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PSICOLOGIA JUNGUIANA

A CRIANÇA como INDIVÍDUO


I I

A CRIANÇA
Michael Fordham
INDIVÍDUO
o trabalho pioneiro de Michael Fordham acerca dos arquétipos
e do se!! na infância se estende por mais de cinqüenta anos.
Fundamentado em bases empíricas, o autor inspira-se em sua vasta
experiência como psicoterapeuta e na apticação das formulações
de Jung à psicologia infantil. Esta foi a primeira obra a apresentar
um modelo junguiano de desenvolvimento.
Na concepção que Jung tem da mente, é central a idéia de um se!!
individual - a totalidade de psique e soma. Fordham postulou
arrojadamente um se!! primário, que precedia o ego na infância.
Sua hipótese revelou um potencial de energia que contribui para
a formação do ego consciente e dos arquétipos inconscientes,
resultando na individuação. Trata-se de um sistema não apenas
estrutural, mas também dinâmico.
A concepção do se!! na infância, proposta por Fordham, foi
revolucionária para os junguianos e pioneira no desenvolvimento
infantil. Na época, ainda não haviam começado as modernas
pesquisas sobre a infancia. Desde então, o acúmulo de evidências
propiciadas por fontes experimentais e analíticas deu mais peso
ao conceito de que a dinâmica do se!! é uma importante caracte-
rística do desenvolvimento.
Este tivro apresenta várias descrições fascinantes, obtidas da
experiência nos estudos de observação de bebês e da prática de
Fordham. Mas, além disso, fornece os conceitos básicos nos quais
se baseia a pujante abordagem junguiana da ailátise infantil.
Trata-se de leitura imprescindível para estudantes e profissionais
das áreas de assistência e psicoterapia infantil.

Michael Fordham
ISBN 85-316-0701-9

EDITORA CULTRIX
111111111111111111111111
9788531607011
G.4ZETA DO POVO
Título do original: Chilqren as Individuais. Sumário Qibliote(a

Copyright © 1994 Michael Fordham,

Publicado pela primeira vez pela Free Association Books, Ltd., representada por
Cathy Miller Foreign Rights Agency, Londres, Inglaterra,

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por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas clÍticas ou artigos
de revistas, Antecedentes ............................................................................................ II

2 Brincar .. # ..................... H.~U ...... H •• H H . . . . . . . . . . . . . . . . H+O . . . . . . . . . . . . . . . . . . H ...................... . 24

3 Sonhos......................................................................................................... 41

4 Desenhos .................................................................................................... 64

5 o Modelo Conceituai .............................................. H .......... u •••••••••••••• u 81

6 O Amadurecimento ................................................................ ;............:. 98

7 A FamUia ................................................... H • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • #0 • • • • • • • • 120

o primeiro número à esquerda indica a edição, ou reedição, desta obra. A primeira dezena 8 O Contexto Social.. ........................................................................,...... .. 131
ii direita indica o ano em Que esta edição, ou reedição, foi publicada.
Ano
Edição
01-02-03·04-05-06 9 A Psicoterapia Analítica ........................................................................ . 141
1-2-3-4-5-6-7-8-9-10
Direitos de tradução para a língua portuguesa
adquiridos com exclusividade pela
la A Formação Simbólica .......... :'............................................................... . 170
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que se reserva a propriedade literária desta tradução,
Bibliografia .................................................................................................. 193
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.. .
,I
, Antecedentes

Ao longo de toda a sua vida, Jung baseou-se na distinção geral entre es-
truturas conscientes e inconscientes. Ao enumerá-las, definiu ,uma ünic9
entidade, o ego, para representar o centro da consciência. Já os mai~
obscuros e complexos elementos do inconsciente revelaram-~e inúmeros.,
Seu fascínio por eles era tanto que o fez devotar a se1u estudo a maior
parte de sua vida científica. Jung começou por distinguir gois' n~veis; o pes-
soal e o coletivo. O primeiro compunha-se de experiências reprimidas
por serem incompatíveis com as convenções sociais o~ morais: elas são
essencialmente parte do ego e, assim, podem voltar a ser conscientes se
"
a barreira da repressão for removida. O conteúdo do segundo diferia da~
quele do primeiro no fato de ser essencialmente inconsciente; ele só po-
de tornar-se parcialmente consciente por meio das imagens do sonho é I • f

da fantasia, que se desenvolvem à medida que o amadurecimento pros-


segue. Estudando-as, Jung criou a teoria do "inconsciente coletivo", que
objetivava explicar a generalidade dos temas que acabou por demonstrar.
Além disso, Jung cunhou uma expressão explicativa, "psique objetiva",
para sublinhar não só uma característica da natureza desses temas, como
também a sua própria idéia de que o "mundo interior' do homem, que
eles representam, é um objeto de estudo tanto quanto o mundo exterior
das coisas materiais e das pessoas.
No decorrer desse estudo, Jung descobriu que os dados provenien-
tes do inconsciente coletivo poderiam ser agrupados e classificados, infe-
rindo que havia diversos centros ou núcleos que se expressavam repeti-
damente de modo semelhante e demonstravam objetivos e funções
similares. Esses centros foram chamados de arquétipos do inconsciente
coletivo, que é, portanto, um termo usado para designar a soma total dos
arquétipos. Os arquétipos foram por ele descritos como a sombra o ani-
mus e a anima, o velho sábio, a criança etc. Todos eles foram con~ebidos
como "não-ego", sendo-lhes essencialmente impossível tornar-se complec
tamente conscientes.
12 • A Criança como Indivíduo • • Antecedentes • 13

Aqui costuma surgir um problema terminológico devido à tendên- deve-se segundo Jung, incentivar as tendências presentes no pa-
ocorre, , ,. . rf ~
cia a confundir o arquétipo inconsciente com sua representação no cons- ciente a deixar a imaginação trabalhar por conta propna, com lOte eren-
ciente, isto é, sua imagem. Apesar das diferentes posturas adotadas nes- cia mínima do ego. Se o momento escolhido for o correto, segue-se ~ma
sa questão, neste livro tratarei o arquétipo como uma entidade teórica fantasia organizada que assume a forma de um sonho, no qual o pacien-
dita inconscie'1te e me referirei às imagens que podem ser agrupadas te então aprende a participar como uma das figuras; dessa ~o:ma pode
usando-se a teoria dos arquétipos como "arquetipicas", isto é, como ten-
desenvolver-se uma dialética entre o ego e as imagens arquetlplcas deno-.
do as características que a teoria delas requer: assim, o arquétipo da mãe minada imaginação ativa. O processo é facilitado pela dança, pela pmtu-
é postulado ,como dando ensejo, quando colocado em relação com uma ra e pela escultura em madeira ou argila. ., _ .
mãe real, a imagens que contêm características arquetípicas da mãe. Em Do material produzido individualmente durante a Imagmaçao atlVa,
resumo, usaremos o adjetivo "arquetípico" para distinguir a imagem do Jung extraiu dados estreitamente associados a tem~s míti~os, ritua~ e prá-
arquétipo em si. .' ticas mágicas e religiosas. AIí se encontrava uma mma de mformaçoes que
A teoria suscitou críticas porque se supunha implicar a herança de lançavam luz sobre as fantasias dos pacientes. Portanto, Jung começou a
idéias e imagens, e é verdade que na literatura apresentam-se formula- comparar as duas coisas.
ções vulneráveis a esse ataque. O próprio Jung, em resposta, reformulou Às vezes o método comparativo da amplificação que Jung criou pa-
suas idéias de modo a definir o arquétipo como o substrato que usava, rece uma espécie de tour de force intelectual e, de fato, assim pode ser,
por assim dizer, a experiência sensorial de maneiras predeterminadas pa- embora essa não tenha sido a utilização que ele previa. Em vez disso, Jung
ra produzir imagens típicas. A meu ver, é uma pena que ele nunca tenha concebia esse método como uma extensão do processo natural cuja
esclarecido devidamente suas conclusões em escritos sobre a infância. ocorrência observava nos pacientes.
Suas primeiras idéias sobre o tema permaneceram as mesmas no que se Estudando-se uma série de sonhos ou fantasias, vê-se que os temas
refere ao amadurecimento na infância e à natureza dos processos incons- se interligam e esclarecem-se - isto é, amplificam-se - uns aos outros até
cientes nesse período da vida do indivíduo. chegar ao núcleo central do significado. Um bom exemplo pode ser en-
contrado na série de sonhos publicada em Psicologia e alquimia (OC XID.*
A amplificação intelectual, que se baseia na teoria dos arquétipos, está
o MÉTODO DA PSICOLOGIA ANALÍTICA contida na segunda parte do livro, embora ele também tenha feito para,-
Após definir seu campo de estudo, Jung dedicou-se a descrever detalha- lelos mais breves aos próprios sonhos.
damente o comportamento das imagens arquetípicas. Para tanto, empre- Durante a terapia analítica, a coleta de paralelismos sempre foi con-
gou quatro técnicas destinadas a trazer à consciência o conteúdo do in- siderada secundária (na minha opinião, ela é desnecessária) em relação
consciente coletivo: associação livre mas, mais freqüentemente, ao procedimento analítico em si. Contudo, o conhecimento do material
associação controlada -, análise de sonhos, imaginação ativa e amplifica- simbólico cresceu muito com o estudo comparativo dos mitos, €i as con:
ção. Dessas, a primeira é bem entendida, e a segunda será abordada mais
detidamente no Capítulo 7. Apenas as duas últimas precisam de apresen- * Obras completas, Vol. XII. As referências às obras de lung serão feitas por meio da
tação aqui, principalmente levando-se em conta o fato de serem caracte- abreviatura OC seguida do número do volume, com as seguintes exceções: 1- Quan-
do o autor cita obras que foram modificadas por Jung e não se encontram em sua
rísticas da abordagem de Jung.
forma original nas OC, ou quando a obra não faz parte das OC, casos em que indi-
Em algum momento do tratamento, o paciente pode tomar-se cons- caremos a obra da maneira convencional. 2- Quando a obra aindà não foi traduzida
ciente de processos que talvez perceba apenas vagamente e que tenha para o português, caso em que indicamos a obra por CW (Co/lected Worksl seguido
dificuldade de expressar por meio da linguagem comum. Quando isso do número do volume.
14 • A Criança como Indivíduo • • Antecedentes • 1 S

c1usões atingidas são usadas pelos analistas em sua interpretação do ma- - a sexualidade na vida do bebê, em especial por parte de Klein.
çao com , . - 'd d
terial dos pacientes. -o de que a situação edipiana e um mito nao no senti o. e
Sua afiIrmaça , .
Qual é então o valor do método intelectual da amplificação? Ele é . eal mas sim no de possuir natureza arquetlplca e, portanto, ser me:-
ser Irr , , d. . d .
um método de ensino e pesquisa e, I;lsando-o dessa forma, Jung formu- rente ao desenvolvimento sadio da criança so epols e mUito repu-
lou diversas teorias sobre os processos evolutivos da civilização. A mais diada foi aceita pelos psicanalistas. .
importante dentre elas foi a tese de que a alquimia foi não só. ,uma evo- Vale a pena lembrar, também, que no livro Psychology ofthe Uncons-
lução compensatória da religião cristã, mas também a precursora da psi- dous (Jung 199D ele frisou a inevitabilidade da fantasia da mãe dual, tão
cologia do inconsciente e da química. importante na obra de Klein, e situou os conflitos edipianos em relação
à díade mãe-filho que, além de anteceder, está por trás das situações trian-
gulares às quais Freud deu importância capital. Nessa obra ele desenvol-
A INFÂNCIA ve ainda uma teoria de grande alcance, apesar de muito negligenciada,
sobre a importância do ritmo na transformação das pulsões instintivas pri-
Se voltarmos às primeiras obras de Jun& as do período em que foi in- mitivas em atividades culturais.
fluenciado por Freud e aquelas do período do rompimento entre ambos, Não pode ser essa parte inicial de sua obra - que ele jamais repu-
encontraremos muita coisa sobre a psicologia da infância, De fato, há diou - o que o distanciou da análise infantil. Tampouco, penso eu, terá
aqui uma literatura considerável que foi em grande parte desconsidera- sido a sua demonstração experimental dos processos de identificação
da. As publicações de maior peso foram os estudos de testes de associa- (Oe IV). Antes, foi a conclusão de que se tanto do que anteriormente se
ção, que mostraram pela primeira vez o amplo alcance dos efeitos das imaginava ser ambiental era realmente inato, se o tema da mãe dual e o
identificações entre pais e filhos e o quanto a vida de uma criança pode- conflito edipiano eram parte do desenvolvimento sadio, por que desen-
ria ser, aparentemente, quase que completamente determinada pela na- cavá-los? Não são acaso as contínuas "tarefas da vida" que a criança tem
tureza de seus pais, Mas, ao lado deles, resumidas nas palestras feitas na diante de si o que merece mais atenção? Seu raciocínio foi o de que se-
Clark University (1916),Jung apresentou também as investigações sexuais ria melhor propiciar um bom ambiente para a criança, evitando o estí-
de uma garota, Anna (publicadas em oe XVI\). É um texto complemen- mulo de processos regressivos. Levada a extremos, essa teoria da conti-
tar ao "Uttle Hans" I"Pequeno Hans", de Freud. Entretanto, Jung deu aten- nuidade, apesar de útil, não proce'de quando aplicada à psico patologia
ção muito maior às investigações simbólicas que formam a base do de- infantil, pois não são apenas os pais que contribuem para ela.
senvolvimento dos processos do pensamento cognitivo, Além disso, Apesar de não excluírem a análise de crianças, suas palestras poste-
houve também uma consideração maior do mundo interior da garota. riores sobre a educação (Oe XV1\) restringem o escopo da psicopatolo-
Sua obra Tentativa de Apresentação da Teoria Psicanalítica (publicada gia infantil e colocam muito mais ênfase na influência dos' pais. Quase
em oe IV) resume as divergências que ele tinha com Freud, mas tam- não há nada de novo sobre a psicologia infantil na obra publicada poste7
bém contém muita coisa ainda hoje interessante para o estudo do desen- riormente, embora ele tenha apresentado uma ,contribuição interessante
volvimento infantil. Porém ele estava sendo tão atacado pelos psicanalis- sobre as crianças dotadas (em oe XVII). No entanto, a importância da
tas da época (1913) que o valor dessa obra ficou obscurecido. Ela contém fix~ção no desenvolvimento das neuroses e psicoses de fato não pode ser
idéias então novas que hoje, se não estabelecidas, já não são objeto de delx~da de lado: Jung não a ignorou completamente, mas sua teoria da
polêmica tão acirrada (ef. Abraham 1914). Sua ênfase na importância de continuidade era inspirada em seu trabalho sobre a individuação huma-
separar a sexualidade infantil de sua forma adulta e o instinto da nutri- na em adultos, e isso desviou-lhe a atenção da análise infantil. .
ção do instinto sexual já não causam muito alvoroço, principalmente de- . Porém, tomando-se a obra de Jung como um todo, há pouca justi-
pois da ênfase dada à fome, à voracidade e à agressividade em conjun- ficativa para a idéia de que a psicopatologia seja apenas o resultado da in-
• Antecedentes • 17
16 • A Criança como Indivíduo •
, ...................... " ....................... " ..................................... " ......................, ................. " ................ . ............... ,

trojeção ou identificação da criança com os processos inconscientes me- . ue desconsideram que, apesar de não querer aplicar teorias à
gUia nos q -. .- I'd d
nos desejáveis dos pais. Ao mesmo tempo, quando inicialmente desen- . c' . W'lckes estava dominada por crenças teoncas la sem va I a e
mlanCla,
volvida e Jung não foi o único a adotar esta posição-, a tese sobre a das visões especulativas de Jung sobre a natureza das estruturas
acerca . /lN [' d ' C'I . I']
geralmente decisiva importância dos pais foi relevante e necessária. Após herdadas em crianças, como as segutntes: o esta o tnlantl ~ermtna
cair, com razão, em um certo ostracismo porque erroneamente se tomou tão escondidos não só os inícios da vida adulta, como tambem toda a
um dogma que nega às crianças a possibilidade de individualidade, ela ~:rança que nos vem da série dos ancestrais, e é de extensão ilimitada"
vem sendo ultimamente recuperada: a importância da patologia dos pais (Oe 8, parág. 97).
na interferência, perversãoolJ obstrução dos processos contínuos de ama- Por mais fascinantes que sejam tais idéias- e aqui deve ficar cla-
durecimento dos filhos vem obtendo um reconhecimento cada vez ro que Jung posteriormente as modificou -, são escassas as provas em
maior e mais equilibrado. seu favor, e as que existem prestam-se a outra interpretação, mais acei~
A meu ver, Jung certamente acreditou, sem deixar que suas idéias tável. Seja como for, Wickes era dotada de uma fina intuição, o que tor-
sobre esses problemas se cristalizassem, que não valia a pena investigar a na permanente o interesse dos dados que ela coletou, por mais que sua
infância antes que seu trabalho sobre a vida adulta obtivesse o progresso atenção aos detalhes possa ter sido pouca. Graças a esse dom, elà aca-
e o reconhecimento que merecia. Entretanto, sempre foi óbvio que, a ba omitindo dados, aparentemente tão ínfimos, que são essenciais pa-
menos que o conceito'de arquétipo pudesse ser aplicado à infância, sua ra suas observações serem corretamente avaliadas à luz do conheci·
teoria era vulnerável a críticas prejudiciais. Portanto, não é de surpreen- mento atual. Sua recorrente referência a "a criança", particularmente,
der que anos depois ele resolvesse enfrentar o desafio - que a primeira tornou-se genérica demais para ter grande utilidade. Além disso, as ida-
edição da presente obra também visava -, aplicando a técnica da ampli- des das crianças às quais ela se refere, embora extremamente necessá-
ficação aos sonhos infantis. Os resultados que obteve foram coligidos em rias, são muitas vezes omitidas, e as partes relevantes de seus históricos
vários relatórios de seminários, mas suas idéias jamais chegaram a ser for- não estão disponíveis.
malmente publicadas.
Entre os analistas junguianos pioneiros, só Frances Wickes trabalhou
de modo mais sistemático com crianças. Seu livro, The lnner Warld af o OBJETIVO DO DESENVOLVIMENTO
Childhaad (1966), é um desdobramento fiel e esclarecedor do que Jung
havia sugerido. A ela deve-se o crédito por haver feito a primeira aplica- Um elemento essencial no trabalho de Jung era a importância do desen-
ção da teoria dos tipos às crianças e por haver concebido alguns méto- volvimento. Assim, ele frisa que o objetivo do desenvolvimento de uma
dos engenhosos de lidar com seus processos afetivos primitivos. Talvez criança é atingir a maturidade. Para isso, ela precisa fortalecer seu ego de
ainda mais importante seja seu sucesso na divulgação da idéia de que é modo a poder controlar seu mundo interior e exterior. Além disso, ela
por meio de identificações inconscientes que as influências dos pais pro- deve aceitar padrões coletivos; às vezes, ao que parece, il1dependen-
duzem anormalidades no desenvolvimento infantil. Apesar de necessária ~emente das conseqüências que possa sofrer. Na verdade, resta saber se
ISSO resulta num verdadeiro desenvolvimento e - já que estarei conside-
na época em que foi escrita, a conclusão de que os pais deveriam preo-
cupar-se com sua própria saúde mental se quisessem proporcionar um rando o amadurecimento infantil sob luz diferente e relacionando-o a
bom ambiente para seus filhos hoje parece banal. Porém Wickes, seguin- p:ocessos favorecedores da individuação que usam concepções prove-
do Jung, contribuiu significativame~te para refinar um conceito que cos- mentes de Jung talvez seja necessário considerar brevemente como ele
tuma aproveitar-se muito do preconceito. concebia a relação entre a individuação e a adaptação coletiva ..
Em seu trabalho, Wickes opõe-se à investigação de processos in- .Jung <oe VI) comparava os objetivos coletivos à individuação da
segumte forma:
conscientes em crianças, e essa tese ainda influencia muitos analistas jun-
18 • A Criança como Indivíduo • • Antecedentes • 19

A individuação, em geral, é o processo de formação e particulariza_ · a individuação é concebida como abarcando uma meta
ASSlm, 'd' ~.
ção do ser individual e, em especial, é o desenvolvimento do indiví- 'd infância, quando o fortalecimento do ego e e Importancla
oposta a a , . d "
duo psicológico como ser distinto do conjunto, da psicologia coleti- . ta da individuaça-o surge, pelo contrano, apenasquan o pro-
vital' a me
va. CJ Antes de tomá-Ia como objetivo, é preciso que tenha sido duz~se uma suspensão da vontade". .... _, ,. .
alcançada a finalidade educativa de adaptação .ao mínimo necessá- Conforme essa teoria, para que hala mdlvlduaçao e necessano pn-
rio de normas coletivas (..) parág. 853 e ss. meiro haver relação com os arquét.ipos, que contêm a possibilidade de
solução simbólica para o conflito de opostos, mas embora o pro-
De acordo com a tendência principal dentro da obra de Ju~g e den- uma
cesso se'la muito semelhante . .ao que há
. na infância
_ - o objetivo ,é .conce-,
tro do contexto de seus estudos analíticos, a individuação é concebida na bido como inteiramente dlstmto. ASSim, a relaçao com os arquetlpos so
maioria das ve?,es COmo tendo início em pessoas que se aproximam da se estabelece quando a individuação é a meta consciente de um homem
meia-idade; entãoa~pÍ'ojeções da psique coletiva no mundo devem ser ou mulher adultos, ao passo que uma criança simplesmente não pode
retiradas para poder ser consideradas em relação ao indivíduo, e não sim- deixar de estar em contato com formas e processos arquetípicos. ~
plesmente aceitas porque são"o que todo mundo faz, pensa e sente". Se- Os problemas infantis - que estão estreitamente vinculados ao ama-
gundo Jung, a criança, ao.contrário, precisa deixar projetada no mundo durecimento do ego e, na opinião de Jung, podem levar à predominân-
uma grande parte de sua psique e adaptar-se "ao mínimo necessário de cia deste - também foram vistos em termos de tipos psicológicos. Jung
.normas coletivas", dentro do qual possa desenvolver sua vida pessoal. Daí distinguia dois tipos de atitude, a extrovertida e a introvertida, e quatro
que isso ganha ainda maior importância para ela porqu~, além de não tipos de função: duas racionais (pensamento e sentimento) e duas irra-
precisar pensar muito no que é geralmente aceito, não pode exercer in- cionais (sensação e intuição). Uma determinada pessoa pertence a um ti-
fluência sobre as idéias $ociais, políticas e religiosas vigentes. Mas, à me- po quando se adapta melhor a uma determinada atitude e ~unção. Isso
dida que amadurecem, as crianças adotam idéias heterodoxas sobre es- não quer dizer que as demais atitudes e funções estejam sempre ausen-
sas questões, geralmente como parte de sua rebeldia contra os p~ntbs de tes; elas são simplesmente inferiores, latentes ou reprimidas - muitas ve-
vista correntes, sobre os quais se expressam com considerável segurança. zes isso não fica claro. Pensava-se que o problema .da criança era deter-
Assim, tendem a adotar uma posição unilateral.ou coletiva, em contra- minar qual a sua melhor atitude e função. Desse modo, ela teria apoio
posição a uma posição individual. ' para seu status inferior e poderia sentir-se cada vez mais eficiente e supos-
Segundo Jung, a individuação requer ainda que o sujeito se liberte tamente autoconfiante. O jovem pode então delegar, por meio da proje-
dos opostos mediante uma solução irracional ou simbólica; para isso, os ção, as demais funções a outras pessoas; quando ele se apaixona, por
opostos precisam ganhar igualdade total. exemplo, a mulher em geral detém a projeção de seu lado inferior,.ou
anima, e daí resulta um relacionamento útil tanto do ponto de vista psi-
Havendo, no entanto, plena igualdade e equivalência dos opostos, cológico quanto do biológico. A razão pela qual a criahça precisa desen-
comprovadas pela participação incondicional do eu na tese e na an- vol: er sua função superior e valer-se dela é que a inferior contradiz a su-
títese, produz-se uma suspensão da vontade, pois já não é possível que- pen?r: a introversão contradiz a extroversão, o pensamento contradiz o
rer porque todo motivo tem a seu lado um contra motivo igualmen- s:nt~mento e a intuição contradiz a sensação. Se ela aceitar todas, se ve-
te forte. Mas como a vida não tolera suspensão, surge um ra dlant~ do problema dos opostos, entre os quais se espera que oscile e
represamento da energia vital que levaria a uma situação insuportá- dos quaIs precisa libertar-se. Nisso está a razão para as crianças buscarem
vel se da tensão dQs opostos não surgisse nova função unificadora figuras ideais, co mo o h " que luta contra o seu oposto.
erol
que ultrapassa os opostos. (Oe VI, parág. 913) !'presentei de forma bastante detalhada o contraste entre a indivi-
duaçao e o crescimento do ego porque era essa oposição que imperava
20 • A Criança como Indivíduo • • Antecedentes • 2.
quando escrevi o texto da primeira edição deste livro. A grandiosidade e es e é sobreordenado ou transcendente em relação a' elas
o alcance, o elemento religioso e a importância social ·da individuação pa rt
todas as 'd d - sao
à parte. As duas concepçoes I ICI'I concl'1'-
- d e d'f' laçao,
uma en tJ a e , - 'I
eram de interesse central. Quanto às manifestações do selr, Jung e ~oerente: elas,sa? essencla -
A definição de individuação em Tipos psicológicos dá margem, po- , bo'I'lcas e representam opostos, ASSIm, torna-se difíCIl
mente sIm _ desenvol- ,
rém, a uma visão diferente. Jung diz que "a individuação coincide com o ma teoria satisfatória do self porque qualquer afirmaçao a respeito
veru , - d .
desenvolvimento da consciência que sai de um estado primitivo de identi-
deepI ode ser contradita - ao menos, essa e a noçao
'fi
e sua natureza slm-
- d
dade" (OC VI, parág. 856) e, alhures, como explica Jacobi, ele dá margem bólíca conforme comumente interpretada. Dal_de~orre ~ a Irmaçao .~'
à idéia de individuação como um processo contínuo ao longo de toda ue o self é um supremo mistério e, por isso, nao e. precIso tentar elucl-'
q , , ' ,
uma vida. Diversos junguianos tentaram dar conta dessa brecha, que ja- dá-lo, Ao relacionar o self tanto emptnca quanto teoncamente a expe-'
mais foi detalhadamente explicada até Jacobi empreender essa tarefa no riência religiosa - e, em particular, ao conhecimento de Deus -, Jung cer-
livro The Way of Individuation (1967). A ela, portanto, deve-se dar o cré- tamente colocou o self em relação com a especulação teológica acerca-da
dito pela fundação dessa linha de pensamento. realidade suprema, Não tentarei de forma alguma considerar esse àspec-
Seja como for, lastimo não poder aceitar nem a sua formulação nem to de seu trabalho: ele é quase completamente irrelevante aos processos
outras menos completas. Todas recorrem a concepções como a de que a de amadurecimento na infância, além do que é algo que pertence à sea-
individuação é um "instinto" ou implicam uma teleologia de longo alcan- ra da filosofia e da teologia, de qualquer forma, Há muitos aspectos do
ce que foi há muito abolida pela biologia, a meu ver, com justa razão, self que conhecemos pouco ou nada e sua natureza já é obscura·o sufi-
Além disso, Jacobi especialmente afirma, se é que a compreendi bem, ciente sem hipostasiar a aura de mistério - que deve, a meu ver, funcio-
que os objetivos biológicos e adaptativos da juventude e que o desenvol- nar mais como estímulo à investigação do que como um fim em si.
vimento do ego são partes de embora apenas preliminares a - um de- Não se pode negar que a concepção de self como mistério supre-
senvolvimento necessário aos processos, geralmente chamados de indi- mo não está de acordo com a idéia de que sua percepção seja o objeti-
viduação, de amadurecimento na segunda metade da vida, vo da individuação, pois, para ser percebido, ele deve ser cognoscível;
Essa concepção tem á seguinte dificuldade: o aumento da adapta- mas muitas vezes se afirma que sua percepção requer a intuição de seu
ção a exigências sociais não pode ser parte da individuação se o distan- mistério.
ciamento de exigências sociais é uma característica central da individua- Foi num momento posterior que Jung desenvolveu uma idéia dife~
ção, Não sou avesso nem ao paradoxo nem à contradição quando eles
recobrem dados simbólicos que não podem ser abstraídos sem perda, To-
rente: o self era um organizador, o arquétipo central. ° wnceito revisa-
do cobria muito bem alguns de seus dados, mas obviamente. modificava
davia, a individuação é, a meu ver, um conceito capital relacionado a pro- ou mesmo abolia o conceito de totalidade, já que o self é c;oncebido co-
cessos definíveis e não um símbolo; portanto, o paradoxo não é nem jus- mo uma de suas partes. Do meu ponto de vista, a contradição pode ser
tificável nem, creio eu, necessário. Neste livro demonstrarei - espero que resolvida reconhecendo-se que dois níveis de abstração estão envolvidos.-
definitivamente - que os processos de individuação estão em ação na pri- ~ conceito de totalidade do self se baseia numa abstração dos dados que
meira infância e na infância e que são uma característica essencial do ~ao agrupados como símbolos ou representações suas: cada um.deles é
amadurecimento, °
Incompleto, mas, somados, levam à teoria da totalidade,. self como ore
ganizador dos arquétipos é menos abstrato, mais próximo dos dados e,.
Ao propor-me mostrar isso, farei uso dos conceitos de Jung, apesar
de suas formulações não serem coerentes (Cf. Fordham 1985b), Por um POde-se dizer, menos teórico,
lado, ele definiu o self como a totalidade da psique, abarcando o ego e os .Os capítulos seguintes mostrarão até que ponto usei, ampliei ou des-
arquétipos, concepção que significa que essas estruturas são as partes do carteI os conceitos desenvolvidos por Jung e outros. Pode-se, porém, pre-
todo. Por outro lado, ele pensou o self como uma entidade que organiza ver desde já que o modelo do ego, os arquétipos e' o self permanecerão,
~-------_._-_ .. _-_._-- --_._-- -_ _- ..
22 . A Criança como Indivíduo·
r • Antecedentes • 23
................ " , ..................................................................... ', ................................................ ...... .

't' a do amadurecimento (Cf. Mahler et ai. 1977) não poderia


como tan:b~m a i~po~ncia dos pais diante do desenvolvimento e psi- caractens IC . . . ,.
copatologla mfantls. As Imagens simbólicas e o mundo interior a que Jun . de ter muito interesse para mIm. Contudo, talvez seJa mUIto vall-
elxar " .
dda uma observação sobre o frutífero dIalogo entre as escolas da pSIcolo-
deu tanta ênfase (embora em parte para compensar sua freqüente nega~
ção) também encontrarão lugar de destaque. -. gia analítica e da psi~nális~ que vem ocorrendo ao longo dos anos em
Dei muita importância ao self definido_como a totalidade organiza· L dres. Ele contribUIU mUIto para o meu trabalho e o de outros mem-
da dos sistemas consciente e inconsciente. A concepção aplicada à crian-
b~:S da London Society of Analytical Psychology. Esse diálogo, porém,
não poderia haver ocorrido sem o contínuo estudo da obra de Jung nem
ça trata-a como uma entidade em si mesma, da qual se podem derivar
os. processos maturativos. Ela não inclui mãe nem família. A significação a correspondência e a discussão com ele e com a Sra. Jung até omo~en:
to da morte deles. Isso propiciou-me uma base segura de onde partIr pa-
do postulado de uma unidade primária ficará evidente, mas talvez se pos-
sa dizer desde já que ela é concebida como a base sobre a qual repousa ra novos campos de investigação.
a noção de identidade pessoal e da qual procede a individuação.
A partir daC o objetivo ideal dos pais pode ser definido como o de
fomentar o amadurecimento do self e, assim, facilitar a sensação de auto-
confiança da criançá em relação a eles, a seus irmãos e ao ambiente ex·
trafamiliar, no qual ela progressivamente se irá engajando com o passar
do tempo.
Até agora, nada falei a respeito dos vários psicanalistas a quem fa-
rei referência nos capítulos subseqüentes. À exceção, naturalmente, de
Freud, eles não antecederam meus próprios esforços no mesmo sentido
que o trabalho de Jung e Wickes, pois eu não estava trabalhando com
teorias psicanalíticas, antes de mais nada, nem tivera nenhum treinamen-
to formal em psicanálise:
Entretanto, nos primeiros anos o pioneirismo de Klein na psicanáli-
se infantil foi para mim um estímulo especial; suas técnicas lúdicas, que
revolucionaram a psicoterapia infantil na Grã-Bretanha, foram particular-
mente importantes. Além disso, muitas de suas formulações teóricas pa-
receram-me, já em 1935,compatíveis.comasidéias de Jung. Seu concei-
to de fantasia inconsciente e de objetosbons e maus, por exemplo,
parecia destinado a ser incorporado na teoria dos arquétipos e dos opos-
tos. Além disso, algumas das situações conflituosas iniciais - como a vio-
lência dos ataques agressivos do bebê ao corpo da mãe - eram, a meu
ver, análogas ao tema mitológico do herói em luta contra. os monstroS,
conforme observei em 1944 na primeira edição deste livro. Também pas-
sei a aceitar a importância da posição depressiva. .
O fato de outros psicanalistas.- ao que tudo indica, independente-
me.nte, - terem adotado conceitos do self e suas representações em seu
raclocmio conceptual e de a individuação haver sido aceita como uma
• Brincar' IS

, ' d bebê em crescimento, À medida que o desenvolvi-

2 Brincar
, tenor e extenor o
ln
mento prossegue, o
.
tahdade propnas, m
I _ "()

so ate tomar se .. ,
d
,
" a s seu conteúdo gradualmente se vai tornan o I u-
b~ 'd
ob'leto adquire, do ponto de vista do be e, VI a e VI-

não tanto esquecido quanto relega o ao 1m o


,
d d'f
I' b ( )"
o

• ~
.

o., ,

'a que contém pois como afirma Winmcott, os leno-


Ele perd e a energl ' .'
.cionais tomam-se difusos, espalhados ao longo de todo o ter-
menos t ransl I • ' ' " •

, " . t rmedl'a'rio que existe entre a "realidade pSlqUlca mtenor e o


ntono ln e ,,)
Embora não seja a primeira, o brincar constitui uma das atividades ini- " do exterior conforme percebido por duas pessoas (2000 p, 331 ,
mun · le é o precursor do elemento significativo' na b' d' com
ciais dos bebês. Assim que o seio se toma um objeto e o levar algo à bo-
A~me . nnca eira
.
ca se toma um prazer além do simples sugar, começa o ato de brincar muitos objetos, mas também pode tomar-se uma f~nt~sla, um~ Imagem
com o mamilo e outras partes do corpo da mãe. Ele continua quando o ou um pensamento (p. 157 abaixo), e e~t~:, se Wtnmcott/es~lver certo,
seio não está disponível e quando a fome e a sede estão satisfeitas, no estão na origem da vida cultural. Essa oplmao tem seus propnos percur-
exercício dos músculos, no gorgolejar, na emissão de sons etc. sores, pois Harrison afirma (1927, p, 17, nota 4) que "origina.lment~ os
Dada a segurança fornecida, em primeiro lugar, pelo acolhimento brinquedos infantis prestavam-se a muito mais que meras bnncadelras.
da mãe e outras formas menos diretas de cuidádo (por exemplo, um ber- Eles eram amuletos indutores do bem, profiláticos contra as influências
ço ou cercado), outros objetos podem ser explorados, assim como o ma- maléficas", Porém, por mais atraente que seja, a idéia carece de suficien-
milo e o seio. Gradualmente, o rosto, a boca, o cabelo da mãe bem co- te comprovação.
mo partes do corpo da própria criança, seus dedos, excrementos e órgãos Quando se amplia o conceito, é comum observar que as crianças tra-
genitais - são incluídos na brincadeira exploratória, Posteriormente, esse tam certos objetos como essenciais ao seu bem-estar: eles passam a ser do-
processo toma-se parte de um método no qual o bebê desenvolve sua tados de significado e não são retirados sem objeções veementes, São eles
relação consigo mesmo e com o mundo exterior, também participando os brinquedos em geral as bonecas com enchimento, ursinhos de pelú-
da organização da ati vida de imaginativa acarretada por processos que cia e similares que as crianças levam para toda parte, com os quais que-
têm lugar no self rem dormir ou consideram especiais e preferem acima de todos os outros.
Relacionado com o corpo, o brincar constitui uma das atividades ini- Além de especiais, outra característica desses objetos é a sua" objetivida-
ciais do ego que acontece pela primeira vez quando o bebê está num es- de", A criança pode referir-se a eventos de seu mundo exterior ou inte-
tado próximo à integração, Supondo que no ato de brincar o ego do bebê rior, às vezes de modo muito claro, mas mesmo assim a brincadeira é em
esteja perto do selr, pode-se esperar que o brincar forme representações si considerada como resuitante da difusão, uma atividade "objetiva".
do self Dito de outra maneira, no brincar precoce o bebê está dando um Não é meu objetivo, nem no que foi exposto anteriormente nem
primeiro passo no sentido de deixar de ser um self para encontrar a si no que direi a seguir, desenvolver uma teoria geral do brincar. Antes, que-
mesmo, ro indicar as características que podem ser úteis a um clínico oua alguém
De especial interesse são os fenômenos transicionais, cuja investiga- que trabalhe com crianças. Vale a pena considerar os seguintes traços du-
ção devemos a Winnicott (1967 e 2000), Eles serão discutidos em maior rante a psicoterapia:
detalhe posteriormente, Por enquanto, diga-se apenas que, logo no início
I. Graças às reduzidas dimensões dos brinquedos, a criança tem -
da vida, o bebê se ocupa de partes de objetos concretos ou outros obje-
dentro dos limites impostos pela natureza do brinquedo - con-
tos primitivos que não vêm a representar nem seu mundo "interior" nem
trole total sobre o brincar, Por isso há ampla margem para ex-
uma parte da mãe, que representa o mundo "exterior", Considera-se, as-
pressar e gozar valiosas sensações de onipotência, especialmen-
sim, que os fenômenos transicionais ocupam um lugar entre os mundos
• Brincar' 27
26 • A Criança como Indivídu.o •

te' quando. se trata


. do brincar criativo com os materiais pri manos
-. INVEIA E O CiÚME INFANTIS
(agua, areIa, argila), da pintura e do desenho. CASO I - A

tinha medo do escuro e fobia da escola.


2. O brincar onipotente pode ser auto-erótico e, nesse caso, é leva- Joyce, de 6 a nos,
da. a cabo_ na solidão:
. ele tem suas próprias recompensas ' e a
cnança ~ao precIsa. de. mais ninguém para apreciar o que está primeira entrevista.: .' .
. r uma garotinha ativa cheIa de VIvaCIdade e de uma ener-
sendo feIto. Esse bnncar também pode ser criativo: é onde mui- Ela parecIa se
.
. _.' . - Q
I a' s vezes achava dlflctl - ou Imposslvel - controlar. uando
tas vezes se encontram símbolos. gla que e a .
isso acontecia, Joyce ficava ansIosa. . ' .
Brincadeira: Ela começou a brincar com duas bonecas, uma pret:a
3. Porém a brincadeira criativa normalmente requer que outras
e uma branca. A boneca preta era "má", levou muita palmada no "tra-
pessoas - em especial os pais - a apreciem. Se isso não aconte-
seiro" e depois foi mandada para a cama. Posteriormente, essa boneca
cer, a criança pode ficar triste ou até deprimida, zangada ou de-
ganhou boas roupas e, no fim, Joyce a aceitou u~ pouco. melhor. A ou-
sesperada. .
tra boneca chamada de "nenê", era boa e mUlto quenda. Certa vez,
quando a~bas as crianças estavam deitadas na cama, Joyce descobriu
4. ~aí.dec~rre que a brincadeira é um veículo para a comunicação
que os olhos do bebê bom não fechavam. A princípio, ele "não podia
SIgnificatIva, um elemento que se revela especialmente útil ao
dormir". Depois, ele aparentemente não queria dormir, dando ensejo a
analista. Em vez de falar, a criança irá brincar, exprimindo seus
uma discussão não muito grave em que o "bebê bom" foi chamado de
amores e ódios, medos e esperanças, às vezes de forma transpa-
rente, mas, .em geral, de modo indireto. "malcriado" .
Nesse jogo, Joyce brincava de ser mãe, pondo e tirando roupas, ba-
tendo numa filha, agradando a outra e pondo ambas para dormir: esse é
5. Como parte desse elemento comunicativo, outras pessoas po-
o brincar normal. Aos 6 anos, espera-se que a menina tenha identifica-
d.em entrar no jogo por meio da representação de papéis. No iní-
ção com a mãe, uma identificação que geralmente faz parte ~e seu con-
CIO essa atividade é autocentrada, isto é, a criança quer que o ou-
flito edipiano. O fato de cada boneca desenvolver como parte de ,si um
tro desempenhe um papel que representa uma parte do self
germe da qualidade oposta mostra que a criança está perto da brincadei-
Depois, é possível um intercâmbio de papéis e o estabelecimen-
ra do objeto total: a "filha má" ganha boas roupas provavelmente uma
to de concessões. Num momento posterior, podem ter início os
recompensa por haver sido boa -, apesar de não se verificar nenhuma
jogos organizados que se tornarão aqueles de incrível complexi-
verdadeira mudança em sua natureza, conforme demonstrou-se na con-
dade da vida adulta: então a brincadeira se terá tornado social.
tinuação da brincadeira; a filha "boa" tem em si um pouco de "maldade",
na forma da intenção deliberada de não fechar os olhos e dormir.
Os exemplos seguintes ilustram essas características do brincar - embo-
No conjunto, no brincar de Joyce predominavam atos punitivos im-
ra sua criatividade só venha a ser abordada no Capítulo 4 - e foram se-
placáveis, todos destinados a controlar o "mau" comportamento. A vio-
lecionados com o intuito de mostrar diferentes graus de organização em
lência é evidentemente uma tentativa de controlar seus desejos infantis
duas faixas etárias.
maus, que ela teme. Devido à sua tendência à crueldade, há indício de
que sua identificação com a mãe seja parte de uma defesa maníaca resi-
dual (Cf. p. III abaixo). O comportamento da mãe fantasiada não cor-
responde ao de sua própria mãe em relação a ela, pois Joyce era a filha
• Brincar • 29
28 • A Criança como Indivíduo •

"EI ' ma peste" - são os que sua mãe de fato faz .. O te-
sentido de o bebe~ se haver torna,
preferida. Isso sugere que as identificações projetiva e introJ'etiva con t'n-
qu e ela fez
'd - 'ae u
t be' m mudou no . .
buem para o quadro que ela apresenta (Cf. p. 90 abaixo). a da bnnca eira am - '
m b Sua maldade sugerida em sessao antenor quando se re-
do menos om. ' . . . -
c h s olhos agora estendeu-se a atlVldades anais. Em relaçao
Segunda entrevista: cusava a lec ar o , . .
ce é menos impiedosa, provavelmente porque se haVia hvra-
rHouve
d
muita brincadeira com água numa pequena banheira de fia d
n re
a estas, Joy . ,. I' d t d ,,1 ' I
ca "má". Ela passa o tempo no ImCIO Impan o u Q. sso, e7
Iga a a um tanque; a~rindo-se uma torneira, a água jorrava na banheira. b
do da one ' 'd d ' 'd
'd oberta da sujeira: "porcaria". Referindo-se a reah a e, Isto e, es-
A certa altura, a torneira entupiu, deixando Joyce chateada. Depois, ela vaa esc . ··'·d d
. do que a "porcaria" é areia ela controla a raiva; outras atlVl a es
colocou alguns barcos numa bandeja grande, que encheu com água de co bnn ' - . - '
um balde; empurrou os barcos de um lado para o outro. Além disso co- são tratadas com severidade, mas nao com pumçao.
locou bast~nte ~reia dentro d'água e, ao molhar as mãos, queixou-s~ de
que ~cab~nam asperas e rachadas. Então quis trocar a água para separar Quarta entrevista: '
Joyce achou a mamadeira do bebê e divertiu-se sugando e mascando o
a areia e, Ju~tos, carregamos um balde escada acima e abaixo derraman-
bico. No início da sessão, comentou: "Meu nenê pode cuspir". Isso que-
do muita água nessa ati vida de. . ',' '
ria dizer que o bebê havia cuspido o leite. Por isso, levou uma surra.
Nesse brincar há uma tendência a agrupar objetos em pares: dois
Logo depois, ela encontrou uns bastões de giz, quebrou-os e colo-
barc~s, areia, e água,. a torneira que deixa cair á água e a banheira que a
cou-os dentro de uma caixinha presa a um quadro-negro. Quando aca-
~ontem. Porem, ao lIdar com materiais e objetos impessoais, há mais rea-
bou, perguntou: "Ela está chorando? Minha filhinha está chorando?" Foi
lidade no que ela faz e deixa de haver necessidade de distinguir entre
alimentar a boneca. "Ela cuspiu?", disse e sugou ela mesma a mamadei-
bem e mal.
ra. Caiu um pouco de água pela parte inferior da mamadeira, fazendo-a
exclamar: "Oh, pipi!" Em seguida, mordeu e mascou o bico. "Fui ver o
Terceira entrevista:
nenê do Tio Alf", disse. Derramou mais água no chão. Nesse ponto, fiz
A boneca má foi, mais uma vez, bem surrada e colocada num canto no o seguinte comentário: "Quando você era nenê, talvez quisesse fazer pi-
início da entrevista. Depois, muita brincadeira com água; Joyce era a mãe pi na mamãe do mesmo jeito que está derramando água no chão agora".
lavando as roupas e lençóis da boneca. Ao lavàr com sabão as fraldas su- Ela respondeu: "Não queria, não, mas eu fazia porcaria nela inteira - não
jou-as de areia. Então cheirou-as, pensando que era "porcaria" (fe~es), se pode dar surra num nenê". Então, guardou a mamadeira. "Vou guar-
mas ficou alegre ao descobrir que a "porcaria" era areia. Além disso, la- dar para a noite", disse e, enojada, achou uma banheira de brinquedo que
vou cuidadosamente o chão, fazendo-me mudar minha cadeira de lugar estava suja. Colocou-a na água, lavou alguns soldadinhos, fazendo co,
para continuar seu trabalho. Em certo momento da limpeza, encontrou mentários sobre seus revólveres, e colocou-os numa cesta de papel. Aí
alguns pingos de água' no chão. "Isso aí é 'pipi' (urina) de nenê. Ela se le- achou outra banheira com "lama" dentro. Disse: "Um menino pôs a la-
~antou da cama e veio pra cá fazer 'pipi'; que menina mais malcriada, ela ma aí ontem à noite" e, em seguida, acrescentou: "Preciso correr pra fa-
e uma chata", disse. .' zer o jantar do papai; depois eu coloco a banheira na pia". Ela estava per-
Brincadeira com areia: Joyce fez um "bolinho" e cozeu-o. to de um interruptor aparafusado à parede; "Eu quero isso", disse tirando
" . Chá: ~Ia ,era a, mãe fazendo o chá e eu, o papai. De repente disse: o parafuso que estava solto. Em seguida, tentou abrir a porta de um ar-
Mmha filhmhaesta chorando"; pegou a boneca e tirou-lhe as fraldas. Ao n:ário, mas a chave estava com defeito. Vendo-a lútar para abri-Ia, ofere-
sentir fedor de "porcaria", disse: "Ela é uma peste. Sujando a fralda". cI-me para ajudá-Ia, mas ela recusou. "Oh não, oh não, oh não. Por que
A identificação com a mãe é, mais uma vez, clara, mas agora os atoS você está chorando, nenê? Sua malcriada!", disse. "
de Joyce estão mais ligados à realidade e refletem o comportamento de
sua própria mãe: lavar e cozinhar. Além disso, muitos dos comentários
• Brincar • 1 t
lO . A Criança como Indivíduo •

. d brincar como um todo, o modo como joyce,reage


Depois
. encontrou tinta' e pincel
_ e fingiu ficar enjoada . Tirou arela
. Cons,deran. o o , muito evidente. Em primeiro lugar, ela e cruel
da caixa, derramando-a pelo chao todo. Encontrou o bebê, pegou-o no ões mais graves e
às frustra. ç ~orça recusando qualquer ajuda. Mas ha' tam-
c?lo e deu-lhe a mamadeira. Ao fazer isso, derramou água no chão. Ime- uperar ISSO com a I' , d
e tenta s ' d menos impetuosos representados sob a forma e
diatamente, bateu no bebê, depois descobriu que ele estava com a cal bém outros meto os
molhada e voltou a bater nele: "Ela é uma peste". Em seguida, foi a m~
'-7"
. "por que você está chorando, nene. .
u ma pergun ta. _ . a vw
sten'ores à medida que o brincar prossegUia, . l-en-
madeira que virou "uma peste". Joyce a sugou e mordetl. a Em sessoes p o , - d'
. te' que Joyce acabou por jogar o bebe no fogo e, epOls'
Há muitas novas características nesse .brincar. Em primeiro lugar Cla aumentou a - A ., - ,
i~entificação com a mãe já não é tão forte - du'rante boa parte da s~: I
desse Cima
' x moderou-se e mostrou maior preocupaçao. gora la nao e
, . , A I d b'
5ao, ela ~es~nvolve os s~ntimentos de ser um bebê, fazendo coisas que difícil entender por que ela não consegue Ir a escola. o o~go o nn-
t lidade da "mãe" é vista claramente. Como sua mae na verda-
um bebe fana, sugando e mastigando o bico da mamadeira. Mas nem to- car, a- b ru'assim
a o arquétipo da mãe brutal e' projeta. d o na proles
• sora , a
?as essas cois~s são de atuação segura, pois são puníveis. Então ela pro- d e nao e , ' ,. d . t
_ onsegue vencer e em cuja presença e Vitima e sentlmen os
leta seus sentimentos na boneca e a pune. Pela primeira vez não há re- quem nao c , , .
jeição da boneca preta e, apesar das palavras duras e das fort~s palmadas de impotência e medo que a levam as lagnmas.
no "nenê", em geral o comportamento está menos obsessivo, mais vio-
lento, mas tende a tomar-se mais inquieto. Conclusão:
Tomando o brincar como um todo, a seqüência sugere que as coi- Esses episódios do brincar representam uma cara~terísti~a comum do de-
sas "más" na boneca preta representavam o comportamento cindido do senvolvimento: a inveja e o ciúme de uma garottnha diante d~ che~a?a
de um irmãozinho. Isso ocorreu no período em que seu conflIto edlPla-
bebê bom: à medida que ele piora, a boneca preta fica menos "má". Em-
no estava em evidência e a identificação com a mãe provinha em boa
bora a "mãe" tente forçar o bebê a desistir de seus maus modos castigan-
parte desse período. Todavia, ao mesmo tempo houve uma regressão,. ex-
do-o, o castigo não se aplica a ela como bebê, pois quando revela seu de-
pressa por meio de sua violência maníaca e tão defensiva., As tentatlva~
sejo de fazer "porcaria" na mãe inteira, imediatamente se protege
de resolver as ansiedades pela regressão e pela identificação com o bebe
opinando que "não se pode dar surr!'l num nenê". Porém, quando quer,
não surtiram efeito, pois a crueldade de seu brincar e a tendência a tra-
logo ataca o "bebê" q!-le ela já não é.
tar os bebês como bons ou maus - e não ambas as coisas - a coloca nu-
A interrupção no desenvolvimento - que deve ser considerada in-
ma posição que não pode ser mantida, pois ela se desenvolveu o bastan-
flexível devido aos seus medos - gira em tomo da persistência de dese-
jos próprios ao bebê e de seu cruel desejo de punição para manter esses te para reconhecer que uma pessoa pode ser boa e má.
Alguns trechos do brincar apontam para outras características da fa-
desejos sob controle. Criando uma situ(ição de tolerância na qual podia
se edipiana. Estão presentes ansiedades de castração bastante claras. Há
haver o brincar, Joyce pôde trabalhar seus conflitos. Os objetos mais usa-
uma sugestão da inveja do pênis, ao passo que o interesse e as ansiedades
dos foram: as bonecas preta e branca; a mamadeira, significando ora o
em relação à cena primaI são objeto de alusão remota (Cf. p. I 16. abaixo).
seio, que ela morde, ora o corpo, do qual sai "pipi"; areia e água, que re-
Há nessa brincadeira ainda uma característica de algum interesse
presentam "porcaria" e "pipi".
cultural. Os objetos bons e maus (bebês) parecem confundir-se e há em
Ao ventilar seus conflitos pré-edipianos, ela apresenta seus senti-
cada um uma tendência a transformar-se no outro. Porém, embora o be-
mentos diante das diferenças sexuais. Por exemplo, todos os objetos fáli-
bê bom tenha características más e o mau, características boas, eles ja;.
cos são ou atacados ou jogados fora, ao passo que os meninos são decla-
mais se referem a uma única e mesma pessoa. Que os opostos se com~
rados sujos. Os bastões de giz são quebrados. os soldados e seus
portem dessa maneira é típico: Jung chamou a isso de "enantiodromia".
revólveres são postos na cesta de papel e ela sente' nojo e fica enjoada ao
Sua entre mistura é característica não apenas da brincadeira de Joyce, màs
ver um pincel.
32 • A Criança como Indivíduo •

também
,. d da de muitas crianças' . e se reflete em formas cultura's I.
Ao con- Sonho 2 , haver freqüentado a clínica por algumas semanas,)
trano os aspectos dogmatlcos do cristianismo a relaça-o era d e espeCial
• • • I
. () oa n o relatoU
. h ' apos Itado Ele era casado com a Sra. Wood e estavaarru-
mteresse para os alquimistas, mas a expressão mais .organizada d Meu pai aVia vo . . ..
. d " e enan- mando as sacolas antes de vir nos VISItar. , .'
tiO romla se encontra na filosofia chinesa. A Grande Mônada é ". e morreu de alegria com esse sonho e o contou a famíll<!:.
" d - um dia-
grama pa rao usado provavelmente para meditaça-o. Ele mostra d' OIS pei-. Joan quas
_ m dúvida também contente com ele, dIsse:
. "Quem .sab e voce
A

xes, um representando Yang e o outro Yin' ambos do mesmo ta man ho A mae, se d . 1" . - .
. _ . contrar o papai bem na porta quan o saIr. , mas a lITna mam-
e contendo em SI um germe do seu oposto. A mônada infere uma I nao vaI en ,. " .
- C. . rea- festou-s com um cético comentarlo: Quando se sonha com uma COIsa,
çao aSlca entre ambos; quando Yang predomina Yin é recessl'vo e Vlce- . e
• ,. I

versa.
_ Esse pnnclplo se vem aplicando a toda a natureza e a' h'IS t"ona das ela nunca acontece!" . '
Respondendo a uma pergunta, Joan disse que havia. apenas Vislum-
naçoes. . . brado o pai e não poderia dizer com certeza como ele era. Acrescentou:
A i.tn~ortância cultural do brincar de Joyce é, assim, o fato de ela es- "A Sra. Wood mora ao lado e tem uma família enorme".
tar exprlmmdo de forma direta, simples e flexível o padrão de um . t - lá que esse sonho foi relatado logo após sua chegada à clínica, é jus-
d' A • SIS e
ma mamlco que foi abstráído, refinado, pensado e desenvolvido em to supor que ela já tivesse começado a transferir seus sentimentos para
uma idéia filosófica complexa. mim. Eu comecei a parecer o pai que ela lembrava e, assim, já está sen-
do criada uma situação em que ela pode retomar o desenvolvimento in-
terrompido pelo abandono do pai. Seu brincar poderá dar pistas sobre
CASO 2- A FIXAÇÃO DO PAI sua capacidade de lidar com esse problema. Na verdade ela não terá con-
sigo a mãe, de forma que os efeitos explosivos, destrutivos, do primeiro
O registro ?O bri~car
de Joan, garota de dez anos e meio, abaixo apre-
sonho provavelmente se farão sentir, assim como os elementos positivos
sentado, fOI extraldo de uma longa série de registros ao longo de mais de
um ano. Longe de casa, passou a apresentar profusa enurese notuma. que vivem "ao lado".
Joan sempre havia sido enurética, mas apenas levemente, de forma que,
Jogos de perseguição
<;'0 ~oltar para casa, o problema deixava de ser sério. Ela havia nascido na Assim que se acostumou à clínica, ela deu início a uma série de jogos de
Indla e vindo ~ara a.lnglaterra aos 4 anos. Dois anos depois, o pai aban- perseguição. Corria o mais rápido que podia, convidando-me a persegui-
donou a família, deixando-a praticamente na miséria. Joan tinha do pai la; corria até que eu "perdesse" e então se escondia, esperando que eu a
boas recordaçõe.s, de modo que o fqrte golpe do abandono expressava- encontrasse. Se assim fosse, ela se rendia por um instante com algum pra-
se na sensação que tinha a garota de que jamais se casaria quando cres- zer, mas depois valia-se dessa rendição para fugir novamente. Aqui Joan
cesse, pois isso criaria a po?sibilídade de ser, como a mãe, abandonada demonstra seus sentimentos ambivalentes, provocadores, sedutores e an-
pelo marido. siosos, provavelmente ligados à violência de seus medos sexuais. Nessa
Logo no início da s.ua ludoterapia, Joan contou-me dois sonhos. brincadeira difícil, ela está evidentemente relacionando-se com· o lado
obscu[o do pai, expresso no sonho da bomba.
Sonho 1 As vezes ela desistia da perseguição e dava início a outras brincadei-
Uma bomba caíél no quintal e e'u colocava 'a cabeça entre os braços, es- ;,as, picando papel e misturando-o a pedaços de grama para fazer uma
perando a explosão que me mataria. Minha mãe foi lá fora e colocOU ter- torta venenosa".
ra sobre a _bomba e,_ef!1cirrla de tudo, um vaso no qual nasceu uma flor.
A mae de Joan é aqui mostrada como boa, dando a afetos destru ti -
vos uma forma positiva.
, • Brincar· 3S
34 . A Criança como Indivíduo • ........................................... .
........................................................................................... ................................. ..................... ................. .. .......... ..................... .
':'~."" .
Jogos com bola
Quando começou a brincar com uma bola, seus jogos mudaram. No iní- Jogos COm ág~a seguiu girava em tomo do uso d,a água. Joan ini-
o de Jogos que se . .
cio,ela a arremessava ao chão ou contra a parede, pegando-a no rebot O gru P . d ao ver um garoto bnncando com uma manguel-
. I nte ficou mteressa a
Gla me . fl o da água pisando na mangueira.
O garoto rec Iac
Depois ela me incluiu no jogo, embora não me permitisse pegar a bale. a Tentou obstrUir o ux - I .
preferindo arremessá-Ia para longe; uma vez em direção ao sol, dizend , ra. . d 's chateado quando Joan insistiu. Ela entao reso veu Ir
- d . , o ou e ficou am a mal . S"
que eu nao evena pega-Ia se não fosse "diante do sol". Em seguida, pas- m, . ~ há-Ia mas o garoto a abnu novamente. egulu-se um JO-
ate a torneira e . e c , .' "
sou a impor outras condições como, por exemplo, a de que eu não pe- . I tentava deixar flUir a agua enquanto Joan tentava'lmpe-
go em que o nva b' d' 't .
gasse a bola antes do rebote. Por'fim, resolveu jogar rounders l , definindo . . ontecesse Depois enquanto o garoto estava a nn o a omel-
01r que ISSO ac . , J . .
quatro pontos obrigatórios para as jogadas. Nessa parte do jogo, não ha- mangueira e esguichou água nele. A certa altura, oan qUIs Ir
ra, e Ia pegou a .. - d' ,
via conflito quanto a quem deveria ter a posse da bola, já que havia as ao banheiro e, na brincadeira subsequente, a relaçao e,ntre o fluxo a agua
regras formais do jogo organizado. 'da ao banheiro tomou-se particularmente percepuvel. '
eaI 'd' .
As seqüências de jogos com bola sempre terminavam com uma par- Em outras sessões, Joan usou a agua para fins Istmtos, como por
tida de rounders. Trata-se de um jogo formal no qual há quatro bases, uma exemplo, regar as plantas do jardim ou encher um pequeno lago de con-
das quais é a "base principal", ponto de início e fim. No jogo, ela conseguia creto. Às vezes, enquanto molhava o jardim, encontrava rachaduras no
exprimir mais facilmente seu antagonismo e competitividade em relação a solo (era um verão muito seco); concentrava-se nelas e parecia enfiar a
mim - não precisava temer um ataque, pois as regras do jogo o impedem. água dentro da terra. Enquanto isso acontecia, seu olhar ficava brutal. Em
Essa condição não durou muito; não seria de esperar que durasse. uma das sessões, ficou muito agitada e molhou uma terapeuta que esta-
Não é preciso enfatizar o elemento social nesse jogo. Porém a sua va presente. Esguichou água nas pessoas, inclusive em mim. Ao fazê-lo,
forma é uma mandala que alia dois elementos simbólicos. De acordo chamou-me de "lixo", como fez com o garoto. e também com a .outra te-
com Jung, quatro é um número que expressa opostos em relação de es- rapeuta. Quando se excitava, tomava-se muito imperiosa.
tabilidade ou completude; a idéia de enfrentar um problema representa Assim, a brincadeira com a mangueira provocava em Joan mudan-
essa estabilidade. Rounders, como implica o próprio nome 2, envolve a ças de humor - uma inconsciência passiva e ausente enquanto enchia o
idéia de círculo, símbolo amplamente conhecido que expressa desde a lago, uma brutal concentração enquanto enchia de água as' rachaduras,
magiél defensiva até uma forma perfeita. uma excitação imperiosa quando atacava as pessoas, um estado mais ou
Supondo que a criança tenha inconscientemente definido os quatro menos neutro quando molhava o jardim.
pontos do jogo para exprimir aquilo que para ela é equivalente a essas Nessa brincadeira, a sexualidade de Joan veio mais à tona. Sua riva-
idéias, poder-se-ia inferir que ela e eu personificamos funções anterior- lidade com o garoto implicava sua inveja do pênis, seu desejo de atacar
mente em conflito, mas agora complementares, numa rivalidade segura. o pênis dele e possuir um ela própria. Suas atividades colocaram em pri-
O simbolismo do jogo de bola parecia exprimir uma maior sensa- meiro plano a origem instintiva de sua enurese notuma. Aparentemente,
ção de segurança por parte da criança. De fato, após o início do jogo, a havia fantasias com relações sexuais bem perto da superfície: ela é)s con-
ansiedade foi temporariamente dominada, conforme exigiria o seu sim- cebia como selvagens e brutais e, se isso estivesse correto, no brin'car ela
bolismo, já que a mandala representa um todo estável. Esse estado im- iria representar principalmente papéis masculinos, mas p~ssivelment~
plica que, a partir daí, umenfoque diferente dos conflitos de Joan viria t~mbém femininos. Portanto, interpretei para ela se~s próprios atos e sen-
à tona. timentos. Joan imediatamente esguichou a água mais uma vez sobre a te-
rapeuta, demonstrando menos inibição, menos excitação e mais contro-
le em sua atividade. Essas mudanças sugerem que minha interv~nção
I. Jogo britânico que deu origem ao beisebol. (NTl
2. O substantivo rounder deriva do adjetivo round: redondo, circular. (NTl
valeu para reduzir sua ansiedade.
• Brincar' 37
..36 ,
. A Criança como Indivíduo •
" .... ... , .... , ............. , .................. ................ , ..... ,- ...................................... ..
" ............ , ... , ....... , .... ,.

oan ilustra duas formas de lidar com


Jogos escolares . mportamento de J & .
ASSim, OCO . I foge e se identifica com ele. Que ela loge.e?:
A série seguinte de jogos girava em torno da estola. Neles, Joan invaria_ o objeto amedrontador. eda há identificação? Em primeiro lugar, ela
velmente representava a prOfessora diante do quadro-negro, ensinando aI a prova e que , '
tá claro, mas qu d I'ndusive a boca para morder, Jaque e es'
ortografia ematemáti~. Vários dos problemas surgidos na escola revela- I e brutal usan o , '
se torna crue ' ssar seus atos podem ser tomados tneqUl-
ram-se no jogo. Ela estava evidentemente imitando a verdadeira profes- ue ela teme expre , _'
te lado seu q .& taça-o de sua identificaçao defensiva con.,
sora - eu participava do jogo como seu aluno, verbalizando alguns dos mo uma mamles ..
protestos que 'eu imaginava que ela gOstaria de haver manifestado na es- vocamente co d & tas'la ela foi devorada pelo fantasma e
'b' m termos e lan ,
cola. O devaneio era um deles, o tédio, outro, prazer quando acertava trafo lCa; e d (Cf também a Figura IV, p. 74). Entretan-
ga sua forma e ataque . . . '. -
nas somas, e também queixas contra a professora. A qualquer tipo de emp~e ifica -o é transitória; ela a torna objetiva por meio da pro)eçao
"malcriação", ela reagia a princípio com violência verbal e, depois, com to, a I~ent çata-o separa-se dela definindo um lugar em que possa ser
em mim e en '
ameaças de punição física. confinada e controlada. . _ . ..
, Essa brincadeira'lembra a de Joyce na severidade da desaprovação A partir daí, embora ocorressem algu~as persegUlçoes d~ menttn-
e dos castigos: mais uma vez, a brincadeira é cruel e - como a de Joyce nha, verificou·se mais uma mudança no bnnc~r de .'oan. SeguIU-se uma
- não se relaciona à realidade. Em cada caso, a criança está trabalhando longa série de jogos na qual ela se tornou a mae CUidando dos filhos, le-
seu medo da punição sádica por. meio da identificação. Porém em Joan
as fantasias e impulsos agressivos estão claramente avançando e relacio-
nando-se a uma organização genital mais madura.

A sombra
Um dia Joan começou a brincar com um quebra-cabeça e resolveu com-
pletá-lo. Era um quebra-cabeça fácil que ela certamente teria terminado
de montar se quisesse, mas cansou-se dele e referiu-se a "mim e à pessoa
que pode resolver este quebra-cabeça" - cindiu-se em duas.
Então foi até um quadro-negro e fez um desenho (Desenho n. Pri-
meiro ela fez um contorno pontilhado e me perguntou o que eu achava
que era. Sugeri que era a sombra de uma pessoa, um fantasma. Ela ime-
diatamente começou a elaborar as partes da figura com mais detalhes.
Enquanto o fazia, eu lhe fiz perguntas sobre o desenho. Por que as ore-
lhas grandes? Respondeu que elas ficavam assim quando a mãe gritava
com ela. E os dois rostos? "Ah, isso é porque eu falo comigo mesma." Lo-
go em seguida, escreveu no quadro: "fantasma do Dr. Fordham" e daí se-
guiu-se um jogo descontrolado - às vezes fugindo do "fantasma do Dr.
Fordham", às vezes atacando-o violentamente com ameaças, "surras", ti-
rania e tentativas coibidas de morder. Por fim; ela me ordenou que ficas-
se parado, sem me mexer.
Quando, depois, eu lhe 'perguntei sobre os fantasmas, ela me diss~
que havia fantasmas bons e maus. Os bons eram gentis com ela, isto e, Desenho I - NA sombra" (cópia dooriginaD
eram como as recordações que tinha do pai.
• Brinca,. • :)9.
38 • A Criança como Indivíduo •
.... ,., ........... , .. ............. ... " ................. '" ..................
, "" ~.,""

vando-os à escola,; cozinhando, mandando filhós imaginários levarem r _ " mais pela escola. Ela, de fato, possui uma visão mais ,am;
te domestica e resença de afetos mfantls
. - pnmltlvOS,
., . e Ies so--
sao.expres-
cados, deixando a casa "arrumadinha" e mantendo longe a "gente ruim:
pia e apesar da P .
Isso comprova.que Joan havia elaborado SLia identificação com a image . '_ I boraça-o de defesas mais bem estabelecidas. Em resumo,
sos apoS a e a . ,-
negativa do pai e 'estabel.ecido suas identificações edipianas COm a mã m , o mais forte dos dOIS porque ela e mais velha.· -
, _. _ e. seu ego e

Uma antiga recordação' ' .


Certa vez brincou que ela,.é eu fazíamos uma longa viagem de trem,um
• A . a _
UMA CONSIDERAÇÃO A RESPEITO -I
vlager:' de tres dias. A expressão "três dias" refere-se à India, então per- DO BRINCAR SOCIAL " ,
guntel/lhe.que lembraoçastinha daquela época. Ela me disse que um dia
o avo \lir,a Lima cobra passar a cabeça por sol:> a. porta da casa em que
o brincar infantil, conforme tem sido registrado e discl,ltido, aponta para
os jogos organizados tão presentes nos sistemas educacionais e na vida
moravam. O pai e o avô mataram o animal. ,
cultural. Eles têm características de interesse psicológico suficiente para
. Meuo!Jjetivo qo.dtar essa recordação é ilustrar como o brincar se
;mocia tanto ao passado quanto ao; pr~sente.. A açãodramática de mui· merecer um breve comentário.
Em todos os jogos há um conflito entre dois "lados", cada um com-
tas brincadeiras indica, ,mas tamb~m esconde, as realidades mais simples
posto de uma pessoa ou, quando há um número delimitado, cada mem-
e, geralmente, sofridas.
bro participa de um grupo que se opõe ao "outro lado". Os dois grupos
Boa parte do brincar de Joan é uma dramatização de como se sen-
concorrentes têm exatamente o mesmo número de participantes e orga-
tia em relação ao pai quando era pequena.·A recordação, ao contrário
nizam-se da mesma maneira, porém cada lado tem preso a si um deter-
das outras, é ~fa violênc!a.ª.eie na realiciade. Eu supus então que ela qui-
minado tom emocional; um lado é positivo o "nosso" lado e o outro
sesse contar-me, por meio dessa lembrança, que a violência do pai e,
é negativo o lado "deles". É a partir desses opostos que se desenvolve
portanto, também a sua - era defensiva e nem sempre visível.
a atividade do jogo.
A oposição essencial dos processos psicológicos é, portanto, ex-
pressa no jogo, cujo objetivo é fazer com que o nosso lado "bom" ven-
UMA COMPARÀ<ÇÃO ENTRE O BRINCAR ça. O indivíduo, sendo um membro do lado, pode ser concebido como
DAS DUAS CRIANÇAS'
,.. .
. representando o ego, tomado apenas como parte da psique, a qual o
A comparação entre as<'brincadeiras.dessas duas crianças revela muitos contém e a muitas outras figuras de igualou maior poder, dispostas em
pontos de similaridade. Em ambas há o mesmo problema no uso de re- opostos. Cada lado objetiva vencer e geralmente, mas nem sempre, se
gras e regulamentos, a"-mesma)endência a punir e rejeitar o que é mau. chega a um resultado definitivo. É característico das crianças identificar-
se .com um "nosso Iado, " que representa o lado melhor e, portanto, ex-
Em ambas a brincadeira é usqda para elaborar e dominar ansiedades que
não poderiam s~r administradas no cotidiano. E, em ambos os casos, a tenormente representa as pessoas "boas" e internamente, os objetos
bons ou superiores.
fonte da ansiedaae são pulsões agressivas e libidinais não integradas e as
fantasias a elas associadas. São essas funções do brincar, como um todo, Essas características tornam os jogos organizados um campo parti-
cularmente
. adequ ado ' - de estados emocionais
a expressao .. 'ISSO, o
e, por
que o tornam terapêutico, principalmente quando há tolerância por par-
entusiasmo
" pel - - .
os Jogos e mUltas vezes mais comum que o entusiasmo
te dos adultos. } 1
As diferenças podem ser resumidas'da seguinte maneira: Joan de-
pe
co o trabalho"
_. .P ' os Jogos
orem . podem ser jogados de várias maneiras,
monstrava maior deliberação e capacidade de entender o que fazia; ha- m esptntos distintos, e o espírito do jogo está ligado ao da comunida-
de em que ele é - do. Seja
. como for, em todos eles as idéias de um
via menos re - r se ela vida uram en - pratica
40 . A Criança como Indivíduo •
... ...... .... ...... . ...... .... ...... , ................... .......... " ............ , .... ., ............... .

jogo justo, da capacidade de aceitar uma derrota e de valor'


-
d errotad o estao lzar o lad
profundamente arraigadas em nossa sociedad o
d
Se há uma coisa que contribui para a saúde mental é a pee'
- ,
e ~ue fazemos parte de um todo, nao apenas pSlquica como também
socialmente, e de que sempre há, ao mesmo tempo um lad
rcePÇão 3 Sonhos
.. f .
b ora seIa . , o que, em-
ln enor, precisa ter o seu lugar. A maior parte do trab Ih
r' .
lOCO onenta-se no sentido de conseguir trazer o lado inferior ou s b
a o ana-
<isto é, o "deles"~ à consciência e as dificuldades disso decorrem ~~ :~ A amplificação é, sem dúvida, o mais sofisticado, método que Jungdesen~
to de ele haver Sido expulso da consciência por causa do desenvol' a ara elucidar o significado dos sonhos. Ja que eles podem revela~
. Vlmen- vO Iveu P , . h' ,.
to ~xcesslvo de um lado da personalidade. Nos jogos, isso equivaleria a , gens míticas e em alguns casos, têm caractensocas de uma Istona, a
subJugar o ou.tro lado mediante métodos injustos, trapaças e faltas Con- Ima, C ' f' 'I
amplificação pode ser e tem ~i~o aplic~da aos s,:>nhos. . o~ el~,: a~1
t'! um ou maiS de seus membros. Assim, os jogos fornecem uma ilustra- mostrar que as formas arquetlplcas estao em açao na pnmelra mfancla:
çao do modo. como a vida coletiva afeta processos psiCOlógicos profun- As figuras parentais são freqüentes, a sombra, o animus, a anima e as re-
d~ment~ arra~gados e representa-os na consciência, atenuando assim as presentações do self (Cf. p. 84 abaixo) podem ser encontradas bem an-
atitudes Irreahstas.· ..
tes do início da adolescência.
O estabelecimento de analogias entre um sonho infantil e comple-
xas formas mitológicas foi um grande feito, numa época em que se co-
meçava a compreender que o comportamento e o brincar das crianças
pequenas indicavam a influência de fantasias inconscientes muito primi-
tivas nos primeiros meses de vida. Ele promoveu maior segurança na apli-
cação da teoria dos arquétipos ao estudo não apenas da infância, mas
também da primeira infância.
Jung, contudo, com ousadia característica, levou sua teoria dos ar-
quétipos e do inconsciente coletivo a conclusões que, como já sugeri an-
teriormente, poucos podem segui-lo.
Os sonhos infantis causavam-lhe claramente forte impressão: "Mui-
tos deles são sonhos de caráter 'infantil', muito simples e imediatamente
compreensíveis, ao passo que outros contêm possibilidades de sentido,
quase a ponto de nos provocar vertigem, e coisas que só revelam seu sig-
nificado profundo à luz de paralelos primitivos CJ. A infância (,J é o tem-
po em que surgem, CJ diante da alma da criança, aqúeles sonhos e ima-
gens de ampla visão, a condicionar-lhe o destino, concomitantemente
Com aquelas intuições retrospectivas que se estendem, para além da esfe-
r~ da experiência, até à própria vida de nossos ancestrais" (OC VIII/I, pa-
rag.98).
Embora Jung tenha modificado seu posicionamento em publicações
posteriores, esse trecho sugere que os sonhos arquetípicos da infância res-
42 • A Criança como Indivíduo •
...... , ............... , ................ , ......................... , .................................... , ....... " .. " , ............. , .......... " .... , ...... ,.
. elucidar essas formulações, no intuito de
paldam a idéia da existência de uma herança cultural que, não sendo !:'las páginas seguinteS, tent~~e\nicialmente estudarei o que se. co~he~~
transmitida pelos pais ou professores, é acessível a priori a uma criança. , contrar-Ihes uma respos _ . de seu desenvolvimento na pnmelra 10
Ele prossegue dizendo que a carga hereditária da criança é "altamente di- ~.,.. dos sonhos dos bebes e. nho impressionante, dotado de ca-
aGefca . t rpretarel um so , . d ,. de
ferenciada" e "t..J é constituída pelos sedimentos mnêmicos de todas as i,!6cia; em seg~í~a, 10 e . finalmente, utilizarei a teCOlca a s~n~ ~
experiências legadas pelos ancestrais" <ibid., parág. 99). i';Terísticas mltlcas pate~tes, _ ssível aduzir outras prova;; que tan
ra~c, , ara venficar se e po
Esses e outros trechos semelhantes tiveram grande influência e ten- ~0oP0S de lung p ão sobre a questão. , ' .
deram a ,desviar a atenção da análise dos sonhos em termos da própria rtrJ 'maior compreens
celift
q'!~'
criança.' E aqui que o emprego da amplificação pode levar e levou a es-
·ju1 ·· ~
peculações adilltomórficas, expressão q'ue significa a atribuição errónea
de características adultas às crianças. Em decorrência disso, o meio para ,,1' NHOS NA PRIMEIRA INfANCIA . _
a compreensão das crianças é bloqueado. A tendência a aferrar-se a fan-
S9 , .
_,
SSOS oOlncos começam
muito cedo. Sabe-se, mclu
. .
Sem dUVida, os proce , REM) no cérebro já na Vida mtra-ute-
tasias e sonhos interessantes para relacioná-Ios.a formas sociais e míticas
sive, que se podem ~egistra~ ntmos relacionados com o sonhar, deve-se
pode ser irresistível, mas leva a esquecer que as imagens são desenvolvi- te
fina. Como eles estao estre:ta.m~n processo onírico em ati vida de, embo-
das pela criança. Neste livro já foi proposta a idéia de que a criança nào
SUpOf que haja alguma especte e nho A observação de be-
herda de nascença uma cultura revelável em sonhos, como implica a for- 'fi 'I . .mar como possa ser esse so .
ra seja di tel Imag _ b - que podem muito bem ser
mulação de Jung. Após a rejeição da posição extrema adotada pelo mes- bês dormindo indica tambem pertur açoes
tre que ele próprio rechaçou posteriormente -, ainda nos resta eluci-
causadas por sonhos, - , d m bebê' .
dar toda a questão. Sem dúvida, há um elemento cultural cujos sinais Abaixo, um exemplo ~a atividade oOlnc:ro~ou nove 'meses vinha
podem ser observados no comportamento, nas. idéias, nas fantasias e nos de
Por algum tempo, ven.ficou-se .~ue um gue era encontrado sempre
sonhos infantis. A controvérsia gira em tomo do modo como explicar es-
despertando du:ante a nOite, ocaSlao e:ã~ habilmente descobriu que,
sa situação. Há três maneiras de abordar o assunto:
agarrando-se agitadamente ao berço. A _ d' ção para a qual
se retirasse a lateral do berço e levantasse o bebe na lre b ixo do ber-
t. Pode-se sustentar que toda a herança cultural seja transmitida d
ele olhava o menino acabava sempre indo esconder-s: e a I 'um
nos genes. Não há nada~m favor dessa proposição. Apenas os , d . EI ncluiu entao que e e via
ço Depois disso ele voltava a ormlr, a co . . .
arquétipos são herdado's e,' mesmo assim, isso não foi provado, . ,'. d' - ue as attvldades eram a
objeto em movimento IOdo em sua lreçao e q . ..., 1
embora esse tenha si90 o último posicionamento de Jung e aque-
le de,que eu também compartilho. continuação de um sonho. ,. . dentre ou;
. '., " . Na época a criança havia começado a comer solldos e, .' "
, 'I' uni som que emltl-
2:.' A herança cultUral é transmitida pefos pais e professores, que tros alimentos comera peixe. Ao peixe e e associara
, . , . M' menos nesse mesmo
progressivamente' induzem a criança a adotar os valores tradicio- ra durante a agitação manifestada a nOIte. ais ou \' .
" . nais da sociedade ém que ela vive. período, acordou chorando durante um passeio aoiardirri,e, entr_e ~g;i
( < );~ , j ., , •
mas, emitiu o mesmo som. A partir desse e de outros sinaiS, a
. . h d
n:
ae
I como haver Sido mor-
10 e",
3. A própria criança desenvolve padrões de comportamento, pen- nu que ele provavelmente haVia son a o com a go
. samento e.fantasia'como parte do amadurecimento. Ela utiliza dido por um peixe. '
inicialmente processos primitivos de pensamento que se vão tor-
nando cada vez mais refinados para descobrir o que é válido: . 'mento ocular rápido,
3. REM, acrônimo do inglês Rapid Eye Movement, ou sela, mOVI
adaptando-os então às exigências da sociedade à medida que VéU usado para designar a etapa do sono em que ocorrem sonhos, <NT.l
descobrindo sua estrutura. i \ i
• .)onov,) - .......

"." .................................. , .......... "


, ós os 2 anoS, surgem outros
SONHOS NA SEGUNDA INFÂNCIA, , a pequena são r~ahs~as, A!or Só por volta dos 3 ou 4
-(lt€fium a cna~~s ataques a um Irmao ~, Em' torno dos 5 anos, surgem
Registram-se raras obserVações' e, ao que eu saiba, não há estudos siste- temas, com, dos fantasmas e bruxa, de tamanho e poder so~
máticos dos sonhos dessa fase da vida, Nos últimos anos foram coleta- '\"lOS são registra .. ente são destrutIVas, 9 16J) Fogo e·
a "frequentem , " (Despert 194 ,p, '
dos muitos dados e, com efeito, já que uma criança pequena pode brin- pessoa~~~~s e, às vezes, sobrenatu~:lmente interessante é o fato - ao
car, o conteúdo de seus sonhos pode ser deduzido correlaCionando-se ~fe-hu_ lementos comuns, e ,espe _ de ue, com apenas uma e~­
perturbações do sono com o comportamen~o; conforme ilustra o exem, agu~ ::~:os referência postenorm:;:iS hOS~S, agressivos ou destrutl-
pio abaixo, Uma garotinha de apenas 3 anos estava sofrendo de terro- ~ua_ o os pais não aparecem em dPe idade está desenvolvida uma ga-
res noturnos, Nas sessões que tivemos, a princípio ela manifestou mui- Geça, , olta dos 5 anos '
vos ASSim, por v ,
ta ansiedade ao separar-se di'! mãe e deu início a uma série de jogos cujo ma'bastante ampla de temas. ue o padrão conhecido posteriormente
tema central consistia em morder váriosobjetos, À medida que os jogos Essas conclusões sugerem q 'mal surge bem cedo - como,
se tornaram mais violentos, os terrores noturnos diminuíram e finalmen- ~ devoradora am ,
'ltologia como a mae , ça-o de fantasias Violentas que
te cessaram, na m ' 'na-se
l na prole -
aliás, seria de espera,r - ~ ong 'ências de amamentação e a frustraçao
Note-se que o morder aparecia nos sonhos tanto da garotinha quan- m as pnmelras expen
acompa nha
to do bebê anteriormente mencionado, que estava no processo de des- das pulsões orais,
mame, Tendo em mente o importante lugar que têm as fantasias muito
primitivas que ocorrem ao mesmo tempo que o morder o seio na pri'
meira infância, o bebê e a criança pequena provavelmente estavam no HOS A PARTIR DOS 5 ANOS ,
processo de representar seus ataques orais ao seio ou derivados, Cada SON " de em obter informações das cnanças
um, a seu modo, eles estavam apavorados com um perigo sentido como Aparentemente, não ha dlficulda , de um certo momento, isso
h mas a partir I
real e físico;poisobjeto e fantasia ainda não eram distinguidos, pequenas sobre seus son os" , des sofisticadas, que gera-
'f' '\ D senvolvem-se atltu
A observação de que os primeiros sonhos infantis estão muitas ve- pode tomar-se di ICI ' e f 'I't obstruir ou distorcer a
, ue podem aCI I ar,
zes associ~dos ao morder foi corroborada e generalizada pelo estudo de mente refletem as dos paiS, q
, -
I'
' nças falam Ivreme
nte sobre seus sonhos, ou-
crianças em idade pré-escolar, Despert, por exemplo, coletou 190 sonhos comumcaçao, Algumas cna , da os suprimem no todo ou
tras "nunca" sonham, ao passo que ou~ras aIO E assim a forma como
de 39 crianças entre 2 e 5 anos de idade, Para isso, providenciou bone- , e os IOventam" '
em parte e, finalmente, h a as qu nteúdo'
cas e camas infantis, além de um divã e.um travesseiro de dimensões nor- , - ' rtante quanto o seu co ' ,
eles são coletados e tao Impo
mais, Como em geral a fala ainda não era desenvolvida o suficiente, a
criança podia responder a perguntas 0\.1 comunicar espontaneamente os
Séries de sonhos ota Jane foram co-
sonhos por meio de ação dramática usando os brinquedos, Duas séries de sonhos de um garoto, John, e un: a gar , lo fato de ha-
Usando essa técnica, Despert chegou às seguintes conclusões: os - I' h rticular mteresse pe
letadas por sua mae, que ne es tIO a pa ,A' 1'1' a Esclarecido isso,
primeiros sonhos de :crianças de 2 anos estão associados a três declara- ver tido contato ela própria com a expenencla ana I IC " g'lu um diá-
ções - "Me persegue LY, "Me morde c,,)" e "Me come t..Y' - mas não hos e aSSim, sur
as duas crianças começaram a contar seus s o n , d anhã
há menção a "como" isso ocorre nem,a "quem" atua, Entre os 3 e oS 5 . . d f íl Geralmente e m ,
logo que se tornou parte do dla-a-dla a aml la. 'd" e re-
anos, o agente torna-se específico: é sempre um animal e, além disso, , 'd e trocavam I elas
elas contavam à mãe os sonhos que haVIam ti o A e mante-
um animal real - um c?chorro, um urso, um tigre etc, -, proveniente - ' a de tres anos
flexoes a respeito. Essa troca prosseguIu por cerc trazer es-
do ambiente doméstico imediato ou mencionado ou visto em fotogra- ,, mãe costumava
ve-se graças ao meu interesse por ela, la que a
fias, Essas observações sugerem que as imagens primárias dos sonhos
---
- - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - -
46 . A Criança como Indivíduo •

. deva dizer era valiosa quando eu a :,s-


ses sonhos para discutir comigo, em base amigável. Um dos fatores Par si é valiosa - ou talvez:~s dessa maneira facilita a com~r~ensao
a coleta dessa série excepcionalmente longa (mais· de duzentos sonhos~ , "
Estudar os son
. tes mas nao alu
_ . da a penetrar nos maIs mcons-
.
. I
I
foi o pedido de ajuda por parte dessa mãe devido à depressão que soo líI'@sprocessos pré-consClen co~tudo suas desvantagens, uma das quaIs se .
freu após a, morte do marido, quando o caçula ainda era um bebê. Que I~~~tes. ·Esse método tem, ou ~íssimas exceções, observo~-se que a
o estudo dos sonhos tenha levado à an~liseda mãe talvez não seja tão ~~~e:-considerar agora. CO: ~I ~SitivO, mesmo quando a reahdade con-
surpreendente, mas não tenho razões p~ra p~nsar que isso tenha influen. !Wíã.:8 l.aparece apenas n~~~s ~ue são maltratadoS pelos p~is. - de. acord~
ciado sua especial relação com as crianças no decorrer do sonhar em si. ~ra'l!Ii:z! isso. Mesmc: os , d adultos mas também das propnas cnanças
Tampouco creio que sua psicopatologia tenha influído significativamen. 60r:n os padrõ:, nao so os nhos b~ns. As imagens da mãe má sã~ q~~se
te no relato deles nem no conte~do do que as crianças contaram. Todos t@rn Com as maes apenas so f ntasmas animais e afins. Os mdlclOS
.' . "fi d s como bruxas, a , 'd
os sonhos são do tipo que se esperaria e não há elaboração óbvia pela ssmpre mltl Ica a . s são muito interessantes nesse sentI o.
fantasia. '. :aportados pelas duas cnança d "e relatada por John mostra que a
d s 95 sonhos a sen .' d
A existência de~sa série sugere muito qlje () fato de as crianças rela· 'C/'
_
O exame o
renta vezes.
EI 'solícita consoladora, Ideahzada, e u-
a e ,
tarem ou não seus sonhos depende em grande parte da atitude das peso -I1'llae aparec~ qua iva Quando está ausente, conhece-se seu pa-
cadora, mediadora ou pa~s . . , I mentada Nunca é demasiado frustra-
I soas que as cercam. Ela contradiz a idéia de que as crianças não falam so°
bre seus sonhos nem os relatam por alguma reticência inerente ao radeiro; às veze~ s~a a~s.encl~~s aperigos q'uanto os filhos. Houve uma
I desenvolvimento infantil. Afirma-se que os sonhos se tornam parte do
mundo interior secreto da criança, no qual os pais não podem entrar. O
dora; às vezes ~ tao vltl:: sonho ela se matou. O mesmo se aplica
€,xG€ção que fOI quando,.
m
de sexo não afeta o resultado.
à série de Jane, po~nto a dlfere~çab
I fato de as crianças em idade escolar gostarem de contar ou escrever seus
sonhos quando têm essa opção' most~a o equívoco dessa idéia. Outra
. Agora, essa mae era uma mae oa o
bastante a despeito da depres-
' . do ela concen-
são e da necessidade de substituir a lembrança do ~a~ ~Iícita e rara-
possibilidade é transformá-los em tema de redação. :IlFfiç'ãodo investimento Iibidinal nos filhos. Ela era cnatlva, 5 iva com
.1iIil6f.1 Ee, se muito, perdia o controle ou era violentam~nte a_grehss, nenhu-
Alinhadas à idéia de que o fato de as crianças contarem sonhos ou
1

não depende do interesse real ou imaginado dos adultos de seu ambien- . filhos. Mas ela os puma
;os: . ou frustrava qu ando precIso'' nao a h
te imediato, estão os comentários sobre a série de sonhos que estudare- . - h t rnado tema de son os.
ma sugestão de que essas sltuaçoes se ten am o ,. f'
mos em seguida neste capítulo, Eles foram feitos por um garoto que fez . - de um comentano el-
Um indício que confirma essa sltuaçao vem ." .
algumas entrevistas terapêuticas comigo, Naquele momento eu estava par- to por John. Certa vez, ao contar parte de um son, ho ele disse'. Tive oU .
e

ticularmente interessado nos sonhos e, por isso, o estimulei muito a con- tro em que Mamãe tinha. papel de ma, , mas eu nao - lembro desse sonho,
tá-los, fazendo-lhe perguntas a respeito na primeira sessão e sugerindo, nas _ . h I No meu sonho ela 50
porque nao vou deixar que ela ten a esse pape. '
seguintes, que me contasse um sonho sempre que não soubesse o que di- . - j h
faz papel de boa". A Irrna concordou. o n tIO a ano . h 7 s e sete meses ea
zer ou fazer, Ele gostava dos sonhos e eu explorei esse prazer. Em contra- irmã, 11 anos e quatro meses de idade. . .
partida, desde que eu passei a aplicar técnicas analíticas à terapia infantil O fenômeno, inicialmente observado por Despert, que o denom:-
e deixei de pressionar as crianças a contá-los, os sonhos aparecem menoS. nou "segregação", é geral e deve-se à supressão deliberada ou ~sque~l-
Quando são relatados, são comunicados como parte de uma situaçãO to- mento. Ele pode ser associado a uma caractenstlca , . comu m da mfâncla _ .
tal e, assim, associados ao brincar, à fantasia e a outras comunicações ver- A necessidade de manter a visão dos pais - e, principalmente, da mae -
bais. Esse procedimento facilita a análise do sonho com a criança, mas, por como bons é claramente observada no fato de as crianças se recusarem
outro lado, faz com que muitos sonhos deixem de ser contados. . a - ou não conseguirem _ tolerar as críticas feitas aoS pais por outr~s pes-
É útil coletar sonhos por meio de um método que explore os sentt- soas. Isso pode ser observado ainda mais durante a ana'1'Ise .10 f an t II. Para
mentos da criança em relação ao terapeuta porque a compreensão do 50'
48 • A Criança como Indivíduo·

que uma criança reconheça e assimile a sensação de que algum dos Pai
é, em qualquer sentido, mau, é preciso que ela saiba que o analista reco~ ou dOIS, shos
aisolados
n , ecos do passado, que , jamais chegaram
' .' de perfel'ça-o ' Por, conseguinte,
.mvel . o grupo 50 pode repre~entar
. _
nhece que ele é predominantemente bom,
'~;;:ÍlI,lm'jlna(;aO de mudanças cfltlcas que estavam ocorrendo no mundo ln,
Essa situação provavelmente decorre da dependência que a crianÇa
tem dos pais e da necessidade original de que a mãe seja boa o bastan. t€:ri'Orde Jane. . _
':~ ~:, Teçamos primeiro alguma: co~s~de,raçoes sobre o sonho co~~ u~
te. Na infância isso queria dizer que a mãe era boa e não má e, se na rea. Wí. S strutura e seu padrao dtnamlco representam uma sequencla
Iidade ela não fosse boa o bastante, teria de ser "alucinada" como boa. É .tado,
:~. .. ua '1
, e-de'lntegrativo-reintegratlva 0 1 - 102 e Capltu
(Cf. ' Io 6 a bal-'
esse estado anterior de coisas que persiste nesses fatos irracionais do COm- I,mtegr.atlvo . pp, _.
-.-). A un I'a-o mãe-bebê começa e termtna
X0. , nele; .
o dragao detntegra-se
' . em
portamento e do sonhar infantis.
.ímúmeras figuras: a ilha triangular com arvores, cflanças negras e uma aml-
Antes de partir para a consideração da seleção de sonhos com ma. .;a ..,O bebê inicialmente é muito idealizado; depois ele se toma "meu be-
nifestação de temas arquetípicos, é necessário declarar que eles não são t;,ê'~ e assim, representa um acesso ao sentimento pessoal, que parece ter
t." .
comuns. Da série de duzentos, Jane relatou 91, a maioria sobre questões I . , .

sido conquistado das Imagens ImpessoaIs.


pessoais na escola e no lar. Entre eles está um grupo de cinco "grandes (',;. Em seguida, a maioria das imagens, independentemente da feição
sonhos", os quais serão agora estudados. ~e, aonto que tem o sonho, é comum em mitos e contos de fadas: o dra-
gão"rios, árvores, ilhas mágicas, a estrela, ouro e prata. Acrescente-se o
Um sonho "mitológico" tema do deixar cair ou imergir em geral no mundo subterrâneo, O evi-
Aos 9 anos e um mês de idade, Jane passou por dificuldades em seus re- dente desejo de Jane de ser mãe e ter um bebê é idealizado por meio de
lacionamentos pessoais na escola. Não havia nada de muito tangível, ela seus atributos (ouro e prata),
não criou inimizades nem.se dava mal com os.professores, mas era algo Jane teve nessa época outros sonhos que podem ser usados para
evidente; uma espécie de ausência de alguma coisa que se esperaria dela. a:mplificar o seu "grande" sonho e mostrar que .ouro e prata eram impor-
Havia uma forte sugestão de que essa situação interior fosse proveniente tantes para ela em diversos contextos, Um deles ocorreu quando Jane ti-
da trágica morte do pai, que a deixou muito perturbada. Mais ou menos nha 9 anos e dois meses de idade, ,
na mesma época em que ela contou o sonho, a professora notou uma "Havia um leão que era chamado de leão dourado porque ele tif!ha
"melhoria geral" em seu rendimento e seus relacionamentos pessoais. p~tas douradas, mas o corpo era prateado, Havia dois príncipes, um. da
"Eu tinha um bebê dourado com uma estrela de prata na testa. Um mmha sala [de aula] e outro de outro lugar. Os dois queriam é\quele leão
dia eu estava na beira. de um rio e aí aconteceu uma coisa horrível. Meu d~urado, Eu empurrei o príncipe para fora da sala dizendo: 'Vá pegar.o
bebê caiu no rio; Então eu perguntei ao dragão onde estava minha filha, leao dourado' e ele foi e pegou mesmo. Ele trouxe o leão para a minha
e ele respondeu: 'Eu véu ficar com ela'. Aí eu fiquei numa ilha em for- sala e colocou na frente do quadro-negro. Eu fiquei olhando, maravilh~­
ma de triângulo, cheia de árvores em volta, com uma amiga. Então eh_e- ~a. Ao mes.mo tempo, eu era o leão dourado. Dei a ele quin:ze centavos
garam umas crianças negras e se deram as mãos, cercando a ilha. E~tao durante dOIS dia: e então eu disse: 'Ah, que pena que agora eu s,ó tenha
eu disse à minha amiga: 'Vamos dar um jeito de passar por essas cnan: ez centavos. Nao vai dar' e aí eu acordei.". "
ças'. Nós conseguimos passar, Então eu fui até o rio, Mergulhei e peguei Logo depois (quando tinha 9 anos e três meses de idade) ela vol-
o meu bebê." . tou a"sonhar com ouro e prata. . ". ..
. Esse sonho é único dentro da série. Ele possui uma beleza e uma SI'
Com CMa.mãe estava em casa e John e eu estávamos brinca~do na ru~
metria não encontradas em .nenhum outro. Apesar de Jane haver relata- hnstoph [filh . .
do cé er Iode uma vizinha], Aí Deus mandou papai descer
do outros sonhos de características míticas nessa mesma época, eles aea- Chuco~ carregado de Ouro e prat~. Ele caiu no jardim, mas não se ma-
, . Nos anos segumtes,
bavam descambando em fatos do dla-a-dla, 'Ia e teve porque estava Com os espíritos bons. Então mamãe gritou: 'J~ne!
50 • A Criança como Indivíduo •
........................, ...................... , ... " .... , .... .
a estrela é o oposto do corpo, própria do céu
John! Ven~am rápido ver o ~ue caiu no jardim'. Aí num minutinho a ."',
" _, ao passo que .
, da terra mas ISSO ' de Jane, apesar d e
noS deSVIa
te estava la, abraçando e beIjando papai. Então a gente entrou e gen- , quanto o ouro 'erso
eda' linguagem em que ela fOI' cna
'da. O'Imen-
comeu," ," m casa e 'mar-nos do untV . ,' h-
lap~oxI d - em seu próprio mundo interior e slmboltco a , aVia
, Além de most~ar que ouro e prata são importantes, esses sonh ~..
,50'1 nteresse da maeexaustivamente o assunto e a colocar seu con heClmen-
'
gerem o desenvolvImento da preocupação pelo pai e uma co 'd os, su- vado a estu
Ie.. ar . ' I
. _ dos filhos por meio de contos de fadas, pnnclpa mente
'd d d .. nSI eravel
capacl a e e atlvldade feminina decisiva, dando a entender to. a dlspoSlçao . com gran d e voraCI'd a-
I d s dos irmãos Grimm - que Jane !ta
. 'd d ' que, no to-
do, sua' agresslvl
d ' bem tntegrada e sua identidade ~e mmma
a e estava . , es; os Contos e en a
de - e a Bíblia. . ., .'
ta be IeCI a e reforçada por Identificações positivas. ' , Como judia, a Estrela de DaVId Ih~ era famlltar e, po.r melO da leI tu-
. O fato de deixar cair. o bebê no primeiro sonho provavelmente se ~a da Bíblia, conhecia a história do mIlagroso Jesus-memno, Entretanto,
refere
' d ao trauma
' em sua VIda - com efeito' quando Jane tinha 3 anos de _ criança dourada é referência incomum nos contos de fadas. Talvez
I ade, o paI morreu de um ataque cardíaco enquanto fazia um pass . uma " "Th G Id Ch'l
~-
co~ ~la enqua~to
e a mãe ainda estava no hospital, após o parto de Jo~~ 'ela tivesse lido algum, mas eu so consegui lembrar de e o en
dren" I"As crianças douradas" depois que folheei os Contos e lendas dos Ir-
O ~Itlm,~ sonho I~troduz a :norte (papai está no céu e é acompanhado mãos Grimm. Outras referências mais remotas estão no Hiranyagarbha da
de espIO tos ~o~s ) e tambem o seu desejo de tê-Io no seio da famllia. filosofia oriental, traduzido por Muller como "Golden Child" /"Criança
E:sas caractenstlcas sug~re~ a culminação de seu luto por ele e o pesar dourada" e por Hume e Zimmer como "Golden Germ" I"Germe doura-
na,:> apenas ~el~ sua propna perda, mas também pela perda sofrida pela do", Outras analogias não acessíveis a Jane ocorrem-me do estudo de "A
mae e pelo Irmao. Sob essa luz, o primeiro sonho representa uma parte psicologia do arquétipo da criança" (Jung OC lx/I), no qualjung registra
do luto q~e naquele instante estava sendo elaborado, O dragão então re- os mitos dos homenzinhos de metal, observando que a criança é repre-
?
pres.enta~a compo~ente negativo, possessivo, voraz - e também o pai sentada como "esfera de ouro". Todo esse grupo de imagens refere-se ao
e a tnfluencla regressIva em seu pesar, que a vinha ocupando e que pa- self e ajuda a entender a criança dourada como uma representação narci-
recera, de fora, 'um defeito em sua personalidade. sista do self Outras analogias podem ser buscadas na alquimia, que asso-
Seguindo : idé~a de ~ue a ilha, as árvores e as crianças são deinte- ciava o ouro ao leão, ao sol e às fezes, expressando assim bem diretamen-
grados do dragao, a Ilha tnangular e as árvores seriam partes do pai apa- te o sentimento infantil de que as fezes são parte preciosa do self e a ,
recendo sob uma luz mais positiva, ao passo que as "crianças negras" são equação fezes-bebé-nascimento (deixar cair), que Jane e o irmão haviam
o quanto de obscuros sentimentos infantis (anteriormente fundidos com elaborado juntos explicitamente num momento anterior de sua vida.
o pai e agora dele separados) que existem nocaminho do domínio e da
ela~oração de seu pesar negativo, autodestrutivo, regressivo e voraz. A As representações do self
amIga, de modo geral, mostra a boa integração da sombra por parte de I~ se insinuou que a criança dourada é uma representação do self - um
Jane e ~~ov~v.elmente, representa sua relação com a realidade, já que o sim bolo do self no verdadeiro sentido da união de opostos. Isso ,não nos
ego,ontnco e tntrovertldo. No segundo sonho; sua relação com a realida- deve levar a esquecer que todo o sonho é em si uma representação do
de e_ mostrada pela forma como ela passa da identificação narcisista com self ,Isso se tomará mais claro se aplicarmos o método integrativo-deinte-
o leao ao reconhecimento realista: "Ah, que pena que agora eu só tenha g.:~tlvo. Muitos anos antes, Jung havia construído o modelo de um sonho
dez centavos. Não vai dar". ' tIplCO,
Todavia, resta considerar o bebé dourado, cuja abordagem medi- EI: o dividiu em: situação, exposi~o, desenvolvimento (peripécias)
ante amplificação intelectual de outras fontes é tentadora, . e soluçao
. . A d'IVlsao
. - do sonho de Jane conforme o modelo resulta no se-
Para a mente sofisticada, acostumada a lidar com esses temas, não gUtnte:
haverá dificuldade em perceber que o bebê contém opostos - o ouro e
lN
S2 . A Criança como Indivíduo'

. h gou a dizer em certa ocasião: "Eu sou um pouqui-


I. A situação: "Eu ti~ha um bebê dourado com uma estrela de
resp elto e c e . h uma bonequinha e mUito . uma mamae - ".
ta,na testa. Um dia eu'estava na margem de um rio ... " pra· b" m pOuqum o
um be .e, u aos 9 anos ela estaria em condiçõ~s de compreender a,
2. A exposição: "...e'a(aconteceu umac~isa horrivel. Meu beb~ . · nterior e sua capaCidade de' representar
, de seu mun do I .. . ,
.oo~. .' e~ , ' , . 't' os de seu pesar, aqUi rdeahzado e,em boa parte"
,~s,~pro
el;' - cessos pnml h IV se necessidade de análise - e nao
- f' J .
01 o caso -, ao
,"
, ela ora·b do Se ouves
. . '
q e poderia haver entendido o sonho e seu slg-
. 3., ~ ~~pécias: para maior conveniência, esta parte pode ser sub-
tipo de cnança u . '
m:. era ~ A despeito de sua beleza e das várias analogias q~e po~enam
l'
dividida em duas: (a) "Então eu perguntei ao dragão ond
. h fi e esta-
va ~~n a II~a e ele ,respondeu: '):u vou ficar com ela'. (b) Aí eu mficad. . . I das do que eu o fiz, esse sonho esta relaCIonado
.~lr mUIto mais exp ora ' . ,
,fiql;l~1 numa Ilha em forma de triângulo, cheia de árvores em v 1. s~ d I afetos são expressos em imagens aceSSl velS a sua com-
. Entao- chegaram umas crianças negras e ose ã 'vida e a, e seus
"ta',com um~ amiga. F;.; -
~eram,qs l1/aos,.c~rcan~o a ilha. Então eu disse a minha amiga:
preensao.
, Vamos dar um Jeito de passar por essas crianças' - tinha um es-
paço entre algumas delas., Nós cpnseguimos passar".
oTRANS1TUS DE MÃE A PAI
4. A solução: "Então eu fui até o rio. Mergulhei e peguei o meu be- Os sonhos a seguir registrados, selecionados de uma longa sé~ie, mos-
bê". '" tram um avanço ocorrido num momento crítico da vid~ de ChflStoph~r.
Ele era um garoto muito vivo e sensível de 5 anos de Idade, em terapI.a
Essa seqüênda - que posteriormente será estudada em maiores detalhes por fazer pipi na cama, sofrer de "ataques gást:icos" e ~onst:anger os pa,ls
- pode ser abstraída da seguinte forma: com a expressão de comentários pouco elogiOSOs feitos dlretamente as
pessoas,
(a) Ela começa com um integrado: a "situação".
(b) Então há um desenvolvimento que implica a divisão (deintegra-
Sonho 1 '
ção) do integrado na '~exposição" e no "desenvolvimento". "'Papai sentiu um cheiro de queimado e foi lá dentro e tinha um fósforo
(c) 'Finalmente, um novo integrado é expresso na "solução" do so- queimando que ele tinha jogado lá. O foguinho dançava como as fadas .
. nho. ' :' ' .'. " Mamãe ficou muito preocupada porque a casa podia incendiar e você
perde tudo quando a casa pega fogo."
Todavia, a representação é incompleta, como devem ser todas as re-
O fato central nesse sonho é o fogo visto, por Christopher como
presentações do self Dentro do self estão o ego, a sombra, o pai (dragão)
uma fada. O fogo é comum enquanto objeto de projeção de fantasias de
e a mãe (na identificação da própria criança [o ego] com o arquétipo ma-
crianças pequenas; não percebendo suas propriedade? objeti v3,s, elas po-
terno). Além disso, o dragão também pode,'como a criança dourada, re-
dem até colocar o dedo nele, concebendo-o como alg9 cOJll que.çrincar.
pr:sentar opostos. Ele é não só o pai, mas também o aspecto sinistro da
Mesmo quando conhecem o perigo, elas continuam a brincar com ele e
mae que lhe rouba o bebê mágico, bem como sua própria possessi vida -
podem deixar-se excitar por seu calor e vitalidade, dançando ou gritan-
de infantil voraz. Nesse caso, "ele", representa uma condensação que, em
d,o quando ele sobe; Christopher o vê como dança, portanto, como algo
outras circunstâncias, é diferenciada em bruxas rainhas princesas e ou-
ntmico, O ritmo pode ser a base para uma ampla gama de mudanças
tras representações. . ' ' . ' ,
transformadoras (Cf. Jung OC V, parág, 204 e ss.>. " ' '
Em pós-escrito a essas reflexões, talvez seja interessante recordar
que, aos 4 anos de idade, Jane já pensava em termos muito claroS a seU - - - - - - - - - - -- - - - - -
- - - ---------
54 • A Criança como Indivíduo'

deu uma mancada e aí a outra bruxa


o mundo das fadas está relacionado à natureza no sentido de I ' eria pegar as ou tras
que qu
.
viverem . h os ou nos bosques, e representa uma COm eas.
na terra, nos nac , , boca" refere-se a um meio que Christopher usava
da de mágica altamente organizada de reis, rainhas,cortesãos etc. Exis~n,­ "Fazer agua n~ _ e era chupar as bochechas. No Sonho I, o
fadas boas e más, que usam de magia branca-e_ magia negra. É uma~: -i;,ara provocar a ~al.l~açad o, qu "ogo' desta vez é a saliva e seu uso suge-
. 'F' - ~ 'co IniCia or era o I' ,
gia menor; elas não são nem boas nem más em si mesmas; não como: " ·tV>.pjeto dl,:an:l, ue os bebês costumam salivar quando se coloca uma ~o-
são os grandes ç1euses e demónios. Delas diz um mito etiológico; r€ regressao, )a q b e em fase posterior cospem a sahva
,' tro objeto em sua oca , 'd .
Jber ou ou . _ _ "Fazer água" sugere também o ato e unnar.
É também crença amplamente difundida na Irlanda a de que as fa- para aliar afelçao a ~gr~ssao. h e antes do segundo Christopher viu o
, das sejam anjos caídos que, s~ndo menos culpáveis que os demais D ais do pnmelro son o " .
ep de Neve e os sete anões, que lhe causou ,consid.eravel Im~re~-
não foram mandados para o inferno e sim obrigados a viver na te:' filme Branca N ' a princesa virtuosa que e mantida em catlvel-
ra. Considera-se que elas se sintam muito preocupadas com sua - Branca de eve e um ' I
5ao. . d ecutar as mais aviltantes e servis tarefas pe a perversa
condição após o dia do juízo final. (Keightley 1982, p. 363) ro e obnga a a ex ' a bruxa Volta e meia a rainha consulta
. ha sua madrasta, que e u m · ..
A importância coletiva do fogo está ainda mais registrada no fa- ra: es' elho mágico, invocando um espírito ao qual p.ergunta_repetltlva-
lar comum; sua universalidade como símbolo revela-se na dissemina- u p "Q e' a mais bela de todas?" Ao fazer a Invocaçao, surgem
mente: uem ,. Ih N "
ção mundial de mitos relativos à sua origem e nos inúmeros outros em chamas no espelho, das quais sai o espmto para res~onder- e. a p~
que ele é característica central. Pode-se conceber o fogo como repre- me 'Ira vez, a rainha-bruxa ouve a resposta que" quer: e elad a que)a mul~:r ~al:
nao e
sentando a paixão que o garoto exprime no comportamento e na enu- b0 'ta do mundo mas na segunda vez o espmto respon e _
01, d' . t ta em vao
rese - há uma associação comum entre os sonhos com o fogo e a enu- ela e sim Branca de Neve. Ao ouvir isso, cega e inveJa, en .
, . er em companhia
rese noturna. O fató de o incêndio haver sido provocado pelo pai de matar a enteada que foge para o bosque e passa a VIV
Christopher é de interesse porque ele, como o filho, é vivaz, mas im- dos anões. Ao descobrir onde Branca de Neve estava, a rainha - recor~
previsível; assim o sonho sugere uma identificação entre o filho e o rendo à magia negra para transformar-se numa velha feia e acabada - sal
pai. A mãe de Christopher, ao contrário, demonstra ansiedade diante em busca da enteada e a induz a comer a maçã envenenada., Por causa
de uma possibilidade real. Como no sonho, na verdade é ela quem faz disso Branca de Neve cai num transe do qual finalmente é despertada
o instável par "manter os pés no chão", proporcionando assim uma ne- por ~m príncipe e, assim, a virtude é recompensada e o bem triunfa so'
cessáriacompensação. bre o mal.
Esse -sonho retrata as reações individ~áis da criança e dos pais ao O conflito entre o bem e o mal perpassa toda a história, na qual o
que se poderia chamar, no sentido figurado, de "a chama da vida". Que espírito da inveja propicia o ponto de partida para o drama subseqü~n,­
o conhecimento dos pàis verdadeiros possa ser facilmente utilizado para te. Christopher ficara impressionado com ele e a idéia da bruxa tem 101-
aprofundar a compreensão s~gere que Christopher chegou a um b~m cio aí.
nível de apreciação das partes essenciais de suas naturezas por meio pnn- A pintura da bruxa vermelha em chamas (Cf. Figura D feita. por
cipalmente da introjeção. - l- Christopher é impressionante, apesar de muito distante de llma. ramha
bonita: praticamente desprovida de tronco, ela é dotada de uma Imens~
Sonho 2 cabeça, na qual sobressaem os olhos e um chapéu fálico; Christopher fn-
"Tinha uma bruxa e ela me mandava fazer água na boca e Mamãe disse: sou particularmente o seu caráter "pontiagudo". A ausência de um cor-
'Não, agora não', As bruxas foram atrás de Mamãe, de mim e de um bO- po parece negar sua importância. Se a pintura for entendida como a fan-
cado de ge~te. N~s sentamos em cima do muro ~o jardim da casa. A; tasia da mãe fálica, o chapéu em forma de pênis sugere um deslocamento
bruxas cornam atras das bruxas - as [da frente] fugiram dando a volta.
58 • A Criança como Indivíduo •
... , ... , ....... , .... , .......... , ....... '"''', ........... ' ... , .... ,., ........ , ............ , ...... , ...................... ,., ..... .
,

, de que Deus se revelou em


, filosofos era , b r
o sonho prossegue: "As bruxas
'
corriam atrás das bruxas" Ap
- ' aren-
"A 'déía destes antigoS
: I
I
, - dos quatro e eme,
ntos Estas (siC> eram sim o 1-
"() bora o
temente, ond e antes estavam C hnstopher, a mae e outras pesSoas lugar na cnaçao ' I " E posteriormente: ,,- em
ra há brnxos, Sabemos que o medo pode produzir identificação c~~o­ pelas quatro partes d? ,~~rc,':n~ , provavelmente pré-históric~, :e~­
seu objeto, e isso parece estar sugerido pelo sonho, que poderia ser ~ seja um símbol~ ~~tlqulssl a divindade criadora do ~u~do <tbl. "
sim traduzido: "Você passa a ser como uma bruxa quando foge, só qu:~­ lacio nado com a IdeIa de u~ficaçãO não seja tão fantastlca q,uanto
do se distancia é que pode ver o que está acontecendo", IDO), Creio, que"
essa amp I.
porque logo an
tes Christopher havia OUVIdo fa-
O modo como a bruxa consegue fugir da outra é relevante: ela "dá parecer a pnnClplO: cu ado com ele,
a volta" - uma ação que na realidade a faria agir mais devagar e tomar- '. de DeuS e estava :r:u~to preo so~iado o círculo à magia e se Deus lhe
se mais fácil de capturar, Portanto, é provável que essa ação seja mágica, ~,. Se Christopher la tivesse as tra'n'o do que normalmente se en-
....,. , ' çador ao con , ' h
Dar a volta sugere um círculo mágico através do qual nada pode pene- ,~arecesse maglco_e amea " fazer sentido, pois ele teria feito SOZIO o
trar, tema que é amplificado no sonho seguinte, '"~'n' a a amplíficaçao começan~ ~
:SI , , ' cessanas ' '
':fi ser ,'gual a e assim, o mOlOho e ou-
aOs associações baslcasrt necer a slgm lCa ' , d
Sonho 3 I;~ Nos sonhos, pe en I'ti ça-o do significado generatIVO o
. I' "Um amp I ICa
"Eu estava numa casa, olhando para fora por debaixo da porta, linha um btio aspecto do "mo ,elro, S'lb r (1917 pp. 97-98), onde ele afirma:
'moleiro' que estava cruzando o rio para incendiar a casa, Ele tinha vin- símbolo ocorre no lIvro de lere ,
do do outro lado do rio, Mas tinha soldados, então não tinha problema, , ' ' moinho significa o órgão feminino
Acho que o 'moleiro' estava vindo porque a gente tinha tirado alguma Em linguagem slmbohca, o t' 'sta Petrônio usa molere mu-
'd de vem mullerl - o sa !fi ,
coisa do moinho dele." (J.kvÀÀo~, e on mulher) para referência a COItO, en-
O desenho feito por Christopher (V Figura II) é um moinho de qua- lierem (literalmente, ,moer a 'ÀÀ eu môo) com o mesmo
tro pás circundado por um rio, juntando assim uma cruz a um círculo: quanto Teócrito (Jdíl/O, IV, 48) usa (J.kV b~' era moleiro (J.kvÀw<;,
, () C mo Apolo Zeus tam em
uma estrutura semelhante à mandala, que Jung definiu como símbolo do sentIdo .. ', o , I' na profilssão mas ape-
'fi '\ te um mo elro '
se/f e associou freqüentemente a Deus, Ele diz, por exemplo (OC Xl, pa- Ly/wphron, 435) - d I ICI men ," riador e vivificante da
nas enquanto responsável pelo pnnClplO c
propagação das criaturas,
de um roubo cuja
No sonho o "moleiro" é ameaçador por causa . : dor é
, 'd'" d e Deus pode ser vmga
natureza é desconhecida, mas a! ela e qu , dia muito bem
familiar na história do jardim do Eden, que Chnst~Ph~r po o moleiro es"
ter ouvido, Uma pista adicional é dada na afirmaça~ e, que h o qual
1\ , , " " amplifica o pnmelro son o, n
ta vmdo "para mcendlar a casa, que . I -e porque
o fogo provocado pelo pai de Christopher era teml~o pe a ma _
'l , d '
"a casa podia incendiar", ASSim, os OIS son os
h amphficam-se um aO ou
, _
- ' ' 'ado como provemen
I
.\
tro, e deste se pode deduzir que o pengo e lmagl n
te da forma arquetí~ica do p a i . , Ida dos encarregados
O sonho termlOa com a garantia de que os 50
da defesa são suficientemente confiáveis,
Figura II - "O soldado, a casa da famnia e o 'moleiro'"
, d que Deus se revelou em
. s filosofos era e , b r
o sonho prossegue: "As bruxas
, corriam atrás das bruxas", Apa
h - ren·
"A .déia destes anttgo
, - dos quatro e em
I entos. Estas (sic) eram Sim o 1-
"( ) mbora o
temente, onde antes estavam c hnstop er, a mae e outras pessoas a : I
lugar na cnaçao ' I " E posteriormente: ... e
ra há bruxas. Sabemos que o medo pode produzir identificação c~~o. eIas quatro pa
rtes do Clrcu o ' , h' t' .co sem-
," íssimo provavelmente pre- IS on ,,' , .
seu objeto, e isso parece estar sugerido pelo sonho, que poderia ser a~ p , um símbolo antlqu " ' d de criadora do mundo Übld.,
sela 'd" de uma dlVln a , ' t
sim traduzido: "Você passa a ser como uma bruxa quando foge, só qua~. . nado com a I ela l'fi - o não seja tão fantastlca quan o
do se distancia é que pode ver o que está acontecendo". , essa amp 1 Icaça , 'do fa-
100). Creio que tes Christopher haVia OUVI
. 'pio porque logo an
O modo como a bruxa consegue fugir da outra é relevante: ela "dá parecer a pnncl ~ eocU ado com ele.
a volta" - uma ação que na realidade a faria agir mais devagar e tomar- de DeuS e estava ~U,ltO pr sso~iado o círculo à magia e se Deus lhe
se mais fácil de capturar. Portanto, é provável que essa ação seja mágica, . Se Christopher )a tivesse a " do que normalmente se en-
. r::ldor ao contrano .' h
Dar a volta sugere um círculo mágico através do qual nada pode pene- .. mágico e amea...... . ' f do pois ele teria feito SOZIO o
trar, tema que é amplificado no sonho seguinte. a amplificação começan~ ~ fazer sen I ,
~ básicas necessartas. . ho é ou-
. associaçoes i nifica ser igual a e, assim, o molO .
Sonho 3 "If\ Nos sonhos, pertencer a s g "fi ~ o do significado generativo do
"Eu estava numa casa, olhando para fora por debaixo da porta, Tinha um .. d" leiro" Um amp I !Caça fi '
. 1:.r.a aspecto o mo '. (1917 pp 97-98) onde ele a Irma,
'moleiro' que estava cruzando O rio para incendiar a casa. Ele tinha vin- <símbolo ocorre no livro de Sllberer " ,
do do outro lado do rio. Mas tinha soldados, então não tinha problema, , ' , moinho significa o órgão feminino
Achaque o 'moleiro' estava vindo porque a gente tinha tirado alguma Em linguagem slmbobca, ~ ) t' rista Petrônio usa motere mu-
'd de vem mufler o sa I .
coisa do moinho dele." (p.vAAoS': e on ulher) para referência a COItO, en-
O desenho feito por Christopher (Y. Figura lI) é um moinho de qua- lierem (hteralmente" moer a m ( , AA eu môo) com o mesmo
tro pás circundado por um rio, juntando assim uma cruz a um círculo: quanto Teócrito (IdíllO, IV, 48) usa J-tV b~' era moleiro (J-tvAevS',
'd () C o Apolo Zeus tam em
uma estrutura semelhante à mandala, que Jung definiu como símbolo do sentI o .... om . . ' moleiro na profissão, mas ape-
seIf e associou freqüentemente a Deus. Ele diz, por exemplo (OC XI, pa- Lykophron, 435) - dIfiCIlmente um. " criador e vivificante da
nas enquanto responsável pelo pnnclplO
propagação das criaturas,
a de um roubo cuja
No sonho, o "moleIro e a~e:.çador ~r;:~: ode ser vingador é
'. N '

natureza é desconhecida, mas a ~dela de qu, hP d' a muito bem


.. , " d . d'
f amlllar na hlstona o lar 1m do Eden que Chnstop er po I .
" - d o moleiro es".
ter ouvido, Uma pista adicional e dada na aflrmaça~ e, que h o qual
" , ' . " amplifica o pnmelro son o, n
ta vmdo ' para IOcendlar a casa, que . I - porque
o fogo provocado peio pai de Christopher era teml~o pe a mae _
. . h mphflcam-se um ao ou
"a casa podia incendiar". ASSim, os dOIS son os a , _
. ' , . ado como provemen
tro, e deste se pode deduzir que o pengo e Imagm
te da forma arquetí~ica do p a i . . Ida dos encarregados
O sonho termma com a garantIa de que os so
da defesa são suficientemente confiáveis,
Figura II - "O soldado, a casa da família e o 'moleiro'"
~ . iria para o hospital e os m&
Sonho 4 dito a ele que, s~ tOdc~sse ~I~~~~ia eludido seus interesses se:-
. f Alem ISSO,. erguntas. .
'Tinha uma bruxa e eu adorava ela. Então ela botou veneno num cO rtan am ora. d' a mim as respostas para suas P . . ncla '.
que pe Isse I m crescente dlsta -
e sacudiu ele assim e disse: 'Ponha seu pé nessa coisa de veneno ai'. E h s revela no gera u '" .
disse: 'Não, obrigado. Prefiro minha mãe'. Aí a bruxa disse: 'Se você nà
u ?
aquil a série de s<:.n mãe. Ao longo desses sonho~ ha cntlc.as
fizer isso, eu vou lhe dar uma maçã envenenada'." o da criança em relaçao a d s bruxas diminuindo assim a crença
. _ tem medo do fogo. e a , . ~
Christopher refletiu e me disse: "Eu não ia comer a maçã - essa se- ,a mae . ~ . . . .
ria uma boa saída,' não é?" Mas ele não lembrou disso no sonho. . em sua ontpote~Cla. Christopher a confiar mais em SI me,sm(),
Nessa mesma noite ele também sonhou: ,Á falibili?ade d~ mae le: enfrenta sua sombra -, a bruxa . e ~~~
ãe
"Eu olhava pela janela e via um quarto e minha mãe estava conver- ntanto, 50 depOIS qu~ a I ção nova e feminina com Euntce, 10
pode surgir uma re a_ m aspecto menos onipoten-
sando com uma bruxa, então eu perguntei: 'Esse quarto é seu?', e a bru- issO significa uma rela~o com u de que a criança tende a
xa gritou: 'É!'.'f . to Ilustra a tese
anima. O desenvoIVlmen b dos pais enquanto eles tiverem
Nesse sonho há uma mudança evidente no sentido de mãe e filho I er pela som ra I I A

fascinar e envo v d t am iniciativas para reso ve- os,


haverem desenvolvido uma atit.ude positiva em relação à bruxa - um por - -resolvidos e que, quan o 001 b
meio ·do amor; outra por meio da conversa. Quando Christopher está nao " filho libertar-se dessas som raso
mais factl para o I alguns meses depois.
com a bruxa, a mãe esta em segundo plano em seus pensamentos e é . Há mais um sonho, que ocorreu
usada como refúgio se a bruxa se tornar demasiado insistente, o que im-
plica que a mãe é a máis onipotente das duas. A mudança estava clara-
· . .3enho 6 . também cavamos. A gente encon-
mente associada' aos avanços na situação terapêutica da criança, pois en- ·:~.Gnomos cavando a terra. Papal e eu tos burros e tartarugas.
quanto ela tinha sessão comigo, a mãe tinha consulta com um assistente . . d b' hos cachorros, ga ,
:,ff.a um monte de COisas, e IC , cam'lnhão e levamos pra
social psiquiátrico em outra sala. O perigo da bruxa ainda está presente . Colocamos todos numas caixas, . botamos num
e relaciona-se às ansiedades anais (a coisa :de. veneno) e orais (a maçã) do . 'Gása. Aí eu fiquei com eles." Estes são espíritos da ter-
garoto. Aqui há uma ligação com Branca de Neve, pois nessa história é cC Pai e filho estão cavando com os gnomas: 't's no filme de Bran-
a maçã envenenada que a faz dormir. - t d s como mUIto u el
ta, aliados dos anoes, represen a o . . que quando tratados
- ,. t' vos e mdustnosos ,
€a de Neve: eles sao espmtos a I . m suas regras deso-
Sonho 5 - t' mas que se vire
apropriadamente, sao coopera IVOS, . 'EI te~m mágicos pode-
"Eu fui ao lugar onde a gente foi nas férias, mas ele estava meio diferen- "d . I cavelmente es
bedecidas, vingam-se rapl a e Imp a ' t . como os diaman-
te e eu encontrei Eunice e nós fomos andando pelo caminho e tinha um res transformadores e guardam os tesour os da terra, ais
galho. Eu peguei o galho e tinha Uma cobra, sabe, uma cobra venenosa. tes e outros bens valiosos, I'fi - "~enerativa" an-
Ela se levantou CJ. Eu pulei em cima dela." As imagens do sonho acompanhan: a amp I Icai~hristopher vinha
Nesse sonho os pais estão ausentes. Segundo o pai de Christopher, terior e também sugerem um tema bíbhco pelo qua , utado al-
Eunice era uma garota "sem graça", passiva e receptiva, inteiramente fe- A ' I ue ele tivesse esc
demonstrando interesse, portanto e passive q . ndoas
seres Viventes segu .
minina e não muito diferente da Branca de Neve do filme. A sugestãO de go a respeito: "E disse Deus: produza a terra. .' undo as
que sua personalidade a torna atraente está na cobra que se levanta co° , • . , A' ' t . e antmals selvagens seg
suas especles, antmals domesticas, rep eis
mo um pênis. . suas espécies, e assim foi" (Gênese \. 24). I brados As
Christopher teme a cobra porque é venenosa - uma referencia a , . não foram e a o .
Ha mUitos aspectos desses dramas que . b o relado-
sua picada e assim, mais uma veZi às ansiedades orais dele. Além dissO, amplificações do sonho do "moleiro" implicam fantaSias so re
ela provavelmente está associada às suas ansiedades de castração, pois a
61 . A Criança como Indivíduo •
...... " ....... , ......... , ... " ............ "" ..................... , .............................,' ...... , ........... ' ........................ . es enéticoS e o ego em
a ficado claro ~ue os f:~~ra f~rmação de tem~s. ar-
namento sexual entre os pais (a cena prima)) que ocorrem nesse . Espero que tenh cimento contnbue~ p , a sutileza e a inventlvlda-
do do amadurecimento como parte da situação edipiana. Disso se de amadure . me impreSSiona e 'd de de compreen-
ue maiS A a capa cl a .
ria deduzir que Christopher e o pai cavando a terra representavam ","'''L,,'J, mas o ~í uicos das crianças. surientada, primeiro pelos pai:
fantasia de potência sexual conseguida por meio da identificação Com .• ' doS processos p q uinte fomentada e o ça cultural uma realt-
pai em relação se~ual com a mãe (a te:ra}, im~l~me~tan.do assim magi. ae or conseg , d assim a heran de
são dev.e ser{ ~ professores, toman o tabelecer firmemente seu sensO
camente seu desejo de ter filhos com a mae. TaiS mferenclas, porém, des. e depOIS pe o a criança possa es .
viariam a discussão de seu objetivo principal, que é ilustrar como uma dade viva pa:a qu.e de . _ de }ung que diz que al-
criança utiliza o mito e o conto de fadas como espécie de alimento para .. ' . e Identl d a " t' uma cltaçao . Essa
seguran~ ,. deste capitulo es a "destind' de uma cnança.
~uns ~:n~~~I~a infâ:~~~~~~~i~:::Os ~fantis ~mp~:~i::~~S~~:od~
enriquecer sua vida onírica.

conclusão .denva de r lacobi (\99\), q~e parecia Pd s~nhos da infância


o
CONCLUSÃO que é registrado Pd .dade. Ela deriva Igualmente fe mecem indicações
') de 8 anos e I ais às vezes o h
criança, adultos na análise, os qu.. do aciente. Os son os
Segundo a mãe pe Christopher, ele havia ficado muito impressionado lembrados por d drão da vida subsequente ~ , dulta }ane lem-
quando viu o filme Branca de Neve. Isso significa que ele colocou partes bastante diretas ~ pa . nantes e vale notar que, }a a dois que ci-
de si (isto é, projetou-se) no filme e provavelmente também identificou· ião muitas vezes Impres~lo dourada, mas não dos outros a mente
se com Branca de Neve. Ao mesmo tempo, ele assumiu as imagens, isto brava-se do sonho ~a c~ança artes dele se modificaram em su ou sub-
ent
é, algum tipo de introjeção ocorreu, especialmente das partes do filme tei. Infelizmente, nao seI que P desenvolvimento que ela apres
I dos anos nem como o h
que podem ser identificadas em seus sonhos. A introjeção é seletiva e
compreende apenas as partes das imagens que a criança pode usar e as-
:q~:~~emente pode ser associa~~~~:so~;~igniflcados durado~~oS,~~
Não resta dúvida de que os . ortantes padrões na VI a.
similar. É aqui que se supõe que os arquétipos ativos no inconsciente en- e\ando de forma clara e espetacular I~P também as lembrançaS, eles
trem em operação, ajudando o ego a produzir combinações "originais"
relevantes a esse estágio de amadurecimento e à sua reação aos pais. Po-
:0 os temas das brincadeiras, a;;.fanta~:sa~os de formação do d~senvol­
ajudam a esclarecer períodos cntlCOS d b cando em características ma-
rém, mais que isso, o conto ou mito também facilita a capacidade infan- vimento individual, persistindo e desem o
til de aliar-se a formas coletiva e socialmente aceitáveis de adaptação•.i n- duras do adulto.
terior e exterior.
Embora a origem das imagens arquetípicas dos sonhos seja às vezes
obscura, isso em geral se deve a dificuldades técnicas. Às vezes, as com-
binações "originais" correspondem àquelas encontradas na religião e no
misticismo, das quais a criança não tem conhecimento algum. Seu estu,-
do costuma demonstrar claramente que as imagens e temas são constrUi-
dos ao longo do processo de amadurecimento da criança pela sua int~­
ração com o ambiente. Sem dúvida, as crianças podem constrUir
ativamente imagens arquetípicas e entendê-las à sua maneira. O que elas
não podem de modo algum é interpretá-Ias com os métodos sofisticadoS
desenvolvidos pelos estudiosos, escritores e analistas.

- - - - - - - - - - - - - - - ---- - - - ----"--
um sonho foi
ois (de quatro) casos, , .
'do por mim e, er;' ~ ndada por Jung. A ultima
SUg:to de partida - tecmca reco::~o adota um procedimen-
4 Desenhos como ~dolescente, mos: ra c_om~ o gconforme descrita por lung.
de um , 'maglOaçao atlva,
am ente afim a I
ex.trem
o MEIO DE COMUNICAÇÃO
,': CASO 1: O RABISCO COM. ,. 'ade de rabiscos: ora têm linh~s
o interesse de Jung nos desenhos feitos por ele mesmo e pelos seus pa. . a extraordtnana vaned toda a página, as
cientes decorria de sua utilidade na expressão não-verbal de imagens sim. Em geral exotss~:su:a finas e trêmul as ; às veztesdca~~:;e inúmeras manei-
firmes e g r , ' E I ' á foram es u
bqlicas. Ele as obtinha aplicando técnicas de introversão destinadas a li- I , uma pequena area. ~s 1. d ' ssencial considerar o contex-
berar fantasias inconscj~ntes e trazê-las ao consciente. Seu "método" de , vezes 50 determinar seu slgntfica o ~ e folha de papel tanto
ras mas para quena IlOha numa
desenho
. tinha para ele grande
. .importância dentro da imaginação ativa. , esso aL por exemplo, uma pe . ça não queria rabiscar quanto um
Já que para Jung a criança estaya, por assim dizer, imersa no incons· to P declaração de que a cnan
pode ser uma . _ ' de uma doença. .
ciente, eu achei que, adaptando suas técnicas para uso em terapia infan- resultado da iniblçao ou ate b' I \I \l\ IV e V) foram feitos por uma
ti" seria possível <:>bter provas para sua tese. Foi essa investigação que aca- Os rabiscos abaixo (~. Ra I~CO~, , i;O esperta. sociável e encanta-
bou por exigir um? revisão de minhas próprias idéias sobre a relação da . h de 2 anos e meio de Ida e, mU
garottn a " .. '.. ,
criança com o aspectQ numinoso do inconsciente. Claro que é verdade
que de vez em q~ando as crianças são capazes de representar formas sim-
bólicas fascinantes no desenho, mas, assim como nos sonhos, isso não é
freqüente. Na maioria das vezes, porém, elas preferem representar obje-
tos conhecidos: casas, árvores, barcos e pessoas, que são mais comuns do
que fantasmas, bruxas, mágicos e formas ,arcaicas, mesmo no contexto .. .
especial das sessões psico terapêuticas. Podem-se encontrar figuras simbó- "',<
'

licas mitológicas, embora as "clássicas" mais antigas estejam sendo subs-


tituídas pelas que são utilizadas nas atuais séries de televisão. "

À exceção dos primeiros rabiscos, os desenhos discutidos neste ca- \ .


pítulo representam o tipo menos comum de imagem. Para uma perspec-
:t:~:'~. :-,; , "
tiva mais ampla dos desenhos mais usuais das crianças, sua arte e suas re- >~. ,,,\ , )
~ Y.' '"
presentações simbólicas, este capítulo precisaria ser suplementado pelo
estudo das obras mais exaustivas atualmente disponíveis. Entretanto, as
,
que são apresentadas aqui representam características comuns dos dese'
nhos e rabiscos no sentido de comunicar, simbolizar e dar informação so- J
bre a psicopatologia da criança, além de refletir seus sentimentos mais n- i ... ,~ ,

timos e os eventos do meio que o cerca. Todas foram obtidas em sessoes


diagnósticas ou terapêuticas (não analíticas) quando a criança se encon- I Rabisco' - "Protesto"
trava sob stress interno ou externo e, nesse sentido, elas diferem das qu~
são feitas todos os dias em casa ou na escola. Às vezes seu assunto foi dt-
66 • A Criança como Indivíduo •
• Desenhos' 67

empregou nisso são as inúmeras marcas de dedos, , . tentativas


"d d de não dei-
xar o papel correr, feitas enquanto durou a energlca atlvl a e. . . .
Ela havia usado dois tipos de linha: um suave e curvo e outr~ m~ls
O primeiro tipo era introdutório e parecia expressar sua aceltaça?
~~to'te do que eu lhe havia pedido que fizesse. Depois ela tomou-se atl-
la: vigorosa, fazendo a mancha negra, fálica e agressiva. Naquele mo-
:ento, interpretei isso como uma expressão de seu protesto por eu a ha-
ver posto nó colo. .
Ela usou várias cores, mas concentrou-se no preto, talve~ a_ cor maIs
sinistra para as crianças devido à sua associação com a escundao e com
medos notumos de ladrões, fantasmas e bichos-papões, que podem lhes
dar a impressão de invadir o quarto. A mancha neg~a,. portanto, repre-
senta provavelmente um objeto mau talvez meu pems - perto de on-
de ela estava sentada e os medos que associava a ele.

Rabisco II "O crescimento do sentimento"

dora. Eles foram colhidos da seguinte maneira: ela subiu e veio à minha
sala com o irmão, de 7 anos, e ficou muito assustada quando eu a colo-
quei no colo. Mas, quando lhe dei um pedaço de papel e alguns lápis de
cera, começou a divertir-se. O irmão ficou conosco todo o tempo e, quan-
do eu lhe falava sobre a irmã, ele confirmava ou ampliava o que eu dizia
sobre ela. Os dois pareciam dar-se bem; embora me tivessem dito que
dominava o irmão, enquanto esteve comigo ela não tomou muito conhe-
cimento da existência dele.
A força e a energia do primeiro rabisco completo que ela fez são
impressionantes. O efeito do desenho corresponde à impressão que ela
me provocou enquanto o fazia, pois cada traço foi feito Com firmeza e
precisão. Primeiro ela fez uma linha solta (I), depois um grupo à esquer-
da (2), depois uma linha curva O) e, por último, concentrou-se na gran-
de mancha negra que caracteriza o desenho. Prova da energia que ela
Rabis.co III "Diminuição da energia"
68 • A Criança como Indivíduo •
....... " .................. "." .. ,,,,. ................. ,, ............................... , ................................ . • Desenhos • 69
.........

Era evidente que a garotinha tinha ficado menos ansiosa depoi



ra Iscar, como se houvesse reso IVI'do que eu nao
- era tao
- perigoso q s de
to ela tem:ra ~ assi:nilado minha aproxim~ção na verdad~ arnigávelll~:
sa conclus~1O e apoIada pelo desenho seguinte, que contem os mesrn .
elementos, a marca c'l'
la Ica agora co Ion'd a. Os

O terceiro rabisco mostra menos vigor; as linhas são igualmente firo


mes, mas há mais curvas e menos concentração de energia; o papel mais
escuro foi escolha dela. Agora parecia que ela havia esgotado seu protesto.
O quarto rabisco mostra mais uma vez a marca fálica, mas as CUr-
vas são ainda mais pronunciadas que nos anteriores. A criança usou azul-
claro para fazer linhas circulares acima, à direita e abaixo da marca fálica
vermelha, O desenho parece ter mais equilíbrio que os precedentes; ele
tem uma forma mais ou menos oblonga, os círculos encontram-se acima

.,

Rabisco V "A solução"

. . formas como laçadas . Ele estád mais


e abaixo da marca fálica e, a, dIreIta, d'
espalhado sobre a área do papel que os outros ra b'Icos S e, no to o , a
mais a impressão de um desenho. . ,,
.
O último rabisco (V) compõe-se predomtnantemen te de movlmen-
. .
'
tos ntmicos . , . aIguns a pnn
circulares antl-horanos, . cípio retos segUIdos de
traços curvos amarelos. Ia'fOI . por mim . sugen'do (Fordham 1957) que os
.
rabiSCOS .
e desenhos CIrculares representam magIa . protetora, completude
. "
e,
. portanto representam um Integra
. o o
d d e/II Aplicando-se essa Ideia,
5 J •
poder-se-Ia . ' prever que ela se sentma. . segura para Ir . e mbora', de fato ela
então desceu do meu colo e foi cuidar de suas coisas.
Essa criança, como demonstram a nqueza . ., l'd
e a ongtna I ade de sua
expressão, era sem dúvida talentosa, mas provavelmente estava. enfren-
tando dificuldades para estabelecer sua feminilidade devido a anSiedades,
ao que tudo indica, ligadas a diferenças sexuais, especialmente se a mar-
Rabisco IV - "Ritmo e forma" ca fálica representasse meu pênis.
70 • A Criança como Indivíduo •
....
",...... .................. ....... , ......................................
" , " ............ , ............................................................,

CASO 2: UM DESENHO USADO PARA FINS DE DIAGNÓSTICO

Henry, de II anos de idade, foi trazido a mim porque havia sido acusa-
do oficialmente por roubo e fuga de sua casa. Estava nervoso, pálido e
prestes a chorar quando o vi pela primeira vez. Era difícil estabelecer um
relacionamento ou obter informações porque ele parecia "surdo" (sinto- 'i';.íjF'
:,./ I:
ma notado na escola, onde um exame médico revelou a ausência de
qualquer problema físico). Ele pegou o papel, as tintas e o lápis que ha-
via na minha mesa e começou a desenhar; eu permaneci em silêncio até
ele terminar (V. Figura IID. Então fiz-lhe algumas perguntas sobre o dese-
nho, mas ele não conseguiu falar muita coisa, e logo ficou muito nervo-
so, manifestando vontade de ir ao banheiro. Entretanto, disse-me que as '
figuras grandes acima do navio eram o rei e a rainha,. a rainha estando na
frente do rei, e que ele aparecia de goleiro, à direita do desenho. Pouca
coisa além disso foi dita, mas, ao fim da sessão, ele de repente ficou in-
deciso; ao começar a descer as escadas resolveu voltar e acabou indo em-
bora correndo o mais rápido que podia.
O desenho consiste de duas partes aparentemente descontínuas:
por um lado, os dois navios e os imponentes "rei e rainha" e, por outro,
o diminuto jogo de futebol no qual a criança está em posição defensiva, O
>
I .
talvez indicando algo de sua relação com os outros garotos. O corpo prin-
cipal do desenho, de qualquer maneira, está atrás dele.
Só com dificuldade se pode distinguir o "rei e rainha". Juntos, eles
parecem formar uma figura única, forte, excessiva e até monstruosa. A
coroa, em forma de Lua, tem uma cruz, o rosto é forte e o olho, espe-
cialmente, dá a impressão de poder latente. A interrogação que s~rge no
lugar da orelha provavelmente está associada à surdez do gar9to. As rou-
pas das imagens reais têm escamas pontiagudas como as dos répteis na
frente e atrás, os braços são embrionários, e os quatro pés apesar de,re-
presentarem indubitavelmente os de duas pessoas - dão a impressãotde
pertencer a uma única criatura. : :~
Uma rápida olhada revela a natureza simbólica, quase mitológica,
das figuras. O garoto disse que só a rainha podia ser vista, e a c;1esenhoú
no céu, tendo a Lua como coroa. O desenho parece representar uma fan-
tasia da mãe-lua que percorre o céu como faz o astro. Essas refle}Ções le-
vam facilmente à mitologia segundo a qual a Ll,Ia é ambivalentç:.eJa pro~
i C !

move a fertilidade e provoca a insanidade (a loucura do h,mátiçoL


72 • A Criança como Indivíduo •
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . " ••••••••••• " ••• " " ••• , ..... " . . . . . . . . . . " ••••••• , , , . . . . . . . . . . . . , , , , " .... " .............. - ••••••• 'h,.
• Desenhos' 73

Embora represente uma rainha, a figura tem também caractensticas ..... .. Além disso a predominância da figura da mãe no de-
masculinas, como sugere sua aparência bruta e rústica, indicando a OCOr-
rência de uma combinação que resultou em confusão de características
figuras?ese~ha~a:. história do 'pai que, na infância, fora dominado pela
senho
- e asara tarde com uma mulher maternal, que o continha como
analog h da
sexuais. A união masculino-feminino é, porém, uma idéia arquetípica.
Jung investigou a questão e publicou suas conclusões em diversos livros,
m~e e c h via feito. A esta altura, pode-se suspeitar que o ~esen, ~
o
mae antes a ma fantasia sobre o estado psíquico do paI, e ha mais
principalmente em Mysterium Coniunctionis (OC XIV/Il, ao qual se po-
de fazer referência. garoto .contenha u res aldar essa idéia. Por exemplo, o pai não ~~nse~
analogIas
. que
d podem p
por que estava sen d o esI'onado
p , mas em seu _dehno fOI
O navio, que está abaixo da figura, tem caractensticas pouco co- gUia. enten er . f b d s em uma má interpretaçao da rea-
d a construIr de esas asea a d
muns; a âncora é grande demais e pende num ângulo que Contraria o na-
~~n;a ~ resultado não está distante do capitão que se coloca de m~ _o
tural; a cabeça do rei - que supostamente arrostaria as ondas esta SI-
tuada na popa; a fumaça e a bandeira tlutuam em direções opostas. A ~u: :'superestrutura do navio intervém entre a roda de leme e a vlsao
do ocNeano àd:rdeanet~ que é capaz de expressar a patologia do pai de uma
posição do comandante à roda de leme impede-o de ver o que está à
frente, pois a superestrutura do navio obstrui sua linha de visão.
a bl'
me I .
o filho parece haver introjetado suas PSICO~ es . A subse-
O contraditório comportamento da bandeira e da fumaça sugere
que estão sendo imaginados dois ventos que sopram em direções opos- ~~:~e~d~~~i~cação também pode ser inferida pelo barqUInho amarra-
tas, e isso enCOntra correlação com a indecisão (ambivalência) do garoto
no momento em que deixou minha sala. do atrás do ,navio. .._ "tl'l usar o desenho do garoto dessa forma,
Em mmha opmlao, e u , . . _ Id H
O desenho indica a invasão de fantasia arquetípica, algo não de to- mesmo que ela possa desviar-nos da traglca sltuaçao pessoa e enry.
do incomum num garoto de II anos. Mas ele deixa uma impressão pa-
tológica e isso, juntamente com seus sintomas, revela a fraqueza de seu
ego, que parece independente das formas arquetípicas. É como se ele se CASO 3: O FANTASMA E A CRIANÇA .
sentisse na defensiva em um mundo impessoal e ameaçador.
. 1
O des~nho seguint~ - feIto p~r,,:;~~ou deitado na cama; um fantasma
um garoto de 6 anos de Idade -
Voltando porém à consideração do que havia produzido essa situa-
ção, pode ser que essa criança fosse psicótica, mas não dava essa impres- tem ongem no segul~te ~onho. engole" Sugeri que fizesse um
' " e m a mmha cama e me .
são. Além disso, sua vida familiar havia sé desmoronado porque a mãe sal do annano, v d ' Fgura IV Depois disso, fui infonnado que
desenho e o resulta o esta na I .
havia morrido recentemente. Isso em si deve ter sido traumático e toma
. d eralizado de fantasmas. _ .
provável que a mãe no céu (paraíso) esteja associada a seus sentimentos ele tmha me o gen .. t processo de identificaçao In-
em relação a ela. Além disso, o pai estava dando mostras de esquizofre- Seu sonh~ e~e~phfica c1a~~:: ~~ito primitiva para esse medo.
nia, e seus delírios parecem ter a ver com o desenho de Henry. trojetiva e, aSSIm, Indl~a um~ o g r rder são muito importantes
Certa noite, o pai colocou uma garrafa de leite do lado de fora da Nos primeiros sonhos infantiS, engohlr e mtoe'm ainda fantasias e técnicas
43 'ma) Mas o desen . o con
casa, em frente à porta, e, olhando pela janela, viu uma luz brilhando ne- (Cf. p. e ss, aCI. :, e os sonhos e fantasias com fantas-
la. A princípio, pensou que fosse o luar, mas, como a garrafa estava na de expressão mais ::omplexas, d!a qu t cado e às vezes de ser devora-
sombra, essa conjetura não tinha fundamento. Então olhou mais atenta- mas ocorrem depOIS daqueles e ser a a , .'
mente e surpreendeu-se ao descobrir que o luar estava sendo retletido do porA animais.
I - de James com a mae _ e ra d'lfieil
. Ela o amava mas tinha
~a
I
por binóculos de teatro voltados para sua casa. Ele concluiu que isso era
re açao violento e o maltratava. Ela queria ajuda por causa cul-
prova de más intenções: alguém o estava espionando. Seu delírio para-
nóide era improcedente e pode associar-se aos braços "sem função" das
temperame,n~~ nto. É interessante que, na mesma epoc~,
pa pelo propno comportame, . ai um psicótico que já havia mom-
ela tenha sonhado que seu propno p ,
• Desenhos • 7 S
•• 0 ••••• ..... , .... , •••• " ••• " " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ."" .......... " ........... " ....... " " ••••

do se levantasse do túmulo transformado em fantasma. Não sabemos se


a famnia costumava comentar os sonhos em casa nem foi possível defi-
nir até que ponto a identificação com a mãe contribuiu para o sonho do
filho. Porém, naquele momento, a mãe estava tentando dar mais liberda-
de ao garoto - que até então ela havia mantido sob cerrada vigilância pe-
lo fato de ele apresentar comportamento em geral violento eàs vezes in-
controláveL
Nas brincadeiras comigo, James de fato podié:l mostrar-se demasia-
do violento - às vezes atirava-me pedras com força sufiçiente para obri-
gar-me a me defender. Eu mostrei-lhe o perigo, disse-lhe que não permi-
tiria que me tratasse assim e que estava falando sério. Como não
adiantasse falar, fingi que ia contra-atacar e então ele correu. Desse mo-
do, acabou surgindo um jogo que o deixou sexualmente excitado, mos-
trando então indícios de tendências homossexuais em seu caráter.
Um dia ele pintou meu rosto e meu pescoço com tinta vermelho-
I amarronzada. Suspeitei que isso poderia ter relação com seus medos e
I levantei os braços para imitar o fantasma de seu desenho. Porém eu mal
adivinhava o medo que isso despertaria nele: agachou-se aterrorizado no
I canto da sala. e gritou para que eu parasse.

I Uma analogia com os ritos de iniciação


As iniciações primitivas possuem inúmeras características que apre-
I sentam uma semelhança impressionante com as fantasias da criança e o
meu comportamento. Os detalhes seguintes foram retirados do estudo
I feito por Layard das tribos de Malekula:

I L A iniciação à idade adulta é feita com garotos em qualquer ida:


de entre 4 e 22 anos.
I
2. O objetivo final da iniciação é remover a criança da influência
I da mãe e iniciá-la no corpo coletivo dos homens da tribo ..

Figura IV - :'0 fantasma e a criança" I - 3 .. Durante os cinco primeiros dias de confinamento na casa de ini-
ciação, os noviços não param de temer em nenhum instante qlJe
I se fa~ com eles algum tipo de trote CJcuja tônica em geral LJ
se ba~eia em aterrorizar os noviços e, especialmente, amedron-
I tá-los com os supostos apetites homossexuais dos fantasmas.
76 • A Criança como Indivíduo •
........ , •••.•.••.•.••••.••••••• , ............ , .••••••• .,., ... , ••••••• , .... ' ••••••••• ' •••• , •..• , •••••• , •.•••.••••• , ' ...... ,',., .•.••• , ..... , • ., ..•.• ., .•• ·"·'h".,

4. Um tema recorrente é a divisão dos iniciados em dois grupos


um que pennanece dentro da casa e outro, fora. Os que estã~
dentro, inclusive os tutores, dançam e cantam, L) tentando apla-
car de todas as formas as suspeitas dos cansados noviços, quan-
do, de repente, surgem os outros, disfarçados com pil}turas que
representam os fantasmas dos velhos (ta-mat mot). Às vezes as
coisas são arranjadas para que os tutores ganhem, e os fantasmas
penetram e atacam um noviço, para sua grande consternação.
(Layard 1942)

Esse paralelo tem interesse (para mim, especial> porque parecia que, sem
perceber, eu havia adotado um método para passar um "trote" em James
e aterrorizá-lo, além de haver despertado nele sentimentos homossexuais.
Além disso, o objetivo do tratamento havia sido trabalhar para que ele ti-
vesse maior independência, e isso significava permitir que se estabeleces-
se uma transferência por meio da qual suas ansiedades pudessem se ré-
duzir, pennitindo-Ihe uma identificação com o pai, e isso não havia
acontecido.
Assim, a analogia nos pennite vislumbrar aquilo que se poderia cha-
mar o aspecto iniciatório do tipo de ludoterapia que eu estava utilizan-
do, bem como a natureza das ansiedades que são evocadas e elaboradas
por tais procedimentos.

CASO 4: TRANSFORMAÇÃO SIMBÓLICA


John era um garoto alto, um tanto sem modos, de 14 anos de idade, que
escondia sua ansiedade sob um manto de bom senso e a afinnação de-
fensiva de que "estava tudo bem". Na verdade, ele havia sido ameaçado
de expulsão da escola na qual, apesar de sua inteligência, seu trabalho
nào era bom. Os critérios da escola para considerá-lo um aluno insatisfa-
tório, contudo, não estavam muito claros. No tratamento, logo ficou evi-
dente que ele estava oferecendo resistência passiva aos que detinham a
autoridade.
Seu medo e desamparo foram revelados no seguinte sonho que, se- ."
gundo ele próprio, se repetia sempre com pequenas variações.
• Desenhos' 79

"Eu vou com uns amigos a um' .


to estamos lá sentados, um touro ava~lquenlque ~um campo e, enquan- xam claro que são variantes do chinês. Animal, espírito da árvore, demô-
rendo, mas ele parte para cima d ~ contra nos. Todo mundo sai cor- nio e chinês estavam intimamente' relacionados uns aos outros por asso-
esconder-me atrás de uma - e mim, parece que me escolhe. Tento ciação.
arvore mas o to d
Uma vez ele chegou a me ' uro a erruba e eu acordo Os elementos desses desenhos podem ser comparados ao simbolis-
pegar mesmo" .
Esse sonho tomou-se o ponto de' . mo religioso. A associação do demônio ao touro, por exemplo: o primei-
nhos (Desenho II) O garot - . . partida para uma série de dese- ro de fato derivou em parte de Dioniso e tanto oS"Cultos quanto o demô-
. o nao era d fii '1 d I
xasse de lado o problema n I I ICI e evar, Contanto que se dei- nio promoviam orgias comparáveis. Os elementos "animais" representados
situação terapêutica começ~uesco a,. e, quando ficou mais acostumado à nas religiões pagãs também são encontrados no cristianismo, como o cor-
. ' a ra bIscar no quadro-
. ~s Imagens que desenhou foram feitas co negro.. deiro de Deus ou os quatro evangelistas, mas as tendências em favor do
pnmelro o navio que ele . nforme a seguinte ordem' ascetismo dentro do cristianismo eram demasiado fortes, portanto os sím-
, vira num quadro fi .
trada da clínica. EmbalX'o ta' b que Icava pendurado na en- bolos usados em religiões pagãs são apenas sugeridos.
es es oçado um .
pelas narinas. Depois ele des h monstro mannho bufando As situações conflituosas da adolescência decorrem da percepção
en ou o touro ele '
campo.. O rosto na árvore foi coloc d d '. mesmo e a arvore num de mudanças sexuais no corpo que não ganham vazão adequada, em
parecia ter um embora ele - . a o epols que eu comentei que ela parte devido a inibições impostas pelo padrão cultural. Estão se desenvol-
ele tomou a i~agem mais c~~~ o tlve~.e desenhado de Propósito. Então vendo pulsões que precisam ser integradas, se é que o adolescente deve
to zombava dele, tentando dar_l~er:~~sse q~e no sonho a árvore de fa- cumprir seu papel no mundo. No entanto, a sociedade exige abstinência
ele corria do touro e que rasteIra Com suas raízes quando e, conseqüentemente, podem-se impor tendências regressivas, especial-
. " apesar de suplicar I .
adiantava. Parecia-lhe que o espírito da árv a e a que o aJudasse: não mente quando os conflitos edipianos não tiverem sido vividos e resolvi-
contra ele o que mostrou d h ore e o touro estayam ahados dos por meio de identificações. Por conseguinte, os conflitos sexuais da
, esen ando uma r h .
que o circunda mostra que eJ '. 10 a que os unta. A linha adolescência podem ser definidos grosso modo pela necessidade de des-
O .- e se sentia Isolado entre os dois cobrir como controlar a sexualidade sem que ela se tome "o demônio".
aVlao, segundo ele, ataca o n . " '.
senhou então uma linha reta aVIo como o touro me ataca": De- A figura 4 da série de retratos é o "demônio"; a figura 5 é um "chi-
para representar-
uma linha curva para repres t . a agressao e acrescentou nês". O demônio está asso~iado ao fazer algo mau, mas o chinês é distin-
en ar a associação e t
Em seguida, recorreu aos seus ' . n re o touro e o avião. to. Esse garoto fez seus desenhos em 1938, quando os chineses ainda
tema e continuar desenhando AI propnos sonhos para encontrar um eram considerados misteriosos membros de sociedades secretas. A figu-
tos rápida e espontaneame t' guns dos desenhos seguintes foram fei- ra 5 é mais espontânea q\-le a 4, cujo esboço é nítido e definido: suas li-
n e, como se ele não b
no final. Outros foram feitos d I'b d sou esse como iam ficar nhas são cheias, ao contrário das interrupções e indefinições da figura que
el era amente - n 'd
sa b endo o que queria desenh M' o senti o de ele estar representa o demônio.
ar. ais uma vez f, c . •
em decorrência de reflexão _ ' oram leitos acrescimos Todavia, John sentia seu demônio como real e perigoso, pois sua pin-
ou reaçao a meus co ..
su Itado cresceu pela inte - mentanos. Assim o re- tura seguinte, um "demônio totêmico", foi feita no intuito de "afugentar
raçao entre seu ego f.' '
neas, assim como Ocorre . . _ . e as antaslas mais espontâ- os demônios". Além disso, segundo ele próprio, era também "algo den-
A '. na Imaglnaçao atlva.
sene de desenhos à esquerd f,' d . tro do qual diamantes podiam ser guardados de modo seguro".
gura I representa o espírito d _ a 01 ehberadamente iniciada. A fi- Nessa impressionante pintura simbólica (V orelha) predomina uma
a arvore mas as cab .
ram por si mesmas Apo's t ., I ' eças seguintes cresce- engenhosa combinação de três faces, duas das quais olham em direções
. ermtna- as ele d
esquerda foi chamada "0 d ~.,,' eu nome a duas delas: a da opostas. A terceira olha para a frente e tem traços do chinês, mas sua prin-
figuras 2 e 3 não ganh emOnto e a figura 5, à direita, "o chinês" As
aram nome ma h' . cipál característica é a im~sa boca. O garoto ficou tão surpreso com o
, s seus c apeus e características dei- resultado quanto eu; a pintura evoluiu rápida e espontaneamente - na
80 • A Criança Como Indivíduo •

v~rdade, custou-lhe apenas uns dez minutos no total. Ela foi criada da se-

5
guinte maneira: começou com uma figura fálica bem simples, com uma
forma oblonga no topo (que foi coberta por outras camadas de tinta e,
portanto, não é visível no produto final); em seguida, ele ,acrescentou
o Modelo ConceituaI
uma estrela, depois um diamante e, sob este, um quadrado. O contorno
externo foi demarcâdo em preto, e o diamante e o quadrado ganharam
contornos amarelos preenchidos com azul.
O garoto, evidentemente, com a cor negra queria expressar sua sen- livro ba~eia-se em três entida~es
sação de poder maligno real, mas na figura há também -principalmen- O arca bouço conceituai, utilizado
, neste
el
F
teóricas: o ego, os arquetlpos e o S J' ." ,
te na parte inferior do tronco - bastante colorido, o que a toma muito
positiva. John desenhou primeiro a parte inferior fálica e, acima dela, a
parte negra. A princípio os demônios estavam ausentes; só quando o con-
ceito se desenvolveu é que a idéia deles imiscuiu-se. o EGO ," d

Na maior parte de sua obra, u g 't~ c'a de partes inconscientes dele


Mais uma vez, como no caso 3, as ansiedades da primeira infância J n definiu o ego como o centro a cons-
são elaboradas numa pintura sofisticada, A boca é simbolizada e estrutu-
ciênc13, embora rec~n _
' hecesse a eXls en I ,
rada de uma maneira que seria impossível a uma criança pequena, Ela ta pode ser ampliada da seguinte ma-
na sombra, Essa formulaçao compac _ e das descargas motoras que
sugere a presença de dentes ferozes, afastados e dispostos num círculo ' 'o ego é soma dos atos da
nelra, , percepçao ,
de feição mágica, Pode ser que aqui haja outra faceta da passividacle de - d m tomar-se conSCientes, ,~ , , I
John, baseada em sentimentos cruéis relacionados ao morder (sadismo sao ou po e'd uando . , " a Iguma espécie de conSClenCla
tem'lnlCIO , , e a ._
ora/) originados na primeira infância, Ao que parece, os dois se fundiram A partir
' e q " d
, ~ 'do pOIS o estu o a d vI'da intra-utenna e mam-
numa imagem simbólica de numinosa e impressionante intensidade, A go que so p~~e, ser ln en, " m dia o suficiente acerca do feto pa-
festamente dlflctl, Mas sabe-se hOJe e , ta algum tipo rudimentar de
referência a suas raízes infantis parece quase ,insultuosa _ e assim seria, que ele expenmen ,
ra afirmar com segurança "do que possa ser o desenvolvimento apos o nas- ,
se o feito de atingi-Ias e se as defesas contra elas não fossem organizados 'A' ,
conSClenCla, Por mais rapl _ pequeno papel na eXls-
de modo tão eficaz, Em resumo, eis aqui a resposta da criança aos que - d representar senao um ,
poderiam depreciar suas defesas e ignorar o elemento de continuidadé cimento, o ego
A, b' nao po e
, melhor enten d'd
I a em termos de pulsões arquetl-,
tenCla do be e, que e dem notar fragmentos do ego,
picas padronizadas, Entretan~o, 10d sd Pd o início às representações de
que elas repiesentam quando combinadas a um 'símbolo vivo, herdeiro gO e o
de um objéto transicional. '
- " te relaCIOna os es e 'I'
eles estao Intlmamen, , mais forte o ego se Utl 1_
' A edlda que se toma ,
fantasias inconsCIentes, m I d VI'da mental e começam a
' d 'zaça-o e contro e a
za de metodos e orgam, _ podem ser conscientemente
t: C mo mUItas destas nao " '
formar-se delesas, ,o _ m estados acessíveis de conSClenCla
controladas, a identlficaçao do ego co .
I torna-se duvidosa" f ' ampliado para a inclusão de par-
Ent~etanto, o c~nc:lto de eg~d~~ atingir fÇlcilmente a c.pnsciência,
I tes da pSIque ~ue nao :~o ~e;;, i~
uais as qualidades que lhe podem ser

,'
I de forma que,e nece:sano e ,ln q acterísticas encontráveis num ego re-
atribuídas, A. hsta abalx.o cont~m ~:r nota~ explanatórias conforme a ne-
lativamente amaclureCldo, a em . '
I cessidade,
82 • A Criança como Indivíduo •
." ....... .

-o reativa anulação, racionalização


1. Percepção . lamento formaça ' -
defesas: ,so' 'as personalidades obsessivas), conversao, re-
A consc~~nciabaseia-se .na percepção, mas nem todos os estímul eVI_d entest n ça-o (melhor observadas nas reaçoes - h'Isten-
-'
rentes sao percebidos pelo sistema nervoso. Além disso ne Os afe- atizaçaO e a ua . d d
d ra m d ' ado difundido para ser assoCIa o a um e-
percebido atinge o limiar da consciência. ' m tudo que é locamento - emas: . '.
i o de organízaçao da personahdade, .: "
.t ~ ,
2. M;~a-~ P
defesas foram entendidas negativamente como
nnclPIO, essas 'ções ideais podenam .' ser d'IS pensad as, Mas
Sem. .dúvida, a memória é ' uni elemento essencial ao fu nClonamento
. que, em cond I , - ' r .
I radualmente se reconheceu que elas ~ao podenam ser e Imma-
menta, mas as lembranças de fatos passados da vida de um indoIVI-d uo de-
.g ml'nho para a sua compreensao como parte do proces-
vem ser ab ordadas
, com prudência, já que, embora certos ev~ru~ t abnu-se o ca . . . .-
do amadurecimento. lá que este lamals termma e la que, no
I
."'....lI,...I."irrlen'to de atitudes e funções especializadas, só algu~as formas
sam ser registrados com realismo' outros são estruturas com pexas que
mu
d d am com
. o tempo.
., Além disso, em qualquer dos casos seu sig 'fi
m lca- ' 'dade psíquica são úteis, as defesas foram aceitas como
o e sua Importancla emocional podem alterar-se de forma significativa. d a atIVI fl - . A
>Vlt:ilve'IS e desejáveis, contanto que permane~,m :xlvels. penas
'.Ik."',,nrln se tornam desajustadas, inadequadas e ngldas e qu~ ~I~s assu-
3. Organização de conteúdos mentais
as características inteiramente negativas que lhes eram mlclalmen-
lu~~ definiu o pensa~ento, o sentimento (valorização), a sensação e a in-
tUlçaO como as funçoes da consciência, introversão e extroversão sendo
sua: atitud~s, as quais podem alternar-se. Tais funções e atitudes podem
19~ 'Capaddade de renundar às funções de controle e or~anjzaç~o ,do ego ,
ifi!ing deteve-se muito nessa capacidade enquanto c~ractensuca ~ssenclal
ser I~consclentes ou conscientes. Além disso, o ego contribui para a for-
maçao de fantasias...:. embora os arquétipos também influam sobre boa
. fio seu estudo sobre a individuação, no qual enfatiza a neceSSidade do
parte dessa atividade -'e exerce o efeito decisivo sobre seu desenvolvi-
égo consciente de reconhecer outros poderes -representados nas for-
mento.
~as arquetípicas - dentro da psique, além de sua subserviência ao s:/f
,Êntretanto, essa é uma capacidade necessária também em outros peno-
4. Controle sobre a mobilidade . dos da vida - e principalmente na infância, embora na primeira infância
Isso ~ignífica o controle tanto sobre os atos impulsivos quanto sobre os
movimentos comuns.
'o ego não esteja suficientemente estabelecido para que se possa afirmar
ia renúncia de algo que ainda não foi atingido.

5. Teste.da realidade Conforme se notará, algumas das características do ego estão c1arar:nen:
". te relacionadas a estruturas e processos arquetípicos, e isso se aplica a
6. Faial, maior parte da percepção, da fantasia, da mobilidade e das defesas, Com
efeito, a existência de dados perceptuais, sejam estes derivados do am!.
.7, Defesas
b~ente ou dos arquétipos, pressupõe a existência de funções do ego, Men-
Sob essa acepção incluem-se inúmeras estratégias resultantes de situações CIono tal fato porque, apesar de certas funções e estruturas psíquicas po-
conflituosas que dão margem à ansiedade. Algumas das defesas que pre- d~erem tornar-se relativamente autônomas, um ego forte e saudável está
dominam na primeira infância têm suas raízes em estados muito primiti-
tao aSsociado às bases da personalidade quanto à realidade.
vos do self São elas a identificação, projetiva é introjetiva e a idealizaçãO,
Out~as defesas surgem à medida que o ego se fortalece, sendo que cer-
tos tipOS de pessoas usam algumas mais que outras. A seguir, uma lista
--- - - ---
- -- -- - - -- ----
~~~-----------------------------
rI
I'
84 • A Criança como Indivíduo •
............. o,, .......
• O Modelo ConceituaI • 85
............................................... . ................. " , .................... , ............ .
OS ARQUÉTIPOS,
omportame nto e imagens não podem ser separados uns dos - outros:
d as
Embora mais estudados em suas complexas formas simbólicas- ou seja, ~ a ens são corporais. A despeito dessas difere~~s, ~s padr~es e com-
em sonhos" fantasias, mitologia, folclore e ,religião -, o núcleo essencial 1m g to estão relacionados a formas arquettplcas mconsClentes e po-
P°rtamen . . r
que emergedáobra de Jung é o de que um àrcjuétipo é urna entidade dem ser re mo ntados em seqüências
. ,. de desenvolVImento
.," e, aSSIm,
, Igar-
psicossomática que possui dois 'aspectos: um está estreitamente ligado a se às complexas imagens slmbo,hcas da VIda adulta.
órgãos físicos; o outro, 'a estruturas psíquicas inconscientes. O componen-
te físico é font~ de "pulsões" libidinais e agressivas; o psíquico é a origem
das formas de fantasia por meio das quais o arquétipo atinge representa- OSELF
ção incompleta na consciêncià. O organismo visa ao objeto e é capaz de
relativamente poucas aplicações (que podem, porém desenvolver-se), ao A introdução do conceito de sei! na psicologia infantil exigiu praticamen-
passo que a fantasia consegue expandir-se de várias maneiras, de usar vá- te urna revolução no pensamento dos analistas j~nguianos p~rq.ue o con-
rios objetos e, às vezes, principalm~nte em casos patológicos, de demons- 'to conforme desenvolvido por Jung, era aphcado na malona das ve-
trar urna variedade relativamente ilimitada. "
cei
zes à, religião e à parte finàl' da vida das p~ssoas.
, ao e t:'a~1'1 começar a,
N-'

É talvez interessante observar aqui que inúmero; conceitos que têm atribuir as origens desses processos à infância nem, mUIto menos, a
objetivo similar ao dos arquétipos foram introduzidos na pSicoíogia infan- primeira infância sem um certo choque ~~ ,indignação. Pelo menos essa
til por membros de outras escolas de pensamento:,'Spitz usou a idéia de foi a minha experiência quando descobnlslmbolos do seI{ nos sonhos e
organizadores em seu estudo dos bebês ao longo de seu primeiro ano de fantasias de crianças pequenas. Isso ocorveu durante a Segunda Guerra
vida, enquanto o conceito de que a fantasia inconsciente opera na crian- Mundial e só depois que os canais de comunicação com Jung f~ram res-
ça desde o nascimento foi desenvolvido por psicanalistas k,leiniãnos; Pia- tabelecidos foi qUe eu descobri que ele próprio havia chegado a mesma
get também pode ser mencionado pelo fato de haver usado em seus es- conclusão a partir de seu estudo dos sonhos ihfantis. . .A

tudos urna teoria de esquemas ,inatos, Todos eles seguiram linhas de Esses dados demandavam avaliação. Para que servIam as expenen-
pens,,!mento sefl1elt)<!ntes àquela,s ·introd.uzida~ por Jung i,á 'em 1919, cias? Era c1ar~ que elas estavam ligadas à sensação .que a cria~ça tinha de
quando ele usou pela primeira vez o termo "arquétipo;'. ' seu selr, à" sua noção de auto~e~tima e i.dentida~e, ambos .sentlmentos que
Sem tentar çompa~á-Ias" tod~s .essas"idéias at~ndem ànece~sidade poderiam atingir a consciênci~ e, assÍl:n, pevenam ~s~r I~gados ao, ego. Is-.
de urna teoria de estrut~ras. p~ra da~<;onta do c~mportame~to bem no 50 levou à idéia da e),(istência de alguma relação dmamlca espeCIfica en-

início da vida do bebê. O conceito de arquétipo, conforme é desenvol- tre o ego e o self .
vido aqui, é urna delas. Na época em que minhas idéia~ começaram a desenvolver-se, ha-
São várias as il11agens mediante as quais os arquétipos se ~xpressam. via u~a forte tendê~cia entre os analistas junguianos a conceber o sei! co-
Na primeira iQfância ~!ªs são q1,J.ªse sempre, _embora não invariélvelmen- rno um sistema estabilizador, centralizador e até. mesmo f:~iJado, a~esar
te, distintél~ das encontradas na infância, na adolescência e na meia-ida- de a obra posterior d~ Jung muitas vezes sugenr o contrano, Meu En:e-
de, período do. qual Jung recolheu ,a maior parte de sel,ls. dagos clínicos resse pelas crianças, porém, deu margem a dúvidas sobre ess~ concepçao
e no qual baseou sua teoria. Is,so levou-me a perceber a importância de do selt Por mais relevante que seja em outros contextos a Jenf~se na es-
sua distinção entre o arquétipo enquanto entidade teóric,a e o comporta- tabilidade e na organização, ela não é adequada quando se ~ph~a ~o pe-
mento e imagens empíricas queo.conceito organiza. Os arquétipos da ríodo de mudança, e desenvolvimento que representam a_mfa~C1a e ~
primeira infância isto é, dos dois primeiros anos de vida - não estão tão primeira infância; A idéia do sei! apena~ c?m~ i~tegr~dor nao da luga! ~
bem diferenciados quanto os de fases posteriores porque, para começar, emergência de sistemas parciais cuja eXlstencla.e m~tlvada p~las p~ISO~
dinâmicas padronizadas e pelos estímulos ambientais. Esse fOI entao u
. o Modelo COnceituai • 87
~~ ...~ ..A...C:rionço como
................ Indivíduo'
" ....... , ...................... , ............................ " ............. . , ........ " ...................... , ..

A idéia do self como expressão unicamente de estados estáveis de


moti~~ ir::portante para a introdução de um modelo mais dinâmico e le-
vou_ a Ideia d.e que o self poderia ser um sistema mais instável do que até integração é radicalmente alterada por essa noção, pois ela pressupõe que
entao se havia pensado. durante o amadurecimento há recorrência de estados instáveis, ora en-
A qu_estão que :es~va em~eguida era: será que o sist~maque as re- volvendo parte, ora envolvendo toçio o self Sua duração é variável, ape-
presentaçoes ~o self I~dlcavam e primário e, além disso, ~erá que o bebê sar de o self total continuar em existência. Os estados instáveis não são,
ou feto poden~ ,ser Visto como uma unidade, o sei!, da qual derivavam o em saúde, desintegrações, que implicam cis~o do ego; eles são mais mu-
ego e os arquetlpos? Isso aparentemente se encaixava na idéia de Jung danças de orientação que envolvem, a princípio, a pessoa como um to~
de que o sei! era o organismo como um todo, do qual o ego, os arquéti- do e, depois, partes dela, à medida que o amadurecimento prossegue. A
pos e o corpo eram aspectos. entidade estabilizadora é inicialmente apenas o sei!, mil-s logo o ego con-
. E~quanto essas idéias estavam se desenvolvendo, ficou cada vez tribui e garante que as seqüências dinâmicas no self não se revelem im-
maIs e.vldente ~ue os proces.sosdinâmicos da primeira infância eram mui- produtivas e circulares, mas sejil-1lJ alteradas pela atividade do ego; o que,
to mais ~omplt~ados cio qu~ anteriormente se pensava; portanto, como por sua vez, aumenta s~a fprça. Assim, a estruturação da psiqu~ é provo-
se podena expltcar sua natureza aparentemente organizada - apesar de cada, em grande medida, pelo ego .. Sem ele, existiriam apenas reações
c~paz ?e m.udanças rápidas -, ao lado de ;uma teoria do ego - que en- deintegrativas arquetípicçs repetitivas e estas, apesar de açlaptatiyas, n~o
t~o s: Imagmava ser capaz de desenvolver um grau perceptível de orga- conduziriam a estruturas ~nter<!tivas permanentes.
Olza~? em torno dos 4 ou 5 anos de idade? Naturalmente, a teoria dos Desde que o conceito de selffoi formulado, descobriu-se muito mais
arquetlp~s e:plicava muito do que estava sendo observado, mas o grau acerca dos fragmentos do e~o. Não resta dúvida quanto à existência de
de orgaOlzaçao total revelado pelo bebê também precisava ser levado em uma estrutura egóica firmemente estaQelecida por volta dos 2 anos de
conta. idade; por conseguinte, o CQnc~ito de self pode não ser tão necessário ou
O compo.rtamento orientado por um objetivo, as fantasias, os pen- fundamental. Com efeito, os novos dados sugerem uma teoria alternati-
same~tos, sentimentos, percepções e impulsos - que podem ser todos va do ego, simplesmente porque sua org<!nização começa muito antes .do
descr~tos separadamente em termos dinâmicos não captam a natureza que se supunha. De fato, ~ grande a tentação de criar um modelo intei;
da crt~.n~ com<: ~m todo, a menos que se perceba que cada grupo de 1-1 ramente l)QY9,,(iO ,qual o ego passe ajncluir todos os dipamismos psico-
expe~enclas esta "gado a outros que não estão sendo ativados num de- I lógicos. Mas daí decorre que, se esse .modelo tiver de. cobrir toda a diver-
termmado mo~ent~. C? :eco~hecimento dessas inter-relações contribui sidade 90S dados disponíveis, o. ,ego terá de ser dividido em subsistemas,
para a e~pressao ~a tndlvld~ahdade e da integridade orgânica da criança, a fim de permitir a descrição do? diferentes tipos de experiência que po-
nas quaIs se baseia sua noçao de identidade. . dem se tornar objeto d.e ~?tudo, empírico; do contrário, o modelo já nas-
Tendo. em m~~te que a teoria corrente há mais ou menos trin~ anos cerá fadado ap fracas~o.. Essa djvisão do ego foi feita por Fairbairn 0980>,
na, pSIcologIa analttlca era a de que o ego seria uma entidade desprezível que distinguiu entre ego central,.libidinal ~ antilibidinaL Nesse modelo, o
ate aquela que, para um analista infantil, é uma idade relativamente ma- self deixa de ser um dado primáriQ e torna-se redundante, e~ceto enquan-
du:a <Cerca de 4 anos), p~recia inconcebível que uma criança antes des- to um aspecto do egQ.ou enquanto idêntico ao próprio ego. O conceito
sa Idade ~~desseser conSIderada suficientemente organizada para ser tra-
de arquétipos inconscientes precisa ser. igualmente dado como in~álid.o,
tada anahtl~amente. No entanto, muitas crianças entre 2 anos' e meio e
já que estes são também concebidos como estrutl,lfas do· ego.
3 anos de Id~de esta:an; .sendo tratadas com sucesso. A concepção do
Da parte dos analistas junguianos, esse modl=IÇl talvez não v~nha se:-
selr.c<:~o entIdade prtmana, a soma dos sistemas parciais, e a introdução
quer a receber, a atenção que mereçe - ,mas em outras partes. e!~ foi bas-
da ,.dela d~ que eles podem deintegrar-se e voltar a integrar-se ao self po-
tante considerado e, por iS59, deve ser registraçlo,: ainda que só p<!ra ser
de~,a ex~ltcar a possibilidade de tratar uma criança pequena como uma
umdade a parte dos pais. rejeitado.
. o Modelo ConceituaI • 89
88 • A Criança como Indivíduo •

on conseguiu comprovar esse conceito quando o utilizou na


A teoria dos arquétipos explica aco bs . I _.\ d -'
. I . .modos
. primitivos de comportamen- 'I' J de pacientes psicóticos. Eu, por minha parte, o lU go Utl e vanas
t o e, mais que qua quer outra COisa, a existência de fantasias organ' d ana Ise . '. , o estu d o de cnanças
.
. 'b b~ lla as
formas, en
tre as quais gostaria de mencIOnar aqUi
. f . ,
em cnanças e e es, que, conforme definido acima, apresentam o -, . tas com relaça-o mínima com o mundo extenor - com e elto, es~a~
mo de características.egóicas. É. com elas e com o sel"
f em vez de
. u mmlOl- ego . S ças parecem não haver desenvolvido nenhuma,d".Istmçao
autl - en t re o que
coerente, q~e o. anahsta mfantll se relaciona a maior parte do tempo. Tal- cnan ..' ti
são elas e o que é outra pessoa ou objeto. Bett:lhelm lnvestlgol':~ exaus -,
vez a expenencla de analisar crianças pequenas tenha favorecido no
.- d iI' ' meu e quarenta dessas crianças. Embora nao postule exp lCl~mente
en ten der, a vlsao o sei" em vez do ego, CGmo entidade primária: ela dá vament " -' d
uma unidade primária ou sel{, ele reconhece cla~am~nte a lmportancl3 a
espaço ~ ~ados.qu.e s.ugerem que o analista age, para a criança, como um manutenção de uma atitude positiva diante do autlsrr:o e promove con-
ego auxiliar, substltumdo assim as controladoras estruturas do ego e . - . ões sob as quais a criança possa emergir dele mediante um processe;>
t t _.. XIS
en ~s ~~ propna cnança. Assim, em decorrência da teoria de trabalho dIÇ - "
a par dos processos de deintegração-reintegra~o. _." . '
aqUi utlltzada, o self será tratado como indispensável. Partindo então da aceitação da unidade pSlcossomatlca pnmana dos
~ D~sde que divulguei minh.as idéias, o postulado de que o selftem im-
bebês o modelo que comecei a formular em 1~47 está agora desenvol-
portan~la central n? amadurecimento foi adotado por inúmeros junguia-
vido ~omo se segue: o self primário ou original de> b~bê é r~dicalment~
n~s. ~sten:. reflexoes sobre ele não só no livro que Jacobi publicou sobre
perturbado pelo naséímento,"noqual o psic~sso~a e ínvadl~o por estl-
a tndlvlduaçao como também num ensaio que ela dedicou ao tema (1953).
mulos tanto internos quanto externos que dao ongem a anSiedade pro-
totípica, Em seguida, restabele~~-se ~m estado estável, finalízand~ a.ssim
Neuma~n (1995) concebeu algumas idéias especulativas muito engenho-
sas, P!rtt~ula~ent~ s~bre a relação entre o ego e o seI{, os quais, segundo a primeira seqüêncía clar4 de perturba~o seguida de estados estav~ls ou
el~! sao dl~cels de dlsttnguir na infância. Além disso, ele apresentou um con-
de repouSo. A ~eqüência repete-se sem cessar durante o arr:adurec~men­
ceitO do eIXo ego-self que Edinger posteriormente desenvolveu e relacio- to e as forças motoras que estão por trás são chamadas demtegratlvas e
nou a observações clínicas. A1dridge (1959), Hawkey (1945, 1951, 1955,
integrativas. A princípio, as seqüências são rápidas, mas: à, medida ~ue a
19?4), Kalff (1962) e Tate (1958, 1961) fizeram valiosos comentários a res- organização psíquica prossegue, das se expandem e~ penodos mais lon-
peito de estados ~Iínicos nos quais se poderiam definir representações do gos até que sê atinja uma relativa estabilidade na maior parte do tempo.
sei! Os estudos feitos por Kellogg de pinturas infantis feitas com os dedos
Agora é possível definir vários'períod~~ nos q~ais ~m ou outr~ ou !m:
(\955) contêm provas fascinantes de como os padrões baseados na man- bos os' processos podem ser estudados: o nascimento; a aproxlmaçao a
dala se formam e evoluem para a representação de figuras humanas. Os mãe visando 'à amamentação, com especial' referência às mudanças que
~studos de Lewis ( 1953) o I:v~ram a concluir que os símbolos do self cons-
ocorrem em torno dos três meses, sete meses e desmame; a fase de se-
paração-individuação (Cf. p, 115 e ss. abaixo); ~ c:ise ~erada, pelo na,sci-
tituem um elemento de umao entre os grupos de criançás observados.
O passo seguinte e muito importante no meu raciocínio foi desen- mento de um irmão' 'e eventos edipianos. Apos ISSO; o penodo estavel
volver a teoria do selfha infância postulando que o bebê é, antes de mais da latência conduz à~ perturbações da adolescência e a uma maturidade
n.ada, un;a unidade ou self desde o início. Pensando assim, permaneci so- relativamente estável, que continua até a transição para uma fase poste-
ztnho ate a~ pesquisas de Enid Jacobson, que culminaram no livro The Self rior da vida, quando as seqüências deintegrat~vo-integrativa~ se repetem
~nd th~ o.b~ect World (1964-65). Aí ela postula uma unidade psicossomá-
e os processos de individuação - que Jung investigou especlfic,amente -
tica p~mana - o self- cuja energia é neutra, não sendo nem libidinal nem
agresslva~ Nessa obra, 'Jacobson apresenta as vantagens desse postulado começam.
em relaçao ao conceito freudiano de narcisismo primário, que evoluiu pa-
ra o_de masoquismo primário qUando Freud apresentou sua teoria da
pulsao dual.
90 • A Criança com !J d' -
., ..... " .. ,"", .... ,',., .... ,"',.,:,~"~.. ~v.úJuo •
..... , ..... , ........... ,. ', ...... , ........
..
"'" "., " . o Mo.delo ConceituaI' 91
REPRESENTAÇÕES DÓ SELF
, Na discussão anterior refie . , ianças muito pequenas isso pode ser feito com facilidade porque a
, nmo-nos ao fF ( )
como um sistema de ~ se, a em termos te - . : c:ase recaí sobre a vida emocional do bebê em relação à mãe. Nesses
· representaçoes I ancas e (b)
Sideradas como simb T ' a gumas das quais preci entudOS, não se dá muita ênfase à dicotomia consciente-inconsciente;
O" o Icas conforme o sentido sam ser COn-
· que e uma representa ~ 7 E que Jung dá ao term ~: fato, aparentemente não há lugar para,esses cpoceitos tão úteis pos-
c~a, a estníturas inconscientes eçao. Ia. P,ode ser entendida Com refieo~ teriormente.
sao h'" , especla mente ' ren- Eu considero sua inutilidade como indicativa do, estado de fluidez
con eCldas diretamente ' ar ~. ' ' aos arquetipos. Elas n~
ao
ser parcialmente conhecid P, que.s Inconscientes. Contudo p d ao da experiência do bebê - nela há mudanças tão rápidas de interesse e ine
mada arquetípiéa, que rep:~!~:a,:e: de ,u.ma cat~gOria de ima~en~ c~: tençãO e mudanças de afeto, .entre amor e ódio, que parece positiva uma
, ma forma, o seifprimordial ~ quetJpo do IOconsciente. Da interferência no sentido de começar a pensar nesses termos. No entanto,
tegrados, partir dos quais ~:°:O~~~%~:~~esen,tad?, mas sim seus d:~~
a o bebê demonstra comportamento estruturado. Certamente o testemu-
Abordemos agora a identificação . m.ferenclas a respeito do self nho de circunstâncias de persecutoriedade ou depressão, ou seu próprio
surge u~a confusão acerca de sua rela p!ojetlva. De:cobri que às veze~ comportamento no seio e outras situações nucleares dão provas do fun-
eSclarece-la, pois os dois
d . -
" ç a o com a demtegraça-o' tenta .
processos não -
e~ntegraçao tenha de haver Ocorrido e sao a .mesma coisa, embora a
. rei I cionamento de estruturas mentais e emocionais. Por conseguinte, não po-
demos dizer que não haja ego, embora tenhamos provas de que muitas
qUica antes que a identifica -
· ,
' . produzido alguma estrutura '_
çao proJetlva p PSI I das estruturas são arquetípicas, resultantes da deintegração. Quando co-
locado em relação com sua, mãe ambiental, porém, o bebê ganha uma
projetlva, uma parte do seif ent ossa ocorr~r. Na identificação
parte desse outrq seifcontinent raA~~ ,outro seif e, identifica-se com uma
seifcontinente ou pode ~o e.. I e e pode destruir mais ou menos d
I experiência que torna inevitável a formação de imagens. Parece inevitá-
vel também que estas dêem origem a uma forma de consciência que
d' I' mecer IOform - ,
fi em ser ~ntegradas quando a projeçã , aç~es a seu respeito, as quais po-
o
I gradualmente.se integra para formar um ego cada vez mais coerente. A
construção de uma distinção definível entre estados conscientes e incons~
?rma pnllJitiva de percepção e o e retirada. Ela pode então ser uma
cientemente por amba'
· _
, co:n9 o processo pode ser vivido'
5, as partes e també ' Incons-
' I cientes efetivamente ocorre mais tarde, e Bion os vê como de<;,orrentes
da formação de uma barreira de elementos alfa eBiol) 1991). ,
mumcaçao, principalmente quando f m ~ma forma primitiva de co-
mo presumimos ser o caso de um b as, ron~elras do ego são fracas - co- I O que caracteriza os símbolos? Jung definiu um bom número de-
ao cuidar do filho, Considero u e~e co~ sua_mãe, quando ela regride les: a mandala, a criança, a árvore da filosofia, imagens de seres divinos e
estados descritos como identid qd e a, Id~~tlficaçao projetiva dê o~igem a
P a e pnmltlva p rti' ,
I de Deus, em particular - todos eles possuem uma totalidade ou,referên-,
cia cósmica. Embora esse tipo de símbolo ocorra ,na infância, ele não é
resumo ainda que a identifi - I, ~ ClpatlOn mystique e fusão [
'oso na formaça~o de I'm' Icaçao projetJva seja um método d' freqüente, e os estudos se concentraram muito mais no modo como os
, agens arquef . po e- sentimentos do selfamadurecem no ego: eles dependem da formação da
'e .em temas mitológicos, como o da IPlca~ com efeito, o processo OCor-
etJv? de destruí-Iéi desde dentro ~ntra _ a na mãe-monstro com o ob- I imagem corporal. O cosmo do bebê é, antes de mais nada, ele mesmo e
::leais e temveis. Chamei os Obj~~~ o : mae dual, com suas características
se restringe a imagens corporais. Ele nada sabe de árvores da filosofia,
as de "objetos do seif", a fim de inc:~i/acent~ a essas imagens arquetípi-
nagens de fantasia definíveis. ' o penodo anterior à formação de
I Deus, mandalas etc. Contudo, suas experiências são do tipo tudo-ou-na-
da, isto é, totais, e vêm a ser representadas por meio da seguinte espécie
de sentimentos de onipotência: ele tem a sensação de, ser o todo de seu
Ao estudar esses estados muit ' ..
(
"cosmo"; que abarca objetos dotados de poder "mágico", que ele exerce
.lecer ?grande volume de trabalh o pr:~TlltlvoSI é importante não es-
ou do qual seu frágil ego é a vítima. Aqui jazem sentimentos de domi-
COgnitIVO na primeira e segunda ~ r;a I~ado sobre o desenvolvimen_
10 anclas. Na observação de bebês
nância recorrente na vida do bebê até que as fronteiras entre ele próprio
e o mundo exterior sejam reconhecidas. São esses sentimentos que o be-
92 • A Crian~..c.0mo Indivíduo·
..........................
b' ..................... ..................................
e gradualmente rep .......................... ..
~odelo abstra~O
resenta em f. . .. ....... :fDNTES DE DADOS
e trocas verbais. , " antaslas, sonhos,uras,
pint brloc
. . uma vantagem na construção de um é que ele pode
se' usado para explicar OS dados ..su mldam ente. Alem dISSO, atlnge-s~
~
Embora ao nascer o b b' . '. adelras

]~alS,
ce evidente que' a naturezae e se caracterize por relações ob' . ma posição de onde se pode manipul.. os pensamentoS de .modo s

pmve~ien~sd:s.o forteme~~mas
suas percepções são ob'etiv de seus ob;etos seia composta. pa'e u ossibili uma comp"ensão mais profunda dos estados afetiva . Em
gado de ene'gia grosso delas está de ~ircunstándas
tar favoráveis, lança-se uma nova luz sobre áreas da psique s
za a pe.cepção de fm eonteg..do do seI{ Essa en . e carre previamente obscuras ou desconhecidas, seia buscando dados cuia exi -
chamado de ob'eto ma que o ob;eto se toma ai o ""gla rugani· téncia se presumiria ou encontrando dados que não se encaixam. Sem-
lhadamenté
, . I do self AdIante analisa,ei essa'lormulaçaopoderia
g qu". m . se, pre que a fonte de idéias abst ..tas é conhecida e que estas são aplica:
. A medO d '. . aIS deta· das e testadas, podese evitar um ,isco inerente a toda teorização em
rend?, os resultados de seu fun ~as emtegrativo-reintegrativas vão
I a que.as seqüênc' d'
psicolog o de usar o conceito abstrato comO defesa contra os estadoS
to a Imagem co.-po I' clonamento se tomam , . oco.· iac
mais primitivos, arcaicos ou infantis que ele contém e "presenta. Como
do quoestá den .. se fmma - e com .ela uma estav,etS e, enquan·
e SI mesma d
~
ça a percepça-o dtro do que está fora do' corpo _ dPercepçao mais nítida
,esenvolve-se'
a minha p,ópria teoria foi originalmente apresentada sem uma indica-
ção adequada dos fundamentOS em que se baseava, p ..ece carecer até
~,. ~ez
essa pe,ce' , e o mundo exter na cnan· agora de respaldo. A segunda edição de meu livro conseguiU em certa
_ uma;fo'::: o Ibebe. distingue entre o que é Uma estabelecida
toda uma a ave reahzação do ego.. A parti, d que nao e ele mesmo ~ medida preencher essa lacuna, pa" mim, bem evidente. Desdeoentão,
e
a obse",ação de bebés mães pmporcionou-Ihe maior "spald ; além
pró ,io g ma de sentimentos, imagens e aI ele pode desenvolv""
gos~ria ~~e;:~a conveniência, podem se;:~::;tos a respeito de si especia~
disso, publicaram-se interessantes estudos Que aliam a observação ao tra-
balho experimental, são as provas fornecidas pela psicanálise,
pai/mãe um ga' u no que ele teme tomar-se . tOS, naquilo que ele
, ' ngster etc li d - IS o e u h " mente da parte de Daniel Stern, Que as organizoú na forma de uma teo-
a totalidade ofig' I . o os eles estão mais o ,m eml, um
Na medida em ma confonne expressam os senti u menos .. Iadonados
ego, mas tamb . que o fazem, eles não apenas se m efn tos
, . em ao self ..
onipotência.
re erem a condição do
d~ riadoself(Stern
A dificuldade 1985).,
na transmissão adequada do tipo de dados que sub-
iaz às a[o,maçãe abstrataS é considerável; na verdade, ainda está para ser
s
construído um esquema para ,egistro de dados.clínicos em suficiente de-
. A medida
gmalmente de que
uma pessoa qu o~lpoten"a,
. o•cresci
. mento do ego prosse
integram-se em um
.
S:~;d
os;entlmentos, mi- talhe. Ele .deve estar a meio caminho e~tre o modelo e a ,explicação es-
do isso ocorre e e contmuamente a mesma no espa I o e Identidade em "ita pormenoriZi!da que agma SÓ em parte pode s"" apresentada, por
cada v . ' o sentimento do selftom _ . ço e no tempo. Quan- meio de b"ves extratos de incidenteS que cristalizem o geralmente lon-
ez mais relacionar-se com a se mais realista e o bebê d go e meticuloso trabalhO de investigação analíticà. Contudo, uma expli-
mundo ob;etivo B _ o pessoa com os qu po e cação dos métodos utilizados na coleta e avaliação de dadOS pode con-
estad . ' mem, na medida e e o cercam e com o
se< _ ~~;~~:~~nterimes. ou na medi~a ~: :U:e:l~me,nto
do self exciui tribuir po" dO' uma idéia do âmbito da investigação. Portanto, pass"ei a

~ciar-se sOfist:~ar;;.:e~:;:s~~s °bn~~otência o~ ~~~ã~ ~~s:~~sitam


às
e na ..Iigião. Um
de
es SIm ohcas encOntr d . a as-
um resumo dos métodos u"ç\os na obtenção dos dados. .
O principal método aqui utilizado foi o analítico. O leitor precisará
constituem um' a vez desenvolvidos e ,efinad a as especlalmen- remeter-se a outros volumes se ainda não tiver su\Jeiente conhecimento
a sociedade. Importante aspedo·da crescente
,. , e açaoda
:sses cflança
sentimentos
com ~s, dos procedimentoS analíticOS como um todo; sua aplicação à infância es-
tá ..,e",ada a um capítulo pOsterio,. Aqui, será considerado apenas o mé- n
~, , r .. .1 ,

todo da "construção dos primeims anos, já que ele foi o mais importa -
te dénrre as estratégias analMcas no estudo da criança. Ao método a
lítico, acrescentaram_se observações diretas de bebês e crianÇas. na. . d -o Em última análise, sua signi- ,
lidade e uma reconstruça. . . porta p orem' isso não slgmfica .
Reconstrução da va paClen . te é o que -mais 1m .' taça-o reconstrutlva
"

d ma mterpre A

't;cinda na para o que sua aceitaçao e fU _ da situação de transferen-


Muito do trabalho analítico consiste em detemínar com precisão as rai. "I . mente , 'o em unçao d por
hecessa fia'vel' ao contran ,
r podem ser aceitas ou recusa asf t s
zes infa,ntis de sintomas, sonhos, fantasias e comportamento; de fato, Pa- " re con I ,
an~
~':~~nte dec~::n ~ue
seja semp fi mativas do Ista t da 'transferência de a e o
ra o analista o ideal seria formar um Quadro completo do desenvolvimen.
cia, todas de distorçoe.' é a. importiincia e a con-
to do paciente. Todavia, isso não Pode ser feito devido à intervenç,io de causa slmp . Só com análise slstemat stimadas.
consideraçÕes terapêutica" o investimento libidinal do paciente em situa. para o anahsta. ões do paciente podem ser e guinte um exercícib
ções infantis começa a desvanecer-se à medida Que ele se recupera Ou . 'd de das reaç -o é por conse , h
fiabill a . - de uma reconstruça, _d'to e se consiga cegar
quando isso não acontece, o analista toma providências para descObri; A vahdaçao I ma mereça cre , f vá
por quecientífico.
teresse e, assim, para benefício
. de seu pacient~ terá de frustrar seu in-
. e difícil. Antes que a gu ado pode ser preciso azer _
complexo 'uste entre o presente e o pass _ bastante útil procurar uma

difere~tes ~';":eio ~~~~:ade


a um bom a, tivas. Mesmo aSSim, sera . antes de se gene-
A análise da infância c a princípio, em adultos, e depois, em crian- rias da observaç,io dir"tadde infantil foi as-
ças pequenas - foi propiciada pelo uso de reconstruções ou POstulados confinnaçao p - Boa parte da teona a s rtes ue se aph-
SObre a infância e a primeira infância dos pacientes com base em mate rali,," reco~st:~~borada, principal~ent~ aq,;!a~ ~a6 an~s
faclI~enças madur~s,
a de idade.
rial anaJitico cuja fonte não é de fácil reconhecimento. Freud foi o pri.
meiro a utilizar o método, que facilitou a deSCOberta da sexualidade in-
fantil e do complexo de Édipo. Desde então, as reconstruções foram
estendidas às primeiras semanas de vida e a experiências intra-uterinas.
sim
cam a cnan
'
Porem,
que IS
d' põe
relativamente
Ab
I fato de um be e n a ,
pe ouma cna
-
Isto e, :eios de comunicação de
o dispor d os
. nça de 5 anos, e bemntimentos
- d b bês. Conhecer seus se.
. difícil extrair conc u
mais
I sões
e a natureza de seus
_ além da simples
,I
A técnica requer a elaboração 'de postulados que podem ser confir- da observaçao e e
~ tivos requer ln
. ferência. e expenmentaçao,
. . ~
mados, negados ou modificados pelo paciente. Chega.,. a Um desses re- processos a e . s obser-
sultados de dois modo" primeiro, a reconstruç,io feita pelo analista po_ observaçao. - ' - recon strutlva com
- da interpretaçao a maio-
d ve, lU
Todavia, a correlaçao ida erou certezas ca a . ._
I.,~
delevar à emergência de uma lembrança Que confime a inferência;
segundo, o acúmulo de dados que apontam para um determinada situa- vações durante os p.rimeir?s m~~:sd~i~óte:es de trabalho para investiga
rtir das quais surgiram A
O
ç,io Que, POrém, não pode ser lembrada. Com o uso conjunto de reCOns- res, adopacomportamento dos bebes.
ção
truções e lembranças, pode-se foonar um Quadro de um dado períOdo í
da primeira infância ou infância Que se encaixe tão bem na psiCOlogia do
paciente Que traga à cOnvicção. Apenas em algumas ocasiões essas re- I ~
A observa",o de bebês aiOnças.stros do Que as crianças faóem ou ~iZ:~~
construções podem ser confirmadas por fontes exteriores à análise.
I lá não basta fazer iogenuos r~~ue
de surpresa ou prazer, ser cO:::'re à
Os registras de reconstruções podem parecer escassos, pouco con- Estes podem provocar um c ados como tradição no que se a
rincentes ou vulneráveis a cfíticas intelectuais _ isso se deve em parte à I Ihados como diversão ou IflCOrporbservaçôes são planejadas e levadas
'nfantil Atualmente as o
Iificuldade de apresentar o grande volume de trabalho que precede a
hegada a uma reconstruç,io e seu subseqúente teste diante de todos os :;:~~re:~
J
auxm~ de métodos ri~':'::~'ma~
significativa teoria
á que aos psicanahstas se _ mais úteis foram feitas por : ~s.
gtné!~:
ovos dados que emergirem. Além disso, a situação afetiva na qual o tra-
"ho é feito toma seCundárias as consideraÇÕeS intelectuais. Elas preci- do desenvolvimento, as observaçoes
- 'm hoje em dia, mas h'atam..bém , .varias ou-
ha tese,
m estar presentes COmo arcabouço, mas não são a única base para a certo ponto, isso alfld~ e a~l. o cobre as mais relevantes a mm
tras contribuições. A hsta a alx
96 • A Criança como Indivíduo •
...... " ..... , ••••• " ......... , •• ,.,,, ••••• , ••• , •• , .......... , •• , ••••••••••••••••••••••••••••••• , .................. ""0 ............. " ••••• " ... ,.

" O ' t do e suas descobertas estão bem de~critos


""""

I. Observações do comportamento inicial na amamentação, feitas e minano. me o 989) ..


na num se d lnfiants (Miller et ai. 1.... ..' ,_.' '.,
quanto mãe e bebê se êncontram no hospital, logo após o nascime~~ em C/oseiy Observe . '" ,.
to. Um exemplo, pioneiro.e excelente, está nos registros de MereU rva ões feitas em condições. de. lab~rat~no
Middlemore. Existem inúmeras _obse ç acréscimos experimentais, pnnclpal-
6. trol adas as vezes com '.i
mais co n ' .'
.l
I
Cambridge Umverslty.
2. Observações em clínicas pediátricas. Entre elas, as promovidas por D. mente na .
W. Winnicott foram importantes e pioneiras. , da brincadeira com areia, usado extenslvam.en-
\ 7. finalmente, o.met~:~or Margaret'Lowenfeld e explorado extens~~:
3. Estudos longitudinais de bebês e crianças pequenas. Entre eles, os rea- te pela primeira v Iff e numerosoS analistas junguianos como me -
lizados nas "wellbabyclinics"4 dos Estados Unidos foram os primei- \ mente por Dora Ka .. .
ros, cobrindo a faixa entre os três meses e ,os 2 ou -3 anos de idade, do terapêutico.
\
Outros começaram na primeira infância ti prosseguiram por cinco ou
Técnicas comparativas . C ' I I mas os estudos compara ti-
seis anos até a pré-escola. O nome de Kns e seus colaboradores está - . , f . d' cutlda no apltu o , . .'.
\ A amplificaçao la 01 IS. M t Mead foram os pIOneiros, se-
associado a esses estudos, que foram aliados à análise de determina- , . - Enkson e argare . E
vos antropologlcoS, nao. . d numerosoS para citar aqUI, stes se~
das crianças. Mais recentemente, deve-se fazer menção ào trabalho de .~
\ 'd de muitos outros, demaSia o .
Mahler (Mahler et ai. 1977) e, naturalmente, às monumentais pesqui- gUl os . d ando se apresentar a ocaslao. " .l
rão mencIOna os qu ,
sas de Piaget. \
4. Observações em várias épocas e de muitos grupos etários, das quais \
as pioneiras são as de Spitz sobre a depressão anaclíticá (1946) e o de-
senvolvimento de "sim" e "não" (988). \
j •

5. Nas duas últimas décadas houve uma explosão de estudos sobre a re- \
lação mãe-bebê tanto na Grã-Bretanha quanto nos Estados Unidos.
Dentre eles, assinalo os que foram iniciados na Tavistock C1inic de \
Londres. Seu método foi amplamente adotado e aceito como parte
do treinamento em análise infantii pela Society of Analytical Psycho- \
logy. Um observador faz uma visita ao lar da criança e registra em de-
talhe tudo que observar, sem tirar conclusões. Cada obserVação dura \
uma hora e se repete semanalmente ao longo dos dois primeiros anos
de vida extra-uterina. As descobertas são entâ~ discutidas cada sema- \

4. Locais onde se oferecem serviços de assistência e 9rientação aos pais sobre ama-
mentação, alimentação com mamadeira, introdução de sólidos 'na alimentação,
desmame, problemas de sono, treinamento pára uso do vaso sanitário etc. Em al- \
guns, oferecem-se também serviços de acompanhamento pediátrico, vacinação
etc. (NT.)
\
-~.
• O Amaduredmento • 99

I Em tomo dos cinco meses, a estruturação dentro do cérebro está

o Amadurecimento
j terminada e, assim, possibilita a percepção sensorial e a atividade moto-
ra; de fato, a mãe pode perceber facilmente os movimentos dos braços
I e das pernas do bebê. Além disso, podem-se observar o chupar do pole-
gar, o engolir dei fluido amniótico, alguns "exercícios" respiratórios restri-
I toS e belos movimentos corporais em forma de espiral. O bebê pode,
além disso, ouyir sons exteriores à parede corporal, o que vem a confir-
:jue significa dizer que um pebê é, antes de mais nada, uma unidade I mar os surpreendentesrel?tos de mães que afirmam que seus bebês rea-
:::.ossomática um se/fi Quando se verifica, essa situação e quando se gem à música: Mozart é considerado caJmante, ao passo que Beethoven
:Iam as seqüênc~as deintegrativo-integra5ivas que dão origem ao pro- I provoca um aumento do número de movimentos do bebê. Por conse-
so de amadurecimento? Tentarei apresentar o que há de relevante no guinte, a audição já se, encontra bas.tante desenvolvida antes do nasci-
lhecimento sobre essas questões. I mento. Não é tão fácil compreender como a visão esteja tão bem desen-
volvida ap6s o oasçimento, já que há pouquíssima luz no útero e
I normalmente s~ crê que sejam necessários estímulos para o desenvolvi-
DA INTRA-UTERINA mento da percepção.
I Esses exemplo~ bastam para indicar que a vida intra-uterina de um
vido às crenças e fantasias que cercam a vida intra-uterina é 1~1Uito fá-
bebê é, nãQ apenas rica como variada. Ela constitui um período de cres-
esquecer que o óvul? fertilizado e o feto estão, desde o i~ício, sépara- I cimento, durante o qual ele se prepara para o nascimento, desenvolven-
) do .corpo da ~ãe. A medida que o crescimento prossegue, a parede
iO~lnal da mae e o fluido amniótico contêm e protegem o bebê em I do os 9rgãos (principalmente a boca e os músculos) de qUE;! precisará pa-
ra sobreviver após nascer. Algumas evidências indiçam qu~ ele dá início
sClmento do' mundo exterior. Ele vive numa placenta aquática e no
do amniótico, alimentando-se de ambos. A principal função da mãe I ao nascimento pela emissão de mensagens químicas para a mãe. Se real-
mente for assim, estará aumentado o mérito de considerar o nascimento
)~~ant~, contê-lo e protegê-Io, ao mesmo tempo que lhe fomececa
como um exemplo de deintegração no qual se expressa o violento po-
tena-pnma para o crescimento. Assim, a herança genética pode atuar I tenciai do self Essa informação insinua uma possível resposta a uma ,ques-
promoção da forma e da estrutura do corpo do bebê.
tão: quando têm início as seqüências deintegrativo-reintegrativas? E pro- :
A vida dentro do útero não é um mar de rosas: o útero é, por exem- 1 I

vável que já durante a vida intra-uterina: a atividade seria indicativa de ~ !


, um local barulhento - a pulsação da aorta abdominal é múito alta e
. como o,bufar de um antigo motor a vapor, para não citar o borbo- I deintegração; os períodos de inatividade, de reintegração.
O nascimento interrompe violentamente a protegida vida aquática
no, que sem dúvida perturba a suposta tranqüílídade do interior do
roo Naturalmente, esses ruídos não são perceptíveis a princípio e se
!rc~m algum efeito sobre o feto, não será muito. Porém isso ocor:erá
I do bebê, Muito se afirma que o evento dê origem a ansiedade prototípi-
ca, refleti da nos temas de nascimento e renascimento da fantasia arque-
típica. Ele 'é considerado, além disso, uma experiência traumática, Não
;tenormente, quando o sistema nervoso se formar. Acresce-se um in-
posso concordar com isso, a não ser no caso de partos excessivamente
n~do_ extra à ~edida que o feto cresce em tamanho: o espaço de que
longos ou senão patológicos, É verdade que, após o nascimento, os be-
~Ispoe para viver se reduz e restringe, de modo que alguns de seus
bês dão um grito que provavelmente lhes facilita a primeira inspiração
'Vlmentos parecem destinar-se a dar-lhe mais conforto. Finalmente ca-
vez mais se crê na probabilidade de os estados emocionais da mãe'afe-
_e exibem um grau variável de aflição. Porém, se logo em seguida fo-
rem colocados noS braços das mães e puderem permanecer aninhados a
:!m o feto para melhor ou para pior, embora só possamos especular
Ire a forma como isso ocorre. s'eu lado, geralmente o choro cessa. Além disso, quando o bebê perma-
I,
tOO • A Criança como Indivíduo •
• o Amadurecimento • tO t

nece com ela pelos primeiros quarenta e cinco minutos, facilita-se enor- ser individual. A meu ver, ela assim apreende e respeita a integridade
memente o apego subseqüente e forma-se mais facilmente uma boa re- a verdadeira natureza de seu filho, que ambos gradualmente conhe-
e . A
lação com a mãe. erão à medida que o crescimento prossegUir. o mesmo tempo, a
Caso se possa rejeitar a idéia do trauma.do nascimento, como en- ~ãe reconhece a independência que o bebê tem dela, algo enfatiza-
tender a ansiedade demonstrada pelo recém-nascido? Minha especula- do pelo nascimento. Isso representa para ela uma perda, que é repos-
ção segue ó seguinte curso: a ansiedade acaso se deve à dor de atraves- ta pelo cumprimento de seu papel como elemento do par afetuoso. A
sar o canal vaginal - onde, ao lado da estimulação maciça da pele e da perda muitas vezes acarreta uma depressão transit?ria: que pro~avel­
pressão sobre o crânio, há pouca condição de protestar de alguma forma mente ajuda a preencher a lacuna deixada pela ausencla do bebe den-
contra tudo isso -, além do choque de encontrar-se num ambiente intei- tro de si.
ramente novo? Ou há alguma contribuição interna por parte do bebê? Superficialmente, tem-se.a impressão de que a primeira mamada é
Minha proposição é que tal contribuição possa existir, já que o se/r, no in- uma iniciativa exclusiva da mãe, embora esteja claro que o bebê logo par-
tuito de adaptar-se a essas mudanças externas; se aeintegra, produzindo ticipa de sua promoção. Isso é relatado já nas pioneiras observações rea-
formas maciças, não específicas, de ansiedade que atacam o ambiente. O lizadas por Call (1964), que demonstraram que, após as primeiras ma-
ataque contribui para a formação de experiências tais como o terror in- madas, se a mãe puser o bebê em posição vertical, ele entra numa
descritível, o caos catastrófico e o pavor de um buraco negro, especial- seqüência comportamental comportamento de aproximação - que,
mente quando não reintegrados. Mas o recém-nascido aparentemente in- com a cooperação materna, o leva ao seio. Assim, podemos considerar
tegra sua experiência de nascimento bem rápido, e isso não é explicado o comportamento da mãe como facilitador de uma deintegração que le-
pela teoria do trauma do nascimento. Para facilitar a reintegração, é im- vará o bebê a dar início a ações que culminam em tomar o mamilo na
portante que o bebê encontre algo tangível e confiável após o nascimen- boca e começar a sugar. Várias evidências fornecidas por outras pesqui-
to, especialmente por meio do contato epidérmico com a mãe. sas acadêmicas e observações de recém-nascidos demonstram até que
ponto o bebê contribui para a formação do par afetuoso. Já há muitos
anos Merell Middlemore mostrou que o bebê não suga um mamilo de-
form'ado, e há outros exemplos em que a iniciação à amamentação é di-
o PAR AFETUOSO fícil ou até impossível para alguns bebês e mães. .
O importante evento que é o nascimento 'faz-se acompanhar de outras . Ao estabelecer a situação da amamentação, a unidade do bebê é
mudanças, decorrentes da necessidade que tem o recém-nascido de ser perturbada por atos deintegrativos, os primeiros' do se/f A teoria dos dein-
alimentado, tornaqo nos braços e afagado para sobreviver no novo am- tegrados, porém, pressupõe um padrão dirigido que emerge do self :otal
biente, necessiçlade que tambérn.~é l!m pré-requisito para a ocorrência das e carrega em si características do potencial psíquico do se/ftotal. DaI, ca-
seqüências deintegrativo-integrativas. A receptividade da mãe a essa ne- da reaçãof(ato deintegrativo) seria para o bebê uma experiênc~a d: se.u
cessidade leva ao estabelecimento de um relacionamento entre.ambos mundo total. Essa situação evolui após algum tempo para a ontpotencla
conhecido como "o par afetuoso", para o qu.al cada llm contribui com infantil, uma característica bastante bem definida do comportamento in-
sua parte. fantil. Dentro desse estado de espírito, não pode haver seio "lá fora" (o
Têm sido muito estuda.dos os impulsos, reflexos e sistemas quí- seio tornoucse um objeto do se/fi e o bebê só pode vivenciá-Io por meio
micos que influem sobre o bebê durante suas primeiras semanas e me- dessa representação do self Entretanto, isso só pode ser verdade em ~ar­
ses de vida extra-uterina. Porém, embora a mãe saudável possa saber te conforme indica o experimento de Cal\. A observação de bebes e
alguma coisa a respeito, ela não se relaciona com oJilho como se ele m'ães também confirma que a onipotência não é mantida todo o tempo.
fosse um feixe de sistemas fisiológicos, mas sim como uma pessoa, um Além disso, sabe-se há muito que a forma do mamilo pode facilitar ou
102 • A Criança como Indivíduo •
., ................... , .... " ........ ,......................... ,....... ". ', ............... ...................................... , ...... ,., ..... ..... .. .
" " " . o Amadurecimento • .01

desestimular o apego ,do bebê ao seio; portanto, ele tem capacidade de à experiência afetiva. Além .disso, a experiência sensorial é organizada
discri minação. de forma particular: .os sistemas perceptivos não estão separados como
Estando a amamentação es.tabelecida poratos deintegrativos e faci- na vida adulta, de modo que as mensagens visuais e auditivas podem
litada pela mãe, parte do Jei.te previ;:lmente ingerido pode ser regurgita- operar como sefossema mesma coisa. A esse fenômeno ele chama de
da, mas isso será acompanhado finalmente de sono <r:eintegraçãol. São "transferência de informação .em modo cruzado" (Stern, p. 48 e ss.>. Po-
esses atos deintegrativos que colocam em ação os sistemas. sensórios e de-se aqui tecer. uma consideração à luz de meu postulado do selfpri-
motores (ver, sorrir, tocar>. e, assim, fornece-se material para o crescimen- mordial: isso.;ignificaria que, as percepções sensoriais resultam de um
to do ego na primeira mamada, .como .também em todas as mamadas deintegradodo self total, no qual todas as modalidades de sensação se-
subseqüentes. . riam apenas parcialmente distinguidas.
Não pretendo analisar detalhadamente que tipo de consciência o Não importa como os objetos sejam percebidos pelo bebê, não res-
bebê possui nas suas diferentes fases. de desenvolvimento. Entretanto, ta dúvida de que ele visa ao objetQ desde o início da vida extra-uterina.
mencionei em edição anterior deste livro o trabalho preliminarmenterea- Por isso, é impossível que ele exista apenas num estado narcísico, que es-
lizado por Spitz. Ele afirma (Spiu, 1993) que, a princípio, ~s percepções teja fundido:ouidentificado com o inconsciente da mãe, que seja apenas
são vagas e globais e que só com cerca de três meses o bebê pode reco- parte dele ou que seja essencialmente não integrado (Cf. Winnicottl. Es-
nhecer "pré-objetos". Segundo o estudioso, o.sorriso do bebê depende sas opiniões,a meu ver, são impressões por demais generalizadas daqui-
de ele ser apresentado a um esquema composto de testa, olhos e nariz. lo que um bebê pode às vezes parecer ou de estados em que ele talvez
Só com sete meses, conforme afirmou, é que ocorre o reconhecimento esteja de vez em quando. Quando afirmo que o bebê se relaciona com
pessoal; só então é que se estabelecem relações objetais libidinais. Ape~ o objeto, quero dizer que ele pode distinguir entre o que é ele mesmo e
sar da importância que tiveram na época, seus estudos hoje parecem mui~ as partes.da mãe comas quais.temcontato,.apesar de não estar conscien-
to datados. Além disso, dependem do estudo do tipo de consciência que te de.fazê-lo ,,isso vem depois. A teoria doself sugere que ele esteja boa
um bebê pode ter num determinado estágio de seu desenvolvimento. Is- parte do tempo principalmente num estado que não é nem consciente
so é interessante, mas a distinção entre sistema consciente e mente in- nem incoqsciente. Essa dicotomia estruturada - descritiva e dinamica-
consciente - no sentido que conhecemos em crianças e adultos - pode mente tão útil no futuro - não é útil na descrição do. comportamento ini-
impedir o estudo do bebê como um todo em relação à mãe. . cial dos bebês.
Desde a publicação do trabalho pioneiro de. Spitz, intensa pesqui- . O tipo de objeto queo bebê encontra está ainda. mais claramente
sa vem sendo empreendida, dando lugar a uma atitude diferente dian- proposto na minha teoria. A observação indica que ele tem alguma per;
te da primeira infância, a qual coloca o seff no centro dos estudos. Stern cepção nítida da realidade, mas_que também forma objetosa partir do
(1985) compilou o tr;:lbalho existente sobre o desenvolvimento da "no- seff em relação aoámbiente. Esses obieto~ são considerados arquetípicos,
ção de seI{ e de outrQs" no bebê. Apesar de não postular Um seffprimor- de uma forma análoga ao esquema e modelos. de outros pesquisadores,
dial no sentido que eu lhe. dou, ele quase o faz: seu estudo é de repre- mas se representam de modo muito distinto do materia1.etnológico por
sentações do sei! que se dese.nvolvem a partir do self primordial meio do qual os,arquétipos são normalmente identificados. Eles. podem
conforme eu O vejo, concluindo que, (mt~s de mais nada, pode-se dis- ser observados na amamentação, quando um seio é tratado de modo di-
tinguir uma noção. de seff emergente, ,segljida da formação em seqüên- ferente do outro e nos ataques periódicos à mãe ou nas tentativas de en-
cia de um "SeffNuclear", um "SelfSubje.t[vo" e um "SeI{Verbal". Há ain- trar em seu corpo: tudo isso tem características padronizadas. Julgo a no-
da outras conclusões q!Je são relevantes para as minhas proposições. Ele tação de Bion útil com .referência à formação inicial .de objetos (Bion
nos diz que a aprendizagem dO que é variável e, invariável n.o ambiente 1991): ele cOrtsidera que os primeiros objetos são elementos beta; estes
não é um processo apenas.abstrato, rné!sestá indissociavelme.nte ligado são transformados em .elementos alfa pela função alfa. Os elementos be-
104 • A Criança como Indivíduo •
....... , ........ ..
."",. ,,,,..,,, ,",
• O Amaduredmento • lOS
...... , ............ ,, ........ .......................................... "" .... ........ , ........ " ... .
",

ta tê~ a quali~ade emocional de coisas concretamente experimentad


_ o seio bom não pode ser encontrado em lugar algum, Conseqüente-
em SI mesmas, IS~O é, como "acréscimos de estímulos". Quando transfo~
ente, o bebê relacionará sua fome a um seio que alimenta, quando es-
mados pela funçao alfa, eles podem então ser sonhados e pensados. Es-
se~ ele~e~~o~ P?dem parecer demasiado abstratos, mas indicam que os ~ lhe for apresentado, e isso poderá exigir m~ito empenho d~ mãe ':.a-
conseguir que o bebê inicie a mamada. Nao quero dar a Impressao
I o, pOIS' o b e b~e
ob/etos mlClalS tem duas formas que precedem a formação de fantasi ra 'que, se a mãe não o conseguir,' o caso esteja, perd'd
sonhos e mitos, e isso é um estímulo para novas observações. as, de
. ~ ~m~ das grandes mudanças que sofreu nossa percepção da primeira
tem meios para defender-se evacuando o objeto mau interior pelo ato
de gritar continuamente, defecar, urinar e, surpreendentemente, formar
mfancla e o reconhecimento do módo como o bebê ativamente promo-
~~~m~~ I , ,
ve o apego de sua mãe a ele. Além de sua beleza inerente, há outras for-
A idéia de objetos bons e maus está ligada ao conceito dos ob,etos
mas pelas quais ele lhe emite sinais e toma-se querido por ela todas
parciais (Y. Klein, The PS)icho-Analysís ofChildre..n, 193,2), Este parec~ à pri-
exemplos de atividade deintegrativa (por exemplo, o sorrir, o balbuciar e
meira vista bastante óbvio pelo fato de o bebe relacionar-se ao seiO, que
o olhar). Por outro lado, ele pode chorar, gritar e protestar de várias for-
é apenas parte da mãe. Depois ele vai conhecê-Ia ca_d~ ~~z mais, ve,ndo-
~as.quando se sente incomodado. A atual compreensão da primeira in-
a como um todo. Todavia, é questionável que o bebe iniCialmente Vlven-
Jancla mostra que o par afetuoso é essencialmente interativo. Nas primei-
cie a mãe como um objeto parcial. Seu campo de experiência é, afinal,
r~s. semanas e meses, o self deintegra-se ainda mais. Simples descargas
restrito e só na medida em que ele ampliar sua experiência - e, portan-
dIvIdem-se em opostos, e isso permite ao bebê organizar sua crescente
to seu'conhecimento do corpo da mãe é que ele reconhecerá o seio
experiência em objetos "bons" e "maus". Os objetos que produzem satis-
fação - como o seio durante e após uma boa mamada - são objetos bons.
c~mo parte dela. A capacidade perceptiva é, porém, incitada por sua ex-
periência emocional do seio como algo ora satisfatório, ora ~ão; pois se
Eles conduzem, talvez após um Pouco'de brincadeira com a mãe ao so-
há dois seios, um pode ser bom e o outro, mau. Por conse~ulnte, post~­
no e, assi~, ao..;restabel:cimento da unidade do ,bebê. Aqueles q~e não
lo que existe um período no qual a experiência que ,o be~e tem do sela
trazem satIsfaça o 'por nao atenderem às suas necessidades (sentidas co-
é a experiência d~ um objeto total, antes de ele ser vlvenclado como um
mo fome ou outros desconfortos relativos ao corpo), são objetos maus.
Dev~ acrescentar aqui que os objetos do bebê não estão ligados apenas objeto parcial. , _ '., .
Ao dar tanta atenção à relação de um bebe com o selo·e Importan-
ao seIO, mas logo se associam a um grupo de outras experiências deriva-
das do fato ~e ele ser tomado nos braços, afagado, banhado, limpo e tro-
te reconhecer o sentido mais amplo no qual o termo é usado. Uma ma-
mada não é apenas uma questão de transferir leite; ela é também a ex-
cado e admIrado. Ele também ganha muita experiência quando olha ao
seu redor, evacuando, ruminando ou. pensando. ' periência em que a relação do bebê com a mãecome~ a,~es~nvolver-se.
O olhar, o afagar, o amar> o atacar e o cheirar tambem sao Importantes
Os objetos bons e maus podem ser extasiantes ou catastróficos e
amb,as as coisas são avassaladoras. Além dessas intensas experiências: o
(enquanto observamcse também períodos de brincadeira, talvez co;n ?
beb: come~' a desenvolver formas de administrar seus objetos, cuja
mamilo) mas também se verificam intimidade e conflitós comparavels
no banho e nas' trocas de fraldas. Nessa breve descrição da vida ~e ~m
quahdade na~ depende necessariamente de seu real comportamento:
bebê, há longos períodos em que ele não está ativamente ligado a, ma e,
Um curto penodo de ausência, 'por exemplo, pode transformar o seio
É assim no sono e quando ele está num estado mais reflexivo, ate con-
numa c~isa má e deixar que a fome absorva c.ompletamente o bebê. Co-
templativo, como se estivesse pensando sobre suas experiências, ~ que
mo o seIo aus~nte é vivenciado concretamente, ele é tratado como a ori-
ge~ ~ev seu sofrimento, aparentemente dentro de si mesmo. O bebê po- torna provável que desde cedo se ~ossam prever processos. mentaIs e~e­
mentares ~em ação. Além disso, ele logo começa a estabelecer relaçao
dera It rar-se dele evacuando-o (defecando ou gritando por exemplo),
Se a evacuaça~ o n - t' , ' .
com coisas impessoais, como bnnquedos-eoutros , ~ o b'Je tos que pode se-
ao Iver sucesso, o seIo p~rmanece inteiramente mau
gurar ou colocar na boca, como o polegar e o punho. Dessa forma, ele
•• o ............... .. , .......... ..... .... ..... .. o Amadurecimento.·
, , ,' , " ,
107
........ ... ................ ...
".

expande progressivamente sua experiência e, assim, abre caminho para


uma vida separada da vida da mãe, . ," ' tudo ótimo, mas o que fa,zer quando ~en~o de
Ela disse algo assim. Esta
Nesse período inicial, a p~evidência sensata e o cuidado da mãe em
'd amamentar a pequena [ela vai gntar se
. t de meu man o, , .
preparar o ,an a~ rrastar o maior Jde 2 anost . chorando p~eso a ml-
relação ao bebê têm especial importância. Embora cuide de necessida_
des fiSiOlógicas, ela trata o bebê Como uma pessoa _ assim, ela se relacio- ! não mamar] e
.
aJnd~a I
' e deixar ouca.
? A u'nica vontade que eu tenho e que eles
_ '1' ,._
na com o self do bebê, ao qual pode conhecer empaticamente por meio nha sala, ate m , f t I" O turbilhão das relaçoes faml lares e me
I sumam todos da mmha ren e. . I ão mãe-bebê que não tem um pou-
vitável e desejável; na ve~da:~: ~ ~e :~ vezes, prejudicial. Ein O Nasdme_n-
da identificação projetiva. Além do conhecimento consciente, as lem-
branças inconscientes de sua própria infância podem ter importância; na
I C
o disso torna a separaçao. I IC,
. C. Mahler apresen
ta o éxemplo. de uma relaçao
.
to PsicológIco da . nança, d'fi It u rnuito a separação e, aos 3 anos, ve~
medida em que elas forem bóas o bastante, a mãe poderá cuidar do be-
bê como uma pessoa à parte, mas també'm poderá colocar parte de si
I mãe-bebê quase Ideal: el~ . I IC~ °da criança estava atrasado.'Portanto, e
mesma na situação do filho e, assim, beneficiá-lo,' Dessa forma, a previ- rificou-se que o desenvo ~Imen o amor e o ódio' que o bebê tem da
são e a satisfação das necessidades do bebê Com' base no que já foram as nhecer'nao apenas o
r importante reco. " d'o que ele pode evocar nela,
necessidade dela própria permitem à mãe criar uma situação, por meio ma,~e mas tambem o amor e o o I
da identificação projetiva, na qual as perturbações ao filho são tornadas
toleráveis. Isso facilita as seqüências deintegrativo-reintegrativas e está
I
conforme as descrições feitas por Bion dos devaneios 'matemos, medi- r o DESENVOLVIMENTO E A ADMINISTRAÇÃO DE
ante os quais a mãe recebe os elementos beta do bebê e, valendo-se de
OBJETOS PARCIAIS .
seus próprios recursos, entende-os pelo filho. Além disso, se a projeção I e

dela corresponder muito ao estado do filho, o selfdo bebê será assim afir- Postulei que a prmclplo
."
,-o d mae ~ e em pa. rte devido à natureza de sua
bebê vivencia apenas objetos totaiS, em part
mado, de modo que sua unidade será substituída pela unidade mãe-be- I devido à sua restnta vlsao a
' A'
.
d'd que começa a con
hecer melhor a mãe, ele re-
bê. Esse estado é desejável apenas em certo grau, já que pode tornar a
separação da mãe muito difícil para o filho, I vida em,oÇ1onal. me,l a,
conhece ,~,
I
que e a possy,
,
., '
' 1 concomltantemen
..
i dOIS seios e qu~ es es
t são apenas parte dela. Sua
,~
te. distingue, por demtegraçao,
Contudo é inevitável que ela frustre o bebê: algumas frustrações são expenencla emociona . boas e mas 'relaça~o ao seio e que," por con-
toleráveis, enquanto outras, não; o valor das frustrações toleráveis está no I •

que .ele tem expenenqa~


'A ,

. ,
em
." sep'arados um do outro, A eXls-
. " . b m e um seio mau, .
seguinte, ha ~m seio ~, e maus cria uma ~ituação na ÇJual emer-
fato de compelirem o bebê a administrar seus objetos bons e maus, es-
pecialmente pela projeção é pe!a introjeção, que agem no sentido de pro- I tência
. ." d~ ob,e~os pé!rçla!s
, , bonsformas de I'dar I com eles, Um objeto .mau
duzir uma preponderância de boas reservas nutrizes dentro do seI{ Des- gem, graçlualr:nent~;t.nu,m,~r~ ~tão arece que o seio esteja atacando o
sa forma, a luta do bebê o leva a ganhar cada vez mais controle sobre I Pode ser proJetado no seiO e e Pd'. bebê quem o morda. Por
seus objetos, A mãe o ajudará a desenvolver o ego e, desse modo, sua . b a na verda e sela O
bebê mordendo-o, em, or., - "d . mau 'acima os. objetos po-
capacidade de distinguir-se dela e de distinguir as fantasias da realidade, I ' 'r emp o o seIo
outr,o Iªdo, cpmo lmp Ica o ex. os' rocessos ocorrem com os oQjetos
, .
Cuidando com carinho e empatia do filho, a mãecria a base para a sen-
sação de confiança da qual nasce a1noção de identidade individual do be- I dem ser íntrojetados, Os mesm P,
bons: eles poqem ser pr
o,'etados no seiO, qu
,
e se torna idealizadoepode
ça~o simultânea
. . ~
de extase, .
O
bê. Esse cuidado está ao alcance de qualquer'mãe, qmtanto que ela con-
te com apoio do ambiente e,não sofra interferências. I gt;rar não apenas s.atls a ç a , '\ 'd 'ntro,'etado e isso dá ao b,~b~
'f. -o mas uma sensa ~
ª
. - , b,'etos bons aum~ntando a vly~n
' . b' de ser aSSim! a O , ! . , , ,A _

seiO bom, tam em po.


'd d d t r dentro de SI mÇl.lS O. . ., ,
' I ' 'dentíficação com 9 ob,~tobom,
Contudo, a visão de uma "mãe boa o bastante" pode ser faCilmen-
te idealizada e, por isso, finalizarei com o comentário de uma mãe sobre I oportum a, e, e e .
cia de si .rrwsmo coma, bom,pe a I ,~ . de ob,'etos parciais bons e
uma palestra de que havia participado, na qual se promovia essa visão.
I
\
Tudo
maus' se . tornaram
. I'
., issolmplca q
ue as expenenclas . .. "
.- n,. an'd'
representaçoes. ,,<-U .
o ISSO acontece
.
, estabeleceu-se
. o Amadurecimento • 109
108 • A

Fizeram-se outras tentativas de entender a natureza dos primeiros


~m <:.ampo de consciência. A princípio, os dois tipos de objetos não têm objetos. Eles devem necessari;:lmente originar-se do extremo vermelho
hgaçao porque o bebê não possui meios para associá-los um ao outro oU infravermelho do espectro arquetípico (Fordham 1985a), mas Bion di-
mas logo o ego começa a lutar com eles para manter os objétos bons se~ ferenciou ainda mais os elementos beta, que, por meio da função alfa,
parados dos maus. A ansiedade pode ser muito intensa e caracteriza-se dão origem. a elementos ~lfa. Trata-se de um,a fórmula muito abstrata que
pelo "tudo ou nada" que supõe um objeto.onipotente e implacável. se destina a evitar espe.culações. Eu a considero útil na diferenciação de
.? de~env~lvi~ento_ dos ~rocessos conhecidos como projeção, in- dados apresentados no material de casos e na observação de bebês. Am-
trole~oe Ideahzaçao - tao facilmente reconhecíveis como processos es-
bos os elem~ntos. beta referem-s~ a estados anteriores ao da fantasia, do
s~nclal~~~te ?síqui~os na vida adulta é para o bebê muito mais primi-
sonho, do mito e d~ fala.
tiVO ~A fl~lcO .. Asslm, a projeção só pode ser percebida quando a
expenencla ~fe.tlv.a puder ser comparada à realidade e vista como distin-
ta dela. O slgmficado desse passo poderá ser .compreendido se refletir- o objeto transicional
Os primeiros meses voltaram-se até aqui para os aspectos arquetípicos
mos que a. equação mãe e seI{, antes de mais nada, leva a estados que no deintegrativos da unidade mãe-bebê e aos esforços rudimentares do ego
adu.lto _senam chamados de delírios. Eles são geralmente chamados de para controlar os objetos parciais bons e maus com base nos padrões de-
prole~oes: embora nessa fase a projeção seja mais insinuada que existen-
rivados da dinâmica inerente à natureza do self A descrição foi posterior-
te, POI~ so qua~d~ o ego cresce o bastante para que haja f~onteiras entre mente ampliada por Winnicott de um modo que interessa muito aos ana-
~ be~e e a mae ~ que podemos dizer que o ego. projeta, int,rojeta e se
I~entlfica .com ob)etos; cada um desses mecanismos pressupõe a existên-
listas junguianos.
Há muito se sabe que as crianças pequenas às vezes se apegam a
cia de dOIs marcos de referência, isto é, sujeito e obl·eto. .. objetos que parecem essenciais ao seu bem-estar. Tais objetos variam
p ,
. orem, apesar de todos esses processos aparentemente ocorrerem muito, podendo ir desde um pedaço de pano a uma boneca, especial-
tndependentemente da atividade do ego e serem, portanto inconscien- mente se for macia. As crianças os tratam como bens preciosos e opõem
tes, eles ~evem primeiro basear-se em estruturas arquetípic~s que se te- resistência veemente, até violenta, às tentativas para sua remoção, como
nham detntegrado do self nos estágios iniciais do amadurecimento. Cada se sua própria existência dependesse de alguma forma desses objet~s. A
uma dessa~ estruturas tem fronteiras e, assim, pode projetar ou intr.ojetar necessidade do objeto demonstra que ele não faz parte do mundo tnte-
partes de SI mesmas em outras. rior da criança e não representa uma parte da mãe nem outro objeto li-
Apesar ?e tentadora, a dissecação minuciosa desses estágios iniciais bidinal do mundo exterior, pois na verdade ele é controlável e tem múl-
de a..madureclmento p,~de ~acilme~te induzir a equívocos, pois eles pres~
supoem estruturas egolcas Improvaveis. Contudo, a utilização de termos tipla significação.
O objeto transicional, como o chama Winnicott, tem sua origem nos
c~mpost~s. para os estágios intermediários mostrou-se útil: as identificà- . períodos em que a mãe está por perto e O bebê se sente seguro e à von-
ç~es proletlva e introjetiva, por exemplo, foram alvo de amplo reconhe"
tade. Então ele pode pegar o seio, ou um pedaço de pano que entre em
cimento. contato com a boca, para brincar e criar ilusões (ou delírios) que se t~r­
. A~tes de aba~dOriar ,esta tentativa de conceituar um período primi- nam carregados de sentido. Assim, o objeto transicionalliga-se aos oble-
t~vo, pre-pessoal e Implacavel, vale a pena tentar formular em termos fí-
tos parciais, ao mamilo, à pele etc., que podem ser utilizados ~a prod~­
SI.COS a natureza de dois desses processos dinâmicos conforme são viven- ção de satisfação em termos de necessidade libidinal, mas que nao a es~a?
~Iados pelos be~ês: a intr~ieção ê comer, ouvir, ver e inspirar; ii projeção produzindo. Oobjeto transicional não é um substituto dos obje:os Itbldl-'
e ~~cre~r, cuspir, regurgitar, vomitar e expirar. A Jidentificaça-o ao con- nais e agressivos; ele é antes uma tentativa inicial de representaçao do self
~oo . '. nao poss~:. c~rrelato. em termos físicos, sendo uma evolução
' das e, assim, pode ser a primeira de todas as simbolizações. No decorrer de
pnmelras expenenclas vestlgiais da.realidade.
• O Amadurecimento • t t t
110 • A Criança como Indivíduo •
............. " ... , ..................... " ..... ", ........... , .. " ........ , ............................. " ............... " ........ "" ...... . ', ............ " ..... .

seu desenvolvimento, o objeto, transicional adquire características arcai- ente frustrantes; podem ser agora reconhecidos como um só objeto,
cas e guarda em si toda sorte de representação de objetos parciais (isto é ;or conseguinte, o bebê preocupa-se em não destruir ou danificar, em
orais, anais e fálicos). Essas representações, contudo, são estendidas a~
eus ataques de raiva ou gula, o seio bom da mãe quando sentir que es-
objeto numa tentativa de ampliar a representação do seI{ pelo ego, bem
~e'seio é também mau. E agora ele pode sentir que isso ocorreu e reco-
como a ação integradora do seI{ durante os períodos de segurança e tran- nhecer sua necessidade de que a mãe continue a existir.
Nesse ponto ele poderá mobilizar alguns dos antigos sentimentos e,
qüilidade que medeiam entre os de atividade deintegrativa. Aqui se tor-
negando que o seio seja bom e mau,' criar uma ilus~o de que ele é ape-
na claro que os estágios iniciais de objetificação psíquica ainda estão por
nas mau e, assim, tornar aparentemente seguro o tnunfo sobre ele, Mas
vir e que o pólo "espiritual" do arquétipo está sendo usado e desenvolvi- .
essa ilusão não' funciona totalmente e assim seu triunfo não traz confor-
do; com efeito, Winnicott situa aqui a fonte dos processos éulturais (pa-
ra maiores detalhes acerca desse tema, cf. 'p. 136 e ss.l. to mas sim exaltação, excitação e inquietude,
, A defesa do bebê em seu triunfo (defesa maníaca) é feita contra ou-
tra seqüênCia derivada do sofrimento e da preocupação um protótipo
da culpa -, que o leva a cair numa espécie de depressão que ~ã.o deve
OB)ETOS TOTAIS ser confundida com seu equivalente adulto. Se éle de fato sentir ISSO, te-
Em torno dos sete meses, as observações e ~xp'~riências indicam que rá ainda de dar o passo seguinte na descoberta: ele pode reparar o dano.
ocorre uma mudança radical: o bebê reconhece a .mãe cqmo objeto Iibi- Ele pode sentir a presença de um buraco ou cavidade na mãe, feito du-
dinal (Spitz 1993) e fornece evidências mais exp!ícitas de que a separa- rante seu ataque de voracidade, e imaginar que esse buraco pode se~
ção o aflige. Até esse momento é aparentemente mais fácil substituí-Ia preenchido, restabelecendo a integridad~ da mãe. quan~,o ele o f~~, da
por outra mult)e;r, mas \lesse ponto o bebê p~de .dar ~ostras de depres- início a .todos os sentimentos que depOIS se tornarao o lamentar e o
são anaclítica (Spitz 1946) se a mãe ficar ausente P9f períodos prolonga- "querer melhorar" o dano causado por um ato acidental ou de1ib~rado
dos, especialmente em momentos de crise. Vários psicanalistas indepen- do qual ele foi a causa. As sensações de culpa e tristeza e a capaCidade
dentemente situaram mudanças por volta desse momento: Klein de empreender uma reparação originam-se nesse período.
formulou a teoria da posição depressiva, com início por yolta dos qu~tro Esse esboço que tracei da evolução na infância baseia-se em s~ua
meses e culminância aos seis; Winnicott o denominou estágiq da preo- maior parte na obra de Melanie Klein. Ao longo dos anos, em deco!ren-
cupação, mas prudentemente deixou de determinar quando ocorria. da da realização de mais pesquisas clínicas e dos dados da observa~o de
A mudança assemelha~se à passagem da "loucura" e não integração bebés, cheguei à conclusão de que nem o período em que 'predommam
para a sanidade e integração; ela constitui um passo da vivência dos ob- os objetos parciais (posição esquizo-paranóide, segundo Klem), nem a po-
jetos parciais à convivência com objetos totais, .isto é, pessoas. Enquanto sição depressiva podem ser encontradas na sua forma pura ~ simples, O
ela se processa, a noção de realidade aumenta até tornar mais nítida pa- que geralmente predomina são padrões muito meno:,org~ntzad?s.
ra o bebê a ,sua' situação de dependência. Ao mesmo tempo, o mundo Às vezes se pensa que a posição esquizo-paranolde e seguida ~ela
in,terior - já possibilitado em parte pelas evoluções perceptivas, mas tam- posição depressiva, como se elas fossem dois estágios. C~nforme m~~~ha
bem pela introjeção prévia de objetos bons onipotentes em número su- experiência, elas não,são estágios no sentido que pressupo~ uma sequen-
~ciente, garantindo assim que os maus objetos não os sobrepujassem -
cia, mas sim empreendimentos que persistem por toda a VIda e possuem
e alvo de crescente definição. grande conteúdo arquetípico, Creio que Bion ~os presto~. um grande,s:r-
A mudança das relações objetais parciais para as totais é especial- viço quando definiu a fórmula Ps<->Dp (esqulzo-paranolde <-> poslçao
mente significativa porque implica que os objetos que antes eram senti- depressiva) para indicar que qualquer das posições pode ser encontrada
dos como bons ou maus, extasiantemente satisfatórios ou catastrofica- na sua forma pura e simples, mas que há vários exemplos - na verdade,
t tz • A Criança como Indivíduo • • O Amadurecimento • t t}
................. " .. ,,, ... ,, ......... ,, ........................ " ............ , ....... .

provave~mente a .maiorià - que m?stram uma mistura·de perseguição e IDENTIDADE


d~pressao. Todavia: o model? aqUi apresentado possui uma útil função
Até aqui se pensou que o a~adurecimento ocorresse durante a fase oral
onentadora ~,_por ISSO, mantive sua explicação quase que integralmente
(nútricionaJ), quando o bebê está preocupado principalmente com a bo-
como na edlçao anterior.
ca como fonte de excitação, satisfação, frustração e ansiedade e como fo-
co de seu cada vez maior mundo perceptivo. Suas pulsões deintegrativas,
A formação simbólica .
refleti das na fome e na voracidade, concentravam-se na alimentação e
E~ geral ~s
imagens siinbólicas substituem cada vez mais a representa- seu ego ocupava-se em ganhar sobre eles um progressivo domínio. Po-
çao d~ o.bJetoAconc~eto. O a~mento na noção que o bebê tem da reali: rém ocorreram muito mais coisas que a simples alimentação; ele atingiu
dade e slmultaneo a formaçao de sua auto-imagem e .portanto d gradualmente um maior contrõle sobre a 'musculatura esquelética, basi-
.d d d ' " e sua
c.apacl _a e e cons:rUlr seu mundo interior. Seus objetos já não são do camente aplicada à exploração, atividadé :.... em geral constituída de mor-
tipO mae-self, m!s sim se~s próprios, e suas auto"imagens se distinguem der e arranhar com violência - que é uma das principais fontes de fanta-
das r.epresentaçoe: de obJetos externos. Esse importante passo é parte es- sias destrutivas. Além disso, as atividades anal e uretral desempenharam
senCial da fo~a~o d~s objetos totais. Ao mesmo tempo, o que o bebê um papel que, émbora não desenvolvido, foi abordado. Como na ali-
sente em rela~o a mae e a si mesmo distingue-se na formação de obje- mentação, a interação de energias libidinais e agressivas deu origem a an-
tos externos e Imagens simbólicas de seu mundo interior siedades acerca do efeito das excretas sobre a mãe e ele próprio. Por um
Contudo, a progressão para a representação simbólica tem' um as- lado, houve prazer e satisfação na liberação de tensões intemas: fezes e
pecto ~iferente, que é promovido pela formação de objetos transicionais. urina foram sentidas como partes do self que podem ser objetos bons, pe-
Eles nao pe~encem nem ao mundo interior nem ao exterior, mas refe- nhores de gratidão concedidos pelo amor e carinho, que trazem confor-
r:m-se ou aham-.se a ambos. Por conseguinte, eles estão entre os dois e to quando a aflição e a dor ameaçam tornar-se insuportáveis. Por outro
~ao lugar ~ u~ sImbolismo distinto, que liga a realidade e o mundo inte- lado, houve o medo de afogar; envenenar e destruir, à mãe e a si mes-
nor. Em pnmelro lugar, eles participam da concretude dos objetós parciais mo, com uma violência imaginária que a princípio se exerce impiedosa-
m~s sabe-se ~ue são importantes nos processos de aprendizagem, brinca~ mente sobre o corpo dela e dele próprio. Depois, à medida que os obje-
delra e fantasl~. Portantó;hos processos dé simbolização eles se prend~m tos se tornam reconhecíveis como sendo tanto bons quanto maus,
meno~ aosob)etos e maIs a formas plásticas de expressão, razão por que desenvolvem-se sensações de preocupação, tristeza e culpa e desejos de
posterIormente ganham significação do ponto de vista cultural':. reparação, dando ensejo à ocorrência da simbolização.
A importância do controle sobre as excretas tem lugar em relação
Conclusão ao controle sobre a alimentação e a expansão do campo perceptivo do
Bastante já.se dis~e que,possa permitir u~a conclusão relevante à teoria bebê, sua noção de realidade e, principalmente, seu mundo interior, lo-
ge~al da pSIC?logla anahtica. O self no qual se desenvolveram os objetos calizado dentro de seu corpo. Suas excretas têm lugar de destaque na ex-
onlpotentes mter-:elacionados passa a ser representado em um ego pes- pressão de sua existência como pessoa possuidora de uma superfície de
soal central orgam~do, que reflete sua totalidade e contém objetos oons pele que determina o que está dentro e o que está fora. Embora possa
~ maus. Embora hala um desequilíbrio essencial..,.. pois o número de ob- exercer pouco controle sobre suas funções fisiológicas internas, ele pode
letos bons supera o de objetos maus -, desenvolveram-se estruturas que cada vez mais decidir o que ingerir e o que expelir. Seu sentido de self se
podem tornar futuros passos na separação tristes, mas recompensadores. amplia à medida que sua imagem corporal se estabelece e pode ser abs-
traída, imaginada, simbolizada ou decomposta e aparentemente dissolvi-
da. Mas continua saudável, uma vez atingido o controle sobre as excre-
tas, a alimentação e a musculatura.
J-_____-------------
T-- • O Amadurecimento • 11 S
!
.
,~,,1,~... ~.,.A. ~~a.~F...como
.... " ..Indivíduo'
" ............ ., ... , ........ , .................... , ............... " .................. .

A FASE DE "SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO"
. Os elemento~ essenciais de uma representação do self no ego estão
mUIto be~ forn~cl~os n.esse paradigma siml?les da imagem corporal. Pa- Quando a criança adquire a capacidade de mover-se - primeiro engati:
:a compl~tar o slgnlficatlv~ di~a~\s~~ de;ua v!d~, outras atividades de- nhàndo e depois andando . atinge o estágio em que deixa de ser um be-
em s~r~cr!=s<:entadas: chor~r:,~\I~ar, cu~sJ?lr,.if).icialmente atividades de li- bé, por assim dizer. A partir daí, ela se torna fisicamente muito mais in-
beraçao, tornam-se c~mun~catlva~;.as átividades incorporativas~ como dependente da mãe: pode brincar com brinquedos de sua escolha, pode
s~~urar e agarrar-se, sao ~ole cada vez mais, reco,nheFi9as c({mo essen- pegar os que quiser sem precisar esperar que eles lhe sejam trazidos e po-
CiaiS ao b,e~~estar do bebe e~ p~rtaQto, como sentime~tos d~ s~jf de manipular uma grande variedade de objetos com uma habilidade que
~ v:sa~ oc~pa lugar especial ,na percepção e, n.9,~stabelecimento' aumenta rapidam.ente. .
da c~:mstancla ~ble.t.al, surge a sensação de ser uma e à mE:sma pessoa no Normalmente, uma criança nessa fase brinca sozinha por tempo res-
espaç.o ~ .no t~m'p0' Como ~ ~ercept9 da'distância coméça a funcionar trito e não consegue tolerar a ausência prolongada da mãe sem demons-
na pnm~lra mamada, o bebe e l~vado a explorar o mund,o exterior e a trar aflição. Se brincpr sozinha, tende a voltar à mãe periodicamente, su-
f?rmar a base ~ar~ re::?nhecimento de~ que os objetos ,contim!~~'a exis- bir-lhe no colo e depois descer para continuar a brincar. Em pouco
tir em su~ au~encla flslca. Mas a constancia objetal não é apenas visual tempo, a ausência materna pode ser tolerada e substituída pela presença
el~ se aplica tanto ~os objetos fora da superfície da pele quanto à pró: de outras pessoas até que, ao atingir a idade pré-escolar, a criança pode
pna pessoa do b~b~ que, no contexto do cuidado ,e empatia maternos, participar com sucesso de um grupo.
descobr: sua propna continuidade como ser; antes de ma'is nada' ela já Essas manifestações de independência progressiva devem-se tam-
estava la, c~mo o ser no seu sentido transcendente, mas não ~ossuía bém ao uso que ela faz dos brinquedos como representações simbólicas
representaçao e preCISava ser descoberta pelo ego gradualme~te parte ,de idéias e fantasias que facilitam a independência e desenvolvem as re-
por parte. " lações sociais por'intermédio 'de um meio' objetivo de comunicação. Es-
_ Os passos seguint~s
no autodomínio são dados explo- po~ ~~i;~a se período de tantas evoluções na vida da criança foi chamado por Mah-
raçao ~o mundo extenor. O bebê até esse momento dependia de que ler et ai. (1977) de fase de separação-individuação devido ao fato de pôr
sua mae lhe apresentasse partes de si mesmo direta ou indiret~mente ex- fim à "fase simbiótica" de identidade entre mãe e l:\ebê. Suas formulações
ceto no q~e tange ao ver e ao ouvir.,Se~ dúvida, ele pode começar; co- chamam a atenção para a crescente capacidade de' mobilidade como ex-
locar comida na boca quando esta é colocada perto dele o bastante e já pressão contúndente da individuação em ação. Além disso, há claros in-
apren~eu qu~ a expressão da raiva e do sofrimento resulta na obtenção dícios de que a criança esteja desenvolvendo suas funções egóicas nessas
de ob,etos, ale~ 'de podt;r fantasiar um controle mágico e onipotente so- atividades independentes, que em breve prescindirão da presença da
bre eles. Mas ~o quando co~~egue começar a engatinhqré que ele pode mãe, Certamente, há muitos sinais de identificação além dos processos
realmente aumenrn,r a p~ecI~ao e a variedade de sua capacidade de des- de individuação. A necessidade que a criança tem de reunir-se à mãe ain-
cobert~, na qual ate entao so os olhos e ouvidos tinham maior utilidade. da se evidencia entre as atividades exploratórias, mas nesse período não
~ln?a lhe resta uma outra atividade motora a dominar: a fala. Uma resta dúvida de que a identidade primária ou, conforme a chamou Jung,
ve~ ~tlngldo s~u. controle, o bebê se, viabiliza com relação a todos os re- partidpation mysrique, esteja entrando em progressiva dissolução. A vida
qUISitos essenCiaiS: torna-se uma pessoa basicamente independente e do- simbólica da criança pequena também se vai estabelecendo melhor à me-
tada de plena capacidade de comunicação, dida que ela adquire maior domínio da realidade. Esse é um período de
integração cada 'vez mais estável. Inicialmente, os processos deintegrati-
~
! :
vos predominavam no crescimento; gradualmente, isso passou a ocorrer
com menor freqüência e então, com o desenvolvimento de um mundo
--'-- -- --~ ------
----,------~---~.-------_.------- ,----
. o Amadurecimento • t t7
.t"~~,,.~...~.~~a".f.~.c~'!'.o..~~divíduo
, .. , .... , ... , ............
• .. ..... "." .. .
,. . " . " , .. ,

do pênis na garotinha e o orgulho do pênis no garotinho, aliados à ansie-


interior, teve
. início a verdadeirasimbol"
.. - e a noçao
IzaçaO - de realidade t
nou-se maIor; os processos de separação-individuação . _ or- dades de castração emambos, já se terão tornado conscientes se a atitu-
bem encaminhados. Por volta dos 2 '. Ia se encontram de dos pais for perceptiva e tolerante. Caso esta seja inadequada, as des-
to do ego tÇ!nha atingido um ponto s~~~~~~~d:~:dlzer que o.~res:imen­ cobertas serão guardadas ou feitas indireta e furtivamente. No período
processos integrativos prepondere sobre a p .. ~qu~ a ~stablh~çao dos edipiano, o estabelecimento da primazia genital e as rivalidades e ciúmes
tegrativas primitivas Os d . ,~sequenclas mtegratlvo-dein- doia genitorla do mesmo sexo tornam-se cruciais. As fantasias, sentimen-
, processos e mdlvlduaçã , , , d
desenvolvimento das relações de ob'eto totai _ o IniCia quando do ,,?~ toS e impulsos ligados ao relacionamento físico entre os pais ganham pe-
síveis, A definição de Jun d .' ., s_ sao agora mtldamente vi- SO e emoção maiores. A cena primai, que antes se acreditava representar
_ ,,_ g e que a mdlvlduaçao é "o processo de form - .
o testemunho da relação sexual entre os pais pela criança, foi posterior-
çao e partlculanzaçao do ser individual ()" " d . a
consciência [o ]' '" e o esenvolvlmento da mente admitida como representação não só do evento real, mas também
,_ ego a partir de um estado primitilJo de identidade" - I
mente a p h c a v e l . · e c ara- das fantasias da criança sobre a união sexual. Essa descoberta significa que
a situação é uma situação arquetípica. Ela corresponde à conjunção, mui-
O uso do termo "individuação" em rela -o' .' . . ~ .
sionou protestos de que 'e" _ , ça a pnmelra mfancla oca- to estudada por Jung (OC XIV) como característica central da individua-
eg~ preten~ Id.o por Jung,
sse nao sena o empr d' ção. De acordo com o mestre, a união de opostos à qual ela conduz tem
Para não gerar confusão, Henderson (1967
cessos de individuaça-o" d ) propos referenCia aos "pro- representaçõe's abstratas, arcaicas e sexuais quase infinitas. Para uma
,reservan o a palavra d' 'd -"
aqueles processos em que Jung tanto laboro 10 I~II, uaçao . para indicar
U'
criança, a cená primai abrange praticamente qualquer situação em que
da A _, b' _ u na u tlma parte de sua vi- os pais esteJam, ria realidade ou na fantasia, ocupados exclusivamente um
en~ejou:I~~oi~;~~oq~: ~~~:n:~:~;~o~~sta de Henderson é que ela dá com o outro em detrimento dela. Ela se adapta a essa situação atacando-
sos dinâmicos em cada caso fossem ~zl parecer ~~mo se os proces- os e téntando s~pará-Ios ou colocando-sei na brincadeira ou na fantasia,
é a minha pos' _ essenCla mente dtstmtos - e essa não no lugar de um ou de outro ou de ambos.
lçaO. Se o aríúdurecimento prossegue normalmente, a situação conduz
a conflitos que giram em torno de uma posição genital. Em meio à pro-
gressão, há regressões periódicas nas quais são revividas experiências ini-
o CONFLITO EDIPIANO ciais que levam a fantasias e especulações: os pais podem ser concebidos
A próxima fase crítica do amadurecim - . . como amamentando um ao outro ou tendo prazer sensorial em ativida-
ta-se do período durante o q I I ento e a do confltto edipiano. Tra- des excretórias, não sendo raro haver bizarras combinações. Como nas
heterossexual. Nesse período se an~ a bas~ para a subseqüente vida
ua
:' descobertas" sexuais anteriores os conflitos da criança podem ser ampla-
nitais amadurecem e tomam' as sensa5oes, os Impulsos e as fantasias ge-
-se conSCIentes.' ' mente inconscientes; com efeito, se tomarão cons~ientes ou não a de-
, O aspecto desse período para o qual quero ch~ . - - pender, em boa parte, do fato de os pais ,perceberem o que está aconte-
Importância para a crescente noça- o q .' mar atençao e sua cendo e serem compreensivos.
O , . ' ue a cnança tem de sua ide t'd d
s pnmelros conflitos de identidade tA ,_, _ n I a e, O desfecho satisfatório dessa situação freqüentemente complexa é
eles se tornam cada vez ma' 'd em !OICIO no penodo pré-edipiano; ocasionado por um realinhamento das identificações, Se os processos de
. IS eVI entes durante ,a fase '
começa a engatinhar e caminh ' em que a cnança amadurecimento anteriores tiverem transcorrido de maneira suficiente-
há uma liberação dos sentime a; e culmma~ na fase edipiana porque aí mente tranqüila, a identificação com ola genitorla do mesmo sexo esta-
peito como pertencente n os que ~ cnança tem a seu próprio res- belece-se firmemente. A ansiedade e a culpa da masturbação aumentam
S . ao sexo masculino ou feminino,
e levam ao domínio repressor das pulsões libidinais,
percebido a existência de d'~ paIs to ~rantes em quem confie, terá
e o menmo ou menina tiver ' I
I erenças sexuaIs antes dessa época; a inveja _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ... ________ .________________ ~ ___________________ --_o ___ - - --- --- --- - - - - - -
"
--
. o Amadurecimento • t t9
................ .••..•..••.•...•..•..• ••.•..•.....•..•...•..•..••...•...••....•••....••....•....•• ..••..•...•...•..•..•• .•..•..•..•.......••.•..•..•.•.•....•.•
1 18 • A Criança como Indivíduo •

LATÊNCIA E ADOLESCÊNCIA
A importância desse período é crucial para a formação da identi-
dade. Por meio da identificação, 'ps afetos sexuais da criança organizam- Com a passagem do confl 'lto edipiano'" todas
, as estruturas essenciais
, ao
.
II
se em padrões de compo.rtamento e respectiva? fantasias, os quais estão desenvolvimento posterior estão lançadas; cada uma se desenvol;era am-
de acordo com sua ill)agem corporal e sua herança física. Além disso, da mais em extensão, riqueza e compl~xidade; cada uma entrara em no-
esses padrões aliam-~e por intermédio dos pais à matriz coletiva, cons- binações e será aplicada em diferentes campos. .
vas com . d . o alcance da consciência cresce e se consolida no de-
ciente e inconscien~e, na qual a famoia vive. Nesse proc.es~o, as identifi~ A partir aqUi, _.' . d .
cações anteriores com o sexo oposto permanecem, mas são incorpora- volvimento de 'atividades ~xteriores a [amOI?,. ~ malo~a as quais na
sen do a personase diferencia ,e a cnança descobre
I, ,

das ao mundo interior .da criança. O conflito edipiano reforça escola. Durante esse peno , I • • • '

extremamente o estabelecimento de figuras de an~ma e anin:us que fi- como articipar mais ,da sociedade, e encontrar, ~ela seu lugar. _
cam prontas, por assim dizer, para serem projetadas nos relacionamen- Ja adolescência, essa rela~iva estabilidade :pertu~bada pela ~atu
tos amorosos da adolescê~éia. É aqui que as principais tendências dora- - o da sexualidade da criança. Seus efeitos,serao co~sI~erados adlan.te,
vante serão dirigidas para a adaptação social, na qual Jung colo.cou tanta ~:Capítulo 8, pois um significativo impacto da turbulencla da adolescen~
ênfase quando frisou os objetivos sexuais e adaptativos dos jovens. Ele . ' - d" - cabe na infância - se exerce sobre os aspec
cla - que, a bem Izer, nao , . .
tinha razão em fazer isso por causa da intensidade dé seu estudo dos tos sociais da vida, familiar e sobr~ a sociedade em SI. _.
processos introversivos da vida adulta. Mas, na verdade, n~ó há razões
para acreditar que as implicações sociais nas identificações que resqlvem
os conflitos edipianos sejam tudo. O aumento no sentido qUe a criança
tem de sua própria identidade é, com efeito, testemunho da ação de pro-
cessos favorecedores da individuação ou, dizendo em outras palavras, o
~ ! r ' ~" ,
alinhamento de suas fantasias e comportamento sexuais coin séus im-
pulsos e sua imagem corporal aumentam sua capacidade de uma verda-
deira auto-expressão. Sé o ego se fortalecer, a totalidáde' subjace,nte do
seI! não ficará necessariamente inacessível.' .~ "

..... '
Pode-se invocar a teoria da repressão em defesa da idéia de que o
desenvolvimento unilateral é necessário e inevitável. Essa' defesa, porém, 1..- 11

pertence ao conflito edipiano e leva à latência sexual, que só vai até a


adolescência. Contanto que ela seja promovida interiormente e que sua
função interior não seja mascarada por pressões pessoais e sociais, torna- .' ,
se parte dos meios de desenvolvimento do indivíduo durante a latência. I,

As defesas têm origem quando a deintegração do seI! dá vida aos OPOS"


tos e quando começa a luta do ego do bebê pàra estabelecer seus obje"
tos bons diante dos maus. O conflito evolui para a ansiedade de castra- (. .! , "

ção quando a fase edipiana se instala. Portanto, a repressão é uma . ,-, ~'

maneira de lidar com os conflitos interiores. Ela não se aplica quando a


maturidade sexual é atingida. Porém, se for· preciso invocar uma defesa
em apoio a uma teoria questionável, que dizer de todas as outras? Se toe I "

das entrassem em jogo, então a individuação significaria, a abolição de


funções essenciais do ego, e não é assim que ela é concebida. .
• A rom,1io • • 2 •
............................................................................, ..................",. ..... .

7 A Fam,1ia
Esse exemplo ilustra a tese de Jung de que a vida não vivida dos pais
se torna a carga dos filhos ou, em termos mais técnicos, a psicopatologia
dos pais é introjetada pelos filhos, A fórmula tem várias facetas, pois faz
grande, diferença o estágio de desenvolvimento em que a influência dos
pais mais se faz sentir, Os exemplos na literatura da psicologia analítica
derivam na maior parte das identificações pós-edipianas, quando a solu-
o amadurecimento só, pode dar-se em toda a sua plenitude num ambien- ção da situação conflituosa dos pais traz alívio para a criança cujo ego se
te bom o bastante, e ISSO implica uma vida familiar baseada num c _ tiver desenvolvido suficientemente para resolver o trauma após a elimi-
::~~~db~m ~ bastan~~, Aqui não há lugar para perfeccionismos, e a ~~:_ nação de sua causa, Mas o dano começa antes, na primei~a infância:
quando um bebê não é carregado, alimentado ou cuidado adequada-
, b I,;, a e o con ItO no casamento -é bem expressa na fórmula
mente, o resultado é muito mais grave e, às vezes, catastrófico. .
sim o Ica ~e qu~ o masculino e o feminino são opostos, Quando há
A fórmula negativa sobre pais e filhos pode com proveito ser rela-
opostos, ~a, co~fI~tos; um casamento sem eles é suspeito, Todos enten-
cionada a outra proposição: a de que, cuidando de um bebê e criando
dem que e mevltavel o conflito entre pais e filhos mas os co fI't
o' I ' -, , n I os entre um filho, os pais recapitulam sua própria infância. Ao fazê-Io, surge a
s ~als, s~ reso VI dos, sao Igualmente uma expressão de vitalidad
laça o conJugaI. e na re- oportunidade de reviver e resolver com o filho os fracassos ou desvios de
desenvolvimento resultantes de seu próprio passado, Só quando esse re-
Seria e:r~neo alegar que todo conflito é desejável; antes é a -su~ na- desenvolvimento fracassa é que ocasiona injunçõ~s ou danos à criança,
ture~ que e I~portante, tanto quantitativa quanto qualitativamente O pela impossibilidade de modificar a ~ida afetiva dos pais e pela persistên-
c?n~lto destrutivo e ostensivo entre os pais é nocivo aos filh ' cia de uma situação traumática por meio do reforço contínuo,
senCla de fl't' lOS, mas a au-
~on, ~ o nos assIm chamados casamentos "felizes" também o- Pode haver vários motivos para que um casamento ocorra, mas os
de ser preJudicial, especialmente quando a felicidade e' 'Irreal 'd I' Pd que têm especial interesse para os analistas junguianos são aqueles que
e ma n t'd
I a a" custa da Vida dos instintos, ,I ea lza a
derivam das identificações que o casal estabelece no curso de seu pró-
O qu~nto esses casamentos "felizes" podem prejudicar uma crian' prio amadurecimento, Eles decorrem de vários níveis, mas o modo co-
pode ser VistO em seus resultados a longo prazo: tome-se o caso de u ! mo se resolveu a situação edipiana dos pais em perspectiva é o mais im-
Jov~m que, exatamente como suas três irmãs, jamais se casou, Todas se portante. Para resumir, é necessário que marido e mulher reflitam
apal~on,a~am p~r hom~ns que não lhes correspondiam ou eram casados, suficientemente as características dos avós do' sexo oposto. A semelhan-
A p~mclplo, a ~Ida conjugal dos pais parecia boa; não havia conflitos os- ça demasiada cria reações infantis, da mesma forma que a diferença de-
tensIvos, mas sIm harmon' filh masiada toma a adaptáção mútua excessivamente difícil. A razão espe-
, _ la, e a I a adorava o pai, que correspondia à
~~t:::elçao, fazen~o-a_crer que era a filha predileta, como também acre- -cial para adotar essa idéia decorre das formulações de Jung acerca do
h ' m as outras Irmas, Entretanto, para manter essa estabilidade o pai significado dos costumes matrimoniais em tribos primitivas, Ele alega (Cf.
aVia pago ~aro em termos de si mesmo e de sua vida instintiva c~nfor­ Jung oe XVI, parág. 431 e ss,), seguindo Layard, que estes se estruturam
me Contou a filha em breves linhas antes de morrer, A mulher ~o' ra c '_ com vistas à garantia de uma troca compensatória adequada; são um
vente com ele I d ' onl acordo' entre as tendências endogâmicas e exogâmicas. As primeiras con-
_ ' e o resu ta o e que o estágio no qual a filha 'd I' ,
nao pôd d I ea lza o pai
solidam os laços da familia; as segundas levam à solidariedade grupal e à
e se esenvolver ou mudar para uma base 'I' ,
sua s l'd d mais rea ISta e assIm continuidade da vida espiritual. O excesso de uma ou de outra das ten:
~~ua,l a ~ permanecera infantil. Em decorrência disso tod~ a '
~:i~~;~~:: ~rotica adulta era frustrada pela interposição da 'imagem s~~ dências acarreta conseqüências indesejáveis, pois a família ou se tomará
uma unidade anti-social (por ser satisfatória em si mesma) ou não rece-
clonamentos dela COm os homens,
berá libido suficiente para estabilizar-se.
"I

• A Faml1ia • 12.] r
122. • A Criança remo Indivíduo·

A tese de Jung (ibid., parág.' 433 e ss,) traz consigo a idéia de que o Quando a mulher entrava em trabalho de. parto, era. costu~~ afa~­
casamento depende em boa parte da projeção mútua de formas arque-
I
I !"
tar o marido até que,.o nascimento tivesse ~corndo. eqUipe medIca, VI~
típicas inconscientes, o animus e a anima. Além das identificações com do tornar o nascimento seguro para mae e bebe, reforçava esse C?S
o/a genitor/a do mesmo sexo que ocorrem durante o amadurecimento I san e e assim o pai considerado um fator de complicação, era exclUldo
tum, ' , . 'do H'
Jung afirmava que elas representam o substrato arquetípico no qual ~ para que se pudesse fornecer o máximo de CUidados me ICOS. Ole em
identificações são construídas. O arquétipo se.expressa em fantasias típi- I dia, porém, o acompanhamento pré-natal t~rno~ o ~arto al~o bast~nte
cas acerca de como os homens ....:.~ no caso da mulher ou as mulheres - uro e se os pais quiserem ficar juntos, nao ha razao para Impe~I-los,
seg , .. . b E stern
no. caso do homem devem ser idealmente e pressupõe que os seres hu- I preservando assim a continuidade da expenencla entre. am os. XI
manos são funcionalmente bissexuais. O casamento se consolida quan- ' nicas de '~parto natural" que exigem a presença do pai e mostram que,
tec . c' '1
do cada parceiro carrega em si um volume suficiente de tais projeções ar- I num bom casamento, o parto pode tornar-se maIs laCI.
quetípicas, 'que só gradualmente são retiradas, à medida que cada um
precisa criar uma apreciação cada vez mais realista do outro. Essas afir- I
mações simples sobre o casamento nos bastam 'para os fins que preten-
demos. Na verdade, ele é uma combinação relativamente simples em ter-
I PRIMEIRA INFÂNCIA
Quando o bebê nasce, a mãe já está instintivamente preparad~ para aten-
mos biológicos que se torna extremamente complexa devido à gama de
fatores pessoais e sociais que influem sobre ela e nela se mesclam. De
I der com o apoio do marido, às suas necessidades. Ela se relaCiona com o
bebê por meio da preocupaçãomaterna,Primária. ":innicott ~unhou a ex~
momento, sua eficácia será considerada irr.efutávei e, assim, a discussão a
seguir pressupõe que os filhos sejam criados dentro de casamentos bons
I pressão no intuito de descrever a capaCidade da m~e de delxa:-se .absor
ver pelo bebê durante as últimas semanas da gravidez e a~ ~.nmel~as de
o bastante. Seu objetivo é indicar os efeitos que os filhos ex~rcem sobre I vida extra-uterina do bebê. Dessa forma, ela se mostra senslblhzada as n_e-
os pais e os benefícios que deles recebem.
cessidades absolutas do filho e, com efeito, imedi~tamente c~meça nao
A vida familiar inicia-se quando a esp~sa engravida. Então ela co- I apenas a satisfazê-Ias, mas a adivinhá-las. Nesse pe~odo, o ~ebe ,ten: pou-
meça a redirigir parte da ,libido que antes se., voltavél para <> exterior para
cos recursos para orientá-Ia e, por isso, uma necessld~d_e n~o satts~el~ po-
as mudanças ql!e seu corpo está sofrendo e.para o tiebê que cresce den-
tro dela. A prircípio, ela cuidil das atividades cotidianas como' antes mas
I de facilmente tornar-se catastrófica. O número de e,:'ldenclas qu~ m~lcam
que durante esse período se cria a base para o bebe formar a ~nmelra re-
a medida, que s~ torna cada vez mais dependente e necessitada de de~
pender, ,á estabilidilde de sua relação com o n:arido é testada.
I presentação do seI[ é cada vez maior. Winnicott, de quem proven: essa for-
mulação, usa uma notação diferente porque não utiliza o CO nC:ltO do self
O aum~nto das exigências que ela faz ao ~arido decorrem de sua I como eu: Ele argumenta que, se a mãe não propiciar um ,an:~lente bom
necessida?e de que ele'p!'lrticípe da gravid.ez faze.ndo ~ que pode para
O bastante, não se formará um self um falso self o substltUlra. Rec~ente­
aliviá-Ia de sua carga ,física. Mas, assim como se to~n'a fisicamente depen- I mente, Meltzer frisou a importânci p da mãe bela com ~eu be~o bebe e as
dente, ela também. se torna emocionalmente vuln~rivel e carente do ca-
rinho e da proteção dele. Tudo isso será suficientemente bem'entendido I complexas implicações daí decorrentes (Mel~er.e Hams WjllIams" 199~).
por UI1} casal ~ue confie um no outrop~lo f?to de h~~ervindo 'de famí- As últ,imas semanas da gravidez eas pnmelras sema~as d,e vld~ sao,
lias boas obastante"e' de ~e lembrar.como seus próprios pais se .compor- I ortanto cruciais para o.futuro desenvolvimento do bebe. Ha aquI uma
P , - d - b b - ue carre-
tavam e como eles mesmos reagifé:lm à gr?videz de suas mães e ao nas- seqüên,cia natural: a crescente concentraçao a mae no e e ~
'd d ' o mater-
cimento de outro bebê.. Nessas condições, oS instintos que incorporaram I ga dentro de si, levando ao nascimento, seguI o a preocupaça
. ,. Sem dúvida a mãe tendo carregado o filho dentro de SI, e
.'
serão confiáveis. .. na pnmana, " , " . t e
a pessoa que melhor pode administrar o penodo apos o nasClmen o ,
\
114 • A Criança como Indivíduo •
....... ..... , .......... " .. ,', .......................... , ............. , .............. , ....... " ...... ', ...... ,.".", ........... -... ................ , ........ .
e o bebê a sujeitará: ela terá de par-
" ."

assim, a mais indicada para garantir a formação de representações do ver-


1 de pela miscelânea de afetos a:a até ficar seca, mordida,. devorada
pO,n de sentimentos de ser S~g I d violentamente agredida, como
dadeiro self pelo bebê. Embora muito se possa fazer para compensar tiClpar " 'eitada msU ta a" . d ex-
aquilo que normalmente se chama "mimar", na verdade não há uma so- " anibalistiCamente , reI d' da e cativada. Toda essa riqueza e ,
c b' m da de ,ser amada, a ora anto o ódio e assim, seus pro-
lução definitiva.
ta;ê~cia deve evocar-Ih~ tan:o o a:~~:os, É provável' também Que se-
Uma conseqüência da preocupação materna primária é privar ain- p. entimentoS infantIS serao pro _ I Quais ela tenha passado na
da mais o pai da libido previamente investida nele. É comum não se Con- pnos s das outras crises de adaptaçao pe as
siderar a sua reação a isso particularmente importante, mas ela o é e, por , ".,.. evoca '
Ja,,· . " . d ' m aspec-
isso, a incluo aqui. Naturalmente, há para ele ganhos primários e secun- vida, - erna destina-se a mtro UZlr u _ .
Esse Quadro da atuaçao mat apesar de instintivo, nao raclO-
dários: satisf~ção e orgulho da-mulher edo bebê e novos motivos para - m aspecto Que, '1 Que
investir no trabalho, a fim de assegurar a sobrevivência material deles. to da natureza da mae; u fi' I Trata-se de um aspecto daqUI o ,
' t é con lave,
,
semlconsclen e, em termos tao e oglOS , pnn-
- I . os
Além disso, ele pode recorrer a identificações maternais e assumir uma naI e ' I ores entooU ' '
ng chamoU eroS, cu lOS ouv fi - S (1975 p. 305 e ss). Porem seu
postura maternal ao dar segurança à mulher e ao bebê e deixá-los entre- Iu , ' onhos e re exoe, ' m a
gues às descobertas mútuas sem interferências. Talvez o que ele faz te- cipalmente em Memo nas, S lista e não mitológico Que vIVe u
\ louvor tende a obscurecer o ,ero~::tida tomam compreensível Que ela 1,
nha merecido tão pouca atenção porque parece tão óbvio e seu feito, tão
..,... -ae As tensões a Que ela e :u , ma'ls outras menos; portanto,
ínfimo. Mas, apesar disso, sua confiabilidade e estabilidade emocional são '" . s eXigem , ' -'
dura e continuamente postas à prova, de forma que, com a chegada do
\ precise de ajuda, Algumas m~e. preocupação materna, na~ ha ~or
se uma· mãe não conseg~e atlOgl~;ealização da maternidade nao se, JUs-
primeiro filho, a família é submetida a um stress que jamais se repetirá da
\ Que evitar procurar substltu:os. A I 'el pode-se usar a mamadeira e
mesma maneira. - nao for to erav t d'd d fazer
Quando a fase inicial chega ao fim, a mãe pode reconhecer que o tifica' se a amamentaçao mãe não se veja impe I. a e
, 'I' de forma Que a
bebê estabilizou uma relação com ela. Doravante, ela terá a segurança de recorrer a aUXI lares, ,
poder frustrá-lo, pois ele será capaz de apreender o significado disso e aquilo de Que é capaz, _ s apresentam variação em sua capaCl-
Da mesma forma Que as mae. d'f em em sua capacidade de pro-
reagir - chorando ou mediante outras expressões de raiva - com previ-
dade de adaptação aos fil~os, os ~alsd~S e~ de cuidar do bebê por. alg~m
sibilidade cada vez mais maior, dando-lhe sinais de estar com fome ou
sofrendo de algum outro tipo de desconforto. A partir de sua própria e~­ ver suas mulheres de ap~l~ e CUld:parar mamadeiras etc. Se a VIda 105.-
periência da infância, ela adquire uma base relativamente segura para sa- tempo, fazer a comid~, a~u ar a ?r rova o mesmo ocorre com a do p~l:
ber quais a's emoções que seu filho pode comeÇar a administrar e o que tintiva e infantil da mae e p~sta a p. ' 'a e ciúme dos Quais ele precls~
, d de IOvocar mvel do atl-
se tomarádestrutivó; ao mesmo tempo, "ela pode chegara determinar \ para ele, esse peno o po , 'o dar-lhes curso, reconhecen ,
por quanto tempo seu bebê 'consegue tolerar sua ausência quando está tomar conhecimento e, se necessa~ do para sua mulher o apoio e a alu-
desperto. \ vamente suas limitações e c~nsegulO d'ções de oferecer pessoalmente,
a nao ter con I
O que a mãe primeiro conhece é o self de seu bebê. Entretanto, lo- da práticos Que eIe poss ,
go são claramente perceptíveis rudimentos de um ego que rapidamente \
cresce, principalmente por meio das primeiras brincadeiras entre as ma-
madas e do êxito na administração da frustração tolerável. \ CONFLITOS EDIPIANOS c
'de de ob-
, .

do plano - fOI uma espe


Essa tentativa - um esboço apenas - de traçar rapidamente a for- A' Qui o pai se manteve em csegun - mulher um lar seguro ~
ma como a mãe estabelece o par afetuoso implica um certo grau de re- te a participante e essencial Que forneceu a , o caso e, de fato, ultt-
gressão necessária. Pela regressão, ela pode estabelecer empatia diante do serva d or . Mas esse nem sempre e
outras formas de apoIo.
filho e desenvolver-se, se for preciso. Contudo, essa regressão não.res-
126 • A CritJnça como Indivíduo •
• A Faml1ia • 127

mamente um número cada vez maior de pais passou a part' ,


- pre-natals
truçoes -. , e do parto em si, IClpar da s Ins-
' - pod e ser defendida, também
nao _ ,é verdade_que _o papel
, dos pais
., Quando isso acontece, põe em relevo a intensidade d' ianos recebeu pouqurSSlma atençao e e cunoso que te-
que pode ap e Iptão poucos registros, Sem d'UVI'da, : Ie nao
suscitado - e- d'I~C~tl'd_o
se~tar o Impacto do,bebe, levando ao que Greenberg (1985) b
' A

re-
m ln o umonopo
" I'IzaçaO
- d o pai " O fenômeno por vezes atin'em deno
'/I
,: deVI'do ao tabu do incesto, que pressupoe que os_ pais farao, ,
"
d e quase d e IIrante: o pai pode sentir que foi ele e não ge Jntensld
_ a- seuS d esel'os sexuais se não forem
, ' impedidos por , sançoes
_ SOCIaIS,
d ' ~ , , a mae quem
pro UZIU o bebe! Naturalmente, ISSO constitui uma exceça-o ' , o amadurecimento, sexual sl~ntfica alguma co~sa e o fato de po-
' d ' , mas Ilustra o como sinal de matundade quando a cnança consegue ex-
o tIpO e sentlmento menos exagerado que o nascimento d tomad -, , 'I d 'd
E ",~
car, ' . m tennos IdeaIS, sua ,expenencia leva a uma relaça-o ma'
po e provo-
,
' Longe de levar a perversoes, ISSO sena um SIna . e sau e,
os paIS, . - fI' d'
, IS estreita que fosse reconh~ci~o ,co~~ pa,rte do padrao do, con Itp e 1-
com a mulher e a um maIor senso de responsabilidade pelo c 'd d
to d a ,mae- quanto do bebê, UI a o tan- no qual as pulsões libld~nals sao Intnnsecamente cootlda,s ~ela c!-ll-
ansiedade de castração, E preciso um ego forte Rara adrplQlstr?r es-
A me~ida que o ,desenvolvimento prossegue, principalmente duran- Isões, e isso só pode ser feito se a viçla sexual entre os pais for
te as gestaçoes postenores e o conseqüente nascimento de novos filh
'Ih - I OS, e eles tiverem parte na vida libidinal do filho, reconhecendo que
o,s mais ve ~s .se voltarao para o pai, já que a libido da mãe lhes é par- ;frustração tem papel essencial no amadurecimento, Qua~quer ansie-
cIalmente retlra~a, Em~or~ d~sde o início o pai possa ter íntima relação infantil por parte dos pais será implacavelmente percebida pelos fi-
c?m o fi,'h,o, sua lmportancla e imensamente aumentada quando os con- e daí decorre o ciúme infantil muitas vezes aflitivo, que pode ser ne-
flitos edlplanos triangulares se intensificam. As pulsões - que se mobili- "~ón~.·"",... e, assim, levar à recriminações entre os pais,
zam na criança com particular intensidade - são ambivalentes fortemen- A situação edipiana é a culminância do desenvolvimento de uma
~e sexuais e agressivas e podem provocar reações compa;avelmente e, portanto, não pode ser considerada isoladamente, A forma que
mtensas nos pais, Saber que a criança sente ciúme e rivalidade diante assume depende de vicissitudes prévias na relação genitor/a-fiIho e
doia genitor/a do mesmo sexo, além de culpa pela excitação genital e ~~.U\_c;:>~'v em sua resolução depende, mais uma vez, da saúde instintual
concorrentes ansiedades de castração, pode ajudar um tanto, mas em cri- . pais, Esse é o elemento importante da exagerada afirmação de Jung,
ses afetivas infelizmente não se pode confiar no saber intelectual. Ao lado da evolução libidinal, nesse período a agressividade contra
'A posição de' Jung diante da sexualidade infantil sempre foi - com genitor/a do mesmo sexo - expressa por meio de rivalidade e dese-
alguma razão muito criticada, pois suas idéias acerca de como com- de morte assume posição central, aliada à manifestação de traços
preender os fatos oS,cilavam entre extremos muito distantes, Em certas e masoquistas relacionados a esses desejos, A isso aplica-se o mes-
ocasiões, ele chegou ao ponto de dizer que encarava a questão do pon- princípio, A administração dos desejos de morte é talvez mais impor-
to de vista dos pais, como se a sexualidade infantil fosse um fenômeno porque é essencial que o pai ou mãe se comporte de forma a apoiar
introjetivo, Como jamais burilou esse posicionamento, não se sabe o que iração e a confiança que o filho concomitantemente expressa e, as-
ele realmente queria dizer, Contudo, sua exagerada afirmação tem seu fomente as identificações que conduzirão à repressão e ao prosse-
valor por incluir a vida afetiva dos pais na situação edipiana, Ela prova- do desenvolvimento da criança.
velmente se refere à observação de que os conflitos entre os pais podem
levar, por um lado, à manifestação sexual compulsiva nos filhos ou, p~r
outro, à supressão quase total dos sentimentos, impulsos ou fantasias dI- ADOLESCÊNCIA E DEPOIS
retam~nte sexuais na criança,
. , afrouxamento das identificações e a crescente independência do ado-
E comum haver ansiedade entre os pais porque, com seu comp~r­
tamento, a criança pode provocar-lhes sentimentos sexuais, Se a posiçao colocam pressões sobre os pais e, mais uma vez, é posta à pro-
a durabilidade do casamento,
12.6 • A Criança como Indivíduo •
" ... ...... , .... ', .... ,', ...... , ............... .... ,." ...... ., ........ .. .
" " ,
..
-"l':'~'< • A Fam.1ia • 12.7
I
I
:

mamente um número cada vez maior de pais passou a participar das ins-
I _ d r defendida também é verdade que o pa~el dos pais
de Jung n~o pOd,e i:~OS recebeu' pouquíssima atenção e é <:.un~so.que.te-
truções pré-natais e do parto em si. \ noS conflttoS e Ip _
· d tao poucos regls r '
. t os Sem dúvida ele nao e discutido
' . f -
Quando isso acontece, põe em relevo a intensidade que pode apre- nham SUSCita o .d ao tabu do incesto, que pressupõe que o: pais a.r~o
sentar o impacto do.bebê, levando ao que Greenberg (1985) bem deno: I abertamente d~VI o .
desejOS sexuaiS se n .
-ao forem impedidos por sançoes SOCiaiS.
. , f d
minou "monopolização do pat . G fenômeno por vezes atinge intensida- valer seus . ai sl'gnifica alguma COisa e o ato e po-
de quase delirante: ,.o pai pode sentiF que foi .ele, e não a mãe, quem \ dureclmento sexu ,
Mas se o ama inal de maturidade quando a cnan~ consegue~ ex-
produziu. o bebê~ Naturalmente, isso constituí uma exceção, mas ilustra der ser tomado como s . rso-es isso seria um slOal de saude,
o tipo de sentimento menos exagerado que o nascimento pode provo- \ . L nge de levar a peJYe, - . d'
citar os pais. o .' rte do padrao do conflito e 1-
fosse reconhecido como pa . I I
car. Em termos ideais, sua experiência leva a uma relação mais estreita contanto que . _ I'b' d' . são intrinsecamente contidas pe a c~ -
com a mulher e a um maior senso de responsabilidade pelo cuidado tan- \ piano, no qual as puls oes ~ Irais. m ego forte para admi[lisJr;;lr es-
to da mãe quanto do bebê. pa e ansiedade de ca,:;traçao. prfe~lso u a vida sexual entre os pais for
\ - . so pode ser elto se .
À medida que o desenvolvimento prossegue, principalmente duran- sas p~lsoes, e I~SO vida libidinal do filho, reconhecendo q~e
te as gestações posteriores e o conseqüente nascimento de novos filhos,
os mais velhos .se voltarão para o pai,iá que a libido da mãe lhes é par-
I saudável e eles tiverem parte na .
-
sua frustraçao tem,
papel essencial no (lma u ,
d recimento. Qual.quer ansle-
. ' . lacavelmente percebida pelos I-
. fi
cialmente retirada. Embora desde o início o pai possa ter íntima relação dade infantil por Pi'lrt~ ?OS ~afls s~~a 1n:~S vezes aflitivo, ql!e p.ode ser ne-
lhos e daí decorre o Ciume 10 anU mUI _ .
com o filho, sua importância é imensamente aumentada quando os con- , . . I ' recriminaçoes entre os pais.
flitos edipianos triangulares se intensificam, As pulsões - que se mobili- gligenClado e, aSSim, evar a I ' _ . do desenvolvimento de uma
· - d" é a cu mlOanCla
zam na criança com particular intensidade - são ambivalentes, fortemen- A sltuaçao e Iplana 'd da ·Isoladamente. A forma que
- de ser consl era ..
te sexuais e agressivas e podem provocar reações comp.aravelmente criançà e, portanto, nao p~ . . ~évias na relação genitor/a-filho e
ela assume depende de VIClssltudes P . ma vez da saúde instintual
intensas nos pais. Saber que a criança sente ciúme e rivalidade diante I ça-o depen de mais u ,
doia genitor/a do mesmo sexo, além de culpa pela excitação genital e o sucesso em s,ua reso u , orta~te da exagerada afirmação de lung.
concorrentes ansiedades de castração, pqde ajudar um tanto, mas em cri- dos pais. Esse e o ele~e~t~.:: I nesse período a agressividade contra
ses afetivas infelizmente não se pode confiar no saber inteleç:tual.. ' Ao lado da evoluçao I I lOa, r meio de rivalidade e dese-
· d o sexo - expressa po
A posição deJung diante da sexualidade infantil sE;mpre foi - com ola geOltor/a o mesm . _ I \. da à manifestação de traços
me pOSlçaO centra, a la .
alguma razão - muito criticada, pois suas idéias acerca de como com- jos de morte - a s s u . d ejos A isso aplica-se o mes-
sádicoS e masoquista~ r~laclc:na~os ~ ess~ss :; mo~e é talvez mais impor-
preender os fatos os~ílavam entre extremos muito distantes. Em certas
mo princípio. A admlOlstraçao o.s ese~o omporte de forma a apoiar
ocasiões, ele chegou ao ponto de dizer que encarava a questão do pon- ~ . I e o pai ou mae se c
to de vista dos pais, como se a sexualidade infantil fosse um fenômeno tante porque e essenCla qu filh concomitantemente expressa e, as-
a admiração e a c.onfia~ça ~e o I o d irão à repressão e ao prosse -
introjetivo. Como jamais burilou esse posicionamento, não se. sabe o qL!e sim, fomente as Idenuficaçoes que ~on uz
ele realmente queria dizer. Contudo, sua exagerada afirmação tem seu uimento do desenvolvimento da cnança'
valor por incluir a vida afetiva dos pais na situação edipiana. Ela prova- g ,
velmente se refere à observação de que os conflitos entre os pais podem
levar, por um lado, à manifestação sexual compulsiva nos filho? ou, por A ADOLESCÊNCIA E DEPOIS _._
outro, à supressão quase total dos sentimentôs, impulsos ou fantasias di- . . . _ crescente independencl3 do ado
retamente sexuais na criança. O afrouxamento das Identlficaçoes e a. . uma vez é posta à pro-
É comum haver ansiedade entre os pais porque, com seu compor- lescente colocam pressões sobre os pais e, mais '
tamento, a criança pode provocar-lhes sentimentos sexuais. Se a posição va a durabilidade do casamento.
\1
_s diferenças. Os pais têm que valer-se cada vez mais um do ou-
· Os membros do casal devem idealmen ~a relaça-o vai deixando de ser biológica para tornar-se cada vez \\
Igualdade e, assim ' complemen tar-se mut te apresentar comb'maçã ' aum~nta a neces~idade de os,pais
.
realtdade. No começo deste capítulo f' uament.e, mas essa nunca e ~ eSpsicológica e pessoal. A mu d ança
••,,,_._rO''>''I projeções que pod~m ha:-er. func~onado perfeItamente ate en-
.rts~t:e
Pri~~i"~lm:as
Ihanças e diferenças na história dos ' a Importância das s e a engloba alterações mUIto radIcaIS de mteresses Iibidinais. Talvez is-
do ao.lo"llo da criação dos filhos, mudanças t"'ão oe":: se aplique mais - poréf1"'! nem sempre - a' mae
e - que ao pai. Seja como
os propnos
. pais. têm de muda r progressIvamente
p. te quando
' .se entende que representa um novO teste para seus recursos interiores e o desenvol- "i

dureclmento prossegue. ' a medIda que o ama-


.:_~nl''''' de habilidades, o que se exprime muitas vezes na dedicação da
~m condições favoráveis, a virilidade d . ,
tambem a feminilidade da ma-e Tc " mãe a algum tipo de trabalho remunerado.
· _ . . o aVIa ISSO só d reforçada,com
d . . o paI sera o Contudo, embora a adolescência marque uma mudança na vida fa-
djeçoes tIverem ocorrido concom't I an t '
emente N po e acontecer se pro - . miliar, ela não é de forma alguma o seu fim. Os pais ainda são exigidos
ura, os aspectos do seif se deintegram . uma personalidade ma- de vez em quando e, com o casamento dos filhos, se tornarão avós, o
no contexto familiar definem-se em es:~turas arquetípicas que
. . ' como o arquetlp d fil ' que mantém disponíveis as satisfações instintuais.
paI e o ammus da mãe Cad d o o I ho, a anima do A adolescência, porém, põe fim à vida familiar íntima e contínua pa-
I _ . a um esses arquét' '
açao com os filhos e o sexo opost C :pos e um sistema de re-
·jeta dos depende da maturidad d o. d omo e ate q ue ponto eles são pro- ra dar início a um processo ao qual lung deu particular atenção, por ob-
I
servar nele processos favorecedores de individuação especialmente po-
I ea I'lzado e onipotente seia', eexlgIn
'd . o. ad oumaIOr
to '. Quanto menos maduro mais
trab Ih d ' derosoS. Ele estudou o período entre a meia-idade e a velhice, ao qual a
manter o casamento, pois as tendênci .. a. o os conflitos para
radas e resolvidas. . as mais InfantIS precisam ser elabo- individuação classicamente pertence. Certamente, a segunda metade da
vida não havia merecido atenção suficiente quando ele escreveu e, para
Há vários anos, Jung (OC XVII ' dar-lhe sentido, ele estava plenamente justificado ao praticamente restrin-
formulação útil Ele enCat' d ,parag. 332 e ss) apresentou uma
. (. IZOU as esigu Id d gir a ela a individuação. porém os processos favorecedores de individua-
membros do casal, um pod . a a es nase personalidades dos
. e ser maIs com I d' . ção _ no sentido de desenvolvimento da consciência pela atenção aos re-
que o outro. Ele notou q p exo, lIerencJado e dotado
. ue o membro ma' I cursos interiores e sua ativação, tornando assim as projeções flexíveis e
satIsfeito pelo outro que s IS comp exo do par era menos
. ' ' e contentava em ser f . d . passíveis de integração - são processos contínuos.
sa dIsparidade não é trab Ih d f aSCIna o e contido. Se es-
casamento que derivam a a a, ornece uma base para perturbações no Até aqui a necessidade de maior individuação foi considerada em
alhures a satisfaça-o que n-d a Pbes,soa mais complexa. Ele ou ela buscará termos da necessidade dos pais de atingir uma compreensão mais realis-
, ' ao o tem da/o m Ih / ' d - . ta das necessidades um do outro pela retirada de aspectos do animus e
especifica é a pro,' eça-o d ' u er man o. Uma tendencla
a anima ou an'm I da anima. Além deles, porém, há o arquétipo da criança, que é uma re-
p~esentação
extraconjugais.' I US, o que eva a casos amorosos
. mais completa do self(Cf. OC IX/I, parág. 259 e ss). À me-
A formulação
dos indivíduos de Jung t end e a d'
envolvid elxar de lado o grau de maturidade dIda que a criança cresce, a remoção do grupo de estruturas e funções
concebe neste livro _ si o~ifique - em .t~rmos do amadurecimento que se e~presso nesse arquétipo provoca novOS processos individuativos. As fun-
to, dos recursos interi g Eca a establhdade do mundo interior e, portan- çoes que se tornaram especializadas precisarão ser reavaliadas à luz das
nalidade s- I ores. nquanto a complexidade e a riqueza de perso- necessidades da personalidade como um todo. Por isso, a vida familiar
Iização proveitosa demento
ao um e h b'l:do ou t
ro 'e a capaCIdade
. de estabilidade e a uti- P?de ser entendida como um meio não só de satisfazer as necessidades
estável e com lexa as_ a I I ~des. Em outras palavras, a personalidade mais ~Iológicas (instintuais), mas também de concretizar processos individua-
A f " ? . nao preCISa representar uma perturbação à família. t1vos nas personalidades dos pais. A adolescência dos filhos é uma épo-
requencla
tro é muito f ' comd que um parceIro . 'e parcIalmente
. contido no ou- ca que testa até onde os pais foram capazes de usar a vida a dois para o
en atlza a pela ad Io escencla
A e
• suas seqúelas,
• que darão maior
t lO • A Criança como Indivíduo •
...... .. ............... .... ... ............ . . ,' ....... ,', ............... " ................. , ...... ,,' .................... .

amadurecimento. de seus próprios selves, ond e Ies consegUIram


ate'e .
adaptar ~ paternidade e a maternidade às crescentes necessidades dos fi-
I
'~os e ate onde eles conse~~irão continuar a dar sentido às suas próprias
~Idas qua~~o.os laços farnlhares deixarem de ser o centro de seus inves-
I 8 o Contexto Social
tlrnentqs hbldmais. . I
I
I o conceito junguiano de inconsciente coletivo tem sido usado para cobrir
a soma dos arquétipos. Todavia, Jung o aplicava também mais especifi-
I camente, seu aspecto sombrio não integrado - à estrutura da sociedade.
Como parte da vida grupal, a sociedade desenvolveu formas de re-
I presentar o funcionamento arquetípico em mitos, práticas religiosas e em
certas expressQes da arte, da política e da lei. Em todos eles, os padrões
arquetípicos são relativamente conscientes e contribuem para a forma~
I ção de padrõés Cldturais. Mas nenhuma sociedade representou todas as
necessidades e aspirações de seus membros individualmente, e estas per-
manecem Rrimitivas e largamente inconscientes. No conjunto, são elas
que formam a sombra do grupo e abarcam o inconsciente coletivo.
Os arquétipos não representados não aparecem na vida social co-
mum e, assim~ a maioria não tem consciência deles. Porém, se o padrão
cultural prevalecente for instável - e hoje em dia essa é a situação predo-
minante ,os arquétipos inconscientes se ativam e tomam-se vagamente
discerníveis no descontentamento social. Se sua importância for apreen-
dida por um número suficiente de pessoas, el,es podem levar à formação
de grupos que advogam reformas sociais, mudanças religiosas, novas con-
quistas na arte e congêneres. Com o decorrer do tempo e se as circuns-
tâncias forem favoráveis, os grupos crescem e a~ idéias q':le representam
- sejam religiosas, políticas, intelectuais ou estéticas - são assimiladas pe-
la comunidade, acarretando algum tipo de mudança dI? padrão cultural.
Jung estava particularmente interessado .nos sonhos e fantasias indi-
viduais que expressassem mudança coletiva incipiente (Cf. OC X). Alian-
do-os à sua teoria e ao conhecimento da história das religiões que havia
adquirido, ele inseriu os sonhos de seus pacientes em seu contexto mito-
lógico. Suas refinadíssimas pesquis<ls o levaram a interpretar grandes ten-
dências da civilização e a destacar os símbolos do self como indicadores
de uma espécie de processo de individuação grupal que ocorre em nos-
sa época (Cf. OC XI, parág. 553 e ss).
131 • A Criança cemo Indivíduo • r
"
......................................................................................................................................... , ............. .

Suas pesquisas nunca foram suficientemente desenvolvidas por seus


t
. , I
' cas da primeira , a fonte dos heróis
'nfaAncia _ edhe-
seguidores. No atual contexto, elas exigem inv,estigação acerca da origem es das defesas mania I a 'os episódios de depressao e es-
ren - - os de forma a gum , ._ d
das representações coletivas na primeira infância e 'na infância; o presen. roínas, ~ao :ao rar ~omo os processos histéricos e de C1Sao "o eg?, qU~
te capítulo dedica-se ao estudo das origens infantis. ers
P onahzaçao, bem ft em uma especl" 'e de, "insanidade normal . . A Impla
d I
E'mbora os bebês e as crianças pequenas possam participar e in- muitas vezes cons l U , erbial e quando.predommam"o a o es-
abilidade desses, estados ~ pro; spécie de abraço indireto, co~o
~ente ~ edum~:
fluenciar na formação de seu meio, é só na adolescência que as crianças
estão suficientemente independentes para exercer algum impacto sobre precisa mais de. apoIo do controle direto da disciplina,
- caz com o bebe em cnse, o q , ,
a sociedade. Então seus conflitos de identidi:iI::ie se tornam dinamicamen_ a mae I, 'Id' ,
te agudos, enquanto elas lutam para encontrar seu lugar na sociedade. O que logo provoca mais rebe la. tato direto com o padrão cult.ural e o
aumento de sua muitas vezes perturbadora rebeldia decorre em parte de O adolescente entra em ~o~ d m'a forma muito diferente,
. D sde bebe mas e u , f
teridências'émcursb e, como tal, tem seu;valor. Novas alianças estão se inconsciente coletlvo.. e 'd'" t' mente pela sociedade na qual sua a-
ele vem sendo influenciado ln I~e a e'o das atitudes coletivas dian-
formando 'e, no processo, o garóto ou gardki'pode entrar em relação Com . fl A . e expnme por m i.
a sombra da vida sociât'e; assim, o comportamento uítrajante dos adoles- milia vive. Essa 10, u~nCl~ s. fA" dos métodos usados para CUIdar d.?s
centes muitas vezes se torna um escândalo: Nessa situação, a regressão é te dos bebês e da pnmel~a 10 ancl,a,. à educação formal. Então, ele nao '
evidente e os padrões de relacionamento erltre o bebê e a mãe são revi- filhos e nos preparativos mtroduton~sz agora e o fará na vida adulta, ~as
vidos, expressando-se em confusão e desorientação. . lidou diretamente com eles como o a laça-o com as primeiras influen-
d 'em boa parte d a re
o resultado depen era ra que ele demonstre agora.
O elemento regressivo não é apenas negativo, como este relato po-
cias e do comportamento,que se espe I ção ao nascimento e aos cuida-
de sugerir, pois estabelece a continuidade da vida impessoaJe, quando
Os costumes prevalecentes em re a . dos por suas necessidades
integrado, contribui para o estabelecimento dos sentimen'tos' de identifi- ; 'd - foram determma .
dos do recem-nascl o nao I -o entre os pais devena ser
nem pelas de seus pais, ,Pensava-se bqub _~ re ~~Iher ia para o hospital, do
cação do adolescente no contexto social cada vez mais amplo em que e
ele se vai inserindo, ao mesmo tempo em que se afasta da familia. O ado- 'd I asclmento do e e. a '. t
lescente tem atrás de si um longo desénvolvimento que não desaparece qinterrompI . a pe o n I 'do a nao _
ser como VI,
'sl'tante após o nasClmen o,
i d
ual o mando era, exc UI , 'd' o e a parteira CUidavam e
simplesmente. É verdade que ele:adqLlii-iu experiência na escola, mas ela ou quando o parto era fel.to em casa, o me IC'do Um costume , . d'1_
mUIto
representa uma introdução' àpenas parcialmente adequada ao mundo ' , érpera e o man . , .
tudo, interpondo-se entre a pU bA d ma-e logo 'após o nascimento, IIm-
mais amplo que lhe coloca tantas exigências impessoais. As origens da in- .. separar o b e e a . I
fundido conSistia em , 'd de separaça-o 'ele era eva-
controlável 'turbulência Ha adolescência jazem, portanto, na primeira in- Pá-lo e pO-,lo• b · só apos um peno o ,
num erço, I m seguida era novamente
fância, quando a mãe e, posteriormente, outros membros' dá familia cons- mentado e ogo e ,
do de volta ' para . ser damataçao _.mtra-u' t ' a' vida aquática era abrupta-
tituíam a "sociedade" da criança; foi em relação a ~Ies que o Protótipo removido. ASSim, a a a~,
erma
. to mas nesse caso, pelo cos-
mente interro~pl .a - n a ele e~am removidas com agua e
dos padrões posteriores de comportamento foi lançado. ' 'd ao so pelo nasclmen , , ,
Em tódos os períodos ilíiciais da infância, os processos de amadure- tume, As substanCias que prote~em. Pta ntequando uma c'ompreen-
cimento pressionam a criança :no sentido afastá~ladas implacáveis pul- 'de -
a relaçao com,a. m,
ãe interrompida JUS me
• consideraria indesejavel.
, ', ,
sões pré-pessoais e levá-la a forinar percepções 'de si 'mesma e da mãe co- são mais empatlca do bebe a _, boa parte controlada pelo
mo uma pessoa por. quem ela se preocupou.' Na addlescência, as Da mesma forma,á amamentaçao e em taça-o os métodos mais
estruturas pré-pessoais revivem em reação às nOrriJasmenos pessoais que ,. . comuns de amamen, .
costume. As tecn.lcas mais _ do leite e as táticas para indUZir ?
se espera que ela cumpra, Portanto, as origens infantis são necessárias se difundidos de retirada e conservaçao conhecimento do tipo de CUI-
a criança deve encontrar sua identidade em novos 'padrões de vida. 'As hábito baseiam-se mais no cos~u.me que no los podem ser observa-
fantasias onipotentes resultam em ataques aos pais e à sociedade decor- dado que requer um bebê. Vanos outros exemp
dos no ,dia-a-dia. ,
.34 . A Criança como Indivíduo •

m bebê precisa receber da mãe para desenvolver-se e


Todavia, a significação desses costumes não pode ser facilmente
guntar o que ~ I formar-se a exigências específicas reveste-se de
.apreendida porque eles são amplamente aceitos sem muita - ou nenhu- -o como faze- o con
na
ma - reflexão e estão demasiado próximos a nós para que os vejamos
irnpo~ância ext~a'de que essa atitude relativamente nova não prov~m de
ém perspectiva. Já que nas sociedades primitivas os costumes são menos E bem ~er ,a, corre da investigação da psicopatologla dos
iminentes e menos carregados de afeto potencial, os estudos realizados reflexões soclologlcas . Ela de d s doenças mentais. Não obstan-
nelas por antropólogos sociais mostram mais claramente como os costu- da descoberta das causas a f
pacientes .e rofundidade das novas idéias e técnicas re erentes ao
mes relativos ao cuidado dos bebês se relacionam à cultura em que ele te a amplitude e a p 'd aça-o Elas nos fazem pensar que, se
um dia viverá. Esses estudos são realizados em sociedades relativamente , d b b' merecem cansl er .
cuidado os e es . bebés as crianças e os adultos per-
pequenas e mais previsíveis que ás .grandes sociedades ocidentais, as soubermos as c~n~ições n~s q~~I~~:se sab~r cortará caminho por entre
quais, de todo modo, abarcam uma gránde variedade de subculturas. manecem saudavels, a aphcaça to Estes precisam ser muda-
Os estudos comparativos mostram claramente que costumes radi- d - Iturais de comportamen '
antigos pa roes c~ receber o apoio que lhe possibilitar~ empre-
calme~te difer~ntes podem ter sucesso. Outras culturas dão importância dos para que a mae venha a _ d bebê sempre que este tiver von-
muito maior à utilidade do' pai do que a nossa; lpermitindo que ele parti- gar técnicas como a da amamentaça~ d o d parto e do cuidado do bebê.
cipe do nascimento. No que se refere ao bebê, às vezes eles são amamen- tade ou o pai possa participar da gravl ,ez, o ca do bem-estar do be-
- , 'o conheCimento acer
tados inicialmente' por uma ama-de-leite, pois o colostro é considerado Em outras palavras, nao e so , - da doença mental mas tam-
nocivo para ele; em outras, a mãe pode encarregar-se dele sozinha, ama- , ' ,. mesmo a prevençao : .
be que e necessano, . IÀ es há forte resistencla a mu-
mentando-o, não pelo breve per'íódo atualmente considerado aconselhá- bém o conhecimento pessoal e SOCla. s veez revolucionárias à saúde
vel na nossa sociedade, mas até os 3 anos. Durante esse tempo, o mari- . d essárias mas que par cem
danças de atltu e nec " .' de impossibilitar a implemen-
do pode ser parcialmente excluído como parceiro sexual, pois espera-se ' De fato essa reslstenCla po .
menta I d o be b e, , 'd' d em determinados casos,
que a mulher invista toda à sua libido no bebê. - 'I é claramente 10 Ica o , d .
taçao daqUI o que fazer em seguida é: que capaclda e m-
Uma característica que sobressai em todas essas pesquisas é que os A pergunta complementar.a _ h ma _ de atender a pa-
, bebe nao tem nen u
diversos métodos de cuidar dos bebês estão' intimamente relaCionados terior tem a cnança - um ? d e' que ela começa a se rela-
_ . d ortamento. Quan o .
ao comportamento que será exigido depois da criança; do adolescente e droes coletlvos e comp _ I I a sombra - o inconSCiente
do adulto na sociedade.' . . . . m o padrao cu tura , a su " .
J cionar dlretamente co , ' ' t r á s de cada um? E obVIO
I' ' .

Aplicando'essa idéia á nossa própria cultúra, a muda~ça revolucio- fluxo histonco que esta por ,.
coletivo e com o I d de o 'Inl'cio muito pelo contrano:
nária que hoje come,ça a emergirno cuidado dos bebês e na criação dos - t" ersa ne es es ,
que a criança nao es a 1m ' d onfrontá-Ios diretamente na ado-
filhos deve ser socialmente significativa. Com efeito, se antes a mãe e de- ela cresce em direção a eles e so po e c
pois outros membros adultos da famma ocupavam o centro .do palco fa- lescência. . . de endência objetiva do inconscien-
miliar, hoj~ a satisfação das necessidades de desenvolvimento do bebê lung frisou eSP~clalmente: 10 I P o inconsCiente se expressava em
estão ganha_ndo ca~da vez mais importância. Ao mesmo tempo, novas ati- te coletivo em relaçao ao ego. ara e e, m caráter de objetividade. De
tudes e métodos educacionais que diminu~m a importânc~a da discipli- . . - o criadora que assume - .
formas da Imagmaça I' muitas fantasias e declaraçoes 10-
na e buscam atender às necessidades de, desenvolvimento das crianças imediato, ocorre-me uma ana ogla com m irmão ou irmã que na
vêm sendo introdu~i~os, Às vezes as mudanças são provocadas pelo co- . (\, d a criança afirma que tem u b
fantls, ,,<-uan o um d I er sua fantasia como se fosse o -
nhecimento científico, mas nem sempre. É bem mais provável que elas verdade não existe, ela pode esenvo v , tempestade essa criança
. .I rdadeira Durante uma '. I
sejam parte integranté da idealização da democracia. Como se supõe que jetiva e sentl- a com? ve "~o ~uando lhe dão uma explicação slmp es
esta exija maior senso de responsabilidade individual, acredita-se que se- pode dizer<Eleesta zangado . ~ . então reafirma: "Tem
ja aconselhável fomentá-lo o mais cedo possível. Por conseguinte, per- e racional do fenômeno, ela espera que termmem e
t 36 ......
..... • A" .......
Criança como Indivíduo •
, .......... ., .
• 0'0 ............. " ............ " ........ 0.0 .. " .......... " .................. " ..
• O Contexto Sodal • t:l 7
............................ , ................. " .. , ............ .

gent~ lá em cima e ele está ::a~gado": Tais C9muf')icados, ,qlfe os adultos


con~lderam pensa~e~to sub!etIvo ou mágico, ainda são vivenciados pe- ) e o leitor talvez deseje especular se as imagens numinosas do capí-
la ~nança .co.mo ~bJetlvo~, pOIS ~erivam d~ um nível no qual sua fonte in-
mal' sobre sonhos (acima, p. 41 e ss.>, como também a pintura da orelh.a
tuO A.. . P s
tenor subjetrva nao se diferencia das reahdades exteriores. Tais oco _ deste livro, não serão derivadas de fenome_nos t~anslclonals. or ~al
. - rren- ente que pareça a idéia, mais umavez, pao creIo que sua generahza-
CI~S s~o comur:s na primeira infânciê! e Joramdetalhadas no estudo das atra .. . - _ fi. t
pn:nelras relaç~oes objetais. No Ci3pítulo 6, viu-se que a idade provável ção possa ser corroborada: o~ objetos tran~lclonals .nao sao su IClen e-
em q ue o beIJe pode vivenciar ~ mãe e ii. si mesmo como pessoas totais mente comuns no desenvolvimento, d9 bebe ~ da cnança., .
com a.lgum. gra~ de estabilidade está em tomo dos sete meses. Por volta
A obra Children and their Relig}on, de Lewl.s (19~2), contem material
de~sa Içlade, a vida pessoal do bebê. começa; antes disso, predominam os muito relevante, especialmente açerca da interação entre a criança .e ~
ob!etos parciais. _Então o ego não se desenvolveu o suficiente para que ambiente religioso em que vive .. A autora estudol..! os elementos objet~­
haja re~resentaçao de uma pessoa total; não pode haver sujeito e objeto
vos das brincadeiras e fantasias infantis relacionados a ensinamentos reh-
no sentido que essas palavras posteriormente terão; e há muita vivência giosos, que poderiam ser aprofundados ou d~~estimul~dos,. de acordo
com o modo e a épocq em que foram transmItidos. Alem diSSO, ela fez
de fusão e união entre eles. Portanto, todas as experiências anteriores aos
um interessante estudo sobre a atividade grupal, no qual most~a como a
sete meses são pré-pessoais e objetivas, e a unidade entre sujeito e obje-
fantasia objetiva representa um fator de manutenção da coesa o do g,ru-
to, bem como sua fusão, também são relevantes porque no inconscien-
te coletivo a fusão entre indivíduos é requisito essencial. Sem ela não ha- po. As crianças formavam gangues, por assi~ ~izer, em torno desses slm-
veria inconsciente coletivo nem psicologia de massas. ' bolos cuja significação morria quando o objetlvo pelo qual o grupo apa-
Por conseguinte, é de esperar que as raízes primordiais d~s elemen-
rentemente se formara deixava de operar.
tos ~mpessoais que evoluem para o inconsciente col~tivo na vida adulta A persistência da natureza objetiva dos. ~b!etos é ~antid? e seu de-
~stejam n.e~se P:rÍodo inicial; é necessário Supor que os implacáveis ob- senvolvimento facilitgdo por regressões penodlcas. ASSIm, ha um lu.gar
jetos parCiaiS pre-pessoais persistam e se desenvolvam no sentido de criar positivo para a regrE;s~ão que assegura que as tendências de pers,:>nahza-
um ambiente não humano. É durante esse período, bem no início da vi- ção em cur~o não dissociem a personalidilde ~e mo.dos de reaçao ante-
da, que se formam os objeto transicionais. . riores e mais primitivos, necessários à adaptaçao socIal. . ,
~i~nicott a~~ava que el~s estão na origem da vida cultural por: Na primeira inf~ncia é fácil o acesso ao não-ego, mas depo~s, a m~­
dida que o ego se fortal~ce e as representaç?~s do s:l{ficam maIs estabI-
que sao Intermedlaros entre o mundo interior e os objetos reais do mun-
lizadas, constroem-se sistemas de defesa e so e posslvel ~ntrar em c~nta­
d? exterior. Ele definiu uma série de estágios no desenvolvimento dos fe-
to com elas por meio de regressão controlada. Nos penodos de cnse
n.on:enos tra~sicionais - eles adquirem significado e textura; demonstram
vltalldade.e tem realidade própria; posteriormente se tornam pensamen- freqüentes no bebê, agudos no adolescente_- e, nas cris~s .da segunda me-
t~s, f~ntaslas e, pode-se acrescentar, sonhos por meio de lfm processo de tade da vida estudadas por Jung, a regressao e necessana para a n:anu-
d.,fu~ao~ Quando esse processo atinge o ponto necessário, os objetos ori- tenção da continuidade do ser. Nesse pr~cesso, ao .mesmo te~f>0 atmge-
ginais :ao #relegado.s ~C! li:nbo". Por conseguinte, pode-se conjeturar que
se uma seqüência deintegrativo-integratlva que cna as condlçoes para a
os .fe~o~enos ~anslclonals çonstituam uma rai~ ontogenética da "psique mudança .contínua. • .. .. ..
obje~lva : eles tem natureZ? arquetípica e, assim, contribuem de modo es- Por meio da considerçção qa psicodinamlca mfant!l 100clal, tornou-
sen~l.al para a experiência artística, religiosa e ou~os tip()~ de experiência se possível entender como as partes da psique se sepa~am ~ara form~r
espI~t~al. Embora essa tese ai.nda não esteja intei~amen~~ definida, dados um não-ego relativçmente permanente, composto de objetos I~pessoals,
de vanas_fontes se vêm aCUl;:nulando para confirmar a idéi~ de Wi~nicott. e entender Çiinda como eles podem ser acessíveis à cOf)sciêncl~ quando
Alguns sao fornecidos no capítul9 dedicado ao brincar (Cf p. 24 e ss. aci- necessár·i~. Existe ainda uma outra situação que precisa ser avaltada. ~u­
rante o amadurecimento, a ansiedade do bebê diante de suas pulsoes
i 38 • A Criança como Indivíduo •
.. ,' ............................. , ........ "... , .. . , ................ , ...... ................ , ...... , ......... . ................. ............... .
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. o Contexto
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Social· 09
...... ..... ........ ........ ...... .
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[
agressiva: é especialmen~es!gnificativa. Os objetos agressivos tendem a comportamento é derivado disso. De especial significação aqui é a proli-
ser exclUI dos do corpo pnnclpal do self devido à necessidade do b b~
. -. e ede
fo:mar representaçoes do self sentidas como boas. Os objetos maus são I feração de representações não-pessoais do self que podem facilmente dar
lugar à idéia de que o inconsciente coletivo na infância é insondável ou
nao apenas expulsos mas também isolados do integrado do seI" Es
b' " /. ses
o Jetos maus proJetados, a prinCipio sentidos como partes do próprio _
I ilimitado. .
Alan, um garoto esquizofrênico de 6 anos de idade, conhecia o sig-
d d - - Cor
po ou o a mae, sao progressivamente deslocados para um objeto não-
~uma~o. A observação de bebês, as reconstruções e os primeiros sonhos
I nificado e o emprego dado pelos.adultos à água, ou seja, ele sabia que
ela é usada para beber, lavar etc. Mas a água também representava a uri-
mfantlS confirmam que esse modo de administrar objetos maus é co- [ na dos bebês, que eles percebem como inundações; isso era como a chu·
mum .. Provavelmenté é a estreita relação entre as formas pré-pessoais e va, que era Deus urinando. A urina poderia ser boa, ser bebida e fazer
p~steno:merite, impéssoais e as pulsões agressivas e destrutivas o que de~ I bem, ou ser má e cheia de germes venenosos que matam. Assim, Deus
o~gem a crença de que os conteúdos arquetípicos são perniciosos às poderia ser bom ou mau. Na medida em que a água e a urina poderiam
cnanças. Como se viu no .Capítulo 3, são comuns entre as 'crianças pe- I causar uma inundação, poderiam afogar e matar a ele e a seus pais. Por
qu~nas . os sonhos de ansiedade com animais que mordem e atacam. outro lado, graças a essa propriedade, dentro dele a água tomava-se pe-
Alem diSSO, .no princípio, registram-se representações não-pessoais em so- I rigosa e, nas crises emocionais, era liberada por meio da incontinência
nhos, especialmente com fogo e água.
urinária. Deus inundava o mundo, como os bebés imaginam que podem
, ~odavia, segundo a concepção de Jung, o inconsciente coletivo con- I inundar a mãe e, assim, como ele podia sentir-se como um bebê, Deus
tem nao apenas componentes perigosos e destrutivos, mas também ele- estava tanto dentro quanto fora dele.
~entos bons e potencialmente criativos. Conhece-se então algum meca- ! Ele usava a água para fazer o maior mar do mundo - "maior que o
nlsmo pelo qual os objetos bons possam ser expulsos e mantidos isolados Tâmisa e que o oceano Atlântico"; inúmeras fantasias a respeito foram
d_o ~roc~sso individuativo na infância? A resposta é fácil: os objetos bons encenadas. A água era suave e plástica, portanto era a mãe que ele aca-
sao Idealizado: e m.anti~os isolados' da representação pessoal do selfquan- riciava e afagava; era o leite materno que ele bebia e se tornava um ocea-
do o mundo mtenor e percebido como avassaladoramente perigoso e no dentro dele; ele sugava no seio da água para ter dentro de si o que
qua~do os processos destrutivos parecem ameaçar os objetos bons do chamava um "peitinho de mãezinha", que podia alimentar bebês sem-fim
be~e. A fim' de p~otegê-Ios, ele os projeta na mãe, idealizados, tornados e restabelecer pais danificados. Mas era também o leite do pai que esta-
onlpotentes e, assIm, preservados. Como se verá posteriormente os so- va em seus genitais, que criava bebês e era sugado ou expelido para den-
nhos das c~a~ças pequenas refletem essa situação, pois neles a; mães, .tro da mãe e dele mesmo para alimentar e dar prazer. Quando sentia que
c?m p~uq,Ulsslmas exceçàes, assumem papel exclusivamente bom e pro- sua destrutividade havia criado um deserto dentro da mãe, do pai ou de-
VIdenCiai,. as vezes em completa dissidência da realidade. le mesmo, a água redimia a situação sob a forma de chuva ou rio (de lá-
Pelo estudo de crianças esquizofrênicas podem-se coletar as mais in- grimas). A água numa bacia representava as entranhas das pessoas. Teria
ter~ssan~es i_nform~çõ~s ac~rca .dá "persistência de processos pré-pessoais que haver objetos flutuando; poderiam pular para dentro e para fora e,
~e Ideahzaçao, proJeçao e mtroJeçao. Quando essas crianças vêm à aná- acima de tudo, ser vistos.
lise; os estados inici~is já estão. consideravelmente modificados por pro- Todos esses significados atribuídos à água foram expressos verbal-
cessos de amadurecimento e distorcidos por situações traumáticas muito mente por ele e se faziam acompanhar de atividades conformes, com pis-
precoc:s. P~r conseguinte, as fantasias dessas crianças não fornecem in- tolas de água, brinquedos, uma bacia e uma bandeja cheias de água. Se-
forrr:açoes dlretassobre a primeira infância em si. Mas, estudadas em co- ria difícil, praticamente impossível, de qualquer forma, transmitir em
nexao com o histórico do desenvolvimento_da
.40 . A Criança como Indiviauo •
.. ,.........................
" ........ " ...... , .................... ...... " .....
, ....................................... , ...... , ............ , ........ ,.............. .
',

ta da evolução passo a passo da gama de afetos aliada à mistura de me-


táforas simbólicas e raciocínio lógico era impressionante - não assim co-
mo acabo de fazer, juntando os temas essenciais para a exposição, mas
no contexto de sua relação com os irmãos (um dos quais era bebê), os
pais, as aulas de religião - nas quais ficava muito atento e uma vez criou
9 A Psicoterapia.Analítica
uma comoção ao contestar a doutrina de que Deus era bom _ e comi-
go. A despeito da funda impressão provocada; a proliferação de imagens
era essencialmente defensiva contra ansiedades intensas. Sua análise mi-
nuciosa levou às origens da cisão e dos processos de reconstrução defen-
o MÉTODO 'ANALÍTICO
siva, à situação traumática primordial, verificada entre a mãe e ele quan-

~lu:I aie~
do ainda bebê, e à cena primaI, que assumia proporções aterrorizantes. f. • • 'd - de estruturas complexas e sua reduçã? a~s
Em decorrência da análise, a fantasia tomou-se administrável, e ele Analise Significa aos elementos irredutíveis. Na prática, Imph-
pôde deixar de ser absolutamente cruel e passar a demonstrar interesse
i componentes ~~:~~~o do paciente para descobrir que estru:~ras com'"
ca a escuta e a o . intervenção para ahvlo do so-
pelos outros. Além disso, houve um aumento da simbolização e da capa-
cidade de utilização de seus bons dotes intelectuais.>
I Plexas lhe causam ansiedade e requerem
I menos para compreen
de~ -Ias
,
frimento ou, se isso for Impo~slve , a~
' , f

de intervenção. Antes de mais


Esse exemplo foi escolhido por outra razão, além da de indicar co- O analista pode fazer diversos tipOS 't do
I . , - . e agora,
f

Porem, como
mo as imagens impessoais coletivas se desenvolvem sob a pressão de pul- nada ele visa elUCidar a sltuaçao no aquI e'la e' frutoo de
mUI
sões implacáveis: ele está relacionado às pesquisas que Jung fez sobre a al- ' - r - 'tuação presente, ou s ,
que se esclarece ~ao s~ ap :ca ~ SI . explicar o que está ocorrendo,
I
transferência ~e <:.ut~a sltuaçaodi e ~r~ClS~e suas origens na situação fami-
quimia. A água é uma imagem amplamente usada pelos alquimistas como
símbolo da maten'a pn'ma e da pedra que a penetrante análise do mestre Os dados entao sao mterpreta os a uz. ,
demonstrou ser um símbolo do seI! Será que vamos longe demais'ao su-
I , da ou no mundo mtenor,
liar prese.nte ou passa dimentos analíticos devem ser usados
Para serem eficazes, os p~oce
gerir que, se esse garoto tivesse crescido na época em que a alquimia flo-
resceu e tivesse entrado em contato com os'alquimistas, poderia haver-se
I . . t· sSlm a oportunl a e
'd d e a gradaça-o das reve-
tendo em Vista o pacl:n ,e. a , analista junguiano deve usar de
tomado também um alquimista? Naturalmente, ele 'precisaria recuperar- lações apresentadas sao Importantes e o d que faz
se primeiro de sua esquizofrenia infantil. Isso não está, de forma alguma, I 'b mo de seu saber, em tu o o " '
tato e empatia, em co r - de interpretações analíticas, eXigem-se
No processo de rea I~ça? .
fora das raias da possibilidade e de fato aconteceu com ajuda da análise.
A associa -ode elementos incons-
Uma característica da mudança verificada nessa criança é que a pro- necessariament~ proc~ssos. smtetl~os. d fesas p~a que possam ter lugar
cientes eCO?SClentes I~ph,c~ mu ~:nd: isso ocorre, o analista será leva-
liferação de imagens passou de compulsiva e concreta a maleável e sim-
bólica. A mudança foi gradual e dependia da compreensão e administra- novas e beneficas combmaçoes. Q . t 'verbalmente des-'
' . t . ue aconteceu e a ln ervlr
do a mostrar ao paClen e o ~ _ analíticas. Como qualquer tratamen-
ção das pulsões predominantemente destrutivas e da associação das
fantasias aos objetos e situações das quais derivavam.'
sa e de outras formas que. nao sao álise" pura e simples, o termo
U

, Muita atenção se deu a essa mudança, conhecida entre os analistas to compreende algo mais -que a ~n , '
propnado ' ,
"psicoterapia anahtlca e mais ~f
junguianos como a mudança da concretização à simbolização na forma- f • N f •

dutivase sintéticas suas técnicas de


ção de representações coletivas arquetípicas e do self No Capítulo 6, pos- Jung classificou como ana Itlco-re d' . - om base na alega-
tulou-se que a verdadeira simbolização era atingida na seqüência deinte- tratamento. Pode-se . levantar o b'lça-o
e. a essa IVlsao . cI modo no pa-
ção de que ambos o~ p~ocesso.
grativo-integrativa chamada por Klein de posição depressiva. No Capítulo s se venficam de qua quer
técnica representa apenas a ati-
lO, maior atenção será devotada a esse tópico, ciente. Porém isso sena Ignorar q.ue uma . .
• A Psicoterapia Analítica • 143
.... ', ........ . ................. .... ", ................. , .. .
Na terapia infantjl a atitude analítica é a mais adequada porque Os ..,., ....... ,., SPECIAIS DA TERAPIA INFANTIL
processos sintéticos estão em,intensa atividade. São eles: primeiro, a sa-
tisfação em desenvolver novas habilidades físicas e emocionais; segundo, TÉCNICAS E . ere que <> núcleo da análi-
esboço introdutório aCima apresenta~~n~~ga crianças. Poréf11 há técni-
a premência absoluta do crescimento, com base na reduzida estatura fí-
:~pecíficas eX'~~:de
O. nguiana aplica-se tanto a adultos q . consideração. Elas derivam
sica e nos prazeres reais e imaginários gozados pelos adultos em razão de
se da terapia infant,l que de produzir associações
seu tamanho; terceiro, os próprios processos inconscientes de amadure-- dca dimensoes
- da criança'de "sua Incapa
cimento. Por tudo isso, no que tange à criança, é melhor visar à análise as. e de sua dependência dos pais.
verbaiS .
elucidativa e propiciar condições para a entrada espontânea em opera-
ção dos processos sintéticos.
, '. línica ou consultório psicológico ~e~~s ~als
A criança e levada a uma c .. d d bom grado da iniCiativa.
Transferência I. - estel'a partlclpan o e .. t
sl~rtalaSfor mobili~da.
e assim, talvez nao " dificuldades prlnclpalmen e
O evento mais importante e valioso do ponto de vista terapêutico é o de- éom efeito, isso pode apresentar Todavia, salv?
.. d d riança pelo ana IS _ d
senvolvimento da transferência, na qual o paciente faz projeções no ana- se a hostlhda e a c . levada é uma expressao e
situações especiais, o fato de a cnança ser
lista. As projeções criam uma situação dinâmica que garante que a análi- sua incapacidade de transportar-se,
se se tome um procedimento tanto afetivoquanto intelectual.
Devido à transferência, é necessário que o analista tenha sido trei- . as de ue os pais se queixam não sã~ ne--
nado, submetendo-se ele mesmo a uma análise, de forma que possa es- Em segundo lugar, os slntom q. 'ança sente precisar aluda.
2. s para os quais a cn .
tabelecer mais facilmente a empatia com o paciente. Mas há ainda outra cessariamente os mesmo . . m os pais pode, inclUSive, re-
' conflito Intenso co ta
razão para a inclusão da análise no treinamento dos analistas i':lnguianos: A criança que esta em . I 'sso se aplica quando se tra
1
a projeção transferencial do paciente tende a provocar uma contraproje- cusar qualquer tipo de ajuda - em gerda '1. qu" ência. Por outro lado, as
d ortamento e e ln
ção, apropriadamente chamada de contratransferêDcia, que a princípio de transtornos e comp . xatamente como os adultos e, como
foi vista sob uma luz negativa. Çom efeito,foi uma freqüente fonte de crianças desenvolvem ansleda~e e d I _ 'sso se aplica à dor física,
d erer livrar-se e a I
d~pressão um~
representação e administração erróneas dos pacientes nos primórdios da eles também po em qu , . thivos Assim há uma ampla gama
prática psicoterapêutica. A análise de treinamento é o melhor método pa- à e aos sintomas fIslcos a I I 'ar criança a desejar c1a-
f. t que pod em ev
ra tornar a contratransferência administrável e convertê-Ia num indicador de sintomas de so nmen o t'do que usariam seus pais.
ramente ser ajudada no mesmo sen I .
confiável da transferência do paciente, que, como demonstram recentes
pesquisas, é o que ela pode $e tornar nas mãos de um profissional hábil.
Muito já se discutiu a relação entre a contratransferência ~ a empa-
3 . ,. .' . ,. imamente ligada às ansiedades dos pais
O sofrimento infantil esta I n t . estar mais neles que na
. .. ode mUitas vezes .
tia, que ,às vezes são de difícil distinção, principalmente no caso de pa- e com efeito, sua causa P , . Imente uma questão de dlag-
própria criança: ssa. ~. _ de a'uda para os pais que p:eclsarem.
' E s'tuação e essencla .
cientes regressivos, que podef!l ser absolutamente incapazes de análise e
precisar do analista 91gp mais próximo da preocupação materna primá- nóstico e de dlsponlblltzaçao J . trabalhar em conjunto com
ria. Numa situação assim, a análise pode ocupar lugar secundário em re~ Por isso o terapeuta infantil pode preClS~r
I d dItos a quem os pais pos
sam ser encaminhados,
t a
lação ao cuidado da criança. A entrada nessa difícil questão que ainda um terapeuta e aforem
u . d as e e les demonstrarem querer r _
se suas anSle . dades demaSia
está à espera de esclarecimento - está fora da alçada deste capítulo. Po-
rém o caso de Bil/y, adiante descrito, ilustra como o cuidado físi~o pode
tamento para sI.
ser necessário durante a regressão, mesmo que os métoçlos interpretati- . . reduzida capacl'd ad ~ de as-
'. . u. e da
4. Um problema mais Im.portan~:~t~o o brincar pode substitUi-Ias, de
vos COntinuem a manter sua utilidade.
sociações verbais da cnança,
144 • A Criança como Indivíduo'
.,."."., ......... , .. , ....................................... .. .............. ,..... ... .....
. , , , .,
'f
........... , .................... , ... , .. " ... . ,!
............. "
.
.. ,..................... .
ia Analítico • t 4 S
• A PslCoterap""""""""""" ............ .

.. . ' . res ai umas informações indiretas mui-


forma um tanto distinta, ná
indicação de pistas de processos incons- Nessas entrevistas prehr~\Ina P' g mplo é inútil sugerir tratamen-
- .d obtidas or exe ,
cientes em c~rso. Naturalmente, a sala de tratamento deve ser conce- to importantes terao SI 0_ . ' b m claro que os pais estão prontos e
bida de modo a permitir maior liberdade de movimentos. o para uma criança se nao estlver ~tas vezes eles não estão motivados
t 't' lo e cooperar. MUI 'ma-
dispostoS a acel a- 'd te já na primeira entrevista, na
Por tod~s essas razões, a análise junguiana Infantil é uma técnica que exi- para a terapia, e isso pode flca.r e~1 enntar com ajuda em sua lida com o
ge treinamento especial. A perícia que o analista infantil deve atingir cen- neira como formulam? de:eJo e;d~~ar qualquer tratamento para e.ssa
tra-se em: dar início à terapia, já que isso requer a elaboração de um diag- fil ho , Enquanto essa dsltuaçao P . ' tela pois é extremamente Im-
d com mUita cau , .
nóstico da famnia, utilizar técnicas lúdicas e estar permanentemente . nl"'
efla ';""" ::I deve ser abor a o - de responsab'I'dade
I I
dos pais perante
,
o
atento às ocasiões em que os pais precisarem de ajuda. ortante não solapar a sensaçao . hegam ao fim de sua capaCidade
P
filh o 50, quan do e Ies, enquanto paiS, . c .
filho necessita uma 'espeCI'e
,('.
I . deCidem que o I
j~idando a terapia: diagnóstico pr~1iminar em determinados aspectos e , caminho se abre para o trata-
Quando ~~~ criança é levada a uma clínica ou consultório, ela geralmen- de ajuda que eles não podem dalr e qU~ : haver explicado isso ao filho
te faz uma idéia da razão, mesmo que não lhe tenham dito qual era. As- mento analítico. Em tai~ ,casos, e es ~~n~e dessa necessidade antes da en-
sim, a idéia que ela faz da entrevista pode ser expressa de forma diferen- e assim, a criança pode ~a e~ta! COnSClquanto se pensa e encontra melhor
, , - nao e tao rara
te ou variar em relação à dos pais. Havendo determinado com os pais a trevista. Essa sltua~o m sido analisados.
razão imediata para o encaminhamento do filho, o analista poderá ver a exemplo entre pais que tenha d pais trazem consigo o filho sem
criança a sós uma ou duas vezes para que,'ao voltar a discutir o proble- Outra situação ocorre quan o. os d . da em seus próprios con-
- I e precisam e alu
ma com os pais, já tenha formado uma impressão própria da criança e compreender que sao e es q~ , e tomou o veículo deles e, por
. o ais A cflança s ' .
adquirido alguma indicação de sua motivação. Às vezes a criança se re- flitos pessoais ou mterpe:s , '~dicada _ ela só precisa que os pals.sal,a:n
cusa a entrar na sala de terapia, e isso terá de ser permitido, pelo menos isso, a terapia para ela nao e I d transformá-Ia num bode explatono
no início. de cima de suas costas e parem e ,
Após essas entrevistas, a mãe ouan\bos 'os pais são entrevistados. para suas próprias ansiedad~s. _ f miliares extremamente deteriora-
Eles poderão ser chamados outra ou mais vezes; na verdade, tantas quan- Deixando de lado as sltuaçoes ~ over a criança do lar, esses
- ' d fazer senao rem .
tas forem necessárias. Essas entrevistas destinam-se à apresentação não das, em qu~ n~o ha na a ad dia nóstico cujas implicações precisam ser
só das informações 'que eles precisam fomecer, más ·também daquelas são os prinCipaiS problemas e g
. que o analista julgar necessário obter, a partir do conhecimento adquiri- examinadas previamente .
do em suás entrevistas com a criança. Mas há ainda outra consideração
mais importante: o grau de transferência que os pais introduzem no tra- Diagnóstico da _condiç~o da .:ria:a~i\iar deve ocorrer paralelamente à inve:-
tamento e o grau de probabilidade de desenvolvimento de uma àliança A compreensao da sltuaçao I - om a maneira como os pais
\ d ' ça e sua re açaO c . . '
de tratamento. É importante que o analista saliente que sua'fúnção não tigação do estado a cnan 'fi - es diagnósticas da psiqUlatna 10-
é interferir na vida familiar e -que ouvirá a opinião dos pais. Por' isso, é I lidam com ele. Para isso, as c1assl Icaço . ar se uma criança é autista, es-
preciso deixar claro que a comunicação precisa ser mantida e que o ana- fantil são úteis, mas insuficient~\7s:~~;I:bsessiva ou fóbica, se sofr~ d~
lista estará disponível por telefone quando isso for necessário. Também é \ quizofrênica, retardada menta, storno de comportamento, mdl
uma boa idéia deixar combinadas reuniões mais regulares quando o ana- um estado de ansiedade ou de~:n tran da ao self Para compreender
lista sair de férias. Dessa forma, o analista infantil assume total responsa- ca que a situação, conflitu,o~a fOI mc~:;~;aorigens e a estrutura do trans-
bilidade pelo tratamento- não ereio que os pais devam ser automatica- \ sua significação, e necessano co~hed um histórico são muitas vezes, mas
mente encaminhados a outro teràpeuta se precisarem de ajuda extra. I, torno. A observação e~abo~ _e_ __
................. , ........................................................ ,,, ................ ,,,•......................................
A Psicoterapia Analítica • t 4 7
" ... , ............... .

~em sempre, reveladoras', Para a roEi


la preciso lidar Com as ansl'edad Pd' und~r essa compr~ensão, talvez se- com nada disso. E quando nenhuma dessas possibilidades se concretiza,
c ' , e s os paiS' um d' -. _
leito sem que se constitua' I' ' lagnostlco nao pode ser é muito difícil ou impossível para a criança desenvolver-se, pois encon-
' . uma a lança tera ~ .
cnança e os pais Ror c . . peut,ca entre o analista a
- - . ' onsegulnte as Int t - . ' trará em seu cotidiano sempre as mesmas situações que deram origem à
sao utels desde o início po' t' I. e~re açoes e outras Intervenções sua neurose. A significação das neuroses persistentes nos pais varia con-
, IS era pia e dlag 't' -
ra,m~nte separados, Com efeito num nos '~O nao podem ser intei- forme a criança, a faixa etária e a família, mas, de modo geral, no perío-
nostlco não podem ser obt'd ' _ certo sentido, os detalhes do diag- do pré-adolescente, a mudança concomitante dos pais é aconselhável e
l( d ' '. I os senao no fim da análise
o aVia, boas indicações de onde'd . às vezes necessária, caso se queira dar prosseguimento à terapia. Por is-
ser suscitadas logo no início A ' res~ e a fonte do conflito podem so, o terapeuta infantil precisa descobrir o que na atitude dos pais é que
Ul
basta descobrir que no passa'doqh o co~celto_ da real situação é útil. Não
' ouve sltuaçoes c Y , . está obstruindo o amadurecimento, e, se possível, colocá-lo em evidência,
tam bem se elas estão ativas n ~ nicas; e preCISO definir fornecendo ajuda tanto para eles quanto para o filho, quando esses pais
c . o presente ou nao O t "
101 usado por Jung (Cf OC I V ' . ermo presente real"
'I ' parag, 373 e ss) pa c ~ . tiverem condições de fazer uso dessa ajuda. Muitos pais agem melhor ,i ,'
ama gama de presente e pass d b . ra relerenCla a esse quando não induzidos ,a uma terapia para a qual não têm motivação. O
ça no futuro. Para ilustrar o" a o em como a 'b'j'
POSSI I Idade de mudan-
que esse conceito d' fato de uma mãe estar doente e saber disso pode representar uma indi-
que uma criança dotada se enco t ' quer Izer, sUponhamos cação de análise para ela. Porém, a despeito disso, ela pode saber que o
-, n re em estado reg' .
Çoes traumaticas na primeira . f.~ . resslVO deVido a situa- filho precisa de terapia e não colocar sua própria necessidade antes da
' . . ln ancla e sUponham __
nha mUIto leIto com bebe~s' os que a mae nao te- dele, motivando-se a buscar ajuda para si só depois que a terapia do fi-
ou cnanças peq
se co~ uma criança que tenha condi õ uenas, m~s possa relacionar- lho tiver começado e o problema que o aflige estiver sendo efetivamen-
ou brincar e imaginar inventl' ÇS es de comunIcar-se verbalmente te tratado. Além disso, em alguns poucos casos, a mãe só o fará depois
'I' vamente e o filho c .
ana Ise, sair da regressão pod' b' onsegUlr, com ajuda da que o filho se recuperar.
' , era esta elecer-se I'
tlnUO, e as perspectivas para o fi t _ um re aClonamento con-
-
tem u uro sao boas O .'
uma criança perturbad' . presente real aqui Con- Técnicas lúdicas
a cUIO trauma pod ' ., }
que pode adaptar-se a um~ . , e ser tratado e uma mãe Para tratar uma criança são necessários brinquedos e uma sala especial.
, ,criança saudavel da sua idade.
Ad '. - Essa sala deve ser projetada de forma a permi'tir. qualquer tipo de brinca- ""j'" I
';'lnlS,:açao da patologia pai/mãe-filh deira, inclusive as que implicam derramar água no chão e tinta nas pare- I
A~ o .
çao que acabamos de descrever ' f.
traumática prévia na vl'da d '
'
e avoravel. Houve uma situaça-o
des. Por conseguinte, teto, piso e paredes devem ser resistentes. A mobí- li
a criança pod t . . lia normalmente consiste em divã, mesa e cadeiras (infantis para crianças
momento infeliz, quando os conflitos fa . ~ er Sido uma doença num pequenas) um tapete e uma almofada também são providenciadas como
vos -, mas os pais estarão prontos a . ~I,hadres s~ mostravam destruti- em uma mobília"familiar comum. Para manter a relação no nível pessoal,
sa 'tu - . , acelta- a epols I I
SI açao la Superada Rore'm h' d' ; . que e a e aborar es- o terapeuta deve guardar os brinquedos numa caixa que possa ser tran-
. a IsturblQs de d .
causas menos simples pn' . I ama ureClmento com
' . - . ,nClpa mente aquele . . _ cada, de forma que a criança perceba que os brinquedos pertencem ao
matlca nao esteja localizad s ~os quaIs a condlçao trau"
. , a no tempo mas se ' terapeuta e destinam-se a uso único e exclusivo durante as sessões.
>Jstencia no presente de c rt . ' la continua devido à p'er-
1 e as atitudes dos . E b Seja no tratamento analítico ou fora dele, o brincar é parte essencial
ade de um filho influir sob paiS. m ora haja a possibili- da vida de uma criança. Embora se saiba disso há muito, ela não era con-
liferentemente que 'já não b re os ~ais, ou de comportar-se tão
siderada elemento tão importante no tratamento infantil até o momento
'ais às vezes mudem' po a Sorva a PSlcopatologia deles e embora os
r causa da transfi ~ . em que Melanie Klein usou brinquedos e brincadeiras para dar início à
euta quando o filho está sendo trat d e~encla que fazem com o tera- psicanálise de crianças.· Posteriormente, Margaret Lowenfeld criou um
, a o, naq se pode contar de antemão
método de compreensão dos conflitos infantis que pressupõe que a
• A psicoterapia Analítica • 149

148 • A Criança como Indivíduo •


............................. ............. .
",

mas a desvantagem é que pode derramar); barbante e uma tesoura; água


um ~rande grupo preestabelecido
criança escolha alguns brinquedos de " (numa jarra ou, melhor ainda, numa pia que permita escoamento mais
Além disso, está presente um
a pequena caIxa com ' ' rápido que o fluxO da torneira), Além d.isso, \Im pequeno recipiente e al-
quedos podem ser usados como' areia, na qual os brin-
te esclarecedor costuma eXl'b' a cnafinça pr:fira, O resultado, geralmen- guns barquinhos, embora,qualquer brinquedq que flutue sirva,
~rquetlp\Cas, Isso levou
, Ir con Iguraçoes ' , Essa lista é, até certo ponto, pessoal, podendo variar conforme o
uma terapeuta junguiana Dora K Iff
ticos, empregando por v'ezes a, a usar o metodo para fins terapêu- analista,
, , uma centena de br' d ' A esse conjunto podem ser acrescentados ,outros brinquedos pelos
lOum'eros terapeutas )'unguI'anos no mun d o todo lOque í ' os, d A partir daí' quais uma determinada criança tenha predileção, Ou, então, a criança po-
sultados, passaram então a consl'derar com seried' dasclOa os ' com , os re- derá levar seus próprios brinquedos para a sessão, se tiver vontade. Des-
, , Eu, por exemplo, por certo tem , a ,e a terapia mfantil.
tos brinquedos mas acabeI' . d po ,adotel a caIxa· com areia e mui- se modo, a tendência das criançás a confundir questões por meio de uma
, por escarta-los M' h - atividade difusa se reduz, essa defesa específica é colocada em destaque,
ram as seguintes: embora eu ac d't , 1 0 , as razoes para tal fo-
pêutico _ como o é de rie I ass; que o metodo poderia ser tera- e as ansiedades subjacentes são mais facilmente trazidas à tona,
, ' qua quer lorma a ' - No curso da brincadeira, a criança pode querer usar a mobilia da sa-
bnnquedos _ chegueI' a' co I _ ,provlsao suficiente de
,
'~ : eXI Ir tantos provavelmente
nc usao de qu 'b' Ia. Quando os movimentos forem demasiado bruscos, será necessário
gerava confusão e dificultava a
50, as crianças vindas de &am;' manbl estaçoes de transferência, Além dis- exercer algum controle, O controle, além disso, às vezes precisa ser exer-
, I , lIIas a astadas esta cido quando a criança usa o corpo do terapeuta, que pode ser tratado
mUltos brinquedos, a maion'a d os quaIs ' descartadvamhacostumadas
' , a ter
com carinho ou atacado de modo potencialmente destrutivo.
0:a0l
os que tinham ou haviam tido s' 'fi _ a aVia mUlto, Apenas
maior ou menor eram usados Ica~o pa~a elas por um período A questão da definição do. ponto até o qual o terapeuta pode dei-
lhes muitos, (É bem importan't p b nto n~o haVia razão para apresentar- xar que seu corpo seja usado varia, Anteriormente descrevi uma situação
e sa er quais os b ' d em que uma criança me pintou o rosto e o uso subseqüente que lhe dei,
pertam o interesse das crianças em er I nnque, os que mais des-
As crianças de fammas materialment g a num dete~mmado momento,)
O relato tinha tanto interesse que não pude evitá-lo, Porém, graças em
e ~denos f~vorecldas podem ficar de- parte a uma melhor compreensão e em parte à minha recu.sa ef(l permi-
fator~~
masiado impressionadas com a
, , quantl ade e ISSO pod d' ti-lo, tais incidentes se tomaram raros. Nessesent;iqo, como o ti-
tlvldade no uso dos brinq d ,A
'd ' ue os, outra desvantag'
I ade de água para as brl'n d'
'
, "
e re uZlr sua cria-
,
em e que,adlsponibi-
po de roup~~Sádci
e' o cuidado na manl\tenção d;:l sala o mais limpa e
I, ca eIras POSslblhta a '
atraente possível ?~o !mportantes.
Tendo et:n vi~ta a existência de instalações adequadas à realização
Jogada pela sala essa "massa"" mIstura. com a areia -
, " cna um caos ''
E IOteressante que Lowenfeld t h' , - de brincadeiras e a finalização das investigações preliminares, pode-se
transferência no caso de se t en a pensado que a ausência de
' , ,~e eVla ao fato de a caixa de.
. ' us erapeutas d' concluir que ,houve o estabeleci!nento oe uma aliança terapêutica boa o
bastante entre ~ analista, a criança e ,os pais e que, oJranstomo da crian-
areIa conter libido que do c t"
~ n~
, " o n rano sena IOvesfd f' - '
ça foi, situado satisfatoriamente para assegurar o pro~seguimento da tera-
transferencia pessoal. Essa foi, também . I ormaçao de uma
Por fim, decidi-me por um con'u~ mlO~~ propna impressão,
de pequenas dimensões q e ) to baslco de brinquedos: alguns pia anal,ítica.Por sua própria individualidade"a descrição e o.comentário
_ . ' u representassem a í r - de casos são mais reveladores que o detalhamento abstrato de detalhes
maolJrmã' um animal ou beb" amlla - mae, pai e ir-
, e macIo' algu " !. '~
ticos e cercas suficientes p'ara' ' ns aOlmalS selvagens e domés- técnicos.
cnar um espaço o d d
cados; alguns carrinhos o 'I n e pu essem ser colo'- . 1
brinquedo; alguns brinqUeduo/:~ui~' s~melha.ntes e uma pistola de
ma outra massa de model ~ avels do tipO Lego; argila ou algu-.
ao piso; papel, giz de cer:~~~~~ao ~xe excessivamente à mobilia ou,
t,e
o, apls e borracha (pode~se usar tinta, --- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - --------
- - ' - - - - - - - - - - - - - -- - .-.-------- ---- ---_.------- _.
• 50 • A Criança como Indivíduo •
..................................................................... ....................... ~...~. ~si'.o.ter:a.T'.ia.. .~.n.~~!~'.a. . ~... ~.s..1.
ESTUDOS DE CASOS
(querendo dizer ela mesma). Quase que de imediato seus modos muda-
OS três est~dos de casos qúe se seguem foram s ' ram inteiramente: ela desceu da cadeira e brincou alguns minutos com
tram aspectos complementares d'a 'I" ~Ieclonados porque ilus- vários brinquedos. Depois dirigiu-se para o lugar onde estava a mãe, que
. ana Ise Jungulana O pri .
o quanto uma criança pequena pode t ~ ,melro mostra - confirmando a boa impressão que me causara - agiu com naturalida-
entrevistas facilitadoras. O segundo ~~ns ?rma~-~e se puder. contar Com de, de forma que a criança logo voltou sozinha à minha sala.
entrevistas detalhadas destinam-se; y, e anahtlcame~~e simples, e as Um dia, quando ela já estava mais à vontade, deixou um objeto cair
onde e por que as intervenções são r;:~t~;a~~o~o aOanahs~ prossegue e no chão e quebrar-se. Isso provocou-lhe grave ansiedade, fazendo-a cor-
Alan, é uma criança bem' . nao, terceiro exemplo rer para a mãe como antes. Mas logo voltou e, depois que retomou à
, mais comprometida é be . ~ ,
Ilust~a a necessidade tanto de inte reta _ . ' m mais ano~al.o e brincadeira, eu dei ao objeto quebrado um nome, dizendo "mãe quebra-
admrnistração proporcionados pelrp b~o quant? de afeto, tolerancla e da". Isso produziu um aumento na comunicação, já que eu demonstrara
sa criança, seus professores receb~r:~ ~~~t~. Apos o ~~ ?a análise des- haver entendido seu medo.
cios de seu tratamento A t ' b' !lI? para vlablhzar os benefí- Então comecei a fazer mães de argila, que ela quebrava. Após algum
ao modo como se deu' o fimeradPla a~J' lentai so ~ôde ser realizada devido tempo, ela quis que fizéssemos um bebê. Quebrou-o em pedacinhos, co-
. aana Ise. .
mo havia feito com a mãe. Fiz também um pai, mas este foi poupado; em
nenhum momento houve algum ataque destrutivo à figura do pai.
CASO I Nessa altura, acrescentei mais um comentário, que ia no sentido de
estigmatizar a mãe e o bebê como "malcriados". O efeito foi um aumen-
~ma garotinha de pouco mais de 2 an d' .'. . . to da atividadé. Fiz o comentário com o intuito de reforçar a sua parte
çao de ataques que vinha sofrendo ha~: ue Idade me fOI traZida em fun- "boa" e porque aquilo era, por assim dizer, seu contra-ataque ao lado
cava completamente inconsciente A' m an?, ~esses ataques, ela fi- "mau" (escuro) das imagens em questão.
tado de letargia e precisava fi ,pos a ocorrencla, ela entrava em es- Sua mãe fez um interessante comentário nesse ponto: disse-me que
. Icar na cama por vá' h .
cnança agarrava-se à ma-e p t' . nas oras. Afora ISSO, a sempre que encontravam algum carrinho de bebê, a filha não se confor-
ra Icamente o tem' . t d - ,
fazer nada do que se espera que' . po o o e nao conseguia mava enquanto não fosse até lá para ver de perto a criancinha.
. uma cnança de 2 an ~ . -
conseguia alimentar-se nem" . , os Jaça sozrnha; nao Gradualmente, a garota passou a querer juntar os pedaços das figu-
'. vestir-se sem ajuda S . - .
que era bem mais robusta _ a It . ua Irma mais velha ras de argila. Ficava aborrecida quando as partes nãocolavam e recrutou
'. _ ma ratava constantemente. .
me~o~ ~!~:~s:~:a~:e~~mi~1 chonseguiu ied~zir ás ataques a mais ou
meu apoio em suas tentativas. A essa altura, tolerava que a mãe' ficasse
I
na sala de espera. Julguei que o principal processo em razão do qual a
Snao ouve alteraçao na re -'.
gr~ssao..
' . I

, Na pnmelra entrevista, logo ficou claro '. criança fora. t~azida já havia sido suficientemente resolvido e, por isso,
Slosa demais para deixar a I d . ' . ~ue a ·garotlnha estava an- aconselhei que suspendêssemos o luminal; não ocorreu mais. nenhum
. sa a e espera sozrnha Po ' d' "
que ~ acompanhasse à minha sala Pouc . " r ISSO, pe I a mãe ataque. Além disso, a mãe relatou um progressivo amadurecimento, de
xei-a ficar. ao lado da - ' , o fOI possIvel fazer com ela' dei- forma que a criança, de aparentemente retardada e apática, tomara-se in-
. mae enquantodlscutía b '
seguinte, mãe e filha vieram ,'unt mos o pro lema. Na se.ssão dependente, viva e extremamente competente para a idade no trato de
as novamente mas d t fi - seus problemas, dando a impressão inclusive de precocidade. Algo que
sentar-se numa cadeira colocad d I d ' es a vez IZ a mae
midez, a criança acercou-se' a ~rtaO a o de f?ra da sala. Com muita ti- agradou particularmente àmãe foi o fato de a criança não mais permitir
aberta. Dei-lhe I' . d ,p para o recrnto contíguo permaneceu que a irmã a maltratasse e conseguir participar de jogos agradáveis com
apls e cor e uma folha d I A . '.
nada. Mas então fez um I b' e pape. pnnclplo, ela não fez esta. Cinco anos depois, tive notícias da menina por meio da mãe. Seu
- eve ra ISCO e para . h
um Circulo, olhou em minh d' _ ' . mIO a surpresa, desenhou desenvolvimento fora mais que satisfatório e sua vida escolar se iniciara
a lreçao e disse de modo bem claro: "eu" com prazer e sucesso.
• A psicoterapia Analítica • t; 3
151 • A Criança como Indivíduo •
......... " .............. , ....................... " .....

A discussão da brincadeira da . ,.' ...... . 3. A fantasia era muito fone, de forma que a mãe se havia desin-
mos da seguinte maneira: ' . garotinha sera maIs fácil se a dividir- tegrado e voltado a ser inteira. Isso era um grande feito.

QuandO chamei o objeto quebrado de "mãe", estava baseado na identi-


(a) A dificuldade. de separação da mãe dade entre objeto e mãe. A nomeação foi possível devido ao fato de sa-
Con~orme minha estimativa, a impossibilidade da .
cnan~ de estar comi-
. bermos que ela poderia $er um integrado, uma criança inteira, e de que
go nao era provocada pela mãe ue. _
nem constrangida pela ansiedad~ ~a fi7~0 ~t~va ~xcesslva~ente ansiosa ela havia feito uma distinção entre a fantasia e a realidade.
te se dispusera a acompanhá-I' ,~a. em dIS:O, a mae prontamen- Minha atividade de confecção de mães de argila, - eu colocava-lhes
via-se, portanto à projeção d a a ml~ a sala. A ansIedade da criança de- seios e as nomeava - era um teste para ver o que ela faria. Ao quebrá-
.' . e uma Imagem aterrorizante sobre mim. las, a criança estava agindo intencionalmente diante do que, segundo seu
sentimento, havia acontecido anteriormente na realidade psíquica. Entre
. (b) O ~~nto anterior à destruição do objeto . o desmembramento e a desintegração há uma diferença essencial; é a di-
AquI, o maIs Impressionante foi desenh'
50 pode ser interpretado como'
, o
o do cIrculo e sua nomeação. 15- ferença entre ser quebrado em pedaços e quebrar em pedaços - a dife-
a rença entre a atividade arql..letípica e a atividade egóica.
um aumento da segurança e o eUstamb rlep.resentação do sef{ que promovia
, d ' . e eClmento do ego b O desmembrame,nto nos mitos é uma característica regularmente
no_ o. O. altvloda ansiedade' pode ser comparado' t dA. por um reve
. pe-
mae, cula presença física era exigida I ' a en encla a umr-se à presente nos cultos à Grande Mãe, que é a destruidora, a mãe terrível
Aparentemente, a necessidade ~e a ~nança nesse mome~to. que castra e destrói o filho. Em todas as diferenças, revela-se a mesma
um selftotal e integrado que a a cnança era manter a Imagem de forma arquetípica - a mãe tetTível ,de quem depende a vida.
dade. . ' parentemente, se desintegrava com facili- A garotinha era presa de uma experiência arquetípica de desmem-
bramento e, a julgar pelos bons resultados da elaboração do evento, essa
deve ter sido \)ma das causas dos sintomas, os ataques, sendo a outra, a
(c) A quebra dos objetos . regressão, cuja ocorrência se dera antes de que o ego pudesse haver-se for-
A quebra do objeto confirmava seus' ior . - mado para converter suficientemente o evento em palavras ou fantasias.
assim, as pessoas _ se rompe m faCI'1'mente
P es A medos
tendê . 'das coisas
de que . - e'
pod e levar à seguinte conclusã E _:. nCla a estntegração
O conceitô de deintegração ajuda a compreender o transtorno da
A volta à mãe traz consIgo a tr~~ ~~.aça~.obleto~.ela própria = mãe. criança, pois a fonte dos ataques era o desmembramento do ego pelo self
real, que pode surgir das seguint qUflltzaçao ne.cessana ou a estabilidade em deintegração, um processo descrito como desintegração. Ele leva a re-
, , es ormas.· . gressão a um nível em que a própria mãe é ameaçada quando qualquer
progressão é empreendida, principalmente quandO se faz alguma, tenta-
I. Ela poderia reviver a lembran d' .' tiva artificial ou imposta de separar a mãe e a criança, Esse deve ter sido
fesa disso pode-se d' . ça a Imagem 00 self total.. Em de-
.' Izer que, sem a lembrança d _. originalmente o medo de vir ver-me., No entanto, essa separação entre o
menina n,ão poderia haver voltado' . . _ I a roae tnteira, a
dade, . . . a sua mae na crise de ansie- ego da criança e a mãe. é fl.lOdàmental, caso se queira que a criança pro'
- . " ..
grida. Tudo depende da maneira como ocorre.
Para estudar esse problema, tomei a ansiedadé das~paração como
2. Talvez a estabilidade surgisse devido' ... . - .
combinação da fantasia à realidade ;tra'1qullt~ça~ d:nvada da
paradigma do problema geral e estudei o efeito de não separar mãe e fi-
brasse, o ;encontro do corpod
a
~ e na fan~asla a mae se que- lha até que esta tomasse ela mesma a iniciativa. Isso pode continuar até
qüilizaria de que a fantas' b mae :m sua tntegridade a tran- que a criança exerça seu ego e mande a mãe ir embora. Se a situação for
la so re a mae real pão era verdade. administrada assim, a. base essencial da consciência se desenvolve e, com
. ode-se deduzir o processo de deintegra -
ela, surge uma maior espontaneida(ie sob a forma do brincar. Isso se en- No brincar de~sa cnan~, ~om base nessa hipótese, o proce.sso pa-
caixa na teoria da deintegração, pois a espontaneidade do brincar pode ção por trás. da desmtegr:~o~ebrado em pedaços pelo se/rã medida ~ue
ser concebida como decorrente do processo de deintegração. Para mim tológico d~nva de o e~o s ~ vez de uma progressão em que a co~sclen­
está claro que a consideração mais importante é a de qúe a intenção de \ este se demtegra e aSSIm, e _ Essa regressão conduz a um mvel no
separar-se venha da própria criança. da aumente, resulta u.ma reg~essa~. rior baseado na unidade da criança.
O passo seguinte da garotinha foi pedir que se fizesse um bebê, que 1 q ual se encontra um tntegra o an de'do~ como a descarga da energia que
d m agora ser enten I .. -
ela quebrou em pedaços; é o mesmo processo de desmembramento que Os ataques po e . ro ressiva deintegraçao.
\ oderia ter sido aplicada numa p b S o desastre sob uma forma dife-
ocorreu antes, mas num plano diferente. É irrelevante àO brincar da crian- P . . .ança ela orou
ça que os 'ritos de desmembramento sejam associados ã fertilidade? Ou Na bnncadelra, a cn essa no crescimento de uma
. -o do ego expr .
podemos supor que essa criança tenha em si um conhecimento arquetí-
\
rente e restabeleceu a poslça ., d' t (ia mãe e na brincadeIra coo-
pico da relação entre nascimento e morte? Mas éla destrói o bebê - é o lação mais independente e poslttva {an e
\ re . _
passo seguinte na consciência, mais próximo dos mitos mais avançados perativa com a Irma.
de Átis e Osíris. Os mitos contêm muito mais consciência do que o brin- \
car e a fantasia infantis. Não havia uma criança mais nova na família, a
garota era a caçula - portanto, sabia· que o bebê da famUia era ela - e \ CASO 2: . -
,. feitos apÓs as entrevIstas sao
agora estava expressando aquilo que lhe acontecera. Ao fazê-lo, ganha . .nte os comentanos h
[Nota: No relato seguI, d" '-los claramente dos trec os
um certo distanciamento, o bebê já não é ela mesma, mas outro bebê, \ apresentadOS entre colchetes para IsttngUl .
como os que via nos carrinhos. Mais uma vez, é necessário perceber a
natureza de todo o processo representado em sua brincadeira. Os vários \ descritivos] f . ncaminhado para tratamento de-
.BilIy de 6 anos e onze meses, 01 e_. .' a lhe excessiva tolerância
processos postulados quando a fantasia de uma mãe em desintegração J I ça-o com a mae: eXigi - .
\ vido a dificuldades na re a .. Além disso, apresentava 10-
estavam no auge se aplicam quando se trata do bebê .. Aparentemente, ortamento agressIVO. .. -
ela teria que ir verificar para assegurar-se de que o bebê inteiro não ha- por causa de seu comp d'za em na escola que a mae-
I continência fecal e dificuldades?e ~prefn I .. gentesmudan~s de pessoal.
via sido de fato destruído, para reviver a memória do bebê inteiro ou en- - o atnbUla a requ .. lh
tão para descobrir que ele havia sido reconstruído. Provavelmente com raza ando -
em trans
f '10 nara uma escola me or,
en- .t'! •
portanto, ela ,:stava. pens havia adaptado bem. ; .: .
(d) A reconstituição dos objetos onde seu irmao mais v.elho se mportamento patentemente 10:
\ .. Bi\\y, além <10 maiS, demonst~~va c~a usar mamadeira. A mãe mos-
Quais as fontes do brinca(construtivo iniciado pela garotinha? A mãe lhe
teria mostrado que·os objetos quebrados devem ser consertados? Nesse fantil, principalmente ~uando pe Ida p~ mas logo apÓs o início do tra-
· t te dIante desse ese,o,
caso, ela terá aplicado o princípio a novas esferas, já que brincou de des- \ trava-se amb Iva en d . a que queria: .
I sse a mama elr ,d
truir modelos de mães e bebês só comigo na transferência. Seria culpa o tamento deixou que e .e usa . h racterísticas relevantes ao conteu o
\ . . O histórico da cnança tIO a ca .
que a impelia a um esforço' construtivo? Em caso afirmativo, não fui ca" I
- o abaixo descntas.
paz de detectar nenhum sinal. Contudo, não é preciso prosseguir com das entrevistas que sera
\ , I que o obrigou a
essas especulações, pois o brincar construtivo decorre da hipótese já for- logo após o nascimento, Billy teve um abscesso ana
mulada: ver a mãe intacta e o bebê inteiro deu lugar à fantasia de que
\ I. permanecer internado por várias semanas. .
ambos haviam sido reconstituídos. Alguém o havia feito; então, ela tam-
bém tentaria. A princípio não conseguiu fazê-lo sozinha, e eu tive de sér
essa outra pessoa; depois, foi possível consegui-lo sem minha assistência.
• A Psicoterapia Analitica • t 57
como Indivíduo •
\
Terceira entrevista: Bi\ly deu-me a impressão de estar agitado e zangado.
2. Quando
tiu o efe'to bebê
d' tinha nove meses ' o pai delxou
. - Nao- se dlscu-
.
, a mae. I [Considerei esse comportamento a conseqüência de minhas interpreta-
diante d~°fil~~.o;pa;i ed~eBsl.uIIPor que t~nha afetado a atitude da mãe ções na entrevista anteriorJ Estava muito decidido quanto ao que queria
" y.agora vIve na França
lhos de ve,z em quando EI _ . ' .
..
: mas vIsIta os fi- I e foi logo pedindo um lápis que não estava entre os que ele tinha, então
da~ crianças ~ suas visi~s ,~:r:om_vlvedncla as necessIdades cotidianas saí da sala e consegui encontrar um para dar-lhe. [Quando a criança faz
I
o

se e glamour sendo rechead d


presentes e passeips int,er~ssantes. ' . as
I. e
uma exigência razoável ou expressa um desejo adaptado à realidade, eu
a satisfaço.'Nessa ócasião, foi fácil atendê-Ia, pois a exigência não interfe-
,
I ria com a entrevista; além disso, facilitava sua intenção de desenharJ
3. ~~:~uco antes d.a ~in.da de BiIly, a mãe teve de ser internada pa;a tra- Ele preparou-se então para fazer um desenho que se desdobrou nas
par~ u~ I~; i~ran~:s:u;:~~~~~~~~:d~s,,1k:~~%~orçm ~andados I seguintes etapas: primeiro, fez uma linha ascendente ao longo do papel,
,I nessaaep~.ca
I com uma inclinação do lado direito. No alto da "colina", havia um letrei-
o

os sintomas pioraram e precipitaram


, ,seu enÇam!n
. h'!'lrnento
,

mIm. que ro com a sigla USA, para indicar "Força Aérea Norte-americana". Mais à
esquerda, ele fez cuidadosamente uma escada de corda. Os nós entre as
A mãe de Billy causou-me boa im ressão' . o .1 ' , _

tiva às necessidades dos filhos S P I" parecIa afetuosa, habll e recep- barras horizontais foram desenhados con:t esmero. Billy ficou inquieto de-
. . eu ana ISta com quem tive rt d
der dIscutir o caso, confirmou minh' ' _ . a so e e po- I pois de fazer vários desses nóS e deixoU' a escada incompleta, passando
Iy pôde começar sem mais demora. Impressao e, aSSIm, a terap~a q~ )?i1-
a I
a desenhar um túnel que descia verticalmente sob a terra, bem do lado
I esquerdo do pápel. O túnel logo se estendeu horizontalmente para a di-
reita até chegar a uma "cavema". Quando completou essa parte do de-
Primeira e segunda entrevistas' 'Já f h h . ,'.
três que serão aqui descritas 'deta:~ ~ aVido d~as entrevistas antes das I senho, ele quase que foi obrigado a fazer a escada ligar-se ao túnel. Preen-
ciativa para brincar só em s'l ~ . a amente: B.. lIy demonstrava boa ini- cheu-o então de azul claro, comentando ao mesmo tempo que havia
zia desenhos de u .' I enclo,mas parecia Inquieto e deprimido. Fa-
ma casa escura e sem gra
[Embora na época eu tivesse p d
'
ça, com uma arvore ao lado.
I também um "túnel vermelho". Imediatamente fez, com força, um rabis-
co vermelho entre a escada de corda e a caverna, dizendo que aquilo era
representações (ele p"
sem um pedido de a'uda "
,ensa o que esses desenhos fossem auto-
ropno em estado d "d) .'
. ep~ml o e, portanto, expnmis-
,r'
l "um homem fazendo uma explosão". [Entendi essa seqüência como re-
presentativa de seu interesse pelo interior do próprio corpo e também do
d I ' . , _ J , depOIS ele me disse que a casa era "A A
on e e ese sentIra tao abatido e onde n _
se exemplo ilustra o modo" a~ haVIa mae que o ajudasse! Es~
. _, rca ,
/I

l da mãe (a terra = mãe>' O homem fazendo a explosão era sobredeter-·


minado. A explosão evidentemente representava sua fúria diante de mio'
como uma cflança pod d
cessidade de ajuda logo no' ,. d '. e emonstraF sua ne- I nhas intervenções. Numa interpretação (não registrada), referi-me à vio-
eu pude interpretar sua 'nec~:~~ad: a~:~s~~ ~o~hecendo seu histórico, lência dentro dele, que dava origem à sua incontinência. Isso o deixou
ofereceu eram insuficientes,) , a os que ele mesmo me l zangado, pois em sua fantasia eu (o homem) é que era o responsável por
aquilo. O desenho insinua ainda a fantasia de um homem dentro da mãe,
Na segunda vez em que o " d . d'
consegui fazer uma interpreta _ VI~ OIS las antes da terceira entrevista, isto é, a cena primal:Além disso, provavelmente se relaciona à ida da mãe
o

e ele foi para casa e pergunto ~o I~completa de sua agressividade anal, para o hospital e à fúria que isso despertou nele. Devido à incerteza quan-
fezes. A mãe com .' u a.mae por que eu havia mencionado suas to a qual desses significados era o que mais o preocupava, abstive-me de
, mUIto tato disse-lhe q . h
lecer um contato amigável c;m ele.; ue era mm a forma de estabe- interpretações detalhadas. Considerando a situação em. retrospecto, eu:
poderia haver feito uma que me apresentasse como o homem e apresen-
[Essa atuação se devia à inc I d d' .. ' o ,

não relacionava sua ver onha a omp etu e e mmha Interpretação, que tasse a explosão como a de sua raiva à minha, a seus olhos, injustificada
incontinência.J g o fato de eu tomar conhecimento de sua intrusão num assunto particular - sua incontinência -entre elee a mãe.
t 58 • A Criança como Indivíduo •

dan de sentimentoJ Em seguida, ele pintou o sí~b.o­


Como eu não abordei esse assunto, houve uma mudança no rumo da in- vocado uma ~u ~ uele avião, disse ele, representava ele pro~~lo.
lo norte-a~encan~ei ~amento de minha interpretação de que os ~vI~es
teração, que se afastou da fonte de sua ansiedade.] \

Quase imediatamente houve uma mudança em sua atitude, e ele [Urna reaçao e ape ç EI sS'I'milou esse ínsight e o usou ele propno.l
começou a desenhar um avião voando no ar - "Sou bom em desenhar I represen ta
vam pessoas. ~ a,
. fi ' . t rpretações dizendo que achava que e e
I
ento IZ novas 10 e ', - d
aviões", disse ele. Um facho de luz amarela saía da cauda para a frente. Nesse mom , , ~ uele dia - queria fazer explosoes en-
Ele comentou: "A luz é invenção do meu irmão".
I . ado com a mae naq
deVia estar zan~ vermelho) e voar para junto do pai b~m, a quen: e e
. I
. Durante tudo isso, eu estive fumando um cachimbo. De repente,
ele passou a demonstrar interesse pelo objeto, particularmente pela fu-
I tro dela (o rabiSCO
havia começadoAa ~ensar ~.u
. e eu oderia substituir. [Essa tnterpretaçao se
Pode ser pensada como uma forma de
maça. Desenhou a fumaça que escapava da. cauda do avião na mesma
c.or que a fumaça. do .cachimbo.
I vale da transferencla ?oSltlva e PI, tava quando chegou, Entretanto,
evitar o espírit~ ~:gatlvo em que ~~~~nto positivo a meu respeito que
Nesse momento, sugeri que o avião poderia estar indo para a Fran- não julguei deselavel reverter? se 'go em 'Interpretar a hostilida-
d i' Existe este pen ,
'. ça e representar seu desejo de ver (o refletor sugeriu essa palavra) o pai. claramente se esenvo via: I asa achando que eu era um alta-
- I podena vo tar para c ' .
Ele imediatamente respondeu: "Meu pai não vem aqui nem vai mandar de contra a mae: e e . b' de ainda mais ressentimento e ral-
dinheiro que dê para a gente ir para lá -por que ele não manda? Estou do contra ela, que se tornana o leto "
e eu não o fizesse. . .. d'-
guardando dinheiro - dinheiro francês, mas só consigo arranjar mais di- va d o que S . :.. d análise posslblhtou esse proce I
nheiro inglês". [Minha interpretação produziu uma comunicação mais O fato de a mae haver esta °b~m e ela poderia lidar habilmente
. . 'á que eu sa la qu .
di reta e pessoal. Há uma sugestão de que ela tenha modificado sua de- mento tnterpretatlvo, I _ f assim e se eu não estivesse cer-
ao
fensividade no fornecimento de mais informações sobre a famma. Absti- com a agressividade do fi~ho, Se.n e~ss~e tinha a mãe de Billy, bem co-
ve-me de julgar o quanto havia de verdade no que ele disse.1· to da capacidade de avahar reahd~d q, teria sido mais cauteloso.l
A' relaçao a mim, eu
Então eu lhe disse que o avião representava as partes de uma pes- mo de sua transferencla em t de perguntas sobre minha
, - rb uma torren e
soa, principalmente a fumaça - que tinha a mesma cor e cheiro do meu Minha intervençaO I er~u . m Londres [coisa que ele
- lhe disse que nascera e
cachimbo - que saía.do tubo de escape, acrescentando que essa fumaça nacionalidade, entao eu . eu tivesse nascido em outro lu-
., b' mas que talvez ele qUisesse que .
expelida do fundo do. avião era como os cheiros.quesaíam dos "furidos" la sa la, ' , u pai ']
dele quando ele defecava. ·(Falei-Ihe tudo' isso empregando as palavras gar para parecer-me ~als a se . reencher e quase que borrar a ter-
que ele usava com a mãe. Eu havia deixado bem claro para ele numa en- Então ele USQU tmta preta para P .' . te eu lhe disse
.' . . . . I bre a caverna. Por consegum ,
trevista anterior que a mãe havia me contado a respeito de sua encopre- ra fazendo nscOS a go pe 50 d erna de dentro da qual ele
, '_. ado por causa a cav .
se.> [Essa interpretação toca nos sentimentos transferenciais manifestados que a mae o deixara zang d' ' ,ue ele subisse (a escada) e, aSSim,
.: I la não elxana q
pela criança, que se haviam tomado tão evidentes que teria sido um er- surgira e para a qua e , . I -o a ela. Ele fez uma marca na
ele e~tava se :entindo pessl em ~: ~i~ha que saía dela, passava por ci-
mo
ro não dizer, nada a respeito. A interpretação era incompleta: n~o me va-
li de seu interesse em meu corpo e seus. odores fecais (fIatos). Aqui, mais caverna e rapld~mente desenhd~u u_ . "Eu vou para a França", disse ele,
uma vez, . havia .demasiados significados possíveis: além de representar ma, do avião e la ~a :~~~o ~~:o~ente expresso, a sensação de estar
pessoas inteiras, .os aviões são, por caráter, fálicoi'.eanais. Além disso, há [Ha um aume~t~ o, . v· da ansiedade que ele despertava.l ._
um elemento d.efensivo na brincadeira que é evidente no "vôo" para lon- péssimo constltulndQ pro a . desenho com um terceiro aVlao,
ge do tema da agressividade.] ; Nesse momen~o, :Ie termmou ~a começou a chutar uma bola pe-
Ele então começou a desenhar um segundo avião; este estava no que representava o Irmao, e em segu
la sala de modo agressivo e arrogante. ' .
chão, e a fumaça que expelia era marrom e parecia muito mais com um
monte de fezes. [A interpretação incompleta havia, aparentemente, pro-
- - -- - --- - - - - - - - - - - - -
t 60 • A Criança como Indivíduo •
.. " ... ",,, ... ,, ............. ,, ...................................................... " ..................................................
, er em ver-me, ele sentia tristeza; tal v: z, p~ra vir, ti- ., '
I
:

pensava: aler:' do praz er ai uma outra coisa em casa e, alem dISS~, fic!-
vesse que. deixar de fa~ eugfora ao sanitário. Ele respondeu q~e o lrm~o
Estava perto do fim da sessão, então eu comecei a guardar os lápis
de cor em seu estojo. [Uma boa maneira de finalizar a entrevista é come- ra decepcIonado quan o . e ele próprio estava resfnado e nao
çar a guardar os brinquedos. Isso introduz o fim e dá à criança tempo de . d r mas acrescentou qu - c ru-
havia Ido na a, 'm [Essas observaçoes loram c
indicar como se sente diante do fato.l Ele não havia brincado até o mo- ] ara quem estava assl . . d' .
era bom [nad ar p . N trevista anterior houvera 10 ICIO
mento com nenhum dos brinquedos, mas então pegou um carro branco - e deI ao caso a en ' d ' .
ciais à cond uçao qu , b" I nte Ele demonstrara uma ten encla
e um caminhão e tentou prender um ao outro.' Em seguida, tirou uma de cisão de uma forma pre-~m Iva e. 'a tratar a mãe como má, No fim
das orelhas destacáveis de um elefante e, por isso, disse-Ihe que ele esta- a idealizar-me, como t~m~~m ;~ :~b~alência _ raiva por ir e desejo de
va de novo zangado comigo porque eu estava tenninando a sessão e que, da entrevista houvera mdlclO m ansiedade, Havia traumas
alem disso, ele estava expressando seu desejo de ficar comigo. [Uma boa , ' .dade de separarose se , '
ficar ahados a capacl , 'mportante dos quaIs era a per-
oportunidade de abordar ·sua ambivalente transferência.J , avelmente o maIs I ,
muito precoces, prov _ d 'do ao rompimento do pai com
-o com a mae eVI . d
Ele acabou cooperando e guardando os brinquedos nó annário, per- turbação em sua reI,aça rtante era 'fi a Issura a nal I graças à qual tIvera
, _
e
guntando onde estava a chave e para que servia. Eu expliquei, e ele trancou a família; o menos Impo ,_ se caso implica muita clsao no
a porta e foi embora, aparentemente satisfeito. [Esta entrevista mostra que . d M a combmaçao nes
ser hospitahza o, as _ ' I pré-pessoal. porém sua demons-
o que lhe causava mais ansiedade eram as fantasias agressivas. Diante da de- , t de fixaçao num mve ão
ego e um pon o , , -o muito forte de que esses traumas n
pressão que ele sentia quando estava em "A Arca", pode-se pressupor com tração de tristeza era uma mdl~aça de representações pessoais do
certeza que a ausência da mãe era sentida como estando relacionada a ela.1 d' d desenvolvimento nem 'n
haviam impe I o o , b r Além dissO indicava que seus SI -
self nem da capacidade de sIm o rz~r, histérica e ~ue sua" depressão" po-
Quarta entrevista: Billy e a mãe estavam sentados na sala de espera, que ,', d ver se a conversao f 'men
tomas podenam e - , - as sim a aflição e o so n -
era um espaço aberto. Num dos lados estavam as portas para ás:salas de dadelra depressao, m , -o
deria não ser uma ver , d' a que tivesse atingido a pOSI~
consulta e os sanitários. Eu saí da minha sala, a que tinha acesso por um to de unia criança relattvam:nt~ sa I e começou a fazer o céu, A mls-
corredor. Eu precisava passar diante dele para ir até o sanitário antes de - It u a pintura '
depressivaJ Ele entao vo o EI Ihou limpou a tinta azul que haVIa
atendê-lo. Assim que eu apareci, ele deu um pulo é·veio na minha dire- tura de cores o tomou escuro. e o o, 'I comentando que iria fazer
ção, já imaginando que eu o levaria comigo para minha sala. Eu o repe- , 'ntar Fez o ceu azu , .
na caixa e contmuoU a pi " vens mais claras usando tm-
li, dizendo: "Não demoro um minuto", e ele voltou decepcionado· para " Tambem tomou as nu ,.
também um arCO-lns, " ' Deus havia feito o arco-tnS que
sua cadeira. Quando voltei, ele ainda estava disposto a acompanhar-me, E anto faZIa ISSO, disse que ,
ta branca, nqu . ' 'h' tória bíblica de Noe,
mas o entusiasmo inicial· se fora. Estava vestido com' um casaco verme- ele iria fazer, numa referencia a IS "
lho que tinha uns emblemas chineses. Comentei que parecia chinês,e·ele história bíblica atraente para eles são
respondeu que aquele era seu "casaco alegre", seu "casaco mágico".·[Há [Os vários fatores que tomavam a 'dos conforme se segue:
um nítido aumento na transferência positiva. Adisposição dos sanitários particularmente claros, Podem ser resumI , '
era infeliz, mas diante da encoprese da criança, pareceu,me relevante . , d "A Arca".
considerar se eu não ·estava demonstrando uma ·contratransferência que nome do lar infantil para o qual fora envia o era
\. O
requeria atenção. Por que não seria eu capaz de controlar minhas fezes?] " ndia à sua própria fúria diante da
Ele começou.a pintar nuvens escuras, cinzentas, da cor da fumaça 2 A fúria destrutiva de Deus ~orrespo . "negligenciava" (Cf. tam-
de meu cachimbo, conforme havia comentado antes. A cor já havia apa- , - da maneira como o pai o )
ausência da mae e . f .aI' onipotente de afogar-me.
recido, ligada a sua agressividade; ela sugeria também, já que ele havia bém, abaixo, sua fantaSia trans erenCl
olhado desconcertadamente para meu cachimbo, inveja e tristeza; o pai
fumava cigarro, respondera ele quando lhe perguntei. Eu lhe disse o que
• A psicoterap,a f\rlU .... ~ •.. ~.~,~ .
.................. , .... , .......... " ................... , .. , ......
• 6Z • A Criança como Indivíduo •
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T .... . .... "
• .... " ,. . . o" •

""............ do em felicidade por sua mãe e eu n~o haverm~s noS ~~~~:~


3. Ele, como Deus, também se sente arrependido pelo que fez (em sua transforma gestos o prazer que essa mterpretaçao ~he. .
fantasia). do. Ele expressOU com fi - odo que eu dissera com o acresClmo. de
va e sublinhou sua rea Ir1mhaça. com fumaça azul saindo. Em segUida,
4. E tudo volta a ser feliz como antes, a reparação sendo motivada pela .me'em verme o VIVO, fi f m
urna cham . d . tos à esquerda da casa. As Iguras ora
tristeza e pela culpa.J a mãe e ele foram pmta oS.lun o' cupaça-o com as cores usadas. Do ou-
'd ente sem mUita pre
feitas rapl a m , "d . - Ele fez urna cabeça enorme e en-
Uma área no canto superior direito da pintura fora deixada de lado. O h · "cabeçorra o Irrnao. . ' f' . t
tro lado aVia a . o do irmão. A terra verde 01 pm a-
sol iria ser colocado ali - e ele esforçou-se muito para limpar a tinta ama- . bastante a pequenez do corp .'
fatlzO U . f lh d . apel .'
rela, mas não conseguiu porque estava muito suja. Observei o fato e ele da na parte infenor da o. a e p ;s~ou-s~ na cadeira com as pernas se-
foi à pia para trocar a água. Jogou fora a água suja e então percebeu que Quando acabou a plOtura, rec .m De onde eu era, vol-
'fI' das Concentrou-se em mI .
ali havia uma pistola d'água, que encheu e esguichou no chão, olhando paradas e seml eXlonf.\ . .' I' bia que eu era de Londres, mas
animado para mim. Não fiz nada, pois ele parecia estar querendo testar- toU a perguntar, e eu respondi. que , e e sa . . Ele continuou: "Por que
I . fosse frances, como o paI. .
me, perguntando-se o que eu iria fazer. Antes de voltar, jogou no chão que prefena que eu 7" E U~~disse que tinha mtnha casa,
boa parte da água que havia no recipiente.e então veio triunfante para \ você não vem morar com ag~mt:. ~~~ca sua casa dentro da minha?"
terminar a pintura. A tinta amarela foi limpa facilmente e o sol foi pinta- roas ele insistiu: "Por que voce nao ,. _. Aqui mais uma vez, há mui-
\ .o sem comenta noS. ,
do - um objeto bem amarelo, bem berrante. A troca verbal entre nós lDeixei passar esse d esel '
não cessou durante essas atividades, mas não foi interpretativa. '. ta sobredeterminação .. '.
Então ele começou a pintar o arco-íris: amarelo em cima, depois \ . . .. , , que eu representa-
'á o desejo de ver os pais juntos de novO, la
uma cor mista (verde), um vermelho impuro foi seguido de marrom e l. H
depois uma linha de negro seguida de um azul bem nítido. Amarelo e va o paI.
azul eram as cores "alegres", disse ele;· portanto o arco-íris representa.uma
2. Há um elemento pessoal, passivo, homossexual.
mudança de sentimento, inicialmente alegria emoção mudàndo, em se- e
guida para tristeza, e eu fiquei com ,a impressão de que a linha negra foi _ . mplexo no qual há identifica-
colocada para fazê-lo lembrar-se de um sentimento que já não estava pro- 3. Há um desejo de fusao ~U1to cOnecessid~de oral de amamenta-
- por tras uma
priamente lá naquele momento, era mais um sentimento que ele tinha ção com a mae e, '. . e sua casa o seu próprio cor-
ção, na qual eu representana o seiO,
ao começar; o final era um azul alegre. ."
Nesse momento interpretei o fato de ele haver jogado água no chão po com uma entrada - a bocaJ
como uma demonstração de seu furioso desejo de afogar-me. Disse-lhe . ,. b' dos e
disse que iria pegar os nnque
que ele se sentia como Deus - ,pois podia fazer o que quisesse -, que Já estava chegando a hora e eu . ' 'a e ·acabou guardando sozi-
. d 'alguma reslstenCl
inundava o mundo e depois se arrependia. Ele concordou, felicíssimo, e guardá-los. Ele alu ou apoS ,. f nha uma etiqueta onde estava
desenhou uma casa com telhado negro. Resolveu mudar de técnica e nho os brinquedos. A chave d~ arrnan~ I , "Dr Fordham'? Meu pai é
h ""Ora" disse ele voce e . E I
procurou na caixa o lápis que havia usado na vez anterior. A princípio, escrito "Dr. Ford am. _ ' . d' doutor não estou doente. vo - U

pensou que não estivesse lá, mas, aliviado, encontrou-o e usou-o para fa- o Sr: X e não o Dr, X. Nao precl~o ~d 'fi ça-o com o pai é rejeitadaJ J

ãe lA mtnha I entl Ica


zer as paredes verticais da casa. Pintou janelas, porta e paredes de ama- tou, pensativo, para a m . .
relo e verde. dois dias depois, ele não estava bem e

L___
,1, '.

Interpretei então que o negro eram os negros sentimentos que nu- Q;inta;entrevista: Quando voltou, _ . r u que não o levara de volta
tria pela mãe e que a casa agora era alegre, depois. de sua raiva haver-se ~~ia VO:ita~:no ~m",ho~~a~exp "0__ __- - - - - - - - - - -
• A Psicoterapia Analítica • 165
164 • A Criança como Indivíduo •

para casa porque havia pensado que poderia ser "doença de mentirinha" esquizóides, esquizofrênicas ou autistas, que tendem a fascinar, repelir ou
Eu o levei à minha sala; a pele dele estava fria e o pulso, fraco; então co: horrorizar as pessoas que entram emcontato com elas. Alan era uma des-
loquei-o deitado, no divã com uma manta por cima, peguei um copo de sas crianças, . ,.
leite, que ele disse que queria, e o pus a seu lado. [O vômito era, como Ele tinha 7 anos de idade quando o VI pela pnmelra vez. Seu rela-
depois demonstraram os fatos, provavelmente um sintoma de conversão. , namento com as pessoas estava seriamente perturbado. Com efeito,
CIO , . h .
Mas, supondo que houvesse uma regressão, por causa de sua história ini- ' até a mãe o julgava muito inacessível e ninguem consegUIa c egar mUI-
cial, seria justificável tratá-lo como se fosse um bebê. Além disso, havia to perto d e l e . ' . ' . .
claras indicações de choque'físicoJ Alguns anos antes, ele havia sido encaminhado a mim. Os pais ha-
Fiz interpretações de como ele vinha no carro, com raiva e maus viam sido aconselhados a mandá-lo a uma escola especial porque sua ca-
sentimentos em relação a mim, que eram como comida estragada. Ele pacidade de se deixar educar parecia ser pratican:ente zero. Eles se recu-
começou logo a mexer-sé e a fazer movimentos regressivos, assumindo saram a fazê-Io e resolveram tentar curar Alan sozmhos. Ele melhorou um
posição fetal, como se estivesse dentro da mãe, chupando o polegar etc. pouco, e a famnia teve a sorte de encontrar uma esc~la com um~ profes-
Gradualmente a cor voltou-lhe às faces e, antes do término da entrevis- sora especialmente tolerante - mais detalhes a respeito em seguida.
ta ele havia se recuperado, dizendo qúe era bom o leite estar ali, mesmo Estava claro, desde a primeira vez em que Alan veio me ver com os
que ele não o quisesse [beber]. pais, que ele estava consciente de sua doença e queria o ,tipo .d~ .ajuda
Durante essa entrevista, eu comentei que dessa vez ele queria que que imaginava que eu poderia dar-lhe, Na primeira entreVista, mlClou-se
eu fosse médico, pois assim podia sentir-se como um paciente, e que ele o trabalho analítico, que foi realizado até o fim, .
Durante a análise, Alan desenvolveu um controle cada vez maior
realmente achava que queria tratamento para suas "tripas ruins" [uma re-
sobre suas fantasias e seus impulsos sexuais e destrutivos. Ficou mais afe-
ferência à sua incontinência fecal e ao enjôo.
tuoso com a mãe, mais tolerante e compreensivo com os dois irmãos me-
Essa entrevista mostra como.a necessidade de carinho durante uma
nores e passou a aceitar melhor a necessária disciplina dos pais. A~ m~­
regressão pode ter precedência sobre as revelações interpretativas que,
danças exteriores correspondiam a mudan~s dentro da. tran~ferencla,
não obstante, foram usadas e forneceram'um complemento valioso à ca-
onde ele elaborou detidamente suas aterronzantes fantaSias e Impulsos
rência que a criança demonstravaJ
onipotentes. O decréscimo da onipotência refletia-se na forma de sua
brincadeira: o que inicialmente eram deuses e demônios transformou-se
em cowboys e índios. . .
CASO 3 Como ele demonstrava tanta melhora, achei que pode na conside-
Para a maioria das crianças, e Billy era uma delas, o impacto de seus con- rar o fim da análise, já que os pais estavam cada vez mais seguros de que-
flitos está na famnia. Mas eles podem atingiL também a escola, e então rer e poder assumir a responsabilidade pelo filho. Antes ,de uma i~terru~­
tendem a atingir a sombra coletiva. Embora os professores possam pre- ção no período de férias, Alan regressou um tanto as fantaSia: mais
cisar e muito -de ajuda, não é fácil fornecê-la porque eles não costu- violentas. Mas quando viajou, enviou-me um postal, sem sugestao dos
mam pedi-Ia para si, mas geralmente para lidar com uma criança muito pais, dizendo que estava se divertindo muito e contando suas ~tivid_a.des,
difícil. O caso seguinte ilustra como se pode chegar à colaboração duran- Quando voltou, eu lhe disse que achava, já que ele agora podia sentir-se
te a análise e contribuir significativamente para o sucesso do resultado. feliz com a famnia quando eu não estava, que poderíamos pensar em pa-
O tipo de problemas sociais que surgem é mais evidenciado ~elas rar com as entrevistas, Não houve resposta direta; em vez disso, ele co-
crianças mais anormais, principalmente aquelas que excitam·o incons- meçou um jogo que havia jogado antes das férias, no qual havia an~ma~s
ciente coletivo com a implacabilidade de seus afetos: São elas as crianças ameaçados por homens ou demônios que viravam fumaça. Os ammals

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eram mortos misteriosamente de onze, passaram a quatro - e então Foi após o término da parte analítica de seu tratamento que ocor-
ele começou a.perguntar quanto tempo havia ainda. Interpretei sua an- reram os episódios mais significativos para o tema em questão. Eles de-
siedade diante do tempo como um desejo de se certificar de que eu Con- penderam, mais uma vez, da recusa dos pais em tratar Alan como um ca-
trolaria os demônios se ele não o conseguisse. O jogo continuou: os ani- so perdido. Para tanto, estes recorreram a padrões de defesa maníaca, o
mais acabaram reduzidos a apenas um, mas este venceu os demônios e pai mais que a mãe, de forma que seria difícil par~ Alan .m~nter um de-
devolveu a vida aos animais mortos. Quando isso aconteceu, Alan afir- senvolvimento maior do que aquele que eles haViam atmgldo em rela-
mou: "Então os poderes do bem venceram o mar. ção à patologia do pai. Parecia justi~cável espera~ que Alan d~:se sinais
A brincadeira apresentava características regressivas 'se comparada de um padrão de defesa que fosse nao apenas SOCialmente aceltavel, mas
com seus conteúdos antes do intervalo das férias. Evidentemente, a re- também amplamente aprovado.
gressão havia sido precipitada pela minha abordagem da questão do fim Quando a análise parou, eu afirmei categoricamente que Alan não
de nossas entrevistas. Isso era de esperar, devido à ansiedade provocada precisava ser tratado como um caso especial nem em casa nem na esco-
pelo final da análise. Na entrevista seguinte, a destruição foi bem menor la. Fói fácil para os pais implementar essa idéia muito bem, mas o resul-
e, quando eu lhe disse que não achava minha intervenção necessária a tado foi especialmente eficaz devido a dois fatores. '"
seu controle dos sentimentos, ele pareceu satisfeito e orgulhoso de si O primeiro é que a mãe de Alan havia pensado muito no filho e
mesmo. Então eu lhe disse que a próxima seria a última vez. tentado compreendê-lo de todas as maneiras. Refletindo sobre as lem-
Na última entrevista, ele estava mais amigável e aberto que antes e branças de sua própria infância e comparando-as ao comportamento de
havia ainda menos destruição. Essa entrevista terminou da seguinte ma- Alan, descobriu que sempre que achava o filho intolerável havia algo re-
neira: quando eu anunciei o final, ele foi para trás de uma cadeira. O lacionado a ela mesma.
olhar excitado que antes acompanhava a derrubada violenta da mobília O segundo é que o marido, um homem inteligentíssimo, e o sogro
surgiu. Após uma luta interior, ele pulou em cima da mesa, e a entrevis- eram, em muitos aspectos, como Alan. Ambos tendiam a isolar-se das
ta acabou quando eu o levei nos ombros até onde estava a mãe, com pessoas e a tomar decisões arbitrárias com relação à família. Ambos eram
quem ele desceu as escadas. O fim foi emocionante; havia pouco sinal temperamentais e sofriam de mau humor. O avô, inclusive, havia :e ~e­
de arrependimento, mas basicamente fúria e raiva, que ele controlou de cuperadó de um "colapso nervoso". O pai de Alan lamentava as pr?pnas
uma forma que só posso descrever como heróica - foi uma saída triun, faltas, mas não era totalmente intolerante diante das que se manifesta-
fante, onipotente. O ponto a destacar é que ante~ embora ele houvesse vam no filho.
regredido, havia controlado a regressão com o mínimo de ajuda e o triun- Essa combinação de características criou no lar um ambiente que não
fo também fora .mínimo. era tão normal e, ao mesmo tempo, era saudável o bastante para Alan vi-
Nesse breve relato, tentei transmitir o porquê estava certo de que ver. Além disso, graças ao tratamento, houve uma mudança significativa
ele conseguiria adaptar-se bastante bem se tivesse a oportunidade. A cer- na forma de lidar com ele. Quando se tentava forçá-lo a comportar-se bem
teza decorria não só do episódio final; mas também de numerosas oca- de um' modo que estivesse acima de sua capacidade, ele dava sinais de
siões anteriores, nas quais o seu sei! "bom" havia conseguido não tanto aflição que ambos os pais passaram a entender. Por conseguinte:..sabiam
triunfar quanto resistir ao impacto dos impulsos destrutivos e seus equi- muito bem o que estava além da capacidade do filho.
valentes na fantasia. Tinha havido sinais de preocupação. diante de sua Porém, os professores de Alan, representados pelo diretor, não gos-
destrutividade e alguns desejos de reparação,.embora não muito proemi- taram de saber que o tratamento havia chegado ao fim. Eles não tinham
nentes. A partir de relatórios subseqüentes, ele aparentemente tinha mais condições de apreciar a capacidade de adaptação que Alan havia atingi-
capacidade de sentir tristeza por ir emborc!, do que havia demonstrado do. Rara saber por que, será necessário considerar como essa situação se
abertamente. '" . desenvolveu. Quando Alan começou a freqüentar a escola, aos 5 anos,
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sentava-se n.o fundo da sala e parecia não prestar muita atença~o E


ta t I ' l . ntre- balizar muito as minhas. Quando, por exemplo, a suposta inacessibili-
n o, a prolessora ogo teve uma feliz idéia: deu-lhe permissão par . ver , . . d' 'd
da sal' b'br a sair dade de Alan à disciplina era muito discutida, podlamos incutir UVI a.s
a e ~r ~ara a I lO~eca durante as aulas. Alan via e depois lia os li-
ficientes na mente do diretor pedindo ao pai de Alan que desse sua Opl-
vros da blbltoteca e, assim, apreendeu muita informação aleatória E
abordage t 'b . . SSa su e aí começando uma discussão sobre as versoes
nião ~ abso Iutamente d·.
he-
m .con n UIU para o estabelecimento de uma relação singular
entes das reações de Alan. Outra fonte de ansiedade girava em tomo do
entre Alan. e essa profes~ora, o que dificultou as coisas. para os demais
professores, Alan presumia que. era seu direito comportar-se com os ou-
~tardamento intelectual da criança. Era possível mencionar determinadas
realizações de Alan que prometiam, mas isso não bastava para o diretor,
tros c?mo se comportava com ela e, assim, veio a ocupar uma posição
que ainda não conseguia controlar sua ansiedade. Ele continuou a enfati-
. especial n~ escola, realçada ainda mais pelo fato de estar regularmente
zar a anormalidade de Alan e a julgá-lo uma mácula em sua escola.
ausente tres vezes por semana, quando vinha para a terapia.
Então sobreveio Lima nova crise porque a professora de sua turma
Quando a análise terminou, a situação na escola estava melhor, pois
não pôde continuar dando-lhe seu trçtamento especial; ela estava deixan-
Alan, mostrava-se mais amigável com as outras crianças e havia inclusive
do a escola e Alan teria de freqüentar cursos de outros professores, me-
reun~do alg~~as em tomo de si, prometendo tomar-se um líder. Entretan- nos hábeis e tolerantes. Isso exigiu uma segunda conferência, durante a
to, nao participava dos t~ab~lhos de classe e seu rendimento escolar apre-
qual o argumento do diretor mudou - ele agora temia que, ~om m,éto-
senta~a lacu~as - na malona das vezes, estava bem.abaixo da média. dos menos sensíveis, Alan pudesse prejudicar-se de modo Irreparavel.
. A n:.edlda que Alan crescia e o esperado resultado do tratamento Além disso, ele não acreditava nos relatórios acerca da inteligência de
com~~o nao se materializava, a tolerância dos professores atingiu um pon- Alan e achava que estava fora de cogitação ele conseguir passar nos e~a­
to CntICO: A presença de Alan na escola tomou-se uma fonte de ansieda- mes eliminatórios para o segundo grau - como a sua professora espeCial
de, e o dl:etor mal conseguia refrear o desejo de expulsar o garoto. O pai
havia afirmado.
lutou .mUlto. para manter o filho onde estava; ele argumentava de uma Eu estava praticamente certo de que os quocientes de inteligência
manelra.mUlt.o incômoda e penetrante, mas, mesmo com meu apoio não obtidos anteriormente não forneciam uma estimativa correta da atual ca-
consegUl~ eVitar a exigência de que AI<m fosse transferido para um~ es- pacidade de Alan e disse isso, sugerindo que era hora de fazer novos tes-
cola de ::n~n~s mal-ajustadas. Nesse ponto, a intervenção de minha par- tes. O diretor capitulou e concordou em permitir que Alan permaneces-
te parecia indIcada. .
se na escola co~tanto que o teste desse o resultado esperado e eu
A?ós o fim~ da análise de Alan, a equipe da clínica não precisou de estivesse dis~osto a voltar a .tratá-lo se necessário. Eu concordei pronta-
o.utras IntervençQes que não ocasionais contatos com os pais por entre- mente mas tinha certeza de que não seria preciso terapia. O resultado
v~s~a, telefone ou carta. Contudo, Alan tomou-se uma .espécie de cause foi urr: Quociente de Inteligência de 120, com uma dispersão e algumas
ce~ebre, conforme ~e evidencia pelo númer,o de pessoas envolvidas: o pró- respostas dignas de nível adulto superior. . _
prro AI~n e os paIS, a professora da ·escola, depois um professor particu- Foi menos fácil persuadir a professora especial a renuncIar a sua re-
lar, o .dlretor da escola, assistentes sociais. e.a equipe da clínica inclusive lação com AIan porque ele a fascinava, mas com o tempo ela o fez. Alan
eu. Portanto: q~a~do o conflito atingiu um ponto suficiente, foi marcada passou nos exames eliminatórios e entrou para uma ~se()la .de seg~ndo
uma co~f~rencla a qual foram convidados todos os participantes exce- grau onde se manteve com sucesso e não houve recaldas. Comefelt~, a
to o propno Alan..
última notícia que tive dele é que estava trabalhando numa conheCida
_ A discus~ão girou em tomo da ansiedade do diretor. Felizmente, ela universidade.
pode ser modificada o bastante para não levá-lo a expulsar Alan imedia-
tam~n~e. Foi o g~pO c~n:o ~n:. todo o responsável por isso; minha parte
conSistiU em extrair as vartas Ideias que lá havia à espera.de expr.essão, sem (
." ..... " .. ........................,..."...................,..."......... ,., ......,... ,. "", ........ ~ . r.'.,r::'."!"..~F.~.~i.".'~.~li~ ........I.!,~,

10,A.FONnaçàOSimbólica I Agressividade , .. .
A princípio, ele demonstrou poucos sinais ostensivos da violência que ha-

1• ~ , I via causado sua exclusão da escolinha, embora a presença desta fosse su-
gerida por suas intensas ansiedades. Ele não podia, por exemplo, entrar
I na minha sala sem a mãe, que tinha de permanecer ao seu lado durante
a entrevista,
Neste cap 't I fi I -. ., . , ' .
I Uo ma I quero apresentare discutir
guns argumentos essenciais dest /. E
.
um caso que !lustra a/-
I Logo sua ,agressividade começou a revelar-se e teve início um dra-
ma repetitivo. De. repente, yinha-Ihe aos olhos um medo patético que o
. e Ivro. le fornec ' I' .
Oportunidade para aprofund _
armos a questao da f
era, a em dISSO, uma
~"
[ deixava paralisado diante de um objeto aparentemente inocente, como
uma característica relevante da sicolo . , . ,ormaçao slmbolica, se estivesse alucinado que é o que; de fato, creio que ele estava. Então
pouca atenção. . _. p . gla anahtlca, a qual demos até aqui ele se aproximava furtivamente do objeto e entregava-se maniacamente
r
, John - um garoto italiano de 5 a n o ' ", à sua destruição.
Via começado a àpresentar d s ,de Idade ao vir a clmica - ha- 1 Para impedir que sua destrutividade fosse excessiva, eu tive de in-
, esta os de excitação . 1 . . .
manlaca cerca de um ano t d ' .. VIO enta e mUItas vezes tervir fisicamenJe, o que o lev,ou a dirigir a agressividade contra meu cor-
an es e ser exammad Q .
dos ocorriam, sua noção da realidade _ o. . uando esses esta- I po. Ele ficou muito assustado quando jogou água em mim pela primeira
nários de controle _ como _era tao falha que os métodos ordi- vez e fugiu correndo da ~ala após o feito. Só voltou quando eu fiz a se-
a repressao e o c f . - , [
quando ele estava longe de D fi as Igo nao surtIam efeito guinte interpretação: "Existe. um John bom e um Dr. Fordham bom que
.. casa. rOr 1m a boa e r h estão juntos aqui, mas; nasal" há um John mau e um Dr. Fordham mau
quentava, após muitas tentativas d . d '-I' , ,sco ln a que ele fre-
caminhá-lo para tratament C e aJU a o, fOI obngada a excluí-lo e en- I que estão se destruindo".
o. omo passo prer' I Quando ficou menos receoso do que eu iria fazer, começou a com-
num pequeno grupo de c . '. . Imlnar, e f,! fora colocado
to escolar especial.
, nanças que necessitavam d
' , '. . . .. e acompanhamen-
. I portar__ se como se quisesse entrar em meu corpo à força, atacando-o com
a cabeça. Sua teoria era que os adultos tinham um determinado buraco
. A mãe d~ J~hn, uma mulher cari~ho' . r na parte inferi,or do corpo no qual ele poderia entrar, e queria testá-Ia pa-
mais no trato com ele devido ' I . ,sa, tendia a ser permissiva de-
. . , .a cu pa por haver c . d . ra saber se era verdadeira ou falsa. Essa idéia refletia-se também em suas
paI, por outro lado ressentia-se' d
. ' '.
mIsto de sentimentalismo e gr~ndilo .. A
' '..
. '
. na o um filho aSSIm, O
o comportament d filh
..:.
.
o o I o.e, sendo um
I brincadeiras e estava ligada à sua agressividade anal, que ele demonstra-
va curvando-se para a frente e fazendo gestos com as mãos que indica-
quando tentava' seus castigos
• I
VIolentamente ressentida Ap d
~u~ncla, nao conseguia controlá"IQ
na malona das veze d '
s elxavam a criança
I vam que do ânus estavam saindo fezes. Ao mesmo tempo, dizia que es-
tava explodindo "bombas". Essas atividades erap1 elab9radas a cada

raram ser dignos de confia


.
imbos os pais amavam o filho
esar esses proble
.
e quenam mante-lo e
I
_ mas, o ar·era bom, pois
E
. ' m casa. les demons-
I entrevista e variavam dentro de limites muito amplàs. Um do~ impulsos
nça ao querer ajuda filh mais freqüentes era o de morder várias partes de meu corpo; logo ficou
) tratamento e a avaliaça-o I" . r o I o traze.ndo-o para r evidente que meu órgão genital era·o alvo supremo de sua agressivida"
, pre Imlnar fOI am I
onhecimento que tinham d . , P amente confirmada pelo de oral.
Durante a . .
a cnança .
.
. .
, . ' . .' [
pnmelra parte do tratament '
:lracterizou-se por uma d' . _ o, o comportamento de John Audição
- - ISsoclaçao absoluta
m tres topicos: agressividade d' _
d d
' po en o ser subdividido [ Quando ele começou a fazer pinturas, eu notei que orelhas eram um de-
,au lçaO e fala.
talhe importante. Ele sempr~ as desenhava da mesma forma, que será
I melhor descrita .assim: elas ,pareciam os dois cotilédones de uma muda;
171 • A Criança COmo Indivíduo • /
• A Formação Simbólica • 173
, .......... , ....... , .......... " ............ " .......... ,, .... "., ....... ,,, .................. ,..... , ....... , ........ , ....... " ...... " ............. .
as duas folhas laterais, correspondentes à I
tal mente num único talo ~re has, espalhavam-se horizon- lo vicioso que perturbava seu relacionamento com as crianças de sua fai-
, que correspondIa à cab .
uma pessoa que não estava desenhada N~ ~ça, corpo e pernas de xa etária. Nesse dia, quando a professora tentou controlá-lo para romper
pernas de verdade pois o desenh I' ao havIa cabeça, corpo nem o círculo, ele comportou-se de modo muito diferente do habitual, reagin-
vo d ' o ma passava de um d'
e um esquema visual; cindido das a " lagrama sugesti- do com fúria e xingamentos. Quase que de imediato, ficara com medo
~orporal. Eu supus que as orelhas não ~ rtes ~als mt~gradas de seu ego do que iria acontecer em seguida. A professora, no entanto, permanece-
ISSO correspondia ao seu apare t f anSmltlam, rUldo ao seu corpo e ra passiva, compreendendo a importância do evento, e, para sua surpre-
, , fi n e racasso em escut
e amima atenção que dava a 'd ar o que lhe era dito sa, a agressão se refreara espontaneamente. Então ele pegou papel e lá-
o ruI o que ele mesmo fazia. pis e fez vários desenhos que, por iniciativa própria, trouxera para me
Fala mostrar. Após o primeiro desenho - uma face horrorosa com chifres e
No princípio ele mal falou e só come o ' '. uma boca imensos - ele fez outros, mas estes eram menos dramáticos.
eu consegui interpretar seus s'I~ . ç u a conversar livremente quando Ao fazê-los, acalmou-se e, ao chegar à clínica, havia conseguido colocar
I enclOS que eram m 't
começo da entrevista Eu Ih d" UI o marcantes logo no em palavras o objetivoda primeira imagem criativa: "Para dar medo em
d . e Isse que suas pala h'
e seu corpo, como as orelhas u . vras se aVIam separado gente", dissera batendo o pé. Depois ele me contou que os chifres eram
nica. Ele então me disse que a ' q le ele talvez tIvesse deixado fora da c1í- de diabo, que dos olhos saíam chispas de fogo e que o nome da figura
t e a' cI"mIca; haviam sido colocs dpa avras de fato est
i' avam na casa em fren- era "Bruxa-diabo".
~
Esses excertos do comp rast a' embora ele nao
a b
sou esse Como Interpretei seu comportamento em relação a mim como uma afir-
de comportamento pré-pesso~1 amento, d.e John mostram nítidos traç~s mação de que ele ~abia que poderia ser perigoso e que eu fora avisado
d EI ' caractenstlco dos prim . disso por ele próprio. Quando olhei mais atentamente para o desenho,
a. e e cruel, não-integrado Vlo . I elros meses de vi-
jeção. Sua imagem corporal : f ento, ~ .a def~sa predominante é a pro- percebi que, apesar de pretender ser horripilante, os olhos tinham o mes-
. e ragmentana ou me I mo ar patético que eu vira nos seus em inúmeras ocasiões e, quando vi-
contmuaram objetivos isto é - _ omp eta e seus objetos
- " nao sao parte de s . rei a folha, não me admirei de ver ali beijos; sobre eles havia várias figu"
que nao se havia formad eu sentImento do selt
o porque seus obl'etos b '. ' ras semelhantes a mandalas e letras do alfabeto, as últimas preenchendo
tavam para contrabalançar' . ons Intenores não 'bas-
os maus - nesse mom t ~
tamento reparador nenhum ~ en o nao havia compor- a maior parte do papel. Como sua aprendizagem era feita na escola, é
. ' a sensaçao de que d provável que as letras servissem de auxílio na reparação do rompimento
que crrara. . pu esse reparar o caos
, I da relação com a professora e que os beijos exprimissem seu amor e gra-
tidão a ela por não o magoar e permanecer inteira e intacta.
A IMAGEM S"MBÓLlCA Uma das caraterísticas mais enfatizadas no desenho era a boca, cu-
u· .- ',' J' • .
ja significação se havia revelado claramente antes, Ás orelhas, agora mui-
m dIa ele veIo. com a mãe à tninha sala ". to grandes, estavam unidas à cabeça pela primeira vez, enquanto a con-
pel na mesa, dizendo' "Para d d e colocou vanos p~d.aços de pa- venção utilizada por ele' para representá-Ias fora empregada -agora de
No .' " ar me Q em gente". .
pequeno grupo escolar que f " ' , , cabeça para baixo e convertida num nariz. A outra característica que ti-
mente obediente nas oc .- requentava, ele havia sido atipica- nha relação com seu comportamento anterior eram os chifres na cabeça
aSloes em que a prol1
dade para controlá-lo num t essora exercera sua autori- da figura. Esse objetos agressivos representavam os instrumentos de pe-
, con raste marcante e ,-
portamento na clínica e ao seu h 'b' d m re açao ao seu corri- netração que ele gostaria de ter na própria cabeça quando tentou entrar
a professora estava ausente' D ~dlt~ e atacar as outras crianças quando em meu corpo através do buraco que acreditava haver nele. Além disso,
, eVI o a 'Sua a . 'd
raçavam e ele ficava ainda ma' . I ~resslvl ade, os colegas o pir- é prováverque ele tivesse fantasias de fazer um buraco como esse, pois
IS VIO ento; asslm,estabeleceu-se um círcu- na brincadeira costumava fazei: "colinas" ou "castelos" de areia nos quais
......
água, pois a persistência de estruturas muito infantis em criançaS maiores
cavava, retirando o material do int . .... " ...... "..
Je o p~ngoso,em geral um animal '
· t . enor e buscando e se verifica especificamente nos estados clínicos em que a deintegração
ncontrar ali um ob-
fim rUla. , " " , ' ate que a superes,trutura de arel'a por aparece como desintegração.
Na brincadeira de John está ausente um objeto - é o seio, cuja pre-
O desenho marcou um 'está· I
volvimento e a partir d _. _ glO C aramente definido em seu des sença seria de esperar, a menos que ele tivesse alucinado sua destruição
, ai, mumeras mudan en- pela boca violenta. Nesse caso, só quandO sua capacidade de reparação
P?rtamento. Ele começou a vir sozinho à .ças o~orreram em seu com-
dito e podia ser desviado com mais facili;~~ha sala; ~sc~tava o que era
fosse descoberta, o objeto original seria atingido e representado. Só en-
tão sua evolução poderia ser considerada estável. Como era de esperar,
que pudesse terem mente AI' d' e dos obJetlVos destrutivos
· . em ISSO pela . . de fato houve posteriormente uma outra crise, a qual foi pressagiada'por
Jogos reconhecíveis como "f d ' pnmelra vez desenvolveu
azer e conta"· ele fi . d sua fuga de casa. No tratamento de John, o sadismo oral se foi tomando
sustava e me punha para fora da sala . _ . aZia,. e conta que me as- cada vez mais ostensivo até que ele atacou e mordeu implacavelmente a
estava com medo demais para d . _ I' ou entao mduzla-me a afirmar que
ta elxa- o entrar na sala f h roupa sobre meu peito. Nisso ele estava imaginando - e não alucinando,
para tornar o jogo mais real, C . e a ec ar-lhe a por- creio eu _ um seio mau. Mais uma vez, a energia instintiva concreta pré-
se dela, afirmando que eu era' :nB ao ele. Irrompia na sala e tomava pos-
a ruxa-dlabo" m - simbólica apareceu; seu objeto - o seio - era específico, e a elaboração
desco~
ser removido para o corred I a e que devia, portanto
r
briu que eu e, ao mesmo t: pe o qual John havia entrado. Ele da situação levou à consolidação das conquistas anteriores.
Para concluir este capítulo, a natureza simbólica da imagem precisa
ser relacion~da ao modelo teórico, principalmente quandO tanta impor-
mos ser influenciados ou t ,mpo, a temlvel figura arquetípica, poderia-
O. a e controlados por ele
utro smal de desenvolvimento . . tância se deu as imagens simbólicas por sua capacidade de expressar pro-
trouxe para a sala uma Nbo b" . revelou-se posteriormente. Ele
m a - um tubo d h cessos sintéticos favorecedores de individuação.
o o que a mãe lhe havia dad . e c umbo onde enfiara o O conteúdo arquetípico do desenho de John era evidente, e o no-
b 1 h_ o - e a Jogou com a d .
no. c ao, colocando as mãos sobre as N r e experImentador me que ele lhe deu, "Bruxa-dipbo", indicava sua natureza hermafrodita,
EVidentemente, queria que 'd ,orelhas por causa da explosão". '
da qual havia mais indícios na boca e nos chifres. Só por essa combina-
ur a~ o dentro da' ca-
b ' o ruI o parasse de pert b' I
eça; essa foi a primeira indica - d' ção, a figura expressava o processo de união característico do símbolo,
u' .' çao Ireta de que o ba Ih . .
g .ma cOisa para ele Em segu'd ru o Significava al- que sem dúvida contribuía para manter unidos e transmutar parcialmen-
. . I a, prosseguiu com .
gumte maneira: começou a g 't b seu experimento da se- te os impulsos instintivos provenientes da vida anterior bem como da vi-
n ar e errar ora ·col d -
as ore Ih as; ora, não. Assim descobriu ." . ocan o as maos sobre da atual da criança, contribuindo ao mesmo tempo para promover maior
tro de sua própr:ia cabeça 'e os d f a q!f~rença entre os barulhos den-
bertas, os gritos e berros se t;rn e ora: pOIS ~e .as orelhas estiverem co- controle sobre eles, isto é, para o crescimento do ego.
A definição de símbolo que Jung propõe implica que ele não é em
, Há muitas características in~:e:Ulto mais mteriores: . si representável, mas sim a entidade cujas manifestações podem ser vis-
que dependiam não apenas dei ' ,an.tes no desenvolvimento de John
tas na união de elementos psíquicos. O símbolo, nesse sentidO bastante
pais, da professora e meu, que e~aP:a~ft~;~d mas do cqmportarn~nto dos específico, está essencialmente relacionado ao se/f Desse ponto de vista,
te contexto, porém é o dese I' . o, r das mudanças. No presen-
· ' ' nvo vlmento d o episódio na escola e o conteúdo relevante da análise de John podem
Juntamente com seu maior controle e int a :epresentação" simbólica, ser incluídos em qualquer explicação dos conteúdos do símbolo. Já que
sua capacidade ,de expressar gratidã
ta
. egraçao de afetos, bem como
r~ta, o que possui mais interesse. e mt~resse de m~neira simples e di-
clonado a uma situaça-b colet' , . ' pa~lr de Imatenal desse tipo rela-
o se/f está por trás do desenvolvimento do ego na primeira infância e na
infância e já que o ego de John cresceu, seu desenvolvimento d~veter si-
do a conseqüência da· atividade sintética do se/f, promovida não apenas
ram ~senvolvidas. Nada mais es
fo d Iva pnmordlal que 'd" . '
" as I. elas deste-capítulo pelo próprio John, mas também pelas condições, especiais ,que lhe foram
caractensticas psicóticas' com, .perav~1 ~u:. acnança demoQstrasse
'. , o a outra .cuJas Ideias giravam em torno da
.............. , .....
• A Fonnação Simbólica • 177
propiciadas no tratamento e na tole A • " •••••••
, ........ ,."., .. . .., .................. , ......................... , "" .................................. , .... " .... " ..... " ........................... , ............ .
Conforme se podera' le b ranCla perceptiva da professora.
. . m rar John m h . cínações a partes de meu corpo de tal maneira que eu me sentia obriga-
cla muitas vezes antes da o c · _ ' e aVia atacado com vio/ên-
d' • aSlao em que estreo do a frustrá-lo.
o a prOleSSora. Nada do q u seu ataque auto-refrea-
ue aconteceu comigo'
q uanto os eventos que transco - Deve-se presumir que, a princípio, a imagem alucinatória tenha si-
lora tao transformador
' . rreram na escola' . do projetada de vez em quando no corpo da professora e isso o tenha
Via caractenzado apenas por d ,sua terapia de fato se ha-
mu anças grad . B amedrontado demais para permitir uma explosão de raiva com ela. Mas
pena comparar as .duas experiênc' uals. or conseguinte, vale a
las. " meu trabalho terapêutico diminuiu gradualmente o medo que ele sentia,
e veio um momento em que pôde testar a eficácia de sua defesa agres-
I. Na escola, a raiva era inibida espontane
siva contra a imagem amedrontadora.
qualquer con6: cOrporal ~ amente pela criança antes que
'. osse estabelecido O .:. Outro fator que contribuiu para a mudança foi o sexó e a atitude
comigo; eu tIO a de recorrer ao Cont I .,.' mesmo nao ocorria
ro e IISICO. passiva da professora, possibilitando à criança separar-se pela primeira vez
da imagem aterrorizante alucinada. Isso ocorreu não só por causa das di-
2. O objeto do seu ataque era uma mulher ferenças sexuais, mas também porque John foi capaz de comparar o con-
mem e isso deve ter sido I' ' ao passo que eu sou um ho-
mportante embo teúdo alucinatório da imagem à realidade, processo que havia iniciado na
vezes desse mostras de que el ' ra seu comportamento às
e nem sempre dl'st' , análise e a que pôde dar continuidade na escola devido à união das di-
sexo masculino do feminino, IOgUla claramente o
ferenças sexuais na imagem.
O próximo passo foi objetivar a figura atemorizante desenhando-a,
3. O, ~esenho fazia parte do currículo da esc '. . e nisso o seu ego foi colocado numa relação mais próxima sem precisar
mltldo e havia disponibilidade d . ola. Na analtse, ele era per-
John não o utilizava muito ne e, matenal para a sua execução mas identificar-se defensivamente com ela. A natureza da figura, que ele tam-
ssa epoca. . . ' bém usava magiçámente, evitando assim o perigo que meu corpo havia
representado antes, é bastante interessante, porém mais ainda é o fato de
Essas considerações mostram . . .
agressividade da criança e na atitud qu: a. pnnc~pal semelhança está na que ele a tenha construído, Isso demonstrou o quanto seu ego havia ga-
fora violento primeiro comigo d e ~ao-agresSlVa do adulto. Já que ele nho em força e poderia agora não só controlar suas emoções, como tam-
e
a f~lta de retaliação violenta de ~P:IS com a professora, pode ser que bém permitir a expressão dos processos de reparação já descritos em seu
fazia com ele em casa fosse mm .~ parte, ao contrário do que o pai segundo desenho, feito no verso do primeiro.
plosão com a profess~ra na e~:~:~Ulslto preli:,ninar necessário à sua ex- Foi a mudança de atitude do ego o mais instrumental na transfor-
ue
~er:te porque essa violência estivess: ele nao ~ tenha agredido fisica~ mação da alucinação e da violência físic~ em atividade imaginativa, um
a mae. para e le mais associada ao pai que sinal de que os fragmentos pré-conscientes do ego, provenientes dos
deintegrados do se/r, haviam se tornado mais intimamente relacionados
O fato de a profeSsora como h
atividades, embóra, ao con(rário dee~i~ver co~tr~'ado muitas vezes suas e parcialmente incorporados ao núcleo de seu ego. Outra confirmação
vez Pudesse ser explicado em t ' ela nao tlves"se sido atacada taI- dessa hipótese está na maior capacidade de distinção consciente entre o
s ermos de fatores' ' que é interior e o que é exterior a si e a maior diferenciação do mundo
o, vem a observação de que a . r . pessoais. Em apoio a is-
controlar na análise quando Vl~ enCla de John era muito mais difícil de . interior. Essa diferenciação se evidencia no fato de que antes do desenho
Como já fo' d' o pai o surrava antes. John apenas sabia que tinha "bombas" dentro de si; depois ele viu que lá
I I to,. em seus acessos d fi"
ça se tornava quase _ ou co . e una durante a análise 'a criari- havia não só os ruídos feitos pelas bombas, mas também os gritos e ber-
0: acredito, inteiramente -'- alucin~da En-
0 ros que ele poderia guardar dentro de si ou liberar no mundo exterior.
tão, em decorrência de m'l' h
n a mtervença-o t . . . . Caso fosse necessário, outra prova do crescimento do ego estaria na
res rltlva, ele associava as alu,
maior gama de atividades lúdicas e na compreensão do "fazer de conta".
...................... ...... ................ .,.
'

Dessas. indicações, pode-se inferir


que se sobrepõem na consciência t d a ~as~agem P?r quatro estágios
Primeiro: alucinações estreitamen~e o. os re aCI~nados ~ mesma imagem. Apêndice
tuais físicas que devem ser cla ·fi· dVlnculadas as relaçoes objetais instin-
, .. SSI Ica as como _. b T
quando isso foi reconhecido elab . d . pre-sim o ICOS. Segundo: só
ginadora se fez pr.esente e' d' .. ora o e ~nterpretado, a atividade ima-
10 UZIU ao terceiro está . ,
cador que operou então no sentido de indu . glO: .um slmbolo unifi-
mentos do ego foram integrados ao n' I ZIr ~o .quarto, no qual os frag- OBSERVAÇÕES E REFLEXÕES ACERCA DOS
Os adultos que .0 cercavam tiver uc eo pnnClpal do ego da criança. PROBLEMAS DECORRENTES DO ESQUEMA
quista de John, promovendo condi _am f.um P~p~1 fundamental na con- DE EVACUAÇÃO N~INGLATERRA
es
viesse a tomar forma Mas Joh t çOd avoravels para que o símbolo
. . neve e desenv I
nho para que os recursos pudesse~ .,. o ver-se; o bastante sozi- Durante a Segunda Guerra Mundial, fui nomeado consultor para um gru-
. . ser uu nados e, assIm, surtir efeito. . po de albergues destinados a crianças evacuadas das zonas bombardea-
das para a região central da Inglaterra. Isso constituiu para mim uma ex-
periência valiosa, que aumentou minha compreensão do self na infância
e da ansiedade depressiva como um passo no caminho da individuação.
O esquema de evacuação de guerra do Governo Britânico era vo-
luntário e, embora a maioria das crianças fizesse uso das instalações'dis J
poníveis, um número razoável permaneceu nas cidades bombardeadas,'
vivendo ao lado dos pais a experiência dos ataques em série. Como a gra-'
"
vidade dos bombardeios variava, a população ia e vinha. Algumas crian-
ças voltavam para casa nos períodos em que não havia bombardeios e
voltavam depois, quando os ataques eram retomados. Desse modo, a for-
ça e a fraqueza dos laços familiares muitas vezes se revelavam.
Havia inúmeras provas da aflição das crianças diante da remoção do
lar, muitas delas mostrando indícios diretos e indiretos de ansiedade acer-
ca do destino dos pais durante os bombardeios. Contudo, de forma ge-
rai elas suportavam a tensão e conseguiam adaptar-se suficientemente
bem, apesar de desconhecermos quais os efeitos mais remotos. Sem dú-
vida,' a·volta ao lar apresentou dificuldades, mas estas foram aparente-
mente superadas com surpreendente sucesso. '.
A boa vontade diante dos refugiados era imensa nas áreas de recep-
.~-. ção, principalmente durante os períodos de bombardeio. De modo ge-
ral, demonstrava-se um notável grau de tolerância diante do comporta-
mento das crianças, mesmo quando este era delinqüente, embora não
fosse fácil para as pessoas do interior compreender o comportamento das
i .,
crianças faveladas, acostumadas a ficar pelas ruas, nem. para os pais e
crianças das cidades suportar a tránqüilidade e o tédio do campo. A prin-
• 80 • A Criança como Indivíduo •
................. " ............ , .... " .... ,.,., ................................ , ...................... ",,"', ........................, ........ , ........... " ....... , .. • Apêndice • t 81
... ",,..", ....... .
cípio, não se definiu nenhuma medida especial para ,as crianças proble-
. mais
discutir . d e talhadamente eram encaminhadas a uma clínica, mas ne-
máticas, mas logo ficou claro que um bom número delas não se adapta-
h a era analisada. . do
va a nenhum alojamento a que se pudesse enviá-Ias. Portanto, criaram-
n um rian s só iam à clínica se estivessem dispostas e se a eq~~pe
se albergues especiais para aquelas crianças que não conseguiam dar-se
bem em nenhum dos alojamentos. As c onc~rdasse. Inicialmente não havia essa regra e eu fiz :,anas en-
albe.rgue. c d ti devido à tendência que aquelas crianças tinham de
\'-.;. Em algumas áreas, d~signou-se um psiquiatra para cons\)ltoria, que trevlstasI:~~:~S ~:~ilmente que as crianças que vivem em lar~s ~e
ver-
deveria aconselhar quanto ao encaminhamento a determinados aloja- desenvol e . _ d' nte dos funcionários ou medlcos de
mentos e supervisionar as equipes dos albergues. A minha função era dade) uma atitude de ~~rseg~lçao la, ndo a crian percebia a ra-
~ de seu círculo mais Imediato. Porem, qua . ça . -o
exatamente essa. O trabalho revelou-se interessante e produtivo; além
disso, a experiência corroborou em diversos aspectos a tese contida nes-
~~ da visita e via pesspalmente como eu era, a atitude de persegUlça

te livro. Por isso, julguei que valia a pena acrescentar as breves reflexões era mais facilmentecontom~da. a equipe do albergue tinha três
a respeito dela que virão em seguida. A discussão sobre as cnanças com . ' . Itra as-
funções. Em primeiro lugar, ela revelava q~an~o a csn:;a~ ~~~aourem~vi_
Éfácil deduzir que a ~vacuação colocava diante de nós muitas crian-
ças desacompanhadas. Como não poderíamos contar com. o valioso au- sado o limite de tolerância do pess~al ~ tal: ~7::ntinha vivo o interes-
xílio dos pais, os problemas destes teriam de ser desconsiderados no tra- das para outro albergue. Em sedgun ~ uçaga ' e finalmente prestava-se à
se da equipe por cada uma as ~n~n, s ,
tamento, exceto no que deles transparecesse por meio dos filho~. Porém,
defin~oom~;~~i~:a %~~uiano, es~ava particulalrme~teçaintpe~e~:~~eo :ã:
. - . s para admmlstrar o grupo.
segundo o que sabíamos, a maior parte das crianças que sofriam de algu- eu
ma espécie de anormalidade vinha de lares em que dificilm~nte se pode- ' I~ um ambiente ao qua a cnan
ria imaginar a possibilidade de uma criança sobreviver emocionalmente. ver se era posslve omecer tab'lidade destruída por sua expe-
apenas adaptar-se, mas recupe:a~.a ::. p~meiro o trauma da evacuação;
Além disso, um bom número era de filhos ilegítimos ou órfãos cujos, p~is
riência pregressa. Esta era de tres Ip. . os e'ml'nu' meras ocasiões; fi-
segundo, o traum~~ e. a 01
haviam morrido quando eram muito pequenoSiPorconseguinte, sua in;- d I 'amentos sucesslv
'd f. miliar que era em quase todos os
fância havia sido desbaratada a um, ponto além. de qualquer possibilida- nalmente, a expenenCla de sua VI a a ,
de de reparação, .: ," . 'd ada
casos extremamente ma ~qu . d' fornecido? Na época em que
Isso não quer dizer que a importância .dos pais fosse desconsidera-, M f o de ambiente po ena ser ,
da; pelo contrário, empreenderam-se todos os esforços' para que eles vi- , as que Ip "dos albergues já estava estabeleCida e eu de-
·1 eu fUI nomeado, a malona ' c o m o tipo de pessoal ade-
sitassem os filhos. Se eles não tivessem dinheiro para isso, o Governo o Parei com o problema de situar as cnanças _ os membros das
fornecia. A equipe do albergue era orientada a permitir e até incentivar 'bTd d (Com uma exceçao,
quado dentro das pOSSI II a es, , e'ncl'a com crianças difíceis,)
a permanência dos pais nas instalações. Fazia-se de tudo, por intermédio - 'h t ' mento na convlv ,
equipes nao tIO am rema h ' to havia sido acumulado de manel-
dos serviços de assistência sOcial,para -persuadir os pais aesc(ever regu-: Qualquer que fosse seu con eClmen ,
larmente e, quando o Contato era in~errompido, buscava-se sempre que , ,, c rso de seu trabalho,
ra pouco. sls,tematlca ,no. u rinci ai fator no meio em que a criança se
possível restabelecê-lo.
A equipe constltUla o p p _ 'r dEssa apa-
Adotei em meu trabalhá o método de visitar.alguns albergues regu- " o ambiente em geral nao era especla lza o, ,
IOsena; portanto, _ mais claramente do que teria sido posslvel
larmente e, sempre que podia, pernoitava para poder sentir mais de'per- rente desvantagen:. m~strou rsonalidade de cada membro cons-
to a vida íntima do albergue. Eu brincava e conversava com as crianças e em outras circunst~ncla~ - co~o a pe mo eles vieram a aprender algo de
comparava as anotações de cada uma com a equipe. Algumas crianças tituía a consideraçao pnmo:dlal. E, co _ oderia empregar método
que apresentavam determinadas dificuldades qu~. o pessoal gostaria de psicologia, era mais que eVidente q~e nao_ se p
algum sem levar esse fator em conslderaçao,
.82 . A Criança como Indivíduo •

...... , ....
. U~ dos p~ncipais problemas era a disciplina, sobre o qual logo se
eVidenCIaram diferentes pontos de vista. Nos albergues em que h . d s o máximo possível nas circunstâncias e muitas crises foram supe-
. d' . r h . aVia lera a le desenvolveu um excelente senso de responsa b'l'd I I ade,I toman-
mais ISClp ma, aVia menos problemas ostensivos com as crianças. Algu- ra as. E
d
do-se um trunfo do albergue em diversos aspectos. Por exemp o: enca-
fimas delas sem dúvida precisavam do que se costuma :chamar de "mão
1/
beçou um "comitê de danos"; qu: an~tava ~odos os estra.gos feitos ao
Irme para que se pudessem manter a distância seus conflitos interiores.
Por outro lado, embora essas 'crianças atingissem um estadO" de estabili- albergue e tentava repará-los. Porem, a medida que creSCia, t~~ava-se
dade, seu relacionamento Com os adultos e seu desenvolvimento como 's difícil controlá40 - ele não apenas causava danos matenals, mas
mal . 'd d
um ;odo era~ me~os. s~tisfatQrios que nos assim chamados "albergues li7
aterrorizava os outros· garotos do grupo. Quando a destrutlvl ~ e cres-
v:~s , nos ~uals a discIplIna e o castigo eram reduzidos ao mfnimoneces- ceU, a culpa veio cada vez mais à tona até ele dizer ·que acreditava que
era maldito e que, sem dúvida, iria para o inferno. .
sano e fenomenos Como a destrutividade, o absenteísmo escolar, o .furto
e os atos sexuais eram vistos como sintomas e tratados como tais: Nesse momento foi necessário removê-lo, já que a vida de todo o
Era ~uito mais difícil administrar,um albergue sem punição. A enor-
albergue estava em jogo. Ele foi levado para um grande albergue admi-
r:n: energIa das crian.ças exigia muito mais recursos da equipe para cana-
nistrado por um ex-suboficial da marinha que tinha um dom todo espe-
cial para lidar com os garotos de modo g,:ntil por~~ fi~e.· A tomou~se
Irza-Ia de modo a eVitar em sua esteira um desastre. . . :.
" ~ Logo ~cou c1ar~ q.u~ determinadas crianças que não tolerava'm a
bem-comportado, abandonou as explosoes de. vlolencla~ d~u-~e .mUlto
bem organizando jogos e "aquietou-se", A rotina e 'a justa, d~s~l~hna do
mao firme nem a dlsclphna precisavam de liberdade. Mas também fi,
albergue ajudaram-no a organizar a vida na base que havia· iniCiado no
cou claro que algumas crianças não poderiam ser tratadas com um sim-
ples relaxamento da disciplina. Para ilustrar essa questão, considere-se o albergue livre, mas que não conseguira manter lá.
. exemplo?~ um garoto que não deu certo num albergue livre, cuja equi-
Um caso assim revela quão ilusório é o critério do comportamento
pe sem duvIda era extremamente hábil em manter a vitalidade das crian- no julgamento da normalidade ou anormalida?e d~ uma criança, preci-
ças dentro de limites. se ela ou não de ajuda psicológica, Era imposslvel lidar com seu probl~­
Esse ~aroto,· A, de ·12 anos, se havia tornado líd~r d~ um grupo q~:
ma até o fim e, assim, restabelecer a coerência de sua psique num regi-
me de liberdade. Quando as forças repressivas se relaxaram" o pro?lem?
quase hav!a p<:.sto pa:a fora a equipe de um dos albergues .. À 'superviso,
veio à luz inteiro, de uma maneira que o tornou um proble~a socIal c~­
ra, que.ate e~tao haVia conseguido lidar com as crianças, só restara' a rai-
tico, Em decorrência da mudança de ambiente, o garoto ~de encobnr
v~ ~ a 1m potencia, pois sua disciplina não surtiu efeito algum ,contra as
atlvldades ex;remamente anti-sociais do grupo. Esse garoto era forte, ro- seu problema de forma a parecer que ele havia sido resolvl~?, ~as esse
b.usto e saudavel,. mas na v~rd~de estava aterrorizado com as cónseqüên-
processo rudimentar não tem nada que ver com sua reabdltaçao num
C1a,s .de s~a c~pa~l~ade de vlolencia. No passado,ele havia tido febre reu-
sentido mais profundo, .
matlc~, .Ido a chmca de. convalescença e' ainda tinha medo de que o Porém de 'modo geral, restava pouca dúvida de que os albergues li-
vres tinham' os melhores' resultados,' As crianças saíram de lá com a lem-
coraçao parasse porque era "mau" e doente e pudesse acabar causando
sua morte.'Em outras palavras/ele tinha uma grande sensação de culpa brança de um tempo feliz que dificilmente esqueterãoe quase toda,s .real-
~elo comportamento, que era reprimida e reaparecia sob a 'forma de an- mente se desenvolveram. Os outros albergues tiveram ~m papel utll ~o
Siedades hipocondríacas. . .. . . '. . . atendimento às crianças que não poderiam suportar a liberdade ou nao
O pr?blema que. se apresentava poderia ser assim descrito:'~ culpa
precisavam dela, . . ..' ... ' " .
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daquela cnança. podena ser trazida à consciência e.então modificada pa- Para fins de comparação com A, tomemos o exemplo de uma cnan-
ra restabe~ecer sua coerência psíquica? Uma longa tentativa foi feita num I,
ça qúe pôde desenvolver,se imensamente num albergue livre. ~ • '
albergue lIVre. O que aconteceu? Suas explosões de violência foram t6- . Quando B chegou ao albergue porque seu lar em L~ndres na? co~­
seguia tolerá-lo, era um garoto de 6 anos extremamente VIVO - mUito atl-
• I\per,,~n,ç

t 81 . A Criança como Indivíduo • ." ..... " .............. , ... " ........................... " ..... .,." ... " ....... " , ................. .... " .. , ................. " .... .
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leradas o máximo possível nas circunstâncias e muitas crises foram supe-
. U~ dos p~ncipais
problemas era a disciplina, sobre o qual logo se
radas. Ele desenvolveu um excelente senso de responsabilidade, toman-
eVI~en.cl~ra~ diferentes pontos de vista. Nos albergues em .que havia
do-se um trunfo do albergue ,em diversos aspectos. Por exemplo, enca-
. mais dlsclphna, havia menos problemas ostensivos com as crianças: Algu-
beçou um "comitê de danos", que anotava todos os estra.gos feitos ao
mas delas sem dúvida precisavam do que se costuma 'chamar de "mão
albergUe e tentava repará-los. Porém, à medida que creSCia, tomava-se
firme" para que se pudessem manter a distância seus conflitos interiores!
mais difícil controlá'lo - ele não apenas causava danos materiais, mas
Por outro lado, embora essas 'crianças atingissem um estado de estabili-
aterrorizava os outros- garotos do grupo. Quando a destrutividade cres-
dade, seu relàcionamento com os adultos e seu desenvolvimento como
ceu, a culpá veio cada vez mais à tona até ele dizer que acreditava que
um :odo eran: me~os. s~tisfatQrios que nos assim chamados "albergues Ii+
era maldito e que, sem dúvida, iria para o inferno.
vres , nos quais a dlsclphna e o castigo eram reduzidos ao mínimo neces:
Nesse momento foi necessário removê-Io, já que a vida de todo o
sário e fenômenos como a destrutividade, o absenteísmo escolar, o furto
albergue estava em jogo. Ele foi levado para um grande albergue admi-
eos atos sexuais eram vistos como sintomas e tratados como tais.
nistrado por um ex-suboficial da marinha que tinha um dom todo espe-
Era muito mais difícil administrar um albergue sem punição. A enor-
cial para lidar com os garotos de modo gentil porém firme. A tornou~se
~~ energia das crianças exigia muito mais recursos da equipe para cana:
bem-comportado, abandonou as explosões de. violência, deu-se mUito
bem organizando jogos e "aquietou-se". A rotina ea justa. di.s~i~lina do
ltza-Ia de modo a evitar em sua esteira um desastre .
_ Logo ficou claro que determinadas crianças ~ue não tolerav~m a
albergue ajudaram-no a organizar a vida na base que haVia IniCIado no
"mao firme" nem a disciplina precisavam de liberdade. Mas também fi-
albergue livre, mas que não conseguira manter lá. '
cou claro que algumas crianças não poderiam ser tratadas com llm sim-
Um caso assim revela quão ilusório é o critério do comportamento
ples relaxamento da disciplina. Para ilustrar essa questão, considere-se o
no julgamento da normalidade ou anormalidade de uma criança, preci-
exemplo ?~ um garoto que não deu certo num albergue livre, cuja equi-
se ela ou não de ajuda psicológica. Era impossível lidar com seu probl~­
pe sem dUVida era extremamente hábil em manter a vitalidade das.crian-
ma até o fim e, assim, restabelecer a coerência de sua psique num regi-
ças dentro de limites. .,
me de liberdade. Quando as forças repressivas se relaxaram, o pro?lem~
Esse ~aroto,· A, de ·12 anos, se havia tornado líder de um grupo q~e
veio à luz inteiro de uma maneira que o tomou um problema SOCial cn-
quase hav!a p0..sto pa:a fora a equipe de um dos albergues.·Àsuperviso" tico.Emdecorrincia da mudança de ambiente, o garoto pôde encobrir
ra, que:ate en.taa. havI~ conseguido lidar comas crianças, só restafá· a rai-
seu problema de forma a parecer que ele havia sido resolvi~~, ~as esse
v~ :a Impotencla, pOIS sua disciplina não surtiu efeito algum.contra as
processo'rudimentar não tem nada que ver com sua reablhtaçao num
atlvldades extremamente anti-sociais do grupo. Esse garoto era forte ro·
b.usto e saudável,. mas na ve.rd~de estava aterrorizado com as cõnseqGên- sentido mais profundo.
,
-
Porém, de modo geral; restava pouca dúvida de que os albergues h-
clas de.suacapacldade de vlolenda. No passado, ele havia tido febre reu-
vres tinham os melhores resultados.'As crianças saíram de lá com a lem-
mátic~, ido à clínica de convalescença e ainda tinha medo de que o
brança de um tempo feliz que dificilmente esquecerão e quase toda: ~eal­
coraçao parasse porque era "mau" e doente e pudesse acabar causando
mente se desenvolveram. Os outros albergues tiveram um papel utll ~o
sua morte." Em outras palavras, ele tinha uma grande sensação de culpa
atendimento às crianças que não poderiam suportara liberdade ou nao
~elo comportamento, que era reprimida e reaparecia sob a forma de an-
siedades hipocondríacas. . . precisavam dela., ., . "".'
O pr~blema que.se apresentava poderia ser assi~ descrito:~ culpa I . Para fins de comparação com A, tomemos o exemplo de uma cnan-
ça que pôde desenvolver-se imensamente num albergue livre." _ : '
daquela cnança podena ser trazida à consciência e.então modificada pa-
. Quando B chegou ao albergue porque seu lar em Lo.ndres na? co~­
ra restabelecer sua coerência psíquica,? Uma longa tentativa· foi feita num
albergue livre. O que aconteceu? Suas explosôes de violência foram to-
I seguia tolerá-lo, era um garoto de 6 anos extremamente VIVO - mUito atl-
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• Apêndice • t 85
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voo e eternamente irrequieto. Ele andav .'


dOIS metros de comprimento a com uma Imensa vara de uns
ver tal mudança. Além disso, ela possuía uma considerável compreensão
tucar pessoas e obJ'etos Com' q, ue gObstava de balançar e usava para cu-
. e a que rou . I . psicológica e, sem dúvida, isso era um fator importante na promoção do
monstrava pouco ou nenh ' Jane as mais de uma vez. De-
. um remorso por s d I' desejado desenvolvimento. ,
tlmento pessoal, suas r - eus e ItOS; faltava-lhe o sen-
, eaçoes eram gross . . A evacuação tornou evidente o fato de que as crianças podem estar
ocasiões e diante de frust - b eiras e anlm, alescas. Em algumas
raçoes astante le I sujeitas desde muito cedo na vida a problemas que exigem suma expe-
va com qualquer coisa que visse I f ves, e e se enfurecia e acaba-
I . . pe a rente Quand riência e compreensão da parte dos seus responsáveis. Ela obrigou-nos a
e e, gntava, chorava e espemea va . , o se zangavam com
dar-nos conta da urgente necessidade não apenas de maior compreensão
lhes que parassem B demo t , agarrando-se as peSSoas e implorando-
. . ns rava uma falt das crianças como também de adultos com treinamento adequado em psi-
social, de forma que se co ' a quase total ,de sentimento
, II sse um adulto a I -. , cologia,infantil para assumir tanto o seu cuidado quanto a sua análise.
estava em mania. ,, , ,conc usao mevitavel é que ele
Como já foi dito num capítulo anterior, graças ao seu inconsciente,
Um a.~o após a admissão, continuava n ._ as crianças são tão contaminadas pelos problemas dos pais que muitas
mudança: Ja não andava com a a mesma sltuaçao, com uma
vezes acabam precisando de assistência analítica antes que o problema
f
Osse presa de uma energia viole n t d
vara mas aind
_ '
a se comportava como se
apresentado por seus sintomas possa ser resolvido. Tomando ,a experiên~
determinado momento fi' b a a qual nao conseguia livrar-se. Num
.
fi10 diante , ICOU o cecado pel ~ cia com as crianças evacuadas para os albergues como um todo, jamais
de uma lareira c . d o ogo e sentava-se horas a
d o extenor. · , I aSClOa o completa b' imaginei que minha prévia e um tanto incerta conclusão a respeito da
Acendia fogo e I ' mente a straldo do mun-
m qua quer lugar ob . d análise infantil e de sua necessidade fosse receber apoio tão substancial.
permanentemente atenta ao I ,ngan o a equipe a ficar
cendiando a casa. que e e estava fazendo, senão acabaria in- Aqui cabe uma pergunta que sempre me preocupou vivamente e
que muitas vezes vem de outras partes: as crianças precisam da análise
Então B dese I
nvo veu terrores notu " . ou devem, em vez disso, ser tratadas somente por meios indiretos? Essa
olhos atrás da Cortina" e ' mos de ÇOlsas brancas com
. , mais ou menos na mes ' pergunta. tem relevância do ponto de vista psicológico porque exige que
nos eXigente e mais COopera ti .. ma epoca, tornou-se me-
nos perguntemos: qual a razão de colocarmos as crianças de volta no in-
um mês após a admissão a m~o, maiS afetuoso e obediente. Um ano e
, ae morreu - o fat ' consciente do qual elas estão gradualmente emergindo? Já tentamos res-
gumas das quais expressa-o de A o provocou lagrimas al-
. pesar autentic R ' ponder? essa pergunta num ,capítulo anterior, mas é possível lançar ain-
cou mUito preocupado com o d . o. ara nossa surpresa ele fi-
da mais luz sobre o tema a partir da experiência com as crianças dos
mento. Queria ajudá-los e s emdais membros da famma nes;e mo- ,I
Po d re,'" pediU que viessem para , pensan o que eles est " I albergues.
o alb avam num lugar Está claro que o ~so de A não poderia ser curado sem análise. Por
s· ergue.
e~ sofnmento o fez mudar radicalment ' . outro lado, o de B - embora ele pudesse ter-se desenvolvido ainda mai,s
nou mais peSsoal e agrada' I R ,e, de maneira que B se tor-
"E ' ve. Or exemplo a fi'- do que de fato aconteceu - era consideravelmente melhor. Seria fácil ci-
u queria meu chá por favor" . , , s re elçoes passou a dizer'
. ' , , ao IOves do rud . "O d ' . tar outros exemplos de desenvolvimento impressionantes, o que poderia
- d OIS modos de expressão que ., ,e. n e esta meu chá?"
O . I ustram a mudança _ dar a parecer que o ambiente adequado, apenas, seria a solução dos pro-
'. OIS meses depois, ele deixou o alb . _ blemas de muitas crianças. Entretanto, não acredito que essa conclusão
mmlstrativa. Havia del'xad d' ergue por razoes de ordem a, d-
o e ser um fenô d' seja justificável.
ra tornar-se uma criança com . meno e Impessoalidade pa-
' , Sentimentos pess' . Está claro que os conflitos de B não encontraram alívio e o mesmo
con filar na supervisora do alb I _ . oals reais. Começara a
. ergue. sso nao fOI p . se apli~va a todas as crianças que pude observar em períodos de até três
CISO uma supervisora que tivesse' oU(~a COisa, mas foi pre-
anos. Não quero com isso sugerir que elas pudessem melhorar, pois al-
der as crianças e um trem d Urna Imensa capaCidade de compreen-
en o amor e tolerância por elas para promo- gumas estavam tanto quanto se possa afirmar com base no atual nível
de conhecimento - além da ossibilidade de a'uda. Mas o fato de seus
186 • A Criança como Indivíduo •
.............. , ....... " .... " ...................................... " ............... , ......... , ...................... , ....... , ........................ " ............ .
. eses e eu diria
Ibergue por um ano e CinCO m ,
problemas não haverem sido radicalmente resolvidos demonstra sua ne- Ele permaneceu no a . 'do se estivesse em casa. Mas
. " d do que tena ocom - d'
cessidade de maior assistência. Por conseguinte, com base nessa justifica- evoluiu mais rapl o b mb'lente do albergue nao po ena
qUe - f' de que o om a . a-
tiva, elas constituem o campo legítimo da pesquisa e da terapia analítica. 'oha conclusao 01 a . f dental Essa criança trazia anorm
rol - d conflito un am . f a-
Além disso, a compreensão analítica tem vantagens gerais sobre promover a soluçao . o , . estava abaixo do peso esperado; ora ~m
qualquer outro tipo de tratamento de grupo: em primeiro lugar, as mu- lidades desde o nasCl;n~nto, o e a mãe dissera que, nesse penodo,
danças são mais rápidas; em segundo, a criança é receptáculo de uma roentada por pOUqUlsslmO t:~lhe de mamar, pois estava ela mesma
quase desmaiava ao tentar ou dez semanas, tempo em.que
compreensão mais aprofundada de seus conflitos do que seria possível
doente. Ela continuou lutand,? porbne~~e pegou uma pneumonia e fOI de-
numa situação grupal e, por isso, não precisa passar por tantas experiên-
ele ficou subalimentado. En~o, ~ e recuperara inteiramente desse mau
cias penosas praticamente só; em terceiro lugar, a análise vai à raiz do
problema 'de um modo que nenhum outro método'possibilita;'em quar- senganado, mas sobr~vive~d am~~~ para tratamento, era empurrad; pa~,/\
to, ela permite 'que nasala de consulta sejam "contidas" muitas ativida-
começo e, quandO fOI t:azl o a Y J
ra toda parte num carnnh~.. e mas apesar de sua gravid,~-~
des anti-sociais qúe, conseqüentemente, não são atuadas no grupo; por
fim, ela nos fornece uma compreensão mais' detalhada da criança e, as-
Um caSO como esse e mUito grav.'d
strou a partir e
I
su
a an 'lise:àquilo q.l!~. euha -
.~ --, ~- /. e
í
I criança claramente d emon I _extêfiõr:~ sabeFFpreClso ..9"3IS qUI
sim; contribui para que saibamos como lidar com ela. via inferido com base na observaçaO \. . ,.,.-/ /
\
Quando os bombardeios diminuíram, muitas ,das trianças voltaram, · te propiciado pelos albergues._ .. -.. _.. ' - . /
o bom amb len
permitindo que fossem enviadas ao albergues diversas criimças que pre-
cisavam de afastamento do lar por um certo período'.
l í

//
/
I

, O caso seguinte, de C, fornece um exemplo por meio do qual po- \ ;'


/

;'
demos estudar a relação entre a análise infantil e a vida no albergue. ./
Esse garoto foi enviado a um albergue no qual fora possível estabe-
lecer uma relação muito boa com a superv.isora, que estava sempre pron-
ta a entender e' aplicar'com grande habilidade as idéias da 'psicologia, O
garoto tinha 5 anos de idade ,quando sua análise começou. Ele já estava
em análise havia um ano, com duas visitas semanais, quando chegou ao
albergue, de forma que se sabia muita coisa a seu respeito, Uma das éa-
racterísticas mais marcantes era o medo 'das, conseqüências de seus sen-
timentos violentos, que o dominavam completàmente durante as entre~
vistas analíticas. Entretanto, ele não ousava dar-lhes vazão em outra parte.
C estava abrigado no albergue havia cinco meses e, nesse tempo, não re"
cebera mais nenhum tratamento.' Conseguira socialmente algumdesen-
volvimento, mas regredir'aem outros aspectos. Então eu o aceitei para
dar continuidade à sua análise. \
A princípio; parecia ter havido uma considerável'mudança; ele es-
tava mais amigável e cooperativo, 'mas issoera'apenas'superficial. Certa- \
mente, era uma mudança para melhor,' mas não tocava nos conflitos fun-
damentais, que logo vieram à tona no mesmo 'estado que antes. \\
/IP

Notas

As presentes notas suplementam referências já dadas no texto. Elas des-


tinam-se a apresentar, a cada capítulo, livros e artigos que influíram nas
conclusões atingidas. Não se trata aqui de cobrir toda a literatura dos te-
mas selecionados, mas sim de propiciar acesso a eles. A referência à bi-
bliografia que se segue é feita pelas datas de publicação ou, no caso de
Jung, pela menção ao volume das Obras completas.

CAPÍTULO I: ANTECEDENTES
Uma boa introdução à obra de Jung está em Fordham, F., 1966.

O ego e os arql]étipos
Fordham, M. "Biological theory and the concept of archetypes". ln: Ford-
ham, M., 1957. Hobson, 196,1. Jung, oe
VII; "0 conceito de inconscien-
te coletivo". ln:oeIX, parté I; além disso, há outros ensaios relevantes
nesse volume.

Método
Fordham, M. "Problems of active imagination". ln: Fordham, M., 1958.
Jung, "A função transcendente". ln: oe VIII; "A técnica da diferenciação
entre o eu e as figuras do inconsciente". ln:oe oe
VIII2; "Introdução" a
XII; nA aplicação prática da análise dos sonhos". ln: oe XVI.

A alquimia e as idéias históricas de Jung


oe IX, parte 2; XI; XII; XIV; ew XIII.
Individuação e misticismo
Fordham, M., 1958, 1985a.
• 90 • A Criança como Indivíduo •
• Notas' .9 •

CAPÍTULO 2: BRINCAR
the self and theego in childhood", ambos em Fordham, M., 1957; 1963,
Gardner, 193Z Greenacre, 1959. Klein, 1955. Lewis, 1962. I"Por que as 1965; 1966.
crianças brincam". ln: Winnicott, 1982.
Reconstituição
CAPÍTULO 3: SONHOS Fordham, E, 1964. Fordham, M., 1965b. Rubinfine, 196Z

Amplificação ' Observação de bebês " , '. .


Jacobi, "The dream of the bad animar. ln: Jacobi, 1991. Bick, 1966. Call, 1964. Escalona, 1963. Spitz; 1946; 1~5~: etc. W~nn~cott,
"A observação de bebês em uma situação estabelecida . ln: Wlnmcott,
Sonhos da primeira infância 2000.
Despert, 1949.
Autismo infantil ' ,
Sonhos de fases postenores Bettelheim, 198Z Fordham, M., 1976,
Wickes, 1966.

CAPÍTULO 6: O AMADURECIMENTO
CAPÍTULO 4: DESENHOS Vida intra-uterilia e nascimento
Greenaere, 1945. Sp'i~ 1993. Vemey e Kelly, 1982.
Baynes, 1955: Eng, 1931. Também Fordham,'M., sem data. Jung,'~O sim- , . --'

bolismo da mandala". ln: oe


IX/I. KelIog, 1955. Le Barre, sem data.
O par afetuoso ,
Read, 1943. ' " ': I .
Winnicott, "Preocupação materna primária". ln: Winmcott, 2000. Sega I,
1975. Bion, 1962: ,"
'J '\,

CAPÍTULO 5:
, O MODELO CONCEITUAL
'
Objeto transicional
Psicologia e {iefesas do ego Winnícott, 2000 e 1967. Coppolillo, 196Z Fordham, M., 1977.
Arlow e Bfenner, 1973. Apfelbaum, 1966. Fairbaim, 1980. Fr~ud, A.,
1986. Guntrip, 1961. Hartmann, J958. Identidade
Erikson, 1976.facobson, 1964-65,
Os arquétipos
Fordham, M" "Biological theory ançl the concept of arçhetypes", ln: Ford:
Fase de separação-individuação
Fordham, M., 1968. Mahler etal., 1977, Joffe e Sandler, 1965.
ham, M" 1957; 1962; 1965. Hobson, 1961. Segal, 1975, a partir de cuja
obra se pode ter acesso à de Melanie Klein. Spitz, 1959.Piaget, 197t' e
também outras de sua vasta série de monografias. Conflito edipiano ..,
A literatura é por demais vasta para que se citem Itens eSP:clfic~s.?ar-
o self gumento é desenvolvido a partir da obra ~e Freud, da modlficaçao mtro-
duzida por Jung e também da obra de Klein (Cf. Segal, 1975 e ]acobson,
Fordham, M., "Origin of the ego in childhood" e "Some observations on
1964-65).
.............. .,,, ......... ,, ............ ,, ............ , " ...........
"""0 ••• " •• " ........ .
.." ......................... , ... , .... .

CAPÍTU LO 7: A FAMÍLIA
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