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A CRIANÇA
Michael Fordham
INDIVÍDUO
o trabalho pioneiro de Michael Fordham acerca dos arquétipos
e do se!! na infância se estende por mais de cinqüenta anos.
Fundamentado em bases empíricas, o autor inspira-se em sua vasta
experiência como psicoterapeuta e na apticação das formulações
de Jung à psicologia infantil. Esta foi a primeira obra a apresentar
um modelo junguiano de desenvolvimento.
Na concepção que Jung tem da mente, é central a idéia de um se!!
individual - a totalidade de psique e soma. Fordham postulou
arrojadamente um se!! primário, que precedia o ego na infância.
Sua hipótese revelou um potencial de energia que contribui para
a formação do ego consciente e dos arquétipos inconscientes,
resultando na individuação. Trata-se de um sistema não apenas
estrutural, mas também dinâmico.
A concepção do se!! na infância, proposta por Fordham, foi
revolucionária para os junguianos e pioneira no desenvolvimento
infantil. Na época, ainda não haviam começado as modernas
pesquisas sobre a infancia. Desde então, o acúmulo de evidências
propiciadas por fontes experimentais e analíticas deu mais peso
ao conceito de que a dinâmica do se!! é uma importante caracte-
rística do desenvolvimento.
Este tivro apresenta várias descrições fascinantes, obtidas da
experiência nos estudos de observação de bebês e da prática de
Fordham. Mas, além disso, fornece os conceitos básicos nos quais
se baseia a pujante abordagem junguiana da ailátise infantil.
Trata-se de leitura imprescindível para estudantes e profissionais
das áreas de assistência e psicoterapia infantil.
Michael Fordham
ISBN 85-316-0701-9
EDITORA CULTRIX
111111111111111111111111
9788531607011
G.4ZETA DO POVO
Título do original: Chilqren as Individuais. Sumário Qibliote(a
Publicado pela primeira vez pela Free Association Books, Ltd., representada por
Cathy Miller Foreign Rights Agency, Londres, Inglaterra,
Todos os direitos reservados, Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usa-
Prefácio ... _................................................................................................... . 7
da de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive foto-
cópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão Agradecimentos ................................................................. ~..................... . 9
por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas clÍticas ou artigos
de revistas, Antecedentes ............................................................................................ II
3 Sonhos......................................................................................................... 41
4 Desenhos .................................................................................................... 64
o primeiro número à esquerda indica a edição, ou reedição, desta obra. A primeira dezena 8 O Contexto Social.. ........................................................................,...... .. 131
ii direita indica o ano em Que esta edição, ou reedição, foi publicada.
Ano
Edição
01-02-03·04-05-06 9 A Psicoterapia Analítica ........................................................................ . 141
1-2-3-4-5-6-7-8-9-10
Direitos de tradução para a língua portuguesa
adquiridos com exclusividade pela
la A Formação Simbólica .......... :'............................................................... . 170
EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA.
Rua Dr, Mário Vicente, 368 04270-000 - São Paulo, SP Apêndice .................................................................................................... . 179
Fone: 272-1399 Fax: 272-4770
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Notas ........... H ...................• .......................... u .................... : .................... H ... . 189
que se reserva a propriedade literária desta tradução,
Bibliografia .................................................................................................. 193
Impresso em nossas oficinas gráficas.
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.. .
,I
, Antecedentes
Ao longo de toda a sua vida, Jung baseou-se na distinção geral entre es-
truturas conscientes e inconscientes. Ao enumerá-las, definiu ,uma ünic9
entidade, o ego, para representar o centro da consciência. Já os mai~
obscuros e complexos elementos do inconsciente revelaram-~e inúmeros.,
Seu fascínio por eles era tanto que o fez devotar a se1u estudo a maior
parte de sua vida científica. Jung começou por distinguir gois' n~veis; o pes-
soal e o coletivo. O primeiro compunha-se de experiências reprimidas
por serem incompatíveis com as convenções sociais o~ morais: elas são
essencialmente parte do ego e, assim, podem voltar a ser conscientes se
"
a barreira da repressão for removida. O conteúdo do segundo diferia da~
quele do primeiro no fato de ser essencialmente inconsciente; ele só po-
de tornar-se parcialmente consciente por meio das imagens do sonho é I • f
Aqui costuma surgir um problema terminológico devido à tendên- deve-se segundo Jung, incentivar as tendências presentes no pa-
ocorre, , ,. . rf ~
cia a confundir o arquétipo inconsciente com sua representação no cons- ciente a deixar a imaginação trabalhar por conta propna, com lOte eren-
ciente, isto é, sua imagem. Apesar das diferentes posturas adotadas nes- cia mínima do ego. Se o momento escolhido for o correto, segue-se ~ma
sa questão, neste livro tratarei o arquétipo como uma entidade teórica fantasia organizada que assume a forma de um sonho, no qual o pacien-
dita inconscie'1te e me referirei às imagens que podem ser agrupadas te então aprende a participar como uma das figuras; dessa ~o:ma pode
usando-se a teoria dos arquétipos como "arquetipicas", isto é, como ten-
desenvolver-se uma dialética entre o ego e as imagens arquetlplcas deno-.
do as características que a teoria delas requer: assim, o arquétipo da mãe minada imaginação ativa. O processo é facilitado pela dança, pela pmtu-
é postulado ,como dando ensejo, quando colocado em relação com uma ra e pela escultura em madeira ou argila. ., _ .
mãe real, a imagens que contêm características arquetípicas da mãe. Em Do material produzido individualmente durante a Imagmaçao atlVa,
resumo, usaremos o adjetivo "arquetípico" para distinguir a imagem do Jung extraiu dados estreitamente associados a tem~s míti~os, ritua~ e prá-
arquétipo em si. .' ticas mágicas e religiosas. AIí se encontrava uma mma de mformaçoes que
A teoria suscitou críticas porque se supunha implicar a herança de lançavam luz sobre as fantasias dos pacientes. Portanto, Jung começou a
idéias e imagens, e é verdade que na literatura apresentam-se formula- comparar as duas coisas.
ções vulneráveis a esse ataque. O próprio Jung, em resposta, reformulou Às vezes o método comparativo da amplificação que Jung criou pa-
suas idéias de modo a definir o arquétipo como o substrato que usava, rece uma espécie de tour de force intelectual e, de fato, assim pode ser,
por assim dizer, a experiência sensorial de maneiras predeterminadas pa- embora essa não tenha sido a utilização que ele previa. Em vez disso, Jung
ra produzir imagens típicas. A meu ver, é uma pena que ele nunca tenha concebia esse método como uma extensão do processo natural cuja
esclarecido devidamente suas conclusões em escritos sobre a infância. ocorrência observava nos pacientes.
Suas primeiras idéias sobre o tema permaneceram as mesmas no que se Estudando-se uma série de sonhos ou fantasias, vê-se que os temas
refere ao amadurecimento na infância e à natureza dos processos incons- se interligam e esclarecem-se - isto é, amplificam-se - uns aos outros até
cientes nesse período da vida do indivíduo. chegar ao núcleo central do significado. Um bom exemplo pode ser en-
contrado na série de sonhos publicada em Psicologia e alquimia (OC XID.*
A amplificação intelectual, que se baseia na teoria dos arquétipos, está
o MÉTODO DA PSICOLOGIA ANALÍTICA contida na segunda parte do livro, embora ele também tenha feito para,-
Após definir seu campo de estudo, Jung dedicou-se a descrever detalha- lelos mais breves aos próprios sonhos.
damente o comportamento das imagens arquetípicas. Para tanto, empre- Durante a terapia analítica, a coleta de paralelismos sempre foi con-
gou quatro técnicas destinadas a trazer à consciência o conteúdo do in- siderada secundária (na minha opinião, ela é desnecessária) em relação
consciente coletivo: associação livre mas, mais freqüentemente, ao procedimento analítico em si. Contudo, o conhecimento do material
associação controlada -, análise de sonhos, imaginação ativa e amplifica- simbólico cresceu muito com o estudo comparativo dos mitos, €i as con:
ção. Dessas, a primeira é bem entendida, e a segunda será abordada mais
detidamente no Capítulo 7. Apenas as duas últimas precisam de apresen- * Obras completas, Vol. XII. As referências às obras de lung serão feitas por meio da
tação aqui, principalmente levando-se em conta o fato de serem caracte- abreviatura OC seguida do número do volume, com as seguintes exceções: 1- Quan-
do o autor cita obras que foram modificadas por Jung e não se encontram em sua
rísticas da abordagem de Jung.
forma original nas OC, ou quando a obra não faz parte das OC, casos em que indi-
Em algum momento do tratamento, o paciente pode tomar-se cons- caremos a obra da maneira convencional. 2- Quando a obra aindà não foi traduzida
ciente de processos que talvez perceba apenas vagamente e que tenha para o português, caso em que indicamos a obra por CW (Co/lected Worksl seguido
dificuldade de expressar por meio da linguagem comum. Quando isso do número do volume.
14 • A Criança como Indivíduo • • Antecedentes • 1 S
c1usões atingidas são usadas pelos analistas em sua interpretação do ma- - a sexualidade na vida do bebê, em especial por parte de Klein.
çao com , . - 'd d
terial dos pacientes. -o de que a situação edipiana e um mito nao no senti o. e
Sua afiIrmaça , .
Qual é então o valor do método intelectual da amplificação? Ele é . eal mas sim no de possuir natureza arquetlplca e, portanto, ser me:-
ser Irr , , d. . d .
um método de ensino e pesquisa e, I;lsando-o dessa forma, Jung formu- rente ao desenvolvimento sadio da criança so epols e mUito repu-
lou diversas teorias sobre os processos evolutivos da civilização. A mais diada foi aceita pelos psicanalistas. .
importante dentre elas foi a tese de que a alquimia foi não só. ,uma evo- Vale a pena lembrar, também, que no livro Psychology ofthe Uncons-
lução compensatória da religião cristã, mas também a precursora da psi- dous (Jung 199D ele frisou a inevitabilidade da fantasia da mãe dual, tão
cologia do inconsciente e da química. importante na obra de Klein, e situou os conflitos edipianos em relação
à díade mãe-filho que, além de anteceder, está por trás das situações trian-
gulares às quais Freud deu importância capital. Nessa obra ele desenvol-
A INFÂNCIA ve ainda uma teoria de grande alcance, apesar de muito negligenciada,
sobre a importância do ritmo na transformação das pulsões instintivas pri-
Se voltarmos às primeiras obras de Jun& as do período em que foi in- mitivas em atividades culturais.
fluenciado por Freud e aquelas do período do rompimento entre ambos, Não pode ser essa parte inicial de sua obra - que ele jamais repu-
encontraremos muita coisa sobre a psicologia da infância, De fato, há diou - o que o distanciou da análise infantil. Tampouco, penso eu, terá
aqui uma literatura considerável que foi em grande parte desconsidera- sido a sua demonstração experimental dos processos de identificação
da. As publicações de maior peso foram os estudos de testes de associa- (Oe IV). Antes, foi a conclusão de que se tanto do que anteriormente se
ção, que mostraram pela primeira vez o amplo alcance dos efeitos das imaginava ser ambiental era realmente inato, se o tema da mãe dual e o
identificações entre pais e filhos e o quanto a vida de uma criança pode- conflito edipiano eram parte do desenvolvimento sadio, por que desen-
ria ser, aparentemente, quase que completamente determinada pela na- cavá-los? Não são acaso as contínuas "tarefas da vida" que a criança tem
tureza de seus pais, Mas, ao lado deles, resumidas nas palestras feitas na diante de si o que merece mais atenção? Seu raciocínio foi o de que se-
Clark University (1916),Jung apresentou também as investigações sexuais ria melhor propiciar um bom ambiente para a criança, evitando o estí-
de uma garota, Anna (publicadas em oe XVI\). É um texto complemen- mulo de processos regressivos. Levada a extremos, essa teoria da conti-
tar ao "Uttle Hans" I"Pequeno Hans", de Freud. Entretanto, Jung deu aten- nuidade, apesar de útil, não proce'de quando aplicada à psico patologia
ção muito maior às investigações simbólicas que formam a base do de- infantil, pois não são apenas os pais que contribuem para ela.
senvolvimento dos processos do pensamento cognitivo, Além disso, Apesar de não excluírem a análise de crianças, suas palestras poste-
houve também uma consideração maior do mundo interior da garota. riores sobre a educação (Oe XV1\) restringem o escopo da psicopatolo-
Sua obra Tentativa de Apresentação da Teoria Psicanalítica (publicada gia infantil e colocam muito mais ênfase na influência dos' pais. Quase
em oe IV) resume as divergências que ele tinha com Freud, mas tam- não há nada de novo sobre a psicologia infantil na obra publicada poste7
bém contém muita coisa ainda hoje interessante para o estudo do desen- riormente, embora ele tenha apresentado uma ,contribuição interessante
volvimento infantil. Porém ele estava sendo tão atacado pelos psicanalis- sobre as crianças dotadas (em oe XVII). No entanto, a importância da
tas da época (1913) que o valor dessa obra ficou obscurecido. Ela contém fix~ção no desenvolvimento das neuroses e psicoses de fato não pode ser
idéias então novas que hoje, se não estabelecidas, já não são objeto de delx~da de lado: Jung não a ignorou completamente, mas sua teoria da
polêmica tão acirrada (ef. Abraham 1914). Sua ênfase na importância de continuidade era inspirada em seu trabalho sobre a individuação huma-
separar a sexualidade infantil de sua forma adulta e o instinto da nutri- na em adultos, e isso desviou-lhe a atenção da análise infantil. .
ção do instinto sexual já não causam muito alvoroço, principalmente de- . Porém, tomando-se a obra de Jung como um todo, há pouca justi-
pois da ênfase dada à fome, à voracidade e à agressividade em conjun- ficativa para a idéia de que a psicopatologia seja apenas o resultado da in-
• Antecedentes • 17
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trojeção ou identificação da criança com os processos inconscientes me- . ue desconsideram que, apesar de não querer aplicar teorias à
gUia nos q -. .- I'd d
nos desejáveis dos pais. Ao mesmo tempo, quando inicialmente desen- . c' . W'lckes estava dominada por crenças teoncas la sem va I a e
mlanCla,
volvida e Jung não foi o único a adotar esta posição-, a tese sobre a das visões especulativas de Jung sobre a natureza das estruturas
acerca . /lN [' d ' C'I . I']
geralmente decisiva importância dos pais foi relevante e necessária. Após herdadas em crianças, como as segutntes: o esta o tnlantl ~ermtna
cair, com razão, em um certo ostracismo porque erroneamente se tomou tão escondidos não só os inícios da vida adulta, como tambem toda a
um dogma que nega às crianças a possibilidade de individualidade, ela ~:rança que nos vem da série dos ancestrais, e é de extensão ilimitada"
vem sendo ultimamente recuperada: a importância da patologia dos pais (Oe 8, parág. 97).
na interferência, perversãoolJ obstrução dos processos contínuos de ama- Por mais fascinantes que sejam tais idéias- e aqui deve ficar cla-
durecimento dos filhos vem obtendo um reconhecimento cada vez ro que Jung posteriormente as modificou -, são escassas as provas em
maior e mais equilibrado. seu favor, e as que existem prestam-se a outra interpretação, mais acei~
A meu ver, Jung certamente acreditou, sem deixar que suas idéias tável. Seja como for, Wickes era dotada de uma fina intuição, o que tor-
sobre esses problemas se cristalizassem, que não valia a pena investigar a na permanente o interesse dos dados que ela coletou, por mais que sua
infância antes que seu trabalho sobre a vida adulta obtivesse o progresso atenção aos detalhes possa ter sido pouca. Graças a esse dom, elà aca-
e o reconhecimento que merecia. Entretanto, sempre foi óbvio que, a ba omitindo dados, aparentemente tão ínfimos, que são essenciais pa-
menos que o conceito'de arquétipo pudesse ser aplicado à infância, sua ra suas observações serem corretamente avaliadas à luz do conheci·
teoria era vulnerável a críticas prejudiciais. Portanto, não é de surpreen- mento atual. Sua recorrente referência a "a criança", particularmente,
der que anos depois ele resolvesse enfrentar o desafio - que a primeira tornou-se genérica demais para ter grande utilidade. Além disso, as ida-
edição da presente obra também visava -, aplicando a técnica da ampli- des das crianças às quais ela se refere, embora extremamente necessá-
ficação aos sonhos infantis. Os resultados que obteve foram coligidos em rias, são muitas vezes omitidas, e as partes relevantes de seus históricos
vários relatórios de seminários, mas suas idéias jamais chegaram a ser for- não estão disponíveis.
malmente publicadas.
Entre os analistas junguianos pioneiros, só Frances Wickes trabalhou
de modo mais sistemático com crianças. Seu livro, The lnner Warld af o OBJETIVO DO DESENVOLVIMENTO
Childhaad (1966), é um desdobramento fiel e esclarecedor do que Jung
havia sugerido. A ela deve-se o crédito por haver feito a primeira aplica- Um elemento essencial no trabalho de Jung era a importância do desen-
ção da teoria dos tipos às crianças e por haver concebido alguns méto- volvimento. Assim, ele frisa que o objetivo do desenvolvimento de uma
dos engenhosos de lidar com seus processos afetivos primitivos. Talvez criança é atingir a maturidade. Para isso, ela precisa fortalecer seu ego de
ainda mais importante seja seu sucesso na divulgação da idéia de que é modo a poder controlar seu mundo interior e exterior. Além disso, ela
por meio de identificações inconscientes que as influências dos pais pro- deve aceitar padrões coletivos; às vezes, ao que parece, il1dependen-
duzem anormalidades no desenvolvimento infantil. Apesar de necessária ~emente das conseqüências que possa sofrer. Na verdade, resta saber se
ISSO resulta num verdadeiro desenvolvimento e - já que estarei conside-
na época em que foi escrita, a conclusão de que os pais deveriam preo-
cupar-se com sua própria saúde mental se quisessem proporcionar um rando o amadurecimento infantil sob luz diferente e relacionando-o a
bom ambiente para seus filhos hoje parece banal. Porém Wickes, seguin- p:ocessos favorecedores da individuação que usam concepções prove-
do Jung, contribuiu significativame~te para refinar um conceito que cos- mentes de Jung talvez seja necessário considerar brevemente como ele
tuma aproveitar-se muito do preconceito. concebia a relação entre a individuação e a adaptação coletiva ..
Em seu trabalho, Wickes opõe-se à investigação de processos in- .Jung <oe VI) comparava os objetivos coletivos à individuação da
segumte forma:
conscientes em crianças, e essa tese ainda influencia muitos analistas jun-
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A individuação, em geral, é o processo de formação e particulariza_ · a individuação é concebida como abarcando uma meta
ASSlm, 'd' ~.
ção do ser individual e, em especial, é o desenvolvimento do indiví- 'd infância, quando o fortalecimento do ego e e Importancla
oposta a a , . d "
duo psicológico como ser distinto do conjunto, da psicologia coleti- . ta da individuaça-o surge, pelo contrano, apenasquan o pro-
vital' a me
va. CJ Antes de tomá-Ia como objetivo, é preciso que tenha sido duz~se uma suspensão da vontade". .... _, ,. .
alcançada a finalidade educativa de adaptação .ao mínimo necessá- Conforme essa teoria, para que hala mdlvlduaçao e necessano pn-
rio de normas coletivas (..) parág. 853 e ss. meiro haver relação com os arquét.ipos, que contêm a possibilidade de
solução simbólica para o conflito de opostos, mas embora o pro-
De acordo com a tendência principal dentro da obra de Ju~g e den- uma
cesso se'la muito semelhante . .ao que há
. na infância
_ - o objetivo ,é .conce-,
tro do contexto de seus estudos analíticos, a individuação é concebida na bido como inteiramente dlstmto. ASSim, a relaçao com os arquetlpos so
maioria das ve?,es COmo tendo início em pessoas que se aproximam da se estabelece quando a individuação é a meta consciente de um homem
meia-idade; entãoa~pÍ'ojeções da psique coletiva no mundo devem ser ou mulher adultos, ao passo que uma criança simplesmente não pode
retiradas para poder ser consideradas em relação ao indivíduo, e não sim- deixar de estar em contato com formas e processos arquetípicos. ~
plesmente aceitas porque são"o que todo mundo faz, pensa e sente". Se- Os problemas infantis - que estão estreitamente vinculados ao ama-
gundo Jung, a criança, ao.contrário, precisa deixar projetada no mundo durecimento do ego e, na opinião de Jung, podem levar à predominân-
uma grande parte de sua psique e adaptar-se "ao mínimo necessário de cia deste - também foram vistos em termos de tipos psicológicos. Jung
.normas coletivas", dentro do qual possa desenvolver sua vida pessoal. Daí distinguia dois tipos de atitude, a extrovertida e a introvertida, e quatro
que isso ganha ainda maior importância para ela porqu~, além de não tipos de função: duas racionais (pensamento e sentimento) e duas irra-
precisar pensar muito no que é geralmente aceito, não pode exercer in- cionais (sensação e intuição). Uma determinada pessoa pertence a um ti-
fluência sobre as idéias $ociais, políticas e religiosas vigentes. Mas, à me- po quando se adapta melhor a uma determinada atitude e ~unção. Isso
dida que amadurecem, as crianças adotam idéias heterodoxas sobre es- não quer dizer que as demais atitudes e funções estejam sempre ausen-
sas questões, geralmente como parte de sua rebeldia contra os p~ntbs de tes; elas são simplesmente inferiores, latentes ou reprimidas - muitas ve-
vista correntes, sobre os quais se expressam com considerável segurança. zes isso não fica claro. Pensava-se que o problema .da criança era deter-
Assim, tendem a adotar uma posição unilateral.ou coletiva, em contra- minar qual a sua melhor atitude e função. Desse modo, ela teria apoio
posição a uma posição individual. ' para seu status inferior e poderia sentir-se cada vez mais eficiente e supos-
Segundo Jung, a individuação requer ainda que o sujeito se liberte tamente autoconfiante. O jovem pode então delegar, por meio da proje-
dos opostos mediante uma solução irracional ou simbólica; para isso, os ção, as demais funções a outras pessoas; quando ele se apaixona, por
opostos precisam ganhar igualdade total. exemplo, a mulher em geral detém a projeção de seu lado inferior,.ou
anima, e daí resulta um relacionamento útil tanto do ponto de vista psi-
Havendo, no entanto, plena igualdade e equivalência dos opostos, cológico quanto do biológico. A razão pela qual a criahça precisa desen-
comprovadas pela participação incondicional do eu na tese e na an- vol: er sua função superior e valer-se dela é que a inferior contradiz a su-
títese, produz-se uma suspensão da vontade, pois já não é possível que- pen?r: a introversão contradiz a extroversão, o pensamento contradiz o
rer porque todo motivo tem a seu lado um contra motivo igualmen- s:nt~mento e a intuição contradiz a sensação. Se ela aceitar todas, se ve-
te forte. Mas como a vida não tolera suspensão, surge um ra dlant~ do problema dos opostos, entre os quais se espera que oscile e
represamento da energia vital que levaria a uma situação insuportá- dos quaIs precisa libertar-se. Nisso está a razão para as crianças buscarem
vel se da tensão dQs opostos não surgisse nova função unificadora figuras ideais, co mo o h " que luta contra o seu oposto.
erol
que ultrapassa os opostos. (Oe VI, parág. 913) !'presentei de forma bastante detalhada o contraste entre a indivi-
duaçao e o crescimento do ego porque era essa oposição que imperava
20 • A Criança como Indivíduo • • Antecedentes • 2.
quando escrevi o texto da primeira edição deste livro. A grandiosidade e es e é sobreordenado ou transcendente em relação a' elas
o alcance, o elemento religioso e a importância social ·da individuação pa rt
todas as 'd d - sao
à parte. As duas concepçoes I ICI'I concl'1'-
- d e d'f' laçao,
uma en tJ a e , - 'I
eram de interesse central. Quanto às manifestações do selr, Jung e ~oerente: elas,sa? essencla -
A definição de individuação em Tipos psicológicos dá margem, po- , bo'I'lcas e representam opostos, ASSIm, torna-se difíCIl
mente sIm _ desenvol- ,
rém, a uma visão diferente. Jung diz que "a individuação coincide com o ma teoria satisfatória do self porque qualquer afirmaçao a respeito
veru , - d .
desenvolvimento da consciência que sai de um estado primitivo de identi-
deepI ode ser contradita - ao menos, essa e a noçao
'fi
e sua natureza slm-
- d
dade" (OC VI, parág. 856) e, alhures, como explica Jacobi, ele dá margem bólíca conforme comumente interpretada. Dal_de~orre ~ a Irmaçao .~'
à idéia de individuação como um processo contínuo ao longo de toda ue o self é um supremo mistério e, por isso, nao e. precIso tentar elucl-'
q , , ' ,
uma vida. Diversos junguianos tentaram dar conta dessa brecha, que ja- dá-lo, Ao relacionar o self tanto emptnca quanto teoncamente a expe-'
mais foi detalhadamente explicada até Jacobi empreender essa tarefa no riência religiosa - e, em particular, ao conhecimento de Deus -, Jung cer-
livro The Way of Individuation (1967). A ela, portanto, deve-se dar o cré- tamente colocou o self em relação com a especulação teológica acerca-da
dito pela fundação dessa linha de pensamento. realidade suprema, Não tentarei de forma alguma considerar esse àspec-
Seja como for, lastimo não poder aceitar nem a sua formulação nem to de seu trabalho: ele é quase completamente irrelevante aos processos
outras menos completas. Todas recorrem a concepções como a de que a de amadurecimento na infância, além do que é algo que pertence à sea-
individuação é um "instinto" ou implicam uma teleologia de longo alcan- ra da filosofia e da teologia, de qualquer forma, Há muitos aspectos do
ce que foi há muito abolida pela biologia, a meu ver, com justa razão, self que conhecemos pouco ou nada e sua natureza já é obscura·o sufi-
Além disso, Jacobi especialmente afirma, se é que a compreendi bem, ciente sem hipostasiar a aura de mistério - que deve, a meu ver, funcio-
que os objetivos biológicos e adaptativos da juventude e que o desenvol- nar mais como estímulo à investigação do que como um fim em si.
vimento do ego são partes de embora apenas preliminares a - um de- Não se pode negar que a concepção de self como mistério supre-
senvolvimento necessário aos processos, geralmente chamados de indi- mo não está de acordo com a idéia de que sua percepção seja o objeti-
viduação, de amadurecimento na segunda metade da vida, vo da individuação, pois, para ser percebido, ele deve ser cognoscível;
Essa concepção tem á seguinte dificuldade: o aumento da adapta- mas muitas vezes se afirma que sua percepção requer a intuição de seu
ção a exigências sociais não pode ser parte da individuação se o distan- mistério.
ciamento de exigências sociais é uma característica central da individua- Foi num momento posterior que Jung desenvolveu uma idéia dife~
ção, Não sou avesso nem ao paradoxo nem à contradição quando eles
recobrem dados simbólicos que não podem ser abstraídos sem perda, To-
rente: o self era um organizador, o arquétipo central. ° wnceito revisa-
do cobria muito bem alguns de seus dados, mas obviamente. modificava
davia, a individuação é, a meu ver, um conceito capital relacionado a pro- ou mesmo abolia o conceito de totalidade, já que o self é c;oncebido co-
cessos definíveis e não um símbolo; portanto, o paradoxo não é nem jus- mo uma de suas partes. Do meu ponto de vista, a contradição pode ser
tificável nem, creio eu, necessário. Neste livro demonstrarei - espero que resolvida reconhecendo-se que dois níveis de abstração estão envolvidos.-
definitivamente - que os processos de individuação estão em ação na pri- ~ conceito de totalidade do self se baseia numa abstração dos dados que
meira infância e na infância e que são uma característica essencial do ~ao agrupados como símbolos ou representações suas: cada um.deles é
amadurecimento, °
Incompleto, mas, somados, levam à teoria da totalidade,. self como ore
ganizador dos arquétipos é menos abstrato, mais próximo dos dados e,.
Ao propor-me mostrar isso, farei uso dos conceitos de Jung, apesar
de suas formulações não serem coerentes (Cf. Fordham 1985b), Por um POde-se dizer, menos teórico,
lado, ele definiu o self como a totalidade da psique, abarcando o ego e os .Os capítulos seguintes mostrarão até que ponto usei, ampliei ou des-
arquétipos, concepção que significa que essas estruturas são as partes do carteI os conceitos desenvolvidos por Jung e outros. Pode-se, porém, pre-
todo. Por outro lado, ele pensou o self como uma entidade que organiza ver desde já que o modelo do ego, os arquétipos e' o self permanecerão,
~-------_._-_ .. _-_._-- --_._-- -_ _- ..
22 . A Criança como Indivíduo·
r • Antecedentes • 23
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sentido de o bebe~ se haver torna,
preferida. Isso sugere que as identificações projetiva e introJ'etiva con t'n-
qu e ela fez
'd - 'ae u
t be' m mudou no . .
buem para o quadro que ela apresenta (Cf. p. 90 abaixo). a da bnnca eira am - '
m b Sua maldade sugerida em sessao antenor quando se re-
do menos om. ' . . . -
c h s olhos agora estendeu-se a atlVldades anais. Em relaçao
Segunda entrevista: cusava a lec ar o , . .
ce é menos impiedosa, provavelmente porque se haVia hvra-
rHouve
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muita brincadeira com água numa pequena banheira de fia d
n re
a estas, Joy . ,. I' d t d ,,1 ' I
ca "má". Ela passa o tempo no ImCIO Impan o u Q. sso, e7
Iga a a um tanque; a~rindo-se uma torneira, a água jorrava na banheira. b
do da one ' 'd d ' 'd
'd oberta da sujeira: "porcaria". Referindo-se a reah a e, Isto e, es-
A certa altura, a torneira entupiu, deixando Joyce chateada. Depois, ela vaa esc . ··'·d d
. do que a "porcaria" é areia ela controla a raiva; outras atlVl a es
colocou alguns barcos numa bandeja grande, que encheu com água de co bnn ' - . - '
um balde; empurrou os barcos de um lado para o outro. Além disso co- são tratadas com severidade, mas nao com pumçao.
locou bast~nte ~reia dentro d'água e, ao molhar as mãos, queixou-s~ de
que ~cab~nam asperas e rachadas. Então quis trocar a água para separar Quarta entrevista: '
Joyce achou a mamadeira do bebê e divertiu-se sugando e mascando o
a areia e, Ju~tos, carregamos um balde escada acima e abaixo derraman-
bico. No início da sessão, comentou: "Meu nenê pode cuspir". Isso que-
do muita água nessa ati vida de. . ',' '
ria dizer que o bebê havia cuspido o leite. Por isso, levou uma surra.
Nesse brincar há uma tendência a agrupar objetos em pares: dois
Logo depois, ela encontrou uns bastões de giz, quebrou-os e colo-
barc~s, areia, e água,. a torneira que deixa cair á água e a banheira que a
cou-os dentro de uma caixinha presa a um quadro-negro. Quando aca-
~ontem. Porem, ao lIdar com materiais e objetos impessoais, há mais rea-
bou, perguntou: "Ela está chorando? Minha filhinha está chorando?" Foi
lidade no que ela faz e deixa de haver necessidade de distinguir entre
alimentar a boneca. "Ela cuspiu?", disse e sugou ela mesma a mamadei-
bem e mal.
ra. Caiu um pouco de água pela parte inferior da mamadeira, fazendo-a
exclamar: "Oh, pipi!" Em seguida, mordeu e mascou o bico. "Fui ver o
Terceira entrevista:
nenê do Tio Alf", disse. Derramou mais água no chão. Nesse ponto, fiz
A boneca má foi, mais uma vez, bem surrada e colocada num canto no o seguinte comentário: "Quando você era nenê, talvez quisesse fazer pi-
início da entrevista. Depois, muita brincadeira com água; Joyce era a mãe pi na mamãe do mesmo jeito que está derramando água no chão agora".
lavando as roupas e lençóis da boneca. Ao lavàr com sabão as fraldas su- Ela respondeu: "Não queria, não, mas eu fazia porcaria nela inteira - não
jou-as de areia. Então cheirou-as, pensando que era "porcaria" (fe~es), se pode dar surra num nenê". Então, guardou a mamadeira. "Vou guar-
mas ficou alegre ao descobrir que a "porcaria" era areia. Além disso, la- dar para a noite", disse e, enojada, achou uma banheira de brinquedo que
vou cuidadosamente o chão, fazendo-me mudar minha cadeira de lugar estava suja. Colocou-a na água, lavou alguns soldadinhos, fazendo co,
para continuar seu trabalho. Em certo momento da limpeza, encontrou mentários sobre seus revólveres, e colocou-os numa cesta de papel. Aí
alguns pingos de água' no chão. "Isso aí é 'pipi' (urina) de nenê. Ela se le- achou outra banheira com "lama" dentro. Disse: "Um menino pôs a la-
~antou da cama e veio pra cá fazer 'pipi'; que menina mais malcriada, ela ma aí ontem à noite" e, em seguida, acrescentou: "Preciso correr pra fa-
e uma chata", disse. .' zer o jantar do papai; depois eu coloco a banheira na pia". Ela estava per-
Brincadeira com areia: Joyce fez um "bolinho" e cozeu-o. to de um interruptor aparafusado à parede; "Eu quero isso", disse tirando
" . Chá: ~Ia ,era a, mãe fazendo o chá e eu, o papai. De repente disse: o parafuso que estava solto. Em seguida, tentou abrir a porta de um ar-
Mmha filhmhaesta chorando"; pegou a boneca e tirou-lhe as fraldas. Ao n:ário, mas a chave estava com defeito. Vendo-a lútar para abri-Ia, ofere-
sentir fedor de "porcaria", disse: "Ela é uma peste. Sujando a fralda". cI-me para ajudá-Ia, mas ela recusou. "Oh não, oh não, oh não. Por que
A identificação com a mãe é, mais uma vez, clara, mas agora os atoS você está chorando, nenê? Sua malcriada!", disse. "
de Joyce estão mais ligados à realidade e refletem o comportamento de
sua própria mãe: lavar e cozinhar. Além disso, muitos dos comentários
• Brincar • 1 t
lO . A Criança como Indivíduo •
também
,. d da de muitas crianças' . e se reflete em formas cultura's I.
Ao con- Sonho 2 , haver freqüentado a clínica por algumas semanas,)
trano os aspectos dogmatlcos do cristianismo a relaça-o era d e espeCial
• • • I
. () oa n o relatoU
. h ' apos Itado Ele era casado com a Sra. Wood e estavaarru-
mteresse para os alquimistas, mas a expressão mais .organizada d Meu pai aVia vo . . ..
. d " e enan- mando as sacolas antes de vir nos VISItar. , .'
tiO romla se encontra na filosofia chinesa. A Grande Mônada é ". e morreu de alegria com esse sonho e o contou a famíll<!:.
" d - um dia-
grama pa rao usado provavelmente para meditaça-o. Ele mostra d' OIS pei-. Joan quas
_ m dúvida também contente com ele, dIsse:
. "Quem .sab e voce
A
xes, um representando Yang e o outro Yin' ambos do mesmo ta man ho A mae, se d . 1" . - .
. _ . contrar o papai bem na porta quan o saIr. , mas a lITna mam-
e contendo em SI um germe do seu oposto. A mônada infere uma I nao vaI en ,. " .
- C. . rea- festou-s com um cético comentarlo: Quando se sonha com uma COIsa,
çao aSlca entre ambos; quando Yang predomina Yin é recessl'vo e Vlce- . e
• ,. I
versa.
_ Esse pnnclplo se vem aplicando a toda a natureza e a' h'IS t"ona das ela nunca acontece!" . '
Respondendo a uma pergunta, Joan disse que havia. apenas Vislum-
naçoes. . . brado o pai e não poderia dizer com certeza como ele era. Acrescentou:
A i.tn~ortância cultural do brincar de Joyce é, assim, o fato de ela es- "A Sra. Wood mora ao lado e tem uma família enorme".
tar exprlmmdo de forma direta, simples e flexível o padrão de um . t - lá que esse sonho foi relatado logo após sua chegada à clínica, é jus-
d' A • SIS e
ma mamlco que foi abstráído, refinado, pensado e desenvolvido em to supor que ela já tivesse começado a transferir seus sentimentos para
uma idéia filosófica complexa. mim. Eu comecei a parecer o pai que ela lembrava e, assim, já está sen-
do criada uma situação em que ela pode retomar o desenvolvimento in-
terrompido pelo abandono do pai. Seu brincar poderá dar pistas sobre
CASO 2- A FIXAÇÃO DO PAI sua capacidade de lidar com esse problema. Na verdade ela não terá con-
sigo a mãe, de forma que os efeitos explosivos, destrutivos, do primeiro
O registro ?O bri~car
de Joan, garota de dez anos e meio, abaixo apre-
sonho provavelmente se farão sentir, assim como os elementos positivos
sentado, fOI extraldo de uma longa série de registros ao longo de mais de
um ano. Longe de casa, passou a apresentar profusa enurese notuma. que vivem "ao lado".
Joan sempre havia sido enurética, mas apenas levemente, de forma que,
Jogos de perseguição
<;'0 ~oltar para casa, o problema deixava de ser sério. Ela havia nascido na Assim que se acostumou à clínica, ela deu início a uma série de jogos de
Indla e vindo ~ara a.lnglaterra aos 4 anos. Dois anos depois, o pai aban- perseguição. Corria o mais rápido que podia, convidando-me a persegui-
donou a família, deixando-a praticamente na miséria. Joan tinha do pai la; corria até que eu "perdesse" e então se escondia, esperando que eu a
boas recordaçõe.s, de modo que o fqrte golpe do abandono expressava- encontrasse. Se assim fosse, ela se rendia por um instante com algum pra-
se na sensação que tinha a garota de que jamais se casaria quando cres- zer, mas depois valia-se dessa rendição para fugir novamente. Aqui Joan
cesse, pois isso criaria a po?sibilídade de ser, como a mãe, abandonada demonstra seus sentimentos ambivalentes, provocadores, sedutores e an-
pelo marido. siosos, provavelmente ligados à violência de seus medos sexuais. Nessa
Logo no início da s.ua ludoterapia, Joan contou-me dois sonhos. brincadeira difícil, ela está evidentemente relacionando-se com· o lado
obscu[o do pai, expresso no sonho da bomba.
Sonho 1 As vezes ela desistia da perseguição e dava início a outras brincadei-
Uma bomba caíél no quintal e e'u colocava 'a cabeça entre os braços, es- ;,as, picando papel e misturando-o a pedaços de grama para fazer uma
perando a explosão que me mataria. Minha mãe foi lá fora e colocOU ter- torta venenosa".
ra sobre a _bomba e,_ef!1cirrla de tudo, um vaso no qual nasceu uma flor.
A mae de Joan é aqui mostrada como boa, dando a afetos destru ti -
vos uma forma positiva.
, • Brincar· 3S
34 . A Criança como Indivíduo • ........................................... .
........................................................................................... ................................. ..................... ................. .. .......... ..................... .
':'~."" .
Jogos com bola
Quando começou a brincar com uma bola, seus jogos mudaram. No iní- Jogos COm ág~a seguiu girava em tomo do uso d,a água. Joan ini-
o de Jogos que se . .
cio,ela a arremessava ao chão ou contra a parede, pegando-a no rebot O gru P . d ao ver um garoto bnncando com uma manguel-
. I nte ficou mteressa a
Gla me . fl o da água pisando na mangueira.
O garoto rec Iac
Depois ela me incluiu no jogo, embora não me permitisse pegar a bale. a Tentou obstrUir o ux - I .
preferindo arremessá-Ia para longe; uma vez em direção ao sol, dizend , ra. . d 's chateado quando Joan insistiu. Ela entao reso veu Ir
- d . , o ou e ficou am a mal . S"
que eu nao evena pega-Ia se não fosse "diante do sol". Em seguida, pas- m, . ~ há-Ia mas o garoto a abnu novamente. egulu-se um JO-
ate a torneira e . e c , .' "
sou a impor outras condições como, por exemplo, a de que eu não pe- . I tentava deixar flUir a agua enquanto Joan tentava'lmpe-
go em que o nva b' d' 't .
gasse a bola antes do rebote. Por'fim, resolveu jogar rounders l , definindo . . ontecesse Depois enquanto o garoto estava a nn o a omel-
01r que ISSO ac . , J . .
quatro pontos obrigatórios para as jogadas. Nessa parte do jogo, não ha- mangueira e esguichou água nele. A certa altura, oan qUIs Ir
ra, e Ia pegou a .. - d' ,
via conflito quanto a quem deveria ter a posse da bola, já que havia as ao banheiro e, na brincadeira subsequente, a relaçao e,ntre o fluxo a agua
regras formais do jogo organizado. 'da ao banheiro tomou-se particularmente percepuvel. '
eaI 'd' .
As seqüências de jogos com bola sempre terminavam com uma par- Em outras sessões, Joan usou a agua para fins Istmtos, como por
tida de rounders. Trata-se de um jogo formal no qual há quatro bases, uma exemplo, regar as plantas do jardim ou encher um pequeno lago de con-
das quais é a "base principal", ponto de início e fim. No jogo, ela conseguia creto. Às vezes, enquanto molhava o jardim, encontrava rachaduras no
exprimir mais facilmente seu antagonismo e competitividade em relação a solo (era um verão muito seco); concentrava-se nelas e parecia enfiar a
mim - não precisava temer um ataque, pois as regras do jogo o impedem. água dentro da terra. Enquanto isso acontecia, seu olhar ficava brutal. Em
Essa condição não durou muito; não seria de esperar que durasse. uma das sessões, ficou muito agitada e molhou uma terapeuta que esta-
Não é preciso enfatizar o elemento social nesse jogo. Porém a sua va presente. Esguichou água nas pessoas, inclusive em mim. Ao fazê-lo,
forma é uma mandala que alia dois elementos simbólicos. De acordo chamou-me de "lixo", como fez com o garoto. e também com a .outra te-
com Jung, quatro é um número que expressa opostos em relação de es- rapeuta. Quando se excitava, tomava-se muito imperiosa.
tabilidade ou completude; a idéia de enfrentar um problema representa Assim, a brincadeira com a mangueira provocava em Joan mudan-
essa estabilidade. Rounders, como implica o próprio nome 2, envolve a ças de humor - uma inconsciência passiva e ausente enquanto enchia o
idéia de círculo, símbolo amplamente conhecido que expressa desde a lago, uma brutal concentração enquanto enchia de água as' rachaduras,
magiél defensiva até uma forma perfeita. uma excitação imperiosa quando atacava as pessoas, um estado mais ou
Supondo que a criança tenha inconscientemente definido os quatro menos neutro quando molhava o jardim.
pontos do jogo para exprimir aquilo que para ela é equivalente a essas Nessa brincadeira, a sexualidade de Joan veio mais à tona. Sua riva-
idéias, poder-se-ia inferir que ela e eu personificamos funções anterior- lidade com o garoto implicava sua inveja do pênis, seu desejo de atacar
mente em conflito, mas agora complementares, numa rivalidade segura. o pênis dele e possuir um ela própria. Suas atividades colocaram em pri-
O simbolismo do jogo de bola parecia exprimir uma maior sensa- meiro plano a origem instintiva de sua enurese notuma. Aparentemente,
ção de segurança por parte da criança. De fato, após o início do jogo, a havia fantasias com relações sexuais bem perto da superfície: ela é)s con-
ansiedade foi temporariamente dominada, conforme exigiria o seu sim- cebia como selvagens e brutais e, se isso estivesse correto, no brin'car ela
bolismo, já que a mandala representa um todo estável. Esse estado im- iria representar principalmente papéis masculinos, mas p~ssivelment~
plica que, a partir daí, umenfoque diferente dos conflitos de Joan viria t~mbém femininos. Portanto, interpretei para ela se~s próprios atos e sen-
à tona. timentos. Joan imediatamente esguichou a água mais uma vez sobre a te-
rapeuta, demonstrando menos inibição, menos excitação e mais contro-
le em sua atividade. Essas mudanças sugerem que minha interv~nção
I. Jogo britânico que deu origem ao beisebol. (NTl
2. O substantivo rounder deriva do adjetivo round: redondo, circular. (NTl
valeu para reduzir sua ansiedade.
• Brincar' 37
..36 ,
. A Criança como Indivíduo •
" .... ... , .... , ............. , .................. ................ , ..... ,- ...................................... ..
" ............ , ... , ....... , .... ,.
A sombra
Um dia Joan começou a brincar com um quebra-cabeça e resolveu com-
pletá-lo. Era um quebra-cabeça fácil que ela certamente teria terminado
de montar se quisesse, mas cansou-se dele e referiu-se a "mim e à pessoa
que pode resolver este quebra-cabeça" - cindiu-se em duas.
Então foi até um quadro-negro e fez um desenho (Desenho n. Pri-
meiro ela fez um contorno pontilhado e me perguntou o que eu achava
que era. Sugeri que era a sombra de uma pessoa, um fantasma. Ela ime-
diatamente começou a elaborar as partes da figura com mais detalhes.
Enquanto o fazia, eu lhe fiz perguntas sobre o desenho. Por que as ore-
lhas grandes? Respondeu que elas ficavam assim quando a mãe gritava
com ela. E os dois rostos? "Ah, isso é porque eu falo comigo mesma." Lo-
go em seguida, escreveu no quadro: "fantasma do Dr. Fordham" e daí se-
guiu-se um jogo descontrolado - às vezes fugindo do "fantasma do Dr.
Fordham", às vezes atacando-o violentamente com ameaças, "surras", ti-
rania e tentativas coibidas de morder. Por fim; ela me ordenou que ficas-
se parado, sem me mexer.
Quando, depois, eu lhe 'perguntei sobre os fantasmas, ela me diss~
que havia fantasmas bons e maus. Os bons eram gentis com ela, isto e, Desenho I - NA sombra" (cópia dooriginaD
eram como as recordações que tinha do pai.
• Brinca,. • :)9.
38 • A Criança como Indivíduo •
.... ,., ........... , .. ............. ... " ................. '" ..................
, "" ~.,""
vando-os à escola,; cozinhando, mandando filhós imaginários levarem r _ " mais pela escola. Ela, de fato, possui uma visão mais ,am;
te domestica e resença de afetos mfantls
. - pnmltlvOS,
., . e Ies so--
sao.expres-
cados, deixando a casa "arrumadinha" e mantendo longe a "gente ruim:
pia e apesar da P .
Isso comprova.que Joan havia elaborado SLia identificação com a image . '_ I boraça-o de defesas mais bem estabelecidas. Em resumo,
sos apoS a e a . ,-
negativa do pai e 'estabel.ecido suas identificações edipianas COm a mã m , o mais forte dos dOIS porque ela e mais velha.· -
, _. _ e. seu ego e
não depende do interesse real ou imaginado dos adultos de seu ambien- . filhos. Mas ela os puma
;os: . ou frustrava qu ando precIso'' nao a h
te imediato, estão os comentários sobre a série de sonhos que estudare- . - h t rnado tema de son os.
ma sugestão de que essas sltuaçoes se ten am o ,. f'
mos em seguida neste capítulo, Eles foram feitos por um garoto que fez . - de um comentano el-
Um indício que confirma essa sltuaçao vem ." .
algumas entrevistas terapêuticas comigo, Naquele momento eu estava par- to por John. Certa vez, ao contar parte de um son, ho ele disse'. Tive oU .
e
ticularmente interessado nos sonhos e, por isso, o estimulei muito a con- tro em que Mamãe tinha. papel de ma, , mas eu nao - lembro desse sonho,
tá-los, fazendo-lhe perguntas a respeito na primeira sessão e sugerindo, nas _ . h I No meu sonho ela 50
porque nao vou deixar que ela ten a esse pape. '
seguintes, que me contasse um sonho sempre que não soubesse o que di- . - j h
faz papel de boa". A Irrna concordou. o n tIO a ano . h 7 s e sete meses ea
zer ou fazer, Ele gostava dos sonhos e eu explorei esse prazer. Em contra- irmã, 11 anos e quatro meses de idade. . .
partida, desde que eu passei a aplicar técnicas analíticas à terapia infantil O fenômeno, inicialmente observado por Despert, que o denom:-
e deixei de pressionar as crianças a contá-los, os sonhos aparecem menoS. nou "segregação", é geral e deve-se à supressão deliberada ou ~sque~l-
Quando são relatados, são comunicados como parte de uma situaçãO to- mento. Ele pode ser associado a uma caractenstlca , . comu m da mfâncla _ .
tal e, assim, associados ao brincar, à fantasia e a outras comunicações ver- A necessidade de manter a visão dos pais - e, principalmente, da mae -
bais. Esse procedimento facilita a análise do sonho com a criança, mas, por como bons é claramente observada no fato de as crianças se recusarem
outro lado, faz com que muitos sonhos deixem de ser contados. . a - ou não conseguirem _ tolerar as críticas feitas aoS pais por outr~s pes-
É útil coletar sonhos por meio de um método que explore os sentt- soas. Isso pode ser observado ainda mais durante a ana'1'Ise .10 f an t II. Para
mentos da criança em relação ao terapeuta porque a compreensão do 50'
48 • A Criança como Indivíduo·
que uma criança reconheça e assimile a sensação de que algum dos Pai
é, em qualquer sentido, mau, é preciso que ela saiba que o analista reco~ ou dOIS, shos
aisolados
n , ecos do passado, que , jamais chegaram
' .' de perfel'ça-o ' Por, conseguinte,
.mvel . o grupo 50 pode repre~entar
. _
nhece que ele é predominantemente bom,
'~;;:ÍlI,lm'jlna(;aO de mudanças cfltlcas que estavam ocorrendo no mundo ln,
Essa situação provavelmente decorre da dependência que a crianÇa
tem dos pais e da necessidade original de que a mãe seja boa o bastan. t€:ri'Orde Jane. . _
':~ ~:, Teçamos primeiro alguma: co~s~de,raçoes sobre o sonho co~~ u~
te. Na infância isso queria dizer que a mãe era boa e não má e, se na rea. Wí. S strutura e seu padrao dtnamlco representam uma sequencla
Iidade ela não fosse boa o bastante, teria de ser "alucinada" como boa. É .tado,
:~. .. ua '1
, e-de'lntegrativo-reintegratlva 0 1 - 102 e Capltu
(Cf. ' Io 6 a bal-'
esse estado anterior de coisas que persiste nesses fatos irracionais do COm- I,mtegr.atlvo . pp, _.
-.-). A un I'a-o mãe-bebê começa e termtna
X0. , nele; .
o dragao detntegra-se
' . em
portamento e do sonhar infantis.
.ímúmeras figuras: a ilha triangular com arvores, cflanças negras e uma aml-
Antes de partir para a consideração da seleção de sonhos com ma. .;a ..,O bebê inicialmente é muito idealizado; depois ele se toma "meu be-
nifestação de temas arquetípicos, é necessário declarar que eles não são t;,ê'~ e assim, representa um acesso ao sentimento pessoal, que parece ter
t." .
comuns. Da série de duzentos, Jane relatou 91, a maioria sobre questões I . , .
- - - - - - - - - - - - - - - ---- - - - ----"--
um sonho foi
ois (de quatro) casos, , .
'do por mim e, er;' ~ ndada por Jung. A ultima
SUg:to de partida - tecmca reco::~o adota um procedimen-
4 Desenhos como ~dolescente, mos: ra c_om~ o gconforme descrita por lung.
de um , 'maglOaçao atlva,
am ente afim a I
ex.trem
o MEIO DE COMUNICAÇÃO
,': CASO 1: O RABISCO COM. ,. 'ade de rabiscos: ora têm linh~s
o interesse de Jung nos desenhos feitos por ele mesmo e pelos seus pa. . a extraordtnana vaned toda a página, as
cientes decorria de sua utilidade na expressão não-verbal de imagens sim. Em geral exotss~:su:a finas e trêmul as ; às veztesdca~~:;e inúmeras manei-
firmes e g r , ' E I ' á foram es u
bqlicas. Ele as obtinha aplicando técnicas de introversão destinadas a li- I , uma pequena area. ~s 1. d ' ssencial considerar o contex-
berar fantasias inconscj~ntes e trazê-las ao consciente. Seu "método" de , vezes 50 determinar seu slgntfica o ~ e folha de papel tanto
ras mas para quena IlOha numa
desenho
. tinha para ele grande
. .importância dentro da imaginação ativa. , esso aL por exemplo, uma pe . ça não queria rabiscar quanto um
Já que para Jung a criança estaya, por assim dizer, imersa no incons· to P declaração de que a cnan
pode ser uma . _ ' de uma doença. .
ciente, eu achei que, adaptando suas técnicas para uso em terapia infan- resultado da iniblçao ou ate b' I \I \l\ IV e V) foram feitos por uma
ti" seria possível <:>bter provas para sua tese. Foi essa investigação que aca- Os rabiscos abaixo (~. Ra I~CO~, , i;O esperta. sociável e encanta-
bou por exigir um? revisão de minhas próprias idéias sobre a relação da . h de 2 anos e meio de Ida e, mU
garottn a " .. '.. ,
criança com o aspectQ numinoso do inconsciente. Claro que é verdade
que de vez em q~ando as crianças são capazes de representar formas sim-
bólicas fascinantes no desenho, mas, assim como nos sonhos, isso não é
freqüente. Na maioria das vezes, porém, elas preferem representar obje-
tos conhecidos: casas, árvores, barcos e pessoas, que são mais comuns do
que fantasmas, bruxas, mágicos e formas ,arcaicas, mesmo no contexto .. .
especial das sessões psico terapêuticas. Podem-se encontrar figuras simbó- "',<
'
dora. Eles foram colhidos da seguinte maneira: ela subiu e veio à minha
sala com o irmão, de 7 anos, e ficou muito assustada quando eu a colo-
quei no colo. Mas, quando lhe dei um pedaço de papel e alguns lápis de
cera, começou a divertir-se. O irmão ficou conosco todo o tempo e, quan-
do eu lhe falava sobre a irmã, ele confirmava ou ampliava o que eu dizia
sobre ela. Os dois pareciam dar-se bem; embora me tivessem dito que
dominava o irmão, enquanto esteve comigo ela não tomou muito conhe-
cimento da existência dele.
A força e a energia do primeiro rabisco completo que ela fez são
impressionantes. O efeito do desenho corresponde à impressão que ela
me provocou enquanto o fazia, pois cada traço foi feito Com firmeza e
precisão. Primeiro ela fez uma linha solta (I), depois um grupo à esquer-
da (2), depois uma linha curva O) e, por último, concentrou-se na gran-
de mancha negra que caracteriza o desenho. Prova da energia que ela
Rabis.co III "Diminuição da energia"
68 • A Criança como Indivíduo •
....... " .................. "." .. ,,,,. ................. ,, ............................... , ................................ . • Desenhos • 69
.........
.,
Henry, de II anos de idade, foi trazido a mim porque havia sido acusa-
do oficialmente por roubo e fuga de sua casa. Estava nervoso, pálido e
prestes a chorar quando o vi pela primeira vez. Era difícil estabelecer um
relacionamento ou obter informações porque ele parecia "surdo" (sinto- 'i';.íjF'
:,./ I:
ma notado na escola, onde um exame médico revelou a ausência de
qualquer problema físico). Ele pegou o papel, as tintas e o lápis que ha-
via na minha mesa e começou a desenhar; eu permaneci em silêncio até
ele terminar (V. Figura IID. Então fiz-lhe algumas perguntas sobre o dese-
nho, mas ele não conseguiu falar muita coisa, e logo ficou muito nervo-
so, manifestando vontade de ir ao banheiro. Entretanto, disse-me que as '
figuras grandes acima do navio eram o rei e a rainha,. a rainha estando na
frente do rei, e que ele aparecia de goleiro, à direita do desenho. Pouca
coisa além disso foi dita, mas, ao fim da sessão, ele de repente ficou in-
deciso; ao começar a descer as escadas resolveu voltar e acabou indo em-
bora correndo o mais rápido que podia.
O desenho consiste de duas partes aparentemente descontínuas:
por um lado, os dois navios e os imponentes "rei e rainha" e, por outro,
o diminuto jogo de futebol no qual a criança está em posição defensiva, O
>
I .
talvez indicando algo de sua relação com os outros garotos. O corpo prin-
cipal do desenho, de qualquer maneira, está atrás dele.
Só com dificuldade se pode distinguir o "rei e rainha". Juntos, eles
parecem formar uma figura única, forte, excessiva e até monstruosa. A
coroa, em forma de Lua, tem uma cruz, o rosto é forte e o olho, espe-
cialmente, dá a impressão de poder latente. A interrogação que s~rge no
lugar da orelha provavelmente está associada à surdez do gar9to. As rou-
pas das imagens reais têm escamas pontiagudas como as dos répteis na
frente e atrás, os braços são embrionários, e os quatro pés apesar de,re-
presentarem indubitavelmente os de duas pessoas - dão a impressãotde
pertencer a uma única criatura. : :~
Uma rápida olhada revela a natureza simbólica, quase mitológica,
das figuras. O garoto disse que só a rainha podia ser vista, e a c;1esenhoú
no céu, tendo a Lua como coroa. O desenho parece representar uma fan-
tasia da mãe-lua que percorre o céu como faz o astro. Essas refle}Ções le-
vam facilmente à mitologia segundo a qual a Ll,Ia é ambivalentç:.eJa pro~
i C !
Embora represente uma rainha, a figura tem também caractensticas ..... .. Além disso a predominância da figura da mãe no de-
masculinas, como sugere sua aparência bruta e rústica, indicando a OCOr-
rência de uma combinação que resultou em confusão de características
figuras?ese~ha~a:. história do 'pai que, na infância, fora dominado pela
senho
- e asara tarde com uma mulher maternal, que o continha como
analog h da
sexuais. A união masculino-feminino é, porém, uma idéia arquetípica.
Jung investigou a questão e publicou suas conclusões em diversos livros,
m~e e c h via feito. A esta altura, pode-se suspeitar que o ~esen, ~
o
mae antes a ma fantasia sobre o estado psíquico do paI, e ha mais
principalmente em Mysterium Coniunctionis (OC XIV/Il, ao qual se po-
de fazer referência. garoto .contenha u res aldar essa idéia. Por exemplo, o pai não ~~nse~
analogIas
. que
d podem p
por que estava sen d o esI'onado
p , mas em seu _dehno fOI
O navio, que está abaixo da figura, tem caractensticas pouco co- gUia. enten er . f b d s em uma má interpretaçao da rea-
d a construIr de esas asea a d
muns; a âncora é grande demais e pende num ângulo que Contraria o na-
~~n;a ~ resultado não está distante do capitão que se coloca de m~ _o
tural; a cabeça do rei - que supostamente arrostaria as ondas esta SI-
tuada na popa; a fumaça e a bandeira tlutuam em direções opostas. A ~u: :'superestrutura do navio intervém entre a roda de leme e a vlsao
do ocNeano àd:rdeanet~ que é capaz de expressar a patologia do pai de uma
posição do comandante à roda de leme impede-o de ver o que está à
frente, pois a superestrutura do navio obstrui sua linha de visão.
a bl'
me I .
o filho parece haver introjetado suas PSICO~ es . A subse-
O contraditório comportamento da bandeira e da fumaça sugere
que estão sendo imaginados dois ventos que sopram em direções opos- ~~:~e~d~~~i~cação também pode ser inferida pelo barqUInho amarra-
tas, e isso enCOntra correlação com a indecisão (ambivalência) do garoto
no momento em que deixou minha sala. do atrás do ,navio. .._ "tl'l usar o desenho do garoto dessa forma,
Em mmha opmlao, e u , . . _ Id H
O desenho indica a invasão de fantasia arquetípica, algo não de to- mesmo que ela possa desviar-nos da traglca sltuaçao pessoa e enry.
do incomum num garoto de II anos. Mas ele deixa uma impressão pa-
tológica e isso, juntamente com seus sintomas, revela a fraqueza de seu
ego, que parece independente das formas arquetípicas. É como se ele se CASO 3: O FANTASMA E A CRIANÇA .
sentisse na defensiva em um mundo impessoal e ameaçador.
. 1
O des~nho seguint~ - feIto p~r,,:;~~ou deitado na cama; um fantasma
um garoto de 6 anos de Idade -
Voltando porém à consideração do que havia produzido essa situa-
ção, pode ser que essa criança fosse psicótica, mas não dava essa impres- tem ongem no segul~te ~onho. engole" Sugeri que fizesse um
' " e m a mmha cama e me .
são. Além disso, sua vida familiar havia sé desmoronado porque a mãe sal do annano, v d ' Fgura IV Depois disso, fui infonnado que
desenho e o resulta o esta na I .
havia morrido recentemente. Isso em si deve ter sido traumático e toma
. d eralizado de fantasmas. _ .
provável que a mãe no céu (paraíso) esteja associada a seus sentimentos ele tmha me o gen .. t processo de identificaçao In-
em relação a ela. Além disso, o pai estava dando mostras de esquizofre- Seu sonh~ e~e~phfica c1a~~:: ~~ito primitiva para esse medo.
nia, e seus delírios parecem ter a ver com o desenho de Henry. trojetiva e, aSSIm, Indl~a um~ o g r rder são muito importantes
Certa noite, o pai colocou uma garrafa de leite do lado de fora da Nos primeiros sonhos infantiS, engohlr e mtoe'm ainda fantasias e técnicas
43 'ma) Mas o desen . o con
casa, em frente à porta, e, olhando pela janela, viu uma luz brilhando ne- (Cf. p. e ss, aCI. :, e os sonhos e fantasias com fantas-
la. A princípio, pensou que fosse o luar, mas, como a garrafa estava na de expressão mais ::omplexas, d!a qu t cado e às vezes de ser devora-
sombra, essa conjetura não tinha fundamento. Então olhou mais atenta- mas ocorrem depOIS daqueles e ser a a , .'
mente e surpreendeu-se ao descobrir que o luar estava sendo retletido do porA animais.
I - de James com a mae _ e ra d'lfieil
. Ela o amava mas tinha
~a
I
por binóculos de teatro voltados para sua casa. Ele concluiu que isso era
re açao violento e o maltratava. Ela queria ajuda por causa cul-
prova de más intenções: alguém o estava espionando. Seu delírio para-
nóide era improcedente e pode associar-se aos braços "sem função" das
temperame,n~~ nto. É interessante que, na mesma epoc~,
pa pelo propno comportame, . ai um psicótico que já havia mom-
ela tenha sonhado que seu propno p ,
• Desenhos • 7 S
•• 0 ••••• ..... , .... , •••• " ••• " " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ."" .......... " ........... " ....... " " ••••
Figura IV - :'0 fantasma e a criança" I - 3 .. Durante os cinco primeiros dias de confinamento na casa de ini-
ciação, os noviços não param de temer em nenhum instante qlJe
I se fa~ com eles algum tipo de trote CJcuja tônica em geral LJ
se ba~eia em aterrorizar os noviços e, especialmente, amedron-
I tá-los com os supostos apetites homossexuais dos fantasmas.
76 • A Criança como Indivíduo •
........ , •••.•.••.•.••••.••••••• , ............ , .••••••• .,., ... , ••••••• , .... ' ••••••••• ' •••• , •..• , •••••• , •.•••.••••• , ' ...... ,',., .•.••• , ..... , • ., ..•.• ., .•• ·"·'h".,
Esse paralelo tem interesse (para mim, especial> porque parecia que, sem
perceber, eu havia adotado um método para passar um "trote" em James
e aterrorizá-lo, além de haver despertado nele sentimentos homossexuais.
Além disso, o objetivo do tratamento havia sido trabalhar para que ele ti-
vesse maior independência, e isso significava permitir que se estabeleces-
se uma transferência por meio da qual suas ansiedades pudessem se ré-
duzir, pennitindo-Ihe uma identificação com o pai, e isso não havia
acontecido.
Assim, a analogia nos pennite vislumbrar aquilo que se poderia cha-
mar o aspecto iniciatório do tipo de ludoterapia que eu estava utilizan-
do, bem como a natureza das ansiedades que são evocadas e elaboradas
por tais procedimentos.
v~rdade, custou-lhe apenas uns dez minutos no total. Ela foi criada da se-
5
guinte maneira: começou com uma figura fálica bem simples, com uma
forma oblonga no topo (que foi coberta por outras camadas de tinta e,
portanto, não é visível no produto final); em seguida, ele ,acrescentou
o Modelo ConceituaI
uma estrela, depois um diamante e, sob este, um quadrado. O contorno
externo foi demarcâdo em preto, e o diamante e o quadrado ganharam
contornos amarelos preenchidos com azul.
O garoto, evidentemente, com a cor negra queria expressar sua sen- livro ba~eia-se em três entida~es
sação de poder maligno real, mas na figura há também -principalmen- O arca bouço conceituai, utilizado
, neste
el
F
teóricas: o ego, os arquetlpos e o S J' ." ,
te na parte inferior do tronco - bastante colorido, o que a toma muito
positiva. John desenhou primeiro a parte inferior fálica e, acima dela, a
parte negra. A princípio os demônios estavam ausentes; só quando o con-
ceito se desenvolveu é que a idéia deles imiscuiu-se. o EGO ," d
,'
I de forma que,e nece:sano e ,ln q acterísticas encontráveis num ego re-
atribuídas, A. hsta abalx.o cont~m ~:r nota~ explanatórias conforme a ne-
lativamente amaclureCldo, a em . '
I cessidade,
82 • A Criança como Indivíduo •
." ....... .
5. Teste.da realidade Conforme se notará, algumas das características do ego estão c1arar:nen:
". te relacionadas a estruturas e processos arquetípicos, e isso se aplica a
6. Faial, maior parte da percepção, da fantasia, da mobilidade e das defesas, Com
efeito, a existência de dados perceptuais, sejam estes derivados do am!.
.7, Defesas
b~ente ou dos arquétipos, pressupõe a existência de funções do ego, Men-
Sob essa acepção incluem-se inúmeras estratégias resultantes de situações CIono tal fato porque, apesar de certas funções e estruturas psíquicas po-
conflituosas que dão margem à ansiedade. Algumas das defesas que pre- d~erem tornar-se relativamente autônomas, um ego forte e saudável está
dominam na primeira infância têm suas raízes em estados muito primiti-
tao aSsociado às bases da personalidade quanto à realidade.
vos do self São elas a identificação, projetiva é introjetiva e a idealizaçãO,
Out~as defesas surgem à medida que o ego se fortalece, sendo que cer-
tos tipOS de pessoas usam algumas mais que outras. A seguir, uma lista
--- - - ---
- -- -- - - -- ----
~~~-----------------------------
rI
I'
84 • A Criança como Indivíduo •
............. o,, .......
• O Modelo ConceituaI • 85
............................................... . ................. " , .................... , ............ .
OS ARQUÉTIPOS,
omportame nto e imagens não podem ser separados uns dos - outros:
d as
Embora mais estudados em suas complexas formas simbólicas- ou seja, ~ a ens são corporais. A despeito dessas difere~~s, ~s padr~es e com-
em sonhos" fantasias, mitologia, folclore e ,religião -, o núcleo essencial 1m g to estão relacionados a formas arquettplcas mconsClentes e po-
P°rtamen . . r
que emergedáobra de Jung é o de que um àrcjuétipo é urna entidade dem ser re mo ntados em seqüências
. ,. de desenvolVImento
.," e, aSSIm,
, Igar-
psicossomática que possui dois 'aspectos: um está estreitamente ligado a se às complexas imagens slmbo,hcas da VIda adulta.
órgãos físicos; o outro, 'a estruturas psíquicas inconscientes. O componen-
te físico é font~ de "pulsões" libidinais e agressivas; o psíquico é a origem
das formas de fantasia por meio das quais o arquétipo atinge representa- OSELF
ção incompleta na consciêncià. O organismo visa ao objeto e é capaz de
relativamente poucas aplicações (que podem, porém desenvolver-se), ao A introdução do conceito de sei! na psicologia infantil exigiu praticamen-
passo que a fantasia consegue expandir-se de várias maneiras, de usar vá- te urna revolução no pensamento dos analistas j~nguianos p~rq.ue o con-
rios objetos e, às vezes, principalm~nte em casos patológicos, de demons- 'to conforme desenvolvido por Jung, era aphcado na malona das ve-
trar urna variedade relativamente ilimitada. "
cei
zes à, religião e à parte finàl' da vida das p~ssoas.
, ao e t:'a~1'1 começar a,
N-'
É talvez interessante observar aqui que inúmero; conceitos que têm atribuir as origens desses processos à infância nem, mUIto menos, a
objetivo similar ao dos arquétipos foram introduzidos na pSicoíogia infan- primeira infância sem um certo choque ~~ ,indignação. Pelo menos essa
til por membros de outras escolas de pensamento:,'Spitz usou a idéia de foi a minha experiência quando descobnlslmbolos do seI{ nos sonhos e
organizadores em seu estudo dos bebês ao longo de seu primeiro ano de fantasias de crianças pequenas. Isso ocorveu durante a Segunda Guerra
vida, enquanto o conceito de que a fantasia inconsciente opera na crian- Mundial e só depois que os canais de comunicação com Jung f~ram res-
ça desde o nascimento foi desenvolvido por psicanalistas k,leiniãnos; Pia- tabelecidos foi qUe eu descobri que ele próprio havia chegado a mesma
get também pode ser mencionado pelo fato de haver usado em seus es- conclusão a partir de seu estudo dos sonhos ihfantis. . .A
tudos urna teoria de esquemas ,inatos, Todos eles seguiram linhas de Esses dados demandavam avaliação. Para que servIam as expenen-
pens,,!mento sefl1elt)<!ntes àquela,s ·introd.uzida~ por Jung i,á 'em 1919, cias? Era c1ar~ que elas estavam ligadas à sensação .que a cria~ça tinha de
quando ele usou pela primeira vez o termo "arquétipo;'. ' seu selr, à" sua noção de auto~e~tima e i.dentida~e, ambos .sentlmentos que
Sem tentar çompa~á-Ias" tod~s .essas"idéias at~ndem ànece~sidade poderiam atingir a consciênci~ e, assÍl:n, pevenam ~s~r I~gados ao, ego. Is-.
de urna teoria de estrut~ras. p~ra da~<;onta do c~mportame~to bem no 50 levou à idéia da e),(istência de alguma relação dmamlca espeCIfica en-
início da vida do bebê. O conceito de arquétipo, conforme é desenvol- tre o ego e o self .
vido aqui, é urna delas. Na época em que minhas idéia~ começaram a desenvolver-se, ha-
São várias as il11agens mediante as quais os arquétipos se ~xpressam. via u~a forte tendê~cia entre os analistas junguianos a conceber o sei! co-
Na primeira iQfância ~!ªs são q1,J.ªse sempre, _embora não invariélvelmen- rno um sistema estabilizador, centralizador e até. mesmo f:~iJado, a~esar
te, distintél~ das encontradas na infância, na adolescência e na meia-ida- de a obra posterior d~ Jung muitas vezes sugenr o contrano, Meu En:e-
de, período do. qual Jung recolheu ,a maior parte de sel,ls. dagos clínicos resse pelas crianças, porém, deu margem a dúvidas sobre ess~ concepçao
e no qual baseou sua teoria. Is,so levou-me a perceber a importância de do selt Por mais relevante que seja em outros contextos a Jenf~se na es-
sua distinção entre o arquétipo enquanto entidade teóric,a e o comporta- tabilidade e na organização, ela não é adequada quando se ~ph~a ~o pe-
mento e imagens empíricas queo.conceito organiza. Os arquétipos da ríodo de mudança, e desenvolvimento que representam a_mfa~C1a e ~
primeira infância isto é, dos dois primeiros anos de vida - não estão tão primeira infância; A idéia do sei! apena~ c?m~ i~tegr~dor nao da luga! ~
bem diferenciados quanto os de fases posteriores porque, para começar, emergência de sistemas parciais cuja eXlstencla.e m~tlvada p~las p~ISO~
dinâmicas padronizadas e pelos estímulos ambientais. Esse fOI entao u
. o Modelo COnceituai • 87
~~ ...~ ..A...C:rionço como
................ Indivíduo'
" ....... , ...................... , ............................ " ............. . , ........ " ...................... , ..
]~alS,
ce evidente que' a naturezae e se caracterize por relações ob' . ma posição de onde se pode manipul.. os pensamentoS de .modo s
pmve~ien~sd:s.o forteme~~mas
suas percepções são ob'etiv de seus ob;etos seia composta. pa'e u ossibili uma comp"ensão mais profunda dos estados afetiva . Em
gado de ene'gia grosso delas está de ~ircunstándas
tar favoráveis, lança-se uma nova luz sobre áreas da psique s
za a pe.cepção de fm eonteg..do do seI{ Essa en . e carre previamente obscuras ou desconhecidas, seia buscando dados cuia exi -
chamado de ob'eto ma que o ob;eto se toma ai o ""gla rugani· téncia se presumiria ou encontrando dados que não se encaixam. Sem-
lhadamenté
, . I do self AdIante analisa,ei essa'lormulaçaopoderia
g qu". m . se, pre que a fonte de idéias abst ..tas é conhecida e que estas são aplica:
. A medO d '. . aIS deta· das e testadas, podese evitar um ,isco inerente a toda teorização em
rend?, os resultados de seu fun ~as emtegrativo-reintegrativas vão
I a que.as seqüênc' d'
psicolog o de usar o conceito abstrato comO defesa contra os estadoS
to a Imagem co.-po I' clonamento se tomam , . oco.· iac
mais primitivos, arcaicos ou infantis que ele contém e "presenta. Como
do quoestá den .. se fmma - e com .ela uma estav,etS e, enquan·
e SI mesma d
~
ça a percepça-o dtro do que está fora do' corpo _ dPercepçao mais nítida
,esenvolve-se'
a minha p,ópria teoria foi originalmente apresentada sem uma indica-
ção adequada dos fundamentOS em que se baseava, p ..ece carecer até
~,. ~ez
essa pe,ce' , e o mundo exter na cnan· agora de respaldo. A segunda edição de meu livro conseguiU em certa
_ uma;fo'::: o Ibebe. distingue entre o que é Uma estabelecida
toda uma a ave reahzação do ego.. A parti, d que nao e ele mesmo ~ medida preencher essa lacuna, pa" mim, bem evidente. Desdeoentão,
e
a obse",ação de bebés mães pmporcionou-Ihe maior "spald ; além
pró ,io g ma de sentimentos, imagens e aI ele pode desenvolv""
gos~ria ~~e;:~a conveniência, podem se;:~::;tos a respeito de si especia~
disso, publicaram-se interessantes estudos Que aliam a observação ao tra-
balho experimental, são as provas fornecidas pela psicanálise,
pai/mãe um ga' u no que ele teme tomar-se . tOS, naquilo que ele
, ' ngster etc li d - IS o e u h " mente da parte de Daniel Stern, Que as organizoú na forma de uma teo-
a totalidade ofig' I . o os eles estão mais o ,m eml, um
Na medida em ma confonne expressam os senti u menos .. Iadonados
ego, mas tamb . que o fazem, eles não apenas se m efn tos
, . em ao self ..
onipotência.
re erem a condição do
d~ riadoself(Stern
A dificuldade 1985).,
na transmissão adequada do tipo de dados que sub-
iaz às a[o,maçãe abstrataS é considerável; na verdade, ainda está para ser
s
construído um esquema para ,egistro de dados.clínicos em suficiente de-
. A medida
gmalmente de que
uma pessoa qu o~lpoten"a,
. o•cresci
. mento do ego prosse
integram-se em um
.
S:~;d
os;entlmentos, mi- talhe. Ele .deve estar a meio caminho e~tre o modelo e a ,explicação es-
do isso ocorre e e contmuamente a mesma no espa I o e Identidade em "ita pormenoriZi!da que agma SÓ em parte pode s"" apresentada, por
cada v . ' o sentimento do selftom _ . ço e no tempo. Quan- meio de b"ves extratos de incidenteS que cristalizem o geralmente lon-
ez mais relacionar-se com a se mais realista e o bebê d go e meticuloso trabalhO de investigação analíticà. Contudo, uma expli-
mundo ob;etivo B _ o pessoa com os qu po e cação dos métodos utilizados na coleta e avaliação de dadOS pode con-
estad . ' mem, na medida e e o cercam e com o
se< _ ~~;~~:~~nterimes. ou na medi~a ~: :U:e:l~me,nto
do self exciui tribuir po" dO' uma idéia do âmbito da investigação. Portanto, pass"ei a
todo da "construção dos primeims anos, já que ele foi o mais importa -
te dénrre as estratégias analMcas no estudo da criança. Ao método a
lítico, acrescentaram_se observações diretas de bebês e crianÇas. na. . d -o Em última análise, sua signi- ,
lidade e uma reconstruça. . . porta p orem' isso não slgmfica .
Reconstrução da va paClen . te é o que -mais 1m .' taça-o reconstrutlva
"
d ma mterpre A
5. Nas duas últimas décadas houve uma explosão de estudos sobre a re- \
lação mãe-bebê tanto na Grã-Bretanha quanto nos Estados Unidos.
Dentre eles, assinalo os que foram iniciados na Tavistock C1inic de \
Londres. Seu método foi amplamente adotado e aceito como parte
do treinamento em análise infantii pela Society of Analytical Psycho- \
logy. Um observador faz uma visita ao lar da criança e registra em de-
talhe tudo que observar, sem tirar conclusões. Cada obserVação dura \
uma hora e se repete semanalmente ao longo dos dois primeiros anos
de vida extra-uterina. As descobertas são entâ~ discutidas cada sema- \
4. Locais onde se oferecem serviços de assistência e 9rientação aos pais sobre ama-
mentação, alimentação com mamadeira, introdução de sólidos 'na alimentação,
desmame, problemas de sono, treinamento pára uso do vaso sanitário etc. Em al- \
guns, oferecem-se também serviços de acompanhamento pediátrico, vacinação
etc. (NT.)
\
-~.
• O Amaduredmento • 99
o Amadurecimento
j terminada e, assim, possibilita a percepção sensorial e a atividade moto-
ra; de fato, a mãe pode perceber facilmente os movimentos dos braços
I e das pernas do bebê. Além disso, podem-se observar o chupar do pole-
gar, o engolir dei fluido amniótico, alguns "exercícios" respiratórios restri-
I toS e belos movimentos corporais em forma de espiral. O bebê pode,
além disso, ouyir sons exteriores à parede corporal, o que vem a confir-
:jue significa dizer que um pebê é, antes de mais nada, uma unidade I mar os surpreendentesrel?tos de mães que afirmam que seus bebês rea-
:::.ossomática um se/fi Quando se verifica, essa situação e quando se gem à música: Mozart é considerado caJmante, ao passo que Beethoven
:Iam as seqüênc~as deintegrativo-integra5ivas que dão origem ao pro- I provoca um aumento do número de movimentos do bebê. Por conse-
so de amadurecimento? Tentarei apresentar o que há de relevante no guinte, a audição já se, encontra bas.tante desenvolvida antes do nasci-
lhecimento sobre essas questões. I mento. Não é tão fácil compreender como a visão esteja tão bem desen-
volvida ap6s o oasçimento, já que há pouquíssima luz no útero e
I normalmente s~ crê que sejam necessários estímulos para o desenvolvi-
DA INTRA-UTERINA mento da percepção.
I Esses exemplo~ bastam para indicar que a vida intra-uterina de um
vido às crenças e fantasias que cercam a vida intra-uterina é 1~1Uito fá-
bebê é, nãQ apenas rica como variada. Ela constitui um período de cres-
esquecer que o óvul? fertilizado e o feto estão, desde o i~ício, sépara- I cimento, durante o qual ele se prepara para o nascimento, desenvolven-
) do .corpo da ~ãe. A medida que o crescimento prossegue, a parede
iO~lnal da mae e o fluido amniótico contêm e protegem o bebê em I do os 9rgãos (principalmente a boca e os músculos) de qUE;! precisará pa-
ra sobreviver após nascer. Algumas evidências indiçam qu~ ele dá início
sClmento do' mundo exterior. Ele vive numa placenta aquática e no
do amniótico, alimentando-se de ambos. A principal função da mãe I ao nascimento pela emissão de mensagens químicas para a mãe. Se real-
mente for assim, estará aumentado o mérito de considerar o nascimento
)~~ant~, contê-lo e protegê-Io, ao mesmo tempo que lhe fomececa
como um exemplo de deintegração no qual se expressa o violento po-
tena-pnma para o crescimento. Assim, a herança genética pode atuar I tenciai do self Essa informação insinua uma possível resposta a uma ,ques-
promoção da forma e da estrutura do corpo do bebê.
tão: quando têm início as seqüências deintegrativo-reintegrativas? E pro- :
A vida dentro do útero não é um mar de rosas: o útero é, por exem- 1 I
nece com ela pelos primeiros quarenta e cinco minutos, facilita-se enor- ser individual. A meu ver, ela assim apreende e respeita a integridade
memente o apego subseqüente e forma-se mais facilmente uma boa re- a verdadeira natureza de seu filho, que ambos gradualmente conhe-
e . A
lação com a mãe. erão à medida que o crescimento prossegUir. o mesmo tempo, a
Caso se possa rejeitar a idéia do trauma.do nascimento, como en- ~ãe reconhece a independência que o bebê tem dela, algo enfatiza-
tender a ansiedade demonstrada pelo recém-nascido? Minha especula- do pelo nascimento. Isso representa para ela uma perda, que é repos-
ção segue ó seguinte curso: a ansiedade acaso se deve à dor de atraves- ta pelo cumprimento de seu papel como elemento do par afetuoso. A
sar o canal vaginal - onde, ao lado da estimulação maciça da pele e da perda muitas vezes acarreta uma depressão transit?ria: que pro~avel
pressão sobre o crânio, há pouca condição de protestar de alguma forma mente ajuda a preencher a lacuna deixada pela ausencla do bebe den-
contra tudo isso -, além do choque de encontrar-se num ambiente intei- tro de si.
ramente novo? Ou há alguma contribuição interna por parte do bebê? Superficialmente, tem-se.a impressão de que a primeira mamada é
Minha proposição é que tal contribuição possa existir, já que o se/r, no in- uma iniciativa exclusiva da mãe, embora esteja claro que o bebê logo par-
tuito de adaptar-se a essas mudanças externas; se aeintegra, produzindo ticipa de sua promoção. Isso é relatado já nas pioneiras observações rea-
formas maciças, não específicas, de ansiedade que atacam o ambiente. O lizadas por Call (1964), que demonstraram que, após as primeiras ma-
ataque contribui para a formação de experiências tais como o terror in- madas, se a mãe puser o bebê em posição vertical, ele entra numa
descritível, o caos catastrófico e o pavor de um buraco negro, especial- seqüência comportamental comportamento de aproximação - que,
mente quando não reintegrados. Mas o recém-nascido aparentemente in- com a cooperação materna, o leva ao seio. Assim, podemos considerar
tegra sua experiência de nascimento bem rápido, e isso não é explicado o comportamento da mãe como facilitador de uma deintegração que le-
pela teoria do trauma do nascimento. Para facilitar a reintegração, é im- vará o bebê a dar início a ações que culminam em tomar o mamilo na
portante que o bebê encontre algo tangível e confiável após o nascimen- boca e começar a sugar. Várias evidências fornecidas por outras pesqui-
to, especialmente por meio do contato epidérmico com a mãe. sas acadêmicas e observações de recém-nascidos demonstram até que
ponto o bebê contribui para a formação do par afetuoso. Já há muitos
anos Merell Middlemore mostrou que o bebê não suga um mamilo de-
form'ado, e há outros exemplos em que a iniciação à amamentação é di-
o PAR AFETUOSO fícil ou até impossível para alguns bebês e mães. .
O importante evento que é o nascimento 'faz-se acompanhar de outras . Ao estabelecer a situação da amamentação, a unidade do bebê é
mudanças, decorrentes da necessidade que tem o recém-nascido de ser perturbada por atos deintegrativos, os primeiros' do se/f A teoria dos dein-
alimentado, tornaqo nos braços e afagado para sobreviver no novo am- tegrados, porém, pressupõe um padrão dirigido que emerge do self :otal
biente, necessiçlade que tambérn.~é l!m pré-requisito para a ocorrência das e carrega em si características do potencial psíquico do se/ftotal. DaI, ca-
seqüências deintegrativo-integrativas. A receptividade da mãe a essa ne- da reaçãof(ato deintegrativo) seria para o bebê uma experiênc~a d: se.u
cessidade leva ao estabelecimento de um relacionamento entre.ambos mundo total. Essa situação evolui após algum tempo para a ontpotencla
conhecido como "o par afetuoso", para o qu.al cada llm contribui com infantil, uma característica bastante bem definida do comportamento in-
sua parte. fantil. Dentro desse estado de espírito, não pode haver seio "lá fora" (o
Têm sido muito estuda.dos os impulsos, reflexos e sistemas quí- seio tornoucse um objeto do se/fi e o bebê só pode vivenciá-Io por meio
micos que influem sobre o bebê durante suas primeiras semanas e me- dessa representação do self Entretanto, isso só pode ser verdade em ~ar
ses de vida extra-uterina. Porém, embora a mãe saudável possa saber te conforme indica o experimento de Cal\. A observação de bebes e
alguma coisa a respeito, ela não se relaciona com oJilho como se ele m'ães também confirma que a onipotência não é mantida todo o tempo.
fosse um feixe de sistemas fisiológicos, mas sim como uma pessoa, um Além disso, sabe-se há muito que a forma do mamilo pode facilitar ou
102 • A Criança como Indivíduo •
., ................... , .... " ........ ,......................... ,....... ". ', ............... ...................................... , ...... ,., ..... ..... .. .
" " " . o Amadurecimento • .01
desestimular o apego ,do bebê ao seio; portanto, ele tem capacidade de à experiência afetiva. Além .disso, a experiência sensorial é organizada
discri minação. de forma particular: .os sistemas perceptivos não estão separados como
Estando a amamentação es.tabelecida poratos deintegrativos e faci- na vida adulta, de modo que as mensagens visuais e auditivas podem
litada pela mãe, parte do Jei.te previ;:lmente ingerido pode ser regurgita- operar como sefossema mesma coisa. A esse fenômeno ele chama de
da, mas isso será acompanhado finalmente de sono <r:eintegraçãol. São "transferência de informação .em modo cruzado" (Stern, p. 48 e ss.>. Po-
esses atos deintegrativos que colocam em ação os sistemas. sensórios e de-se aqui tecer. uma consideração à luz de meu postulado do selfpri-
motores (ver, sorrir, tocar>. e, assim, fornece-se material para o crescimen- mordial: isso.;ignificaria que, as percepções sensoriais resultam de um
to do ego na primeira mamada, .como .também em todas as mamadas deintegradodo self total, no qual todas as modalidades de sensação se-
subseqüentes. . riam apenas parcialmente distinguidas.
Não pretendo analisar detalhadamente que tipo de consciência o Não importa como os objetos sejam percebidos pelo bebê, não res-
bebê possui nas suas diferentes fases. de desenvolvimento. Entretanto, ta dúvida de que ele visa ao objetQ desde o início da vida extra-uterina.
mencionei em edição anterior deste livro o trabalho preliminarmenterea- Por isso, é impossível que ele exista apenas num estado narcísico, que es-
lizado por Spitz. Ele afirma (Spiu, 1993) que, a princípio, ~s percepções teja fundido:ouidentificado com o inconsciente da mãe, que seja apenas
são vagas e globais e que só com cerca de três meses o bebê pode reco- parte dele ou que seja essencialmente não integrado (Cf. Winnicottl. Es-
nhecer "pré-objetos". Segundo o estudioso, o.sorriso do bebê depende sas opiniões,a meu ver, são impressões por demais generalizadas daqui-
de ele ser apresentado a um esquema composto de testa, olhos e nariz. lo que um bebê pode às vezes parecer ou de estados em que ele talvez
Só com sete meses, conforme afirmou, é que ocorre o reconhecimento esteja de vez em quando. Quando afirmo que o bebê se relaciona com
pessoal; só então é que se estabelecem relações objetais libidinais. Ape~ o objeto, quero dizer que ele pode distinguir entre o que é ele mesmo e
sar da importância que tiveram na época, seus estudos hoje parecem mui~ as partes.da mãe comas quais.temcontato,.apesar de não estar conscien-
to datados. Além disso, dependem do estudo do tipo de consciência que te de.fazê-lo ,,isso vem depois. A teoria doself sugere que ele esteja boa
um bebê pode ter num determinado estágio de seu desenvolvimento. Is- parte do tempo principalmente num estado que não é nem consciente
so é interessante, mas a distinção entre sistema consciente e mente in- nem incoqsciente. Essa dicotomia estruturada - descritiva e dinamica-
consciente - no sentido que conhecemos em crianças e adultos - pode mente tão útil no futuro - não é útil na descrição do. comportamento ini-
impedir o estudo do bebê como um todo em relação à mãe. . cial dos bebês.
Desde a publicação do trabalho pioneiro de. Spitz, intensa pesqui- . O tipo de objeto queo bebê encontra está ainda. mais claramente
sa vem sendo empreendida, dando lugar a uma atitude diferente dian- proposto na minha teoria. A observação indica que ele tem alguma per;
te da primeira infância, a qual coloca o seff no centro dos estudos. Stern cepção nítida da realidade, mas_que também forma objetosa partir do
(1985) compilou o tr;:lbalho existente sobre o desenvolvimento da "no- seff em relação aoámbiente. Esses obieto~ são considerados arquetípicos,
ção de seI{ e de outrQs" no bebê. Apesar de não postular Um seffprimor- de uma forma análoga ao esquema e modelos. de outros pesquisadores,
dial no sentido que eu lhe. dou, ele quase o faz: seu estudo é de repre- mas se representam de modo muito distinto do materia1.etnológico por
sentações do sei! que se dese.nvolvem a partir do self primordial meio do qual os,arquétipos são normalmente identificados. Eles. podem
conforme eu O vejo, concluindo que, (mt~s de mais nada, pode-se dis- ser observados na amamentação, quando um seio é tratado de modo di-
tinguir uma noção. de seff emergente, ,segljida da formação em seqüên- ferente do outro e nos ataques periódicos à mãe ou nas tentativas de en-
cia de um "SeffNuclear", um "SelfSubje.t[vo" e um "SeI{Verbal". Há ain- trar em seu corpo: tudo isso tem características padronizadas. Julgo a no-
da outras conclusões q!Je são relevantes para as minhas proposições. Ele tação de Bion útil com .referência à formação inicial .de objetos (Bion
nos diz que a aprendizagem dO que é variável e, invariável n.o ambiente 1991): ele cOrtsidera que os primeiros objetos são elementos beta; estes
não é um processo apenas.abstrato, rné!sestá indissociavelme.nte ligado são transformados em .elementos alfa pela função alfa. Os elementos be-
104 • A Criança como Indivíduo •
....... , ........ ..
."",. ,,,,..,,, ,",
• O Amaduredmento • lOS
...... , ............ ,, ........ .......................................... "" .... ........ , ........ " ... .
",
dela corresponder muito ao estado do filho, o selfdo bebê será assim afir- Postulei que a prmclplo
."
,-o d mae ~ e em pa. rte devido à natureza de sua
bebê vivencia apenas objetos totaiS, em part
mado, de modo que sua unidade será substituída pela unidade mãe-be- I devido à sua restnta vlsao a
' A'
.
d'd que começa a con
hecer melhor a mãe, ele re-
bê. Esse estado é desejável apenas em certo grau, já que pode tornar a
separação da mãe muito difícil para o filho, I vida em,oÇ1onal. me,l a,
conhece ,~,
I
que e a possy,
,
., '
' 1 concomltantemen
..
i dOIS seios e qu~ es es
t são apenas parte dela. Sua
,~
te. distingue, por demtegraçao,
Contudo é inevitável que ela frustre o bebê: algumas frustrações são expenencla emociona . boas e mas 'relaça~o ao seio e que," por con-
toleráveis, enquanto outras, não; o valor das frustrações toleráveis está no I •
. ,
em
." sep'arados um do outro, A eXls-
. " . b m e um seio mau, .
seguinte, ha ~m seio ~, e maus cria uma ~ituação na ÇJual emer-
fato de compelirem o bebê a administrar seus objetos bons e maus, es-
pecialmente pela projeção é pe!a introjeção, que agem no sentido de pro- I tência
. ." d~ ob,e~os pé!rçla!s
, , bonsformas de I'dar I com eles, Um objeto .mau
duzir uma preponderância de boas reservas nutrizes dentro do seI{ Des- gem, graçlualr:nent~;t.nu,m,~r~ ~tão arece que o seio esteja atacando o
sa forma, a luta do bebê o leva a ganhar cada vez mais controle sobre I Pode ser proJetado no seiO e e Pd'. bebê quem o morda. Por
seus objetos, A mãe o ajudará a desenvolver o ego e, desse modo, sua . b a na verda e sela O
bebê mordendo-o, em, or., - "d . mau 'acima os. objetos po-
capacidade de distinguir-se dela e de distinguir as fantasias da realidade, I ' 'r emp o o seIo
outr,o Iªdo, cpmo lmp Ica o ex. os' rocessos ocorrem com os oQjetos
, .
Cuidando com carinho e empatia do filho, a mãecria a base para a sen-
sação de confiança da qual nasce a1noção de identidade individual do be- I dem ser íntrojetados, Os mesm P,
bons: eles poqem ser pr
o,'etados no seiO, qu
,
e se torna idealizadoepode
ça~o simultânea
. . ~
de extase, .
O
bê. Esse cuidado está ao alcance de qualquer'mãe, qmtanto que ela con-
te com apoio do ambiente e,não sofra interferências. I gt;rar não apenas s.atls a ç a , '\ 'd 'ntro,'etado e isso dá ao b,~b~
'f. -o mas uma sensa ~
ª
. - , b,'etos bons aum~ntando a vly~n
' . b' de ser aSSim! a O , ! . , , ,A _
seu desenvolvimento, o objeto, transicional adquire características arcai- ente frustrantes; podem ser agora reconhecidos como um só objeto,
cas e guarda em si toda sorte de representação de objetos parciais (isto é ;or conseguinte, o bebê preocupa-se em não destruir ou danificar, em
orais, anais e fálicos). Essas representações, contudo, são estendidas a~
eus ataques de raiva ou gula, o seio bom da mãe quando sentir que es-
objeto numa tentativa de ampliar a representação do seI{ pelo ego, bem
~e'seio é também mau. E agora ele pode sentir que isso ocorreu e reco-
como a ação integradora do seI{ durante os períodos de segurança e tran- nhecer sua necessidade de que a mãe continue a existir.
Nesse ponto ele poderá mobilizar alguns dos antigos sentimentos e,
qüilidade que medeiam entre os de atividade deintegrativa. Aqui se tor-
negando que o seio seja bom e mau,' criar uma ilus~o de que ele é ape-
na claro que os estágios iniciais de objetificação psíquica ainda estão por
nas mau e, assim, tornar aparentemente seguro o tnunfo sobre ele, Mas
vir e que o pólo "espiritual" do arquétipo está sendo usado e desenvolvi- .
essa ilusão não' funciona totalmente e assim seu triunfo não traz confor-
do; com efeito, Winnicott situa aqui a fonte dos processos éulturais (pa-
ra maiores detalhes acerca desse tema, cf. 'p. 136 e ss.l. to mas sim exaltação, excitação e inquietude,
, A defesa do bebê em seu triunfo (defesa maníaca) é feita contra ou-
tra seqüênCia derivada do sofrimento e da preocupação um protótipo
da culpa -, que o leva a cair numa espécie de depressão que ~ã.o deve
OB)ETOS TOTAIS ser confundida com seu equivalente adulto. Se éle de fato sentir ISSO, te-
Em torno dos sete meses, as observações e ~xp'~riências indicam que rá ainda de dar o passo seguinte na descoberta: ele pode reparar o dano.
ocorre uma mudança radical: o bebê reconhece a .mãe cqmo objeto Iibi- Ele pode sentir a presença de um buraco ou cavidade na mãe, feito du-
dinal (Spitz 1993) e fornece evidências mais exp!ícitas de que a separa- rante seu ataque de voracidade, e imaginar que esse buraco pode se~
ção o aflige. Até esse momento é aparentemente mais fácil substituí-Ia preenchido, restabelecendo a integridad~ da mãe. quan~,o ele o f~~, da
por outra mult)e;r, mas \lesse ponto o bebê p~de .dar ~ostras de depres- início a .todos os sentimentos que depOIS se tornarao o lamentar e o
são anaclítica (Spitz 1946) se a mãe ficar ausente P9f períodos prolonga- "querer melhorar" o dano causado por um ato acidental ou de1ib~rado
dos, especialmente em momentos de crise. Vários psicanalistas indepen- do qual ele foi a causa. As sensações de culpa e tristeza e a capaCidade
dentemente situaram mudanças por volta desse momento: Klein de empreender uma reparação originam-se nesse período.
formulou a teoria da posição depressiva, com início por yolta dos qu~tro Esse esboço que tracei da evolução na infância baseia-se em s~ua
meses e culminância aos seis; Winnicott o denominou estágiq da preo- maior parte na obra de Melanie Klein. Ao longo dos anos, em deco!ren-
cupação, mas prudentemente deixou de determinar quando ocorria. da da realização de mais pesquisas clínicas e dos dados da observa~o de
A mudança assemelha~se à passagem da "loucura" e não integração bebés, cheguei à conclusão de que nem o período em que 'predommam
para a sanidade e integração; ela constitui um passo da vivência dos ob- os objetos parciais (posição esquizo-paranóide, segundo Klem), nem a po-
jetos parciais à convivência com objetos totais, .isto é, pessoas. Enquanto sição depressiva podem ser encontradas na sua forma pura ~ simples, O
ela se processa, a noção de realidade aumenta até tornar mais nítida pa- que geralmente predomina são padrões muito meno:,org~ntzad?s.
ra o bebê a ,sua' situação de dependência. Ao mesmo tempo, o mundo Às vezes se pensa que a posição esquizo-paranolde e seguida ~ela
in,terior - já possibilitado em parte pelas evoluções perceptivas, mas tam- posição depressiva, como se elas fossem dois estágios. C~nforme m~~~ha
bem pela introjeção prévia de objetos bons onipotentes em número su- experiência, elas não,são estágios no sentido que pressupo~ uma sequen-
~ciente, garantindo assim que os maus objetos não os sobrepujassem -
cia, mas sim empreendimentos que persistem por toda a VIda e possuem
e alvo de crescente definição. grande conteúdo arquetípico, Creio que Bion ~os presto~. um grande,s:r-
A mudança das relações objetais parciais para as totais é especial- viço quando definiu a fórmula Ps<->Dp (esqulzo-paranolde <-> poslçao
mente significativa porque implica que os objetos que antes eram senti- depressiva) para indicar que qualquer das posições pode ser encontrada
dos como bons ou maus, extasiantemente satisfatórios ou catastrofica- na sua forma pura e simples, mas que há vários exemplos - na verdade,
t tz • A Criança como Indivíduo • • O Amadurecimento • t t}
................. " .. ,,, ... ,, ......... ,, ........................ " ............ , ....... .
A FASE DE "SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO"
. Os elemento~ essenciais de uma representação do self no ego estão
mUIto be~ forn~cl~os n.esse paradigma siml?les da imagem corporal. Pa- Quando a criança adquire a capacidade de mover-se - primeiro engati:
:a compl~tar o slgnlficatlv~ di~a~\s~~ de;ua v!d~, outras atividades de- nhàndo e depois andando . atinge o estágio em que deixa de ser um be-
em s~r~cr!=s<:entadas: chor~r:,~\I~ar, cu~sJ?lr,.if).icialmente atividades de li- bé, por assim dizer. A partir daí, ela se torna fisicamente muito mais in-
beraçao, tornam-se c~mun~catlva~;.as átividades incorporativas~ como dependente da mãe: pode brincar com brinquedos de sua escolha, pode
s~~urar e agarrar-se, sao ~ole cada vez mais, reco,nheFi9as c({mo essen- pegar os que quiser sem precisar esperar que eles lhe sejam trazidos e po-
CiaiS ao b,e~~estar do bebe e~ p~rtaQto, como sentime~tos d~ s~jf de manipular uma grande variedade de objetos com uma habilidade que
~ v:sa~ oc~pa lugar especial ,na percepção e, n.9,~stabelecimento' aumenta rapidam.ente. .
da c~:mstancla ~ble.t.al, surge a sensação de ser uma e à mE:sma pessoa no Normalmente, uma criança nessa fase brinca sozinha por tempo res-
espaç.o ~ .no t~m'p0' Como ~ ~ercept9 da'distância coméça a funcionar trito e não consegue tolerar a ausência prolongada da mãe sem demons-
na pnm~lra mamada, o bebe e l~vado a explorar o mund,o exterior e a trar aflição. Se brincpr sozinha, tende a voltar à mãe periodicamente, su-
f?rmar a base ~ar~ re::?nhecimento de~ que os objetos ,contim!~~'a exis- bir-lhe no colo e depois descer para continuar a brincar. Em pouco
tir em su~ au~encla flslca. Mas a constancia objetal não é apenas visual tempo, a ausência materna pode ser tolerada e substituída pela presença
el~ se aplica tanto ~os objetos fora da superfície da pele quanto à pró: de outras pessoas até que, ao atingir a idade pré-escolar, a criança pode
pna pessoa do b~b~ que, no contexto do cuidado ,e empatia maternos, participar com sucesso de um grupo.
descobr: sua propna continuidade como ser; antes de ma'is nada' ela já Essas manifestações de independência progressiva devem-se tam-
estava la, c~mo o ser no seu sentido transcendente, mas não ~ossuía bém ao uso que ela faz dos brinquedos como representações simbólicas
representaçao e preCISava ser descoberta pelo ego gradualme~te parte ,de idéias e fantasias que facilitam a independência e desenvolvem as re-
por parte. " lações sociais por'intermédio 'de um meio' objetivo de comunicação. Es-
_ Os passos seguint~s
no autodomínio são dados explo- po~ ~~i;~a se período de tantas evoluções na vida da criança foi chamado por Mah-
raçao ~o mundo extenor. O bebê até esse momento dependia de que ler et ai. (1977) de fase de separação-individuação devido ao fato de pôr
sua mae lhe apresentasse partes de si mesmo direta ou indiret~mente ex- fim à "fase simbiótica" de identidade entre mãe e l:\ebê. Suas formulações
ceto no q~e tange ao ver e ao ouvir.,Se~ dúvida, ele pode começar; co- chamam a atenção para a crescente capacidade de' mobilidade como ex-
locar comida na boca quando esta é colocada perto dele o bastante e já pressão contúndente da individuação em ação. Além disso, há claros in-
apren~eu qu~ a expressão da raiva e do sofrimento resulta na obtenção dícios de que a criança esteja desenvolvendo suas funções egóicas nessas
de ob,etos, ale~ 'de podt;r fantasiar um controle mágico e onipotente so- atividades independentes, que em breve prescindirão da presença da
bre eles. Mas ~o quando co~~egue começar a engatinhqré que ele pode mãe, Certamente, há muitos sinais de identificação além dos processos
realmente aumenrn,r a p~ecI~ao e a variedade de sua capacidade de des- de individuação. A necessidade que a criança tem de reunir-se à mãe ain-
cobert~, na qual ate entao so os olhos e ouvidos tinham maior utilidade. da se evidencia entre as atividades exploratórias, mas nesse período não
~ln?a lhe resta uma outra atividade motora a dominar: a fala. Uma resta dúvida de que a identidade primária ou, conforme a chamou Jung,
ve~ ~tlngldo s~u. controle, o bebê se, viabiliza com relação a todos os re- partidpation mysrique, esteja entrando em progressiva dissolução. A vida
qUISitos essenCiaiS: torna-se uma pessoa basicamente independente e do- simbólica da criança pequena também se vai estabelecendo melhor à me-
tada de plena capacidade de comunicação, dida que ela adquire maior domínio da realidade. Esse é um período de
integração cada 'vez mais estável. Inicialmente, os processos deintegrati-
~
! :
vos predominavam no crescimento; gradualmente, isso passou a ocorrer
com menor freqüência e então, com o desenvolvimento de um mundo
--'-- -- --~ ------
----,------~---~.-------_.------- ,----
. o Amadurecimento • t t7
.t"~~,,.~...~.~~a".f.~.c~'!'.o..~~divíduo
, .. , .... , ... , ............
• .. ..... "." .. .
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LATÊNCIA E ADOLESCÊNCIA
A importância desse período é crucial para a formação da identi-
dade. Por meio da identificação, 'ps afetos sexuais da criança organizam- Com a passagem do confl 'lto edipiano'" todas
, as estruturas essenciais
, ao
.
II
se em padrões de compo.rtamento e respectiva? fantasias, os quais estão desenvolvimento posterior estão lançadas; cada uma se desenvol;era am-
de acordo com sua ill)agem corporal e sua herança física. Além disso, da mais em extensão, riqueza e compl~xidade; cada uma entrara em no-
esses padrões aliam-~e por intermédio dos pais à matriz coletiva, cons- binações e será aplicada em diferentes campos. .
vas com . d . o alcance da consciência cresce e se consolida no de-
ciente e inconscien~e, na qual a famoia vive. Nesse proc.es~o, as identifi~ A partir aqUi, _.' . d .
cações anteriores com o sexo oposto permanecem, mas são incorpora- volvimento de 'atividades ~xteriores a [amOI?,. ~ malo~a as quais na
sen do a personase diferencia ,e a cnança descobre
I, ,
das ao mundo interior .da criança. O conflito edipiano reforça escola. Durante esse peno , I • • • '
extremamente o estabelecimento de figuras de an~ma e anin:us que fi- como articipar mais ,da sociedade, e encontrar, ~ela seu lugar. _
cam prontas, por assim dizer, para serem projetadas nos relacionamen- Ja adolescência, essa rela~iva estabilidade :pertu~bada pela ~atu
tos amorosos da adolescê~éia. É aqui que as principais tendências dora- - o da sexualidade da criança. Seus efeitos,serao co~sI~erados adlan.te,
vante serão dirigidas para a adaptação social, na qual Jung colo.cou tanta ~:Capítulo 8, pois um significativo impacto da turbulencla da adolescen~
ênfase quando frisou os objetivos sexuais e adaptativos dos jovens. Ele . ' - d" - cabe na infância - se exerce sobre os aspec
cla - que, a bem Izer, nao , . .
tinha razão em fazer isso por causa da intensidade dé seu estudo dos tos sociais da vida, familiar e sobr~ a sociedade em SI. _.
processos introversivos da vida adulta. Mas, na verdade, n~ó há razões
para acreditar que as implicações sociais nas identificações que resqlvem
os conflitos edipianos sejam tudo. O aumento no sentido qUe a criança
tem de sua própria identidade é, com efeito, testemunho da ação de pro-
cessos favorecedores da individuação ou, dizendo em outras palavras, o
~ ! r ' ~" ,
alinhamento de suas fantasias e comportamento sexuais coin séus im-
pulsos e sua imagem corporal aumentam sua capacidade de uma verda-
deira auto-expressão. Sé o ego se fortalecer, a totalidáde' subjace,nte do
seI! não ficará necessariamente inacessível.' .~ "
..... '
Pode-se invocar a teoria da repressão em defesa da idéia de que o
desenvolvimento unilateral é necessário e inevitável. Essa' defesa, porém, 1..- 11
ção quando a fase edipiana se instala. Portanto, a repressão é uma . ,-, ~'
7 A Fam,1ia
Esse exemplo ilustra a tese de Jung de que a vida não vivida dos pais
se torna a carga dos filhos ou, em termos mais técnicos, a psicopatologia
dos pais é introjetada pelos filhos, A fórmula tem várias facetas, pois faz
grande, diferença o estágio de desenvolvimento em que a influência dos
pais mais se faz sentir, Os exemplos na literatura da psicologia analítica
derivam na maior parte das identificações pós-edipianas, quando a solu-
o amadurecimento só, pode dar-se em toda a sua plenitude num ambien- ção da situação conflituosa dos pais traz alívio para a criança cujo ego se
te bom o bastante, e ISSO implica uma vida familiar baseada num c _ tiver desenvolvido suficientemente para resolver o trauma após a elimi-
::~~~db~m ~ bastan~~, Aqui não há lugar para perfeccionismos, e a ~~:_ nação de sua causa, Mas o dano começa antes, na primei~a infância:
quando um bebê não é carregado, alimentado ou cuidado adequada-
, b I,;, a e o con ItO no casamento -é bem expressa na fórmula
mente, o resultado é muito mais grave e, às vezes, catastrófico. .
sim o Ica ~e qu~ o masculino e o feminino são opostos, Quando há
A fórmula negativa sobre pais e filhos pode com proveito ser rela-
opostos, ~a, co~fI~tos; um casamento sem eles é suspeito, Todos enten-
cionada a outra proposição: a de que, cuidando de um bebê e criando
dem que e mevltavel o conflito entre pais e filhos mas os co fI't
o' I ' -, , n I os entre um filho, os pais recapitulam sua própria infância. Ao fazê-Io, surge a
s ~als, s~ reso VI dos, sao Igualmente uma expressão de vitalidad
laça o conJugaI. e na re- oportunidade de reviver e resolver com o filho os fracassos ou desvios de
desenvolvimento resultantes de seu próprio passado, Só quando esse re-
Seria e:r~neo alegar que todo conflito é desejável; antes é a -su~ na- desenvolvimento fracassa é que ocasiona injunçõ~s ou danos à criança,
ture~ que e I~portante, tanto quantitativa quanto qualitativamente O pela impossibilidade de modificar a ~ida afetiva dos pais e pela persistên-
c?n~lto destrutivo e ostensivo entre os pais é nocivo aos filh ' cia de uma situação traumática por meio do reforço contínuo,
senCla de fl't' lOS, mas a au-
~on, ~ o nos assIm chamados casamentos "felizes" também o- Pode haver vários motivos para que um casamento ocorra, mas os
de ser preJudicial, especialmente quando a felicidade e' 'Irreal 'd I' Pd que têm especial interesse para os analistas junguianos são aqueles que
e ma n t'd
I a a" custa da Vida dos instintos, ,I ea lza a
derivam das identificações que o casal estabelece no curso de seu pró-
O qu~nto esses casamentos "felizes" podem prejudicar uma crian' prio amadurecimento, Eles decorrem de vários níveis, mas o modo co-
pode ser VistO em seus resultados a longo prazo: tome-se o caso de u ! mo se resolveu a situação edipiana dos pais em perspectiva é o mais im-
Jov~m que, exatamente como suas três irmãs, jamais se casou, Todas se portante. Para resumir, é necessário que marido e mulher reflitam
apal~on,a~am p~r hom~ns que não lhes correspondiam ou eram casados, suficientemente as características dos avós do' sexo oposto. A semelhan-
A p~mclplo, a ~Ida conjugal dos pais parecia boa; não havia conflitos os- ça demasiada cria reações infantis, da mesma forma que a diferença de-
tensIvos, mas sIm harmon' filh masiada toma a adaptáção mútua excessivamente difícil. A razão espe-
, _ la, e a I a adorava o pai, que correspondia à
~~t:::elçao, fazen~o-a_crer que era a filha predileta, como também acre- -cial para adotar essa idéia decorre das formulações de Jung acerca do
h ' m as outras Irmas, Entretanto, para manter essa estabilidade o pai significado dos costumes matrimoniais em tribos primitivas, Ele alega (Cf.
aVia pago ~aro em termos de si mesmo e de sua vida instintiva c~nfor Jung oe XVI, parág. 431 e ss,), seguindo Layard, que estes se estruturam
me Contou a filha em breves linhas antes de morrer, A mulher ~o' ra c '_ com vistas à garantia de uma troca compensatória adequada; são um
vente com ele I d ' onl acordo' entre as tendências endogâmicas e exogâmicas. As primeiras con-
_ ' e o resu ta o e que o estágio no qual a filha 'd I' ,
nao pôd d I ea lza o pai
solidam os laços da familia; as segundas levam à solidariedade grupal e à
e se esenvolver ou mudar para uma base 'I' ,
sua s l'd d mais rea ISta e assIm continuidade da vida espiritual. O excesso de uma ou de outra das ten:
~~ua,l a ~ permanecera infantil. Em decorrência disso tod~ a '
~:i~~;~~:: ~rotica adulta era frustrada pela interposição da 'imagem s~~ dências acarreta conseqüências indesejáveis, pois a família ou se tomará
uma unidade anti-social (por ser satisfatória em si mesma) ou não rece-
clonamentos dela COm os homens,
berá libido suficiente para estabilizar-se.
"I
• A Faml1ia • 12.] r
122. • A Criança remo Indivíduo·
A tese de Jung (ibid., parág.' 433 e ss,) traz consigo a idéia de que o Quando a mulher entrava em trabalho de. parto, era. costu~~ afa~
casamento depende em boa parte da projeção mútua de formas arque-
I
I !"
tar o marido até que,.o nascimento tivesse ~corndo. eqUipe medIca, VI~
típicas inconscientes, o animus e a anima. Além das identificações com do tornar o nascimento seguro para mae e bebe, reforçava esse C?S
o/a genitor/a do mesmo sexo que ocorrem durante o amadurecimento I san e e assim o pai considerado um fator de complicação, era exclUldo
tum, ' , . 'do H'
Jung afirmava que elas representam o substrato arquetípico no qual ~ para que se pudesse fornecer o máximo de CUidados me ICOS. Ole em
identificações são construídas. O arquétipo se.expressa em fantasias típi- I dia, porém, o acompanhamento pré-natal t~rno~ o ~arto al~o bast~nte
cas acerca de como os homens ....:.~ no caso da mulher ou as mulheres - uro e se os pais quiserem ficar juntos, nao ha razao para Impe~I-los,
seg , .. . b E stern
no. caso do homem devem ser idealmente e pressupõe que os seres hu- I preservando assim a continuidade da expenencla entre. am os. XI
manos são funcionalmente bissexuais. O casamento se consolida quan- ' nicas de '~parto natural" que exigem a presença do pai e mostram que,
tec . c' '1
do cada parceiro carrega em si um volume suficiente de tais projeções ar- I num bom casamento, o parto pode tornar-se maIs laCI.
quetípicas, 'que só gradualmente são retiradas, à medida que cada um
precisa criar uma apreciação cada vez mais realista do outro. Essas afir- I
mações simples sobre o casamento nos bastam 'para os fins que preten-
demos. Na verdade, ele é uma combinação relativamente simples em ter-
I PRIMEIRA INFÂNCIA
Quando o bebê nasce, a mãe já está instintivamente preparad~ para aten-
mos biológicos que se torna extremamente complexa devido à gama de
fatores pessoais e sociais que influem sobre ela e nela se mesclam. De
I der com o apoio do marido, às suas necessidades. Ela se relaCiona com o
bebê por meio da preocupaçãomaterna,Primária. ":innicott ~unhou a ex~
momento, sua eficácia será considerada irr.efutávei e, assim, a discussão a
seguir pressupõe que os filhos sejam criados dentro de casamentos bons
I pressão no intuito de descrever a capaCidade da m~e de delxa:-se .absor
ver pelo bebê durante as últimas semanas da gravidez e a~ ~.nmel~as de
o bastante. Seu objetivo é indicar os efeitos que os filhos ex~rcem sobre I vida extra-uterina do bebê. Dessa forma, ela se mostra senslblhzada as n_e-
os pais e os benefícios que deles recebem.
cessidades absolutas do filho e, com efeito, imedi~tamente c~meça nao
A vida familiar inicia-se quando a esp~sa engravida. Então ela co- I apenas a satisfazê-Ias, mas a adivinhá-las. Nesse pe~odo, o ~ebe ,ten: pou-
meça a redirigir parte da ,libido que antes se., voltavél para <> exterior para
cos recursos para orientá-Ia e, por isso, uma necessld~d_e n~o satts~el~ po-
as mudanças ql!e seu corpo está sofrendo e.para o tiebê que cresce den-
tro dela. A prircípio, ela cuidil das atividades cotidianas como' antes mas
I de facilmente tornar-se catastrófica. O número de e,:'ldenclas qu~ m~lcam
que durante esse período se cria a base para o bebe formar a ~nmelra re-
a medida, que s~ torna cada vez mais dependente e necessitada de de~
pender, ,á estabilidilde de sua relação com o n:arido é testada.
I presentação do seI[ é cada vez maior. Winnicott, de quem proven: essa for-
mulação, usa uma notação diferente porque não utiliza o CO nC:ltO do self
O aum~nto das exigências que ela faz ao ~arido decorrem de sua I como eu: Ele argumenta que, se a mãe não propiciar um ,an:~lente bom
necessida?e de que ele'p!'lrticípe da gravid.ez faze.ndo ~ que pode para
O bastante, não se formará um self um falso self o substltUlra. Rec~ente
aliviá-Ia de sua carga ,física. Mas, assim como se to~n'a fisicamente depen- I mente, Meltzer frisou a importânci p da mãe bela com ~eu be~o bebe e as
dente, ela também. se torna emocionalmente vuln~rivel e carente do ca-
rinho e da proteção dele. Tudo isso será suficientemente bem'entendido I complexas implicações daí decorrentes (Mel~er.e Hams WjllIams" 199~).
por UI1} casal ~ue confie um no outrop~lo f?to de h~~ervindo 'de famí- As últ,imas semanas da gravidez eas pnmelras sema~as d,e vld~ sao,
lias boas obastante"e' de ~e lembrar.como seus próprios pais se .compor- I ortanto cruciais para o.futuro desenvolvimento do bebe. Ha aquI uma
P , - d - b b - ue carre-
tavam e como eles mesmos reagifé:lm à gr?videz de suas mães e ao nas- seqüên,cia natural: a crescente concentraçao a mae no e e ~
'd d ' o mater-
cimento de outro bebê.. Nessas condições, oS instintos que incorporaram I ga dentro de si, levando ao nascimento, seguI o a preocupaça
. ,. Sem dúvida a mãe tendo carregado o filho dentro de SI, e
.'
serão confiáveis. .. na pnmana, " , " . t e
a pessoa que melhor pode administrar o penodo apos o nasClmen o ,
\
114 • A Criança como Indivíduo •
....... ..... , .......... " .. ,', .......................... , ............. , .............. , ....... " ...... ', ...... ,.".", ........... -... ................ , ........ .
e o bebê a sujeitará: ela terá de par-
" ."
re-
m ln o umonopo
" I'IzaçaO
- d o pai " O fenômeno por vezes atin'em deno
'/I
,: deVI'do ao tabu do incesto, que pressupoe que os_ pais farao, ,
"
d e quase d e IIrante: o pai pode sentir que foi ele e não ge Jntensld
_ a- seuS d esel'os sexuais se não forem
, ' impedidos por , sançoes
_ SOCIaIS,
d ' ~ , , a mae quem
pro UZIU o bebe! Naturalmente, ISSO constitui uma exceça-o ' , o amadurecimento, sexual sl~ntfica alguma co~sa e o fato de po-
' d ' , mas Ilustra o como sinal de matundade quando a cnança consegue ex-
o tIpO e sentlmento menos exagerado que o nascimento d tomad -, , 'I d 'd
E ",~
car, ' . m tennos IdeaIS, sua ,expenencia leva a uma relaça-o ma'
po e provo-
,
' Longe de levar a perversoes, ISSO sena um SIna . e sau e,
os paIS, . - fI' d'
, IS estreita que fosse reconh~ci~o ,co~~ pa,rte do padrao do, con Itp e 1-
com a mulher e a um maIor senso de responsabilidade pelo c 'd d
to d a ,mae- quanto do bebê, UI a o tan- no qual as pulsões libld~nals sao Intnnsecamente cootlda,s ~ela c!-ll-
ansiedade de castração, E preciso um ego forte Rara adrplQlstr?r es-
A me~ida que o ,desenvolvimento prossegue, principalmente duran- Isões, e isso só pode ser feito se a viçla sexual entre os pais for
te as gestaçoes postenores e o conseqüente nascimento de novos filh
'Ih - I OS, e eles tiverem parte na vida libidinal do filho, reconhecendo que
o,s mais ve ~s .se voltarao para o pai, já que a libido da mãe lhes é par- ;frustração tem papel essencial no amadurecimento, Qua~quer ansie-
cIalmente retlra~a, Em~or~ d~sde o início o pai possa ter íntima relação infantil por parte dos pais será implacavelmente percebida pelos fi-
c?m o fi,'h,o, sua lmportancla e imensamente aumentada quando os con- e daí decorre o ciúme infantil muitas vezes aflitivo, que pode ser ne-
flitos edlplanos triangulares se intensificam. As pulsões - que se mobili- "~ón~.·"",... e, assim, levar à recriminações entre os pais,
zam na criança com particular intensidade - são ambivalentes fortemen- A situação edipiana é a culminância do desenvolvimento de uma
~e sexuais e agressivas e podem provocar reações compa;avelmente e, portanto, não pode ser considerada isoladamente, A forma que
mtensas nos pais, Saber que a criança sente ciúme e rivalidade diante assume depende de vicissitudes prévias na relação genitor/a-fiIho e
doia genitor/a do mesmo sexo, além de culpa pela excitação genital e ~~.U\_c;:>~'v em sua resolução depende, mais uma vez, da saúde instintual
concorrentes ansiedades de castração, pode ajudar um tanto, mas em cri- . pais, Esse é o elemento importante da exagerada afirmação de Jung,
ses afetivas infelizmente não se pode confiar no saber intelectual. Ao lado da evolução libidinal, nesse período a agressividade contra
'A posição de' Jung diante da sexualidade infantil sempre foi - com genitor/a do mesmo sexo - expressa por meio de rivalidade e dese-
alguma razão muito criticada, pois suas idéias acerca de como com- de morte assume posição central, aliada à manifestação de traços
preender os fatos oS,cilavam entre extremos muito distantes, Em certas e masoquistas relacionados a esses desejos, A isso aplica-se o mes-
ocasiões, ele chegou ao ponto de dizer que encarava a questão do pon- princípio, A administração dos desejos de morte é talvez mais impor-
to de vista dos pais, como se a sexualidade infantil fosse um fenômeno porque é essencial que o pai ou mãe se comporte de forma a apoiar
introjetivo, Como jamais burilou esse posicionamento, não se sabe o que iração e a confiança que o filho concomitantemente expressa e, as-
ele realmente queria dizer, Contudo, sua exagerada afirmação tem seu fomente as identificações que conduzirão à repressão e ao prosse-
valor por incluir a vida afetiva dos pais na situação edipiana, Ela prova- do desenvolvimento da criança.
velmente se refere à observação de que os conflitos entre os pais podem
levar, por um lado, à manifestação sexual compulsiva nos filhos ou, p~r
outro, à supressão quase total dos sentimentos, impulsos ou fantasias dI- ADOLESCÊNCIA E DEPOIS
retam~nte sexuais na criança,
. , afrouxamento das identificações e a crescente independência do ado-
E comum haver ansiedade entre os pais porque, com seu comp~r
tamento, a criança pode provocar-lhes sentimentos sexuais, Se a posiçao colocam pressões sobre os pais e, mais uma vez, é posta à pro-
a durabilidade do casamento,
12.6 • A Criança como Indivíduo •
" ... ...... , .... ', .... ,', ...... , ............... .... ,." ...... ., ........ .. .
" " ,
..
-"l':'~'< • A Fam.1ia • 12.7
I
I
:
mamente um número cada vez maior de pais passou a participar das ins-
I _ d r defendida também é verdade que o pa~el dos pais
de Jung n~o pOd,e i:~OS recebeu' pouquíssima atenção e é <:.un~so.que.te-
truções pré-natais e do parto em si. \ noS conflttoS e Ip _
· d tao poucos regls r '
. t os Sem dúvida ele nao e discutido
' . f -
Quando isso acontece, põe em relevo a intensidade que pode apre- nham SUSCita o .d ao tabu do incesto, que pressupõe que o: pais a.r~o
sentar o impacto do.bebê, levando ao que Greenberg (1985) bem deno: I abertamente d~VI o .
desejOS sexuaiS se n .
-ao forem impedidos por sançoes SOCiaiS.
. , f d
minou "monopolização do pat . G fenômeno por vezes atinge intensida- valer seus . ai sl'gnifica alguma COisa e o ato e po-
de quase delirante: ,.o pai pode sentiF que foi .ele, e não a mãe, quem \ dureclmento sexu ,
Mas se o ama inal de maturidade quando a cnan~ consegue~ ex-
produziu. o bebê~ Naturalmente, isso constituí uma exceção, mas ilustra der ser tomado como s . rso-es isso seria um slOal de saude,
o tipo de sentimento menos exagerado que o nascimento pode provo- \ . L nge de levar a peJYe, - . d'
citar os pais. o .' rte do padrao do conflito e 1-
fosse reconhecido como pa . I I
car. Em termos ideais, sua experiência leva a uma relação mais estreita contanto que . _ I'b' d' . são intrinsecamente contidas pe a c~ -
com a mulher e a um maior senso de responsabilidade pelo cuidado tan- \ piano, no qual as puls oes ~ Irais. m ego forte para admi[lisJr;;lr es-
to da mãe quanto do bebê. pa e ansiedade de ca,:;traçao. prfe~lso u a vida sexual entre os pais for
\ - . so pode ser elto se .
À medida que o desenvolvimento prossegue, principalmente duran- sas p~lsoes, e I~SO vida libidinal do filho, reconhecendo q~e
te as gestações posteriores e o conseqüente nascimento de novos filhos,
os mais velhos .se voltarão para o pai,iá que a libido da mãe lhes é par-
I saudável e eles tiverem parte na .
-
sua frustraçao tem,
papel essencial no (lma u ,
d recimento. Qual.quer ansle-
. ' . lacavelmente percebida pelos I-
. fi
cialmente retirada. Embora desde o início o pai possa ter íntima relação dade infantil por Pi'lrt~ ?OS ~afls s~~a 1n:~S vezes aflitivo, ql!e p.ode ser ne-
lhos e daí decorre o Ciume 10 anU mUI _ .
com o filho, sua importância é imensamente aumentada quando os con- , . . I ' recriminaçoes entre os pais.
flitos edipianos triangulares se intensificam, As pulsões - que se mobili- gligenClado e, aSSim, evar a I ' _ . do desenvolvimento de uma
· - d" é a cu mlOanCla
zam na criança com particular intensidade - são ambivalentes, fortemen- A sltuaçao e Iplana 'd da ·Isoladamente. A forma que
- de ser consl era ..
te sexuais e agressivas e podem provocar reações comp.aravelmente criançà e, portanto, nao p~ . . ~évias na relação genitor/a-filho e
ela assume depende de VIClssltudes P . ma vez da saúde instintual
intensas nos pais. Saber que a criança sente ciúme e rivalidade diante I ça-o depen de mais u ,
doia genitor/a do mesmo sexo, além de culpa pela excitação genital e o sucesso em s,ua reso u , orta~te da exagerada afirmação de lung.
concorrentes ansiedades de castração, pqde ajudar um tanto, mas em cri- dos pais. Esse e o ele~e~t~.:: I nesse período a agressividade contra
ses afetivas infelizmente não se pode confiar no saber inteleç:tual.. ' Ao lado da evoluçao I I lOa, r meio de rivalidade e dese-
· d o sexo - expressa po
A posição deJung diante da sexualidade infantil sE;mpre foi - com ola geOltor/a o mesm . _ I \. da à manifestação de traços
me pOSlçaO centra, a la .
alguma razão - muito criticada, pois suas idéias acerca de como com- jos de morte - a s s u . d ejos A isso aplica-se o mes-
sádicoS e masoquista~ r~laclc:na~os ~ ess~ss :; mo~e é talvez mais impor-
preender os fatos os~ílavam entre extremos muito distantes. Em certas
mo princípio. A admlOlstraçao o.s ese~o omporte de forma a apoiar
ocasiões, ele chegou ao ponto de dizer que encarava a questão do pon- ~ . I e o pai ou mae se c
to de vista dos pais, como se a sexualidade infantil fosse um fenômeno tante porque e essenCla qu filh concomitantemente expressa e, as-
a admiração e a c.onfia~ça ~e o I o d irão à repressão e ao prosse -
introjetivo. Como jamais burilou esse posicionamento, não se. sabe o qL!e sim, fomente as Idenuficaçoes que ~on uz
ele realmente queria dizer. Contudo, sua exagerada afirmação tem seu uimento do desenvolvimento da cnança'
valor por incluir a vida afetiva dos pais na situação edipiana. Ela prova- g ,
velmente se refere à observação de que os conflitos entre os pais podem
levar, por um lado, à manifestação sexual compulsiva nos filho? ou, por A ADOLESCÊNCIA E DEPOIS _._
outro, à supressão quase total dos sentimentôs, impulsos ou fantasias di- . . . _ crescente independencl3 do ado
retamente sexuais na criança. O afrouxamento das Identlficaçoes e a. . uma vez é posta à pro-
É comum haver ansiedade entre os pais porque, com seu compor- lescente colocam pressões sobre os pais e, mais '
tamento, a criança pode provocar-lhes sentimentos sexuais. Se a posição va a durabilidade do casamento.
\1
_s diferenças. Os pais têm que valer-se cada vez mais um do ou-
· Os membros do casal devem idealmen ~a relaça-o vai deixando de ser biológica para tornar-se cada vez \\
Igualdade e, assim ' complemen tar-se mut te apresentar comb'maçã ' aum~nta a neces~idade de os,pais
.
realtdade. No começo deste capítulo f' uament.e, mas essa nunca e ~ eSpsicológica e pessoal. A mu d ança
••,,,_._rO''>''I projeções que pod~m ha:-er. func~onado perfeItamente ate en-
.rts~t:e
Pri~~i"~lm:as
Ihanças e diferenças na história dos ' a Importância das s e a engloba alterações mUIto radIcaIS de mteresses Iibidinais. Talvez is-
do ao.lo"llo da criação dos filhos, mudanças t"'ão oe":: se aplique mais - poréf1"'! nem sempre - a' mae
e - que ao pai. Seja como
os propnos
. pais. têm de muda r progressIvamente
p. te quando
' .se entende que representa um novO teste para seus recursos interiores e o desenvol- "i
Aplicando'essa idéia á nossa própria cultúra, a muda~ça revolucio- fluxo histonco que esta por ,.
coletivo e com o I d de o 'Inl'cio muito pelo contrano:
nária que hoje come,ça a emergirno cuidado dos bebês e na criação dos - t" ersa ne es es ,
que a criança nao es a 1m ' d onfrontá-Ios diretamente na ado-
filhos deve ser socialmente significativa. Com efeito, se antes a mãe e de- ela cresce em direção a eles e so po e c
pois outros membros adultos da famma ocupavam o centro .do palco fa- lescência. . . de endência objetiva do inconscien-
miliar, hoj~ a satisfação das necessidades de desenvolvimento do bebê lung frisou eSP~clalmente: 10 I P o inconsCiente se expressava em
estão ganha_ndo ca~da vez mais importância. Ao mesmo tempo, novas ati- te coletivo em relaçao ao ego. ara e e, m caráter de objetividade. De
tudes e métodos educacionais que diminu~m a importânc~a da discipli- . . - o criadora que assume - .
formas da Imagmaça I' muitas fantasias e declaraçoes 10-
na e buscam atender às necessidades de, desenvolvimento das crianças imediato, ocorre-me uma ana ogla com m irmão ou irmã que na
vêm sendo introdu~i~os, Às vezes as mudanças são provocadas pelo co- . (\, d a criança afirma que tem u b
fantls, ,,<-uan o um d I er sua fantasia como se fosse o -
nhecimento científico, mas nem sempre. É bem mais provável que elas verdade não existe, ela pode esenvo v , tempestade essa criança
. .I rdadeira Durante uma '. I
sejam parte integranté da idealização da democracia. Como se supõe que jetiva e sentl- a com? ve "~o ~uando lhe dão uma explicação slmp es
esta exija maior senso de responsabilidade individual, acredita-se que se- pode dizer<Eleesta zangado . ~ . então reafirma: "Tem
ja aconselhável fomentá-lo o mais cedo possível. Por conseguinte, per- e racional do fenômeno, ela espera que termmem e
t 36 ......
..... • A" .......
Criança como Indivíduo •
, .......... ., .
• 0'0 ............. " ............ " ........ 0.0 .. " .......... " .................. " ..
• O Contexto Sodal • t:l 7
............................ , ................. " .. , ............ .
[
agressiva: é especialmen~es!gnificativa. Os objetos agressivos tendem a comportamento é derivado disso. De especial significação aqui é a proli-
ser exclUI dos do corpo pnnclpal do self devido à necessidade do b b~
. -. e ede
fo:mar representaçoes do self sentidas como boas. Os objetos maus são I feração de representações não-pessoais do self que podem facilmente dar
lugar à idéia de que o inconsciente coletivo na infância é insondável ou
nao apenas expulsos mas também isolados do integrado do seI" Es
b' " /. ses
o Jetos maus proJetados, a prinCipio sentidos como partes do próprio _
I ilimitado. .
Alan, um garoto esquizofrênico de 6 anos de idade, conhecia o sig-
d d - - Cor
po ou o a mae, sao progressivamente deslocados para um objeto não-
~uma~o. A observação de bebês, as reconstruções e os primeiros sonhos
I nificado e o emprego dado pelos.adultos à água, ou seja, ele sabia que
ela é usada para beber, lavar etc. Mas a água também representava a uri-
mfantlS confirmam que esse modo de administrar objetos maus é co- [ na dos bebês, que eles percebem como inundações; isso era como a chu·
mum .. Provavelmenté é a estreita relação entre as formas pré-pessoais e va, que era Deus urinando. A urina poderia ser boa, ser bebida e fazer
p~steno:merite, impéssoais e as pulsões agressivas e destrutivas o que de~ I bem, ou ser má e cheia de germes venenosos que matam. Assim, Deus
o~gem a crença de que os conteúdos arquetípicos são perniciosos às poderia ser bom ou mau. Na medida em que a água e a urina poderiam
cnanças. Como se viu no .Capítulo 3, são comuns entre as 'crianças pe- I causar uma inundação, poderiam afogar e matar a ele e a seus pais. Por
qu~nas . os sonhos de ansiedade com animais que mordem e atacam. outro lado, graças a essa propriedade, dentro dele a água tomava-se pe-
Alem diSSO, .no princípio, registram-se representações não-pessoais em so- I rigosa e, nas crises emocionais, era liberada por meio da incontinência
nhos, especialmente com fogo e água.
urinária. Deus inundava o mundo, como os bebés imaginam que podem
, ~odavia, segundo a concepção de Jung, o inconsciente coletivo con- I inundar a mãe e, assim, como ele podia sentir-se como um bebê, Deus
tem nao apenas componentes perigosos e destrutivos, mas também ele- estava tanto dentro quanto fora dele.
~entos bons e potencialmente criativos. Conhece-se então algum meca- ! Ele usava a água para fazer o maior mar do mundo - "maior que o
nlsmo pelo qual os objetos bons possam ser expulsos e mantidos isolados Tâmisa e que o oceano Atlântico"; inúmeras fantasias a respeito foram
d_o ~roc~sso individuativo na infância? A resposta é fácil: os objetos bons encenadas. A água era suave e plástica, portanto era a mãe que ele aca-
sao Idealizado: e m.anti~os isolados' da representação pessoal do selfquan- riciava e afagava; era o leite materno que ele bebia e se tornava um ocea-
do o mundo mtenor e percebido como avassaladoramente perigoso e no dentro dele; ele sugava no seio da água para ter dentro de si o que
qua~do os processos destrutivos parecem ameaçar os objetos bons do chamava um "peitinho de mãezinha", que podia alimentar bebês sem-fim
be~e. A fim' de p~otegê-Ios, ele os projeta na mãe, idealizados, tornados e restabelecer pais danificados. Mas era também o leite do pai que esta-
onlpotentes e, assIm, preservados. Como se verá posteriormente os so- va em seus genitais, que criava bebês e era sugado ou expelido para den-
nhos das c~a~ças pequenas refletem essa situação, pois neles a; mães, .tro da mãe e dele mesmo para alimentar e dar prazer. Quando sentia que
c?m p~uq,Ulsslmas exceçàes, assumem papel exclusivamente bom e pro- sua destrutividade havia criado um deserto dentro da mãe, do pai ou de-
VIdenCiai,. as vezes em completa dissidência da realidade. le mesmo, a água redimia a situação sob a forma de chuva ou rio (de lá-
Pelo estudo de crianças esquizofrênicas podem-se coletar as mais in- grimas). A água numa bacia representava as entranhas das pessoas. Teria
ter~ssan~es i_nform~çõ~s ac~rca .dá "persistência de processos pré-pessoais que haver objetos flutuando; poderiam pular para dentro e para fora e,
~e Ideahzaçao, proJeçao e mtroJeçao. Quando essas crianças vêm à aná- acima de tudo, ser vistos.
lise; os estados inici~is já estão. consideravelmente modificados por pro- Todos esses significados atribuídos à água foram expressos verbal-
cessos de amadurecimento e distorcidos por situações traumáticas muito mente por ele e se faziam acompanhar de atividades conformes, com pis-
precoc:s. P~r conseguinte, as fantasias dessas crianças não fornecem in- tolas de água, brinquedos, uma bacia e uma bandeja cheias de água. Se-
forrr:açoes dlretassobre a primeira infância em si. Mas, estudadas em co- ria difícil, praticamente impossível, de qualquer forma, transmitir em
nexao com o histórico do desenvolvimento_da
.40 . A Criança como Indiviauo •
.. ,.........................
" ........ " ...... , .................... ...... " .....
, ....................................... , ...... , ............ , ........ ,.............. .
',
~lu:I aie~
do ainda bebê, e à cena primaI, que assumia proporções aterrorizantes. f. • • 'd - de estruturas complexas e sua reduçã? a~s
Em decorrência da análise, a fantasia tomou-se administrável, e ele Analise Significa aos elementos irredutíveis. Na prática, Imph-
pôde deixar de ser absolutamente cruel e passar a demonstrar interesse
i componentes ~~:~~~o do paciente para descobrir que estru:~ras com'"
ca a escuta e a o . intervenção para ahvlo do so-
pelos outros. Além disso, houve um aumento da simbolização e da capa-
cidade de utilização de seus bons dotes intelectuais.>
I Plexas lhe causam ansiedade e requerem
I menos para compreen
de~ -Ias
,
frimento ou, se isso for Impo~slve , a~
' , f
Porem, como
mo as imagens impessoais coletivas se desenvolvem sob a pressão de pul- nada ele visa elUCidar a sltuaçao no aquI e'la e' frutoo de
mUI
sões implacáveis: ele está relacionado às pesquisas que Jung fez sobre a al- ' - r - 'tuação presente, ou s ,
que se esclarece ~ao s~ ap :ca ~ SI . explicar o que está ocorrendo,
I
transferência ~e <:.ut~a sltuaçaodi e ~r~ClS~e suas origens na situação fami-
quimia. A água é uma imagem amplamente usada pelos alquimistas como
símbolo da maten'a pn'ma e da pedra que a penetrante análise do mestre Os dados entao sao mterpreta os a uz. ,
demonstrou ser um símbolo do seI! Será que vamos longe demais'ao su-
I , da ou no mundo mtenor,
liar prese.nte ou passa dimentos analíticos devem ser usados
Para serem eficazes, os p~oce
gerir que, se esse garoto tivesse crescido na época em que a alquimia flo-
resceu e tivesse entrado em contato com os'alquimistas, poderia haver-se
I . . t· sSlm a oportunl a e
'd d e a gradaça-o das reve-
tendo em Vista o pacl:n ,e. a , analista junguiano deve usar de
tomado também um alquimista? Naturalmente, ele 'precisaria recuperar- lações apresentadas sao Importantes e o d que faz
se primeiro de sua esquizofrenia infantil. Isso não está, de forma alguma, I 'b mo de seu saber, em tu o o " '
tato e empatia, em co r - de interpretações analíticas, eXigem-se
No processo de rea I~ça? .
fora das raias da possibilidade e de fato aconteceu com ajuda da análise.
A associa -ode elementos incons-
Uma característica da mudança verificada nessa criança é que a pro- necessariament~ proc~ssos. smtetl~os. d fesas p~a que possam ter lugar
cientes eCO?SClentes I~ph,c~ mu ~:nd: isso ocorre, o analista será leva-
liferação de imagens passou de compulsiva e concreta a maleável e sim-
bólica. A mudança foi gradual e dependia da compreensão e administra- novas e beneficas combmaçoes. Q . t 'verbalmente des-'
' . t . ue aconteceu e a ln ervlr
do a mostrar ao paClen e o ~ _ analíticas. Como qualquer tratamen-
ção das pulsões predominantemente destrutivas e da associação das
fantasias aos objetos e situações das quais derivavam.'
sa e de outras formas que. nao sao álise" pura e simples, o termo
U
, Muita atenção se deu a essa mudança, conhecida entre os analistas to compreende algo mais -que a ~n , '
propnado ' ,
"psicoterapia anahtlca e mais ~f
junguianos como a mudança da concretização à simbolização na forma- f • N f •
ção de representações coletivas arquetípicas e do self No Capítulo 6, pos- Jung classificou como ana Itlco-re d' . - om base na alega-
tulou-se que a verdadeira simbolização era atingida na seqüência deinte- tratamento. Pode-se . levantar o b'lça-o
e. a essa IVlsao . cI modo no pa-
ção de que ambos o~ p~ocesso.
grativo-integrativa chamada por Klein de posição depressiva. No Capítulo s se venficam de qua quer
técnica representa apenas a ati-
lO, maior atenção será devotada a esse tópico, ciente. Porém isso sena Ignorar q.ue uma . .
• A Psicoterapia Analítica • 143
.... ', ........ . ................. .... ", ................. , .. .
Na terapia infantjl a atitude analítica é a mais adequada porque Os ..,., ....... ,., SPECIAIS DA TERAPIA INFANTIL
processos sintéticos estão em,intensa atividade. São eles: primeiro, a sa-
tisfação em desenvolver novas habilidades físicas e emocionais; segundo, TÉCNICAS E . ere que <> núcleo da análi-
esboço introdutório aCima apresenta~~n~~ga crianças. Poréf11 há técni-
a premência absoluta do crescimento, com base na reduzida estatura fí-
:~pecíficas eX'~~:de
O. nguiana aplica-se tanto a adultos q . consideração. Elas derivam
sica e nos prazeres reais e imaginários gozados pelos adultos em razão de
se da terapia infant,l que de produzir associações
seu tamanho; terceiro, os próprios processos inconscientes de amadure-- dca dimensoes
- da criança'de "sua Incapa
cimento. Por tudo isso, no que tange à criança, é melhor visar à análise as. e de sua dependência dos pais.
verbaiS .
elucidativa e propiciar condições para a entrada espontânea em opera-
ção dos processos sintéticos.
, '. línica ou consultório psicológico ~e~~s ~als
A criança e levada a uma c .. d d bom grado da iniCiativa.
Transferência I. - estel'a partlclpan o e .. t
sl~rtalaSfor mobili~da.
e assim, talvez nao " dificuldades prlnclpalmen e
O evento mais importante e valioso do ponto de vista terapêutico é o de- éom efeito, isso pode apresentar Todavia, salv?
.. d d riança pelo ana IS _ d
senvolvimento da transferência, na qual o paciente faz projeções no ana- se a hostlhda e a c . levada é uma expressao e
situações especiais, o fato de a cnança ser
lista. As projeções criam uma situação dinâmica que garante que a análi- sua incapacidade de transportar-se,
se se tome um procedimento tanto afetivoquanto intelectual.
Devido à transferência, é necessário que o analista tenha sido trei- . as de ue os pais se queixam não sã~ ne--
nado, submetendo-se ele mesmo a uma análise, de forma que possa es- Em segundo lugar, os slntom q. 'ança sente precisar aluda.
2. s para os quais a cn .
tabelecer mais facilmente a empatia com o paciente. Mas há ainda outra cessariamente os mesmo . . m os pais pode, inclUSive, re-
' conflito Intenso co ta
razão para a inclusão da análise no treinamento dos analistas i':lnguianos: A criança que esta em . I 'sso se aplica quando se tra
1
a projeção transferencial do paciente tende a provocar uma contraproje- cusar qualquer tipo de ajuda - em gerda '1. qu" ência. Por outro lado, as
d ortamento e e ln
ção, apropriadamente chamada de contratransferêDcia, que a princípio de transtornos e comp . xatamente como os adultos e, como
foi vista sob uma luz negativa. Çom efeito,foi uma freqüente fonte de crianças desenvolvem ansleda~e e d I _ 'sso se aplica à dor física,
d erer livrar-se e a I
d~pressão um~
representação e administração erróneas dos pacientes nos primórdios da eles também po em qu , . thivos Assim há uma ampla gama
prática psicoterapêutica. A análise de treinamento é o melhor método pa- à e aos sintomas fIslcos a I I 'ar criança a desejar c1a-
f. t que pod em ev
ra tornar a contratransferência administrável e convertê-Ia num indicador de sintomas de so nmen o t'do que usariam seus pais.
ramente ser ajudada no mesmo sen I .
confiável da transferência do paciente, que, como demonstram recentes
pesquisas, é o que ela pode $e tornar nas mãos de um profissional hábil.
Muito já se discutiu a relação entre a contratransferência ~ a empa-
3 . ,. .' . ,. imamente ligada às ansiedades dos pais
O sofrimento infantil esta I n t . estar mais neles que na
. .. ode mUitas vezes .
tia, que ,às vezes são de difícil distinção, principalmente no caso de pa- e com efeito, sua causa P , . Imente uma questão de dlag-
própria criança: ssa. ~. _ de a'uda para os pais que p:eclsarem.
' E s'tuação e essencla .
cientes regressivos, que podef!l ser absolutamente incapazes de análise e
precisar do analista 91gp mais próximo da preocupação materna primá- nóstico e de dlsponlblltzaçao J . trabalhar em conjunto com
ria. Numa situação assim, a análise pode ocupar lugar secundário em re~ Por isso o terapeuta infantil pode preClS~r
I d dItos a quem os pais pos
sam ser encaminhados,
t a
lação ao cuidado da criança. A entrada nessa difícil questão que ainda um terapeuta e aforem
u . d as e e les demonstrarem querer r _
se suas anSle . dades demaSia
está à espera de esclarecimento - está fora da alçada deste capítulo. Po-
rém o caso de Bil/y, adiante descrito, ilustra como o cuidado físi~o pode
tamento para sI.
ser necessário durante a regressão, mesmo que os métoçlos interpretati- . . reduzida capacl'd ad ~ de as-
'. . u. e da
4. Um problema mais Im.portan~:~t~o o brincar pode substitUi-Ias, de
vos COntinuem a manter sua utilidade.
sociações verbais da cnança,
144 • A Criança como Indivíduo'
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ia Analítico • t 4 S
• A PslCoterap""""""""""" ............ .
, Na pnmelra entrevista, logo ficou claro '. criança fora. t~azida já havia sido suficientemente resolvido e, por isso,
Slosa demais para deixar a I d . ' . ~ue a ·garotlnha estava an- aconselhei que suspendêssemos o luminal; não ocorreu mais. nenhum
. sa a e espera sozrnha Po ' d' "
que ~ acompanhasse à minha sala Pouc . " r ISSO, pe I a mãe ataque. Além disso, a mãe relatou um progressivo amadurecimento, de
xei-a ficar. ao lado da - ' , o fOI possIvel fazer com ela' dei- forma que a criança, de aparentemente retardada e apática, tomara-se in-
. mae enquantodlscutía b '
seguinte, mãe e filha vieram ,'unt mos o pro lema. Na se.ssão dependente, viva e extremamente competente para a idade no trato de
as novamente mas d t fi - seus problemas, dando a impressão inclusive de precocidade. Algo que
sentar-se numa cadeira colocad d I d ' es a vez IZ a mae
midez, a criança acercou-se' a ~rtaO a o de f?ra da sala. Com muita ti- agradou particularmente àmãe foi o fato de a criança não mais permitir
aberta. Dei-lhe I' . d ,p para o recrnto contíguo permaneceu que a irmã a maltratasse e conseguir participar de jogos agradáveis com
apls e cor e uma folha d I A . '.
nada. Mas então fez um I b' e pape. pnnclplo, ela não fez esta. Cinco anos depois, tive notícias da menina por meio da mãe. Seu
- eve ra ISCO e para . h
um Circulo, olhou em minh d' _ ' . mIO a surpresa, desenhou desenvolvimento fora mais que satisfatório e sua vida escolar se iniciara
a lreçao e disse de modo bem claro: "eu" com prazer e sucesso.
• A psicoterapia Analítica • t; 3
151 • A Criança como Indivíduo •
......... " .............. , ....................... " .....
A discussão da brincadeira da . ,.' ...... . 3. A fantasia era muito fone, de forma que a mãe se havia desin-
mos da seguinte maneira: ' . garotinha sera maIs fácil se a dividir- tegrado e voltado a ser inteira. Isso era um grande feito.
mIm. que ro com a sigla USA, para indicar "Força Aérea Norte-americana". Mais à
esquerda, ele fez cuidadosamente uma escada de corda. Os nós entre as
A mãe de Billy causou-me boa im ressão' . o .1 ' , _
tiva às necessidades dos filhos S P I" parecIa afetuosa, habll e recep- barras horizontais foram desenhados con:t esmero. Billy ficou inquieto de-
. . eu ana ISta com quem tive rt d
der dIscutir o caso, confirmou minh' ' _ . a so e e po- I pois de fazer vários desses nóS e deixoU' a escada incompleta, passando
Iy pôde começar sem mais demora. Impressao e, aSSIm, a terap~a q~ )?i1-
a I
a desenhar um túnel que descia verticalmente sob a terra, bem do lado
I esquerdo do pápel. O túnel logo se estendeu horizontalmente para a di-
reita até chegar a uma "cavema". Quando completou essa parte do de-
Primeira e segunda entrevistas' 'Já f h h . ,'.
três que serão aqui descritas 'deta:~ ~ aVido d~as entrevistas antes das I senho, ele quase que foi obrigado a fazer a escada ligar-se ao túnel. Preen-
ciativa para brincar só em s'l ~ . a amente: B.. lIy demonstrava boa ini- cheu-o então de azul claro, comentando ao mesmo tempo que havia
zia desenhos de u .' I enclo,mas parecia Inquieto e deprimido. Fa-
ma casa escura e sem gra
[Embora na época eu tivesse p d
'
ça, com uma arvore ao lado.
I também um "túnel vermelho". Imediatamente fez, com força, um rabis-
co vermelho entre a escada de corda e a caverna, dizendo que aquilo era
representações (ele p"
sem um pedido de a'uda "
,ensa o que esses desenhos fossem auto-
ropno em estado d "d) .'
. ep~ml o e, portanto, expnmis-
,r'
l "um homem fazendo uma explosão". [Entendi essa seqüência como re-
presentativa de seu interesse pelo interior do próprio corpo e também do
d I ' . , _ J , depOIS ele me disse que a casa era "A A
on e e ese sentIra tao abatido e onde n _
se exemplo ilustra o modo" a~ haVIa mae que o ajudasse! Es~
. _, rca ,
/I
e ele foi para casa e pergunto ~o I~completa de sua agressividade anal, para o hospital e à fúria que isso despertou nele. Devido à incerteza quan-
fezes. A mãe com .' u a.mae por que eu havia mencionado suas to a qual desses significados era o que mais o preocupava, abstive-me de
, mUIto tato disse-lhe q . h
lecer um contato amigável c;m ele.; ue era mm a forma de estabe- interpretações detalhadas. Considerando a situação em. retrospecto, eu:
poderia haver feito uma que me apresentasse como o homem e apresen-
[Essa atuação se devia à inc I d d' .. ' o ,
não relacionava sua ver onha a omp etu e e mmha Interpretação, que tasse a explosão como a de sua raiva à minha, a seus olhos, injustificada
incontinência.J g o fato de eu tomar conhecimento de sua intrusão num assunto particular - sua incontinência -entre elee a mãe.
t 58 • A Criança como Indivíduo •
Quase imediatamente houve uma mudança em sua atitude, e ele [Urna reaçao e ape ç EI sS'I'milou esse ínsight e o usou ele propno.l
começou a desenhar um avião voando no ar - "Sou bom em desenhar I represen ta
vam pessoas. ~ a,
. fi ' . t rpretações dizendo que achava que e e
I
ento IZ novas 10 e ', - d
aviões", disse ele. Um facho de luz amarela saía da cauda para a frente. Nesse mom , , ~ uele dia - queria fazer explosoes en-
Ele comentou: "A luz é invenção do meu irmão".
I . ado com a mae naq
deVia estar zan~ vermelho) e voar para junto do pai b~m, a quen: e e
. I
. Durante tudo isso, eu estive fumando um cachimbo. De repente,
ele passou a demonstrar interesse pelo objeto, particularmente pela fu-
I tro dela (o rabiSCO
havia começadoAa ~ensar ~.u
. e eu oderia substituir. [Essa tnterpretaçao se
Pode ser pensada como uma forma de
maça. Desenhou a fumaça que escapava da. cauda do avião na mesma
c.or que a fumaça. do .cachimbo.
I vale da transferencla ?oSltlva e PI, tava quando chegou, Entretanto,
evitar o espírit~ ~:gatlvo em que ~~~~nto positivo a meu respeito que
Nesse momento, sugeri que o avião poderia estar indo para a Fran- não julguei deselavel reverter? se 'go em 'Interpretar a hostilida-
d i' Existe este pen ,
'. ça e representar seu desejo de ver (o refletor sugeriu essa palavra) o pai. claramente se esenvo via: I asa achando que eu era um alta-
- I podena vo tar para c ' .
Ele imediatamente respondeu: "Meu pai não vem aqui nem vai mandar de contra a mae: e e . b' de ainda mais ressentimento e ral-
dinheiro que dê para a gente ir para lá -por que ele não manda? Estou do contra ela, que se tornana o leto "
e eu não o fizesse. . .. d'-
guardando dinheiro - dinheiro francês, mas só consigo arranjar mais di- va d o que S . :.. d análise posslblhtou esse proce I
nheiro inglês". [Minha interpretação produziu uma comunicação mais O fato de a mae haver esta °b~m e ela poderia lidar habilmente
. . 'á que eu sa la qu .
di reta e pessoal. Há uma sugestão de que ela tenha modificado sua de- mento tnterpretatlvo, I _ f assim e se eu não estivesse cer-
ao
fensividade no fornecimento de mais informações sobre a famma. Absti- com a agressividade do fi~ho, Se.n e~ss~e tinha a mãe de Billy, bem co-
ve-me de julgar o quanto havia de verdade no que ele disse.1· to da capacidade de avahar reahd~d q, teria sido mais cauteloso.l
A' relaçao a mim, eu
Então eu lhe disse que o avião representava as partes de uma pes- mo de sua transferencla em t de perguntas sobre minha
, - rb uma torren e
soa, principalmente a fumaça - que tinha a mesma cor e cheiro do meu Minha intervençaO I er~u . m Londres [coisa que ele
- lhe disse que nascera e
cachimbo - que saía.do tubo de escape, acrescentando que essa fumaça nacionalidade, entao eu . eu tivesse nascido em outro lu-
., b' mas que talvez ele qUisesse que .
expelida do fundo do. avião era como os cheiros.quesaíam dos "furidos" la sa la, ' , u pai ']
dele quando ele defecava. ·(Falei-Ihe tudo' isso empregando as palavras gar para parecer-me ~als a se . reencher e quase que borrar a ter-
que ele usava com a mãe. Eu havia deixado bem claro para ele numa en- Então ele USQU tmta preta para P .' . te eu lhe disse
.' . . . . I bre a caverna. Por consegum ,
trevista anterior que a mãe havia me contado a respeito de sua encopre- ra fazendo nscOS a go pe 50 d erna de dentro da qual ele
, '_. ado por causa a cav .
se.> [Essa interpretação toca nos sentimentos transferenciais manifestados que a mae o deixara zang d' ' ,ue ele subisse (a escada) e, aSSim,
.: I la não elxana q
pela criança, que se haviam tomado tão evidentes que teria sido um er- surgira e para a qua e , . I -o a ela. Ele fez uma marca na
ele e~tava se :entindo pessl em ~: ~i~ha que saía dela, passava por ci-
mo
ro não dizer, nada a respeito. A interpretação era incompleta: n~o me va-
li de seu interesse em meu corpo e seus. odores fecais (fIatos). Aqui, mais caverna e rapld~mente desenhd~u u_ . "Eu vou para a França", disse ele,
uma vez, . havia .demasiados significados possíveis: além de representar ma, do avião e la ~a :~~~o ~~:o~ente expresso, a sensação de estar
pessoas inteiras, .os aviões são, por caráter, fálicoi'.eanais. Além disso, há [Ha um aume~t~ o, . v· da ansiedade que ele despertava.l ._
um elemento d.efensivo na brincadeira que é evidente no "vôo" para lon- péssimo constltulndQ pro a . desenho com um terceiro aVlao,
ge do tema da agressividade.] ; Nesse momen~o, :Ie termmou ~a começou a chutar uma bola pe-
Ele então começou a desenhar um segundo avião; este estava no que representava o Irmao, e em segu
la sala de modo agressivo e arrogante. ' .
chão, e a fumaça que expelia era marrom e parecia muito mais com um
monte de fezes. [A interpretação incompleta havia, aparentemente, pro-
- - -- - --- - - - - - - - - - - - -
t 60 • A Criança como Indivíduo •
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, er em ver-me, ele sentia tristeza; tal v: z, p~ra vir, ti- ., '
I
:
pensava: aler:' do praz er ai uma outra coisa em casa e, alem dISS~, fic!-
vesse que. deixar de fa~ eugfora ao sanitário. Ele respondeu q~e o lrm~o
Estava perto do fim da sessão, então eu comecei a guardar os lápis
de cor em seu estojo. [Uma boa maneira de finalizar a entrevista é come- ra decepcIonado quan o . e ele próprio estava resfnado e nao
çar a guardar os brinquedos. Isso introduz o fim e dá à criança tempo de . d r mas acrescentou qu - c ru-
havia Ido na a, 'm [Essas observaçoes loram c
indicar como se sente diante do fato.l Ele não havia brincado até o mo- ] ara quem estava assl . . d' .
era bom [nad ar p . N trevista anterior houvera 10 ICIO
mento com nenhum dos brinquedos, mas então pegou um carro branco - e deI ao caso a en ' d ' .
ciais à cond uçao qu , b" I nte Ele demonstrara uma ten encla
e um caminhão e tentou prender um ao outro.' Em seguida, tirou uma de cisão de uma forma pre-~m Iva e. 'a tratar a mãe como má, No fim
das orelhas destacáveis de um elefante e, por isso, disse-Ihe que ele esta- a idealizar-me, como t~m~~m ;~ :~b~alência _ raiva por ir e desejo de
va de novo zangado comigo porque eu estava tenninando a sessão e que, da entrevista houvera mdlclO m ansiedade, Havia traumas
alem disso, ele estava expressando seu desejo de ficar comigo. [Uma boa , ' .dade de separarose se , '
ficar ahados a capacl , 'mportante dos quaIs era a per-
oportunidade de abordar ·sua ambivalente transferência.J , avelmente o maIs I ,
muito precoces, prov _ d 'do ao rompimento do pai com
-o com a mae eVI . d
Ele acabou cooperando e guardando os brinquedos nó annário, per- turbação em sua reI,aça rtante era 'fi a Issura a nal I graças à qual tIvera
, _
e
guntando onde estava a chave e para que servia. Eu expliquei, e ele trancou a família; o menos Impo ,_ se caso implica muita clsao no
a porta e foi embora, aparentemente satisfeito. [Esta entrevista mostra que . d M a combmaçao nes
ser hospitahza o, as _ ' I pré-pessoal. porém sua demons-
o que lhe causava mais ansiedade eram as fantasias agressivas. Diante da de- , t de fixaçao num mve ão
ego e um pon o , , -o muito forte de que esses traumas n
pressão que ele sentia quando estava em "A Arca", pode-se pressupor com tração de tristeza era uma mdl~aça de representações pessoais do
certeza que a ausência da mãe era sentida como estando relacionada a ela.1 d' d desenvolvimento nem 'n
haviam impe I o o , b r Além dissO indicava que seus SI -
self nem da capacidade de sIm o rz~r, histérica e ~ue sua" depressão" po-
Quarta entrevista: Billy e a mãe estavam sentados na sala de espera, que ,', d ver se a conversao f 'men
tomas podenam e - , - as sim a aflição e o so n -
era um espaço aberto. Num dos lados estavam as portas para ás:salas de dadelra depressao, m , -o
deria não ser uma ver , d' a que tivesse atingido a pOSI~
consulta e os sanitários. Eu saí da minha sala, a que tinha acesso por um to de unia criança relattvam:nt~ sa I e começou a fazer o céu, A mls-
corredor. Eu precisava passar diante dele para ir até o sanitário antes de - It u a pintura '
depressivaJ Ele entao vo o EI Ihou limpou a tinta azul que haVIa
atendê-lo. Assim que eu apareci, ele deu um pulo é·veio na minha dire- tura de cores o tomou escuro. e o o, 'I comentando que iria fazer
ção, já imaginando que eu o levaria comigo para minha sala. Eu o repe- , 'ntar Fez o ceu azu , .
na caixa e contmuoU a pi " vens mais claras usando tm-
li, dizendo: "Não demoro um minuto", e ele voltou decepcionado· para " Tambem tomou as nu ,.
também um arCO-lns, " ' Deus havia feito o arco-tnS que
sua cadeira. Quando voltei, ele ainda estava disposto a acompanhar-me, E anto faZIa ISSO, disse que ,
ta branca, nqu . ' 'h' tória bíblica de Noe,
mas o entusiasmo inicial· se fora. Estava vestido com' um casaco verme- ele iria fazer, numa referencia a IS "
lho que tinha uns emblemas chineses. Comentei que parecia chinês,e·ele história bíblica atraente para eles são
respondeu que aquele era seu "casaco alegre", seu "casaco mágico".·[Há [Os vários fatores que tomavam a 'dos conforme se segue:
um nítido aumento na transferência positiva. Adisposição dos sanitários particularmente claros, Podem ser resumI , '
era infeliz, mas diante da encoprese da criança, pareceu,me relevante . , d "A Arca".
considerar se eu não ·estava demonstrando uma ·contratransferência que nome do lar infantil para o qual fora envia o era
\. O
requeria atenção. Por que não seria eu capaz de controlar minhas fezes?] " ndia à sua própria fúria diante da
Ele começou.a pintar nuvens escuras, cinzentas, da cor da fumaça 2 A fúria destrutiva de Deus ~orrespo . "negligenciava" (Cf. tam-
de meu cachimbo, conforme havia comentado antes. A cor já havia apa- , - da maneira como o pai o )
ausência da mae e . f .aI' onipotente de afogar-me.
recido, ligada a sua agressividade; ela sugeria também, já que ele havia bém, abaixo, sua fantaSia trans erenCl
olhado desconcertadamente para meu cachimbo, inveja e tristeza; o pai
fumava cigarro, respondera ele quando lhe perguntei. Eu lhe disse o que
• A psicoterap,a f\rlU .... ~ •.. ~.~,~ .
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• 6Z • A Criança como Indivíduo •
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pensou que não estivesse lá, mas, aliviado, encontrou-o e usou-o para fa- o Sr: X e não o Dr, X. Nao precl~o ~d 'fi ça-o com o pai é rejeitadaJ J
L___
,1, '.
Interpretei então que o negro eram os negros sentimentos que nu- Q;inta;entrevista: Quando voltou, _ . r u que não o levara de volta
tria pela mãe e que a casa agora era alegre, depois. de sua raiva haver-se ~~ia VO:ita~:no ~m",ho~~a~exp "0__ __- - - - - - - - - - -
• A Psicoterapia Analítica • 165
164 • A Criança como Indivíduo •
para casa porque havia pensado que poderia ser "doença de mentirinha" esquizóides, esquizofrênicas ou autistas, que tendem a fascinar, repelir ou
Eu o levei à minha sala; a pele dele estava fria e o pulso, fraco; então co: horrorizar as pessoas que entram emcontato com elas. Alan era uma des-
loquei-o deitado, no divã com uma manta por cima, peguei um copo de sas crianças, . ,.
leite, que ele disse que queria, e o pus a seu lado. [O vômito era, como Ele tinha 7 anos de idade quando o VI pela pnmelra vez. Seu rela-
depois demonstraram os fatos, provavelmente um sintoma de conversão. , namento com as pessoas estava seriamente perturbado. Com efeito,
CIO , . h .
Mas, supondo que houvesse uma regressão, por causa de sua história ini- ' até a mãe o julgava muito inacessível e ninguem consegUIa c egar mUI-
cial, seria justificável tratá-lo como se fosse um bebê. Além disso, havia to perto d e l e . ' . ' . .
claras indicações de choque'físicoJ Alguns anos antes, ele havia sido encaminhado a mim. Os pais ha-
Fiz interpretações de como ele vinha no carro, com raiva e maus viam sido aconselhados a mandá-lo a uma escola especial porque sua ca-
sentimentos em relação a mim, que eram como comida estragada. Ele pacidade de se deixar educar parecia ser pratican:ente zero. Eles se recu-
começou logo a mexer-sé e a fazer movimentos regressivos, assumindo saram a fazê-Io e resolveram tentar curar Alan sozmhos. Ele melhorou um
posição fetal, como se estivesse dentro da mãe, chupando o polegar etc. pouco, e a famnia teve a sorte de encontrar uma esc~la com um~ profes-
Gradualmente a cor voltou-lhe às faces e, antes do término da entrevis- sora especialmente tolerante - mais detalhes a respeito em seguida.
ta ele havia se recuperado, dizendo qúe era bom o leite estar ali, mesmo Estava claro, desde a primeira vez em que Alan veio me ver com os
que ele não o quisesse [beber]. pais, que ele estava consciente de sua doença e queria o ,tipo .d~ .ajuda
Durante essa entrevista, eu comentei que dessa vez ele queria que que imaginava que eu poderia dar-lhe, Na primeira entreVista, mlClou-se
eu fosse médico, pois assim podia sentir-se como um paciente, e que ele o trabalho analítico, que foi realizado até o fim, .
Durante a análise, Alan desenvolveu um controle cada vez maior
realmente achava que queria tratamento para suas "tripas ruins" [uma re-
sobre suas fantasias e seus impulsos sexuais e destrutivos. Ficou mais afe-
ferência à sua incontinência fecal e ao enjôo.
tuoso com a mãe, mais tolerante e compreensivo com os dois irmãos me-
Essa entrevista mostra como.a necessidade de carinho durante uma
nores e passou a aceitar melhor a necessária disciplina dos pais. A~ m~
regressão pode ter precedência sobre as revelações interpretativas que,
danças exteriores correspondiam a mudan~s dentro da. tran~ferencla,
não obstante, foram usadas e forneceram'um complemento valioso à ca-
onde ele elaborou detidamente suas aterronzantes fantaSias e Impulsos
rência que a criança demonstravaJ
onipotentes. O decréscimo da onipotência refletia-se na forma de sua
brincadeira: o que inicialmente eram deuses e demônios transformou-se
em cowboys e índios. . .
CASO 3 Como ele demonstrava tanta melhora, achei que pode na conside-
Para a maioria das crianças, e Billy era uma delas, o impacto de seus con- rar o fim da análise, já que os pais estavam cada vez mais seguros de que-
flitos está na famnia. Mas eles podem atingiL também a escola, e então rer e poder assumir a responsabilidade pelo filho. Antes ,de uma i~terru~
tendem a atingir a sombra coletiva. Embora os professores possam pre- ção no período de férias, Alan regressou um tanto as fantaSia: mais
cisar e muito -de ajuda, não é fácil fornecê-la porque eles não costu- violentas. Mas quando viajou, enviou-me um postal, sem sugestao dos
mam pedi-Ia para si, mas geralmente para lidar com uma criança muito pais, dizendo que estava se divertindo muito e contando suas ~tivid_a.des,
difícil. O caso seguinte ilustra como se pode chegar à colaboração duran- Quando voltou, eu lhe disse que achava, já que ele agora podia sentir-se
te a análise e contribuir significativamente para o sucesso do resultado. feliz com a famnia quando eu não estava, que poderíamos pensar em pa-
O tipo de problemas sociais que surgem é mais evidenciado ~elas rar com as entrevistas, Não houve resposta direta; em vez disso, ele co-
crianças mais anormais, principalmente aquelas que excitam·o incons- meçou um jogo que havia jogado antes das férias, no qual havia an~ma~s
ciente coletivo com a implacabilidade de seus afetos: São elas as crianças ameaçados por homens ou demônios que viravam fumaça. Os ammals
eram mortos misteriosamente de onze, passaram a quatro - e então Foi após o término da parte analítica de seu tratamento que ocor-
ele começou a.perguntar quanto tempo havia ainda. Interpretei sua an- reram os episódios mais significativos para o tema em questão. Eles de-
siedade diante do tempo como um desejo de se certificar de que eu Con- penderam, mais uma vez, da recusa dos pais em tratar Alan como um ca-
trolaria os demônios se ele não o conseguisse. O jogo continuou: os ani- so perdido. Para tanto, estes recorreram a padrões de defesa maníaca, o
mais acabaram reduzidos a apenas um, mas este venceu os demônios e pai mais que a mãe, de forma que seria difícil par~ Alan .m~nter um de-
devolveu a vida aos animais mortos. Quando isso aconteceu, Alan afir- senvolvimento maior do que aquele que eles haViam atmgldo em rela-
mou: "Então os poderes do bem venceram o mar. ção à patologia do pai. Parecia justi~cável espera~ que Alan d~:se sinais
A brincadeira apresentava características regressivas 'se comparada de um padrão de defesa que fosse nao apenas SOCialmente aceltavel, mas
com seus conteúdos antes do intervalo das férias. Evidentemente, a re- também amplamente aprovado.
gressão havia sido precipitada pela minha abordagem da questão do fim Quando a análise parou, eu afirmei categoricamente que Alan não
de nossas entrevistas. Isso era de esperar, devido à ansiedade provocada precisava ser tratado como um caso especial nem em casa nem na esco-
pelo final da análise. Na entrevista seguinte, a destruição foi bem menor la. Fói fácil para os pais implementar essa idéia muito bem, mas o resul-
e, quando eu lhe disse que não achava minha intervenção necessária a tado foi especialmente eficaz devido a dois fatores. '"
seu controle dos sentimentos, ele pareceu satisfeito e orgulhoso de si O primeiro é que a mãe de Alan havia pensado muito no filho e
mesmo. Então eu lhe disse que a próxima seria a última vez. tentado compreendê-lo de todas as maneiras. Refletindo sobre as lem-
Na última entrevista, ele estava mais amigável e aberto que antes e branças de sua própria infância e comparando-as ao comportamento de
havia ainda menos destruição. Essa entrevista terminou da seguinte ma- Alan, descobriu que sempre que achava o filho intolerável havia algo re-
neira: quando eu anunciei o final, ele foi para trás de uma cadeira. O lacionado a ela mesma.
olhar excitado que antes acompanhava a derrubada violenta da mobília O segundo é que o marido, um homem inteligentíssimo, e o sogro
surgiu. Após uma luta interior, ele pulou em cima da mesa, e a entrevis- eram, em muitos aspectos, como Alan. Ambos tendiam a isolar-se das
ta acabou quando eu o levei nos ombros até onde estava a mãe, com pessoas e a tomar decisões arbitrárias com relação à família. Ambos eram
quem ele desceu as escadas. O fim foi emocionante; havia pouco sinal temperamentais e sofriam de mau humor. O avô, inclusive, havia :e ~e
de arrependimento, mas basicamente fúria e raiva, que ele controlou de cuperadó de um "colapso nervoso". O pai de Alan lamentava as pr?pnas
uma forma que só posso descrever como heróica - foi uma saída triun, faltas, mas não era totalmente intolerante diante das que se manifesta-
fante, onipotente. O ponto a destacar é que ante~ embora ele houvesse vam no filho.
regredido, havia controlado a regressão com o mínimo de ajuda e o triun- Essa combinação de características criou no lar um ambiente que não
fo também fora .mínimo. era tão normal e, ao mesmo tempo, era saudável o bastante para Alan vi-
Nesse breve relato, tentei transmitir o porquê estava certo de que ver. Além disso, graças ao tratamento, houve uma mudança significativa
ele conseguiria adaptar-se bastante bem se tivesse a oportunidade. A cer- na forma de lidar com ele. Quando se tentava forçá-lo a comportar-se bem
teza decorria não só do episódio final; mas também de numerosas oca- de um' modo que estivesse acima de sua capacidade, ele dava sinais de
siões anteriores, nas quais o seu sei! "bom" havia conseguido não tanto aflição que ambos os pais passaram a entender. Por conseguinte:..sabiam
triunfar quanto resistir ao impacto dos impulsos destrutivos e seus equi- muito bem o que estava além da capacidade do filho.
valentes na fantasia. Tinha havido sinais de preocupação. diante de sua Porém, os professores de Alan, representados pelo diretor, não gos-
destrutividade e alguns desejos de reparação,.embora não muito proemi- taram de saber que o tratamento havia chegado ao fim. Eles não tinham
nentes. A partir de relatórios subseqüentes, ele aparentemente tinha mais condições de apreciar a capacidade de adaptação que Alan havia atingi-
capacidade de sentir tristeza por ir emborc!, do que havia demonstrado do. Rara saber por que, será necessário considerar como essa situação se
abertamente. '" . desenvolveu. Quando Alan começou a freqüentar a escola, aos 5 anos,
t 68 • A Criança como Indivíduo •
• A Psicoterapia Analítica • t 69
........... ", .. , .... "" .... " ..... " .... , .... , ..... .
....... , ...... , ............................................, ............ "
10,A.FONnaçàOSimbólica I Agressividade , .. .
A princípio, ele demonstrou poucos sinais ostensivos da violência que ha-
1• ~ , I via causado sua exclusão da escolinha, embora a presença desta fosse su-
gerida por suas intensas ansiedades. Ele não podia, por exemplo, entrar
I na minha sala sem a mãe, que tinha de permanecer ao seu lado durante
a entrevista,
Neste cap 't I fi I -. ., . , ' .
I Uo ma I quero apresentare discutir
guns argumentos essenciais dest /. E
.
um caso que !lustra a/-
I Logo sua ,agressividade começou a revelar-se e teve início um dra-
ma repetitivo. De. repente, yinha-Ihe aos olhos um medo patético que o
. e Ivro. le fornec ' I' .
Oportunidade para aprofund _
armos a questao da f
era, a em dISSO, uma
~"
[ deixava paralisado diante de um objeto aparentemente inocente, como
uma característica relevante da sicolo . , . ,ormaçao slmbolica, se estivesse alucinado que é o que; de fato, creio que ele estava. Então
pouca atenção. . _. p . gla anahtlca, a qual demos até aqui ele se aproximava furtivamente do objeto e entregava-se maniacamente
r
, John - um garoto italiano de 5 a n o ' ", à sua destruição.
Via começado a àpresentar d s ,de Idade ao vir a clmica - ha- 1 Para impedir que sua destrutividade fosse excessiva, eu tive de in-
, esta os de excitação . 1 . . .
manlaca cerca de um ano t d ' .. VIO enta e mUItas vezes tervir fisicamenJe, o que o lev,ou a dirigir a agressividade contra meu cor-
an es e ser exammad Q .
dos ocorriam, sua noção da realidade _ o. . uando esses esta- I po. Ele ficou muito assustado quando jogou água em mim pela primeira
nários de controle _ como _era tao falha que os métodos ordi- vez e fugiu correndo da ~ala após o feito. Só voltou quando eu fiz a se-
a repressao e o c f . - , [
quando ele estava longe de D fi as Igo nao surtIam efeito guinte interpretação: "Existe. um John bom e um Dr. Fordham bom que
.. casa. rOr 1m a boa e r h estão juntos aqui, mas; nasal" há um John mau e um Dr. Fordham mau
quentava, após muitas tentativas d . d '-I' , ,sco ln a que ele fre-
caminhá-lo para tratament C e aJU a o, fOI obngada a excluí-lo e en- I que estão se destruindo".
o. omo passo prer' I Quando ficou menos receoso do que eu iria fazer, começou a com-
num pequeno grupo de c . '. . Imlnar, e f,! fora colocado
to escolar especial.
, nanças que necessitavam d
' , '. . . .. e acompanhamen-
. I portar__ se como se quisesse entrar em meu corpo à força, atacando-o com
a cabeça. Sua teoria era que os adultos tinham um determinado buraco
. A mãe d~ J~hn, uma mulher cari~ho' . r na parte inferi,or do corpo no qual ele poderia entrar, e queria testá-Ia pa-
mais no trato com ele devido ' I . ,sa, tendia a ser permissiva de-
. . , .a cu pa por haver c . d . ra saber se era verdadeira ou falsa. Essa idéia refletia-se também em suas
paI, por outro lado ressentia-se' d
. ' '.
mIsto de sentimentalismo e gr~ndilo .. A
' '..
. '
. na o um filho aSSIm, O
o comportament d filh
..:.
.
o o I o.e, sendo um
I brincadeiras e estava ligada à sua agressividade anal, que ele demonstra-
va curvando-se para a frente e fazendo gestos com as mãos que indica-
quando tentava' seus castigos
• I
VIolentamente ressentida Ap d
~u~ncla, nao conseguia controlá"IQ
na malona das veze d '
s elxavam a criança
I vam que do ânus estavam saindo fezes. Ao mesmo tempo, dizia que es-
tava explodindo "bombas". Essas atividades erap1 elab9radas a cada
te livro. Por isso, julguei que valia a pena acrescentar as breves reflexões era mais facilmentecontom~da. a equipe do albergue tinha três
a respeito dela que virão em seguida. A discussão sobre as cnanças com . ' . Itra as-
funções. Em primeiro lugar, ela revelava q~an~o a csn:;a~ ~~~aourem~vi_
Éfácil deduzir que a ~vacuação colocava diante de nós muitas crian-
ças desacompanhadas. Como não poderíamos contar com. o valioso au- sado o limite de tolerância do pess~al ~ tal: ~7::ntinha vivo o interes-
xílio dos pais, os problemas destes teriam de ser desconsiderados no tra- das para outro albergue. Em sedgun ~ uçaga ' e finalmente prestava-se à
se da equipe por cada uma as ~n~n, s ,
tamento, exceto no que deles transparecesse por meio dos filho~. Porém,
defin~oom~;~~i~:a %~~uiano, es~ava particulalrme~teçaintpe~e~:~~eo :ã:
. - . s para admmlstrar o grupo.
segundo o que sabíamos, a maior parte das crianças que sofriam de algu- eu
ma espécie de anormalidade vinha de lares em que dificilm~nte se pode- ' I~ um ambiente ao qua a cnan
ria imaginar a possibilidade de uma criança sobreviver emocionalmente. ver se era posslve omecer tab'lidade destruída por sua expe-
apenas adaptar-se, mas recupe:a~.a ::. p~meiro o trauma da evacuação;
Além disso, um bom número era de filhos ilegítimos ou órfãos cujos, p~is
riência pregressa. Esta era de tres Ip. . os e'ml'nu' meras ocasiões; fi-
segundo, o traum~~ e. a 01
haviam morrido quando eram muito pequenoSiPorconseguinte, sua in;- d I 'amentos sucesslv
'd f. miliar que era em quase todos os
fância havia sido desbaratada a um, ponto além. de qualquer possibilida- nalmente, a expenenCla de sua VI a a ,
de de reparação, .: ," . 'd ada
casos extremamente ma ~qu . d' fornecido? Na época em que
Isso não quer dizer que a importância .dos pais fosse desconsidera-, M f o de ambiente po ena ser ,
da; pelo contrário, empreenderam-se todos os esforços' para que eles vi- , as que Ip "dos albergues já estava estabeleCida e eu de-
·1 eu fUI nomeado, a malona ' c o m o tipo de pessoal ade-
sitassem os filhos. Se eles não tivessem dinheiro para isso, o Governo o Parei com o problema de situar as cnanças _ os membros das
fornecia. A equipe do albergue era orientada a permitir e até incentivar 'bTd d (Com uma exceçao,
quado dentro das pOSSI II a es, , e'ncl'a com crianças difíceis,)
a permanência dos pais nas instalações. Fazia-se de tudo, por intermédio - 'h t ' mento na convlv ,
equipes nao tIO am rema h ' to havia sido acumulado de manel-
dos serviços de assistência sOcial,para -persuadir os pais aesc(ever regu-: Qualquer que fosse seu con eClmen ,
larmente e, quando o Contato era in~errompido, buscava-se sempre que , ,, c rso de seu trabalho,
ra pouco. sls,tematlca ,no. u rinci ai fator no meio em que a criança se
possível restabelecê-lo.
A equipe constltUla o p p _ 'r dEssa apa-
Adotei em meu trabalhá o método de visitar.alguns albergues regu- " o ambiente em geral nao era especla lza o, ,
IOsena; portanto, _ mais claramente do que teria sido posslvel
larmente e, sempre que podia, pernoitava para poder sentir mais de'per- rente desvantagen:. m~strou rsonalidade de cada membro cons-
to a vida íntima do albergue. Eu brincava e conversava com as crianças e em outras circunst~ncla~ - co~o a pe mo eles vieram a aprender algo de
comparava as anotações de cada uma com a equipe. Algumas crianças tituía a consideraçao pnmo:dlal. E, co _ oderia empregar método
que apresentavam determinadas dificuldades qu~. o pessoal gostaria de psicologia, era mais que eVidente q~e nao_ se p
algum sem levar esse fator em conslderaçao,
.82 . A Criança como Indivíduo •
...... , ....
. U~ dos p~ncipais problemas era a disciplina, sobre o qual logo se
eVidenCIaram diferentes pontos de vista. Nos albergues em que h . d s o máximo possível nas circunstâncias e muitas crises foram supe-
. d' . r h . aVia lera a le desenvolveu um excelente senso de responsa b'l'd I I ade,I toman-
mais ISClp ma, aVia menos problemas ostensivos com as crianças. Algu- ra as. E
d
do-se um trunfo do albergue em diversos aspectos. Por exemp o: enca-
fimas delas sem dúvida precisavam do que se costuma :chamar de "mão
1/
beçou um "comitê de danos"; qu: an~tava ~odos os estra.gos feitos ao
Irme para que se pudessem manter a distância seus conflitos interiores.
Por outro lado, embora essas 'crianças atingissem um estadO" de estabili- albergue e tentava repará-los. Porem, a medida que creSCia, t~~ava-se
dade, seu relacionamento Com os adultos e seu desenvolvimento como 's difícil controlá40 - ele não apenas causava danos matenals, mas
mal . 'd d
um ;odo era~ me~os. s~tisfatQrios que nos assim chamados "albergues li7
aterrorizava os outros· garotos do grupo. Quando a destrutlvl ~ e cres-
v:~s , nos ~uals a discIplIna e o castigo eram reduzidos ao mfnimoneces- ceU, a culpa veio cada vez mais à tona até ele dizer ·que acreditava que
era maldito e que, sem dúvida, iria para o inferno. .
sano e fenomenos Como a destrutividade, o absenteísmo escolar, o .furto
e os atos sexuais eram vistos como sintomas e tratados como tais: Nesse momento foi necessário removê-lo, já que a vida de todo o
Era ~uito mais difícil administrar,um albergue sem punição. A enor-
albergue estava em jogo. Ele foi levado para um grande albergue admi-
r:n: energIa das crian.ças exigia muito mais recursos da equipe para cana-
nistrado por um ex-suboficial da marinha que tinha um dom todo espe-
cial para lidar com os garotos de modo g,:ntil por~~ fi~e.· A tomou~se
Irza-Ia de modo a eVitar em sua esteira um desastre. . . :.
" ~ Logo ~cou c1ar~ q.u~ determinadas crianças que não tolerava'm a
bem-comportado, abandonou as explosoes de. vlolencla~ d~u-~e .mUlto
bem organizando jogos e "aquietou-se", A rotina e 'a justa, d~s~l~hna do
mao firme nem a dlsclphna precisavam de liberdade. Mas também fi,
albergue ajudaram-no a organizar a vida na base que havia· iniCiado no
cou claro que algumas crianças não poderiam ser tratadas com um sim-
ples relaxamento da disciplina. Para ilustrar essa questão, considere-se o albergue livre, mas que não conseguira manter lá.
. exemplo?~ um garoto que não deu certo num albergue livre, cuja equi-
Um caso assim revela quão ilusório é o critério do comportamento
pe sem duvIda era extremamente hábil em manter a vitalidade das crian- no julgamento da normalidade ou anormalida?e d~ uma criança, preci-
ças dentro de limites. se ela ou não de ajuda psicológica, Era imposslvel lidar com seu probl~
Esse ~aroto,· A, de ·12 anos, se havia tornado líd~r d~ um grupo q~:
ma até o fim e, assim, restabelecer a coerência de sua psique num regi-
me de liberdade. Quando as forças repressivas se relaxaram" o pro?lem?
quase hav!a p<:.sto pa:a fora a equipe de um dos albergues .. À 'superviso,
veio à luz inteiro, de uma maneira que o tornou um proble~a socIal c~
ra, que.ate e~tao haVia conseguido lidar com as crianças, só restara' a rai-
tico, Em decorrência da mudança de ambiente, o garoto ~de encobnr
v~ ~ a 1m potencia, pois sua disciplina não surtiu efeito algum ,contra as
atlvldades ex;remamente anti-sociais do grupo. Esse garoto era forte, ro- seu problema de forma a parecer que ele havia sido resolvl~?, ~as esse
b.usto e saudavel,. mas na v~rd~de estava aterrorizado com as cónseqüên-
processo rudimentar não tem nada que ver com sua reabdltaçao num
C1a,s .de s~a c~pa~l~ade de vlolencia. No passado,ele havia tido febre reu-
sentido mais profundo, .
matlc~, .Ido a chmca de. convalescença e' ainda tinha medo de que o Porém de 'modo geral, restava pouca dúvida de que os albergues li-
vres tinham' os melhores' resultados,' As crianças saíram de lá com a lem-
coraçao parasse porque era "mau" e doente e pudesse acabar causando
sua morte.'Em outras palavras/ele tinha uma grande sensação de culpa brança de um tempo feliz que dificilmente esqueterãoe quase toda,s .real-
~elo comportamento, que era reprimida e reaparecia sob a 'forma de an- mente se desenvolveram. Os outros albergues tiveram ~m papel utll ~o
Siedades hipocondríacas. . .. . . '. . . atendimento às crianças que não poderiam suportar a liberdade ou nao
O pr?blema que. se apresentava poderia ser assim descrito:'~ culpa
precisavam dela, . . ..' ... ' " .
'1
daquela cnança. podena ser trazida à consciência e.então modificada pa- Para fins de comparação com A, tomemos o exemplo de uma cnan-
ra restabe~ecer sua coerência psíquica? Uma longa tentativa foi feita num I,
ça qúe pôde desenvolver,se imensamente num albergue livre. ~ • '
albergue lIVre. O que aconteceu? Suas explosões de violência foram t6- . Quando B chegou ao albergue porque seu lar em L~ndres na? co~
seguia tolerá-lo, era um garoto de 6 anos extremamente VIVO - mUito atl-
• I\per,,~n,ç
t 81 . A Criança como Indivíduo • ." ..... " .............. , ... " ........................... " ..... .,." ... " ....... " , ................. .... " .. , ................. " .... .
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leradas o máximo possível nas circunstâncias e muitas crises foram supe-
. U~ dos p~ncipais
problemas era a disciplina, sobre o qual logo se
radas. Ele desenvolveu um excelente senso de responsabilidade, toman-
eVI~en.cl~ra~ diferentes pontos de vista. Nos albergues em .que havia
do-se um trunfo do albergue ,em diversos aspectos. Por exemplo, enca-
. mais dlsclphna, havia menos problemas ostensivos com as crianças: Algu-
beçou um "comitê de danos", que anotava todos os estra.gos feitos ao
mas delas sem dúvida precisavam do que se costuma 'chamar de "mão
albergUe e tentava repará-los. Porém, à medida que creSCia, tomava-se
firme" para que se pudessem manter a distância seus conflitos interiores!
mais difícil controlá'lo - ele não apenas causava danos materiais, mas
Por outro lado, embora essas 'crianças atingissem um estado de estabili-
aterrorizava os outros- garotos do grupo. Quando a destrutividade cres-
dade, seu relàcionamento com os adultos e seu desenvolvimento como
ceu, a culpá veio cada vez mais à tona até ele dizer que acreditava que
um :odo eran: me~os. s~tisfatQrios que nos assim chamados "albergues Ii+
era maldito e que, sem dúvida, iria para o inferno.
vres , nos quais a dlsclphna e o castigo eram reduzidos ao mínimo neces:
Nesse momento foi necessário removê-Io, já que a vida de todo o
sário e fenômenos como a destrutividade, o absenteísmo escolar, o furto
albergue estava em jogo. Ele foi levado para um grande albergue admi-
eos atos sexuais eram vistos como sintomas e tratados como tais.
nistrado por um ex-suboficial da marinha que tinha um dom todo espe-
Era muito mais difícil administrar um albergue sem punição. A enor-
cial para lidar com os garotos de modo gentil porém firme. A tornou~se
~~ energia das crianças exigia muito mais recursos da equipe para cana:
bem-comportado, abandonou as explosões de. violência, deu-se mUito
bem organizando jogos e "aquietou-se". A rotina ea justa. di.s~i~lina do
ltza-Ia de modo a evitar em sua esteira um desastre .
_ Logo ficou claro que determinadas crianças ~ue não tolerav~m a
albergue ajudaram-no a organizar a vida na base que haVia IniCIado no
"mao firme" nem a disciplina precisavam de liberdade. Mas também fi-
albergue livre, mas que não conseguira manter lá. '
cou claro que algumas crianças não poderiam ser tratadas com llm sim-
Um caso assim revela quão ilusório é o critério do comportamento
ples relaxamento da disciplina. Para ilustrar essa questão, considere-se o
no julgamento da normalidade ou anormalidade de uma criança, preci-
exemplo ?~ um garoto que não deu certo num albergue livre, cuja equi-
se ela ou não de ajuda psicológica. Era impossível lidar com seu probl~
pe sem dUVida era extremamente hábil em manter a vitalidade das.crian-
ma até o fim e, assim, restabelecer a coerência de sua psique num regi-
ças dentro de limites. .,
me de liberdade. Quando as forças repressivas se relaxaram, o pro?lem~
Esse ~aroto,· A, de ·12 anos, se havia tornado líder de um grupo q~e
veio à luz inteiro de uma maneira que o tomou um problema SOCial cn-
quase hav!a p0..sto pa:a fora a equipe de um dos albergues.·Àsuperviso" tico.Emdecorrincia da mudança de ambiente, o garoto pôde encobrir
ra, que:ate en.taa. havI~ conseguido lidar comas crianças, só restafá· a rai-
seu problema de forma a parecer que ele havia sido resolvi~~, ~as esse
v~ :a Impotencla, pOIS sua disciplina não surtiu efeito algum.contra as
processo'rudimentar não tem nada que ver com sua reablhtaçao num
atlvldades extremamente anti-sociais do grupo. Esse garoto era forte ro·
b.usto e saudável,. mas na ve.rd~de estava aterrorizado com as cõnseqGên- sentido mais profundo.
,
-
Porém, de modo geral; restava pouca dúvida de que os albergues h-
clas de.suacapacldade de vlolenda. No passado, ele havia tido febre reu-
vres tinham os melhores resultados.'As crianças saíram de lá com a lem-
mátic~, ido à clínica de convalescença e ainda tinha medo de que o
brança de um tempo feliz que dificilmente esquecerão e quase toda: ~eal
coraçao parasse porque era "mau" e doente e pudesse acabar causando
mente se desenvolveram. Os outros albergues tiveram um papel utll ~o
sua morte." Em outras palavras, ele tinha uma grande sensação de culpa
atendimento às crianças que não poderiam suportara liberdade ou nao
~elo comportamento, que era reprimida e reaparecia sob a forma de an-
siedades hipocondríacas. . . precisavam dela., ., . "".'
O pr~blema que.se apresentava poderia ser assi~ descrito:~ culpa I . Para fins de comparação com A, tomemos o exemplo de uma cnan-
ça que pôde desenvolver-se imensamente num albergue livre." _ : '
daquela cnança podena ser trazida à consciência e.então modificada pa-
. Quando B chegou ao albergue porque seu lar em Lo.ndres na? co~
ra restabelecer sua coerência psíquica,? Uma longa tentativa· foi feita num
albergue livre. O que aconteceu? Suas explosôes de violência foram to-
I seguia tolerá-lo, era um garoto de 6 anos extremamente VIVO - mUito atl-
\
- - - - - - - _ . - - " - - - - - - ----- - - ----- ---~
."~ ..:.::~...c:.".~~f'l..'.omo Indivíduo •
/
.......... , ....
.................... , ..... ........... .
• Apêndice • t 85
• ................. 0·0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ., ••• " ........... , ........ " .... ",' .......... " •••• " , . . . . . . . . .
//
/
I
;'
demos estudar a relação entre a análise infantil e a vida no albergue. ./
Esse garoto foi enviado a um albergue no qual fora possível estabe-
lecer uma relação muito boa com a superv.isora, que estava sempre pron-
ta a entender e' aplicar'com grande habilidade as idéias da 'psicologia, O
garoto tinha 5 anos de idade ,quando sua análise começou. Ele já estava
em análise havia um ano, com duas visitas semanais, quando chegou ao
albergue, de forma que se sabia muita coisa a seu respeito, Uma das éa-
racterísticas mais marcantes era o medo 'das, conseqüências de seus sen-
timentos violentos, que o dominavam completàmente durante as entre~
vistas analíticas. Entretanto, ele não ousava dar-lhes vazão em outra parte.
C estava abrigado no albergue havia cinco meses e, nesse tempo, não re"
cebera mais nenhum tratamento.' Conseguira socialmente algumdesen-
volvimento, mas regredir'aem outros aspectos. Então eu o aceitei para
dar continuidade à sua análise. \
A princípio; parecia ter havido uma considerável'mudança; ele es-
tava mais amigável e cooperativo, 'mas issoera'apenas'superficial. Certa- \
mente, era uma mudança para melhor,' mas não tocava nos conflitos fun-
damentais, que logo vieram à tona no mesmo 'estado que antes. \\
/IP
Notas
CAPÍTULO I: ANTECEDENTES
Uma boa introdução à obra de Jung está em Fordham, F., 1966.
O ego e os arql]étipos
Fordham, M. "Biological theory and the concept of archetypes". ln: Ford-
ham, M., 1957. Hobson, 196,1. Jung, oe
VII; "0 conceito de inconscien-
te coletivo". ln:oeIX, parté I; além disso, há outros ensaios relevantes
nesse volume.
Método
Fordham, M. "Problems of active imagination". ln: Fordham, M., 1958.
Jung, "A função transcendente". ln: oe VIII; "A técnica da diferenciação
entre o eu e as figuras do inconsciente". ln:oe oe
VIII2; "Introdução" a
XII; nA aplicação prática da análise dos sonhos". ln: oe XVI.
CAPÍTULO 2: BRINCAR
the self and theego in childhood", ambos em Fordham, M., 1957; 1963,
Gardner, 193Z Greenacre, 1959. Klein, 1955. Lewis, 1962. I"Por que as 1965; 1966.
crianças brincam". ln: Winnicott, 1982.
Reconstituição
CAPÍTULO 3: SONHOS Fordham, E, 1964. Fordham, M., 1965b. Rubinfine, 196Z
CAPÍTULO 6: O AMADURECIMENTO
CAPÍTULO 4: DESENHOS Vida intra-uterilia e nascimento
Greenaere, 1945. Sp'i~ 1993. Vemey e Kelly, 1982.
Baynes, 1955: Eng, 1931. Também Fordham,'M., sem data. Jung,'~O sim- , . --'
CAPÍTULO 5:
, O MODELO CONCEITUAL
'
Objeto transicional
Psicologia e {iefesas do ego Winnícott, 2000 e 1967. Coppolillo, 196Z Fordham, M., 1977.
Arlow e Bfenner, 1973. Apfelbaum, 1966. Fairbaim, 1980. Fr~ud, A.,
1986. Guntrip, 1961. Hartmann, J958. Identidade
Erikson, 1976.facobson, 1964-65,
Os arquétipos
Fordham, M" "Biological theory ançl the concept of arçhetypes", ln: Ford:
Fase de separação-individuação
Fordham, M., 1968. Mahler etal., 1977, Joffe e Sandler, 1965.
ham, M" 1957; 1962; 1965. Hobson, 1961. Segal, 1975, a partir de cuja
obra se pode ter acesso à de Melanie Klein. Spitz, 1959.Piaget, 197t' e
também outras de sua vasta série de monografias. Conflito edipiano ..,
A literatura é por demais vasta para que se citem Itens eSP:clfic~s.?ar-
o self gumento é desenvolvido a partir da obra ~e Freud, da modlficaçao mtro-
duzida por Jung e também da obra de Klein (Cf. Segal, 1975 e ]acobson,
Fordham, M., "Origin of the ego in childhood" e "Some observations on
1964-65).
.............. .,,, ......... ,, ............ ,, ............ , " ...........
"""0 ••• " •• " ........ .
.." ......................... , ... , .... .
CAPÍTU LO 7: A FAMÍLIA
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