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©Copyright 2017, Noé Amós Guieiro

Instituto Liberdade Individual

1ª edição
(2017)

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 Guia Politicamente Incorreto sobre o que se Aprende na Escola

 Educação sem Estado

 Pare de Acreditar na Educação

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Hans Herman Hope afirma que a propriedade privada é
incompatível com a ideia de democracia, pois, neste sistema, a
vontade da maioria se impõe contra a da minoria, o que significa que a
sua propriedade está submetida à vontade dos outros, e eu
acrescentaria que isso é tão grave que tanto seu corpo, quanto sua
vontade e sua liberdade de ser, de viver e de expressar-se estão
submetidos a essa maioria, o que torna a vida sob o domínio estatal
uma semi-escravidão.
O autor

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Índice

Apresentação, 7

Introdução, 9

Capítulo 1 – De como surge a ideia-necessidade do público ou estatal


ou a origem do Estado, 11

Capítulo 2 – A perda da autopropriedade ou a estatização da vida, 14

Capítulo 3 - A autopropriedade como lei natural, 17

Capítulo 4 - A propriedade do corpo, 19

Capítulo 5 – A propriedade de bens ―invisíveis‖, 21

Capítulo 6 - A propriedade dos bens materiais, 25

Capítulo 7 - O espaço público/estatal como arena de conflitos


insolúveis, 27

Capítulo 8 - O público ou estatal é uma fantasia, 29

Capítulo 9 - Propriedade privada é realismo, 31

Capítulo 10 – O Estatismo: o culto a um mal destrutivo, 32

Capítulo 11 - Como o Estado anula o direito natural de propriedade,


34

5
Capítulo 12 - Educação: De como o Estado se apropria das crianças e
adolescentes, 36

Capítulo 13 - Saúde: De como o Estado compromete as opções por


saúde, jogando com nossas vidas, 38

Capítulo 14 - Segurança: De como o Estado torna nossas vidas


vulneráveis, 40

Capítulo 15 - Justiça: De como a justiça estatal é injusta, 42

Capítulo 16 - Mercado: De como o Estado confisca a produção,


destrói a riqueza, a prosperidade das pessoas e o direito à escolha, 44

Capítulo 17 - Pela privatização do dinheiro, 46

Capítulo 18 – Uma forma jurídica de resolver conflitos baseada na


ética da propriedade privada: o libertarianismo, 48

Conclusão, 51

6
Apresentação

O termo privatização está associado a conceitos tidos como


negativos para a maioria das pessoas devido a sua aplicação no
mercado, em que é interpretado como algo ligado à ―tomada de capital
do setor público pelo setor privado‖, à diminuição do Estado, à coisa
capitalista, entre outros.
Talvez se entrássemos no conceito por meio do seu embrião
mais simples de entender, que é a vida, conseguíssemos chegar
àqueles que enxergam as coisas sob um nevoeiro de condicionamentos
recebidos. Claro que, para as pessoas de gosto coletivista, isso
continuará soando como coisa ruim, como, por exemplo, a separação
do indivíduo da sociedade, como um ato de egoísmo e sentimentos
afins.
Mas falando para os que hipoteticamente entenderiam o
conceito se partíssemos da vida individual, poderíamos perguntar-
lhes: você gostaria de ser dono de sua vida? Gostaria de ser dono do
seu destino? Gostaria de escolher tudo que diz respeito a sua vida?
É incrível como as pessoas que se sentem livres em ambientes
privados, como em um supermercado ou em um shopping Center
(porque podem escolher) e dentro de suas casas, em comparação com
as repartições públicas (onde recebem ordens de coisas para cumprir),
continuem acreditando que a estatização da vida é melhor do que o
gozo da autopropriedade.
Quando passamos a ver a vida do ponto de vista cem por cento
privado um novo mundo se nos revela e notamos o quanto o
politicamente correto é uma forma escravizadora de se viver. Sob o
olhar de uma vida privatizada, preconceito deixa de ser um problema e
vira um direito de desgostar do que não nos agrada; ódio deixa de ser
negativo e vira um sentimento de repulsa ao que nos ameaça ou nos
causa o mal; raiva deixa de ser um senão a nossa auto-imagem e se
torna uma repulsa ao controle ou dominação das pessoas;
solidariedade deixa de ser um troféu do caráter e vira um sentimento
de satisfação por poder fazer algo voluntariamente.

7
Entretanto, vivendo a vida sob o controle estatal, perdemos
essa percepção e no condenamos a viver o que a maioria quer que
vivamos. Resistimos o quanto podemos, por temperamento ou por
convicção. Mas a coerção do Estado está o tempo todo nos
ameaçando. Essa minoria eleita pela maioria tem o monopólio da
força e vive de ameaçar os demais para que engulam esse
politicamente correto, utilizando, para isso, o aparato estatal, suas leis,
justiça e armas para calar os que amam a liberdade e a vida privada.
Este livro parte da ideia de privatização da vida e creio que sua
discussão revela muitas coisas escondidas no nevoeiro da estatização.
Espero que o leitor possa desfrutar dele.

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Introdução

Vivemos em um sistema de vida em que boa parte do que


fazemos é limitado e condicionado por leis, por fiscalização e pela
jurisdição estatal.
O deus-Estado está o tempo todo colocando em nosso caminho
os seus obstáculos e interesses para que sigamos nos trilhos tal qual
ele deseja. E, se ―Deus não joga dados com o universo‖, conforme
dizia Einstein, certamente o deus-Estado joga dados com nossas vidas.
É fato que, quando acreditamos na autorresponsabilidade e,
mais ainda, quando assumimos o controle de nossas vidas, as coisas
melhoram e conseguimos prosperar bastante, realizando muitos dos
nossos propósitos. Considerar as coisas da perspectiva da
autorresponsabilidade é bom e o oposto disso – rejeitar o vitimismo –
também o é. E conseguimos isso apesar de o Estado atrapalhar e
apesar da confusão existente entre o público e o privado.
Entretanto, o que precisamos ter claro é que nossa vida poderia
ser ainda melhor se ela fosse privatizada, o que significa dizer se o
Estado fosse deposto para que não houvesse nenhum espaço que não
fosse propriedade de alguém, o que mudaria por completo – e
positivamente – nossa relação com as pessoas e conosco mesmos.
Neste livro, pretendo explorar a ideia de uma vida cem por
cento privatizada, trazendo uma reflexão dos males os quais já
vivemos e de como isso seria coberto com novas relações de
significado positivo se os incentivos partissem do interesse dos
indivíduos, não de um ente maior a dizer como esses devem viver suas
vidas.
Privatizar a vida é simplesmente torná-la algo particular e
única, e, consequentemente, tudo o que dela derive: autoproteção,
educação, prosperidade e busca por realização, em que não se aceite
nenhuma força, pessoa ou representação que desrespeite essa ética que
se funda nos princípios da liberdade, da propriedade privada e das leis
naturais. É concretizar o que as pessoas dizem da boca para fora, que
se traduz no seu desejo de viver suas vidas para si, mas que temem

9
fazer por estarem condicionadas a ideologias ou a valores históricos
baseados em coletivismos que se colocam acima do bem individual e
das liberdades, e que continuam dando força para a existência desse
ente opressor, tirânico, usurpador de nossa riqueza e agressor de
nossas vidas.

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Capítulo 1
De como surge a ideia-necessidade do público ou
estatal ou a origem do Estado

Poderia começar este capítulo com uma afirmação filosófica


do tipo: ―se algo existe é porque tem uma função‖, como a ideia de
púbico ou estatal, e o farei, não para defender que isso é bom, mas
para ressaltar o porquê existe.
Os simpatizantes do libertarianismo costumam criticar o
Estado como sendo uma organização criminosa que detém o
monopólio da força e da lei, como se ele fosse montado por alguém
que fizesse todo mundo de refém que nada tenha a ver com isso. Mas
simplesmente não é assim.
Não devemos ser ingênuos de acreditar que os males que
existem são arquitetados por um grupo x que faz de todos os
dominados suas vítimas no mundo.
Quero dizer que a representação estatal só existe porque a
maioria das pessoas não está segura quanto a cuidar da própria vida,
no sentido de viver sob sua própria responsabilidade, o que a faz
trocar a liberdade por uma suposta segurança.
Essas pessoas acreditam que o ser humano é mal e, ao invés de
deixar essa maldade pulverizada nos bilhões de gente, preferem
concentrá-la nas mãos de uns poucos, dando-lhes o poder.
São desinteressadas em proteger a si próprias e a sua prole com
armas, e preferem crer na ilusão da proteção estatal. Preferem ser
vitimistas ao invés de acreditar na autorresponsabilidade, dizendo que
os outros são culpados por seus problemas, elegendo heróis que
possam lhes salvar dos males do mundo.
O público engole o privado não por acaso. Cada um é
responsável por aceitar isso. Ninguém controlaria a todos, parasitaria
seus recursos, vivendo em mansões, possuindo carrões, nem utilizaria
a força estatal contra elas sem que elas consentissem.
Sim porque o raciocínio dos separatistas é que não
consentimos com o Estado. Eu ou você, quem sabe. Mas pergunte

11
para a maioria. Não pergunte: observe apenas como vivem. Não
querem assumir as rédeas da própria vida e preferem delegar a um
representante carrasco. Evidentemente que há o medo, a insegurança,
os conflitos interiores, os dramas pessoais, e a ideia não é julgar
pessoas como ―fracas‖ por não agir contra a dominação, mas apenas
ressaltar que são as interessadas e únicas responsáveis por mudar isso,
se assim desejarem. O resto é fantasia de intelectual de academia.
Por isso não creio em ativismo libertário. Gosto de utilizar
minha postura cética para me blindar de, inclusive, ―libertarianismo
coletivista‖, que significa achar que esse sistema ético jurídico deva
ser imposto a todos como sendo a alternativa sem a qual não haverá
salvação para o mundo. Não. Quero viver todos os dias da minha vida
de forma individualista, sem dormir me preocupando para onde as
coisas vão. Cada qual que faça por si. Não gosto de nutrir esperanças
coletivistas e vivo cada dia procurando realizar os meus propósitos
pessoais de vida.
E mesmo os que se dizem libertários não estão imunes dos
resquícios do estatismo na cabeça. Observe, por exemplo, quando um
libertário se diz preocupado com a pobreza ou com os pobres. Os
coletivistas são sempre esses preocupados com os outros, o que
fatalmente leva à engenharia social e, portanto, ao nascimento do
Estado.
E quando dizem que creem que o indivíduo é maior que a
família, o que é verdade, também falam como coletivistas. Essa
afirmação precisa ser contextualizada, pois, do contrário, caímos na
fala dos esquerdistas que querem se impor contra a família se sentem
cheiro de maus tratos ou supostos desvios de cuidados materno ou
paterno, o que, novamente, evoca o Estado e seus conselhos tutelares.
Uma coisa é dizer que o indivíduo está acima da família, outra é dizer
que um indivíduo externo à família tem qualquer direito de interferir
na condução da criação de uma família independentemente de como
ela o faça. Acreditar nisso é defender a força estatal.
Como você pode ver, não tenho a menor crença de que o
libertarianismo será o sistema jurídico no futuro, apesar de ser
simpatizante dele. Porque sou cético.

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E, aliás, creio que os que preferem o socialismo deveriam ter o
espaço para viverem com base em suas crenças, mas não tenho a
menor dúvida do quanto isso sempre esbarrará em conflitos
silenciosos, pois socialistas não creem na propriedade privada, nem na
autopropriedade, nem na propriedade da vontade: em propriedade
nenhuma; portanto, haverá sempre conflitos porque estão convencidos
do seu direito de desrespeitar a propriedade alheia.
O caso é que, por detrás dessas preferências jurídicas, políticas
e econômicas escondem-se valores pessoais, experiência de vida e
crenças profundamente enraizadas.

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Capítulo 2
A perda da autopropriedade ou
a estatização da vida

Os maiores críticos do capitalismo incorrem em um grande


erro, que é o de desconsiderar que a primeira propriedade de um
indivíduo é o seu corpo. Defender sistemas coletivistas, como o
socialismo, é defender a escravidão e, portanto, a perda da
autopropriedade.
Quando nossas vidas estão submetidas à vontade de uma
maioria, como é o caso das democracias, deixamos de ser donos de
nós próprios; nossas vidas passam a ser estatizadas e perdemos a
primeira propriedade natural, que é o nosso corpo.
Em um segundo momento — na verdade, paralelamente, à
perda da autopropriedade —, perdemos a propriedade de nossa
vontade, que agora está submetida à vontade de uma maioria que
supostamente estaria representada no parlamento.
Destituídos de nossa vontade, estamos condenados a viver uma
vida de limitações; a confundir nossa cabeça com valores que se
chocam com os nossos; a ignorar nosso caminho na vida e a descrer
em nossas paixões em termos de sonhos e de ocupações. Quanto
menos liberdade de mercado em um país, menos entusiasmo com a
vida individual a pessoa tenderá terá, a menos que tenha o dom de
cultuar a coletividade e bastar-se com o que ocorre na vida de uns
poucos ou com os feitos e fatos do grupo.
Enquanto a perda da valorização da autopropriedade leva as
pessoas a baixarem a guarda e a aceitarem as agressões externas a elas
e, inclusive, a crerem no amor em relação ao que as destrói — como
vemos ocorrer quando aceitam para si valores ou atitudes contra sua
vida —, a perda da valorização da vontade individual leva muitos a
viverem como zumbis, ou seja, como pessoas sem alma e como
escravos destinados a uma vida tal qual os outros determinaram que
elas vivam. Com isso, boa parte desses indivíduos jamais acederá às
demais propriedades. Talvez parcialmente à da sua casa.

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Quando deixamos de viver nossas vidas dentro do que
acreditamos, abrindo mão de fazer o que queremos fazer, de realizar
nossos objetivos e de trocar coisas de forma livre, vivemos como
quem pede a bênção a um senhor maior da hierarquia, o Estado, cujos
parasitas criam leis antinaturais e destrutivas a nossas vidas, leis
limitadoras da liberdade, da prosperidade e da busca pela felicidade.
Deixamos de ser nosso e passamos a ser propriedade do Estado.
Tal estatização da vida rouba de nós a consciência do que
somos e de qual é nosso real destino no mundo, que só pode vir com
plena liberdade, com escolhas pessoais, sem qualquer limitação,
regulação ou regras criadas por uma comunidade, a menos que viesse
por consentimento de cem por cento dos membros de tal espaço.
Perder a vida privada e se somar à coletividade, todavia, parece
não ser um problema para todos. Há os que gostam de viver em
grupos e não se importam muito com suas vidas. Há também os que
querem que as coisas em sua vida ocorram como mágica e se rendem
aos discursos falaciosos dos líderes que prometem transferir os
recursos dos que produzem a eles. Desse mesmo grupo derivam os
preguiçosos que não estão dispostos a ir atrás de suas conquistas e
querem que um ente maior lhes disponha algumas migalhas para que
não tenham que se preocupar com nada e, claro, isso levará tais grupos
a arrancar à força dos outros.
A história de cada um, suas crenças e seus objetivos me levam
a sempre desconfiar de uma melhoria no mundo que, na realidade, tem
havido, mas por fatores de consequência natural tal qual mencionou
Adam Smith acerca do padeiro; os inventos, a tecnologia, as pesquisas
e o aumento da produtividade têm promovido a riqueza no mundo, o
que leva as pessoas a se beneficiarem. Nada vem de homens bons,
mas do egoísmo, que é natural e positivo. E nada também modifica o
caráter de ninguém. As pessoas vivem, reagem e buscam aquilo dentro
do mistério que são. Não há controle, informação ou razão para se
acreditar que as coisas melhorarão por um motivo ou outro a não ser
observar, em termos de realidade, que o mercado tem melhorado as
coisas.
Nesse contexto, a vida se mescla entre o privado e o estatal, o
que nos leva a dançar entre a coerência e a incoerência, a

15
autorresponsabilidade e a culpa do autossacrifício, em um processo
sem solução, que só pode ser um pouco resolvido com foco em nossos
objetivos pessoais de vida. O resto é confusão.

16
Capítulo 3
A autopropriedade como lei natural

Como dissemos anteriormente, a primeira propriedade de um


indivíduo é seu corpo. Por isso é que todos os animais lutam até a
morte para se defender do agressor. Não há nenhum tipo de direitos
humanos na selva que os convença a qualquer senão para que voltem
atrás ou aceitem ser submetidos pelos predadores. Todos os animais
utilizam seus mecanismos instintivos à flor da pele para se
protegerem. Descuidar disso é morte.
Uma das minhas críticas à escola é que ela atua de forma a
destruir os mecanismos instintivos e naturais, defendendo um mundo
colorido que não existe, e abaixando a defesa das crianças e
adolescentes para que aceitem ―engolir‖ crenças contrárias a sua
natureza, valores que não são seus e, inclusive, a aceitar a agressão
como cordeiros que caminham para a morte. Mais tarde, fica fácil para
grupos que controlam o poder defenderem o desarmamento da
população que, na verdade, foi educada a viver desarmada e a aceitar a
agressão do outro como algo ―normal‖.
Desconsiderar nossa natureza animal é o primeiro dos
problemas que têm levado nossa civilização a viver a fantasia de um
mundo do tipo ―Imagine‖, em que pessoas maldosas estão surfando na
onda do ataque a pessoas de bem, que o que querem é trabalhar,
prosperar e cuidar de suas famílias.
Já disse em inúmeros outros livros que os estudantes aprendem
na escola a desvalorizar seus instintos, seu discernimento e seus
mecanismos de autoproteção e de autopreservação. Esse é o caminho
para a autodestruição e encontra na doutrinação estatal a persuasão
maldosa que convence a todos a uma espécie de autossacrifício,
inclusive com respaldo na religião.
O direito autoevidente da autopropriedade é uma lei natural da
qual apenas mais atualmente estamos tomando consciência. Quem
hoje aceita a escravidão? No passado, ela foi aceita, entre várias
razões, porque o homem tinha uma consciência muito mais coletivista

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do que ainda temos hoje, em que tanto se reluta à ideia de
individualismo, tanto que se associa essa característica ao capitalismo,
ao egoísmo e a tudo de ruim que há.
Mas estamos longe de uma consciência muito maior dessa lei,
inclusive quando você considera a vontade pessoal como uma das
mais importantes propriedades, pouco tratada inclusive por libertários,
conforme desenvolverei em capítulo à frente. O autoritarismo
disfarçado de democracia, em que prevalece a vontade da maioria
sobre o indivíduo, é o que tem conformado nossa sociedade, nossas
leis e o mercado, ditando como cada um deverá fazer, afinal de contas,
isso foi determinado pela vontade da maioria.
Quantos e quantos perdem a vontade de viver ou como ouvi de
um senhor muitos anos atrás que, na ocasião, contava com a idade até
jovem: ―Não quero viver mais não; cinquenta anos para mim está
bom‖, revelando pelo tom de suas palavras que estava cansado de
brigar com a vida e de passar por situações complicadas.
Como disse na introdução, não estamos determinados a uma
vida de fracassos e as pessoas ricas e prósperas descobriram de há
muito que elas é que criam suas vidas, que estão no controle delas, o
que é, de fato, verdade palpável. Mas, neste livro, quero assinalar que
muito das coisas pelas quais passamos poderia ter um caminho
diferente em uma sociedade em que tudo fosse privatizado e, dito da
forma como consta do título do livro, com a privatização da vida, o
que significa a deposição do Estado.

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Capítulo 4
A propriedade do corpo

Vale a pena repetir uma vez mais que o corpo é a primeira


propriedade que adquirimos e é, evidentemente, a mais importante de
todas. A defesa contra o agressor e a preservação da nossa integridade
física deveria ser a pregação mais difundida e bem querida entre as
pessoas. Mas não é assim.
Vivemos em um tempo em que há um humanismo às avessas
misturado com uma religiosidade utópica, que prega a pretensão de
arrebatar indivíduos de má índole, que destroem vidas, tomam os
pertences das pessoas, tratando-as como objetos, saqueando suas
propriedades e deixando-as caídas no chão como se fossem um nada.
A aceitação dessa situação é odiosa, mas as pessoas, em geral,
não demonstram uma atitude de repúdio às gentes sanguinárias.
Isso é bastante forte quando se aceita, por exemplo, o discurso
do desarmamento com uma ilusão de que se pode conviver
pacificamente no meio de bandidos e assassinos, o que acaba por
potencializar sua maldade e, por conseguinte, enfraquecer as pessoas
de bem. Aceitar o desarmamento é aceitar a iminência da morte e é
desvalorizar-se a si mesmo.
Se vivemos em um tempo em que já não se aceita mais a
escravidão do corpo, ainda estamos muito longe da valorização dele
como algo sagrado. Estamos longe, pois, do contrário, as pessoas
teriam um repúdio enorme em relação aos que cometem atrocidades
contra as pessoas de bem para roubar seus pertences ou simplesmente
por crueldade.
Por último, quero encerrar a seção destacando o direito
autoevidente da propriedade do corpo sob um ponto de vista que, na
prática, não é aceito por inúmeras pessoas, do contrário, drogas e
prostituição seriam legalizadas. Inclusive a homossexualidade não
seria um problema para gerar tantos debates inúteis. Talvez o aspecto
moral desses temas seja a razão da não aceitação. O caso é que
entender o corpo como uma autopropriedade é aceitar que a pessoa faz

19
com ele o que quiser e, no caso da vida sexual, troca afetos e tem
relações com quem assim desejar desde que de forma consensual.

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Capítulo 5
A propriedade de bens “invisíveis”

Neste capítulo, quero tocar em conceitos de propriedade que


estão para além do sentido usual do termo, neste caso, destacando a
propriedade do que chamo de bens invisíveis, exemplificados, aqui,
pela propriedade da vontade individual, do destino e do
discernimento. Já prevejo a critica dos libertários que associam
propriedade com escassez, mas vou tentar desenvolver meu raciocínio,
que tem uma íntima relação com minha experiência de vida.

A propriedade da vontade individual

Praticamente não se fala dessa propriedade que eu considero a


segunda mais importante. Acreditar na vontade individual é crer
que cada um deve viver segundo suas crenças e buscar aquilo que é do
seu interesse. De novo, a única coisa que pode restringir a vontade de
um é a invasão à vontade de outro e a sua propriedade, o que sempre
nos conduz a ideia das relações baseadas em consenso e trocas
voluntárias.
A vontade é o motor da vida por assim dizer. Quem nunca
ouviu a frase: ―fulano está sem vontade de viver‖, o que vem
originado de um processo de vida baseado na renúncia constante para
servir à vontade do outro, caracterizada por obrigações, submissão ao
controle alheio e autossacrifício.
E por falar em controle, geralmente pessoas controladoras não
aceitam a vontade do outro e demonstram isso o tempo todo
fiscalizando para que elas façam exatamente como elas querem;
pessoas autoritárias também não aceitam: querem que tudo seja
igualmente feito à sua maneira. Por isso os regimes coletivistas
produzem pessoas-zumbis, sem o direito a viver sua vontade

21
individual, mas, sim, seguem a vontade do soberano, o deus-Estado,
na figura do líder fascista, nazista ou totalitário.
Se a propriedade do corpo continua ameaçada por uma
mentalidade de compaixão aos criminosos, apesar de não se aceitar
mais a escravidão, a propriedade da vontade individual continua sendo
confiscada um dia sim e o outro também. Pense que todos os dias, de
quando você acorda até a hora de dormir, você está o tempo todo
sendo confrontado com a vontade do outro tentando prevalecer sobre a
sua, e cada vez que você permite essa sobreposição está se
condicionando a um processo de tristeza de alma e a uma vida de
fracassos.
Se a propriedade do corpo pode ser defendida com o porte de
uma arma, a propriedade da vontade necessita de autovigilância e uma
predisposição para fazer as coisas à sua maneira, o que significa
desinteressar-se pela aprovação dos outros e crer que sua vida, suas
regras e sua estada no mundo são para suas realizações.

A propriedade do destino

Quando você pergunta a alguém se ela acredita em destino,


obterá pelo menos duas respostas diferentes: sim e não. Entretanto,
como toda resposta depende da forma como se pergunta, poderia obter
uma afirmação em cem por cento de ―sim‖ se perguntasse à pessoa se
ela gostaria de ser dona do próprio destino.
Ser dono do destino passa pela crença na autorresponsabilidade
e, portanto, na ideia de que a própria pessoa deve tomar as rédeas da
própria vida.
Empreendedores, pessoas ricas e milionárias creem nisso e, por
essa razão, empregam todas as forças rumo à conquista de seus
objetivos.
De fato, somos donos do nosso destino se assim o quisermos,
mas não podemos deixar de considerar o quanto o Estado, ao estatizar
a vida, funciona como uma barreira ou empecilho, tomando a riqueza
que construímos, criando leis que regem nossa vida íntima e privada,

22
afetando nossa felicidade, e nos desviando da nossa rota ao impor uma
moral de obrigações sociais.
A crença no destino fatalmente enseja que percebamos os
obstáculos ao nosso desenvolvimento pessoal e à nossa prosperidade
e, nesse caso, que vejamos o Estado como um ente inimigo de nossas
realizações.

A propriedade do discernimento

Somos dotados de uma espécie de luz própria, que é nosso


discernimento, mas recebemos estímulos o tempo todo,
principalmente pela mídia e pela escola, de que devemos abrir mão
desse poderoso guia para dar ouvidos às palavras de autoridade e de
vozes externas a nós.
Ouvimos que confiar em nós é incorrer em erros, que é uma
falácia que vai contra a natureza humana que se basta a si mesma
quando do que trata é de viver a busca pessoal de felicidade.
Isso ocorre, em parte, pela confusão relacionada ao fato de que
somos seres que têm necessidade de aprender, como muitos animais,
embora tenhamos perdido de vista que isso se relaciona à linguagem,
hábitos, costumes e utilização de tecnologias para o trabalho e a vida;
não, porém, para saber o que é bom ou não para nós. A outra razão,
que, creio, seja a principal, se deve ao fato de que vivemos desde
sempre em um mundo de sistemas autoritários, em que o indivíduo é o
tempo todo esmagado na sua busca por viver por si mesmo. Dessa
forma, os governantes precisam fazer crer que devem morrer em cada
pessoa as convicções e o interesse pessoal e, principalmente, a ânsia
por independência, pois, do contrário, a existência do poder estatal
seria colocada em xeque.
Assim, a escola, os órgãos de fiscalização, a universidade e as
mídias corporativas, que são braço estatal, precisam convencer a cada
um de que deve abrir mão do discernimento e ouvir a voz autorizada
que vem de fora dele. Então, come-se o que especialistas dizem que é
bom comer, praticam-se hábitos que dizem que são bons, seguem-se

23
modas que são defendidas como certas, aprende-se na escola o que é
considerado mais ―humano‖ e por aí vai.
O caso é que, para os que têm desejo de viver a paz de espírito,
de prosperar, de caminhar na certeza de que estão fazendo a coisa
certa da perspectiva do seu caráter, alma e vontade, precisarão o mais
cedo possível recuperar a autoconfiança, que passa por crer em seu
discernimento acima de qualquer fala externa, sabendo que ele é como
o farol de um carro – é a forma segura de iluminarmos o nosso
caminho.

24
Capítulo 6
A propriedade dos bens materiais

O direito à propriedade dos bens privados, como casa, terra e


outros ativos é colocado em dúvida por muitas pessoas.
Como disse anteriormente, a propriedade do corpo e da
vontade não é muito defendida pelas pessoas, acostumadas que estão
com se autossacrificarem pelo mundo e pelos outros. E o mesmo
sucede com a propriedade privada que, por sua vez, corre sempre
riscos em função das ideologias, principalmente a socialista marxista,
que produzem debates cheios de ressentimento por parte dos que estão
arruinados na vida.
Por que não passaram para o lado dos que possuem bens, os
ricos e milionários, as pessoas pobres ignoram o que impulsiona o
progresso, e, então, alimentam crenças negativas sobre a riqueza e
sobre os ricos. Tornam-se presas fáceis para os que vendem soluções
simples para promover a tal da igualdade social, como o ato de
transferir, por meio do confisco de impostos, os bens de uns para os
outros.
Os que vendem essa solução simples de curto e médio prazos
(mas que, no longo prazo, destrói a economia levando muitos à
miséria) se engajam no espaço político e, tal qual os faraós e césares,
desfrutam de uma vida confortável custeada igualmente com o
confisco dos impostos. Conseguem, rapidamente, aceder à riqueza
sem nada produzir, apenas utilizando o Estado com seus instrumentos
de coerção policial.
Jamais passa pela cabeça dos que não iniciaram sua marcha na
direção da construção da riqueza e, portanto, do acúmulo de bens
privados, que o caminho para isso é viver abaixo das possibilidades,
poupar e investir isso regularmente, que é a cartilha repetida por todos
os que conseguiram sucesso financeiro.
Enquanto isso, a propriedade privada continua ameaçada;
vários países passaram pela experiência de confiscar os bens das
pessoas para transferir a outros e há os que possuem na Constituição a

25
menção de que uma parte ou tudo que o cidadão possui é propriedade
do Estado. Aliás, a cobrança dos impostos bem atesta isso.
Nossa constituição já está emendada para relativizar o direito
de propriedade, de forma que, uma vez que alguém se aposse de uma
propriedade, de forma ilegal, só perderá a questão se o dono
reivindicar seu direito e se isso for julgado com o consentimento da
comunidade, que avaliará se o invasor pode merecer o usufruto dela.
Por causa da insegurança jurídica e de artimanhas típicas de
bandidos que tomam à força o que não lhes pertence, as pessoas são
desestimuladas ao acúmulo de propriedades, inclusive com o objetivo
de alugá-las. Resultado: aluguéis caros devido à baixa concorrência e,
claro, quem puder trocará de país e levará seu dinheiro para um lugar
onde seja aceito e respeitado. Há liberais e libertários que são ativistas
e lutam por uma melhora. E haverá sempre os que praticam o hábito
de mudar do lugar ao invés de mudar o lugar, e deixarão que o mal se
destrua a si mesmo ao invés de salvar quixotescamente o mundo, com
risco de se destruir.

26
Capítulo 7
O espaço público como arena de conflitos
insolúveis

Por mais que busquemos caminhar tentando certa coerência e


verdade, ainda que pessoais, o fato é que isso é algo com grande limite
dentro do espaço público. Tenho observado que não adianta acharmos
que estamos certos de nossas atitudes e pensamentos para os outros
porque sempre seremos julgados pelos valores e experiências de vida
deles. Então que tal relaxarmos e pararmos de nos cobrar tanto?
Sim, pois você toma atitudes no dia a dia, tentando certa
coerência e boa fé, mas, não importa o que faça, sempre é julgado com
base no paradigma sob o qual se assentam as crenças dos outros.
Expliquemos melhor: como alguém que crê na
autorresponsabilidade, você deixará que cada um viva segundo sua
―luz pessoal‖, evitará interferir, creditará nas pessoas a capacidade
para viver suas vidas, fugirá das discussões coletivistas, confiará que
aquele que está passando por dificuldades haverá de encontrar uma
saída. Isso da perspectiva de um amigo crente na
autorresponsabilidade significará algo positivo.
Todavia, visto pela perspectiva de um vitimista, você será
tachado de frio, egoísta, fascista e todo vocábulo que tentará diminuí-
lo e tratá-lo como alguém moralmente inferior – um capitalista do
mal.
Quando for opinar sobre as coisas, terá os mesmos problemas,
porque falará a partir do que é bom para você, mas deve entender que
o outro receberá isso a partir de suas crenças e experiências. Será
tentado a soluções coletivistas, o que significa que sugerirá algo
padronizado como sendo bom para todos. Ocorre que apenas a própria
pessoa sabe o que bom para ela e sabe o que deve fazer para resolver
seus problemas. Mas a própria pessoa, que está acostumada com a
dependência de que alguém faça por ela, tachará você novamente de
alguém frio.

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Por essas e por incontáveis razões, o espaço público é uma
arena de conflitos insolúveis, onde abundam fantasias e discussões
inúteis que mais devem servir de passatempo do que de algo sério.

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Capítulo 8
O público ou estatal é uma fantasia

A maioria das pessoas tem afeição por um ideal de vida


coletivista. Gosta de acreditar na ideia de um mundo ideal e perfeito,
crê na melhora do homem e da humanidade, tem apreço por valores
padronizados e tidos como o melhor para todos e está sempre
preocupada se está fazendo sua caminhada junto com os demais. Essa
mentalidade é o que faz as pessoas renunciarem à vida privada e
alimentar um ideal de vida público ou, por outros termos, coletivista.
O ideal de vida coletivo parece significar para essas pessoas a
mensagem de que estão no caminho certo ou, mesmo que estejam
erradas, creem que, com isso, não terão o dedo da maioria apontado
para seus rostos. Então preferem continuar fazendo o que a maioria
quer, renunciando a qualquer tentativa de vida sob o próprio governo.
Errar sozinho as assusta, o que as faz trilhar a vida junto com o que se
denomina de manada.
O problema é que tudo que é público é fantasioso, pois que
abstrato e fora da realidade do indivíduo; o público não representa
ninguém; não atende aos ideias privados; é apenas uma ideia ou a
representação de um ideal de perfeição.
Note como a ideia de público que, como eu disse, é o mesmo
que ideia de coletividade, permeia as discussões do dia a dia. Por
exemplo, costumamos falar que a humanidade está em crise; que a
sociedade está em crise; que tal coisa vai ser boa para a comunidade,
sem jamais nos darmos conta de que tais afirmações não
correspondem a nossa vida, individualmente falando.
Se você está em crise o problema é sua crise e mesmo que as
coisas ao seu redor estejam boas isso não lhe trará a solução da crise.
E o contrário também é verdade: se ao seu redor tudo está
despencando, não significa que isso esteja acontecendo com sua vida.
O raciocínio do público como fantasia serve para tudo em que
você quiser aplicar: pense, por exemplo, nos problemas que as pessoas
discutem no dia a dia. Quanto disso diz respeito a sua vida? Se você

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cuida das suas finanças, se está desempenhando um trabalho do qual
gosta, assuntos negativos ligados a dinheiro ou a trabalho não dirão
respeito a você. Então que cada um que esteja com tais problemas
busque encontrar suas soluções. Agora, pode ser que você tenha suas
questões para resolver. Então, essas, sim, lhe interessam.
A vida no domínio público (coletivo) é uma fantasia porque
não diz respeito às nossas necessidades e interesses pessoais. Discutir
nesse plano pode ser um passatempo para quem queira, mas cada
indivíduo precisa tomar cuidado para não se tratar como sendo uma
coletividade, trazendo para sua vida problemas que não são seus,
sofrendo com questões que não são suas e gastando tempo e energia
com questões que não dizem respeito aos indivíduos, mas que são
apenas fantasias criadas por pessoas afeitas à especulação e à afeição a
problemas, com busca por soluções neuróticas.

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Capítulo 9
Propriedade privada é realismo

Diferentemente da esfera pública, na esfera privada, sim, a


vida acontece porque está assentada em um plano real. Nessa esfera,
importam o bem individual, as questões de foro íntimo, a prosperidade
e a busca por soluções de demanda pessoal.
Propriedade privada é realismo porque apenas o indivíduo
pode cuidar verdadeiramente de si, pode saber o que é melhor para sua
vida, pois está capacitado a fazer mais por si do que qualquer ente
representativo.
Quando você estuda a vida dos milionários e das pessoas ricas,
especialmente no campo das finanças, detecta que todas, sem exceção,
conseguiram a prosperidade econômica porque perceberam o quanto
suas vidas estavam sob seu controle, o quanto eram responsáveis por
si. Não culpavam ninguém por seus fracassos, mas empenhavam
energia e tempo para melhorar de vida.
Na esfera privada, a vida acontece de maneira
espetacularmente realista que é quase impossível traduzir em termos
do quanto ganhamos por viver sob tal perspectiva.
Sob tal visão, importa cuidar melhor de nós, acreditar que
poderemos, com trabalho e dedicação, conseguir quase tudo o que
realmente desejamos. Sob esse olhar, não há dúvida, nem perda de
energia com discussões inúteis em um campo que nada tem de
verdadeiro e de respeito a nossas vidas. Sob tal olhar, enxergamos o
que precisamos ver e fazemos o que verdadeiramente precisamos fazer
para que as coisas funcionem melhor para nossa vida.

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Capítulo 10
O Estatismo: o culto a um mal destrutivo

Se, durante toda a Idade Média, a Igreja dominou o centro da


vida, a sua separação do Estado, mais tarde, ensejou a aparição de um
novo centro: o estadocentrismo ou o estatismo.
De fato, é notório o quanto nossa vida gira em torno desse ente
opressor, controlador, confiscador de nossa produção e inimigo de
nossa individualidade.
As pessoas vivem desesperançosas quanto aos políticos e às
respostas do Estado, mas continuam acreditando que fora dele não há
salvação. Ou seja, vivem uma estadolatria, em que depositam fé
naquilo que, na verdade, é maléfico para a vida, mas, por alguma
razão, elas não parecem ligar para isso. É um pouco como a pessoa
que, em busca de uma suposta segurança, aliena sua liberdade.
A estadolatria não surge do nada; não é algo que devemos
condenar como se fosse externo às pessoas ou um projeto
maquiavélico imposto a inocentes. Ela nasce de atitudes vitimistas das
pessoas, de seu convencimento do autossacrifício e de transferência de
responsabilidade. São as mesmas pessoas que condenam o ser humano
como sendo dotado de uma natureza maldosa e que acham que dar o
poder na mão de um grupo pode garantir sua segurança e bem-estar
muito mais do que deixar esse poder pulverizado entre os indivíduos.
São as mesmas pessoas que se põem a definir pontos como aborto e
responsabilidade perante os pobres, o que, fatalmente, recai na invasão
à vida alheia ou transferência de responsabilidade, que é a natureza do
nascimento do estado.
Apesar da estadolatria, o estadocentrismo parece estar em um
momento de cheque: os países que prosperaram depois das duas
guerras mundiais produziram tanta riqueza que entraram em um
círculo de queima dessa gordura com assistencialismos, o que levou as
pessoas a perderem a noção do limite do dinheiro (que, na verdade,
pode ser impresso e ir levando o problema para frente), a

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comprometer seu caráter e a crer em um mundo cor de rosa, sem
trabalho, e, de forma gradual, seus representantes eleitos foram
criando leis que cada vez mais têm destruído a vida, a liberdade e a
individualidade.
Para onde vamos é a pergunta que quadra aos futurólogos de
plantão. O que sei é que tal conflito é de difícil solução, pois implica
que as pessoas precisarão decidir se querem cuidar de suas vidas por
si, o que ameaçará o Estado e seus parasitas, ou se continuarão
depositando nele suas esperanças e necessidades, o que poderá lhe dar
certa sobrevida, mas não haverá mais como ele ficar em pé e atender
aos reclames das pessoas pois ele depende do confisco dos bens, o que
mataria o livre mercado e o levaria ao colapso. Não sei para onde
vamos. O que cabe a cada um de nós é buscar realizar nossos
objetivos pessoais um dia de cada vez.

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Capítulo 11
Como o Estado anula o direito natural de
propriedade

―Consideramos estas verdades como autoevidentes, que todos


os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos
direitos inalienáveis, que entre estes são vida, liberdade e busca da
felicidade‖, assim reza a Declaração de Independência dos Estados
Unidos que, inclusive, afirma que, se algum governante agir contra a
vontade dos indivíduos, deve ser deposto. Alguém já disse que
inclusive o porte de armas não é apenas uma defesa contra o
semelhante como também em relação ao governante.
Esta declaração foi perdendo a força ao longo do tempo na
medida em que o país foi ficando forte e sendo composto por
representantes sem fé nessas ideias originais. Os Estados Unidos
viram nascer um novo grupo de políticos que têm crenças
profundamente contrárias ao que os ―pais da pátria‖ tinham quando da
fundação do país. Ser conservador passou a ser desumano e retrógrado
- o ideal de vida político, naquele país, passou a ser fantasiar como um
Democrata.
Estendendo o exemplo americano para o Estado, em geral, que
foi pensado para garantir a propriedade dos indivíduos, cada vez mais
têm se levantado governos contra a preservação desse valor, mesmo
naquele país em que nasceu o mais representativo ideal de liberdade
individual: pense o quanto se faz para tentar acabar com a emenda que
garante o porte de arma, que é necessário para garantir a preservação
da mais importante propriedade, que é a vida!
Quantas vezes repetimos, com senso de que é positivo, uma
das mais perigosas ideias tidas como verdade universal, que apenas ao
Estado é que se deve permitir o monopólio da força, esquecendo que
ele é feito de pessoas e que dar todo o poder a um grupo é assinar uma
sentença de autoagressão.

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Se o ser humano é mal, como dizem os fanáticos por
engenharia social, pior ainda pensar na ideia de concentração de
poder, pois é como entregar uma arma para que alguém nos destrua.
O direito de propriedade é natural e, como diz a Declaração, é
autoevidente. Não carece de argumentação filosófica, nem de
metafísica. Já passou da hora de nos impormos contra os que se
disfarçam de humanos para controlar e destruir a vida das pessoas de
bem. Não há como defender aqueles que não prezam pela vida das
pessoas de bem como se eles fossem do bem, já que não se importam
com as pessoas que trabalham e respeitam a propriedade e a vida
alheias.
Enquanto existir o Estado, nossas propriedades estarão em
risco: em primeiro lugar, nossas vidas, que, por leis nacionais, nem
podemos defender com uma arma, o que é absurdo para se aceitar;
nossas propriedades estarão sujeitas à invasão e nosso dinheiro
continuará sendo confiscado por meio de impostos.

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Capítulo 12
Educação: De como o Estado se apropria das
crianças e adolescentes

No meu livro ―Educação sem Estado‖, dediquei um pequeno


capítulo para tratar de como o Estado se apropria de nossos filhos,
tornando-os sua propriedade e, nós, pais, os co-proprietários.
Você tem o direito de educar seu filho em casa? Pode
administrar a educação dele, enviando-o à escola de línguas, negócios,
academias esportivas e fazer disso seu currículo? Pode ter seu filho do
seu lado para trabalhar com você? Pode trocar um ano de estudo por
uma viagem de intercâmbio sem ter de dar satisfação ao Estado? Não.
Então por que você acha que o filho é seu?
Quando somos proprietários, podemos, de forma consensual,
agir da forma como queremos sem ter de nos explicar a ninguém. Não
é assim com nossos filhos. O Estado está o tempo todo rondando
nossas vidas e dizendo o que, como e com que frequência deveremos
agir em relação a eles.
É aceitável termos de comparecer a um órgão público para nos
explicar porque estamos agindo de um jeito ou de outro com nosso
filho? Por que ao invés de enviá-lo à escola, em um mês aleatório, não
podemos colocá-lo em um curso específico? Por que não podemos
combinar um currículo com esporte, música e informática em escolas
diferentes, por nosso próprio interesse, ao invés de mandar o nosso
filho para um lugar em que exista uma filosofia de trabalho na qual
não acreditamos?
É aceitável o domínio cativo do Estado formando a cabeça de
nossos filhos para que eles se eduquem para a autodestruição e para a
perda da liberdade individual, como é o que ocorre todos os dias nas
escolas desse país?
Sim, o Estado se apropria de nossos filhos e a maioria dos pais
não está preocupada com isso. Creio que vale a pena perceber que há
um inimigo agindo contra a felicidade de nossos pequeninos e ele
trabalha de forma bem disfarçada, aproveitando-se do vitimismo das

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pessoas, do seu desinteresse pela vida dos filhos e da sua ingenuidade.
O inimigo é claro – o Estado.

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Capítulo 13
Saúde: De como o Estado compromete as opções
por saúde, jogando com nossas vidas

Regulamentações estatais são um mal e isso não é diferente no


que diz respeito à saúde.
Ao dizer como clínicas e planos de saúde devem agir e ao
controlar a saúde pública pretendendo ter todas as informações
necessárias, o Estado só pode agir de forma a comprometer a saúde da
população.
Concorrência sem regulamentação poderia fomentar a aparição
de inúmeros serviços médicos que baixariam o custo e poderiam
possibilitar tratamentos avançados e benéficos para todos, e de forma
barata.
Mas as pessoas gostariam de elas próprias fiscalizarem o
serviço? Não estou seguro disso. Preferem que um órgão faça por elas,
então surge o Estado. Não surge do nada. Surge do desinteresse do
indivíduo por sua vida e por seus interesses privados.
Observo que muita coisa tem mudado. Em tempos de internet e
de comércio eletrônico, muitas pessoas estão participando mais e
fiscalizando os negócios. Se pensarmos em sites como um ―Mercado
livre‖ ou um ―Paypal‖, veremos que eles ensejam que a pessoa cuide
de si ao invés de o Estado fazê-lo em seu lugar. O comércio eletrônico
tira o estado do jogo, o que já é um começo.
Mas estamos longe. É engraçado que, em um passado recente,
quando o Estado não chegava ao meio rural, havia farmacêuticos e
raizeiros famosos, que davam tratamentos eficientes e não eram
fiscalizados pelo Estado, mas ganhavam em função dos resultados.

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Como você sabe, esse serviço, hoje, é considerado um crime se
o raizeiro, atual naturalista, ou se ―funcionários da farmácia‖ não se
submetem às regulamentações estatais. Naturalistas, inclusive, são até
perseguidos, o que é uma pena, pois são alternativas poderosas para
vários tratamentos importantes.
Mas como as pessoas temem cuidar de si, transferem ao Estado
o poder de negar a elas o que poderia lhes fazer bem. Novamente, não
são vítimas. Tudo é uma simbiose e o Estado não acontece do nada.

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Capítulo 14
Segurança: De como o Estado torna nossas vidas
vulneráveis

Ouvi de meu pai uma das observações mais realistas ou


verdadeiras sobre o direito natural à autodefesa, celebrado na
Constituição americana, que é o direito ao porte de arma. Dizia meu
pai: ―todos os animais, por natureza, se defendem‖.
Cresci ouvindo isso, embora ele, um cristão bastante afeito à
pacificidade, não tenha conseguido praticar isso, inclusive tenha nos
educado sem o estímulo positivo da autodefesa. Mas o caso é que ele
sempre defendeu o porte de arma, lembrando os tempos de homem
moço em que, no ambiente rural das Minas Gerais, portava sua
garrucha, sem que jamais precisasse usá-la contra ninguém.
Em meu livro ―Educação sem Estado‖, escrevi um capítulo
intitulado ―Pergunte a seu pai ou a seu avô‖, em que tratei de que,
muitas coisas das quais duvidamos da possibilidade de implementar,
hoje, já foram utilizadas no passado, inclusive o porte de armas. Essa
história de que há muitos loucos à solta e de que, portanto, não
deveríamos liberar as armas é uma falácia. Simplesmente já foi assim
um dia.
Como disse, meu pai foi um exemplo disso, e nunca me relatou
qualquer ideia negativa sobre o porte de arma na zona rural em que
morava, mas, ao contrário, segundo ele, isso estimulava o respeito
entre as pessoas.
A questão é que, desde a redemocratização, tem havido
investidas cada vez maiores sobre o porte de arma e o resultado disso
é que as pessoas acabaram ficando desarmadas. Tudo está nas mãos
dos sanguinários que sabem que podem humilhar a cem por cento dos
moradores, aterrorizando, roubando seus pertences e acabando com
suas vidas, já que não haverá nenhuma força contra eles.
Tal injustiça encontra-se reforçada com a tese do Estado como
o agente com o monopólio do uso da força e da coerção que, na

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prática, tem resultado em inúmeras mortes por total falta de
assistência e eficiência, que é o que ocorre sempre que deixamos de
fazer por nós o que é nossa tarefa, interesse e competência e
transferimos a outro.
Ao negar o direito ao porte de arma, o Estado desarmou a
população que ficou a mercê dos criminosos. Nossas vidas ficaram
vulneráveis.
Quando você fala em porte de arma, geralmente vem alguém
mencionando os noticiários formadores de opinião citando o exemplo
de invasão de escolas nos Estados Unidos. Como ouvi alguém dizer,
isso dá a certeza aos bandidos de que, ao abordarem pessoas em um
ponto de ônibus ou ao entrarem em suas casas, estarão cem por cem
seguros de que ninguém terá poder de freá-los, pois todos estão
desarmados.
Novamente, bastaria perguntar a seus pais ou avós sobre como
era nos seus tempos de juventude e, então, ouviriam que as pessoas
andavam armadas, pelo menos no ambiente rural, e nada de anormal
ocorria.
Continuaremos ouvindo essas ideias de destruição da vida dos
cidadãos de bens, que são fomentadas por intelectuais de academia
que defendem um mundo fantasioso de harmonia e de paz universal
feito de boas intenções, e que tentam harmonizar o inconciliável, o
homem sanguinário com o cidadão de bem, defendo a justificação do
primeiro, sua recuperação e uma atenção a sua história de vida e,
como consequência lógica, o desinteresse por qualquer apreço pelo
segundo.

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Capítulo 15
Justiça: De como a justiça estatal é injusta

Uma das coisas mais odiosas de se ouvir de liberais é a de que


o Estado deve se restringir apenas a coisas essenciais, entre as quais
está a justiça. Tais defensores tiram do campo econômico a justiça
como se isso fosse possível. Estão satisfeitos com a suposta não
interferência do Estado na economia, em um mundo liberal ideal, e
não se atêm ao fato de que justiça que demora até uma década para ser
concretizada não é justiça; que justiça que promove a solução de
conflitos baseando-se em leis que desrespeitam a propriedade privada,
como as que temos em face da Constituição de 1988, também não é
justiça.
A ideia de reparar direitos só existe em um mundo de
legislação baseada na propriedade privada, coisa que já de muito tem
sido contestada por nossas leis que são feitas por políticos que
representam interesses de corporações econômicas que parasitam a
máquina estatal e de setores sindicais, rurais e urbanos que defendem
as supostas minorias e os menos possuídos. Tudo isso, somado, cria
coletividades impossíveis de serem harmonizadas com a ideia de
direito individual.
Sem direito individual não há justiça. Sem reparo instantâneo à
violação da propriedade privada também não a há.
Para que haja reparo de violação de direitos, precisamos que as
pessoas aceitem a lei da propriedade privada como a lei das leis, aliás,
como a única lei, de forma que violar o corpo, a vontade e os bens
seria algo intolerável com punição contra quem assim agisse.
E, para além disso: precisaríamos de arbitragem privada, de
forma que várias agências vendessem o serviço da justiça e os
interessados recorressem a elas e, por meio de um ranking e de
avaliações dos consumidores, as melhores agências, e melhores por
respeitarem a lei da propriedade privada, seriam preservadas por sua
transparência, correção e competência.

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Teremos isso um dia? O que sei é que a maioria das pessoas
não acredita na lei da propriedade privada. Aceitam, não sei se por
condicionamento, comodidade, preguiça ou o que, as leis estatais que
violam a propriedade, que não permitem a proteção da propriedade do
corpo (porte de armas), violam a propriedade da vontade,
massacrando, prendendo e ameaçando quem não faz as coisas
baseadas nas leis do Estado, como a obrigação do voto, do alistamento
militar e do pagamento de impostos, e relativizam a propriedade dos
bens, com a ideia do estatuto ou função social da propriedade.
O Estado funda sua justiça baseando-se na injustiça, que é a
extinção da propriedade privada.

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Capítulo 16
Mercado: De como o Estado confisca a produção,
destrói a riqueza, a prosperidade das pessoas e o
direito à escolha

Achei inteligente quando alguém defendeu o poder do mercado


em detrimento do Estado ao afirmar que não entendia como as pessoas
podiam imaginar que uma estrada precisasse do Estado para ser feita
quando o mercado tem o poder de entregar-lhe um celular de última
geração, o que, obviamente, é algo muito mais complexo de se
realizar. Mas isso não é o mais grave da questão: o pior é que o Estado
é um destruidor de riqueza, do enriquecimento das pessoas e do direito
à escolha.
Se você não é um empreendedor ou autônomo, talvez tenha
claro o quanto há de barreiras em sua mente para passar de um
trabalhador a um empreendedor, principalmente por conta de uma
formação emocional condicionada que nos fez dependentes de um
sistema estatal limitador e abusivo de nossa liberdade. E vou
desenvolver esse raciocínio mais abaixo.
Antes, quero refutar outra questão que é: ―o capitalismo ou o
mercado tem causado misérias à sociedade‖. Primeiro, quem defende
isso geralmente é um esquerdista crônico que se esquece de que, antes
do sistema capitalista, sim, o mundo vivia uma igualdade de
condições: na miséria! O homem mal sabia se teria para comer no dia
seguinte, mal se vestia, vivia em habitações precárias e com baixa
expectativa de vida.
Segundo, o capitalismo trouxe melhores condições de vida às
pessoas, apesar do Estado, apesar de ser um capitalismo estatal ou um
capitalismo corporativista. Imagine como seriam nossas condições em
um livre mercado sem qualquer interferência do Estado?
Ao regular as regras da economia e ao confiscar boa parte da
produção das pessoas, o Estado desestimula a produtividade e até a

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mata, prejudicando que tenhamos uma vida de muito mais
prosperidade.
E, ao legislar sob uma perspectiva de dependência social, ele
forma pessoas perdidas em termos de conhecer sua vocação, paixão
ou destino ou o que você quiser chamar para a ideia de a pessoa criar
sua própria vida. Ele impõe limites, restrições e desmoraliza o caráter
das pessoas que, ao invés de irem atrás de seus sonhos, se vitimizam,
assumem o coitadismo, e o que mais fazem é atacar as pessoas que
conseguem sair desses grilhões. Serão a massa de manobra para
políticos parasitas, que farão fortuna com o dinheiro dos impostos e
viverão como faraós escravizando a população.
Esse é o Estado. O mesmo que sempre atacou o mercado e os
empresários, atribuindo-lhes as crises que ele cria ao limitar e regular
a economia e a vida das pessoas. O mesmo Estado que diz que os
empresários é que são culpados pelas crises econômicas, como fez o
Estado alemão que culpou os judeus pelos problemas daquele país,
levando inúmeras pessoas ao holocausto. E o mesmo que continua
agindo por outras formas disfarçadas no mundo atual, em que você
sofre toda restrição possível para não prosperar e, se conseguir, será
tachado de culpado pelos que se encontram em desgraça econômica.

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Capítulo 17
Pela privatização do dinheiro

O dinheiro é anterior ao Estado. Surgiu como um


desenvolvimento da inteligência humana para algo que representasse o
valor de um produto no lugar dele como se fazia em termos das trocas
voluntárias. Uma pessoa que não quisesse o que a outra tinha, mas
pudesse oferecer algo que ela queria, tinha um problema para resolver,
que seria conservar aquele produto consigo até que aparecesse alguém
que o quisesse, o que gerava um problema de sincronismo comercial.
O dinheiro resolveu isso, pois permitiu o intercâmbio entre as trocas
comerciais. Mas hoje ele virou outra das tantas propriedades estatais,
trazendo como consequência nossa necessidade de pedido de benção
ao Estado para utilizá-lo, que se traduz em informações quanto ao uso
e à acumulação por ocasião do imposto de renda e da contabilidade
fiscalizada, como no caso das empresas, e enorme taxação por ocasião
do seu ganho e uso. Inclusive temos restrições sobre utilização variada
de moedas.
Inicialmente o dinheiro era metálico e, portanto, havia
dificuldade de falsificação; seu valor era intrínseco ao que ele era em
si, como no caso do ouro e da prata. Os títulos vieram depois com
lastro nesses metais até que vieram as moedas de livre circulação.
Quando recentemente o Estado começou a utilizar o dinheiro
de papel e, principalmente, ao abolir o padrão ouro, ele passou a poder
imprimir quantidades maiores do que sua correspondência real, o que
nos trouxe a famosa inflação que é monetária, mas o Estado esconde o
segundo nome dessa expressão, monetária, novamente, para atribuir a
culpa aos empreendedores/empresários, fazendo a sociedade crer que
são eles que aumentam o preço, e não ele que aumenta a impressão de
dinheiro.
O caso é que o dinheiro sob o controle do Estado é um mal,
pois a consequência dessa gestão é o empobrecimento das pessoas. A

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cada impressão, menos valor temos como patrimônio. E o mesmo vale
para taxa de câmbio, que também diminui nossa riqueza.
O dinheiro precisa ser privado, como a experiência hoje com
os bitcoins, que descentraliza a moeda, protege da inflação e de taxas
de impostos.
Acho estranho quando vejo o Estado utilizando o bitcoin, pois
é como se ele tivesse tentando a experiência do controle da moeda.
Mas pelo fato de ser um sistema descentralizado, felizmente isso tende
a escapar ao seu controle.
Se na origem do dinheiro, o caráter privativo foi bastante forte,
parece que estamos recuperando algo que também o Estado nos tirou,
que é nossa riqueza cem por cento em nossas mãos. Tomara que o
sistema com bitcoin destrua o sistema de controle pelos bancos
centrais.

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Capítulo 18
Uma forma jurídica de resolver conflitos baseada
na ética da propriedade privada: o
libertarianismo

Libertarianismo é um sistema ético jurídico baseado na lei de


propriedade privada. Como seu outro nome é anarcocapitalismo,
muitas pessoas erroneamente o ligam à economia, dizendo que é um
sistema econômico. Não. Não é.
O libertarianismo surge como uma visão oposta ao que temos
hoje em que o estatismo é a regra de arbitragem ou moderação para os
conflitos, em que esse ente — que confisca a riqueza das pessoas, seu
trabalho, limita sua vida íntima, diz como deverá educar seus filhos,
diz que tipo de tratamento de saúde poderá ter, trata empreendedores
como criminosos e exploradores, e políticos como mocinhos da
história, repara uma injustiça em até 10 anos — é o único que está
autorizado a fazer a justiça.
Como o sistema estatal se utiliza de leis criadas por políticos
parasitas que defendem interesses diversos que são sempre
antagônicos às liberdades e propriedade individuais, o resultado é
sempre um conflito. Como são as leis criadas? Baseiam-se na
vitimização da pessoa, que é tratada como alguém incapaz de se
cuidar, de prover a si própria, fruto de uma sociedade desigual e
injusta, como socialistas afirmam, e tudo o mais que é bandeira dos
que chegam ao poder e que, para perpetuar-se nele, vão fazer de tudo
para mandar a mensagem às massas de que estão lutando por elas. O
conflito está instaurado.
O que é o conflito senão a disputa entre pessoas pela mesma
coisa ou propriedade? Evidentemente que em um mundo de mais
coisas do que pessoas isso não ocorreria. Pense, por exemplo, em duas
famílias soltas em uma ilha que dispõe de inúmeras cabeças de gado,
galinhas e frangos, plantações imensas e ferramentas em grande
quantidade. O que haveria para se disputar além do orgulho e dos

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problemas do caráter? (Aqui estou me lembrando do episódio em que
Caim mata a seu irmão Abel).
Mas não haveria disputa por propriedades físicas em função da
abundância. A escassez de recursos exige uma ordenação jurídica
baseada na propriedade privada, se quisermos eliminar esse tipo de
conflito.
O problema de se convencer as pessoas é que, antes de nós, os
socialistas já impregnaram o termo propriedade privada como coisa
ruim, fazendo-o filho do capitalismo, o qual se encontra bastante
demonizado entre as pessoas e disso dão provas as imagens ao termo
que podemos tomar contato quando vamos ao Google.
Dizer a elas que a propriedade pública é um mal e é a
causadora do conflito não convence fácil: você pode dizer: ―o que é de
todo mundo não é seu‖; ―você só é dono do que é seu‖, inclusive
porque há, nas pessoas, ainda uma ilusão ou gosto pela ideia de
pertencimento coletivo, o que as faz valorizar a vida em grupo,
mesmo com brigas e mais brigas, e talvez seja essa a razão de casais
em conflito permanecerem juntos (e casamento é, de certa forma, um
conflito, pois disputa-se a propriedade da vida individual o tempo
todo), ou até em família, em que se briga e se está junto o tempo todo,
isso quando não ocorre brigas de ódio em que a separação é definitiva.
Quantas vezes, no dia a dia, nos deparamos com atitudes
incoerentes, da nossa parte inclusive, porque dizemos como algo
deveria ser. Isso é fruto de uma mentalidade estatista, que está
impregnada em nós, e é sempre acionada quando definimos,
determinamos ou opinamos como algo deveria ser. A pergunta é:
―baseado em que ou quem‖? Porque, claro, mesmo liberais quando
creem que tem a melhor opção para algo, mesmo em relação a temas
como a economia, correm o risco de reforçarem o Estado totalitário,
que vive dizendo como as pessoas devem viver suas vidas, o que é
algo abominável.
Enquanto a vida for regulada e arbitrada pelo Estado,
presenciaremos injustiça, conflitos e incoerências. Até da nossa parte,
pois estaremos submetidos a tudo isso.
O que o libertarianismo prega é o fim do Estado por entender
que, diferentemente do que as pessoas creem, quando a insegurança

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domina, quando a corrupção impera, quando o medo toma conta de
um país, quando a fome assola, precisamos, não de mais Estado, nem
de menos, mas da extinção dele para que as pessoas assumam o
governo de suas vidas, troquem as coisas de forma pacífica e
consensual e encontrem sua maneira de resolver conflitos que só
poderá ser frutífera se tiver a propriedade privada como a regra de
ouro para suas vidas.

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Conclusão

Escrever este livro me deu bastante prazer, como tudo o que


tenho escrito.
Escrever tem me ajudado a varrer da cabeça os fantasmas do
pensamento socialista e coletivista, em geral, que por décadas me
levaram por um caminho de perda de saúde física e mental, limitação
de vida econômica e falta de fé na vida.
Desde quando iniciei esse ―projeto‖ pessoal de ―Educação e
liberdade‖, com a publicação do ―Guia Politicamente Incorreto sobre
o que se Aprende na Escola‖, cada vez mais, tenho melhorado minhas
atitudes diante da vida e conseguido realizar mais coisas do que antes.
Falo de uma melhora em relação a minha vida financeira, saúde e
bem-estar, sem nenhuma pretensão ou interesse em termos de
qualquer referência de melhoria moral ou algo pelo viés da soberba,
coisa da qual espero não me alimentar.
A escrita tem me ajudado a tomar consciência dos problemas
em torno do viés coletivista que assola nossa educação e o dia a dia e,
paralelamente a isso, me ajuda a enfrentar e suplantar essas ideias que
são a quase unanimidade entre as pessoas.
Fazer a defesa de uma vida cem por cento privatizada não é
algo que faço porque li o autor A ou B, como fazia quando escrevia
textos dominado pelo pensamento coletivista. Não. O que escrevo é
baseado em uma experiência de sofrimento e reveses, pessoais e
econômicos. Sei, por experiência, o quão destrutivas são as ideias
socialista e coletivistas que dominam as escolas.
Não escrevo essas coisas porque são mais bonitas, nem porque
fulano de tal que é doutor em Harvard ou que lutou na revolução X as
idealizou. Baseio-me em minha experiência.
Evidentemente que você não deve pegar nada do que escrevo
apenas porque é baseado em minha experiência. Pegue ou largue o
que quiser se funcione ou não para você.
Claro que muito do que leio, vejo e escuto também me ajuda a
me despertar para ideias de liberdade. Não estou inventando a roda.

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Apenas que não deixo que nada entre em minha cabeça e fique
dizendo como devo viver minha vida. Gosto das ideias que acordam
coisas que já estão em mim. Assim, tudo o que venha de autores que
falam de liberdade, como os economistas austríacos, por exemplo, se
me desperta para mim mesmo é bem vindo.
Espero que tenham gostado da leitura desse livro.

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Sobre o autor
Noé Amós Guieiro nasceu em Rondon, Paraná, em 1975. É formado em
Letras e Pedagogia, com especialização em literatura. Também é mestre em
literatura e crítica literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Professor de Português e Inglês, de sua autoria foram publicados:
Educação
 Educação sem Estado (2017 – Amazon);
 Pedagogia libertária (2017 – Amazon);
 Pedagogia do Indivíduo (2017 – Amazon);
 Anarcofilosofia (2017 – Amazon);
 Pare de Acreditar na Educação(2017 – Amazon);
 Conversa com um Professor insatisfeito com a Educação(2017 – Amazon);
 Coisas que você aprendeu na Escola que podem estar atrapalhando sua
vida(2017 – Amazon);
 Por que não acredito nessa Educação (2016 – Amazon);
Série Educação liberal:
 Pedagogia liberal (2016 – Amazon);
 Educação por uma ótica liberal (2016 – Amazon);
 Por uma Reforma liberal do Ensino (2016 – Amazon);
 Pedagogia liberal versus Pedagogia Freireana (2016 – Amazon);
 Guia Politicamente Incorreto sobre o que se Aprende na Escola (2016 –
Amazon).
Redação
 A Menina que odiava Redação (2013);
Literatura
 O Fantástico Mundo de Pathos: Romance da História da literatura (2008);
Ficção
 A mulher que decidiu virar o jogo da vida depois dos Trinta (2014);
 O vampiro do facebook (2013);
 Até que o destino nos separe (1999);
 Quando as palavras são importantes (1999).

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