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Os Lusíadas

CANTO III
Inês de Castro
Figuras intervenientes
Inês de Castro pertencia a uma
das famílias mais nobres da
Galiza.
Chegou a Portugal em 1340, como
dama da companhia de D.
Constança, recentemente casada
com D. Pedro.
A jovem dama apaixonou-se por
Pedro e os dois mantêm uma
relação, da qual nascem quatro
filhos.
A 7 de Janeiro de 1355, temendo
esta relação, pela influência da
Inês de família de Inês no trono português,
Castro D. Afonso IV manda matar D. Inês
de Castro.
Figuras intervenientes

D. Pedro I nasceu em Coimbra,


em 1320, e morreu em
Estremoz, em 1367. Era filho do
rei D. Afonso IV e de Beatriz de
Castela.
Casou com D. Constança mas
D. Inês de Castro foi o grande
amor da sua vida.
Nunca perdoou o pai pela morte
de Inês.
D. Pedro, Foi o oitavo Rei de Portugal,
quando sucedeu ao seu pai, em
o justiceiro 1357.
Figuras intervenientes

D. Constança (1318 - 1345) era


uma nobre castelhana, rainha
de Leão e Castela, que casou
com D. Pedro, em 1340.
D. Constança deu à luz D. Luís,
D. Maria, Infanta de Portugal, e
D. Fernando I, futuro rei de
Portugal.
A 13 de Novembro de 1345, a
jovem Constança faleceu
devido a complicações no parto.
D. Constança Segundo o imaginário popular
terá morrido de desgosto, pela
traição do marido.
Figuras intervenientes

D. Afonso IV (1291 – 1357)


foi o sétimo Rei de Portugal.
Era filho do Rei D. Dinis I e da
Rainha Santa Isabel. D.
Afonso IV sucedeu a seu pai a
7 de janeiro de 1325.
Depois de mandar assassinar
D. Inês de Castro, a sua
relação com seu filho D. Pedro
deteriorou-se.
Morreu em 1357, pouco tempo
D. Afonso IV, depois de se ter reconciliado
o Bravo com o filho.
Inês de Castro
118 Vitória dos cristãos na batalha
da Salado, contra os Mouros.
Passada esta tão próspera vitória, É feita a
D. Afonso IV
Tornando Afonso à Lusitana terra, localização
gozar
A se lograr da paz com tanta glória temporal do
Quanta soube ganhar na dura guerra, acontecimento, a
= a morte trágica de D. Inês de Castro
O caso triste e dino da memória, apresentação
(hipérbole)
Que do sepulcro os homens desenterra, das personagens
Infeliz e desgraçada
Aconteceu da mísera e mesquinha e da história que
Que depois de ser morta foi Rainha. vai ser contada.

Hipérbole: consiste em exagerar factos ou situações, atribuindo-lhes


uma dimensão fora do normal.
Ex.: “O caso triste e dino da memória, / Que do sepulcro os homens
desenterra”.
Inês de Castro
119 Personificação: consiste em atribuir características
humanas a seres inanimados.

Apóstrofe: consiste na interrupção do discurso


para invocar alguém de forma exclamativa.
personificação
Apóstrofe cruel
Tu, só tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
perversa/penosa
Deste causa à molesta morte sua, O poeta dirige-se
traiçoeira ao Amor e
Como se fora pérfida inimiga.
cruel
Se dizem, fero Amor, que a sede tua responsabiliza-o
alivia/acalma
Nem com lágrimas tristes se mitiga, pela morte de

É porque queres, áspero e tirano, Inês.


altares
Tuas aras banhar em sangue humano.
Inês de Castro
120
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
ilusão feliz
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
limpo de lágrimas
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
D. Pedro
Inês de Castro
121
Nos campos do Mondego
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
afastavam
Quando dos teus fermosos se apartavam;
De noite em doces sonhos, que mentiam,
De dia em pensamentos, que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via,
Eram tudo memórias de alegria.
Inês de Castro
122
De outras belas senhoras e princesas
Leitos nupciais, casamentos
Os desejados tálamos enjeita, recusa
Que tudo, enfim, tu, puro Amor, desprezas
Quando um gesto suave te sujeita.
Loucuras próprias da paixão
Vendo estas namoradas estranhezas,
D. Afonso IV prudente
O velho pai sesudo, que respeita
loucura/ capricho
O murmurar do povo, e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
Inês de Castro
Eufemismo: consiste na atenuação de ideias
123 desagradáveis, tristes, cruéis ou obscenas.
Ex.: “Tirar Inês ao mundo determina” (= mandar matar)
Eufemismo (manda matar Inês)
Tirar Inês ao mundo determina,
para
Por lhe tirar o filho que tem preso,
indigna
Crendo co sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Força , poder dos mouros
Que pôde sustentar o grande peso Referência à batalha
Fúria guerreira dos mouros
Do furor Mauro, fosse alevantada do Salado
Contra ua fraca dama delicada?
Síntese do episódio “Inês de Castro”
(Canto III – Plano da História de Portugal)

No início deste episódio, narrado por Vasco da


Gama, é feita a contextualização dos acontecimentos que
seguidamente serão relatados: o amor proibido de D.
Pedro e D. Inês e a morte trágica desta (118).
De seguida, o poeta dirige-se ao Amor,
responsabilizando-o pela morte de Inês (119).
Em Coimbra, onde se encontrava com Pedro, Inês
leva uma vida feliz e despreocupada (120 – 121).
D. Afonso IV, rei de Portugal e pai de D. Pedro,
dando ouvidos ao povo, ordena a morte de Inês, pois o
filho recusa outras pretendentes e o rei convence-se de
que só a morte poderá pôr fim a esta relação, que poderá
trazer consequências negativas ao reino (122 – 123).
Inês de Castro
Terríveis carrascos: membros do
124 conselho de D. Afonso IV que
defendiam a necessidade da
morte de Inês (Álvaro Gonçalves,
Traziam-na os horríficos algozes
Pêro Coelho e Diogo Lopes
Ante o Rei, já movido a piedade; Pacheco).
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes o piedosas vozes,
Saídas só da mágoa, e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,
Inês de Castro
125
Para o Céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Conselheiros
Um dos duros ministros rigorosos);
E depois nos meninos atentando, Filhos de D. Pedro e D. Inês

Que tão queridos tinha e tão mimosos,


Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:
Inês de Castro
126
instinto
"Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
selvagens
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Semíramis, rainha da Assíria,
Terem tão piedoso sentimento abandonada pela mãe no
Como co a mãe de Nino já mostraram, deserto, que foi alimentada
por pombas
E cos irmãos que Roma edificaram:
Rómulo e Remo, alimentados por uma loba
Inês de Castro
127
rosto
"Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar ua donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
horrível
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
Inês de Castro
128
"E se, vencendo a maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
cometeu crime
A quem pera perdê-la não fez erro.
Mas, se to assi merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Terra de neves eternas
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente, Parte do Norte de África de
clima muito quente
Onde em lágrimas viva eternamente.
Inês de Castro
129
ferocidade
"Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
profundo
Ali com o amor intrínseco e vontade
= morro
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste, Filhos dele (D. Pedro)
Que refrigério sejam da mãe triste."
consolo
Inês é levada pelos carrascos, olha para os
filhos e, com uma voz triste (124 – 125), num
discurso comovente, tenta demover o Rei da sua
decisão, apresentando vários argumentos (126 –
129):
- Traça uma oposição entre a crueldade dos
homens e a compaixão dos animais pelas
crianças;
- Invoca a sua fraqueza, a sua inocência e a
orfandade dos seus filhos;
- Pede-lhe clemência;
- Sugere-lhe o exílio como alternativa à sua
morte.
Inês de Castro
130
Benévolo, clemente
Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Persistente, obstinado
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
= algozes (perífrase)
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra ua dama, ó peitos carniceiros,Sedentos de sangue
(apóstrofe)
Feros vos amostrais e cavaleiros?
valentes
Inês de Castro
131 Comparação: consiste em confrontar duas realidades
distintas, para realçar semelhanças ou diferenças.
Ex.: “Qual contra a linda moça Polycena”
Filha de Príamo, Rei de Troia, que foi sacrificada
(comparação) sobre o túmulo de Aquiles por Pirro, seu filho.
Qual contra a linda moça Polycena,
Hécuba, mulher de Príamo e
Consolação extrema da mãe velha, mãe de Polycena.
alma
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha; Filho de Aquiles que
sacrificou a princesa
Mas ela os olhos com que o ar serena troiana, seguindo a ordem
da alma do pai.
(Bem como paciente e mansa ovelha)
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:
Inês de Castro
132

Tais contra Inês os brutos matadores,


= muito branco, como o alabastro, mármore de cor branca
No colo de alabastro, que sustinha
= seios
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez Rainha;
maçãs do rosto
As espadas banhando, e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha, = Que ela tinha inundado de
lágrimas
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos. = não pensando no castigo futuro
Inês de Castro
133
(apóstrofe) Tiestes envolveu-se com a
Bem puderas, ó Sol, da vista destes, mulher do seu irmão, Atreu.
Este, para se vingar,
Teus raios apartar aquele dia, convidou-o para um banquete
cruel banquete e serviu-lhe os próprios filhos,
Como da seva mesa de Tiestes,
fruto dessa relação proibida.
Quando os filhos por mão de Atreu comia!
(apóstrofe)
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
Derradeiras palavras
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.
Inês de Castro
134 Depois de morta, Inês de
(comparação) Castro é comparada a uma
margarida silvestre margarida silvestre que foi
Assi como a bonina, que cortada cortada.
Antes do tempo foi, cândida e bela,
traquinas, irrequietas
Sendo das mãos lascivas maltratada
toucado, grinalda
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.
Inês de Castro
135
Ninfas do Mondego
As filhas do Mondego a morte escura
recordaram
Longo tempo chorando memoraram,
Fonte dos Amores (Quinta
E, por memória eterna, em fonte pura das Lágrimas), onde se
julga que terão decorrido
As lágrimas choradas transformaram. os amores de Pedro e Inês
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores!
Após o comovente discurso de Inês, o rei hesita
(130, v. 2), no entanto, por influência do povo, dos
conselheiros e do destino, mantém a sua decisão e ordena
a morte dela (130, vv. 5 – 8).

O poeta tenta, em vários momentos, desculpabilizar a


atitude de Afonso IV. Atribui as culpas ao Amor (est. 119);
ao Destino trágico que persegue Inês (130); ao Povo (122,
124 e 130) e aos conselheiros do rei (130). Acentua, ainda,
a hesitação e a piedade do rei.

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