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Theresa Adrião
University of Campinas
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Theresa Adrião2
1
Texto resultante de Projeto Fapesp por mim coordenado “Privatização da oferta da educação
básica obrigatória: análise de três programas governamentais de subsídio público ao setor
privado” de Tese Livre Docência (Adrião, 2015)
2
Professora da Faculdade de Educação da Unicamp, pesquisadora Coordenadora do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Política Educacional (GREPPE).
3
Para mais informações ver https://greppe.wordpress.com/
2
na maneira pela qual o Estado brasileiro se organiza para o cumprimento de seu dever
frente à garantia do direito à educação básica. Tais alterações, decorrentes de
orientações inspiradas na Nova Gestão Pública (Abrucio, 2007), foram deflagradas a
partir do previsto no Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), de
1995 (Peroni, 2003) e operacionalizadas, para o tema deste trabalho, pela Emenda
Constitucional n. 19 de 1998 e legislação decorrente (Adrião, 2014; Adrião et al. 2009).
Destas últimas, destacam-se as estratégias que vigoram, neste começo de século,
e que passam a compor programas de governos de diversos estados e municípios
brasileiros, cujo objetivo é a transferência da gestão da educação pública para o setor
privado, seja por meio de parecerias público-privado, como anunciado para Belo
Horizonte4, seja por meio do estabelecimento de contratos de gestão ou outras formas de
conveniamento como as propostas pelo governo do Estado de Goiás, seja ainda por
meio da adoção, por redes públicas, dos “sistemas privados de ensino”, estes incidindo
também sobre os currículos escolares. (Adrião , 2014; Adrião 2015; Adrião et al. 2016)
Este trabalho baseia-se em pesquisas anteriores e em mapeamento da produção
bibliográfica sobre a privatização da educação obrigatória, disponível em quatro bases
(WEB of Science; Scielo; Banco de Tese da Capes e repositório de teses e dissertações
dos Programas de pós graduação em educação das universidades e Universidade Federal
do Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Pará (UFPA),
Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Universidade Estadual Paulista(Unesp) e Universidade de Brasília (UNB). ( Adrião,
2015)
A análise dos resumos, do conjunto de artigos e produções discentes
disponíveis no período de 1990 a 2014, permitiu seu “enquadramento” em três
dimensões sobre as quais as formas de privatização operam nos diferentes contextos:
Privatização da oferta educacional e Privatização do Currículo e Privatização da gestão
da educação, no caso desta última dimensão, objeto de interesse neste artigo,
5
As Organizações Sociais (OS) foram disciplinadas pela Lei Federal 9.637 de 1998, pela qual o
contrato de gestão com tais entidades se constitui em um instrumento de fomento para
incentivar a iniciativa privada, e não uma forma de descentralização da Administração Pública.
(Pietro, 2007)
5
disso, segundo posição do STF, opções deste tipo podem dispensar licitação, pois se
configuram como convênios, ainda que devam observar critérios objetivos e impessoais
e de prestação de contas no processo de seleção.
Já o termo de parceria, regido pela lei nº 9.790/996, assemelha-se ao
contrato de gestão, mas se refere aos acordos entre as Organizações da Sociedade
Civil de Interesse Público (OSCIP)7 e Poder Público. Esta medida passa a regular a
contratação e remuneração pelo Estado, de entidades do Terceiro Setor para a realização
de atividades relacionadas às políticas sociais, como a educação. Trata-se de outro
mecanismos pelo qual o Estado pode formalizar a transferência da responsabilidade
sobre a gestão da educação para o setor privado, neste caso, sem fins de lucro. (Peroni e
Adrião, 2005; Adrião e Bezerra, 2013)
Pretende-se contribuir com o este texto para o entendimento a respeito das
relações entre os segmentos privados que se destacam neste contexto de financeirização
econômica e as formas mais preeminentes de atuação desses mesmos segmentos no
campo educacional.
6
Vulgo Lei do Terceiro Setor, pela qual se estabeleceu nova disciplina jurídica às entidades sem fins
lucrativos, viabilizando sua qualificação, pelo Poder Público, como Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público (OSCIP) e a possibilidade de firmar, acordos de cooperação com quaisquer esferas de
governos. (Pulhez Jr, 2010; Adrião e Bezerra, 2013; )
7
Definidas pela Lei Federal 9.790 de 1999 e regulamentadas pelo Decreto Federal 3.100/99 se referem
às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos.
6
No caso das entidades sem fins lucrativos, mas que atuam em função do
investimento social de suas marcas, o Próprio GIFE alerta
Os dados do Censo também reforçam uma característica do
investimento social corporativo, de alinhamento entre o
investimento social e o negócio. Mais da metade dos
respondentes afirma que todo ou parte do seu investimento social
está vinculado ao ramo de atividades da empresa ou da
mantenedora. O alinhamento ao negócio pode ajudar na
integração do investimento social às demais áreas da empresa, a
qual passa a perceber mais valor nele. Mas empresas, fundações
e institutos não podem esquecer que o investimento social tem
um fim público. Isso quer dizer que, mesmo alinhado ao negócio
e trazendo benefícios para a empresa em termos de imagem,
reputação e licença para operar, o objetivo de transformação
social deve estar evidente e transparente (Gife, 2013, p.41, grifos
nossos)
quadro de recessivo dos países da zona do Euro e a consequente diminuição dos fundos
públicos para a promoção do desenvolvimento em países pobres, exigiria a participação
mais direta desses grupos privados e de sua “expertise” e recursos.
A rede (netFWD) teria como objetivos-chave:
otimizar e acelerar o impacto da filantropia para o desenvolvimento
através da partilha de experiências e lições, influência política e o
desenvolvimento de parcerias inovadoras. (OCDE, 2014, p29, tradução
da autora)
O crescimento da presença deste tipo de investimento privado em áreas
relacionadas a políticas sociais, por exemplo, segundo a própria OCDE está também
relacionada ao aumento da concentração da riqueza em mãos privadas e ao crescimento
de empresas multinacionais, da filantropia empresarial somados á crescente visibilidade
dos perfis desses filantrópicos. O documento informa que
“o papel de cada vez mais importante de financiamento do setor
privado e a alavancagem potencial que cooperação intersectorial poderia
alcançar. A relação entre o capital da Fundação e o mercado de
investimento de impacto mais amplo, portanto, é digna de atenção.” 9
OCDE, 2014, p.30, tradução livre da autora)8
8
“ [...]role of private sector finance and the potential leverage that cross-sector co-operation
could achieve. The relationship between foundation capital and the broader impact investment
market is thus worthy of attention.”
9
Alto envolvimento
Comercio
Caridade
Investimentos Empréstimos
Tradicionais Bancários
Baixo Envolvimento
9
Formato de matrícula que relaciona a escola a ser frequentada ao endereço de residência do
estudante, impedindo que a família possa “optar” por outra escola pública.
12
Essas novas formas pelas quais o capital subverte a conquista recente do direito
à educação pública no Brasil ancora-se em uma renovação do processo de acumulação
do capitalismo. Para autores como Foster (2012), o capitalismo sob a supremacia do
“capital monopolista-financeiro” assiste a um “processo de progressivo deslocamento
da centralidade da produção em direção às finanças que tem caracterizado a economia
ao longo das últimas quatro décadas.” Tal deslocamento permite a subordinação da
gestão educacional aos interesses do capital, na medida em que este, na forma de capital
financeiro, controle as empresas e corporações que assumem a gestão de escolas e
sistema.
administrativo das redes públicas de ensino10 (Adrião et al, 2009, 2012). Situação que
confirma a indução observada por Kless et al. (2010) ao analisar a agenda de reformas
educacionais proposta pela Agenda 2020 do Banco Mundial cujo foco é a destituição da
natureza estatal dos sistemas públicos educativos, com vistas a ampliar o campo para os
negócios educacionais ( Hill, 2003)
Referências
ABRUCIO, Fernando Luiz. Trajetória recente da gestão pública brasileira: um balanço crítico e
a renovação da agenda de reformas. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro , v. 41, n. spe, p. 67-86,
2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
76122007000700005&lng=en&nrm=iso>. access on 20 Sept. 2016.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122007000700005.
10 Os contratos podem dar-se via um “contrato de gestão” que envolve o Poder Público e as Organizações Sociais ou
por meio da adoção de termos de parceria, envolvendo o poder público e instituições do chamado terceiro setor,
ambos os formatos derivam das alterações promovidas na Constituição Federal, a partir da EC. 19 de 1998. (DI
Pietro, 2007)
14
BRASIL. Lei nº 11.079 de 30/12/2004 que Institui normas gerais para licitação e
contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública.
CUNHA, L. A. “Escola particular x escola pública”. Revista ANDE, São Paulo, vol. 1, n. 2, pp.
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http://www.gife.org.br/arquivos/publicacoes/28/Censo%20GIFE%202011-2012.pdf
HILL, D. O neoliberalismo global, a resistência e a deformação da educação. Currículo
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HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos. O breve século XX: 1914-1991. São Paulo:
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KLEES, S et al. The World Bank and education. Critiques and alternatives. Sense
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Sites Consultados:
http://www.fundacaolemann.org.br
http://www.fundacaoitausocial.org.br
http://www.parceirosdaeducacao.org.br/index.php
http://www.institutoayrtonsenna.org.br/
http://porvir.org/
http://pt.braudel.org.br/