ele tem que inovar? Você tem que por ele para inovar”.
O IFSudeste, embora conte com uma estrutura menor direcionada à inovação, e
talvez por essa razão, já conta com uma política de inovação revisada em acordo com o
novo marco legal e que se encontra em fase de ajustamento ao Decreto 9.283/2018, que
visa regulamentar seus dispositivos. Além desse documento, a instituição também possui
um regulamento específico para as questões ligadas a PI e outro que normatiza a prestação
de serviços de forma geral (não apenas aos ligados à inovação). Diferente do ocorre na
UFJF, a formulação da política não envolveu diretamente seus pesquisadores, mas um
conselho composto por diretores de pesquisa e extensão dos dez campi ativos.
Especificamente quanto à definição e implementação de diretrizes estratégicas, o
IFSudeste conta com dois comitês, um de pesquisa e outro de inovação, com essa
finalidade, e que conta na sua composição com membros da reitoria, o pró-reitor de
pesquisa e graduação e os diretores de pesquisa de cada campus. Além disso, as ações na
área guiam-se pelo PDI, traçado para um horizonte de quatro anos. Uma dificuldade
apontada pela diretora nesse aspecto refere-se ao fato de que o IFSudeste é uma instituição
multicampi, o que faz com que os membros da reitoria por vezes estejam distantes das
ações de cada unidade. Até o momento, tanto as diretrizes estratégicas, como parte
expressiva das decisões operacionais está centralizada na figura da diretora, com exceção
de poucos campi que contam com alguma assessoria na área, como o de Rio Pomba, mas
sem cargos padronizados. Nas palavras da diretora:
“Infelizmente a reitoria não tem condições de estar presente dentro do
campus para estar disseminando isso e fazendo ações de sensibilização.
Então a gente realmente conta com os nossos comitês de pesquisa e de
inovação, que são a nossa ponte com os pesquisadores. É muito difícil a
gente ter o contato com o pesquisador da ponta. Por isso, a gente tem esse
comitê para que cada campus possa trazer essas demandas. Essa é a
missão de cada um deles que está aqui representando o campus. Trazer as
demandas e levar o que a gente tá discutindo aqui.”
Assim como nos institutos federais, a UEMG possui uma política de inovação
recém-aprovada, mas que já carece de atualização, pois acabou por não considerar as
231
mudanças do novo marco legal, seu decreto e nem a consequente revisão da lei estadual de
inovação. O coordenador aponta como ainda mais importante que a política, e que se
encontra em processo de desenvolvimento, um programa de inovação que consiga
operacionaliza-la em todas as unidades. No entanto, na elaboração da política não foram
envolvidos representantes das mesmas, uma vez que o processo se iniciou bem antes da
estadualização de boa parte delas. O mesmo conselho supracitado cuida do delineamento
das diretrizes estratégicas do núcleo, eventualmente envolvendo algumas unidades, apenas
quando necessário. Tais diretrizes, por sua vez, não são obrigatoriamente vinculadas a
outros documentos de cunho estratégico, a exemplo do PDI elaborado pela reitoria.
A unidade CEFET Leopoldina já conta com uma política de inovação aprovada e
atualizada, embora o coordenador entrevistado reconheça que faltam algumas diretrizes
para operacionaliza-la. Embora seja um documento único para todas as unidades, sua
elaboração contou com a participação de um professor de lá, além de outros das demais
unidades. Posteriormente, o documento foi disponibilizado para os demais para avaliação,
em processo similar ao ocorrido na UFJF. Além disso, mais recentemente, o centro vem
buscando institucionalizar suas ações ligadas à inovação, que até então ocorriam de modo
isolado. Para isso, contam com uma parceria estabelecida com o SEBRAE para fortalecer a
cultura empreendedora entre os pesquisadores, o que vem acontecendo.
Na EMBRAPA, a estratégia de atuação em termos de inovação é pensada de modo
bem centralizado e abrangente, e depois desdobrada para as unidades, como a de Gado de
Leite analisada. Essas diretrizes são divulgadas no site da empresa, em uma plataforma
chamada “Agropensa”, coordenada pela Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas
(SIRE). Essas estratégias gerais são adaptadas à realidade de cada unidade pela chefia de
pesquisa dividida em quatro núcleos temáticos. Mas quanto à sua política de inovação
propriamente, esta também se encontra em fase de adequação ao marco legal. Além disso,
a unidade analisada conta com um departamento dedicado a contratos, assessoria jurídica e
PI, que respalda os pesquisadores sempre que necessário.
A EPAMIG conta com um conselho dedicado a respaldar as decisões estratégicas
na matriz de Belo Horizonte, que são desdobradas para as demais unidades, composto por
várias entidades externas, como a EMBRAPA, do sistema S, as ligadas ao agronegócio,
entre outras. Nas unidades, os planos de atuação são adaptados conforme a realidade de
cada departamento de pesquisa e, ao menos em parte, as suas especificidades são
consideradas pelo conselho central (embora ele aponte que não há feedbacks apropriados).
232
No entanto, trata-se da única instituição entrevistada que não possui uma política de
inovação formalizada, o que aos olhos do coordenador não é imprescindível, uma vez que
sempre atuaram com a pesquisa aplicada, e dessa forma os procedimentos nesse sentido já
se encontram tacitamente incorporados. No entanto, todos os contratos e convênios são
avaliados pelo departamento jurídico também situado em Belo Horizonte. Por outro lado, o
mesmo coordenador, em outro momento, menciona o quanto a falta de uma política de
inovação formal fez com que se perdessem muitas oportunidades de licenciamento e
decorrente perda de know how capitalizável.
Já quanto ao envolvimento das instituições com os programas da SEDECTES, o
diretor de inovação da UFJF destaca a participação em eventos, a exemplo da FINIT e
Empreenda em Ação, em desafios como o Startup Universitário, mas principalmente em
função do recente programa Alianças Estratégicas, também apontado pela diretora do
IFSudeste e pelo coordenador do CEFET, mencionado na seção anterior e que ainda não é
do conhecimento de alguns entrevistados da própria secretaria:
“Então, com base numa definição de quais são os territórios em que a
política publica vai incidir, o estado vem, chama as universidades, os
agentes econômicos, eles definem alguns eixos, e a partir desses eixos são
formulados projetos. E a expectativa é que o estado venha e aporte
recursos para que esses projetos se viabilizem. [...] Aqui nós fizemos um
encontro em abril, onde definimos alguns eixos: bovinocultura e turismo
rural, complexo econômico e industrial da saúde, sustentabilidade e
resíduos, agricultura familiar, energia, TIC, cidades inteligentes e
empreendedorismo tecnológico. Bovinocultura e turismo rural, por
exemplo, quem vai dirigir é a EMATER. Complexo econômico é a
FADEPE e a UFJF. Sustentabilidade e resíduos, Viçosa vai tocar.
Energia e TIC, UFJF, e aí vai”.
No entanto, é importante destacar que uma das mais importantes parcerias citadas
pelo coordenador da EPAMIG, que se articula com a EMBRAPA e que segundo ele é de
sua autoria, é do queijo Serras de Ibitipoca, que vem sendo capitaneado pela EMATER de
Juiz de Fora, como mencionado na seção anterior (também em parceria com a
EMBRAPA).
A unidade do CEFET Leopoldina destaca-se das demais instituições por
demonstrar-se mais inteirada dos programas do governo direcionados às instituições de
pesquisa, ainda que se enfatize que não há muito contato com o agente de inovação do
território e nem sua participação efetiva nos fóruns regionais. Além da atuação no GDI
Mata, o coordenador menciona a participação da instituição na FINIT, nos programas
Startup Universitário e Alianças Estratégicas, e inclusive a possibilidade de pleitear uma
das sete unidades recentemente previstas para o Hub Minas Digital no interior. Ele
demonstra que a comunicação mais estreita acontece em função da existência da
coordenação central em Belo Horizonte, embora o mesmo não ocorra na UEMG e na
EPAMIG.
Por essa razão, inclusive, o mesmo coordenador percebe que a relação entre
instituições de pesquisa e empresas tem sido mais estimulada pelas recentes políticas, e
234
defende que é preciso tempo para romper a barreira cultural presente nas instituições para a
cooperação e efetivação da tríplice hélice. Na sua fala, “os interesses são diferentes, as
expectativas são diferentes”. Assim como verificado em diversos trechos da seção anterior,
também observa que há muitas iniciativas que pavimentam o caminho do movimento de
startups, mas que os atores ainda estão desencontrados, além de não saberem se divulgar.
Identifica, inclusive, a mudança de enfoque da FAPEMIG, mas aponta a falta de iniciativas
para tracionar os negócios de base tecnológica dentro das universidades, que além de
desenvolverem o perfil empreendedor nos pesquisadores, contornem entraves burocráticos,
especialmente legais, inerentes aos negócios com esse perfil. Ele também sugere a criação
de alguma garantia de retorno aos investimentos públicos em spin offs, já que nem sempre
um pesquisador de uma universidade pública almeja que seu negócio cresça a ponto de
gerar impacto positivo na sociedade, o que a seu ver deveria ser mandatório.
O atual diretor de inovação da UFJF indica que as ações da instituição nesse sentido
ainda ocorrem no “varejo”, ou seja, ou a empresa procura a universidade com uma
demanda e o CRITT busca internamente as competências para solucioná-la ou a mesma
equipe busca a empresa com o intuito de licenciar alguma tecnologia apropriada. Ele
espera que o aplicativo Desafio GDI, anteriormente mencionado, funcione melhor para a
prospecção indutora e permanente. Além disso, o setor de transferência de tecnologia vem
trabalhando na montagem de um roadmap, para mapear as expertises da universidade e as
oportunidades de mercado no âmbito regional. Dentre as suas ações recentes, destaca-se a
criação do software ARCA, junto a alunos da engenharia, instrumento para busca
automática das competências internas com base nas informações do Lattes dos
pesquisadores.
Já no IFSudeste, as atividades de prospecção de oportunidades restringem-se à
participação da instituição no GDI, bem como mais recentemente, do programa Alianças
Estratégicas. Diferente do que a sua diretora aponta como mais maduro no CRITT, e como
já demonstrado, não há uma equipe dedicada à prospecção mais formal de parceiros. Para o
caso da identificação das capacidades individuais, em razão de uma demanda trazida pelo
próprio GDI, foi realizado um levantamento interno onde cada pesquisador cadastrou as
235
Na sua visão, esse entendimento não significa que as ações não estejam sendo
pensadas de forma estratégica, ainda que informalmente. Ambos os tipos de atividades (as
direcionadas aos setores de alto conteúdo tecnológico e aos tradicionais) compõem a
tradição e a história do território, e “são diferentes de atividades que você traz apenas
241
porque teve oportunidade de trazer, mas que não se conectam nem com as universidades,
nem com as vocações regionais”, a exemplo das siderúrgicas e das montadoras.
Em termos mais operacionais, a gerente de inovação e transferência de tecnologia
do CRITT aponta que a avaliação do potencial de transferência das tecnologias pela
unidade ocorre, a princípio, baseada em aspectos economicamente mensuráveis.
Reconhece que nem todas as tecnologias patenteadas pela UFJF são passíveis de
transferência, o que é medido com o emprego de diversas ferramentas internas, de modo a
evitar o dispêndio de recursos. Algumas outras, ainda que atendam a esses critérios,
apresentam dificuldades para o amadurecimento até o estágio desejado pelas empresas. E,
embora todas as demandas externas de empresas sejam recebidas e encaminhadas de modo
irrestrito (em maior proporção para áreas percebidas como vocacionadas pela instituição),
naquelas oriundas de parceiros institucionais também se analisa a viabilidade financeira, o
custo de oportunidade, o custo-benefício, a colocação da imagem da universidade e do
CRITT e o alinhamento a seu escopo de atuação (PI, empreendedorismo e inovação).
Já quanto às escolhas tecnológicas, embora ela defenda que a unidade seja capaz de
identificar as áreas que mais demandam tecnologias na região, a pesquisa interna ainda é
orientada pelo modelo de inovação “science push”: “Eu não consigo dizer: Professor, não
pesquisa isso não só porque você veio do mestrado, do doutorado avaliando esta linha
teórica. Pesquisa isso, o mercado está pedindo isso na sua área”. Na sua visão, as
universidades brasileiras, de um modo geral, ainda trabalham orientadas pelo modelo
linear de primeira geração. No entanto, ela também observa que os pesquisadores que
atuam mais próximos ao NIT e que desenvolvem projetos de P&D em parceria com
empresas já possuem um olhar diferenciado, uma vez que em muitos casos, suas pesquisas
são desde o início encomendadas por empresas (modelo de terceira geração).
A diretora de inovação do IFSudeste também indica que não existem, atualmente,
quaisquer critérios para a seleção do que deve e o que não deve ser investido pela
instituição. Isso, segunda ela, faz com que muitos esforços dos pesquisadores ainda sejam
voltados para a pesquisa básica, a despeito da missão dos IF. Mas ela acredita também que
a escolha por determinadas áreas não ocorra, porque não há o conhecimento aprofundado
sobre as vocações de cada campus, bem como dos seus entornos. Em recente edital para
fomento de parcerias com entidades externas (Edital de Interface entre Pesquisa, Extensão
e Inovação), cuja exigência era a pré-existência de um demandante empresarial, foram
verificadas poucas iniciativas de cunho mais tecnológico e inovador, mas uma parceria é
apontada pelo pró-reitor de pesquisa e inovação como vocacionada:
242
que pode funcionar como barreira à aquisição pelos menores produtores. Esse mesmo caso
também demonstra que a escolha tecnológica se deu de dentro pra fora. A pesquisa que
originou a solução foi iniciada por pesquisadores da instituição há cerca de dez anos, que
consideraram a alta ocorrência do problema como uma oportunidade. Para tal, inclusive,
contrataram dois pesquisadores na área de nanotecnologia. A busca pela parceira ocorreu
em um estágio bem mais avançado, por meio de licitação. Proporcionalmente, o subchefe
do setor da empresa indica que dessa forma é que as transferências mais ocorrem na
instituição, ou seja, os especialistas trabalham em uma solução que automaticamente gera
produtos, o que é facilitado pelo alto nível de especialização.
Apesar disso, a EMBRAPA estuda no momento mecanismos para induzir a
pesquisa aplicada. O processo desenhado fará com que logo no início, o pesquisador já
consiga identificar que tipo de produtos irá gerar e para que mercado. O entrevistado na
empresa defende que isso na EMBRAPA é mais importante do que nas universidades, por
exemplo, por se tratar de uma empresa pública com foco em pesquisa, e que por isso
depende de resultados palpáveis. Para essa análise será empregada uma escala de
maturidade tecnológica conhecida como TRL (Technology Readiness Level).
Processo parecido ocorre na EPAMIG, embora bem menos estruturado. Diante de
uma demanda externa, cria-se um “petit comité”, capaz de avaliar tecnicamente questões
como viabilidade, custo-benefício, programação de receitas e despesas, para posterior
encaminhamento ao comitê gerencial. Esse segundo comitê é responsável por formatar o
projeto nos moldes exigidos pela unidade central de Belo Horizonte, e apenas quando a
mesma o aprova, o trabalho se inicia. Para o caso das escolhas tecnológicas, o mesmo
acontece, porém ele aponta uma crítica limitação de mão de obra. Por exemplo, ainda que
se perceba a necessidade de pesquisas na área de mecatrônica, não há na instituição um
profissional especializado na área.
Quanto à priorização dos meios de capturar receita e valor pela instituição, o diretor
de inovação da UFJF aponta que o conservadorismo de parte dos pesquisadores (inclusive
em setores tecnológicos), atrelado as suas métricas de produtividade ainda muito
direcionadas à produção científica, fazem com que o número de ativos de PI seja baixo e,
com isso, os licenciamentos ainda não sejam vistos como meio mais efetivo de capitalizar.
O trabalho, a seu ver, é ainda de sensibilização dos pesquisadores tanto para apropriação
quanto para comercialização. Isso inclusive permitirá que outras áreas promissoras, além
das anteriormente apontadas, possam ser identificadas. Em suas palavras:
244
“Você fazer P&D é muito melhor do que você ficar batendo cabeça
depois pra licenciar uma coisa que já está desenvolvida sem nenhuma
interação e conexão com uma necessidade real. Independente de número,
de valores, quanto que vai ganhar e não vai. O P&D, mesmo que não
ganhe muito com o licenciamento depois, a utilidade, principalmente
quando você desenvolve em parceria, ela é muito mais garantida, você
tem maiores possibilidades de aplicação disso no mundo real, na vida
real. Reduz os custos da incerteza, porque você está compartilhando com
o parceiro. Quando a empresa ajuda no desenvolvimento é uma
possibilidade a mais de depois fazer o licenciamento para essa companhia
para que ela possa colocar aquilo no mercado de alguma forma”.
“Se você perde um nó dessa estrutura, você precisa substituir. Mas aqui
não, você perde um, perde dois, perde três e quando você vê você já
perdeu cinco e ali fica um vazio. [...] Aconteceu muito. Para você ter uma
noção, nós tivemos dois concursos em 34 anos. Ai você vai perdendo, vai
perdendo... Chegou ao cúmulo de nós sermos cinco pesquisadores. Fez
um concurso e foi pra 21, ai já estamos perdendo de novo.”
cláusulas contratuais que buscam de algum modo proteger divulgações de conteúdo sem
autorização da entidade. Nas palavras da diretora: “Existe uma preocupação nesse sentido,
ainda que mínima”. O mesmo ocorre na UEMG, onde o NIT acaba por restringir sua
atuação à proteção no fim do processo. Não existe por parte dele qualquer controle sobre o
fluxo informal de conhecimento, o que também sugere a perda de know how ao longo do
processo. Isso acaba por resultar no desinteresse pela proteção tanto pelos pesquisadores
quando pelas empresas. No caso dos primeiros, pelo ceticismo na sua efetividade e dos
segundos, porque já puderam acessar o conteúdo passível de proteção.
Na EPAMIG, como já mencionado, as questões referentes à PI são integralmente
tratadas por um departamento específico localizado na unidade de Belo Horizonte. Já na
EMBRAPA, acredita-se que o acompanhamento mais próximo das parcerias, logicamente
oportunizado pelo menor número de pesquisadores, conta também a favor da apropriação
do conhecimento:
“Aqui é tudo formalizado. Todos passam aqui no meu setor. O parceiro
faz contato o pesquisador, depois o pesquisador apresenta pra gente, nós
avaliamos, o chefe avalia. Se sim, retorna para o pesquisador, ele faz um
plano de trabalho junto com endereçado externo, apresenta de novo,
passa na assessoria jurídica e segue um fluxo contínuo. A gente tenta ser
o mais ágil possível para não desanimar o parceiro, mas com um olhar
muito atento sobre a legalidade do processo. Sempre defendendo os
direitos da EMBRAPA. E a gente conclui que o fluxo aqui é mais rápido
do que com o parceiro privado.”
Para o diretor de inovação da UFJF, não seria adequado que a sua unidade ou
qualquer outra interferisse nas decisões sobre o que pesquisar pelo pesquisador. Acredita
que o que pode ser feito nesse sentido é a incorporação no planejamento institucional de
ações sutilmente indutoras, como os próprios desafios e bolsas supracitados.
Quanto à resistência a mudanças dos pesquisadores, acredita que possa haver nisso
algo positivo. Enquanto a atividade de pesquisa demonstra-se árdua e demorada, os apelos
do mercado podem ser voláteis. Mas também reconhece o enrijecimento e inércia
estritamente nesse sentido. Produz-se muito conhecimento aplicável, o que demonstra que
o maior problema não está na aderência, mas na cultura, o que tende a mudar. Por outro
lado, as questões estruturais acabam por ser um impeditivo quando o setor de transferência
de tecnologia do CRITT, em razão da falta de mão de obra e predominância de bolsistas,
250
não consegue fornecer o suporte apropriado aos pesquisadores, que acabam desmotivados:
“Não adianta também só sensibilizar o pesquisador, ele vem e a coisa não dá resultado, é
frustrante”. É importante enfatizar que esse problema também foi apontado pela presidente
da RMI na seção anterior, quando questiona a falta de estrutura que verdadeiramente
suporte os programas do estado, para além dos esforços de sensibilização.
O direcionamento da atividade de prospecção para a FADEPE pode ser uma
solução para o último problema por dois motivos: permitirá que o setor de transferência
dedique mais tempo a relação com o pesquisador do que com o mercado; e, porque possui
mais flexibilidade para contratação de pessoas. De fato, a seu ver nem as ações de demand
pull e nem as de technology push são atribuições do pesquisador, principalmente pela falta
de perfil comercial e gerencial do mesmo, embora recaiam sobre ele em muitos casos. Mas
para que o CRITT ou a FADEPE assumam esse papel, é necessário que contem com uma
equipe com mais domínio sobre as tecnologias e suas possibilidades de mercado, além de
mais diversa tecnicamente. A dependência dos recursos públicos para que isso ocorra,
atrelada à morosidade na atuação, é também vista como um importante fator limitante.
No IFSudeste, a centralização das decisões sobre pesquisa e inovação na reitoria
tem seus prós e contras. A distância física dos campi é vista como o maior dificultante, de
certo modo suavizado pela representatividade nos comitês. No entanto, a entrevistada
acredita que muitas das demandas de cada unidade, assim como as oportunidades por elas
vislumbradas sejam perdidas nesse caminho. Tal qual ocorre na UFJF, é identificada uma
expressiva resistência dos pesquisadores em redirecionar suas pesquisas em acordo com as
necessidades do mercado. Segundo ela, a solução para o problema no momento é o
transbordo. Ou seja, na medida em que as parcerias forem gerando resultados positivos
para os pesquisadores envolvidos, espera-se que mais deles sejam encorajados a cooperar.
Já a EMBRAPA, conta em sua estrutura com o Comitê de Assessoria Externa
(CAE) composto por pessoas ligadas a cadeia do leite, selecionadas por sua matriz em
Brasília, que acompanha diretamente o trabalho em reuniões bianuais onde são avaliados
os direcionamentos para pesquisa e possíveis redirecionamentos. Ainda assim se verifica
resistência nesse sentido, sobretudo no caso das pesquisas mais antigas, difíceis de
descontinuar por essa razão. Como alternativa, o entrevistado aponta a contratação de
novos pesquisadores nas áreas consideradas potenciais, bem como a formação de novos
convênios, considerados capazes de promover a oxigenação gradativa.
Como diversas vezes mencionado, a centralização das decisões no caso da
EPAMIG impacta negativamente na autonomia de atuação da unidade entrevistada. Isto é
251
agravado pela dependência dos recursos públicos, que faz com que as pesquisas que não se
encontram no escopo definido, não sejam financiadas. Quando ao processo oposto, a
resistência à mudança por parte do pesquisador, ele defende que embora ocorra, o
engessamento do sistema é o principal impeditivo (sistema piramidal).
No CEFET, embora também se verifique uma hierarquia forte, a independência de
atuação prevalece inclusive no que depende das autorizações da unidade de Belo
Horizonte. Porém, o coordenador aponta que isso apenas ocorre porque tais processos não
estão institucionalizados, com arcabouços e diretrizes claras. Isso pode indicar que o
estabelecimento de uma política única nas instituições mais fragmentadas, sem a
concomitante construção de estrutura que garanta responsáveis igualmente distribuídos,
pode contribuir para o engessamento das ações, ao invés de fluidez. Também observa um
distanciamento do pesquisador das demandas de mercado, o que pode ser contornado com
as iniciativas de aproximação mencionadas e aumento dos casos bem sucedidos que tende,
como dito por outros entrevistados, a contagiar os mais conservadores.
Embora a centralização das decisões ocorra em várias das instituições analisadas, o
caso da UEMG talvez se mostre o mais crítico. É assumido que na instituição atualmente
não há nenhum mecanismo capaz de garantir a integração das ações. Como a transferência
de tecnologia e conhecimento ocorre formal e informalmente em cada unidade, muito em
razão da historicidade e tradição presente em suas escolas, e só passa a ser de
conhecimento do NIT em casos de apropriação, esse costuma atuar nomeadamente de
forma reativa. Nesse caso, inclusive, não é possível apontar claramente a rejeição por parte
dos pesquisadores às mudanças de trajetórias, uma vez que o acompanhamento não é feito,
embora se espere que os programas de inovação comecem a atuar nesse sentido.
Em diversas colocações feitas nas entrevistas abordadas nessa seção e na anterior, a
figura do pesquisador, bem como suas ações, é verificada como condicionante chave para a
eficiência e eficácia dos fluxos de conhecimento em sistemas de inovação. Por essa razão,
a última seção abordará a perspectiva desses atores sobre o tema abordado.
Quando interrogados acerca das motivações para a escolha das suas áreas de
pesquisa observa-se claramente que aspectos de natureza pessoal (como trajetória
profissional e afinidade) ganharam mais peso do que os ligados às influências do ambiente
(a exemplos das demandas ambientais e sociais e diretrizes das suas instituições, grupos de
pesquisa e programas) (Figura 51a). Se segregados e relativizados por área, apenas no caso
da Agronomia as demandas de mercado foram expressivamente pontuadas (40% dos
respondentes) (Figura 51b).
254
Figura 51 – (a) Principais motivações para escolha da área de pesquisa; (b) Motivações para escolha da área de pesquisa distribuídas pela área de atuação.
(a) (b)
educação e saúde), o que apenas endossa as evidências de que boa parte dos pesquisadores
ao menos conhece o potencial produtivo do entorno, conforme demonstrado no gráfico de
Pareto da Figura 53, onde as barras sinalizam o número de respostas para cada opção e a
linha o percentual acumulado das mesmas. As atividades de Serviços – Educação; Setor
Primário – Pecuária; Serviços – Saúde; Comércio; Setor Primário – Agricultura; e,
Indústria – Produtos Alimentícios juntas foram mencionadas em cerca de 70% das
respostas, o que indica forte concentração.
Figura 53 – Percepção das principais atividades econômicas da Zona da Mata pelos respondentes
Apenas para esta análise, considerando as áreas que contaram com mais de três
respondentes, também se percebe diferenças na percepção do potencial de aplicação do que
cada pesquisador produz no território da Zona da Mata. Foi solicitado que os mesmos
atribuíssem uma nota, entre 0 e 10, para tal potencial percebido. É imperativo observar que
as áreas que contam com o maior volume de produção científica e tecnológica (conforme
apontado na Seção 3.2) são aquelas cujos pesquisadores menos verificam aderência com o
mercado regional (engenharias, física e química). Todas as médias são demonstradas na
Tabela 1.
Figura 54 – Razões da baixa representatividade da instituição para as atividades da Zona da Mata (UFJF)
segundo seus pesquisadores
Tabela 2 – Influência dos NIT e/ou Diretorias de Inovação sobre as decisões de pesquisa sob a ótica do
pesquisador
Influência dos NIT/ Diretoria de Inovação
Área de pesquisa (média das notas dos respondentes)
Agronomia 5,7
Enfermagem 4,0
Artes e Design/ Artes Visuais/ Cinema 3,9
Odontologia 3,5
Engenharia Elétrica 3,4
Engenharia Mecânica 3,3
Biologia/ Biotecnologia/ Farmácia 3,3
Ciência e Tecnologia de Alimentos/ Nutrição 3,2
Engenharia de Materiais e Metalúrgica 3,0
Sociologia/ Economia/ Humanas em geral 2,8
Ciência da Computação 2,6
Medicina 2,3
Engenharia Civil 2,3
Educação Física 2,2
Física 1,1
Química 0,7
Engenharia de Produção 0,0
Apenas para os casos dos que possuem ativos de PI, as decisões sobre a distribuição
da titularidade são difusas, predominando os casos em que a instituição do pesquisador
figura exclusivamente ou ao menos como uma das titulares (Figura 56). Embora tal
resultado esteja de acordo com a LPI, que prescreve que os ativos gerados pelos
funcionários são de propriedade de quem os emprega, também pode indicar que em alguns
casos a instituição abre mão deste direito por desinteresse ou desconhecimento.
Figura 58 – Principais dificuldades para a transferência dos ativos de PI na perspectiva dos pesquisadores
predominam, assim como nas de Agronomia, Artes e Design/ Artes Visuais/ Cinema e
Física, com maior alinhamento intradepartamental.
Tabela 4 – Perfil das parcerias de P&D estabelecidas pelos pesquisadores, por área
Parcerias de
P&D com Parcerias com Parcerias com
Parcerias de P&D pesquisadores de pesquisadores de empresas,
com pesquisadores outros outras governo,
do mesmo departamentos da instituições de associações,
Área de pesquisa departamento minha instituição ensino e pesquisa entre outros.
Agronomia 7,0 6,3 4,3 3,7
Artes e Design/ Artes Visuais/
Cinema 7,0 4,2 5,3 4,4
Biologia/ Biotecnologia/
Farmácia 5,7 7,9 5,7 2,6
Ciência da Computação 4,4 3,1 3,3 1,6
Ciência e Tecnologia de
Alimentos/ Nutrição 4,8 6,1 4,9 3,0
Sociologia/ Economia/
Ciências Sociais 3,2 5,3 7,0 3,7
Educação Física 3,8 3,6 5,4 2,2
Enfermagem 2,0 2,0 5,7 2,7
Engenharia Civil 5,3 5,4 4,7 4,3
Engenharia de Materiais e
Metalúrgica 4,3 3,7 5,7 2,7
Engenharia de Produção 1,3 6,7 3,3 7,7
Engenharia Elétrica 3,4 2,4 6,2 5,0
Engenharia Mecânica 3,3 4,3 4,0 4,7
Física 6,9 2,7 7,0 3,9
Medicina 2,8 7,0 6,3 0,5
Odontologia 6,5 4,7 4,0 2,5
Química 3,8 3,8 4,5 3,2
Média Geral 4,7 4,7 5,4 3,3
Situação similar ocorre quando respondem sobre os meios mais empregados para
acessar informação/conhecimento fora da instituição, onde predominam a busca por
publicações científicas e participação em eventos externos, além da consulta a outras
mídias, em detrimento a publicações tecnológicas e parcerias com atores não acadêmicos,
como empresas e membros da comunidade em geral (Figura 60). Embora as parcerias de
pesquisa ocorram mais com pesquisadores de outras IES, a participação em grupos de
pesquisas e estudos interinstitucionais não é vista como instrumento mais efetivo, o que
pode se justificar, nesse caso, pelo distanciamento físico.
263
Figura 60 – Meios usados pelos pesquisadores para acessar informação/conhecimento fora da instituição
264
Figura 61 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D dentro da instituição
Figura 62 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D dentro da instituição
Figura 63 – Instrumentos usados pelos pesquisadores para identificar parceiros de P&D em IES externas
importante pontuar que isso ocorre de forma menos acentuada nas instituições com
vocações mais específicas, a exemplo da EMBRAPA, EPAMIG e dos institutos federais
consultados, supostamente em razão da maior facilidade em organizar as informações
quando se tratam de áreas que naturalmente se comunicam.
Por fim, os critérios considerados mais importantes para a avaliação da efetividade
das parcerias e da qualidade do conhecimento desenvolvido (Figura 71), acompanham
diversas conclusões anteriores. Na falta de métricas e indicadores de desempenho mais
alinhados à produção tecnológica, os pesquisadores ainda se baseiam no aumento da
produção científica, bem como na recorrência das parcerias, como parâmetros de
desempenho possíveis. Adicionalmente, os impactos socioambientais e ganhos de
visibilidade não são entendidos como tão importantes, provavelmente em razão das
dificuldades em mensurá-los. É esperado que as novas políticas de inovação estimulem o
interesse por produções de cunho tecnológico e transferências formais de conhecimento de
modo geral, o que demandará, entre outros, a organização e mapeamento do conhecimento
que podem ofertar, com vistas aos ganhos pecuniários almejados.
Figura 71 – Critérios apontados pelos pesquisadores para avaliação da efetividade das parcerias e qualidade
do conhecimento desenvolvido
273
5. CONCLUSÃO
O levantamento bibliográfico, documental e a pesquisa de campo apresentados
neste estudo foram, em conjunto, essenciais para que se cumprissem todos os objetivos
propostos de forma satisfatória. Era esperado que a pesquisa, ao envolver questões de
naturezas sociais tão complexas e pouco previsíveis, não pudesse se restringir a análise de
dados e informações oriundos apenas de fontes secundárias. Os temas governança do
conhecimento e sistemas de inovação nela abordados, quando experimentados na prática,
trazem como pano de fundo a subjetividade inerente às relações pessoais em que se
baseiam (como previsto pela abordagem epistemológica).
Quanto aos seus objetivos específicos, a distinção entre os tipos de regiões
presentes no SRI mineiro como um todo (por meio do mapeamento de ativos e fluxos de
conhecimento formais das suas IES, assim como dos perfis industriais principais) foi
condição necessária para que se considerasse previamente, sobretudo ao longo das
entrevistas referentes às Capacidades Estatais, as disparidades existentes entre os sistemas
de inovação dos territórios do estado e, com isso, o que do conjunto de políticas públicas
dedicadas à inovação poderia ser aplicado à Zona da Mata de fato. A contextualização do
objeto do estudo na estrutura de nível estadual que o envolve, como também a descrição
das suas desigualdades internas, trouxe à luz o entendimento de que as políticas de cunho
estratégico em Minas Gerais que busquem promover o seu desenvolvimento econômico
sustentável, mas que desconsiderem sua heterogeneidade, provavelmente, resultará em
baixa efetividade e continuidade, como em diversos pontos foi evidenciado para este
objeto de estudo. Apesar da intenção, sobretudo da SEDECTES, de alcançar com seus
projetos todo o estado, na prática foi evidente o enfraquecimento das conexões com a Zona
da Mata, nos dois sentidos, ao longo dos últimos quatro anos (o que enfatiza, entre outros,
a igual ou maior relevância das redes de poder socioterritoriais quando comparadas à
intervenção estatal).
As análises aqui realizadas e os tantos outros estudos acerca dos portfólios
científicos e tecnológicos das instituições de ensino e pesquisa mineiras sugerem que ainda
há muito a ser explorado. Para além, tanto a indispensável modernização das suas
indústrias tradicionais quanto o incentivo a criação de outras trajetórias de conhecimento e
tecnológicas, sem obrigatória ruptura com as anteriores, pautam-se na ainda excessiva
dependência do estado de seus recursos naturais.
A discussão sobre a interação entre ciência e inovação, materializada
principalmente nas relações entre instituições de pesquisa e empresas, é apropriada para o
274
ações e a falta de condições estruturais para a sua execução foram recorrentes nas falas dos
entrevistados do mesmo território.
Por sua vez, os reflexos das mudanças de gestão nos governos e nas instituições
puderam ser confirmados em ambos os níveis de análise. De um modo geral, é perceptível
o esvaziamento dos projetos que estimulam o envolvimento das universidades no apoio à
inovação nas empresas, sejam elas tradicionais ou startups. Por outro lado, também foram
evidenciadas ações pontuais e desvinculadas da SEDECTES, que de alguma maneira
buscaram resgatar no último ano esse vínculo enfraquecido e sinalizam discordâncias com
o modo como as ações da secretaria foram conduzidas, especialmente no último governo.
Não é possível mensurar os impactos da concomitante crise orçamentária sofrida pelo
estado sobre os projetos, percebida com diferentes graus de influência pelos entrevistados,
embora flagrante na atuação dos fóruns regionais, no trabalho dos agentes locais de
inovação e nos programas previstos para o Minas Digital. Mas a maioria concorda que, a
despeito da crise, as ações concentram-se na região metropolitana, contrariando a ideia de
desenvolvimento territorial integrado defendida nos planos governamentais de médio
prazo.
Principalmente na ótica das instituições que assumem de algum modo a
incumbência de apoiar o desenvolvimento, se em um primeiro momento o
redirecionamento estratégico para políticas que estimulassem a criação de startups não
foram percebidas de um todo equivocadas, uma vez que acompanhavam uma tendência
global; em um segundo, demonstraram-se insuficientemente embasadas por um estrutura
que as suportassem permanentemente, para além do processo de sensibilização, como com
a provisão de incubadoras e parques tecnológicos. Em outras palavras, os efeitos residuais
previstos por esses estímulos, inclusive como alternativas para o escoamento do portfólio
científico e tecnológico abundante nas instituições de ensino e pesquisa, não se deram
como o esperado, ao menos de forma explícita. As razões apontadas divergem, ora
atribuídas à baixa cultura empreendedora ainda presente nessas instituições, aliada a
imaturidade e pouca aderência ao mercado das tecnologias por elas produzidas, ora pelo
baixo interesse das empresas mineiras por alternativas que envolvam “big science”.
Outro diagnóstico importante trata-se das falhas de divulgação sobre as ações entre
as secretarias e instituições, que nem sempre são propositalmente concorrentes. Como
exemplo, podem ser mencionados a baixa ou inexistente integração entre os agentes de
inovação e os fóruns regionais; o desconhecimento por parte de entrevistados vinculados à
própria SEDECTES do programa Alianças Estratégicas, e sobre a permanência ou extinção
277
área é concentrada nas reitorias. Em grande parte das falas, porém, a implementação das
políticas de inovação em acordo com o novo marco legal (com exceção da EPAMIG) é
vista como potencial atenuante, embora se perceba que a sua formulação não envolva
suficientemente os diversos campi. Uma exceção é a EMBRAPA, pois ainda que conte
com uma forte hierarquia e gestão do tipo topdown, apresenta um desdobramento eficiente
em função da qualidade dos seus processos de comunicação internos.
O tamanho e o grau de especialização dessas instituições também foram percebidos
como fatores que impactam a atuação das diretorias e núcleos. Em geral, quanto menos
pesquisadores e mais concentradas em áreas são as pesquisas, mais fácil é articulá-las com
o mercado e orquestrar o fluxo de conhecimento internamente, bem como usufruir das
políticas públicas e dos mecanismos de apoio externos. Do mesmo modo, essas
características favoráveis também facilitam a percepção dos seus pesquisadores acerca da
sua missão regional e seu papel comparativamente a outras instituições.
Também nesse grupo foram observadas dificuldades em determinar quais seriam as
vocações econômicas do território da Zona da Mata. Porém, se nas instituições
entrevistadas no primeiro grupo isto se deve, principalmente, ao distanciamento físico da
administração central, às falhas de comunicação e articulação e a concentração das ações
na região metropolitana; nas do segundo grupo, a divisão entre a percepção dos atores de
Juiz de Fora e do entorno (mais influenciados pelo estado do Rio de Janeiro) e dos das
demais localidades sugere incongruências importantes e específicas. Quando
adicionalmente é constatado que as instituições de pesquisa mais maduras e que contam
com estruturas de apoio à inovação, comparativamente mais robustas, como UFJF e
EMBRAPA, concentram-se na cidade supracitada, justifica-se o enfraquecimento da sua
atuação junto aos demandantes de outros microterritórios. Porém, e novamente, isso é
minimizado pela força de ação, historicidade e capilaridade de instituições como a
EMATER e o SEBRAE.
Em paralelo, a participação da UFJF e do IFSudeste, este segundo em menor
intensidade, no GDI, na ADJFR e no Comdeti revelam a sutil inclinação estratégica destas
instituições para os esforços exógenos de desenvolvimento e fortalecimento do setor de
serviços em saúde e educação. Ou seja, do mesmo modo que as diferenças interterritoriais
dificultam a implementação de políticas topdown, as intraterritoriais as agravam. Pouco foi
defendido que as alianças podem abranger áreas não explicitamente relacionadas com as
principais aglomerações produtivas verificadas no território, o que apenas ocorreu no caso
do CEFET Leopoldina, quando defendido pelo seu entrevistado que o desenvolvimento das
281
fomento, em razão das recentes iniciativas locais de integração, que podem inclusive
promover o alinhamento estratégico necessário em médio e longo prazo.
Os entraves na etapa de identificação das oportunidades internas e externas
verificadas, naturalmente afetam a capacidade de apreensão das mesmas, o que foi também
investigado. Ao menos formalmente não foi possível identificar a existência de alguém que
atuasse como um gatekeeper nessas instituições. Isto, especialmente, por faltar densidade
nas ações de transferência que permitisse o acúmulo de massa crítica necessário para a
seleção racional do mercado e tecnologias. Os critérios de seleção também variam com o
perfil dos gestores na ocasião, e nem sempre condizem com o defendido pelos
pesquisadores. Ainda que fosse possível empregar critérios em um processo de seleção de
oportunidades, a dificuldade de mensurá-los quanto à viabilidade técnica e financeira,
custo de oportunidade e colocação da imagem, muito subjetivos, é outro agravante.
Não há consenso sobre quais seriam as métricas de desempenho desejáveis sob o
ponto de vista das instituições de ensino e pesquisa, uma vez que as próprias atravessam
mudanças importantes quanto aos seus limites de atuação na sociedade. Novamente, a
única exceção ocorre na EMBRAPA, não por acaso, por melhor conseguir desdobrar a
estratégia em todos os níveis hierárquicos, o que permite a operacionalização de um
processo sistemático de seleção, que impacta inclusive as decisões de contratação de novos
pesquisadores. Ainda assim, predominam na empresa as iniciativas de Science push. Ou
seja, ainda que as pesquisas sejam selecionadas, isso ainda é pouco impulsionado pelo
mercado diretamente, e mais pelo feeling dos seus pesquisadores.
Os contratos de prestação de serviços e de P&D são percebidos por todos como
mais efetivos para a captura de valor que os licenciamentos, ainda que boa parte dos
entrevistados não conte com experiência suficiente para opinar com propriedade. As
mudanças propostas pelo marco legal podem, dessa forma, corroborar quando em tese
desburocratizam essas atividades. Isso se deve, entre outros fatores, à maior aderência ao
mercado, aliada às relações mais duradouras com as organizações, principalmente nas
instituições onde o efeito da historicidade é flagrante. Da mesma forma, no caso de
licenciamentos, falta mão de obra capaz de levantar as informações técnicas necessárias ao
processo de oferta, o que nem sempre ocorre com a contribuição do pesquisador.
No entanto, essas questões não diminuem a importância da apropriação dos ativos
resultantes. Pelo contrário, é esperado que as políticas também a reforcem nas relações
com empresas, já que esses resultados são mais propensos à transferência. Mas, para isso,
faz-se importante que os NIT sejam efetivamente reconhecidos como o melhor meio para
283
tal resultado. Não há nesses Núcleos e nas instituições como um todo, mecanismos
adequados para a apropriação do conhecimento, para além das tecnologias. Embora
apontado como relevante, não há até então, alguma solução vista como capaz de sanar esse
problema. Ou seja, boa parte do que se produz nessas instituições pode fluir para as
empresas sem qualquer rastreabilidade. Ademais, as conclusões acerca dos ativos
complementares trazem à luz, principalmente, e mais uma vez, o impacto da historicidade
sobre os vínculos locais, na forma de reputação, redes informais de colaboração ou
estrutura física construída ao longo dos anos.
A incompatibilidade na visão do segundo grupo (NIT e/ou diretorias de inovação) e
do terceiro (pesquisadores) é mais notória quando consultados os mecanismos de
incentivos mais apropriados para a cooperação. Enquanto que para o primeiro o prestígio
figura como fator preponderante, para o segundo fica evidente a preocupação e interesse
por retornos pecuniários. Isto não, necessariamente, acontece apenas com a provisão de
royalties para os pesquisadores, mas principalmente, traduz-se nos sistemas de avaliação
de desempenho individual e progressões de cargo. Não por acaso, na instituição que se
demonstra melhor sucedida quanto à transferência de tecnologias e formação de parcerias,
a EMBRAPA, a produção tecnológica direcionada às demandas de mercado (ainda que não
formalizadas) é incorporada como critério para promoções.
Ainda na análise sobre capacidade de apreensão, é esperado que a falta de critérios
formais para as escolhas mercadológicas e tecnológicas comprometa a definição de
requisitos que de algum modo também avaliem a efetividade das parcerias. Assim como no
primeiro grupo entrevistado, isso se agrava pela subjetividade e extenso prazo necessário
para retorno dos resultados. Além disso, se percebe a crise ideológica quanto ao papel que
instituições de pesquisa, sobretudo as universidades, deveriam desempenhar em relação ao
seu entorno. Neste caso, as diferenças no perfil dos gestores influenciam expressivamente a
opinião sobre as métricas mais apropriadas, ora mais financeiras e mercadológicas, ora
mais ligadas à tradicional função social dessas instituições.
A análise sobre a capacidade de gerenciar ameaças e se reconfigurar reflete todas as
lacunas supracitadas. Diante das dificuldades de identificar oportunidades, interna e
externamente, e assim fazer escolhas mais assertivas, não é possível direcionar essas
escolhas para que conduzam as instituições a uma posição mais eficaz para o território.
Novamente, a visão pessoal dos gestores entrevistados emerge, quando creditam, em
diferentes graus, à sua atuação a incumbência de direcionar os esforços de P&D internos. É
percebido o quanto predomina a resistência dos pesquisadores às mudanças de trajetórias,
284
quer seja pelas questões culturais já mencionadas, quer seja pelas dificuldades vivenciadas
pelos NIT para atendê-los e orientá-los. Ainda é controverso nas instituições, a quem
melhor cabe o papel de prospectar demandas e adequar as tecnologias ao mercado, ora
recaindo no NIT, ora no pesquisador. No que concerne às questões de reconfiguração, a
distância física dos NIT para alguns campi compromete a percepção acerca das mudanças
de ambiente e autonomia de atuação. Embora, em parte, as soluções careçam de
investimento em estrutura, o tempo é apontado como essencial para que cada vez mais
pesquisadores percebam as vantagens de se produzir em acordo com as necessidades
explícitas do meio.
Por fim, a análise das capacidades cognitivas buscou compreender a visão na base
do sistema, os pesquisadores, reais produtores do conhecimento. Dentre as principais
conclusões, nesse sentido, destacam-se o maior peso da trajetória acadêmica e das
preferências pessoais desses profissionais sobre suas decisões de pesquisa, em relação às
influências do mercado e da sociedade, embora o tempo de atuação o suavize. Isto pode
indicar que o próprio ambiente acadêmico, nomeadamente as relações que se estabelecem
internamente, consegue causar algum direcionamento comum, mais até que as demandas
externas, ainda que a compreensão das mesmas por estes pesquisadores seja aderente à
realidade apontada na Seção 3.
Em diversas respostas é notório que os pesquisadores sentem falta de um canal
efetivo de ligação entre a academia e o mercado, o que põe em cheque a atuação defendida
pelos entrevistados dos dois primeiros grupos e pode ser apontada como causa raiz para as
demais conclusões que se seguem. Os respondentes também sinalizam o desinteresse pelo
empresariado local pelo que é produzido pelas instituições (assim como defendido nas
entrevistas, embora em parte possa ocorrer pela falta de acesso estruturado a esses ativos).
Observam ainda, em geral, que suas instituições são pouco eficazes em atender as
necessidades regionais percebidas. Contraditoriamente, aqueles que atuam nas áreas que
mais produzem científica e tecnicamente são os que mais enfrentam dificuldades de
difusão, mas são ainda os que melhor conseguem transferir seus ativos. Confirma-se o
baixo interesse acerca da apropriação desses ativos (o que pode endossar o pouco
esclarecimento sobre suas vantagens).
As poucas transferências que ocorrem são feitas ao nível local ou para fora de
Minas Gerais, salientando a baixa contribuição para o estado. Já as parcerias de P&D
ocorrem com mais frequência com outras instituições, em parte pelo desconhecimento do
que é realizado internamente, em parte pelas relações prévias procedentes da trajetória do
285
NIT e diretorias de inovação das instituições, bem como das de intermediação, fomento e
apoio. Porém, como e porque ocorrem ainda é pouco investigado. Isto porque todas as
iniciativas formais de integração e colaboração possuem em comum a exclusão da figura
do pesquisador. Concomitantemente, nos casos pontuais percebidos como bem sucedidos,
ou seja, nas relações que geram resultados econômicos para o próprio território, sua
atuação como real articulador dos demais atores do sistema é notável. E, como também
identificado pelos questionários, obedecem ao curso de uma longa trajetória de trabalho
pouco ou nada abalada pelas mudanças de gestão e conflitos de interesse nas estâncias
superiores, sendo influenciadas pelas relações que estes estabelecem com o meio
informalmente, de forma proativa.
É importante salientar que essa solução pode prover a estratégia comum tão
defendida pelos entrevistados, além de mais aderente à realidade. Ela garantiria a sua
continuidade, mas não resolveria os entraves estruturais como escassez de recursos
humanos e falhas de comunicação dentro e entre as instituições, também apontadas nessa
discussão, mas não exclusivas à promoção da inovação. Também traz à luz a necessidade
de reflexão sobre o papel planejado versus desempenhado pelos NIT e por outras
instituições nesse contexto. Os Núcleos, passando a funcionar também como porta-vozes
dos pesquisadores, em todos os sentidos, podem mais facilmente se posicionar nas redes
externas e melhor concentrar suas demandas, e assim ajudar na consolidação da vocação
econômica do território junto aos outros atores do sistema, bem como perante a
administração central do estado. A validação dessas novas hipóteses carece de investigação
que foge do escopo temporal dessa pesquisa, mas que revelam questões oportunas para
trabalhos futuros.
287
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ANEXO I
Roteiro de Entrevista – Capacidades Estatais
4. Qual o papel e participação das universidades federais e estaduais, bem como dos
institutos federais e de pesquisa, nessa etapa (se possível, apontar alguns exemplos de
parceria)?
5. Quais são os mecanismos de incentivo, coerção e conscientização direcionados aos
atores citados nessa etapa (formulação de alternativas)?
6. Como são definidas e desenhadas as estruturas de cooperação e alinhamento de
interesses entre as indústrias tradicionais, de alto conteúdo tecnológico e produtores de
conhecimento?
7. A quem é atribuído o papel de ligar essas entidades, prospectar novas oportunidades e
conhecimento e gerenciar seu uso na formulação e implementação dessas soluções?
3ª etapa: Implementação
1. Como é gerenciado o reflexo das mudanças nas agendas e diretrizes dos atores
envolvidos nas políticas e programas em implantação atualmente (Por exemplo: mudanças
econômicas e de mercado impactando setores industriais específicos, novo marco legal de
C&T para as universidades, crise política, etc...)?
2. Quais os principais obstáculos verificados na implementação de suas diretrizes
estratégicas, políticas e programas (de nível local e desdobramentos dos de nível estadual e
nacional)? (Por exemplo: conflitos de interesse, custos excessivos, enrijecimento de
setores, falta de massa crítica...)
3. De que maneiras tais obstáculos são/ poderiam ser solucionados (mecanismos de
resolução de conflitos, sistemas de recompensas, estrutura de incentivos, etc)?
4. Quais e como os seguintes instrumentos são empregados nas políticas e programas em
implantação atualmente (não é necessário aplicar em cada programa/política, é suficiente
exemplificar como esses instrumentos são explorados na implementação, em complemento
a questão anterior): regulamentações, desregulamentações e legalizações; instrumentos de
punição; instrumentos fiscais e subsídios; prestação de serviços públicos; divulgação de
informações, campanhas de mobilização; seguros governamentais, transferência de renda
(a exemplo de microcréditos), discriminação seletiva positiva (a exemplo do favorecimento
de setores industriais estratégicos); prêmios e concursos; certificados e selos.
5. Quais foram os principais parceiros externos da instituição nos dois últimos anos
(instituições de ensino e pesquisa, outras instituições, empresas públicas ou privadas, por
exemplo). Quais foram os objetivos e resultados dessas parcerias?
4ª etapa: Avaliação e monitoramento
1. Quais os critérios, indicadores e padrões (absolutos, históricos e normativos)
empregados para avaliação das políticas? Como estes, em específico, são analisados:
economicidade (nível de utilização dos recursos), produtividade (nível de saídas do
processo), eficiência econômica (relação dos dois primeiros), eficiência administrativa
(conformação da execução com os métodos estabelecidos), equidade (distribuição dos
benefícios).
2. Quais os meios empregados para a divulgação dos critérios e dos indicadores para as
partes interessadas?
306
ANEXO II
Roteiro de Entrevista – Capacidades Dinâmicas
Nome da instituição:
Nome do Entrevistado:
Cargo:
2. Há quanto tempo o setor atua com essa estrutura? (Levantar histórico de reestruturações).
6. Se sim, quem são os responsáveis pela sua elaboração e revisão? (Solicitar acesso ao
documento e entrevistar envolvidos).
2. Como são realizadas as escolhas tecnológicas (o que deve ser pesquisado e desenvolvido)?
7. Como a Política de Inovação e/ou Diretrizes são desdobradas ao longo de toda a cadeia de
valor (criação e produção do conhecimento/tecnologia, combinações internas e externas, difusão e
comercialização).
10. Como a estrutura institucional e quais os mecanismos de incentivo são empregados para
promover a co-especialização e complementaridades (entre pesquisadores internos e entre
pesquisadores e atores externos).
12. Quais critérios são empregados para avaliar a efetividade dessas parcerias? E da qualidade
do conhecimento/ tecnologias produzidos?
ANEXO III
Questionário – Capacidades Cognitivas
1. Nome da instituição
2. Nome do pesquisador
3. Departamento
4. Área de pesquisa
Matemática
Probabilidade e Estatística
Ciência da Computação
Astronomia
Física
Química
Geociências
Oceanografia
Biologia Geral
Genética
Botânica
Zoologia
Morfologia
Fisiologia
Bioquímica
Biofísica
Farmacologia
Imunologia
Microbiologia
Parasitologia
Ecologia
Engenharia Civil
Engenharia Sanitária
Engenharia de Transportes
Engenharia de Minas
Engenharia de Materiais e Metalúrgica
Engenharia Química
Engenharia Nuclear
Engenharia Mecânica
Engenharia de Produção
Engenharia Naval e Oceânica
Engenharia Aeroespacial
Engenharia Elétrica
Engenharia Biomédica
Medicina
Nutrição
Odontologia
310
Farmácia
Enfermagem
Saúde Coletiva
Educação Física
Fonoaudiologia
Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Agronomia
Recursos Florestais e Engenharia Florestal
Engenharia Agrícola
Zootecnia
Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca
Medicina Veterinária
Ciência e Tecnologia de Alimentos
Materiais
Biotecnologia
Artes e Design/ Artes Visuais
Outro:
Até 3 anos
De 3 a 5 anos
De 5 a 10 anos
De 10 a 15 anos
De 15 a 20 anos
Mais de 20 anos
8. Caso tenha respondido um valor menor ou igual a 6, quais seriam as razões para baixa
representatividade na sua opinião? (selecionar até 2 opções)
Outro:
9. Quais foram as principais motivações para a escolha do tema/área de pesquisa das suas
últimas publicações? (selecionar até 3 opções)
Direito Autoral
Patente
Marca
Desenho Industrial
Topografia de circuito integrado
Não possuo
Outro:
13. Se possui algum dos ativos mencionados na questão anterior, selecione a forma como a
313
titularidade dos mesmos foi distribuída (é possível selecionar mais de uma opção, caso
tenha ocorrido de maneiras diferentes em cada registro/depósito).
15. Quanto as que foram transferidas, qual a localização da maioria das empresas que as
adquiriram?
21. Em uma escala de 0 a 10, como você classifica o seu conhecimento sobre o que é
produzido (científica e tecnologicamente) na sua área ou em áreas afins pelos demais
pesquisadores da sua instituição?
(0) Pouco a (10) Muito
22. Quais os meios você mais utiliza para acessar novas informações/conhecimentos na sua
área e em áreas afins dentro da instituição? (selecionar até 3 opções)
Busco por publicações científicas de pesquisadores da instituição
Busco por publicações tecnológicas (depósitos de patentes, registros de softwares,
por exemplo) de pesquisadores da instituição
Por meio de outras mídias, a exemplo do site ou plataformas de conhecimento
internos
315
23. Quais os meios você mais utiliza para acessar novas informações/conhecimento na sua
área fora da instituição? (selecionar até 3 opções)
24. Quais instrumentos você mais utiliza para identificar potenciais parceiros de pesquisa
e/ou desenvolvimento de tecnologias dentro da sua instituição? (selecionar até 3 opções)
Participação em eventos internos na minha área e em áreas afins
Reuniões formais no meu departamento (com essa finalidade)
Reuniões formais fora do meu departamento (com essa finalidade)
Reuniões informais no meu departamento
Reuniões informais fora do meu departamento
Acesso e sou acessado pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (ou unidade ligada à
inovação) da instituição
Prospecto e contacto pesquisadores internos sozinho
Não faço parcerias de P&D com pesquisadores do mesmo departamento atualmente.
Não faço parcerias de P&D com pesquisadores de outros departamentos da
instituição atualmente.
Outro:
316
25. Você realizou, nos últimos cinco anos, parcerias de pesquisa e/ou desenvolvimento
com pesquisadores de outras instituições de ensino e pesquisa?
Sim
Não
26. Se a resposta da questão anterior for positiva, seus principais parceiros atuam em que
instituições?
27. Quais instrumentos você mais utiliza para identificar potenciais parceiros de pesquisa
e/ou desenvolvimento de tecnologias em instituições de ensino e pesquisa externas?
(selecionar até 3 opções)
Participação em eventos externos na minha área e em áreas afins
Reuniões organizadas pelas instituições com essa finalidade
Reuniões organizadas pelas instituições sem essa finalidade
Acesso e sou acessado pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (ou unidade ligada à
inovação) da minha instituição ou da instituição parceira
Acesso e sou acessado por outras instituições que promovem essa intermediação
Prospecto e contacto pesquisadores externos sozinho
Outro:
28. Caso tenha selecionado a resposta "Acesso e sou acessado por outras instituições que
promovem essa intermediação". Quais seriam essas instituições?
30. Nos últimos cinco anos, realizou alguma parceria de pesquisa e/ou desenvolvimento
com empresas?
Sim, principalmente com empresas situadas no território da Zona da Mata
Sim, principalmente com empresas situadas do Estado de Minas Gerais, com exceção
do território da Zona da Mata
Sim, principalmente com empresas nacionais, com exceção das situadas no estado de
Minas Gerais
Sim, principalmente com empresas estrangeiras
Não
31. Se a resposta da questão anterior for positiva, como se caracterizam essas parcerias?
Marque todas que se aplicam.
Desenvolvimento e melhoria conjuntos de produtos/ processos
Transferência de tecnologia protegida pela instituição (patente, desenho industrial,
direito autoral) por meio de cessão ou licenciamento
Transferência de tecnologia não protegida pela instituição por meio de contrato
Consultoria
Assistência técnica
Treinamentos
Aluguel de laboratórios
Outro:
33. Caso tenha respondido "Por intermédio de outras instituições, com exceção das de
ensino e pesquisa parceiras", quais são elas?
34. Mencione o nome das três empresas parceiras mais recentes, caso houver. (sinalizar
quando uma delas for um spin off acadêmico de sua propriedade)
35. Como, na maior parte do casos, são resolvidas as questões relacionadas à propriedade
intelectual nas parcerias realizadas com outras instituições de pesquisa?
Todo o processo de apropriação é conduzido pelo Núcleo de Inovação Tecnológica/
Diretoria de Inovação da instituição em que trabalho
Todo o processo de apropriação é conduzido pelo Núcleo de Inovação Tecnológica/
Diretoria de Inovação das instituições parceiras
Todo o processo de apropriação é conduzido conjuntamente pelo Núcleo de Inovação
Tecnológica/ Diretoria de Inovação de todas as instituições envolvidas
O processo de apropriação é conduzido por mim com o apoio do Núcleo de Inovação
Tecnológica/ Diretoria de Inovação da instituição em que trabalho
O processo de apropriação é conduzido por mim sem o apoio do Núcleo de Inovação
Tecnológica/ Diretoria de Inovação da instituição em que trabalho
O processo de apropriação é conduzido por mim com o apoio de instituições externas
Não me aproprio formalmente do conhecimento/ tecnologia produzidos
Outro:
36. Caso tenha selecionada a alternativa "O processo de apropriação é conduzido por mim
com o apoio de instituições externas", quais são elas?
37. Como, na maior parte do casos, são resolvidas as questões relacionadas à propriedade
intelectual nas parcerias realizadas com empresas?
Todo o processo de apropriação é conduzido pelo Núcleo de Inovação Tecnológica/
Diretoria de Inovação da instituição em que trabalho
Todo o processo de apropriação é conduzido pela empresa parceira
Todo o processo de apropriação é conduzido conjuntamente pelo Núcleo de Inovação
Tecnológica/ Diretoria de Inovação da instituição em que trabalho e a empresa
O processo de apropriação é conduzido pelos pesquisadores envolvidos com o apoio
do Núcleo de Inovação Tecnológica/ Diretoria de Inovação da instituição em que
trabalho
O processo de apropriação é conduzido pelos pesquisadores envolvidos sem o apoio
do Núcleo de Inovação Tecnológica/ Diretoria de Inovação da instituição em que
trabalho
O processo de apropriação é conduzido pelos pesquisadores envolvidos com o apoio
de instituições externas
319
38. Caso tenha selecionada a alternativa "O processo de apropriação é conduzido por mim
com o apoio de instituições externas", quais são elas?
39. Quais os mecanismos de incentivo, na sua opinião, são mais apropriados para estimular
o pesquisador a desenvolver e transferir tecnologias em conjunto e para o mercado local?
Retorno financeiro pessoal
Reconhecimento por parte da instituição
Reconhecimento por parte da comunidade científica
Reconhecimento por parte das empresas e demais entidades da região
Acesso facilitado a fomento para novas pesquisas e infraestrutura
Maior peso nos critérios de avaliação de desempenho internos e progressões de cargo
Outro:
41. Quais critérios você utiliza para avaliar a efetividade das suas parcerias e qualidade do
conhecimento produzido? (selecionar até 3 opções)
Recorrência das parcerias
Rentabilidade para as empresas
Rentabilidade para as instituições de ensino e pesquisa envolvidas
Impacto social/ambiental na região
Aumento da produção científica das instituições envolvidas
Aumento da produção tecnológica das instituições envolvidas
Aumento da visibilidade e melhoria na reputação dos pesquisadores e instituições
envolvidas
Não avalio a efetividade das parcerias após o encerramento dos projetos
Não realizo parcerias com instituições ou empresas
Outro: