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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA E RESPECTIVAS LITERATURAS

MÁRCIA CRISTINA REMÉDIO


MIRIAM MARTINS DE ANDRADE MELO

AFRICANIDADE: TER OU NÃO TER?


As leis e a responsabilidade sociocultural do professor de
Língua Portuguesa com a temática

Nilópolis
2017
MÁRCIA CRISTINA REMÉDIO
MIRIAN MARTINS DE ANDRADE MELO

AFRICANIDADE: TER OU NÃO TER?


As leis e a responsabilidade sociocultural do professor de
Língua Portuguesa com a temática

Trabalho em Grupo do curso de Letras apresentado à


Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como
requisito parcial para a obtenção de média bimestral nas
disciplinas de Semiótica, Linguística Formal e Textual,
Literatura Afro-Luso-Brasileira e Seminário da Prática VII.

Tutora Eletrônica: Vanusa Fogaça

Nilópolis
2017
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................3
2 DESENVOLVIMENTO................................................................................................7
3 CONCLUSÃO..........................................................................................................12

REFERÊNCIAS...........................................................................................................13
3

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é direcionado para o primeiro ano do ensino médio e


voltado para o ensino da cultura africana, afro-brasileira e sua história, aplicados à
disciplina de Língua Portuguesa e estendido à interdisciplinaridade.
Faz-se necessário explicar as leis que marcaram a história da
educação brasileira e que foram fundamentais na luta antirracismo (em especial
pelos negros). Este foi considerado o marco fundamental destas lutas e
democratização de ensino, uma vez que nossa cultura e literatura eram norteadas,
principalmente, pelas europeias.
Desde 1988 que o tema de base do Banco Nacional Comum
Curricular (BNCC) é discutido e previsto constitucionalmente para os alunos de
educação básica. Recentemente estendeu-se ao ensino médio desde que, em 2014,
o Plano Nacional de Educação (PNE) fora aprovado, objetivando o currículo mínimo
para os alunos de todo o território brasileiro. O BNCC recebeu sugestões de todos
os brasileiros, pais, alunos, professores, pedagogos, etc. Ele ainda está em
elaboração, devido às reformas constitucionais.
Incluir obrigatoriamente a história e cultura afro-brasileira e africana
no ensino básico brasileiro foi uma decisão política, com repercussões pedagógicas,
reconhecendo-se a necessidade de estudar e valorizar a história e cultura do nosso
povo como um todo.
Em 2003 a lei 10.639 foi sancionada e dizia que:

[...] Art. 26 – A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio,


oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura
Afro-Brasileira.§ 1ª – O Conteúdo programático a que se refere o caput
deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta
dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da
sociedade nacional, resgatando a contribuição do
povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do
Brasil.§ 2ª – Os Conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira
serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas
áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras Art. 79-B.
O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da
Consciência Negra”.

Dentro das Leis de Diretrizes Curriculares Nacionais para a


Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana encontramos todas as orientações necessárias para elaborar
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um projeto de ensino contextualizado para a educação de relações étnico-raciais


positivas, onde o combate pelo racismo e as discriminações é construído por uma
política curricular. Durante quase duas décadas nossos alunos adquiriram o
conhecimento sobre a cultura e história de um povo que influenciou diretamente na
formação da sociedade brasileira.
Denise Carrera, Coordenadora da Área de Educação da Ação
Educativa, lembra em sua publicação que:

[...] Foi um período de muitas pesquisas, cruzamento de dados, visitas às


escolas, diálogos com gestores/as. Precisávamos checar como a 10.639
estava chegando as mais diferentes partes do país. Logo percebemos
vários pontos em comuns nas análises, que culminavam em uma
implementação fragmentada sem apoio dos/as gestores/as escolares, tendo
como característica uma baixa institucionalização. Bastava fazer uma feira
no dia 13 de maio, levar um grupo de capoeira para escola no dia 20 de
novembro que se acreditava estar implementando a lei. (2012)

Em 23 setembro de 2016, a Medida Provisória 746 revoga a lei


10.639/2003 gerando desconforto para a todos que lutaram pela igualdade de
conhecimento cultural e histórico de todos os povos que formaram nossa sociedade,
em especial aos negros. A advogada Carolina Miranda Bittencourt contesta a
revogação com a afirmativa de que “o uso de uma medida provisória impede o
amplo debate com a sociedade na formulação das políticas de interesse
coletivo e de diálogo com os movimentos sociais da educação”. Ela também vai
mais adiante:

[...] Frisa-se que, com a edição da MP, a legislação anterior (a Lei nº


10.639/2003) foi revogada, e deixou de ser um importante meio para
conceber uma sociedade mais justa, livre e solidária, através da afirmação
da identidade afrodescendente, vez que determinava que as instituições de
ensino deveriam garantir os conteúdos de cultura e história afro-brasileira na
sua grade curricular.

Para a professora emérita da Universidade de São Carlos (Ufscar),


Petrolhina Beatriz Gonçalves e Silva, que integrou a comissão e elaborou o parecer
do Conselho Nacional de Educação (CNE) para as diretrizes curriculares da
proposta, a preocupação dos professores a respeito do ensino da cultura e história
afro-brasileira e africana vem crescendo consideradamente e ratifica em entrevista
ao Brasil de Fato:

[...] Há uma dificuldade de diálogo. E o diálogo não quer dizer que se tenha
5

que abrir mão da minha posição, mas tenho que saber conversar e trazê-la.
E é isso que é a base das relações étnico-raciais: que pessoas diferentes,
com princípios de vida diferentes, com religião ou sem religião, possam se
respeitar, conversar e construir uma sociedade em que todos caibam.
(2017)

Sempre que falarmos de cultura esbarraremos em religião e isto é


fato. Mas é bom que se entenda a diferença entre ambas e, para tanto, temos o
apoio do dicionário Michaels, esclarecendo o ponto de vista morfológico, sintático e
semântico de ambos os léxicos. Primeiro, Religião:

[...]re·li·gi·ão sf 1 Convicção da existência de um ser superior ou de forças


sobrenaturais que controlam o destino do indivíduo, da natureza e da
humanidade, a quem se deve obediência e submissão. 2 Serviço ou culto a
esse ser superior ou forças sobrenaturais que se realiza por meio de ritos,
preces e observância do que se considera mandamentos divinos,
geralmente expressos em escritos sagrados. 3 Ato de professar ou praticar
uma crença religiosa. 4 Veneração às coisas sagradas; crença, devoção, fé.
5 Tudo o que é considerado obrigação moral ou dever sagrado e
indeclinável. 6 fig Causa, doutrina ou princípio defendidos com ardor,
devoção e fé: A democracia é sua religião. 7 Ordem ou congregação
religiosa. 8 fig Caráter sagrado ou virtude especial que se atribui a alguém
ou a alguma coisa e pelo qual se lhe presta reverência. 9 Sociol Instituição
social criada em torno da ideia de um ou vários seres sobrenaturais e de
sua relação com os homens. EXPRESSÕES: Religião de caboclo, Reg (RJ),
Rel: V linha de caboclo. Religião do Estado: a professada oficialmente por
um Estado sem que, com isso, seja proibida ou impedida a prática das
outras. Religião natural: a que se baseia somente nas inspirações do
coração e da razão, sem dogmas revelados. Religião naturalista: veneração
ou adoração religiosa da natureza nos animais, dos astros etc.; panteísmo.
Religião revelada: a que, como o cristianismo, se baseia numa revelação
divina conservada pelas Escrituras Sagradas e pela tradição.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES: Antôn: irreligião. ETIMOLOGIA: lat
religio, -onis.

E então, Cultura:

cul·tu·ra – sf: 1 Agr Ato, processo ou efeito de trabalhar a terra, a fim de


torná-la mais produtiva; cultivo, lavra. 2 Agr Ato de semear ou plantar
vegetais. 3 Agr A área cultivada de um sítio. 4 Agr Produção agrícola com
técnicas especiais; cultivo. 5 Biol Ato de cultivar células ou tecidos vivos
numa solução com nutrientes, em condições adequadas, a fim de realizar
estudos científicos. 6 Criação de determinados animais. 7 Antrop Conjunto
de conhecimentos, costumes, crenças, padrões de comportamento,
adquiridos e transmitidos socialmente, que caracterizam um grupo social. 8
Conjunto de conhecimentos adquiridos, como experiências e instrução, que
levam ao desenvolvimento intelectual e ao aprimoramento espiritual;
instrução, sabedoria. 9 Requinte de hábitos e conduta, bem como
apreciação crítica apurada. EXPRESSÕES: Cultura alternativa, Sociol:
tendência em assumir atitudes, costumes, ideias, linguagens etc. que
contrariam os padrões culturais vigentes da sociedade. Cultura de massa,
Sociol: conjunto estereotipado de conhecimentos, costumes, padrões de
6

linguagem etc., imposto a uma comunidade pelo grupo dominante do ponto


de vista cultural; indústria cultural. Cultura geral: conjunto de conhecimentos
gerais originários de diversas áreas de conhecimento. Cultura erudita,
Antrop: conjunto de conhecimentos acumulados, valorizados pelo grupo
social, que compõem o patrimônio cultural da sociedade. Cultura física:
condicionamento físico por meio de ginástica, exercícios em geral e da
prática de esportes, a fim de aprimorar o organismo. Cultura popular, Antrop:
V folclore, acepção 1. ETIMOLOGIA: lat cultura.

Entendida as diferenças entres as duas palavras, torna-se fácil


trabalhar os elementos da história e cultura negra local ou nacional, procurando
evitar o conflito de interesse religioso ou até mesmo a intolerância.
Cabe ao docente ser laico, coerente, dedicado e apto para lidar com
o tema ao levar, para seu discente, todo o conteúdo histórico e cultural com o
propósito de que eles interiorizem e respeitem a diversidade e a pluralidade do
nosso país.
Fica aqui o convite para a reflexão, e citamos, mais uma vez, a
professora Petrolhina da Silva:

[...] Em todos os lugares, as pessoas manifestam sua identidade e suas


raízes. As pessoas não devem se envergonhar de demonstrar suas raízes.
O que está em jogo não é se "alguém gosta e alguém desgosta" e "isso
[ensinar história da África] é um privilégio". Pode ser que esta seja a
desculpa manifestada. Mas, qual é o projeto de sociedade que os
professores ou até mesmo os estudantes defendem? Queremos que
permaneça este modelo, que vem desde o século 16, em que alguns têm
muito e outros, muito pouco? Pautado na meritocracia? Um projeto de
sociedade em que há racismo e que há pessoas que acham que isso é
normal? Tudo começa aí. (2017)
7

2 DESENVOLVIMENTO

A promulgação das referidas leis consiste no atendimento do


governo federal brasileiro a algumas demandas históricas da luta do movimento
negro antirracismo: a participação dos africanos e seus descendentes como sujeitos
em nossa história a ser reconhecida, tal como agentes sociais com valores e
saberes fundamentais para nossa formação cultural (válido também para a temática
indígena).
O eurocentrismo que vigora desde os tempos de colonização até os
dias de hoje, afirmou a hierarquia branca sobre os negros, indígenas e asiáticos,
reduzindo a história e a cultura destes a meros anexos do encadeamento civilizador
europeu. Esse processo resultou na subtração da existência destas histórias e
culturas.
Esta subtração recaiu nas costas dos negros e indígenas, o que hoje
se faz explicar a necessidade de implementar políticas públicas de restauração.
Baseados nesta anulação de cultura, história, costumes, nos
documentos norteadores da Educação Brasileira referente à Língua Portuguesa, a
decisão de mudar a prática pedagógica é fundamental para o resgate do que ficou
retido no passado e se ateve na atualidade somente com a imagem de sofrimento e
de escravidão do africano. E por que não mudar esta visão?
A interdisciplinaridade é a grande parceira para que todos atinjam o
ponto de culminância. No que concerne com a Língua Portuguesa sobre
africanidade, o objetivo é bem dimensionado na promoção de uma curada reflexão
por parte do alunado sobre a heterogeneidade cultural e formativa do nosso país. É
fundamental e preponderante a base teórica como o auxílio na projeção e execução
da dita proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento norteador
que direciona objetivamente para aprendizagem e todo o desenvolvimento
necessário para o processo de escolarização, abordando diretamente este tema.
Diversos autores devem ser trabalhados nos referidos períodos
literários dos Países de Língua Portuguesa Oficial (PALOP) tais como José
Craveirinha, Maia Ferreira, Oscar Ribas, Viriato da Cruz, Luandino Ferreira, Rui de
Noronha, Noemia de Souza, Rui Nogar, Mia Couto, José Evaristo d’Almeida, Manoel
Lopes, Jorge Barbosa, Gabriel Mariano, Onésimo Silveira, Manuel Ferreira e a
8

esposa Orlanda Amarílis, Abdulai Silá, Fausto Duarte, Juvenal Cabral, Félix Sigá,
Odete Semedo, Francisco José Tenreiro, Mario Domingues, dentre outros escritores.
Este planejamento de ensino é para deixar evidente a vital
importância da Cultura Africana e sua influência na Cultura Brasileira, pois as
diretrizes querem mostrar que é necessário que estes temas estejam em todas as
disciplinas. Será que já percebemos a grandiosidade do momento que vivemos
hoje? Sim, e é essa liberdade de poder trabalhar com a história, cultura africana ou
afro brasileira de uma maneira que perpassa as disciplinas que garante a
heterogeneidade e o verdadeiro estado laico.
É imperioso e importante que todos os recursos das diferentes
disciplinas proporcionem subsídios com grande foco colaborativo direcionando uma
abrangência em seu alcance.
Cada país, juntamente com seus autores, tem seu período literário
bem marcado, podendo ser memorizado com a ajuda das disciplinas de História e
Geografia. E por que não? Exemplo:
Em História, o suporte encontrar-se-á dentro de cada país e suas
lutas por independência e identidades nacionalistas, que são pontos fortíssimos
encontrados na linguagem metafórica de cada poema ou romance africano. Os
vídeos que mostrem características históricas de cada país deverão ser explorados
como aliados para que os discentes vejam o outro lado da África, sem escravidão e
sofrimento. As literaturas africanas infanto-juvenis poderão ser trabalhadas em forma
de leituras conjuntas; Octaviano Correia e Pepetela são bons exemplos de autores a
serem lidos, para que os discentes desenvolvam a leitura semiótica, identificando
em cada texto as diversas mensagens contidas e conheçam as lendas locais,
contos, fábulas e romances que nunca tiveram acesso. Não seria surpreendente
para nossos discentes descobrirem a existência de outros heróis e mártires negros,
não somente brancos?
Em Geografia pode-se apontar a influência que a regionalidade
incide nos dialetos e neologismos que aparecem em determinados autores, inclusive
a diferença existente entre os que viviam em ilhas e os que estavam em terra firme,
ressaltando certa nostalgia e curiosidade pelo além-mar de ambas as partes. Na
didática, a abordagem de mapas da América do Sul (Brasil), com um encaixe ou
sobreposição com a África Ocidental, os alunos poderão perceber o encaixe perfeito
dos dois continentes e também fazer uma maquete do Brasil com a África Ocidental
9

verificando as similaridades entre os dois continentes, (o material pode ser isopor,


massas, papelão tintas, dentre outros): É a teoria da deriva continental da Gonduwa,
cientificamente comprovada pela própria ONU, que a América do Sul foi unida
fisicamente com África, isto é, relevo, clima, vegetação e solo são assemelhados.
Com o surgimento do Oceano Atlântico, ocorreu a separação entre os dois
continentes, e para se ter uma ideia, anualmente a África e a América do Sul se
separam de dois a dez centímetros.
Para debates em sala de aula, ainda dentro da interdisciplinaridade
com História e Geografia, poder-se-á levantar a questão da linguagem regional no
Brasil. Deverá ficar evidente que os aspectos físicos como no caso do estado do
Maranhão com as suas matas de cocais, que é uma vegetação composta de
variados tipos de palmeiras e coqueiros semelhante a região africana do Sahel, cria
uma adaptação climática e vegetal plenamente facilitada na migração dos africanos
para a região. Também a região da zona da mata nordestina que abrange os
Estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia que se assemelham às áreas
geográficas no noroeste africano. No sudeste brasileiro, o clima e a vegetação são
semelhantes às regiões de Angola, Moçambique e Botsuana que enviaram para as
nossas terras, imensos contingentes de escravos. No caso do Rio Grande do Sul, o
clima e a vegetação são bem diferenciados da África, daí os seres humanos tiveram
que se adaptarem ao clima frio. Vídeos com as belezas e recursos naturais narrados
em linguagens locais também deverão ser explorados neste momento para que os
discentes possam entender a diferença de sotaque, expressões etc.
E por fim as similaridades das culturas agrícolas, brasileiras e
africanas: café, algodão, cacau, amendoim, banana, aipim, batata, soja e milho
como as principais. Neste momento da aprendizagem, poderão ser trabalhados os
gêneros discursivos tais como Receita, Poema, Paráfrase, Carta, Linguagem formal
e Informal, semiótica na interpretação dos textos, etc.
Mas, para por aqui? Não. Há mais formas de explorar o tema dentro
da interdisciplinaridade com Artes, Ciência e Educação Física. Veja:
Dentro da disciplina de Artes Visuais, poderão ser trabalhados os
usos e costumes das tribos africanas, com o objetivo de realizar o desenvolvimento
de um trabalho no qual o elemento humano possua fortes ligações com cultos aos
seus antepassados, profundamente voltado ao espírito religioso que é a
característica marcante do povo africano; as máscaras confeccionadas em barro,
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marfim, metais e, principalmente, em madeiras, para estabelecerem a purificação e


a ligação com a entidade sagrada, que eram modeladas em segredo na selva. O
maior acervo da arte antiga africana no mundo, se encontra nos Museus da Europa
Ocidental. Aqui poderá ser trabalhada a elaboração textual dos alunos, como por
exemplo, legendas em cartazes que descreverão as fotos/imagens que serão
expostas e apresentados em seminários, por grupos de alunos divididos onde cada
um sorteará seu país para pesquisar (livros, revistas, internet), dissertar e apresentar
oralmente, defendendo seu ponto de vista. Com esta disciplina poderemos explorar
artes teatrais e literatura juntas, tanto a africana quanto a afro-brasileira através
também do folclore, trava-línguas, parlendas, etc.
Com as disciplinas de Ciências Biológicas e Educação Física a
gama de informações abrirá porta para o conhecimento anatômico do africano e
muitos jogos que não foram introduzidos na nossa cultura.
Trabalhará sobre o elemento étnico africano, a comparação das
práticas esportivas, de corridas de velocidades e distância e verificará os
desempenhos dos descendentes brancos e negros, como também uma disputa
descontraída sobre as enterradas no basquete, sempre verificando os dois
elementos étnicos, e por fim uma competição de natação que foi verificada a
dificuldade da etnia negra sobre a etnia branca, no qual a avaliação será feita para
mostrar aos alunos os diferentes limites físicos das etnias. Um exemplo típico foi o
desenvolvimento da capoeira, que é um misto de dança com artes marciais,
desenvolvida como defesa pessoal pelos escravos contra os feitores. Com o passar
do tempo foram adaptadas às danças e cânticos que, curiosamente, a maioria
exercia essa atividade na clandestinidade, pois eram proibidos pelos senhores dos
engenhos. Hoje ela é patrimônio imaterial e cultural da humanidade.
Mas será que somente esportes e capoeira podem ser atrelados à
educação física? Não. Dentro da disciplina de língua portuguesa, através das
leituras os alunos identificarão os costumes e brincadeiras locais e nacionais dos
africanos, tais como kakopi (Uganda), bao, mankala (jogo de tabuleiro), amarelinha,
picula ou pega-pega, chicotinho queimado, escravos de Jó, pular corda, pular
elástico, barra manteiga, etc. Alguns nomes parecerão familiares aos discentes e
muitos ficarão surpresos ao pesquisarem e dissertarem sobre a história de cada
brincadeira aqui citada.
A avaliação deverá ser somativa e feita através do desempenho e da
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criatividade do trabalho de cada aluno, participação, interesse e em conjunto com os


professores das referidas disciplinas. Poderão ser desenvolvidas atividades tais
como gincana, competição, apresentação teatral, sarau, recital, entrevistas,
concurso de redação na temática da africanidade.
Mas por que aguardar o mês da consciência negra para desenvolver
tais atividades? Por que não desenvolver uma ou duas atividades interdisciplinares
por bimestre? Será que a MP 746/2016 convertida na Lei 10.415/2017 servirá como
pretexto para que esta temática não seja mais aplicada?
Para estas perguntas, ficam as vossas respostas.
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3 CONCLUSÃO

Concluímos que a cultura e a historicidade africana e afro-brasileira


podem e devem ser ensinadas para promover a tolerância e respeito a um povo que
foi subtraído de sua terra natal e escravizado em terras longínquas, contribuindo
para a formação de uma sociedade.
Uma meta que se deve cumprir é a de dissolver o estigma do
africano ligado diretamente ao sofrimento. A visão semiótica do alunado deve ser
desenvolvida para ajuda-los a entender que África não é sinônimo de deuses
religiosos, dor, escravidão e abandono.
A conscientização de que os africanos aqui plantaram suas raízes e
que delas somos todos frutos é imprescindível para que formemos sujeitos críticos,
apreciadores de suas artes, histórias e cultura.
Contar com a interdisciplinaridade para promover eventos
socioculturais na escola é contribuir para manter viva a tradição e os costumes
africanos, pois muitas vezes nossos jovens cantam, dançam, comem, usam
palavras, recitam poemas, jogam (capoeira) e não se dão conta de que foram
oriundas deste povo.
O mais importante é o professor ter a consciência de que ele é o
responsável pela educação cultural do discente e que o respeito à diversidade e à
pluralidade se inicia dentro da escola, que é o segundo ambiente em que o ser
humano se torna sociável no percurso da sua vida. O primeiro é a família e, nem
sempre, alguns hábitos são internalizados e compartilhados, o que passa a ser
responsabilidade da equipe pedagógica presente na escola.
13

REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, Carolina Miranda. A MP 746/2016 e o impacto no ensino da história


e cultura afrobrasileira. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22,
n. 4972, 10 fev. 2017. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/54207> Acesso em:
13 mai 2017.

Cultura afro-brasileira se manifesta na música, religião e culinária. Portal Brasil. 23


nov 2015. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cultura/2009/10/cultura-afro-
brasileira-se-manifesta-na-musica-religiao-e-culinaria> Acesso em 15 mai 2017.

GURGEL, Luiz Henrique. Base Nacional Comum em discussão: a língua


portuguesa. Escrevendo o Futuro. Disponível em:
<https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/noticias/educacao-e-
cultura/artigo/1968/base-nacional-comum-em-discussao-a-lingua-portuguesa>
Acesso em: 13 mai 2017.

PINA, Rute. Ensino de história da África ainda não está nos planos pedagógicos, diz
professora. Brasil de Fato. São Paulo, 08 jan 2017. Disponível em: <
https://www.brasildefato.com.br/2017/01/08/ensino-de-historia-da-africa-ainda-nao-
esta-nos-planos-pedagogicos-diz-professora/ > Acesso em: 16 mai 2017.

Profª Vânia. 10 Jogos e brincadeiras africanas para crianças. Atividades educativas


para professores. 15 nov 2016. Disponível em: <
http://atividadesparaprofessores.com.br/10-jogos-e-brincadeiras-africanas-para-
criancas/ > Acesso em: 16 mai 2017.

ROCHA, Gabriel. Desafios para uma educação antirracismo. Brasil de Fato. São
Paulo, 09 jan 2017. Disponível em: <
https://www.brasildefato.com.br/2017/01/09/desafios-para-uma-educacao-
antirracismo-os-14-anos-da-lei-10639/ > Acesso em: 16 mai 2017.

TRIGUEIRO, Rodrigo de Menezes et al. Metodologia Científica. Londrina: Editora e


Distribuidora Educacional S/A. 2014, 184 p.

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