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Introdução
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Trabalho apresentado no GT História da Publicidade e da Comunicação Institucional do XI Encontro Nacional de
História da Mídia (ALCAR 2017), de 08 a 10 de Junho na Universidade Presbiteriana MACKENZIE, em São Paulo
(SP).
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Doutor em Comunicação Midiática pela UNESP ( Bauru/SP); e-mail: betodel@terra.com.br
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Trabalho de DEL CARRATORE e MUNEIRO (2016) apresentado no VII Pró-Pesq PP – Encontro de
Pesquisadores em Publicidade e Propaganda. De 18 a 20/05/2016. PUC-Rio
que resultaram na ampliação do mercado de consumo e, por conseguinte, dos
investimentos em publicidade.
Temos, assim, nos anos precedentes ao período de que trata esse artigo, o retrato
de um contexto favorável à atividade publicitária que é – ao mesmo tempo – causa e
consequência da expansão do consumo de bens e serviços. É causa no momento em que
promove produtos, serviços, marcas e conceitos, conferindo visibilidade aos mesmos,
de modo a colaborar e impulsionar os resultados de vendas. É consequência na medida
em que, para ser realizada, necessita de recursos financeiros advindos dos lucros
auferidos pelas organizações em situação econômica minimamente satisfatória.
Chegamos, assim, em 2011 numa situação econômica relativamente favorável,
reforçada pelo aumento da classe C (rendimentos mensais entre R$ 1.115 e R$ 4.807)
que, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), já detinha o volume maior de
recursos da população brasileira, com 46% da renda das pessoas físicas em
contraposição aos 44% retidos pelas classes A e B.
Conforme as palavras de Quadros (2013, p. 3), “é nesse contexto que uma parte
significativa da população brasileira, antes alijada do mercado de consumo (Classes
D/E), vai se configurar rapidamente em uma nova classe média emergente e desejosa de
produtos e serviços antes fora de seu alcance”.
Não se demorou muito para que anunciantes e agências buscassem atingir essas
camadas da população – agora como potenciais consumidores – com estratégias e ações
específicas de comunicação e com a ampliação dos investimentos no diversos meios e
veículos. Tal fato pode ser confirmado nesse trecho da matéria publicada no jornal Meio
& Mensagem, em 01 de Fevereiro de 2011: “os rankings oficiais relativos ao
investimento publicitário na mídia brasileira em 2010 devem ser divulgados pelo Ibope
Monitor nos próximos dias. O avanço médio do mercado de 19% é um ótimo resultado,
que supera os crescimentos registrados nos anos anteriores: 7% em 2009 e 12% em
2008”.4
Ainda nesse mesmo ano, matéria publicada no site Consumo e Propaganda
também confirma a boa fase da economia refletindo nos investimentos publicitários no
país:
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Matéria escrita por PENTEADO, Cláudia publicada no site Consumo e Propaganda, em 30 de Maio de 2011.
Disponível em: http://consumoepropaganda.ig.com.br/index.php/2011/05/30/casas-bahia-e-o-maior-anunciante-do-
pais/ >. Acesso em 19.04.2016.
Já a escolha do período para a análise, isto é, entre os anos de 2011 e 2016 se
deve, em primeiro lugar, pela atualidade das informações necessárias ao estudo de caso
do tipo exploratório, haja vista que os dados analisados são os mais recentes disponíveis
e, em segundo, porque preenche um período específico da história que abrange o início
de duas diferentes gestões presidenciais: o governo de Dilma Rousseff (em Janeiro de
2011) e o governo de Michel Temer (em Maio de 2016). Sobre esse aspecto, a
propósito, é importante esclarecer que o ano de 2016, apesar de já encerrado, só consta
nas análises até o primeiro semestre (Janeiro a Junho) pelo fato de que, até o momento
da finalização do artigo, os valores dos investimentos em publicidade aferidos pela
Kantar IBOPE Media (Monitor Evolution) no segundo semestre ainda não haviam sido
consolidados nem publicados.
Ainda a respeito do corpus, descrevemos na sequência, de forma sintética, as
duas empresas analisadas, destacando que a escolha das mesmas, para fins
metodológicos, deve-se ao fato de serem as estatais com maior nível de investimentos
em mídia no período de que trata o estudo, isto é, nos últimos seis anos.
Estatal líder nos investimentos publicitários, a Caixa Econômica Federal (CEF) é
uma estatal pertencente ao Governo Federal brasileiro. A Caixa, como é mais
popularmente conhecida, é uma instituição financeira sob a forma de empresa pública
do Governo Federal brasileiro, com patrimônio próprio e autonomia administrativa com
sede em Brasília (DF) e com filiais em todo o território nacional. É uma pessoa jurídica
autônoma, vinculada ao Ministério da Fazenda. Integra o Sistema financeiro nacional,
auxiliando na política de crédito do Governo Federal, submetendo-se às suas decisões e
à disciplina normativa ao Ministro da Fazenda, e à fiscalização do Banco Central do
Brasil. Conta em caráter excepcional com serviços bancários autorizados pelo Conselho
Monetário Nacional (CMN). Suas contas e operações estão sujeitas a exame e a
julgamento do Tribunal de Contas da União (TCU).
A Petrobrás, por sua vez, é uma empresa sociedade anônima de capital aberto,
cuja acionista majoritária é a União, isto é, o Governo Federal brasileiro. É, portanto,
uma estatal brasileira de economia mista que atua como uma empresa integrada de
energia nos seguintes setores: exploração e produção, refino, comercialização,
transporte, petroquímica, distribuição de derivados, gás natural, energia elétrica, gás-
química e biocombustíveis.
Como empresas públicas, ambas são regidas por uma série de leis que norteiam
suas atividades, além de decretos, portarias e instruções normativas relativas aos
serviços que prestam e áreas em que atuam, mas que fogem ao escopo deste artigo e,
por isso, não abordaremos em detalhes.
Como proposta metodológica tem-se, conforme Gil (2008), o estudo
exploratório quanto aos objetivos, combinado com a pesquisa documental quanto aos
procedimentos técnicos e o estudo de caso múltiplo como estratégia de abordagem, cuja
finalidade é a de contribuir para esclarecer uma situação na qual as informações são
escassas.
De acordo com Yin (2005), o estudo de caso é dito exploratório quando ajuda na
apreciação dos fatos relacionados com a implantação de ações e/ou programas num
contexto real e atual, fornecendo informações-chave para o estabelecimento de questões
de avaliação e dos métodos de investigação que poderão ser utilizados em investigações
subsequentes. Disso decorre, portanto, que o estudo de caso exploratório não é
projetado para fornecer conclusões, mas apenas para preparar o fundamento das mesmas
ou, nos termos do próprio Yin (2005), a construção de uma cadeia de evidências, que é
o escopo de nosso artigo no contexto dos investimentos em publicidade.
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Os números da Kantar IBOPE Monitor consideram oito meios: TV aberta (41 mercados), revista, jornal, rádio,
outdoor, TV por assinatura, cinema e internet. Os rankings não levam em conta os descontos normalmente
negociados entre as partes, computando os valores expressos nas tabelas dos veículos. O instituto tem por critério
valorar todo e qualquer espaço ocupado, seja ele gratuito ou não. Embora os valores possam não ser exatos (devido
aos descontos efetuados), eles também podem ser ainda maiores por não abranger todas as praças de veiculação em
nível nacional. Além de ser uma referência para o mercado publicitário, é a proporção dos valores em termos de
variação percentual que mais interessa para esse estudo.
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Os dados relativos ao ano de 2016 referem-se apenas ao 1º semestre (Janeiro a Junho), pois até a data de finalização
do artigo ainda não haviam sido consolidados os dados do 2º semestre. A variação percentual, portanto, refere-se
também em relação ao primeiro semestre de 2015, cujo montante investido foi de R$ 933.948.000.
De acordo com os dados da Tabela 1, observa-se que houve um aumento de
quase 1,2 bilhão de reais nos investimentos da estatal no período entre 2011 e 2014,
equivalente a um aumento 109,7%, seguida de decréscimos nos anos de 2015 e 2016.
Em termos de variação, os anos de 2012 e de 2014 foram os que tiveram
percentuais mais acentuados, com 54,0% e 36,9%, respectivamente.
Na sequência, apresentamos a Tabela 2 que compara essas variações percentuais
com alguns importantes indicadores econômicos e também com o aumento nominal dos
custos em mídia no referido período em questão.
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O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) é uma das versões do Índice Geral de Preços (IGP). É medido pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV) e registra a inflação de preços desde matérias-primas agrícolas e industriais até bens
e serviços finais.
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O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) é medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) desde setembro de 1979. Ele é obtido a partir dos Índices de Preços ao Consumidor regionais e tem como
objetivo oferecer a variação dos preços no mercado varejista, mostrando, assim, o aumento do custo de vida da
população.
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O dado relativo à variação no investimento da CEF refere-se apenas ao 1º semestre (Janeiro a Junho de 2016), pois
até a data de finalização do artigo ainda não haviam sido consolidados os dados do 2º semestre tampouco os dados
relativos aos demais indicadores (custos de mídia; IGP-M; INPC e US$).
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Publicação anual do Grupo de Mídia de São Paulo e Índices Inflacionários da Revista Suma Econômica -
Consultoria e Publicações. Disponível em < http://gm.org.br/midia-dados >. Acesso em 15.04.2016.
Quanto aos indicadores econômicos da Tabela 2, cumpre-nos ressaltar que as
variações percentuais do IGP-M, do INPC e do dólar são relativas ao aumento nominal
dos custos de mídia. Assim, os percentuais de aumento dos custos de mídia nos anos
2011, 2012 e 2014 foram superiores aos índices de inflação, aqui representados pelos
IGP-M e INPC, sendo também superior ao dólar nesses mesmos anos. Já nos anos de
2013, 2015 e 2016 (até o primeiro semestre), houve retração nos investimentos em
publicidade da Caixa.
Deixando um pouco de lado os indicadores econômicos nacionais mais amplos,
a Tabela 3 adentra na questão da situação financeira da própria Caixa, apresentando os
resultados de lucro líquido consolidado no exercício:
Caixa Econômica Federal (CEF) 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Lucro Líquido consolidado no 5,1 6,1 6,7 7,0 7,1 4,1
exercício (em R$ bilhões)
Variação em relação ao ano 37,7% 17,0% 9,8% 5,5% 0,9% - (41,8%)
anterior
Fonte: Autor (2017) com base nos dados dos Demonstrativos Financeiros da Caixa.12
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Matéria intitulada “Investimento da Petrobras em 2016 será de US$ 20 bilhões, diz Parente”, Agência ESTADO,
postada em 02/06/2016 às 12h10. Disponível em <
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2016/06/02/internas_economia,534606/investimento-da-
petrobras-em-2016-sera-de-us-20-bilhoes-diz-parente.shtml > Acesso em 01.04.2017, 23h03.
como refinarias, que não apresentaram o retorno esperado, o que fez com que a dívida
‘explodisse’.
Abaixo, a Tabela 5 compara essas variações percentuais com os principais
indicadores econômicos e também com o aumento nominal dos custos em mídia no
período em questão.
De acordo com a Tabela 5, vê-se que o aumento dos custos em mídia tem
praticamente o mesmo percentual ano após ano. Da mesma forma que observado nos
investimentos da Caixa, os da Petrobrás também oscilam muito em relação a esse
critério. No ano de 2013, por exemplo, o percentual de aumento dos investimentos
publicitários em relação ao percentual do aumento de custos de mídia é quase quatro
vezes maior. Já nos anos seguintes (2014 e 2015), por exemplo, há uma redução no
volume de compra de mídia, de 2,4% e 4,1%, respectivamente.
Comparando-se com os indicadores econômicos da Tabela 5, cujas variações
percentuais são relativas ao aumento nominal dos custos em mídia, os investimentos em
mídia da estatal são ainda mais salientes, apresentando variações percentuais bem mais
elevadas, sobretudo nos anos de 2011, 2012 e 2013.
A Tabela 6 apresenta dados da situação financeira da Petrobrás no período,
demonstrando os resultados de lucro líquido consolidado no exercício:
Considerações Finais
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Disponível em: <http://www.investidorpetrobras.com.br/pt/resultados-financeiros#topo>. Acesso em
09.04.2017 às 15h54.
diferenciação: produtos, serviços e marcas muito semelhantes necessitam de maiores
investimentos para criarem a diferenciação competitiva.
Quanto aos métodos propriamente ditos, os autores nos apresentam os quatro
mais utilizados: 1) o Método da Disponibilidade de Recursos: o julgamento é feito com
base no quanto a empresa pode investir em publicidade. Como limitações, o teórico
afirma que tal método induz a um orçamento anual incerto, o que dificulta o
planejamento como um todo no longo prazo. Além disso, não considera os efeitos da
comunicação sobre os resultados (em geral, retornos em termos de vendas); 2) o
Método da Porcentagem sobre Vendas (atuais ou futuras): também se utiliza orçar um
percentual sobre o preço de venda do produto. Como vantagem, destacam que a
empresa investe somente o que pode investir, criando uma estabilidade competitiva,
pois os concorrentes tendem a fazer o mesmo. Contudo, a despeito dessa vantagem, o
método tem pouco que o justifique: ele vê, erroneamente, as vendas como causa da
publicidade, e não como resultado. O orçamento de publicidade, assim, é baseado na
disponibilidade de fundos, não em oportunidades de mercado, o que não proporciona
qualquer base para escolher um percentual específico, exceto aquilo que foi feito no
passado ou o que os concorrentes estão fazendo; 3) o Método da Paridade Competitiva:
que parte de estimativas do investimento da concorrência. É um método ‘inseguro’
porque não elimina as ‘disputas’ promocionais, além de que cada empresa tem
propósitos específicos no mercado e; 4) o Método do Objetivo-e-tarefa: é o mais lógico,
porém, o mais difícil. A sua definição deve ser balizada pelos objetivos específicos
determinados para a comunicação; pelas tarefas necessárias para se chegar aos
objetivos; pelas estimativas de custos dessas tarefas e ações. Esse método conduz a
empresa a expor suas expectativas sobre a relação entre a verba investida e resultados da
publicidade, ainda que genericamente.
Sant’anna, Rocha e Garcia (2008) comentam que as bases mais usuais são: 1)
Importância estabelecida: que é um valor arbitrado pela direção da empresa; 2)
Porcentagem fixa sobre o volume de vendas: calculada para o próximo exercício ou
realizada durante o exercício anterior; e 3) Porcentagem variável sobre o volume de
vendas: que também pode ser calculada para o próximo exercício ou realizada durante o
exercício anterior.
Tão importante quanto o método propriamente dito, os especialistas alertam que
a determinação da verba depende de fatores como: a) margem de lucro do produto ou
serviço; b) objetivos da campanha; c) natureza do produto ou serviço; d) classe social do
público a que se dirige a comunicação; e) tipo de empresa anunciante (suas políticas,
filosofia, missão etc.); f) posição e situação no mercado; g) esforços e atuação da
concorrência; h) estágio do produto ou serviço no ciclo de vida; dentre outros.
Nesse sentido, é inegável o entendimento de que a definição dos montantes de
verba publicitária das referidas estatais não se sustentam do ponto de vista dos critérios
técnicos, tampouco se justificam por meio dos fatores econômicos (situação financeira,
déficits e prejuízos acumulados, etc.), sobretudo no período entre 2011 a 2014. Ao
contrário, o que parece determinante nessas decisões é o ambiente ou clima político,
uma vez que os cortes nas verbas dessas estatais só vieram a ocorrer num momento de
crise institucional, deflagração de escândalos (novas etapas da Operação Lava-Jato),
denúncias e delações premiadas envolvendo grandes figuras do cenário político e
empresarial do país, abertura de processo de impeachment presidencial, alteração na Lei
Eleitoral e outras questões correlatas.
Não bastasse a complexidade dos fatores que envolvem a escolha do método
para a definição da verba publicitária, há que se considerar também os critérios técnicos
relativos ao planejamento de mídia, uma vez que dele depende, inclusive, a
determinação da verba de veiculação ou, como nos casos analisados, as oscilações
orçamentárias.
O planejamento de mídia determina a estratégia e a tática do trabalho de
veiculação de determinado plano de comunicação. É o estabelecimento de um caminho
criativo apoiado em informações objetivas e dados concretos com os objetivos de
marketing, de comunicação e de mídia, considerando também informações da
concorrência, o conceito da marca, a situação ambiental do mercado, o perfil do
público-alvo, o ciclo de vida e de compra do produto, a verba disponível, dentre outras
questões.
O principal objetivo do planejamento de mídia, segundo Tamanaha (2006) é que
ele seja capaz de levar a mensagem com eficiência e rentabilidade até o publico visado.
Na opinião de Barban, Cristol e Kopec, (2002, p.57) a chave para desenvolver um
planejamento de mídia é entender três palavras: objetivo, estratégia e tática. O objetivo
de mídia é, em essência, um descritivo da tarefa que a mídia deve executar na estratégia
geral de comunicação. Trata-se, em síntese, de um propósito de visibilidade. A
estratégia compreende os recursos determinados para se alcançar o objetivo e,
finalmente, a tática pode ser entendida como as atividades mais específicas e detalhadas
necessárias para que se implante a estratégia. Segundo eles, existem cinco componentes
básicos do planejamento de mídia: a) revisão em profundidade do negócio e do
mercado; b) exposição clara dos objetivos; c) definição dos mercados-alvo prioritários;
d) definição do mix de mídia e; e) considerações gerais sobre a programação.
Os casos analisados sugerem que os valores das verbas sobem e/ou descem à
revelia do planejamento de mídia e seus critérios técnicos básicos tais como: natureza
da mensagem (conteúdo); tipo de campanha; perfil do público de cada empresa e para
cada peça; níveis de impactos, GRP e TARP almejados; níveis de alcance e frequência
objetivados; critérios de penetração, afinidade e qualificação dos veículos; decisões de
timing (dimensão temporal e rodízio das peças veiculadas); dentre outros. Ao que
parece tratar-se de uma decisão de caráter mais político do que, propriamente,
mercadológico.
A partir do exposto e, considerando-se os dados analisados ao longo do artigo,
fica ainda mais nebulosa a tentativa de compreender os motivos que levaram ao
aumento dos investimentos publicitários das estatais entre 2011 e 2014, bem como à
redução dos orçamentos nos anos de 2015 e 2016, sobretudo pelo fato de que ambas não
atuam propriamente no cenário competitivo de mercado como as demais instituições,
partindo de um patamar bem mais favorável em termos de vantagem competitiva e
diferenciação, representadas, no caso, por seus produtos e serviços praticamente
exclusivos.
No caso da Caixa, nem mesmo a evolução do lucro líquido consolidado por
quatro exercícios consecutivos – considerada em seus relatórios administrativos como
um dos critérios de eficiência da gestão – atinge os percentuais de aumento relativo nos
investimentos em publicidade, quer sejam: 54,0% em 2012 e 36,9% em 2014.
A situação é ainda mais desafiadora no caso da Petrobrás, que não auferiu o
mesmo desempenho da Caixa, pois seus resultados de lucro líquido apresentam
decréscimo em praticamente todos os anos, à exceção de 2013, mas ainda assim os
montantes investidos em publicidade continuaram crescendo numa taxa relativamente
elevada: 20,0% em 2011; 26,0% em 2012 e 41,8% em 2013. E o mais intrigante: apesar
dos recordes históricos nos prejuízos da estatal em 2014 e 2015, as reduções
orçamentárias das verbas publicitárias foram praticamente nulas nesses períodos, o que
de fato só veio a ocorrer com maior intensidade em meados de 2016. Nesse ano, a
propósito, foi registrado um aumento15 de 65% no investimento publicitário global do
Governo Federal no primeiro semestre, em comparação a 2015, justamente no período
de transição entre os dois governos, sendo a que maior parte do desembolso foi feita um
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Fonte: Matéria de Tânia Monteiro (O Estado de São Paulo) publicada em 21 de Julho de 2016, às 05h00, no site do
ESTADÃO. Disponível em < http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,publicidade-do-governo-cresce-65-no-
semestre,10000064138 >. Acesso em 04.04.2017, às 07h02.
mês antes de a presidente Dilma Rousseff ser afastada do Palácio do Planalto pelo
Senado, no mês de Maio, e no mês posterior à posse do presidente Michel Temer.
Conforme proposto nos objetivos desse artigo e em função da própria
metodologia empregada, particularmente no que diz respeito à formação de uma cadeia
de evidências e não, propriamente, de uma conclusão acerca do assunto, não teríamos e
nem temos a pretensão de chegar a um denominador comum sobre os investimentos
publicitários das estatais analisadas.
Apesar disso, não seria exagerado questionarmos os métodos que
fundamentaram a determinação desses orçamentos e, principalmente, os motivos para o
incremento verificado nos investimentos nos últimos anos, bem como os cortes
efetuados mais recentemente. O que nos permite levar à reflexão sobre a tênue
diferença entre os termos ‘investir’ e ‘gastar’ com publicidade.
Referências
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de marketing. 9. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall do Brasil, 2008.
SISSORS, Jack Zanville; BUMBA, Lincoln. Planejamento de mídia. São Paulo : Nobel, 2001.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos / trad. Daniel Grassi. – 3. ed. – Porto
Alegre: Bookman, 2005.