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Notas
A Profa. Cecília Horta foi companheira de trabalho da minha mulher, Corinta
Geraldi, no antigo PADES – Programa de Aperfeiçoamento Docente do Ensino
Superior, na segunda metade dos anos 1980. Depois se tornou assessora da
Associação de Educação Católica do Brasil, que mantém uma revista. Seu último
número de 1996 seria dedicado às diferentes disciplinas do currículo de ensino básico.
Ela me convidou para escrever sobre a disciplina Língua Portuguesa, e eu insisti para
que a revista entrasse em contato com a colega Magda Soares para participar do
mesmo número. Foi assim que saiu este texto, que obviamente retoma textos
anteriores e que continua insistindo uma abordagem sociointeracionista, de origem
bakhtiniana, no ensino da língua materna. E aqui, especificamente, trato de alguns
dados produzidos no projeto de Pesquisa, financiado pelo CNPq, com sede na USP, do
qual participei e de que resultou a trilogia “Ensino de Português Através de Textos” (Ed.
Cortez). O texto foi publicado no número 101, out/dez 1996, da Revista da AEC.
Os dados aqui manuseados são parte do conjunto mais amplo de episódios
registrados pelo projeto “A circulação de textos na escola”, ainda em execução, sob a
coordenação geral da Profa. Dra. Lígia Chiapini de Moraes Leite, na Universidade de
São Paulo (Proc. CNPq 522849/95-4(NI)) de que participo, tendo orientados os artigos
aqui citados.
Com a expressão “relações de ensino” pretendo retomar uma discussão
produzida por Smolka (1988). As relações de ensino constituem-se nos processos
interativos de sala de aula, entre professores/alunos e, na emergência destes
acontecimentos, modificam-se os sujeitos envolvidos pela compreensão dos objetos e
temas sobre que se debruçam e que constroem como verdadeiros conteúdos, previstos
ou não, da relação pedagógica. Na tarefa de ensinar, ao contrário, nada de novo
emerge do próprio processo. Trata-se de transmitir de um lugar para outro (do
professor para o aluno) em blocos fechados e acabados, um conhecimento prévio e já
definido. Numa passagem da autora: “A tarefa de ensinar, organizada e imposta
socialmente, baseia-se na relação de ensino, mas, muitas vezes, oculta e distorce essa
relação. Desse modo, a ilusão e o disfarce acabam sendo produzidos, não pela
constituição da relação de ensino, mas pela instituição da tarefa de ensinar. Em várias
circunstâncias, a tarefa rompe a relação e produz a ‘ilusão’. Ou seja, da forma como
tem sido vista na escola, a tarefa de ensinar adquire algumas características (é linear,
unilateral, estática) porque, do lugar em que o professor se coloca (e é colocado) ele se
apodera (não se apropria) do conhecimento; pensa que o possui e pensa que sua
tarefa é precisamente dar o conhecimento à criança. Aparentemente, então, o
aprendizado da criança fica condicionado à transmissão do conhecimento do professor”
(Smolka, 1988:31).
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