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Crescimento e Desigualdades

Relação entre os dois conceitos

André Baixinho nº 82934


Gonçalo Malveiro nº 82726
Hugo Delgadinho nº 83689
Licenciatura em Economia
Turma EB1
Relatório académico no âmbito de Economia do Trabalho e dos
Recursos Humanos
Lisboa, 29 de novembro de 2018
Índice

Introdução…………………………………………………………………………………………………….. 3
Capítulo 1- Um crescimento desigual…………………………………………………………. 4

Capítulo 1.1- Problema…………………………………………………………………………………. 7


Capítulo 2- A curva de Kuznets……………………………………………………………………… 8

Capítulo 2.1- A verificação da teoria……………………………………………………………… 9

Capítulo 3- A visão de Piketty…………………………………………………………………….. 11


Capítulo 4- O que intensifica as desigualdades?............................................. 12

Capítulo 5- Dados estatísticos que complementam a teoria…………………………. 13


Capítulo 6- Singapura “um exemplo por excelência” …………………………………….. 15

Conclusão……………………………………………………………………………………………………… 17
Summary………………………………………………………………………………………………………. 19
Referências Bibliográficas……………………………………………………………………………… 20

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Introdução
Com o novo paradigma mundial em que desde a segunda metade do século XX
as economias a nível mundial, mas principalmente dos países mais desenvolvidos, têm
experienciado crescimentos a níveis macroeconómicos de longo prazo, com esta ideia
em mente suscita-nos a dúvida relativa ao bem-estar social consoante o crescimento, e
para isso iremos analisar como se desenvolveu a evolução das desigualdades com a
evolução das economias e de todos os agregados que dela fazem parte. O relatório
envolverá a análise de indicadores quer relativos a desigualdades sociais, como o índice
de Gini, quer relativos ao nível geral da “saúde” de uma economia, recorrendo por
exemplo ao PIB, relativos em grande parte à economia norte americana e alguns países
mais desenvolvidos da Europa, pois são estes os mais influentes pudendo alterar a
funcionamento do mundo por simples políticas.
O principal objetivo com a realização deste estudo é desmistificar a relação entre
estas 2 variáveis e como estas mesmas foram moldando a nossa vida atual e tendências
para qual poderá ser o nosso futuro se nada for alterado, para puder alcançar conclusões
com algum significado e que possam ser utilizadas no seio académico pretendemos fazer
em primeiro lugar uma contextualização da evolução da relação entre as 2 variáveis em
estudo seguido de uma problematização do problema do panorama atual, de seguida
apresentar algumas das teorias que vigoram na explicação de existir ou não conflito
entre elas, nomeadamente a teoria de Kuznets, com a sua curva de Kuznets, e a visão
de Piketty com a sua ideologia do capital, por fim ilustraremos um caso modelo de um
dos tigres asiáticos, a Singapura, para retirar as “fórmulas” do papel e mostrar como o
mundo funciona fora da teoria.
A linguagem a ser utilizada neste relatório é de caracter científico, com termos
que não são inteiramente do conhecimento da população não especializada, destinado
ao mundo académico, mas também com interesse para o mundo político, na medida
que grande parte das decisões a nível de rendimento estão ao seu dispor.

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Capítulo 1- Um crescimento desigual

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo assistiu a níveis de


crescimento relativamente constantes, tal como está visível no gráfico da figura 4. O
início dos anos 50 foram uma “era dourada” para os Estados Unidos que registaram um
crescimento especialmente mais acelerado (Stiglitz, 2018). No entanto, será que este
desenvolvimento se traduziu numa distribuição equitativa de rendimentos e riqueza?

Figura 1: PIB médio

Fonte: WID, 2017a

Uma análise detalhada à distribuição do rendimento a nível nacional dos Estados


Unidos da América e da Europa Ocidental entre 1980 e 2016 permite ver até que ponto
o crescimento do PIB se traduziu, ou não, num crescimento equitativo entre as
populações com maior e menor rendimento. Em 1980, tanto os Estados Unidos (figura
2) como a Europa Ocidental (figura 3) apresentavam valores semelhantes entre o 1% de
população mais rica e os 50% da população com menos rendimentos, sendo esta última
a detentora da maior “fatia” do rendimento. Contudo, enquanto que a Europa registou
variações ligeiras, os Estados Unidos destacaram-se pelo grande aumento no
rendimento do 1% mais rico, subindo dos cerca de 10% para os 20%. Em contrapartida,

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a metade da população mais pobre desceu dos cerca de 20% para os 13%. Esta grande
diferença, claramente evidente nos Estados Unidos da América, traduziu-se na abertura
de um fosso cada vez maior entre os ricos (1%) que ficam cada vez mais ricos, e os pobres
(50%) que ficam cada vez mais pobres.

Figura 2: Top 1% vs bottom 50% nos Estados Unidos, 1980-2016

Fonte: Alvaredo et al., 2017

Figura 3: Top 1% vs bottom 50% na Europa Ocidental, 1980-2016

Fonte: Alvaredo et al., 2017

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Por outro lado, a análise das desigualdades também poderá ser feita a partir do
estudo do crescimento dos rendimentos por percentil ao longo dos anos (figura 4) nas
regiões Estados Unidos-Canadá e Europa Ocidental, que é onde se encontra a população
dos países com maiores rendimentos (Alvaredo et al., 2017). Uma vez mais, é evidente
a forma como o “top 1%” aumentou bastante ao capturar cerca de 28% deste
crescimento ao passo que os 50% mais pobres apenas retiveram 9%. Perante esta
diferença significativa, denota-se que os rendimentos mais baixos, de certa forma,
estagnaram face aos rendimentos mais elevados, o que por sua vez contribui para
agravar a crescente discrepância entre rendimentos.

Figura 4: Crescimento total dos rendimentos por percentil, 1980-2016

Fonte: Alvaredo et al., 2017

Face à conjetura atual, a Oxfam (Oxford Committee for Famine Relief) tem por
hábito publicar anualmente, nas vésperas do Fórum Económico Mundial em Davos, um
documento que sumariza e denuncia as disparidades na distribuição da riqueza e dos
rendimentos a nível mundial. Para tal são utilizadas analogias, como foi o caso de 2016,
em que se afirmou que bastava apenas um autocarro com os 62 multimilionários mais
ricos para igualarem a riqueza dos 3,6 mil milhões de pessoas mais pobres do planeta

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(Clarken, 2016). Mais recentemente, em janeiro de 2018, a Oxfam voltou novamente a
publicar o seu relatório afirmando que 82% da riqueza produzida em 2017 foi para o 1%
da população mais rica (Hope, 2018).

Figura 5: Pessoas ricas que têm tanto dinheiro como metade do mundo

Fonte: Dickerson, 2016 (Com base nos dados da Oxfam, 2016)

Capítulo 1.1- Problema

Num mundo em que o desenvolvimento económico cresce e as desigualdades


de rendimentos e riqueza também crescem, surgem várias questões ao analisar-se a
relação entre estes dois parâmetros. À partida, quais as correntes teóricas que analisam
esta relação e de que formam é que a interpretam? Quais poderão ser as causas e as
consequências por detrás dos indicadores anteriormente analisados? No mundo atual,
existe algum exemplo em que foi possível conciliar crescimento económico com
diminuição das desigualdades?

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Capítulo 2- A curva de Kuznets

Simon Kuznets abordou a questão das desigualdades dos rendimentos em 1955


num artigo publicado na American Economic Review onde considerava a influência do
crescimento económico nas mesmas. Para Kuznets (1955), o crescimento económico
leva a uma redução das desigualdades, e ele chegou a esta conclusão através de um
estudo realizado com base em dados históricos de três países desenvolvidos; Alemanha,
UK e EUA. Com os dados recolhidos, o autor concluiu que desde o início da 1ª Guerra
Mundial, as desigualdades nos rendimentos nestes países tinham diminuído, mas a
ritmos diferentes. O autor também tentou explicar o efeito que o rendimento tem sobre
as desigualdades, dizendo que o fator principal que leva à diminuição das desigualdades
é a industrialização. Para ele, o aparecimento e desenvolvimento de indústrias leva a
que as populações mais pobres que trabalham no sector agrícola migrem para as zonas
industrializadas, onde conseguem empregos com mais facilidade e com remuneração
mais elevada. Numa fase inicial, quando apenas uma pequena parte da população
emigra e a maioria da população continua a trabalhar no sector agrícola, verifica-se um
aumento das desigualdades, porém, depois quando a maioria da população emigra para
as cidades (êxodo rural), as desigualdades de rendimentos diminuem visto que agora
grande parte da população trabalha em cidades industrializadas onde os rendimentos
são mais aproximados para os operários.

Figura 5: Curva de Kuznets


Fonte: Ayesha, J.

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O trabalho realizado por Kuznets foi muito respeitado e reconhecido como um dos
melhores estudos sobre a correlação entre crescimento económico e desigualdades,
mas nas últimas duas décadas segundo Lyubimov (2017) tem vindo a ser criticado por
diversos motivos, entre os quais;

 Falta de dados que confirmem o nível de igualdade nos 3 países originalmente


estudados;
 Falta de dados que comprovem um aumento nas desigualdades durante a
industrialização;
 O facto de o próprio Kuznets admitir que a sua explicação não passa de uma
hipótese, sendo necessários mais dados para se poder comprovar.

Kuznets também é criticado por concluir que é o crescimento que afeta as desigualdades
e não o oposto, mas ao assumir isto ele não refere nada que possa comprovar esta
relação.

Capítulo 2.1- Verificação da teoria

A teoria proposta por Kuznets tem sido testada à várias décadas. Existem observações
que verificam a existência de uma U-curve invertida que relaciona o crescimento
económico com as desigualdades, demonstrando a hipótese proposta por Kuznets. Para
este economista, numa fase inicial de crescimento económico, o rendimento per capita
de um país aumenta levando a que a desigualdade na distribuição de rendimentos
aumente, atingindo assim o ponto máximo da curva invertida. A partir desse ponto, as
desigualdades diminuem devido aos aumentos continuados do rendimento per capita
devido ao crescimento económico, completando assim a curva ao fazer um U invertido.
No entanto, estas observações têm limitações, o que não permite provar o modelo de
Kuznets.

Um dos principais argumentos apresentados por Lyubimov (2017) usados contra a


hipótese de que o crescimento económico leva a uma redução das desigualdades é que
os dados que Kuznets usou aquando do seu estudo eram dados de períodos
conturbados, como a Grande Depressão e as Guerras Mundiais. Como exemplo, durante

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as guerras foram impostos muito elevados de forma a financiar as despesas de guerra,
sendo mais afetados os grandes detentores de capital, levando assim a uma diminuição
significativa da sua fortuna. Depois das 2ª Guerra Mundial, quando se voltou a uma era
de normalidade social, as desigualdades começaram a aumentar rapidamente e
atingiram os valores existentes antes da 1ª Guerra Mundial. Deste modo, a hipótese
proposta por Kuznets é negada.

Outro problema com a teoria de Kuznets é o facto de este ter estudado apenas a relação
entre crescimento económico e desigualdades em países desenvolvidos; desta forma,
na década de 1970 começaram a ser feitos estudos para verificar o que se verificava nos
países em desenvolvimento. Vários estudos apontados por Lyubimov (2017) (Ahluwalia,
1976; Bourguignon and Morrison, 1990; Paukert, 2007) chegaram ao mesmo resultado;
países pobres e países ricos eram caracterizados por existir menor desigualdade do que
os países de rendimento médio. Contudo, nenhum destes estudos comprava o que
Kuznets propôs, pois os estudos não avaliaram a evolução da desigualdade num país
mas sim num momento pontual.

De forma geral, a correlação proposta por Simon Kuznets não é confirmada.

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Capítulo 3 - Visão de Piketty

Thomas Piketty, economista francês nascido em 1971, tem uma visão diferente
de Simon Kuznets, pois segundo Lyubimov (2017:7) Piketty “demonstra que não existe
diminuição automática na desigualdade num estado mais avançado de
desenvolvimento económico, em particular desenvolve uma Curva de Kuznets para um
período de 100 anos, de 1910 a 2010, e segundo este, a percentagem do decil (1/10)
com maior rendimento diminuiu entre 1920 até ao final da 2ª Guerra Mundial e
estabilizou até 1980, no entanto, a partir de 1980, quando políticas de privatização e
desregulação foram postas em prática este decil aumentou substancialmente. Se
incluirmos a informação do Século XIX a curva de Kuznets em vez de ter forma de U
invertido, apresenta uma forma de S, pois no início desigualdade era baixa, depois
aumentou até 1920 mantendo se relativamente baixa até 1980 quando voltou a
aumentar.” , ou seja contrariamente à visão de Piketty, após um período de elevada
desigualdade beneficiando os 10% mais ricos, não vem necessariamente uma época de
igualdade eternamente, Piketty demonstra que como acontece normalmente no
funcionamento da economia as desigualdades podem ser cíclicas, tendo existido uma
maior expressão a partir de 1980, isto aconteceu como está referido na citação acima
devido a desregulação no mercado nomeadamente por redução dos impostos sobre o
rendimento e reduzindo apoios sociais, o que pode estimular a procura e incentivar o
aumento do emprego, mas tem o efeito perverso de aumentar a riqueza nas mãos de
poucos, pois os impostos são baixos e como os salários podem diminuir, aumenta o hiato
entre as várias classes.

Figura 8: Percentagem do rendimento do decil


mais elevado na Europa e nos E.U.A.

Fonte: Science

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Segundo Lyubimov (2017) expondo as conclusões de Piketty, nem em outros países
europeus se verificou a tendência de Kuznets, e a razão para que não estivesse a
funcionar, é que Kuznets apenas tomou em consideração os rendimentos provenientes
do trabalho, e estes são distribuídos de forma mais equitativa comparativamente ao
capital, o capital, variável fundamental para Piketty, que inclui ativos como terrenos,
imobiliário, capital financeiro, etc. O autor afirma que Piketty via as desigualdades como
parte inerente ao capitalismo e é uma preocupação a ter em conta pois transponha o
poder para as mãos de uma pequena minoria, que deste modo, controlavam a esfera
política e económica.

Capítulo 4- O que intensifica as desigualdades de rendimento?


Apesar do crescimento económico experienciado em muitos países segundo o
relatório da OCDE (2014) existe uma série de mecanismos que intensificam as
disparidades da redistribuição do rendimento a que eles chamam “drivers of
inequalities”, entre eles estão:
 Evolução tecnológica, dado que o progresso tecnológico tem beneficiado os
trabalhadores com maior formação, especialmente nos países da OCDE, como
foi referido no relatório de 2014, em primeiro lugar trabalhadores com menos
formação foram dispensados para o trabalho ser efetuado por maquinaria, e
também trabalhadores com conhecimento de ICT (information and
communications technology) experienciaram nos últimos tempos de ganhos no
rendimento, enquanto que o resto continuou igual aumentando o hiato entre os
rendimentos dos vários trabalhadores;
 Mudanças nas condições de trabalho, aumento do trabalho parcial e contratos
de termos diferentes do normal, assim como uma redução de incentivo para a
negociação coletiva salarial, como referido no relatório de 2014;
 Aumento de rendimentos provenientes do capital, verificado através do wealth-
to-income rácio, que exibiu um aumento desde a segunda metade do século XX,
e apesar de ser positivo para o PIB de um país, não é tão positivo para a
população que pode sofrer devido a esta má redistribuição.

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 Globalização, a nível da opinião pública é retratado como a principal causa de
desigualdades, mas segundo a análise feita no relatório da OCDE de 2014 é
afirmado que apesar do receio que os trabalhadores com menos rendimento
fossem afetados pela interação internacional e chegou se a conclusão que o
aumento de importações de países mais pobres aumentou o intervalo de
rendimentos mas apenas em países com IPLT mais baixo.

Capítulo 5- Dados estatísticos que complementam teoria


Verificando a teoria num dos países mais influentes do mundo, os E.U.A., apesar
de um crescimento por ano relativamente constante, como verificado na figura 1, obtido
através da aplicação de logaritmos ao valor do PIB, linearizando assim a evolução dos
valores, com a particularidade de haver apenas uma pequena quebra em 2009, como
consequência da crise dos subprime, seria de esperar que quanto maior o nível geral de
todos os bens e serviços de consumo final produzidos num certo país isto se traduzisse
numa melhoria do bem estar geral, mas não foi essa a tendência verificada, pois com o
aumento do PIB verificado a partir de 1980 verificou se através do índice de GINI, na
figura 2, que a partir de 1980 os valores foram aumentando, e como segundo o índice
de GINI quando mais próximo é o valor de 1, maior é a desigualdade, uma aproximação
dos valores ao numero de referência apenas significa que existe uma maior
concentração de riqueza nas mãos de poucos.
Expandindo o espetro para nível dos países da OCDE, apesar de níveis de
crescimento elevados em grande parte deles, como no Canadá com taxa de crescimento
anual em 2014 de 2,86%, ou Indonésia com crescimento anual 5,01% do PIB segundo a
OCDE (2018), o aumento dos valores do índice de GINI acompanhou o crescimento
económico em muitos desses países, como observado na figura 4. Após esta análise aos
valores estatísticos, podemos confirmar que as suposições de Kuznets não estavam
corretas pois o crescimento económico e diminuição das desigualdades não tem
correlação alguma, pois o aumento dos ganhos de uma economia concentra-se apenas
nas mãos de alguns, enquanto o resto vive em condições não tão vantajosas, o que pode
originar insatisfação e revolta social para com as classes mais poderosas.

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Figura 9: PIB real com valores logaritimizados nos E.U.A.

Fonte: FRED, 2018

Figura 10: Índice de GINI nos E.U.A.

Fonte: FRED, 2018

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Figura 11: Índice de GINI para alguns países da OCDE

Fonte: OCDE report, 2014

Capítulo 6- Singapura - “um exemplo por excelência” (Stiglitz, 2013)


Singapura, um dos Quatro Tigres Asiáticos, experienciou um grande crescimento e
desenvolvimento económico, mas ao contrário de alguns dos outros Tigres, não
permitiu que as desigualdades persistissem. Segundo Stiglitz (2013), o governo
singapurense favoreceu uma melhoria de vida de todas as pessoas ao garantir que os
salários mais baixos não chegassem a níveis de exploração e, de igual forma,
implementou um fundo de providência que era retirado dos salários dos trabalhadores
(chegando a atingir 36% do rendimento para os trabalhadores mais jovens) que teria de
ser usado para habitação, cuidados de saúde, reformas entre outros fins e deste modo
os indivíduos eram incentivados a ser responsáveis, pois estes fundos não tenham outro
fim a não ser os acima mencionados. Outros aspetos importantes tidos em conta pelo
governo de Singapura estão relacionados com os impostos progressivos (maior valor de
imposto para os indivíduos com maior rendimento) funcionarem sem problema e
também com a intervenção do Estado na distribuição dos rendimentos brutos de forma
a favorecer aqueles com menor poder económico. Por fim, ele realça que umas das
variáveis fundamentais foi o investimento na educação, na medida em que não eram só
os filhos da população mais rica que tinha acesso a uma educação de excelência, mas
sim todos os filhos independentemente da condição financeira.

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A suportar este caso de Singapura, é possível verificar-se um claro
desenvolvimento económico (figura) acompanho pela diminuição das desigualdades,
associadas a um reduzido índice de Gini (figura).

Figura 12: PIB médio

Fonte: WID, 2017b

Figura 13: Tendência de longo prazo do Coeficiente de


Gini antes de impostos e transferências

Fonte: Ministry of Finance Occasional Paper, 2015

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Conclusão

Desde os anos do pós-guerra, assistiu-se a um claro crescimento da riqueza a nível


mundial, traduzido na evolução do PIB médio mundial (WID, 2017). Contudo, as
desigualdades no que toca à distribuição dos rendimentos e riquezas, também
cresceram significativamente, com especial foco para os Estados Unidos da América, em
que o top 1% da população mais rica supera consideravelmente a riqueza de metade da
população do seu país (Alvaredo et al., 2017). Um artigo da revista The Economist
(2014), numa análise mais global, revela que países como a China, Tailândia, Alemanha
e Egipto registam, atualmente, níveis de desigualdade de rendimentos semelhantes ao
séc. XIX, período em que dominavam os grandes impérios de Nicolau I, da dinastia Qing
e da Companhia Britânica das Índias Orientais. Isto, para não falar do México e do Brasil
que são agora mais “desiguais” do que no tempo do histórico revolucionário
venuzuelano, Simón Bolívar.

Ao longo dos tempos, vários economistas tentaram analisar o fenómeno do


crescimento económico e das desigualdades na distribuição de rendimentos, tentado
estabelecer uma relação entre os mesmos. Kuznets (1955), por exemplo, afirmou que
numa primeira fase, o crescimento económico (traduzido pelo PIB per capita) é
acompanhado por um aumento de desigualdades. Posteriormente, numa segunda fase,
a continuação do crescimento económico levaria a uma diminuição das desigualdades.

Em contrapartida, uma visão crítica de Thomas Pikkety, analisada em detalhe


pelo economista Lyubimov (2017: 7), contrapõe a teoria de Kuznets ao afirmar que a
tendência atual não é a descida das desigualdades, mas sim, pelo contrário, uma retoma
do crescimento das desigualdades com o aumento do crescimento económico.

O claro crescimento das desigualdades já corroborado pelos estudos e pelas


teorias mais recentes, terá na sua génese um conjunto de causas, em parte enumeradas
por um relatório da OCDE (2014) como “drivers of inequalities”. Entre os quais
destacam-se a evolução tecnológica, as mudanças nas condições de trabalho, o
aumento de rendimentos provenientes do capital e a globalização.

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Contudo, apesar das tendências mais recentes a identificar o crescimento do
fosso que separa os rendimentos mais pobres da maioria da população com os
rendimentos mais ricos do top 1%, existem exemplos de sucesso, como o caso de
Singapura descrito por Stiglitz (2013) em que foi possível conciliar crescimento
económico com diminuição das desigualdades.

Uma visão crítica do panorama atual da relação entre crescimento económico e


desigualdades, permite a discussão acerca das eventuais consequências que o nível
atual da disparidade nos rendimentos poderão trazer para a nossa sociedade. Por
exemplo, num plano político, Bernie Sanders (2014) afirma que “Uma nação não
sobreviverá moralmente ou economicamente enquanto tão poucos têm muito, e muitos
têm tão pouco”. Por outras palavras, o facto de a maioria dos rendimentos de uma
sociedade estar confinada numa ínfima parte da população, gera uma visão de injustiça
que fere os princípios de igualdade perante os olhos da população (daí a imoralidade) e
se a tendência for contínua, poderá revelar-se economicamente inviável devido ao facto
do poder económico ficar reduzido a tão poucos. Esta situação poderá ter, por sua vez,
repercussões a nível democrático devido ao facto da a grande maioria da população se
sentir revoltada e preferir escolhas mais extremas do espectro político (Goering, 2016).

Em suma, dadas as circunstâncias atuais das crescentes desigualdades e às


possíveis consequências que daí poderão advir, é essencial a convergência em políticas
que se direcionem para o combate a este problema, como é o caso de sucesso de
Singapura. Por isso, tal como disse Nelson Mandela em 2005, “enquanto a pobreza, a
injustiça e os níveis de desigualdade persistirem no nosso mundo, nenhum de nós
poderá descansar”.

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Summary

According to our study of the relationship between economic development and


inequality, where we presented and discussed two different perspectives from
recognized economists, one from Simon Kuznets and the other from Thomas Piketty, we
were able to conclude that economic development does affect the level of inequality,
however how much it does affect will depend on the policies that a government takes
to make the distribution of the economic gains from the economic growth. In the case
of Singapura, where the government applied policies to reduce the inequalities, it was
successful, which is a recent evidence that both economic development and a reduction
on the inequalities can coexist.

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Referências Bibliográficas

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