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VAINFAS, Ronaldo. História das Mentalidades e História Cultural.

IN:
CARDOSO, Ciro Flamarion. VAINFAS, Ronaldo (Orgs.).Dominios da historia :
ensaios de teoria e metodologia - Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

VAINFAS, Ronaldo. História das Mentalidades e História Cultural. IN:


CARDOSO, Ciro Flamarion. VAINFAS, Ronaldo (Orgs.).Dominios da historia :
ensaios de teoria e metodologia - Rio de Janeiro: Campus, 1997.

“Febvre e Bloch combatiam, pois, uma história somente preocupada com os


fatos singulares, sobretudo com os de natureza política, diplomática e militar.
Combatiam uma história que, pretendendo-se científica, tomava como critério
de cientificidade a verdade dos fatos, à qual se poderia chegar mediante
análise de documentos verdadeiros e autênticos (ficando os “mentirosos” e
falsos à margem da pesquisa histórica.)” (VAINFAS, Ronaldo IN: CARDOSO,
Ciro Flamarion. VAINFAS, Ronaldo. 1997, p. 193)

“Combatiam, enfim, uma história que se furtava ao diálogo com as demais


ciências humanas, a antropologia, a psicologia, a linguística, a geografia, a
economia e, sobretudo, a sociologia, rainha das disciplinas humanísticas na
França desde a obra de Durkheim.” (VAINFAS, Ronaldo IN: CARDOSO, Ciro
Flamarion. VAINFAS, Ronaldo. 1997, p. 193)

“chamada história nova, uma história problematizadora do social, preocupada


com as massas anônimas, seus modos de viver, sentir e pensar. Uma história
de estruturas de movimento, com grande ênfase no estudo das condições de
vida material, embora sem qualquer reconhecimento da determinância do
econômico na totalidade social, ao contrário do proposto pela concepção
marxista da história.” (VAINFAS, Ronaldo IN: CARDOSO, Ciro Flamarion.
VAINFAS, Ronaldo. 1997, p. 193-194)

“Uma história preocupada, enfim, não com a apologia de príncipes ou generais


em feitos singulares, senão com a sociedade global, e com a reconstrução dos
fatos em série passível de compreensão e explicação.” (VAINFAS, Ronaldo IN:
CARDOSO, Ciro Flamarion. VAINFAS, Ronaldo. 1997, p. 194)

“Se um historiador alemão Leopold Von Ranke realmente marginalizou o que


se poderia chamar de história sociocultural [...], inúmeros historiadores do
século XIX e início do XX deram contribuição inestimável à renovação dos
estudos historiográficos. Sem eles não se poderia compreender o surgimento
dos Annales, nem a preocupação com as mentalidades, que desde de cedo se
fez notar.” (VAINFAS, Ronaldo IN: CARDOSO, Ciro Flamarion. VAINFAS,
Ronaldo. 1997, p. 195)

“Foi o caso de Burckhardt e de seu estudo sobre o Renascimento (1860), no


qual a história aparece interpretada à luz da interação do Estado, da religião e
da cultura. Foi o caso do inglês Edward Gibbon com sua história sociocultural
do império romano, e de muitos autores não-franceses.” (VAINFAS, Ronaldo
IN: CARDOSO, Ciro Flamarion. VAINFAS, Ronaldo. 1997, p. 195)
Le problème de I’incroyance au XVI siècle: La religion de Rabelais (1942)
Lucien Febvre.

“Bloch e Febvre inauguram, pois, nos primórdios dos Annales, o estudo das
mentalidades, delas fazendo um legítimo objeto de investigação histórica. Mas
não se pense que eles foram os primeiros a se dedicarem ao estudo de
sentimentos, crenças e costumes na historiografia ocidental. Para citar apenas
alguns autores que lhes antecederam ou foram deles contemporâneos nessas
preocupações, vale lembrar o próprio Michelet, autor de La sorcière, em 1862,
e o importante Georges Lefbvre, autor de La grande peur, livro sobre onda de
pânico que varreu a França rural no contexto revolucionário francês. [...] não se
pode esquecer do grande historiador holandês Johan Huizinga, autor de
Outono da Idade Média, obra publicada em 1919 sobre sentimentos, costumes
e religiosidades na França e nos Países Baixos nos século XIV e XV.”
(VAINFAS, Ronaldo IN: CARDOSO, Ciro Flamarion. VAINFAS, Ronaldo. 1997,
p. 196-197)

“[...] não é exato dizer que o surgimento da história das mentalidades em fins
dos anos 60 tenha rompido totalmente com a tradição dos Annales e com as
concepções dos fundadores da história nova. Ao menos no tocante à
valorização de certos temas ligados à religiosidade, aos sentimentos e aos
rituais, o que parece ter ocorrido foi, não uma ruptura, senão uma retomada,
nos últimos 20 ou 30 anos, de antigas preocupações de Febvre e Bloch quanto
ao estudo mental.” (VAINFAS, 2011, p. 122)

“Em 1969 Braudel se aposentou, deixando em 1972 a preidência da 6ª seção


da École nas mãos de Jacques Le Goff, ao passo que a revista Annales
passou a ser dirigida pelos historiadores Jacques Revel e André Burguière,
pesquisadores que, como Le Goff, se dedicavam às mentalidades. Abriu-se,
assim, o caminho para que a produção historiográfica francesa fosse “do porão
ao sótão”, metáfora então usada para exprimir a mudança de preocupações da
base socioeconômica ou da vida material para os processos mentais, a vida
cotidiana e sua representações.” (VAINFAS, Ronaldo IN: CARDOSO, Ciro
Flamarion. VAINFAS, Ronaldo. 1997, p. 202)
MOTTA, Márcia Maria Menendes. História, memória e tempo presente. In:
CARDOSO, Ciro Flamarion. VAINFAS, Ronaldo. (Orgs.) Novos Domínios da
História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

“No século XIX, os historiadores também passaram a defender a separação


entre história e memória, mas por um viés oposto, sustentando que esta
termina onde começa aquela (HARTOG, 1990, p. 15). Assim, é mais do que
razoável admitir que a memória e a história não são sinônimos, pois,
diferentemente da primeira, a história oposta na descontinuidade, visto que ela
é, ao mesmo tempo, registro, distanciamento, problematização, crítica e
reflexão; ela é manejada, reconstruída a partir de outros interesses e em
direção diversas, e, para se opor à memória, a história tem ainda o objetivo de
denunciar e investigar os elementos que foram sublimados ou mesmo
ignorados pela memória.” (p. 25)

“[...] a memória exerce um poder incomensurável na construção de uma


identidade de grupo, consagrando os elementos pelos quais os indivíduos se
veem como pertencentes a determinado coletivo, muitas vezes em detrimento
de outrem. A força dessa memória aglutinadora é realimentada, reforçada,
reinventada constantemente, principalmente em situações em que uma
reflexão externa tenta solapar ou minar os elementos que unem o grupo e lhe
conferem um sentido particular.” (p. 25)

Os elementos constitutivos da memória

“ Em memória e identidade social, Michel Pollak procurou definir os elementos


constitutivos da memória. Em primeiro lugar, os acontecimentos vividos
pessoalmente ou, em outras palavras, aqueles que fazem parte de nós
mesmos, portadores de lembranças de um passado que se quer único. Em
segundo lugar, os vividos “por tabela”, ou seja, as possibilidades abertas pelo
fenômeno de projeção ou de identificação tão forte com um passado.”

“Isso significa dizer que é possível nos lembrarmos de algo que não nos atingiu
diretamente, mas que, por uma razão ou outra, contaminou nossa própria
lembrança. Assim, é coerente registrar que há acontecimentos que
traumatizam tanto um grupo, que a memória daquele fato por ser transmitida
ao longo dos séculos com altíssimo grau de identificação. Um terceiro elemento
assenta-se na ideia de que a memória também é constituída por personagens,
uma vez que há sempre exemplos de indivíduos que personificam determinada
lembrança. Por último os chamados lugares de memória, que podem ser
representados por museus, arquivos e monumentos. (POLLACK, 1992, p. 202).
(p. 27)

“Os elementos constitutivos da memória são importantes na medida em que


nos ajudam a compreender sua força e o seu poder, pois, a partir desses
elementos, ela realiza um esforço de unidade física dos membros que
compartilham lembranças singulares. Logo, tais elementos são também um
fenômeno socialmente construído, o que também nos permite afirmar que a
memória e a identidade “são valores disputados em conflitos sociais.”
(POLLACK, 1992, p. 204), (p. 27).
“É preciso, portanto, estar atento ao fato de que a memória se constrói na
lembrança, mas também no esquecimento. Em outras palavras, o processo de
construção de memórias implica escolhas entre os fatos do passado que, por
alguma razão, determinado grupo considera que devam ser
lembrados/rememorados; e, ao fazer escolhas, o grupo também sublima, oculta
ou esquece outros fatos. Tal aspecto é de fundamental importância para
delinearmos a relação entre passado e a história do tempo presente.” (p. 27)

“testemunho colhido a posteriori por sua própria natureza, é uma das


características da história do tempo presente.” (ROUSSO, 1996, p. 87)

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