Professional Documents
Culture Documents
RESUMO
ABSTRACT
The main purpuse of this article is to analyze the use of movies in class as an
efficient teaching method. To demonstrate how teachers, from public schools in
Capitão Leônidas Marques city take advantage when using this tool as
source/document to teach historical facts. We present the results, obstacles and for
this matter the interaction between the junior high students and historical movies they
had been watching as an educational method. The teachers shoed in class movies
such as “Oliver Twister” and “Daens – a shout for justice” to start a research among
the kids.
INTRODUÇÃO
Artigo produzido como requisito parcial para conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional
– PDE, Secretaria de Estado da Educação, Governo do Estado do Paraná, sob a orientação do Prof.
Vagner José Moreira, docente e orientador do PDE e do Curso de Graduação em História da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
∗
Professora da Rede Estadual de Educação Básica do Estado do Paraná, licenciado em História,
especializada em Didática e Metodologia de Ensino, docente do Colégio Antonio de Castro Alves.
2
1
Aqui trataremos como filme, as produções cinematográficas.
2
Segundo Schimidt (2005 p. 59), “Recursos são os materiais de que se dispõe para a ação didática”.
3
Básica, do Estado do Paraná, nas quais se afirma: “as imagens, livros, jornais,
histórias em quadrinhos, fotografias, pinturas, gravuras, museus, filmes, músicas são
documentos que podem ser transformados em materiais didáticos de grande valia
na constituição do conhecimento histórico” (PARANÁ, 2006, p.52).
É inegável a necessidade de integrar diferentes linguagens nas aulas de
História em todos os níveis de ensino. Neste contexto, os filmes são recursos que
mais facilmente são incorporados à rotina escolar e por esse motivo passou a ser
um grande aliado do docente, uma vez que se pode extrair deles informações e
reflexões.
Ver filmes compreende olhares diferenciados num processo integrado que
parte da perspectiva de que é tão importante sua apreciação quanto sua leitura. Tal
apreciação e leitura, entretanto requer um mínimo de informações acerca de
aspectos variados sobre os elementos constitutivos da linguagem cinematográfica:
enquadramento (planos, angulação, movimento de câmara), a fotografia (iluminação,
textura, cor, profundidade de campo), o som (a música, os ruídos e os diálogos), os
efeitos visuais (produção de imagens não reais), arte (figurino, cenografias,
maquiagem) e a montagem (organização e colagem de fragmentos filmíticos).
Realizar uma leitura filmítica denota desconstruí-lo para reorganizá-lo
posteriormente dando-lhe significados antes não percebidos. Portanto, educar para
essa leitura significa sensibilizar-se e saber sensibilizar, formar o sujeito por meio da
experimentação e envolvê-lo em todo processo de ensino-aprendizagem.
Marc Ferro, talvez a maior referência dentro da história quando se trata do
uso do cinema como fonte, em sua obra Cinema e História, não analisa o cinema
por uma perspectiva artística, mas como um objeto de estudo. Ele vê o cinema como
uma construção, como uma montagem. Ele entende que oculto na construção de um
filme existe “uma zona de realidade não-visível, que por trás do conteúdo aparente
existe um conteúdo latente, o qual pode revelar algo sobre uma dada realidade”
(FERRO, 1992, p. 88). Portanto, reconhece a película como um material histórico e
está ciente das intervenções, dos recortes e aponta para o que está explícito e
implícito, revelando aspectos da realidade que ultrapassam os objetivos do
realizador. Privilegiando, desta forma, o momento da produção dos filmes, torna-se
significativo reafirmar a análise dos mesmos não se restringe ao seu conteúdo,
àquilo que retratam nas telas, mas também que transmitem valores e expectativas
daqueles que os produzem (diretor, roteirista, produtor, atores, entre outros), além da
5
O cinema não é uma matéria para a fruição e a inteligência das emoções; ele
é também matéria para a inteligência do conhecimento e para a educação,
não como recurso para a explicação, demonstração e afirmação de idéias, ou
negação destas, mas como produto da cultura que pode ser visto,
interpretado em seus múltiplos significados, criticado diferente de muitos
outros objetos culturais, igual a qualquer produto no mercado da cultura
massiva (ALMEIDA, 2004, p. 32).
O filme possui uma estrutura em sua produção que deve ser levada em
consideração enquanto material para a produção do conhecimento histórico. Os
meios de comunicação de massa não podem ser ignorados pela escola, pois
exercem influência significativa na vida das pessoas. Assim, a escola deve buscar
respostas para as novas necessidades que surgem e desvelar as linguagens no
cotidiano escolar, uma vez que as imagens em movimento chamam a atenção dos
7
6
No cotidiano de nossos alunos e professores a noção “filme” está relacionado ao cinema.
7
Trataremos aqui como “vídeos” os filmes que podem ser utilizados na sala de aula como material
histórico para a produção do conhecimento.
8
Às vezes
36%
Sim
Não 60%
4%
6%
7%
87%
10%
7%
83%
Um momento de lazer Como uma aula devo levar a sério Como passatempo
Gráfico 03: Como percebe a utilização dos filmes e vídeos em sala de aula.
10
64%
6%
27%
3%
Ajudam na aprendizagem dos conteúdos, pois tudo que vejo e ouço aprendo melhor
Não contribuem para aprendizagem dos conteúdos
Depende do gênero do filme ou vídeo apresentado
Não gosto de filmes e vídeos durante as aulas
73%
27%
Constantemente Esporadicamente
linguagens nas aulas, isso tem contribuído para melhorar não somente o ensino de
História como das demais disciplinas.
Escola C Com o objetivo de esclarecer melhor o conteúdo. [Como assim, esclarecer?] Como
eles estão representando um tema da história, ajudam os alunos ver como era
naquela época. Bom... assim, por exemplo, o filme “O gladiador” representa a
Roma Antiga..
Escola D Meu objetivo é mais para enriquecer a aula. Porque eu dou o conteúdo todo e uso
também como reforço. Até às vezes eu uso o vídeo como uma recuperação com
outros trabalhos feitos em casa.
A pretensão neste caso é que o filme venha fixar aquilo que o professor
explicou na sala de aula conforme constatamos nas três narrativas. Os professores
reconhecem no filme um aliado na compreensão do processo histórico. Aquilo que o
aluno não aprendeu durante a exposição do conteúdo na aula, irá compreender e
aprender durante a exibição do filme. Parece-nos neste caso, que na compreensão
destes professores, os filmes são compostos de verdades incontestáveis da história
real, sem ficção. Isso é preocupante, pois o papel do professor é de justamente
alertar os alunos que o filme não é um túnel do tempo, onde se mergulha e conhece
a história. Mas que o filme é um produto de valores, de tensões do momento em que
foi produzido e que constrói a realidade. O papel do professor é de justamente
14
Na verdade, o professor deve refletir sobre como a imagem foi formada e qual
a relação que há com a sua significação.
A segunda tendência na análise dos objetivos é a ilustrativa, que se revela em
duas das narrativas.
Nessas narrativas ficou evidente que os filmes são usados como elementos
motivadores de “oxigenação” da aula de história, já que é uma linguagem que os
alunos apreciam e sentem-se confortáveis ao ver a história. Sem preocupação
sistemática, formativa e reflexiva, o universo imagético do aluno é apenas do
entretenimento.
Ambos os casos implicam na falta de formação do professor, falta de um
preparo no sentido de trabalhar com a linguagem filmítica e sobre as suas
possibilidades metodológicas no processo de construção de um saber escolar. Essa
constatação se formaliza quando questionamos:
15
40%
60%
Sim Não
Gráfico 06: Já leu algum artigo, livro ou realizou curso sobre a utilização desses recursos em sala de
aula?
Escola D (...) inclusive observo o tempo da duração, porque 120 min. 150 min, são longos.
Os filmes estão vindos todos assim, e a gente acaba perdendo tempo porque tem
poucas aulas e acaba ficando é... mais no filme.
(...) quando se utiliza uma metodologia de modo impreciso – sem ter claros os
objetivos educacionais – acaba perdendo a credibilidade, caindo no
descrédito. (...) Que filmes utilizo? Que cenas? Essa pergunta é quase uma
“questão íntima”, pois, afinal, as cenas, filmes, diálogos que funcionam para o
aluno, são aqueles que funcionam antes para o professor. O que me atinge e
me faz pensar, o que evoca sentimentos e emoções, o que pede reflexão e ser
compartilhado, é o que posso levar, com sinceridade e transparência até os
meus alunos (BLASCO, 2006, p.64-5).
b - Faixa etária:
Como o cinema é produzido com finalidade comercial, cenas indevidas e não
apropriadas podem aparecer a qualquer momento. Sobre esse critério o professor
da escola B relata:
Escola D Eu vejo se tem relação com aquele conteúdo que está sendo ensinado, porque
sempre a gente está buscando o reforço, mas não só o reforço naquilo que a gente
já ensinou. Busca também do conhecimento, porque pra esse não tem idade
Escola E Não pegar um filme sem antes preparar sem ver se aquele conteúdo vai estar
dentro do filme ou não
d- Dublagem
A professora da Escola C descreveu:
O ponto mais relevante desta narrativa é quando o professor cita que colegas
usam o filme para “matar tempo”. Percebemos neste caso que a falta de objetividade
no uso do recurso compromete o trabalho dos demais. Isso não se aplica somente
aos professores de História, abrange professores de outras disciplinas e, como narra
a professora, até a equipe pedagógica usa, equivocadamente, o recurso.
Como propõe a literatura, quando trazemos a película para a sala de aula,
devemos estar cientes das responsabilidades que esta atividade implica. Planejar a
aula deve ser a primeira atitude do professor engajado na aprendizagem de seus
alunos e preocupado com a capacidade analítica dos mesmos. O docente que não
planeja, não tem objetivo definido para o filme, torna a aula com esses recursos
enfadonha, limitada e repetitiva, transformando-a num mero momento de lazer.
Novamente surge o problema da falta de aula e de aula geminadas para usar
filmes. No entanto o relato do professor propõe uma solução a tal situação: o
recorte. Porém, essa solução implica em outros fatores: saber fazer e ter os
equipamentos (aparelhos) necessários para este fim. Como bem sabemos as
escolas e professores não dispõem de recursos ou estes são escassos e usados
para situações mais emergencias. Por este motivo, essa proposta do “recorte” fica
um pouco distante de ter solução.
O professor da escola D levanta outra questão interessante a falta de vídeos
de produção didática nas escolas:
Narrativas dos Professores das Escolas Pesquisadas
A dificuldade é que praticamente filme relacionado a parte didática quase não tem,
Escola D
agora tem alguns curtas no youtube, as TVs pen drive8 e os pen drive que o
governo mandou, mas ainda não usei o meu, mas estou acessando a internet.
Estou preparando agora um material que sei que vou enriquecer meu trabalho
muito mais que os anos anteriores. A dificuldade de encontrar os vídeos e filmes
também é uma dificuldade. No NRE tem uma lista de filmes e vídeos, mas você vai
procurar e não tem. Então essa é a dificuldade. Agora com as televisões (pen
drive), uma em cada sala, já está mais fácil, mas também tem a dificuldade de
encontrar material [Então a sua maior dificuldade é de encontrar material e de
preparar esse material?] É...é isso, agora veio uns DVDs na biblioteca do professor,
mas tem alguns que são mais direcionados a nós professores... mais preparação
para nós professores. Diretamente para o aluno é difícil de conseguir.
relatório. Faço eles fazerem analise critica do filme analisando com o conteúdo
apresentado no livro
Escola C Primeiro eu trabalho o conteúdo tal... Analiso o contexto todo do livro, quando eu
uso o filme eu vou passando e vou explicando, relacionando e lembrando do que
nós já tínhamos visto durante a aula expositiva do conteúdo. No final faço um
debate com todos e um resumo escrito e tenho por costume cobrar na avaliação
algumas questões relacionadas com o filme.
9
Mesa redonda na compreensão do professor é a forma de organizar os alunos em circulo para
debater o tema.
10
Assembléia: o professor se refere ao fato dos alunos se alternarem em frente à classe para
argumentar sobre o tema proposto.
23
Oliver Twist
24
Este filme produzido e dirigido por Roman Polanski, baseado na obra literária
do inglês Charles Dickens. Retrata a história das aventuras de Oliver Twist (Barney
Clark) um órfão entre as centenas que sofrem com a fome e o trabalho escravo na
Inglaterra vitoriana. Vendido para um coveiro, ele sofre com a crueldade desta
família e acaba fugindo para Londres. Lá, ele é recolhido das ruas por Artful Dodger
(Harry Eden), um ladrão que o leva até Fagin (Ben Kingsley), um velho que
comanda um exército de pequenos marginais e adolescentes prostitutas.
Antes de assistir ao filme foi entregue uma ficha roteiro11 do filme para os
alunos com base no que trataria posteriormente a análise. As duas aulas que
seguiram após assistir ao filme foram usadas para a sistematização da análise do
filme.
Inicialmente, os alunos da classe foram divididos em cinco grupos. Para cada
grupo foram entregues as tarefas com as quais iriam trabalhar que consistia no
seguinte:
Ao primeiro grupo foi entregue um texto que traz informações sobre a
biografia do escritor britânico Charles Dickens. Este grupo analisou a relação
existente entre a vida de Dickens com a história de Oliver e as possibilidades que
tenha levado Dickens a escrever esta obra.
O segundo grupo recebeu alguns capítulos da obra literária de Charles
Dickens, “Oliver Twist”. Eles analisaram a obra relacionando com o filme,
observando a maneira que Roman Polanski retratou Oliver Twist em seu filme e se
foi fiel à obra original de Dickens.
O Terceiro grupo analisou o contexto do trabalho infantil na Inglaterra século
XIX (Era Vitoriana), confrontando as cenas do filme com o item “Infância” do livro de
Edward Thompson.
O quarto grupo recebeu duas reportagens atuais que abordam a exploração
de crianças em atividades criminosas no tráfico e a prostituição infantil, que já não
são exclusividade de grandes centros urbanos. Analisaram diferenças e
permanências sobre a vulnerabilidade das crianças frente aos problemas sociais,
que as tornam “presas” fáceis de exploradores.
O quinto grupo tratou da linguagem cinematográfica. Observando cenas
quanto à trilha sonora, o enquadramento e luminosidade e para qual público o filme
11
Ficha composta por duas partes: Primeira os dados técnicos do filme (nome, direção, nacionalidade,
ano que foi produzido, nome dos atores, duração, gênero etc). A segunda parte é a de interpretação.
25
como exemplo o menino “Oliver” (Barney Clark), personagem que exigia um ator
com aparência frágil e olhar triste, para transparecer aos espectadores o sofrimento
do menino, assim como o personagem vilão “Fagim” (Ben Kingsley) que também
deveria ser composto de uma aparência nada agradável, já que explora crianças e
passa a elas temor. Polanski usa uma luminosidade sombria no filme, as cores
usadas nos figurinos dos personagens são opacas em tons desbotados Esses tons
de sombra e cor empregadas era intencional, para dar idéia de melancolia, dor e
sofrimento ao telespectador. Assim, sofrer com o menino “Oliver” compõe as
intenções do diretor. Concluíram que o filme foi produzido para um público
infantil/jovem, já que é carregado de aventuras e a trilha sonora contribui para dar
movimento, medo e sobressaltos nas cenas, assim proporcionando mais emoção a
quem assiste.
Para este filme foi usada outra técnica, porém como no filme de “Oliver Twist”
antes de assistir ao filme também foi entregue aos alunos a ficha roteiro.
Como este filme é baseado na história real do padre belga Adolf Daens (Jan
Decleir), que foi um “pioneiro” na luta pelos direitos dos trabalhadores na virada do
século XIX para o século XX. Impressionado pela miséria que presenciava, passa a
lutar por direitos para os trabalhadores. Nessa época, as tecelagens do norte da
Bélgica decidem substituir os operários homens por mulheres e crianças, a quem
pagam salários menores, conseguindo assim, manter preços que permitiam
enfrentar a concorrência da indústria inglesa.
A técnica aqui aplicada foi o debate livre para estabelecer as diferenças de
leitura e análise. Os alunos foram dispostos em círculo, de forma a facilitar o diálogo
entre alunos e professor. O início do debate se restringiu na análise do nome do
filme “Daens – um grito de justiça”. Pelo diálogo interativo, os alunos chegaram à
conclusão que o Padre Daens, lutou quase solitário pela justiça social na cidade
Aalst. Baseou-se nos princípios evangélicos e na doutrina social da Igreja Católica,
através da Encíclica “Rerun Novarun” do Papa Leão X, contrariando a ideologia
liberal dos capitalistas e membros da própria Igreja, que se opunham as pregações
de Daens, como sendo estas fossem um discurso socialista. Perspectiva política
combatida pela Igreja e sociedade capitalista. Os trabalhadores não participavam
27
dos movimentos trabalhistas, pois se sentiam acuados. Temiam perder a única fonte
de renda, apesar do ganho miserável.
Na segunda parte, para uma análise histórica, relembramos os trechos dos
livros de “O capital” de Karl Marx e o item “Infância” de Edward Thompson, já lidos
pelos alunos em outro momento, a fim de confrontar tais obras com o filme, quanto
às condições de vida e de trabalho dos operários, principalmente das crianças
trabalhadoras.
Nessa análise, os alunos pontuaram as situações comuns entre as obras
literárias e a filmítica, tais como: as excessivas horas de labor dos trabalhadores,
sejam eles homens, mulheres e crianças, as condições de trabalho, inexistência de
leis trabalhistas, salários miseráveis e as condições deploráveis de vida dos
trabalhadores.
No terceiro momento levantamos alguns questionamentos tais como: O voto é
importante para o trabalhador? Que garantias trabalhistas existem hoje no Brasil?
Que leis protegem as crianças? O trabalho infantil acabou?
Essas questões não tinham a intenção de obter resposta ajustadas, mas com
o objetivo de levá-los a pensar e refletir sobre situações do presente. Observamos
que os alunos aproveitaram bastante a oportunidade que tiveram de se manifestar,
apesar de que a intervenção do professor ser constante para a palavra não ser
monopolizada pelos alunos mais extrovertidos ou os mais “maduros”
intelectualmente. Contudo, o desenvolvimento do debate por questão de “tempo”
ficou limitado a uma aula de 50 minutos, o que dificultou avançar mais nas reflexões.
Por esse motivo deixamos de levantar questões interessantes para serem
problematizadas como: os movimentos sociais dos trabalhadores, a Teologia da
Libertação, as mediações da Igreja, ou de setores do clero, nas questões políticas e
sociais e nas lutas dos trabalhadores na contemporaneidade, entre outras
associadas ao presente, que podem ter interferido na produção do filme.
Sabemos que o filme carrega consigo uma carga de subjetividade, sendo este
produto de intencionalidades, conscientes ou não, do meio em que foi produzido,
assim como do contexto social, político, econômico e cultural do qual se originou. É
neste momento que, ao lidar com a imagem cinematográfica, que significam um
determinado período e acontecimento histórico, deve-se trazê-lo ao presente, ou
seja, pensá-lo enquanto objeto inserido em uma determinada temporalidade.
Finalizamos nosso trabalho com uma produção de texto, em que os alunos
compararam as duas obras filmíticas. O texto selecionado para referenciarmos neste
28
12
Na transcrição do texto do aluno, preservo-se a originalidade da linguagem por ele empregada.
13
O aluno se refere aos trechos das obras de Karl Marx e Eduard P. Thompson.
29
filme, não teríamos conseguido fazer as reflexões necessárias sobre o tema. Isso
nos aponta que o uso do cinema não pode ser uma atividade isolada em si mesma,
trabalhar com outros documentos não isola o filme.
A experiência evidenciou que os filmes podem tornar-se cansativos e não
prender a atenção dos alunos por todo o tempo de duração, assim, além da edição
do filme como possibilidade, exige-se do professor um trabalho de desconstrução da
indústria cultural do cinema, que homogeneíza e dissemina determinados padrões
culturais.
Compreendemos que o professor deve estar atento a linguagem do cinema já
que este não é apenas um “veículo de comunicação de massa”, mas constitui-se
numa prática social, tem potencial de influenciar e interferir sobre a realidade
presente e passada, disseminando valores e projetos de grupos hegemônicos.
Como nenhum filme é neutro, o professor ao propor o uso da linguagem
cinematográfica, tem como objetivo didático desenvolver nos seus alunos
competência de analisar, criticar e interpretar essas fontes como documento. A partir
do momento que reconhece o papel das diferentes linguagens e contextos
envolvidos na sua produção, proporciona maior autonomia dos alunos frente às
imagens.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Milton José de. Imagens e sons: a nova cultura oral. 3ª ed. - São Paulo,
Cortez, 2004. (Coleção questão da nossa época; v.32).
MACIEL, Laura Antunes; ALMEIDA, Paulo Roberto de; KHOURY, Yara Aun. Outras
histórias: memórias e linguagem. São Paulo: Olho d’Água, 2006.
MORAN, José Manoel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas
tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2000.
NAPOLITANO, Marco. Como usar o cinema na sala de aula. 4. ed. São Paulo:
Contexto, 2008.