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Dezembro/2017
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Outubro de 2017
Compilação dos Informativos nos 887 e 888
SUMÁRIO
Direito Constitucional
Imunidade Formal
Imunidade formal do Presidente da República e aplicabilidade a codenunciados
Repercussão Geral
Repercussão geral e sobrestamento de processo-crime
Direito Penal
Aplicação da Pena
Embargos de declaração em embargos de declaração e efeitos infringentes
Extinção de Punibilidade
Lei de Anistia e prescrição de crimes de lesa-humanidade
Direito Tributário
Imposto
ICMS e lei estadual
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DIREITO CONSTITUCIONAL
Imunidade Formal
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denúncia encontra-se suspensa por decisão da Câmara dos Deputados. Isso porque vige
no ordenamento jurídico-penal pátrio o princípio da responsabilidade subjetiva, como
corolário do Direito Penal do fato, adequado ao plexo de garantias vigente no Estado
Democrático de Direito. Tal sistemática impõe ao órgão acusatório o ônus da prova
acerca dos elementos constitutivos do tipo penal incriminador, nos termos do art. 156 do
CPP (4), a ser exercido no seio do contraditório estabelecido em juízo, em respeito à
clausula do devido processo legal.
Assim, no que tange à acusação do delito de organização criminosa, caberá ao
Ministério Público Federal produzir os elementos de prova capazes de demonstrar, em
relação a cada um dos acusados, a perfeita subsunção das condutas que lhes são
atribuídas ao tipo penal que tutela o bem jurídico supostamente violado, em especial o
seu elemento subjetivo, composto pelo dolo de promover, constituir, financiar ou
integrar organização criminosa.
No tocante à remessa dos autos ao juízo de primeira instância, prevaleceu o
entendimento do Ministro Alexandre de Moraes no sentido de não haver que se falar em
prevenção relativamente à 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba, dado
que os fatos apurados naquele juízo não teriam relação direta com a matéria investigada
nos inquéritos ora em julgamento.
Na mesma oportunidade, o Plenário rejeitou pedido formulado da tribuna pela
defesa de dois dos agravantes para que se transformasse a prisão provisória que lhes
fora imposta em prisão domiciliar. Segundo a Corte, o processo específico em que se
discute a matéria não estaria em pauta, ausentes elementos mínimos necessários à
apreciação do pleito defensivo. Vencido, no ponto, o ministro Marco Aurélio, que
deferia o pedido.
(1) CF/1988: “Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I - autorizar, por dois terços de seus
membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado”.
(2) CF/1988: “Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou
perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade”.
(3) Lei 12.850/2013: “Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta
pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas
correspondentes às demais infrações penais praticadas”.
(4) Código de Processo Penal de 1941: “Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo,
porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de
provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II –
determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre
ponto relevante”.
Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson Fachin,
julgamento em 14 e 19.12.2017.
Repercussão Geral
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O paciente foi denunciado como incurso no art. 28 (1) da lei 11.343/2006 (Lei de
Drogas).
A Turma assentou que, ante a previsão desse artigo e na impossibilidade de imposição
de pena que possa restringir a liberdade de ir e vir, tem-se como imprópria a impetração de
habeas corpus.
Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que deferiu a ordem para determinar a
suspensão do processo-crime.
(1) Lei 11.343/2006: “Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será
submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III
- medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. ”.
HC 127834/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgamento em 05.12.2017.
(Informativo 887, Primeira Turma)
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DIREITO PENAL
Aplicação da Pena
(1) CPP: “Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto
por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros”.
(2) RISTF: “Art. 13. São atribuições do Presidente: IX – proferir voto de qualidade nas decisões do Plenário,
para as quais o Regimento Interno não preveja solução diversa, quando o empate na votação decorra de ausência de
Ministro em virtude de: a) impedimento ou suspeição”.
AP 565 ED-ED/RO, rel. min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli,
julgamento em 14.12.2017.
Extinção de Punibilidade
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O extraditando, que à época era militar da marinha argentina, foi acusado de
participação em crimes de sequestro, tortura e eliminação de pessoas no período
compreendido entre 1976 e 1983 (vide Informativo 882).
Vencidos os ministros Marco Aurélio (relator) e Alexandre de Moraes, que
indeferiram a extradição por entenderem que, apesar da dupla tipicidade dos fatos
imputados (no Brasil e na Argentina), não se verifica o requisito da dupla
punibilidade, haja vista a não ratificação pelo Estado brasileiro da Convenção
Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas, que prevê a
imprescritibilidade dos delitos de lesa-humanidade. Dessa forma, aplica-se o prazo
máximo de vinte anos para prescrição, previsto no Código Penal brasileiro no art.
109, I (1).
Além disso, afirmou ser inválida a alegação da procuradoria sobre a
permanência dos crimes de sequestro, por se tratar de situação de desaparecimento.
Nesse sentido, conforme o art. 1º da Lei 9.140/1995 (2), afastou a adequação típica
ao crime de sequestro e considerou presumida a morte dos indivíduos
sequestrados, já que extremamente provável.
Desse modo, reconhecendo a impunibilidade, no Brasil, de fatos semelhantes
ocorridos no período da ditadura militar, presente a anistia bilateral, ampla e geral
versada na lei 6.683/1979, e a prescrição dos delitos, apontou a inviabilidade da
entrega do extraditando.
(1) Código Penal: “Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o
disposto no §1º do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao
crime, verificando-se: I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze”.
(2) Lei 9.140/1995: “Art. 1º. São reconhecidos como mortas, para todos os efeitos legais, as pessoas
que tenham participado, ou tenham sido acusadas de participação, em atividades políticas, no período de 2
de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, e que, por este motivo, tenham sido d etidas por agentes
públicos, achando-se, deste então, desaparecidas, sem que delas haja notícias”.
Ext 1270/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgamento em 12.12.2017.
(Informativo 888, Primeira Turma)
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Liquidação/Cumprimento/Execução
(1) Constituição Federal: “Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais,
Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de
apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas
dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. ”.
(2) CF: Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante
interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da
sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou
comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (...) II - a sujeição ao regime jurídico próprio
das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; ”.
RE 851711 AgR/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 12.12.2017.
(Informativo 888, Primeira Turma)
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tabela de atualização monetária dos débitos trabalhistas na Justiça do Trabalho. (vide
Informativo 877).
A Turma entendeu que a Fenaban é parte ilegítima para propor reclamação.
Ressaltou que o reclamante não demonstrou como o seu interesse jurídico teria sido
afetado pelo acórdão reclamado. No mérito, julgou improcedente o pedido formulado.
Rememorou que o Plenário se manifestou contrariamente à chamada “transcendência”
ou “efeitos irradiantes” dos motivos determinantes das decisões proferidas em controle
abstrato de normas e que a jurisprudência de ambas as Turmas deste Tribunal é no
sentido de inexistir estrita aderência entre o conteúdo das decisões que determinam a
utilização de índice diverso da TR para atualização monetária dos débitos trabalhistas e
o decidido no julgamento da ADI 4.357/DF e da ADI 4.425/DF.
Além disso, observou haver recurso interposto contra o acórdão do TST e a
reclamação não pode ser utilizada como sucedâneo de recurso.
Vencidos o ministro Dias Toffoli (relator) e o ministro Gilmar Mendes, os quais
compreenderam que a decisão do TST extrapolou os limites de sua competência ao
aplicar entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em controle
abstrato de constitucionalidade com efeito vinculante, em hipótese por ele não
abrangida.
(1) Lei 8.177: “Art. 39. Os débitos trabalhistas de qualquer natureza, quando não satisfeitos pelo empregador
nas épocas próprias assim definidas em lei, acordo ou convenção coletiva, sentença normativa ou cláusula contratual
sofrerão juros de mora equivalentes à TRD acumulada no período compreendido entre a data de vencimento da
obrigação e o seu efetivo pagamento”.
(2) OJ 300 “Não viola norma constitucional (art. 5°, II e XXXVI) a determinação de aplicação da TRD, como
fator de correção monetária dos débitos trabalhistas, cumulada com juros de mora, previstos no artigo 39 da Lei nº
8.177/91 e convalidado pelo artigo 15 da Lei nº 10.192/01”.
Rcl 22012/RS, rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 12.9.2017.
(Informativo 887, Segunda Turma)
Recursos
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Desse modo, assentou inviável reclamação com fundamento nesse julgado, e
que eventual má aplicação dessa nova tese acerca da responsabilidade subsidiária
da Administração Pública pelos débitos trabalhistas de contrato deve ser
impugnada, inicialmente, por meio de recursos, nos termos do art. 988, §5º, II (2),
do Código de Processo Civil (CPC).
Vencidos os ministros Marco Aurélio e Alexandre de Moraes, que deram
provimento ao agravo para julgar procedente a reclamação e cassar o acórdão
reclamado na parte que atribui responsabilidade subsidiária a empresa pública.
Afirmaram ser viável o ajuizamento de reclamação por ofensa ao decidido na ADC
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(1) Lei 8.666/1993: “Art. 71. O contratado é responsável pelos encargo s trabalhistas,
previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato. § 1o A inadimplência do
contratado, com referência aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere à Administração
Pública a responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou restringir a
regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de Imóveis. ”
(2) Código de Processo Civil: “Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério
Público para:
(...)
§ 5º É inadmissível a reclamação:
(...)
II – Proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral
reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordin ário ou especial repetitivos,
quando não esgotadas as instâncias ordinárias. ”.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Habeas Corpus
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Prisão Domiciliar
(1) Lei 11.343/2006: “Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: ”.
(2) Código de Processo Penal: “Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando
o agente for:
(...)
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; ”.
HC 136408/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 5.12.2017.
(Informativo 887, Primeira Turma)
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DIREITO TRIBUTÁRIO
Impostos
(1) Constituição Federal/1988: “Art. 24. (...) § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades”.
(2) Art. 155. (...)§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: IX - incidirá também: a) sobre a
entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte
habitual do imposto, qualquer que seja a sua finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o
imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do destinatário da mercadoria, bem ou
serviço;
RE 917950 AgR/SP, rel. Min. Teori Zavascki, julgamento em 5.12.2017.
(Informativo 887, Segunda Turma)
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