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Trabalho induatritll 9
II se transferido da terra para o capital (que ele vê de for-
ma reificada como dinheiro ou meios de produção) e,
Entre os intelectuais não-marxistas, a chamada separa- mais recentemente, para o talento dos especialistas or-
ção entre propriedade e controle nas grandes empresas ganizado de forma coerente, ou seja a tecno-estrutura.
tem sido saudada (em graus diversos) como um indica- O autor adverte para o fato de que, em termos da
dor de mudanças estruturais do capitalismo, que apon- "pedagogia econômica tradicional", a tecno-estrutu-
tam para a superação de todo o sistema, quando não de ra não pode ser considerada propriamente um fator de
suas principais características e, por extensão, apontam produção. 53 Mas afirma que ela se tornou fundamen-
para a superação da teoria marxista para explicar a no- tal para a produção na medida em que, com o crescimen-
va situação daí decorrente.s! to das empresas, o volume de informações necessárias
O estudo que possivelmente causou mais polêmicas para geri-la assumiu tal porte que dificilmente um in-
a este respeito foi o de James Burnham, no início dos divíduo ou um pequeno grupo poderia, sozinho, dispor
anos 40,46 apesar de não ser o primeiro a falar neste te- de todas elas.
ma. Antes dele, Berle & Means já consideravam a pos- As exigências da tecnologia e organização seriam as
sibilidade de o controle das grandes companhias se "variáveis" determinantes desta nova situação, na gran-
transformar numa "tecnocracia puramente neutra, de empresa e na sociedade. São para o autor tão impor-
equilibrando exigências diversas de diferentes grupos na tantes que ele dedica um capítulo inteiro às semelhan-
comunidade.' '47 Podemos ainda nos reportar ao traba- ças entre o sistema capitalista e socialista desenvolvidos
lho de T. Veblen, de um momento anterior ao de e em outros momentos (diversos) afirma que não é da
Burnham, também, no qual se encontra esboçada ini- "ideologia" que decorrem estas transformações e que
cialmente a hipótese que Burnham utiliza na teoria da a "culpa" delas é do engenheiro. 54
revolução dos gerentes. Na verdade, Veblen fala da re- Estas mudanças estão ligadas a uma transformação
volução dos engenheiros contra o capitalismo, em lu- mais ampla, que, segundo Galbraith, consiste na subs-
gar da presumida revolução dos operários.48 tituição da economia de mercado por uma economia
Burnham, por sua vez, chama a atenção para a se- planejada em parte substancial.v
paração entre a propriedade e o controle dentro das As grandes empresas não precisam se submeter ao
grandes empresas, em função da dispersão da proprie- mercado; controlam significativamente o mercado de
dade do capital, a partir do fracionamento das ações49 diversas maneiras: planejam não só o que produzir, co-
e da emergência da gerência. A partir desta separação, mo também quanto produzir e a que preço; planejam
antevêa "sociedade gerencial", que não é capitalista também o consumo (tanto a distribuição como, através
nem socialista, não se orienta pela busca do lucro e tem do Estado, até a regulação da procura conjunta), pois,
nos gerentes a nova classe dominante. Bottomore res- segundo o autor, o volume de investimento em tempo
salta que Burnham apresenta sua teoria de modo mais e dinheiro se torna enorme justamente no momento em
elaborado que Veblen, distinguindo entre os gerentes que a demanda se torna mais fluida. Isto ocorre tanto
"técnicos" (engenheiros, cientistas) e os "dirigentes e em função do aumento de renda decorrente da produ-
coordenadores do processo de produção. Estes são os ção e tecnologia aumentadas, como em função do tipo
gerentes par excel/ence" .50 Ainda assim, sua teoria é re- de produtos, de caráter não propriamente essencial, que
lativamente tosca e não vale a pena que nela nos dete- a indústria moderna engendra continuamente, em seu
nhamos. Foi mencionada, entretanto, porque inspirou processo de diversificação.x
outras formulações mais sofisticadas que, de modos va- O planejamento surge como processo racional de mi-
riados, se prendem ainda a algumas de suas linhas ná- nimizar riscos em todos os momentos do processo de
sicas, tendo ramificações inclusive no Brasil.t! produção e circulação das mercadorias. Aliado ao re-
Esta problemática é tratada com mais clareza e cui- lativo controle das grandes empresas sobre o mercado,
dado por J .K. Galbraith, através da noção de tecno-es- faz com que os objetivos destas se desloquem da maxi-
trutura. mização de lucros para uma gama de outros.>?
Este deslocamento, contudo, decorre também e prin-
A tecno-estrutura designa um grupo de pessoas que, cipalmente do fato de que o controle dessas empresas
organizadas formal ou informalmente, contribuem com mudou de mãos e, por isso, seus objetivos passam a ser
seus conhecimentos especializados para a tomada de de- ditados pelos interesses e motivações da tecno-estrutu-
cisões na empresa. Inclui a junta de diretores, mas não ra. Deduzindo os objetivos das grandes empresas a par-
se limita a ela (ou ao que se conceba normalmente co- tir das motivações psicológicas e necessidades de sobre-
mo a alta administração), e exclui os operários de pro- vivência dos componentes da tecno-estrutura enquan-
dução, bem como os funcionários burocráticos e de es- to organização, Galbraith explica como a maximização
critório e vendas, que apenas realizam as rotinas admi- dos lucros foisubstituída pela maximização do cresci-
nistrativas. Exclui, também, a grande maioria dos acio- mento, acompanhado pelo que ele chama de um certo
nistas, que se liga à empresa apenas pelo vínculo de pro- virtuosismo tecnológico, ao lado de um nível garanti-
priedade e não participa, a não ser pro forma, das deci- do de ganhos (não-maximização) e de outros objetivos
sões. Enquanto grupo, é a tecno-estrutura que toma as que, subordinadamente, se voltam para a comunida-
decisões na empresa. É para ela que passa o poder da de.58
empresa e da sociedade, segundo Galbraíth.x Através do que denomina de princípio da
Sua explicação para este deslocamento do poder tem coerênciaw e de sua tipologia de motivações, tenta de-
um cunho marginalista: Galbraith associa o poder com monstrar que estes objetivos que a tecno-estrutura de-
o "fator" de produção cuja oferta marginal seja a mais fine para a empresa em função de seus (da tecno-estru-
inelástica em cada momento histórico. Daí o poder ter- tura) interesses particulares encontram respaldo na so-
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te ângulo, reconhecem uma mudança significativa em cipar de um jogo de beisebol. Afirmam que aí é irrele-
relação à fase concorrencial do capitalismo. O poder na vante se o jogador é amador ou profissional, se joga por
empresa é exercido a partir de dentro dela, pela admi- prazer ou por dinheiro. Uma vez em campo, tem que se-
nistração. Esta inclui a junta de diretores e seus auxi- guir as regras do jogo.
liares imediatos, tendo, portanto, um caráter bem mais De forma análoga, não são as motivações subjetivas
restrito que a tecno-estrutura de Galbraith. dos dirigentes que se transformam nas finalidades da
Entretanto, apesar de mostrarem uma série de dife- empresa gigante. Ao contrário, são as exigências obje-
renças entre o dirigente antigo e o moderno da empresa tivas do sistema que determinam a psicologia de seus
(um é pai, outro é filho da organização, um roubava da membros. A carreira do executivo consiste em ele ascen-
empresa, outro rouba para a empresa etc.), enquanto der dentro de uma empresa. Para isto tem de promover
individualidades típicas, apressam-se os autores a dizer a ascensão desta. (O topo da carreira é estar no topo de
que nem por isto" a administração em geral está divor- uma grande empresa.) E ele só pode trabalhar nesta di-
ciada da propriedade em geral" .67 Apoiando-se em ob- reção se lutar por altos Iucros."! Deduzir os objetivos
servações de Wright Mills e outros.ss buscam mostrar da empresa a partir dos objetivos da tecno-estrutura
que os dirigentes das grandes empresas são, na maioria equivale, segundo estes autores (com razão, a nosso
das vezes, recrutados entre os estratos de renda mais al- ver), a se manter preso ao ranço psicologizante do uti-
ta, confundindo-se muitas vezes com os "muito ricos" litarismo do século XI. 72
de Mills e são eles próprios, em sua maior parte, acio-
nistas da empresa que dirigem e/ou de outras. Assim, Baran & Sweezy avançam mais do que isto em sua
tanto por sua origem como pela posição que ocupam análise da empresa gigante, através da idéia da institu-
com relação à estrutura social, os dirigentes das gran- cionalização da função capitalista, que corresponde, se-
des companhias são a camada mais ativa da classe dos gundo eles, à "substituição do capitalista individual pelo
proprietários e seu escalão principal.e? capitalista da sociedade anônima" . 73 Com esta institu-
cionalização, o capitalista deixa de ser o empresário e
A contraface da relação entre capital e controle é o passa a ser a própria empresa.r- Com isto transfe-
alvo que a empresa perseguirá como objetivo. Aqui tam- rem-se para a empresa não só as funções de acumula-
bém há diferenças na abordagem de Galbraith e de Ba- ção de capital, como também as de sua representação
ran & Sweezy. A nosso ver, estes últimos avançam a (com as despesas dela decorrentes, como ostentação,
compreensão do fenômeno, tanto pelo ângulo dos ob- "filantropia" etc.) Assim é a "alma" do velho capi-
jetivos em si mesmos, como pelo da relação entre estes talista que passa para a empresa, só que num contexto
e o grupo que tem poder de decisão dentro da grande de muito maior racionalidade e eficiência; nestes ter-
empresa. mos, a separação entre a propriedade e o controle pode
De fato, Baran & Sweezy, apoiados em Farley, cor- ser percebida com mais clareza como a burocratização
rigem a noção corrente de maximização de lucros, que da figura do capitalista. Mas Baran & Sweezy não levam
tem uma conotação de maximização absoluta e por is- esta idéia às últimas conseqüências, prendendo-se a ar-
to mesmo pressupõe por parte do empresário (ou dos gumentos como o que vincula os dirigentes às empre-
executivos) uma onisciência que ele não pode ter. Na sas por relações de propriedade (ações da empresa que
verdade, a maximização significa o máximo possível dirigem ou de outra, riqueza de família), que limitam
dentro das limitações de conhecimento de que dispõem muito o caráter desta separação.t- Ora, é necessário
os empresários (atuais ou passadosj.tv Neste aspecto, que o administrador seja ele próprio um capitalista pa-
temos que concordar com eles que a grande empresa ra exercer a função de capitalista?
tem, na pior das hipóteses, muito mais condições de ma-
ximizar seus lucros que sua antecessora. Mas além dis- Lúcio Magri permite avançar um pouco mais a com-
to, a maximização não deve ser tentada a ponto de com- preensão desta problemática, respondendo a esta ques-
prometer o lucro futuro (neste aspecto aproximam-se tão, através de uma explicação até curiosa. Segundo este
de Galbraith) pois a grande empresa tem um horizonte autor, há uma contradição latente no fato de a pessoa
temporal muito mais amplo que a pequena, na medida do capitalista ser proprietária das riquezas que se tor-
em que não morre (ou ao menos, não deve morrer) junto nam capital. Senão, vejamos.
com seus proprietários. Finalmente, se os objetivos de- "Ainda que não nos seja possível fazer aqui uma de-
clarados da grande empresa são taxa de crescimento, monstração completa, como o exigiria nosso propósi-
forte posição no mercado e outros no gênero, apenas to, parece-nos razoável afirmar que entre o conceito de
a alta lucratividade pode financiá-los. Neste sentido, o capital, tal como Marx o analisou e definiu, e a forma
que ocorreu na passagem da pequena para a grande em- de propriedade burguesa, individual e absoluta, extraída
presa não foi o abandono da maximização do lucro, mas do Direito Romano e representada pelo empreende-
sim a racionalização de sua busca, se não como fim úl- dor-proprietário do capitalismo concorrencial, existe
timo, como meio para realizar os outros fins a que a uma contradição latente, porém grave. Um tipo de pro-
grande empresa se propõe. priedade que sanciona um direito do homem sobre a coi-
sa, sem levar em conta as formas de seu emprego, limi-
A racionalização da busca do lucro por sua vez não ta objetivamente a autonomia e o dinamismo do "ca-
deriva simplesmente de motivações objetivas dos diri- pital" (que é uma forma precisa e definida de utiliza-
gentes. Ainda que eles próprios sejam em sua maioria ção da riqueza acumulada) e tende, assim, a subtrair
capitalistas (no sentido de proprietários) e por isto re- uma parte importante dessa riqueza ao processo de pro-
presentem o interesse do conjunto da classe, Baran & duçãodemais-valia. Assim, a identificação, no burguês,
Sweezy comparam o dirigir uma empresa com o parti- da personagem do empresário com a do proprietário re-
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Assim, concordamos com Baran & Sweezy quando à socialização do capital e "de outro lado" às alterações
afirmam que a "administração em geral não está divor- no domínio do capital sobre o produtor direto.
ciada da propriedade em geral", mas a base desta con- Ora é preciso integrar estas duas dimensões que es-
cordância é outra; o não-divórcio existe não em função tão apenas justapostas na formulação de Lima & Bel-
dos vínculos pessoais ou familiares de propriedade dos luzzo. E o trabalho de Braverman dá boas pistas para
administradores e, sim, em função do grau de objeti- isto.
vação das relações de produção atingido no capitalis-
mo monopolista. E este não se dá apenas em função de A transformação de figura do capital tem muito a ver
escala social atingida pelo capital, como veremos. com as formas pelas quais se desenvolveu o controle do
capital sobre o trabalho no processo de trabalho.
Belluzzo & Lima chamam a atenção para isto ao dis-
cutirem uma das teorias sobre a superação do capita- O volume de informações necessárias para "tomar
lismo por um suposto modo de produção tecno-buro- as decisões" aumentou muito, não só porque as empre-
crático. Baseando-se em Marx, tanto o de O capital co- sas cresceram. Aumentou também porque, à medida
mo o do Capítulo Inédito, criticam a referida teoria, que elas cresceram, o processo de trabalho se bifurcou
afirmando que nela a "supressão do capitalista indivi- no fluxo das coisas e no fluxo dos papéis. O crescimen-
dual é percebida quase como o resultado de uma cons- to do fluxo de papéis não foi, portanto, meramente "ve-
piração pelos burocratas para desapropriarem os capi- getativo" .84 E isto ocorreu não em função de um pro-
talistas, e na qual a organização aparece como o instru- cesso genérico de sofisticação tecnológica (como pode-
mento quelhes permite realizar seu intento" .81 Cabe ríamos ser levados a concluir com base em Galbraith),
notar que esta percepção aparece em graus diversos não mas sim em função do processo de desenvolvimento da
só em Bresser Pereira, cujo trabalho, no casá, é o obje- dominação do capital sobre o trabalho, que se foi em-
to de exame de Lima & Belluzzo, como também nas for- butindo no desenvolvimento de uma tecnologia deter-
mulações de Burnham, e Galbraith, e orienta a "rea- minada e de uma racionalização determinada do pro-
ção" de Baran & Sweezy. cesso de trabalho.
Segundo Lima & Belluzzo, "o elo que se perdeu em Esta bifurcação do processo de trabalho, enquanto
tal raciocínio (... ) é a percepção de que o processo de forma e resultante da dominação real do capital sobre
constituição das relações especificamente capitalistas de o trabalho no processo de trabalho, fez com que a fun-
produção se traduz simultaneamente por uma crescen- ção do capitalista não só se ampliasse, como também
te objetivação dessas relações (... ) Isto se dá do ponto passasse a ser desempenhada gradativamente por um
de vista do processo de trabalho, como já considerado, trabalhador coletivo. Em outras palavras, a institucio-
mediante uma transferência das potencialidades do tra- nalização da função capitalista e a institucionalização
balhador individual para o trabalhador coletivo e des- do controle sobre o trabalho são o verso e o reverso da
te para o sistema de máquinas, do qual o trabalhador mesma medalha, são partes de um mesmo processo, que
coletivo é mero apêndice. Do ponto de vista do capital, só pode ser compreendido se ligado ao estudo do pro-
mediante a elevação da escala mínima de produção e do cesso de trabalho e à percepção da dominação que ele
valor mínimo do capital necessário, que obrigam o ca- envolve, até pelo seu lado técnico.
pitalista a renunciar a sua propriedade individual, pa-
ra participar coletivamente, através de uma quota-par- Afinal, o que é a técno-estrutura de Galbraith senão
te abstrata, dos resultados da produção capitalista. "82 o trabalhador coletivo? O problema é que, nesta trans-
formação, o trabalhador coletivo da gerência passa a
E concluem estes autores: "Neste sentido, a organi- desempenhar dois tipos de funções, as quais apenas ana-
zação burocrática aparece como expressão fenomêni- liticamente podem ser separadas: de um lado, as fun-
ca da forma de dominação que esta propriedade abstra- ções de gerência propriamente ditas (provisão, contro-
ta exerce sobre o trabalho coletivo. Mais concretamen- le, enfim o antigo papel do antigo capitalista); de ou-
te, aparece como uma atividade de coordenação e su- tro, dada a forma assumida pelo processo de trabalho
pervisão de um processo de trabalho cada vezmais com- (em função do tipo de controle que lhe é inerente), a ge-
plexo e de gestão de um valor-capital de magnitude cres- rência assume também para si a parte intelectual do pro-
cente, o que impõe a diferenciação das funções anterior- cesso de produção material, ou seja (sem querer entrar
mente concentradas no capitalista individual. "83 numa outra discussão até agora também sem fim) as-
A objetivação das relações capitalistas pode ser me- sume uma parte (a intelectual) do trabalho produtivo
lhor compreendida, quando se leva em conta o estudo da empresa industrial.
de Braverman.
No plano empírico, estas duas funções estão acopla-
De fato, todos os autores mencionados tratam da se- das e não se pode discernir com clareza se há um grupo
paração entre propriedade e controle (aceitando-a ou de trabalhadores distinto para a execução de cada uma
não) a partir da escala da empresa e ou do capital; Gal- delas. Daí Galbraith falar em tecno-estrutura, pois den-
braith é o único que vai um pouco mais além ao se con- tro dela se desempenham estas duas funções. Daí tam-
centrar no problema do volume das informações; mas bém ele pensar no poder atribuído a ela como um todo
atribui este volume, no fundo, à escala das empresas e e afirmar que os oficialmente no topo da empresa rati-
ao seu nível de sofisticação tecnológica e não consegue ficam decisões muito mais que decidem e que, assim, o
destrinchar a natureza desta relação. poder passa para toda a tecno-estrutura. Mas através
Belluzzo & Lima, por sua vez, indicam que a objeti- do estudo do processo de trabalho que Braverman faz
vação das relações capitalistas está ligada" de um lado" percebe-se melhor algo que Galbraith apenas vislum-
Trabalho industritll IS
I Adorno, T.W. Prismas. Barcelona, Ariel, 1962. 24 Id. ibid. p. 438.
2 COHN, O. Sociologia da comunicação. São Paulo, Pioneira, 25 Id. ibid. p. 516-7. Convém lembrar: este limite no capitalismo mo-
1973. nopolista se torna de importância cada vez maior. Aparece (diferen-
temente) tanto em Marx como na formulação keynesiana da tendên-
3 Braverman, H. Trabalho e capital monopolista. Rio de Janeiro, cia à produção de um excesso de poupança; não vamos analisá-lo aqui.
Zahar, 1980.
26 Id. ibid. p. 516-7.
4 Esta questão é analisada com maior detalhe um meu artigo: A in-
dústria cultural revisitada. Revista de Cultura e Política, São Paulo, 27 Id. ibid. p. 484. Completa-se segundo Marx. Ele não viu Taylor
Cedec/Cortez, c. 7,1982. nem a Oilbreth!
5 Marx, K. O capital. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968-70 28 Id. ibid. p. 439.
livro I. p. 202. É uma passagem famosa: "Mas o que distingue o pior
arquiteto da melhor das abelhas ( ... )." 29 Id. ibid. p. 494.
6 Braverman, H. op. cito p. 54. 30 Braverman, H. op. cit. Ver, por exemplo, capo 7, p. 137, entre ou-
tras.
7 Id. ibid. 50 e 52.
8 Id. ibid. capo I. 31 Na verdade, estamos pensando não só no taylorismo enquanto for-
mulação, como também em sua utilização generalizada, que, como
9 Id. ibid. capo 11\ mostra Braverman, coincide com a revolução tecno-científica,
10 Para sermos mais precisos: Marx trata desta problemática no pla- 32 Braverman, H. op. cit. capo 4 e 8. Esta idéia da emergência empí-
no lógico (opondo a subordinação real à formal) no Capítulo Inédi- rica do trabalho humano abstrato no capitalismo monopolista é pa-
to, e em O capital trata dela em processo, cf. bem observaram Lima, ra nós um dos insights mais bonitos de Braverman.
L.A.O. & Belluzzo, L.O.M. o capitalismo e os limites da burocracia
In: Temas de ciências humanas. São Paulo, Ciências Humanas, 1978.
33 Braverman assinala uma descontinuidade entre a revolução indus-
11Marx, K. O capital. São Paulo, Ciências Humanas, 1978. Capítu- trial e a revolução tecno-científica, Mas ela diz respeito aos vínculos
lo VI (Inédito). p. 66. Em suas próprias palavras: "Na subsunção real entre ciência e indústria capitalista, bem como ao caráter intencional
do trabalho ao capital ( ... ) fazem sua aparição no processo de traba- da segunda (cf. Braverman, H. op, cit. capo 7).
lho todas as modificações que analisamos anteriormente. Desenvol-
vem-se as forças produtivas sociais de trabalho, e, por força do tra- 34 Id. ibid. capo 9. p. 169.
balho em grande escala, chega-se à aplicação da ciência e da maqui-
naria à produção imediata. Por um lado, o modo capitalista de pro- 35 Id. ibid. capo 9. p. 169 e 183.
dução, que agora se estrutura como um modo de produção sui gene-
ris, dá origem a uma figura modificada da produção material; por ou- 36 Id. ibid. capo 9.
tro lado, essa modificação da figura material constitui a base para o
desenvolvimento da relação capitalista, cuja figura adequada corres- 37 Id. ibid. capo i, p. 175. O autor refere-se aí ao desmembramento
ponde, em conseqüência, a determinado grau de desenvolvimento das do ofício de mecânico.
forças produtivas do trabalho."
38 Ver, por exemplo, Braverman, H. op, cito p. 168, 197 e 239.
12 Marx, K. O capital, livro I. vI. I. capo XI. p. 384.
39 E o próprio Braverman reconhece esta relação entre desenvolvi-
13 Id. ibid. p. 413. mento da maquinaria e capitalismo, ao mostrar que, de muitas pos-
sibilidades, apenas algumas são aproveitadas pelo capital e Braver-
14 Id. ibid. p. 417. man, H .., op. cit. p. 198.)
15 Marx distingue-entre manufatura heterogênea e orgânica, mos- 40 Bright, J.R. Apud Braverman, H. op. cit. capo 9, especialmente
trando esta última como a base para o desenvolvimento ulterior do p. 185 e segs.
modo de produção capitalista (Marx, K. O capital.cit. p. 392 e segs.),
41 Braverman mostra que este fato dá lugar a uma inversão na repre-
sentação que dele se faz a ideologia burguesa, tomando a aparência
16 Apenas a partir de determinada escala de produção justifica-se- a de ser a conseqüência de uma prévia escassez de mão-de-obra quali-
análise e/ou o parcelamento do processo de trabalho. Isto significa ficada (cf, Braverman, H. op. cit. p. 79).
que a manufatura pressupõe já uma determinada escala mínima de
produção para ser viável.
42 O processo de distribuição dá lugar, em muitos casos, a novos pro-
17 Braverman retoma de modo mais sistemático este princípio, mas cessos de trabalho através da separação dos departamentos de pro-
ele já está esboçado em Marx, que aliás cita Babbage, na p. 400 de dução e vendas em empresas distintas. Ver, por exemplo: Braverman,
O capital (nota 48 - ver Marx, K. O capital. cit. p. 400 e segs.)Di- H. op. cit. p. 256.
ga-se de passagem, em Braverman, ao menos na tradução da Zahar,
o princípio de Babbage aparece explicando de modo diferente do que 43 Braverman, H. op. cito p. 113.
consta no livro do próprio Babbage.
44 Id. ibid. p. 113-4.
18 Marx, K. O capital. cit.livro I p. 417.
45 Em um estudo recente, M.L.M. Covre mostra como esta idéia, li-
19 Id. ibid. p. 413. gada à de um Estado intervencionista que promove a "justiça social",
à do abandono da busca do lucro como ethos do sistema, à do poder
20 Id. ibid. p. 413. dos gerentes e burocratas, adquirido com base no monopólio do sa-
ber técnico, faz parte da ideologia neocapitalista pós-liberal. Cf. Co-
21 Id. ibid. p. 421. vre, M.L.M. Aformação e a ideologia do administrador de empre-
sa. Petrópolis, Vozes, 1981.
22 Id. ibid. p. 447.
46 Burnham, J. The managerial revolution, what is happening in lhe
23 Id. ibid. p. 435. world. New York, 1941.
49 Deve-se levar em conta o caráter restrito desta dispersão. Na ver- 73 Id. ibid. p. 52.
dade, a dispersão da propriedade de uma mesma empresa porínúmeros
acionistas corre paralela com a concentração e centralização do ca- 74 Id. ibid. p. 52.
pital. Trata-se do que Marx chama de "abolição do capital como pro-
priedade particular dentro dos quadros da produção capitalista" 75 O reconhecimento ou não da separação entre propriedade e con-
(Marx, K. O capital, Apud Lima, L.A.O. & Belluzzo, L.G.M. op. trole, em função da constatação d8 presença ou ausência de vínculos
cit. p. 107), da qual fala em diversos momentos em O capital e tam- pessoais (ou familiares, ou de origem de classe) de propriedade entre
bém no Capítulo Inédito. Ver, por exemplo: Marx, K. Capitulo Iné- os administradores e as empresas, é, a nosso ver, o calcanhar de Aquiles
dito. cit. p. 67. da argumentação de quase toda a literatura marxista e não-marxista
sobre o assunto.
50 Bottomore, T.B. op. cit. p. 72.
76 Magri, Lúcio. O modelo de desenvolvimento capitalista e o pro-
51 Ver, por exemplo, os trabalhos de L.C. Bresser Pereira sobre o mo- blema da alternativa proletária. In: Martins Rodrigues, L., org. Sin-
do de produção tecno-burocrático. Ver também sua crítica no artigo dicalismo e sociedade. São Paulo, Difel, 1968. p. 221.
já citado de Lima & Belluzzo.
77 ido ibid.
51 Galbraith, J .K. O novo Estado industrial. 2. ed. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, capo VI, especialmente p. 79 e 81. 78 Na verdade, esta proporcionalidade diz respeito à distribuição do
investimento pelos elementos necessários à produção. Mas nada diz
53 Id. ibid. capo V. quanto ao seu montante, Isto envolve problemas ligados à reprodu-
ção ampliada do capital que escapam ao escopo deste estudo.
54 Id. ibid. capo IX e capo m, principalmente p. 41.
79 Magri, L. op. cit. p. 221-2.
55 Id. ibid. capo l.
80 Id. ibid. p. 222.
56 Id. ibid. capo I, m e XX
81 Lima, L.A.O. & Belluzzo, L.G. de M. op. cit. p. 108.
57 Id. ibid. capo X.
82 Id. ibid.
58 Id. ibid. capo X a XV.
83 Id. ibid.
59 Segundo Galbraith, trata-se da coerência entre os vínculos que
unem as empresas à sociedade e os indivíduos às empresas (ver Gal- 84 O crescimento do fluxo de papéis é tão grande que sem ele dificil-
braith J.K. op. cit. capo XIV), mente se compreenderia o desenvolvimento assombroso de duas in-
dústrias-chave do século XX: a Xerox (e congêneres), que começou
60 Cabe mencionar que a associação de tecno-estrutura empresarial como pequena empresa e logo se tornou uma multinacional, e a in-
com o Estado é também vista como fruto da tecnologia avançada e dústria de computação que, segundo se sabe, envolveu inicialmente
não da.ideologia. Esta idéia está presente em todo o livro, embora o peças de altíssimo custo e, assim mesmo, contou com amplo apoio
autor dedique dois capítulos especialmente às relações entre Estado empresarial.
e grandes empresas. Não vamos tratar desta relação neste ensaio, ape-
sar de reconhecermos que é fundamental levar em conta o papel do
Estado para analisar o capitalismo monopolista como um todo. 85 C. W. Mill$,em A nova classe média (Rio de Janeiro, Zahar, 1969.
capoo demiurgo administrativo), mostra a burocratização da função
61 Galbraith, J.K. 'op. cit. p. 14. gerencial, bem como o caráter duplo da gerência. No topo, os altos
executivos, que são também proprietários. Nos quadros médios, os
62 Id. ibid. p. 429. gerentes comerciais e os de produção: .ambos executam tarefas pre-
determinadas e devem preencher requisitos fixos; seu trabalho é ra-
63 Braverman, H. op. cit. p. 197-8. Braverman tampouco se liberta cionalizado (p. 101); e mais adiante diz, referindo-se a estes quadros
totalmente deste fetichismo, como já mostramos. médios, que eles representam um maior distanciamento entre o K e
o T. Mas ao mesmo tempo em que eram criadas suas funções, a auto-
64 Baran, P. & Sweezy, P. op. cit. ridade era-lhes retirada; de um lado (... ) com a própria racionaliza-
ção, de outro, à medida que os quadros inferiores, como os contra-
65 Esta idéía aparece em uma gama de formulações que vão desde a mestres, assumem funções mais especializadas" (p. 106).
de Galbraith até a da "empresa dotada de alma" , de Carl Kaysen (apud
Baran, P. & Sweezy, P. op, cit. capo 2). Mas o que mudou, segundo
Baran & Sweezy, foi apenas o modus operandi da empresa (cf. Ba- 86 C.W. Mills, em A elite do poder (cit.), fala, referindo-se aos ge-
ran, P. & Sweezy, P. op. cito p. 30). rentes.na camada n? l,da qual fazem parte os muito ricos e os princi-
pais executivos e, na camada n? 2, marcada pelos' 'tipos burocráti-
66 Baran, P. & Sweezy, P. op. cit. p. 25-8. cos" de executivos, onde a especialização é componente fundamen-
tai, e que presta contas ao pessoal da camada n? 1. É entre estas duas
67 Id. ibid. p. 44. camadas que passa a linha entre o poder e o não-poder; é uma linha
substancialmente marcada pela propriedade pessoal ou familiar (ver
68 Mills, C. Wright. A elite do poder. 2 ed. Rio de Janeiro, Zahar, Mills, C.W. A elite do poder. cit. p. 145-76).
1968. capo VI, VII e VIII.
87 Sob este aspecto, faz sentido a crítica de A. Giddens (A estrutura
69 Baran, P. & Sweezy, P. op. cito p. 43-4. de classes das sociedades avançadas. Rio de Janeiro, Zahar, 1975.
p. 322-3)a Galbraith, quando, fazendo suas as palavras de G. Sarto-
70 Id. ibid. p. 48-51. ri (Technological Forcasting and politics. Survey, 16:41 e 66, 1971),
afirma que Oalbraith confunde uma situação em que "os poderosos
71 Id. ibid. p. 46-51. têm conhecimento" com aquela em que "os instruídos têm poder".
Trabalho induBtrlIlI 17