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O PROCESSO DE GESTÃO NA UNIDADE ESCOLAR MUNDICO DA PAZ

Nairene de Sousa Lima Barros


UFPI - nairene1@hotmail.com

Rosana Evangelista da Cruz


UFPI - rosanacruz@ufpi.edu.br

GT 1 - Política e gestão da educação básica

A gestão democrática está intimamente ligada à autonomia e à identidade da escola.


A democratização exige a participação da comunidade escolar na construção do projeto
político pedagógico, mediante partilha de responsabilidades, levando a comunidade escolar a
assumir o papel de agente público e democrático frente às demandas sociais, pedagógicas e
administrativas cotidianas da escola, inovando e implantando na educação a democracia e o
compromisso, condição para o alcance da qualidade de ensino.
Considerando a relevância do tema, a presente pesquisa tem como objetivo geral:
analisar o processo de gestão na Unidade Escolar Mundico da Paz. Especificamente pretende-
se identificar ações que desenvolvidas na escola contribuem para o processo de
democratização, analisar as ações que priorizam o envolvimento da comunidade escolar no
processo de gestão e descrever o modelo de gestão adotado na escola.
A motivação para estudar essa temática decorreu da experiência como professora da
escola investigada e da constatação de que falta conhecimento da comunidade escolar sobre o
significado de gestão democrática. Compreende-se que a realização do estudo poderá
contribuir para o enriquecimento de informações sobre essa temática, permitindo a ampliação
dos conhecimentos nessa área. Compreendendo a importância da temática tratada, esse
trabalho busca informar a respeito da gestão democrática, na perspectiva de ampliar os
conhecimentos nessa área com o intuito de contribuir para o enriquecimento de informações a
partir da experiência da Unidade Escolar Mundico da Paz.

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Gestão democrática é um tema caro àqueles que atuam em defesa da educação
pública brasileira. Durante o processo constituinte, houve grande mobilização para que a
gestão democrática fosse incorporada como princípio basilar dos processos educacionais
escolares. Naquele momento de redemocratização do país, os esforços da sociedade estavam
voltados ao estabelecimento de instrumentos de construção de uma cultura democrática, como
reação aos anos de ditadura vivenciados no país.
Embora a Gestão Democrática não seja uma temática recente, realidade expressa
pela grande quantidade de produções acadêmicas e de experiências na área, observa-se que
em muitos sistemas de ensino existe limitação na compreensão de membros da comunidade
escolar por desconhecimento das garantias legais de participação na gestão, com vistas a sua
democratização.
A integração da escola na sociedade traz novos desafios. Exige que a escola conheça e
vivencie problemas que a comunidade local enfrenta e, ao mesmo tempo, faz um chamamento
para que esta efetive a sua participação nos rumos que pretende tomar. Proporciona, portanto,
um canal de comunicação extraescolar, que enfatiza o rompimento do poder de decisão
concentrado nas mãos do diretor, outorgando e socializando o poder coletivo, na procura de
programar metas para conseguir realizar as atividades planejadas. Dessa forma, o sucesso da
escola nas ações norteadoras da gestão democrática está ligado à maneira como se articula
com os vários segmentos da sociedade.
Assim, a participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática,
possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de
decisões e no funcionamento da organização escolar (LIBÂNEO, 2001). A comunicação no
interior da escola é fundamental nesse processo: a comunidade escolar trabalha de maneira
que todos possam ser capazes de um ouvir ao outro, dividindo tarefas, vivenciando
conhecimentos e respeitando valores de maneira equilibrada, com inteligência e sensibilidade.
Como afirma Gadotti e Romão, “Todos os segmentos da comunidade podem compreender
melhor o funcionamento da escola, conhecer com mais profundidade os que nela estudam e

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trabalha, intensificar seu envolvimento com ela e, assim, acompanhar melhor a educação ali
oferecida”. (1997, p.16).
Um dos pontos de uma educação democrática é a participação de todos na construção
do Projeto Político Pedagógico, que, de tão importante, está relacionada à melhoria das
condições de vida e de saúde das populações de todo o mundo. A sociedade, bem como sua
inteligência, é coletiva e está presente em todos nós. Portanto, somos todos capazes de opinar,
aprender, imaginar, participar, enfim, de fazer progredir as conquistas e as relações sociais de
um determinado contexto.
No entanto, nem sempre o Projeto Político Pedagógico contribui para a efetivação do
processo de democratização da gestão escolar, especialmente nas situações em que sua
existência limita-se ao papel de mero documento legal e obrigatório, portanto burocrático,
muitas vezes elaborado pela Secretaria de Educação ou pela direção da escola sem a
participação da comunidade escolar. Esta prática nega a potencialidade do referido
mecanismo de democratização, que não pode ser concebido como uma imposição, mas como
um propósito educacional baseado nos princípios inerentes do trabalho coletivo, democrático.
Outro mecanismo de democratização é o Conselho Escolar, que traz para o interior das
escolas públicas a possibilidade de democratizar as estruturas do poder, pois permite a seus
agentes a formulação de políticas de interesses locais, estabelecendo um processo de diálogo
com a comunidade escolar no sentido de fazer valer os direitos constitucionais de sua
comunidade. A democracia, a liberdade e autonomia são processos de conquista coletiva da
sociedade que se organiza e se insere como sujeito da história. A participação da comunidade
escolar na gestão administrativa, pedagógica e financeira da escola pública é importante,
visando à democratização do poder escolar mediante tomada de decisão por toda a
comunidade escolar.
O significado que o Conselho Escolar tem para a comunidade é central para que este
espaço seja desejado e valorizado como instrumento de democratização das ações da escola,
condição para que os objetivos educacionais sejam efetivamente alcançados.

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A pesquisa de campo realizada no decorrer desta investigação consistiu na
abordagem dos sujeitos da pesquisa: três professores, um vigia, um aluno e a gestora da
Escola Municipal Mundico da Paz. Ao todo foram abordados seis sujeitos da comunidade
escolar. A técnica de abordagem foi a entrevista, definida por Gil nos seguintes termos: “a
entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe
formula perguntas, com o objetivo de obtenção de dados que interessam a investigação, são,
portanto, uma forma de interação social” (GIL, 2009, p. 109).
O instrumento de pesquisa consistiu em roteiro de entrevista composto por questões
abertas direcionadas especificamente aos seguintes sujeitos da escola: gestora, professores,
pais de alunos e funcionários da escola. O eixo das questões estava relacionado à forma de
gestão da escola com vistas a compreender quais aspectos contribuem para a sua
democratização. Por questões éticas e metodológicas, os sujeitos não foram identificados
nominalmente, apenas pela função que exercem na escola. Os professores foram denominados
pelos códigos: P1, P2, P3.
O quadro administrativo da escola é composto por três profissionais indicados pelo
Poder Executivo Municipal: uma diretora titular, formada em curso normal superior e
especialista em gestão escolar; um diretor-adjunto, formado em curso normal superior com
pós-graduação em gestão e supervisão; uma coordenadora pedagógica formada em Pedagogia
e especialista em supervisão escolar. Na escola existem 16 professores, todos com
Licenciatura Plena, sendo 12 com pós-graduação, 8 deles com vínculo efetivo decorrente de
concurso público e 4 contratados.
No que tange aos resultados das entrevistas, uma das questões apresentadas à diretora
e aos três docentes entrevistados referia-se à compreensão do significado gestão democrática.
Todos remeteram a definição à questão da participação dos sujeitos que compõe a
comunidade escolar. Dois professores (P¹ e P³) especificaram ser o envolvimento na tomada
de decisões das questões da escola, “sejam elas pedagógicas ou não” (P¹). Compreendemos
que não basta participar, estar presente, isto não significa democratizar o poder. É preciso
resignificar a compreensão do que vem a ser gestão democrática, porque esse processo deve

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envolver toda a comunidade escolar. A forma como isso acontece é que define se está
ocorrendo o processo de democratização da escola.
O Conselho Escolar, que é um dos segmentos mais importantes nesse processo de
gestão democrática, infelizmente, na Unidade Escolar Mundico da Paz não atua como deveria,
pois poucos participam das reuniões quando convocados. Na concepção dos gestores, o
Conselho é apenas para fiscalizar os recursos financeiros destinados à escola.
No que se refere aos professores, interlocutores privilegiados da direção, os três
consideram a gestão da escola democrática, seja porque existe um diálogo da gestão com a
comunidade escolar (P², P3), “peça fundamental no processo de gestão democrática” (P²), seja
porque instrumentos como projeto político pedagógico, regimento, conselho escolar e plano
de ações, “colaboram para que a escola desenvolva uma gestão democrática” (P¹). Assim,
considera-se que a escola “se encontra dentro das normativas técnicas para desenvolver uma
gestão democrática, o que, de certa forma, já está acontecendo” (P²).
Em relação aos mecanismos que caracterizam uma gestão democrática, os
entrevistados destacam, de forma comum, o Projeto Político Pedagógico e o Conselho
Escolar. A gestora destaca a importância dos mecanismos que favorecem uma gestão
democrática, o que é importante, porque pode utilizá-los para a democratização da gestão. No
entanto, a forma de provimento dos cargos da equipe diretora da escola, por indicação
política, é pouco democrática, sendo um limite estrutural da própria atuação do gestor, visto
sua instabilidade e possível permeabilidade aos interesses da gestão municipal.
Com relação à entrevista com o aluno, este afirma que gestão democrática é aquela
que envolve a participação de todos que formam a escola. Para o aluno, o papel do professor e
do diretor na gestão participativa é de envolver todos no processo de gestão: pais de alunos,
alunos e a comunidade escolar. O mesmo afirma que a escola é um espaço onde se aprende,
enriquecendo conhecimento e promovendo o despertar para novas ideias.
O aluno entrevistado esclarece que quando todos participam das tomadas de
decisões, a escola expande-se, isto é, gera uma maior organização e promove um ambiente

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interativo. Segundo ele, gestão democrática é um trabalho de coletividade e de muita
responsabilidade.
A pesquisa permitiu concluir que a gestão democrática é uma ação coletiva que
envolve a participação de todos os membros da comunidade escolar (pais, alunos,
profissionais da educação e demais funcionários) na análise dos problemas e na condução das
atividades da escola. É competência dos gestores saber gerir e, frequentemente, conciliar
interesses pessoais e coletivos, peculiaridades culturais e exigências universais da convivência
humana; preocupar-se com as relações humanas e com os objetivos pedagógicos e sociais a
atingir, estabelecendo formas participativas e eficiência nos procedimentos administrativos e
pedagógicos.
Conclui-se, também, que a Unidade Escolar Mundico da Paz possui mecanismos que
podem favorecer a democratização da escola, mas o modelo de gestão adotado ainda não é
totalmente democrático, sendo necessário um envolvimento maior de toda a comunidade
escolar na tomada de decisões. O referido envolvimento depende de um processo de
conscientização da importância da participação. O trabalho em grupo oportuniza a troca de
saberes e valoriza as diferenças, além de promover a interação e exercitar a responsabilidade
de todos no resultado da educação. Caminhar nessa perspectiva é desenvolver na escola um
local propício ao diálogo e à experimentação, incentivando a reflexão contínua da prática
profissional. E isto nos remete à necessidade da gestão democrática do ensino.

Palavras-chave: Gestão democrática. Comunidade escolar. Participação.

Referências

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