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Desenvolvimento sustentável (D∩S)

Brasília DF

Set. 2003
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Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

Sumário
1 Introdução 3

2 Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) 13

2.1 Antecedentes 13

2.2 Objetivos, critérios de elegibilidade e indicadores para avaliação de projetos dos MDL 14

2.3 Processo de aprovação de projetos dos MDL 19

2.4 Mecanismos flexíveis de viabilização da redução de emissões 20

3 Roteiro para Elaborar Projetos nos MDL 21

3.1 Introdução do projeto dos MDL 21

3.2 Dimensões e características de projeto dos MDL 21

3.3 Empresas promotoras e/ou associadas aos projetos dos MDL 22

3.4 Descrição da localização do projeto dos MDL 22

3.5 Diagnóstico do setor ou da atividade alvo do projeto nos MDL 22

3.6 Descrição tecnológica e análise técnica do projeto nos MDL 23

3.7 Síntese dos dados e informações e análises de sustentabilidade e dos benefícios econômicos
e outros, esperados do projeto nos MDL 24

3.8 Exigências e formalidades de garantia do projeto dos MDL 25

3.9 Ilustração de projetos dos MDL 25

3.10 Etapas do processo de avaliação de projetos candidatos aos MDL 27

GLOSSÁRIO 30
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Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

dióxido de enxofre, entre outros gases poluentes,


responsáveis pelo efeito estufa; 1

1 Introdução b) os mecanismos flexíveis como os de comércio de


emissões de gases poluentes; 2 nesse contexto é
Tratar o tema do desenvolvimento sustentável (D∩S), oportuno mencionar que o Brasil é tido como o país
ainda que seja de maneira simples, porém, consistente e com com maior potencial para vender créditos de carbono,
possibilidades de êxito, implica, entre outro desafios, entre outras razões, porque possui uma floresta singular
considerar diversos tópicos em vários níveis, desde a redução (pela extensão, pelas suas características tropicais que
e/ou estabilização da concentração de gases responsáveis lhe conferem atributos como sumidouro) e porque sua
pelo efeito estufa em escala global até o atendimento de principal matriz energética é uma fonte limpa e
condições socioculturais e organizacionais de comunidades renovável (recursos hidroenergéticos) que precisa ser
isoladas, muitas delas integradas à natureza, como são os conservada (ver Fundamentos para a cobrança pelo
povos indígenas, em escala local e regional. Essas uso da água no Brasil; Embrapa. 2003);
considerações e atendimentos passam por diversas fases de
uma discussão ampla e complexa que se desenvolve (deve) c) a implementação conjunta, vista como a transferência
em torno de atores com objetivos e interesses, muitas vezes de cotas de emissão entre os países vinculados a
conflitantes. projetos específicos; e

Tratar o D∩S para uma determinada região pressupõe


estudar e buscar/adaptar novas formas de planejamento-e- 1
gestão e de organização para evitar / reduzir sobreposições e Os Gases de Efeito Estufa (GEE) são: dióxido de carbono (CO2),
desperdícios de esforços e recursos, buscar caminhos comuns metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hezafluoreto de enxofre (SF6),
gases da família perfluorcarbonos (PCFs) e hidrofluorcarbonos
e considerar complexos temas como os de biossegurança,
(FFCs) e hidrofluorcarbonos (HFCs); os GEE provocam o
acordos de banimentos de poluentes orgânicos persistentes e aquecimento global com projeções de aumento médio de
vulnerabilidades do meio ambiente, além de considerações e temperatura de 1,5º. a 5,8o C, até 2100; as conseqüências desse
revisões de modelos de crescimento econômico e da aquecimento são: grandes enchentes e secas devastadoras para a
efetividade de acordos multilaterais em vários campos como agricultura, tornados, ciclones, maremotos e proliferação de insetos,
os de comercio mundial (Organização do Comércio entre outros possíveis efeitos, alguns desconhecidos.
Mundial; lições das reuniões de Washington (1997) e 2
A lógica e os mecanismos para se efetuar o comércio de gases
Cancun (2003); ver Manual de pesquisa...vol. 1), convenção poluentes entre países desenvolvidos são, aparentemente, simples:
do clima (Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças os países e as industrias com altos índices de poluição serão
Climáticas – UNFCC) e Protocolo de Quioto. Este selecionadas por agências de proteção ambiental reguladoras que
documento trata, em nível introdutório e apenas ilustrativo, estabelecerão metas para a redução de emissões nessas empresas e
assuntos gerais dessa Convenção e Protocolo em seu aspecto países; cada uma delas terá um limite e receberá um certificado que
de projetos dos mecanismos de desenvolvimento limpo a autoriza para a emissão de toneladas de GEE; as empresas obterão
(MDL). bônus, cada um equivalente a uma tonelada de poluição,
negociáveis na proporção de suas responsabilidades; quem não
cumpra as metas, terá que comprar certificados (créditos de
Entre os temas controvertidos tratados na Haia como carbono, p. ex.) de países e empresas bem sucedidas: despoluidoras
preparação para o Protocolo de Quioto se encontram, entre e com sumidouros eficientes que possam capturar e reter essa
outros: poluição; trata-se de uma compensação, em que o certificado poderá
ser comercializado em bolsas de valores e mercadorias; o possível
a) a maneira de aproveitar a capacidade das florestas comércio de certificados / bônus entre empresas poluidoras e
como sumidouros, isto é, aproveitar a floresta para empresas despoluidoras possivelmente será “bem” tratado pela
captar e reter gases como o monóxido de carbono e economia de mercado, porém, deve-se adiantar que os mecanismos
de comando e controle de instrumentos rígidos como os legais e
administrativos não serão suficientes, ainda que necessários. Por
isso, torna-se imprescindível planejar e implantar outros
mecanismos.
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Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

d) os MDL destacados neste documento pela sua estreita d) o continental, p. ex., o agravamento de problemas em
e direta relação com o D∩S. áreas como as de saúde, saneamento básico e
alimentação nessa escala, incidindo nas escalas nacional
A Convenção sobre Mudanças Climáticas é um e regional; e
acordo das Nações Unidas para estabilizar (disciplinar a
emissão conforme critérios) os gases responsáveis pelo efeito e) o global, p. ex., a poluição global com a sua
estufa (GEE) na atmosfera, a um nível “tolerável”, vale dizer, conseqüência mais conhecida da destruição da camada
resiliente 3 e homeostático 4 e que impeça a ocorrência dessas de ozônio estratosférico causada pelo cloro, flúor e
mudanças climáticas prejudiciais, provocadas por atividades carbono, entre outros GEE, que resultam em mudanças
humanas desenvolvidas sem padrões consistentes e com na composição da atmosfera e, como conseqüência
pouco (ou nenhum) sentido de responsabilidade e dessa mudança, em mudanças climáticas, sem
solidariedade, não apenas com as presentes gerações, mas, considerar fronteiras nacionais.
com as que deveriam ser “bem-vindas” gerações.
A Convenção sobre Mudanças Climáticas foi
Esses problemas - efeitos no sistema climático são convocada na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
registrados em todos os níveis ou escalas, ainda que não Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED) realizada em Rio
estejam bem caracterizados nem quantificados, tais como: de Janeiro (ECO-92), 5 em 1992, ratificada, até 2002, por 186
países.
a) o local, p. ex., a poluição local relacionada com a
qualidade do ar, com o fornecimento de água doce e Por ocasião dessa Conferência, 154 países assinaram
com a disposição “racional” do lixo e de efluentes a Convenção Quadro sobre a Mudança Climática, visando a
líquidos nos centros urbanos mais populosos; estabilização da concentração de GEE na atmosfera, com o
comprometimento voluntário dos países do Anexo I, além de
b) o regional, p. ex., os desmatamentos e outras ações países em processo de industrialização e de países em
que comprometem sistemas como os hidrológicos em transição para uma economia de mercado.
escalas de bacias hidrográficas;
Na Conferência de Rio-92 se estabeleceu, entre
c) o nacional, p. ex., as perdas de riquezas naturais e a outros, o conceito que mais tarde seria a Implementação
redução de oportunidades e potencialidades das Conjunta (JI ou Joint Implementation).
tradicionais vantagens comparativas que, em função da
dotação abundante de recursos naturais, conferem A Primeira Conferência das Partes da Convenção
habilidade ao país para produzir um bem, intensivo (COP-1; Conferência de Berlin com delegados de 117
nesses recursos, por um preço relativamente menor, países; 1995) definiu a constituição de um protocolo e o
com efeitos negativos nas vantagens competitivas; fortalecimento das obrigações dos países Anexo I,
melhorando as JI (na sua nova forma de atividades
implementadas conjuntamente – AJI, atividades que não
3 contabilizam créditos de redução de emissões para os países
Entenda-se por resiliente a capacidade do sistema climático
suportar perturbações ambientais e manter sua estrutura e padrão investidores), além de incluir os países não-compromissados.
geral de comportamento - funcionamento quando modificada sua
condição de equilíbrio.
5
Na ECO-92 se acordou que para reduzir as emissões de gases, os
4
Entenda-se por homeostase uma intervenção conformada à países industrializados deveriam fazer algumas mudanças, em
tendência desse sistema de resistir, sem comprometer sua estrutura e especial nas fontes energéticas, o que teria graves implicações
funções, às mudanças ambientais (aceleradas e induzidas por ações econômicas e políticas. Apesar de que mais de 80 países ratificaram
antrópicas) e permanecer em seu estado de equilíbrio por o tratado da Convenção do Clima, o acordo de que as emissões não
mecanismos reguladores intrínsecos como são os ciclos (climáticos, ultrapassassem o nível de 1990, até o ano 2000 não fui cumprido.
hidrológicos atmosféricos etc.). Para dar andamento ao trabalho foi criada a Conferência das Partes
Em geral os conceitos resiliencia e homeostase são utilizados para sistemas (COP) como órgão superior da Convenção Quadro sobre Mudança
biológicos, porém possíveis de serem aplicados no sistema climático com Climática.
seus próprios ciclos reguladores.
5

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

Um ano depois, em Genebra (1986), realiza-se a a) Em 1998 se realizou, em Buenos Aires, a COP-4
COP-2 e se prepara o Protocolo de Quioto (COP-3 ou (Plano de Ação de Buenos Aires), elaborando-se um
Terceira Conferências das Partes em que fui aprovado o cronograma para a implementação do Protocolo de
Protocolo conhecido como de Quioto). Naquela Conferência Quioto e definindo um prazo de dois anos para a sua
se lançou e endossou o 2º. Relatório do IPCC, que conclui “o regulamentação.
balanço das evidencias sugere que há uma influência humana
perceptível sobre o clima global” com efeitos significativos. b) Em 1999 se realizou, em Bonn, a COP-5. Naquela
ocasião ocorreram reuniões técnicas e um processo de
Para implantar a Convenção sobre Mudanças consulta em cumprimento ao Plano de Buenos Aires.
Climáticas foi acordado, em 1997, o Protocolo de Quioto 6,
com uma base científica suposta necessária para pressionar c) Em 2000, durante a abertura da COP-6 na Haia, a
às nações em seus posicionamentos relativos aos esforços Secretaria Executiva relatou que a Convenção já
para implementar medidas mitigadoras de mudanças contava com 183 assinaturas de adesões dos países.
climáticas. Esse Protocolo contém compromissos mais
rígidos para os países desenvolvidos e estipula metas de Os objetivos daquela reunião foram os de regulamentar
redução de emissão de GEE para períodos após o ano 2000. os compromissos do Protocolo de Quioto encerrando
um processo preparatório de aproximadamente dois
Tal Protocolo tem, entre outras obrigações, o anos delineado pelo Plano de Ação de Buenos Aires e
compromisso legal mais importante, assumido por 39 países garantir a implementação da Convenção. Entretanto, o
desenvolvidos, para reduzir suas emissões de GEE em 5,2%, que deveria ter sido o evento mais importante depois da
em relação aos níveis de 1990, com “progressos visíveis” no COP-3 com a definição do Protocolo de Quioto, a
ano 2005 e metas para o período 2008 a 2012; reitera-se, COP-6 acabou em frustração; sem conseguir atingir
nele, obrigações assumidas pelos países desenvolvidos sob a consenso, diversos pontos de divergência ainda
Convenção, entre outras, a necessidades de geração de permaneciam, entre outros, os relativos à questão de
recursos novos e adicionais para o financiamento de inclusão de sumidouros nos mecanismos flexíveis
atividades dos países em desenvolvimento no cumprimento (crunch issues), o cumprimento de metas e os da
de compromissos assumidos na Convenção e no Protocolo. adicionalidade. A situação se agravou com a eleição e
novo posicionamento do presidente dos Estados Unidos
Nesta introdução - síntese da evolução de da América, em 2001, ao declarar que não apoiaria o
procedimentos e acordos para tratar o grave problema da Protocolo de Quioto; não exigiria a restrição de
emissão de GEE e das mudanças climáticas é importante emissões de CO2 do setor energético e que o país se
destacar alguns fatos, tais como: retiraria das negociações desse Protocolo.

6 d) Em 2001 se realizou a COP-7, em Marrakesh. A pesar


O Protocolo de Quioto complementa a Convenção do Clima,.
de incertezas quanto aos rumos das negociações,
Nesse Protocolo foram estabelecidos três mecanismos de
flexibilidade para atingir as metas de redução de emissões; esses
chegou-se, durante a preparação, ao consenso de que o
mecanismos a Implementação Conjunta (JI), o Comércio de mercado disciplinaria os mecanismos econômicos para
Emissões (ET) e os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, com o a redução de emissões.
estabelecimento de metas e prazos para a diminuição de emissões
de GEE por nações industrializadas. No entanto, esse Protocolo só Na Conferência das Partes (COP-7) foram finalizados
passará a vigorar quando obtiver as assinaturas dos países que, os termos para a ratificação do Protocolo de Quioto,
juntos, sejam responsáveis pela emissão de 55% dos GEE; até 2002 conforme estabelecido no Protocolo de Buenos Aires.
isto não tinha sido alcançado, atingindo-se, conforme a ratificação
de países nessa data, apenas 35,8%. A redução das emissões na
atmosfera será realizada em várias atividades econômicas, sendo
A pesar de não se ter alcançado, até 2003, um acordo
estimuladas pelo Protocolo ações que levem a reformar os setores “satisfatório” que inclua todas as nações no acordo de Quioto
de energia e transporte, promovam fontes energéticas renováveis, (esse Protocolo entrará em vigor quando for ratificado pelo
eliminem mecanismos financeiros e de mercado impróprios para a menos por 55 países membros da Convenção e que incluam
Convenção e protejam as florestas e outros sumidouros de carbono, países desenvolvidos representando pelo menos 55% do total
entre outras.
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Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

das emissões de carbono) e do processo ser muito lento, A maior parte da irradiação infravermelha emitida é
difícil e submetidos às incertezas políticas de países absorvida pelo vapor d' água, pelo dióxido de carbono e por
desenvolvidos e à ação de atritos e choque de interesses entre outros GEE presentes naturalmente na atmosfera. Esses
países desenvolvidos, como os Estados Unidos da América e gases impedem que a energia passe diretamente da superfície
em acelerado processo de desenvolvimento, como o Brasil, terrestre para o espaço, porque processos naturais como são
trata-se de um significativo início em busca de uma solução as correntes de ar e a evaporação que transportam essa
negociada e compartilhada, como compartilhado deverão ser energia para altas esferas da atmosfera. De lá, ela é irradiada
seus benefícios na escala global. para o espaço. É importante garantir que esse processo seja
lento porque se a irradiação fosse rápida e direta, a Terra
A importância do compromisso e da adesão por todos seria um lugar muito frio, em torno de 17,00º.C a 18,00º. C
os países para reduzir a emissão de carbono à atmosfera para negativos, isto é, aproximadamente 33,00º. C abaixo da atual
a conservação de sistemas está relacionada com a gravidade temperatura média. Com essa temperatura baixa o Sol não
do aquecimento da Terra que resulta da radiação de calor, conseguiria aquecer a Terra o suficiente para fosse habitável,
devida aos GEE, impedindo o seu retorno ao espaço e sendo, portanto, desprovida das formas atuais de vida.
causando o aquecimento da superfície terrestre, conforme se
ilustra nas Figura 1 e 2. As atividades econômicas implantadas de maneira
desordenada e irresponsável, não apenas com efeitos
Para entender como se geram as cenas da Figura 2 negativos para as futuras gerações, mudaram (estão mudando
com o aumento da concentração de CO2 e outros gases e, se nada efetivo for feito no presente, continuarão e ainda
responsáveis pelo efeito estufa é necessário entender como em possível ritmo crescente) as relações entre o homem e a
ocorre o processo natural sintetizado na Figura 2a. natureza, tendo como principal conseqüência, alterações na
atmosfera pelas mudanças no equilíbrio de gases, em
A Terra é coberta por uma tênue camada de gases particular, dos GEE como são o CO2, o CH4 e o N2O. Esses
(atmosfera), concentrada na troposfera, constituindo uma gases, em condições normais, representam menos de 1,0% da
película protetora de aproximadamente 10 km de altura. atmosfera total composta por oxigênio (21,0%) e nitrogênio
(78,0%).
A composição química dessa tênue camada de gasess
da atmosfera variou através dos tempos, durante milhões de Com a intensificação de atividades econômicas sem
anos, até atingir a composição do final do século XX: critérios, sem os necessários cuidados de conservação e,
nitrogênio, oxigênio, gás carbônico, pequenas concentrações repetindo, feita de maneira irresponsável, tem-se liberado
de outros gases e vapor de água responsável por grande parte grandes quantidades de gases poluentes para a atmosfera, tais
de fenômenos meteorológicos e pela estabilidade do clima. A como o dióxido de carbono resultante da queima de
maior parte desses gases (oxigênio e nitrogênio), além de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e seus derivados),
deixar passar a luz solar, é, também, transparente às florestas e pastagens; o metano produzido pela decomposição
radiações emitidas pela superfície da Terra. da matéria orgânica; o óxido nitroso gerado pela atividade de
bactérias do solo; e compostos clorofluorcarbonos (CFC)
No entanto, gases como o carbônico, metano, óxido provenientes de embalagens de plásticos, refrigeradores,
nitroso e vapor de água, embora transparentes às radiações aerossóis e outros produtos; tais gases provocam o “estado”
provenientes do Sol, absorvem as radiações de onda longa de perturbação, indicado pela zona cinzenta na atmosfera
(radiações infravermelhas) emitidas pela superfície da Terra. (parte direita da Figura 1: perigo futuro e pela cena da
Figura 2b).
A energia solar chega à Terra na forma de radiação de
ondas curtas (parte esquerda da Figura 1); parte dessa
radiação é refletida e/ou repelida pela superfície terrestre. No
entanto, a maior parte, passa diretamente pela atmosfera para
aquecer a superfície terrestre. A Terra, então, libera essa
energia, mandando-a de volta para o espaço, na forma de
irradiação infravermelha.
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Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

Figura 1 Efeito estufa provocado pela emissão de gases a atmosfera a


.
Fonte: Rocha (2002; Oportunidades e seqüestro de carbono)

Figura 2b Luz e radiação, com danos na camada de


ozônio, no transição para o novo milênio
a

Figura 2c Luz e radiação no futuro com graves danos de


GEE, caso nada seja feito, com efetividade, no presente

Um certo consenso entre cientistas, dado por fatos


Figura 2a Luz e radiação no passado, com o processo cientificamente comprovados e projeções baseadas em
de radiação infravermelho natural ou normal.
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Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

simulações e cenários prospectivos é o de que o efeito direto Tem sido observado um aumento, comprovado
de mudanças climáticas antropênicas se manifesta por cientificamente, da concentração de gás carbônico na
alterações na biosfera, com a quase duplicação, no final da atmosfera em relação aos níveis estimados na era pré-
década de 90, de GEE na atmosfera e, como conseqüência, o industrial; essa concentração teve como principais fontes de
aumento da temperatura global. emissão a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento.

Segundo o Painel Internacional sobre Mudanças Os dados até o final da década de 90 indicam que
Climáticas, a temperatura global média aumentou em torno existe, um acúmulo anual na atmosfera de aproximadamente
de 0,60º.C no século XX, com um aumento significativo a 3,30 bilhões de toneladas de carbono, dos aproximadamente
partir da década de 70 (ver Gráfico 1: temperatura do 8,00 bilhões emitidos por atividades antrópicas, sendo que o
globo terrestre: limites inferior e superior), podendo-se sistema planetário tem capacidade de metabolizar apenas
elevar em mais de 1,00º.C até 2030; até 2090, a projeção 59,00% do total dessas emissões.
desse Painel indica um aumento de até 4,00º.C, caso medidas
de prevenção não sejam adequadas e oportunamente Amostras de gelo retiradas da Antártica para diversas
implementadas. Foi observado, por esse mesmo Painel, profundidades, numa analise e projeção de até 100.000 anos,
também um aumento de temperatura nos oceanos, sendo o permitiram concluir aos “painelistas” que as concentrações
valor encontrado, para os primeiros 300m de profundidade, de metano e gás carbônico estavam diretamente relacionadas
de 0,31ºC e nos primeiro 3.000m, de 0,06ºC. com a temperatura da Terra naqueles períodos. Essa relação,
para o período 1860 a 1980, é ilustrada no seguinte gráfico,
evidenciando a sensibilidade do sistema climático
(modelizado) ao se dobrar a concentração de CO2.

Temperatura do globo terrestre - limites inferior e superior


5
1,2 Sensibilidade do modelo climático ao
8
Mudança de temperatura relativa ao período entre 1861-1990 ( C)

se dobrar a concentração de CO ( C)
1,1
o
2

4
1,0
C

o
Mudança de temperatura global

6 0,9
3 0,8

0,7
F

o
4
2 0,6
0,5

2 0,4
1
0,3
0,2 Observado
0 0
2000 2020 2040 2060 2080 2100 0,1

Ano 0,0
0,1
0,2
1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980
Ano

Figura 4
Quais são as evidências científicas mais importantes,
quanto aos GEE sobre as mudanças climáticas?
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Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

Existe um aumento na concentração de metano que, c) a cobertura de gelo em lagos e rios do hemisfério norte
no mínimo, dobrou nos últimos três séculos; essa se reduziu em duas semanas nas últimas décadas do
concentração se deve a decomposição anaeróbica em século XX;
sistemas biológicos; tal componente é responsável por cerca
de 20% do efeito estufa. d) a década de 90 foi a mais quente do milênio e 1998 o
ano mais quente;
Existe um aumento de óxido nitroso na atmosfera
terrestre, em torno de 5,00% a 10,00%, estimado em relação e) a precipitação de chuvas aumentou no hemisfério norte
ao conteúdo da era pré-industrial. em 0,10 a 1,00% por década; o mesmo ocorreu nos
oceanos tropicais; eventos extremos de grandes
Existe um aumento de gases clorofluorcarbonos precipitações estão se tornando mais freqüentes e
emitidos para a atmosfera no século XX; esses gases são intensos;
utilizados, principalmente, em aparelhos de ar-condicionado
e refrigeradores e como solventes. Embora suas f) há um aumento na cobertura de nuvens em latitudes
concentrações sejam muito pequenas, suas contribuições para médias e altas desde o começo do século XX.
o efeito estufa são em torno de 20 mil vezes maior que a do
gás carbônico. A emissão desses gases, produtos, entre outras O aumento de temperatura global provocará aumento
fontes, da química industrial, têm aumentado rapidamente do nível do mar porque o calor expandirá as moléculas de
desde 1978. A tentativa de controle de emissões desses gases água, além de incidir na forma de derretimento de geleiras e
é feita através do Tratado de Montreal; o Brasil que apóia calotas polares.
esse Tratado já está diminuindo as suas emissões e, o que
também é importante, tem programas em andamentos e Se o problema se agravar pelo descaso de governos e
planos em discussão. de planejadores e tomadores de decisões, o nível de oceanos
poderá subir em cerca de um metro; com esse aumento se
As conseqüências mais graves dos GEE são o terão vários efeitos, além do provável desaparecimento de
aumento da temperatura global, processo que está em curso cidades costeiras, ilhas e dos indicados na nota de rodapé 1,
conforme as evidencias científica do Painel Internacional e a outros como a mistura da água do mar com águas doces, a
elevação do nível do mar, entre outras. diminuição de água potável em determinadas regiões e as
alterações negativas em ciclos hidrológicos.
O Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática (IPCC; composto por centenas de cientistas), O aumento médio da temperatura global do ar
criado conjuntamente pela Organização Meteorológica também modificará importantes sistemas como os de ventos
Mundial (WMO) e pelo Programa do Meio Ambiente das e evaporação da água; com isso, ter-se-ão mais nuvens e
Nações Unidas (UNEP), em seu terceiro Relatório, fazem chuvas (conforme informações do IPCC), inclusive com
previsões dos GEE e das mudanças climáticas com algumas previsões de chuvas intensas em áreas que no presente são
características sintetizadas a seguir: desérticas e falta acentuada de água em regiões férteis.

a) uma redução de 10,00 a 15,00% na área do Oceano Para efeitos de exposição neste documento e ainda
Ártico coberto de gelo na primavera e verão nas últimas num contexto simplista, deve-se destacar que os crescentes
décadas do século XX; a espessura da camada de gelo níveis de CO2 na atmosfera estão entre os principais fatores
do Ártico no verão e outono se reduziu em torno de responsáveis pela mudança do clima e por causa dela, das
40,00% no século XX e em aproximadamente 4,00 cm graves conseqüências negativas em setores como os de saúde
por ano, no período 1958 -1976; e agricultura.

b) consideráveis reduções das geleiras alpinas e Estimativas e ilustrações apresentadas a seguir


continentais; ajudam a entender o problema e destacar a importância dos
mecanismos propostos para frear esse processo destrutivo e
buscar “melhores” opções de crescimento, de um
10

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

crescimento que seja consistente, sadio e possa contribuir Figura 4, indicando grandes sistemas envolvidos nesse
para o D∩S. processo; nessa Figura é oportuno destacar es
externalidades, na forma de taxas de desmatamento, de
A Figura 3 ilustra o balanço global de carbono. Os erosão e poluição, de redução de fluxos e perdas de estoques
quadros, nessa Figura se indicam os estoques de carbono e de comprometimento de capacidades e aumento de
armazenados em diferentes partes da terra e da atmosfera. As fragilidades.
setas indicam os fluxos anuais de carbono entre os principais
componentes desse sistema. Os maiores fluxos ocorrem,
naturalmente, entre os oceanos, as florestas e a atmosfera.

Mas, as emissões provenientes da queima de


combustíveis fósseis e de atividades econômicas poluidoras
como os da produção de cimento, entre outras, perturbam o
equilíbrio natural e aumentam o CO2 na atmosfera, levando à Sistemas humano e
instabilidade (mudanças) do clima na Terra. “naturais”: Saúde.
Alimentação Agricultura.
Floresta, Biodiversidade.
Hidrológico...
taxa
i e
m s
p t
Sistema climático a r
Aumento de temperatura c e
Aumento do nível do mar t s
Mudanças regime chuva o s
e
Crescimento
Socioeconômico
Econômico, industrial,
Mudanças
climáticas tecnológico, populacional:
mais insumos, mais
consumo / uso de recursos,
Concentração gases menos solidariedade, crise
na atmosfera: CO2 ,
de valores sociais
CH4 N2O, SF6 , FFCs emissões
HFCs

taxa

Desmatamento, erosão, poluição,


Figura 3 Os estoques de carbono, nesta ilustração, são redução de reservas, perdas de
apresentados em unidades de Gigatoneladas (GT), enquanto que os capacidades, aumento de fragilidades...
a
fluxos são definidos por GT/ano

a
Figura 4 Ciclos entre sistemas e mudança climática
Fonte: IIED. Criando as bases para o desenvolvimento limpo: preparação
do setor de gestão de uso da Terra (2002).

Dentre as complexas interações e graves impactos apenas


As mudanças climáticas são os resultados de processos de se relaciona, neste documento, um deles: o impacto da
produção, consumo e relacionamentos homem-natureza sociedade (consumista, economicista, pouco solidária...)
“irracionais” em diversas dimensões; tais mudanças afetam e sobre as florestas e sobre os solos como fator fundamental,
interagem com diversos sistemas, conforme se ilustra na
11

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

dado que em torno de 25% de emissões anuais de CO2 são O documento tem como propósito geral apresentar
provenientes do desmatamento e da queimada. parte da problemática do desenvolvimento, sob a ótica de
mudanças climáticas provocadas por atividades humanas e,
No entanto, esse mesmo sistema socioeconômico, com base nessa orientação, especificar os propósitos; estes,
porém, com outras diretrizes comportamentos - atitudes neste caso, são acadêmicos e práticos – aplicativos.
sustentáveis, mediante o plantio de árvores ou a recuperação
de ecossistemas florestais, poderão remover, em parte, o CO2 O objetivo acadêmico é servir de orientação básica
da atmosfera à medida que a vegetação cresce; esse processo para a apresentação e debate de temas como são os
chamado de seqüestro de carbono é significativo uma vez mecanismos de desenvolvimento limpo num contexto simples
que em torno de 50% do peso seco de vegetação é composto de um mini-curso em nível de graduação.
de carbono. Nesse processo o Brasil tem vantagens.
Os conceitos apresentados são coerentes com esse
A importância das emissões de gás carbônico a nível, desprovidos de exigências que não sejam a necessária
atmosfera pode ser vista pela estimativa desse volume, em leitura criteriosa, o entendimento do texto e a internalização
torno de 200 milhões de toneladas de carbono por ano, de ideais fecundas para provocar a reflexão e favorecer
constituindo-se uma referência de emissão. Essa referência mudanças de comportamento, mudanças que viabilizem
corresponde ao primeiro período do compromisso, assinado parcerias e acordos.
no Protocolo de Quioto, a ser alcançado entre 2008–2012.
Não se trata de definições dogmáticas e acabadas,
No processo de redução da emissão de gás carbônico, padronizadas de um modelo e com aplicações lineares pela
conforme a sistemática e estado de evolução de acordos no imitação ou extrapolação, mas, de conceitos que se estão
lastro da Convenção e Protocolo, observam-se dois grupos: construindo, na virada do novo milênio num cenário de
discussão aberta, de critérios que devem caracterizar o
a) os países desenvolvidos que possuem metas de redução processo, em lugar de padrões e definições de um modelo e
de emissão (chamados países do Anexo 1, segundo o de estruturas sistêmicas próprias do objeto em que tais
Protocolo); e conceitos, critérios e processos se aplicam.

b) os países que não têm metas (países Não-Anexo 1), Deve-se observar, na apresentação de conceitos, que
com estimativas de quantidades máximas de carbono a alguns deles não são plenamente consistentes e integráveis.
serem evitas, na fase de compromisso, variando de Mas, essa apresentação sem consistência é propositada e,
28,00 MtC/ano, para o caso dos Estados Unidos da portanto, faz parte dos propósitos gerais do documento; isto,
América (sem confirmação dessa adesão, até 2002), porque, parte dos objetivos do mini-curso é incitar à reflexão
seguido de Rússia e o Japão (17,63 e 13,0 MtC/ano, e discussão para a “construção do futuro”. Neste ponto, o
respectivamente, até a Espanha e Suécia, os menores, documento deve ser complementado por outro: Introdução à
dentro dos países industrializados, com 0,67 e 0,58 construção de cenários prospectivos; este e aquele são partes
MtC/ano, segundo estatísticas da FAO (2003). do Desenvolvimento sustentável: da teoria à prática.

A síntese do quadro anterior de mudanças climáticas Uma análise mais detalhada deverá requerer leituras
provocadas pelos GEE e suas conseqüências nas atividades de documentos como são a Agenda 21 Global, a Agenda 21
humanas, quando se propõem novas formas de organizar Brasileira, Protocolos e Convenções que visam orientar os
essas atividades no contexto do D∩S, destacam os problemas mecanismos e o próprio desenvolvimento, entre outros; o
dessas mudanças e impõem desafios na busca de técnicas e leitor poderá obter e consulta esse material disponibilizado
mecanismos flexíveis do crescimento com sustentabilidade; em CD-ROM.
esse é o tópico central do documento, abordado nas próximas
seções. Mas, antes de apresentá-lo, faz-se necessário A parte relativa à pesquisa com o comprometimento
especificar os objetivos do documento e os objetivos dos para o desenvolvimento sustentável poderá ser obtida do
instrumentos para a solução do problema da mudança Manual de pesquisa, vol 1, 2, 3, 5, 7 e 11, que trata,
climática. respectivamente, de aspectos conceituais, evoluções e
12

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

tendências da pesquisa e ciência; de critérios de qualidade


aplicados à pesquisa; de aspectos de ética na pesquisa; do
projeto de pesquisa; da normalização e sistematização no
tratamento e apresentação de resultados da pesquisa,
conforme normas da ABNT e ISO; e de sistemas e simulação
na pesquisa (este último em fase de elaboração).

Com relação aos objetivos dos instrumentos de


desenvolvimento como é o caso dos mecanismos de
desenvolvimento limpo, estes são definidos com a
apresentação e ilustração dos mesmos, ao longo do texto.

Para facilitar o entendimento de conceitos, critérios e


processos, apresenta-se, ao final do texto, um glossário.

O retorno ou a satisfação à consulta deste material,


dentro do conceito utilitarista da doutrina ética, segundo a
qual o que é bom se identifica com o que é útil e se faz da
utilidade o princípio de todos os valores, está nas críticas e
sugestões ao documento que visem seu aprimoramento;
estas, antecipadamente agradecidas, poderão ser enviadas
para educa@sede.embrapa.br.

O autor não poderia deixar de expressar seus


agradecimentos aos professores que organizarão o mini-
curso e oferecerão a oportunidade para esta apresentação, em
especial e por motivos profissionais e outros igualmente
especiais e singulares, à Prof. Júnia Alencar Rodrigues.
13

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

d) as reduções certificadas de emissão, as unidades de


redução de emissão e as unidades de quantidades
atribuídas, bem como as unidades de remoção
2 Mecanismos de resultantes das atividades previstas, podem ser
Desenvolvimento Limpo (MDL) utilizadas para atender os compromissos das Partes e
podem, ainda, ser adicionadas;
Esta parte do documento é composta por uma síntese
de antecedentes, definições e princípios dos mecanismos de Em outros documentos do Protocolo como os do
desenvolvimento limpo e por considerações adicionais, Conselho Executivo, estabelece-se, entre outros:
igualmente gerais, do Protocolo de Quioto à luz de condições
e possibilidades do Brasil, feita com base em pesquisa a) Incluir em planos de trabalho tarefas como as de
documental apresentada no Manual de pesquisa, vol. 1, desenvolver e buscar acordos sobre as regras de
obtidas de várias fontes. procedimento, com recomendações para a Conferência
das Partes adotá-las.

2.1 Antecedentes b) Credenciar entidades operacionais e designá-las, em


caráter provisório.
Com base em acordados alcançados em Conferência
das Partes (pág. 4 e 5), em particular das Partes do c) Desenvolver e recomendar à Conferência das Partes,
Protocolo de Quioto (COP-3), no preâmbulo da Convenção modalidades e procedimentos simplificados para
e no fato de que esse Protocolo não criou ou não conferiu às atividades de projeto dos MDL, tais como:
Partes qualquer direito, título ou permissão para qualquer
tipo de emissão; bem como enfatizando que essas Partes c.1) projeto de energia renovável com capacidade
devem implementar ações domésticas, de acordo com as máxima de até 15 Megawatts ou equivalente;
circunstâncias nacionais, com vistas à redução de emissões e
de conformidade com a integridade ambiental a ser c.2) projeto de melhoria da eficiência energética que
preservada por meio de modalidades, regras e diretrizes reduzam o consumo de energia equivalente a 15
sólidas para os mecanismos, foi decidido : Gigawatt/hora/ano;

a) o uso dos mecanismos deve ser suplementar às ações c.3) outros projetos que tanto reduzam emissões
domésticas; tais ações devem constituir um elemento antrópicas por fontes quanto emitam diretamente
significativo do esforço envidado por cada Parte, por menos do que 15 toneladas/ano de CO2.
cada país; esse esforço é diretamente proporcional à
emissão de gases, para atingir seus compromissos Quanto a elegibilidade das atividades de projeto dos
quantificados de limitação e redução de emissões; MDL no âmbito do Uso da terra, mudança no uso da terra e
florestas (Land-use and land-use change and Forest:
b) a provisão de informações deve levar em conta o relato LULUCF 7), a decisão, até 2003, era de que as atividades
do progresso demonstrável, conforme consta em
decisões dessa Convenção e Protocolo;
7
Algumas das recomendações de estudos do Brasil em torno das
c) a elegibilidade de uma Parte incluída no Anexo I para modalidades de atividades de mudança no uso da terra e floresta do
participar dos MDL depende do cumprimento, por essa LULUCf (florestamento, reflorestamento e desflorestamento) ao
permitir que as mudanças líquidas sejam utilizadas pelas Partes, são
Parte, dos requisitos metodológicos e da correspondente dirigidas para definir que atividades não devem ser encorajadas nos
supervisão dessa disposição, realizada pelo ramo próximos compromissos; caracterizar temas prioritários para os
coercitivo do comitê de cumprimento, de acordo com os projetos dos MDL; ampliar a discussão do mercado do carbono e
procedimentos e mecanismos pertinentes; das implicações das mudanças climáticas em setores como o
agrícola; “melhor” definir critérios de elegibilidade de projetos de
interesse para o setor agrícola.
14

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

fossem limitada ao florestamento e reflorestamento, com de gases a atmosfera, que teriam que ser feitos nessas
baixos limites de emissão e com definições e modalidades economias industrializadas.
para a inclusão de atividades, nesses projetos, levando em
conta, no primeiro período, questões como as de não- Muitos países em processo de desenvolvimento e, em
permanência, adicionalidade, fugas, incertezas e impactos particular, o Brasil com seu acelerado processo, têm
socioeconômicos e ambientais nas áreas ou países sedes. oportunidades de redução de emissões (ou de captura) de
Nessa conta deveriam ser incluídos, entre outro, os impactos, carbono a atmosfera, com vantagens, para o caso do Brasil,
desses projetos, sobre a biodiversidade e os ecossistemas de menores custos nessa emissão por unidade de produção ou
naturais. na captura. Com isso, além da maior eficiência econômica,
possibilitar-se-ia endereçar ou fortalecer projetos pela via do
Na implantação de projetos deveriam ser seguindo os desenvolvimento sustentável. Deve-se acrescentar que essa
princípios contidos no documento LULUCF, bem como os possibilidade é favorecida pelo fato das contribuições das
termos de referência que ao caso se apliquem ou sejam emissões (impacto sobre o meio ambiente) de GEE serem as
pertinentes. mesmas, independentemente do local ou área geográfica
onde ocorram.
Decisões importantes, relacionados com os projetos
dos MDL, orientam-se para as reduções certificadas de Os MDL, resultados de acordos das Nações Unidas
emissão, apenas para o período de obtenção de créditos, com (adotados em 1992 e com vigor da Convenção em 1994),
início após a data de registro desses projetos. entre outros, do Protocolo de Quioto (1997) como parte da
Convenção do Clima para estabilizar os GEE na atmosfera a
Os MDL é a única ferramenta flexível dos países um nível que possa impedir (limitar em níveis “toleráveis”) a
desenvolvidos 8 e/ou indstrializados, dentro dos instrumentos ocorrência de mudanças climáticas danosas, deverão
da Convenção do Clima, que tem como objetivos reduzir as permitir, assim se espera, que os países desenvolvidos (até
emissões de GEE e estimular o desenvolvimento sustentável 2002 os países em processo de desenvolvimento não estavam
de países em processo de desenvolvimento. obrigados a reduzir suas emissões de GEE, no contexto dessa
Convenção, mas, podiam contribuir voluntariamente,
O princípio básico desses mecanismos é permitir que sediando projetos de reduções de emissão global ou de
países desenvolvidos invistam em países em processo de seqüestro de carbono) cumpram parte de suas obrigações por
desenvolvimento que apresentem oportunidades de redução, meio da implantação de projetos que venham a reduzir essas
com baixo custo, de emissões de gases e que possam receber emissões ou que as compensem ao adquirir “bônus carbono”
créditos por essa redução obtida nas emissões de GEE pelo seqüestro desses gases por parte de países e empresas
responsáveis por alterações climáticas. Deve-se em processo de desenvolvimento sadio.
complementar que essas alterações são consideradas como
uma das mais sérias ameaças (com processos e efeitos em
curso) à sustentabilidade do meio ambiente, à economia
global e ao bem-estar do homem, sem exclusão de setores e 2.2 Objetivos, critérios de elegibilidade
agentes locais, regionais ou nacionais. e indicadores para avaliação de
Os países desenvolvidos poderão, mediante esses projetos dos MDL
mecanismos, aplicar esses créditos para atingir as metas
fixadas pelo Protocolo para 2008-2012, aliviando, dessa Os MDL têm vários objetivos, agrupados neste
forma, cortes e ajustes, decorrentes da redução de emissões documento em duas partes (países em processo de
desenvolvimento e países desenvolvidos); para os países em
8
processo de desenvolvimento esses objetivos são:
Segundo o art. 12 do Protocolo de Quioto, “a finalidade dos MDL
será a de ajudar a países não incluídos no Anexo I para atingir o
a) Auxiliar esses países para que implantem projetos,
desenvolvimento sustentável e contribuir para o objetivo final da
Convenção, bem como ajudar os países nele incluídos a adequar-se como instrumentos necessários, entre outros, para
aos seus compromissos quantitativos de limitação e redução de alcançar o desenvolvimento sustentável, gerando bases
emissões”. para o desenvolvimento limpo; tais bases poderão ser:
15

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

a.1) tecnológicas e científicas, 9 tais como: novas acordados internacionalmente e serão quantificados em
informações para novos conhecimentos da unidades padrões, conhecidas como certificados de emissões
sustentabilidade na região e novos serviços e produtos reduzidas (CER); os indicadores desses certificados serão
tecnológicos para inovações sustentáveis na região, toneladas de emissões de CO2 evitadas.
em processos como os de conservação (p. ex., uso
criterioso de ambientes e recursos naturais; A síntese de critérios e de indicadores apresentada no
reflorestamento de áreas marginais com espécies Quadro 1 dá uma idéia de exigências e da complexidade de
nativas e tratamento especial de encostas, áreas de projetos, a serem definidos no contexto dos MDL, para
entorno e entre fragmentos de florestas nativas; novas serem considerados elegíveis e com possibilidades de
plantações em escala industrial como atividades de aprovação.
florestamento; desmatamento; plantações para fins de
produção de biomassa e geração de energia; Quando o Protocolo de Quioto estiver em pleno
recuperação de áreas degradadas com potencial de vigor, esses créditos de carbono poderão ser comprados e
seqüestro de carbono etc.); manejo integrado (p. ex., vendidos em um novo (esperado) mercado de bens e serviços
manejo integrado de pragas - doenças e o do meio ambiente, como se tais bens fossem commodities.
planejamento e gestão estratégica desses ambientes e
recursos: solos, biodiversidade, recursos hídricos,
recursos climáticos); e proteção de riquezas naturais
mediante mecanismos e procedimentos de valorização
e internalização dessas riquezas em sistemas como os
contáveis sociais; Quadro 1 Síntese de proposta de critérios de elegibilidade e de
indicadores de sustentabilidade para priorizar instrumentos do
a.2) ajustes e/ou adequações e, quando necessárias e D∩S a
oportunas, mudanças em legislações e instrumentos de INDICADORES
CARACTERÍSTICAS
planejamento, de gerenciamento e outros (p, ex., E CRITÉRIOS
crédito com assistência técnica; infra-estruturas com Têm caráter classificatório dos projetos e são
objetividade para o desenvolvimento de novos utilizados para a análise e definição de
prioridades, numa escala de –3 = totais
mercados como os “bônus de carbono”; e sistemas de afastamentos do atendimento ao indicador; 0
informações e comunicações incorporando novas a) Indicadores = não houve mudança; +3 = total
tecnologias, entre outros). atendimento ao indicador, passando pelos
estágios intermediários –2 e +2. Os
indicadores compreendem tanto aspectos
b) Para os países desenvolvidos o objetivo dos MDL é o qualitativos como quantitativos.
de fornecer a necessária flexibilidade para atingir suas
Contribuição para mitigação das mudanças
metas de redução de emissão, permitindo que utilizem climáticas, com medidas na mudança no
créditos de carbono provenientes de projetos de redução Indicador 1
nível de emissão ou de seqüestro de carbono
de emissão, implantados nos países em processo de em relação ao cenário de referência
desenvolvimento. Contribuição para a sustentabilidade do meio
ambiente no local, avaliando impactos, tais
Como todo objetivo consistente e operacional atrelado como: efeito das emissões locais de
poluentes sólidos, líquidos ou gasosos;
a descritores e indicadores igualmente consistentes, os poluição sonora; poluição visual; erosão do
objetivos dos MDL requerem, também, descritores, solo; contaminação de recursos hídricos;
Indicador 2
indicadores e critérios. Neste sentido, conforme se estipula perdas da biodiversidade; áreas inutilizadas.
na Convenção e no Protocolo, os fluxos de GEE de cada Observa as características de ocupação
antrópica: residencial, comercial, industrial e
projeto dos MDL serão medidos conforme métodos agrícola, bem como de localização:
proximidade de recursos hídricos e de
9 florestas nativas.
Em alguns casos, para se ter tais fatores favoráveis e
imprescindíveis do D∩S poderá ser necessário redirecionar e
fortalecer a plataforma que gera / adapta essas tecnologias às
condições regionais, tornando-as essenciais para a competitividade.
16

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

Continuação Continuação
Quadro 1 Síntese de proposta de critérios de elegibilidade e de Quadro 1 Síntese de proposta de critérios de elegibilidade e de
indicadores de sustentabilidade para priorizar instrumentos do indicadores de sustentabilidade para priorizar instrumentos do
D∩S a D∩S a
INDICADORES INDICADORES
CARACTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS
E CRITÉRIOS E CRITÉRIOS
Contribuição para gerar emprego. Define a O projeto é considerado elegível quando
mudança no nível de emprego, comparando- atende a todos os critérios. As condições para
se o cenário do projeto com o cenário de a certificação de reduções de emissões
Indicador 3 referência. Vários indicadores, neste grupo, estabelecem que os benefícios sejam
b) Critérios de
podem ser definidos, como, p. ex.: Emprego adicionais aos que ocorreriam na ausência na
elegibilidade
/ capital investido; duração / nível de salário; atividade certificada do projeto. A
insalubridade e periculosidade. recomendação é de avaliar na forma binária:
SIM ou Não, o que confere o caráter
Impacto na distribuição de renda com
eliminatório aos critérios.
indicações tanto diretas como indiretas,
sobre a qualidade de vida das populações de Setores de atividades que são qualificáveis
Indicador 4
baixa renda no local. Mediante este para os MDL; os projetos considerados não-
indicador se avalia as conseqüências elegíveis são: conservação florestal e qualquer
socioeconômicas derivadas do projeto mudança no uso da terra e floresta que não
seja florestamento e reflorestamento (ver nota
Contribuições do projeto para a
de rodapé do Quadro 2); energia nuclear;
sustentabilidade do balanço de pagamento;
Indicador 5 geração não-sustentável de energia
indicadores como gastos e tendências de
proveniente de biomassa; e centrais
item que mais pesam nesse balanço.
hidrelétricas superior a 30 MW ou com
Critério 1
Contribuições do projeto para a reservatórios superiores a 3,0 km2; estes
Indicador 6
sustentabilidade macroeconômica. projetos, entretanto, poderão ser elegíveis se
utilizarem tecnologias que contribuam para a
Indicadores de custo-efetividade; custos de
eficiência energética no transporte e consumo
emissões de carbono evitadas ou
industrial, entre outros; suprimento energético
seqüestradas em relação ao cenário de
Indicador 7 por fontes renováveis; reduções de emissões
referência. Alguns índices econômicos são: a
de GEE; florestamento e reflorestamento no
taxa interna de retorno e a taxa de retorno do
longo prazo; e redução nas emissões de GEE
investimento.
em setores como o pecuário e agrícola.
Contribuições do projeto para a auto-
Redução de emissões reais e mensuráveis em
suficiência tecnológica; gastos em aquisição
Indicador 8 relação ao cenário de referência; essa
de tecnologia em relação ao cenário de
Critério 2 mensuração deve, quanto possível, seguir os
referência.
procedimentos metodológicos proposto pelo
Índices do potencial de internalização de IPCC
Indicadores do
benefícios, de integração regional e de a
Fonte: ROVERE, La; STEVE, Thorne. Criteria and indicators for
potencial de efeitos
articulação com outros setores. Inovações e appraising Clean Development Mechanism (CDM) Project;
multiplicativos
replicabilidade tecnológica. complementado com informações do MCT (BRASIL, 2002).
Os certificados de emissões reduzidas (CER)
Internalização de avaliam os benefícios esperados da venda de
benefícios dos “créditos de carbono”. Avalia como esses
CER benefício é distribuído entre os atores
participantes.
Índices de sustentabilidade a partir da
Possibilidade de A exemplificação de objetivos dos MDL apresentada
integração de projetos com outras atividades
integração
regional e
socioeconômicas. Possibilidades de anteriormente é coerente com o destaque dado pela
estabelecer ecopolos e de articulação com Convenção do papel da silvicultura quando, por ocasião da
articulação com
programas regionais como a reciclagem e
outros setores
aproveitamento de resíduos.
COP-2, foi decidido que o florestamento e o reflorestamento
seriam as únicas atividades de gestão de uso da terra, em
pequenas ou grandes escalas, passíveis de serem
17

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

consideradas nesses mecanismos, envolvendo áreas florestais Os sistemas de produção limpa (sustentáveis) são,
ou sistemas agrícolas (p. ex., o “estabelecimento de plantios com freqüência, circulares, usando / consumindo menos
em áreas comunitárias”). matéria-prima e menos água e energia. Nesses processos de
produção e consumo são aplicados princípios do
Deve-se observar, na análise de documentos da desenvolvimento limpo, sintetizados no Quadro 2.
Convenção do Clima, que o papel da gestão de uso da terra,
de mudança no uso da terra e da silvicultura como
“sumidouros” foi polêmico, não apenas pela indefinição ou
abrangência e inclusão de alguns tópicos responsáveis pelo
fracasso de algumas negociações, mas, também, pela
Quadro 2 Elementos dos processos produtivos e consumo limpos
colocação direta de assuntos causadores de atritos e
PRINCÍPIOS CARACTERÍSTICAS
divergências entre as Partes. Isto levou à formação de uma
O agente potencialmente poluidor deve
comissão para, a partir da COP-7, definir regras mais
demonstrar que sua atividade ou resultado não
detalhadas. O documento de referência para esse causará dano ambiental. Este enfoque rejeita o
Precautório
detalhamento é Criando as bases para o desenvolvimento uso exclusivo da avaliação quantitativa do risco
limpo: preparação do setor de gestão de uso da terra: um na tomada de decisões e libera o agente
prejudicado da demonstração do prejuízo
guia rápido para o mecanismos de desenvolvimento limpo
A lógica pode ser traduzida: é barato e eficiente
(MDL); IIED, EcoSecurities e ECCM; 2002; ver CD- prevenir danos do que tentar controlá-los ou
ROM.10 Preventivo remediá-los. A abordagem desse princípio é a
análise de prováveis causas para tratá-las antes
que apareçam seus efeitos.
O atingimento de objetivos dos MDL deverá provocar
Envolve todos os atores afetados ou
ajustes e, em alguns casos, mudanças, com variáveis ritmos e potencialmente afetados no processo de D∩S. A
intensidades de ações e estratégias entre as Partes. Neste abordagem considera, entre fatores, a
sentido é possível observar, em 2003, sinais progressivos, informação: o acesso a informação “consistida”,
ainda que tênues, de que os países industrializados vêm valiosa e oportunamente oferecida, com
Democrático
segurança, ao cliente “certo”; deve-se observar
desenvolvendo políticas públicas domésticas favoráveis ou que informação “certa” para o alvo “certo” é um
compatíveis com as metas do Protocolo de Quioto; esse dos princípios da qualidade; outro princípio, o
lastro, repetindo, apesar de tênue e com a ausência de países democrático, é o comprometimento dos atores
imprescindíveis no alinhamento dessa Convenção, parecem na tomada de decisões.
Visão no todo e global para ação consistente na
fortalecer as condições de produzir e vender créditos de parte e regional; a produção e consumo se
carbono para um futuro mercado de commodies ambientais. referem a uma parte que, em geral, está
integrada ao todo, conforme indicado, com viés,
É oportuno observar que o objetivo da produção e no início do documento. As reduções de
Sistêmico emissões de poluentes centradas nos processos
consumo “limpo” é entender as necessidades de produção de produção favorecem a transferência do risco
(ver Introdução à construção de cenários prospectivos) e, na para o produto; esse risco pode ser minimizado
medida do possível, atendê-las de maneira sustentável; quando sejam tratados todos os fluxos de
entender é o primeiro passo para planejar e gerenciar formas materiais, energia e água num contexto
integrado e sistêmico.
eficientes de uso / consumo de matérias e de fontes de
energias renováveis; atender com sustentabilidade pressupõe
conhecer e respeitar características dos sistemas (ver Figura
3) que se integram nesses processos de produção e consumo,
conforme ilustrado na introdução deste documento e
sintetizado no conceito de sustentabilidade apresentado em Quais poderiam ser as oportunidades de produção e
Desenvolvimento sustentável: da teoria à prática. consumo dos projetos dos MDL, coadunados com planos de
desenvolvimento sustentável no Brasil?
10
Esse mesmo documento foi a referência ou obra básica de Este documento não seria o meio adequado para listar
consulta utilizada para preparar esta síntese, complementada com e justificar que oportunidades têm o Brasil para preparar e
outras fontes citadas em Manual de pesquisa..., vol 1.
18

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

aprovar projetos na esteira do desenvolvimento limpo, mas, Parte dessas oportunidades e potencialidades está
uma amostra desses projetos parece ser suficiente na resposta definida pelo clima, pela disponibilidade de água e, com
inicial à questão. Essa relação é apresentada no Quadro 3. alguma intensidade, pelo “estado da ciência e tecnologia”
favoráveis às plantações silvícolas. Contudo, o
desenvolvimento dessas plantações tem sido limitado por
restrições de capital, pelas deficiências e/ou falta de
mecanismos de financiamento em horizontes de longo prazo
e por políticas nem sempre integradas, consistentes e com
Quadro 3 Exemplo de oportunidades selecionadas de objetivos exeqüíveis ao tratar, p. ex., problemas como os de
redução de emissões de GEE desflorestamento, desmatamento e queimadas.
SETOR ESPECIFICAÇÃO
Melhoria tecnológica na eficiência de substituição de Em termos gerais, as recomendações para ações do
fontes convencionais setor produtivo e a sociedade civil, estabelecem, entre outras:
Co-geração de eletricidade na indústria química
baseada em produtos como o “bagaço” a) implementar atividades e estratégias que atendam aos
Melhoria tecnológica e outras no uso renovável de
frontes como a biomassa, tais como: princípios do D∩S (ver Desenvolvimento sustentável:
- cultivo de plantas para a geração de energia; da teoria à prática), independente de virem ou não a
Geração de - uso de biomassa ou alternativa de energia renovável se constituírem projetos elegíveis para o recebimento
energia para sistemas de irrigação; de créditos de carbono no âmbito do Protocolo de
- uso de resíduos agrícolas para a geração de energia,
em lugar da queima in situ. Quioto;
Energia eólica aproveitando potencialidades locais
Ampliação e melhoria de aplicações solar-termal e b) buscar a integração, as parcerias e o envolvimento das
solar-fotovoltica. representações de setores privados, da sociedade civil
Ampliação e melhoria tecnológica de fontes
hidrenergéticas de pequena escala. e do “terceiro setor” nas ações preparatórias às
Manejo sustentável de florestas em terras públicas e negociações internacionais, reconhecendo, nelas,
privadas com possíveis incentivos da certificação vantagens e oportunidades, não apenas para o País,
Projetos comunitários agroflorestais. mas, para a comunidade internacional;
Sistemas agroflorestais como alternativa ao cultivo
Florestal
itinerante
Plantio de árvores para melhoria microclimática. c) ampliar e fortalecer a preparação de representações dos
Plantio de árvores com eficiência no seqüestro do setores agropecuário e florestal em eventos
carbono relacionados às mudanças climáticas para auxiliar,
influenciar e melhor tomar decisões setoriais
relacionadas com essas mudanças e com os MDL.

Em relatórios de 2002-2003 da Convenção e do


Protocolo se apresentam informações acerca da contribuição
dos MDL sobre os atores envolvidos em atividades de uso
É oportuno indicar que, independentemente dos do solo nos países em desenvolvimento. Pela pertinência
MDL, o Brasil apresenta, até 2003, roteiros de com o documento, relacionam-se, no quadro sinóptico que
recomendações para o desenvolvimento sustentável, entre segue (Quadro 4), estimativas que auxiliam o entendimento
outros para o desenvolvimento de setores como o energético e a reflexão acerca desses mecanismos.
(dominado pela hidroeletricidade), agrícola e florestal;
nestes, as oportunidades, se aprovados os projetos florestais Os impactos dos MDL sobre os atores envolvidos
no âmbito dos MDL, são enormes dado o imenso potencial depende de objetivos e prioridades desses atores; da
para o seqüestro de carbono por meio da expansão de regulamentação para garantir o atingimento de objetivos dos
plantações e da proteção de bacias naturais de carbono. projetos; do uso atual dos recursos e da forma de
conservação e manejo que sejam propostas nos projetos,
especialmente para a recuperação de áreas degradadas.
19

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

- as de medições, certificações feitas por agências


Quadro 4 Estimativas dos efeitos de captura de carbono feita
independentes (entidades operacionais, na linguagem
por projetos sustentáveis dos MDL da Convenção) e segurança no longo prazo
POTENCIAL DE
(permanência).
ATIVIDADE
SEQUESTRO (tde C/ha)
Recuperação de áreas degradadas 40 – 80
Sistemas agrossilviculturais: plantio
20 a 60
novas árvores
Plantios industriais Até 100
Bioenergia Até 100
Brasil: 6,6
Entenda-se por florestamento, segundo a Convenção a “conversão, induzida
pela ação direta do homem, de uma área que se encontre há pelo menos 50
anos não plantada em uma região florestal, através do plantio, semeadura México: 7,8
e/ou promoção de fontes naturais de semeadura; o reflorestamento é “a
conversão, induzida pela ação direta do homem, de terras não plantadas em
uma área florestal, através do plantio, semeio ou da promoção de fontes Índia: 15,5
naturais de semeadura, em uma terra originalmente florestal, mas que tenha
sido convertida em uma área não florestal; floresta"é uma área mínima de
terra, de 0,05 a 1,0 hectare, com 10 a 30% de árvores, com potencial para Rússia: 68,4
alcançar uma altura mínima de 2 a 5 metros (na maturidade) em seu habitat
natural. Uma floresta pode ser constituída de formações de mata fechada, na
qual árvores de diferentes alturas e vegetação rasteira cubram uma alta União Européia: 127,8
proporção do solo ou da floresta aberta. Árvores jovens e todas as plantações
que possam alcançar uma densidade de copa de 10 a 30% ou cujas árvores
possam crescer até a altura de 2 a 5 metros também estão incluídas na Estados Unidos: 186,1
categoria floresta, pois são áreas que normalmente fazem parte de uma
superfície florestal que está temporariamente desmatada em decorrência de
intervenções antrópicas (como plantações agrícolas) ou de causas naturais, 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
mas que ainda pode voltar a ser floresta.

Figura 5 Total de emissões de países (bilhões de t CO2) desde 1950

Fonte: World Resources Institute (2003)

A Figura 5 ilustra, em parte, a gravidade do problema,


ao apresentar estimativas totais de emissões, em bilhões de
toneladas de CO2, desde 1950, pelos principais países
responsáveis por esse processo, sendo que a participação do
Brasil é de apenas 3,5% e 5,2% da participação dos Estados
Unidos da América e da União Européia, respectivamente.
Outras regras para a aprovação são gerais como as de
acordo ou coerência do projeto com os objetivos do
desenvolvimento sustentável definido pelo governo e a de
contribuição para a conservação da biodiversidade e dos
2.3 Processo de aprovação de projetos recursos naturais
dos MDL
A aprovação de projetos está condicionada, também,
A aprovação dos projetos é feita pela Junta Executiva aos resultados de negociações que em 2003, encontravam-se
dos MDL, atendendo determinadas condições e aplicando em processo de negociação ou que precisam ser definidas,
regras, algumas específicas como as de: tais como as estimativas de benefícios líquido de carbono e
identificação de impactos sociais e ambientais e as formas de
- projetos de florestamento e reflorestamento na tratar com sistemas flexíveis e não-permanentes de uso dos
contabilização de créditos de carbono; e recursos naturais.
20

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

Deve-se notar que o sucesso dos projetos de MDL nos b) adequarem, se necessário, os setores de energia e
países em desenvolvimento dependerá, em grande parte, do transporte, entre outros, às exigências de menor
ambiente institucional e político no qual eles serão poluição;
implantados. Desse ambiente se destacam as políticas que
dizem respeito a floresta, ao planejamento – gestão de c) promoverem o uso de fontes energéticas renováveis,
ambientes e recursos naturais, ao desenvolvimento com um papel, igualmente destacado da pesquisa;
sustentável e a mitigação da pobreza e da exclusão social em
suas diversas formas como segurança alimentar. d) eliminarem mecanismos financeiros e de mercados
impróprios ou contrários aos propósitos da Convenção;
O Protocolo de Quioto atribui a responsabilidade
sobre os procedimentos de aprovação dos projetos de MDL e) limitarem as emissões de metano no gerenciamento de
aos países nos quais tais projetos serão implantados, como resíduos; e
condição necessária dessa aprovação; portanto, sem esse
consentimento os projetos não poderá ser aceitos pela Junta f) protegerem as suas florestas e outros sumidouros de
Executiva do MDL. Dessa forma, os governos dos países em carbono.
desenvolvimento que desejem implantar projetos de MDL
deverão definir esses procedimentos, os requisitos mínimos Esses propósitos, conformados às características
que tornem consistentes tais projetos com seus planos de (condições, dotações / potencialidades, possibilidades,
desenvolvimento sustentável, a infra-estrutura para promover conscientização e espírito solidário e cooperativo de países e
e administrar dos mesmos e programas como os de extensão, empresas…) dos países, poderão ser alcançados quando
divulgação de informações sobre as oportunidades dos MDL observadas flexibilidades no planejamento, definição –
e a facilidade de investimentos, entre outros. implementação e gerenciamento de mediadas e
procedimentos para efetivar a redução.
A parte que segue complementa informações do
Protocolo de Quioto e situa o Brasil nesse contexto, como Concomitante com a flexibilidade de procedimentos nos
preparação para a apresentação de projetos nos MDL, projetos dos MDL será estabelecido um regime de
destacando-se aspectos metodológicos; essa apresentação é intercâmbio comercial de certificados de redução de
precedida por informações gerais, apresentadas a emissão, possibilitando que países industrializados possam
continuação, dos mecanismos flexíveis na viabilização da comprar e vender créditos de emissões.
redução de emissões.
Os projetos consistentes dos MDL se configuram, em
tese, como um bom negócio, gerando, como inferência
lógica, um bom produto e, dessa forma (síntese), serão mais
2.4 Mecanismos flexíveis de competitivos e com melhores oportunidades no mercado de
viabilização da redução de emissões carbono.

A redução de emissões de gases à atmosfera deverá Quais são os mecanismos flexíveis propostos pela
ocorrer em vários setores e mediante procedimentos Convenção e, em particular, pelo Protocolo para viabilizar a
diferentes, conforme sejam as características e possibilidades redução de emissões de gases poluente à atmosfera?
dos envolvidos 11, com o estímulo do Protocolo de Quioto
para os países cooperarem entre si a fim de: Em termos gerais, esses mecanismos, apresentados em
grupos, são:
a) melhorarem a eficiência energética; neste ponto é
fundamental, imprescindível, o papel da pesquisa na a) os de implementação conjunta (ou Joint implementation)
melhoria da eficiência; mediante os quais os países do Anexo I buscam atingir
uma meta de redução de emissões através de projetos
conjuntos;
11
Dada a heterogeneidade dos envolvidos e para se alcançar a
integração entre eles, tais procedimentos não poderiam ser rígidos.
21

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

b) os de comércio de emissões (ou Emissions trading) 3.1 Introdução do projeto dos MDL
realizado entre países do Anexo I;
c) os Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) ou, Na parte inicial se apresenta o histórico da empresa
Clean Development Mechanism (CDM), pelos quais os proponente do projeto, destacando seu capital intangível e
países industrializados financiarão projetos de redução infra-estrutura, sua experiência e evolução, sua visão de
de emissões de GEE em países em desenvolvimento e, futuro e credibilidade pela forma como planeja e gerencia e,
por isso, receberão créditos de carbono. em especial, credibilidade pela contribuição, com efetividade
e pelo impacto social positivo já alcançado e que poderá
A parte que segue apresenta, de maneira geral e repetir nos resultados esperados da redução de emissão ou
simplificada, um roteiro para a elaboração de um projeto dos com o seqüestro do carbono.
MDL, com viés para condições e possibilidades do Brasil.
Na introdução, coloca-se em evidência, também, o
problema em contextos como o do desenvolvimento regional
3 Roteiro para Elaborar Projetos nos e a coerência com as orientações do Protocolo ao destacar,
MDL inicialmente, as ações ou iniciativas de elegibilidade como
medidas de mitigação do efeito estufa.
Apresenta-se, de forma geral, introdutória e
simplificada, a seqüência de passos (os mais importantes) 3.2 Dimensões e características de
que devem ser seguidos e considerados pelos países e/ou
empresas interessadas em desenvolver projetos dos MDL, projeto dos MDL
vale dizer, projetos de estejam conforme diretrizes (em
especial, as do Conselho Executivo designado pelos países Ao fazer o desdobramento das ações que definem a
membros da COP, além de diretrizes do próprio país sede / elegibilidade de projetos dos MDL, devem-se considerar:
executor do projeto, contidas / aplicadas em seus planos de
D∩S), critérios, normas e condições da Convenção do Clima a) a redução de emissões mediante o aumento da
e, em particular, do Protocolo de Quioto, com vistas à eficiência energética ou do abastecimento pelo uso de
redução de emissões de GEE certificadas. 12 fontes e combustíveis renováveis, pela adoção de
tecnologias e/ou sistemas de abastecimento de menor
Trata-se de roteiros de projetos capazes de propiciar potencial de emissão e por inovações tecnológicas em
que os países em processo de desenvolvimento ou menos setores como os produtivos e de transporte, entre
industrializados reduzam suas emissões, possam adquirir os outros;
certificados de emissões reduzidas para a transação em
mercados ambientais e promovam o desenvolvimento b) o resgate de emissões, através de sumidouros e da
sustentável em suas respectivas áreas. estocagem dos GEE retirados da atmosfera, como
poderiam ser: injeção de CO2 em reservatórios
O roteiro que segue consta de passos que se geológicos; atividades relacionadas ao uso da terra,
especificam nos próximos itens. definidas como aflorestamento e reflorestamento em
áreas que se apresentavam, no ano de referência
(1989), sem cobertura vegetal, segundo critérios do
LULUCF.
12
A certificação dessas emissões deve ser feita por entidades
certificadoras independentes, com a definição de procedimentos de De acordo com a resolução da Conferência das Partes
auditorias de verificação para, com isso, assegurar a transparência; algumas categorias de projetos de pequena escala já estavam
são entidades designadas pela COP como certificadoras de projetos definidas na virada para o novo milênio (projetos de
consistentes, isto é, que ofereçam benefícios de longo prazo, reais e produção de energia renovável com capacidade máxima de
mensuráveis, para os propósitos de mitigação de mudanças do clima até 15 megawwats; projetos de redução de consumo
e redução do efeito estufa, bem como com capacidade para
energético equivalente a até 15 gigawatts hora/ano etc; ver
promover reduções de emissões adicionais, aquela que não poderia
ser obtida com a não-existência do projeto dos MDL.
22

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

pág. 13) e deverão ter mecanismos facilitados de aprovação Essa descrição (diagnóstico) detalhada deve, quanto
pelo Conselho Executivo dessa Convenção e Protocolo. possível, ser feita com estatísticas “consistidas” e integradas
em indicadores que possibilitem análises comparativas de
evoluções na região e entre regiões.

3.3 Empresas promotoras e/ou A descrição ou diagnóstico não pode perder de vista
associadas aos projetos dos MDL os propósitos do projeto devendo procurar, portanto, os
nexos com critérios e indicadores como os apresentados,
A descrição de entidades e empresas parceiras e apenas um exemplo, no Quadro 3.
cooperadas nos projetos dos MDL deve compreender dados
e informações “consistidas” e relevantes, tais como:

a) o tipo de envolvimento e a responsabilidade dessas


3.5 Diagnóstico do setor ou da
empresas na execução do projeto; atividade alvo do projeto nos MDL
b) as atividades básicas que devem ser desenvolvidas A caracterização do projeto deve ser a mais clara e
devidamente alocadas, para a execução, e integradas, explícita possível, o que é de especial importância quando se
em seus resultados; trata de um país como o Brasil, com singularidades e
profundas diferenças regionais; diferenças que por vezes
c) o capital intangível efetivamente alocado no projeto e definem problemas e, em outras, oportunidades e vantagens;
como este se integra e potencializa com o capital em qualquer dos casos, exigem-se abordagens profundas e
intangível da empresa proponentes e executora; diferenciadas.

d) o tempo de existência da(s) empresa(s) ou entidade(s) Considerando-se o projeto apresentado pelo Conselho
e a(s) experiências nas atividades que se propõem no Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
projeto, devendo-se dar destaque à experiência direta; é possível se ter uma idéia da importância de uma descrição
clara e objetiva:
e) o tipo de associação, relacionado com o tipo de
envolvimento e com a partilha de responsabilidade;

f) o(s) motivo(s) ou interesse no desenvolvimento do “Tomando como ilustração o caso de um projeto cujo alvo
projeto, entre outras informações. básico seja a `geração de energia eólica´ para uma
comunidade sem acesso à rede elétrica ou servida por
gerador de energia convencional movido a óleo diesel
(…), é importante apresentar as características gerais da
oferta e do abastecimento de eletricidade (…) como são a
3.4 Descrição da localização do projeto fontes de suprimento, preços, qualidade etc.; como se dá
dos MDL esse abastecimento na região do projeto; [quais são os]
problemas existentes; e como se projeta o suprimento
futuro de energia elétrica (…) criando cenários desse
Os formuladores devem entender que o projeto será abastecimento e suas características diante do projeto
avaliado em instâncias e por entidades internacionais que, em proposto”.
geral, não estão familiarizadas com as características do local
selecionado. Dessa forma, além da indicação cartográfica e
geográfica, será necessária uma descrição cuidadosa ou
detalhada da localização do projeto, com especificação de Conforme seja a natureza do projeto, seja ele de
características técnico-científicas do espaço físico, do substituição energética como o exemplificado anteriormente;
ambiente sociocultural e de aspectos econômicos e do meio de conservação de fontes energéticas nas diversas atividades
ambiente. produtivas ou de natureza florestal voltado para o
23

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

florestamento ou reflorestamento, p. ex., é necessário fazer presente. Essa estimativa exige cuidados especiais, conforme
uma detalhada descrição analítica com base em dados e se pode inferir do exemplo simples que segue (obtido da
informações “consistidas” de registros e projeções do mesma fonte consultada do exemplo anterior):
correspondente setor.

um projeto de conservação de energia tendo por base a


3.6 Descrição tecnológica e análise regulagem sistemática de motores de veículos movidos a
óleo diesel, em uma determinada cidade ou região. A
técnica do projeto nos MDL “linha de base” (baseline), neste caso, exigiria que se
apresentasse o perfil da frota de veiculas em circulação, o
Trata-se de um aspecto fundamental de projetos dos padrão de “desregulagem” de motores atestados e típicos,
MDL requerendo que, além da consistência e suficiência de o consumo estimado de óleo diesel tal como se apresenta e
dados e informações atualizadas, necessárias (apenas as o resultado desse consumo em termos de emissões de CO2.
necessárias) e pertinentes, técnicas e métodos igualmente Essa baseline deveria contemplar ainda o padrão de
consistentes, com o máximo de clareza e fundamentação. renovação médio dessa frota (quantidade anual de veículos
novos que substituem velhos modelos em circulação),
padrão de emissão e efeitos, nessa frota, de um processo
Este aspecto é destacado na metodologia de pesquisa sistemático de regulagem. O conjunto desses dados
ao relacionar a caracterização de um problema de forma comporia a linha de base desse projeto.
objetiva e clara com a especificação de metas e objetivos
exeqüíveis e ao associar essas metas como os meios (técnicas
e métodos) necessários para que se possam atingir os
propósitos do projeto. Em geral, os projetos de linha base (baseline) não se
apresentam da maneira simplista como é observada no
Na descrição de tecnologias criteriosamente aplicada exemplo acima, mas, com certa complexidade do realismo,
no projeto se descrevem os materiais, justificando-os e realismo que não dispensável nessa apresentação, uma vez
explicando sua aplicabilidade e conveniência no projeto, que a consistência da integridade de um projeto como redutor
inclusive em termos de manutenção, autonomia e de emissões deve ser sua sólida estruturação no realismo,
durabilidade, entre outros aspectos dessa descrição. exigindo uma fundamentação bem mais detalhada. Dessa
forma, a apresentação de projetos dos MDL deverá se
No caso de um projeto florestal, a descrição poderá fundamentar em teorias e técnicas de sistemas, em projeções
compreender, entre outros detalhamentos, características e em cenários e simulações, com sua formulação feita por
agronômicas, práticas de manejo e técnicas de conservação, equipes interdisciplinares.
com suas respectivas bases científicas aplicáveis na região e
para o caso do projeto. A formulação do projeto dos MDL deverá consultar
diretrizes e orientações de políticas para não se ter
Um aspecto básico do projeto se refere à especificação incoerências como as de imaginar, p. ex., um projeto que
do cenário esperado sob duas considerações: pretenda aumentar a oferta de energia elétrica numa certa
região do Brasil tendo por base o uso de uma fonte renovável
a) com a implantação do projeto, portanto, com os e não emissora de poluentes (p. ex., eólica, solar ou de
benefícios esperados como os socioeconômicos e para o biomassa), sendo que essa região é suprida, em grande parte,
meio ambiente provenientes da redução ou captura dos por hidroeletricidade e, portanto, abastecida por fontes
GEE; consideradas não-emissoras de GEE.

b) sem o projeto, portanto, com a continuação de O perfil de abastecimento por fontes hidrelétricas,
emissões desses gases e de danos ao meio ambiente. com as crises de reservatórios no final da década de 90, está
sofrendo um processo de inversão, prevendo-se, ainda que de
Deve-se apresentar o cenário de emissões calculadas maneira não bem clara, a necessidade de um aumento
em toneladas equivalentes de CO2, conforme se registra no significativo da oferta de eletricidade produzida com base em
24

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

recursos não-renováveis e, portanto, geradores do efeito Sendo geral, ainda que superficial, o escopo deste
estufa. Com esse cenário, um projeto dos MDL de geração documento, é importante mencionar os principais fatores
de energia renovável em uma região 100% abastecida por metodológicos, conceituais e operacionais que determinam
eletricidade proveniente de usinas hidrelétricas e, portanto, ou configuram como se dará a contribuição à qualidade
praticamente sem emissões, poderá colocar em destaque ambiental em pelo menos, as dimensões ambiental, dos
questões, tais como: como calcular uma baseline que ampare recursos naturais e da biodiversidade; na qualidade do ar, na
a procedência do projeto? em termos de redução de conservação e manejo de solos e dos recursos hídricos; na
emissões, qual seria o ganho se a linha de base já configura conservação e manejo racional (integrado) dos recursos
uma situação sem emissões? naturais (p. ex., em ganhos e economia no uso de água e da
energia).
Em situações como as ilustradas acima, é necessário e
importante desenhar a baseline do projeto nas projeções Os projetos dos MDL, além de ambientalmente
futuras de aumento de emissões e fundamentar, com o sustentável, deverão se apresentar como uma contribuição
máximo de rigor, essas projeções. efetiva e mensurável ao desenvolvimento e à melhoria das
condições socioculturais e econômicas da população. Para tal
fim é necessário destacar, também, os efeitos do projeto no
que diz respeito à geração de empregos, ao aumento da
3.7 Síntese dos dados e informações e renda, à melhoria e modernização de padrões de consumo, à
análises de sustentabilidade e dos inserção social, a redução da pobreza e de desigualdades,
entre outras metas sociais estratégicas.
benefícios econômicos e outros,
esperados do projeto nos MDL De maneira objetiva essa apresentação pressupõe a
realização de diagnósticos profundos da realidade
Como qualquer projeto consistente, um ponto sociocultural e econômica e dos efeitos positivos que se
fundamental de projetos dos MDL é a necessária e suficiênte esperam com a realização do projeto, com informações que
representação do fato ou fenômeno considerado à luz não levem em conta a geração de empregos e renda do projeto;
apenas da tecnologia e ciência, mas, também de normas e outras informações poderão ser as características dos
exigências regionais e nacionais de aprovação e empregos ofertados; as condições do trabalho; e as propostas
licenciamento ambiental para o seu funcionamento e de assistência social ao trabalhador.
implantação, bem como os de elegibilidade e aprovação pela
Convenção e Protocolo; isto significa que, além do seu A apresentação de dados e informações econômicas
objetivo central de redução de emissões causadoras de efeito do projeto dos MDL com o enfoque de redução das emissões
estufa, o projeto deverá, também, apresentar-se como ou de captura do carbono dará origem a um certificado
ambientalmente sustentável nas várias dimensões, conforme comercializável no mercado internacional. Isso evidencia
definido em Desenvolvimento sustentável: da teoria à que, do mesmo modo como é preciso caracterizar a
prática. qualidade da “mercadoria” ou commodity a ser ofertada
(toneladas equivalentes de CO2), faz-se necessário, também,
É certo que dependendo do setor ou da área de que o projeto tenha credibilidade e se mostre consistente do
atividade do projeto, seus aspectos de sustentabilidade ponto de vista econômico-financeiro. Significa que, além da
poderão fortalecer uma ou outra dimensão; p. ex., em um credibilidade das empresas envolvidas, o projeto apresente,
projeto do setor florestal, os aspectos de interação e interface de maneira clara e consistente, os fundamentos econômicos
positiva com a biodiversidade são mais relevantes e dessa redução ou captura de gases, tais como:
significativos do que em um projeto que se proponha fazer o
aproveitamento energético do metano emitido em uma área a) montante necessário de investimento e descrição de
de disposição de lixo urbano ou de um projeto de fontes de obtenção desses recursos;
conservação de energia em instalação industrial localizada
em região também urbanizada. b) rentabilidade do empreendimento demonstrada
mediante índices econômicos apropriados;
25

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

c) prazo de retorno do investimento; 3.9 Ilustração de projetos dos MDL


d) cronograma consistente e exeqüível de implantação do Uma das formas complementares (ilustrativas) de
projeto e do seu fluxo de investimentos, entre outras. apresentar um projeto é mediante quadros e figuras; estas
ilustrações são utilizadas neste documento.

O Quadros 5 sintetiza os princípios e fundamentos


3.8 Exigências e formalidades de metodológicos indicados em linhas de ações mediante
garantia do projeto dos MDL símbolos e equações.

Determinadas circunstâncias como poderiam ser os


novos conhecimento e inovações para a conservação e
manejo de ambientes e recursos naturais, as externalidades Quadro 5 Princípios de metodologia para o cálculo das linhas de
positivas que incidem em áreas como a social e do meio base e estimativa de créditos de redução de emissões
ambiente e o fortalecimento de interesses nacionais que PRINCÍPIOS FUNDAMENTO
possam se traduzir em novas vantagens competitivas, entre OBSERVAÇÕES METODOLÓGICO
outros, podem conferir ao projeto dos MDL vantagens e
No caso de projetos em energia
aspectos meritórios adicionais de relevância; portanto, essas sustentável, as linhas de base
informações devem ser apresentadas no projeto. poderão incluir crescimento
econômico e/ou expansão dos
serviços, considerando que a
Os fatores que envolvem as garantias oferecidas pelo sociedade deve ter acesso aos As linhas de base devem se
projeto são de especial importância para as etapas de benefícios da eletricidade. referir à intensidade de carbono
credenciamento final do mesmo e para a comercialização dos Com esse projeto prevê-se um antes do projeto e não a valores
seus correspondentes certificados de emissões reduzidas a aumento de emissões como absolutos. A avaliação da redução
serem comercializadas no mercado de commodities. resultado do aumento no de emissões deve considerar
atendimento da demanda de também o volume e a qualidade
serviços de energia, desde que fique dos serviços oferecidos pelo novo
Entre os fatores que contribuem para o evidenciado que esse aumento projeto
credenciamento final do projeto e para a comercialização dos resulta de um processo geral de
seus certificados de emissões reduzidas, têm-se: crescimento econômico e que,
mesmo assim, a intensidade de
carbono será menor do que a
a) o aspectos de segurança; deve-se observar que alguns registrada no padrão habitual
aspectos não são livres de incertezas e de riscos; neste
As linhas de base devem ser
caso, a análise de risco deve constar no projeto; objetivas e quantificáveis. É
necessário que se faça a repetição
b) o monitoramento feito com base em princípios de e a reavaliação dos cálculos da
A exatidão e a confiabilidade dos
linha de base, que devem ser de
qualidade e de auditorias, os quais contribuem para o dados devem ser enfatizadas
fácil comprovação por qualquer
processo de credenciamento; e entidade independente, inclusive
no decorrer da implantação do
c) o credenciamento que, conforme critérios da Secretaria projeto.
Executiva do Protocolo de Quioto, somente poderá ter A simplicidade é a base para que
credenciamento oficial os projetos dos MDL que se consiga minimizar os custos de
Os custos de transação do projeto
verificação e monitoramento. Isso
estiverem verificados e certificados por empresa devem ser minimizados
aumenta a transparência e a
credenciada, além de carta de aceitação brasileira da credibilidade do projeto
Comissão Interministerial de Mudança Climática. Fonte: Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (2003)

O Quadro 6 relaciona tipos de projetos com


referências para a base de cálculo de emissões.
26

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

Continuação
Quadro 6 Calculo de linhas de base de exemplos de projetos de Quadro 6 Calculo de linhas de base de exemplos de projetos de
redução de emissões de GEE. redução de emissões de GEE.
TIPO DE PROJETO REFERÊNCIA PARA A TIPO DE PROJETO REFERÊNCIA PARA A
OBSERVAÇÕES BASE DE CÁLCULO OBSERVAÇÕES BASE DE CÁLCULO
Linha de base: Linha de base:
a) Utilização de medidas de
Intensidade de carbono antes média da intensidade de carbono
substituição de fontes de energia
da aplicação do projeto dos métodos e combustíveis
por geração/ transmissão de calor • Conexão à rede de comunidades
Redução de emissões: utilizados no atendimento de
• Mudança de combustível isoladas não atendidas por
(A1 - A2) x C2 para eletricidade necessidades básicas
• Melhoria da eficiência eletricidade
(F1 - F2) x H2 para calor Redução de emissões:
• Renovação de equipamentos
Linha de base: I1x N2 + D x (E2 - B2 x N2) -
(mesmo rendimento)
Média das perdas de transmissão G2 x E2 : (1 - T2)
• Redução de perdas na
antes do projeto
transmissão (distribuição do d) Uso da energia Linha de base:
Redução de emissões:
aquecimento da rede) independentemente da produção intensidade de carbono da
P2 x (T1 - T2)/(1 - T1)
de calor caldeira/equipamento a ser
Linha de base:
b) Construção de novas formas • Geotérmica substituída/o no desenvolvimento
intensidade de carbono da
de geração de energia do projeto
planta já existente, média da • Recuperação do calor e do Redução de emissões:
• Substituição de uma planta por
intensidade de carbono de todas combustível
outra de maior potência ou com (F1 - F2) x H2
as unidades de potência
maior fator de utilização. e) Redução das filtragens (e
conectadas na rede, volume de
Exemplo: ciclo combinado “fugas”/dispersão) dos gases de Linha de base:
geração antes da instalação do
(gás - turbina) de uma planta efeito estufa filtragens de gases de efeito
projeto
utilizando turbina vapor em • Redução das filtragens nos estufa realizadas antes do
Redução de emissões:
substituição a uma planta sistemas de transmissão e de desenvolvimento do projeto
(A1 - A2) x C1+ (G1 - A2) x
óleo/ carvão. distribuição de gás Redução de emissões:
(C2 - C1)
Linha de base: • Redução e/ou substituição dos L1 - L2
média da intensidade de carbono de equipamentos de filtragem
• Construção de uma nova Linha de base:
todas as plantas da rede antes do A avaliação das medições deve
unidade de geração conectada à consumo anual de energia antes
desenvolvimento do projeto considerar a realização de
rede do desenvolvimento do projeto
Redução de emissões: serviços equivalentes antes e
• Construção de nova unidade Redução de emissões:
(G1 - A2) x C2 depois do projeto
de geração não conectada (E1 - E2) x G2 : (1 - T2)
Linha de base:
(populações isoladas e não
média de intensidade de carbono g) Uso otimizado dos recursos
atendidas)
das plantas já existentes (e do seu térmicos
• Unidades de Cogeração de Linha de base:
combustível padrão) antes do • Redução da demanda de calor
Eletricidade . consumo anual de calor antes do
desenvolvimento do projeto (melhor aproveitamento)
Para o uso de fontes renováveis projeto
Redução de emissões: • Substituição do uso de métodos
(sem emissão) A2 = 0 Redução de emissões:
1 x N2 + D x (E2 - B2 x N2) - A2 x térmicos por sistemas
Para a avaliação da redução de (H1 - H2) x F2
E2 eletrotecnológicos eficientes.
emissões, a comparação deve Linha de base: intensidade de
Linha de base: A avaliação deve considerar a
ser feita com a mesma energia carbono no processo de
média da intensidade de carbono realização de serviços
(atendimento e serviços combustão e consumo anual antes
das caldeiras substituídas para o equivalentes antes e depois do
equivalentes) do desenvolvimento do projeto
desenvolvimento do projeto projeto e, no caso de melhoria de
sendo produzida com sistema Redução de emissões:
Redução de emissões: eficiência em caldeiras, proceder
diesel Standard. (H1 x F1 - G2 x E2 : (1 - T2))
(G1: (1 - T2) - A) x E2 + conforme o item “a”
(F1 - F2) x H2
c) Conexão à rede de eletricidade Linha de base: Fonte: Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (2003)
• Conexão de comunidades intensidade de carbono das plantas Legenda
isoladas ao serviço da rede locais antes do projeto A1 Intensidade de carbono na planta especificada antes do desenvolvimento
substituindo unidades locais Redução de emissões: do projeto (kg - C/kwh)
como geradores diesel (A1 - G2 : (1 - T2)) x E2 A2 Intensidade de carbono na planta depois do desenvolvimento do projeto
(kg- C/kwh)
B2 Consumo anual de potência elétrica para cada casa depois do
desenvolvimento do projeto, para proporcionar os serviços básicos
equivalentes de F1 – consumo de combustível (kwh/ano - casa).
27

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

C1 Geração anual de potência elétrica da planta especificada antes do b) Incluir a análise de impactos sobre o meio ambiente,
desenvolvimento do projeto (kwh/ano).
C2 Geração anual de potência elétrica do projeto (kwh/ano)
elaborada de conformidade com os procedimentos
D Intensidade normal de carbono em uma planta diesel (tecnologia de pertinentes e vigentes no país sede da atividade do
referência usada para cálculo de linha de base de rendimento de serviços projeto, inclusive aqueles impactos além das fronteiras
básicos para populações isoladas) (kg - C/kwh). (externalidades), e se esses impactos são considerados
E1 Consumo anual de eletricidade (uso final) antes do desenvolvimento do
projeto (kwh).
significativos pelos participantes ou envolvidos.
E2 Consumo anual de eletricidade (uso final) depois do desenvolvimento do
projeto (kwh). c) Testar, adequar, se necessário, e validar as
F1 – Intensidade de carbono na planta de calor especificada antes do metodologias de cálculo da linha de base e de
desenvolvimento do projeto (kg - C/kj).
F2 Intensidade de carbono na planta de calor especificada depois do
monitoração, considerando as metodologias
desenvolvimento do projeto (kg - C/kj). previamente aprovadas pelo Comitê Executivo ou
G1 Intensidade média de carbono das unidades de energia geradoras de modalidades e procedimentos pertinentes para o
eletricidade conectadas à rede antes do desenvolvimento do projeto estabelecimento de novas metodologias, respeitando-se
(incluindo a importação) (kg - C/kwh).
G2 Intensidade média de carbono das unidades de energia geradoras de
aspectos como os de ampla informação para os
eletricidade conectadas à rede depois do desenvolvimento do projeto envolvidos, confidencialidade e direitos autorais, entre
(incluindo a importação) (kg - C/kwh). outros.
H1 Consumo anual de calor antes do desenvolvimento do projeto (kj)
H2 Consumo anual de calor depois do desenvolvimento do projeto (kj)
I1 Intensidade média de carbono para atendimento de serviços básicos de Propostas de projetos dos MDL rejeita, quando
uma casa, com uso de combustível fóssil, antes do desenvolvimento do devidamente reformulas, poderão ser reapresentadas para
projeto (kg - C/ano - casa). validação e subseqüente registro após a incorporação das
L1 Emissões anuais de CO2 equivalentes resultantes das filtragens de gases revisões pertinentes que motivaram a rejeição inicial do
(de efeito estufa) antes do desenvolvimento do projeto (kg - C/ano).
L2 Emissões anuais de CO2 equivalentes resultantes das filtragens de gases
projeto e que foram consideradas na reformulação.
(de efeito estufa) depois do desenvolvimento do projeto (kg - C/ano).
N2 Número de casas eletrificadas antes do desenvolvimento do projeto. As etapas básicas do processo de avaliação de
P2 Emissões anuais de CO2 de todas as plantas conectadas à rede depois do propostas de projetos candidatos aos MDL podem ser
desenvolvimento do projeto (incluindo a importação) (kg - C/ano).
T1 Média das perdas de potência na transmissão/distribuição antes do ilustradas conforme mostra a Figura 6.
desenvolvimento do projeto (fração – por exemplo: 0,06).
T2 Média das perdas de potência na transmissão/distribuição depois do A expedição de certificado de emissão de reduções
desenvolvimento do projeto (fração). feita pelo Comitê Executivo somente se dará após
verificação e certificação do projeto e de suas respectivas
emissões reduzidas.

3.10 Etapas do processo de avaliação As etapas de verificação, como processo periódico de


revisão independente, e de certificação também deverão ser
de projetos candidatos aos MDL executadas por instituições credenciadas pelo Comitê.
A seguir se relacionam etapas na avaliação de
A certificação é uma garantia por escrito, fornecida
projetos com perspectivas de serem considerados e, caso pela instituição operacional, que assegura que foram
atendam às exigências, aprovados nos MDL:
constatadas as reduções de GEE para a atividade de projeto,
durante o período de tempo especificado; nessa certificação
a) Selecionar e contratar uma instituição independente pública se determina a conformidade da documentação do
credenciada para validar o projeto, tendo em conta, projeto às exigências, realizam-se inspeções no local com
entre outras considerações, o nível de atendidos dos possíveis revisões nos registros de desempenho, entrevistas
requisitos um deles o de participação popular e se foram com os participantes, coleta de informações, observações de
considerados (solicitados, coletados, tratados e práticas estabelecidas e testes de precisão de equipamentos
internalizados) os comentários e sugestões dos grupos de monitoramento; no lastro dessa certificação poderão se
de interesse local, como forma de expressão rever resultados e verificar metodologias de monitoramento
democrática da participação popular nesses projetos; o para estimativas de redução das emissões, bem como fazer
resumo desse processo deve ser anexado ao projeto.
28

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

recomendações, se necessário, na metodologia de transferida, se aplicável, bem como uma descrição


monitoramento, entre outras. técnica do projeto e de seus limites;

Projeto registrado no
Comitê Executivo
Proposta do Projeto

Comissão Interministerial de Mudança Instituição credenciada


Global do Clima pelo Comitê Executivo

Não
Avaliação
Certificação?
Sim

Instituição credenciada
pelo COP
Comitê Executivo

Avaliação Não
Validade?
Certificados de emissões
reduzidas
Comitê Executivo

Figura 7 Fases do processo de certificação


Não
de emissões reduzidas dos GEE.

Sim

Figura 6 Fases do processo de avaliação de projetos


candidatos aos MDL
b) a metodologia para a linha de base, seja ela
recomendada, aplicada ou nova metodologia, com
especificações técnicas e justificativa das escolhas;
fontes de dados e informações utilizadas na estimativa
da linha de base; avaliação de incertezas associadas
ao projeto, sejam elas políticas, econômicas,
A consistência de um projeto dos MDL é condição tecnológicas ou de custos; projeção das emissões da
necessária para a obtenção dos certificados de emissões linha de base e das emissões reduzidas por ano;
reduzidas. Essas certificações são ilustradas na Figura 7, descrição do tratamento dado na metodologia quanto
um fluxograma do processo de obtenção desses certificados. ao potencial de “fuga de emissões”, entre outras;

N proposta de projeto dos MDL para ser analisada é c) declaração sobre a vida operacional estimada para o
necessário elaborar vários documentos; a relação desses projeto e do período de crédito selecionado;
documentos é apresentada a seguir:
d) descrição indicando como as emissões antropogênicas
a) uma descrição do projeto, incluindo seus objetivos e dos GEE foram reduzidas para valores abaixo dos que
propósitos, informações sobre como a tecnologia será teriam ocorrido na ausência do projeto dos MDL;
29

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

e) impactos ambientais, com descrições e documentações


dessas análises;

f) informações sobre as fontes de financiamento públicas


atendendo certas exigências;

g) comentários de grupos de interesse, com breves e um


relato que indique como as questões levantadas nos
comentários serão conduzidas ou tratadas;

h) plano de monitoramento com a caracterização de


dados necessários, sua qualidade (precisão,
possibilidade de comparação, abrangência e validade)
e aspectos metodológicos utilizados na coleta, síntese
e tratamento;

i) cálculos, com descrições de fórmulas utilizada para


calcular e estimar as emissões antropogênicas
diretamente relacionadas à atividade de projeto dentro
de suas fronteiras, as emissões de fuga definidas como
a alteração líquida das emissões antropogênicas que
ocorrem fora das fronteiras do projeto, mensuráveis e
atribuíveis à atividade de projeto e a soma das
emissões antropogênicas e de fuga.

j) Listagem das referências bibliográficas consultadas que


dão suporte ao trabalho.
30

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

constituída a “bolha”, os compromissos assumidos deverão


ser mantidos por seus componentes.
GLOSSÁRIO
Certificados de Emissões Reduzidas (Certified Emission
Atividades Implementadas em Conjunto (Activities Reductions – CERs)
Implemented Jointly – AIJ)
Certificados de redução de gases de efeito estufa obtidos
Denominação dada à fase piloto internacional do Joint conforme o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Implementation (JI). Trate-se de uma modalidade de
implementação conjunta de projetos de redução de emissões Combustível Fóssil
de GEE, introduzida na COP 1 e implementada sob o
conceito de cooperação internacional entre as partes da Termo genérico para denominar compostos de carbono de
Convenção, no sentido de estabilizar a concentração de gases origem biológica encontrados em depósitos geológicos. Entre
de efeito estufa na atmosfera, porém sem o direito ao crédito eles se encontram o carvão, óleo, gás natural, areias de
de emissões de carbono, incluindo, ainda, a cooperação aos alcatrão e xisto. A maior preocupação com relação a esses
países não compromissados com limites de redução de materiais é que durante sua queima eles emitem CO2 para a
emissões. atmosfera, contribuindo para aumentar o efeito estufa.

Aquecimento Global (Global Warming) Comércio de Emissões (Emission Trade)

Aumento na temperatura da superfície próxima à Terra. O É um dos mecanismos de flexibilização incluídos no


aquecimento global ocorreu em épocas remotas como Protocolo de Quioto, com vistas ao acerto de inventários para
resultado de influências naturais. Atualmente, o termo é comércio internacional de emissões (International Emission
utilizado para referir-se ao provável aquecimento devido ao Trading), conforme definido no artigo 17 do Protocolo de
aumento das emissões de gases de efeito estufa. Quase todos Quioto. Cada país do Anexo I pode comercializar parte da
os cientistas concordam que a superfície da Terra tem-se redução de suas emissões que excederem as metas
aquecido 0,1oC a cada 10 anos. O Painel Intergovernamental compromissadas durante a COP 3, para o período de 2008 a
sobre Mudanças Climáticas (IPCC) recentemente concluiu 2012. O refinanciamento do controle de gases para atingir as
que o aumento da concentração dos gases do efeito estufa metas acordadas pode-se tornar economicamente inviável.
está provocando um aumento na temperatura da superfície da Com este mecanismo torna-se possível obter a redução
Terra. necessária através da compra de “folgas” existentes, com a
chancela da autoridade necessária.
Biomassa
Convenção do Clima (United Nations Framework
Material orgânico, não fóssil, de origem biológica, como Convention on Climate Change – UNFCCC ou FCCC)
árvores e vegetais.
Acordo multilateral voluntário constituído durante a
“Bolhas” Conferência para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no
Rio de Janeiro, em 1992, com vistas à redução de emissões
Refere-se a uma modalidade convencional de mecanismo de de gases de efeito estufa aos níveis de 1990, meta a ser
flexibilização considerada para países industrializados. atingida até o ano 2000.
Consiste em tratar em conjunto a redução de emissões
geradas por um agrupamento de fontes numa determinada Conferência das Partes (COP) – Conference of the
área. Funciona como se uma bolha gigante envolvesse várias Parties to the United Nations Framework Convention on
fontes de emissão a fim de contê-las numa área comum. Os Climate Change
países integrantes da “bolha” estabelecem um limite de
redução que pode ser diferenciado entre cada país. Uma vez É o órgão supremo da Convenção e tem a responsabilidade
de manter regularmente sob exame a implementação da
31

Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

Convenção, assim como quaisquer instrumentos jurídicos financeiros, por intermédio do Programa das Nações Unidas
que a Conferência das Partes vier a adotar, além de tomar as para o Meio Ambiente (Pnuma), do Programa das Nações
decisões necessárias para promover a efetiva implementação Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e do Banco Mundial
da Convenção. (Bird). Visa a prover fundos concessionais para apoiar
projetos e atividades voltados à proteção ambiental. Implica,
Efeitos Negativos da Mudança do Clima portanto, em constituição e transferência do crédito de
emissões de gases de efeito estufa, do país em que o
Alterações no meio ambiente físico ou biota (conjunto de sumidouro ou o projeto ambientalmente otimizado está sendo
seres animais e vegetais) resultantes da mudança do clima implementado para o país emissor. Este pode comprar
que tenham efeitos significativos sobre a composição, “crédito de carbono” e, em troca, constituir fundos para
resiliência ou produtividade de ecossistemas naturais e projetos a serem desenvolvidos em outros países,
administrados, sobre o funcionamento de sistemas exclusivamente entre países do Anexo I. Os recursos
socioeconômicos ou sobre a saúde e o bem-estar humano. financeiros obtidos serão aplicados necessariamente na
redução de emissões ou em remoção de carbono.
Emissões
Implementação Conjunta (Joint Implementation – JI)
Liberação de gases de efeito estufa e/ou seus precursores na
atmosfera numa área específica e num período determinado. Constituído na COP 3, é uma modalidade de acordo proposta
pelos EUA, negociada bilateralmente, de implementação
Fonte conjunta entre países integrantes do Anexo I. Através do JI,
um país industrializado, emissor de gases de efeito estufa,
Qualquer processo ou atividade que libere gases de efeito pode compensar suas emissões participando de sumidouros e
estufa, erossóis ou um precursor de gás de efeito estufa na projetos ambientalmente otimizados em outro país do Anexo
atmosfera. I, com vistas à obtenção de menores custos de
implementação, produzindo bens e serviços originais e
Forçante Radiativa (Radiative Forcing) emitindo em menores proporções, se comparado à
implementação de um projeto não otimizado.
Uma alteração no balanço entre a radiação solar que chega à
Terra e a emissão terrestre de radiação infravermelha. O Inventário Nacional ou Comunicação Nacional
aumento da concentração de gases de efeito estufa na
atmosfera retém e aumenta a fração de radiação É o registro periódico e sistemático das emissões e
infravermelha, que em vez de ser emitida para o espaço é sumidouros de gases causadores de efeito estufa em um
emitida para a superfície terrestre e provoca o seu determinado país. A Convenção-Quadro das Nações Unidas
aquecimento. sobre Mudança do Clima estabelece a necessidade do
comprometimento de todas as partes na elaboração,
Gases de Efeito Estufa (GEE) publicação e disponibilização de inventários nacionais, que
são constituídos sob a metodologia do IPCC, com base em
Constituintes gasosos da atmosfera, naturais ou antrópicos, emissões antrópicas, por fonte e definição de formas de
que absorvem e reemitem radiação infravermelha. Segundo o captura de todos os gases de efeito estufa não controlados
Protocolo de Quioto, são eles: dióxido de carbono (CO2), pelo Protocolo de Montreal.
metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e hexafluoreto de
enxofre (SF6), acompanhados por duas famílias de gases: Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima
hidrofluorocarbonos (HFCs) e perfluorocarbonos (PFCs). (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC)

Global Environment Facility (GEF) Estabelecido em 1988 pelo Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (Pnuma) e pela Organização Mundial
Entidade financeira da Convenção, é responsável pelo de Meteorologia (OMM). Seu objetivo é avaliar as
desenvolvimento e implementação de mecanismos informações técnicas e científicas relacionadas a todos os
32

Mecanismos de desenvolvimento sustentável (MDL)

componentes significativos para o efeito estufa. O IPCC é Países pertencentes à União Européia, membros da OCDE e
formado por cientistas e especialistas mundiais e é os chamados países em transição, pertencentes à ex-União
considerado como órgão consultor oficial de todas as nações Soviética e que integram a lista dos países que têm o
para avaliar as questões relacionadas às mudanças climáticas. compromisso de reduzir suas emissões de GEE. São eles:
O Painel desenvolveu e organizou, por exemplo, métodos Alemanha, Austrália, Áustria, Belarus, Bélgica, Bulgária,
internacionalmente aceitos para promover inventários nas Canadá, Dinamarca, Espanha, EUA, Estônia, Finlândia,
emissões dos gases de efeito estufa. França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália,
Japão, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Noruega, Nova
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL, ou Clean Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, República
Development Mechanism – CDM) Eslovaca, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suécia,
Suíça, Turquia e Ucrânia.
Inicialmente proposto como Fundo de Desenvolvimento
Limpo pela delegação brasileira em maio de 1997, durante as Potencial de Aquecimento Global (Global Warming
discussões do AGBM. Teve boa aceitação por se tratar de um Potencial – GWP)
mecanismo multilateral, em contraponto ao Joint
Implementation (JI), que é negociado bilateralmente. O MDL Índice utilizado para traduzir o nível de emissões de vários
ganhou aceitação na forma como se encontra definido no gases em uma forma comum de medida para permitir a
artigo 12 do Protocolo de Quioto, sem incorporar o caráter comparação da forçante radiativa dos diferentes gases sem
original de natureza punitiva. É um instrumento com o calcular diretamente as mudanças nas concentrações
objetivo de assistir as partes não constantes do Anexo I da atmosféricas. Os GWPs são calculados como a razão da
Convenção mediante fornecimento de capital para forçante radiativa resultante das emissões de 1 kg deste gás
financiamento a projetos que visem à redução de gases de (do efeito estufa) com a emissão de 1 kg de CO2 durante um
efeito estufa. Nessa modalidade, países desenvolvidos determinado período de tempo (geralmente 100 anos). Não
relacionados no Anexo I que não atinjam metas de redução foram avaliados os GWPs de gases envolvidos em processos
consentidas entre as partes podem contribuir químicos atmosféricos complexos, por não haver acordo
financeiramente. Por outro lado, aqueles em entre os cientistas quanto às formas de avaliação. Os gases
desenvolvimento, não relacionados no Anexo I, têm a do efeito estufa são expressos em termos de equivalentes de
possibilidade de se beneficiar do financiamento CO2. O IPCC avalia e atualiza, regularmente, os valores dos
desenvolvendo atividades relacionadas a projetos aprovados. GWPs.
Os países do Anexo I podem utilizar os Certificados de
Emissões Reduzidas de projetos aprovados como parcela do Reservatórios de Carbono (Carbon Sinks)
compromisso que lhes compete.
– São reservatórios naturais ou sumidouros de carbono, que
Mudança do Clima têm capacidade de absorver ou seqüestrar e estocar mais
carbono do que liberam, tais como as florestas e os oceanos.
Mudança que possa ser, direta ou indiretamente, atribuída às Eles servem para compensar, em parte, as emissões de gases
atividades humanas que alteram a composição da atmosfera do efeito estufa.
mundial e que se some àquela provocada pela variabilidade
climática natural, observada ao longo de períodos Seqüestro de Carbono (Carbon Sequestration)
comparáveis.
A captação e a estocagem de carbono. Por exemplo, árvores
Partes do não-Anexo I e vegetais absorvem o dióxido de carbono, liberam oxigênio
e estocam carbono.
Países em desenvolvimento cujas emissões de GEE per
capita são muito reduzidas e, portanto, não têm Sistema Climático
compromissos para diminuir suas emissões.
Totalidade da atmosfera, hidrosfera, biosfera e geosfera e
Partes do Anexo I suas interações.
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Mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL)

Sumidouro

Quaisquer processos, atividades ou mecanismos, incluindo a


biomassa e, em especial, florestas e oceanos, que têm a
propriedade de remover um gás de efeito estufa, aerossóis ou
precursores de gases de efeito estufa da atmosfera. Podem
constituir-se também de outros ecossistemas terrestres,
costeiros e marinhos. Têm, portanto, o objetivo de buscar a
mitigação de emissões de gases de efeito estufa em países em
desenvolvimento, na forma de sumidouros, investimentos em
tecnologias mais limpas, eficiência energética e fontes
alternativas de energia.

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