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Durante o período patriarcal, os hebreus não tinham clero oficial. Os Patriarcas, chefes
de família, ofereciam sacrifícios nos santuários dedicados ao culto do único e verdadeiro
Deus. Somente depois que Israel se tornou nação, surgiu uma classe particular com a
finalidade de cuidar dos santuários e exercer atos litúrgicos. O sacerdócio não floresceu
todo de supetão, mas se desenvolveu gradativamente, numa caminhada que não é fácil
detectar, também porque a Bíblia, não raras vezes, coloca em tempos anteriores situações
acontecidas muito mais tarde.
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usavam para isto o Efod, os Urim e os Tumim. Os textos não dão muitas
informações a respeito do funcionamento destes instrumentos.
+ O Efod era uma peça das alfaias do sacerdote, talvez a mais característica. A
mãe de Samuel teceu um Efod para o menino quando ele entrou no serviço do
santuário de Silo (1Sam. 2,18); O sacerdote Nob (1Sam. 22,18) e David, quando
acompanhou a Arca para Jerusalém (2Sam. 6,14), vestiam um Efod. Talvez
fosse um avental ou uma tanga (1Sam 2,18; 2Sam 6,14). Quando o sacerdócio
teve uma organização mais apurada, os vestidos sacerdotais se tornaram mais
requintados e o Efod assumiu um papel simbólico e não mais funcional. Ex. 29,5
e Lv 8,7 falam de uma peça de linho colocada sobre a túnica e o manto.
O Efod era um tecido de linho, com filamentos de ouro, misturada com lã de
várias cores. Era, nos tempos do apogeu sacerdotal, uma espécie de faixa, como
aquela que hoje usam Bispos e Arcebispos: peça de pano mais simbólica do que
funcional.
Há trechos na Bíblia que falam do Efod como objeto de culto e não como peça
de vestuário. O discurso se complica. O sacerdote Nob colocou a espada de
Golias atrás de um Efod (1Sam 21,10). Faz pensar que haviam duas espécies de
Efod: uma seria peça de vestido sacerdotal e a outra objeto cultual, usado para
interpretar a vontade divina. Este último seria como que um recipiente para
conservar os objeto (Urim e Tumim) com os quais se interpretava por extração o
oráculo de Deus. Há uma ligação entre as duas espécies de Efod, pois, num
primeiro momento as pedras da sorte estavam escondidas nas dobras do Efod e
num segundo momento numa espécie de bolsa costurada no Efod. O Efod,
então, não era diretamente um instrumento para detectar a vontade divina, mas
um lugar onde estavam depositados os Urim e Tumim, os instrumentos da sorte.
+ Urim e Tumim eram objetos cuja natureza não podemos especificar. Não
sabemos se eram pedrinhas, pauzinhos ou dados. Sabemos, porém que o Tumim
tinha um significado contrário ao Urim. A vontade de Deus era determinada por
um processo de eliminação que procedia do genérico ao específico. “Se sai Urim
agirei deste modo, se for Tumim daquele outro”. Aparecendo uma ou outra das
opções, faziam-se ulteriores eliminações até obter uma expressão precisa da
vontade de Deus. Era um procedimento aparentemente supersticioso, mas que
encerrava, também, um ato de humilde confiança em Deus e nos seus
representantes.
A função oracular dos sacerdotes andou pouco a pouco decaindo até que foi
assumida unicamente pelos profetas. Os sacerdotes continuaram interpretando a
vontade de Deus, mas de modo diferente e muito mais complicado.
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Outra tarefa dos sacerdotes foi o ensino. Falando dos Levitas o Dt 33,10 diz:
“Eles ensinarão teus preceitos a Jacó e a lei a Israel”. A Lei, Torah, era o
campo específico da ação do sacerdote, mas seria erro restringir o significado de
Lei ao círculo jurídico. A Palavra tem um sentido bem mais amplo, de modo que
indica que os Sacerdotes instruíam, de maneira geral, sobre outros pontos
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4. * .
Em Israel os sacerdotes não eram ordenados como se tivessem uma vocação divina
ou um cargo social. O sacerdócio era hereditário. Deus escolheu a tribo de Levi como
classe sacerdotal e um homem era sacerdote pelo fato de ser membro daquela tribo. Havia,
porém, uma cerimônia que marcava a tomada de posse de um sacerdote. A escritura usa a
expressão “Encher a sua mão” (Jz 17,3-12; Ex. 32,29; 1Rs13,33) para indicar o envio.Não
é claro o sentido desta fórmula. Alguns a explicam dizendo que a cerimônia consistia em
colocar partes de uma vítima a ser imolada nas mãos do sacerdote, o que seria uma quase
explicação, e para outros, a expressão indica o pagamento do salário. Se nós consideramos
que na língua acádica existe uma expressão idêntica que significa “confiar a alguém uma
missão”, e em textos de Mari tem o sentido de distribuir entre os soldados a presa de
guerra, podemos pensar que significava envio e direito de receber parte das entradas do
templo.
Em Num. 8,10 apresenta-se uma espécie de ordenação do sacerdote. Os israelitas
impõem as mãos sobre o levita. No rito característico desta cerimônia há também uma
unção, o que foi introduzido depois do exílio. A unção era normalmente uma cerimônia
para consagrar um rei e não um sacerdote. Quando o Sumo Sacerdote era ungido, o era
sobretudo por ser ele também um governador civil.
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5. + .
Há textos que apresentam uma distinção muito acentuada entre sacerdotes e levitas e
outros em que os termos levita e sacerdote são apresentados como sinônimos. No Oriente
Médio todas as profissões eram hereditárias, e o sacerdócio não era uma exceção. Em Israel
Deus escolheu os descendentes do Patriarca Levi para que exercessem o sacerdócio. Como
conseqüência desta escolha, os levitas estavam numa situação particular. Não eram
incluídos nos recenseamentos; a eles não foi dado nenhum território na repartição da terra
prometida, mas receberam cidades para morar e as tribos eram obrigadas a cooperar com
seu sustento. Quando Aarão, descendente de Levi, teve a promessa de ele e sua família
possuírem um sacerdócio eterno, começou uma diferenciação hierárquica no seio dos
levitas. Os descendentes de Levi que não eram da família de Aarão se acharam numa
posição relativamente subordinada.
Nos tempos mais antigos havia sacerdotes que não eram da tribo de Levi. Mica era
da tribo de Efraim e constituiu seu filho sacerdote no templo por ele construído (Jz 17,5).
Samuel também era efraimita, serviu no templo, ofereceu sacrifícios, vestiu o Efod (1Sam
1,1; 2,18; 7,9; 9,13; 10,8). Eleazar, os filhos de Davi, Ira, eram todos sacerdotes, mas
nenhum deles da tribo de Levi. Foi só depois do século VIII que a tribo de Levi assumiu o
papel exclusivo no exercício do sacerdócio.
Mas, como e quando teria surgido a distinção entre sacerdotes e levitas? O
deuteronômio e outros escritos que tratam do período monárquico não fazem aceno a esta
distinção. Falam dos descendentes de Davi como “sacerdotes levitas.” Note-se: sacerdotes
levitas e não sacerdotes e levitas. Todos os membros da tribo de Levi eram sacerdotes, com
direito de exercer as funções sacerdotais. O Deuteronômio exorta todos os israelitas a serem
fiéis em sustentar os levitas que habitam em seu meio e os classifica junto aos estrangeiros,
viúvas e órfãos (Dt. 12,12.18.19; 14,27.29; 16,11-13). O motivo é claro. Com a supressão
dos santuários fora de Jerusalém e a centralização do culto no templo, no tempo de
Ezequias e Josias, a maior parte dos descendentes de Levi não podiam exercer suas
funções sacerdotais. Eram sacerdotes desempregados.
Antes mesmo de Ezequias e Josias restringirem o culto ao Templo, alguns
santuários, como Betel e Jerusalém monopolizavam os fiéis e os outros já não podiam
sustentar um número grande de sacerdotes. Havendo, depois, a interdição de todos os
santuários fora de Jerusalém, decretada por Josias (622), o problema se agravou e a
distinção entre sacerdotes e levitas consumou-se pouco a pouco, tanto que no tempo de
Ezequiel (580) já era uma realidade aceita na estrutura do clero.
O Profeta Ezequiel descreve o templo do futuro e apresenta os levitas como
substitutos dos serventes do templo (Ez 44,6-14). Fala dos levitas de maneira dura, como
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que insinuando que no passado se tinham dedicado à idolatria e, portanto, eram indignos de
exercer o sacerdócio. Por isto, insiste ele, devem operar como subordinados e servos dos
sacerdotes.
Ezequiel afirma claramente a distinção entre sacerdotes e levitas. “O quarto que olha para
o meio dia é destinado aos sacerdotes que cuidam do templo. Eles são filhos (servos) de
Sadoc e se avizinham ao senhor com seu serviço” (Ez. 40,45-46). Estes sacerdotes que
cuidam do templo são os levitas. Aqueles que cuidam do altar são os que cumprem as
funções sacerdotais.
Em Num 3,6-9, se diz que os levitas foram dados por Aarão aos sacerdotes para que
fossem seus ajudantes e que somente os aaronitas podiam exercer função sacerdotal. Estes
são os Sadoquistas de Ezequiel. No cativeiro muitos sacerdotes foram rebaixados ao cargo
de levita e tiveram muito pouco entusiasmo para voltar do cativeiro. Lemos que voltaram
4289 sacerdotes, mas só 74 levitas.
Já foi acenado que a tribo de Levi não recebeu território algum depois da conquista
de Canaã. Seus membros foram espalhados no território de outras tribos e em cidades
conhecidas como cidades levíticas. Conforme Josué 21, eram 48 as cidades, quatro no
território de cada tribo (1Cron 6,39-66; Num 35,1-8; Lv 25,33-34). Os escritos não
determinam se estas cidades eram de uso exclusivo para levitas. Muitas delas só foram
conquistadas pelos Israelitas no tempo de Davi e Salomão, o que nos faz pensar que a
entrega de cidades para levitas foi mais um ideal do que uma realidade histórica.
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Do momento que é somente no tempo de Davi que Jerusalém foi conquistada aos
Jebuseus, a história do sacerdócio em Sião tem início durante aquele reinado. Antes
de conquistar a cidade, o sacerdote que acompanhava Davi era Abiatar. Conforme
1Sam 22,20-23, Abiatar tinha sido o único sacerdote que escapou ao massacre feito
por Saul em Nobé, onde morava a família de Abimelec, descendente de Eli.
Conquistada Jerusalém, apareceu outro sacerdote, Sadoc, Pelo fim do reino de
Davi, quando os filhos do grande rei brigavam para se apoderar do reino, Abiatar
apoiou Adonias e Sadoc apoiou Salomão. Salomão prevaleceu e Abiatar foi exilado
em Anatot, ficando a família de Sadoc a única que exercia o sacerdócio oficial em
Jerusalém.
Abiatar era membro da tribo de Levi enquanto não é bem clara a procedência de
Sadoc. Parece que era sacerdote na cidade de Jerusalém antes de sua conquista. Seu
nome trai sua origem jerosolimitana. No tempo de Abraão, Melquisedec era rei-
sacerdote de Jerusalém (Gen 14,8); no tempo de Josué era Adonisedek (Jos 10,1)
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O exílio acabou em 538 por um edito do rei Ciro. Muitos sacerdotes, mas
poucos levitas, voltaram para casa. Um século depois retornou também Esdras
que convenceu 38 levitas a acompanha-lo (Esdr 8,2.15-19). Os primeiros quatro
sacerdotes que voltaram eram da família de Sadoc. Entre os outros, alguns eram
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Nos cem anos sucessivos (37 aC a 70dC) houve 28 Sumos sacerdotes, entre
os quais Anás e Caifás, que tiveram papel muito grande na Paixão e Morte de
Jesus.
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Altar e sacrifício são termos interligados: um evoca o outro. No hebraico, a Palavra
que indica altar (mizbeah) deriva de um verbo que significa imolar e inclui em si o sentido
de sacrifício. Antigamente, nas origens, as vítimas eram imoladas sobre o altar, mas depois
o altar passou a ser local de oferta de um animal já imolado ou de cereais e incensos.
Nos primeiros tempos serviam como altar uma rocha natural ou uma laje um pouco
espaçosa. Lemos no livro dos Juízes que Gedeão recebeu a ordem de colocar suas ofertas
sobre uma rocha (Jz 6,19-23). Quando a Arca da Aliança foi restituída a Israel pelos
filisteus, as vacas e o carro que a trouxeram foram queimados em sacrifício sobre uma
rocha (1Sam 6,14). A pedra era o altar dos patriarcas.
O altar construído artificialmente era quase sempre de pedra. A lei admitia dois
materiais para a construção dos altares: a pedra não trabalhada, ao natural, e o barro cozido
ou tijolos (Ex 20,24-26; Dt 27,5; Jos 8,30-31).
O altar não podia ter degraus (Ex 20,26). O motivo da proibição dos degraus, diz o
Êxodo, seria o pudor. O único indumento do sacerdote, nos períodos primitivos, era uma
tanga que cobria as partesbaixas. Subindo rampas ou degraus o sacerdote arriscava expor
seus genitais. “”Não subirás ao meu altar por meio de degraus, para que não se descubra
tua nudez”. Há um outro motivo que poderia explicar o porquê da pedra bruta e da
proibição dos degraus: o horror do profano. Pedra trabalhada e degraus são produtos da
mão do homem. Uma coisa sagrada, como o altar, devia sair das mãos de Deus e, portanto,
tomada no estado natural.
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No deserto estavam em uso dois altares: o altar dos holocaustos bem na entrada
da tenda do tabernáculo e o altar do incenso dentro da tenda, diante do Santo dos
Santos.
Temos em Ex 27,1-8 e 38,1-7 uma descrição do altar dos holocaustos. Era feito
com lenho de acácia revestido de bronze e media 5x5x3 cóvados (um côvado valia
44 cm). Tinha a estrutura de uma caixa de 3,3 m3, com uma cornija ao seu redor,
que tinha 4 argolas, nos quais se enfiavam paus quando o altar precisava ser
transportado. A caixa era vazia, sem fundo e sem tampa. Não sabemos como se
oferecia o sacrifício. Supõe-se que se enchia de areia o caixote e se imolava e
queimava a vítima a 1,2m acima do solo.
• O altar do incenso.
Também era feito com lenho de acácia, mas revestido de ouro na parte superior.
Media 1x1x 2 côvados com um volume de 0,17cm3. Nas arestas superiores havia
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O altar tinha, para os israelitas, um profundo significado religioso. Como o templo era a
casa de Deus, o altar era a lareira do templo. A Lei exigia que o fogo ardesse
continuamente sobre o altar (Lv 6,5-6). O altar era considerado também como símbolo da
presença de Deus. No tempo patriarcal o lugar de uma teofania era sempre assinalado por
um altar (Gen 12,7; 26,24-25). Por vez o altar recebeu nome divino. Aquele que Jacó
construiu em Siquém foi chamado “El, Deus de Israel” e um outro que Moisés ergueu
depois de ter vencido os Amalecidas foi chamado: “Javé é meu estandarte na batalha”. Em
tempos mais recentes o altar era consagrado solenemente antes do uso e anualmente
purificado no dia da Expiação (Ex 29,36-37; Lv 8,15; 16,18-19).
O altar tinha quatro protuberâncias, com forma de chifres, nos cantos, partes
consideradas santas de maneira especial. Durante o ritual da Expiação estes chifres eram
aspergidos com o sangue da vítima (Ex 29,12; 30,10; Lv 4; 8,15; 9,9, 16,18; Ez 43,20). As
pessoas que procuravam socorro agarravam-se ao altar do holocausto (1Rs 2,28).
Chifre significava poder e as protuberâncias do altar em forma de chifre simbolizavam
o poder das vítimas sacrificadas.
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O ato central do culto israelita, o sacrifício, teve, ao longo dos séculos, várias formas,
mas substancialmente nunca mudou. Lv 1-7 descreve as diversas formas dos sacrifícios
oferecidos no Templo depois do exílio.
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Era uma oferta de ação de graças que operava união entre Deus e o ofertante.
Chamava-se também “Sacrifício pacífico” ou “ Sacrifício da salvação”. Havia três
tipos deste sacrifício.
- O sacrifício de louvor (todá) (Lv 7,12-15; 22,29-30)
- O sacrifício espontâneo (n´dabá), feito por pura devoção (Lv 7,16-17;
22,18-23).
- O sacrifício votivo (neder), feito para pagar uma promessa (Lv 7,16-17;
22,18-23)
O ritual é descrito em Levítico 3. A vítima não pode ser um pássaro, mas
outro animal macho ou fêmea. O ritual implica em imposição das mãos, sacrifício
do animal e aspersão do sangue; é o mesmo do holocausto. A vítima é dividida em
três partes: uma para Javé, a outra para o sacerdote e a terceira para o oferente.
A parte de Javé era queimada sobre o altar. Consistia em todas as partes
gordas do animal, tiradas cuidadosamente. O sacerdote recebia o peito e a perna
direita e o resto para o oferente que devia comê-la no mesmo dia, se era um
sacrifício de louvor, ou entre dois dias, se o sacrifício era espontâneo. Caso
permanecesse algo no 3o dia devia ser queimado. (Lev. 3,16-17; 7,22-24; 7,28-34;
10,14-15; 7,15-17). Com a vítima se devia ofertar também “pães sem fermento,
amassados com azeite, bolinhos sem fermento untados de azeite e flor de farinha
embebida em azeite... será oferecido pão fermentado” (Lv 7,12-13).
Este tipo se sacrifício era comum em Israel desde tempos mais antigos, aqueles
do Êxodo. Era chamado “zebah selamim” que significa “degolação para
sacrifício”.
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- O sacrifício de reparação.
Este sacrifício é chamado também “oferta pela culpa”. O ritual, sob muitos
aspectos, é o mesmo do sacrifício pelo pecado. Era oferecido somente em reparação
por faltas de indivíduos particulares e a vítima era um carneiro.Não está clara a
diferença entre este sacrifício e aquele pelo pecado. Parece que o sacrifício de
reparação se restringia ao pecado contra a justiça, quando se requeria uma espécie
de restituição ou reparação de direitos ofendidos. Além de oferecer o sacrifício, o
indivíduo pagava também uma multa (Lv 5,14-16.21-26; Num 5,5-8). Tem-se
notícia que este sacrifício estava em uso desde o fim do período monárquico. Não é
claro se existia antes.
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- Oferta das primícias das espigas de trigo, assadas, ou pão com azeite cozido.
Parte do grão e do pão eram queimados com incenso e o resto pertencia ao
sacerdote.
- Oferta só dos cereais sem azeite e sem incenso. Toda a oferta era queimada.
- Em caso de reparação pelo ciúme, ou para afastar o ciúme se ofereciam
somente farinha e uma libação de vinho.
O sacrifício “Minhá” estava em uso já antes do exílio.
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Era uma mistura perfumada junto com incenso. Havia muitas receitas de
perfumes a serem misturados e oferecidos em sacrifício. Os rabinos lembram uma
que continha dezesseis.
Cada ingrediente era misturado em partes iguais com o incenso e a mistura era
queimada da seguinte maneira. Um sacerdote tomava brasas acesas no altar dos
holocaustos e salpicava a mistura aromática sobre as brasas.
Isto acontecia duas vezes ao dia. No dia da Expiação carvões, incenso e mistura
eram queimados no Santo dos Santos, dentro da arca.
O sacrifício é muito antigo. Já era usado no tempo de Salomão. Mas nos tempos
muito antigos se queimava só incenso, sem misturas, e parece que era usado
também um turíbulo. Foi depois do exílio que apareceu o rito acima descrito.
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(1Rs 18). Se a Bíblia condena o culto cananéu não o é pela forma, mas porque era
dirigido a ídolos.
Os israelitas fizeram própria a prática Cananéia só quando entraram em Canaã.
No deserto usavam outras práticas mais semelhantes às da Arábia.
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Foi praticado ou não em Israel? Uns afirmam concluindo que o animal dos sacrifícios
posteriores substituiu os doadores, que deveriam ser a vítima. Se houve sarifícios com
vítimas humanas foi mais exceção do que regra. Os cananeus tinham evidentemente o
hábito de sacrificar crianças e queima-las como “sacrifício de fundação” quando iam
construir um novo edifício. Quando Hiel de Betel fortificou Jericó, matou Abiram, seu
primogênito, e colocou os fundamentos da cidade sobre o sepulcro dele (1Rs 16,34). Jefté
sacrificou sua filha (Jz 11,30-40), mas a Bíblia conta isto com horror. O rei de Moab (2Rs
3,27) imolou o filho único para obter de seu deus a graça de não cair nas mãos dos
israelitas. A oferta de Isaac a Deus está em outro contexto, pois o ponto central da história é
a fé e não o sacrifício. Aliás, este não aconteceu.
Os texto dos livros históricos indicam que os sacrifícios humanos em Israel só
acontecram durante períodos de decadência, como durante o reinado de Asa (2Rs 16,3;
17,31) e os denunciam como instrumentos recentes do paganismo.
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• Um dom para aplacar uma divindade exigente. O homem oferece algo e Deus
concede seus benefícios e sua bênção. Uma espécie de barganha... A hipótese
não satisfaz porque Deus é dono de tudo e não precisa de nada.
• Ação quase mágica pela qual o homem entra em comunhão com Deus
comendo uma vítima divina, ou imolando a vítima que o substituía. Também
esta teoria não é satisfatória porque na Bíblia nunca se fala desta união íntima
com Deus.
• Sacrifício, banquete preparado para Deus. Deus tinha fome... Embora na
Bíblia se fale de “mesa de Deus” nunca insistem numa terminologia materialista
e antropomórfica do sacrifício. Sem dúvidas certos elementos do sacrifício nos
levam a pensar numa refeição partilhada com Deus, mas Deus mesmo se explica
de forma inequívoca: “Se eu tivesse fome, não o diria para ti, pois meu é o
universo e tudo o que nele contém. Como eu, talvez, a carne dos touros e bebo o
sangue dos cabritos” (Sl 50, 12,13)?
• A noção israelita de sacrifício. O sacrifício era um dom, mas um dom ao qual
Deus tinha direito absoluto, porque tudo o que o homem tinha vinha das mãos
de Deus. Esta era a motivação que levava a oferecer a Ele as primícias e os
primogênitos. As vítimas, então, representavam a doação da vida e do ser do
oferente.
O ritual simbolizava esta idéia de dar, de fazer subir até Deus tudo o que a
gente tinha e era. O altar simbolizava a presença de Deus. Parte das vítimas
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O sacrifício era o ato central do culto israelita, mas não o único. Existiam, também, orações
públicas e diversos ritos de purificação e consagração.
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Se a presa numa guerra santa era em metal, devia ser lavada em uma água especial,
chamada “me middâ” ou água da purificação (Num. 31,22-23).
Preparava-se esta água da seguinte maneira, descrita em Num. 19,1-10.
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“Esta é uma disposição da lei que o Senhor prescreve. Dize aos israelitas
que providenciem uma vaca vermelha e sem defeito algum e na qual nunca foi posta
a canga. Entregareis a vaca ao sacerdote Eleazar que mandará leva-la fora do
acampamento para ser imolada em sua presença. Tomando um pouco de sangue
com o dedo, o sacerdote o aspergirá sete vezes em direção à frente da tenda do
encontro. Em seguida a vaca será queimada em sua presença. Serão queimados o
couro, a carne, o sangue e os excrementos. Então o sacerdote tomará madeira de
cedro, hissopo e púrpura e os lançará no meio da fogueira onde a vaca está
ardendo. Após lavar as vestes e banhar o corpo em água , o sacerdote retornará ao
acampamento, mas ficará impuro até o pôr do sol. Do mesmo modo quem ateou
fogo à vaca lavará as vestes, banhará o corpo em água e ficará impuro até à
tarde.Um homem que esteja puro recolherá as cinzas da vaca e as depositará em
lugar puro.As cinzas serão conservadas pelos israelitas para preparar as águas da
purificação. Aquele que recolheu as cinzas da vaca lavará as vestes e ficará impuro
até a tade”
.Com estas cinzas se fazia uma espécie de água benta que era aspergida
também nas casas, sobre os móveis de um falecido, sobre quem tocou cadáveres...
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Lepra, para os judeus, não era o mal de Hansen, como nós entendemos, mas algo
muito menos perigoso e sujeito à cura. Seus sintomas se manifestavam com
diversos tipos de doenças cutâneas. A doença, quando diagnosticada por um
sacerdote, tornava um homem impuro. Ele devia se afastar da localidade até sarar.
Cabia ao sacerdote constatar se houvera cura, e fazer o rito de purificação (2Rs 7,3;
Lv 14,3). Jesus curava leprosos e os enviava aos sacerdotes...
Existiam dois ritos de purificação, um mais antigo e outro mais recente.
No rito primitivo se enchia um vaso de ”água viva”, matava-se um pássaro e
deixava-se o sangue escorrer sobre a água. Depois se imergia na água uma ave viva,
junto com madeira de cedro, hissopo e púrpura. Deixava-se a ave voar. Aspergia-se
o leproso com a água, cortavam-se todos os pelos dele, eram lavadas suas vestes e,
depois, declarado puro (Lv 14, 2-9).
No ritual mais recente a pessoa oferecia um sacrifício de reparação, fazia uma
oferta de pão e um holocausto. O sacerdote tocava, com o sangue do primeiro
sacrifício, a orelha direita, o polegar e o indicador direito do sujeito. Ungia depois
os mesmos lugares com azeite e derramava azeite sobre a cabeça.
Havia, outrossim, a lepra dos tecidos e das casas. Eram fungos e musgos.
Um tecido eivado, se depois de ser lavado não ficava limpo, devia ser queimado. Se
ficava limpo, devia ser lavado de novo e era declarado puro. Tratando-se de casas,
as pedras manchadas deviam ser removidas e os muros raspados. Se a lepra
continuava, a casa era demolida. Caso contrário era declarada pura. A pureza e
impureza eram uma verdadeira obsessão em Israel, o que provocou censuras de
Cristo
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Nazireu era uma pessoa consagrada a Deus por um certo período de tempo.
Devia abster-se de toda bebida alcoólica, deixar os cabelos crescerem e evitar todo
contacto com cadáveres. Se alguém morria na sua presença, ficava anulado o tempo
de nazireato. Devia purificar-se com vários sacrifícios e recomeçar tudo de novo,
rapando completamente a cabeça (Num 6,1-21)
Acabado o período do voto, ele oferecia um holocausto, uma oferta pelos seus
pecados, um sacrifício de comunhão, cortava os cabelos e os queimava no
holocausto. Voltava, depois, à vida normal.
Antigamente o nazireu o era por toda a vida, como o foi Sansão que foi
consagrado a Deus ainda no seio da mãe. O que distinguia os nazireus dos outros
eram os cabelos não cortados. Também os soldados que combatiam uma guerra
santa não cortavam os cabelos e a mãe de Samuel, consagrando Samuel ao serviço
do Senhor prometeu que sua cabeça nunca seria raspada.
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Muitas notícias do calendário sacerdotal nos são dadas também pelo profeta Ezequiel,
que dá particulares a respeito de:
• O ritual de cada dia (28,3-8).
• O sábado (28,9-10).
• A lua Nova (28, 11-15).
• A páscoa e a festa dos Ázimos (28,16-25).
• A Festa das Semanas (28,26-31).
• O dia da Aclamação (29, 1-6).
• O dia da Expiação (29,7-11).
• A Festa dos Tabernáculos 29, 12-38).
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A palavra tem seu étimo em Sabbat, cuja raiz significa cessar, vale dizer cessar de
trabalhar, repousar. O sábado marcava o fim da semana. Sua origem é muito antiga. O
Êxodo (16,22-30) insinua ser anterior à Aliança do Sinai e o Gênesis (2,2-3) coloca sua
origem no tempo da criação.
O Sábado é lembrado por todas as tradições do Pentateuco: Javista, Eloísta, Mosaica,
Deuteronômica e Sacerdotal. Temos quase certeza de que a instituição do Sábado deve ser
colocada na época mosaica.
A importância do Sábado em Israel é única. Não era um dia festivo durante o qual o
povo podia descansar, para ter forças de enfrentar outra semana, mas estava ligado à
Aliança que Deus tinha marcado com ele. São sublinhados pela lei também fatores
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humanitários, mas ressaltados, sobretudo, dois aspectos religiosos 1o - deve servir como
memorial da libertação divina da escravidão do Egito e da entrada na “terra de repouso”
(Dt 5,14-15; 12,9; Sal 95,11); 2o – Deus fez o céu e a terra o mar e tudo o que está neles e
no sétimo dia repousou. Por isto o Senhor abençoou o dia de Sábado e o santificou” Gen
2,2-3; Ex 31,12-17). O último aspecto prevaleceu e deu ao sábado a motivação
predominante.
A observância do sábado indicava fidelidade à Aliança e era penhor de salvação (Is
58, 13-14; Jer 17, 19-27). Nos tempos antigos o sábado era um dia alegre. Os trabalhos
eram suspensos, mas a gente podia andar livremente e sem restrições, fazer negócios,
trabalhar no campo em tempo de aperto, visitar santuários e consultar profetas. Depois do
exílio, Neemias impôs obrigações muito severas imitado, depois, por outros governadores e
moralistas. O jubiloso sábado de antes do exílio se transformou, então, num peso
insuportável, merecendo todas as críticas de Jesus.
4. *! % % B. # .
Páscoa e Ázimos eram duas festas distintas. Mais tarde, durante o exílio (Ez 45,21),
foram unificadas. A sagrada Escritura nem sempre é clara quando fala da Páscoa e dos
Ázimos. Existem diversas versões conforme as tradições.
A Páscoa devia ser celebrada no tempo da lua cheia, no mês de Nisan. Cada
família devia escolher um cordeiro sem defeito, macho, de um ano. Ao pôr do sol
do dia 14 o cordeiro devia ser degolado. Seu sangue espalmado na entrada da
casa. Durante a noite o cordeiro era assado e comido. Não se deviam quebrar os
seus ossos. O que não era consumido devia ser queimado. Com o Cordeiro
comiam-se, também, pão ázimo e ervas amargas. As pessoas que participavam do
banquete tinham um traje próprio para viagem. Se uma família era pequena
demais e não conseguia acabar com o cordeiro, unia-se a uma família da
vizinhança. Escravos e estrangeiros podiam participar do banquete, à condição
que estivessem circuncisos.
No dia 15 tinha início a festa dos Ázimos que durava uma semana. O pão
ingerido neste tempo devia ser ázimo. O primeiro e o último dia dos Ázimos eram
festivos e celebrados em assembléias religiosas.
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A Páscoa solene celebrada por Josias não inclui a Festa dos Ázimos. Foi
consumida no templo de Jerusalém com uma pompa sem par conforme 2Crônicas
35,7-16. Josias entregou ao povo reunido no templo 30.000 ovinos (cabritos e
cordeiros) e 3000 novilhos. Pessoas ricas também fizeram seus donativos ao povo,
aos sacerdotes e aos levitas num total de 7600 ovinos e 800 novilhos. Quando foi
imolado o sacrifício pascal os sacerdotes aspergiram o sangue e os levitas tiraram
o couro, separando o que devia ser queimado daquilo que podia ser comido.
Distribuíram, então, aos diversos grupos de famílias as carnes para ser oferecidas
ao Senhor. Em seguida assaram-nas no fogo e cozinharam em caldeirões as
ofertas votivas. Cantores e coristas alegravam o ambiente com salmos numa
organização muito apurada e perfeita.
Assim todo o povo celebrou sua Páscoa no mês de Misan, no ano 18 do
reinado de Josias.
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• "-%# B. #
dias o pão era feito com a farinha do novo grão, sem fermento e sem sal. Isto
significava o início de um novo tempo, e era celebrado com oferenda da nova
ceara a Javé.
Os israelitas começaram a celebrar os ázimos quando entraram na Terra
Prometida. É possível que a tenham herdado dos Cananeus. Não tinha dia fixo
porque a festa dependia da colheita, mas acontecia sempre no mês de Nisan.
Num certo momento entre a reforma de Josias (622) e o cativeiro (586) as
festas da Páscoa e dos Ázimos se fundiram. A Páscoa prevaleceu e os Ázimos
foram fixados um dia depois para durar uma semana. Páscoa e Ázimos assumiram
um significado comum. Lembravam a libertação que Deus tinha operado no Egito,
acontecimento que ocorreu no mesmo período do ano.
I % %# E *% % %
É a Festa da colheita do trigo. Devia ser celebrada sete semanas depois da colheita da
cevada. Contando sete semanas inteiras, a começar do dia depois do sábado da oferta da
cevada, até o dia posterior ao sábado das sétima semana, completam-se exatamente 50 dias.
A festa foi, assim, denominada Pentecostes. Quando foi estabelecido um dia fixo para a
festa da cevada, também ficou determinado o dia do início da Festa das Semanas.
Era uma festividade alegre, com peregrinação ao santuário. O rito consistia na oferta de
dois pães levedados, feitos com farinha de trigo novo. Havia uma espécie de unidade entre
os Ázimos e Pentecostes: o uso do pão não levedado na primeira festa marcava um início
da colheita, enquanto o uso do pão levedado, 50 dias depois dos ázimos, dava a entender
que a colheita, agora, estava completa.
Os israelitas começaram a celebrar Pentecostes depois de sua entrada em Canaã,
imitando, provavelmente, e assimilando costumes cananeus
Os essênios de Qumrã, seguindo o calendário do “Livro dos Jubileus” celebravam os
Ázimos no dia 26 do mês de Nisan e a festa das Semanas no dia 15 do mês de Sivá.
Embora festa agrícola, Pentecostes foi relacionado com o Êxodo, adquirindo, assim,
outro significado religioso. Os israelitas teriam chegado ao Sinai 3 meses depois de sua
saída do Egito, no mês de Sivá (Ex. 19,1). A festa lembraria assim a chegada ao Sinai. O
Livro dos Jubileus lembra esta relação. Por causa disto, os essênios de Qumrã celebravam a
Aliança do Sinai no dia de Pentecostes.
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É a festa do Rosh Hashana (Ano Novo). Era celebrada no mês de Tisrhi, no primeiro
dia, não só no AT, mas também no tempo do NT. O início do Ano Novo era saudado com
solenidades especiais. Naquela manhã o povo despertava ao som de um chifre, chamado
“shofar” e entre cantos de louvores. Durante o dia haviam reuniões religiosas, sacrifícios e
abstenção do trabalho, tudo precedido por aclamações (Num 10,5). Por causa deste costume
o dia se chamou também “yom teru´ah” ou “dia da aclamação”.
Em outros textos se fala que o ano novo começava no dia 10 de Tisrhi (Lev 25,9), o que
gera bastante confusão. Talvez a data do Levítico indique o início do ano jubilar conforme
outros calendários do Oriente Médio.
Em Babel se celebrava nesta ocasião a festa de Marduk, vencedor de Tiamat, ou o
cosmo vencedor do caos. Parece que este traço guerreiro tenha sido assimilado em Israel e
tenha surgido, em tempos antigos, para celebrar, neste dia, uma vitória javista. Isto
explicaria as aclamações. No tempo dos Reis tal festa, com as respectivas aclamações, ficou
para a celebração do Ano Novo.
Com o andar do tempo também o Ano Novo assumiu datas diferentes, tanto que
existem acenos em Lev 23 e em Num 29,1-6 indicando a Páscoa como a festa do início do
ano.
27
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É a festa da realeza de Javé. Para aqueles que sustentam que o ano novo começava no
mês de Nisan, esta festa era outra festa de Ano Novo. Em Babilônia havia uma festividade
que se prolongava de 1 a 12 de Nisan que visava celebrar a realeza de Marduk. Na assíria e
em Hattusas haviam festas semelhantes. Se no Médio Oriente se celebrava a realeza dos
seus deuses, por que não deveria haver em Israel também uma data em que se celebrasse a
realeza de Javé?
Muitos salmos parecem apoiar esta origem da festa. Mas, embora haja algo de
verdadeiro nisto, com certeza os israelitas não assimilaram os ritos orientais.
A festa se tornou em Israel um memorial da Aliança com a qual Javé, seu Rei, marcou a
existência e a história de Israel.
* * 3 42
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implantado um altar pagão sobre o qual ofereceu sacrifícios a Zeus Olímpio, no dia 25 de
Kisleu (novembro-dezembro). Era esta a abominação da desolação (1Mc 1,57; Dan 9,27;
11,31). Três anos depois, no mesmo dia, Judas Macabeu purificou o santuário, implantou
um novo altar e o consagrou (2Mc 10,5). O evento foi recordado cada ano na festa da
Hanukkah.
A festa durava oito dias, começando aos 25 de Kisleu. Era um evento jubiloso.
Ofereciam-se sacrifícios no templo, faziam-se procissões durante a qual se cantavam os
salmos do Hallel e se abanavam galhos verdes de palmeira e tirso e se acendiam luzes em
profusão. Por isto Josefo Flávio denominou a chamou “Festa das Luzes”. Lâmpadas eram
acendidas diante das casas e alimentadas durante os sete dias, sem interrupção. Elas
significavam a restauração dos candelabros do templo.
Existe uma certa semelhança entre os ritos da Hanukkah com os ritos da festa dos
Tabernáculos, mas existem também grandes diferenças. Na festa da Hannukah foram
cantados, pela primeira vez, os salmos do Hallel. Só mais tarde estes salmos foram
introduzidos no rito pascal.
7 % * "#
Era celebrada, conforme nos diz Josefo Flávio, nos dias 14 e 15 de Adar (fevereiro-
março) e lembrava a vitória dos judeus da Pérsia sobre aqueles que pretendiam ser seus
exterminadores. Os heróis da salvação foram a rainha Éster e Mardoqueu, durante o
governo de Xerxes (485-465), cujo primeiro ministro era Aman, o odiado inimigo de Israel.
Era uma festa alegre, celebrada com refeições e envio de presentes para familiares e
amigos. A vigília da Festa, no dia 13 de Adar, era um dia de jejum, que lembrava o jejum
que Ester fez antes de intervir diante do rei persa. Na sinagoga se lia o livro de Ester. Várias
vezes a leitura era interrompida por imprecações contra Aman e sua família. Era a mais
mundana das festas israelitas, uma espécie de carnaval, com máscaras e costumes.
Acontecia também que homens andavam vestidos de mulher o que era visto pela classe
mais puritana como uma obscenidade.
A palavra “Purim” não é hebraica e nem persa, é acádica. Purim significa sorte.
Do momento que o livro de Éster não é histórico, é difícil determinar a origem desta
festa. Parece ter tido uma origem persa, mas existem festas babilônicas e assírias que lhe
são semelhantes. A festa dos Purim tem suas nas culturas de povos orientais.
Nasceu na Diáspora e não na Palestina e lembra um genocídio do qual os israelitas
escaparam na última hora. Tinha traços também de uma festa pagã de fim de ano, com
banquetes, divertimentos, troca de presentes... Em 2 Mc 15,36 é chamada a Festa de
Mardoqueu. Era uma festa não religiosa, mas popular.
29
3 B *
1. SIQUEM.
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7 N D # "%G
“Abraão levantou suas tendas e foi morar entre os carvalhos de Mambre, perto de
Hebron, e ali construiu um altar do Senhor” (Gen 13,18).
Abraão, Isaac e Jacó moraram naquele lugar e ali foram sepultados com suas
famílias. Foi lugar de peregrinação. Mais tarde, porém, foi profanado por práticas pagãs.
30
9 N NO
Conforme uma tradição eloísta, Deus apareceu a Isaac em Bersabé e lhe confirmou
as promessas feitas a seu pai, Abraão. Para que esta teofania fosse lembrada para sempre, o
patriarca edificou um altar (Gen 26,23-25), ofereceu um sacrifício e teve nova visão de
Deus.
O javista, porém, diz que o fundador foi Abraão.
Bersabé era uma antiga cidade do sul de Canaã onde se adorava a divindade “El
Olam” (o eterno). Os patriarcas teriam aplicado a Javé este título e Bersabé, se teria
tornado santuário israelita durante séculos, até que a idolatria tomou conta do lugar. Amós
condena Bersabé e outros santuários veementemente (5,5; 8,14).
I N B
Eram o santuário portátil dos Israelitas no deserto, o lugar onde Moisés consultava
Javé para conhecer sua vontade (Ex 33,7.11; Num 12,4-10). A tradição mais antiga reza
que Deus chegava sob forma de nuvem, subia e descia sobre a tenda (Ex 33,9) enquanto na
tradição sacerdotal a nuvem tomava posse da Tenda e ficava lá também quando era
carregada na viagem (Num 19,15-23). Nos textos mais antigos se diz que a Tenda estava
fora do acampamento e nos mais recentes se afirma que estava situada no centro do
acampamento.
A tenda, por disposição divina, media 30 x 10 x 10 côvados (côvado = 44 cm) e era
retangular. O tecido era fino e precioso, ornado com figuras de querubins, e coberta com
tiras de pele de cabra e de carneiro, coloridas de vermelho. Tinha uma entrada na parte
oriental e encerrava o Santo dos Santos, em forma de cubo de 10 côvados, dentro da qual
estavam a Arca da Aliança, o candelabro de sete braços e os pães da proposição. Por fora,
diante da entrada, se erguia o altar e havia um tanque para as purificações rituais.
A tenda era cercada por um grande pátio de 100 x 50 cóvados, demarcado com
postes de bronze, sobre os quais hastes de prata ostentavam panos de linho. A medida da
tenda era exatamente a metade daquela do futuro templo de Salomão, que foi construído a
partir deste modelo.
A Tenda sagrada (Qubba) era comum entre os beduínos. Geralmente estava perto da
tenda do chefe, num lugar de honra. O povo a freqüentava para receber oráculos. Seu
transporte se efetuava por meio de camelos.
Quando Davi levou a arca para Jerusalém, a colocou numa tenda. Porém não se
tratava mais da tenda do deserto, mas de um lugar provisório.
ouro chamada “kapporet” que significava “sede da misericórdia”, pois era ali que se
pensava que Deus elargia a sua misericórdia em favor do povo. Sobre a tampa estavam
esculpidos dois querubins. Dentro da Arca haviam as tábuas do Decálogo, um jarro com
maná e a vara de Aarão. A arca precedia os israelitas quando deixaram o Sinai e indicava as
etapas e os lugares para o acampamento.
Ela era o centro do culto israelita ao longo da peregrinação no deserto e continuou a
sê-lo até a destruição do templo em 587.
Depois do ingresso em Canaã, esteve em Gálgala, Betel e Silo. Depois, durante uma
luta contra os filisteus (1Sam 4,11), foi roubada pelos filisteus. Passou de cidade em cidade
causando desgraças até que foi restituída aos israelitas. Ficou em Kiriat-Iearim até que Davi
a transportou para Jerusalém, numa tenda especial levantada para ela. Salomão construiu o
templo e a colocou no Santo dos Santos (2 Sam 6; 1Rs 6,19; 8,1-9). Depois os Livros
sagrados nunca mais falaram da Arca.
N B * H P +
7 B
Foi em Masfá que Godolias estabeleceu sua sede de governo depois da queda de
Jerusalém em 586 (Jer 40,-41).
Hoje não se conhece o lugar onde Masfá estava situada. Uns afirmam que deve ser
identificada com Gabaon, centro importante durante o reinado de Salomão. Se for
verdadeira esta hipótese coincidiria com a moderna Nebi Samwil, localidade que os árabes
de hoje relacionam com Samuel. Esta opinião tem a seu favor a etimologia da palavra
Mizpá que significa: “Lugar de vigia” e Nebi Samwil está colocado sobre uma colina de
altura apreciável, vigiando altaneiro os lugares circunvizinhos.
9 D G N P
O livro dos Juizes, capítulo 6, nos dá duas versões da fundação deste santuário. A
primeira reza que o Anjo de Javé apareceu a Gedeão, filho de Joás, da tribo de Manassés,
enquanto almoçava, num dia da debulha do trigo, e lhe deu a missão de libertar Israel da
escravidão dos madianitas. O anjo lhe ordenou oferecer sua refeição como sacrifício sobre
uma rocha. Gedeão o fez e construiu um altar (6,11-24). A segunda narra que Deus falou
em sonho a Gedeão e lhe ordenou destruir o altar que seus pais tinham levantado em honra
de Baal, de cortar o poste sagrado (asherat) pagão, construir um altar e queimar um
sacrifício usando, como madeira, o mesmo poste. Assim, um santuário pertencente ao clã
pagão de Joás foi transformado em santuário israelita javista.
Jz 8,22-27 insinua que depois da vitória de Gedeão o santuário voltou a ser um lugar
de culto idolátrico.
O santuário de Dan teve um início estranho (Jz 17-18). Micas, da tribo de Dan,
roubou prata de sua mãe e mais tarde restituiu o que furtara. Com esta prata ela fez um
ídolo. Micas colocou o ídolo num santuário, junto com um Efod e alguns Terafins ou
divindades domésticas e nomeou como sacerdote seu filho, que logo mais foi substituído
por um levita.
Aconteceu que um grupo da tribo de Dan emigrou para o norte, roubou tudo o que
havia no templo, raptado inclusive o levita, e se estabeleceu em Laís, depois de ter
exterminado todos os seus habitantes. Ali batizaram o lugar com o nome Dan e ergueram o
santuário roubado.
Embora a história tenha todas as características de um culto idolátrico, todavia
parece que o autor deuteronomista carregou um pouco demais as tintas para denegrir a ação
de Jeroboão 1o, do reino do norte, que escolheu dois santuários do seu reino, o de Betel e o
outro de Dan para colocar neles um bezerro de ouro.
Se nós considerarmos que:
* A mãe de Micas consagrou sua prata a Javé
*Logo que foi possível, Micas escolheu um levita para presidir o santuário
pois sabia que o sacerdócio levítico era o legítimo.
* Os danitas usavam o Efod para consultar a Deus.
* O levita tinha nome Jônatas e era neto de Moisés.
* Seus descendentes continuaram a servir no santuário até 722
33
Então poderemos ao menos suspeitar que a origem heterodoxa que foi dada ao
santuário visava outra finalidade determinada.
= H O
* H O
1. &'
Salomão começou a construir o templo no mês de Ziv, no ano 957, num lugar que
seu pai Davi tinha escolhido e adquirido, onde havia uma enorme rocha que serviu como
base ao altar dos holocaustos ou ao Santo dos Santos. Daquele tempo até hoje a localidade
sempre ficou ocupada. Hoje impera a Mesquita de Omar.
Para a construção do templo foram necessários quase sete anos de trabalho. Madeira
e operários especializados vieram de Tiro, cedidos pelo rei Hiram. Pedras e mão de obra
foram obtidas em Jerusalém e arredores (1Rs 5,15-31). Na Bíblia faltam muitos detalhes,
embora a linha geral seja clara.
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O interior do templo estava dividido em 3 secções: O Ulam ou vestíbulo; o Heqal
ou santuário e o Debir ou Santo dos Santos. No Debir estava a arca da Aliança e era
a parte mais santa. O edifício todo tinha uma largura de 20 côvados. O comprimento
do Ulam era de 20 côvados, aquele do Heqal 40 côvados de comprimento e 20 de
largura e 26 de altura e do Debir 20 côvados de comprimento, de largura e de altura.
Havia com certeza um muro entre o Ulam e o Heqal, enquanto Heqal e Debir
formavam uma unidade (1Rs 6,2). O Debir era um cubo perfeito.
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Bem de fronte ao templo de Salomão estavam duas colunas de bronze
(Iachin e Boaz) à direita e à esquerda da entrada, num átrio bastante amplo. Não
34
Dentro do Debir havia a Arca da Aliança. Perto dela e sobre ela dois querubins de
madeira revestida de ouro, cujas asas se estendiam de um ao outro muro e cuja escultura se
elevava 10 côvados da base da arca (1Rs 6,23-28).
No Heqal havia o altar para o incenso, a tábua dos pães da proposição e 10
candelabros (1Rs 7,48-49).
O templo não era uma capela real, mas os monarcas, Salomão e seus sucessores,
eram responsáveis por sua manutenção. O templo era o santuário nacional, o centro de todo
o culto ortodoxo. O rei tinha um lugar de honra no templo por ser o patrono principal do
edifício, todavia não possuía nenhum caráter sacerdotal, embora tivesse muita liberdade de
exercer seu poder também sobre o templo.
I < Q" % %# 61
Não sabemos qual era o aspecto do novo templo. Certamente tinha as medidas do
antigo, mas era muito mais modesto em sua ornamentação. Ao longo dos séculos recebeu
retoques e ficou cada vez mais bonito e rico. Em 169 Antíoco Epifânio o depredou, levando
o altar, o candelabro de ouro, as mesas das ofertas, o véu da entrada, um prato de ouro e
utensílios sagrados (1Mc 4,36-39). Uma segunda profanação houve em 167 quando o
mesmo rei proibiu todo sacrifício e mandou que se adorasse Zeus Olímpio (1Mac 1,44-49).
Em 164 o templo foi purificado pelos Macabeus e foi de novo consagrado (1Mac 4,36-59).
No ano 20 Herodes, o Grande, reformulou completamente o templo.
= - $ % 1Q- %# 61
O templo foi muito importante para vida de Israel, pois era considerado a habitação
de Deus no meio do seu povo. Quando a Arca entrou no Templo, Deus também tomou
posse de sua casa, enchendo o templo com uma nuvem (1Rs 8,12;Num 12,4-10)).
Os profetas sempre anunciaram que a presença de Deus no meio do povo era um
favor gratuito e podia faltar se o povo se mostrava indigno.
Mais tarde, evoluindo e aperfeiçoando-se o raciocínio teológico a respeito da
transcendência de Deus, se afirmou que Deus vive nos céus, mas escuta as orações que lhe
são endereçadas no Templo. Então o Templo se tornou sinal da presença de Deus, símbolo
da eleição de Israel como povo de Deus e sinal de sua predileção para com Jerusalém. Era a
“glória de Deus” que habitava no templo (2Cron 5,14), vale dizer que no templo Deus era
glorificado.
Jeremias alertou e falou muito duro contra aqueles que consideravam o templo
como um amuleto que trazia sorte(Jer 7,1-15; 26,1-15). Isto se deu principalmente quando a
cidade foi salva das mãos do exército de Senaquerib e o povo, eufórico, e iludiu pensando
que o templo oferecia uma proteção segura contra qualquer inimigo. Esta convicção foi
desmentida pela catástrofe de 587.
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O templo era o centro do culto israelita ou, até mesmo, o único lugar de culto. Antes
dele haviam muitos santuários de maior ou menor importância. Os mais conceituados eram
sempre aqueles que tinham hospedado a arca. Com a construção do templo, Jerusalém
assumiu a liderança entre os santuários. Quando aconteceu a divisão do reino (929), o rei
Jeroboão, do norte, pensou que a continuação central do culto em Jerusalém podia
enfraquecer o poder político do norte. Favoreceu, então, santuários rivais de Jerusalém,
Betel e Dan (1Rs 12,27-30), colocando neles bezerros de ouro. Embora o rei não
entendesse praticar idolatria e rejeitar o culto de Javé (touros e querubins eram
simplesmente símbolos e não ídolos), os bezerros de ouro aliciaram o povo ao culto do
Deus cananeu Baal, provocando reações violentas por parte dos profetas. Todavia os
santuários de Betel, Dan, Gálgala e Bersabé continuaram florescendo sempre mais. Foi no
tempo de Ezequias (715 –705) que se fez um passo adiante para a unificação do culto.
Foram suprimidos todos os santuários fora de Jerusalém (2Rs 18,4,22). Josias continuou o
trabalho do avô de maneira violenta e radical e convocou para Jerusalém todos os
sacerdotes de Judá (23,5.8.9). Em 621, ano em que foi descoberto no templo o livro da lei,
36
que serviu de base à unificação do culto, celebrou uma grandiosa Páscoa em Jerusalém com
a finalidade de inulcar aquela unidade de culto que fazia do Templo o único lugar dea
doração em Israel.
Depois da trágica morte de Josias em 609, a reforma abortou e tudo andou
deteriorando até 538, o ano da grande desgraça. Na volta do exílio se realizou o que Josias
sonhara. De 538 até 70d.C o templo foi o único lugar de culto para Judá.
Fora da Palestina houve dois templos: um em Elefantina, ilha do Nilo, e outro em
Leontópolis, sempre mal vistos pelos judeus ortodoxos.
Na Palestina havia o templo samaritano de Garizim, considerado heterodoxo pelos
judeus, que foi destruído no ano 129 por João Ircano.
As Sinagogas não figuram na literatura do AT. Não sabemos quando surgiram, mas
se supõe que já existissem no tempo do cativeiro ou depois do exílio (538).
A palavra grega “συναγωγη” significa povo reunido, comunidade do povo ou o
nome do edifício em que os judeus celebravam suas reuniões religiosas.
Eram geralmente construídas segundo uma planta retangular, quase sempre dividida
em três naves, separadas entre si por colunas e cada uma com uma entrada própria. Como o
judeu, nas suas orações, dirigia coração e olhar para Jerusalém (Dan 6,10), as sinagogas
eram construídas de tal maneira que a comunidade, a abside e as portas, ficavam orientadas
naquela direção.
Os rabinos consideravam a Sinagoga como um templo em miniatura. O lugar onde
estavam os livros sagrados era chamado o Santo e estava fechado com um véu. Ao longo
das paredes estavam os bancos para os fiéis, no meio, no lado do Santo, havia um estrado,
com estante para o presidente e o leitor. Não faltavam lâmpadas e tapetes.
Os atos religiosos eram celebrados, nos primeiros tempos, aos sábados e dias de
festa. Mais tarde também em outros dias especiais (jejum...). Começava-se com a leitura do
Xemá (profissão de fé) e outras orações. Seguia-se a leitura e a explicação de um trecho da
Lei e dos profetas (At 13,15). A reunião era encerrada com uma bênção (Num 6,24-26).
Era a autoridade civil que tomava conta da sinagoga quando estava situada em
lugares governados por judeus. Se o lugar era de população mista ou havia mais de uma
sinagoga, a direção constava de três pessoas.
Atuavam na Sinagoga um presidente (αρχισυναγωγοσ) que dirigia o culto,
mantinha a ordem (Mac 3,35ss) e escolhia leitores comentaristas e um ministro do dia que
entregava o rolo sagrado ao leitor e depois o guardava. O ministro do dia também aplicava
o castigo da flagelação e anunciava a toque de trombeta o início do sábado.
Ser expulso da Sinagoga era considerado castigo pesado, pois implicava na exclusão
da comunidade judaica.
As Sinagogas da diáspora contribuíram muito para a divulgação do monoteísmo
entre os pagãos.
Havia nas Sinagogas um depósito onde se guardavam coisas velhas, rolos
sobretudo. Estes depósitos eram chamados “Genizá”. Foi na Genizá da Sinagoga do Cairo
que foram encontrados manuscritos muito antigos e de valor imenso para nós.,
37
H * 2 N2N
Filo nasceu em Alexandria entre 25 –20 antes de nossa era numa rica família judia e
morreu no ano 41 depois de Cristo. Formado na filosofia grega e na tradição judaica, tentou
ser uma ponte entre os dois campos de conhecimento.
Nada, ou quase, sabemos de sua vida. Dedicou-se desde jovem o estudo e à
contemplação e, mais tarde, se engajou ativamente na vida da comunidade judaica. No ano
40 d.C fez parte de uma delegação enviada pela Sinagoga a Roma para apresentar queixas
ao imperador Calígula a respeito das perseguições contra os judeus de Alexandria, por não
adorarem os símbolos imperiais.
As obras principais de Filo foram:
• Tratados de filosofia.
• Obras apologéticas.
• Apologia dos judeus.
• Vida contemplativa.
• Estudos bíblicos.
• Alegoria da lei judaica.
• Exposições da lei
Importante é o seu esforço em avizinhar a tradição bíblico-judaica ao helenismo.
Sua filosofia é neo-platônica e tenta conciliar razão com revelação.
Existem livros atribuídos a ele mas que não o são. O mais conhecido é
“Antiguidades bíblicas”. Na idade média este livro foi editado junto com as obras de Fílo,
mas não é de sua autoria. Trata-se de um compêndio de história da Bíblia de Adão a Saul.
3 H B+
Josefo Ben Matias nasceu na Palestina de família sacerdotal entre 37-38 de nossa
era e faleceu em Roma pelo ano 100.
Ele afirma que, quando tinha 16 anos, estudou as seitas judaicas dos fariseus, dos
saduceus e dos essênios e que passou 3 anos junto com o ermitão Bannus, antes de se filiar
definitivamente ao movimento farisaico.
No ano 64 esteve em Roma, onde conheceu personagens importantes, entre as quais
Popéia, mulher de Nero. Na cidade eterna ficou deslumbrado pelo poder e luxo dos latinos.
Voltou à Palestina quando eclodiu o movimento revolucionário. Tentou persuadir os judeus
a desistirem da rebelião, mas acabou aderindo e foi eleito chefe das forças judaicas da
Galiléia. Vencido em 67 em Jotapata, se entregou ao vencedor, Vespasiano, com uma
atitude muito duvidosas a respeito da lealdade com a causa Palestina. Predisse ao general
romano sua vitória e foi libertado em 69. Assumiu, então, o nome “Josefo Flávio”, em
homenagem ao imperador. Após a conquista de Jerusalém por parte de Tito, foi para Roma
e recebeu uma pensão vitalícia, cidadania romana e um palácio real, como residência.
38
As obras que ele escreveu em Roma são as maiores fontes que temos da história
judaica, desde os Macabeus até a caída de Masada. Os livros principais escritos por ele são:
• A Guerra Judaica. Foi escrita pelos anos 70 em aramaico e traduzida em grego. É
um livro filo-romano que nos dá uma visão geral da história dos judeus no período
helenista e da guerra dos judeus contra Roma, a partir daquilo que ele presenciou e
de documentos militares romanos.
• Antiguidades Judaicas ou a História. É uma obra em 20 volumes, editada pelos
anos 93-94 d.C. Conta a história judaica a partir dos Patriarcas até o domínio
romano. Suas fontes não são somente bíblicas, mas procedem também de tradições
populares e outros documentos gregos e latinos.
É nesta obra em que aparece o famoso Testimonium Flavianum, no qual se fala
de Jesus. Muitos acreditam que este Testimonium Flavianum seja uma interpolação
tardia de copistas cristãos.
• Outras obras, chamadas menores, aparecem como apêndice às Antiguidades. As
mais conhecidas são uma autobiografia pela qual quer justificar suas atitudes
como comandante na Galiléia e o opúsculo Contra Apião que é uma polêmica em
defesa dos judeus caluniados por pagãos.
39
H O
Do ano 1250 a 400 aC, período que vai de Moisés a Esdras, o estudo da LEI foi se
desenvolvendo sempre mais. O Decálogo se tornou coração da experiência da Aliança
sinaítica. Nasceram, depois, os códigos legislativos do Pentateuco entre o 1200 e o 600 aC.
Esdras completou o Pentateuco e foram definitivamente fixados o Código da Aliança e
aquele sacerdotal. Desde então nada mais foi acrescentado à Torah. Outras leis começaram
a vigorar conforme as novas situações em que Israel se debatia, mas foram leis orais que
interpretavam a lei escrita, a Torah ou os livros de Moisés. O espírito da lei oral era
proteger a lei bíblica escrita, colocando barreiras ao seu derredor. Se alguém observava a lei
oral, forçosamente observava aquela escrita.
Surgiu, então, um grupo de leis (como o nosso Direito Canônico) que orientavam
detalhadamente o judeu para observar aquilo que Deus mandara através de Moisés.
Podemos dividir o desenvolvimento da lei judaica de Esdras até o Talmud em 4
períodos.
R* 2 N
(400 a 270 aC)
Desde o tempo de Esdras era chamado Escriba (em hebraico Sopherim) todo aquele
que era entendido nas coisas das leis. Conta uma lenda judaica que havia uma grande
sinagoga, um conselho que se ocupava do governo do judaísmo, fundada por Esdras e
abrangendo 120 homens. Entre outras coisas a lenda diz que este Conselho promulgou a lei
e fixou o cânon do AT. A narração é imaginária a não ser na seguinte particularidade: neste
período os escribas estudavam a lei com cuidado e a comentavam.
Pouco temos do período dos escribas, mas a legislação posterior hauriu muito dele.
O método de ensino da lei e da sabedoria legal se efetuava freqüentemente através
de um comentário do texto bíblico denominado Midrash. Este método continuou até o ano
1000 d.C. Porém os midrashim mais antigos que chegaram até nós são do II século da
nossa era. Existem duas espécies de Midrash:
• Midrash Halaká que é uma explicação do texto para tirar dele normas legislativas.
• Midrash Haggadá que era uma explicação do texto para fins éticos e devocionais.
3* 2 *
(270 a 1 aC)
R * 2
(1 – 200 dC)
O período tanaítico deu à luz muitos midrashim. Sublinhamos SIFRA que trata do
Levítico; SIFRE a respeito dos livro dos Números e Deuteronômio; MEKILTHA sobre o
assunto do Êxodo...
+R* 2
(200 – 500 dC)
Certamente o Talmud tem coisas importantes sob o ponto de vista bíblico, histórico
e ético. Mas sob outros pontos de vista não é digno de crédito. Citaremos alguns itens.
42
Por isto e por outras coisas que omitimos, o Talmud não parece confiável. Um
israelita muito culto assim se exprime a respeito: “Naquele amontoado de questões e
discussões jurídicas, misturadas a digressões mais ou menos plausíveis, se haurem tão
poucas notícias verdadeiramente históricas que quase não são percebidas. Que grande
ignorância, porém, nelas e quantas expressões desatinadas as envolvem. Precisa-se
reconhecer que são mui pouco dignas de serem tomadas em consideração!” (J. Juster.
Lês Juifs dans l´empire romain).
43
+ < * +
D # 6 1?# " 1% / % SG
origem davídica e que, para Jesus ser da família de Davi, se fazia mister reconhecer
uma intervenção de José na concepção, para salvar a origem davídica de Jesus.
As polêmicas ferviam. No fim do II século, Celso, repetindo as calúnias judaicas do
Talmud e do Toledoth Iesu, escrevia: “O nascimento de Jesus de uma virgem foi
totalmente inventado. Em verdade nasceu numa localidade da Judéia e foi filho de
uma camponesa que tecia linho para viver. Ela foi abandonada pelo marido, que
era um carpinteiro porque se provou que tinha adulterado, andou ao léu e gerou
secretamente a Jesus que era filho de um soldado chamado Pantera” (Trecho
citado por Orígenes na sua polêmica contra Celso).
A Virgindade de Maria era atacada não somente por Celso e pelos judeus, mas
também por uma escola cristológica denominada docetismo. Esta escola infetou
muitas heresias posteriores como o gnosticismo e o maniqueísmo.
Os docetas ensinavam que a união da natureza humana e divina de Cristo
repugnava à essência de Deus. Por isto, diziam que Cristo não tivera corpo carnal,
mas um corpo “imaginário” e que tinha nascido, vivido, sofrido só aparentemente.
Jesus teria vindo entre nós não de Maria mas através dela, passando por ela e não
sendo gerado. Maria não foi mãe de Jesus, mas caminho pelo qual Jesus veio a nós.
A questão da Virgindade era debatida, então, por duas teses opostas com o risco
de ceder de um lado para combater o outro. Assim Tertuliano, opondo-se ao
docetismo de Marcião, afirmou alto e bom tom que Maria não foi virgem no parto.
A polêmica teve uma conclusão com os esclarecimentos de Santo Ambrósio e
Santo Agostinho que proclamaram a tríplice virgindade como, aliás, o Pseudo
Mateus também sustenta: Virgem quando concebeu e ficou grávida, virgem quando
deu a luz e virgem depois do parto (Sermões de Agostinho – De incarnatione: Santo
Ambrósio).
Não queremos tratar e nem comentar os milagres que são narrados nos Evangelhos
da Infância,(fatos que mais servem para ridicularizar os escritos do que edificar os leitores)
e nem outros aspectos que mereceriam nossa atenção, como a relação entre os personagens
bíblicos e aqueles apócrifos, entre a educação dada a Maria e a educação proposta pela
regra de São Bento, as festas assumidas pela Igreja a partir de episódios daqueles livros
(Apresentação de Nossa Senhora ao templo, as liturgias de São Joaquim e de Santana...).
Quisemos somente sublinhar o espírito de polêmica que liga estes Evangelhos com
a Misnhá. Sendo esta faceta quase que esquecida em prol do fantástico que perpassa os
apócrifos, cremos ter levantado uma ponta do véu que cobre um aspecto que, segundo nós,
deveria ser analisado e estudado com maior profundidade.
46
R N ,
E O
<
Não está ao nosso alcance enumerar o conjunto dos documentos e fazer a lista dos
ouros achados encontrados nas grutas e ruínas.
Começaremos por uma indicação genérica de alguns objetos achados.
• Cerâmica: é uma cerâmica helenística do 1o e 2o século aC. Encontra-se o
mesmo tipo de ânforas nas grutas e edifícios, o que prova a relação entre
eles.
• Moedas: Foram encontradas moedas somente nos edifícios. Moedas num
lugar indicam o tempo em que o homem deixou a moeda. Foram descobertas
moedas de prata e de bronze do tempo dos Seléucidas (145 – 129 aC);
moedas judaicas do tempo dos Asmoneus (134 – 37 aC); moedas herodianas
47
7 < T
A seita de Qumrã, portanto, deve ser relacionada com os Hassideus (os pios), que se
revoltaram contra Antíoco e aos quais se uniu também Matatias, o pai dos
Macabeus. Eles estavam repletos de furor por causa das blasfêmias e da deserção
dos judeus favoráveis ao sacrílego Antíoco que, em 172, substituiu o sumo
sacerdote sadoquista Jasão por Menelau, que era de outra linhagem.
A mesma etimologia da palavra “essênio” parece estar ligada com “hasya”, o
equivalente aramaico de “hasid” ou Hassideus.
Durante um certo tempo os Hassideus apoiaram os Macabeus. Porém os Hassideus
só visavam a religião enquanto os Macabeus queriam controlar a política e o poder.
Um primeiro conflito surgiu quando o ímpio rei Demétrio impôs como sumo
sacerdote Alcimo (162), aceito pelos Hassideus por ser da família de Aarão, mas não
pelos Macabeus, que o consideravam um traidor. Durante uns vinte anos, diz a carta
de Damasco, o grupo andou tateando na escuridão, até que Deus fez surgir entre
eles um Mestre de Justiça, para guiá-los na caminhada certa.
• O Mestre de Justiça.
Não conhecemos sua identidade. Devia ser um sacerdote de linhagem sadoquista e
muito religioso. Não tem fundamento nenhum aquela teoria que o apresenta como
Messias crucificado e ressurgido dos mortos.
O incidente que causou o rompimento entre Essênios e Macabeus deu-se,
provavelmente, durante o governo de Jônatas. Em 152 ele recebeu pelas mãos do rei
sírio, Alexandre Bala, o cargo de Sumo Sacerdote. Jônatas não era de descendência
sadoquista e, portanto, sua eleição foi ilegítima. Os Hassideus consideraram tal ação
sacrílega. Na Carta de Damasco se fala de um sacerdote ímpio, fiel no início, mas
que se tornou depois traidor dos mandamentos. A carta Halákika seria uma carta
enviada pelo Mestre da Justiça àquele sacerdote.
Há um jogo de palavras, em hebraico, “há-Kohen há rosh” (Sumo Sacerdote) e
“há-Kohen há rasha” (sacerdote ímpio) que foram usadas para o caso. Este
sacerdote foi identificado como Jônatas Macabeu. Na carta se narra também que
ele perseguiu o Mestre da Justiça até num dia santo, o dia da Expiação. Mas não
teve sucesso e foi castigado por Deus que o entregou nas mãos dos gentios. Aqui
existe uma pista importante que parece identificar Jônatas com “o sacerdote ímpio.”
Jônatas foi preso pelo general Trifão e morreu na prisão em 143 (1Mac 14,41-48).
O Mestre da Justiça sobreviveu àquelas perseguições porque “Os convertidos de
Israel saíram da terra de Judá para habitar na terra de Damasco” (Carta de
Damasco 6,5). Damasco não indica a cidade da Síria, mas é sinônimo de exílio. A
arqueologia aponta que o complexo de Qumrã começou a ser habitdo em 140-130.
Qumrã poderia muito bem ser o “Damasco” da carta. O Mestre da Justiça teria
morrido entre 134–104 deixando seus seguidores na espera de um Messias que Deus
em breve enviaria para sua libertação.
fiéis aos Hassideus na eleição do Sumo Pontífice Jônatas e a João Hircano, sbrinho
de Jônatas. O período entre 131 e 110 foi muito próspero para o grupo de Qumrã.
Naquela localidade fizeram uma dura oposição aos reis e sacerdotes asmoneus.
Muitos manuscritos de Qumrã censuram a estirpe macabéia e consideram os
terríveis Kittim (romanos) como instrumento da ira de Deus sobre aqueles ímpios.
A arqueologia registra uma violenta destruição do complexo qumrâmico e a atribui
a incêndios e tremores de terra. Sabemos, pela história, que houve um forte tremor
de terra no ano 31 aC. Talvez causa da destruição deva ser tributada a este
cataclismo. Alguns a atribuem a Herodes (37 –4 aC) que não podia suportar um
aglomerado de gente tão numeroso e ativo perto de seu quartel geral, situado em
Jericó. Parece, porém, que Herodes sempre foi favorável aos essênios. Outros ainda
falam que as destruições foram provocadas por inimigos dos essênios.
Seja como for. Qumrã só voltou a reviver só depois da morte de Herodes, nos anos
5 ou 6 de nossa era..
9 + P
Existiam essênios espalhados por toda a Palestina, em acampamentos e cidades. Não
sabemos até que ponto a vida deles estava relacionada com o centro monástico de Qumrã.
Aquilo que nós conhecemos, ao menos um pouco, é a vida do grupo de Qumrã.
• Vida de comunidade.
Certamente os edifícios daquele lugar estavam ao serviço de muitos adeptos que
viviam ali perto, em cabanas ou em grutas. A Admissão a esta comunidade da Nova
Aliança era rigorosamente regulamentada. Os candidatos deviam ser israelitas e
detalhadamente examinados por um supervisor. Quando admitidos, deviam fazer
um juramento de obedecer cegamente à lei, como era interpretada pela tradição
sadoquista do Mestre da Justiça. Eram, então, sumetidos a um rito de purificação no
qual se requeria, sobretudo, pureza de coração.
Durante o primeiro ano, o noviço continuava com suas posses e não tomava parte
dos banquetes solenes e nem das cerimônias rituais da comunidade. No fim do ano
havia outro exame. O aluno promovido se tornava, a partir daquele momento,
membro da comunidade, com direitos e deveres, começava a participar das refeições
e seus bens eram transferidos para o patrimônio da comunidade. Haviam normas
severas que visavam punir quem transgredia os preceitos da comunidade. Os
reincidentes eram expulsos.
O celibato era praticado, mas não por todos. Havia na comunidade mulheres e
crianças. Supõe-se que um grupo, a elite, o praticasse. O celibato é mencionado por
todos os autores antigos (Josefo Flávio, Filo, Plínio) mais por ser algo de incomum
no mundo de então do que uma regra universal entre os essênios.
Parece que não praticavam sacrifícios de animais.
Havia um lugar nos edifícios reservado ao trabalho de transcrição dos rolos. Era um
grande escritório, Neste lugar foram encontrados somente tinteiros, mas nenhum
manuscrito. No edifício não havia residências particulares, O povo se reunia por lá
depois do trabalho de cada dia para a oração em comum, o estudo, a leitura e as
refeições. Era uma vida semelhante àquela dos primeiros cristãos da comunidade de
Jerusalém.
• Organização da Comunidade.
O grupo levava uma vida comunitária. Comiam juntos, rezavam juntos, tomavam
decisões junto e juntos trabalhavam. Consideravam-se o “resto de Israel” que Deus
tinha predestinado para ser “árvore da justiça e da fidelidade”.
Havia uma hierarquia bem definida. A autoridade estava nas mãos dos sacerdotes.
A comunidade estava simbolicamente dividida em doze tribos, em grupos de mil,
cem, cinqüenta e dez presididos por um sacerdote e um supervisor.. (Lembremos
que Jesus, no milagre da multiplicação dos pães também mandou dividir o povo em
grupos de cinqüenta). Havia um Conselho Supremo que se reunia cada ano, no dia
de Pentecostes, formado por 12 membros, três dos quais eram sacerdotes (os 12
apóstolos?). O sacerdote que tomava conta da comunidade se chamava Maskil, ou
mestre instrutor que era ajudado por muitos funcionários, entre os quais havia um
tesoureiro. Era tarefa do Maskil presidir às reuniões, ensinar os mistérios de Deus,
examinar os candidatos e ser exemplo para os outros.
A Assembleia de todos os membros adultos da comunidade com o Conselho
Supremo formava a Assembléia dos Muitos. Era a autoridade suprema.
52
I 1 * B
• 1- %#% #
Enquanto vivia o Mestre da Justiça não se falava explicitamente em escatologia e
nem em messianismo. O Mestre da Justiça não era considerado Messias e nem
assumiu títulos messiânicos, mas considerava sua obra como ocasião única de
salvação para Israel, talvez se refazendo ao Servo Sofredor de Isaias. Quando
morreu (120 – 110aC) entraram a fazer parte da seita um grande número de fariseus
e, com eles, subentrou também a fé na vinda de um Messias. Pelo ano 100 apareceu
a Carta de Damasco e a Comunidade se deu conta de que sua libertação não tinha
acontecido durante o tempo do Mestre da Justiça e se acreditou que, num lapso de
40 anos, haveria o messianismo e o fim dos tempos, com o castigo dos inimigos de
Deus. Porém, no Pesher de Habacuc, encontrado na gruta 1 (1QpHab), se anuncia
claramente que Deus prolongou o tempo de sua visita.
A mais famosa das obras escatológicas de Qumrã é a “Regra da Guerra”,
encontrada nas grutas 1 e 4 . Trata da luta entre os Filhos da Luz e os Filhos das
Trevas, que haverá de durar 40 anos. A Guerra é definida “dia da vingança” ou
“batalha de Deus”. Os Filhos da Luz não combaterão sozinhos, tem como aliados os
anjos bons. Do outro lado, os Filhos das Trevas, serão apoiados por anjos maus. O
combate será incerto. Três vezes vencerão os Filhos da Luz e três vezes os Filhos
das Trevas. Depois deste empate, haverá a sétima luta na qual Deus humiliará
Satanás e seus seguidores.
Os 40 anos são assim divididos:
- Cinco anos sabáticos durante os quais é proibido lutar
- Seis anos em que todos combatem
- 29 anos em que só alguns combatem.
No livro são determinadas as idades dos combatentes, a função dos sacerdotes e
Levitas, o lugar das lutas.
Os Essênios esperavam por dois Messias: um Messias Sacerdote, o Messias de
Aarão, com um papel secundário, de orientador e um Messias de Israel, um Rei, o
protagonista principal, da família de Davi.
Não eram claras as idéias essênias do após a morte. O Rôtulo do Templo fala de
um Novo Templo ou de uma Nova Jerusalém a aparecerem depois da última luta
entre o bem e o mal e depois da destruição do mundo.
• *"% % %"# #
O Determinismo está fortemente acentuado nos escritos de Qumrã. Deus é Criador
de tudo, mas antes ainda de criar o mundo, estabeleceu o que devia acontecer à sua
criação. Tudo já foi pré-determinado.
As conclusões que os essênios tiraram deste princípio são drásticas.
- Não adianta fazer prosélitos porque já está estabelecido quem
pertence ao grupo dos “muitos” e quem é excluído.
- Quem se deve perder se perde e não há conversão possível.
- O homem por nada influencia o andar dos acontecimentos. O que
deve acontecer acontecerá.
53
• " # /
Neste plano predeterminado por Deus existem dois caminhos: o da treva, ou do mal,
e o da luz, ou do bem. Todo o universo está submerso nesta dualidade firmemente
controlada por Deus. Homens e anjos pertencem a uma destas realidades e as duas
partes lutam continuamente entre si. Esta luta acabará somente no dia do juízo final.
Os Filhos da luz e anjos, seus aliados, sairão vitoriosos.
Esta guerra cósmica entre duas forças radicais se reflete também no campo
individual. Toda pessoa contém luzes e trevas, é santa e pecadora...
• # % ( 1 &
Deus quis firmar uma Nova Aliança com o seu povo. Escolheu-o e revelou-lhe sua
vontade em tempos diversos, de modo especial no Sinai. Os descendentes de
Abraão viveram uma relação de Aliança com Deus, até que sua desobediência
obrigou Deus a castiga-los com o cativeiro de Babilônia. Deus estreitou uma Nova
Aliança com o resto daquele povo. Os que viviam em Qumrã se consideravam parte
deste resto que Deus predestinou a ser “árvore da justiça e da fidelidade”.
Cada ano se celebrava, em Qumrã, a renovação desta Aliança. O ritual desta
celebração está amplamente descrito na “Regra da Comunidade”.
• 1% !" % 1
O ano solar tinha 364 dias e o lunar 354. Nestes calendários são mencionadas as
festas da Bíblia hebraica e as festas próprias dos essênios. Os calendários de Qumrã
eram diferentes daqueles usados no Templo. Por isto não havia coincidência de
festas comuns e existiam dias festivos que não apareciam no calendário judaico.
Sendo o calendário lunar muito reduzido, com meses de 29 e 30 dias, num total
anual de 354 dias, era necessário acrescentar um mês cada três anos, para que o
calendário lunar coincidisse com o calendário solar.
O mês começava sempre na lua cheia, no quarto dia da semana (quarta feira), pois
Deus tinha criado sol, lua e estrelas no quarto dia.
No culto não havia sacrifícios de animais. Os esqueletos que a arqueologia
encontrou nada tem a ver com animais imolados, mas com animais abatidos para
alimentação.
• "# C .
Testemunhas fora do grupo, Josefo Flávio de maneira especial (Guerra Judaica
2,120ss), falam que os Essênios viviam vida casta, não cediam às tentações da
carne, desprezavam o casamento, adotavam filhos de outros quando ainda menores
e os educavam conforme seus princípios. Josefo Flávio, reconhecendo, talvez, ter
54
= , +
Existem entre os escritos de Qumrã e o N.T. semelhanças e diferenças. Houve
quem opinou que os moradores de Qumrã eram cristãos. Admitir isto seria um
anacronismo evidente.
Notemos, antes de tudo:
• Jesus nunca é mencionado.
• Nenhum livro do NT foi encontrado por lá. (A respeito da gruta 7Q se falará em
seguida).
• È possível que textos de Qumrã tenham influenciado o NT e outros escritos
cristãos.
• Jesus se parece muito com o Mestre da Justiça.
• A maneira de viver da Comunidade essênia se parece muito com as primeiras
comunidades cristãs.
• Os 12 membros do Conselho de Qumrã lembram os 12 apóstolos.
55
Surgiram muitas polêmicas a respeito e parece que é pouco demais o que aquele
fragmento apresenta para dar certeza de que seja verdadeiramente de Marcos.
Acrescentemos que foi encontrado um versículo do apócrifo de Henoc que apresenta as
mesma características. Todavia persistem dúvidas, porque, na mesma gruta, havia uma
ânfora enviada de Roma, tendo gravado nela o local de sua proveniência.
> * U ,
Falando da importância, só podemos acenar a alguns itens de maneira muito superficial,
pois só com uma análise profunda seria viável sublinhar todo os benefícios que
haurimos das descobertas de Qumrã.
Estas trouxeram uma contribuição muito grande para o conhecimento do conteúdo
do AT. Qumrã floresceu entre 150 aC e 70dC. Judeus e cristãos tinham unicamente
livros da Bíblia hebraica. Os manuscritos de Qumrã deram maior luz sobre os textos em
hebraico, sobre o desenvolvimento e a evolução de livros bíblicos e sobre o Cânon do
AT.
O manuscrito mais completo de Qumrã foi o Livro de Isaias da gruta 1, contendo
todos os 66 capítulos. Antes de 1947 não se possuía uma cópia hebraica sequer de
textos anteriores à época cristã, mas somente traduções. O texto massorético é dos anos
890-100 dC. Os Setenta já são uma tradução e não um texto original, e as cópias mais
antigas desta tradução são do século 3o dC. Não temos o original do Pentateuco
Samaritano, mas somente manuscritos da idade média... Eis, então, que as descobertas
colocam em nossas mãos textos datados entre 250 aC até 70 dC. São cópias bem
antigas de livros bíblicos que já possuíamos.
Antes de 1947 pouco ou nada sabíamos da língua falada na Palestina nos dois
primeiros séculos antes de Cristo e 1 século depois. Qumrã nos abriu um leque novo de
compreensão das expressões do tempo que nos ajudam enormemente a entender
também o NT.
A história da evolução dos textos recebe novas luzes e novas orientações. As
descobertas possibilitaram a reconstrução da história do desenvolvimento de alguns
livros ( Salmos, Daniel...) e da história do Cânon do AT.
Embora a palavra Cânon não apareça em textos qumrâmicos, toda a
documentação de Qumrã envolve uma consciência canônica. A Sagrada escritura é vista
com uma consideração sem fim e é tratada não como coisa humana, mas divina. Isto
nos dá a certeza de que assim era entre os outros judeus da Palestina e da Diáspora.
A afinidade que existe entre os manuscritos de Qumrã e o NT legitima o NT
como produção histórica numa determinada época e dentro de um determinado
ambiente. Pela primeira vez agora se pode recorrer ao original de muitas expressões a
partir dos escritos de Qumrã.
F N + 4 E
• Q = Qumrã
• NQ = Número da gruta de Qumrã. Ex: 1Q, 2Q, 11Q (Gruta um, dois, onze)
• 7Q5 = O número que vem depois indica a enumeração do fragmento ou rolo.
Lê-se: Fragmento cinco da gruta 7.
• 1QpHab = Hab indica o livro e “p” indica que o livro é um “pesher”
Lê -se: Pesher de Habacuc da gruta 1.
57
3 N *
L "8%
" 88 R
Neste local situado a 15 milhas ao sul de Jerusalém e a duas milhas do Mar Morto,
os beduínos encontraram em 1952, 4 grutas, duas da quais tinham material escrito.
Nelas havia fragmentos em hebraico do AT, principalmente dos profetas Menores, duas
cartas autografadas pelo revolucionário Simão Ben Kosibah, chefe na revolução de 132-
135, e outros fragmentos legais e datados, que tratam de assuntos sociais e econômicos.
7 -
Ao sul do Mar Morto existe a elevação de Massada, a última fortaleza judia a cair
nas mãos dos romanos em 73. Nesta localidade foram encontrados:
a. Um “ostracon” com escrita em aramaico
b. Um rolo com o texto massorético dos Salmos 81-85
c. Três cópias do original hebraico de Ben Sirac.
d. Outra cópia das “Liturgias celestes”, há descoberta em 4Q.
e. Textos diversos, entre os quais um verso de Virgílio, em latim, deixado, com
certeza, por algum soldado romano lá aquartelado.
59
2 + .
2 * *
• % / "
Do grego Κυριοσ era também atribuído a Javé. Na pregação primitiva foi
usado para indicar Jesus ressuscitado. Uma das primitivas fórmulas de fé
rezava: “Cristo é o Senhor”. Usar “Senhor” para indicar o ressuscitado foi a
primeira maneira de atribuir a divindade ao filho de Maria. As primeiras
comunidades preferiam usar esta expressão do que o título: “Filho de Deus”.
Notemos que no AT se invocava Deus com o nome ADONAI ou SENHOR.
• % "
O nome aramaico “mesihá”, em grego Κριστοσ, significa “ungido.” Foi
usado na pregação apostólica para sublinhar a crença cristã de que Jesus era
a reposta dada por Deus às esperanças messiânicas de Israel. O Kerigma
concorda com aquilo que os Evangelhos apresentam: Jesus era reconhecido
como Messias durante seu ministério público. Proclama Jesus como um
Ungido de Espírito Santo e de poder.
Os discípulos tiveram dificuldade em pregar que Jesus era o Messias. A
passagem de Jesus na terra não foi gloriosa e nem de rei. Não se saiu
visivelmente vitorioso. Morreu sem instaurar um reino visível e sem libertar
Israel do jugo dos gentios. Por isto, os discípulos pregavam que Jesus se
mostraria plenamente Messias na sua segunda vinda e que subira ao céu para
assumir totalmente sua missão messiânica, sendo seu reino celeste e não
terrestre.
O conceito de Messias foi logo mais espiritualizado e aplicado a alguém cuja
glória era interior e tinha libertado Israel não da escravidão política, mas
daquela do pecado. Foi apresentado, então, um Messias que sofre, que dá a
sua vida pela salvação de todos, Messias divino, ungido no momento da sua
Encarnação. Cristo, então ficou como que um segundo nome de Jesus. Por
causa disto nós falamos sempre em Jesus Cristo.
• %"( % %
É uma expressão que foi aplicada a Cristo na pregação de Pedro (At 3,13),
mas que tem sua origem em Isaias (53), nos famosos cantos do “Servo
Sofredor”. Também Filipe explica ao eunuco da rainha Candace o mesmo
60
texto de Isaias e aplica este título ao Senhor Jesus. A essência deste título
aplicado consiste em sublinhar a paixão e morte de Jesus Cristo como o
ápice de sua ação redentora.
• % H
Estes títulos, que não são somente epítetos, aparecem no Querigma de Pedro
(At 3,14). Notemos que Santo é reservado a Javé, e Justo é reservado ao
Servo sofredor em Isaias. Jesus é O SANTO e O JUSTO.
• *") 6% (
O termo grego “αρχεγοσ” indica príncipe, chefe, guia, cabeça, iniciador. A
nossa vida espiritual é conduzida por ele, e ele é o guia, a cabeça do novo
Israel em marcha para a Jerusalém celeste. O título lhe cabe muito bem.
• ( J % ( 1
Jesus é representado por duas figuras do AT: Moisés e Elias. Ele é o profeta
semelhante a Moisés e o profeta semelhante a Elias. Então eis os título: O
novo Moisés e o novo Elias. Pelo primeiro se indica o Cristo como
legislador da nova lei e pelo segundo como o taumaturgo que pregou a
verdade e acabou subindo ao céu.
• % % "
Estevão em seu discurso fala de Moisés enviado como Redentor de Israel e
aplica o adjetivo a Jesus Redentor do mundo.
• 1( "
Pedro em At 5,31 prega este título, amplamente desenvolvido depois na
teologia paulina. Σωτηρ, o correspondente grego, era dado aos deuses, ao
imperador e é aplicado também a Deus Pai. É um título que indica a missão
e a divindade de Jesus.
• 1/ % % .
Encontramos este título de Jesus pela 1a vez nos At 9,20, num discurso de
SãoPaulo. Jesus é Filho de Deus não por adoção, como todos nós, mas por
geração. É um título que lhe convém plenamente.
2 *
• % "%E 88 E 88
Era o modo ordinário com que os discípulos chamavam Jesus. Eram títulos
honoríficos sem sentido teológico particular.
• 1/ % (
Jesus foi de linhagem davídica através de José, que embora não fosse Pai
natural de Jesus o era legalmente. José, também, foi chamado pelo Anjo
Filho de Davi. Tem neste título uma referência ao oráculo ligado à dinastia
de Davi, que afirmava ser desta linhagem o Rei Messias. Mateus dá uma
preferência especial a este título.
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Jesus aplica este título a si mesmo. O epíteto significa simplesmente homem.
Mas em Jesus assume um sentido todo especial. Ele é o homem celestial, o
homem ideal, o mesmo Deus que assumiu a natureza humana. A expressão
era usada também pelos gentios, para indicar uma pessoa ideal, um indivíduo
que tem todas as características que uma pessoa humana poderia ter.
7 2 , * *
Nas cartas atribuídas a Paulo se encontram muitos títulos aplicados a Jesus nos
Evangelhos e Atos: Filho de Deus, Filho de Davi, Senhor, Cristo, Servo de Deus,
Salvador.. Existem título próprios também,que apresentamos em seguida.
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Este conceito “Último Adão” equivale a “Filho do Homem” que nunca
aparece em São Paulo. Jesus é o “Novo Adão” em sua condição de
ressuscitado. É uma nova criação do homem finalmente perfeito e completo.
É o Adão definitivo, o último, o homem perfeito no qual todos encontram
salvação, enquanto no primeiro todos encontraram perdição.
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É um título próprio de Paulo e nos reata á criação. Por isto está ligado com o
“último Adão”. Cristo é a imagem de Deus invisível, o primogênito de toda
criatura. Nós todos, que endossamos a imagem do homem terrestre, podemos
em Cristo revestirmo–nos, a semelhança de Jesus, do homem novo conforme
a imagem do criador.
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Jesus é o primogênito do Pai, é filho único de Deus, primogênito entre
muitos irmãos. Nele todos nós nos tornamos filhos de adoção. Ele é o
62
• 8%& -"%W
Na concepção de Paulo a respeito da Igreja “Corpo de Cristo”, Cristo é
considerado Cabeça. È Cabeça também das legiões angélicas. A relação
entre a cabeça e o corpo é, para Paulo, uma relação de amor.
• 6Q 1 %* )$ %.
Apóstolo, isto, enviado pelo Pai para exercer uma missão divina e Pontífice
porque enviado ao povo cristão para distribuir os frutos de sua redenção.
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Em diversos lugares Paulo indica Jesus com a palavra Deus. O título é claro
e não admite ambigüidades.
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João usa títulos que são próprios e também títulos dados pelos sinóticos e por Paulo:
Servo de Deus, Ungido, Filho de Deus, Senhor, Filho do Homem, Profeta...
• 1/ % H J.
Por duas vezes Jesus e denominado assim pelos fariseus que só conheciam
sua paternidade legal
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Ocorre no Evangelho e no Apocalipse. È um título que nos coloca no âmago
da missão de Jesus que veio a este mundo para salvar a todos do pecado.
Tem uma ligação com o cordeiro pascal imolado para salvar os primogênitos
israelitas, em ocasião da passagem do Anjo Exterminador. Cristo, Cordeiro
Pascal, foi imolado para a salvação de todos.
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Diante de Pilatos Jesus esclarece de como ele é Rei. Herodes o tratou
ironicamente como “Rei dos Judeus” mas para João este título é de interesse
muito grande.
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João aplica o termo Λογοσ a Jesus logo no início do 4o Evangelho. Este
título é o tema do prólogo e se encontra também no Apocalipse 19. Cristo
existe desde toda a eternidade como Λογοσ, mas de certa maneira distinto
do Pai. Mas Ele é Deus. O Λογοσ é o criador do universo, encarnou-se em
Jesus Cristo, se identificou como Cordeiro e é apresentado como Juiz e Rei
63
universal. Jesus é o Λογοσ porque traz nos seus ensinos a revelação cristã e,
mais ainda, porque ele mesmo é a revelação do Pai.
• .
Existem em João oito momentos em que Jesus identifica a si mesmo com a
afirmação absoluta: EU SOU (Εγϖ ειµι).
Esta afirmação misteriosa é uma referência intencional à auto-identificação
de Javé no Sinai, quando se revelou para Moisés (Ex 3,13-14). É, portanto,
uma expressão da própria divindade. Notemos também que a tradução grega
dada pelos Setenta à expressão bíblica “Eu sou aquele que é” é exatamente
Εγϖ ειµι.
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É um título que expressa o amor fiel e misericordioso do Pai em enviar seu
filho Jesus e a fidelidade de Jesus em testemunhar o Pai.
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Este título tem o sentido de intercessor. É usado geralmente para indicar o
Espírito Santo, mas em Jo. 14,16 é implicitamente aplicado também a Jesus.
64
P * .
3 P
O NT nos dá quatro listas de 12 homens que Jesus escolheu para que ficassem com
Ele. As listas aparecem em Mc 3,16-19; Mat 10,2-4; Lc 6,14-16 e At 1,13 (sem Judas
Iscariotes). João não nos dá a lista, mas menciona os doze (6,67; 20,24).
Mc Mt Lc At
Simão Pedro 1 1 1 1
Tiago filho de Zebedeu 2 3 3 3
João filho de Zebedeu 3 4 4 2
André, Irmão de Pedro 4 2 2 4
Filipe 5 5 5 5
Bartolomeu (Natanael?) 6 6 6 7
Mateus 7 8 7 8
Tomé 8 7 8 6
Tiago de Alfeu 9 9 9 9
Tadeu 10 10
Lebeu 10
Judas, filho de Tiago 11 11
Simão o Zelotes 11 11 10 10
Judas Iscariotes 12 12 12
N.B. Tadeu, Lebeu (este nome consta em manuscritos ocidentais) e Judas de Tiago seriam
a mesma pessoa popularmente conhecida pelo nome de Judas Tadeu. A tabela apresenta as
quatro listas e a ordem com que os nomes aparecem nas listas.
N.B.
a) Entre os amigos de Jesus existem três personagens chamados Tiago:
• Tiago o Maior, filho de Zebedeu, irmão de João, o apóstolo.
• Tiago filho de Alfeu, um dos Doze.
• Tiago filho de Cléofas, “ O Menor”, chamado “irmão de Jesus”. Foi Bispo
de Jerusalém, autor de uma carta, grande difusor do cristianismo, mas não
pertenceu ao número dos Doze.
b) Parece ter havido também três homens de nome Judas.
• Judas, filho de Tiago, do qual nada sabemos a não ser que foi um dos doze.
• Judas, chamado irmão de Jesus, filho de Cléofas, autor de uma carta. Não
foi um dos doze e parece ter sido Bispo de Jerusalém.
• Judas Iscariotes, o traidor, pertencente ao grupo dos Apóstolos.
pouco estranho que entre os discípulos de Jesus houvesse um membro deste fanático
partido nacionalista anti-romano, muito difuso na Galiléia.
Judas Iscariotes é o último do grupo e da lista. Era filho de Simão, o Iscariotes (Jo
12,4). O termo “Iscariotes” parece significar “natural de Qeriot”, localidade da Judéia.
Por causa desta denominação, Judas é considerado o único membro não Galileu do
grupo. Há que interprete Iscariotes como um reflexo de “sicário” (o homem do punhal),
termo latino (sicarius), para indicar o membro de um grupo nacionalista ligado aos
Zelotes.
Existem dificuldades a respeito de um dos membros dos doze, pois no 10o e 11o
lugar aparecem, em códices ocidentais, três nomes: Lebeu, Tadeu e Judas, sendo, este
último, apresentado como irmão e não como filho de Tiago.
Orígenes afirma que os três se referem unicamente ao Apóstolo Tadeu.
Outros pensam que Lebeu seja o mesmo que Levi.
Judas, diferente do Iscariotes, é apresentado por alguns códices como “Judas o
zelotes” ou “Judas Tomé”. O problema que Lebeu, Tadeu e Judas levantam indica
que no tempo em que os Evangelhos foram escritos, já era bastante confusa a memória
a respeito dos Doze.
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Jesus escolheu os Doze para que permanecessem com Ele (Mc3.14-15), pregassem
e tivessem poder sobre os demônios (Mc3.14-15). Depois da Ressurreição, aparece a 10
deles e os envia (Jo 20,19ss). Os Atos (1,13; 2,1 6.2) apresentam os Apóstolos como
recipientes do Espírito Pentecostal, piedosos e ativos em resolver os problemas das
Comunidades. Os Doze se tornaram assim representantes de Jesus na fundação e no
governo da Igreja.
Quando teria começado o grupo dos doze? Foi uma reconstrução da Igreja
primitiva, em vista da missão, ou foi mesmo Jesus que os escolheu?
Uns críticos rejeitaram a tese segundo a qual Jesus teria escolhido Doze Apóstolos,
afirmando que o conceito de Doze tinha sua origem por estar a Igreja modelada sobre os
doze filhos de Jacó ou as doze tribos de Israel, e que Jesus histórico nunca fez tal escolha.
A afirmativa não resiste a uma crítica mais profunda. Fica evidente que os apóstolos
faziam parte do ministério de Jesus. Eles têm um papel demais ativo na história evangélica
para que possam, sem mais nem menos, serem considerados um simples acréscimo tardio.
Os textos do N.T. (não somente os Evangelhos) falam da escolha dos Doze por parte de
Jesus. Quando um deles falhou, os outros se preocuparam em substituí-lo para que o
número dos Doze fosse completado (At 1,15-26). Paulo relata uma aparição de Jesus
Ressuscitado aos Doze (1Cor 15,5). Na realidade a aparição de Jesus, citada por Paulo, foi
para onze apóstolos, pois Judas já não estava entre eles. Se Paulo fala de Doze fala de uma
instituição consagrada, existente, real e aprovada.
Notemos também que a comunidade escatológica de Qumrã tinha um Conselho de
doze homens, o que nos sugere que no tempo de Jesus existia este costume de modelar as
comunidades no sistema das doze tribos.
Parece-nos que relegar os Doze a uma introdução tardia nas comunidades cristãs,
em vista de uma organização modelar da Igreja recém-nascida, seria tirar algo de essencial
67
aos Evangelhos, que falam dos Doze como um grupo escolhido por Jesus para segui-lo
constantemente e continuar a sua missão.
• *
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6Q 1 tem sua étimo em “αποστελλειν” ou “enviar”. Embora o termo grego
nada tenha a ver com o envio para uma missão (só é usado em termos militares: expedição
de soldados ou navios), todavia foi usado pelos autores sagrados do NT para indicar
aqueles que são enviados por Jesus para uma missão. O Apostolado do NT está ligado à
instituição rabínica dos “Sheluhim” ou “enviado com credenciais”. No fim do 1o século de
nossa era, as autoridades palestinenses enviavam rabis como representantes, autorizando-os
a agirem com poderes plenos; eram os Sheluhim. Os Sheluhim recebiam, antes da missão, a
imposição das mãos. Suas tarefas consistiam em tratar assuntos financeiros, ou em recolher
dízimos e taxas para o templo, ou em proclamar verdades religiosas com autoridade.
Pensando aquilo que diz João: “como o pai me enviou assim eu vos envio” (20,21) ou na
expressão de Lucas: “quem recebe a vocês recebe aquele que me enviou” (9,48), a analogia
se torna evidente. Sabemos, outrossim, que nos escritos rabínicos Moisés, Elias e Ezequiel
eram considerados Sheluhim de Deus. Os Apóstolos eram os Sheluhim de Jesus.
Não todos aceitam esta origem do Apostolado do N.T. Porém não temos motivos para
rejeitarmos a suposição.
Paulo apóia esta suposição quando nos diz que na estrada de Damasco Cristo lhe
apareceu e lhe outorgou um mandado de testemunhá-lo pregando. Sentiu-se enviado por
Cristo, Sheluhim de Cristo.
3. 6Q 1 $%"% % .%.
O termo “Apóstolo” não foi exclusivo dos Doze, mas muito mais amplo. No NT são
chamados Apóstolos muitos outros indivíduos.
• Tiago, o irmão do Senhor (Gal 1,19)
• Paulo (1Cor 1,1...)
• Barnabé (At 14,4; 2Cor 9,6)
• Andronico e Júnia (Rm 16,7). Júnia provavelmente é mulher.
• Silvano e Timóteo (At 17,4)
• Apolo (1Cor 4,6)
• Paulo fala também em falsos Apóstolos (2Cor 11,13)
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