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na Sala de Aula
trazem o imprevisível às nossas aulas. Importa que o professor saiba não apenas gerir,
mas reinventar o programa, tendo em conta os perfis sociocognitivos dos alunos. Esse
programas, mas a criar uma ordem dependente das motivações dos alunos e a ter em
Entre as caraterísticas dos alunos dependentes das suas histórias de vida situam-
2006) está atenta à expressão pessoal de cada aluno, porque o insucesso começa com
criam antipatia para com uma disciplina. Lembremos a relação entre linguagem e
por meio delas que passa a existir” (1996, p.108). As caraterísticas da linguagem dos
cooperar com alunos com necessidades tende a desaparecer quando verificam que, ao
terem de reformular em termos simples certas noções, estas se tornam mais claras
também para eles-próprios. A dinâmica cooperativa pode ter assim uma função de ajuda
por certos alunos uma cooperação constante com colegas menos dotados. O que implica
procura ajudar os alunos frágeis, mas estimulando também os melhores alunos, como
vou propor.
Esta estratégia pressupõe que o professor reflita em que medida alguns objetivos
são fundamentais e estruturantes pois é pelo menos esses objetivos que todos os alunos
objetivos 2,5,8, como fundamentais, por confronto com outros menos importantes
(1,3,4,6,7,9):
Objetivos do programa
1 2 3 4 5 6 7 8 9
outros 1º t outros =2 =2
todos
2º t
alunos p/ consolidação
pode não ser o primeiro implicado pelo currículo oficial), a estratégia vai permitir que
alguns alunos consolidem, num segundo "tempo" (2ºt, no esquema acima), com auxílio
docente alguma disponibilidade para ajudar mais diretamente os alunos mais frágeis.
destes “tempos” diferenciados que incluam trabalho para grupos com necessidades e
outros trabalhos para grupos de alunos mais avançados. Mas, sublinhe-se, os grupos de
trabalho não serão fixos, pois, face a uma determinada necessidade em alunos que vão
constituir um determinado grupo, estes, logo que aquela necessidade seja superada,
sala de aula. A finalidade desta estratégia é que os alunos mais frágeis fiquem a
uniforme para todos os objetivos, como é tradicional, o resultado é que os alunos mais
frágeis se sintam perdidos num nevoeiro de palavras e ocupem o tempo com outras
modo a desencadear desejo de procurar soluções para essas situações. Na última parte
escritas numa página ou meia página, para serem lidas à classe, de modo a evitar
quebrar do interesse.
- A quarta condição é a de que a função de porta-voz dos grupos seja sorteada entre os
participantes ou pelo menos negociada só no final dos trabalhos, para que alguns
caraterísticas dos estudantes traz à aula uma atmosfera oficinal e “uma disciplina
cada jovem, com a assistência mais discreta ou mais atenta do professor segundo as
necessidades dos alunos, mas em que todos tenham tarefas a cumprir, leva à
participação de todos os jovens nos trabalhos da aula. Por outro lado, uma orientação
por todos os alunos, mas incentivando todos a avançarem, na medida do possível, para
objetivos de desenvolvimento, são uma garantia de uma escola e de uma sociedade mais
três métodos.
Método expositivo, para lá da aparente facilidade
O método expositivo não desaparecerá numa escola atualizada. Mas deve ser
evoluir nos seus conhecimentos e representações” (2008, p.204). Este método vai
Sobre a terceira fase, sublinhe-se a preocupação com a significação dos conceitos para
direta” desses conceitos que possa propiciar a organização de “mapas concetuais”. Mas
mais complexas. Como acima propus, certos conceitos e competências podem ser
apreendidas por alguns alunos num primeiro momento, mas outros alunos podem
quadro nº 3.
implica uma atitude ativa de diálogo, de reflexão sobre aspetos relativos aos processos
mais que aos produtos, para consolidação das noções essenciais, de modo a promover a
cada vez mais complexa. Essa complexidade põe à prova a eficácia dos professores. O
cada aluno. Mas já sublinhei que o professor ou outros alunos, na própria aula, podem
ajudar alunos com dificuldades em noções básicas, já consolidadas por outros alunos – e
com o aluno, mas que, se envolve os primeiros anos de escola, também implica, em
modo como acompanham a organização escrita e oral pelos alunos dos conceitos a
apreender. Essa ajuda pode ser fundamental, quer se trate de notas ou textos mais
avaliação formativa, sobre quaisquer textos, incluindo os textos incluídos nos testes de
Nos vários níveis de ensino, importa exemplificar, por exemplo, como dividir os
longos parágrafos das primeiras versões de textos dos estudantes (descobrindo, por
correspondente lugar dos… pontos finais). Tal é uma primeira organização de um texto,
professor na sua disciplina, pois disso depende a organização do discurso de cada jovem
Contra este método, eis algumas objeções correntes: O aluno descobre sozinho
conceitos e leis que o debate entre os cientistas levou séculos a criar? O método de
descoberta não é puro engano e perda de tempo? A estas objeções (frequentes entre
professores e nos media) responde-se que o método de descoberta (ou “modelo crítico”,
Lebrun) não funciona sem o apoio discreto ou forte do professor, consoante a sua
adaptar a uma aprendizagem para toda a vida” (2008, p.205). Esse o desafio, continua
Lebrun, aplicável à escola de um modo geral: “os atributos enunciados são geralmente
os objetivos deste método são ajudar os alunos a formular problemas, procurar respostas
páginas de Lebrun (2008, pp. 157 a 162) que, no quadro n.4, se integram com alguns
pormenores de Arends:
equipas o vão realizando, deve também aplicar-se aqui, o que significa que o aluno não
outro lado, se Lebrun chama a este método “aprendizagem por solução de problemas”,
não exercícios construídos “para revelar o funcionamento de uma teoria” (p.157). Nesse
aluno a manipular problemas “para acionar noções adquiridas” (caso dos exercícios ou
problemas só no fim das aulas ou dos manuais escolares). Propõe, por isso, uma
estratégia ativa que desenvolva nos estudantes a curiosidade pelo saber e a capacidade
Alguns autores (Fabre, 1999, 2008; Gerard e Roegiers, 2003; Meirieu, 2004)
conceitos mas desconhece outros que a situação desafia a encontrar. De um modo mais
geral, pode pensar-se que os capítulos dos manuais ou as aulas devem começar por
adotado por Flemming e Levie (1993), que emerge de uma discrepância entre uma
os alunos possam fazer mais do que limitar-se a receber informação sobre factos, isto é,
que sejam chamados a agir, a construir o seu conhecimento, a um nível mais exigente, o
problema e não o teorema, sobre a invenção mais do que o já encontrado» (p. 87),
francês, “situations-problèmes”):
a) O aluno deve ser capaz de intervir na resolução de problemas, poder
imaginar o que o problema necessita como tipo de solução possível (…), o
problema deve permanecer na zona de desenvolvimento próximo do aluno.
Nem demasiado perto nem longe demais daquilo que já sabem. (p. 90);
b) Os conhecimentos dos estudantes normalmente são insuficientes para
resolver o problema de imediato. Isto reflete as características de um
verdadeiro problema (p. 90).
Mas Fabre acentua o que outros autores deixam implícito quando definem
situações ou para novas situações, pois explicitamente declara que “os conhecimentos
Por outras palavras, na nova situação problemática deve haver aspetos inovadores que
mencionada acima.
num mesmo momento tarefas de consolidação para alunos mais difíceis com
alunos mais dotados de autonomia – o que deixa ao professor algum tempo para ajuda
aos mais frágeis. Seguem algumas situações que poderão ser adaptadas a outras
disciplinas.
manuais) tendem a apresentar fatos históricos como algo indiscutível. Daí resulta que,
nas intervenções ou nos testes, os estudantes tentam lembrar esses fatos em atividades
situadas em níveis elementares de taxonomias. Pode um professor ou um livro de
história levar os alunos a interpretar as fontes e a propor a sua visão pessoal da história e
façam a sua própria interpretação da história, analisando fontes, por vezes com
historiadores.
dedicatória ao papa em que o autor explica que resistiu à publicação dos seus pontos de
vista, por medo da crítica. Na mesma página, o livro apresenta algumas frases da
lado dos dois textos, é sobre “o que encontram de comum às duas fontes”. A segunda
Concluamos que este modo de estudar parece promissor para a generalidade das
disciplinas pela reflexão crítica realizada em tarefas de grupo que levem a desenvolver a
escolares/livros didáticos (no Brasil) e pelos diferentes media. Para todas as disciplinas,
trabalhei uma dúzia de anos, ao pretender que os alunos lessem o volumoso romance
“Os Maias”, de Eça de Queirós, constatava que eles se limitavam aos resumos de
variada proveniência. O modo de suscitar curiosidade pela leitura dessa obra foi
vivências dos estudantes. Mas um outro problema surgia: vários alunos tinham clara
conhecidos, por exemplo o uso do discurso indireto livre). Esse grupo de alunos foi
para ajudar aquele grupo de alunos a consolidar a competência de leitura. Esclareço que,
sobre as problemáticas que seguem e que foram acolhidas por grupos de alunos que se
largamente desejada, foi a de pedir para descreverem como descobriu Carlos a vocação
de médico.
- Outra problemática: Pedro e Carlos tiveram educação diferente; como foi essa
educação e que influência teve nas suas vidas, sabendo que, face a problemas
Eduarda, depois que Castro Gomes a descreveu a Carlos como alguém que vivia “por
conta” dele e que agora passaria a viver “por conta” de Carlos, tentou ou não, apesar
dessa imagem da sua situação pessoal, influenciar Carlos no sentido de este levar a sério
(2008), que exemplifica com o clássico "Não matem a cotovia", ou com a proposta de
Freire (1970) quanto a "temas geradores", em relação com a realidade dos educandos,
como forma crítica de pensar o mundo (1970). Esta abordagem parece extensível à
Das situações problemáticas aos conceitos: sem molhar os pés… calcular a largura
de um rio
casos de “triângulos congruentes” (no Brasil): proporcionalidade dos três lados desses
ângulo por eles formado. No fim vem uma lista de “exercícios”. Esta ordem de
aplicações. Os livros didáticos podem fazer chegar aos conceitos através de situações
admitindo que, nalguns momentos do exemplo que vai seguir-se, o professor tenha de
dar uma ajuda. E admitamos ainda que a inserção de situações deste tipo ocupa mais
páginas que o modo expositivo. Mas pressupomos que a inserção, em certos momentos
do livro, possa desencadear alguma apetência e aptidão para a “descoberta” dos
conceitos de um programa.
Sem molhar os pés, calcular a largura de um rio – não será um problema capaz
(mas sem o desafio de calcular “sem molhar os pés”…), numa série de outros
exercícios, algo de habitual nos manuais e nas aulas, como se disse. Mas esse problema
parece mais complicado que um outro, que também pode ser motivador, incluído
depois. Este pede que se calcule a altura de um tronco de árvore, cuja sombra mede 2
metros, confrontando-a com a altura de uma haste ou cabo de vassoura de 1,20 cuja
Tronco da árvore
haste de vassoura
sombra sombra
Fig. nº 1
uma árvore … sem ter que subir nela. Será fundamental que o texto, com ou sem
gravuras, leve os alunos a perceberem que a sombra do tronco da árvore aumenta mais
respetivos tamanhos. Admito que a reflexão dos alunos (com ou sem a ajuda do
professor) os leve a conhecer a altura da árvore através de uma regra de três simples.
Então o texto, a partir da proporcionalidade dos dois lados de cada ângulo aos
lados do outro ângulo, cada um a cada um, e com a constatação de que se trata de
ângulos iguais, acrescentaria que com um terceiro lado (acima simulado com uma linha
descontínua) cada ângulo passaria a triângulo, donde resultaria aquilo que se designa
como triângulos semelhantes ou homólogos (neste caso com base num ângulo reto mas
que noutros casos poderia ser agudo ou obtuso). Assim, aquela situação problemática
molhar os pés que, por ser mais difícil, como disse, deveria, no manual, vir depois do
problema da árvore. A proporcionalidade de pelo menos dois lados, cada um a cada um,
rio X 4m
12m 5m Fig.nº2
O esquema reproduz uma figura do manual mencionado, e o X significa a
largura do rio que se pretende conhecer. Como se vê, no triângulo retângulo mais
pequeno, desenhado ao lado do rio, indica-se a medida dos dois catetos e no outro
pois o outro cateto desse triângulo retângulo constitui a largura do rio, que se pretende
descobrir. Também aqui a reflexão sobre uma proporcionalidade direta levará os alunos
que será tanto mais acessível se o problema do cálculo da altura da árvore preceder o da
largura do rio.
de transferência de uma situação para situação relativamente nova (Fabre, 1999) que
competências.
vassoura, sombra e hipotenusa? Então um não é maior que o outro? Não se ria
entre dois objetos. Mas o adjetivo proporcional seria o mais “realista”. Como
exemplifico também noutros momentos deste trabalho, a questão da linguagem não é
despicienda.
O que a minha experiência com este manual me mostra (e imagino que isso se
poderá passar com muitos alunos) é que com base na curiosidade e intuição se podem
método expositivo, mas de fundo dialógico, para chegar a noções como a de triângulos
chegar aos conceitos matemáticos? Pelo menos com alguma frequência, para que o
interesse dos alunos seja despoletado. Ora, como disse, no manual analisado, estes
de Mileto calcula a altura de uma pirâmide, que, embora interessante, parece mais
podem ser de origem escolar, vindos dos laboratórios, vindos dos manuais ou problemas
extra-escola – que são os mais motivadores…Nas aulas de Língua Portuguesa não será
realismo) consignados nos programas? Por outro lado, nas aulas tradicionais insiste-se
argumentação.
Numa entrevista de que dou conta noutra obra (2005), perguntava um aluno por
que razão não se deveria partir da observação da Ponte 25 de Abril (comprida ponte
situada entre as duas margens do Rio Tejo em Lisboa) para depois estudar os conceitos
professores respondeu que tais questões poderiam ser analisadas pelo menos de modo
pedindo para se afastarem e pararem logo que as paredes em alumínio do recipiente não
deixassem ver a moeda. Ao juntar água a pouco e pouco e estando os jovens imóveis,
água serve de lente? - perguntava um dos jovens. De algum modo, dizia a professora,
pois os raios de luz, que a moeda recebe do Sol e que nos envia, e que nos fazem ver a
moeda são… refratados pela água. Refratados? Quê? – perguntava um dos jovens. A
“refratado”. Mas pensei que “refratado” pode também ser explicado a partir de
“fratura”, pois os raios luminosos são, neste fenómeno, de algum modo “fraturados” ou
momento aos alunos ver a moeda pois eram “dobrados em ângulo” pela água. “Dobrar”,
palavra da linguagem corrente, para introdução do conceito de refração, motivado por
Robert Yin (2005) insere uma interessante descrição de uma escola japonesa
(p.38). O autor dessa descrição ficara surpreendido com um certo ruído nas salas de aula
cubo. Antes de tudo o mais, o professor pediu aos alunos que escrevessem nos cadernos
diários o que sabiam sobre esse conceito. Depois pediu-lhe que em grupos construíssem
seguinte. Aquela situação problemática iria levar os alunos a, digamos, “verem bem”
me desta leitura, perguntei quantas faces ou lados tem um cubo a um jovem português
de 12 anos, que hesitou, disse primeiro quatro, depois cinco. Com aquela metodologia,
desencanto de uma grande percentagem dos jovens pelo saber aí ministrado obrigam
imperativamente a refletir sobre uma necessária mudança da instituição escolar e levam
até alguns futurólogos a diagnosticar ou a antever a sua substituição por outros modelos
educativos.
são chamados mais do que nunca (como propõe Fullan numa obra emblemática, 1993) a
assistência pessoal de forma a responder aos diferentes perfis dos jovens e a promover
“discursos” envolventes.
Referências
Arends (2008). Aprender a ensinar. Madrid: Mc-Graw-Hill
Fabre, M. (2008). Philosophie du problème et pédagogie de la connaissance (Dewey,
Bachelard, Deleuze, Meyer). Paris: Vrin
Fabre, M. (1999). Situations-problèmes et savoir scolaire. Paris : PUF
Fleming, M., & Levie, W.H. (1993). Instructional message design: Principles from the
behavioral and cognitive sciences (2nd ed.). Englewood Cliffs, NJ: Educational
Freinet, C. (1973). Para uma escola do povo. Lisboa: Presença
Freire, P. (1970). Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra
Fullan, M. (1993). Changing forces. Probing the depths of education reform. Londres:
Palmer Press
Heacox, D. (2006). Diferenciação curricular na sala de aula. Porto: Porto Editora
Gerard, F.-M. e Roegiers, X. (2003). Des manuels pour apprendre –
Concevoir,évaluer, utiliser. Bruxelles : De Boeck
Lebrun, M. (2008). Teorias e métodos pedagógicos para ensinar e aprender. Lisboa:
Horizontes Pedagógicos
Meirieu, PH. (2004) Faire l’école, faire la classe.Paris: ESF.
Perrenoud, Ph. (2000). Pedagogia diferenciada. Das intenções à ação. São Paulo:
Artmed
Vigotsky 1996. Pensamento e linguagem. São Paulo, Martins Fontes
Yin, R. K. (2005) (editor). Introducing the world of education. A case study reader.
Thousand Oaks: Sage Publications