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Prefácio
arte(o)fício
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ções, hipocrisias, verborragias demagogas e estéreis. Porém
não é nada fácil um livro de poesias conseguir expor a colu-
na vertebral que o perpassa. Requer da parte do escritor mui-
ta observação, agudeza, habilidade e um estilo característico
marcante.
Leio agora Artifício e constato com muita alegria que
Marcos Mariani Casadore continua avançando pelo mesmo
caminho – relacionando as partes com o todo: cada poema te-
matiza aspectos do cotidiano, porém, no conjunto, seus versos
pretendem desestruturar verdades absolutas e comportamen-
tos padronizados. A estrada é a mesma, porém o modo com
que o autor a percorre é outro.
Começo a gostar muito do livro a partir do título, pois
a palavra artifício me reporta a artefato/artífice/arte, atributos
inerentes a qualquer tipo de ofício que lide com lapidação de
palavras. Não termina nestas associações, no entanto, o apre-
ço e o carinho que sinto por este vocábulo: ele é muito usado
no Dandismo (eclodido no Brasil na primeira fase do Deca-
dentismo), uma das tendências estéticas que mais admiro na
historiografia literária. Apesar da categorização terminológica
péssima de ambas (a serviço de piadas simplórias e pejorati-
vas), considero-as da maior importância. No dizer de Rafael
Santana, “a filosofia dandy seria um fenômeno que ressurge
toda vez que a História se apresenta como vivência da catás-
trofe, como consciência iniludível da ruína”. E qualquer se-
melhança com os tempos atuais não será mera coincidência...
Para os “autores malditos”, o artificial era o real, em oposição
à “realidade” pseudamente “natural” que se nos impõem – esta
sim, eivada de mentiras, escusas intenções, falsas verdades,
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omissões e manipulações ideológicas. O artifício, o artefato, o
constructo mostrariam, com maior transparência, uma vivên-
cia mais autêntica.
Os detratores chamam zombeteira e ironicamente os
autores do Decadentismo de decadentes. No entanto, ao con-
trário, esses escritores analisavam, questionavam e disseca-
vam a decadência social que viam ao seu redor, sendo que: a
ênfase nos paradoxos, um tom inquietante e um certo estra-
nhamento da vida tida como “normal” são elementos muito
próprios do terreno poético dandista.
E Marcos Casadore transita por este território com
muita facilidade. Daí, de repente, sua poesia pode por vezes
incomodar leitores e críticos, por questionar os valores de
uma sociedade desgovernada, individualista e alienada, cuja
produção, “patrocinada” pela economia globalizada e pela cul-
tura de massa, ignora diálogos, contrassensos e os absurdos
desta gigantesca fábrica multinacional de ilusões, virtualida-
des e espetáculos em que o mundo se transformou.
Divergir, discordar, insurgir-se, visibilizar os estereó-
tipos, a frieza de interesses imediatistas e de práticas consu-
mistas é tarefa de todos os que se preocupam com a robotiza-
ção humana. Assim sendo, mesmo quando o autor “impreca”
contra a poesia, não é com o intuito de menosprezá-la, nem
de hastear a bandeira do derrotismo; ele está historicamen-
te caminhando “a contrapelo” do lema: “vencer sempre, a
qualquer custo”, desconstruindo o discurso distorcido nele
contido:
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toda a poesia
é feita
por derrotados
a poesia
em si
é uma derrota
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FRESTA
e na entrelinha
há coisa
a se perder de vista
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Esquecer é morrer
(Ecléa Bosi)
esquecer
é morrer
e morrer
acontece
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a leitura de um poema
sempre silenciosa
embora os versos gritem
as palavras explodam
um soco no peito
te derruba sem
chance de defesa
– mas por fora
há o silêncio
e ninguém percebe
seu arrebatamento
ninguém vê
o que te asfixia
e envenena
e você envelhece
silenciosamente
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fé
e pra quem
não tem?
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ao acordar
de sonhos tranquilos
numa manhã intranquila
Gregor decidiu
desistir.
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poeminha
f inlandês
na neve
todos os carros
são brancos
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exílio
mas entendo
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meus poemas
falam do chão
nunca voaram
nem voarão
num balão
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aleph
e no entanto
quanto há
do mundo
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seu joão
não vê mais
as nuvens
aos 97 anos
sentado ao
ar livre
só sente
a sombra das nuvens
brancas
roçando seus braços
descobertos
e as nuvens
passam
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lados opostos
da mesa:
as teclas
leves
do peso
as pesadas
teclas
do escape
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faço
faço
das tripas
um coração que sangra
do tempo,
inimigo distante
das pedras,
minhas irmãs
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gabarito
vida
prova infinda
com perguntas confusas
e eu sempre
a chutar
a alternativa errada
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c. d. a.
(a Carlos Drummond de Andrade)
a bomba
é
a pedra.
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o corpo
espera
pra
adoecer
a morte
vem
em forma
de pássaro
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definição
a palavra é:
torpor
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há um amor de toda-vida
em Santa Ernestina
para cada um de nós
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toda lembrança
reconstrói
um evento
toda memória
é ficção
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resquícios
há um túmulo
sem nome
que representa a todos nós
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sento em silêncio
ao fundo da caverna
usurpada por Platão
pouco ou nada
me interessam
essas sombras
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algo falhou
de início
e deixou aberto
um pequeno buraco
através do qual
é possível
enxergar o real
sem floreios
nem disfarces
ou meias verdades
às vezes
é puro sangue
o que escorre
do lado de lá
– espia só:
( )
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estamos e estaremos
sempre perdidos
entre o pathos
e a apatia
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fevereiro
será esta
aquela mesma chuva
de outros carnavais?
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manhã de inverno
inertes, ao sol,
eu e as moscas
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em comum
temos
a anemia
e a inquietude
pra começo
de conversa
no perder
de vista
é a razão
que nos
ensurdece
enquanto
a convicção
pode matar
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segue a vida
sem trégua
ou descanso
só para que
todos nós
possamos pagar
por cada um
de nossos
equívocos
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nota
particular
escrever poemas
não mata
minha fome
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horácio
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cabeça
tão vazia
quanto as
próprias panelas
barulhentas
advertência
à aparência
sem conteúdo:
não confunda
estética
com política.
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a mancha
vermelha
na louça branca
a sociedade
é faca
lâmina afiada
do corte,
sem essência:
semblante
e só.
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acidentes
de trabalho
Estamos há
000068 dias
sem ler/escrever um poema
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e a poesia
ultimamente
está tão longe
que mal
a reconhecemos
naquele minúsculo
pontinho
verde
contraposto
a um céu
de azul infinito
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num repente
são os versos
que me tomam
de assalto
e aqui os escrevo
um a um
com uma arma apontada
para minha cabeça
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poeminha
astronômico
todo poema sobre o sol
também é sobre as estrelas
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o passado
enquanto ideia
e seu peso
de chumbo
memória
como âncora
sempre baixada
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tudo irrompe
vem à tona
num piscar
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é a estase
que antecede
a tempestade
– silêncio
– calmaria
– sossego
– lentidão
tudo
com os
segundos
contados
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esperança
tem,
mas acabou.
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convicção
e isso basta.
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são muitas
as palavras
e versos
corre muita fita
muda muita pauta
o naufrágio
é iminente
e,
pra desespero
dos presentes,
não contamos
com muitos botes
salva-vidas
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feira
de prof issões
por que não
nos tornamos todos
incendiários?
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w.w.
há folhas
pautadas
na relva
o vento
levou
o papel
antes mesmo
que eu acabasse
o poema
e me sussurrou:
“deixa que esse
eu termino”
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transversal
o brilho do sol
que se esgueira
pelos buracos
do muro
e vem repousar
nas minhas costas.
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a todo tempo
me escapa o verso
a rima, a estrofe,
o poema
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futebolístico
a triangulação
foi feita,
o drible,
o corte,
a finalização
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palheiro
vai a fagulha
vem
a catástrofe
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a razão irra
cional
da e
xistência
que só encon
tra algum
sentido no con
flito
no marg
inal
na resis
tência
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o poema
escrito
do chão
corpo inerte
deitado
nariz esfolado
no asfalto
não se enxerga
longe
e tudo
ao redor
não passa
de uma
linha rasa
não passa
de concreto
escuro
sem a menor
importância
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triste
f i m
a poesia
não serve assim
pra tanta coisa
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sem alvoroço:
a vida toda
é somente esboço
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rousseau
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metassentido
de que adiantaria
a uma ostra
um foguete?
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um imenso
picadeiro
abandonado
lonas rasgadas
desbotadas
pela intempérie
– não vão durar muito tempo
mas isso já
não faz
a menor das diferenças
se já não há
quem assista
aos espetáculos
e nos tablados
das arquibancadas
só encontramos
dois cães
mais famintos
que curiosos
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há espera
há um muro
e muitas vezes
esse é o resumo
de toda a história
de uma vida
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as pedras tomam pra si
o calor da tarde
e ao meio-dia
já não existe sombra.
daqui ali
só há distância
e muito tempo
mas deitado na rede
num domingo inerte qualquer
consigo sentir
o cheiro do mar
500 km adiante
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poética
do abismo
todo poeta
escolheu
(mesmo que
provisoriamente)
os
versos
ao
invés
do
passo
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toda a poesia
é feita
por derrotados
a poesia
em si
é uma derrota
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como um vagão de trem
abandonado
já todo ferrugem
invadido pelo
verde das trepadeiras
e ervas daninhas
esperando para
ser descoberto
por uma expedição arqueológica
no ano de 2936
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e não estamos todos
condenados
em maior
ou menor grau
a algum tipo
de prisão
perpétua?
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a febre
que me acomete
agora
não passa de
uma febre
imaginária
e mesmo assim
me impede
de levantar daqui
e faz com que
meus versos
sigam trêmulos
praticamente
indecifráveis
e todos
sem sentido
a febre
que me acomete
agora
me disse que veio
pra ficar
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sóbrio semblante
maior intimidade
com a escuridão
âncora presa
no tornozelo esquerdo
mais o peso insustentável
de um vazio profundo
luz
em fim de túnel
não está lá
pra todo mundo
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elementos
versos rasteiros
que lambem a terra
se afogam
em água suja
morrem queimados
a meio caminho
e nunca alcançam
o céu
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há pouco discurso
ou nenhum que
de fato
dê conta
de algo
há a coisa
há o fenômeno
mas discurso
nenhum
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demorou,
mas a nuvem
que encobria
toda a cidade
aos poucos
dissolveu
toda a linha
de sombra
e foi somente
de espera
e mais nada
a consistência
daquele instante
solene e
sombrio
silenciosamente
inquietante
que antecedeu
toda a tormenta
de merda
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poema
é moldura
de um quadro
invisível
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a poesia:
uma mentira
que promete
encontrar
sentidos
que nem
sequer
existem
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anticlímax
o sol
afundado
em névoa
a apatia
de uma manhã
de domingo
ensaio de hoje
sem holofotes
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o outono
nos deixa sua sombra
e vai
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fresta
e na entrelinha
há coisa a se
perder de vista
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5h30
a vida
começa cedo
ainda
no escuro
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atrás do aterro sanitário –
também é lindo
o nascer do sol
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a vida sem pressa
dos animais na fazenda
a paciência invejável
de um homem do campo
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escrever poesia à máquina
botar num envelope
com selo
e remeter direto
pra 1978
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espera
eterna,
meu
eterno
retorno
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entrever por essa
rachadura da
concreta realidade
o que cai
feito fruta podre
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quarto
assalto
fui à lona
abriram
a contagem
e minha vida
durante aqueles
10 segundos
foi muito
muito
tranquila
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teu último livro
tem pouco menos
da minha idade
a diferença
é que eu envelheço
e ele nunca.
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a máquina anda parada
à espera de uns versos
a vida anda parada
à espera
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haja tanto poema
para poemas
sobre poemas
haja tanto poeta
para poemas
sobre poetas
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poema de lamúria
egocêntrica
todo o inferno
do mundo
concentrado
nas minhas costas
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toca
o alarme
eu
no meio
de uma plantação
de eucaliptos
que não parece
ter fim
já não
há sol
corro
sem saber
se em direção
à saída
ou
ao perigo
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Noite profunda. Sono profundo.
Esperança rasa.
(Cacaso)
o começo se deu
pela última
dopamina
música pros meus
ouvidos
todas as almas
a prática
rouba aos poucos
todo o controle
e completa
a estação
estrutura plena,
mas a alma,
ainda pequena.
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a caneta que escreve
é a mesma que rabisca
a mão que escreve
a mesma que rasga
amassa
joga fora
e vai fazer janta
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ainda vai
chegar o dia
em que eu
finalmente desista
dessa triste mania
de escrever
poesia
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mensagem
f inal
este livro se autodestruirá
em 30 segundos
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Sobre o capista:
Sobre o ilustrador:
Este livro foi composto em Linux Libertine e impresso pela Gráfica Garcia em
dezembro de 2016.