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Capítulo III – Educação e Sustentabilidade


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QUESTÕES AMBIENTAIS E EDUCAÇÃO

Maurice Barcellos da Costa

QUESTÕES AMBIENTAIS

            As questões ambientais devem ser abordadas como condições básicas para a implantação de uma
agricultura baseada na produção ecológica, no manejo adequado do solo, na rotatividade de culturas, no
controle integrado de pragas, na preservação e resgate da biodiversidade e na geração de tecnologia de
ponta.

            O enfoque interdisciplinar por meio do conhecimento das ciências físicas, biológicas e sociais fará com
que determinada realidade socioeconômica e ambiental seja adequadamente compreendida, conforme Figura
1.

 
Figura 1 - Visão interdisciplinar (integrada) do meio ambiente. Fonte: Guerra & Barbosa (1996, p. 15)

            Praticando-se uma agricultura substancialmente diferente do modelo predatório atual, eliminando-se os
brutais mecanismos de exclusão social, estaremos buscando um caminho ecologicamente correto,
harmonizando-o com o desenvolvimento em bases sustentáveis e criando possibilidades de uma existência
digna para as futuras gerações.

            Desenvolvimento sustentável, segundo a ONU (1988), é definido como “Processo de transformação,
no qual a exploração dos Recursos, a direção dos Investimentos, a orientação do Desenvolvimento
Tecnológico e a mudança Institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro a fim de
atender as necessidades e aspirações humanas.”

            Para que ocorra o desenvolvimento sustentável, é pré-requisito básico o conhecimento de todos os
fatores envolvidos. Os recursos naturais renováveis devem ser usados dentro dos limites de regeneração e
crescimento natural, considerando-se seus efeitos sobre todo o sistema, sua complexa integralidade, com
vistas a definir produtividade máxima sustentável, de forma que seja compatibilizado o crescimento econômico
e o progresso tecnológico com a melhoria da qualidade de vida e a preservação do meio ambiente (Figura 2).
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Figura 2 -  Harmonização entre crescimento econômico e meio ambiente Fonte: Guerra & Barbosa (1996, p. 52)

            Quando nos reportamos à sustentabilidade, visando a um meio ambiente saudável, estamos
defendendo não somente nossos recursos naturais, mas também nossa saúde e nossa qualidade de vida,
esta última relacionada com coisas, direitos e sentimentos do nosso cotidiano, considerando que a vida não se
traduz em ter muito, mas sim em viver melhor (Figura 3).

Figura 3 - Meio ambiente e qualidade de vida. Fonte: Guerra & Barbosa (1996, p. 19)

            Ao buscarmos melhores condições de vida, estamos exercendo nosso direito de cidadania, ou seja, o
direito de participação direta ou indireta das pessoas nas decisões que afetam a própria vida. Para tanto, é
fundamental o direito à informação e ao conhecimento, pois ninguém pode opinar sobre aquilo que
desconhece. Se uma comunidade não sabe qual é o modelo de exploração dos recursos naturais da sua
região, ignora os impactos ambientais negativos sobre o solo, a água, a biodiversidade, enfim, sobre sua
qualidade de vida, não será capaz de organizar-se e mobilizar-se em sua defesa própria ou na defesa de seus
direitos.

            Da análise dos pontos abordados e do exposto nos quadros, objetivamos uma discussão e a
transmissão do conhecimento básico pelas escolas inseridas no mundo atual, permitindo aos alunos
desenvolverem o raciocínio e formularem seus próprios conceitos.

Preservação ambiental / biodiversidade

            Diversidade genética ou biodiversidade retrata a existência de muitos milhares de espécies diferentes
da flora e da fauna em nosso planeta, sendo impossível listá-las todas.

            A biodiversidade é uma das características do planeta, mas o número de espécies existentes não é
conhecido. Cientistas do Plano das Nações Unidas para o Meio Ambiente calculam que esse número varie
entre 10 e 100 milhões de espécies diferentes. Apenas 1,4 milhão está nomeado e poucos milhares,
estudados: são 751 mil insetos, 281 mil outras espécies animais, mil vírus, 4 mil bactérias e outros
microrganismos, 26.900 algas, 248.400 plantas superiores e 30.800 protozoários. Desse total, 25% correm
sério risco de extinção nos próximos vinte anos. A cada dia, a ação humana faz desaparecer cerca de
trezentas espécies animais e vegetais.

            Ao observarmos uma paisagem, é possível identificar áreas cobertas com árvores, com pastagens,
algumas sem vegetação e outras com alguma cultura. O tipo de cobertura vegetal natural está condicionado à
disponibilidade de água, clima, solo e a outras características do lugar. Um dos impactos negativos mais
freqüentes consiste em eliminar essa cobertura e não substituí-la por outra que cumpra as mesmas funções
no ambiente. Essa reposição seria mais racional e tecnicamente correta. Considerando a dificuldade de
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conseguir tal feito, podemos aceitar uma eliminação parcial da cobertura vegetal, a fim de preservar, no
mínimo, a reserva legal estabelecida.

            A eliminação da vegetação natural pode ser considerada como uma das mais fortes intervenções do
homem no último século, na medida em que, danificando processos biológicos para milhares e milhares de
espécies, altera o habitat e elimina fontes de alimento.

            Não se tem consciência de quantas espécies foram afetadas pelas mudanças e pela degradação
produzida no ambiente. Muitas espécies que poderiam ser de grande benefício desapareceram, sem sequer
terem sido conhecidas.

            Hoje necessitamos estudar e preservar a natureza, pois muitas espécies existentes ainda não
conhecidas poderão ser de grande utilidade no controle de doenças, na alimentação, no controle de pragas ou
em processos industriais.

            O Estado do Espírito Santo ocupa uma área com distintos ecossistemas, cada um deles necessitando
de manejos adequados, objetivando restabelecer o equilíbrio ecológico regional.

            Diante da grande diversidade existente no Estado, devemos preocupar-nos com uma avaliação
quantitativa dos diversos tipos de formações florestais, que possa oferecer dados comparativos para subsidiar
os planos de desenvolvimento regionais.

            Para isso, torna-se imprescindível o conhecimento atualizado da situação florestal do Estado, pois a
constante exploração florestal e a ocupação dos espaços pelo homem alteram a fisionomia original da região,
exigindo um detalhamento nas avaliações que possibilite impetrar ações preventivas, principalmente nas áreas
críticas.

            A cobertura florestal vem sofrendo, ao longo do tempo, grandes modificações, na medida em que as
explorações antrópicas indiscriminadas vão se intensificando. Esse processo é menor em áreas de relevo
acidentado, de difícil acesso, nas quais a própria natureza impôs um obstáculo à devastação. São áreas que
hoje nos contemplam com o mais alto índice de biodiversidade do planeta.  

Uso da terra

            Em tempos remotos, o ser humano organizava-se em grupos de coletores-caçadores, pouco diferindo
dos outros animais quanto às relações com o meio ambiente. Com o advento da agricultura, iniciou-se o uso
mais intensivo dos recursos naturais, especialmente nos vales de férteis depósitos aluviais. O solo passou a
ser mais movimentado, as florestas, exploradas, os animais foram domesticados, construções foram erguidas
e a água, aduzida para consumo humano e para a agropecuária. O sucesso da atividade agrícola permitiu o
acúmulo de excedentes, a fixação da população, o incremento do comércio e, em última análise, o início da
civilização e da divisão social do trabalho.

            Desde os primórdios da agricultura, o homem percebeu as conseqüências de sua atividade no meio
ambiente: o desgaste dos solos, o assoreamento dos rios e o comprometimento dos recursos hídricos. Esses
impactos, quando percebidos, impulsionavam a atividade agrícola para novas áreas, determinando por vezes
a transferência de populações inteiras para áreas ainda inexploradas, quando não ocorria a decadência
definitiva de civilizações  e culturas.

            A humanidade é responsável pelo comprometimento da qualidade ambiental global e praticamente


inexistem novas fronteiras para a exploração agrícola. O homem vive a carência de solos férteis, de madeira
e lenha e de água potável. Assiste, ainda, ao aquecimento global, à dissolução do escudo protetor de ozônio
e ao desaparecimento de milhares de espécies de animais e plantas. A questão da conservação ambiental
migra dos meios acadêmicos para as políticas de Governo e se insere, cada vez mais, no dia-a-dia das
populações, pondo em questionamento todo o modelo de desenvolvimento, reformulando processos e
determinando novas posturas.

            Hoje, o grande desafio para a intervenção pública no meio rural é compatibilizar o aumento da renda
da atividade rural com a conservação dos recursos naturais. É difícil pensar em proteção do patrimônio
natural como bem de uso comum, quando as populações que convivem diretamente com esses recursos se
situam abaixo da linha de pobreza. Isso nos faz considerar novamente a necessidade de compatibilização
entre crescimento econômico, progresso tecnológico, melhoria da qualidade de vida e preservação ambiental.
A compreensão dos problemas ambientais com os quais a sociedade capixaba se depara atualmente passa,
em grande parte, pelo entendimento do modelo de ocupação do território estadual.

            Os impactos ambientais desse processo de ocupação extrapolaram mesmo os limites da zona rural,
atingindo as principais aglomerações urbanas do Espírito Santo, sob a forma de inchaço populacional,
promovendo uma ocupação desordenada dos espaços urbanos, onde a pressão sobre áreas destinadas à
preservação é flagrante e, fundamentalmente, de comprometimento dos recursos hídricos em qualidade e
quantidade.

            No ambiente rural, os principais traços culturais dos colonizadores, tais como, mentalidade predatória,
imediatismo e individualismo, aliados às condições edafo-climáticas e ao relevo dominante, tornam os solos
altamente suscetíveis à erosão e promovem distorções negativas de toda ordem sobre o ambiente natural:
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erosão do solo rural, desmatamento descontrolado, poluição das águas, assoreamento dos cursos naturais de
água.

            Agricultura e meio ambiente são interdependentes. Portanto, não há como conceber a expansão da
atividade agropecuária e o crescimento econômico, de modo geral, sem uma profunda intervenção nos
ecossistemas, mas é possível transformar sem degradar, bastando para isso que a sociedade civil e o Estado,
ente político, definam as prioridades dentro de um enfoque macroeconômico.

            Propostas alternativas, algumas transformadas em prática bem-sucedida, estão, em número crescente,
suscitando no público a discussão de novos paradigmas para a política agrária.

A cobertura vegetal e a água

            A cobertura vegetal protege o solo contra o impacto das chuvas: as folhas que caem alimentam e
nutrem a vida no solo, além de reter umidade e filtrar a água que escorre sob as plantas, permitindo que
escorra limpa; as raízes das árvores facilitam a infiltração da água no solo. A vegetação atua como regulador
do ciclo hidrológico natural e tem grande importância na qualidade e quantidade da água disponível, conforme
Figura 4.

            A água é um elemento essencial para a vida no planeta. O ciclo hidrológico é a denominação da
interação dos processos físicos e biológicos que, em conjunto, fazem com que a água circule entre a litosfera
e a atmosfera, passando pelos estados líquido, sólido e gasoso.

Figura 4 - Ciclo hidrológico. Fonte: Boscardin Borghetti et al. (2004)

            Na figura acima, podemos observar que a energia solar provoca a evaporação e a evapotranspiração.
Assim, a água das terras, mares, rios, lagos e plantas transformam-se em nuvens para, após algum tempo,
cair como chuva ou como neve. O processo continua com a infiltração da água no solo, a qual abastece o
lençol freático ou escoa superficialmente, abastecendo córregos, rios e lagos.

            Desse modo, o homem sempre terá água para satisfazer suas necessidades, isto é, para beber, para o
asseio pessoal, de sua moradia e de seus utensílios, para o preparo de seus alimentos e para o seu lazer.

            A água é também necessária na eliminação de excrementos (águas de esgotos), na produção de


energia elétrica, em processos industriais, como meio de transporte e, principalmente, na produção
agropecuária, considerando a necessidade de irrigação das culturas e dessedentação dos animais.

            Assim, é importante que o homem satisfaça suas necessidades de água em harmonia com as
necessidades dos ambientes naturais, utilizando-a com eficiência, cuidado e respeito. Deve, portanto,
devolver a água à natureza nas condições de pureza em que se encontra em ambientes não degradados pelo
homem.

            A água da natureza e o ambiente no qual o homem vive são bens comuns, havendo instituições
responsáveis pela sua administração, as quais, entretanto, não são capazes de atuar no nível de cada
problema específico e estão impossibilitadas de solucionar todos eles. Cabe à comunidade de cada lugar a
responsabilidade social de participar nesse sentido, pois essa será uma participação em seu próprio benefício.

            As ações que causam impactos positivos ou negativos sobre o ambiente, devem ser vistas no nível de
toda a bacia hidrográfica (Figura 5), definida geograficamente pelos divisores de água, composta pelo conjunto
de toda a drenagem de uma dada região, formada por riachos e ribeirões, reunindo toda a água colhida por
eles num determinado corpo d’água.
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Figura 5 - Bacia hidrográfica. Fonte: http://www.prof2000.pt/users/elisabethm/geo8/rio1.htm

            O entendimento desse conceito é fundamental, pois a bacia hidrográfica pode tomar grande dimensão,
dependendo do rio considerado. Ao definirmos ações específicas, podemos atuar em nível de microbacias, o
que facilita o diagnóstico e a ação, após a identificação daquelas onde for mais urgente uma intervenção.

            Não podemos perder de vista que a bacia hidrográfica é tida como uma unidade, composta por um
conjunto de corpos d’água e uma grande diversidade de ambientes, nos quais são desenvolvidas atividades
econômicas que influem na vegetação, nos solos, na biodiversidade em geral e na qualidade e quantidade de
água do rio formador.

            Uma bacia hidrográfica, preservada e sem a intervenção do homem, funciona harmonicamente,
integrando um sistema energético quase perfeito. Havendo equilíbrio entre calor e luz solar, a água que cai,
escorre, infiltra-se e evapora; as plantas crescem; as sementes germinam; a terra incha-se ao molhar-se; a
fauna move-se sobre o solo e entre as plantas e as raízes das plantas absorvem água e nutrientes do solo.

            Esse equilíbrio que existe após centenas e milhares de anos configura uma ação de forças invisíveis,
mas que existem na natureza. Entretanto, o homem não pode apenas preservar a natureza como algo
intocável; ele deve ter capacidade de usá-la, realizando suas atividades, produzindo, recreando-se, vivendo no
lugar, mas mantendo o funcionamento da bacia como um sistema, buscando não alterar o ciclo hidrológico, a
diversidade da flora e da fauna, enfim, não degradando o ambiente. Para isso, deve buscar manter o equilíbrio
entre as diversas formas de energia na natureza, pois, se o equilíbrio for rompido, inicia-se a degradação.
Portanto, o homem deve manejar a bacia de forma que as energias sejam controladas e possam regular seus
efeitos sobre os recursos e o ambiente.

            Na prática desse manejo, as ações humanas devem ser muito bem pensadas e planejadas, de forma
que os recursos renováveis se renovem e os não renováveis conservem suas potencialidades, mantendo o
máximo de opções futuras possíveis.

            Uma bacia hidrográfica bem manejada significa segurança, qualidade de vida para as gerações
presentes e futuras. Isso se alcança com o enriquecimento cultural da comunidade. O esforço realizado para o
bom manejo de uma bacia hidrográfica reflete carinho e zelo pela propriedade.  

            A letra da música de César Augusto e Mário Marcos, consagrada na voz de Chitãozinho e Xororó, a
nosso ver, é um verdadeiro hino à preservação dos recursos hídricos, transmitindo em linguagem simples, do
sertanejo, uma profunda mensagem de conscientização no trato com a natureza.

O RIO
O rio vai descendo a serra
Vai molhando a terra seca do sertão
Vai formando uma corrente feito uma serpente solta pelo chão,
E a água do seu leito é leite no peito da mãe plantação
Que vai eliminar a fome e matar a sede de toda a nação
O rio vai criando filhos, vai regando o milho, o arroz e o feijão
Vai seguindo seu caminho
Segue seu destino, a sua direção,
Depois que vem a colheita o rio sente a seca dos canaviais, o bagaço do alimento e a sobra de
tudo  que ninguém quer mais
Rio, que não tem carinho, qualquer dias destes vão te dar valor
Nasce limpo e morre sujo, envenenam tudo até o próprio amor,
Será que eles não percebem que a natureza pede para viver,
Enquanto vai morrendo o rio
Nada em sua volta poderá nascer.
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POLUIÇÃO E DEGRADAÇÃO NO MEIO RURAL

            Poluição refere-se à deterioração das condições físicas, químicas e biológicas, afetando
negativamente a qualidade de vida humana, a flora e a fauna de determinada região.

            Antes de o homem aparecer na face da terra, materiais nocivos ao ambiente eram naturalmente
produzidos por meio de atividades vulcânicas, tempestades de poeiras, etc. Contudo, esses e outros materiais
sólidos presentes no ar, como partículas de sal ou poeira, essenciais aos núcleos de formação de chuvas,
eram absorvidos ou incorporados ao ambiente.

            Por longo tempo, na história da humanidade, a agricultura foi a principal responsável pela degradação
do meio, por causa do desmatamento, das queimadas e do uso inadequado dos solos. Com a revolução
industrial, esse processo foi acentuado, pois a indústria demandou espaço físico e madeira como fonte de
energia. Além disso, lançou no ar imensa quantidade de poluentes, como óxidos de enxofre e nitrogênio, que
caem na forma de chuvas ácidas, causando danos às florestas, às plantações e ao meio em geral, muitas
vezes, em áreas distantes daquelas em que foram lançados.

            No meio rural, onde a atividade principal é a agricultura, temos como principal fator de poluição do
solo, do subsolo e da água, a utilização abusiva e indiscriminada de agrotóxicos e fertilizantes químicos nas
lavouras.  Por ignorância ou desejo de lucro acentuado, aqueles que comercializam agrotóxicos estimulam os
agricultores a aplicar doses muito altas ou mistura de produtos químicos sem embasamento técnico, dando
início basicamente a três cadeias de impactos negativos.

            A primeira delas diz respeito à contaminação e à intoxicação do agricultor e sua família, mediante o
uso inadequado dos produtos.

            A segunda tem início com a contaminação do solo e da água, prejudicando a atividade biológica, na
medida em que destrói microrganismos, fungos, insetos não alvos e contaminam animais maiores, como aves,
peixes, répteis e mamíferos.

            Por fim, temos a cadeia correspondente à carga tóxica dos produtos agrícolas, que afeta a saúde dos
consumidores por não se respeitar o período legal de carência entre a aplicação do agrotóxico e a colheita, ou
por se usar mais produtos do que se deve, levando a que esse prazo não seja suficiente para fazer cair o nível
do pesticida no alimento.

            Agrotóxico é um nome genérico dado aos venenos utilizados na agricultura com o pretexto de
exterminar pragas e doenças. É também chamado de “defensivo” pelos que lucram com ele, que, longe de
defender, envenenam a vida e poluem o meio ambiente.

            Um tanto esquecido, desde os acalorados debates dos anos 80, o tema agrotóxicos deve ser retomado
pelos movimentos sociais a fim de obtermos informações sobre o uso desses produtos em âmbito regional e
de dimensionarmos o comércio ilegal, dentro do qual o produtor rural tem acesso a eles por meio da venda
direta da indústria ou de revendas no varejo, sem nota fiscal e/ou receituário agronômico. Essas e outras
práticas ilegais vêm dificultar  uma ação fiscal.

            A discussão dessa temática não deve restringir-se a uma ação de denúncia.  Mais do que isso, será 
importante a ampla divulgação das alternativas ao uso de agrotóxicos. O próprio sistema oficial de pesquisa já
dispõe de uma gama de produtos fitossanitários inócuos ao meio ambiente, utilizados com sucesso pelos
produtores rurais, mas ainda pouco ou mal difundidos. O estímulo ao uso e a divulgação da agricultura
orgânica e dos princípios da agroecologia devem nortear a agricultura em busca de uma vida melhor,
garantindo a produção de alimentos saudáveis e a manutenção do meio ambiente, limpo e isento de resíduos
de agrotóxicos.

            Enquanto não tivermos uma agricultura totalmente livre de agrotóxicos, devemos praticar um controle
de pragas e doenças com acompanhamento técnico, usando apenas as quantidades adequadas, nos
momentos oportunos, com os equipamentos apropriados de aplicação e de proteção individual. Devemos
também tomar as devidas precauções com a armazenagem, o funcionamento e a limpeza dos equipamentos
de aplicação, bem como com o destino das embalagens usadas, visando a proteger o agricultor, sua família e
o meio ambiente.

            No processo de degradação do meio, a água tem papel importante, pois, além da ação mecânica que,
pelo impacto direto e pelo escoamento superficial, causa a erosão, é um veículo de arraste de fertilizantes,
agrotóxicos, solo, parasitos e patógenos das culturas, etc.

            As águas servidas, ou aquelas já utilizadas pelo homem, cuja qualidade se tenha deteriorado, tais
como a água de irrigação, os efluentes de esgotos humanos ou provenientes de processo de lavagem de
matéria-prima, de estábulos, granjas e pocilgas, impactam fortemente o ambiente. Portanto, não devem ser
lançadas diretamente em rios, lagos ou no mar. Para tanto, devemos buscar alternativas adequadas a cada
situação.

            Outro grave problema de degradação ambiental diz respeito à disposição dos resíduos sólidos, que é o
lixo gerado na propriedade rural ou na zona urbana. Mesmo não tendo a magnitude dos problemas
enfrentados nos grandes aglomerados urbanos, no meio rural e nas pequenas cidades do interior, devido à
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falta de capacidade técnica, o lixo torna-se uma grave ameaça à qualidade de vida das pessoas, pois
normalmente é disposto a céu aberto (lixões), contaminando nascentes, córregos e águas subterrâneas.

            Principalmente nos lixões das grandes cidades, encontram-se pessoas que sobrevivem como
catadores do material ali depositado. Nesses locais insalubres, crianças e adultos, sem proteção, disputam
com animais (bois, porcos, cães, ratos e urubus) o “melhor do lixo”, expondo-se a doenças e ao risco de
graves acidentes.

            Os locais de acúmulo de lixo são propícios à proliferação de patógenos, como bactérias, fungos, vírus
e vermes, e de vetores, como baratas, ratos e mosquitos, responsáveis pela transmissão de doenças, como
cólera, hepatite A, leptospirose, giardíase, triquinose, febre tifóide e outras.

            No meio rural, devem-se discutir alternativas para os lixões, tais como, compostagem, aterro sanitário,
aterro controlado, incineração e reciclagem, práticas fundamentais na gestão dos resíduos sólidos. A
educação ambiental tem seu papel nesse processo de transformação da realidade, imprescindível à melhoria
da qualidade de vida no campo e na cidade.

            A degradação do meio sofre, na atualidade, um novo ataque, que pode   comprometer  ainda mais  a 
questão dos agrotóxicos, bem como a própria existência de muitas e muitas espécies vegetais hoje cultivadas
e a qualidade de vida das populações. Trata-se dos trangênicos.

            Transgênico é qualquer organismo modificado por meio de técnicas da engenharia genética, ou seja, é
qualquer organismo no qual se tenha introduzido uma ou mais seqüências de DNA (genes) provenientes de
uma outra espécie, ou uma seqüência modificada de DNA da mesma espécie.

            Com a transgenia, a ciência é capaz de modificar seres vivos com a agilidade que uma experiência de
laboratório permite, acelerando modificações genéticas naqueles organismos que a natureza demorou
milênios para constituir. No entanto, ao mexer nos genes, onde estão as informações de como é o ser vivo e
de como será sua descendência, o homem pode estar introduzindo modificações imprevisíveis.

            Estamos preparados para um eventual acidente nesse processo de manipulação genética? Quais as
conseqüências para o ambiente e o próprio homem? Quais as implicações éticas? Quem produz transgênicos
e para quê? Essas são questões que o Brasil deveria estar discutindo exaustivamente. Mas não está.

            Em um texto produzido por diversas ONGs,1 são listados dezenove problemas relacionados com o uso
dos transgênicos. O órgão do Governo responsável pela pesquisa agropecuária e as empresas que detêm as
patentes dos organismos produzidos tentam fazer crer que esses produtos são inofensivos e, mais ainda, que
são a grande saída para a agricultura, no enfrentamento do problema da fome e na conservação do meio
ambiente.

            Diante de pontos de vista tão antagônicos, é preciso que a sociedade tome consciência dos perigos
que os transgênicos representam e se manifeste a respeito, não permitindo que sejam cometidos erros
irreparáveis num futuro próximo.

Para saber mais

            A Carta da Terra

            Se depender do esforço da sociedade civil organizada, as futuras gerações poderão viver em um
mundo melhor. Mais de 100 mil pessoas se mobilizaram em prol da Carta da Terra,2 aprovada na França. O
documento é fruto da discussão de 46 países, incluindo o Brasil.

            Com a mesma representatividade internacional da Declaração dos Direitos Humanos, a Carta propõe
aos países envolvidos “formar uma aliança global” em respeito à terra e à vida. A iniciativa deverá ser
apresentada e assumida oficialmente pela ONU em 2002. Até lá, espera-se que o documento continue sendo
discutido.

Sugestões de sites e endereços eletrônicos

ÁGORA – segurança alimentar e cidadania – agora@ibm.net

AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa – aspta@ax.apc.org

CENTRO ECOLÓGICO DO IPÊ – centro.ecologico@torres.com.br

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA http://www.cptnac.com.br/

IBASE — Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas- www.ibase.br

FASE – Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional – fase@ax-apc.org

GREENPEACE – Associação Civil Greenpeace – gbrazil@dialb.greenpeace.org


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INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos – inesc@tba.com.br

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA – cenagri@agricultura.gov.br

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – webmaster@mma.gov.br

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM-TERRA http://www.mst.org.br/

Referências bibliográficas:

BASTOS, Elide Rugai. As ligas camponesas. Petrópolis: Vozes, 1984.

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. CPT: pastoral e compromisso. Petrópolis: Vozes, 1983.

FREI BETO. Para uma melhor distribuição da terra: o desafio da reforma agrária - versão popular. São
Paulo: Loyola, 1998.

GÖRGEN, Frei Sérgio Antônio. A resistência dos pequenos gigantes: a luta e a organização dos pequenos
agricultores. Petrópolis: Vozes, 1998.

GUERRA, Cláudio; BARBOSA, Francisco. Curso básico de formação de professores na área ambiental:
programa de educação ambiental na bacia do rio Piracicaba.  Universidade Federal de Minas Gerais – Instituto
de Ciências Biológicas. Belo Horizonte, 1996.

LINHARES, Maria Yedda Leite; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Terra prometida: uma história da
questão agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

MEINCKE, Silvio. Luta pela terra e reino de Deus. Rio Grande do Sul: Sinodal, 1987.

MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil. Petrópolis. Vozes, 4ª ed., 1990.

SANTOS, Boaventura de Souza. Pela mão de Alice: o social e o político na pós- modernidade. 2. ed. São
Paulo: Cortez, 1996.

SECRETARIA NACIONAL DO MST. Canudos não se rendeu: 100 anos de luta pela terra. São Paulo, MST,
1993.

STÉDILE, João Pedro. Situação perspectiva da agricultura brasileira: texto para o manual de monitor do
conselho popular. Brasília, 1998. Mimeogr.

VASCONCELLOS, João Gualberto. A invenção do coronel. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo -
Secretaria de Produção e Difusão Cultural, 1995.

VIEIRA, Paulo Freire; WEBER, Jacques. Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimento:
novos desafios para a pesquisa ambiental. São Paulo: Cortez, 1997.

ZANDONADI, Lúcia Helena Tose. O cotidiano escolar: da exclusão à participação. 1992. 194 f. Dissertação -
(Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Espírito Santo.

Notas

1 http://www.syntonia.com/textos/textosnatural/textosagricultura/apostilatransgenicos/index.htm#indice.

2 Para conhecer o conteúdo da carta, basta visitar o site do IBASE (http://www.ibase.br/ ).

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