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Diplomacia 360 graus – Módulo Atena – Direito Internacional Público – Aula 04

Prof. Guilherme Bystronski – 21.08.2018

IMUNIDADES (continuação)

1) IMUNIDADE SOBERANA ENQUANTO IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO

Durante séculos, imperou o princípio de que um Estado não poderia ser julgado por outro sem
o seu consentimento, uma vez que par in paret non habet imperium (o igual não tem império
sobre o semelhante). Esse sistema que vigorou no passado, chamado de sistema da imunidade
absoluta de jurisdição dos Estados, impedia que eles pudessem ser julgados em outros países
por quaisquer atividades, inclusive as comerciais.

Todavia, ao longo do século XX, houve mudança no costume internacional em relação à


imunidade de jurisdição dos Estados. Hoje vigora o sistema da imunidade relativa de jurisdição
dos Estados, que somente permite a eles invocar imunidade de jurisdição perante tribunais
internos de outros países em relação aos seus hábitos governamentais praticados no exercício
do poder público.

→ Exemplos de atos de império (acta jure imperii):


- Legislar;
- Desapropriar; e
- Atos praticados pelas forças armadas de um Estado.

Contudo, aquelas atividades desempenhadas por um Estado em condições análogas às de um


particular não mais desfrutam de imunidade segundo o costume internacional.

→ Exemplos de atos de gestão (acta jure gestionis):


- Transações comerciais com particulares quando o objeto da transação não envolve interesse
público essencial.
Ex.: Estado compra software para instalar em computadores.
- Contratos de trabalho com particulares estrangeiros.
- Casos que envolvam responsabilidade civil por atos praticados no território do foro

Artigos 10 a 17 da Convenção da ONU de 2004 sobre as Imunidades Jurisdicionais dos Estados e


suas Propriedades (link abaixo) → 8 (oito) casos que envolvem atos de gestão.

http://honoriscausa.weebly.com/uploads/1/7/4/2/17427811/convencao_das_nacoes_unidas_
sobre_as_imunidades_jurisdiciona-18.pdf

Obs.: essa Convenção não está ainda em vigor. Valem aqueles dispositivos que refletem o
costume internacional em relação a essa questão.

→ Os 3 (três) principais representantes de um Estado – Chefe de Estado, Chefe de Governo e


Ministro das Relações Exteriores – continuam a desfrutar de imunidade absoluta de jurisdição,
em relação a atos oficiais e atos particulares.
2) IMUNIDADE SOBERANA ENQUANTO IMUNIDADE DE EXECUÇÃO

Não se preocupem em avaliar se o ato é de império ou de gestão. Para a imunidade de execução


dos Estados, essa discussão é imaterial.

No costume internacional, a imunidade de execução continua a ser mais protegida do que a


imunidade de jurisdição. Enquanto regra, os bens de um Estado que se encontram no
estrangeiro somente podem ser executados se expressamente esse país renunciar à sua
imunidade de execução.

Ex.: bens diplomáticos e consulares.

1 (uma) exceção: bens comerciais sem função pública de um Estado no estrangeiro podem ser
executados por tribunais locais.

→ Artigo 19, ‘c’, da Convenção da ONU de 2004.

“Artigo 19o Imunidade dos Estados relativamente a


medidas de execução posteriores ao julgamento
Não poderão ser tomadas, em conexão com um
processo judicial num tribunal de outro Estado,
quaisquer medidas de execução posteriores ao
julgamento contra os bens de um Estado, tais como
o arrolamento, arresto ou penhora, salvo se e na
medida em que:
(...)
c) For demonstrado que os bens são
especificamente utilizados ou destinados a ser
utilizados pelo Estado com outra finalidade que
não a do serviço público sem fins comerciais e
estão situados no território do Estado do foro, com
a condição de que as medidas de execução
posteriores ao julgamento sejam tomadas apenas
contra os bens relacionados com a entidade contra
a qual o processo judicial foi instaurado. (...)”

STF – Informativo no 706: Estados estrangeiros continuam a desfrutar de imunidade absoluta


de execução.

Contraditório – artigo 11 par. 2o e 3o da LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro)


– Estado estrangeiro não pode possuir no Brasil bens imóveis ou suscetíveis de desapropriação
– salvo os diplomáticos e consulares.

TST (Tribunal Superior do Trabalho) – Imunidade de Execução do Estado estrangeiro somente


abrange bens diplomáticos e consulares – Convenções de Viena de 1961 e 1963 sobre Relações
Diplomáticas e Relações Consulares, respectivamente.

→ CESPE concorda com o TST, afirmando que a imunidade de execução do Estado estrangeiro
tem base convencional.
3) IMUNIDADE DIPLOMÁTICA

→ Base primordial – Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas:


- Reflete, em grande parte, o atual costume internacional em matéria de imunidade diplomática.
- 185 Estados-partes.

→ HISTÓRICO:
No passado, os diplomatas eram considerados como sendo representante, não do seu Estado,
mas sim da pessoa do seu soberano. Na medida em que o diplomata representava a pessoa do
seu soberano, a ele eram estendidas as mesmas honras, privilégios e imunidades que os
soberanos possuíam no estrangeiro – CRITÉRIO REPRESENTATIVO.

Atualmente, não há quaisquer dúvidas de que os diplomatas são verdadeiros agentes estatais,
defendendo os interesses do seu Estado na condução de suas atividades.

A finalidade, em Direito Internacional, da concessão de imunidades e privilégios aos diplomatas


é a de assegurar o desempenho eficiente das suas funções enquanto representante do seu
Estado no estrangeiro – CRITÉRIO FUNCIONAL.

→ Artigo 2o da Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas:

“Artigo 2o O estabelecimento de relações


diplomáticas entre Estados e o envio de Missões
diplomáticas permanentes efetua-se por
consentimento mútuo. (...)”

Por outro lado, todavia, a ruptura de relações diplomáticas pode ser unilateral. Entretanto, nas
entrelinhas, percebemos que essa Convenção regula somente relações diplomáticas entre 2
(dois) ou mais países, em particular quanto ao funcionamento de uma missão diplomática
permanente.

→ Artigo 3o – funções desempenhadas pelas missões diplomáticas – explicações terminológicas.

1) Estado acreditante – que ENVIA representantes a outro Estado.


Estado acreditado – que RECEBE os representantes do outro Estado.

2) Missão Diplomática – todos os locais onde há o desempenho de funções diplomáticas,


inclusive a residência oficial do chefe da missão.

3) Chefe da Missão Diplomática – principal representante do Estado acreditante no território do


Estado acreditado – chefia todo o pessoal da missão.
→ Artigo 14 da Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas:

“Artigo 14.
1. Os Chefes de Missão dividem-se em três classes:

a) Embaixadores ou Núncios acreditados perante


Chefes de Estado, e outros Chefes de Missões de
categoria equivalente;
b) Enviados, Ministro ou internúncios, acreditados
perante Chefe de Estado;
c) Encarregados de Negócios, acreditados perante
Ministros das Relações Exteriores.

2. Salvo em questões de precedência e etiqueta,


não se fará nenhuma distinção entre Chefes de
Missão em razão de sua classe. (...)”

→ Artigo 3o da Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas:

“Artigo 3o
1. As funções de uma Missão diplomática
consistem, entre outras, em:

a) representar o Estado acreditante perante o


Estado acreditado;

b) proteger no Estado acreditado os interesses do


Estado acreditante e de seus nacionais, dentro dos
limites permitidos pelo Direito Internacional;

c) negociar com o Governo do Estado acreditado;

d) inteirar-se por todos os meios lícitos das


condições existentes e da evolução dos
acontecimentos no Estado acreditado e informar
a esse respeito o Governo do Estado acreditante;

e) promover relações amistosas e desenvolver as


relações econômicas, culturais e científicas entre o
Estado acreditante e o Estado acreditado.

2. Nenhuma disposição da presente Convenção


poderá ser interpretada como impedindo o
exercício de funções consulares pela Missão
diplomática.”

→ Basta a Missão Diplomática abrir setor consular para o desempenho de tais atividades.
*CUIDADO: diplomatas lotados no setor consular mantêm suas imunidades diplomáticas.
→ Artigo 4o da Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas:

Para que a pessoa nomeada como Chefe de Missão Diplomática possa desempenhar suas
funções em caráter permanente, é necessário que se certifique do recebimento do Agrément.

“Artigo 4o
1. O Estado acreditante deverá certificar-se de que
a pessoa que pretende nomear como Chefe da
Missão perante o Estado acreditado obteve o
Agrément do referido Estado.

2. O Estado acreditado não está obrigado a dar ao


Estado acreditante as razões da negação do
Agrément. (...)”

Com a concessão do Agrément pelas autoridades do Estado, o Chefe da Missão Diplomática, em


caráter permanente pode dirigir-se ao Estado acreditado, se lá não já se encontrar, e entregar
suas credenciais.

→ Artigo 13 da Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas:

REGRA: credenciais a serem entregues ao Ministério das Relações Exteriores do Estado


acreditado. Estados, todavia, podem exigir prática diferente.

Ex.: no Brasil, a entrega de credenciais tem que ser ao Presidente da República.

“Artigo 13.
1. O Chefe da Missão é considerado como tendo
assumido as suas funções no Estado acreditado no
momento em que tenha entregado suas credenciais
ou tenha comunicado a sua chegada e apresentado
as cópias figuradas de suas credenciais ao
Ministério das Relações Exteriores, ou ao Ministério
em que se tenha convindo, de acordo com a prática
observada no Estado acreditado, a qual deverá ser
aplicada de maneira uniforme.
2. A ordem de entrega das credenciais ou de sua
cópia figurada será determinada pela data e hora
da chegada do Chefe da Missão.”

Obs.: Demais diplomatas que se encontram na Missão não precisam do Agrément.


→ Artigo 10 da Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas:

Basta o Estado acreditante informar o Estado acreditado quando da nomeação do diplomata e,


posteriormente, quando da sua chegada no território do Estado acreditado.

“Artigo 10.
1. Serão notificados ao Ministério das Relações
Exteriores do Estado acreditado, ou a outro
Ministério em que se tenha convindo:
a) a nomeação dos membros do pessoal da Missão,
sua chegada e partida definitiva ou o termo das
suas funções na Missão;
b) a chegada e partida definitiva de pessoas
pertencentes à família de um membro da missão e,
se for o caso, o fato de uma pessoa vir a ser ou
deixar de ser membro da família de um membro da
Missão;
c) a chegada e a partida definitiva dos criados
particulares a serviço das pessoas a que se refere a
alínea ‘a’ deste parágrafo e, se for o caso, o fato de
terem deixado o serviço de tais pessoas;
d) a admissão e a despedida de pessoas residentes
no Estado acreditado como membros da Missão ou
como criados particulares com direito a privilégios
e imunidades.
2. Sempre que possível, a chegada e a partida
definitiva deverão também ser previamente
notificadas.”

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