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IESA

Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC

Revista do Instituto Cenecista


de Ensino Superior de Santo Ângelo

Saúde Integrada
REVISTA DA SAÚDE DO
INSTITUTO CENECISTA

ISSN: 1983-2230

VOL. 1, Nº 5, JANEIRO/JUNHO DE 2010


VOL. 1, Nº 6, JULHO/DEZEMBRO DE 2010

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IESA
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC
Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo – IESA

Diretor Presidente: Deputado Federal Alexandre José dos Santos


Diretor Vice-Presidente: Dr. Juarez de Magalhães Rigon
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Segundo Conselheiro Suplente: Maria da Guia Lima Cruz
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FICHA CATALOGRÁFICA

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Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo

DADOS INTERNACIONAIS DE CATAGOLOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

Saúde Integrada: revista da saúde/Instituto Cenecista de Santo


Ângelo. Vol.1, n.5 (jan./jun. 2010. Vol.1, n.6 (jul/dez. 2010) –
Uberaba: CNEC Edigraf, 2010.

Semestral
ISSN: 1983-2230

1. Biomedicina. 2. Fisioterapia. I. Instituto Cenecista de Santo


Ângelo.

CDU: 612

615.82

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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃ� O................................................................................................................................................... 7

RELAÇÃ� O DO ESTRESSE OXIDATIVO NA DOENÇA DIABÉ� TICA TIPO 2....................................... 9

Andressa Holsbach Berwanger


Matias Nunes Frizzo

ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DE PROTOCOLOS DE REABILITAÇÃ� O NO PÓ� S-


OPERATÓ� RIO DE ARTROPLASTIA TOTAL DE JOELHO........................................................................ 27

Vanessa Machado
Thais do Nascimento Gomes

TESTE DE PATERNIDADE:
UMA ANÁ� LISE DAS QUESTÕ� ES TÉ� CNICAS E LEGAIS ENVOLVIDAS NO EXAME....................... 39

Alice Kunzler
Emanuelle Kerber Viera Mallet

FISIOTERAPIA MANIPULATIVA NO TRATAMENTO DA CERVICALGIA......................................... 55

Marcelo Anderson Bracht


Armindo Holler

A RELAÇÃ� O DA EPIGENÉ� TICA NA GÊ� NESE TUMORAL....................................................................... 75

Günther de Menezes Sott


Matias Nunes Frizzo

O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉ� S DA ESTABILIZAÇÃ� O CENTRAL PÉ� LVICA...... 93

Juliane Pukall Bezerra Fontana


Thaís do Nascimento Gomes

A RELAÇÃ� O DO ESTRESSE OXIDATIVO COM A ATEROSCLEROSE.................................................. 103

Belisa Avila Rodrigues


Caroline Brandão Quines
Matias Nunes Frizzo

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OS BENEFÍ�CIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSE................... 123

Aline Fróes Tavares


Thais do Nascimento Gomes

PREVALÊ� NCIA DE ENTEROPARASITOSES NA POPULAÇÃ� O ATENDIDA EM PROJETO DE


EXTENSÃ� O DO CURSO SE BIOMEDICINA IESA – RS............................................................................. 135

Djonattan Patrick Sinhorini


Alexandre Novicki
Débora Pedroso

PREVAL� NCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO


ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO � NGELO -
RS, BRASIL.............................................................................................................................................................. 153

Katiúscia Aozani Munareto


Emanuelle Kerber Viera Mallet

POTENCIAL TOXICIDADE DO CARBONATO DE L�TIO......................................................................... 179

Letícia Aparecida Nascimento do Carmo


Juliana Foletto Fredo Roncato

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APRESENTAÇÃO

APRESENTAÇÃO
Apresentamos a Revista Saúde Integrada, uma publicação anu-
al, que integra os cursos de Biomedicina e Fisioterapia do Instituto
Cenecista de Santo Ângelo, que tem por missão disseminar estudos
e pesquisas realizadas na área de saúde.
Desta forma, é com satisfação que apresentemos os assuntos
abordados nesta edição da revista: a relação entre Diabetes Mellitus
tipo 2, suas complicações e o estresse oxidativo; análise comparativa
entre a aplicabilidade dos protocolos reabilitativos de pós-operatório
de artroplastia total de joelho osteoartrose; demonstrar como são
realizados os testes de paternidade em laboratórios clínicos; des-
crever a anatomia funcional da coluna cervical, o entendimento da
cervicalgia e a aplicação da terapia manipulativa; a relação existente
entre a epigenética e a gênese tumoral; mecanismos utilizados pela
estabilização central pélvica através da análise de seu funcionamen-
to; relação do estresse oxidativo com a aterosclerose; benefícios do
reforço muscular na gonartrose, através das respostas fisiológicas
dos recursos fisioterapêuticos empregados; verificar a prevalência
de hepatite B e C em pacientes atendidos no Pronto Atendimento de
Santo Ângelo; e por fim um estudo de caso sobre carbonato de lítio e
os danos que este medicamento  pode causar no organismo quando
utilizado por longo período e em doses altas.
Assim, esperamos que a leitura destes escritos possa propor-
cionar ao leitor, a elucidação de possíveis dúvidas, bem como gerar
ponderações e questionamentos.

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RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA DOENÇA DIABÉTICA TIPO 2

RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA


DOENÇA DIABÉTICA TIPO 2
RELATIONSHIP OF OXIDATIVE STRESS IN
DISEASE TYPE 2 DIABETIC

Andressa Holsbach Berwanger1


Matias Nunes Frizzo2

RESUMO
A Diabetes Mellitus caracteriza-se por anormalidades endócrinas e metabólicas. O objetivo deste trabalho é descrever a
relação entre diabetes, suas complicações e o estresse oxidativo. Foi realizada uma pesquisa em literatura especifica da
área, abrangendo uma extensa seleção de artigos. A Diabetes tipo 2 é uma deficiência parcial da secreção de insulina,
e suas complicações apresentam origem multifatorial, em que mecanismos bioquímicos e patológicos as associam à
hiperglicemia crônica e ao estresse oxidativo como principais desencadeadores. O estresse oxidativo é o desequilíbrio
entre os sistemas oxidantes e antioxidantes. Devido à capacidade de oxidar lipídios, proteínas e DNA, sabe-se que o
estresse oxidativo tem um papel fundamental nas complicações diabéticas. Há evidências que o aumento na formação
de radicais livres e a redução da capacidade de defesa antioxidante, pelo estado hiperglicêmico, estão envolvidos na
patogênese das complicações da diabetes. O mecanismo mais aceito para o desenvolvimento das complicações consiste
que o estado hiperglicêmico e o aumento dos ácidos graxos livres, resultem, na fisiopatologia inicial da diabetes,
ativando as EROs e ERNs através do dano macromolecular, levando à ativação de diversas vias celulares sensíveis ao
estresse oxidativo. O estresse oxidativo tem recebido cada vez mais importância, e o maior conhecimento sobre sua
gênese e seus efeitos faz com que haja uma associação com a etiologia de diversas doenças, que no passado não
possuíam fatores desencadeantes bem esclarecidos, auxiliando na busca por novos e mais eficazes tratamentos.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus tipo 2. Estresse Oxidativo. Complicações diabéticas.

ABSTRACT
Diabetes mellitus is characterized by metabolic and endocrine abnormalities.The objective is describe the relationship
between diabetes, their complications with the oxidative stress. Performed a literature search in specific area, covering
a wide selection of items. Diabetes type 2 is a partial deficiency of insulin secretion, and its complications appear to
be multifactorial, in which the pathological and biochemical mechanisms associated with chronic hyperglycemia and
oxidative stress as the main triggers. The oxidative stress is the imbalance between oxidant and antioxidant systems.
Because of the ability to oxidize lipids, proteins and DNA, it is known that oxidative stress plays a key role in diabetic
complications. There is evidence that increased formation of free radicals and reduced antioxidant defense capability,
because the hyperglycemic state, are involved in the pathogenesis of diabetic complications.  The most accepted
mechanism for the development of complications is that the state of hyperglycemia and increased free fatty acids,
resulting in the initial pathophysiology of diabetes, ROS and activating RNSs by macromolecular damage, leading to
activation of several cellular pathways sensitive to oxidative stress. Oxidative stress has received increasing importance
and greater knowledge about its genesis and its effect is such that there an association with the etiology of several
diseases in the past had no precipitating factors elucidated by assisting in the search for new and more effective
treatments.
Keywords: Diabetes mellitus type 2. Oxidative Stress. Diabetic complications.

1 Acadêmica Concluinte do Curso de Biomedicina, 2010. Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo. andy.berwanger@
uol.com.br
2 Mestre em Biologia Celular e Molecular (PUCRS); Professor do Curso de Biomedicina CNEC/IESA. mmfrizzo@hotmail.com

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ANDRESSA HOLSBACH BERWANGER - MATIAS NUNES FRIZZO

1. INTRODUÇÃO
O Diabetes Mellitus (DM), é conhecido como uma síndrome clí-
nica heterogênea, que se caracteriza por anormalidades endócrinas
e metabólicas. Disfunções das células β-pancreáticas e disfunções
quanto à resistência insulínica estão associadas ao desenvolvimen-
to do diabetes (WHO, 2009). Existem muitos tipos de Diabetes, as
mais comuns são a Diabetes tipo 1 e a Diabetes tipo 2. A diabetes
tipo 1 é o resultado de uma destruição das células beta da ilhota de
Langerhans do pâncreas. A Diabetes tipo 2 é uma deficiência parcial
da secreção de insulina, associado com a resistência insulínica (BE-
CKMAN et al., 2002; NORWOOD; INLANDER, 2000).
Os outros tipos de diabetes que podemos citar aqui são: diabe-
tes gestacional, diabetes relacionada a defeitos genéticos na função
das células β (MODY 1, 2, 3, 4, 5 e 6), defeitos genéticos na ação da
insulina, relacionada a doenças do pâncreas exócrino, relacionada a
endocrinopatias, induzido por medicamentos ou agentes químicos,
relacionada a infecções e diabetes relacionada a síndromes genéti-
cas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).
O diabetes está entre as cinco doenças que mais matam no mun-
do. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), na primeira
metade do século XXI, havia cerca de 171 milhões de pessoas com
diabetes no mundo, sendo que a organização prevê que, em 2030,
metade da população mundial possua a patologia (WHO, 2009).
Uma estimativa realizada nos Estados Unidos demonstrou que fo-
ram gastos US$132 bilhões de dólares com pacientes diabéticos,
durante um ano (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2007).
O DM e suas complicações apresentam origem multifatorial, me-
canismos bioquímicos e patológicos tem associado a hiperglicemia
crônica e o estresse oxidativo como os principais desencadeadores
das complicações diabéticas (REIS et al., 2008).
Dentre as principais complicações do diabetes relacionadas com
o estresse oxidativo e a hiperglicemia destacam-se, a níveis micro-
vasculares, como a retinopatia diabética, a nefropatia diabética e a
neuropatia diabética, e as complicações macrovasculares, que são
as disfunções endoteliais como doença isquêmica do coração, a do-
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RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA DOENÇA DIABÉTICA TIPO 2

ença arterial periférica e o pé diabético (RODRIGUES et al., 2005;


WAJCHENBERG, 2002).
O estresse oxidativo é uma condição biológica em que ocorre
um desequilíbrio entre a produção de Espécies Reativas de Oxigê-
nio (EROs) e a sua desintoxicação através de sistemas biológicos
que as removam ou reparem os danos por elas causados. Devido à
capacidade de oxidar diretamente lipídios, proteínas e DNA, sabe-se
que o estresse oxidativo tem um papel fundamental nas complica-
ções diabéticas (LOPES et al., 2008).
Todos os organismos vivos possuem um ambiente intracelular de
natureza redutora, existindo um equilíbrio entre as formas oxidada e
reduzida de moléculas como o NADH, equilíbrio esse mantido por
enzimas à custa de energia metabólica. Perturbações neste equilí-
brio podem provocar a produção de peróxidos e radicais livres que
danificam todos os componentes celulares, incluindo proteínas, lípi-
dios, entre outros (WAJCHENBERG, 2002).
O presente trabalho tem como objetivo avaliar a relação do es-
tresse oxidativo com o DM tipo 2, descrevendo as relações entre o
estado hiperglicêmico e as complicações do diabetes com o estado
de estresse oxidativo.

2. DIABETES MELLITUS
O DM é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas pela
hiperglicemia e associada a complicações, disfunções e insuficiência
de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, cora-
ção e vasos sangüíneos. Pode resultar de defeitos de secreção e/ou
ação da insulina envolvendo processos patogênicos específicos, por
exemplo, destruição das células beta do pâncreas (produtoras de
insulina), resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da
insulina, entre outros (BRASIL, 2006).
Existem dois tipos de diabetes, o tipo 1 e o tipo 2, com fisio-
patologias diferentes, porém com as mesmas complicações finais
(RESENDE, 2006). O DM tipo 1, presente em 5 a 10% dos casos,
é uma doença auto-imune, em que geralmente é resultado de uma
destruição das células beta da ilhota de Langerhans do pâncreas,
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ANDRESSA HOLSBACH BERWANGER - MATIAS NUNES FRIZZO

causando na maioria das vezes uma deficiência absoluta de insulina


(BRASIL, 2001; BECKMAN et al., 2002). Ainda, não se sabe ao certo
como as pessoas desenvolvem o diabetes tipo 1. A prevalência do
Diabetes tipo 1 ocorre em pessoas com menos de 35 anos de idade,
porém, vale lembrar que ela pode aparecer em qualquer idade (NO-
RWOOD; INLANDER, 2000).
O DM tipo 2, presente em 90 a 95% dos casos de diabetes, é
resultado de uma deficiência parcial da secreção de insulina em re-
lação aos níveis de glicose sanguínea, associado a uma resistên-
cia insulínica (BRASIL, 2001; BECKMAN, 2002). O diabetes tipo 2
possui um fator hereditário maior do que a do tipo 1, e ainda está
relacionado com a obesidade e o sedentarismo. Estima-se que 60%
a 90% dos portadores da doença sejam obesos, e a sua incidência
ocorre geralmente após os 40 anos (NORWOOD; INLANDER, 2000;
POITOUT; ROBERTSON, 2002).
As conseqüências sociais e econômicas do diabetes são devas-
tadoras: são 4 milhões de mortes por ano relativas ao diabetes e
suas complicações, o que representa 9% da mortalidade mundial
total. O grande impacto econômico ocorre notadamente nos serviços
de saúde, como conseqüência dos crescentes custos do tratamento
da doença e, sobretudo das complicações, como a doença cardio-
vascular, a diálise por insuficiência renal crônica e as cirurgias para
amputações de membros inferiores (BRASIL, 2006).
O diabetes apresenta alta morbi-mortalidade, com perda impor-
tante na qualidade de vida. É uma das principais causas de mor-
talidade, insuficiência renal, amputação de membros inferiores, ce-
gueira e doença cardiovascular. A OMS estimou em 1997 que, após
15 anos de doença, 2% dos indivíduos acometidos estarão cegos e
10% terão deficiência visual grave. Além disso, estimou que, no mes-
mo período de doença, 30 a 45% terão algum grau de retinopatia,
10 a 20%, de nefropatia, 20 a 35%, de neuropatia e 10 a 25% terão
desenvolvido doença cardiovascular (WHO, 2009).
As complicações do DM podem ser divididas de acordo com os
tipos de vasos que são acometidos, podem ser microvasculares,
como a Retinopatia Diabética, que consiste na principal forma de
cegueira irreversível no Brasil, é assintomática nas suas fases ini-
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RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA DOENÇA DIABÉTICA TIPO 2

ciais, mas evolui ao longo do tempo, acometendo a maioria dos por-


tadores de diabetes após 20 anos de doença, a Nefropatia Diabética
constitui-se por alterações nos vasos dos rins, ocorrendo a perda
de proteína na urina, é uma situação onde o órgão reduz sua fun-
ção lentamente, porém de forma progressiva, até a paralisação total,
e a Neuropatia Diabética que é uma degeneração nos axônios, as
complicações podem ser também macrovasculares como a Doenças
Cardiovasculares que são complicações com maiores morbimortali-
dade, as doenças isquêmicas cardiovasculares são mais freqüentes
e mais precoces em indivíduos com diabetes, comparativamente aos
demais e pra finalizar temos o Pé diabético que consiste em úlceras
nos pés e logo mais amputação de extremidades (GOLDMAN; AU-
SIELLO, 2005).
A expectativa de vida é reduzida, em média, em 15 anos para o
diabetes tipo 1 e em 5 a 7 anos na do tipo 2. Hoje em dia as compli-
cações do Diabetes tem sido muito incidentes, o risco de acidente
vascular cerebral é de 2 a 4 vezes maior entre pessoas com diabe-
tes em relação as pessoas hígidas. No ano de 2004, a doença car-
díaca foi observada em 68% dos atestados de óbitos de pacientes
com Diabetes. Em 2005, 46.739 pessoas com diabetes começaram
o tratamento para doença renal e diálise. Cerca de 70% das pes-
soas com diabetes tem formas leves e graves de danos no sistema
nervoso central. Mais de 60% das amputações não traumáticas dos
membros inferiores ocorrem em pessoas com diabetes (AMERICAN
DIABETES ASSOCIATION, 2007).

3. ESTRESSE OXIDATIVO
O estresse oxidativo é definido como um desequilíbrio entre os
sistemas oxidantes e antioxidantes, sempre em favor do primeiro.
São geradas inúmeras espécies reativas: os radicais livres, no qual
obtemos um elétron desemparelhado na última camada eletrônica, e
as espécies reativas, não radicais, favorecendo assim a ocorrência
de danos oxidativos (HALLIWELL; WHITEMAN, 2004). Por sua vez,
são desenvolvidos os mecanismos protetores, que têm a função de
neutralizar os compostos reativos e, conseqüentemente prevenir os
efeitos adversos do estresse oxidativo, os chamados antioxidantes
(MAYNE, 2003).
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ANDRESSA HOLSBACH BERWANGER - MATIAS NUNES FRIZZO

Os Radicais Livres são átomos ou moléculas altamente reativas,


que contêm um número ímpar de elétrons em sua última camada
eletrônica. As camadas eletrônicas de um elemento químico são
denominadas K, L, M e N, e seus subníveis são s, p, d, f. É este
não-emparelhamento de elétrons da última camada que confere alta
reatividade a esses átomos ou moléculas (HALLIWELL, 1992). Os
radicais livres por serem altamente reativos podem reagir com estru-
turas celulares, dentre elas as proteínas, os lipídeos, os carboidratos
e o DNA. Dentre os principais radicais livres destacam-se o oxigênio
singlete, o radical superóxido, o radical hidroxila, o oxido nítrico, o
peroxinitrito e o radical semiquinona (ANDERSON, 1996).
Uma célula normalmente é capaz de superar os efeitos deletérios
do estresse oxidativo se as perturbações forem pequenas, restabe-
lecendo o equilíbrio normal intracelular, mas perturbações de maior
escala podem levar à morte celular, apoptose e até necrose (LOPES
et al., 2008).
Existem duas fontes de radicais livres, os que se originam de for-
ma endógena, que são os produzidos pelo próprio organismo como
resultado de uma reação metabólica como as produzidas na mito-
côndria, nos peroxissomos e na atividade de algumas enzimas como
citocromo P450-oxidase, xantina oxidase, e as fontes exógenas que
são provenientes das condições do meio externo ao sistema bioló-
gico como o tabaco, poluição do ar, solventes, radiações gama e
ultravioleta (FERREIRA; MATSUBARA, 1997).
A produção excessiva de radicais livres durante os processos
metabólicos levam ao desenvolvimento de muitos mecanismos de
defesa antioxidante para impedir os danos do estresse oxidativo
(SIES, 1993). Os antioxidantes são responsáveis pela inibição e re-
dução das lesões causadas pelos radicais livres nas células (SIES;
STAHL, 1995). Esses agentes que protegem as células contra os
efeitos dos radicais livres são classificados em antioxidantes enzimá-
ticos ou não-enzimáticos (SIES, 1993).
Para se proteger, o sistema de defesa da célula atua em duas
formas, uma como detoxificadora do agente antes que ele cause le-
são. Esta forma é constituída por glutationa reduzida (GSH), superó-
xido-dismutase (SOD), catalase, glutationa-peroxidase (GSH-Px) e
vitamina E. A outra forma de defesa tem a função de reparar a lesão

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RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA DOENÇA DIABÉTICA TIPO 2

ocorrida, sendo constituída pelo ácido ascórbico, pela glutationa-re-


dutase (GSH-Rd) e pela GSH-Px, entre outros. Com exceção da vita-
mina E (α-tocoferol), que é um antioxidante estrutural da membrana,
a maior parte dos agentes antioxidantes está no meio intracelular
(FERREIRA; MATSUBARA, 1997).
Os radicais livres e os danos oxidativos induzidos nas células
e tecidos têm sido relacionados com a etiologia de várias doenças,
além do diabetes está relacionado à doença de Parkinson, Alzhei-
mer, doenças neurovegetativas, aterosclerose, acidente vascular ce-
rebral, isquemia e ainda pode se relacionar com o envelhecimento
(LOPES et al., 2008).

4. RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO


COM O DM TIPO 2
Mecanismos bioquímicos têm sido propostos para explicar as
anormalidades estruturais e funcionais associadas com a exposição
prolongada dos tecidos vasculares à hiperglicemia com indícios de
que a capacidade antioxidante endógena esteja prejudicada nos in-
divíduos diabéticos, dificultando a remoção dos radicais livres (SIES;
STAHL, 1995).
Espécies Reativas de Oxigênio (EROs) e Espécies Reativas de
Nitrogênio (ERNs) funcionam como moléculas que sinalizam a regu-
lação da função celular, sendo que é o aumento de sua produção ou
diminuição de sua eliminação que causa o estresse oxidativo. Com o
desequilíbrio entre a produção de EROs e ERNs, e as defesas antio-
xidantes, o estresse oxidativo conduz frequentemente a uma lesão
tecidual (RÖSEN et al., 2001; BEISSWENGER, 2005).
Os radicais livres atuam diretamente oxidando as moléculas ou
indiretamente ativando vias de sinalização celular que são sensíveis
a mecanismos de estresse oxidativo (LAIGHT et al., 2000). Estudos
in vivo revelam que o estresse oxidativo, ocorrido após a hiperglice-
mia, ocorre antes das complicações tardias do diabetes se manifes-
tarem, sugerindo que o estresse oxidativo desempenha um papel
relevante na patogênese das complicações desta doença (LOPES
et al., 2008; HAMILTON et al., 2007).

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ANDRESSA HOLSBACH BERWANGER - MATIAS NUNES FRIZZO

A importância da formação de EROs na indução do dano celular


induzido pela hiperglicemia tem sido apontada em diferentes estu-
dos, a hiperglicemia apresenta várias vias de sinalização sensíveis
ao estresse oxidativo. Existem algumas vias que são as principais
responsáveis pelas complicações do diabetes, entre elas destacam-
se a via do NF-kB, a Via Celular da p38 MAPK, Via Celular da PKC, a
Via Celular dos AGE, a Via Celular das Hexosaminase a Via Celular
do Poliol (LOPES et al., 2008).
A Via do NF-Kb (fator de transcrição que participa de respostas
inflamatórias) é uma das vias intracelulares alvo da hiperglicemia,
das EROs e do estresse oxidativo mais estudadas, ela é ativada
através de ácidos graxos, fator de necrose tumoral e interleucinas 1
e responsável pela regulação da expressão de um grande número
de genes, incluindo os genes ligados às complicações da diabetes
(BARNES; KARIN, 1997).
A Via Celular da p38 MAPK (inibidor da Proteína Quinase Ativa-
da por Mitógeno p38) tem sua ativação influenciada por um grande
número de processos celulares envolvidos na inflamação, imunida-
de, crescimento celular, apoptose, respostas teciduais específicas
ao estresse oxidativo. No caso da diabetes tipo 2, esta via é ativada
por episódios de hiperglicemia (EVANS et al., 2002).
A Via Celular da PKC (Proteína C Quinase) a sua concentração
de diacilglicerol (um ativador da PKC) encontra-se aumentada nos
tecidos, a produção de EROs pela oxidase, em pequenas quantida-
des, pode funcionar na sinalização metabólica e, em grandes quanti-
dades, originando o dano oxidativo e subsequente as complicações
diabéticas (KOYA; KING, 1998).
Já, a Via Celular dos AGE (produtos de reações não enzimáticas),
referem-se a um grupo heterogêneo de proteínas, lipídeos e ácidos
nucléicos que se formam por glicosilação não enzimática, sendo que
a sua formação é estimulada na presença de estresse oxidativo e
hiperglicemia podendo causar o estresse oxidativo (EVANS et al.,
2003).
A Via Celular das Hexosaminas a ativação da via biossintética
das hexosaminas é desencadeada pelo influxo excessivo de glico-

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RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA DOENÇA DIABÉTICA TIPO 2

se ou ácidos graxo para vários tipos de células, o que leva, por sua
vez, a insulino-resistência e ao desenvolvimento das complicações
tardias da diabetes (EVANS et al., 2003).
Por fim, a Via Celular do Poliol esta via é iniciada a partir do
momento em que os níveis glicêmicos aumentam, a hiperglicemia
condiciona uma estimulação da enzima aldose redutase, e forma-
ção subsequente de sorbitol, a acumulação intracelular de sorbitol os
efeitos do sorbitol são exacerbados, aumentando o estresse oxidati-
vo que desencadeia as complicações diabéticas como a retinopatia,
nefropatia, neuropatia, bem como contribuir para o desenvolvimento
de cataratas (HAMILTON et al., 2007).
O estado hiperglicêmico faz com que o processo de estresse oxi-
dativo desencadeie suas vias de ativação, relacionando-se assim as
complicações do diabetes, a níveis microvasculares, como a retino-
patia diabética, a nefropatia diabética e a neuropatia diabética, e as
complicações macrovasculares, que são as disfunções endoteliais
como doença isquêmica do coração, a doença arterial periférica e o
pé diabético (RODRIGUES et al., 2005, MONNIER et al., 2006).
Complicações Microvasculares são conhecidas também como
microangiopatia. O estresse oxidativo, é o processo final de lesão
celular da grande maioria dos fatores de risco cardiovascular, que
se caracteriza por uma produção aumentada de EROs, ou por uma
redução das defesas anti-oxidantes. Estas alterações resultam em
inativação da produção do oxido nítrico endotelial, com conseqüente
diminuição do seu efeito endotélio-protetor, que pode ser reproduzi-
da, do ponto de vista de pesquisa clínica, na diminuição da respos-
ta vasodilatadora endotélio-dependente. A disfunção endotelial está
definitivamente relacionada com estados pró-oxidantes, diretamente
relacionados com o processo inflamatório vascular. Não só o DM,
mas também a obesidade estão associados a estados inflamatório
e de estresse oxidativo, reversíveis com restrição dietética (WAJ-
CHENBERG, 2002; BIERMAN, 1999).
Entre elas podemos citar a neuropatia, a nefropatia e a retinopa-
tia. Com relação a neuropatia Diabética, que é uma das principais
complicações que aparecem com o tempo de evolução crônica do
DM, caracterizada pela degeneração progressiva dos axônios das
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ANDRESSA HOLSBACH BERWANGER - MATIAS NUNES FRIZZO

fibras nervosas. Existem evidências sugerindo que o estresse oxi-


dativo causado pelo aumento de radicais livres ajudam como me-
canismo patogênico importante. O mecanismo que explica a possí-
vel relação do estresse oxidativo com a Neuropatia Diabética é que
ocorre a hiperglicemia a qual leva a oxidação da glicose e lipídeos,
ocorre formação de AGEs, através da via dos polióis, que causam
um estresse oxidativo, assim ocorrendo logo após o dano Neural
(BOULTON, 2005).
A Nefropatia Diabética aparece alguns anos após o início do dia-
betes, estima-se que 20 a 30% dos portadores de DM tipo 2, apresen-
tem algum grau de problema no rim depois de 10 a 20 anos do apa-
recimento da doença. Apesar de ser potencialmente tratável, muitos
pacientes não conseguem atingir as metas de tratamento propostas
e acabam progredindo para fases mais avançadas da doença, com
risco de insuficiência renal mais grave e necessidade de diálise. Sua
relação com o estresse oxidativo é através da via PKC, na qual o dia-
cilglicerol mais EROs, formam o estresse oxidativo desencadeando
a Nefropatia Diabética (LOCATELLI et al., 2003; TAKEBAYASHI et
al., 2006).
Já a retinopatia diabética é uma complicação crônica do diabete
mellitus que 60% dos pacientes diabéticos adquirem mais ou menos
após 20 anos de duração da doença, sendo a principal causa de ce-
gueira em adultos, glicose e pressão arterial elevados, ligados com
um longo tempo de duração do DM, são os principais fatores de risco
da retinopatia diabética, esta complicação também é ativada pela via
dos polióis, ela é uma complicação que ocorre geralmente após a
Neuropatia (RAMOS et al., 1999; BOELTER, 2003).
Nas complicações macrovasculares temos o Infarto Agudo do
Miocárdio e o Acidente Vascular Cerebral (AVC) que aparecem como
conseqüência de uma aterosclerose. O estresse oxidativo é um fa-
tor comum subjacente a diabetes e a doença aterosclerótica, onde
ocorre um defeito mitocondrial primário ou induzido por excesso de
glicose ou por muitos ácidos graxos, onde vai aumentar os radicais
livres, e ativar a via dos poliois onde irá gerar o desenvolvimento das
complicações diabéticas (TRICHES et al., 2009).

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RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA DOENÇA DIABÉTICA TIPO 2

Entre as complicações macrovasculares podemos citar:


Infarto Agudo do Miocárdio é causado pela redução do fluxo san-
guíneo coronariano de magnitude e duração suficiente para não ser
compensado pelas reservas orgânicas. A causa habitual da morte
celular é uma isquemia (deficiência de oxigênio) no músculo cardía-
co, por oclusão de uma artéria coronária. A relação desta complica-
ção com o estresse oxidativo esta na lipoproteína de baixa densida-
de oxidada (LDL-ox), que é gerada durante a peroxidação lipídica,
resultando da reação entre radicais livres e lipídios séricos, existem
evidências do envolvimento da LDL-ox na formação e ruptura de pla-
cas ateroscleróticas, também sendo biomarcador nas síndromes co-
ronarianas agudas (SANTOS et al., 2009).
Acidente Vascular Cerebral (AVC), particularmente o isquêmi-
co, além de mais prevalente, em pacientes portadores de Diabetes
a recuperação é mais difícil, onde ocorre mais mortalidade. O AVC
isquêmico é a diminuição ou privação do aporte sanguíneo em de-
terminado órgão ou estrutura, com consequente redução do supri-
mento de oxigênio e nutrientes, sua relação com o estresse oxidativo
se da quando o radical hidroxila formado nos tecidos pode causar
danos às proteínas, lipídios e ácidos nucléicos e o radical superóxi-
do produzido pela xantina oxidase durante a reperfusão pode reagir
rapidamente com o radical óxido nitroso, fazendo com que ocorra o
AVC (TRICHES et al., 2009).

5. MATERIAL E MÉTODO
O presente artigo foi realizado através de uma pesquisa biblio-
gráfica em literatura especifica da área, abrangendo DM e estresse
oxidativo, a partir de uma extensa seleção de artigos, obtidos junto
aos principais bancos de dados e bibliotecas virtuais de saúde e me-
dicina, como o PubMed, Scielo, Bireme, Elsevier, além de revistas,
periódicos e livros da Biblioteca do Instituto Cenecista de Ensino Su-
perior de Santo Ângelo. A busca foi realizada no período de agosto
de 2009 a outubro de 2010, privilegiando artigos datados a partir do
ano de 1993, não havendo restrições de idioma.

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ANDRESSA HOLSBACH BERWANGER - MATIAS NUNES FRIZZO

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O principal causador das complicações do diabetes é a exposi-
ção dos tecidos a altos níveis de glicose, além de uma provável perda
da capacidade antioxidante nos indivíduos diabéticos. A resistência
a insulina também é um ponto muito importante no diabetes tipo 2,
indivíduos com obesidade abdominal são mais resistentes a insulina,
pois há vários depósitos de gordura abdominal (WAJCHENBERG,
2002; GOSTTSCHALL; BUSNELLO, 2009).
O estresse oxidativo funciona como uma ligação entre um es-
tado hiperglicêmico e as características fisiopatológicas associadas
ao início e à progressão das complicações do diabetes (GANDHI et
al., 2009). Há evidências de que o aumento na formação de radicais
livres e a redução da capacidade dos sistemas fisiológicos de defe-
sa antioxidante estão envolvidos na patogênese e desenvolvimento
das complicações da diabetes. A patogenicidade multifatorial da DM
requer uma abordagem terapêutica baseada em diferentes agentes
para atuar nas diferentes características da doença e nos seus di-
ferentes estágios de evolução (LOPES et al., 2008: BRASIL, 2006).
As complicações do diabetes ocorrem pela junção de diversos
fatores, mas o estado hiperglicêmico que desencadeia o processo
de estresse oxidativo é fundamental para tal. A importância da forma-
ção de EROs na indução do dano celular induzido pela hiperglicemia
tem sido apontada em diferentes estudos, a hiperglicemia apresenta
várias vias de sinalização sensíveis ao estresse oxidativo (REIS et
al., 2008; AGUIAR et al., 2007).
O mecanismo mais aceito para o desenvolvimento das complica-
ções (figura 1) consiste em que com o estado hiperglicêmico e o
aumento dos ácidos graxos livres, resultem, então, na fisiopatologia
inicial da diabetes, ativando assim as EROs e ERNs através do dano
macromolecular diretamente ou indiretamente, levando à ativação
de diversas vias celulares sensíveis ao estresse oxidativo. Na diabe-
tes tipo 2 existe uma evidência crescente que as vias sensíveis ao
estresse oxidativo (NF-kB, o P38MAPK e JNK/SAPK), que são ativa-
das através da hiperglicemia, levem a um estado de insulinoresistên-
cia, bem como a diminuição da excreção de insulina. Assim, os EROS

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RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA DOENÇA DIABÉTICA TIPO 2

e ERNS, induzidos pela hiperglicemia e altos níveis de ácidos graxos


tem um papel importante na ativação das cascatas de sinalização do
estresse oxidativo (LOPES et al., 2008).

↑ ÁCIDOS GRAXOS
HIPERGLICEMIA
LIVRES

↑ ERO
MITOCONDRIAL

Diretamente Indiretamente

DANO ESTRESSE OXIDATIVO


MACROMOLECULAR

NF-kB
p38 MAPK
JNK/SAPK

INSULINO-RESISTÊNCIA DISFUNÇÃO DAS CÉLULAS β

COMPLICAÇÕES DIABÉTICAS

Figura 1 – Mecanismo da gênese das complicações da DM


Fonte: Adaptada de LOPES et al., 2008.

A ação do estresse oxidativo se difere em cada tipo de compli-


cação do diabetes, como na neuropatia diabética e na retinopatia
diabética, em que sugere-se que a hiperglicemia leve a oxidação da

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ANDRESSA HOLSBACH BERWANGER - MATIAS NUNES FRIZZO

glicose e lipídeos, ocorrendo a formação de AGEs, através da via


dos polióis, e assim, fazendo com que ocorra o processo de estresse
oxidativo, causando o dano neural e o dano dos microvasos ocula-
res (BOULTON, 2005). Na Nefropatia Diabética, sua relação com o
estresse oxidativo se da através da via PKC, na qual o diacilglicerol
mais EROs, iniciam o processo do estresse oxidativo, desencade-
ando as alterações vasculares dos glomérulos renais, ou seja, a Ne-
fropatia diabética (LOCATELLI et al., 2003; SCHENA; GESUALDO,
2005).
No Infarto Agudo do Miocárdio, a relação está quando o esta-
do hiperglicêmico faz com que a LDL-oxidase seja gerada, durante
a peroxidação lipídica, resultando da reação entre radicais livres e
lipídios séricos, ocasionando a formação e ruptura de placas ate-
roscleróticas nas artérias coronarianas (SANTOS et al., 2009). No
Acidente Vascular Cerebral (AVC), o radical hidroxila formado nos
tecidos pode causar danos às proteínas, lipídios e ácidos nucléicos,
e o radical superóxido produzido pela xantina oxidase durante a re-
perfusão pode reagir rapidamente com o radical óxido nitroso (TRI-
CHES et al., 2009).

7. CONCLUSÃO
Com o passar dos anos o estresse oxidativo tem recebido cada
vez mais importância, visto que, o maior conhecimento sobre sua
gênese e seus efeitos fazem com que haja, cada vez mais, uma as-
sociação com a etiologia de diversas doenças, que no passado não
possuíam causas, ou fatores desencadeantes, bem esclarecidas.
O aumento na prevalência da DM na população, e principalmen-
te, o incremento dos gastos para seu tratamento e do tratamento de
suas complicações, tornaram a DM um grande problema de saúde
pública a ser resolvido, ou ao menos, contido.
Diversos medicamentos são usados para o controle glicêmico
de pacientes diabéticos, em sua grande maioria para compensar a
deficiência insulínica causada pela doença, e evitar, assim, o estado
hiperglicêmico. No entanto, a elucidação das origens das complica-
ções através do estresse oxidativo pode fazer com que sejam desco-
bertas novas formas de combate as complicações da DM.
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RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA DOENÇA DIABÉTICA TIPO 2

A avaliação da literatura é clara em reconhecer que existe uma


relação do estresse oxidativo no desenvolvimento das complicações
diabéticas. Inúmeros autores demonstram que quando ocorre o au-
mento da hiperglicemia e ácidos graxos, elevam-se os níveis de ra-
dicais livres nos tecidos, levando a um quadro de estresse oxidativo
e, dessa forma, provocando lesões nos tecidos que participam na
gênese das complicações do diabetes.
Cabe destacar ainda a importância de novos estudos que ava-
liem as associações entre o DM e suas complicações com o estresse
oxidativo na busca de novas formas de tratamento e redução na in-
cidência das complicações da doença. Além disso, tais estudos po-
dem contribuir no entendimento de diversas outras doenças.

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ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DE PROTOCOLOS DE REABILITAÇÃO NO PÓS-OPERATÓRIO DE ARTROPLASTIA TOTAL DE JOELHO

ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DE


PROTOCOLOS DE REABILITAÇÃO NO
PÓS-OPERATÓRIO DE ARTROPLASTIA
TOTAL DE JOELHO
STUDY ON THE APPLICABILITY OF THE PROTOCOLS
OF THE REHABILITATION OF POST-OPERATIVE
TOATL KNEE ARTHROPLASTY

Vanessa Machado1
Thais do Nascimento Gomes2
RESUMO
A evolução patológica da osteoartrose do joelho pode levar à indicação cirúrgica de artroplastia total de joelho,
quando o tratamento conservador não é mais efetivo. Os protocolos de reabilitação pós-operatórios são recursos que
podem ser utilizados para guiar a conduta fisioterapêutica pós-operatória quando se quer trabalhar sobre os déficits
funcionais como a amplitude de movimento (ADM), força muscular (FM) e marcha. A pesquisa objetivo fazer uma
análise comparativa sobre a aplicabilidade dos protocolos reabilitativos de pós-operatório de artroplastia total de joelho
e foi baseada em bibliografias disponíveis em livros e no meio eletrônico através de sites de busca como Google, Bireme,
Scielo. A comparação dos protocolos mostrou que os autores têm uma abordagem bastante semelhante ao tempo de
duração de cada fase e dos exercícios aplicados na reabilitação pós-operatório. Ambos concordam com o início precoce
da fisioterapia pós-operatório e a gradual inserção de exercícios para a ADM passivos, ativo-assistidos e ativos, a MPC
(mobilização passiva contínua), de reforço muscular e de treino de marcha, inicialmente com apoio parcial, evoluindo
para apoio total. Ainda referem sobre a importância do treino de coordenação, propriocepção e das atividades de vida
diárias. Embora haja mínima diferença quanto ao tempo para o avanço de cada fase reabilitativa e alta do paciente nos
protocolos analisados, percebe-se a relevante necessidade de avaliar a resposta fisiológica de cada indivíduo após a
cirurgia e a cada fase do tratamento, levando em conta suas particularidades.
Palavras-chave: osteoartrose, artroplastia, protocolos de reabilitação.

ABSTRACT
Pathological changes of knee osteoarthritis can lead to surgical indication of total knee arthroplasty when conservative
treatment is no longer. The protocols of post-operative rehabilitation are resources that can be used to guide the
conduct in post-operative physiotherapy when we want to work on the functional deficits and the Range Of Motion
(ROM), muscular strength (MS) and march. The study was based on bibliographies available in books and electronic
media through search websites like Google, BIREME, Scielo. Comparison of protocols showed that the authors has a
very similar approach to the duration of each phase and to the exercises applied in rehabilitation after surgery. Both
agree with the early onset of post-operative physiotherapy and the gradual insertion of exercises for passive ROM,
active-assisted and active, the CPM (Continuous Passive Mobilization) of muscle strengthening and march training,
initially with partial support, evolving for full support. The authors also show concern about the importance of training
coordination, proprioception and the daily life activities. Although there are minimal difference in the time to advance
the phases of the patient and high in the analyzed protocols, we find relevant the need to evaluate the physiological
response of individuals after surgery and every phase of treatment, taking into account their particularities.
Keywords: osteoarthritis, arthroplasty, rehabilitation protocols.
1 Acadêmica Concluinte do Curso de Fisioterapia, 2010. Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo. vanessamachado.
mv@gmail.com
2 Mestre em Educação nas Ciências. Orientadora. Professora do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo, IESA- RS.
gomesnthais@gmail.com

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VANESSA MACHADO - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

1. INTRODUÇÃO
O joelho constitui-se de uma articulação de ossos, músculos,
ligamentos, meniscos e demais componentes, em que cada parte
atua para sustentação do corpo e movimentos de deslocamento.
A osteoartrose, também conhecida como osteoartrite ou artrose, é
uma doença reumática degenerativa que atinge o joelho, causando
principalmente dores e limitações no decorrer das atividades de vida
diária. Ela ocorre com maior freqüência a partir da terceira década
de vida, tendo como indicação a artroplastia total de joelho, quando
o tratamento conservador para esta patologia não faz mais efeito.
A artroplastia total de joelho é um procedimento cirúrgico, no qual
se realiza a substituição de todos os componentes da articulação
do joelho, fixando-se uma prótese total. O procedimento é bastante
complexo, exigindo muitos cuidados antes e depois da cirurgia. No
tratamento pós-operatório de cirurgias como a artroplastia total de
joelho dispõe-se de diversos recursos fisioterapêuticos, entre eles a
utilização de protocolos de reabilitação que são planos de tratamen-
to pré-determinados e que servem como base para cada fase deste
processo, tendo em vista um melhor resultado funcional e mais pre-
coce possível (BARBOSA, 2005). Pelas limitações que a artroplastia
total do joelho causa, após o procedimento, a fisioterapia deve inter-
vir de forma a desenvolver protocolos pós-operatórios criteriosos e
embasados teoricamente para garantir efetividade em sua prática,
alcançando assim resolutividade no processo reabilitativo. Por isso,
o presente trabalho buscou, através de fundamentação teórica, ana-
lisar e comparar dois protocolos pós-operatórios de artroplastia total
de joelho do tipo cimentada nas diferentes fases do processo reabi-
litativo, objetivando verificar os ganhos funcionais de amplitude de
movimento, força muscular e marcha. A busca teórica e a reflexão
sobre a adequação de protocolos é importante pela multiplicidade
de casos e diferentes reações ao tratamento, pois cada organismo
responde aos estímulos de uma forma diferenciada e fatores como
idade, sexo, atividade funcional e estilo de vida devem ser conside-
rados.

2. MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho se desenvolveu através de estudo bibliográfico
descritivo, buscando fundamentar teoricamente os protocolos de re-
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ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DE PROTOCOLOS DE REABILITAÇÃO NO PÓS-OPERATÓRIO DE ARTROPLASTIA TOTAL DE JOELHO

abilitação no pós-operatório de artroplastia total de joelho em relação


à suas abordagens no ganho de amplitude de movimento (ADM),
força muscular (FM) e restauração da marcha. Procurou-se referen-
dar-se a partir de critérios como: idade acima de 60 anos, indepen-
dente de sexo, tendo por etiologia determinante a artroplastia e a
osteoartrite ou osteoartrose, elegendo o estudo pelo procedimento
cirúrgico e intervenção pós-operatória de prótese do tipo cimentada,
sem objetivar associar ao estudo de outras intervenções cirúrgicas
ou doenças associadas. Sendo esses indivíduos sem distúrbios, al-
terações neurológicas e/ou alterações cognitivas.
A revisão de literatura baseou-se aos anos de 1993 a 2009 e a
fundamentação teórica buscada foi relacionada a diversos recursos
como livros, revistas e meios eletrônicos, entre eles artigos, sites de
busca, como exemplo Google e Google Acadêmico, Scielo e Bireme.
A discussão foi pautada pela análise específica de dois protoco-
los de reabilitação de Artroplastia Total de Joelho (ATJ). Esses pro-
tocolos serão comparativamente verificados sobre os aspectos dos
seus efeitos na reabilitação, buscando refletir sobre a adequação de
uso destes protocolos de forma a atingir a maior eficácia na fisiotera-
pia a partir das particularidades de cada paciente.
Realizou-se um estudo comparativo entre dois protocolos de re-
abilitação pós-operatórios de artroplastia total de joelho (ATJ) dos
autores Kisner e Colby (2005) e Maxey e Magnusson (2003). Ambos
abordam o tratamento utilizado com o paciente em recuperação, di-
vidido em fases do processo reabilitativo. Procurou-se fazer o levan-
tamento destes instrumentos voltando-se ao procedimento cirúrgico
de substituição total do joelho do tipo cimentada. Objetivando-se,
assim, refletir sobre a adequação destes protocolos na reabilitação
de cada paciente, tendo em vista suas particularidades.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A fisioterapia no pré e no pós-operatório de artroplastia total de
joelho deve ser incentivada, pois a possibilidade desta prática garan-
te mais rapidamente o retorno físico funcional do paciente às suas
atividades da vida diária, atividades laborais, grupos sociais, entre
outros. A reabilitação pós-operatória da artroplastia total de joelho
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VANESSA MACHADO - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

torna-se mais eficaz quando começada precocemente com movi-


mentos de flexão e extensão do joelho durante exercícios e transfe-
rências de peso. Deve-se ter cuidado de não deitar sobre o membro
operado e não colocar almofada em baixo do joelho a fim de evitar
deformidade em flexão (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).
O tratamento após a cirurgia é progressivo, as caminhadas co-
meçam com auxílio de muletas e passam para bengalas. Nos primei-
ros dias é feita a transferência de peso de uma perna para outra len-
tamente, os exercícios devem ser praticados freqüentemente, porém
respeitando os limites do paciente. Se existir dor, pode-se aplicar téc-
nicas de analgesia como crioterapia e massagem (PORTER, 2005).
Ainda quanto às técnicas terapêuticas, a termoterapia é utilizada no
relaxamento de músculos contraturados e exercícios isométricos in-
dicados no reforço muscular em fase aguda, objetivando melhora na
sustentação de peso e absorção de choques. Entretanto, faz obser-
vação quanto ao uso de calçados apropriados no treino da marcha
(LIANZA,2001).
Para tanto, a fisioterapia se baseia em protocolos de reabilita-
ção que são planos de tratamento pré-estabelecidos para alcance
de melhores resultados ao curto prazo. Tais instrumentos procuram
eleger recursos físico-funcionais para cada etapa do tratamento, le-
vando em conta as fases do reparo pós-cirúrgico. Entre os diversos
protocolos existentes, estão os dos autores Kisner e Colby (2005)
e o do Maxey e Magnusson (2003), abordando as diferentes fases
do processo de reabilitação com enfoque no reestabelecimento da
ADM, FM e demais funções como retorno à marcha entre outras ati-
vidades (KISNER; COLBY, 2005; MAXEY; MAGNUSSON, 2003)
Neste contexto, a amplitude de movimento (ADM) serve para
manter a mobilidade das articulações e ajudar na regeneração de te-
cidos em condições patológicas ou pós-operatórias (KISNER; COL-
BY, 2005). Para uma melhor qualidade de vida, o indivíduo necessita
ter no mínimo 90° de flexão do joelho para ser considerado funcional
e para subir escadas, por exemplo, é preciso 105° de flexão (PREN-
TICE; VOIGHT, 2003).
No procedimento de artroplastia total de joelho ou imobilização
pós-operatória, os tecidos moles e estrutura óssea são um pouco
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ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DE PROTOCOLOS DE REABILITAÇÃO NO PÓS-OPERATÓRIO DE ARTROPLASTIA TOTAL DE JOELHO

prejudicados, entre eles o tecido conjuntivo, músculos, tendões e


pele. Portanto, após a sutura da operação ficam tecidos fibrosados e
cicatricial impedindo a ADM completa de extensão e flexão do joelho,
sendo então importante o alongamento para liberação da ADM na
cápsula articular (KISNER; COLBY, 2005).
A movimentação passiva é benéfica ao indivíduo que não conse-
gue mover ativamente o membro com a articulação comprometida,
como no caso dos pacientes pós-operatório de ATJ. A mobilização
da articulação evita contraturas, aderências e degeneração da carti-
lagem durante o período de imobilização no leito, devendo ser usada
preferentemente antes do alongamento passivo. A mobilização pas-
siva contínua (MPC) é utilizada para trabalhar o ganho de amplitude
de movimento de maneira rápida e precisa. Estudos relatam obter
resultados mais rápidos do que com as técnicas convencionais (KIS-
NER; COLBY, 2005).
Há diversas maneiras de restaurar a força muscular perdida após
períodos de imobilização, cirurgia ou patologia. Dentre estas, o exer-
cício isométrico ou estático que se baseia na contração do músculo
contra uma carga imóvel, sem aumento de comprimento. Este tipo é
muito utilizado na reabilitação de pacientes pós-operatórios ou pro-
cessos patológicos agudos nos quais possivelmente existe diminui-
ção de ADM. Durante a realização da contração isométrica, deve-se
orientar o paciente a realizar a expiração. Pois manobra como a de
Valsalva, em que se faz uma apnéia com a glote fechada, aumen-
tam a pressão intratecal, que pode aumentar a chance de ocasionar
aumento da pressão arterial sistólica e acidentes cardiovasculares
(KISNER; COLBY, 2005; PRENTICE; VOIGHT, 2003).
O exercício dinâmico inclui exercícios concêntricos ocorren-
do contração e encurtamento do músculo e exercícios excêntricos
em que o músculo se alonga sob tensão. Os exercícios de cadeia
cinética fechada são especialmente utilizados para fortalecimento
de membros inferiores, já que oferecem sustentação de peso. Estes
exercícios visam trabalhar a força muscular nos movimentos neces-
sários nas AVD’s e nas demais atividades funcionais, como cami-
nhar, subir escadas, as quais exigem o bom condicionamento dos
músculos quadríceps e isquiotibiais (PRENTICE; VOIGHT, 2003).

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VANESSA MACHADO - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

O ganho de força muscular deve estar associado também à con-


quista do controle neuromuscular, já que não basta ao paciente a
aquisição de força sem a possibilidade de controlar sua ativação. Por
isso, a propriocepção é também um objetivo da fisioterapia no trata-
mento de artroplastias, já que ao ser iniciada precocemente garan-
te ao paciente mais noção de movimento, posicionamento espacial,
velocidade, distribuição de peso corporal e alerta de receptores na
prevenção de quedas e organização corporal. Os recursos técnicos
utilizados são através do treino em apoio bipodal e posteriormente
unipodal que exercitam o equilíbrio estático e dinâmico com o uso
de pranchas proprioceptivas, balancins, através do feedback visual,
comando verbal do terapeuta entre outros (KISNER; COLBY, 2005;
PRENTICE; VOIGHT, 2003).
Entretanto, chama-se a atenção no que se refere ao treinamento
de força com exercícios resistidos para pacientes em idade adulta
avançada. Pois, há diversos fatores como o declínio da força, flexi-
bilidade, velocidade, tamanho e número de fibras musculares. Por
isso, deve-se ter cuidado no momento da aplicação da carga e reali-
zação dos exercícios (KISNER; COLBY, 2005).
Os estudos sobre a marcha apontam para diversos fatores que
comprometem a locomoção normal. Entre eles está diminuição da
amplitude de movimento de flexão do joelho, realizada pelos múscu-
los posteriores da coxa como os isquiotibiais, necessária na fase de
balanço do ciclo da marcha. Também a diminuição da ADM de ex-
tensão do joelho pela ação da contração do quadríceps, importante
na fase de apoio. Além desses, a fraqueza muscular e falta de equi-
líbrio, todos provenientes de uma situação patológica, incapacida-
des e imobilizações como é o caso dos pacientes com osteoartrose
ou pós-operatórios de artroplastia total de joelho (KISNER; COLBY,
2005; PRENTICE; VOIGHT, 2003).
A reabilitação da marcha no pós-operatório trata-se da atuação
do fisioterapeuta a partir da liberação médica. Inicialmente, é tra-
balhada a transferência de peso parcial com auxilio de andador ou
muleta e realizado treino da marcha progressivamente, e de forma
repetida ao longo do dia (PORTER, 2005).
A Fase Aguda ou de Proteção Máxima é a primeira fase de rea-
bilitação num processo patológico ou pós artroplastia total de joelho,
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ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DE PROTOCOLOS DE REABILITAÇÃO NO PÓS-OPERATÓRIO DE ARTROPLASTIA TOTAL DE JOELHO

quando se deve proporcionar ao paciente proteção máxima, pois o


tecido lesado encontra-se em estágio de reação inflamatória. Tendo
duração de 4 a 6 dias ou 1 a 2 semanas. Complementando a ideia
sobre a fase de cuidado agudo, relata-se que esta tem duração de 1
a 5 dias e a abordagem fisioterapêutica deve buscar prevenir compli-
cações do pós-operatório e recuperação funcional. A restauração da
ADM de flexão e extensão completa até 90°, transferências de peso
e em seguida treino da marcha e independências nas atividades de
vida diária (AVD’s) são algumas das metas (MAXEY; MAGNUSSON,
2003).
A proteção é exercida deixando o paciente em repouso, isto é,
imobilizando o membro operado para melhor cicatrização sem correr
riscos de nova lesão. Porém, a não movimentação precoce prejudica
no sucesso de ganho da amplitude de movimento (ADM) e conse-
qüentemente no retorno às atividades. Por isso, é incluído movimen-
to passivo do membro inferior, precisamente da articulação do joelho
operado, para que possa haver circulação dos fluídos e organização
dos fibroblastos responsáveis pela formação do tecido cicatricial,
evitando-se aderências e alterações da cartilagem (KISNER; COL-
BY, 2005).
A intensidade do movimento de ADM passiva é suave, no limite
suportado pelo paciente. Por se tratar de um estágio agudo de rea-
bilitação, a dor é mais intensa pela possível presença de inflamação
no local. A amplitude alcançada com o movimento passivo contínuo
varia de 0 a 40° de flexão que, conforme as condições do paciente,
aumenta 5 a 10° por dia (KISNER; COLBY, 2005; MAXEY; MAG-
NUSSON, 2003).
Em um estudo comparativo de dois grupos de pacientes pós
-operatório de ATJ do tipo cimentada, relacionam o ganho de ADM.
Encontrou-se resultados de que um grupo que recebeu MPC na 1ª
semana teve um ganho maior de ADM e alta antecipada do que o
outro que permaneceu imobilizado e só realizou na 2ª semana. O
motivo foi melhora da drenagem de líquidos na articulação (MAR-
QUES; KONDO, 1998).
Os exercícios devem ser iniciados no segundo ou terceiro dia
pós-operatório (MAXEY; MAGNUSSON, 2003). Nesta fase é permi-
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VANESSA MACHADO - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

tido iniciar exercícios de fortalecimento muscular, desde que sejam


realizados com pouca carga e dentro da tolerância do paciente. Os
exercícios isométricos em vários ângulos são escolhidos para for-
talecimento do membro inferior cujo joelho foi operado e para bom-
beamento sanguíneo através da contração muscular. Exercícios de
resistência podem ser aplicados moderadamente nos demais seg-
mentos corporais, preparando o paciente para o uso de dispositi-
vos auxiliares na deambulação, como muletas ou andador. Nesses
casos, o alongamento é contra-indicado por causa da inflamação
(KISNER; COLBY, 2005).
Quanto a Fase Subaguda ou de Proteção Moderada, a prote-
ção do joelho operado nesse estágio ocorre durante a realização de
exercícios para manter os tecidos moles em boas condições de re-
generação. Nesta fase a inflamação diminui, dando espaço a produ-
ção de tecidos de granulação e colágeno. Por isso, deve-se respeitar
o limite do paciente, não indo além deste para prevenir o retorno da
inflamação. A fase subaguda ou de proteção moderada ocorre 14 a
21 dias após a lesão ou de 3 a 6 semanas (KISNER; COLBY, 2005).
Já no protocolo de Maxey e Magnusson (2003) a duração é de 6 a
14 dias fase IIa subaguda ou 1 a 3 semanas subaguda avançada IIb.
A realização de exercícios ativos é permitida, mas o paciente
pode não conseguir realizar em toda sua amplitude devido à fraque-
za muscular decorrente da imobilização no estágio agudo. Mesmo
assim, é preciso informá-lo quanto aos sintomas, como dor que pode
ser normal nesta fase, causada pela retração dos tecidos moles ou
associada a edema, indicando inflamação decorrente da progressão
muito rápida do exercício (KISNER; COLBY, 2005; MAXEY; MAG-
NUSSON, 2003).
A partir daí, são inseridos exercícios em cadeia aberta e fechada
para membros inferiores e resistidos, tendo cuidado em relação à
intensidade e amplitude exagerada, pois, através da formação de
colágeno, a cicatriz se desenvolve com mobilidade, sendo por isso
frágil e facilmente rompida (KISNER; COLBY, 2005; MAXEY; MAG-
NUSSON, 2003).
O exercício em cadeia fechada é usado de forma a restaurar as
capacidades de equilíbrio e coordenação alteradas pelo dano cau-
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ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DE PROTOCOLOS DE REABILITAÇÃO NO PÓS-OPERATÓRIO DE ARTROPLASTIA TOTAL DE JOELHO

sado aos mecanoceptores, ligamentos, tendões ou cápsula (SILVA,


2006).
É indicado como modalidade fisioterapêutica, o uso da massa-
gem de fricção transversa para mobilização de tecidos moles e lo-
cais de incisão. Ela influi na mobilidade do tecido cicatricial, libe-
rando aderências e melhorando a amplitude de movimento pelo
deslizamento dos tecidos através da articulação do joelho (KISNER;
COLBY, 2005).
Durante a fase subaguda avançada, os protocolos de reabilitação
de ATJ incluem a iniciação do retorno às atividades funcionais. Para
isso, é colocado em exercício o treino da marcha com apoio de peso
total com ou sem dispositivos auxiliares, progredindo para avanço
de alguns passos e em pequenas distâncias conforme o equilíbrio
do paciente (KISNER; COLBY, 2005; MAXEY; MAGNUSSON, 2003).
Já a Fase Crônica ou de Retorno às Atividades, neste estágio
não há inflamação, os tecidos já estão em remodelamento cicatricial
e ocorre alinhamento do colágeno à sobrecarga. Acontece do 21° dia
ao 60° dia ou após a 6ª semana de pós-operatório de artroplastia to-
tal do joelho do tipo cimentada. Há presença de dor ao alongamento
devido à resistência imposta pela contratura do tecido cicatricial que
causa aderências e limitações (KISNER; COLBY, 2005).
Na última fase de reabilitação ou fase crônica, trabalham-se di-
versas formas de exercícios e objetos que irão ajudar na comple-
mentação e finalização da reabilitação do paciente pós-operatório
de artroplastia total de joelho. Por exemplo, normalizar a marcha de
maneira a realizar sem dispositivos de apoio, aumentar a ADM, me-
lhorar o equilíbrio e sustentação de peso (KISNER; COLBY, 2005;
MAXEY; MAGNUSSON, 2003).
O retorno às atividades de vida diárias (AVD’s) e profissionais
exige um bom fortalecimento muscular, feito através de exercícios
de forma segura e com bom equilíbrio que pode ser adquirido como
resposta ao treino do sistema neuromuscular. O alongamento de is-
quiotibiais e quadríceps são utilizados com uma sobrecarga contro-
lada para diminuir a contratura dos tecidos aderidos e aumentar a
ADM, porque se faz necessário uma amplitude de 110 a 125° de fle-

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VANESSA MACHADO - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

xão para atividades funcionais como subir e descer escadas e uma


amplitude de 0 a 110° de extensão para normalizar o ciclo da marcha
(KISNER; COLBY, 2005; MAXEY; MAGNUSSON, 2003).
A redução de peso tem grande influência no sucesso do trata-
mento pós-operatório de artroplastia total de joelho do tipo cimenta-
da, já que o sobrepeso está associado ao precursor deste processo.
Pois, o excesso de peso é um dos fatores que predispõem o surgi-
mento de osteoartrite, sendo esta a causa da ATJ e conseqüente
reabilitação pós-cirúrgica. Para tanto, pode-se trabalhar a condição
aeróbica ou cardiovascular deste paciente, através de exercícios na
bicicleta estacionária ou aquáticos (MAXEY; MAGNUSSON, 2003).
No programa de reabilitação, a diminuição do repouso na cama,
os cuidados com os tecidos moles evitando contraturas são enfatiza-
dos para melhora do ganho de flexão (LENSSEN, 2006). Também, o
incentivo de fisioterapeuta e enfermeiros aos pacientes pós-operató-
rio de ATJ na realização dos exercícios e continuação do tratamento
após a alta (MAXEY; MAGNUSSON, 2003).

4. CONCLUSÃO
A fisioterapia pós-operatória baseou-se em protocolos de reabili-
tação, os quais propuseram exercícios para ganho de amplitude de
movimento, restauração da força, marcha e retorno às atividades.
Os estágios da cicatrização tecidual são considerados importantes
no estabelecimento das fases do tratamento pós artroplastia total de
joelho.
Durante a busca, por um motivo da aplicação de protocolos de
reabilitação no pós-operatório de artroplastia total de joelho do tipo
cimentada, diversos fatores que interferem no sucesso ou não do
processo reabilitativo foram encontrados. Entre eles está a adesão
do paciente pelo plano de tratamento, o respeito às limitações de
cada paciente e a escolha por seguir um programa de fisioterapia
após ser submetido a uma substituição total da articulação do joelho
por uma prótese decorrente da osteoartrose.
Na comparação dos protocolos não houve grandes discordâncias
entre os autores, ambos são muito semelhantes. Contudo, alguma
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ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DE PROTOCOLOS DE REABILITAÇÃO NO PÓS-OPERATÓRIO DE ARTROPLASTIA TOTAL DE JOELHO

variação de tempo de permanência em cada fase deverá levar em


consideração a idade do paciente, a forma como se desencadeou
a patologia deste e os estágios de cicatrização, pois estes podem
apresentar comportamento diferente, relacionando às suas respos-
tas fisiológicas desde quando surgiram, no pré-operatório, passando
pelo procedimento cirúrgico até o pós-operatório. Portanto, há pos-
sibilidade dessa situação ter ocorrido na construção de cada um dos
dois protocolos utilizados neste estudo.
Enfim, protocolos de reabilitação existem para guiar condutas fi-
sioterapêuticas, como exemplo no pós-operatório de artroplastia to-
tal de joelho. Por isso, eles não devem ser seguidos rigorosamente,
já que cada indivíduo responde de uma maneira particular.

5. REFERENCIAS
BARBOSA, D; FARIA, ETB. Fisioterapia em Artroplastias Totais
de Joelho: IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica
e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação. São José dos
Campos: Universidade do Vale do Paraíba; 2005.
BRASIL, Ministério da Saúde: Instituto Nacional de Ortopedia
e Traumatologia. Rio de Janeiro: CEI; 2003.
KISNER, C; COLBY, LA. Exercícios Terapêuticos: Fundamen-
tos e Técnicas. 4ª ed. Barueri: Manole; 2005.
LENSSEN, AF. et al. Efficiency of immediate postoperative
inpatient physical therapy following total knee arthroplasty: an
RCT. BMC Musculoskeletal Disorders. Maastricht: BioMed Cen-
tral Ltd; 2006. Lianza S. Medicina Física e Reabilitação. 3ª ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001.
MARQUES, AP; KONDO, A. A fisioterapia na osteoartrose: uma
revisão da literatura. Rev bras reumatol 1998; 38 (2): 83 - 90.
MAXEY, L;, MAGNUSSON, J. Reabilitação: pós-cirúrgica para
o paciente ortopédico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.
PRENTICE, WE; VOIGHT, ML. Técnicas em Reabilitação Mus-
culoesquelética. Trad: Terezinha Oppido e Maria Alice Quartim Bar-
bosa de Araújo. Porto Alegre: Artmed; 2003.
PORTER, SB. Fisioterapia de Tidy. Tradução: Eliane Ferreira
Et. Al. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005.
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VANESSA MACHADO - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

SILVA, ALPE. Estudo Comparativo entre dois Métodos de Re-


abilitação Fisioterapêutica na Artroplastia Total de Joelho: Pro-
tocolo Padrão do IOT e Protocolo Avançado [dissertação]. São
Paulo: USP; 2006.

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TESTE DE PATERNIDADE: UMA ANÁLISE DAS QUESTÕES TÉCNICAS E LEGAIS ENVOLVIDAS NO EXAME

TESTE DE PATERNIDADE:
UMA ANÁLISE DAS QUESTÕES
TÉCNICAS E LEGAIS ENVOLVIDAS NO
EXAME
PATERNITY TESTING:
AN ANALYSIS OF TECHNICAL AND LEGAL ISSUES
INVOLVED IN EXAM

Alice Kunzler1
Emanuelle Kerber Viera Mallet2
RESUMO
Diante dos grandes avanços sofridos nos últimos anos na área da biologia molecular, os testes de paternidade podem
hoje presumir de fato uma paternidade legítima. Este fato se deve graças ao surgimento de várias técnicas de análise
em DNA, que permitem que este seja um teste relativamente rápido e preciso. No entanto, a solicitação deste teste
possui exigências e cuidados especiais que devem ser tomados por parte do laboratório, já que pode servir como prova
pericial. A partir destes dados o objetivo do trabalho é demonstrar como são realizados os testes de paternidade em
laboratórios clínicos e quando o laboratório tem a autorização legal para fazê-lo.
Palavras-Chave: Impressões digitais de DNA; técnicas de diagnóstico molecular; genética forense; paternidade.

ABSTRACT
Facing the great advances that the molecular biology area had suffer in the last few years, paternity testing can now
assume indeed a legitimate paternity. This fact is due to the emergence of many analytical techniques in DNA that allows
it to be a relatively fast and accurate test. However, the solicitation of this test has requirements and special cares which
has to be taken by the laboratory, because the results can be used as forensics evidence. From this information, this
work aimed to show how paternity testing is performed and when the laboratory has the legal authorization to do it.
Keywords: DNA fingerprints; molecular diagnostics techniques; forensics genetics; paternity

1. INTRODUÇÃO
Atualmente no Brasil, existe uma onda de testes de DNA em labo-
ratórios públicos, com dinheiro do estado e em clínicas particulares.
A iniciativa de fazer o teste muita vezes provem de mães desespe-
radas, que nos levam a crer que são elas as que mais se beneficiam
da nova tecnologia. Este fato coincide com o surgimento de novas
leis de paternidade, como um meio para fortalecer e ampliar laços

1 Acadêmica Concluinte em Biomedicina (IESA, 2010); Mestranda em Bioquímica e Bioprospecção (UFPel). alice.bio@hotmail.com
2 Mestre em Genética e Diagnóstico Molecular (ULBRA, 2008); Graduação em Biomedicina (FEEVALE,2006); Coordenadora do Curso
de Biomedicina e professora titular (IESA).emanuelle@iesanet.com.br

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ALICE KUNZLER - EMANUELLE KERBER VIERA MALLET

familiares, através de uma paternidade e maternidade responsável


(FONSECA, 2005).
Desde 1999, começando em São Paulo, o poder público aceitou
arcar com a demanda popular, pagando os testes com dinheiro dos
cofres públicos. No Rio Grande do Sul, na segunda metade de 2002,
ingressaram no sistema gaúcho de justiça uma média de mil pedidos
de investigação paterna por mês. Marcando aproximadamente 500
testes por mês, o Serviço Médico Jurídico ainda tem uma lista de
espera de mais de 8 mil pedidos – o que representa cerca de um ano
e dez meses de fila, sendo que o mesmo fenômeno se repete em
quase todos os estados da União (FONSECA, 2005).
Desta maneira, um aumento exponencial na solicitação de tes-
tes de paternidade vem ocorrendo no Brasil, já que esta é a melhor
maneira de praticamente confirmar uma paternidade e tem sido am-
plamente utilizada pelo sistema judiciário. Existem diversas manei-
ras de realizar o exame, e estas variam de acordo com o número
de pessoas disponíveis para análise, principais técnicas utilizadas e
materiais biológicos passíveis de se obter informações, nestes ca-
sos, DNA.
Apesar de ser um teste que necessite de técnicas e aparelhos
modernos, não são estes os maiores empecilhos para o desenvolvi-
mento do teste, já que laboratórios que não realizam estes exames
podem realizar as coletas e enviar os materiais para análise em la-
boratórios de apoio. Porém, existem várias normas legais que regem
o exame, e que devem ser de conhecimento do laboratorista. Neste
sentido, existe uma deficiência de materiais que abordam todos os
procedimentos, tanto técnicos, mas principalmente os legais envolvi-
dos no teste, e que possam servir de base técnica para os laborató-
rios que oferecem este serviço.
Embora pareça um simples exame utilizando DNA, o teste de pa-
ternidade enfrenta seus maiores desafios na área jurídica, pois pode
ser utilizado como prova pericial. Os laboratórios que realizam estes
serviços possuem a responsabilidade de conhecer as leis que asse-
guram o teste, obrigações legais e cuidados técnicos, para saber em
que situações o exame pode ser realizado ou quando é necessária a
apresentação de autorização legal para fazê-lo.
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Com isso, o objetivo deste trabalho é demonstrar como são rea-


lizados os testes de paternidade em laboratórios clínicos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Condições Legais


A família é a base da sociedade, pois a partir dela acontecem as
outras relações sociais. A paternidade é um fator determinante na
vida do indivíduo, gerando fortes conseqüências em sua formação
sócio-afetiva, e está diretamente ligada ao estado em que se en-
contra o pai e o filho. Assim, surgiram os testes de paternidade, que
permitem a constituição legal entre duas pessoas, do laço de paren-
tesco de primeiro grau (DALVI, 2008).
A pesquisa genética da paternidade é permitida no nosso sistema
jurídico. A lei n° 8.560/92 regula a investigação de paternidade dos
filhos obtidos fora do casamento, os quais terão os mesmos direitos
e qualificações e sendo proibidas quaisquer designações discrimi-
natórias relativas à filiação, nos termos do art. 1.596 do Código Ci-
vil. Em 2001, a lei n° 10.317 estabeleceu normas para a concessão
de assistência judiciária aos necessitados, concedendo gratuidade
do exame de DNA nos casos que especifica (CROCE; CROCE JR,
2009).
A prova pericial do exame de DNA em um teste de paternidade
só deve ser aceita quando observados os critérios indispensáveis
de segurança tanto na coleta quanto na manipulação posterior das
amostras, ou seja, desde a etapa de identificação dos indivíduos até
a elaboração e entrega do laudo. Para tanto, um rígido esquema é
estabelecido no momento da colheita dos materiais. Primeiramente
é necessário que os sujeitos envolvidos apresentem documentos de
identificação com foto, para garantir a comprovação da identidade
dos mesmos. A coleta deve ser testemunhal, ou seja, realizada na
presença de todos os envolvidos, para que os mesmos se identifi-
quem mutuamente e assinem confirmando que a coleta foi efetuada
na pessoa correta. Todos os envolvidos devem preencher e assinar
o formulário de identificação e coleta e assinar declarações padro-
nizadas autorizando a realização do exame, e declarando não te-

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rem se submetido a transplante de medula óssea nem a transfusão


sanguínea recente. Neste momento também são coletadas provas
datilográficas (letra e assinatura), datiloscópica (impressão digital),
e, por fim, fotográfica e datilográfica (é tirada uma foto, datada e
assinada). Estas provas são realizadas com todos os envolvidos, in-
clusive crianças. Obtidas estas provas, realiza-se a coleta de sangue
através de punção venosa. São colhidos rotineiramente, pelo menos
dois tubos por pessoa, em que um tubo fica estocado no laboratório
e o outro/ outros seguem para a extração de DNA. Os testes podem
ser realizados e analisados por duas equipes diferentes e depois ter
os resultados confrontados. Sempre que existir exclusão de paterni-
dade, repete-se a análise com a amostra que tinha sido congelada,
sendo confirmadas, dessa maneira, todas as exclusões (RASKIN,
2009; FIGINI et al., 2003).
Antes de se realizar o teste propriamente dito, todas as amostras
são testadas para sequências de DNA específicos do sexo feminino
e do sexo masculino. Assim, a amostra da mãe deve apresentar as
sequências compatíveis com o sexo feminino, o pai sequências com-
patíveis com o sexo masculino e a criança sequências compatíveis
com seu sexo. Este procedimento é realizado como forma de contro-
le para que não ocorra troca de amostras, e após esta verificação as
amostras são encaminhadas para as análises finais. Outro controle
adicional de qualidade é feito antes da liberação do laudo, o teste
de maternidade, no qual são comparados o DNA do filho e da mãe,
antes da análise do DNA do filho e do pai. Por fim, se os dois exa-
mes demonstrarem que o suposto pai não é o pai biológico, o exame
é repetido novamente, para a certificação dos resultados (RASKIN,
2009).
O teste também pode ser feito na ausência de uma pessoa en-
volvida. A mãe de registro que quiser investigar a paternidade de
seu filho (a) pode realizar o exame sem o consentimento do pai, pois
ele não estará sendo investigado. A recíproca também é verdadeira.
Casos que não estão enquadrados em processos jurídicos e em que
a situação exija a presença de um menor de idade, é necessária au-
torização do responsável e apresentação de certidão de nascimento
ou declaração da maternidade. O requerimento do teste de pater-
nidade só pode ser realizado por pai e mãe de registro, e o próprio

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filho após a maioridade. Neste caso, o filho investiga o vínculo e


paternidade com um terceiro, sem que ocorra a anulação do registro
de nascimento (RASKIN, 2009).

2.2. Técnicas
A biologia molecular é uma área que tem sofrido muitos avanços
nos últimos anos. O surgimento de novas técnicas e de novos mar-
cadores para análise em DNA para identificação pessoal tem apri-
morado e facilitado os testes, uma vez que cada vez menos material
é necessário, sem que ocorra perda da qualidade das análises.
Dentre as técnicas disponíveis para a análise de paternidade,
três se destacam: PCR- STR, sondas unilocais e sondas multilocais.
Estes testes têm substituído os tradicionais métodos de investiga-
ção de paternidade: marcadores sanguíneos, séricos, enzimáticos
e leucocitários HLA, pois esses marcadores apresentam uma varia-
bilidade pequena entre os indivíduos. Já o DNA se constitui de uma
extrema variabilidade de seqüências gênicas, fazendo com que a
freqüência de cada marcador seja extremamente baixa na popula-
ção. No ano de 2006, de acordo com a AABB (American Association
of Blood Banks), que regula e realiza a acreditação dos laboratórios,
a tecnologia da PCR foi utilizada em 98,53% dos testes de paterni-
dade realizados, e em contra - partida não foi relatado nenhum caso
de teste realizado com utilização de HLA (JOBIM, 2008).
Nos últimos anos, a maioria dos laboratórios que disponibilizam
este exame o realiza através da técnica de PCR-STR. A PCR, ou
reação em cadeia da polimerase, é um método muito eficaz na ava-
liação da individualidade humana. Esta técnica se baseia na amplifi-
cação do material genético, ou seja, através do uso de uma enzima
– DNA polimerase- o fragmento desejado durante vários ciclos é co-
piado e replicado, gerando bilhões de cópias da seqüência desejada
em um espaço curto de tempo. Por ser uma técnica muito específica,
a PCR determina que se conheça a seqüência a ser copiada. As
principais regiões do genoma utilizadas, portanto, são as denomina-
das microssatélites, constituídas por STRs (short tandem repeats),
ou “fingerprints”, que são seqüências curtas de nucleotídeos que se
repetem em tandem por todo genoma. Para análise de paternidade
utiliza-se em média mais que 12 locos gênicos. Já técnicas utilizando
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sondas uni e multilocais são técnicas em que utiliza-se como mar-


cadores os minissatélites, ou VNTRs (variable number of tandem re-
peats). Estes são fragmentos mais longos que os STRs, e, portanto,
exigem que se tenha mais material disponível para análise (JOBIM,
2008; BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2001).
As bases para utilização dos testes de identificação da indivi-
dualidade humana, através dos estudo do DNA, encontram-se nos
polimorfismos dos diversos loci de minissatélites e microssatélites.
Cada pessoa apresenta um cromossomo materno e um paterno, e
as segregações destas estruturas repetitivas seguem a lei de Men-
del, em que um alelo é de origem materna e outro de origem paterna
para cada locus (DOLYNSKI; PEREIRA, 2007).
Depois de amplificado pela técnica de PCR, os materiais são
submetidos à eletroforese de DNA ou a um seqüenciador automá-
tico. A eletroforese é uma técnica simples e rápida, utilizada para a
separação, visualização e também purificação do DNA de diferentes
tamanhos. O material amplificado é aplicado em um gel e submetido
a um campo elétrico, permitindo a separação do material de acordo
com o seu tamanho. Já os seqüenciadores automáticos necessitam
que os primers utilizados na PCR sejam marcados com fluorocro-
mos, gerando picos de tamanhos e cores diferentes conforme os
alelos que passam pelo laser, permitindo desta forma a identificação
e a comparação dos alelos dos materiais amplificados (ROSSETTI
et al., 2006).
Na eletroforese, a análise do peso das bandas, ou alelos, o que
se observa é a existência, no filho, da banda (ou alelo) de origem
materna, que é idêntica a uma das de sua mãe. A outra banda pre-
sente deverá ser de origem paterna e idêntica a presente no DNA do
investigado. A ausência de pelo menos duas bandas idênticas entre
o filho e o suposto pai confirma uma exclusão de paternidade, já que
uma única banda não é capaz de confirmar a exclusão devido à pos-
sibilidade de ter ocorrido uma mutação. Quando o possível pai não
é excluído, calcula-se o índice de paternidade (IP), a probabilidade
positiva de paternidade para cada sonda e a probabilidade cumula-
tiva de paternidades dos diversos testes. O índice de paternidade é
baseado no teorema de Bayes que compara as chances do filho her-

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dar o alelo compartilhado com o suposto pai, 50%, quando o supos-


to pai possui dois alelos distintos, ou 100%, quando possui apenas
um com a freqüência deste alelo na população. Países desenvolvi-
dos, como os EUA e a Alemanha utilizam a seguinte classificação
em relação ao índice de paternidade: 90-95%-paternidade provável;
95-99%-paternidade muito provável; 99-99,73% - paternidade extre-
mamente provável e acima de 99,73% - paternidade praticamente
provada (RASKIN, 1997; FIGINI et al., 2003; JOBIM, 2008; SAM-
PAIO et al., 2002).

2.3. Materiais
O DNA humano está disponível em quantidade suficiente para
análise em todas as células nucleadas do sangue e tecidos, em me-
nor concentração no soro ou no plasma, e no líquido amniótico pla-
centário. No cabelo, ele está bem representado nos bulbos capilares,
enquanto que nos ossos fica enclausurado nas células conhecidas
como osteoclastos. No caso de pessoas falecidas há mais tempo,
em que os materiais dos tecidos já se encontram degradado, os os-
sos e os dentes são de grande importância para a obtenção de DNA
(JOBIM, 2008).
Na realização do teste de paternidade, pode-se fazer uso de
diversos materiais biológicos, com os quais o único objetivo é a
obtenção de uma amostra de DNA. Os materiais mais comumen-
te utilizados são sangue, esperma, saliva e cabelos. O sangue é o
material preferencial de escolha, visto que ele representa uma fonte
abundante de informação genética e por fornecer DNA íntegro e de
boa qualidade para análise. A escolha de cabelo como material é
utilizada quando um dos envolvidos realizou transplante de medula
óssea ou transfusão sanguínea nos últimos noventa dias. Pessoas
que fazem uso de medicamentos ou drogas podem fazer o exame,
pois o seu padrão genético não será afetado, assim como não há
necessidade de jejum nem mudanças na rotina (CROCE; CROCE
JR, 2009; RASKIN, 2009).
A coleta do material exige um controle extremo, já que as amos-
tras passam a ter uma cadeia de custódia, na qual todos técnicos
que realizaram provas, e todas as análises são documentadas, para
que o material colhido possa ser passível de confiança e possua
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legalidade perante a justiça. Desta forma, os documentos da cadeia


de custódia devem possibilitar que sejam registradas todas as fases,
desde o recebimento, aliquotagem, preparação, testes realizados
até a disposição final. Laboratórios que oferecem o serviço, mas de
forma terceirizada, devem ter cuidados extras, com profissional es-
pecializado responsável, já que a coleta e o envio deste exame se-
guem normas muito diferentes de outros exames de patologia clínica
(CHASIN, 2008; RASKIN, 1997).

2.4. Número de pessoas envolvidas


A investigação de paternidade pode ser realizada de acordo com
a quantidade de pessoas envolvidas, ou de acordo com as possi-
bilidades de cada caso. Os casos mais comuns e de mais fácil re-
solução são os testes trio, em que há a presença do possível pai,
do filho e da mãe. Nestes casos, o leque de marcadores genéticos
disponíveis para análise é tão grande, que fica impossível a falta de
conclusão (FIGINI et al., 2003).
Outros tipos de testes são os que envolvem apenas o possível
pai e o filho, quando na impossibilidade da presença da mãe, e são
chamados testes duo. Nestes casos, as provas são realizadas com
o DNA entre o suposto filho e possível pai, porém um número maior
de alelos será analisado, sendo os resultados estatísticos bastante
confiáveis. São observados metade dos alelos em comum entre o
autor e o investigado. Uma exclusão consiste na ausência de alelos
em comum (FIGINI et al., 2003; RASKIN, 2009).
Testes post-mortem são aqueles em que o possível pai é faleci-
do, e então analisa- se os ascendentes e descendentes, ou parte-se
para a exumação do corpo. Nestes casos, a identificação de pater-
nidade pode sofrer limitações devido à escassez de indivíduos para
análise, tanto na parte da autora quanto na do suposto pai (FIGINI et
al., 2003; JOBIM et al., 2008).
Quando no estudo da família existem várias possibilidades. A pri-
meira é se ambos os possíveis avós paternos são disponíveis. Os
resultados são como se o falecido estivesse vivo, pois os alelos exis-
tentes no suposto filho de origem paterna devem obrigatoriamente
estar presentes no avô ou na avó. Se não existir partilha entre os ale-
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los, conclui-se como uma exclusão, enquanto que a inclusão por ser
de fácil detecção fornece resultados estatisticamente importantes. A
segunda maneira é através na análise dos filhos legítimos e irmãos
do possível pai. Quando os filhos legítimos são analisados é impor-
tante o estudo da mãe e da viúva do investigado. Entre os irmãos, só
é possível observar o máximo de quatro alelos ou bandas diferentes.
Nestes casos a exclusão de paternidade se dá na presença de mais
de quatro alelos diferentes entre os irmãos e o alelo paterno do autor.
Analisando a viúva e seus filhos a exclusão ocorre quando os dois
alelos paternos forem identificados nos filhos do falecido e não forem
identificados no autor. A maioria destes casos são resolvidos, sen-
do a conclusão proporcional a quantidade de pessoas disponíveis
para análise, ou seja, quanto mais filhos ou tios disponíveis, maior
a possibilidade de resultados conclusivos. É sempre mais desejável
que se faça a análise do maior número possível de ascendentes e
descendentes, pois pode ocorrer de que o alelo paterno presente no
autor não seja o mesmo existente nos suposto irmãos (FIGINI et al.,
2003).
Em situações nas quais o investigado falecido não deixou des-
centes para análise, parte-se para a exumação do corpo. São ana-
lisados os dentes molares, pré-molares e fêmur. Em caso de mor-
te recente, de horas ou dias, pode-se recolher amostras de sangue
puncionando veias ou o coração, ou coletar cabelos, com bulbo, em
uma amostra de pelo menos 20 fios. Até quatro semanas de morte
pode-se usar amostras de músculo esquelético (FIGINI et al., 2003;
JOBIM et al., 2008).

3. MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo constitui-se de uma revisão da literatura cujo enfo-
que é testes de paternidade realizados em laboratórios clínicos. Para
tanto, foram consultados livros, periódicos e artigos científicos.

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Embora o teste de paternidade seja um exame bastante difun-
dido na nossa sociedade, ele exige alguns cuidados por parte dos
laboratoristas. O teste pode ser solicitado por alguma pessoa física,
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como o pai ou a mãe, ou como parte de um processo judicial. Em


ambos os casos, o teste exige cuidados, mas estes devem ser refor-
çados quando a solicitação não provém sem solicitação jurídica. De
acordo com Raskin (2009), algumas precauções devem ser toma-
das, desde a solicitação do teste até a coleta dos materiais. Todos os
materiais devem possuir uma cadeia de custódia; o teste pode ser
realizado na ausência de uma pessoa envolvida; quando na presen-
ça de menor é exigida a certidão de nascimento e o requerimento só
pode ser realizado por pai ou mãe de registro. Dalvi (2008) entende
que na colheita do material, é importante obter autorização de todos
os envolvidos, assim como todas as amostras devem ser codificadas
para garantir a confiabilidade do teste. Desta forma, resguardam-se
os direitos da criança e os direitos da família, e apesar de não se
ter muitos autores dissertando a respeito, é de consenso na grande
maioria dos laboratórios que prestam este serviço que sejam respei-
tadas essas normas.
De acordo com Dalvi (2008), o reconhecimento da paternidade
pode ser feito de várias formas. A mais comum é a realizada pela
declaração no termo de paternidade. No entanto, o artigo 2° da Lei
8560/92 expõe o reconhecimento da paternidade por suprimento.
Neste caso, havendo um registro de nascimento no qual apareça
somente o nome da mãe, o escrivão deve remeter ao juiz uma certi-
dão do ato e das declarações da mãe sobre endereço do pai e outras
possibilidades de encontrá-lo. Com isso, o juiz determina, caso en-
tenda que tenham indícios suficientes para presumir a paternidade
do suspeito pai e que este confirme a paternidade, a remessa de um
termo de reconhecimento. Contudo, se ocorrer a negativa paterna de
comparecer em juízo, ou ocorrer a negação da paternidade, o caso é
encaminhado ao Ministério Público para que se proponha a ação de
investigação de paternidade.
Ainda conforme Dalvi (2008), todo ano no Brasil são feitos 6000
testes de DNA para comprovação de paternidade. Em cada teste, há
laços familiares que se dissolvem pela comprovação de que alguém
não era filho do pai que imaginava ter, ou relacionamentos começam
a ser construídos a partir da descoberta de que uma pessoa tinha um
filho que não julgava ser seu.

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Fonseca (2005), afirma que muitos casos nem chegam a ser jul-
gados. Alguns processos acabam sendo arquivados porque não foi
possível localizar o suposto pai, e mesmo quando localizado é co-
mum o homem não comparecer na primeira convocação para fazer
o exame. Nos casos que são julgados na Vara de Família, a criança
consegue colocar na certidão o nome de algum “pai”. Se menor, a
criança ainda tem o direito de receber pensão. Porém, essa identida-
de oficial nem sempre traz consequências no plano prático e muito
menos no plano afetivo. Desta forma, nada garante que o homem
declarado pela corte como pai cumpra seu compromisso paterno,
pois a afirmação de um fato biogenético, o cumprimento de uma lei
e o desenvolvimento de uma relação social são processos muitos
distintos.
Pode – se afirmar que com o advento do teste em DNA é hoje
praticamente possível garantir se um indivíduo é ou não filho bioló-
gico de um determinado casal. Da mesma forma, é possível excluir
pessoas falsamente acusadas e obter probabilidades de inclusão
extremamente próximas a 100%. Com a nova geração de testes em
DNA, é muito difícil encontrar duas pessoas iguais em diversos locos
genéticos analisados, ficando a única exceção a cargo dos gêmeos
univitelinos que possuem, a princípio, 100% de seu DNA igual.
Muitas técnicas são hoje disponíveis para análises em DNA. Em
relação a testes de paternidade, a técnica PCR – STR se destaca
como sendo utilizada majoritariamente por laboratórios que prestam
este serviço. De acordo com Jobim (2008), a técnica de PCR – STR
tem sido muito utilizada na análise pericial de casos de identificação
humana, pois é um método extremamente poderoso na avaliação
da individualidade humana. A abundância de STRs no genoma hu-
mano é uma fonte inesgotável de variabilidade, e não encontram
problemas como as altas taxas de mutações encontradas nos locos
utilizados por sondas uni e multi-locais, já que os STRs apresentam
baixa taxa de mutação (RASKIN, 1997). Ainda de acordo com Raskin
(2009), a escolha da técnica deve ficar a critério de cada laboratório,
pois não existe metodologia melhor ou pior, qualquer uma utilizada
– sondas unilocais, sondas multilocais ou STRs (microssatélites)-, é
capaz de esclarecer absolutamente todos os casos, cada uma com
suas facilidades ou dificuldades. A utilização de sondas apresenta

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custo relativamente baixo, mas encontra dificuldades visto que uti-


liza material radioativo, é uma técnica extremamente trabalhosa, e
o DNA a ser analisado deve estar em uma quantidade suficiente e
não degradado. Já os STRs apresentam algumas vantagens, como
o DNA é amplificado via PCR, a amostra a ser analisada pode ter
uma quantidade inicial pequena e mesmo existindo contaminação da
amostra por DNA de outras espécies a técnica de PCR é específica
o suficiente para amplificar apenas o DNA humano.
Para a análise do DNA, faz-se uso de qualquer material humano
constituído por células nucleadas. De acordo com Raskin (2009), o
material de preferência para a realização do teste de paternidade é
sangue total, coletado através de punção venosa. Neste caso, o ma-
terial é abundante e coletado em condições ideais, evitando contami-
nações, além de ser obtido mediante autorização prévia de todos os
envolvidos. Embora, dependendo da situação, como em transfusões
sanguíneas ou transplante de medula óssea, possa se fazer uso de
outros materiais como cabelo (bulbo), saliva, esperma, ossos. De
acordo com Jobim et al. (2008), quando um dos indivíduos envolvi-
dos é falecido há mais tempo, os cabelos são inadequados visto que
já perderam a raiz e os tecidos remanescentes costumam apresentar
material degradado. Sendo assim, os ossos e os dentes costumam
ser os materiais de escolha para a obtenção de DNA. Em casos en-
volvendo crianças em estado fetal, Raskin (2009) afirma que o teste
pode ser feito analisando o DNA presente nas células do líquido am-
niótico ou das vilosidades coriônicas da placenta, quando a gestação
encontra-se próxima do quarto mês. O mesmo autor acredita que
este tipo de exame só deve ser feito com o consentimento do casal
e declaração de que o resultado não será utilizado para interrupção
da gestação, a não ser casos de estupro confirmado.
O teste de paternidade pode ser realizado de diversas formas,
de acordo com a quantidade de pessoas disponíveis para a ava-
liação. De acordo com Figini e cols (2003), os casos de mais fácil
resolução são os que se apresentam disponíveis para análise o trio:
mãe, filho e suposto pai. Raskin (2009) sugere que este tipo de teste
é o mais preciso, no entanto, quando o DNA do pai ou da mãe está
indisponível ocorre um acréscimo de locos analisados, ocasionando
maior tempo e custo, mas sem alterar a precisão do teste. Quando

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o material da mãe está disponível o exame é ao mesmo tempo um


teste de paternidade e maternidade, e pode ser usado para esclare-
cer situações como uma possível troca de crianças na maternidade,
ou com crianças desaparecidas e que são encontradas muitos anos
mais tarde. Figini e cols (2003) afirmam ainda que em um teste com
suposto pai e filho, observam-se metade dos alelos em comum entre
o autor e o investigado, sendo os resultados estatísticos bastante
confiáveis. Caso não são observados alelos em comum, ocorre uma
exclusão. No caso em que o possível pai é falecido, é de consenso
entre Figini e cols (2003) e Jobim et al. (2008), que parte-se para a
análise dos ascendentes e descendentes do falecido ou exumação
do corpo. Desta forma, quando no estudo da família ainda é possível
a análise dos avós paternos, ou na sua ausência, da maior quanti-
dade de filhos e irmãos do investigado, maior é a probabilidade de
conclusão.
De acordo com Sampaio et al. (2002), ainda quando se recons-
titui o perfil genético do suposto pai através de parentes de primeiro
grau, a análise pode resultar inconclusiva.
Em casos de exumação, a análise dos dentes molares e pré-mo-
lares e do osso fêmur devem ser o material de escolha, para que a
quantidade de material seja suficiente para análise, visto que grande
parte já pode estar degradada. Em casos de morte recente, Figini e
cols (2003) afirmam que se pode utilizar qualquer material, preferen-
cialmente músculo, mais os dentes molares e pré-molares e fios de
cabelo contendo bulbo.

5. CONCLUSÃO
Desta forma, conclui-se que a técnica mais utilizada em testes de
paternidade é a PCR através da análise dos microssatélites, por ser
uma técnica mais prática e eficiente. Dentre os materiais disponíveis
para análise, recomenda-se a utilização de sangue para a extração
de DNA, e a situação preferencial é aquela que constam os três en-
volvidos no caso, suposto pai, mãe e filho. Os testes de paternidade
podem ser realizados em laboratórios clínicos quando solicitado por
meio de um processo jurídico, ou quando solicitado por uma pessoa
física, nestes casos, com algumas precauções e exigência de docu-
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mentos comprobatórios de filiação. O teste de paternidade através


do DNA foi amplamente aceito pelo poder judiciário podendo resol-
ver de forma prática, e talvez precipitada, questões muito comple-
xas. Assim, este teste pode tanto ser utilizado para firmar um laço
de parentesco, como também para negar laços já existentes, já que
a certeza genética não significa cumprimento das questões sociais
dos envolvidos.

6. REFERENCIAS
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ROSSETTI, Maria L; SILVA, Cláudia M. D.D; RODRIGUES, Ja-
queline J. S. Doenças Infecciosas: Diagnóstico Molecular. Rio de
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TESTE DE PATERNIDADE:UMA ANÁLISE DAS QUESTÕES TÉCNICAS E LEGAIS ENVOLVIDAS NO EXAME

Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.


SAMPAIO, Silvia O. et al. Investigação de paternidade na au-
sência do suposto pai. Saúde, Ética & Justiça, n 5, vol 1-2, p. 6-11,
2002.

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FISIOTERAPIA MANIPULATIVA NO TRATAMENTO DA CERVICALGIA

FISIOTERAPIA MANIPULATIVA NO
TRATAMENTO DA CERVICALGIA
MANIPULATIVE PHYSIOTHERAPY TREATMENT NECK
PAIN

Marcelo Anderson Bracht1


Armindo Holler2
RESUMO
A dor cervical é uma queixa relativamente comum e afeta cerca de 70% dos indivíduos em algum momento de suas vidas.
A coluna cervical é considerada o elo flexível entre o crânio e o tronco. Possui uma função que combina mobilidade e ao
mesmo tempo estabilidade, dando suporte a cabeça, além de proteção para as estruturas vasculares e nervosas. Por
ser uma área de grande mobilidade tem uma grande propensão à lesão. Para atingir sucesso em sua intervenção clínica
o Fisioterapeuta necessita de um amplo entendimento da anatomia funcional e da biomecânica clínica a fim de realizar
uma avaliação precisa e aplicar corretamente as técnicas manipulativas. Este estudo tem como objetivo descrever a
anatomia funcional da coluna cervical, o entendimento da cervicalgia e a aplicação da terapia manipulativa. Foi feita
uma revisão da literatura em livros, artigos científicos e sites relacionados com o assunto.
Palavras-chave: coluna cervical. Cervicalgia. fisioterapia manipulativa.

ABSTRACT
Cervical pain is a relatively common complaint, affecting about 70% of individuals at some point in their lives. The cervical
spine is considered a flexible link between the skull and torso. It has a function that combines mobility and stability at
the same  time, supporting  his head, and protection  for the  vascular and nervous structures.  Being  anarea of​​
great mobility has a high propensity to injury. To achieve success in their clinical intervention the physiotherapist needs
a broad understanding of functional anatomy and biomechanics clinic in order to perform an accurate and correctly
apply the manipulative techniques. This study aims to describe the functional anatomy of the cervical spine,neck of the
understanding  and application  of manipulative therapy.  A review  of the literature  in books, scientific articles
and sites related to the subject.
Keywords: cervical spine, neck and manipulative physiotherapy.

1. INTRODUÇÃO
A coluna cervical tem como função primordial suportar e orientar
a cabeça no espaço relativamente ao tórax para servir os sistemas
sensoriais (JULL et al., 2008). Esta tarefa exige um sistema muscu-
loesquelético complexo a fim de combinar mobilidade e estabilidade.
A grande mobilidade associada a fatores extrínsecos e intrínsecos
propiciam a instalação de disfunções na região cervical.

1 Fisioterapeuta, FURB; Mestre em Fisioterapia, UDESC; Especialista em Fisioterapia Ortopédica, ACE; Aperfeiçoamento em
Fisioterapia Manipulativa. E-mail: mabracht@gmail.com.
2 Fisioterapeuta, Mestre em Educação, Professor no curso de Fisioterapia do IESA – Santo Ângelo – RS. E-mail: riegerhol@yahoo.com.
br.

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MARCELO ANDERSON BRACHT - ARMINDO HOLLER

Um número significativo da população é acometido por cervical-


gia e por esse motivo, com freqüência, os Fisioterapeutas são con-
frontados com a necessidade de selecionar terapias eficazes para o
tratamento da disfunção cervical. A Terapia manipulativa vem sendo
utilizada há longa data no alívio das mais variadas manifestações de
dor. O estudo é uma revisão bibliográfica das principais estruturas
da coluna cervical, a sua anatomia funcional e biomecânica com o
objetivo de contribuir para o entendimento dos efeitos da Fisioterapia
Manipulativa no tratamento da Cervicalgia.

2. METODOLOGIA
O trabalho consistiu numa revisão bibliográfica sobre a aborda-
gem da Fisioterapia Manipulativa no tratamento da cervicalgia. Foram
consultadas bases de dados através da Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS) da BIREME, bibliografia atualizada utilizando os descritores:
“Cervicalgia” and “Terapia Manual” or “Fisioterapia Manipulativa”.

3. DISCUSSÃO
A região cervical é dotada de grande mobilidade permitindo mo-
vimentos de 45º de flexão e extensão. Flexiona-se lateralmente 45º
e é capaz de girar aproximadamente 60º (THOMPSON; FLOYD,
1997). Devido a sua mobilidade a cervical sofre mecanicamente pe-
los esforços a que é submetida no trabalho e na vida diária. Para
minimizar o impacto é constituída de uma lordose fisiológica de con-
cavidade posterior (SOBOTTA, 2008). Segundo Hoppenfeld (2001),
a coluna cervical possui as funções de suporte, estabilidade e mobi-
lidade para a cabeça; abriga e conduz a medula espinhal, a artéria
vertebral e as veias jugulares internas; a cadeia simpática do siste-
ma nervoso autônomo.
A coluna cervical se constitui em duas categorias anatômicas e
funcionais distintas, ou seja, em coluna cervical superior, suboccipital
ou atípica (C0,C1, C2) e coluna cervical inferior ou vértebras típicas (
C3 a C7) (GOULD, 1993). A coluna cervical superior que é composta
pelo atlas e áxis, isto é, as duas primeiras vértebras, as quais estão
unidas entre si, além do occipital, por uma complexa cadeia articu-
lar com três eixos e três graus de liberdade. As demais vértebras
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cervicais são todas do mesmo tipo (KAPANDJI, 2000). Segundo o


mesmo autor, a coluna cervical inferior se estende do platô inferior
do áxis até o platô superior da primeira vértebra torácica. Possuem
dois tipos de movimentos: sendo um movimento de flexão - extensão
e por outro lado movimentos mistos de inclinação - rotação. Fun-
cionalmente as colunas cervical, superior e inferior, trabalham em
uníssono para realizar movimentos puros de rotação, inclinação ou
de flexão e extensão da cabeça.
A parte inferior da coluna cervical é caracterizada pelas vértebras
(C3- C7), cujos processos espinhosos tornam-se progressivamente
maiores em ordem descendente. A sétima vertebral cervical é deno-
minada proeminente por apresentar o maior processo espinhoso na
região cervical. Abaixo do áxis cada unidade tem vértebras adjacen-
tes separadas por discos intervertebrais (KAPANDJI, 2000).
O atlas diferencia se das demais vértebras principalmente por
não apresentar corpo vertebral, por ser um anel mais largo transver-
sal que sagitalmente. Contém duas massas laterais ovaladas com
uma face articular superior e uma face articular inferior; o arco an-
terior tem por face posterior uma face articular cartilaginosa ovalada
que se articula com a apófise odontóide do áxis (GOULD, 1993). O
áxis, por sua vez, apresenta um corpo vertebral cuja face superior
recebe em seu centro o processo odontóide, que serve de pivô para
a articulação atlantoaxial. Possui duas faces articulares, que se so-
bressaem lateralmente para fora do corpo vertebral. O arco posterior
está constituído por duas lâminas estreitas. A apófise espinhosa é
composta por dois tubérculos como as demais espinhosas cervicais.
As apófises transversas apresentam um orifício pelo qual ascende à
artéria vertebral, que leva o sangue oxigenado à região mais nobre
do corpo que é o cérebro (KAPANDJI, 2000).
Conforme o mesmo autor, a terceira vértebra cervical é seme-
lhante às quatro últimas vértebras cervicais, portanto é uma vértebra
cervical padrão: possui um corpo vertebral alongado transversalmen-
te, sua face comporta o platô vertebral superior, limitada lateralmente
pelos processos unciformes. As facetas cervicais estão localizadas
em pilares articulares pequenos angulados em torno de 45 graus
obliquamente, posteriormente e inferiormente. O ângulo aumenta

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nos níveis descendentes e torna-se vertical em C7. A superfície da


faceta superior é convexa, e a superfície da faceta inferior é cônca-
va. Esta estrutura anatômica das facetas articulares permite os movi-
mentos de flexão, extensão, lateroflexão e rotação (BRUNNSTROM,
1989).
Entre as vértebras encontram-se os discos intervertebrais que
são estruturas fibrocartilaginosas consistindo de uma parte periféri-
ca, anel fibroso e de uma parte central, núcleo pulposo. Atua como
amortecedor elástico que equilibra as pressões transmitidas pelo nú-
cleo pulposo. O conteúdo aquoso diminui progressivamente, com o
correr da idade. Assim sendo, possuem dupla função para articula-
ção, que permite a flexibilidade da coluna, e age como um amorte-
cedor, prevenindo traumatismos e lesões ósseas. O disco suporta
e distribui as cargas na coluna vertebral assim como restringe os
movimentos bruscos. São capazes de suportar forças compressivas,
bem como forças de torção e curvatura aplicadas sobre a coluna
(KISNER; COLBY, 2004).
Os ligamentos são estruturas fibrosas não contráteis, que unem
um osso a outro e promovem estabilidade. Os ligamentos são flexí-
veis, porém não extensíveis, contêm terminações nervosas que são
importantes nos mecanismos reflexos e na percepção de movimento
e posição (KENDAL; McCREARY; PROVANCE, 1995). Encontram-
se ao longo de toda a coluna e apresentam um suprimento sanguí-
neo pobre, mas um bom suprimento nervoso (GOULD, 1993).
São de extrema importância, na coluna cervical, os forames in-
tervertebrais, pequenos orifícios, dirigidos anterior, inferior e lateral-
mente que se constituem pelos arcos, corpos e processos articulares
vertebrais adjacentes. Com exceção das duas primeiras todas as
raízes cervicais transitam pelos forames intervertebrais. Além disso,
contem também tecido areolar, pequenas artérias, vênulas e nervos
(HOPPENFELD, 2002).
Os músculos do pescoço podem ser funcionalmente divididos
em dois grandes grupos musculares: os anteriores e os posteriores.
Segundo Knoplich (2003), a maior massa de músculos flexores está
localizada na região cervical média C4 a C6, onde C5 e C6 são a
região da cervical inferior que tem o maior grau de movimento e
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FISIOTERAPIA MANIPULATIVA NO TRATAMENTO DA CERVICALGIA

conseqüentemente sendo a área de maior desgaste mecânico e de


exposição a traumas. Os músculos escaleno anterior, médio e poste-
rior têm como funções a estabilização da primeira e segunda costela
durante a respiração e estabilização do pescoço, durante a rotação
(TEIXEIRA; SOUZA, 2001b).
Através desta breve revisão das principais estruturas anatômicas
que compõe a coluna cervical percebemos a complexidade e a im-
portância da mesma. Não nos aprofundamos, pois o nosso objetivo
é fazer uma revisão para um melhor entendimento das estruturas,
pois as técnicas de terapia manual devem ser aplicadas com preci-
são, caso contrário, não são efetivas. Assim sendo, a seguir faremos
algumas considerações sobre a cinésiologia e biomecânica da cer-
vical.
O movimento de uma unidade estrutural da coluna em qualquer
direção causa alguma distorção do disco intervertebral. Tal distorção
provoca algum alongamento das fibras anulares quando a totalidade
do disco se deforma, seja em flexão, em extensão, em movimento
lateral ou em rotação (HOPPENFELD, 2001).
Segundo Edmound (2000), a flexão anterior e posterior são os
movimentos primários que ocorrem na articulação atlanto-occipital.
Essa articulação é responsável por 15º de movimento no plano sagi-
tal. O movimento ocorre primariamente através de rolamento do oc-
cipital sobre o atlas. Ocorrem cerca de 10º de flexão anterior e pos-
terior na articulação atlanto-axial. O movimento completo é realizado
pela coluna cervical inferior. Todas as vértebras cervicais realizam
os movimentos de flexão, extensão, inclinação lateral e rotação, po-
rém alguns segmentos realizam movimentos maiores do que outros.
O movimento maior de flexão ocorre na interface C4-C5, ao passo
que a extensão é razoavelmente bem difundida. Esse fato contribui
para que a rotação maior ocorra ao nível de C5-C6, já a inclinação é
maior entre C2-C5 diminuindo á medida que se aproxima da coluna
torácica. Além disso, o arco do movimento lateral é definido pelos
planos das fissuras uncovertebrais ou juntas de Luschka (OLIVEIRA;
OLIVEIRA, 2009). A maior parte do movimento de flexão lateral corre
na coluna cervical inferior. A flexão lateral excessiva é bloqueada
pelas articulaões uncovertebrais. A coluna cervical inferior também

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é responsável por, aproximadamente, 45º de rotação para cada lado


(EDMOND, 2000).
Durante o movimento de extensão, o corpo da vértebra supraja-
cente se inclina e desliza para trás; o espaço entre os platôs verte-
brais se estreita mais para trás que para diante, o núcleo pulposo se
desloca levemente para diante e, deste modo, as fibras anteriores
do anel fibroso entram em tensão. Este movimento de deslizamen-
to para trás do corpo vertebral não realiza ao redor do centro de
curvatura das faces articulares e, conseqüentemente, aparece uma
abertura na articulação interapofisária. O movimento de extensão é
limitado pela tensão de ligamento vertebral comum anterior e pelos
ressaltos ósseos (KAPANDJI, 2000).
O movimento da coluna cervical inferior é guiado pelas facetas
articulares, que formam um ângulo de 45 graus ventralmente a partir
do plano frontal. Devido a essa angulação, a flexão anterior ocorre
quando a faceta caudal da vértebra mais cranial desliza para cima e
para frente sobre a faceta cranial da vértebra caudal. A angulação
oblíqua das facetas articulares também produz uma translação ven-
tral da vértebra mais cranial com flexão anterior, e o inverso, uma
translação dorsal da vértebra mais cranial com a flexão posterior
(EDMOND, 2000). Com a flexão de um segmento vertebral, a porção
anterior do disco é comprimida e a posterior é liberada. O núcleo pul-
poso é deslocado posteriormente, potencialmente para redistribuir a
carga através do disco. Cargas assimétricas em flexão resultam em
distorções do núcleo em direção ao canto contralateral póstero-late-
ral onde as fibras do anel estão mais alongadas (KISNER; COLBY,
2004).
O movimento de flexão não é limitado pelos ressaltos ósseos,
mas somente pelas tensões ligamentares do ligamento vertebral co-
mum posterior (ligamento longitudinal posterior), da cápsula da ar-
ticulação interapofisária, dos ligamentos amarelos, dos ligamentos
interespinhais e do ligamento supra-espinhal ou ligamento cervical
posterior (HAMILL; KNUTZEN, 1999). Na inclinação, ocorre a imbri-
cação homolateral, deslocamento discal contralateral, deslizamento
da vértebra superior, porém este movimento limita-se pela cápsula
contralateral, ligamento intertransverso, processos unciformes e pe-

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FISIOTERAPIA MANIPULATIVA NO TRATAMENTO DA CERVICALGIA

las facetas articulares. Na rotação, assim como na inclinação, ocorre


a imbricação e inclinação homolateral. O movimento é bloqueado
por facetas articulares, cápsulas homolaterais, ligamento intertrans-
verso contra-lateral e por tecidos moles (FERRETTI, 2006).
Além destes movimentos, temos os conjugados de inclinação e
de rotação na coluna cervical inferior que estão determinados pela
orientação das faces das apófises articulares, que não permitem
nem movimentos de rotação pura, nem movimentos de inclinação
pura (KNOPLICH, 2003).
Para um melhor entendimento dos movimentos Fryette descre-
veu duas leis que afirmam: na primeira lei quando uma vértebra ou
um grupo de vértebras está em posição neutra das facetas, para
realizar uma rotação de um lado, a vértebra ou grupo de vértebras
é obrigada a realizar primeiro uma látero flexão do lado oposto; a
segunda lei quando uma vértebra ou um grupo de vértebras encon-
tra-se em estado de flexão ou extensão para formar uma látero-fle-
xão de um lado, esta vértebra ou este grupo vertebral é obrigado a
realizar primeiro uma rotação do mesmo lado (MAKOFSKY, 2006).
Depois desta breve revisão da anotomia e biomecânica da cervi-
cal passamos para o entendimento de uma das principais patologias
desta região que é a cervicalgia. Caracteriza-se pela dor ao nível da
coluna cervical alta, sendo aí incluída a cefaléia da nuca. Quando
a dor dessa região se irradia para ombro, braço e mão passam a
denominar-se cervicobraquialgia, admitindo-se que o plexo braquial
formado das terminações C2 a C8 tenha sido afetado (KNOPLICH,
1986).
Pesquisa epidemiológica Internacional sugere que 40% da po-
pulação sofrerão de dor cervical em qualquer ano com um ponto de
prevalência entre 10 e 20% (FEJER, 2006).
A cervicalgia tende a se tornar persistente e recorrente em mais
de 60% das pessoas que podem esperar algum grau of OINGOING
dor por muitos anos após o primeiro episódio (GORE, 1987). Se-
gundo Teixeira et al.(2001), a dor cervical é uma das condições ál-
gicas mais prevalentes na prática médica, acomete, acometeu ou
acometerá 55% da população em algum momento da vida. Estima-

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se que 12% das mulheres e 9% dos homens apresentam cervicalgia


crônica. São mais propensos a desenvolvê-la os idosos, trabalhado-
res braçais, indivíduos tensos ou que executem atividade adotando
vícios posturais. Ferretti (2006) em seu estudo afirma que 15% da
população sofrem dor cervical e 43% dessa população são enca-
minhados para tratamento fisioterápico. Segundo o mesmo autor a
patologia é uma das queixas mais comuns no cotidiano da clínica de
fisioterapia e tem sido observada em 25% das pessoas entre 25 a 29
anos de idade, mas essa proporção aumenta para 50% da popula-
ção acima de 45 anos de idade.
A origem da cervicalgia pode estar ligada a transtornos endócri-
nos, metabólicos, vasculares, disfunção dos condrócitos, perturba-
ção da fibra colágena da cartilagem, aumento da tensão muscular
e microtraumatismo. Processos degenerativos como espondilite an-
quilosante, artrose da coluna vertebral, também alterações mecâ-
nicas como hérnia discal, espondilolistese cervical, infecções ósse-
as, deformidades, tumores benignos e malignos, posturas viciosas,
desvios das posições das vértebras, má postura, posições forçadas
e tensão emocional (KNOPLICH, 1986). Na região cervical, encon-
tram-se localizadas parte da estrutura do esôfago, a laringe, a glân-
dula tireóide, a traquéia, as artérias carótidas e vertebrais e as veias
jugulares, que também podem ser causa de dor, quando acometidas
por afecções de natureza variada (TEIXEIRA et al., 2001). O esta-
do emocional do paciente tem uma influência significativa sobre o
pescoço tanto em sua curvatura como em relação ao centro de gra-
vidade. Por exemplo, a postura do ombro caído no indivíduo deprimi-
do é compensada com o aumento do tônus muscular para mantê-lo
excentricamente. A pessoa hostil e agressiva geralmente centraliza
suas tensões nos músculos cervicais (HERBERT et al., 1995). Deve
se considerar também a dor isquêmica e muscular em conseqüência
da falta de oxigênio acumulando catabólitos irritantes. Este quadro
desencadeia um processo inflamatório dos tecidos que finalmente
conduz a reação fibrosa dentro dos músculos e tecidos contíguos.
Desta forma fechando um ciclo que produz a dor e a incapacidade
(KENDAL; McCREARY; PROVANCE, 1995).
Portanto a cervicalgia pode ter várias causas como traumas re-
petitivos, secundários a erros posturais ou ergonômicos da coluna

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FISIOTERAPIA MANIPULATIVA NO TRATAMENTO DA CERVICALGIA

cervical ou ainda ser uma sintomatologia secundária que pode ser


por alterações do forame intervertebral, do canal vertebral ou arté-
rias vertebrais ou por problemas viscerais. Porém na grande maio-
ria dos pacientes a dor é desencadeada não pelas artropatias ou
discopatias, mas sim por comprometimento de síndrome dolorosa
miofacial da musculatura cervical e da cintura escapular, que é uma
afecção álgica do aparelho locomotor, que acomete músculos, ten-
dões, fáscias e ligamentos e é caracterizada por dor e aumento de
tensão dos músculos afetados (FERRETTI, 2006). Esta idéia tam-
bém é reforçada por Teixeira et al. (2001) afirmando que a síndrome
dolorosa miofascial é a causa mais comum da cervicalgia crônica.
Porém em alguns casos constitui um fator revelador de uma doença
local, regional ou sistêmica mais grave.
O resultado final das patologias é a sensação de dor denominada
de cervicalgia por se manifestar nesta região do corpo. A dor é um
estado de consciência com um componente afetivo desagradável e
que desempenha um papel de proteção para o organismo. Portan-
to a dor tem um valor fundamental, pois alerta o indivíduo sobre a
ocorrência de alguma forma de lesão orgânica instalada ou em vias
de instalar-se (TEIXEIRA et al, 2001a). O conceito de dor, do comi-
tê de taxonomia da International Association for the Study of Pain
(IASP), como experiência sensorial e emocional desagradável, que
é associada ou descrita em termos de lesões teciduais. A dor é sem-
pre subjetiva. Cada indivíduo utiliza a palavra dor de acordo com o
aprendizado frente a suas experiências prévias. “É uma sensação
desagradável localizada em uma parte do corpo; constitui adicional-
mente uma experiência emocional” (TEIXEIRA et al., 2001a, p.14).
A dor pode ser classificada como superficial, profunda, visceral,
central e psicogênicas. Mas também pode ser classificada confor-
me duração como dor aguda ou crônica (FERRETTI, 2006). A dor
também se manifesta de diferentes formas dependendo o órgão ou
tecido acometido. Este entendimento é importante para auxiliar na
avaliação e diagnóstico da lesão.
Assim sendo, descreveremos as características da dor cervical
nos diferentes tecidos. A dor óssea é precisa, centrada sobre a vér-
tebra danificada. É uma dor surda, contínua e aumenta com os mo-

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MARCELO ANDERSON BRACHT - ARMINDO HOLLER

vimentos. A dor discal é aguda, se manifesta quando o peso do


corpo é colocado sobre o disco intervertebral danificado. Aumenta
com a anteflexão que provoca a retropulsão discal, e tenciona o liga-
mento longitudinal posterior ricamente inervado. A dor aparece ime-
diatamente, sem tempo de latência. Ao nível cervical esta dor pode
ampliar-se com esforços, pois aumenta a pressão intrameníngea.
A dor ligamentar aparece quando uma postura é mantida durante
muito tempo. Não se manifesta de forma imediata, aparece ao final
de amplitudes articulares. É descrita quase sempre como uma sen-
sação de queimação (FERRETTI, 2006). Para o mesmo autor, a dor
muscular manifesta-se com os movimentos e está relacionada com
a contração muscular. O movimento doloroso indica músculo lesado.
O movimento oposto, que coloca em tensão o músculo, é respon-
sável por um rebote causado por um espasmo muscular. A dor é
do tipo isquêmica, é surda, difusa e se intensifica com a contração
isométrica. A dor nervosa ou dor radicular é do tipo filiforme, poden-
do o paciente indicar o trajeto da mesma. É intensificada com certos
movimentos, e na maioria das vezes, pelo apoio sobre o processo
transverso da vértebra implicada (FERRETTI, 2006).
Outro ponto fundamental é a avaliação do doente com cervicalgia,
para que possamos determinar com precisão as estruturas acometi-
das para então eleger a técnica adequada e aplicá-la com eficiência.
Os principais pontos a serem contemplados no exame clínico são:
dados da história, antecedentes individuais e familiares, hábitos, am-
biente de trabalho, padrão de sono, uso de medicamentos e o exame
físico incluindo aparelho locomotor e do sistema nervoso. Também
deve ser observado a localização, intensidade, distribuição, irradia-
ção, fatores de melhora e de piora da dor, dentre outros aspectos.
O exame físico deve incluir a inspeção e a palpação das estruturas
cervicais, das vísceras e dos músculos, a percussão das apófises
espinhosas, a movimentação passiva e ativa do pescoço. Avaliar a
dinâmica e a arquitetura da região cervical em relação ao resto do
corpo. Examinar a sensibilidade superficial e profunda, a motricidade
voluntária, automática, involuntária e reflexa. A avaliação da coor-
denação dos movimentos e das anormalidades neurovegetativas e
tróficas é fundamental para aferir ocorrência de neuropatias. Além de
exames laboratoriais visando esclarecer dúvidas (TEIXEIRA; SOU-
ZA, 2001b).
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FISIOTERAPIA MANIPULATIVA NO TRATAMENTO DA CERVICALGIA

Uma das técnicas de tratamento é a terapia manual. O termo


terapia manual pode referir-se a diferentes métodos de tratamen-
to na fisioterapia abrangendo a mobilização, manipulação, massa-
gem, tração, alongamento entre outras (LADEIRA, 2007). Conforme
o mesmo autor a origem da Terapia Manual vem da Grécia Antiga. A
manipulação articular faz parte da medicina desde o conhecimento
de seu relato histórico, pois há evidências de que técnicas manuais
eram utilizadas na Tailândia em 2000 a.C. bem como no Egito Antigo
(EDMOND, 2000). Por um período a terapia manual perdeu força,
porém sua prática voltou nas últimas décadas e atualmente é um
grande auxílio da medicina (MAKOFSKY, 2006). Esta aceitação mé-
dica se deu em razão dos resultados satisfatórios quando de sua uti-
lização científica no tratamento de disfunções músculo-esqueléticas.
Este sucesso pode ser observado na United States Clinical Practice
Guideline, Acute Low Back Problems in Adults, um guia publicado
por um painel de especialistas e pesquisadores do governo ameri-
cano, o qual recomenda o uso de terapia manual (LADEIRA, 2007).
Segundo Ladeira (2007), o termo terapia manual refere-se aos
diferentes métodos de tratamento utilizados na fisioterapia como a
mobilização e manipulação articular, massagem do tecido conectivo,
massagem de fricção transversa, entre outras. Mobilização e mani-
pulação articular são métodos conservativos de tratamento de dor,
restrição de amplitude de movimento articular e outras disfunções
de movimento do sistema músculo-esquelético. Alguns profissionais
definem de forma mais limitada a manipulação articular como sendo
uma técnica específica na qual a cápsula articular é alongada por
meio de uma manobra brusca na articulação. Edmond (2000), tem
uma definição mais abrangente de manipulação ao afirmar em seu
livro que “essa definição é tão ampla que permite incluir qualquer
técnica manual aplicada à articulação em uma disfunção que movi-
mente as duas superfícies, uma em relação à outra”. Portanto não
faz uma diferenciação entre mobilização e manipulação.
Ladeira (2007) diferencia mobilização e manipulação. Segundo o
autor, mobilização “refere-se a movimentos passivos acessórios de
jogo articular executados gentilmente em baixa velocidade pelo tera-
peuta”, enquanto que manipulação “refere-se à execução de movi-
mentos acessórios de jogo articular executados em alta velocidade”.

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MARCELO ANDERSON BRACHT - ARMINDO HOLLER

Este último entendimento está baseado na definição de Maitland et


al. (2003). Segundo o mesmo autor, a palavra manipulação pode ser
usada de várias formas e esclarece estas duas definições. O termo
manipulação pode ser utilizado de forma mais abrangente como ci-
tado por Edmond “ou pode ser visto, mais especificamente, como
uma técnica de manipulação forçada, realizada com velocidade”
(MAITLAND et al., 2003). A alta velocidade de aplicação de técnicas
de manipulação não permite que o paciente tenha controle da execu-
ção das mesmas. Quando realizadas com movimentos passivos de
tal forma que podem ser evitadas pelo paciente são definidas como
mobilização (MAITLAND et al., 2003).
Existem dois tipos de movimentos passivos que podem ser exe-
cutados por terapeutas: movimentos acessórios e movimentos fisio-
lógicos. Os movimentos fisiológicos realizados ativamente sem au-
xílio são: extensão, flexão, rotação, adução, abdução, pronação e
supinação. Movimentos acessórios podem apenas ser executados
pelo terapeuta. Os movimentos acessórios são: aproximação, se-
paração, deslizamento, rolamento e girar (MAITLAND et al., 2003).
Qualquer um destes movimentos pode ser realizado em baixa ou
alta velocidade, gentil ou vigorosamente, em grandes ou pequenas
amplitudes e mesmo assim serem denominados de movimentos
passivos (MAITLAND et al., 2003).
Na mobilização há dois tipos: movimentos passivos oscilatórios
e os movimentos passivos em estiramento sustentado. Os movimen-
tos passivos oscilatórios podem ser realizados de forma vagarosa,
rapidamente, suavemente ou em staccato. Estes movimentos podem
ser realizados enquanto a articulação estiver tracionada ou compri-
mida. Os movimentos passivos em estiramento são realizados no
limite do arco de movimento com oscilações de pequena amplitude
(MAITLAND et al., 2003).
Os movimentos acessórios dividem-se em composto e jogo ar-
ticular. Movimento de jogo articular ocorre como resultado de uma
força externa aplicada nas articulações. O movimento de jogo articu-
lar pode ser utilizado tanto para o tratamento quanto para a avalia-
ção. Movimentos compostos, ao contrário de movimentos acessó-
rios de jogo articular ocorrem involuntariamente como resultado de

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FISIOTERAPIA MANIPULATIVA NO TRATAMENTO DA CERVICALGIA

movimentos ativos executados pelo próprio paciente. Movimentos


acessórios compostos são essenciais para movimentos fisiológicos
ocorrerem sem anomalias (LADEIRA, 2007). Quando a ADM de um
movimento acessório estiver limitada, o movimento fisiológico asso-
ciado a este movimento acessório também estará limitada. Da mes-
ma forma, quando o movimento acessório tiver uma ADM excessiva
e a articulação não tiver um bom controle muscular, o movimento
fisiológico da mesma será disfuncional. Somente movimentos aces-
sórios limitados requerem alongamento, os movimentos acessórios
excessivos requerem exercícios de estabilização (LADEIRA, 2007).
A artrocinemática é a área da cinemática que investiga os movi-
mentos acessórios que ocorrem entre superfícies articulares durante
movimentos fisiológicos. Os terapeutas manuais estão particular-
mente interessados nos movimentos artrocinemáticos de deslize e o
rolar. A direção do deslize vai depender do formato da superfície ar-
ticular: côncava ou convexa. Se a superfície articular em movimento
for convexa, o deslizamento vai sempre ocorrer na direção oposta de
movimento da diáfise do osso. Se a superfície em movimento for
côncava, o deslize vai sempre ocorrer na direção de movimento da
diáfise do osso, a lei do côncavo e convexo (LADEIRA, 2007).

Figura 1 – Manipulação Cervical Alta - C1/C2 – “Chin Hold”

Esta alteração do espaço intra-articular durante movimentos de


separação e aproximação é importante para que movimentos fisio-
lógicos ocorram sem anomalias. “A perda do jogo articular resultará
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MARCELO ANDERSON BRACHT - ARMINDO HOLLER

em dor articular e espasmo da musculatura circunvizinha” (OLIVEI-


RA; OLIVEIRA, 2009, p. 40). Fisioterapeutas devem entender cada
tipo de articulação sinovial que eles pretendem aplicar técnicas de
mobilização, porque cada articulação sinovial pode requerer uma
técnica diferente de tratamento (LADEIRA, 2007).
A perda de movimento acessório pode ocorrer gradualmente
após um trauma físico, após um período de imobilização, ou após
um desuso articular prolongado. Geralmente está associada com
o encurtamento de estruturas periarticulares (LADEIRA, 2007). No
momento em que uma articulação encontra-se hipomóvel, ou seja,
a mesma mantém-se temporariamente impedida de realizar sua fun-
ção de movimento normalmente, outra articulação irá executar um
movimento compensatório provocando geralmente uma hipermobili-
dade na mesma a fim de manter as atividades habituais do organis-
mo (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2009). Assim sendo, o objetivo mecânico
principal da terapia manual é restaurar movimentos acessórios limi-
tados e prevenir as complicações associadas com o desuso articular
(LADEIRA, 2007).
Antes da aplicação de qualquer técnica de terapia manual o te-
rapeuta deve fazer uma minuciosa avaliação. Edmond (2009) re-
comenda que é importante que o profissional avalie se há oclusão
potencial da artéria vertebral antes de continuar com algumas das
técnicas descritas para a coluna cervical que envolva movimento do
pescoço. Indagar o paciente sobre qualquer sintoma que sugira pro-
blemas da artéria vertebral como tontura ou vertigem com a posição
da cabeça (MAITLAND et al., 2003). “O fisioterapeuta deve rodar
gentilmente o pescoço do paciente, em ambas as direções e manter
cada posição por alguns segundos, para estar certo de que isto não
produz sintomas” (MAITLAND et al., 2003, p. 17). Segundo o mesmo
autor, os principais sintomas no teste da artéria vertebrobasilar são:
parestesia facial, diplopia, embaçamento da visão, náuseas, vômi-
tos, tremores e nistagmo.
As técnicas fisioterápicas de manipulação só têm valor, como for-
ma de tratamento, se forem acompanhadas de uma avaliação conti-
nua bem apurada. A escolha correta da direção do grau, da velocida-
de, do ritmo e da duração das técnicas deverá ser feita de maneira

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FISIOTERAPIA MANIPULATIVA NO TRATAMENTO DA CERVICALGIA

correta. A avaliação é constante, isto é, realizada antes, durante e


depois de cada técnica. “A avaliação continuada que envolve a ava-
liação das mudanças, nos sintomas do paciente e nos sinais (...) que
acontecem como resultado de técnica(s) de tratamento” (MAITLAND
et al., 2003, p. 4). Segundo o mesmo autor o tratamento por ma-
nipulação pode ser dividido em quatro principais partes que são: o
exame do paciente, modo de planejamento, técnicas de tratamento
e avaliação continuada.
As técnicas são discutidas segundo a sua importância, porém
nunca serão definitivas. Não existe técnica ou grupo de técnicas
invariável, por isso não existe lugar para o dogmático, o terapeuta
deve sempre estar aberto. Mesmo que haja técnicas básicas que
devem ser ensinadas, o pressuposto é que o terapeuta seja tão eclé-
tico que possa modificar suas técnicas, até que tenha alcançado seu
objetivo. As técnicas de tratamento devem incluir todos os movimen-
tos possíveis da articulação, movimentos fisiológicos, movimentos
acessórios e todas as possibilidades de movimentos combinados.
“Basicamente, o ‘conceito’ demanda conhecer como relacionar o rit-
mo, a velocidade, a posição no espaço, a amplitude e a tensão da
técnica a ser utilizada” (MAITLAND et al., 2003).
Segundo Jull et al. (2008) possivelmente o maior benefício deri-
vado dos procedimentos de terapia manipulativa seja o seu efeito
na dor.
Giona (2003) aplicou uma combinação de técnicas de deslize e
separação no tratamento de contraturas periarticulares na muscula-
tura posterior da cervical em pacientes com cefaléia tensional. Com
o trabalho percebeu que a fisioterapia com a terapia manual pode
ser eficaz no tratamento da patologia tanto de forma coadjuvante
como opção única no tratamento.
Em um estudo randomizado e controlado realizado por Jull
(2001) demonstrou-se a eficácia clínica da terapia manual para as
disfunções cervicais. Este estudo comparou um programa específico
de exercícios de estabilização, terapia manual e terapia manual com
exercícios em pacientes com cefaléia cervicogênica. A autora cons-
tatou uma redução significante da cefaléia no grupo terapia manual e
exercícios, sendo que os resultados foram mantidos após 12 meses.
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MARCELO ANDERSON BRACHT - ARMINDO HOLLER

Oliveira e Oliveira (2009) utilizou a manipulação cervical a fim


de observar a variação da amplitude de movimento, analisar a cor-
relação entre o lado dominante e o lado acometido e a diminuição
da sintomatologia dolorosa. Observou-se redução significativa no
quadro álgico e ganho na ADM. Portanto, uma correção articular “fei-
ta em qualquer parte da coluna, ou em qualquer lugar do sistema
esqueletal tem influência no sistema neuromúsculoesqueletal total”
(OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2009, p. 41). Também Wright (apud DEEG,
2009) fez uma revisão na literatura sobre a terapia de mobilização
e seus efeitos neurofisiológicos em pacientes com cervicalgia e epi-
condilalgia lateral e encontrou fortes evidências para uma analge-
sia provocada pela terapia manual que ocorre após a manipulação.
Deeg (2009), investigou os efeitos da técnica de deslizamento lateral
cervical no segmento C5/C6 sobre a percepção da dor e na função
autonômica. No estudo encontraram uma forte correlação entre o
efeito analgésico e simpatoexcitação.
Esta mesma teoria também é coroborada por Marinzeck (2001),
segundo o autor após a aplicação da Terapia Manipulativa Espinhal
existe uma produção de analgesia e simpatoexcitação, mesmo que
os mecanismos pelos quais isso acontece ainda não são totalmente
compreendidos. O argumento aceito é que a analgesia induzida pela
manipulação é uma resposta neurofisiológica específica ao estímulo
“produzido pelos sistemas descendentes inibitórios da dor, com um
papel principal provido pela coluna lateral da substância periaquedu-
tal cinza”. Conforme o autor, diversos realizados com animais medi-
ram mudanças na atividade do sistema nervoso simpático periférico
e central após a terapia manipulativa espinhal.
Segundo Jull et al. (2008) possivelmente o maior benefício de-
rivado dos procedimentos de terapia manipulativa seja o seu efei-
to na dor. Em uma revisão sobre a manipulação e mobilização no
tratamento de desordens mecânicas cervicais demonstrou-se que a
terapia manipulativa pode reduzir a dor cervical, embora um melhor
resultado seja alcançado quando a terapia é combinada com o exer-
cício (GROSS et al, 2004).
Benassi et al. (2010) realizaram um estudo com pacientes que
apresentavam cervicalgia aplicando a terapia manual, onde foi pos-

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FISIOTERAPIA MANIPULATIVA NO TRATAMENTO DA CERVICALGIA

sível atingir resultados positivos entre 80 e 100% logo após o estudo,


constatando a diminuição da tensão muscular, da algia e o ganho de
amplitude de movimento.
Também Ferretti (2006), realizou um estudo com tratamento de
“pompage” cervical associado a alongamentos cervicais e de cintura
escapular associado a ondas curtas e obteve resultados mais favo-
ráveis o paciente que associou a terapia manual. Natali (2004) fez
um estudo comparativo aplicando técnicas de Terapia Manual e de
RPG, analisando os dados obtidos constatou que as técnicas mani-
pulativas promovem um ganho maior na diminuição da dor e melhora
da flexão ativa. Constatou-se a redução do quadro doloroso e evo-
lução das amplitudes de movimento tanto da coluna cervical, quanto
do membro superior sintomático.

4. CONCLUSÃO
Através deste estudo percebemos o grande número de estrutu-
ras envolvidas na coluna cervical as quais possibilitam os diversos
movimentos dessa região com o objetivo de dar suporte ao crânio.
Um número significativo da população é acometido com cervicalgia
em algum momento da vida. Um dos fatores causais é a grande
quantidade de movimento da região cervical o que gera uma grande
propensão de lesão.
Com base na bibliografia consultada constatou-se que terapia
manipulativa é uma das possíveis alternativas no tratamento da cer-
vicalgia caracterizando-se como uma das ferramentas da fisioterapia
no controle da dor. A Terapia Manipulativa é uma técnica de ação
direta que trabalha com o objetivo de melhorar a amplitude de mo-
vimento fisiológico e acessório, reduzindo a dor e tensão muscular
em pacientes que apresentam o quadro de cervicalgia. Consideran-
do que cada indivíduo possui diversos fatores causais e respondem
de maneira diferenciada ao tratamento é necessária uma avaliação
constante dos sinais e sintomas a fim de nos certificarmos da efi-
cácia das técnicas manipulativas. Tendo em vista os estudos que
demonstram a eficácia da Fisioterapia Manipulativa no tratamento da
cervicalgia, sugere-se que as técnicas de manipulação e mobiliza-
ção sejam inseridas dentro dos currículos acadêmicos de Fisiotera-
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MARCELO ANDERSON BRACHT - ARMINDO HOLLER

pia aumentando a gama de ferramentas de trabalho para os futuros


profissionais.

5. REFERÊNCIAS
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MARCELO ANDERSON BRACHT - ARMINDO HOLLER

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Estrutural. 12ª Ed. São Paulo, Manole, 1997.

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A RELAÇÃO DA EPIGENÉTICA NA GÊNESE TUMORAL

A RELAÇÃO DA EPIGENÉTICA NA
GÊNESE TUMORAL
THE RELATIONSHIP OF TUMOR EPIGENETIC IN
GENESIS

Günther de Menezes Sott1


Matias Nunes Frizzo2
RESUMO
Devido a elevada mortalidade e o alto custo que envolve o diagnostico e tratamento do câncer, é necessário a
adoção de novas técnicas para diagnostico e tratamento dos tumores. Frente a esse problema surge a aplicação da
epigenética, que é o estudo de todas as mudanças reversíveis e herdáveis no genoma que não alteram a sequência
de nucleotídeos do DNA. Objetivos: Avaliar a relação existente entre a epigenética e a gênese tumoral, levando em
consideração dados estatísticos sobre a influencia de Hipermetilações e hipometilações na tumorigênese. Método:
Foi realizado um levantamento de produções na base de dados eletrônica PubMed, e de 90 artigos selecionados, 25
foram escolhidos para a presente revisão integrativa baseada na relevância estatística e apresentação de maior numero
de genes. Resultados: Notou-se que a origem do câncer, bem como a metástase, apresentam ligações diretas com
a metilação do DNA, seja ela como fator desencadeante para alterações genéticas, ou, seus efeitos, como resultado
final de alterações epigenéticas, como silenciamento ou superexpressão. As alterações epigenéticas aparecem mais
cedo do que as genéticas, e esse fato altera a idéia de que todos os tumores surgem de mutações genéticas e colocam
as modificações epigenéticas como as possíveis alterações seminais para a iniciação do tumor. Conclusão: O trabalho
mostrou que ainda há importantes lacunas à cerca da epigenética que devem ser esclarecidas para que se tenha um
conhecimento mais amplo da dos processos biomoleculares envolvidos na tumorigênese.
Palavras-chave: Epigenética; Gênese tumoral; Câncer; Metilação do DNA; Acetilação da Histona.

ABSTRACT
Introduction: Due to high mortality and high cost involved in the diagnosis and treatment of cancer, it is necessary to
adopt new techniques for diagnosis and treatment of tumors. Faced with this issue comes the application of epigenetics,
which is the study of all reversible heritable changes in the genome that do not alter the nucleotide sequence of DNA.
Objectives: Assess the relationship between epigenetics and tumor genesis, rise into account statistical data on the
influence of Hipermetilações hipometilações and in tumorigenesis. Method: We conducted a survey of production
in the electronic database PubMed, and selected 90 articles, 25 were chosen for this integrative review based on the
statistical relevance and presentation of a greater number of genes. Results: It was noted that the origin of cancer and
metastasis, have direct links with DNA methylation, whether as a triggering factor for genetic alterations, or its effects,
as the final result of epigenetic changes, such as silencing or overexpression . Epigenetic changes appear earlier than
genetic ones, and this fact changes the idea that all tumors arise from genetic mutations and epigenetic modifications
pose as the seminal possible changes for the initiation of the tumor. Conclusion: The study showed that there are
still important gaps in the fence of epigenetics to be clarified in order to have a broader knowledge of the molecular
processes involved in tumorigenesis.
Keywords: Epigenetics; Genesis tumor, cancer, DNA methylation, histone acetylation.

1 Biomédico com Habilitação em Análises Clínicas pelo Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo- CNEC/IESA. Enviar
correspondência E-mail: gunthersott@hotmail.com São Luiz Gonzaga, RS, Brasil. CEP: 97800000.
2 Mestre em Biologia Celular e Molecular na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, Professor do curso de
Biomedicina, Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo CNEC-IESA, Santo Ângelo, RS, Brasil. CEP 98801-015. Enviar
correspondência E-mail: mnfrizzo@hotmail.com.

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GÜNTHER DE MENEZES SOTT - MATIAS NUNES FRIZZO

1. INTRODUÇÃO
Segundo a American Cancer Socciety (ACS) o câncer é um gru-
po de doenças caracterizadas por crescimento celular descontrolado
que tem como causa tanto fatores endógenos como estado imune e
alterações genéticas, quanto exógenos, que compreendem desde
substâncias químicas, tabagismo, radiação entre outros (GARCIA,
2007).
Estima-se que uma a cada oito mortes ocorridas no mundo seja
causada por algum tipo de câncer, isso significa que o câncer mata
mais pessoas do que a AIDS, Tuberculose e Malária juntos. Nos
países com economia desenvolvida ele é a segunda maior causa de
mortalidade, logo atrás de doenças coronarianas e está em terceiro
nos países com economia subdesenvolvida, superado pelas mes-
mas doenças coronarianas e diarréia (GARCIA et al., 2007).
No Brasil, o câncer foi responsável por 17% dos óbitos com cau-
sa conhecida em 2007, atingindo o segundo lugar em mortalidade
naquele ano.Para os anos de 2010 e 2011 a projeção é de que se-
jam diagnosticados 489.270 pacientes com câncer, sendo desses
236.240 casos novos para o sexo masculino e 253.030 para sexo
feminino (BRASIL, 2009).
Segundo dados do DATASUS, somente no intervalo de 2001 à
2005 o Brasil gastou cerca de 4,35 bilhões de reais em procedimen-
tos cirúrgicos, radio e quimioterápicos com pacientes portadores de
câncer, excluindo-se aqui os demais gastos gerados com o diagnós-
tico, medicação e atividades indiretas (BRASIL, 2006).
Devido a essa elevada mortalidade e o alto custo que envolve
o diagnostico e tratamento do câncer é necessário à adoção de no-
vas técnicas para diagnostico e tratamento dos tumores. Frente a
esse problema surge a aplicação da epigenética, que é o estudo
de todas as mudanças reversíveis e herdáveis no genoma que não
alteram a sequência de nucleotídeos do DNA. Essas alterações se
dão por mecanismos físicos, como o estiramento ou a compactação
da cromatina, possibilitando ou evitando a transcrição, assim como
por maneiras químicas que compreendem a adição ou subtração de
radicais metil em sítios genômicos próximos de regiões promotoras
que respectivamente silenciam ou ativam genes (ESTELLER, 2007).
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A RELAÇÃO DA EPIGENÉTICA NA GÊNESE TUMORAL

Alguns estudos comprovam que na maioria dos tumores os me-


canismos epigenéticos estão inseridos na fase inicial do processo
de alteração celular, comumente afetando supressores tumorais, ge-
nes que estimulam o ciclo celular, apoptose entre outros (JONES;
BAYLIN, 2002).
Quanto mais cedo se descobre os distúrbios celulares, as chan-
ces de cura aumentam, principalmente quando esses distúrbios são
causados por alterações epigenéticas, já que seus mecanismos, ao
contrario das mutações, são totalmente reversíveis (MANOHARAN
et al., 2007).
Dessa forma, estudos que avaliam a relação entre a epigenéti-
ca e a gênese tumoral são de grande relevância visto que o câncer
é uma doença prevalente, e a necessidade do esclarecimento dos
mecanismos moleculares que acarretam sua formação é vital para a
objetividade e antecipação do tratamento. O presente trabalho tem
como objetivo avaliar a relação entre os fenômenos epigenéticos e a
gênese tumoral.

2. MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura. Para tanto, foi
realizada busca eletrônica na base de dados PubMed (http://www.
ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez/) entre Março e Agosto de 2010, utili-
zando os descritores: epigenetic, methylation, cancer.
A busca primaria foi feita com os descritores isolados, afim da
obtenção de informações acerca de cada assunto. Após isso, foram
cruzadas as três palavras-chave, sendo encontrados 594 artigos pu-
blicados no espaço de 1990 a 2010.
Desses, 90 artigos foram selecionados para leitura analítica, nos
quais se empregou os critérios de elegibilidade: contemplar o maior
número possível de proto-oncogenes e supressores tumorais envol-
vidos no estudo; apresentar variados tipos de neoplasias relaciona-
das com as epimutações. Já os critérios exclusivos foram: pesquisas
com linhagens celulares e animais e demais artigos que não orbita-
vam no objetivo geral desse trabalho.

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GÜNTHER DE MENEZES SOTT - MATIAS NUNES FRIZZO

Assim, ao final da busca, 34 publicações foram selecionadas


para compor este artigo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Epigenética
Estamos acostumados com a idéia de que o potencial codifica-
dor do genoma está restrito apenas ao arranjo de quatro bases ni-
trogenadas: Adenina, Timina, Citosina e Guanina. Entretanto tem
se descoberto alguns mecanismos adicionais que interagem com o
genótipo de forma flexível e que tem o poder de alterar o fenótipo
sem causar qualquer tipo de mutação ou alteração na sequência já
estabelecida do DNA (DIMITRIJEVIC, 2005).
Esses mecanismos foram agrupados em uma nova área de es-
tudo da Biologia Molecular denominada Epigenética, palavra que
descende do Grego e significa ‘’Sobre a genética’’.Os dois principais
mecanismos epigenéticos conhecidos são a metilação do DNA, no
qual ocorre uma modificação química covalente na base nitrogenada
citosina e a acetilação da Histona, uma proteína responsável pelo
enovelamento do DNA (DIMITRIJEVIC, 2005; MANOHARAN et al.,
2007).
A metilação da citosina foi descoberta em 1948 e desde então
tem gerado muitas duvidas sobre a sua real função fisiológica, che-
gando a ser até chamada de a quinta base nitrogenada: 5-Metilcito-
sina. Esse processo químico envolve a adição de um radical metil
(CH3) na posição 5 – C da citosina. Essa reação é catalisada por um
grupo de enzimas denominadas DNA Metiltransferases (DNMT) e é
flexível e herdável (SANTOS; MAZZOLA; CARVALHO, 2005).
Mas, o que chama a atenção é que a 5-Metilcitosina é quase que
exclusivamente encontrada em regiões genômicas que possuem por
característica uma longa repetição dos nucleotídeos Citosina e Gua-
nina. Essas regiões são chamadas CpG islands, e são muitas vezes
encontradas próximas a promotores gênicos, mais precisamente em
quase todos os genes de controle celular e em cerca da metade dos
outros promotores humanos (ANSELMO et al., 2006).

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A RELAÇÃO DA EPIGENÉTICA NA GÊNESE TUMORAL

A metilação de promotores tem o poder de silenciamento pois


quando ela ocorre, trás consigo um grupo de proteínas, denomina-
dos Methyl-CpG binding protein. Esse grupo de proteínas não se fixa
em uma região específica do DNA, mas tem uma grande afinidade
por regiões metiladas. Tais proteínas ao se ligarem ao DNA metilado
podem competir com fatores de transcrição pelos seus respectivos
domínios ou, ainda, promover um rearranjo na estrutura do DNA,
devido o recrutemento da Histona deacetylase originando cromatina
de alta densidade, a qual se torna incompatível com o processo de
transcrição (BOYES; BIRD, 1991).
O genoma humano é composto por cerca de três bilhões de
pares de base, que apesar de serem estruturas de tamanho ínfimo
ocupam um espaço nuclear relativamente grande. Isso se evidencia
quando observamos um núcleo celular em fase de interfase, no qual
seu material genético está descondensado, possibilitando o acesso
à maquinaria de replicação celular (DIMITRIJEVIC, 2005).
Mas existem ocasiões na qual o DNA deve estar compactado, e o
controle dessa condensação compõe o segundo material de estudo
da epigenética, a Acetilação da Histona (MCKENNA et al., 2008).
As Histonas formam uma família de proteínas de cabeça glo-
bular com uma cauda carregada positivamente, que quando juntas
servem de matriz para o enovelamento do DNA. Cada complexo de
histona possibilita a ancoragem de cerca de 150 pares de base (pb)
em seu entorno, formando um complexo denominado nucleossomo
(MANOHARAN et al., 2007).
O conjunto de nucleossomos dá origem a cromatina, que pode
adotar duas características diferentes dentro do domínio subcromos-
somal: Heterocromatina quando está em um estágio muito compac-
tado, impedindo a atividade transcritora; e Eucromatina, quando está
mais relaxada possibilitando assim o acesso aos genes e facilitando
a transcrição (SHIAH; TAI; WU,2008).
O DNA é carregado negativamente, e esse é o motivo pelo qual a
histona consegue ancorá-lo de forma eficaz, pois possui uma cauda
positiva. Mas acetilações reversíveis nesta cauda a deixam próxima
da neutralidade, fazendo com que essa proteína perca a capacidade

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GÜNTHER DE MENEZES SOTT - MATIAS NUNES FRIZZO

de interação com o DNA e possibilite a abertura da cromatina. Essa


característica faz com que a acetilação da histona seja considerado
um meio de controle da expressão gênica (DIMITRIJEVIC, 2005).
A acetilação ocorre no aminoácido Lisina, e é catalisada pela en-
zima Histona Acetiltransferase (HAT). Como é um processo epigené-
tico, portanto, tendo reversão, a enzima Histona Deacetilase (HDAC)
catalisa o processo contrario, devolvendo a Lisina a carga positiva,
possibilitando a ancoragem do DNA e resultando na formação da
Heterocromatina (SANTOS; MAZZOLA; CARVALHO, 2005).

3.2. Gênese tumoral


As células se diferenciam umas das outras devido à expressão
de diferentes combinações de genes que são necessários para a re-
alização correta da função a qual estão destinadas, já que o material
genético contido em todas as células corporais é o mesmo. O produ-
to dessa combinação, que é modulada por diversos fatores, acarreta
em modificações morfológicas, bioquímicas e fisiológicas dessas cé-
lulas, tornando - a peculiar as demais devido a esse processo cha-
mado de diferenciação celular (SANTOS; MAZZOLA; CARVALHO,
2005).
No mecanismo de diferenciação celular, assim como na repli-
cação, existem alguns fatores reguladores, na maioria das vezes
enzimas que apresentam funções de manutenção da informação
genética, evitando alguma mutação, e regulação do ciclo celular,
impedindo o crescimento descontrolado de um tecido ou evitando
que células senescentes e sem função permaneçam vivas (WARD,
2002). Quando esses mecanismos de controle são perdidos, existe a
chance de que aconteça uma replicação celular descontrolada, pois
a célula se torna independente de seus genes e fatores reguladores,
dando origem então a uma doença denominada Câncer (RIVOIRE
et al., 2001).
O câncer pode ser causado tanto por fatores externos: como ta-
baco, dieta, radiação química e agentes infecciosos; como interno,
por mutações hereditárias ou não, fatores imunológicos e hormonais
e alterações no metabolismo. Esses fatores podem agir juntos ou
em sequência para dar origem ao tumor, que requer muitos passos
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A RELAÇÃO DA EPIGENÉTICA NA GÊNESE TUMORAL

e pode demorar anos para se manifestar clinicamente (GARCIA et


al., 2007).
Considera-se o câncer uma doença genética no sentido de que
o fenótipo maligno é resultado de alguma alteração genética que é
transmitido as células filhas e confere a essas algumas vantagens
fisiológicas (WARD, 2002).
Entre os genes humanos existem duas classes deles, pequenas
em relação a todo o genoma que são de grande importância na tu-
morigênese: protooncogenes e supressores tumorais. Esses genes
em suas configurações normais regem todo o ciclo celular através de
uma intrincada sequência de eventos que resultam no crescimento e
divisão celular (RIVOIRE et al., 2001).
Proto-oncogenes estimulam, enquanto genes supressores tu-
morais inibem os processos de divisão celular. Coletivamente, es-
tas duas classes de genes são responsáveis pela proliferação des-
controlada encontrada nos cânceres em humanos (RIVOIRE et al.,
2001).
Os Proto-oncogenes codificam oncoproteinas que controlam o
ciclo normal de proliferação celular, apoptose, ou ambos. Por sua
vez o termo oncogene refere-se a um protooncogene alterado que
quando ativo codifica produtos que superestimulam a proliferação
celular anormal (VIDEIRA et al., 2002).
Proto-oncogenes podem transformar-se em oncogenes através
de 2 formas: mudanças na estrutura do gene, resultando na síntese
de oncoproteínas anormais, tendo função aberrante, e, por mudan-
ças na regulação da expressão do gene, resultando um aumento
ou produção inadequada de proteínas promotoras de crescimento
celular (CARLO; CROCE, 2008).
Quando ocorre alguma dessas alterações na célula, ela não res-
ponde aos mecanismos regulatórios e começa a se multiplicar em
demasia devido a essa vantagem fisiológica (WARD, 2002).
O produto dos oncogenes pode ser classificado em seis grupos:
fatores de transcrição, remodelador de cromatina, fatores de cres-
cimento, receptor de fator de crescimento, transdutores de sinal e

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GÜNTHER DE MENEZES SOTT - MATIAS NUNES FRIZZO

reguladores de apoptose (CARLO; CROCE, 2008).


Alguns dos oncogenes mais conhecidos são: SIS, RAS, ABL/
BCR, MYC, HER2, BCL2, MET E RET. Cada um está envolvido em
um tipo de tumor diferente, como Mama, tireóide, leucemia, linfomas
e outros (KOPNIN, 2000; SHARMA; SETTLEMAN, 2007).
Os genes supressores de tumores, em contraste, contribuem
para o desenvolvimento de câncer quando são inativados, genética
ou epigenéticamente. O resultado é perda da ação de genes supres-
sores funcionais, o que depriva a célula de controles cruciais para a
prevenção de crescimento inapropriado (RIVOIRE et al., 2001).
Os supressores de tumor codificam proteínas que inibem a divi-
são celular. Por desempenharem esta função e terem sido descober-
tos em estudo de tumores receberam esta denominação. O primeiro
gene supressor de tumor descrito foi o Rb, que codifica uma proteína
que regula a transição celular para a fase S e está associado ao de-
senvolvimento do retinoblastoma (KOPNIN, 2000).
Sem duvidas o supressor tumoral mais conhecido é o p53, que
codifica uma fosfoproteína denominada proteína p53, que desempe-
nha um importante papel nocontrole do ciclo celular e previne o apa-
recimento de câncer (EISENBER; KOIFMAN, 2001; FIGUEIREDO et
al., 2003).
A proteína p53 bloqueia a divisão em células que sofreram in-
júrias no seu DNA, dando tempo para a sua reparação. A perda da
função desse gene pode estar relacionada tanto à iniciação quanto à
progressão tumoral (ALMEIDA et al., 2007).
Para demonstrar sua importância, cita-se o fato de que muta-
ções na proteína p53 são encontradas em cerca de 50% de todos
os cânceres humanos, ou mais de 50 tipos de tumores (MATTOS et
al.,2005)
A alteração de um único gene raramente é suficiente para o de-
senvolvimento de um tumor maligno. A maioria das evidencias mos-
tra um processo de múltiplas alterações, em proto-oncogenes e su-
pressores tumorais (CARLO; CROCE, 2008).

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A RELAÇÃO DA EPIGENÉTICA NA GÊNESE TUMORAL

3.3. Relação da Epigenética na Gênese tumoral


Os dois principais mecanismos epigenéticos, metilação do DNA
e acetilação da histona, ocorrem normalmente em nosso corpo e são
importantíssimos para a regulação gênica eestabilidade cromossô-
mica, mas quando perdem o controle representam um risco à saúde
celular, pois estudos recentes apontam que em todos os tipos de
câncer humano, as alterações epigenéticas ou são a causa, ou estão
contribuindo com as alterações genéticas para a evolução tumoral
(TING; MCGARVEY; BAYLIN, 2006).
As alterações epigenéticas que exercem maior influência na gê-
nese tumoral são as alterações no padrão de metilação do DNA,
incluindo desmetilações em massa e metilação especifica de certos
promotores, fazendo com que o ácido nucléico altere sua estrutu-
ra e função, possibilitando a ocorrência de transcrições indevidas
de repetidos elementos e ativação de genes específicos que podem
predispor o genoma à instabilidade devido a perca do controle de
replicação cromossomal (TING; MCGARVEY; BAYLIN, 2006).
A maioria dos genes de supressores tumorais, remodelamento
tecidual, reparo do DNA, controle celular e anti-apoptóticos tem seu
promotor precedido de CpG islands, e em qualquer tipo de câncer
todos eles podem estar silenciados e isso se deve mais a causas
epigenéticas do que.Asmutações e epimutações, no entanto podem
ocorrer de maneira simultânea nas células, pois já foi demonstrado
que alguns genes mutados têm também o seu correspondente, no
outro alelo, silenciado por hipermetilação nos seus promotores (JO-
NES; BAYLIN, 2002).
Foi realizado um estudo comparativo no qual é apontado que,a
hipermetilação de promotores de supressores tumorais é tão, ou mais
comum quanto as mutações no silenciamento desses genes (JO-
NES; BAYLIN, 2002). A Figura 1 aponta a localização dealguns dos
principais supressores tumorais e de que maneira eles comumente
são silenciados. Em verde estão os genes que são silenciados por
mutações; em vermelho, os que são afetados por epimutações, e em
roxo os que podem sofrer ambas as alterações.

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GÜNTHER DE MENEZES SOTT - MATIAS NUNES FRIZZO

- TP73
- MSH2
- VHL

- MLH1
- RASSFIA
- FHIT - P15
- P14, P16
- APC
- GSTP1
- SMARCA3 - RB

- PTCH - PTEN - ATM - BRCA2

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

- SSI1 - HIC1
- TP53 - STK11

- SMAD4 - NF2
- CDH1 - NF1 - SMARCB1
- BRCA1 - TIMP3
14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Figura 1 - Supressores tumorais e as causas de seu silenciamento. Fonte:JONES;


BAYLIN, 2002.

Um estudo realizado em 2006 determinou o perfil de metilação


de 55 tumores cerebrais levando em consideração 7 genes especí-
ficos que frequentemente se mostram metilados em uma série de
neoplasias, como mama, cérebro, pulmão estomago e colo. Esses
genes eram: DAPK, MGMT, p14ARF, p16INK4a , TP73, RB1, TIMP-3, e
em 83,6%das amostras havia ao menos um dos sete genes com um
perfil aberrante de metilação (ANSELMO et al., 2006).
Dentre os genes analisados, o que apresentou resultados mais
significantes foi o p14ARF, um supressor tumoral que inibe a degrada-
ção da p53 durante a progressão do ciclo celular, que se apresenta-
va hipermetilado em 40% das amostras tumorais (XING et al., 1999;
ANSELMO et al., 2006).
Cerca de 50% dos genes que causam câncer familiar quando
mutados na sua linha de germinação são encontrados silenciados
por metilação nos mesmos tipos de câncer esporádicos.No processo
de metilação o gene é silenciado devido a migração de um grupo de
5 proteínas denominado Methyl-CpG binding protein domains. São
elas: MeCP2, MBD1, MBD2, MBD3 e MBD4 (JONES; BAYLIN, 2002;
ESTELLER, 2007).
Essas proteínas alem de competir com sítios de fatores de trans-
crição também servem como tradutores do que acontece no DNA

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A RELAÇÃO DA EPIGENÉTICA NA GÊNESE TUMORAL

para a cromatina, pois elas têm a capacidade de atrair a enzima


HDAC, que atua desacetilando à histona. Essa alteração química faz
com que a histona retome sua carga positiva e ancore novamente
o DNA, fazendo com que a cromatina tome o arranjo de Heterocro-
matina, mais densa, e por isso dificultando fisicamente o acesso de
fatores transcricionais aos genes ali contidos, mostrando que os dois
principais fenômenos epigenéticos estão interligados (DUCASSE;
BROWN, 2006).
Para entendermos o impacto que as mudanças epigenéticas sur-
tem no câncer, dependemos do detalhamento de qual passo surge à
evolução neoplásica e como essa causa eleva os estágios até o sur-
gimento de células invasivas. As alterações genéticas e epigenéticas
podem ocorrer em qualquer um desses passos, mas essas últimas
aparecem preferencialmente mais cedo, às vezes com anormalida-
des naestrutura da cromatina ou silenciando/ativando determinados
genes, surgindo muito antes dos sinais clínicos. Esse fato altera a
idéia de que todos os tumores surgem de mutações genéticas e co-
locam as modificações epigenéticas como as possíveis alterações
seminais para a iniciação do tumor (TING; MCGARVEY; BAYLIN,
2006).
O motivo pelo qual a epigenética chama tanto a atenção dos
cientistas hoje em dia pode se resumir no fato de que as suas altera-
ções são totalmente reversíveis. Esse fato abre o caminho para uma
nova abordagem sobre o tratamento do câncer na sua fase inicial e
também explica algumas das questões que não se podem solucio-
nar pensando no câncer como um fenômeno mutacional, apenas.
Por exemplo, quando alterações genéticas são as responsáveis pela
inativação de ambos os alelos de um determinado gene, o nível de
decréscimo dessa proteína se torna fixo. Por outro lado, quando o
silenciamento se dá por metilação, a perda da função do gene é
reversível e proporcional a densidade de CpG islands presentes na
região promotora. Portanto, densidades intermediárias de metilação
significam níveis intermediários de supressão tumoral. Sendo assim,
enquanto a via genética determina uma supressão fixa e imediata, a
via epigenética se manifesta como uma forma gradual, progressiva e
flexível (HSIEH, 1994; PIETENPOL, 1995).

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GÜNTHER DE MENEZES SOTT - MATIAS NUNES FRIZZO

Com essa idéia foi possível esclarecer uma questão bastante


discutida acerca do gene daE – Cadherin , proteína importantíssima
para a adesividade intracelular,encontrado com atividade diminuída
ou silenciada na maioria dos cânceres epiteliais, como o de beixiga.
Esse gene está localizado no cromossomo 16q22.1 e codifica uma
glicoproteína transmembrânica, cuja função é de grande importância,
tanto para a adesividade intercelular como para o desenvolvimento
e manutenção do fenótipo epitelial (GRAFF et al., 2000; CHRISTO-
FORI; SEMB, 1999).
Para iniciar o processo invasivo e produzir células metastáticas,
as células tumorais devem, primeiramente, se desprender das cone-
xões que as mantêm unidas à massa tumoral original e migrar para
os focos distantes. Mas para que essas células consigam se instalar
no interior do órgão alvo, essas conexões devem ser reativadas (RI-
BEIRO FILHO, 2005).
Uma analise realizada em focos metastáticos de carcinomas
resultantes de células tumorais epiteliais revelou que nestas amos-
tras ocorre a reexpressão da E-cadherin. Isso implica no fato de que
deve haver algum mecanismo reversível comandando a ativação e
silenciamento do gene desta proteína, pois a alteração na sequência
deste gene, seja por mutação ou deleção, configura uma alteração
definitiva e dificilmente poderia ser revertida. Já o mecanismo de
silenciamento por hipermetilação preenche adequadamente o requi-
sito de reversibilidade aqui encontrada (GRAFF et al., 2000).
Grande parte dos carcinomas exibe um padrão celular diferen-
te no que diz respeito à expressão da E-cadherin. Por isso, células
de um mesmo tumor possuem diferentes graus de metilação deste
gene e consequentemente diferentes graus de expressão desta mo-
lécula de adesão. Com a progressão da hipermetilação, surgem cé-
lulas que perdem suas conexões intracelulares devido ao baixo nível
dessa importante proteína e se desprendem dos órgãos primários
e migram para os tecidos-alvo. Mas no tecido alvo ela deve voltar
a ser expressa para conseguir se adaptar ao novo microambiente e
conseguir sobreviver (GRAFF et al., 2000; RIBEIRO-FILHO, 2005).
O mesmo tipo de estudo foi feito em cima da glicoproteína Epi-
thelial Cell Adhesion Molecule (EpCAM) que tem a mesma carac-
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A RELAÇÃO DA EPIGENÉTICA NA GÊNESE TUMORAL

terística da E-cadherin e o resultado encontrado foi semelhante ao


anterior (SHIAH; TAI; WU, 2008).
Isso mostra que a epigenética não aparece apenas na gênese
tumoral, mas também se envolve com todo o processo carcinogêni-
co, deixando claro que não se pode mais ignorar a sua importância
para com a elucidação dos processos moleculares da tumorigênese
e munindo também a ciência de novas ferramentas para a facilita-
ção do diagnóstico precoce e tratamentos menos agressivos para o
câncer.
CpG Islands hipermetiladas podem ser encontradas em pacien-
tes oncológicos em amostras de DNA derivadas de Escarro, Urina
e Soro. Esse DNA, presume-se que venha de células tumorais que
sofreram necrose ou apoptose (SIDRANSKY, 2002).
Em câncer de próstata, por exemplo, o gene GSTP1 metilado
foi identificado em 72% das amostras de soro dos pacientes aco-
metidos. Já na urina identificou-se o mesmo gene metilado em 68%
dos casos de inicio do tumor e em 72% dos quadros de câncer local
avançado. Portanto, tem se considerado que o uso do padrão de
metilação deste e de alguns outros genes encontrados nos fluídos
biológicos, juntamente com a analise histológica facilita a especifici-
dade diagnóstica (GOESSL et al., 2000; MANOHARAN et al., 2007).
No entanto já foi demonstrado aqui que a maioria dos genes que
se apresentam metilados em algum tipo de tumor não são especí-
ficos, ou seja, aparecem também em outros tipos de câncer.Esse
é ainda o maior problema enfrentado quando se fala em diagnósti-
co epigenético, mas já se sabe que alguns genes têm uma diferen-
ciação tecidual específica, como o caso do CDKN2B, geneque está
quase que sempre metilado em alterações linfóides, ao contrario dos
tumores sólidos (JONES; BAYLIN, 2002).
Com isso a analise dos padrões de metilação de certos genes,
como o CDKN2B, nos casos de Leucemia começam a servir como
marcador tumoral e detector de doença residual mínima após o tra-
tamento de quimioterapia, pois foi constatada uma queda nos níveis
de metilação do CDKN2B na medula óssea de pacientes comleuce-
mias agudas em remissão clinica, e alguns estudos apontam que o

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GÜNTHER DE MENEZES SOTT - MATIAS NUNES FRIZZO

aparecimento de um padrão de metilação aberrante nesse processo


representa um grande risco de retorno da doença (LIMA et al., 2008;
AGRAWAL et al., 2007).
A detecção dos padrões de metilação da citosina iniciou com a
técnica de conversão do bissulfeto, que consiste na modificação for-
çada da citosina não metilada em uracil. Dessa forma, utiliza-se em
conjunto com uma técnica de PCR para a ampliação e outra técnica
de seqüenciamento. Como toda e qualquer citosina não metilada,
devido à conversão do bissulfeto se transformou em uracil, as cito-
sinas visíveisno seqüenciamento representam a 5-Metilcitosina, ou
seja, a citosina metilada (LIMA et al., 2008).
No entanto por esta medodologia, as analises se tornavam longas
e cansativas e seus dados, sozinhos não se concretizavam como um
indicativo tumoral, pois como já foi descrito a metilação de apenas
um gene não é especifico a nenhum câncer. Então, a tecnologia do
Microarrays se torna a mais importante ferramenta para essa análi-
se, pois contém uma imensa quantidade de marcadores epigenéti-
cos que sozinho não dizem muito, mas quando refletem um padrão
de metilação, se torna uma forte ferramenta de diagnóstico precoce.
E com a preconização do diagnóstico, flagrando a célula ainda
em processo de transformação tumoral é possível lançar mão de
algum tipo de tratamento epigenético curativo, pois esses processos
são reversíveise herdáveis.
O tratamento epigenético do câncer tem um potencial relativa-
mente maior do que o tratamento genético, pois possui copias in-
tactas de supressores tumorais que não precisam ser transfectadas
para a célula, pois eles já estão lá, prontos, só precisam ser reativa-
das. Além disso, se uma abordagem a um gene específico é usada
para reativar um supressor tumoral, ela apresenta uma toxicidade
tecidual relativamente baixa. Se for difícil conceber uma estratégia
terapêutica para substituir um gene mutante em pacientes, é muito
menos fantástico imaginar a restauração de um padrão de metilação
em células tumorais (DIMITRIJEVIC, 2005).
Um dos maiores alvos farmacológicos associados com essas
modificações epigenéticas é a DNMT. O inibidor da DNMT mais co-

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A RELAÇÃO DA EPIGENÉTICA NA GÊNESE TUMORAL

nhecido até agora é o 5aza-2-deoxycytidine (5-azaC), que tem uma


caracteristica quimica similar à citosina e acaba por se ligar de uma
forma irreversível na DNMT, seqüestrando essa enzima e causando
uma alteração na balança DNMT – desmetylases, a favor dessas
ultimas, levando a uma Hipometilação (MANOHARAN et al., 2007;
DIMITRIJEVIC, 2005).
Mas para que isso ocorra, primeiramente a 5-azaC precisa ser
incorporada ao DNA, e isso pode levar a um aumento da mutagenici-
dade local, que em alguns efeitos colaterais já relatados leva a uma
mielosupressão (MANOHARAN et al., 2007).
Há, além da 5-azaC outras drogas inibidoras da DNMT em testes
que apresentam uma menor toxicidade tecidual.Mas até que pon-
to a hipometilação causada por essas drogas se torna sustentável?
Adianta reativar os supressores tumorais e na mesma manobra faci-
litar a surgimento de oncogenes?
Como todos os tratamentos experimentais, estas ainda são algu-
mas das questões que devem ser mais bem esclarecidas para que o
tratamento epigenético, teoricamente mais brando que os convencio-
nais possam ser adotados, não em exclusividade, mas em conjuntos
com os demais, pois, apesar do que aqui foi descrito, o câncer é sim
uma doença com múltiplas causas que interagem constantemente e
para que o seu tratamento seja bem sucedido é necessário encarar
todas essas frentes.

4. CONCLUSÃO
Alguns pesquisadores acreditam que a epigenética representa a
ultima fronteira para o domínio total da informação genética, outros
preferem tratá-la com mais cautela, mas o fato é que ela se con-
solidou como um importante mecanismo molecular no controle da
expressão, regulação e transmissão da informação gênica e causa
até hoje a excitação em alas da ciência.
Hoje, a epigenética é apontada como uma das formas nas quais
o meio ambiente consegue modular o biológico, estreitando assim a
relação entre o estilo de vida e as suas conseqüências, bem como
deixando as suas marcas na evolução e perpetuação celular.
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GÜNTHER DE MENEZES SOTT - MATIAS NUNES FRIZZO

Em relação ao câncer, sabe-se que está presente na fase mais


precoce das alterações moleculares, precedendo e possibilitando
mutações, silenciando ou ativando genes, alterando a conformação
cromossômica podendo levá-lo a instabilidade e até coreografando
a expressão de determinados genes quando assim precisos para o
processo de metástase.
O uso da epigenética está voltado para o diagnóstico precoce
dos tumores devido aos padrões alterados de metilação e para o tra-
tamento dos mesmos, visto que a característica mais importante dos
processos epigenéticos é a sua reversibilidade e flexibilidade, não
encontrada nas alterações genéticas. Isso possibilita uma aborda-
gem terapêutica considerada teoricamente mais simples e segura ao
paciente, mas que não deve ser vista como soberana, afinal os pro-
cessos biomoleculares de tumorigênese ainda não estão bem elu-
cidados e não se deve abrir mão de nenhuma tática para vencê-lo.

5. REFERÊNCIAS
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O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICA

O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR


ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL
PÉLVICA
THE TREATMENT OF LOW BACK PAIN THROUGH THE
CENTRAL PELVIC STABILIZATION

Juliane Pukall Bezerra Fontana 1


Thaís do Nascimento Gomes2
RESUMO
Este estudo foi sancionado pelo uso da técnica de estabilização central pélvica no tratamento da dor lombar. A dor
lombar tem causas multifatoriais podendo levar a desgastes físicos, emocionais e funcionais prejudicando na qualidade
de vida. Nesta pesquisa que teve por objetivo investigar os mecanismos utilizados pela estabilização central pélvica
através da análise de seu funcionamento, de suas inter-relações com a dor lombar e com o desequilíbrio muscular
estático e dinâmico da musculatura do tronco verificou que a melhora nos desequilíbrios da musculatura extensora e
flexora do tronco e dos músculos paravertebrais e abdominais podem auxiliar na estabilização e sustentação da coluna
lombar para uma movimentação ampla e saudável. Por isso, o tratamento da dor lombar através da estabilização central
pélvica visa trabalhar o equilíbrio estático e dinâmico nas disfunções musculoesqueléticas. O estudo evidenciou que
a estabilização central pélvica pode permitir que seu praticante retorne a suas atividades diárias em um nível alto de
funcionalidade, melhorando o controle postural, o sistema neuromuscular, garantindo o equilíbrio da musculatura do
tronco e do abdômen.
Palavras-chave: Dor Lombar. Estabilização Central Pélvica. Método Pilates.

ABSTRACT
This study was completed by using the technique of central pelvic stabilization in the treatment of low back pain. Lumbar
pain is multifactorial causes may lead to physical, emotional and functional wear impairing quality of life. This research
aimed to investigate the mechanisms used by the central pelvic stabilization through the analysis of its operation, its
interrelations with backache and the static and dynamic muscle imbalance of the trunk musculature found that the
improvement in muscle imbalances extension and flexion of the trunk and paraspinal and abdominal muscles can help
stabilize and support the spine for a wide and healthy movement. Therefore the treatment of low back pain through
the pelvic core stabilization work aims static and dynamic balance in musculoskeletal disorders. The study showed that
the central pelvic stabilization may allow the practitioner to return to their daily activities at a high level of functionality,
improving postural control, neuromuscular system, ensuring the balance of the muscles of the trunk and abdomen.
Key-words: Back Pain. Central Pelvic Stabilization. Pilates Method.

1. INTRODUÇÃO
Atualmente diversos estudos vêm demonstrando preocupação
com distúrbios relacionados à coluna lombar. Nota-se que cerca de
2,4% homens e 1,7% mulheres da população economicamente ati-
va já presenciou ou presencia episódios de algias lombares. A dor
1 Fisioterapeuta, Pós-Graduanda em Fisioterapia Dermatofuncional- CBES- Porto Alegre- RS. E-mail: bezerra.juliane@yahoo.com.br
2 Mestre em Educação nas Ciências. Orientadora. Professora do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo, IESA- RS.
E-mail: gomesnthais@gmail.com

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JULIANE PUKALL BEZERRA FONTANA - THAÍS DO NASCIMENTO GOMES

instalada de forma contínua ou por longos períodos facilita o desen-


volvimento de distúrbios psicomotores podendo vir acompanhado de
outros sintomas como: desconforto, fadiga e rigidez articular (SILVA;
FASSA; VALLE, 2004; REINEHR; CARPES; MOTA, 2008).
Das diversas técnicas utilizadas pela fisioterapia no tratamento
da dor lombar as que se baseiam na estabilização central pélvica
objetivam fortalecer o centro de força ou “power house” que é cons-
tituído por grupos musculares da região da cintura pélvica que se
estendem da base das costelas até a região inferior da pelve e que
geram um regime preventivo e terapêutico essencial para o alívio da
dor lombar. Esse centro localiza-se junto ao centro de gravidade cor-
poral e fornece através de sua ação uma “cinta muscular” que traba-
lha estabilizando a coluna, o tronco e os movimentos dos membros
(REINEHR; CARPES; MOTA, 2008).
Os músculos paravertebrais e abdominais devem manter-se
equilibrados com as demais estruturas para que constituam um sis-
tema dinâmico que forneça força, estabilidade e auxilie na estabiliza-
ção e sustentação da coluna lombar em uma movimentação ampla
e saudável.
Este estudo buscou investigar os mecanismos utilizados pela es-
tabilização central pélvica através da análise de seu funcionamento,
de suas inter-relações com a dor lombar e com o desequilíbrio mus-
cular estático e dinâmico da musculatura do tronco.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo desenvolveu-se como uma pesquisa bibliográfica base-
ado em artigos científicos, livros e demais periódicos. Foram utiliza-
das para a pesquisa as palavras-chave: Dor Lombar, Estabilização
Central Pélvica e Método Pilates.

3. DISCUSSÃO
A dor lombar é uma resposta adaptativa e protetora ao estresse
imposto a coluna vertebral e que se reflete através de resposta irri-
tável dos músculos quando realizam movimentos rápidos de torção

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O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICA

ou de levantamento causando déficit funcionais (DUFOUR, 2004).


Vários são os mecanismos de resposta do organismo à dor além das
alterações na excitabilidade do sistema motor como a reação do sis-
tema sensorial e nervoso central (HODGES; MOSELEY; LORIMER,
2003).
A musculatura encurtada ou enfraquecida da coluna lombar vai
restringir a capacidade da pelve e da região lombar em manter seu
alinhamento correto causando déficit no desempenho funcional e
físico devido ao efeito dos músculos em suas fixações (DILLMAN,
2004).
Os músculos do tronco, principalmente os músculos transverso
do abdômen e multífido lombar, devem fornecer endurece, força e
resistência suficiente para uma ótima eficácia do sistema musculo-
esquelético (CRAIG, 2000; HODGES; MOSELEY; LORIMER, 2003).
Segundo O’Sulivan e Darren, o multífido lombar e o transverso
do abdômen tem com funções:
O músculo multífido fornece controle dinâmico para o movimento
segmentado na zona neutra. E o transverso do abdômen auxilia na
manutenção da pressão intra-abdominal, agindo em co-contração
com o multifidio lombar através do seu apego toracolombar (2002
p. 06).

Muitos pacientes com dor lombar apresentam diminuição da


contração dos músculos do tronco, dos discos intervertebrais, do
controle muscular e um maior depósito de gordura na região lom-
bar (PARKKOLA 1993). A atividade elétrica em pacientes com dor
lombar apresenta-se aumentada e a fadiga dos eretores da espinha
mostra-se evidentes. Ocorre a perda da mobilidade no segmento L5
e S1 com o aumento subseqüente na mobilidade de outros segmen-
tos (DUFOUR, 2004).
A instabilidade lombar é uma evidente alteração encontrada em
indivíduos com dor lombar (HODGES; GANDEVIA, 2000). Sendo
definida por Bisschop:
É um prejuízo na capacidade do sistema estabilizador da coluna
lombar em manter a zona neutra da amplitude do movimento de
um segmento dentro dos limites fisiológicos. Que muitas vezes pode
alterar-se devido a um desequilíbrio muscular (2003, p. 122).
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JULIANE PUKALL BEZERRA FONTANA - THAÍS DO NASCIMENTO GOMES

Por isso a co-contração da musculatura extensora e flexora do


tronco antagonista é imprescindível para possibilitar uma estabilida-
de mecânica à coluna lombar para manter-se em uma posição neu-
tra (CHOLEWICKI; PANJABI; KHACHATRYAN, 1997).
A estabilização central pélvica ocorre pelo controle mecânico arti-
cular onde os músculos agem como limitadores e controladores dos
movimentos evitando desequilíbrios musculares, padrões de distor-
ção, dominância sinérgica e adequando o controle postural dinâmi-
co ideal para a realização dos movimentos funcionais (PRENTICE;
VOIGHT, 2003).
O mecanismo utilizado na estabilização central é a concentração
que ajuda o sistema nervoso central (SNC) na solicitação dos mús-
culos adequados para a realização das atividades funcionais promo-
vendo ativação antecipatória dos músculos profundos, aperfeiçoan-
do a estabilidade lombar ocasionando alívio da dor (GUEDES, 2000).
A estabilização ocorre por três sistemas: sistema passivo, ativo e
neural que devem manter-se em equilíbrio e interligado trabalhando
a conscientização corporal para que as estruturas forneçam estabi-
lizações necessárias para a movimentação. Sendo assim, a esta-
bilização central pélvica visa fortalecer o centro de força ou “power
house” prevenindo ou tratando a dor lombar (GUEDES, 2000). A
contração dos músculos do tronco deve ser aprendida com certo
nível de consciência uma vez que estes músculos agem de forma
involuntária (LIEBENSON, 2000).
O treino muscular para garantia da estabilidade deve estar asso-
ciada a posição neutra da pelve, ou seja, a pelve não deve estar nem
na anteversão ou na retroversão pélvica, mas neutra a estas duas
posições. A amplitude de movimento fisiológica total durante o treino
divide-se em duas zonas: a zona neutra que corresponde a posição
inicial da amplitude de movimento contra o mínimo de resistência
e a zona elástica que é a porção da amplitude de movimento mais
próxima a amplitude final dentro da zona neutra com uma resistência
interna maior (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000).
A estabilização central pélvica divide-se em cinco estágios com
níveis progressivos de dificuldade conforme a consciência corporal
do indivíduo. Gradualmente a contração deve ser mantida por 6, 10 e
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O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICA

20 segundos para que após seja aumentado o número de repetições


e evolução para o próximo estágio. O estágio I os exercícios dão
ênfase no recrutamento de músculos abdominais, glúteos, posterio-
res de coxa e transverso do abdômen, sem anterversão ou retrover-
são pélvica durante as contrações. Envolvem neste primeiro estágio
exercícios como a ponte, flexão lateral, cinturão abdominal. No es-
tágio II ocorrem os exercícios de correção do desequilíbrio de força
e resistência muscular, progredindo os exercícios do estágio I com
maior nível de exigência. No estágio III o objetivo é a reeducação
dos músculos estabilizadores abdominais e escapulares em cadeia
cinética, com exigência ainda maior que a anterior. O estágio IV se
dá através de exercícios avançados de estabilização dinâmica onde
se incluem os exercícios pliométricos (REINEHR; CARPES; MOTA,
2008).
Através da orientação das fibras musculares a contração do mús-
culo transverso do abdômen resulta na diminuição da circunferência
abdominal causando aumento da tensão na fáscia toracolombar e
aumento da pressão intra-abdominal. Por isso a compressão axial
e as forças de cisalhamento são reduzidas e transmitidas por uma
área maior, tornando a região lombar mais estável durante o levan-
tamento de cargas externas. Portanto o fortalecimento dos músculos
que constituem o “centro” pode dar maior estabilidade à coluna atu-
ando como se fosse uma “plataforma biomecânica” que se tornando
mais sólida e eficiente e ajusta os músculos periféricos ligados a co-
luna lombar e a pelve distribuindo as forças na pelve e nos membros
inferiores (HODGES; MOSELEY; LORIMER, 2003).
A reabilitação musculoesquelética tradicional enfatiza a mecâni-
ca articular isolada com a melhora da ADM, flexibilidade, aumento da
força e da resistência muscular, ao invés de trabalhar as informações
aferentes obtidas pelas articulações que são processadas pelo siste-
ma de controle postural. Recentemente tem-se dado ênfase as mo-
dalidades cinesioterapêuticas que enfatizam o treino proprioceptivo
destacando o sistema neural da articulação (PRENTICE; VOIGHT,
2003).
Dentre os recursos cinesioterapêuticos que auxiliam no reequilí-
brio muscular e na normatização dos músculos do tronco através da

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estabilização central estão: o método Pilates, a contrologia, o alon-


gamento pós-facilitação e os exercícios específicos em cadeia ciné-
tica funcional.
O Método Pilates utiliza exercícios que favorecem o trabalho dos
músculos estabilizadores, promovendo a eliminação da tensão ex-
cessiva em certos grupos musculares evitando dessa forma as com-
pensações causadas por desequilíbrios musculares (CRAIG, 2005;
GUEDES, 2000; DAVIS, 2006; FERNANDES, 2006).
A atividade harmônica entre músculos locais e globais permite
a estabilização da coluna lombar. Estudos evidenciam que o mús-
culo transverso do abdômen é o primeiro a ser ativado durante os
movimentos do tronco e membros tendo ação sinergista e adotando
uma reação antecipatória aos movimentos produzindo assim a firme-
za necessária à coluna lombar. A desativação deste músculo-chave
pode gerar desequilíbrios musculares importantes e consequente-
mente levar à dor (PEREIRA et al., 2008).
O alongamento pós-facilitação utiliza no tratamento de múscu-
los encurtados através de contração isométrica sustentada durante
7 segundos seguida de 12 segundos de alongamento (HAMMER,
2003). Este tipo de modalidade reabilitativa pode auxiliar na reequili-
bração muscular beneficiando a estabilização central.
A reabilitação em cadeia cinética funcional que visa melhorar
a capacidade do sistema nervoso central (SNC) de permitir que os
músculos agonistas, antagonistas, sinergistas, estabilizadores e
neutralizadores atuem de forma eficiente para manter-se em equilí-
brio e por isso pode ser um método coadjuvante ao da estabilização
central (PRENTICE; VOIGHT, 2003).
As modalidades que derivam da estabilização central pélvica ou
a associam durante os exercícios proporcionam benefícios sem pre-
judicar a flexibilidade, enfatizando a contração isotônica (concêntrica
e excêntrica) e isométrica nos músculos do tronco e abdominais que
formam o centro de força (GUEDES, 2000). Pelo fato de desenvol-
verem a conscientização corporal aprimorando o seu desempenho
em tarefas funcionais, melhorando o condicionamento físico, a ca-
pacidade cardiovascular e a reeducando a respiração diafragmática.

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O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICA

Por isso pode ser um excelente recurso indicado no controle da dor


lombar (TEIXEIRA; SAKAMOTO; SIQUEIRA, 2004).

4. CONCLUSÃO
Através do presente estudo pode-se constatar que o desequilí-
brio muscular e a deficiência do controle neuromuscular ocasiona-
dos na musculatura extensora e flexora do tronco são uma das mais
importantes causas dos distúrbios que ocorrem na coluna lombar e
que por sua conseqüência levam a dor desta região. Para mante-
rem-se funcionais estes músculos devem estar fortes e capazes de
fornecer sustentação a pelve e a coluna lombar auxiliando também
na proteção e suporte as demais estruturas.
A estabilização central pélvica se dá pelo controle mecânico arti-
cular, através da contração muscular isométrica considerando como
um centro de força que estabiliza a coluna e conseqüentemente ali-
viando a dor. Assim a técnica visa manter ou restabelecer um centro
neuromuscular integro fornecendo força e resistência para impedir
movimentos compensatórios.
Portanto, a estabilização central pélvica permite que o indivíduo
em tratamento retorne as suas atividades diárias em um nível alto
de funcionalidade, melhorando todo o sistema postural, neuromus-
cular e reequilibrando a musculatura que dá suporte e sustentação
a coluna lombar consequentemente diminuindo a dor e permitindo a
normatização da estabilidade lombar.

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A RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO COM A ATEROSCLEROSE

A RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO


COM A ATEROSCLEROSE
RELATION OF OXIDATIVE STRESS WITH
ATHEROSCLEROSIS

Belisa Avila Rodrigues1


Caroline Brandão Quines2
Matias Nunes Frizzo3
RESUMO
Tema de muitos estudos nas últimas décadas, os radicais livres são foco de interesse por participarem de processos
fisiológicos e patológicos. Uma produção exacerbada desses radicais livres gera um desequilíbrio no organismo, já que o
sistema antioxidante não é capaz de neutralizar todas as substâncias produzidas. Esse tipo de desequilíbrio denomina-
se estresse oxidativo, um fenômeno relacionado a várias patologias, como câncer, diabetes, envelhecimento, Alzheimer,
Parkinson e aterosclerose. A aterosclerose é a principal fonte de morbidade e mortalidade nos países desenvolvidos.
Considerada uma patologia multifatorial, está relacionada ao enrijecimento dos vasos sanguíneos, causando obstrução
do fluxo, estenose e redução da chegada de oxigênio a diferentes regiões do corpo. Dessa maneira, esse estudo tem
como objetivo, através de uma pesquisa bibliográfica, avaliar a relação do estresse oxidativo com a aterosclerose. Os
principais eventos na aterosclerose compreendem disfunção endotelial e inflamação, os quais podem ser causados pelo
estresse oxidativo, através da oxidação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e diminuição da biodisponibilidade
de oxido nítrico (NO). Além disso, o estresse oxidativo atua na progressão da doença e contribui para a formação e
ruptura da placa aterosclerótica. Diante dos estudos realizados, embora alguns autores ainda discordem desta relação,
torna-se inegável a participação do estresse oxidativo em processos bioquímicos ligados a aterosclerose.
Palavras-chave: Estresse oxidativo. Aterosclerose. Oxidação da LDL. Espécies reativas. Radicais livres.

ABSTRACT
Topic of many studies in the latest decades, free radicals are focus of interest for participating in physiological and
pathological processes. An exacerbated production of free radicals causes instability in the body, since the antioxidant
system is unable to neutralize all the substances produced. This kind of instability is named oxidative stress, a
phenomenon related to several diseases such as cancer, diabetes, aging, Alzheimer’s, Parkinson’s and atherosclerosis.
Atherosclerosis is the major source of morbidity and mortality in developed countries. Considered a multifactorial
disease, it is related to blood vessels’ hardening, causing flow obstruction, stenosis and reduction of oxygen’s arrival
to different parts of the body. This way, the goal of this study is, through a bibliographic research, evaluate the relation
between oxidative stress and atherosclerosis. Its main events include endothelial dysfunction and inflammation which
may be caused by oxidative stress, through low density lipoproteins (LDL) oxidation and nitric oxide (NO) bioavailability
reduction. Besides, oxidative stress acts in the disease’s progression and contributes to the formation and rupture of
atherosclerotic plaque. Considering studies performed, although some authors still disagree with this relation, it is
undeniable the role of oxidative stress in biochemical processes linked to atherosclerosis.
Keywords: Oxidative stress. Atherosclerosis. LDL oxidation. Reactive species. Free radicals.

1. INTRODUÇÃO
Os radicais livres tornaram-se foco de interesse nas últimas dé-
cadas pelo papel desempenhado por essas moléculas em mecanis-
1 Acadêmica Concluinte do curso de Biomedicina do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo- CNEC/IESA.
2 Acadêmica Concluinte do curso de Biomedicina do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo- CNEC/IESA.
3 Mestre em Biologia Celular e Molecular na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, Professor do curso de
Biomedicina, Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo CNEC-IESA, Santo Ângelo, RS, Brasil. CEP 98801-015. Enviar
correspondência E-mail: mnfrizzo@hotmail.com.

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mos fisiológicos e patológicos. Sendo assim, diversos estudos têm


sido realizados para esclarecer esse papel dos radicais livres no or-
ganismo (FERREIRA; MATSUBARA, 1997; ANDRADE et al., 2005 ).
No metabolismo de seres aeróbicos, a oxidação é fundamental.
Por esse motivo, radicais livres podem ser produzidos de modo na-
tural, ou como consequência de algum distúrbio biológico. Podem
ter origem do oxigênio, sendo chamados de espécies reativas de
oxigênio (ERO), ou originarem-se do nitrogênio, denominados de es-
pécies reativas de nitrogênio (ERN) (BARREIROS et al., 2006).
O estresse oxidativo resulta de um desequilíbrio nos sistemas
pró e antioxidante, com predomínio dos oxidantes. Está relacionado
com várias patologias, nas quais pode ser a causa ou o fator agra-
vante do quadro geral. Dentre essas patologias, destacam-se a ar-
trite, choque hemorrágico, catarata, disfunções cognitivas, diabetes,
câncer e aterosclerose (CAVALCANTE; BRUIN, 2009).
A aterosclerose é a principal fonte de morbidade e mortalidade
no mundo desenvolvido, sendo considerada um problema de saúde
pública. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que a pros-
peridade econômica global pode levar a uma epidemia da ateroscle-
rose (STOCKER; KEANEY, 2004). No Brasil, aproximadamente 300
mil óbitos por ano, são causados por doenças cardiovasculares, as-
sociadas à aterosclerose. Dados ainda mais alarmantes são encon-
trados nos Estados Unidos, onde as doenças cardiovasculares são
responsáveis por cerca de 80% das mortes de pessoas com mais de
65 anos (GIROLDO et al., 2007).
A aterosclerose caracteriza-se por uma resposta inflamatória
crônica da parede arterial, processo que pode ser causado por in-
flamação ou uma disfunção endotelial. Considerada uma patologia
de natureza multifatorial, compreende processos oxidativos de lipo-
proteínas, alterações celulares (em macrófagos, monócitos, células
musculares lisas, células endoteliais e plaquetas) e envolvimento de
moléculas de adesão liberadas por processos inflamatórios (ROSS,
1999; GIROLDO et al., 2007). A doença está relacionada ao enrije-
cimento dos vasos sanguíneos, causando obstrução do fluxo pelas
placas ateroscleróticas, o que resulta em estenose e reduz a che-
gada de oxigênio a diferentes regiões do corpo. Em conseqüência
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A RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO COM A ATEROSCLEROSE

dessa obstrução, pode ocorrer infarto agudo do miocárdio, acidente


vascular cerebral e aneurisma da aorta (PINHO et al., 2010).
Diversas evidências tentam explicar a relação do estresse oxida-
tivo com a aterosclerose, na qual ERO e ERN, principalmente as de-
rivadas do óxido nítrico (NO), são cada vez mais reconhecidas como
responsáveis pelo comprometimento da função endotelial celular
e pela implicação na aterogênese (PAPAHARALAMBUS; GRIEN-
DLING, 2007).
Compreender os mecanismos envolvidos na formação e evolu-
ção da aterosclerose torna-se cada vez mais importante, uma vez
que os índices apontam a aterosclerose como a principal causa de
mortalidade no mundo. O melhor entendimento da gênese e pro-
gressão da aterosclerose pode proporcionar o desenvolvimento de
novas terapias, inclusive com antioxidantes, que possam retardar a
progressão da patologia ou preveni-la (GIEHL et al., 2007).
O presente estudo tem por objetivo avaliar a relação do estresse
oxidativo com a aterosclerose, incluindo a relação entre as espécies
reativas e a oxidação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL),
bem como a relação das mesmas com a inflamação dos endotélios,
formação e evolução da aterosclerose.

2. Estresse Oxidativo
O estresse oxidativo é um fenômeno relacionado a ação de ra-
dicais livres no organismo (ĎURAČKOVÁ, 2010). Compreende-se
como radical livre, átomo ou molécula que possui elétrons não em-
parelhados na sua camada orbital externa (VASCONCELOS et al.,
2007).
Entretanto, o termo radical livre não é ideal para designar os
agentes reativos patogênicos, pois muitos deles não possuem elé-
trons desemparelhados na última camada (FERREIRA; MATSUBA-
RA, 1997). Assim, os termos ERO e ERN são considerados mais
apropriados para descrever melhor esses agentes químicos (CA-
VALCANTE; BRUIN, 2009; ĎURAČKOVÁ, 2010). As ERO são divi-
didas em dois grupos: radicalares, nos quais estão o hidroxila (HO-),
superóxido (O2-), peroxila (ROO.) e alcoxila (RO-); e não radicalares,
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formados pelo oxigênio (O2), peróxido de hidrogênio (H2O2) e ácido


hipocloroso (BARREIROS et al., 2006).
A maior via de produção de ERO compreende o transporte de
elétrons através da mitocôndria. Além disso, podem ser formadas
através de fontes citoplasmáticas, a partir de enzimas como a xan-
tina oxidase e a NADPH oxidase (ANDRADE et al., 2005). Macró-
fagos ativados e neutrófilos, por exemplo, podem produzir grandes
quantidades de superóxido e seus derivados, além de oxigênio sin-
glete, através da NADPH oxidase (DRÖGE, 2002).
As ERN, em sua maioria, são formadas a partir da síntese do
NO, através da conversão da L-arginina a L-citrulina pelas sintases
do óxido nítrico (CAVALCANTE & BRUIN, 2009). Entre elas, as mais
encontradas são: óxido nítrico (NO), óxido nitroso (N2O2), ácido ni-
troso (HNO2), nitritos (NO2), nitratos (NO3) e peroxinitritos (ONOO-)
(BARREIROS et al., 2006).
A produção acentuada dessas espécies reativas, tanto as deri-
vadas do nitrogênio quanto as de oxigênio, pode gerar efeitos preju-
diciais como peroxidação dos lipídios de membrana e agressão às
proteínas dos tecidos e das membranas, às enzimas, carboidratos
e DNA (RIBEIRO et al., 2005; ĎURAČKOVÁ, 2010; ANDRADE et
al., 2005 ). A oxidação do colesterol LDL, no sangue, causa dano as
paredes das artérias e veias, além de facilitar o acúmulo de lipídios
e colaborar com a formação da placa aterosclerótica, que posterior-
mente pode formar trombos. Os trombos podem migrar pela circula-
ção e causar infarto ou acidente vascular cerebral (BARREIROS et
al., 2006).
No entanto, as ERO e as ERN nem sempre são prejudiciais ao
organismo, sendo necessárias em processos biológicos como sina-
lização celular, contração muscular, produção de energia, regulação
do crescimento celular e sistema imune (PINHO et al., 2010). Um
exemplo desta dupla função exercida pelas ERN e ERO consiste no
radical NO, que possui variadas funções fisiológicas nos sistemas
cardiovascular, imune, reprodutivo e nervoso, além de seu papel na
hemostasia, inibindo plaquetas e impedindo a formação do trombo.
Porém, como característica de um radical, possui um elétron desem-
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A RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO COM A ATEROSCLEROSE

parelhado na sua última camada orbital, o que lhe confere alta rea-
tividade com outros radicais, e ainda com moléculas como lipídios,
proteínas e ácidos nucléicos (VANNI et al., 2007).
Para a produção acentuada das espécies reativas, tanto de
oxigênio quanto nitrogênio, o organismo dispõe de um sistema de
defesa conhecido como sistema antioxidante. Os antioxidantes do
organismo são divididos em dois grupos: os não enzimáticos e os
enzimáticos (VASCONCELOS et al., 2007).
Os antioxidantes enzimáticos são produzidos pelo organismo e
compreendem três sistemas. O primeiro é composto por enzimas
superóxido dismutase (SOD), que catalisam a lise do radical ânion
superóxido (O2•−), convertendo-o em oxigênio e peróxido de hidro-
gênio. O segundo, formado pela enzima catalase (CAT), que atua na
dismutação do peróxido de hidrogênio (H2O2) em oxigênio e água. E
o terceiro é composto pela glutationa (GSH) em conjunto com duas
enzimas, a glutationa peroxidase (GPx) e glutationa redutase (GR)
e também catalisa a dismutação do peróxido de hidrogênio em água
e oxigênio, sendo que a glutationa opera em ciclos entre sua forma
oxidada e sua forma reduzida (BARREIROS et al., 2006).
O sistema antioxidante não enzimático é formado por diversas
substâncias, que podem ser produzidas in vivo ou adquiridas na
dieta. Dentre os principais antioxidantes não enzimáticos, podemos
citar a glutationa (GSH), tocoferóis, ascorbato, ácido úrico e β-caro-
teno, além de proteínas de transporte de metais de transição, como
a transferrina (transporte do ferro) e ceruloplasmina (transporte do
cobre e oxidação do ferro para ser captado pela transferrina) (VAS-
CONCELOS et al., 2007; RIBEIRO et al., 2005).
A célula, em condições fisiológicas, necessita de um equilíbrio
entre os sistemas pro-oxidante e antioxidante. O desequilíbrio en-
tre esses sistemas é denominado estresse oxidativo e ocorre, ge-
ralmente, quando os antioxidantes não são suficientes para conter a
produção exacerbada de ERO e ERN. Está relacionado a diversas
patologias, dentre elas a aterosclerose, artrite, isquemia, envelhe-
cimento, diabetes, câncer e doenças neurodegenerativas como Al-
zheimer e Parkinson (RIBEIRO et al., 2005; ĎURAČKOVÁ, 2010).
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3. Aterosclerose
A aterosclerose é uma doença inflamatória crônica, bem como
um distúrbio do metabolismo lipídico, que afeta essencialmente to-
das as artérias do organismo, principalmente a aorta (LIBBY, 2002;
SHIBATA & GLASS, 2010). Caracteriza-se como uma doença pro-
gressiva, na qual ocorre acúmulo de lipídios e elementos fibrosos nas
artérias, que leva ao enrijecimento dos vasos e pode comprometer
o fluxo sanguíneo, desencadeando diversas doenças cardiovascu-
lares como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e
aneurisma da aorta (GIROLDO et al., 2007; AIKAWA; LIBBY, 2004).
O desenvolvimento dessa doença é lento, podendo iniciar na in-
fância, a partir dos três anos de idade quando surgem estrias gordu-
rosas que são precursoras das placas ateroscleróticas. Mas, de ma-
neira geral, suas manifestações clínicas evoluem silenciosamente, e
os sintomas começam a aparecer a partir dos 50 anos (GIROLDO et
al., 2007).
Alguns fatores de risco podem contribuir para o desenvolvimen-
to da aterosclerose como dislipidemia, tabagismo, diabetes mellitus,
obesidade, hipertensão arterial, histórico familiar e sedentarismo.
Outros fatores não tradicionais, como inflamação, estresse oxidativo,
infecção persistente, proteinúria e hiperfosfatemia, parecem exercer
um papel relevante no desenvolvimento do processo aterosclerótico
(DUMMER et al., 2007; HALPERN et al., 2010).
Os principais eventos da aterosclerose são disfunção endotelial
e inflamação. O endotélio tem função de regulação do tônus vagal,
modulação da inflamação, da agregação plaquetária e promoção e
inibição do crescimento neovascular. Além de ser responsável pela
síntese de fatores vasoconstritores e vasodilatadores (PINHO et al.,
2010). Nas fases iniciais da doença,  um acúmulo de LDL e radi-
cais livres estimulam as células endoteliais a expressar moléculas de
adesão específicas, como a molécula de adesão da célula vascular
(VCAM-1), que participa do processo inflamatório mediando a en-
trada de leucócitos, como monócitos para a camada íntima do vaso
(HULTE; FABERGER., 2002; TSUBOSAKA et al., 2010).

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A RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO COM A ATEROSCLEROSE

Na presença de fatores inflamatórios há perda da ação protetora


do endotélio que passa a ser fonte de elementos que participam da
progressão da aterosclerose (CASELLA-FILHO et al., 2003). Uma
disfunção endotelial caracteriza-se por uma resposta inflamatória da
parede vascular a injúria, levando a um desequilíbrio entre as subs-
tâncias vasodilatadoras e vasoconstritoras, secreção e produção de
fatores de crescimento (LUZ et al., 2006).
Entre os mecanismos que levam a uma disfunção endotelial, a
oxidação da LDL, caracteriza-se como o principal evento na atero-
gênese. Essa lipoproteína modificada causa danos ao endotélio e a
parede vascular, comprometendo a elasticidade da artéria e contri-
buindo para a evolução do processo aterosclerótico (POHJANTÄHTI
-MAAROOS et al., 2010).
A oxidação da LDL pode ocorrer através de radicais livres, de
células endoteliais, células musculares lisas e macrófagos, os quais
secretam produtos oxidativos por múltiplas vias, e difundem as LDL
aprisionadas no espaço subendotelial, iniciando a oxidação lipídica.
As modificações na LDL pelos monócitos parece ocorrer em dois
estágios, o primeiro antes dos monócitos serem ativados por alte-
rações na apoproteína B (ApoB), o segundo quando os monócitos
ativos, convertidos em macrófagos, vão oxidar a LDL (SIQUEIRA et
al., 2006; BATLOUNI, 1997).
Esse processo de oxidação pode ser mediado por diferentes
mecanismos, como mieloperoxidação, lipoperoxidação lipídica, íons
metálicos e ERN. O processo de mieloperoxidação ocorre quando
monócitos liberam a enzima mieloperoxidase que converte a LDL
em sua forma aterogênica. Essa LDL modificada vai degradar ma-
crófagos transformando-os em células espumosas (SIQUEIRA et al.,
2006; MERTENS; HOLVOET, 2001).
Na lipoperoxidação lipídica, células endoteliais, macrófagos e
monócitos produzem a 15–lipoxigenase, uma proteína que converte
ácidos graxos poliinsaturados em hidroperóxidos lipídicos, que oxi-
dam a LDL, transformando-a em sua forma aterogênica (MERTENS;
HOLVOET, 2001). Além disso, íons metálicos também regulam a oxi-
dação da LDL, sendo importantes na formação das ERO, através
das reações de Fenton e de Haber-Weiss. Entre os íons metálicos o
mais importante é o ferro (FERREIRA; MATSUBARA, 1997).
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A molécula de LDL modificada é citotóxica para as células endo-


teliais, nas quais promove a expressão de citocinas pró-inflamató-
rias, vasoconstrição, causa inibição do NO e aumento da agregação
plaquetária (LUZ et al., 2006). Acredita-se que a principal relação do
estresse oxidativo com a aterosclerose, consiste na perda da bioati-
vidade do NO, com conseqüente redução da capacidade vasodilata-
dora dependente do endotélio (BAHIA et al., 2004).
O NO é a principal substância antiaterogênica produzida pelo en-
dotélio, com a função de regular a hemostasia (VANNI et al., 2007).
Desse modo, uma insuficiência na produção de NO leva a uma au-
sência de inibição plaquetária, uma proliferação de monócitos e ma-
crófagos, e consequentemente a complicações para a patogênese
da aterosclerose (DUSSE et al., 2003).
Este acúmulo de macrófagos dentro da camada íntima significa
o primeiro estágio, que predispõe à progressão do ateroma e à evo-
lução para a placa (SHIMADA, 2009). A placa aterosclerótica é cons-
tituída por elementos celulares, núcleo lipídico e por componentes
da matriz extracelular, promovendo a estenose e comprometendo o
fluxo sanguíneo (CASELLA-FILHO et al., 2003).
As placas ateroscleróticas podem ser caracterizadas como está-
veis ou vulneráveis a ruptura. Placas estenosantes, são considera-
das estáveis, pois são mais fibrosas, e menos suscetíveis à ruptura
e trombose. Ao contrário, nas placas vulneráveis à ruptura, há uma
grande quantidade de macrófagos que liberam enzimas capazes de
degradar o colágeno presente na camada fibrosa, tornando-a mais
fina (STOCKER; KEANEY, 2004; VILAHUR et al., 2006). A ruptura
da placa provoca a formação de trombos que podem ou não migrar
através da circulação. Quando esses trombos atingem as artérias
coronárias, podem ocasionar infarto agudo do miocárdio e nas arté-
rias carótidas poderá provocar uma isquemia cerebral ou um aciden-
te vascular cerebral (LIBBY, 2002; CHEN et al., 2010).

4. A Relação do Estresse Oxidativo com a


Aterosclerose
Durante as últimas décadas, vários estudos vêm investigando o
papel do estresse oxidativo na aterosclerose. De acordo com a teoria
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A RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO COM A ATEROSCLEROSE

do estresse oxidativo, a aterosclerose resulta de uma modificação


nas LDL na parede vascular, pelas ERO e ERN (VOGIATZI et al.,
2009). A oxidação dessas lipoproteínas leva a inflamação e conse-
quente dano endotelial. Isso ocorre através da expressão de molécu-
las de adesão, quimiocinas, citocinas pró-inflamatórias, e outros me-
diadores da inflamação em macrófagos e células da parede vascular
(LIBBY et al., 2002). Assim, as moléculas de colesterol LDL oxidadas
ativam o recrutamento de monócitos circulantes para o espaço in-
timal da artéria e inibem a capacidade dos macrófagos residentes
para deixar à íntima (STOCKER; KEANEY, 2004). Os macrófagos
podem gerar um acréscimo de ERO (especialmente o superóxido)
através da enzima NADP(H) oxidase (VOGIATZI et al., 2009).
O radical superóxido reage rapidamente com o NO, e a conse-
quência dessa interação é a produção de outras espécies reativas
oxidantes, como o peroxinitrito (ONOO-) (BAHIA et al., 2004). Molé-
culas de peroxinitrito geram dano direto ao DNA celular. Além disso,
oxidam o tetrahidrobiopterina (BH4) e induzem o desacoplamento
da eNOS (óxido nítrico sintase endotelial) (STOCKER; KEANEY,
2005; PAPAHARALAMBUS; GRIENDLING, 2007).
A eNOS é ativada por pequeno estresse na interface da célula
endotelial e pelo sangue. É responsável pela produção de NO e seu
desacoplamento gera uma produção adicional de superóxido e dimi-
nuição da biodisponibilidade do NO levando a perpetuação do dano
endotelial (BAHIA et al., 2006). O NO atua no endotélio promovendo
dilatação vascular, o que interfere na atuação dos leucócitos na in-
flamação e reduz a adesão dos mesmos à parede vascular (VANNI
et al., 2007). A biodisponibilidade reduzida de NO leva a vasocons-
trição, agregação de plaquetas e adesão de neutrófilos ao endotélio,
o que leva a formação da placa aterosclerótica (PINHO et al., 2010).
As placas vulneráveis caracterizam-se por uma camada fibrosa
mais fina, pelo excesso de células espumosas e linfócitos, núcleo
necrótico e pouco colágeno (SIQUEIRA et al., 2006). A formação
desse núcleo necrótico da placa aterosclerótica decorre da apoptose
das células da placa, especialmente das células musculares lisas e
células do sistema imune (LIBBY, 2009).

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As ERO contribuem para a vulnerabilidade da placa como in-


dutores de apoptose e desempenham papel importante no controle
da expressão e da atividade das metaloproteinases de matriz (VI-
LAHUR et al., 2006). As metaloproteinases participam em diversos
dos processos envolvidos na aterogênese, como angiogênese e re-
modelamento, e têm papel fundamental na ruptura da placa ateros-
clerótica (SOUZA; LAURINDO, 2002).
Além da eNOS, outras fontes enzimáticas que contribuem para
o aumento da produção de ERO e consequente estresse oxidativo,
são as enzimas NADPH oxidase, xantina oxidase e mieloperoxidase
(CAI; HARRISON, 2000). A NADPH oxidase é uma fonte importante
de ERO em células vasculares e processos inflamatórios e catalisa
a redução do oxigênio molecular através da transferência de um elé-
tron dos substratos NADH ou NADPH (MADAMANCHI et al., 2005;
GRIENDLING et al., 2000).
A xantina oxidase atua oxidando a xantina e a hipoxantina a áci-
do úrico, o que leva a uma produção de superóxido e peróxido de
hidrogênio. Alguns estudos apontam que o superóxido derivado da
xantina oxidase também pode atuar na diminuição do NO (CAI; HAR-
RISON, 2000). Já a mieloperoxidase é produzida por macrófagos
ativados e utiliza o peróxido de hidrogênio para produzir substâncias
ainda mais oxidantes. Há três mecanismos pelos quais essa enzima
participa de modificações oxidativas: consumo de NO, oxidação da
LDL e inibição da eNOS (STOCKER; KEANEY, 2004).
Outro mecanismo relacionado a aterogênese compreende o pé-
roxido de hidrogênio, ERO que em condições de estresse oxidativo
atua em mecanismos relacionados à produção de fatores de trans-
crição como o fator nuclear kappaB (NF- kB) e ativador de proteí-
na 1 (AP-1), que participam na expressão de moléculas de adesão,
tais como as moléculas de adesão vasculares (VCAM-1), moléculas
de adesão intracelular (ICAM-1) e citocinas. É estabelecido que o
NF- kB atua nas células musculares lisas de vasos ateroscleróticos
e é inativado por antioxidantes e anti-inflamatórios (VOGIATZI et al.,
2009).
Assim, espécies reativas são responsáveis não só por iniciarem
um processo de aterosclerose, culminando com dano endotelial e
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A RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO COM A ATEROSCLEROSE

inflamação, mas também estão relacionadas a progressão da do-


ença. Atuam na formação e ruptura da placa aterosclerótica e são
relacionados a fatores de transcrição e indução de apoptose. Os da-
nos causados predispõem a um aumento na formação de espécies
reativas o que agrava ainda mais o curso da doença (KONDO et al.,
2009; SOUZA; LAURINDO, 2002).

5. MATERIAL E MÉTODO
O presente estudo constitui-se de uma pesquisa bibliográfica a
respeito do tema estresse oxidativo e aterosclerose, realizada atra-
vés de artigos de periódicos, revistas e materiais científicos disponi-
bilizados em bibliotecas médicas virtuais e portais de busca. Sendo
assim, foram utilizados portais como PubMed, Scielo, Bireme, PNAS
e Elsevier.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A aterosclerose é uma doença relacionada a doenças cardiovas-
culares e constitui-se como a principal causa de morbidade e mor-
talidade nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Segundo
Ross (1999) inicialmente era considerada uma doença de acúmulo
de lipídios e cálcio na parede celular, mas durante as últimas dé-
cadas vem sendo reconhecida como uma patologia complexa que
envolve inflamação e disfunção endotelial. Acredita-se que a infla-
mação esteja intimamente ligada a disfunção endotelial e ao estres-
se oxidativo. Segundo Pinho et al (2010) o estresse oxidativo tem
papel fundamental na fisiopatologia da disfunção endotelial e atua
na migração de células e na formação da placa aterosclerótica. Além
disso, são ERO e ERN, produzidas demasiadamente, as responsá-
veis pela oxidação da LDL.
Dentre as teorias que explicam a aterosclerose a mais encon-
trada na literatura é a hipótese oxidativa. A modificação oxidativa
da LDL é um evento precoce na aterosclerose e contribui para a
aterogênese. Para comprovar essa teoria, Stocker e Keaney (2004)
apontam estudos nos quais há presença de LDL oxidada in vivo e
estruturas antioxidantes inibindo a aterosclerose em animais. Singh
e Jialal (2006) afirmam que a evidência mais direta para o papel do
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estresse oxidativo na aterogênese vem de estudos com apoE-/- em


ratos. Esses estudos apresentam modelos com alta concentração
de colesterol, aumento da peroxidação lipídica, diminuição da bio-
disponibilidade de NO e desenvolvimento de aterosclerose de modo
semelhante aos humanos. Segundo Luz et al (2006) vários estudos
experimentais in vitro e em modelos animais demonstram que o es-
tresse oxidativo é um fenômeno central em muitas fases da ateros-
clerose.
A oxidação dessa LDL provoca efeitos biológicos severos. Além
de ser pró-inflamatória, causa inibição da enzima eNOS, promoven-
do vasoconstrição e adesão de moléculas. Estimula citocinas como
a interleucina-1 (IL-1) e aumento da agregação plaquetária. Outra
propriedade da LDL oxidada vem do fato de ser imunogênica. Se-
gundo Ross (1999) isso faz com que além de atrair macrófagos até
a parede do vaso, a mesma também tenha a capacidade de reter os
macrófagos ali presentes, inibindo sua mobilidade. Esse acúmulo de
macrófagos causa um aumento das ERO, que são produzidas atra-
vés das enzimas que esses possuem.
Sendo assim, durante o processo de inflamação do vaso, o endo-
télio fica suscetível a uma grande variedade de ERO por um período
prolongado. Lum e Roebuck (2001) apontam que neutrófilos polimor-
fonucleares (PMN), encontrados aderidos ao endotélio ou migrando
através do tecido, são capazes de produzir grande quantidade de
superóxidos. Com a geração de superóxidos, outra espécie ainda
mais reativa é formada, o peroxinitrito. Esse atua diretamente no
DNA celular e também é capaz de causar uma perpetuação do dano
endotelial, através do desacoplamento da enzima eNOS. Segundo
Cai e Harrison (2000) uma grande quantidade de estudos sugerem
que o dano endotelial pode ser resultado de uma aceleração da ina-
tivação do NO causada pelas ERO.
Além da LDL oxidada, novas espécies reativas atuarão inibindo
a biodisponibilidade de NO e criando ou agravando um processo de
disfunção endotelial. Segundo Singh e Jialal (2006) dentre os fatores
que danificam o endotélio, espécies reativas, principalmente as deri-
vadas do oxigênio, são as principais responsáveis por comprometer
as células do endotélio. Lakshmi et al (2009) comprovam essa idéia

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A RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO COM A ATEROSCLEROSE

e afirmam que um aumento na produção de ERO é a maior causa de


disfunção endotelial na aterosclerose clínica e experimental.
O estresse oxidativo influencia na aterogênese, mas também
contribui na progressão da doença através da oxidação da LDL que
gera uma resposta inflamatória, na qual são liberados fatores que re-
gulam o equilíbrio da placa, podendo torná-la estável ou vulnerável.
Um estudo realizado por Siqueira et al (2006) envolvendo pacientes
coronariopatas demonstra que altas concentrações de LDL modifi-
cadas na placa ou no plasma do paciente predispõe a ruptura da
placa, o que resulta na formação de trombos que podem migrar pela
circulação e atingir inclusive artérias coronárias e carótidas.
Outra relação importante é observada com as metaloproteina-
ses de matriz, que participam em vários momentos da aterosclerose,
principalmente no que se refere a ruptura da placa aterosclerótica.
Segundo Souza e Laurindo (2002) o estresse oxidativo seria um im-
portante modulador dessas metaloproteinases, com isso, desequilí-
brios redox seriam capazes de afetar negativamente a remodulação
vascular e espécies reativas poderiam degradar a matriz extracelular
causando uma instabilidade na placa, tornando-a mais suscetível a
ruptura.
Apesar da grande maioria dos estudos estarem de acordo com a
hipótese oxidativa e a utilizarem para explicar a fisiopatologia da ate-
rosclerose, alguns autores apontam falhas nessa hipótese. Segundo
Libby (2002) a hipótese oxidativa da LDL é voltada para estudos in
vitro e seus achados não, necessariamente, corresponderiam a pro-
cessos in vivo. Porém, existem fortes evidências da oxidação da LDL
in vivo.
Stocker e Keaney (2005) apontam estudos em que ácidos gra-
xos poliinsaturados oxidados, por ERO, decompõem-se em aldeídos
reativos que facilmente se ligam a resíduos de lisina da apolipoprote-
ína B-100, gerando uma LDL alterada. Anticorpos que reconhecem
essa apolipoproteína oxidada aparecem em lesões ateroscleróticas
em coelhos, ratos com apolipoproteína E deficiente e em humanos,
mas não aparecem em artérias normais. Além disso, biomarcado-
res da peroxidação lipídica (que gera LDL oxidada) podem ser en-
contrados em fluídos biológicos. Segundo Abdalla e Sena (2008)
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BELISA AVILA RODRIGUES - CAROLINE BRANDÃO QUINES - MATIAS NUNES FRIZZO

a determinação destes biomarcadores pode ser realizada através


de técnicas cromatográficas ou enzimoimunoensaios. Dessa forma,
embora alguns autores ainda discordem desta relação é inegável a
participação do estresse oxidativo em processos bioquímicos liga-
dos a aterosclerose.

7. CONCLUSÃO
Patologia importante nas sociedades modernas, a aterosclerose
encontra-se entre as principais causas de morte no mundo. Fatores
de risco, relacionados ao estilo de vida, são alguns entre os muitos
motivos que levam à patologia nos indivíduos. Porém, é necessário
descobrir outros mecanismos pelos quais a aterosclerose se desen-
volve, dentre eles o estresse oxidativo.
Diante dos estudos demonstrados, verificou-se que, em inúme-
ros trabalhos, é descrita uma relação entre o estresse oxidativo e a
aterosclerose. A hipótese oxidativa da aterosclerose tem sua consis-
tência pela grande quantidade de estudos nos quais é validada atra-
vés da avaliação do estresse oxidativo desde o início da aterogênese
até a progressão e ruptura da placa. São muitas as evidências que
apontam as modificações oxidativas na LDL como um importante
mecanismo para o desenvolvimento das lesões, sendo observadas
em pacientes com doenças cardiovasculares e obrigatoriamente em
todos os estágios da aterogênese. Também fica claro que não é só
através da oxidação da LDL que o estresse oxidativo atua na patolo-
gia. Como já evidenciado, ERO e ERN contribuem para o desenvol-
vimento de uma disfunção do endotélio, bem como são relacionados
aos processos inflamatórios do vaso. Além disso, inúmeras doenças
estão relacionadas ao estresse oxidativo, nas quais, também, evi-
dencia-se uma relação de dano aos tecidos mediado pelo acúmulo
de ERO e ou ERN.
Portanto, torna-se importante o esclarecimento dos processos
que envolvem o estresse oxidativo, seus mecanismos e atuação nas
patologias. Do mesmo modo, a expansão dos conhecimentos so-
bre os diferentes fatores relacionados à aterosclerose torna-se in-
dispensável, bem como compreender os mecanismos envolvidos na
formação e evolução dessa patologia. Uma nova visão do papel da
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A RELAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO COM A ATEROSCLEROSE

inflamação na aterosclerose e também a sua relação com o estresse


oxidativo podem fornecer uma nova estrutura na compreensão clí-
nica dessa doença, o que possibilitaria o desenvolvimento de novos
tratamentos para prevenir e evitar sua progressão.

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OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSE

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO
MUSCULAR EM PORTADORES DE
GONARTROSE
THE BENEFITS OF SUPPORT IN PATIENTS WITH
MUSCULAR GONARTHROSIS
Aline Fróes Tavares1
Thais do Nascimento Gomes2
RESUMO
A gonartrose é uma patologia reumatológica que afeta a articulação do joelho, manifestando-se devido a muitos
fatores como o processo natural do envelhecimento ou ao acúmulo excessivo de carga que a articulação suporta o que
desequilibra as forças musculares e aumenta a exigência do joelho. O reforço muscular é uma alternativa preventiva e/
ou curativa para o restabelecimento das funções normais do joelho. Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão
bibliográfica sobre os benefícios do reforço muscular na gonartrose, através das respostas fisiológicas dos recursos
fisioterapêuticos empregados. Evidenciou-se através desta pesquisa que objetivou verificar os benefícios do reforço
muscular em pacientes com gonartrose, que o cálcio tem um papel importante na contração e principalmente na
geração de força, sendo que sua falta é fator de fraqueza muscular e desequilíbrios que tornam suscetíveis patologias
como a gonartrose. Os tipos de contração muscular, de acordo com cada músculo, podem favorecer o tipo de exercício
mais indicado, acelerando os benefícios frente ao tratamento de reforço muscular. Dessa forma tal análise permitiu
concluir que as mudanças fisiológicas causadas pela gonartrose podem ser prevenidas ou amenizadas a partir do reforço
muscular quando utilizado através do conhecimento do tipo de musculatura e do exercício, que deve ser personalizado
e adaptado ao estilo de vida.
Palavras-chave: contração muscular, gonartrose, reforço muscular.

ABSTRACT
The gonarthrosis is a rheumatic disease that affects the knee joint, manifesting due to many factors such as the natural
process of aging or excessive accumulation of load that the joint support which impairs muscle strength and increases
the requirement knee. Muscle strengthening is a preventive and / or curative alternative for the restoration of normal
knee functions. This study aims to review literature on the benefits of muscle strengthening in gonarthrosis by the
physiological responses of physiotherapy resources employees. It was evident through this research aimed to verify the
benefits of muscle strengthening in patients with gonarthrosis, that calcium plays an important role in contraction and
mainly in power generation, with its absence of muscle weakness and imbalances factor that makes them susceptible
pathologies as gonarthrosis . The types of muscle contraction, according to every muscle, may favor the most appropriate
type of exercise, accelerating the benefits to the treatment of muscle strengthening. Thus this analysis concluded that
physiological changes caused by gonarthrosis can be prevented or mitigated from muscle strengthening when used
through knowledge of muscles and the type of exercise, which should be personalized and tailored to the lifestyle.
Keywords: twitch, gonarthrosis, muscle strengthening

1. INTRODUÇÃO
O sistema musculoesquelético com o passar do tempo sofre mui-
tas modificações, seja pelo processo natural de envelhecimento ou
1 Fisioterapeuta, pós-graduada em ortopedia e traumatologia com ênfase em atendimento na Clínica de Fisioterapia (CBES). E-mail:
alifroes@yahoo.com.br
2 Mestre em educação nas ciências. Docente do Curso no Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo CNEC/IESA.
E-mail:gomesnthais@gmail.com

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ALINE FRÓES TAVARES - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

pela associação de movimentos repetitivos, estilo de vida, posturas


viciosas e mantidas durante a jornada de trabalho o que sobrecarre-
ga as diferentes estruturas corporais (SILVA; TARANTO; PIASECKI,
2006). Essas alterações preocupam já que podem acarretar uma
série de lesões e déficits funcionais importantes como as rupturas
de meniscos e ligamentos, perda de equilíbrio, fraqueza muscular,
bursites e artrites (JACOB; FRANCONE, LOSSOW, 1990).
Dentre as doenças que acometem o sistema musculoesqueléti-
co, as chamadas patologias reumatológicas são as mais constantes,
e têm na osteoartrose suas maiores incidências. São consideradas
um problema mundial que acomete os países desenvolvidos e em
desenvolvimento, atingindo cerca de 16,2% da população brasileira
(SEDA; SEDA, 2001).
A osteoartrose é a degeneração dos componentes articulares
que leva à destruição progressiva da cartilagem hialina, da cápsu-
la articular, da membrana sinovial e que pode atingir de forma se-
cundária os tecidos moles. Pode ser agravada pela perda de força
muscular consequência geralmente do sedentarismo, gerando per-
da de funcionalidade, de estabilidade, de flexibilidade, diminuição de
amplitude de movimento (ADM) e propriocepção, o que causa maior
instabilidade muscular levando a outras patologias associadas (RO-
DRIGUES, 2007).
A gonartrose, osteoartrose de joelho, é dentre as osteoartroses,
as que mais se manifestam devido ao acúmulo de carga que supor-
tam o que faz aumentar significativamente a exigência do joelho, de-
sequilibrando assim as forças musculares, e por isso necessitando
de reforço muscular (WANNMACHER, 2006).
A evolução da gonartrose pode lev
ar a substituição total da articulação, mas o tratamento conser-
vador é a alternativa inicial para evitar os agravos da patologia. As
técnicas fisioterapêuticas neste caso devem melhoram os sinais e
sintomas dolorosos, prevenir atrofias e perdas de amplitude de mo-
vimento sendo fundamentais as orientações posturais, de ativida-
des de vida diária e a inclusão de atividade física específica (RADL,
2005).

124

Saúde Integrada 2010_Biomedicina.indd 124 06/10/2014 16:28:16


OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSE

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Foram utilizados no presente artigo os seguintes materiais: arti-
gos, livros, revistas, revistas online, sites relacionados da web. Atra-
vés do método de consulta, leitura e análise do conteúdo para ela-
boração do artigo.

3. DISCUSSÃO
Na gonartrose, a diminuição de líquido pela inatividade funcional
e pela fraqueza muscular gera tensão articular, sobrecarga, fricção
e desgaste dos elementos presentes no joelho. O reforço muscular
faz com que seja preservado o movimento funcional e a produção
de líquido de forma adequada, fazendo com que as estruturas se-
jam preservadas e as forças continuem agindo corretamente. A ge-
ração de força muscular se dá através de dois tipos de contração:
a contração isotônica, gerando movimento de forma concêntrica e
excêntrica, e de forma isométrica quando não acontece movimento
(SILVERTHORN, 2003).
Devido a hipotrofia muscular ocorre o desequilíbrio muscular e
ação incorreta de agonistas e antagonistas. A ação agonista do reto
femoral fica prejudicada, pela compensação gerada no movimento,
os vastos laterais e médios precisam entrar em ação no movimento
de extensão de joelho e os isquiotibiais acabam por funcionar como
sinergistas ao auxiliar o movimento. Os músculos, quadríceps e is-
quiotibiais tornam-se hipotróficos geralmente devido ao desuso ou
quadro álgico, que limita o movimento e a função (OLIVEIRA; CAR-
VALHO; SILVA, 2008).
A gonartrose é responsável por 50-60% de redução de torque
máximo de quadríceps, aliado a dor e a rigidez muscular são deter-
minantes da diferença de torque e trabalho isocinético nos pacientes
portadores de gonartrose. Por isso, a diminuição de torque demons-
tra a perda de força muscular, principalmente em quadríceps, que
pacientes com gonartrose apresentam o que leva a um desequilíbrio
muscular e alteração funcional. Para geração de torque, movimento
e de força, deve haver a ação das musculaturas agonistas e antago-
nistas que de forma recíproca e ordenada trabalhem para que estas
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ALINE FRÓES TAVARES - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

ações aconteçam, tal fenômeno é denominado de inervação recípro-


ca (MELO et al., 2008).
O agonista tem papel principal na execução do movimento e na
manutenção de uma postura contraindo-se ativamente. Os antago-
nistas possuem ação anatômica oposta ao agonista regulando a po-
tência ou a rapidez da ação. Usualmente os antagonistas não estão
se contraindo e nem auxiliando ou resistindo ao movimento (ALBU-
QUERQUE, 2003).
Somente os músculos que atuam sobre uma única articulação
são considerados verdadeiros antagonistas. Os músculos que atu-
am sobre mais de uma articulação agem como antagonistas e outras
vezes como sinergistas. A articulação do joelho tem como antagonis-
ta o reto femoral dos isquiotibiais, porém quando o quadril e joelho
fletem simultaneamente o reto femoral funcionará como sinergista
(ALBUQUERQUE, 2003).
A potência funciona como a taxa de trabalho ou a produção de
potência que descreve a intensidade do exercício. Através da com-
preensão do termo potência é que se consegue calcular o trabalho
realizado e a eficiência do exercício associado (POWERS; HOWLEY,
2000).
A força da contração aumenta com a somação das contrações
musculares. A força gerada pela contração de uma fibra muscular
simples pode ser aumentada pelo incremento da velocidade (fre-
qüência) com que os potenciais de ação estimulam a fibra muscular
(SILVERTHORN, 2003).
O treinamento físico rigoroso acarreta alterações nos tipos de fi-
bra muscular. Tanto no treinamento de endurance quanto o de resis-
tência (peso) acarretam uma conversão das fibras rápidas em fibras
mais lentas. A perda muscular passa por duas fases, uma lenta, em
que 10% da massa é perdida entre os 25 e os 50 anos de idade, e
uma rápida entre os 50 e os 80 anos onde ocorre uma perda adicio-
nal de 40%, portanto aos 80 anos metade da massa muscular total
foi perdida. Ainda ocorre durante este processo a perda de fibras
rápidas e o aumento de fibras lentas (POWERS; HOWLEY, 2004).

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OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSE

A perda do trofismo e força não são observadas somente nos


idosos e inativos, mas também, por exemplo, em períodos de imo-
bilização por gesso quando se percebe a redução do tamanho do
músculo. Logo o músculo esquelético é um tecido altamente plástico
que responde tanto ao uso quanto ao desuso. Embora o exercício
regular não possa eliminar completamente a perda muscular rela-
cionada à idade pode-se aumentar a endurance e a força muscular
nos idosos de maneira similar à observada nos indivíduos jovens.
O reforço muscular neste contexto tem papel relevante para garan-
tia de músculos fortes que gerem melhora da estabilidade funcional
articular e proprioceptiva proporcionando proteção articular, equilí-
brio muscular, contração correta e movimento ideal do seguimento
(POWERS; HOWLEY, 2004).
Os exercícios isométricos trabalham de forma eficiente os mús-
culos através de contração muscular que desenvolve tensão sem
provocar a alteração do comprimento do músculo. Este tipo de exer-
cício não provoca grande hipertrofia (aumento de massa muscular),
mas desenvolve força em escala moderada. Seu benefício é de não
comprometer a postura durante sua execução (SILVA; TARANTO;
PIASECKI, 2008).
O aumento de força e de massa muscular é observado através
deste tipo de exercício na reabilitação de problemas musculoesque-
léticos, inclusive em pacientes que apresentem limitação articular
como, por exemplo, os pacientes com gonartrose. Já que na isome-
tria não existe solicitação de movimentos com amplitudes como os
que são solicitados em exercícios mais dinâmicos. O aumento de for-
ça irá depender do regime de treinamento, o tipo de ação muscular,
a intensidade, o volume, o posicionamento, a ordem dos exercícios e
o período de repouso entre as séries e freqüência (COUTRIN; GUE-
DES; MOTTA, 2008).
O isostreching trabalha de maneira benéfica por bloquear as rota-
ções compensatórias, o que acontece com portadores de gonartrose,
que perdem a mobilidade e a rotação, compensando os movimentos.
O bloqueio é dado por uma forte contração muscular dos agonistas,
fazendo com que aconteça o reforço, e o alongamento dos antago-
nistas. Pela dificuldade imposta ao corpo há o reforço muscular. A

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ALINE FRÓES TAVARES - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

forma com que age na coluna, reforçando seus músculos profundos


e tornando-a móvel e tonificada, faz com que mantenha uma retidão
por contração de todos os músculos (REDONDO, 2001).
O método DeLorme foi criada por Delorme em 1945 e se baseia
em exercícios resistidos com aumento progressivo de carga sobre
o músculo, uma sobrecarga. Entre as diversas maneiras de formu-
lar o princípio da sobrecarga, de uma forma ampla, o desempenho
muscular não pode ser melhorado a não ser que o músculo seja exi-
gido além da capacidade diária usual. Basicamente, “a parte distal
do membro movido pelo músculo ou grupo muscular a ser treinado é
submetido a peso de diversos modos (RAMALHO et al., 2004).
É um método que se baseia na quantidade de peso que se pode
conduzir por toda a amplitude de movimento em dez repetições. En-
tão se trata de um exercício de alta resistência em que os pesos
são distribuídos de maneira que, na primeira série de dez repetições
máximas, seja colocado 50% do peso, na segunda série de dez re-
petições máximas coloca-se 75% e na terceira coloca-se 100%. As
repetições são o número de execuções completas e contínuas do
exercício (MATTOSO, 2006).
A musculação orientada pode trazer inúmeros benefícios, este-
ticamente como modelação do corpo e a diminuição de gordura e
ainda fisiologicamente com a geração de força muscular. Há melho-
ra da circulação sanguínea, treino do coração, melhora da postura,
aumento da flexibilidade, melhora da auto-estima, e na osteoartrite
a musculatura fortalecida propicia estabilidade articular, promoven-
do menor desgaste entre os ossos (OLIVEIRA; CARVALHO; SILVA,
2008).
A força é aumentada pela sustentação de carga, podendo ser be-
néfica no aumento de massa óssea e tem se demonstrado ser muito
eficaz em pacientes com doenças articulares inflamatórias (PRENTI-
CE; VOIGHT, 2003).
No método Pilates é preconizado o condicionamento físico e
mental, trabalhando dessa forma o corpo globalmente. Desenvolvido
por Joseph Pilates em 1920, através de um equipamento específico
e um método para balancear e fortalecer os músculos e articulações.

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OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSE

São exercícios que focalizam a melhora da flexibilidade e a força


total do corpo sem a hipertrofia da musculatura. É usado como con-
dicionamento físico, reabilitação e a busca pelo bem-estar físico e
mental entre pessoas de todas as idades (DAVIS, 2006).
O método propicia melhora da circulação, do condicionamento
físico geral, da flexibilidade, da amplitude muscular e do alinhamen-
to postural adequado, melhorando também os níveis de conscien-
tização corporal e coordenação motora. Mostra-se muito eficiente
no alívio de dores crônicas, diminui o risco de lesões, fortalecendo,
alongando e equilibrando a musculatura ajudando a preparar a rea-
bilitação de áreas com fraqueza muscular (PEREIRA, 2008).
A hidroterapia é um dos recursos para o tratamento de portado-
res de gonartrose, podendo ser realizado em piscinas, tanque de
Hubbard e balneários. A piscina pode ser profunda, em banheiras
com redemoinhos de água, banhos de contraste e duchas escoce-
sas onde se alterna água quente e fria (CAMPION, 2000).
A água possui propriedades que auxiliam no tratamento da osteo-
artrite de joelho. Em águas aquecidas, a temperatura de, em média,
36° estimula o relaxamento muscular e alivia a dor das articulações.
A flutuação promove a diminuição da sobrecarga articular, ajudando
com que os exercícios de fortalecimento sejam feitos sem a com-
pressão óssea, logo, não há dor. A viscosidade, fricção e tensão su-
perficial causam resistência ao movimento promovendo aumento da
força muscular (CAROMANO, 2001).
Nesse método, o terapeuta fornece estabilidade para o paciente
e a posição de suas mãos influencia na movimentação do paciente
e na quantidade de trabalho isométrico e isotônico realizado. Pode-
se conseguir a irradiação dos músculos mais fortes para os que se
encontram mais fracos (SKINNER; THOMSON, 2000).
O método Qi Gong é uma terapia alternativa que faz a conexão
entre corpo e mente. Constituída por um grupo de técnicas da espe-
cialidade da medicina energética, baseando-se que a cura do corpo
depende de um equilíbrio de energia vital, da mente tranqüila e das
emoções controladas. Semelhante aos exercícios de Tai Chi, com
movimentos lentos, posturas controladas e isentas de impacto que

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ALINE FRÓES TAVARES - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

deslocam e estimulam o centro de gravidade do corpo, mostram-se


benéficos ao fortalecimento, principalmente em portadores de go-
nartrose que apresentam limitações de movimento e devem evitar a
impactação articular (DAVIS, 2006).
O biofeedback refere-se a integração da mente e do corpo, sig-
nificando “retroalimentação da vida”, utilizando eletronicamente as
informações emitidas pelo corpo para que o indivíduo perceba o
que está acontecendo dentro do seu cérebro, do sistema nervoso
e de seus músculos, transmitindo sinais imediatos e contínuos das
alterações corporais que ele nem percebe, como pressão arterial,
atividade das ondas cerebrais ou tensão muscular. O Biofeedback
mensura, por um aparelho, uma resposta fisiológica melhorando o
componente sensorial de um mecanismo de retroalimentação (fe-
edback), para que a sensibilidade compensada e a força perdida,
forneçam respostas apropriadas, com uma associação nova entre
estímulo e resposta (BOTTOMLEY, 2006).
Este método é amplamente utilizado na reeducação muscular,
para que o paciente visualize o movimento, muitas vezes nas ampli-
tudes que ele não consegue mais realizar, como nos casos em que
a musculatura está fraca. Pode ser colocado em músculos normais
ou no correspondente da extremidade saudável, realizando os mo-
vimentos em todas as amplitudes ou a contração e o relaxamento.
Durante a aplicação do aparelho para ajudar a resposta do paciente,
podem ser aplicadas todas as formas de exercício, facilitação neu-
romuscular proprioceptiva (FNP) e o posicionamento corporal, para
que se alcance o objetivo de recrutar as unidades motoras que estão
funcionais. Trata-se então de um aparelho auxiliar na função do for-
talecimento para detectar qual a capacidade do músculo ou grupo
muscular, para que seja então realizado um programa adequado e
mais eficaz de fortalecimento (DAVIS, 2006).
O método Kabat ou FNP desenvolvido nos Estados Unidos pelo
Dr. Kabat consiste no uso de padrões funcionais de movimento para
aceleração das respostas neuromusculares, em que o fisioterapeuta
dá vários estímulos sensoriais para facilitar o movimento, como pres-
são e toque com as mãos sobre o corpo e no sentido do movimento,
estiramento rápido do músculo a ser estimulada (facilitado), tração

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OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSE

ou compressão conforme objetivo e comando de voz do fisiotera-


peuta para estímulo ao movimento. A técnica pode ser utilizada para
início de contração, fortalecimento muscular, aumentar a mobilidade
e melhorar a coordenação motora (FAVARÃO; PIERETTI, 2004).
Os padrões de facilitação neurofuncional proprioceptiva (FNP)
de fortalecimento utilizados para joelho são os que destacam a rota-
ção tibial manualmente resistidos, essenciais para o treino da função
normal. Os movimentos são realizados em cadeia cinética aberta,
devendo incluir apenas contração ativa, utilizando o padrão de movi-
mento funcional. Padrões resistidos são feitos em períodos em que o
músculo já está mais fortalecido Os exercícios são feitos sempre em
diagonais, seguindo os movimentos funcionais, em todos os ângulos
que a articulação permite (PRENTICE; VOIGHT, 2003).
A vantagem do FNP/Kabat é que a parte mais forte da muscula-
tura fortalece as debilitadas e por serem atividades alternadas a fadi-
ga demora mais tempo para ocorrer. A posição em alongamento é o
estímulo de estiramento, o contato manual é o estímulo visual, ainda
conta com o estímulo verbal e a máxima resistência é a seqüência
de movimento. A contração gera o movimento, trabalha função, ge-
rando atividade (PRENTICE; VOIGHT, 2003).
Na utilização da corrente Russa Para é preciso conhecer as fi-
bras que serão estimuladas. Como com o enfraquecimento perdemos
mais fibras rápidas (contrações fortes e rápidas, com fadiga rápida)
e aumentam as fibras lentas (resistentes à fadiga, mas necessitam
maior tempo para gerar força) é preciso escolher dentro da corrente
russa a estimulação correta para nossos objetivos. À medida que a
intensidade da estimulação elétrica aumenta mais fibras musculares
são estimuladas, dando lugar a contrações mais fortes. O trabalho se
torna muito mais eficaz se, junto com a corrente elétrica, for realizada
contração muscular ativa contra uma resistência. As fibras muscu-
lares tônicas e fásicas devem ser estimuladas para que se obtenha
um trabalho muscular mais efetivo. Porém dependendo do objetivo
funcional é que se determina qual delas deve ser priorizada. No caso
dos portadores de gonartrose enfatizam-se as fibras fásicas, respon-
sáveis pelas contrações rápidas e potentes que atuarão diretamente
no fortalecimento do quadríceps (PRENTICE; VOIGHT 2003).

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ALINE FRÓES TAVARES - THAIS DO NASCIMENTO GOMES

4. CONCLUSÃO
Dentre os benefícios do reforço muscular em portadores de go-
nartrose estão: a redução de alterações funcionais, a facilitação das
atividades diárias, a redução da dor, o aumento de amplitude de mo-
vimento e força muscular e a melhora da postura e do condiciona-
mento físico.
Os tipos de exercícios, de acordo com cada músculo, podem
favorecer o fortalecimento, acelerando os benefícios que o mesmo
proporciona frente à gonartrose. Como no caso da contração tipo
isotônica que aumenta a resistência e a isocinética que vai propor-
cionar ao paciente graduar a mesma.
Entre os apresentados, o método DeLorme foi o que menos pa-
receu viável já que necessita de um elevado tempo de duração para
que seja realizado, apresenta a utilização de cargas com pesos in-
definidos, exige alta resistência do indivíduo praticante, além de se-
rem restritas a alguns usuários em vistas as suas contra-indicações.
Já o Biofeedback foi considerado um auxílio para que os exercícios
dentro de cada técnica sejam mais bem aproveitados e indique qual
a deficiência ou a condição da musculatura trabalhada. Tem gran-
de importância para a reeducação dos pacientes e treino, mas nem
sempre é um recurso disponível ao paciente.
A musculatura dos joelhos deve ser priorizada, mas não deve ser
esta apenas o foco reabilitativo, uma vez que toda musculatura de
forma global deve ser estimulada. As técnicas que se enquadraram
nestes quesitos foram: os exercícios isométricos, o Isostreching, a
musculação, o método Pilates, a hidroterapia, o método Qi Gong, o
método Kabat ou FNP e a corrente russa.

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PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES NA POPULAÇÃO ATENDIDA EM PROJETO DE EXTENSÃO DO CURSO SE BIOMEDICINA IESA – RS

PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES
NA POPULAÇÃO ATENDIDA EM
PROJETO DE EXTENSÃO DO CURSO SE
BIOMEDICINA IESA – RS
PREVALENCE OF INTESTINAL PARASITES IN THE
POPULATION ATTENDED IN PROJECT SCOPE OF
COURSE IF BIOMEDICINA IESA - RS

Djonattan Patrick Sinhorini1


Alexandre Novicki2
Débora Pedroso3
RESUMO
As parasitoses intestinais constituem um grave problema de saúde pública, sobretudo em países em desenvolvimento
onde ocupam lugar de destaque entre as doenças negligenciadas. Afetam principalmente as populações de baixa
renda, que vivem em condições precárias de saneamento básico e aumenta o risco de contaminação e proliferação de
doenças na população infantil. Esse trabalho objetivou registrar quais as parasitoses intestinais que ocorreram entre
outubro de 2009 a outubro de 2010, nas crianças entre 6 a 15 anos incompletos alunas de Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS). Foram analisadas 198 amostras fecais de 66 crianças e observou-se positividade em 31(46,9%)
dos exames realizados. Os parasitos encontrados foram Ascaris lumbricóides (25%), Entamoeba coli (21,1%), Trichuris
trichiura (19,2%), Endolimax nana (15,40%) entre outros. As crianças positivas ao exame foram proporcionadas
tratamento médico. O alto índice de infecção parasitária no presente estudo é reflexo da falta de saneamento básico da
região estudada. Com este estudo fica registrado a prevalência das parasitoses intestinais encontradas na população de
estudo e a possibilidade de novos trabalhos de extensão visando à prevenção e controle das enteroparasitoses.
Palavras- Chave: Prevalência, Parasitoses Intestinais, Parasitismo.

ABSTRACT
Intestinal parasitic infection is an important public health problem, especially in developing countries where play an
important role between the neglected diseases. Mainly affect the poor population that live in low sanitation conditions
increasing the infection risk and spread of diseases mainly in children. The present study was carried out between
the period of October 2009 to October 2010 and an investigation about the intestinal parasites occurring in children
between 6-15 years old, students of the Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). One hundred ninety eight
fecal samples were analyzed of 66 children and positivity rates were observed in 31 (46.9%) theirs. The most prevalent
parasites were Ascaris lumbricoides (25%), Entamoeba coli (21.1%), Trichuris trichiura (19.2%), Endolimax nana
(15.4%). Infected children received medical treatment. In this study, the high parasitic infection rates reflect the lack
of sanitation in the studied region. Here is notified the intestinal parasites prevalence in this population and further
extension’s work aiming at the prevention and control of intestinal parasites.
Keywords: Prevalency, Intestinal Parasitasis, Parasitism

1 Acadêmico concluinte do curso de Biomedicina, 2010. Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo
2 Mestrado em Física (UFRGS); Especialista em Docência no Ensino Superior (IESA); Físico e Matemático (URI). Docente do curso de
Biomedicina do Instituto Cenecista de Santo Ângelo.
3 Mestre em Parasitologia (UFPEL); Especialista em Análises Clínicas (UFRGS); Biomédica (FEEVALE); Docente do curso de
Biomedicina do Instituto Cenecista de Santo Ângelo.

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DJONATTAN PATRICK SINHORINI - ALEXANDRE NOVICKI - DÉBORA PEDROSO

1. INTRODUÇÃO
As parasitoses intestinais constituem um grave problema de saú-
de pública, sobretudo em países em desenvolvimento, onde ocu-
pam lugar de destaque entre as doenças negligenciadas. Estudos
de diferentes regiões do Brasil mostram freqüências diferentes entre
espécies de helmintos e protozoários. Variam de acordo com as ca-
racterísticas da amostra estudada, localidade, fatores climáticos, só-
cio-econômicos, educacionais e de saneamento (SILVA; SANTOS,
2001; BASSO et al., 2008; FONSECA; SILVEIRA, 2010).
Em relação á ocorrência, estudos demonstram que as enteropa-
rasitoses acometem principalmente crianças e adultos jovens, cons-
tituindo um fator agravante na subnutrição, refletindo diretamente no
rendimento escolar (FONSECA; SILVEIRA, 2010). Segundo Andreis,
Schuh e Tavares (2008), apesar de isoladamente não apresenta-
rem alta letalidade, as parasitoses intestinais podem ser analisadas
como co-fatores da mortalidade infantil, podendo afetar o equilíbrio
nutricional, induzir sangramento intestinal , além de competir pela
absorção de nutrientes e interferindo o desenvolvimento cognitivo
da criança.
A escolha do tema de pesquisa teve como justificativa dois as-
pectos importantes, (I) vivências adquiridas no projeto de extensão
Parasitologia na Comunidade: Uma Prática de Educação em Saúde
no curso de Biomedicina (II) a gravidade que assumem as parasito-
ses intestinais na infância.
O presente trabalho estima a prevalência de enteroparasitos em
crianças de 6 a 15 anos incompletos, atendidas em Centro de Refe-
rência de Assistência Social (CRAS), analisa alguns aspectos epide-
miológicos, sociais e sanitários da população atendida no projeto de
extensão da disciplina de Parasitologia.

2. Relações parasito hospedeiro e


ambiente
O parasitismo é uma associação entre seres vivos com unilate-
ralidade de benefícios, sendo o hospedeiro um dos associados e o
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PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES NA POPULAÇÃO ATENDIDA EM PROJETO DE EXTENSÃO DO CURSO SE BIOMEDICINA IESA – RS

prejudicado nesta associação. O hospedeiro é indispensável ao pa-


rasita que, dele separado, morrerá por falta de nutrição. O parasito
obtém alimento as expensas de seu hospedeiro (tecidos, humores e
conteúdo intestinal) e abrigo. Assim, a parasitose é o estado de in-
fecção cuja agressão repercute prejudicialmente sobre o hospedeiro
(CIMERMAN; CIMERMAN, 2005; SILVA; SANTOS, 2001).
Para que ocorra a infecção três fatores da clássica tríade epi-
demiológica das doenças parasitárias são indispensáveis: as con-
dições do hospedeiro, o parasito e o meio ambiente. Em relação ao
hospedeiro os fatores predisponentes incluem: idade, estado nutri-
cional, fatores genéticos, culturais, comportamentais e profissionais.
Pesa para o lado do parasito: a resistência ao sistema imune do hos-
pedeiro e os mecanismos de escape vinculados as transformações
bioquímicas e imunológicas verificadas ao longo do ciclo de cada
parasito. As condições ambientais associadas aos fatores anteriores
irão favorecer e definir a ocorrência de infecção e doença (FREI;
JUNCANSEN; PAES, 2008).
As parasitoses intestinais são transmitidas aos hospedeiros por
várias fontes de contaminação. Geralmente a transmissão ocorre por
via passivo-oral, onde ocorre ingestão de alimentos ou água conta-
minados com estruturas parasitárias, sendo sua maior prevalência
vinculada a áreas que se apresentam com condições higiênico-sani-
tárias precárias associadas à falta de tratamento adequado de água
e esgoto, logo estes fatores facilitam a disseminação de ovos, cis-
tos e larvas, sendo a transmissão também facilitada pelo aumento
do contato pessoa a pessoa propiciado pelos ambientes fechados
como creches, escolas, asilos, presídios, pois o grande número de
indivíduos presentes nesses ambientes não permite, muitas vezes,
obedecer às normas de higiene e assim, contribuem para o alto grau
de parasitoses intestinais (AFIUNE; RIBEIRO; COSTA, 2009).
As enteroparasitoses também estão associadas à locais de níveis
socioeconômicos baixos, esgotos, lagos, córregos, riachos contami-
nados, pois estes podem acumular grande quantidade de dejetos
e fezes contaminados por pessoas enfermas, bem como o lixo que
atrai numerosos insetos e roedores, facilitando a proliferação dos
parasitas (CORREIA; BRANDÃO; RIBEIRO, 2005). O desconheci-

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mento deste problema de saúde pública esbarra na necessidade de


conhecimento da realidade e dos fatores de risco que favorecem o
surgimento, a manutenção e a propagação desses agentes (ZAIDEN
et al., 2008).
Pelo menos em uma das fase do ciclo evolutivo as parasitoses
intestinais encontram-se no aparelho digestivo do homem e podem
provocar diversas alterações patológicas, sobretudo a diarréia crôni-
ca e desnutrição (BAPTISTA et al., 2006).
Em relação aos sintomas clínicos eles podem ou não estar pre-
sentes, e variam de ausência de sintomas a estado subagudo ou
crônico. Geralmente os sintomas são vagos e sem explicações, o
que dificulta o diagnóstico clínico, salvas exceções como, por exem-
plo: de prurido anal no caso de enterobiose, quando há eliminações
de vermes adultos na ascaridíase, ou quando evoluem para suas
complicações, com manifestações clínicas mais específicas (MAN-
FROI; STEIN; CASTRO FILHO, 2009).
Os sinais clínicos são variáveis, diferindo conforme a fase e du-
ração da infecção e o número de parasitas. Em conseqüência da
migração do parasita imaturo (larva) no organismo do hospedeiro,
pode ocorrer dor abdominal, febre, vômito, diarréia, urticária, má di-
gestão e absorção, icterícia, hepatomegalia e alterações de enzimas
hepáticas, leucocitose e eosinofilia (OLIVEIRA et al., 2007; MAN-
FROI, 2009).
Em preocupação com a saúde, sobretudo, e das repercussões
econômicas, vários programas foram criados para o controle das pa-
rasitoses intestinais em diferentes países, mas infelizmente, verifi-
cou-se um descompasso entre o êxito alcançado nos países mais
desenvolvidos e aquele verificado nas economias mais pobres. Exis-
te falta de projetos educativos com a participação da comunidade
que dificulta a implantação das ações de controles, além, do custo
financeiro das medidas técnicas. Há de se considerar, portanto, que
além da melhoria das condições sócio-econômicas e de infraestrutu-
ra geral, o engajamento comunitário é um dos aspectos fundamen-
tais para a implantação, desenvolvimento e sucesso dos programas
de controle (SILVA; SANTOS, 2001).

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PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES NA POPULAÇÃO ATENDIDA EM PROJETO DE EXTENSÃO DO CURSO SE BIOMEDICINA IESA – RS

3. Prevalência das Enteroparasitoses em


crianças
É estimado que mais de 100 tipos de parasitos sejam capazes de
infectar o ser humano, e as parasitoses infantis são causas impor-
tantes de morbidade e mortalidade em todo o mundo (FERREIRA et
al., 2006).
No Brasil existe uma grande diversidade geográfica, climática,
social e econômica, que contribui para uma ampla variedade de
enteropatógenos, presentes em zonas rurais ou urbanas de vários
estados, com intensidade variável, segundo o ambiente e espécie
parasitária, prevalecendo, geralmente, em altos níveis na população
das regiões com condições sócio-econômicas mais precárias (OR-
LANDINI; MATSUMOTO, 2003). Das helmintoses intestinais huma-
nas, que mais se destacam são ascaridiose, tricuríose, enterobiose,
ancilostomose e estrongiloidose. Já dentro das protozooses intesti-
nais, a de maior freqüência em crianças está giardíase (SILVA; SAN-
TOS, 2001).
No Município de Guarapuava-PR, Pittner et al. (2006), analisan-
do a prevalência de enteroparasitoses em 203 crianças de creches
e escolas, cuja idade variava de 0 a 15 anos, sendo 50% meninos e
50% meninas, diagnosticaram 123 (60,59%) amostras positivas. Os
parasitas de maior freqüência foram Giardia lamblia 103(50,73%),
Ascaris lumbricoides 31(15,27%), e ainda encontraram os para-
sitas Strongyloides stercoralis, Entamoba coli, Criptospodirium sp,
Ancylostoma duodenali, Hymenolepis nana, Hymenolepis diminuta,
Trichuris trichiuria, Entamoeba histolytica, Endolimax nana e Entero-
bius vermicularis em menor freqüência.
Zochio (2006) ao determinar a prevalência de parasitos em crian-
ças atendidas em uma escola e em um centro de convivência da
cidade de Bauru, SP, analisaram 76 crianças de ambos os sexos,
entre zero a seis anos. Observaram a prevalência de 19,7% de po-
sitividade. No total foram encontrados: Entamoeba coli 10(58,8%),
Endolimax nana 11(73,3%) de monoparasitos, enquanto que as as-
sociações de parasitas foram: 1(25%) Giardia lamblia e Entamoeba
coli e 3 (75%) Entamoeba coli e Endolimax nana.
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DJONATTAN PATRICK SINHORINI - ALEXANDRE NOVICKI - DÉBORA PEDROSO

No município de Tangará Serra – MG, Tiago et al. (2005) anali-


sando a prevalência de enteroparasitoses em pacientes da Unidade
Mista de Saúde do município, analisaram 1596 prontuários de exa-
mes coproparasitológicos nos meses de março e agosto do ano de
2004, sendo que o percentual de positividade foi de 51,4 %. Os para-
sitas de maior freqüência foram Endolimax nana 278 (17.4%), Enta-
moeba coli 205 (12,8%), Giardia lamblia 139 (8,7%) e Strongyloides
stercoralis 25 (1,6%). Ainda encontraram 28 (1.7%) de associações
duplas e 3(0,2%) de associações triplas.
No município de Salvador-BH, Prado et al. (2001), fizeram a ava-
liação de helmintos e protozoários intestinais em crianças de 7 a
14 anos de idade e a prevalência de infectados por pelo menos um
protozoário/helminto foi de 66,1%. Trichuris trichiuria, Ascaris lum-
brioides, Endolimax nana, Entamoeba coli foram os parasitos com
positividade acima de 20%, porém em menor freqüência foram diag-
nosticados: Giardia lamblia, Ancilostomídeos, Enterobius vermicula-
res, Entamoeba histolytica, Schistosoma mansoni, Iodamoeba buts-
chilii e Hymenolepis nana.
A distribuição das enteroparasitoses mais freqüentes foi tam-
bém estudada na população de um assentamento de sem-terras em
Campo Florido, MG. Foram realizados exames coproparasitológicos
em 72 crianças com 5 a 14 anos e evidenciaram 59,7% de positivi-
dade. A prevalência dos parasitas foi de Giardia lamblia 22(30,5%),
Entamoeba coli 13(18%), Hymenolepis nana 7(9,7%), Hymenolepis
diminuta 6(8,3%), Ancilostomídeos 5(6,9%), Enterobius vermicularis
5(6,9%), Endolimax nana 3(4,2%), Iodamoeba butschlii 2(2,8%) e
Schistosoma mansoni 1(1,4%) (FERREIRA et al., 2003).

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Caracterização e local do estudo


Trata-se de um estudo descritivo com coleta de dados, realiza-
do no período de outubro de 2009 a outubro de 2010, no Centro
de Referência de Assistência Social (CRAS) em 66 crianças de 06
(seis) até 15 (quinze) anos incompletos, cujo os pais ou responsável
consentiram em enviar amostras múltiplas de fezes para análise no

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PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES NA POPULAÇÃO ATENDIDA EM PROJETO DE EXTENSÃO DO CURSO SE BIOMEDICINA IESA – RS

Laboratório de Parasitologia do Instituto Cenecista de Ensino Supe-


rior de Santo Ângelo (IESA).
O CRAS está situado na zona Sul da cidade de Santo Ângelo -
RS, com 108 alunos matriculados entre 6 a 15 anos de idade. Atende
crianças no turno inverso da escola cujas famílias são beneficiárias
do programa Federal Bolsa Família.

4.2. Instrumentos de Pesquisa


Após autorização da direção do CRAS o estudo dividiu-se em
três fases: (I) Reunião com os pais e/ou responsáveis pelas crianças,
com explicação dos objetivos do estudo; Aplicação de questionário
epidemiológico, distribuição de frascos de coleta de fezes, mediante
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; (II) Ativi-
dades educativas às crianças e pais e execução do exame de fezes
para diagnóstico; (III) Articulação com PSF Programa de Saúde da
Família para avaliação médica e tratamento.

4.3. Procedimentos de laboratório


Foram analisadas três amostras fecais de cada paciente no se-
tor de Parasitologia por dois métodos qualitativos: Hoffman, Pons e
Janner (HPJ); e FAUST e cols. Totalizando ao final do trabalho de
pesquisa, a análise de 198 amostras de fezes.
Os resultados do estudo foram analisados pelo programa Micro-
soft Office Word 2007 e Microsoft Office Excel 2007.

5. RESULTADOS

5.1. Aspectos Sanitários


Foram aplicados 66 questionários (Tabela 1), os quais os res-
ponsáveis pelas crianças responderam a perguntas sobre ambiente
doméstico, hábito das crianças, sinais clínicos.
Em média cada residência possui cinco moradores e a maioria
dos responsáveis pelas crianças tem o 1º grau incompleto (74,2%),
enquanto que apenas 15,1% dos responsáveis haviam concluído o

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ensino médio. Quanto ao tipo de moradia, 50 % das famílias moram


em casa de madeira, 31,8% moram em casas de alvenaria e 18,1%
em casas mistas.
Com referência a presença de animais doméstico, apenas
9(13,6%) das 66 das famílias, não tinham animais, enquanto que
57(86,6%) das famílias possuíam algum tipo de animal. Dessas,
51,1% possuíam apenas cão em sua residência e 24,2% possuíam
duas espécies, gato e cão. Dos 66 questionários respondidos, apro-
ximadamente 69% dos animais viviam no pátio, 18% nas residências
e 13% não possuíam animais.
Em relação ao dejeto da casa 23(34,8%) famílias possuem
fossa, enquanto que 20 (30,3%) das famílias jogavam em um rio que
passa próximo das residências.
Os resultados dos questionários mostram ainda que, as crian-
ças que não tem quadro de diarréia com freqüência, 24(36,3%) os
pais tem o hábito de usar chá como tratamento e não fazem uso de
automedicação, pois preferem procurar a Unidade de Saúde do Mu-
nicípio.
TABELA 1: Fatores de risco a enteroparasitoses em crianças 6 e 15 anos incompletos
atendidos pelo Centro de Referência de Assistência Social, do município de Santo
Ângelo, RS, no período de outubro de 2009 a outubro de 2010

Variáveis analisadas Respostas Número Porcentagem


1º Grau Incompleto 49 74,2%
Escolaridade do responsável
2º Grau Incompleto 10 15,1%
Outros 7 10,6%

Utiliza tratamento de água? Não usa tratamento 60 90,9%


Usa tratamento 6 9,0%
Costume 21 31,8%

As crianças andam de pés descalços? As vezes 29 43,9%


Nunca 16 24,2%
Sim 37 56,1%
Alguém na casa roe unhas?
Não 29 43,9%
Sim 11 16,7%
As crianças tem diarréia com frequência?
Não 55 83,3%

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PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES NA POPULAÇÃO ATENDIDA EM PROJETO DE EXTENSÃO DO CURSO SE BIOMEDICINA IESA – RS

Sim 42 63,6%
A residência possui rede de agosto?
Não 24 36,4%
Fossa fechada 23 34,8%
Qual o tipo de depósito do dejeto casa? Rio 20 30,3%
Outros 23 34,8%
Não 9 13,6
Possui animais domésticos em casa? Quantos?
Sim 57 86,6%
Cão 34 51,5%
Cão e gato 16 24,2
Quais animais estão presentes?
Outros 7 10,6%
Não possui animal 9 13,6%
Pátio 45 68,2%
Onde vivem? Casa 12 18,2%
Não possui animal 9 13,6%

5.2. Prevalência das Parasitoses Intestinais


Das 66 crianças com idade entre 6 e 15 anos incompletos que
tiveram suas fezes analisadas, 31 crianças estavam positivas para
ao menos um enteroparasita (Tabela 2).
Os meninos foram os mais acometidos por parasitos intestinais,
estando 27,2% positivos, enquanto as meninas foram positivas em
19,6 % dos casos (Grafico 3).
As helmintoses intestinais foram mais freqüentes do que as proto-
zooses, os protozoários intestinais encontrados nas amostras fecais
das crianças estudadas foram: Entamoeba coli(21,1%), Endolimax
nana(15,4%), Iodamoeba butschlii(1,9%), Giardia lamblia(9,6%),
e os helmintos intestinais: Ascaris lumbricóides(25,2%), Trichuris
trichiura(19,2%), Hymenolepis nana(3,8%), Hymenolepis diminu-
ta(1,9%), Strongyloides stercoralis(1,9%), (Tabela 4.). O parasito
mais freqüente foi o Ascaris lumbricoides, estando este presente em
13 das 66 crianças analisadas (Tabela 4).
Crianças acometidas por dois ou mais parasitos intestinais, re-
presentaram 22,7% do total de casos positivo (Gráfico 5), sendo a
associação Ascaris lumbricoides – Trichuris trichiuria a mais freqüen-
te, representando 12,2% dos casos.
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TABELA 2. Freqüência de amostras de fezes analisadas em crianças 6 a 15 anos


incompletos atendidos pelo Centro de Referência de Assistência Social, do município
de Santo Ângelo, RS, no período de outubro de 2009 a outubro de 2010

Amostras Número Percentual


Positivos 31 46,9%
Negativos 35 53,1%
TOTAL 66 100%
GRÁFICO 3. Relação entre as amostras fecais de meninos e meninas de 6 e 15 anos
incompletos atendidos pelo Centro de Referência de Assistência Social, do município
de Santo Ângelo, RS, no período de outubro de 2009 a outubro de 2010

Feminino

28,70%
27,20%
24,20%
19,60%

Positivos Negativos

TABELA 4. Freqüência de parasitos encontrados nas amostras fecais analisadas


de meninos e meninas entre 6 a 15 anos incompletos atendidos pelo Centro de
Referência de Assistência Social, do município de Santo Ângelo, RS, no período de
outubro de 2009 a outubro de 2010.

Indivíduos parasitados Frequência


Parasitos
Masc. Fem. Total Positivos
Ascaris lumbricoides 9 4 13 25,2%
Entamoeba coli 6 5 11 21,1%
Trichuris trichiuria 6 4 10 19,2%
Endolimax nana 3 5 8 15,4%
Giardia lamblia 4 1 5 9,6%
Hymenolepis nana - 2 2 3,8%
Strongyloides stercoralis 1 - 1 1,9%
Iodamoeba butschlii - 1 1 1,9%
Hymenolepis diminuta - 1 1 1,9%

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PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES NA POPULAÇÃO ATENDIDA EM PROJETO DE EXTENSÃO DO CURSO SE BIOMEDICINA IESA – RS

GRÁFICO 5. Percentual de amostras fecais monoparasitadas e poliparasitadas


em crianças de 6 a 15 anos incompletos atendidos pelo Centro de Referência de
Assistência Social, do município de Santo Ângelo, RS, no período de outubro de
2009 a outubro de 2010.

53,10%

MONOPARASITISMO
24,20% 22,70% POLIPARASITISMO
NEGATIVISMO

Todas as crianças que participaram e mostraram resultados posi-


tivos foram encaminhados para tratamento médico no ESF.

6. DISCUSSÃO
Em nosso país as taxas de prevalência de parasitoses sempre
foram altas, como foi relatado por Chieff et al. (1992), que referem
o estudo epidemiológico das enteroparasitoses brasileiras realizado
na década de 10, quando as prevalência foram de 78,2% a 99,4%
conforme a região do país. Estudos posteriores mostravam taxas
mais altas, nos anos de 50 e 60, que variavam entre 20 e 98% (RO-
QUE et al., 2005).
Em comparação a estudos realizados com crianças de idades
parecidas no Rio Grande do Sul, a prevalência de parasitoses in-
testinais positivas neste estudo (46,9%) mostrou-se semelhante. De
acordo com BIASSI et al. (2009) de 235 amostras analisadas foi en-
contrado em 2008 na cidade de Erechim (RS), 37,9 % de positivida-
de em crianças, já em Passo Fundo foram analisadas 36 amostras
(RS), Silva (2009) obteve um total de 38,8% de casos positivos. Já
em Caxias do Sul RS, Pezzi e Tavares (2007) obtiveram um total

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DJONATTAN PATRICK SINHORINI - ALEXANDRE NOVICKI - DÉBORA PEDROSO

de 55,4% de positividade em 276 nas crianças. Em outro estudo


realizado na mesma cidade que a análise, Trevisan et al., 2004 en-
contraram um percentual de amostras positivas de (36,4%) em 22
crianças de 0 a 10 anos.
Foram encontradas amostras positivas para algum tipo de para-
sito intestinal em 29 (27,2%) sexo masculino e 23 (19,6%) do sexo
feminino. Concordando com outros estudos que mostram maior po-
sitividade nos meninos (FONSECA et al., 2010; BAPTISTA et al.,
2006). Os meninos apresentam maior índice de infecção por para-
sitas intestinais quando comparados as meninas, o que pode ser
explicado pelo fato de os meninos estarem mais expostos ao âmbito
peridomiciliar durante atividades de lazer, ficando mais vulneráveis a
infecções (PRADO et al., 2001).
As parasitoses intestinais mais freqüentes neste estudo foram
Ascaris lumbricoides, Entamoeba coli, Trichuris trichiuria e Endoli-
max nana. Esta freqüência reforça o fato de que neste período de
vida os hábitos alimentares, sociais e pessoais tais como introdução
de alimentos crus nas refeições, maior contato com o solo e animais
facilitam a transmissão (ZAIDEN et al., 2008).
A prevalência de Ascaris lumbricoides (25,2%) verificada no pre-
sente estudo concorda com estudos de varias outras regiões estu-
dadas no Brasil como Ferreira et al. (2003), Basso et al. (2008) e
Barreto (2008), que justificam a presença deste helminto pelo fato
deve-se à própria biologia deste parasita que tem ovos muito resis-
tentes com grande capacidade de aderência a superfícies, fato que
representa um fator importante na sua transmissão, uma vez que,
presente no ambiente e em alimentos, tais ovos não são removidos
com facilidade por lavagens e podem permanecer por anos. No Bra-
sil, levantamentos coproparasitológicos têm demonstrado que o As-
caris lumbricoides é o helminto que ocorre com maior freqüência en-
tre as diferentes comunidades estudadas (MACEDO, 2005). Porém,
a freqüência encontrada neste estudo, discorda com os resultados
obtido por Trevisan et al., 2004) na mesma região. Onde analisa-
ram 22 exames de fezes com crianças em idades entre 2 a 10 anos,
e encontraram 9,% de Ascaris lumbricóides, 54,4% de Entamoeba

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PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES NA POPULAÇÃO ATENDIDA EM PROJETO DE EXTENSÃO DO CURSO SE BIOMEDICINA IESA – RS

coli e 9,% de Endolimax nana. Esta diferencia por estar associada a


diferença do números de amostras analisadas.
A associação de Trichuris trichiuria e Ascaris lumbricoides foi
freqüente 8(25%), o que também foi verificado por ROQUE et al.
(2005), BIASSI et al. (2009) e FERRI et al. (2009). O que é devido,
além da similaridade dos ciclos de vida, pela grande eliminação de
ovos pelas fêmeas e pela resistência destes no meio ambiente po-
dendo dar-se no peridomicílio, atuando este meio, como um impor-
tante foco de manutenção e transmissão destas enteroparasitoses
(BASSO et al., 2008).
Nas amostras estudadas, observou-se a freqüência da ameba
Entamoeba coli 21.1% seguido pela freqüência de Endolimax nana
15.4%. Essas duas espécies são comensais não patogênicas, mas
com importante implicação na epidemiologia das doenças parasitá-
rias (MACEDO, 2005; FERREIRA et al., 2003). Estes enterocomen-
sais apresentam o mesmo mecanismo de transmissão de outros pro-
tozoários patogênicos como a Giardia lamblia, ainda podem sugerir
do não tratamento da água, lavagem inadequada das mãos, e ocor-
rência de alimentos contaminados (MACEDO, 2005).
A taxa de prevalência encontrada para a Giardia lamblia (7,6%)
foi relativamente baixa comparada à outros estudos realizados em
vários estados. (KOMAGOME et al., 2007; CASTRO et al., 2004).
Essa baixa prevalência do estudo, pode se justificar em que a maior
freqüência de Giardia lamblia acontece em crianças de até 4 anos na
maioria dos casos.
Encontraram-se altos índices de analfabetismo ou ensino fun-
damental incompleto dos responsáveis na população es­tudada
(74,2%), o que pode estar contribuindo com a freqüência das parasi-
tas intestinais nesta população.
Assim, torna-se necessária a implantação de programas de con-
trole e educação para melhorar a qualidade de vida desses indiví-
duos, considerando a grave repercussão desses parasitas e a de-
ficiência no sistema de sanea­mento básico e estado nutricional da
população, pois a carência destes colabora para o aumenta do risco
de contaminação e proliferação de doenças na população infantil
(FERREIRA; ANDRADE, 2005).
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7. CONCLUSÃO
Através deste estudo constatou-se que existe forte relação entre
as condições de vida destas crianças e que na maioria das vezes é
precária, com a frequência de parasitos intestinais.
As condições higiênico-sanitárias do ambiente, dos hábitos higiê-
nicos, do grau de escolaridade do responsável, podem contribuir de
forma significativa para uma maior prevalência de enteroparasitoses
na faixa etária considerada e que existe forte relação.
Os resultados encontrados nesse trabalho se assemelham bas-
tante aos encontrados a nível nacional, esse trabalho serve também
para conscientizar da necessidade de melhoria de investimentos á
saúde, saneamento básico, escolaridade e infra-estrutura, além da
continuidade das atividades de extensão pelos novos alunos da dis-
ciplina de Parasitologia, visando à prevenção e controle das entero-
parasitoses.

8. REFERÊNCIAS
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CIMERMAN, Benjamin; CIMERMAN, Sergio. Parasitologia hu-
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Saúde Integrada 2010_Biomedicina.indd 148 06/10/2014 16:28:18


PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES NA POPULAÇÃO ATENDIDA EM PROJETO DE EXTENSÃO DO CURSO SE BIOMEDICINA IESA – RS

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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E
C EM PACIENTES ATENDIDOS NO
PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO
NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE
SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL
PREVALENCE OF HEPATITIS B AND C IN PATIENTS
TREATED IN READY CALL DR. ERNESTO NEPHEW
BORN IN THE CITY OF SANTO ANGELO - RS, BRAZIL

Katiúscia Aozani Munareto1


Emanuelle Kerber Viera Mallet2
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo verificar a prevalência de hepatite B e C em pacientes atendidos no Pronto
Atendimento Dr. Ernesto Nascimento Sobrinho, na cidade de Santo Ângelo. A população de estudo foi composta por
pacientes atendidos pelo SUS entre janeiro de 2008 a julho de 2010, que buscaram atendimento primário para avaliar a
infecção por hepatite B ou C, e os dados de natureza clínica e laboratorial obtidos em prontuários médicos. Do total de
45 pacientes, a prevalência de infecção pelo VHB foi de 26,6% e de VHC foi 73,3%, com distribuição no sexo masculino
66,6% para o vírus VHB e 63,64% para o vírus VHC. Comparado com o sexo feminino a prevalência foi 33,33% e 36,36%,
respectivamente. A prevalência das infecções segundo a faixa etária foi predominante nas faixas compreendidas entre
24-29 anos (25%), 29-34 anos (25%) e 34-39 (25%) para o VHB e 41-49 anos (30,30%) para o VHC. Na análise das
dosagens enzimáticas prevaleceram transaminases aumentadas para ambas as infecções. Na análise das alterações
de bilirrubina total e bilirrubina direta foi encontrado média de 3,1 mg/dL e 2,43 mg/dL para o VHB e 1,22 mg/dL e
0,7 mg/dL para o VHC. Nas analise das plaquetas foi encontrado média de 121.500 mm3 para o VHB e 108.272 mm3
para o VHC. Na análise do tempo de protrombina a média para o VHB e VHC foram 12,2 s e 15,3 s, respectivamente. O
genótipo 3 do VHC foi predominante. Os fatores de risco observados foram uso de drogas ilícitas, transfusão sanguínea
antes da década de 90 e o etilismo crônico. Diante da freqüência de infecções e das complicações que podem acarretar,
torna-se importante a realização de analises semelhante para que se possa monitorar o comportamento da hepatite B
e da hepatite C no município de Santo Ângelo.
Palavras-chaves: Hepatite B, Hepatite C, alterações laboratoriais.

ABSTRACT
This work aims to verify the prevalence of hepatitis B and C in patients assisted at Dr. Ernesto Nascimento Sobrinho
Emergency Care Post, in the city of Santo Ângelo. The population studied has been assisted by public health service,
between January, 2008 and July, 2010, who looked for primary attendance in order to evaluate the infection caused by
hepatitis B or C and the clinical and laboratory data obtained in medical records. From 45 patients, the prevalence of
infection by HVB was 26,6% and by HCV was 73,3%, with 66,6 % of distribution in the male gender , the virus HVB and
63,64% for the virus HCV. Compared to the female gender, the prevalence was 33,33% and 36,36%, respectively. The
prevalence of infections according to the age group was predominant in the age group between 24-29 years old(25%),
29-34 years old (25%) and 34-39 years old(25%) for the HVB and 41-49 years old (30%) for HCV. In the analysis of the
enzyme dosage, transaminase has prevailed increased for both infections. In the analysis of changes in total bilirubin

1 Acadêmica Concluinte do curso de Biomedicina, 2010. Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo.
2 Mestre em Diagnóstico Genético e Molecular (ULBRA), Biomédica (FEEVALE); Coordenadora do curso de Biomedicina e Professora
Titular (IESA) e Responsável técnica pelo Laboratório Hemoclin.

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and direct bilirubin an average of 3,1 mg/ml and 2,43 mg/dL for HVB has been found and 1,22 mg/dL and 0,7 mg/dL
for HCV. In the analysis of the platelets an average of 121.500 mm3 for HVB and 108.272 mm3 for HCV has been found.
In the analysis of prthrombin time the average for HVB and HCV were 12,2 s and 15,3 s, respectively. The genotype of
HCV 3 was predominant. The risk factors observed were illicit drug use, blood transfusion before the 90s and chronic
alcoholism. Given the frequency of infections and complications it may lead to, it becomes important to perform similar
analysis in order to monitor the behavior of hepatitis B and C in the city of Santo Ângelo.
Keywords: Hepatitis B, Hepatitis C, laboratory abnormalities.

1. INTRODUÇÃO
As hepatites virais são doenças causadas por diferentes agentes
etiológicos, que possuem tropismo primário pelas células hepáticas,
apresentando características epidemiológicas, clínicas e laborato-
riais semelhantes, porém, com importantes particularidades (BRA-
SIL, 2008).
A distribuição das hepatites é universal e sua extensão difere de
região para região. No Brasil, também há grande variação na preva-
lência de cada um dos agentes etiológicos. A importância das hepa-
tites virais não se retrata apenas ao grande número de pessoas in-
fectadas; expande-se também às complicações das formas agudas
e crônicas (CARVALHO; ARAÚJO, 2008).
No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 15% da população
já foram expostas ao vírus da hepatite B, e que 1% sofra de hepatite
crônica. Quanto à hepatite C ainda não existem estudos capazes
de estabelecer sua real prevalência no país. Um estudo de base
populacional realizado na região Sudeste revelou 1,42% de portado-
res do vírus da hepatite C na cidade de São Paulo (BRASIL, 2005a;
BRASIL, 2005b).
Fatores como custo elevado do diagnóstico precoce e a inefici-
ência do sistema de saúde, a ausência de sintomas das infecções
pelo VHB (hepatite B) e VHC (hepatite C), o crescimento do número
de usuários de drogas injetáveis e inaláveis, o compartilhamento de
objetos perfurocortantes e a precariedade ou a não existência de
sistemas de esgotos e de abastecimento de água contribuem para a
disseminação das hepatites. Esses fatores fazem com que as hepa-
tites tornem-se preocupantes endemias, especialmente nas regiões
mais pobres do Brasil (TURA et al., 2008).
Os vírus das hepatites B e C compartilham do mesmo mecanis-
mo de transmissão, ou seja, através da troca de fluídos corporais. A
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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

prevalência do VHB e VHC permanece alta em populações de alto


risco, como usuários de drogas, profissionais da saúde, pacientes
de hemodiálise e aqueles sujeitos a transfusões sanguíneas (LA-
DEHOF; BUENO, 2005; SCHUMARRY, 2008).
Sendo assim, apesar dos avanços diagnósticos e terapêuticos, a
prevalência das hepatites B e C continuam elevadas e relevante é o
estudo de suas distribuições na população. Informações atualizadas
sobre a prevalência da circulação dos vírus são essenciais para o de-
senvolvimento de estratégias de saúde pública. A realização desse
tipo de pesquisa permite estabelecer os grupos e os fatores de risco
e conseqüentemente elaborar estratégias de controle, diagnóstico
precoce da infecção e medidas preventivas eficazes, proporcionado
melhor acesso ao tratamento, bem estar e saúde desses pacientes
(MARTINS et al., 2008).
A vista do exposto este trabalho teve como objetivo geral verificar
a prevalência das hepatites B e C em pacientes que buscaram aten-
dimento no Pronto Atendimento Dr. Ernesto Nascimento Sobrinho,
popularmente conhecido como Posto 22 de Março, no município de
Santo Ângelo-RS, Brasil.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As hepatites virais constituem doença de notificação compulsória
e representam um grave problema de saúde pública mundial devido
à elevada prevalência. A Organização Mundial de Saúde estima que
cerca de 2 bilhões de pessoas já se infectaram com o vírus HBV e
350 milhões destes são portadores crônicos. Estudos relatam a ocor-
rência de 600 mil mortes por ano relacionadas à hepatite B. Quanto
à hepatite C, estima-se que aproximadamente 150 a 200 milhões de
pessoas estão infectadas com o VHC e 130 milhões evoluíram para
hepatite crônica e cirrose, com cerca de um a dois milhões de óbitos
ao ano (AQUINO et al., 2008; CRUZ et al., 2009; MORAES et al.,
2010).
As hepatites são doenças que se caracterizam pela agressão
ao tecido hepático. Está agressão se manifesta pela inflamação do
fígado e dos hepatócitos, sendo responsáveis pelas manifestações
clínicas e laboratoriais. As infecções causadas pelos vírus VHB e
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KATIÚSCIA AOZANI MUNARETO - EMANUELLE KERBER VIERA MALLET

VHC lesam o fígado provocando o aparecimento de sintomas clás-


sicos como icterícia e a liberação de enzimas hepáticas. Os indi-
víduos infectados podem tornar-se transmissores mesmo antes de
apresentarem os sintomas, devido à facilidade de transmissão dos
vírus (BABINSKI et al., 2008).
A hepatite aguda pode ser auto-limitada e regredir ou progredir
para uma infecção crônica, como as hepatites B e C. Geralmente, o
curso típico de uma hepatite viral aguda é apresentar primeiramente
o período de incubação que varia de duas a vinte semanas, podendo
variar este período de acordo com a etiologia e a carga viral. Após
este período, inicia-se a fase pré-ictérica desta hepatopatia, caracte-
rizada pelo aparecimento de sintomas como: fadiga, náuseas, falta
de apetite e leve dor no quadrante superior direito. Logo, vem à fase
ictérica, marcada pelo aparecimento de icterícia e os sintomas de
fadiga e náusea se acentuam (GOLDMAN; AUSIELO, 2005).
Após um período variável de uma semana a um mês surge a
fase de recuperação ou convalescência com melhora do estado ge-
ral e a volta do apetite com desaparecimento dos sinais de mal-estar,
colúria e icterícia. Normalmente, o fígado apresenta-se doloroso a
palpação e com borda romba ou lisa de consistência normal. Cerca
de 20% dos casos apresentam o baço também palpável. Nos casos
mais graves pode ocorrer o aparecimento de aranhas vasculares e
adenopatias cervicais (CRUZ et al., 2000).
A infecção pelo VHC pode acometer diversos órgãos, como a
pele, o sistema músculo-articular, os nervos periféricos e os rins.
Entretanto, o mecanismo das implicações extra-hepáticas é incerto.
Acredita-se que as manifestações cutâneas são causadas por an-
tígenos virais ou por linfócitos infectados pelo VHC depositados na
pele (CONTE, 2000; GARAMEZ et al., 2010).
O vírus da hepatite B é um hepadnavírus transmitido principal-
mente através de transfusões sanguíneas, transplante de órgãos,
uso de hemoderivados, compartilhamento de seringas entre usuá-
rios de drogas injetáveis, materiais intravenosos, relações sexuais,
destacando-se o papel de fluidos orgânicos, como o sêmen e a sali-
va, ou ainda verticalmente, seja por via transplacentária, no momen-
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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

to do parto ou durante o aleitamento materno (VALENTE et al., 2005;


ANASTÁCIO et al., 2008; CONCEIÇÃO et al., 2009).
O vírus da hepatite C é um vírus de RNA envelopado da família
flaviridae. É transmitido através da exposição parenteral por agulhas
contaminadas, transfusão de sangue, hemodiálise, além de drogas
injetáveis e transmissão vertical. Contudo, a transmissão perinatal
depende da quantidade de vírus circulante no momento do parto e
da coinfecção com o HIV, ocorrendo em 0 a 35,5% dos casos de
mães infectadas. O HCV é encontrado principalmente no sangue to-
tal, papa de hemácias, plaquetas, plasmas e nos concentrados de
fatores de coagulação. Assim, é considerado a principal forma de he-
patite transmitida por hemoderivados (VALENTE et al., 2005; SATO;
BERTOLINI, 2006; GONÇALVES et al., 2008).
Devido ao grande número de contaminações em pacientes trans-
fundidos foi criada a lei 7.649, de 25 de janeiro de 1988, que estabe-
leceu a obrigatoriedade do cadastramento dos doadores de sangue
e a realização de exames laboratoriais no sangue coletado, visando
prevenir a propagação de doenças, como hepatite B, sífilis, doença
de Chagas, malária e AIDS. Entretanto, em 1993, a Portaria 1.376
tornou obrigatória a inclusão de testes para anticorpos contra o VHC
nos exames de triagem. Essas medidas reduziram a transmissão
dessas duas formas de hepatite por transfusão e hemoderivados
(DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1988; BRASIL, 1993).
O diagnóstico laboratorial da hepatite B, em qualquer uma das
formas clínicas é realizado através da pesquisa de marcadores so-
rológicos. Esses marcadores são fundamentais não apenas para o
diagnóstico, mas também são úteis no seguimento da infecção vi-
ral, na avaliação do estado clínico do paciente e na monitorização
do tratamento específico. Para analisar se há replicação viral deve-
se incluir a pesquisa de DNA do vírus VHB (FERREIRA, 2000; LA-
DEHOF; BUENO, 2005; MINCIS; MINCIS, 2007).
O teste inicial para determinar a infecção da hepatite C é a pes-
quisa de anti-HCV. Os testes comercializados para a detecção do
VHC são os ELISA (Enzyme Linked ImmunoSorbent Assay), pois
apresentam vantagens como rapidez, facilidade de automação, alta
confiabilidade e custo relativamente baixo. Entretanto, a baixa espe-
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KATIÚSCIA AOZANI MUNARETO - EMANUELLE KERBER VIERA MALLET

cificidade dos ELISA determinou o desenvolvimento de testes suple-


mentares para a confirmação do diagnóstico da infecção pelo VHC
em indivíduos positivos, assim, a confirmação do diagnóstico é feita
através da técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) pela
presença de RNA do VHC. A técnica de PCR também tem sido uti-
lizada para avaliar a resposta terapêutica. A quantificação da carga
viral auxilia na avaliação dos fatores preditivos da resposta terapêuti-
ca, mas não é indicativa de progressão da doença (BRANDÃO et al.
2001; MINCIS; MINCIS, 2005; MINCIS; MINCIS, 2007).
Os testes bioquímicos são importantes porque permitem estabe-
lecer o tipo de lesão hepática, seja hepatocelular ou colestática. Os
resultados dos testes laboratoriais podem ser usados para confirmar
a existência da lesão ao fígado; avaliar a função dos hepatócitos, a
drenagem biliar e o sistema reticuloendotelial, e também determinar
a causa da doença hepática (MINCIS; MINCIS, 2007).
A confirmação da agressão ao tecido hepático é através dos tes-
tes bioquímicos. A elevação sérica das aminotransferases possibilita
estabelecer o tipo de lesão hepática. Na infecção pelo VHC é co-
mum encontrar ALT (alanina aminotransferase) e a AST (aspartato
aminotransferase) 10 a 100 vezes o valor normal, com atividade de
ALT maior que AST. Na fase aguda de infecção pelo VHB a ALT e a
AST encontram-se aumentadas. Essas enzimas são importantes no
diagnóstico das formas anictéricas, elevando-se no início do quadro,
indicando lesão hepatocelular. A diminuição das aminotransferases
ocorre no início da fase ictérica, podendo permanecer com os valores
elevados por até seis meses. Entretanto, na análise das dosagens
enzimáticas da ALT e AST na fase crônica de infecção pelo VHB as
aminotransferases encontram-se normais. A elevação dos níveis sé-
ricos dessas enzimas ocorre devido ao aumento de permeabilidade
dos hepatócitos, decorrente do processo inflamatório hepático (FER-
REIRA; SILVEIRA, 2004; MINCIS; MINCIS, 2007; PELEGRINI et al.,
2007; SANTOS et al., 2010).
A bilirrubina é um pigmento biliar que tem seu metabolismo alte-
rado nas lesões hepatocelulares, tendo importância prognóstica nas
hepatites e insuficiência hepática fulminante. Nas hepatites virais as
bilirrubinas elevam-se após o aumento das transaminases e nas for-
mas agudas, podem alcançar valores 20 a 25 vezes acima do nor-
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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

mal. Se elevam nas formas ictéricas da doença, com predomínio da


bilirrubina direta sobre a indireta. Na urina pode ser detectada preco-
cemente, antes mesmo do surgimento da icterícia (MISZPUTEN et
al., 2003; GARCIA, 2008).
Para avaliar a coagulação sanguínea nos pacientes portadores
dos vírus VHB e VHC pode-se realizar os exames de Tempo de Pro-
trombina (TP) e a contagem de plaquetas. Em pacientes com hepa-
topatia crônica há plaquetopenia devido ao aumento do seqüestro e
ao baixo nível de trombopoetina produzida pelo fígado (VASCONCE-
LOS et al., 2006; ROCHA et al., 2009).
De acordo com o Ministério da Saúde, nas formas agudas be-
nignas o tempo de protrombina sofre poucas alterações, exceto nos
quadros de hepatite fulminante. Nos casos de hepatite crônica, o
alargamento do tempo de protrombina indica a deterioração da fun-
ção hepática e em associação com alguns outros fatores clínicos e
laboratoriais compõe a classificação de Child (importante meio de
avaliar o grau de deterioração da função hepática, além de um mar-
cador prognóstico) (BRASIL, 2005a).
Resultados laboratoriais indicativos de mau prognóstico nas he-
patites virais agudas e crônicas consistem na elevação do tempo de
protrombina, queda brusca das transaminases e elevação das bilir-
rubinas (MISZPUTEN et al., 2003).
Outra técnica molecular que tem trazido informações sobre as
infecções pelos vírus HBV e HCV é a genotipagem. A caracterização
molecular dos genótipos e dos sub-genótipos permite estabelecer
orientações quanto à resposta ao tratamento e prognóstico das do-
enças. Estudos têm demonstrado a ocorrência variada dos genóti-
pos do HBV em diferentes regiões. Entre os já encontrados, estão
o B, C, D e F, e recentemente um caso E isolado em um viajante na
cidade de São Paulo. A prevalência do genótipo do HCV também va-
ria de acordo com a região geográfica. O genoma do HCV apresenta
seis genótipos e múltiplos subtipos têm sido identificados. Em um es-
tudo realizado em diferentes regiões do Brasil foram encontrados os
genótipos 1, 2, 3, 4 e 5 em pacientes com hepatite crônica C (PARIS
et al., 2000; RONCATO et al., 2008; GONZAGA et al., 2008; LOPES
et al., 2009).
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KATIÚSCIA AOZANI MUNARETO - EMANUELLE KERBER VIERA MALLET

O padrão-ouro para investigação diagnóstica e para o estadia-


mento da doença hepática é a biópsia hepática. O diagnóstico de
hepatite crônica é histológico e a biópsia deve ser realizada quando
houver aumento de transaminases ou evidência de replicação viral
por mais de seis meses. O diagnóstico histológico é importante para
a decisão terapêutica e também fornece subsídios quanto à confir-
mação da etiologia dos vírus. Atualmente, as hepatites crônicas são
classificadas segundo o grau de inflamação e do estágio de fibro-
se (STRAUSS, 2001; MINCIS; MINCIS, 2005; CALLEGARO et al.,
2006; CODES et al., 2006).
Para combater as hepatites virais o Ministério da Saúde criou
em 2002 o programa para a prevenção e controle das hepatites tor-
nando mais intenso as ações de vacinação contra a hepatite B. A
prevenção para o vírus do VHB se dá com aplicação de três doses
da vacina: a primeira é administrada ao nascer, a segunda ao final do
primeiro mês de vida e a terceira aos seis meses. A vacina também
é disponível para pessoas na faixa etária de 1 a 19 anos e aos indi-
víduos que fazem parte de grupos de risco, como imunodeprimidos,
profissionais da saúde e profissionais do sexo (CARLO et al., 2008).
A prevenção da hepatite B através da imunização foi um grande
progresso. Estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas já tenham
recebido a vacina em todo o mundo. A vacina contra a hepatite B é
altamente imunogênica e protetora contra a infecção desencadeada
pelo VHB. Antígenos do vírus situados na camada superficial sem
partículas infectantes são aplicados para estimular o sistema imune
a produzir anticorpos protetores que impedem a infecção. Conside-
ra-se proteção quando os títulos de anticorpos ao HBsAg (anti-HBs)
são maiores que 10 mUI/mL. A série completa de três ou quatro
doses da vacina induz uma resposta protetora em mais de 90% dos
adultos e em mais de 95% das crianças e adolescentes saudáveis
(FERRERIA; SILVEIRA, 2006; BABINSKI et al., 2008; MORAES et
al., 2010).
O “American College of Obstetricians and Gynecologists” tem
recomendado a vacina nas gestantes com alto risco de infecção,
como as pacientes usuárias de drogas ilícitas, com histórias de he-
motransfusão, com múltiplos parceiros, com histórias familiar de he-
patite B, ou ainda, grávidas com sorologia negativa, mas que estão
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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

em contato com indivíduos portadores da infecção aguda ou crônica


(CONCEIÇÃO et al., 2009).
A vacinação contra o VHB é a principal medida de prevenção
contra a hepatite B ocupacional, entre os profissionais da área de
saúde. A vacina deve ser realizada na admissão do profissional, no
estudante ou no estagiário. O profissional que apresentar lesão cor-
tante tem uma probabilidade de 40% em adquirir o vírus da hepatite
B. Comparado com a hepatite C este risco cai para 10%. Os fatores
de risco para a transmissão do HCV ainda não estão bem definidos.
O risco da infecção está correlacionada com o tempo de trabalho,
realizações de procedimentos invasivos e com a ocorrência de aci-
dentes com perfurocortantes. Assim, a imunização é uma medida
fundamental para a prevenção e controle das infecções na equipe de
saúde, nas famílias e também nos pacientes (CIORLIA; ZANETTA,
2007; SOUZA et al., 2008; CAVALCANTI et al., 2009).
Além da vacinação é importante orientar os indivíduos que fazem
parte dos grupos de risco e a população em geral sobre os cuidados
de contaminação, tanto na hepatite B quanto na hepatite C. A educa-
ção sexual deve enfatizar o uso de preservativos. Outra medida de
prevenção é a esterilização de materiais ou uso descartável. Trans-
fusões sanguíneas só devem ser feitas com sangue analisado. Entre
os profissionais da saúde é importante a realização de programas de
reciclagem e levantamento de questões de precauções universais e
educação continuada visando à prevenção de acidentes (CRUZ et
al., 2000; CIORLIA; ZANETTA, 2007).
Ainda não há vacina contra o vírus da hepatite C e nem medidas
preventivas eficazes pós-exposição ao vírus. É necessário reduzir a
incidência da infecção e conseqüentemente diminuir o risco de he-
patopatia e de outras doenças relacionadas aos portadores do vírus.
Para que se inicie as atividades de prevenção é preciso identificar os
indivíduos contaminados e assim reduzir o risco de transmissão e a
evolução para hepatopatia crônica. Também devem-se ter cuidados
com as transfusões de sangue e hemoderivados, e atenção para o
perigo da disseminação entre profissionais da saúde e com todos os
meios de transmissão, seja saliva, sêmen, urina, lágrimas (SILVA et
al. 2003; FERREIRA; SILVEIRA, 2004).

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KATIÚSCIA AOZANI MUNARETO - EMANUELLE KERBER VIERA MALLET

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Caracterização da Pesquisa


O presente estudo constitui uma pesquisa descritiva, com estudo
de prevalência das hepatites B e C em pacientes atendidos no Pron-
to Atendimento Dr. Ernesto Nascimento Sobrinho na cidade de Santo
Ângelo-RS.

3.2. Amostra
Composta por pacientes atendidos pelo SUS entre janeiro de
2008 a julho de 2010, que buscaram atendimento primário para ava-
liar a infecção por hepatite B ou C.

3.3. Procedimentos
Os dados de natureza clínica e laboratorial foram coletados nos
prontuários médicos de pacientes que buscaram atendimento pri-
mário no Pronto Atendimento Dr. Ernesto Nascimento Sobrinho, no
município de Santo Ângelo-RS, Brasil.
Os dados obtidos foram digitados em planilha, e posteriormente
foram submetidos à estatística. Para a construção dos gráficos uti-
lizou-se o software BR Office 3.2. A análise estatística dos exames
foi realizada apenas nos prontuários que apresentavam o resultado
dos mesmos.

3.4. Aspectos éticos


Este trabalho, baseado na revisão de prontuários médicos, foi
realizado após consentimento do Responsável Técnico e Responsá-
vel Clínico do Pronto Atendimento Dr. Ernesto Nascimento Sobrinho
por meio de um termo de autorização oficializado pelos mesmos. O
modelo do termo de consentimento segue em anexo.

3.5. RESULTADOS E DISCUSSÃO


Em um total de 45 prontuários revisados, 26,6% pacientes apre-
sentaram infecção pelo vírus da hepatite B e 73,3% estavam infecta-
dos com o vírus da hepatite C, conforme o gráfico 1.
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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

26,60%

Hepatite B

Hepatite C
73,30%

Gráfico 1: Prevalência de Hepatite B e C na população estudada

Quanto à distribuição das hepatites verificamos maior prevalência


do vírus VHC. O aumento da prevalência da hepatite C no município
de Santo Ângelo segue a tendência nacional. Um estudo envolvendo
clínicas de hemodiálise em Fortaleza, no estado de Ceará, obteve
alta prevalência de hepatite C (52%) (MEDEIROS et al., 2004). Se-
gundo Gonçalves et al. (2008), isto se deve, supostamente, devido
a falta de atenção básica à saúde como prevenção, triagem soroló-
gica, exames confirmatórios e acompanhamento dos pacientes as-
sintomáticos. A distribuição desigual dos recursos financeiros pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) para os municípios também pode ter
ocasionado maior prevalência do vírus da hepatite C.
Cháves et al. (2003), traçaram um panorama da infecção no Bra-
sil no período entre 1996 e 2000 e encontraram prevalência de casos
confirmados de 25% para a hepatite B e 12% para a hepatite C. Em
um estudo realizado em um município de Mato Grasso, Souto et
al. (2001), constataram presença da infecção pelo VHB em 31% da
amostra analisada. Frente a esses resultados percebe-se as diver-
gências entre os achados das prevalências encontradas em diferen-
tes regiões do país. Esta situação pode ser justificada por diferenças
geográficas, climáticas, econômicas e étnicas que interferem na epi-
demiologia das doenças (CLEMENS et al., 2000).

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KATIÚSCIA AOZANI MUNARETO - EMANUELLE KERBER VIERA MALLET

A relação da distribuição das infecções segundo o sexo demons-


trou prevalência no sexo masculino de 66,66% para o vírus VHB e
63,64% para o vírus VHC. Já no sexo feminino a prevalência foi
33,33% para o vírus VHB e 36,36% para o vírus VHC, totalizando os
45 prontuários estudados, conforme mostra a tabela 1.
Tabela 1. Prevalência do vírus da hepatite B e C segundo o sexo

Masculino Feminino Total


Infecção
n (%) n (%) n (%)
Hepatite B 66,66 33,33 100
Hepatite C 63,64 36,36 100

Ao analisarmos a prevalência das infecções segundo o sexo,


houve maior prevalência no sexo masculino. O que pode explicar tal
achado são os aspectos comportamentais adotados por esses indi-
víduos, tais como uso de drogas ilícitas, condições sociais diversas e
a não utilização de preservativos (PELEGRINE et al., 2007).
No estudo realizado na cidade de Florianópolis também foi ob-
servado maior incidência de hepatite C no sexo masculino. Gonçal-
ves et al. (2008), afirma não há evidências que comprovem maior
suscetibilidade nos homens à infecção viral. Este resultado deve-se,
provavelmente, a fatores comportamentais. O predomínio maior de
indivíduos do sexo masculino com VHB (66,66%) e VHC (63,64%)
no município de Santo Ângelo no período estudado confirma outros
achados, como no município de Maringá, onde a prevalência de he-
patite B e C também foram predominantes no sexo masculino (BA-
BINSKI et al., 2008).
Ao verificarmos a prevalência da infecção pelo VHB segundo a
faixa etária, estas foram predominantes nas faixas compreendidas
entre 24-29 anos (25%), 29-34 anos (25%) e 34-39 (25%), conforme
o gráfico 2.

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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

24 l - - 29
17%
25% 29 l - - 34

8%
34 l - - 39

39 l - - 44

25% 25%
44 l - - 150

Gráfico 2: Contaminação com VHB segundo a faixa etária

Já no gráfico 3 observamos que a prevalência da hepatite C é


mais elevada em indivíduos entre 41-49 anos (30,30%) (10).

17 l - - 25
9%
15%
25 l - - 33
18%

15% 33 l - - 41

41 l - - 49

12% 49 l - - 57
31%
57 l - - 65

Gráfico 3: Contaminação com o VHC segundo a faixa etária

Estes dados encontrados no município de Santo Ângelo mos-


tram que as infecções tanto de hepatite B quanto de hepatite C aca-
bam acometendo muito mais adultos jovens principalmente por este
grupo estar mais suscetível aos fatores de risco.

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A predominância das infecções nas faixas etárias encontradas


se relaciona com dados da literatura internacional em que as maio-
res infecções pelo HCV são encontradas em indivíduos entre 30-
49 anos, indicando que o risco de transmissão afeta primariamente
adultos jovens. Em um estudo realizado no Brasil e no Estado de
Santa Catarina também pode se observar que a faixa etária acima
dos 30 anos foi a mais acometida pela hepatite B e C (CHÁVEZ et
al., 2003; THOMSON; FINCH, 2005).
Para Aquino et al. (2008), a faixa etária de 29 a 39 anos foi a mais
acometida pelos vírus HBV e HCV, indicando que provavelmente a
atividade sexual foi à principal forma de transmissão. A maior preva-
lência das sorologias encontrada nesta faixa etária e no sexo mas-
culino mostra que esses indivíduos podem ser mais expostos aos
vírus, principalmente devido ao comportamento sexual. Outro fator
que pode ser apontado é que neste período os homens acabam se
relacionando com mais de uma parceira.
Na análise das dosagens das enzimas AST e ALT, a média dos
pacientes alterados contaminados com o VHB encontrada nesse es-
tudo foi 574 U/L e 977 U/L, respectivamente. Já para os indivíduos
infectados com o VHC a média para os pacientes alterados para a
AST foi 121,7 U/L e para a ALT a média encontrada foi 169,72 U/L,
dados apresentados na tabela 2 e tabela 3.
Tabela 2. Resultados dos exames analisados dos pacientes infectados com o vírus
VHB

Pacientes
Pacientes alterados Média
Exames analisados analisados
n n (%)
TGO 10 30 574 U/L
TGP 10 30 977 U/L
Bilirrubina Total 8 37,5 3,1 mg/dL
Bilirrubina Direta 4 50 2,43 mg/dL
Plaquetas 7 28,5 121.500 mm3
TP 8 0 12,2 s
*Valores de referência: TGO –5 a 38 U/L; TGP – 10 a 40 U/L; BT – até 1,2 mg/dL; BD –
até 0,4 mg/dL; Plaquetas – 150.000 a 450.000 mm3; TP – 10 a 14 s.

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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

Tabela 3. Resultados dos exames analisados dos pacientes infectados com o vírus
VHC

Exames analisados Pacientes Pacientes alterados Média


analisados
n n (%)
TGO 22 45,45 121,7 U/L
TGP 23 47,82 169,72 U/L
Bilirrubina Total 16 37,5 1,22 mg/dL
Bilirrubina Direta 10 60 0,7 mg/dL
Plaquetas 21 52,38 108.272 mm3
TP 18 16,6 15,3 s
*Valores de referência: TGO –5 a 38 U/L; TGP – 10 a 40 U/L; BT – até 1,2 mg/dL; BD –
até 0,4 mg/dL; Plaquetas – 150.000 a 450.000 mm3; TP – 10 a 14 s.

Na análise das dosagens enzimáticas de AST e ALT verificamos


a predominância de aminotransferases aumentadas. De acordo com
Vranjac (2002), na fase inicial das hepatites virais o aumento das
transaminases pode variar de 10 a 100 vezes o limite superior da
normalidade. As transaminases são de fundamental importância,
visto que podem ser consideradas marcadores específicos de dano
hepático. Na fase ictérica há diminuição dos níveis séricos das ami-
notransferases, entretanto, seus valores podem permanecer altera-
dos por até seis meses, mesmo em pacientes que apresentar boa
recuperação clínica (CRUZ et al., 2000; MINCIS; MINCIS, 2006).
As transaminases AST e ALT, sendo a primeira a aparecer no
plasma, são enzimas celulares que melhor representam os fenôme-
nos necróticos nos hepatócitos durante a agressão pelos vírus VHB
e VHC. A AST está presente na mitocôndria e no citosol dos he-
patócitos, enquanto que a ALT é exclusiva do citosol e encontra-se
presente principalmente no fígado. Nas formas crônicas, geralmente
não ultrapassam 15 vezes o normal e nos indivíduos assintomáticos
é o único exame laboratorial sugestivo de doença hepática. Nos ca-
sos de hepatite fulminante a queda das aminotransferases pode re-
presentar falência progressiva do fígado pela destruição extensa do
tecido (SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS,
2007).
Na análise das alterações de bilirrubina total e bilirrubina direta,
a média encontrada para os pacientes alterados infectados com o
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KATIÚSCIA AOZANI MUNARETO - EMANUELLE KERBER VIERA MALLET

VHB foi 3,1 mg/dL e 2,43 mg/dL, respectivamente. Quanto aos pa-
cientes alterados infectados com o VHC a média dos resultados para
a bilirrubina total foi 1,22 mg/dL e para a bilirrubina direta foi 0,7 mg/
dL, conforme tabela 2 e 3.
As alterações das bilirrubinas apresentaram valores superiores
aos de referência (BT: até 1,2 mg/dL e BI: até 0,4 mg/dL). Contudo, a
média das alterações encontrada nos pacientes contaminados com
o vírus da hepatite C mostrou valores inferiores aos encontrados na
literatura. Estudos relatam que as bilirrubinas podem encontrar-se
elevadas nas hepatites crônicas e avançadas, podendo alcançar
níveis de até 20% superior a normalidade (GARCIA; JOVILIANO,
2006; FILHO; GALIZZI, 2008).
Ao analisarmos as alterações de plaquetas a média para os pa-
cientes alterados infectados com o VHB foi 121.500 mm3. Dos sete
pacientes analisados, apenas 28,5% (2) apresentaram plaquetope-
nia. Quanto aos pacientes alterados com hepatite C, a média de pla-
quetas foi 108.272 mm3. Dos 21 pacientes observados, 52,2% (11)
revelaram plaquetopenia, conforme mostra a tabela 2 e 3.
A plaquetopenia é uma das mais freqüentes alterações hemato-
lógicas encontradas em pacientes com hepatite crônica. Segundo o
trabalho revisado, as causas de trombocitopenia podem estar rela-
cionadas à produção ineficiente de trombopoetina pelo fígado, uso
de fármacos depressores da medula óssea como interferon e ribavi-
rina e ligação dos vírus aos receptores de membrana nas plaquetas
(THOFEHRN; MUNHOZ, 2006).
Mesmo sendo uma manifestação comum em pacientes com do-
enças hepáticas crônicas, os mecanismos envolvidos na tromboci-
topenia não estão completamente elucidados. Um estudo realizado
por Fusegawa et al. (2002), demonstrou maior ativação de plaque-
tas, que podem contribuir para os mecanismos de trombocitopenia
nos pacientes analisados e que a fibrose também pode ter um papel
na ativação de plaquetas na hepatite crônica.
Ao examinarmos o tempo de protrombina a média dos resultados
para os pacientes alterados contaminados com o vírus da hepatite
B foi 12,2 segundos. Já para os pacientes alterados contaminados

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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

com o vírus da hepatite C a média do tempo de protrombina foi 15,3


segundos, conforme dados da tabela 2 e 3.
Os resultados do tempo de protrombina em ambas as infecções
não sofreram alterações significativas, visto que o alargamento des-
te exame ocorre nos casos de hepatite fulminante e cirrose. Nas
formas agudas benignas desta patologia esta prova sofre poucas al-
terações, assim como nas formas crônicas, quando pode não haver
alterações significativas até as fases terminais. Nos quadros de insu-
ficiência hepática, encontradas tanto nas formas agudas fulminantes
quanto nas cirroses descompensadas, a avaliação da atividade da
protrombina adquire importância, uma vez que os níveis detectados
vão decrescendo diretamente à gravidade do quadro, constituindo-
se, por isso, o melhor marcador prognóstico (BRASIL, 2005a; SE-
CRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS, 2007).
Ao verificarmos no gráfico a distribuição dos genótipos do VHC
nos 13 pacientes que apresentaram genotipagem foram encontra-
dos os genótipos 1, 2 e 3, sendo predominantes o genótipo 3 (70%)
(9), como demonstra o gráfico 4. Esses resultados se relacionam
com dados da literatura, que mostram que na América do Sul, in-
cluindo o Brasil, Estados Unidos e Japão, os genótipos 1, 2 e 3 são
responsáveis pela maioria das infecções. A caracterização dos genó-
tipos é importante no direcionamento do tratamento, já que os dife-
rentes genótipos influenciam as taxas de resposta (PELEGRINE et
al., 2007).

15%

15%
2

3
70%

Gráfico 4: Distribuição dos genótipos do vírus VHC

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KATIÚSCIA AOZANI MUNARETO - EMANUELLE KERBER VIERA MALLET

A genotipagem do VHC tem importância na prática clínica para


orientar nas decisões terapêuticas dos pacientes portadores de he-
patite C crônica. Estudos clínicos têm relatado respostas virológicas
variáveis ao tratamento da hepatite C crônica com interferon pegui-
lado ou convencional associado a ribavirina com base na infecção
por distintos genótipos. Segundo o estudo de Alves at al. (2003), os
pacientes com genótipo não-1 apresentaram taxa de resposta sus-
tentada significativamente maior que os infectados com o genótipo
1. Os pacientes infectados pelos genótipos 2 ou 3 têm 80% de chan-
ces a mais de erradicar a doença. A genotipagem tem importância
também em investigações imunológicas para o desenvolvimento de
vacinas (PERONE et al., 2008).
Ao considerar a associação entre os diversos fatores de risco
com as infecções pelo VHB e VHC observados nos prontuários que
trouxeram a informação, foi observado que os principais fatores de
risco para os pacientes estudados são o uso de drogas ilícitas, trans-
fusão sanguínea antes da década de 90 e o etilismo crônico.
Quanto a associação entre a história de transfusão sanguínea
e a infecção pelo VHC, Lopes et al. (2009), relataram uma tendên-
cia entre essa associação entre usuários de drogas no município
de Goiânia, principalmente, quando as transfusões eram realizadas
antes da implantação da triagem anti-HCV nos bancos de sangue
em novembro de 1993 no Brasil. Este trabalho também mostrou uma
prevalência elevada da infecção pelo HCV em usuários de drogas
ilícitas, além do uso injetável de drogas como principal fator de risco
para essa infecção.
Em um estudo realizado na cidade de Blumenau, no estado de
Santa Catarina, a freqüência da contaminação por transfusão san-
guínea foi 3,3% na população estudada. O estudo também mostrou
que o consumo de álcool torna mais suscetível à infecção pelo VHB.
O alcoolismo é uma prática potencialmente influenciável pelo am-
biente social, onde são promovidas atividades de risco para a infec-
ção pelos vírus da hepatite B e C, bem como a prática desprotegida
de relações sexuais ou uso de drogas injetáveis (LIVRAMENTO et
al., 2009).
Ao avaliar as vias de transmissão da hepatite B percebe-se que
os principais modos de contaminação são através da exposição
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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

parenteral, sexual, vertical, sangue contaminado ou fluídos corpo-


rais. Já o vírus da hepatite C, normalmente, é transmitido através de
sangue contaminado. Os fatores de risco para ambas as infecções
incluem usuários de drogas, transfusão, tatuagens, transplante de
órgãos e comportamento sexual ativo (LADEHOF; BUENO, 2005;
BLATT et al, 2009).
Verificamos que o diagnóstico das hepatites B e C é feito atra-
vés de técnicas sorológicas. Essas técnicas são fundamentais não
apenas para o diagnóstico em si, mas também no seguimento da
infecção viral, na avaliação do estado clínico do paciente e na moni-
torização da terapêutica específica. Os testes comercializados para
a detecção do VHC são os ELISA. Entretanto, deve haver a confir-
mação do diagnóstico através da técnica de PCR pela presença de
RNA do VHC (MINCIS; MINCIS, 2007; BABINSKI et al. 2008).
A biópsia hepática é considerada o padrão-ouro para o diagnósti-
co da fibrose na hepatite crônica. No entanto, é um procedimento de
custo elevado, com complicações como dor, hemorragia e, em raros
casos, morte. Para Lima et al. (2008), a biópsia para os indivíduos
com hepatite crônica é necessária, visando avaliações prognóstica
e terapêutica desses pacientes. Os pacientes que apresentam esta-
diamento avançado podem progredir rapidamente para cirrose e he-
patocarcinoma, enquanto que pacientes sem fibrose ou apenas com
fibrose portal apresentam progressão mais lenta, não sendo preciso
à terapia antiviral na maioria dos casos.
Alguns marcadores bioquímicos estudados em diferentes popu-
lações confirmam ter elevado valor preditivo no diagnóstico da fi-
brose significativa. A AST, ALT, a gama-glutamiltransferase e a con-
tagem de plaquetas podem apresentar correlação com a histologia
hepática (LIMA et al., 2008). Segundo Fusegawa et al. (2002), o ín-
dice APRI (obtido pelo quociente AST/plaquetas) tem sido aplicado
devido a sua elevada acurácia como preditor da fibrose hepática nos
portadores de hepatite crônica.
Ao identificarmos os principais modos de prevenção das doen-
ças, conclui-se que a melhor forma de prevenção contra a hepatite
B é uso da vacina, visto que é considerada a maneira mais eficaz
de prevenir infecção aguda ou crônica e também controlar a trans-
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missão do vírus, sendo sua eficácia superior a 90% em indivíduos


imunocompetentes (FILHO; GALIZZI, 2008; BENTO et al., 2010).
Recentemente foi criada nova portaria pelo Ministério da Saú-
de que contempla não apenas as crianças, que recebem a vacina
da hepatite B sistematicamente fazendo parte do calendário vacinal,
mas também profissionais da saúde, manicures, gestantes e homos-
sexuais (BRASIL, 2005b).
Quanto à hepatite C ainda não existem meios capazes de pro-
porcionar imunização ativa ou passiva, sendo as imunoglobulinas
ineficazes e há grandes obstáculos na variabilidade genética do
VHC. Assim, medidas que visam reduzir a exposição a situações de
risco, bem como mudanças comportamentais, são as melhores con-
dutas para a prevenção primária (FILHO; GALIZZI, 2008; BENTO et
al., 2010).

4. CONCLUSÃO
A análise final deste trabalho mostra que os resultados das pre-
valências das hepatites B e C se relacionam com outros estudos
epidemiológicos realizados no Brasil, em que há maior prevalência
de hepatite C, sendo o sexo masculino o mais acometido por ambas
as infecções. Os vírus das hepatites B e C são transmitidos através
da troca de fluídos corporais e o diagnóstico das infecções pode ser
feito através de testes imunológicos e moleculares. A biópsia hepá-
tica é considerada o padrão-ouro para o diagnóstico da fibrose na
hepatite crônica. A prevenção da hepatite B pode ocorrer por vacina-
ção. Para os casos de hepatite C ainda não existe vacina disponível,
e a única forma de profilaxia é orientação aos indivíduos que fazem
parte dos grupos de risco.
Na análise dos exames pode-se concluir que os resultados en-
contrados nos mostram que a grande maioria dos pacientes estuda-
dos se encontrava na fase crônica da infecção desencadeada pelo
VHB e VHC, em estágios iniciais.
Portanto, diante da freqüência de infecções e das complicações
que podem acarretar, torna-se importante a realização de análises
semelhante para que se possa monitorar o comportamento da hepa-
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PREVALÊNCIA DE HEPATITE B E C EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO ATENDIMENTO DR. ERNESTO NASCIMENTO SOBRINHO NA CIDADE DE SANTO ÂNGELO - RS, BRASIL

tite B e da hepatite C no município de Santo Ângelo, e assim, buscar


propostas de prevenção e diminuir os riscos de contaminação e evo-
lução para as formas mais graves das infecções estudadas.

5. REFERÊNCIAS
ALVES, A. et al. Tratamento de pacientes com hepatite crônica
pelo vírus C com interferon-< e ribavirina: a experiência da Secreta-
ria de Saúde do Rio Grande do Sul. Arquivos de Gastroenterolo-
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POTENCIAL TOXICIDADE DO CARBONATO DE LÍTIO

POTENCIAL TOXICIDADE DO
CARBONATO DE LÍTIO
POTENTIAL TOXICITY OF LITHIUM CARBONATE

Letícia Aparecida Nascimento do Carmo1


Juliana Foletto Fredo Roncato2
RESUMO
O Carbonato de Lítio é muito utilizado na área psiquiátrica, por sua excelente eficácia terapêutica. Este relato de caso
clínico trata-se de uma paciente que sofreu intoxicação pelo Lítio, tendo como objetivo descrever os danos que este
medicamento  pode causar no organismo quando utilizado por longo período e em doses altas. Embora se trate de
um medicamento de efeito comprovado no tratamento do Transtorno Bipolar, o artigo visa demonstrar as diversas
alterações e riscos que podem ocorrer, enfatizando a importância de um rigoroso controle laboratorial desses pacientes,
uma vez que somente através do monitoramento periódico é possível evitar um processo intoxicante e potencialmente
fatal. Dessa forma, observa-se que o Carbonato de Lítio tem um efeito benéfico nos tratamentos psiquiátricos, mas
para que se possa alcançar uma melhor qualidade no tratamento, faz-se necessário uma perfeita adesão do paciente
ao tratamento e um rigoroso monitoramento clínico através de dosagens bioquímicas e hematológicas para evitar uma
intoxicação medicamentosa.
Palavras-Chave: Diagnóstico Laboratorial. Intoxicação. Lítio. Transtorno Afetivo Bipolar.

ABSTRACT
The Lithium Carbonate is very used in the psychiatric area, for its excellent therapeutic efficacy. This related clinical
case it’s about a patient who suffered poisoning by lithium, which is aimed to describe the damage that this drug can
cause at the body when it´s used for long periods and at high doses. Although this is a drug proven effective in the
treatment of bipolar disorder, the paper aims to demonstrate the various changes and risks that can occur. Emphasizing
the importance of a thorough laboratory control of these patients, since only through regular screening is possible
prevent a intoxicating and potentially fatal process. Thus, it is observed that the lithium carbonate has a beneficial effect
on psychiatric treatments, but so that we can achieve a better quality of care, it is necessary to perfect adherence to
the treatment and strict clinical monitoring with biochemical and hematological dosages to avoid a drug intoxication.
Keywords: Diagnosis laboratory. intoxication. lithium. Afective Bipolar Disorder.

1. INTRODUÇÃO
O Carbonato de Lítio é um medicamento amplamente utilizado
na área psiquiátrica há vários anos. Sua eficácia foi comprovada
através de diversos experimentos durante o decorrer do século XX
e, desde então tem sido utilizado por especialistas do mundo todo
como a droga de escolha no tratamento do (TAB) Transtorno Afetivo
Bipolar, CID 10 - F: 31.
O Carbonato de Lítio é um medicamento de índice terapêutico
muito baixo e farmacocinética individualizada. A margem entre a
1 Acadêmica concluinte do Curso de Biomedicina, ano 2010. Instituto Cenecista de Ensino Superiror de Santo Ângelo.
2 Professora da disciplina de Toxicologia do IESA; Farmacêutica e Bioquímica - UNICRUZ, 2000; Especialista em Toxicologia Aplicada
– PUCRS, 2002; Mestre em Biologia Celular e Molecular – PUCRS, 2007; Pós-graduanda em Docência para o Ensino Superior - IESA.

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LETÍCIA APARECIDA NASCIMENTO DO CARMO - JULIANA FOLETTO FREDO RONCATO

dose terapêutica e a dose tóxica é estreita, e por esse motivo, faz-


se necessário uma rigorosa monitorização terapêutica e laboratorial,
por meio da determinação da concentração sérica e hemática, como
forma de auxiliar no controle das doses a serem administradas ao
paciente, uma vez que ele pode tornar-se tóxico ao organismo, já
que sua excreção varia de indivíduo para indivíduo.
É de conhecimento dos profissionais da área médica os benefí-
cios do Lítio no tratamento do TAB e na fase maníaca de doenças
maníaco-depressivas, bem como, a importância do rigoroso acom-
panhamento desses pacientes, uma vez que uma intoxicação aguda
por lítio pode causar diversas alterações no organismo, como mani-
festações neurológicas leves (tremor, perda da coordenação dos mo-
vimentos musculares voluntários, dificuldades na fala, convulsões,
encefalopatia, coma); manifestações neuromusculares (fraqueza
muscular proximal, rabdomiólise, miastenia gravis e neuropatia axo-
nal). Estas manifestações são em geral reversíveis com a suspensão
ou diminuição das doses do medicamento.
O uso do Carbonato de Lítio por um longo período também pode
desencadear as chamadas patologias associadas, como o Diabetes
Mellitus (DM), disfunções renal, hepática, cardíaca, hipertensão ar-
terial, sobrepeso e, até mesmo uma intoxicação por uso excessivo
do medicamento.
Dados estatísticos apontaram que o TAB tem maior incidência
em pessoas do sexo feminino. A interação do Carbonato de Lítio com
os anticoncepcionais orais aumenta muito o risco de gravidez entre
essas pacientes, devido à redução do efeito do anticoncepcional oral
causada pelo lítio.
A puérpera em uso do lítio deve evitar a amamentação, pois cer-
ca de 40% da concentração sérica do lítio é passada através do leite,
podendo causar intoxicação no recém-nascido.
Nesse trabalho, o questionamento é: o Carbonato de Lítio quan-
do usado em excesso em paciente com sofrimento psíquico, é tóxico
para o organismo?
Para isso far-se-á uma revisão da literatura, visando apontar os
danos que o medicamento Carbonato de Lítio causa ao organismo
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POTENCIAL TOXICIDADE DO CARBONATO DE LÍTIO

do paciente. Além disso, no presente trabalho realizamos um estudo


de caso clínico de uma paciente que sofreu intoxicação pelo medi-
camento.
Abordaremos ainda, a importância dos exames laboratoriais no
monitoramento deste medicamento, visto que através dos resultados
dos níveis séricos se consegue administrar melhor as dosagens do
mesmo, evitando assim danos ao paciente.

1.1. Fundamentação Teórica


O Carbonato de Lítio é uma droga utilizada em diferentes pato-
logias da área psiquiátrica; porém no TAB seu uso é indispensável,
pois trata-se de um transtorno severo, freqüente, que surge ao longo
da vida adulta afetando o campo emocional da pessoa com emoções
violentas, sentimentos persistentes, picos de depressão e euforia.
Acomete em média 2% da população geral; onde deste percentual
cerca de 12,5% a 30% tem sua sintomatologia confundida com de-
pressão em um primeiro momento; o que requer a avaliação de um
especialista para um diagnóstico fidedigno (VIEIRA; GAUER, 2003;
ARANTES, 2007).
Atinge ambos os sexos, com maior incidência de casos no sexo
feminino, onde o quadro sintomatológico é mais severo do que nos
homens. Nas mulheres entre os fatores de risco, destacam-se as
oscilações hormonais, o ciclo menstrual, o período puerperal e a me-
nopausa; enquanto que nos homens o fator de maior relevância está
no risco de suicídio, o qual pode estar associado à dependência de
álcool. Em ambos os sexos essa disfunção pode estar ligada a alte-
rações bioquímicas (DIAS et al., 2006).
O Lítio foi introduzido na medicina como substância terapêutica
por Garrod no ano de 1863, tendo sido utilizado para tratamento de
diversas patologias durante mais de um século, sem muito sucesso.
Já em 1949, Cade introduziu a droga no tratamento de pacientes psi-
quiátricos; porém em 1954 Schou, através do primeiro estudo duplo-
cego realizado com medicação psiquiátrica, comprovou a eficácia do
mesmo no tratamento da mania e, desde então o Carbonato de Lítio
passou a ser utilizado nos tratamentos de desordens maníacas nos
países europeus e posteriormente pelos EUA (ROSA et al., 2006;
TEIXEIRA; ROCHA, 2006; LEAL; FERNANDES, 2010).
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LETÍCIA APARECIDA NASCIMENTO DO CARMO - JULIANA FOLETTO FREDO RONCATO

Em 1970 a Food and Drug Administration (FDA) aprovou o lítio


como primeiro fármaco eficaz no tratamento das fases agudas e na
manutenção da doença bipolar, a partir de então, há mais de 5 déca-
das ele vêm sendo utilizado pelos especialistas como a droga de es-
colha no tratamento do TAB e outras patologias associadas pela sua
grande atuação como estabilizador de humor (ROSA et al., 2006).
Sua eficácia terapêutica nas crises maníacas e depressivas de
pacientes bipolares é indiscutível, e para que haja uma melhor ade-
são ao tratamento, a formulação mais utilizada é a de comprimidos,
por ser menos higroscópica e menos irritante à mucosa gástrica,
quando comparada ao Cloridrato; porém essa formulação produz
grande concentração da droga no soro, podendo causar efeitos co-
laterais e até reações tóxicas ao organismo (VISMARI et al., 2002;
CERQUEIRA et al., 2008).
Seu pico plasmático varia entre 2 a 6 horas após sua absorção,
com meia vida de 18 a 36 horas, e o estado de equilíbrio se dá entre
90 a 120 horas (PARDINI, 2003; SOARES, 2010).
Se a adesão ao tratamento não é 100% efetiva, o reflexo do uso
incorreto acaba acarretando complicações da doença, efeitos cola-
terais variados, e oscilações dos níveis séricos nos resultados dos
exames laboratoriais. Quando o paciente faz o uso correto e continu-
ado do Lítio, geralmente os níveis séricos em seu organismo estarão
entre 0,6 mEq/L e 1,2 mEq/L, enquanto que os pacientes que fazem
uso de forma irregular apresentam níveis inferiores a 0,6 mEq/L ou
superiores a 1,2 mEq/L (ROSA et al., 2006).
Segundo Teixeira e Rocha (2006) o FDA, órgão regulador do
uso de medicamento nos EUA, no ano de 2004 estabeleceu que
todo paciente usuário do Carbonato de Lítio deveria ser monitorado,
uma vez que existem efeitos adversos relacionados ao metabolismo
como o DM, obesidade e dislipidemia.
O lítio utiliza-se da bomba sódio-potásio para transpor a mem-
brana do eritrócito; não se liga as proteínas, passando direto do san-
gue para os tecidos, chegando de forma mais rápida aos rins, fígado
e pele; e de forma mais lenta aos ossos, músculos e cérebro. Ele é
muito ágil na passagem pelas membranas celulares e também em
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POTENCIAL TOXICIDADE DO CARBONATO DE LÍTIO

sua distribuição pelos fluídos corporais intra e extracelulares; possui


um equilíbrio dinâmico entre os tecidos e o soro, o que torna possível
realizar a dosagem sérica do lítio presente no organismo (VIEIRA et
al., 2006; LEAL; FERNANDES, 2010).
Os medicamentos antipsicóticos, podem aumentar a entrada do
lítio no interior das células vermelhas do sangue levando a um au-
mento da concentração eritrocitária de lítio e a uma possível toxici-
dade celular (CERQUEIRA et al., 2008).
É um sal altamente solúvel em água e não metabolizado pelo
organismo, sua excreção é basicamente renal (variando conforme o
peso e a idade do paciente); sendo que 80% do lítio filtrado é reab-
sorvido, e cerca de 1% excretado nas fezes; sua clearance é de cer-
ca de 15 a 30 ml/mim (aproximadamente 20% da creatinina) (VIEIRA
et al., 2006; MENDES, 2008; LEAL; FERNANDES, 2010).
Ele possui uma similaridade com elementos como o sódio, potás-
sio, cálcio e magnésio; hipótese que justificaria a elevação dos níveis
de serotonina e diminuição dos níveis de norepinefrina, alterando as-
sim as concentrações de dopamina, ácido g-aminobutírico (GABA) e
acetilcolina do metabolismo (MACHADO-VIEIRA, 2003).
Para Soares (2010), o excesso de lítio no organismo pode decor-
rer em três situações: níveis de (1,5 mEq/L a 2 mEq/L) pode ocasio-
nar náuseas, tremores finos e diarréia; de (2 mEq/L a 3 mEq/L) pode
apresentar vômitos, diarréia, sedação, ataxia, polidipsia e poliúria;
e por fim níveis séricos acima de 3 mEq/L que são potencialmente
fatais e passíveis de hemodiálise em regime de internação intensiva,
podendo ocorrer dano neurológico irreversíveis com seqüelas gra-
ves. Já Pardini (2003) considera tóxicos níveis acima de 1,5 mEq/L
através das dosagens do método eletrodo sedativo.
Os efeitos colaterais observados por Dias et al. (2006), apontam
que os maiores danos se referem ao sexo feminino, podendo ser
comparado nos seguintes dados: tremores (homens 54% e mulheres
26%), ganho de peso no primeiro ano de tratamento (homens 18% e
mulheres 47%), desenvolvimento de hipotireoidismo (homens 9% e
mulheres 37%).

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LETÍCIA APARECIDA NASCIMENTO DO CARMO - JULIANA FOLETTO FREDO RONCATO

O lítio produz diversos efeitos colaterais, que variam de acordo


com o sexo, a idade e o metabolismo de cada paciente; os mais
comuns descritos são o DM, aumento do peso corporal, hipertensão
arterial, tremores finos, diarréia, náuseas, tonturas, fraqueza muscu-
lar, poliúria e dislipidemia (MARCOLAN; URASAKI, 1998; ROSA et
al., 2006; VIEIRA et al., 2006).
Para que se possa prevenir alguns efeitos colaterais e até mes-
mo a intoxicação, o monitoramento do lítio através de exames labo-
ratoriais é de fundamental importância, pois somente através deles o
médico consegue analisar os efeitos que o mesmo está produzindo
no organismo do paciente; uma vez que esses níveis estejam acima
do pré-estabelecido como normal (0,6 mEq/L a 1,2 mEq/L) na cor-
rente sanguínea pode tornar-se tóxico ou fatal ao paciente (ROSA
et al., 2006; CERQUEIRA et al., 2008). Essas dosagens podem ser
feitas do plasma, do soro, da urina e dos fluídos corporais, através
da fotometria de chama e espectrofotometria de absorção atômica
(LEAL; FERNANDES, 2010).
Conforme Pardini (2003), a dosagem dos sais de lítio são úteis
na monitorização dos níveis terapêuticos e toxicidade, porém a co-
leta deve ser realizada 12 horas após a ingesta da última dose do
medicamento.
Em gestantes é grande a preocupação quanto ao uso do lítio,
uma vez que estas pacientes não podem deixar de fazer uso do
medicamento neste período. A exposição do feto ao lítio no primeiro
trimestre da gestação aumenta o risco de malformações cardíacas,
distúrbios do ritmo cardíaco, dificuldade respiratória, cianose, diabe-
tes insipidus nefrogênico, disfunção da tireóide, hipoglicemia, hipo-
tonia, letargia, hiperbilirrubinemia e bebês grandes para idade ges-
tacional. É importante o monitoramento sérico destas pacientes do
início até o último mês de gestação (BLAYA, 2005; DIAS et al., 2006).
Embora se diga que a amamentação traz benefícios ao recém-
nascido, há casos em que se dever medir o risco/benefício, uma vez
que cerca de 40% da concentração sérica do lítio da mãe passa para
o bebê através do leite e por esse motivo que a American Academy
of Pediatrics Commitee on Drugs contra-indica a amamentação nes-
ses casos. Ressaltamos que é recomendado também que se faça o
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POTENCIAL TOXICIDADE DO CARBONATO DE LÍTIO

monitoramento nas crianças que tiveram contato com o lítio durante


sua vida embrionária e/ou amamentação, a cada seis a oito sema-
nas, bem como os níveis de TSH, uréia e creatinina, com a finalidade
de evitar efeitos nocivos do medicamento as mesmas (BLAYA, 2005;
BRASIL, 2010).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Caracterização da Pesquisa


O presente estudo trata-se de uma pesquisa exploratória, com
estudo de caso de uma paciente que sofreu intoxicação por Lítio.

2.2. Amostra
A amostra do estudo de caso será constituída por uma paciente
com 42 anos de idade, sexo feminino, portadora da doença classifi-
cada no CID 10 sob o código F 31 (TRANSTORNO AFETIVO BIPO-
LAR).

2.3. Procedimentos
O quadro clínico da paciente será avaliado com base em exames
laboratoriais, como Hemograma, Creatinina, Sódio, Lítio e TSH.

2.4. Relato de Caso Clínico


Paciente do sexo feminino, 42 anos, branca, interna no Hospital
de Caridade da cidade de Santo Ângelo, no dia 03 de novembro de
2009.
Diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar com episódio atual de-
pressivo grave, alucinações auditivas e visuais, idéias delirantes per-
sistentes, tontura e Pressão Arterial (P.A.) de 90 mmHg x 50 mmHg.
Submetida à exames laboratoriais constatou-se as seguintes al-
terações: Hemácias 3,25 milhões/mm3 e Hemoglobina 10,8 g/dl (ane-
mia); Leucócitos Totais 16.400 mm3 (leucocitose); Creatinina 2,2 mg/
dl; Sódio 128 mEq/L (Hiponatremia); Lítio 2,50 mEq/L (intoxicação);
TSH Ultra-sensível 8,97 µUI/mL. Nos demais exames solicitados os
resultados foram considerados dentro dos valores de referência: Gli-
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LETÍCIA APARECIDA NASCIMENTO DO CARMO - JULIANA FOLETTO FREDO RONCATO

cose 78 mg/dl; Transaminase Oxalacética (AST) 17 U/L; Transami-


nase Pirúvica (ALT) 11 U/L; Potássio 3,7 mEq/L.
Na prescrição médica constava a administração total diária de
Imipramina 150mg; Carbolitium 900mg; Clorpromazina 25mg; Ris-
peridona 6mg; Enalapril 10mg pela manhã; Furosemida 20mg pela
manhã e Haldol I.M. se agitação.
Com base no resultado dos exames laboratoriais realizados no
dia da internação, fez-se necessário suspender a Furosemida e o
Carbolitium e, encaminhar a paciente para seção de hemodiálise já
no dia seguinte a internação devido a intoxicação por lítio associada
à interação medicamentosa com diurético e anti-hipertensivo.
No terceiro dia da internação a paciente começou a apresentar
melhora no quadro clínico, após a primeira seção de hemodiálise; o
Carbolitium 300mg foi suspenso e substituído pela Carbamazepina
100mg a noite como estabilizador do humor; foi suspenso o Enalapril
10mg e manteve-se as demais medicações prescritas na internação.
Foi realizada a segunda seção de hemodiálise e sua P.A. era de
160mmHg x 100mmHg.
No quarto dia de internação continuou apresentando evolução
do quadro clínico, respondeu bem a segunda seção de hemodiálise,
porém P.A. permanece 160mmHg x 100mmHg.
No quinto dia a paciente permanece tomando a medicação ha-
bitual e realizando seções de hemodiálise diária, evoluindo em seu
quadro clínico.
No sexto dia de internação paciente estava melhor clinicamente;
foi solicitado as dosagens de Uréia 15 mg/dl; Creatinina 1,0 mg/dl;
Lítio 0,60 mEq/L e TSH Ultra-sensível 8,97 µUI/mL com o intúito de
averiguar se o processo de desintoxicação estava funcionando.
Devido a resposta orgânica positiva ao tratamento e as seções
de hemodiálise, os níveis séricos da Creatinina e do Lítio normali-
zaram e a paciente recebeu alta médica; passando a utilizar a Car-
bamazepina 100mg em substituição ao Carbolitium 300mg desde o
terceiro dia de internação.

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POTENCIAL TOXICIDADE DO CARBONATO DE LÍTIO

3. DISCUSSÃO
Desde meados do século XX o Lítio é usado como o estabilizador
de humor clássico, por conter propriedades anti-maníacas (VIEIRA
et al., 2006). Embora haja outras opções terapêuticas para o trata-
mento do TAB, nenhum dessas drogas causam efeito superior ao do
Lítio, o qual apresenta um efeito benéfico em cerca de 60% a 80%
dos pacientes (MENDES, 2008).
O caso clinico em questão trata de uma paciente do sexo femi-
nino, adulta, portadora de sofrimento psíquico há muitos anos, em
acompanhamento médico, que passa a apresentar quadro de aluci-
nações auditivas, visuais, idéias de perseguição, oscilações na P.A.
e; nos resultados dos exames laboratoriais realizados ao primeiro
dia de sua internação, foram observadas diversas alterações, dentre
elas, uma intoxicação pelo Carbonato de Lítio.
Pardini (2003) afirma que os níveis de lítio aumentado podem es-
tar relacionados a insuficiência renal, desidratação, hiponatremia; e
ao uso de alguns medicamentos, tais como: diuréticos, inibidores da
ECA, haloperidol, clorpromazina e antiinflamatórios não esteróides.
Soares (2010) descreve que o lítio em níveis superiores a 3 mEq/L
é potencialmente fatal e passível de seções de hemodiálise em ca-
ráter de internação intensiva. A paciente em estudo, no momento da
internação fazia uso de diurético, anti-hipertensivo, clorpromazina e
haloperidol quando em estado de agitação, dentre suas medicações
de uso contínuo; fato que justificaria os níveis elevados de lítio em
seu organismo 2,50 mEq/L e as seções de hemodiálise que foram
realizadas para desintoxicar o organismo da paciente.
Os rins tem papel fundamental na absorção e excreção do lítio,
pois cerca de 80% do lítio é reabsorvido pelo organismo e a clearan-
ce do lítio cerca de 20% da creatinina (LEAL; FERNANDES, 2010).
Sendo por esse motivo que a Creatinina da paciente apresentava-se
elevada: 2,2 mg/dl, uma vez que os rins não estavam em seu funcio-
namento normal.
Quando o sódio está em seus níveis normais no organismo, os
rins conseguem fazer a excreção do lítio com uma meia vida apro-
ximada de 24 horas; porém, se o sódio estiver com níveis baixos o
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LETÍCIA APARECIDA NASCIMENTO DO CARMO - JULIANA FOLETTO FREDO RONCATO

lítio é depurado com menos efetividade do organismo (MARCOLAN;


URASAKI,1998). Conforme os resultado dos exames laboratoriais
solicitados pelo médico no primeiro dia da internação da paciente em
relato, observou-se que a mesma estava com hiponatremia, pois seu
nível de sódio encontrava-se a baixo do valor de referência, com re-
sultado de 128 mEq/L e também apresentava hipercreatinemia uma
vez que os valores de referência para idade e sexo são de 0,5 mg/dL
a 1,1 mg/dL e o resultado de sua dosagem era de 2,2 mg/dL.
O tratamento com lítio provoca alterações na função tireoidiana,
podendo afetar cerca de 35% dos usuários. Trata-se de um medi-
camento que altera os níveis do TSH; e é responsável por 4% a
60% dos relatos de bócio (LEAL; FERNANDES, 2010; DEMÉTRIO,
2010). A literatura aponta que o lítio causa alterações na função ti-
reoideana, induzindo a diminuição da sua produção. Observou-se no
caso estudado que os níveis de TSH Ultra-sensível da paciente apre-
sentaram-se elevados: 8,97 µUI/mL, nas duas vezes em que foram
dosados, com intervalo de 6 dias, o que comprova o Hipotireoismo.
A monitorização dos níveis do lítio no organismo pode ser feita
através do soro, plasma e hemácias, embora exista pouca literatu-
ra que faça referência a concentração eritrocitária do lítio (ROSA et
al., 2006). Embora haja carência literária quanto a interferência do
lítio no resultado do hemograma e leucograma, observou-se que a
intoxicação por lítio pode ter sido o fator predisponente do quadro
anêmico em que a paciente inicialmente se encontrava: Hemácias
3,25 milhões/mm3 e Hemoglobina 10,8 g/dl; Leucócitos Totais 16.400
mm3.
Para Soares (2010), o tratamento com lítio não tem capacidade
de indução ou inibuiçao enzimática, por não possuir um componente
metabólico hepático. Fato que justifica os resultados da Glicose 78
mg/dl; Transaminase Oxalacética (AST) 17 U/L; Transaminase Pirú-
vica (ALT) 11 U/L com níveis normais.
Vieira et al. (2006) relata que muitos são os pacientes que tem
mais de uma patologia, assim necessitando serem polimedicados,
fato que torna difícil controlar cada uma das patologias em monote-
rapia.

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POTENCIAL TOXICIDADE DO CARBONATO DE LÍTIO

4. CONCLUSÃO
A pesquisa sobre a terapia com o lítio demonstra que ele é a
melhor escolha nos tratamentos do TAB e patologias associadas,
mas para que se obtenha os efeitos benéficos que a droga oferece é
necessário um rigoroso controle destes pacientes.
Conforme o estudo de caso realizado, observou-se que a pacien-
te sofreu intoxicação pelo medicamento, necessitando várias seções
de hemodiálise, além da suspensão do uso do Lítio, da Furosemida
e do Enalapril, pois a interação medicamentosa é um dos fatores que
mais contribuem para uma intoxicação.
Com essa pesquisa foi possível evidenciar os benefícios e male-
ficios que o medicamento pode trazer ao organismo, porém através
do relato de caso da paciente em questão, pode-se enfatizar a im-
portância do monitoramento através dos exames laboratoriais, pois
sem ele não há como saber os níveis em que ele se encontra e nem
os danos que ele pode estar causando.

5. REFERÊNCIAS
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p.261-270, 2007.
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Ações Programáticas e Estratégicas. Amamentação e uso de me-
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INSTITUTO DE PATOLOGIA CLÍNICA HERMES PARDINI. Mo-


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