You are on page 1of 100
CAPITULO 1 Roteiro de avaliagao psicolégica Andria Barbosa 6 Lia aplicada ao hospital geral cro Ricardo Werner Sebastiani Maria Liicia Hares Fongaro Introducgao O presente capitulo foi elaborado em fungao de dois aspectos. O primei- ro, pautado no nome do presente livro “E a Psicologia Entrou no Hospital”, onde propomos, para os colegas que atuam em hospitais gerais, um roteiro de exame e avaliagio psicoldgica do paciente internado, que seja mais adequado Arealidade da Psicologia Hospitalar e que possa facilitar o dia a dia corrido das enfermarias. O segundo aspecto vem de solicitagdes de intimeros colegas que ministram cursos ou supervisionam estagios na rea de Psicologia Hospitalar, onde, apés 0 contato com o material que apresentaremos adiante, nos pediram que transforméssemos os médulos que ministramos em cursos de especializagao sobre o tema, em uma publicagio. Assim, iniciamos 0 trabalho procurando abordar o primeiro de uma série de roteiros de avaliagio. 20 anos depois... Com estas palavras abriamos, em 1996, o capitulo de mesmo nome em um tempo em que a Psicologia Hospitalar sequer era reco- nhecida como especialidade no campo da Psicologia... Os anos se passaram, 0 livro se transformou numa espécie de “Best Sel- ler” da area, tendo sua edigio original 16 reedicées (!) Passado esse tempo, & para n6s autores, uma enorme satisfagio em poder retornar ao texto original e, revisitando-o, constatar tantas novas sementes que ele pode gerar! Conforme intencionavamos na edi¢io original, o roteiro se apresentava como uma proposta de organizagio dos registros e de auxilio a0 desenvolvimento do Raciocinio Clinico para os trabalhos de Avaliacio e Interven¢io do Psicélo- go no contexto hospitalar e, com o avango da especialidade, subareas foram " sendo desenvolvidas ¢ aprofundadas, contextos especificos de atuagio do Psi- célogo dentro do Hospital Geral se transformaram em novas especialidades: Psico-oncologia, Intensivismo, Cuidados Paliativos, Urgéncias ¢ Emergéncias, Geronto-psicologia... Cursos de Especializagio e linhas de programas de Mes. trado ¢ Doutorado comegaram a ser desenvolvidos. Muito se produziu e se produz no macro campo da especialidade “Psicologia Hospitalar”, ou como ia absorvemos: “Psicologia da Saiide”, pois nossas préticas que se iniciaram origi- hariamente nas enfermarias dos hospitais transcenderam a estes em atividades de Home Care, Programas de Satide da Familia, Ambulatérios Especializados, Programas Comunitirios principalmente no campo da Educacio, Promocio ¢ Prevengio da Satide e assim seguimos, pois as demandas s6cio-sanitarias de nossa popula¢ao nio param e, mais do que isso, se transformam, Retomar 0 Roteito de Avaliagio Original e poder incrementar novas contribuigdes € o objetivo desse capitulo. Aos colegas que o visitam pela primeira vee esperamos que continue sendo til, aos que jé 0 conhecem, esperamos po- der aprofiundar ¢ trazer algumas novas “Iuzes” proposta original do material. E por falar em roteiro... O material que apresentamos é fruto do trabalho de intimeros Psicélogos Hospitalares e da Satide que, a partir de um primeiro roteiro proposto, vém 20 longo de mais de vinte anos, auxiliando-nos no aprimoramento deste, contri buindo com sugestées, experimentando o roteiro na rotina didria dos Hospitais, Ambulatérios ¢ Unidades de Atencio & Saiide das mais diversas, contribuinde assim para que nosso instrumental de trabalho seja cada vez mais adequado e especifico para a realidade da especialidade da Psicologia Hospitalar/Satide, Durante muito tempo a Psicologia Hospitalar utilizou-se, ¢ ainda utiliza recursos técnicos e metodolégicos “emprestados“ das mais diversas 4reas do saber psicolégico, fato esse que de certa forma a enquadra numa pritica que nfo pertence $6 ao ramo da clinica, mas também da organizacional, da social, da educacional, enfim uma prética que nao obstante a seu viés aparentemente clinico dado a sta realidade acontecer nos hospitais, tem-se mostrado voltada 3s questées ligadas a qualidade de vida e dignidade de vida, onde o momentum em auc esses temas sfo abordados é 0 do aparecimento da doenga e da intervengio do psicélogo, seja no ambulatério, nas policlinicas, nos programas comunitérios de satide e mesmo na internago hospitalar, Resgatando a defini¢io de Matarazzo, um dos criadores da Health Psy- chology Division da American Society of Psychology (APA): 12 A psicologia no contexto da satide constitui-se como estratégia de atuagio da Psicologia: que agrega o conhecimento educacional, cienti- fico € profissional da disciplina Psicologia para utiliza-lo na promogio ¢ manutengio da satide, na prevengio e no tratamento da doenga, na identificagio da etiologia e no diagnéstico relacionado a satide, 4 doen- ga e as disfungdes, ¢ no aperfeigoamento do sistema politico de satide. (Matarazzo 1986) Esse fato, no entanto, nao deve nos distanciar da preocupacao de desenvol- vermos materiais que possam adequar mais e melhor nosso trabalho a dindmica da atuagio do psicdlogo no contexto de Atengio Interdisciplinar 4 Satide, e € esse sentido que desenvolvemos ¢ agora ampliamos em seus referenciais técnicos € tedricos 0 Roteiro de Avaliagio Psicolégica de maneira a que esse traga dados do paciente de forma objetiva ao psicélogo ¢ a equipe de satide, auxiliando na compreensio da relagio deste paciente com o binémio satide-enfermidade. As principais fungdes do Roteiro de Avaliagao Psicolégica que ora apre- sentamos sio as seguintes: 1. Fungio Diagnéstica: Possibilita 0 levantamento de Hipétese Diag- néstica e Definigao de Diagnéstico Diferencial, quando necessirio, auxiliando assim a determinagio das causas ¢ a dinAmica das alteragdes e/ou distiirbios da estrutura psicoldgica do paciente avaliado, facilitando inclusive a detec¢io de quadros reativos ou patologicos que, como sabemos, dependendo de sua génese vio determinar condutas totalmente diferentes por parte da equipe. & sempre importante salientar que quando falamos em “Diagnéstico Psicolégico no Contexto Hospitalar” raramente estamos nos referindo a Trans- tornos Clissicos clasificados no campo da psicopatologia, na verdade, menos de 5% dos pacientes internados em hospitais gerais ou de especialidades portam estes Transtornos, falamos de reagSes emocionais e/ou psiquicas determinadas pelo trinémio doenga-interna¢io-tratamento. Portanto quadros predominante- mente reativos a uma situa¢io inesperada, ndo desejada, eventualmente extrema que ira desencadear uma série de manifestagdes nessa pessoa. 2. Fungiio de Orientador de Foco: Favorece a eleigéo do(s) foco(s) a ser(em) trabalhado(s) junto ao paciente. Gostarfamos de salientar, sobre esse aspecto, que nosso trabalho junto a pessoa que atendemos deve considerar que © momento vivido por esse quase sempre ¢ permeado por uma situacao de crise, 0 que nos obriga, somando-se o fato de que o periodo de internagio ou que as condigdes de atengdo ao paciente em regimes ambulatoriais via de regra é curto, a utilizarmos uma abordagem breve(1) com, prioridade para os focos mais importantes do momento histérico da pessoa.” 13

You might also like