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O idoso

A existência humana é marcada, nos seus extremos, por dois fenômenos opostos, a vida e a
morte. O ser humano então, passa pela infância, atravessa a mocidade, atinge a maturidade e,
finalmente, chega à velhice. Aparecem, então, os primeiros sinais evidentes da usura de todo o
organismo (Rosa, 1983).

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS, apud Weineck, 1991) é considerado como
idoso, o indivíduo que tem entre 61 e 75 anos de idade.

São encontradas várias classificações sobre envelhecimento na literatura, contudo pode-se


observar um consenso, no qual, o indivíduo acima de 45 anos poderá dar início a várias
limitações negativas, tanto biológicas quanto psicológicas e sociais, decorrentes desse processo
de envelhecimento.

A velhice é um período de declínio caracterizado por dois aspectos: a senescência e a


senilidade. A senescência é o período em que os declínios físico e mental são lentos e graduais,
ocorrendo em alguns indivíduos na casa dos 50 e em outros, depois dos 60 anos. A senilidade
se refere à fase do envelhecer em que o declínio físico é mais acentuado e é acompanhado da
desorganização mental. Aqui, também, encontramos as diferenças entre as pessoas; algumas
se tornam senis relativamente jovens, outras antes dos 70 anos, outras, porém, nunca ficam
senis, pois são capazes de se dedicarem a atividades criativas que lhes conservam a lucidez até
a morte (Rosa, 1983).

Para Pikunas (1979), as capacidades funcionais dependem principalmente do sistema


circulatório, que fornece oxigênio, fluídos e nutrição. As paredes dos vasos sanguíneos, artérias,
veias e capilares endurecem e se tornam mais estreitas com a idade. Isto interfere na
circulação satisfatória do sangue; o endurecimento dos capilares perturba o suprimento de
nutrientes aos vários sistemas e órgãos do corpo, inclusive o sistema nervoso central,
começando a atrofia gradual dos músculos e dos tecidos, diminuindo o vigor, peso e imunidade
à infecção de órgãos vitais como o cérebro, os pulmões e o coração.

Segundo Rosa (1983), alguns dos aspectos mais visíveis do processo do envelhecimento são
as rugas, os cabelos brancos, a redução da capacidade de locomoção, a redução da força física
e a falta de firmeza das mãos e pernas. As funções sensoriais são as mais afetadas pelo
processo de envelhecimento. A capacidade de ouvir começa a sofrer reduções, há o declínio da
visão causado pela deteriorização da córnea, da lente, da retina e do nervo óptico. Ocorrem
também consideráveis mudanças nos sentidos do olfato e do paladar.

Ocasionalmente, devido a todo esse processo, há um comprometimento da coordenação


motora e uma crescente diminuição do rendimento motor desses indivíduos idosos, podendo
perceber regressões gradativas nas atividades diárias, profissionais ou psíquicas. Comparando
pessoas inativas na prática esportiva com pessoas ativas nesta fase, as diferenças individuais
são muito mais observadas, pois a pobreza de movimentos conduz à atrofia da habilidade
motora (Meinel & Schnabel, 1984).

Na velhice, a dificuldade de realizar tarefas fica evidente: as distâncias mais longas, as


escadas mais difíceis de subir, as ruas mis perigosas de atravessar. O mundo torna-se uma
ameaça para o idoso.

Assim sendo, a atividade física generalizada precisa ser vivenciada e receber mais
importância do idoso. A coordenação motora, por exemplo, se for exercitada pode amenizar os
danos causados na sua eficiência pelo processo de envelhecimento.

A coordenação motora
A coordenação motora, segundo Rauchbach (1990), é a base do movimento homogêneo e
eficiente, que exige uma extensa organização do sistema nervoso, com utilização dos músculos
certos, no tempo certo e intensidade correta, sem gastos energéticos.

É comum ouvir-se dizer que determinadas pessoas são descoordenadas e até desajeitadas,
pois, quando solicitadas, suas respostas psicomotoras a alguns movimentos não correspondem
ou são executados de forma inadequada.

A coordenação psicomotora ou neuromuscular se faz presente e é necessária em todos os


movimentos que as pessoas fazem, variando apenas no grau de solicitação. Quanto melhor for
a qualidade da coordenação, tanto mais fácil e precisamente será realizado o movimento. A
realização do movimento torna-se mais flexível e econômica, de modo que decresce o consumo
energético e, consequentemente, a capacidade máxima de oxigênio cresce em relação a uma
determinada solicitação muscular, baixando, simultaneamente, o nível de fadiga (Hollmann
apud Silva, 1998).

Segundo Van Norman (apud Silva, 1998), a coordenação pode ser trabalhada com
seqüências de movimentos e uma infindável variedade de combinações de braços e pernas.
Esta desempenha um papel fundamental na prevenção de acidentes e pode deteriorar-se
rapidamente se não exercitada. Quanto mais complicado o desempenho motor, tanto maior
será a importância da coordenação. Seu aperfeiçoamento, através da repetição, transformará
um acontecimento consciente, ligado ao córtex cerebral, em um processo de evolução
inconsciente, cuja automotricidade está entregue aos centros cerebrais secundários. Desse
modo, o córtex é aliviado por um lado, e por outro, a realização de movimentos passa a ser
dominada com mais segurança e exatidão do que anteriormente. O desenvolvimento da
coordenação resulta em maior precisão de movimento e maior economia de esforço muscular
porque há menor atividade muscular extrínseca. A precisão do movimento depende de inibição
ativa de todos os neurônios motores, exceto os envolvidos no movimento desejado.

A coordenação motora tem atributos que permitem que o corpo tenha uma estrutura
autônoma, ou seja, encontra em si mesmo sua organização. É como elemento autônomo que
ele entra em interação com o meio externo (Piret & Béziers, 1992).

Hollmann (apud Silva, 1988), faz uma classificação, quanto ao tipo da coordenação:

 Coordenação intramuscular: cooperação neuromuscular;


 Coordenação intermuscular: cooperação de diversos músculos;
 Coordenação motora-fina: harmonia e precisão dos movimentos finos dos
músculos das mãos, pés e rosto, ou coordenação dos músculos pequenos para
atividades finas;
 Coordenação visio-motora: coordenação de movimentos que são orientados
pela visão, associada a outras habilidades. Exemplos: olho- mão, olho- pés.

À medida que os anos tardios da vida se aproximam, há um declínio marcante nas


capacidades físicas devido à crescente diminuição do rendimento motor, que variam de pessoa
para pessoa, conseqüentes das inúmeras alterações do organismo humano no decorrer do
processo de envelhecimento, vistas anteriormente neste estudo.

Portanto, a eficiência da coordenação motora também é comprometida, podendo até mesmo


deteriorar-se se não for exercitada.

A coordenação motora e o idoso

Os exercícios físicos funcionam como recursos poderosos contra o envelhecimento do corpo


e da mente, eles retomam a auto-estima. As pessoas idosas beneficiam-se de uma forma geral,
especialmente com exercícios para melhoria da postura, mobilidade e eutonização da
musculatura, respiração e resistência, aumento dos reflexos, da coordenação e equilíbrio. Assim
sendo, a coordenação motora deve estar dentre os principais fatores a serem trabalhados num
programa de atividade física dirigido para o idoso.

Dentre os vários tipos de coordenação, a óculo-manual é particularmente importante na vida


dos idosos, pois as funções sensoriais são as mais afetadas pelo processo de envelhecimento,
levando a um declínio da visão causado pela deteriorização da córnea, da lente, da retina e do
nervo óptico e, também, de uma falta de firmeza das mãos e pernas. Assim, tarefas como:
abotoar as próprias roupas, escrever, digitar, cortar com faca, manipular uma agulha ou
alfinete, discar número de telefone, requerem um certo nível desse tipo de coordenação para o
indivíduo levar uma vida independente (Rauchbach, 1990).

Os exercícios de coordenação que devem ser trabalhados com os idosos devem visar os
padrões de movimentos da vida diária (é bom lembrar que pensando nisso é que o Projeto de
Extensão Universitária, "Atividade Física na Terceira Idade", escolheu o Teste de Coordenação
utilizado por eles e que será mostrado e analisado detalhadamente por este estudo), não sendo
necessários jogos de movimentos complexos que causam desconforto pela dificuldade na
execução. Opta-se então, por movimentos coordenados de braços e pernas, mão e mão, mão e
pés, educando dessa forma, a ação reflexa dos movimentos nas ações do dia-a-dia.

Alguns exemplos de exercícios que podem ser trabalhados são: marchar em diferentes
formas, com joelhos altos ou pernas esticadas, para frente, para os lados e para trás, variando
os movimentos dos braços, em um determinado ritmo ou livremente (maneira mais fácil de
desenvolver os movimentos coordenativos nos idosos). Pode-se trabalhar também com
movimentos coordenativos isolados, movimentos só de braços ou só de pernas, mas o idoso
leva mais tempo para assimilar e o professor deve ser paciente para não desmotivar (Piret &
Béziers, 1992).

Metodologia
Foi feito um levantamento dos resultados dos testes de coordenação motora, realizados
entre os anos de 1997 a 2000, cedidos pelo Projeto de Extensão Universitária, "Atividade Física
para a Terceira Idade", do Departamento de Educação Física, da Universidade Estadual Paulista
(UNESP), campus de Rio Claro. As atividades práticas disponíveis para os participantes desse
projeto são realizadas três vezes por semana, nas terças, quartas e quintas-feiras, no período
das 7:00 às 8:00 horas, onde os alunos optam entre dois tipos de atividades ao dia, escolhidas
no início de cada ano. As atividades são organizadas da seguinte maneira:

 Terça-feira: Dança e Musculação.


 Quarta-feira: Biotonia e Ginástica.
 Quinta-feira: Esportes e Atividades Lúdicas.

A população alvo do presente estudo foi constituída por 10 indivíduos do sexo feminino com
idade entre 62 e 70 anos, apresentando uma média de 65,7 anos de idade, residentes na
cidade de Rio Claro, participantes do projeto citado anteriormente, selecionados por terem
maior freqüência nos testes de coordenação motora do período analisado, uma vez que, estes
são feitos quatro vezes ao ano, pelos estagiários do projeto, sendo realizados em março, junho,
agosto e dezembro. Existe um dia específico para a realização do mesmo, não tendo nenhum
tipo de atividade física antes do teste.

Será usada a média anual individual e do grupo para comparação dos resultados. Para
comparação dos resultados das avaliações, entre os anos, será utilizada uma análise de
variância para medidas repetidas com nível de significância de p<0,05.
Para uma melhor compreensão do estudo, será mostrado detalhadamente através de um
protocolo do teste de coordenação analisado como o mesmo é realizado (figura1).

Protocolo do teste de coordenação realizado pelos indivíduos

Teste de coordenação: Um pedaço de fita adesivo com 76,2 cm de comprimento é fixado


sobre uma mesa. Sobre a fita são feitas seis marcas com 12,7 cm eqüidistantes entre si, com a
primeira e última marcas a 6,35 cm de distância das extremidades da fita. Sobre cada uma das
seis marcas é afixado, perpendicularmente à fita, um pedaço de fita adesiva com 7,6 cm de
comprimento, formando assim seis pequenos quadrados sobre a fita maior (Figura 1). O sujeito
senta-se de frente para a mesa e usa sua mão dominante para realizar o teste. Se a mão
dominante for a direita, uma lata de refrigerante é colocada no quadrado 1, a lata dois no
quadrado 3 e, a lata três no quadrado 5. A mão direita será colocada na lata 1, com o polegar
para cima, estando o cotovelo flexionado num ângulo de 100 a 120 graus.

Quando o avaliador sinalizar, um cronômetro será acionado e, o sujeito, virando a lata


inverte sua base de apoio, de forma que a lata um seja colocada no quadrado 2; a lata dois no
quadrado 4 e; a lata três no quadrado 6. Sem perda de tempo, o avaliado, tendo o polegar
apontado para baixo, apanha a lata 1 e inverte novamente sua base, recolocando-a no
quadrado 1 e, da mesma forma, procede colocando a lata dois no quadrado 3 e a lata três no
quadrado 5, completando assim um circuito. Uma tentativa equivale a realização do circuito
duas vezes, sem interrupções. O cronômetro será parado quando a lata 3 for colocada no
quadrado 5, ao final do segundo circuito. Caso o sujeito for canhoto, o mesmo procedimento
será adotado, exceto que as latas serão colocadas a partir da esquerda - lata um no quadrado
6, lata dois no quadrado 4 e lata três no quadrado 2, e assim por diante. A cada sujeito serão
concedidas duas tentativas de prática, seguidas por outras duas válidas para avaliação, sendo
estas últimas duas anotadas até décimos de segundo, sendo considerado como resultado final o
menor dos tempos obtidos (Gobbi, Zago, Villar & Polastri, 1998).
Figura 1: Ilustração gráfica do
teste de coordenação (adaptado por
Zago de OSNESS et al., 1990).

Resultados

Figura 2: Média de cada uma das coletas de todos os anos


Figura 3: Média anual dos resultados das coletas de cada ano Discussão dos resultados

Através da análise de variância para medidas repetidas, observa-se pela figura 2 que há
diferença entre as coletas (f3, 108 = 22,639; p< 0,000), na qual pode-se verificar que o grupo
melhora o nível da coordenação motora, comparando, a média dos resultados obtidos nas
primeiras coletas, com a da quarta coleta de cada um dos anos analisados. Sendo assim
comprova-se o que foi visto na revisão de literatura, ou seja, a coordenação motora, quando
exercitada tende a retardar o crescente declínio dessa habilidade, decorrente das inúmeras
alterações do organismo humano no decorrer do processo de envelhecimento.

Já na figura 3, pode-se ter uma visão mais detalhada do desempenho dos participantes em
cada ano. Nota-se então, que nos anos de 1997 e 1998, o desempenho inicial destes nos
testes, não foi tão bom. Isso pode ter acontecido, pelo fato dos participantes realizarem
atividade física, dentro do Projeto "Atividade Física para a Terceira Idade", comum a todos e
não muito diversificada nos anos anteriores a estes. A partir de 1997, com o "Projeto" mais
bem elaborado, oferecendo atividades físicas generalizadas e separadas por modalidades
(dança, musculação, esportes, atividades lúdicas, biotonia e ginástica), como visto
anteriormente, pode-se trabalhar mais especificamente certas habilidades, assim como a
coordenação motora.

Em compensação, nos primeiros testes dos anos de 1999 e 2000, os participantes tiveram
uma grande melhora, entretanto, a melhora no decorrer destes anos é menos acentuada, o que
mostra que os efeitos são piores quando eles terminam o ano.

Observa-se, também que no ano de 2000, eles começaram e terminaram o ano mais ou
menos no mesmo nível. Como no final desses quatro anos observados, o nível de coordenação
estabilizou-se, pode ser que o treinamento sistemático de atividades físicas que é submetido
aos participantes pode estar estável, não sendo mais auto-suficiente para melhorar o
desempenho dos seus praticantes nos testes para tal habilidade. Entretanto, também pode ser
que, como a idade desses indivíduos aumentou, pode ter ocorrido uma diminuição das suas
capacidades físicas, decorrentes dos efeitos negativos do processo de envelhecimento, que
pode ter causado esta estabilidade, não significando que o desempenho deles tenha piorado.

Isso pode ser observado, verificando a diferença significativa, existente entre a primeira
coleta do ano de 1997 e a de 2000, a qual mostra perfeitamente o quanto eles melhoraram
durante estes quatro anos, ainda mais que, como já foi dito, o envelhecimento os acompanhou
esse tempo todo.

Conclusão
Levando em consideração os resultados obtidos, concluí-se que a prática de atividade física
generalizada pode contribuir para a melhora ou manutenção do nível de coordenação motora
dos indivíduos idosos e, assim, retardar os efeitos do processo de envelhecimento nessa
habilidade.

Referências bibliográficas

 GOBBI, S., ZAGO, S. A., VILLAR, R. & POLASTRI, P. F (1998). Trajetória de um


projeto universitário de atividade física para terceira idade. Apostila do Projeto
Atividade Física na Terceira Idade do Departamento de Educação Física da
Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.
 MEINEL, K. & SCHNABEL, G. (1994). Motricidade II: O desenvolvimento motor
do ser humano. Rio de Janeiro: [s.n].
 PIKUNAS, J. (1979). Desenvolvimento humano: uma ciência emergente. São
Paulo: [s.n].
 PIRET, S. & BÉZIERS, M. M. (1992). A Coordenação Motora. São Paulo:
Summus.
 RAUCHBACH, R. (1990). Atividade física para terceira idade. Curitiba: Lovise.
 ROSA, M. (1993). Psicologia Evolutiva: psicologia da idade adulta. Petrópoles:
Vozes.
 SILVA, J. C. (1998). O treinamento e avaliação da coordenação em indivíduos
da terceira idade. Monografia da Faculdade de Educação Física, Universidade
Estadual Paulista, Rio Claro.
 SILVA, W. R. (1989). Aspectos sócios-fisiológicos da terceira idade e a atividade
física. Monografia da Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual
Paulista, Rio Claro.
 OSNESS, W. H. (1990). Functional fitness assessment for adults over 60 years.
Reston: American Alliance for and Dance.
 WEINECK, J. (1991). Biologia do Esporte. São Paulo: Manole.

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revista digital · Año 10 · N° 89 | Buenos Aires, Octubre 2005


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